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O Profissional de Saúde Perante a Morte Professora Doutora Teresa Andrade

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Page 1: Preparar para a morte

O Profissional de Saúde Perante a Morte

Professora Doutora Teresa Andrade

Page 2: Preparar para a morte

Os Profissionais de Saúde e o Cuidar na Morte

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A centralização dos cuidados de saúde nos Hospitais levou a uma transição da morte, que outrora ocorria em casa, para dentro do Hospital

Levou igualmente a que os profissionais de saúde substituíssem progressivamente a família, no acto de cuidar na morte.

O estilo de vida do séc. XX tornou irreversível este processo.

O Hospital e a Morte

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Os profissionais de saúde nos hospitais, transformaram-se nos maiores responsáveis pelo curso da vida e da morte.

As pessoas deixaram de pensar como aceitáveis outras formas de morrer que não no Hospital

As sociedades deixaram de lidar globalmente com a morte, porque esta foi transferida para “profissionais qualificados para lidar com a mesma”

A família passou a ser menos presente no processo de morrer.

Consequências

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A formação essencial dos profissionais de saúde diz-lhes que vão diagnosticar, tratar, curar ou estabilizar sintomas e doenças mais ou menos graves.

O profissional de saúde vê-se no final da sua formação como um “ Conserta tudo” em busca da solução que tudo fará regressar a um estado de normalidade.

O que o contacto com pacientes que morrem diz aos profissionais de saúde é que não é possível fazê-lo sempre.

Não se pode vencer a morte?

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Estarão os profissionais de saúde realmente qualificados para lidar com a morte ?

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Todas as culturas ancestrais e todas as religiões do Mundo se ocupam intensa e ritualmente dos seus moribundos e dos seus mortos

Todas formam e orientam as pessoas no sentido de encontrar conforto e resposta para as mais antigas questões humanas perante a morte

No paradigma humanista cientifico das sociedades do Ocidente a vida apenas termina e os poucos rituais são delegados em estranhos.

Como lidar com a morte

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Tem sido demonstrado que o contacto com a morte é o aspecto que mais contribui para o desgaste emocional dos profissionais de saúde e que o contacto prolongado com a morte se caracteriza nestes por sintomas muito semelhantes aos do luto por pessoas próximas.

A formação é o factor que mais se associa a uma melhor adaptação psicológica ao contacto prolongado com a morte, em todos os grupos de profissionais.

No que se refere ao contacto com a morte vários estudos indicam que ao nível da formação pré-graduada a oferta formativa nesta área ainda apresenta um vazio importante a preencher.

A formação para lidar com a Morte

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Estudos mais significativos Ferrel et al (1999): Analisaram os 50

manuais de formação pré-graduada mais utilizados em enfermagem e constataram deficiências graves na área dos cuidados em final de vida, morte e luto.

Rabow et al (2001): Analisaram conteúdos dos 50 principais manuais de formação médica pré-graduada, e verificaram que 47 dos mesmos não se referiam de todo à questão da morte ou luto e que os restantes apenas referiam o tema superficialmente relacionando-o com a geriatria.

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Trush et al (1979): Através de inquéritos passados em 226 escolas de Enfermagem dos EUA, constataram que apenas 5%, apresentavam unidades curriculares obrigatórias nas quais se abordava o tema da morte e do luto

Dickinson et al (1991): Através de inquéritos a todas as escolas de Medicina e Enfermagem nos EUA, constatou que 50% das mesmas abordavam o tema da morte apenas em aulas pontuais mas não em unidades curriculares específicas para tal.

Outros estudos

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Doyle (1991). Através de inquéritos realizados em todas as faculdades de Medicina do Reino Unido concluiu que no final dos cinco anos formativos, todos os alunos teriam recebido em média seis horas de formação obrigatória sobre o tema da morte e do luto

Buss et al (1998) num inquérito a 426 alunos finalistas de Medicina em Inglaterra, 98% dos alunos reportava ter tido insuficiente preparação e contacto para lidar com pacientes em fase final de vida.

Outros estudos (cont)

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Sullivan et al (2003), através de um inquérito a 1445 estudantes finalistas e professores de 62 faculdades de medicina dos EUA, constataram que apenas 18% dos envolvidos reportavam ter recebido algum treino formal na área do contacto com a morte, 39% afirmava não estar preparado para interagir com pacientes em fase final de vida e 50% disse não saber lidar com os seus próprios sentimentos face à morte.

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Formações pioneiras

Integrados num Manual direccionado para a formação avançada na área da Morte e do Luto, Quint Benoliel (1982) reuniu várias propostas formativas de grande interesse.

As propostas variam no tempo, no público alvo, no regime de frequência e na fase de formação à qual se destinam.

Formação específica para profissionais de saúde

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Pioneiros na formação Swain e Coles (1982) Disciplina semestral

optativa num curso de enfermagem no Wisconsin com 30 horas de duração e com vários objectivos integrados de aprendizagem

Crenças e atitudes perante a morte

Processo de luto e suas tarefas

Mecanismos de coping com a perda

Luto e fases de desenvolvimento

Aspectos legais e éticos da morte

Diferenças socioculturais na morte

Comunicação dos enfermeiros com o paciente em fase final de vida

Sintomas de desgaste no enfermeiro

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Degner et al (1982) Unidade curricular

obrigatória para estudantes do terceiro ano de enfermagem com a duração de um semestre na Universidade de Manitoba

Para além das aulas teóricas incluia contacto supervisionado em unidades de cuidados paliativos, serviços de oncologia e domícilios de pacientes em fase final de vida

História dos cuidados Paliativos

Enquadramento ético-legal dos cuidados em final de vida

Alívio de sintomas em fase final de vida

Comunicação com paciente e família

Impacto do cuidado no profissional de saúde

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Goodell et al (1982):

Proposta formativa de 3 seminários de 4 horas, para alunos do segundo ano de Medicina ( 1-Atitudes face à Morte, 2- Papel do Médico junto do paciente em fase final de vida e sua família, 3- Papel do Hospital, da Família e da Comunidade face ao paciente em fase final de vida).

Como metodologia utilizava a visualização e discussão de filmes relevantes e entrevistas a pacientes em fase final de vida.

Programas Intensivos

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Bertman et al (1982) . Curso livre de seis seminários de 90 minutos em seis semanas consecutivas para licenciados em diversas áreas da saúde em Massachussets

Complementado com contacto com pacientes no final do curso

Consciência face à doença e à Morte, Informação e Comunicação

Atitudes e Crenças face à Morte

Gestão de Comunicações difíceis e Conflitos

Avaliação de sintomas de mal estar psicológico no paciente

Dilemas éticos para o profissional de saúde face à morte

Enquadramento histórico da morte, rituais funerários e crenças de vida para além da morte

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McCorkle (1982) Desenvolveu uma pós-graduação de 1 ano para

enfermeiros de cuidados domiciliários com o objectivo de preparar a intervenção em vários cenários em fase final de vida.

2 horas semanais divididas em três fases especificas : Período que antecede a Morte, Período em que ocorre a Morte e período depois da Morte

Estágios e supervisão de casos acompanhados.

Programas pós -graduados

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A partir de 1995 a maioria das Associações Americanas de saúde salientou a importância de formação especializada para profissionais que lidam com a morte dos seus pacientes.

Desde 1996 a American Academy of Hospice and Paliative Medicine desenvolve programas pós-graduados para médicos e enfermeiros

Desde 1998, a American Medical Association apresenta formação presencial e à distância para médicos denominada de “ Education for the Physicians on End-of-Life Care”

Oferta Formativa mais recente

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Desde 2000, a American Association of Colleges of Nursing tem um programa pós- graduado : “ End of Life Nursing Education Curriculum” com nove módulos intensivos de formação no apoio em final de vida.

Desde 2003, o Cancer and pain Symptom Managment Nursing research group, desenvolveu um programa pré-graduado em formato multimédia : “ Toolkit for nurturing excelence in end of life transitions”, com seis módulos destinados a ser ministrados como apoio em aulas de enfermagem.

Outras Formações têm surgido na área um pouco por todo o mundo em Unidades de Cuidados Paliativos como o seguindo o exemplo do St Christophers Hospice

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A formação em cuidados paliativos mostra desde 1999 algum desenvolvimento.

Formações em Luto em Cuidados Paliativos estenderam-se da Faculdade de Medicina de Lisboa para a Universidade Católica (Porto e Lisboa) e mais recentemente, decorrem mestrados equivalentes, em várias escolas superiores de Saúde.

Ao nível pré-graduado uma análise curricular mais profunda mostra que apenas em alguns currículos o tema é pontualmente abordado ou aparece com carácter opcional.

Formação em Portugal

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Praticamente toda a formação que analisamos não é parte obrigatória na formação de profissionais de saúde que vão lidar de perto com a morte.

Os conteúdos são tão variáveis na forma e na duração que nem sequer são comparáveis em termos de impacto

A avaliação de mudanças atitudinais ou comportamentais nos profissionais de saúde é raramente feita de forma adequada.

A importância de conteúdos Obrigatórios Pré-graduados

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Após avaliação de todos os conteúdos ministrados na área da Educação para a morte em Profissionais de Saúde foi elaborado e proposto ao CTC um programa de UC obrigatória na formação base de profissionais de saúde na Escola Superior de Saúde Egas Moniz.

Após aprovação do mesmo foi aprovado para ser ministrado desde 2007/2008.

Proposta de UC Pré-graduada de tronco comum para Profissionais de saúde que lidam com a morte

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1) O contacto com a morte e seu impacto ao longo da História da Humanidade

2) A morte e os profissionais de saúde ao longo da História

3) Diferentes perspectivas religiosas e rituais perante a morte. A questão da vida depois da Morte

4) A Morte ao longo do ciclo de vida e seu impacto

O Programa

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5) O Processo de Luto : fases, tipos e Intervenção

6) Comunicações difíceis em torno da morte e do luto envolvendo crianças ou adolescentes

7) Consequências da exposição à morte e a outros aspectos stressantes nas profissões de saúde

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8) Impacto das atitudes perante a morte no comportamento dos profissionais de saúde

9) Avaliação do stress ocupacional em profissões de saúde em contacto com a morte

10)Estratégias de coping e métodos de intervenção no stress ocupacional

 

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Com o objectivo de avaliar o impacto da UC e da metodologia pedagógica foram passados questionários para avaliar as Atitudes Perante a Morte e o bem estar psicológico no inicio e no final da UC.

Objectivos e Resultados

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Uma análise estatística inicial revelou que os resultados dos alunos que receberam a formação têm relativamente ao inicio da formação mostram que a atitude consideradas negativas de evitamento e de medo da morte diminuem significativamente e se mantêm estáveis ao longo de um ano lectivo. Os níveis de bem estar psicológico são significativamente superiores aos dos alunos que não receberam formação.

Resultados Preliminares