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Preço € 1,50. Número atrasado € 3,00 L ’O SSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS Unicuique suum Non praevalebunt Ano LII, número 2 (2.699) terça-feira 12 de janeiro de 2021 Cidade do Vaticano Abrir às mulheres o ministério de Leitor e Acólito O Papa Francisco abre às mulheres os minis- térios instituídos do Leitor e do Acólito. Com a carta apostólica em forma de motu proprio Spiritus Domini — com a data de 10 de janeiro — é introduzida uma modificação ao cânone 230 § 1 do Código de direito ca- nónico, com base na qual qualquer leigo, homem ou mulher, poderá agora aceder «estavelmente» e «mediante o rito litúrgico estabelecido», aos dois ministérios eclesiais. «A escolha de conferir também às mulheres estes ofícios, que requerem uma estabilida- de, um reconhecimento público e o manda- to por parte do bispo — escreve o Pontífice numa carta dirigida ao prefeito da Congre- gação para a doutrina da fé, cardeal Luis F. Ladaria — torna mais efetiva na Igreja a par- ticipação de todos na obra da evangeliza- ção». PÁGINAS 4 E 5 Solenidade da Epifania Aprender dos Reis magos a adorar Com uma exortação a colocar-se «na escola dos Reis magos, para aprender algumas li- ções úteis» sobre o modo como continuar a «adorar o Senhor», o Papa Francisco frisou a atualidade da Epifania, celebrando na ma- nhã de quinta-feira, 6 de janeiro, a missa da solenidade, durante a qual foi proclamado o anúncio do dia de Páscoa, que este ano será celebrado a 4 de abril. Também no Angelus recitado ao meio-dia na Biblioteca do Palácio apostólico, o Papa falou da «manifestação do Senhor a todas as nações» frisando que «a salvação realizada por Cristo é para todos». PÁGINAS 2 E 3 Reconciliação nacional e tutela da democracia Apelo do Pontífice depois do assédio ao congresso dos Estados Unidos Entrevista do Pontífice ao programa do canal televisivo italiano “Tg5” O mundo precisa de unidade e fraternidade Redescobrir-se unidos, mais próximos a quem sofre, sentir-se irmãos para superar juntos a crise mundial causada pela pandemia. No iní- cio da entrevista ao Tg5, Francisco reiterou que “de uma crise nunca se sai como antes, nunca. Saímos melhores ou piores”. Para o Pa- pa, “é preciso rever tudo. Os grandes valores sempre existem na vida, mas os grandes valo- res devem ser traduzidos na vida do momen- to”. O Pontífice faz enumera uma série de si- tuações dramáticas a partir das crianças que sofrem com a fome e não podem ir à escola e as guerras que atingem muitas áreas do plane- ta. “Sobre isto as estatísticas das Nações Uni- das, destacou”. Adverte que se nós sairmos da crise “sem ver estas coisas, a saída será outra derrota. E será pior. Olhemos somente para estes dois problemas: as crianças e as guer- ras”. Vacinar-se é uma ação ética Em seguida o Papa responde a uma per- gunta do jornalista Fabio Marchese Ragona sobre as vacinas. “Eu creio — afirmou — que eticamente todos se devem vacinar. Não é uma opção, é uma ação ética. Porque está em risco a sua saúde, a vida pessoal, e a vida do próximo”. E explicou que nos próximos dias começará a campanha de vacinação no Vatica- no e também ele se “inscreveu” para receber a dose. “Sim, deve-se fazer”, repetiu, “se os mé- dicos a apresentam como algo que pode ser bom e que não tem perigos especiais, por que não se vacinar? Nisto há um negacionismo suicida, que eu não sei explicar”. Para o Pon- tífice, este é o tempo de “pensar no nós e can- celar por um período o eu, colocá-lo entre pa- rênteses. Ou nos salvamos todos com o nós ou não se salva ninguém”. A este respeito, o Papa falou de modo amplo, oferecendo a sua refle- xão sobre o tema da fraternidade, para ele muito importante. “Este é o desafio: fazer-me próximo do outro, próximo da situação, pró- ximo dos problemas, fazer-me próximo das pessoas”. “A cultura da indiferença é inimiga da proximidade”. Fala-se de um “saudável de- sinteresse pelos problemas, mas o desinteresse não é saudável. A cultura da indiferença des- trói, porque me afasta”. É o “tempo do nós” para superar a crise “A indiferença — observou — mata-nos por- que nos afasta. Ao contrário, a palavra-chave para pensar nas saídas da crise é a palavra ‘proximidade’.” Se não há unidade, proximi- dade, advertiu o Papa, “podem-se criar ten- CONTINUA NA PÁGINA 8 O Papa no Congresso dos Estados Unidos da América (24 de setembro de 2015) Apelo na mensagem para o dia mundial do doente Investir no cuidado e na assistência «O mandamento do amor, que Jesus deixou aos seus discípulos, encontra uma realização concreta também no relacionamento com os doentes», recordou o Papa Francisco na mensagem para o Dia mundial do doente, cujo tema é «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8). A relação de confiança na base do cuidado dos doentes», que será celebrado a 11 de fevereiro, memó- ria litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes. PÁGINA 6 U ma exortação «a manter um elevado sentido de responsabilidade, a fim de tranquilizar os âni- mos, promover a reconciliação na- cional e tutelar os valores democráti- cos radicados na sociedade america- na» foi dirigida pelo Papa às autori- dades e «ao povo dos Estados Uni- dos da América, abalado pelo recen- te assédio ao Congresso». O Pontífi- ce lançou o apelo no final do Ange- lus de domingo 10 de janeiro — reci- tado ainda sem a presença de fiéis por causa do coronavírus na Biblio- teca do Palácio apostólico do Vatica- no — juntamente com a certeza da sua oração por quantos «perderam a vida naqueles dramáticos momen- tos». Depois de ter reafirmado «que a violência é sempre autodestruti- va», pois com ela nada se ganha e muito se perde», Francisco invocou «a Virgem Imaculada, Padroeira dos Estados Unidos da América», para que «ajude a manter viva a cultura do encontro, a cultura do cuidado, como via mestra para construir jun- tos o bem comum... naquela terra». Anteriormente, como de costume, o Papa comentou o Evangelho do dia centrado no batismo de Jesus. PÁGINA 8

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  • Preço € 1,50. Número atrasado € 3,00

    L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS

    Unicuique suum Non praevalebunt

    Ano LII, número 2 (2.699) terça-feira 12 de janeiro de 2021Cidade do Vaticano

    Abriràs mulheres

    o ministério deLeitor e AcólitoO Papa Francisco abre às mulheres os minis-térios instituídos do Leitor e do Acólito.Com a carta apostólica em forma de motuproprio Spiritus Domini — com a data de 10de janeiro — é introduzida uma modificaçãoao cânone 230 § 1 do Código de direito ca-nónico, com base na qual qualquer leigo,homem ou mulher, poderá agora aceder«estavelmente» e «mediante o rito litúrgicoestabelecido», aos dois ministérios eclesiais.«A escolha de conferir também às mulheresestes ofícios, que requerem uma estabilida-de, um reconhecimento público e o manda-to por parte do bispo — escreve o Pontíficenuma carta dirigida ao prefeito da Congre-gação para a doutrina da fé, cardeal Luis F.Ladaria — torna mais efetiva na Igreja a par-ticipação de todos na obra da evangeliza-ção».

    PÁGINAS 4 E 5

    Solenidade da Epifania

    A p re n d e rdos Reis magos

    a adorarCom uma exortação a colocar-se «na escolados Reis magos, para aprender algumas li-ções úteis» sobre o modo como continuar a«adorar o Senhor», o Papa Francisco frisoua atualidade da Epifania, celebrando na ma-nhã de quinta-feira, 6 de janeiro, a missa dasolenidade, durante a qual foi proclamado oanúncio do dia de Páscoa, que este ano serácelebrado a 4 de abril.

    Também no Angelus recitado ao meio-diana Biblioteca do Palácio apostólico, o Papafalou da «manifestação do Senhor a todas asnações» frisando que «a salvação realizadapor Cristo é para todos».

    PÁGINAS 2 E 3

    Reconciliação nacionale tutela da democracia

    Apelo do Pontífice depois do assédio ao congresso dos Estados Unidos

    Entrevista do Pontífice ao programa do canal televisivo italiano “Tg 5 ”

    O mundo precisa de unidade e fraternidadeRedescobrir-se unidos, mais próximos a quemsofre, sentir-se irmãos para superar juntos acrise mundial causada pela pandemia. No iní-cio da entrevista ao Tg5, Francisco reiterouque “de uma crise nunca se sai como antes,nunca. Saímos melhores ou piores”. Para o Pa-pa, “é preciso rever tudo. Os grandes valoressempre existem na vida, mas os grandes valo-res devem ser traduzidos na vida do momen-to”. O Pontífice faz enumera uma série de si-tuações dramáticas a partir das crianças quesofrem com a fome e não podem ir à escola eas guerras que atingem muitas áreas do plane-ta. “Sobre isto as estatísticas das Nações Uni-das, destacou”. Adverte que se nós sairmos dacrise “sem ver estas coisas, a saída será outraderrota. E será pior. Olhemos somente paraestes dois problemas: as crianças e as guer-ras”.

    Vacinar-se é uma ação éticaEm seguida o Papa responde a uma per-

    gunta do jornalista Fabio Marchese Ragonasobre as vacinas. “Eu creio — afirmou — queeticamente todos se devem vacinar. Não éuma opção, é uma ação ética. Porque está emrisco a sua saúde, a vida pessoal, e a vida dopróximo”. E explicou que nos próximos diascomeçará a campanha de vacinação no Vatica-no e também ele se “i n s c re v e u ” para receber adose. “Sim, deve-se fazer”, repetiu, “se os mé-dicos a apresentam como algo que pode serbom e que não tem perigos especiais, por quenão se vacinar? Nisto há um negacionismosuicida, que eu não sei explicar”. Para o Pon-tífice, este é o tempo de “pensar no nós e can-celar por um período o eu, colocá-lo entre pa-rênteses. Ou nos salvamos todos com o nós ounão se salva ninguém”. A este respeito, o Papa

    falou de modo amplo, oferecendo a sua refle-xão sobre o tema da fraternidade, para elemuito importante. “Este é o desafio: fazer-mepróximo do outro, próximo da situação, pró-ximo dos problemas, fazer-me próximo dasp essoas”. “A cultura da indiferença é inimigada proximidade”. Fala-se de um “saudável de-sinteresse pelos problemas, mas o desinteressenão é saudável. A cultura da indiferença des-trói, porque me afasta”.

    É o “tempo do nós” para superar a crise“A indiferença — observou — mata-nos por-

    que nos afasta. Ao contrário, a palavra-chavepara pensar nas saídas da crise é a palavra‘p ro x i m i d a d e ’.” Se não há unidade, proximi-dade, advertiu o Papa, “podem-se criar ten-

    CO N T I N UA NA PÁGINA 8

    O Papa no Congresso dos Estados Unidos da América (24 de setembro de 2015)

    Apelo na mensagem para o diamundial do doente

    Investirno cuidado

    e na assistência«O mandamento do amor, que Jesus deixouaos seus discípulos, encontra uma realizaçãoconcreta também no relacionamento com osdoentes», recordou o Papa Francisco namensagem para o Dia mundial do doente,cujo tema é «Um só é o vosso Mestre e vóssois todos irmãos» (Mt 23, 8). A relação deconfiança na base do cuidado dos doentes»,que será celebrado a 11 de fevereiro, memó-ria litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.

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    Uma exortação «a manterum elevado sentido deresponsabilidade, a fimde tranquilizar os âni-mos, promover a reconciliação na-cional e tutelar os valores democráti-cos radicados na sociedade america-na» foi dirigida pelo Papa às autori-dades e «ao povo dos Estados Uni-dos da América, abalado pelo recen-te assédio ao Congresso». O Pontífi-ce lançou o apelo no final do Ange-lus de domingo 10 de janeiro — re c i -tado ainda sem a presença de fiéispor causa do coronavírus na Biblio-teca do Palácio apostólico do Vatica-no — juntamente com a certeza da

    sua oração por quantos «perderam avida naqueles dramáticos momen-tos». Depois de ter reafirmado «quea violência é sempre autodestruti-va», pois com ela nada se ganha emuito se perde», Francisco invocou«a Virgem Imaculada, Padroeira dosEstados Unidos da América», paraque «ajude a manter viva a culturado encontro, a cultura do cuidado,como via mestra para construir jun-tos o bem comum... naquela terra».Anteriormente, como de costume, oPapa comentou o Evangelho do diacentrado no batismo de Jesus.

    PÁGINA 8

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 2 terça-feira 12 de janeiro de 2021, número 2

    L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS

    Unicuique suum Non praevalebunt

    Cidade do Vaticanoredazione.p ortoghese.or@sp c.va

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    No Angelus o Papa falou sobre o significado da Epifania

    A luz que dissipaas trevas da vida

    leza não seja aceite por todos.Aliás, alguns a rejeitam, comoHerodes. Ele é a estrela queapareceu no horizonte, o Mes-sias esperado, aquele atravésde quem Deus realiza o seureino de amor, o seu reino dejustiça, o seu reino de paz. Elenasceu não só para alguns maspara todos os homens, paratodos os povos. A luz é paratodos os povos, a salvação épara todos os povos.

    E como se verifi-ca esta “irradia-ção”? Como se di-funde a luz de Cris-to em todos os lu-gares e tempos?Tem o seu métodode propagação.Não o faz atravésdos poderososmeios dos impériosdeste mundo, queprocuram sempreapoderar-se do do-mínio sobre ele.Não, a luz de Cris-to difunde-se atra-vés da proclamaçãodo Evangelho. Aproclamação, a pa-lavra e o testemu-nho. Com o mesmo“méto do” escolhidopor Deus para virentre nós: a encar-nação, isto é, apro-ximar-se do outro,conhecendo-o, as-

    sumindo a sua realidade edando o testemunho da nossafé, cada um de nós. Só assim aluz de Cristo, que é Amor, po-de resplandecer em quantos aacolherem, atraindo outros. Aluz de Cristo não se propagaapenas com palavras, com mé-todos falsos, empresariais...Não, não! A fé, a palavra, otestemunho: assim se difundea luz de Cristo. Cristo é a es-trela, mas também nós pode-mos e devemos ser a estrelapara os nossos irmãos e irmãs,como testemunhas dos tesou-ros de bondade e de infinitamisericórdia que o Redentoroferece gratuitamente a todos.A luz de Cristo não se propa-ga por proselitismo, mas portestemunho, pela confissão dafé. Até pelo martírio!

    Portanto, a condição é aco-lher em nós esta luz, acolhê-lacada vez mais. Ai de nós sepensarmos que a possuímos,ai de nós se pensarmos que sódevemos “geri-la”! Tambémnós, como os Magos, somoschamados a deixar-nos semprefascinar, atrair, guiar, iluminare converter por Cristo: é o ca-minho da fé, através da oraçãoe da contemplação das obrasde Deus, que nos enche conti-nuamente de alegria e de ad-miração, uma admiração sem-pre nova. A admiração é sem-pre o primeiro passo para ir

    em frente nesta luz.Invoquemos a proteção de

    Maria sobre a Igreja universal,para que possa difundir nomundo inteiro o Evangelho deCristo, luz de todas as nações,luz de todos os povos!

    No final do Angelus, o Pontífice lan-çou um apelo a favor da paz na Re-pública Centro-Africana e dirigiuuma mensagem de bons votos aosfiéis das Igrejas Orientais, católicas eortodoxas, que celebram o Natal a 7de janeiro. Depois, recordou o Diamundial da infância missionária esaudou a Fundação polaca “Cortejodos reis magos” que promove iniciati-vas de solidariedade no país.

    Prezados irmãos e irmãs!Acompanho com atenção epreocupação os acontecimen-tos na República Centro-Afri-cana, onde recentemente serealizaram eleições, nas quaiso povo manifestou o desejo decontinuar no caminho da paz.

    Portanto, convido todas aspartes a um diálogo fraterno erespeitoso, a rejeitar o ódio e aevitar todas as formas de vio-lência.

    Dirijo-me com afeto aos ir-mãos e irmãs das IgrejasOrientais, católicas e ortodo-xas, que, segundo a sua tradi-ção, amanhã celebram o Nataldo Senhor. A eles apresento osmeus sinceros votos de umSanto Natal, na luz de Cristo,

    nossa paz e esperança!Na hodierna festa da Epifa-

    nia celebramos o Dia Mundialda Infância Missionária, queenvolve muitas crianças e jo-vens do mundo inteiro. Agra-deço a cada um deles e enco-rajo-os a ser testemunhas ale-gres de Jesus, procurando le-var sempre fraternidade entreos seus coetâneos.

    Transmito a minha cordialsaudação a todos vós que es-

    tais sintonizados através dosmeios de comunicação. Dirijouma saudação especial à Fun-dação “Cortejo dos Reis Ma-gos” que organiza eventos deevangelização e solidariedadeem numerosas cidades e al-deias da Polónia e de outrasnações.

    Desejo boa festa a todos!Por favor, não vos esqueçaisde rezar por mim. Bom almo-ço e até à vista!

    Dia da infância missionária

    Crianças e jovens do mundo inteirotestemunhas entre os seus coetâneos

    Celebrado principalmente através dosmeios de comunicação social, devido àCovid-19 que realmente torna impossí-vel o encontro de muitas pessoas, o Diada infância missionária a 6 de janeiroteve o testemunho como tema comum nomundo inteiro.

    As crianças e os jovens que aderem aesta obra pontifícia — explica a secretá-ria-geral, irmã Roberta Tremarelli, nosite www.ppoomm.va — «ao longo doano estão atentos a manter um coraçãoaberto ao amor de Deus e às necessida-des dos outros». Mas é particularmentena solenidade da Epifania que eles

    «têm a oportunidade de partilhar o seucompromisso na oração e na oferta». Euma vez que «devido à pandemia mui-tos Dias da infância missionária» nãoforam «celebrados a nível nacional comum encontro de todas as crianças e jo-vens, mas a nível paroquial e de grupo,a possibilidade de utilizar os meios decomunicação social» ofereceu «a opor-tunidade de ampliar a participação: porisso posso dizer — afirma a religiosa dasservas missionárias do Santíssimo Sa-cramento — que apesar da dificuldadedeste tempo temos a oportunidade deencontrar mais pessoas», embora ape-

    nas virtualmente. A este respeito, a se-cretária-geral cita um encontro digitalna plataforma Zoom com crianças, jo-vens, animadores e diretores diocesa-nos, durante o qual um dos participan-tes perguntou: «Já rezamos todos osdias pelas crianças do mundo, de acor-do com o carisma, mas como podemosrealizar hoje a oferta de sacrifícios e arecolha material?». A sua preocupaçãoera angariar e oferecer a contribuiçãopessoal, por menor que fosse, para aju-dar as crianças do mundo. «Isto im-pressionou-me muito, confidenciou a ir-mã Tremarelli, porque demonstra quenestas crianças e jovens há realmenteuma preocupação pelos outros coetâ-neos». Em suma, «envolver-se na Obrada infância e da adolescência missioná-ria ajuda a abrir o coração e a ter oshorizontes infinitos que Jesus indi-cou».

    Protagonistas da evangelização emcasa, na escola e nos ambientes que fre-quentam com os seus coetâneos, os pe-quenos discípulos missionários, graças àsua sensibilidade, envolvem necessaria-mente também as suas famílias. «Por-tanto, o primeiro lugar onde as criançassão testemunhas é precisamente a famí-lia», comenta a irmã Tremarelli, relan-çando o tema deste ano. «É um teste-munho recíproco: os pais testemunhamàs crianças a sua fé e, ao mesmo tempo,as crianças e os jovens testemunhamaos pais o seu compromisso de pensarnos outros, que vão para além da pró-pria família, do seu bairro, do seupaís». Afinal, conclui a secretária-geral,«“Sede minhas testemunhas” é o convi-te que Jesus dirige a cada batizado, in-dependentemente da sua idade».

    «As trevas estão presentes e são ameaçadoras na vida decada pessoa e na história da humanidade, mas a luz deDeus é mais poderosa», assegurou o Papa Francisco noAngelus da solenidade da Epifania, ao meio-dia de 6 de

    janeiro. Publicamos a seguir a meditação pronunciadapelo Pontífice antes da recitação da prece mariana, aindarealizada sem a presença de fiéis, devido à Covid-19, naBiblioteca do Palácio apostólico do Vaticano.

    Estimados irmãos e irmãs,bom dia!Hoje celebramos a solenidadeda Epifania, ou seja, a mani-festação do Senhor a todos ospovos: com efeito, a salvaçãorealizada por Cristo não co-nhece fronteiras, é para todos.A Epifania não é outro misté-rio, é sempre o mesmo misté-rio da Natividade, mas vistona sua dimensão de luz: luzque ilumina cada homem, luz

    para ser acolhida na fé e luz pa-ra ser levada aos outros na carida-de, no testemunho, no anún-cio do Evangelho.

    A visão de Isaías, narradana Liturgia de hoje (cf. 60, 1-6), ressoa no nosso tempoatual como nunca: «A noitecobre a terra e a escuridão, ospovos» (v. 2). Neste horizon-te, o profeta anuncia a luz: aluz concedida por Deus a Je-rusalém e destinada a iluminaro caminho de todos os povos.Esta luz tem o poder de atrairtodos, próximos e distantes, etodos se põem a caminho paraa alcançar (cf. v. 3). Trata-se deuma visão que abre o coração,alarga o respiro e convida à es-perança. Certamente, as trevasestão presentes e são ameaça-doras na vida de cada pessoa ena história da humanidade,mas a luz de Deus é mais po-derosa. Trata-se de a acolher, afim de que possa resplandecerpara todos. Mas podemosperguntar-nos: onde está estaluz? O profeta vislumbrou-ade longe, mas já era suficientepara encher o coração de Jeru-salém de uma alegria irrefreá-vel.

    Onde se encontra esta luz?O evangelista Mateus, por suavez, narrando o episódio dosMagos (cf. 2, 1-12), mostra queesta luz é o Menino de Belém,é Jesus, mesmo que a sua rea-

  • L’OSSERVATORE ROMANOnúmero 2, terça-feira 12 de janeiro de 2021 página 3

    Epifania do Senhor - Presidida pelo Papa Francisco na basílica de São Pedro

    Na escola dos Magospara aprender a adorar

    Intenção de oração para o mês de janeiro

    Ao serviço da fraternidade

    não era justa. Adorá-lo a sério!Das leituras desta Eucaris-

    tia, recolhemos três expressõesque podem ajudar-nos a enten-der melhor o que significa seradorador do Senhor; ei-las:«levantar os olhos», «pôr-se acaminho» e «ver». Estas trêsexpressão ajudar-nos-ão a en-tender o que significa ser ado-radores do Senhor.

    A primeira expressão — le-vantar os olhos — encontramo-laem Isaías. À comunidade deJerusalém, pouco antes regres-sada do exílio e agora caída emdesânimo por causa de dificul-dades sem fim, o profeta diri-ge-lhe este forte convite: «Le-vanta os olhos e vê» (Is 60, 4).Convida-a a deixar de ladocansaço e lamentos, sair das es-treitezas de uma visão limita-da, libertar-se da ditadura dopróprio eu, sempre propenso afechar-se em si mesmo e naspreocupações particulares. Pa-ra adorar o Senhor, é precisoantes de mais nada «levantaros olhos», ou seja, não se dei-xar enredar pelos fantasmas in-teriores que apagam a esperan-ça, nem fazer dos problemas edificuldades o centro da pró-pria existência. Isto não signi-fica negar a realidade, fingin-do-se ou iludindo-se que tudocorre bem, não, mas olhar demodo novo os problemas e asangústias, sabendo que o Se-nhor conhece as nossas situa-ções difíceis, escuta atenta-mente as nossas súplicas e não

    fica indiferente às lágrimas quederramamos.

    Este olhar que, apesar dasvicissitudes da vida, permane-ce confiante no Senhor, gera agratidão filial. E, quando istoacontece, o coração abre-se àadoração. Pelo contrário,quando fixamos a atenção ex-clusivamente nos problemas,recusando-nos a levantar osolhos para Deus, o medo inva-de o coração e desorienta-o,gerando irritação, perplexida-de, angústia, depressão. Nestascondições, é difícil adorar aoSenhor. Se isto acontecer, épreciso ter a coragem de rom-per o círculo das nossas con-clusões precipitadas, sabendoque a realidade é maior do queos nossos pensamentos. Levantaos olhos e vê: o Senhor convida-nos, em primeiro lugar, a terconfiança n’Ele, porque cuidarealmente de todos. Ora, seDeus veste tão bem a erva nocampo, que hoje existe e ama-nhã é lançada ao fogo, quantomais não fará Ele por nós? (cf.Lc 12, 28). Se levantarmos oolhar para o Senhor e conside-rarmos a realidade à sua luz,descobrimos que Ele nuncanos abandona: o Verbo fez-secarne (cf. Jo 1, 14) e permanececonnosco sempre todos os dias(cf. Mt 28, 20). Sempre!

    Quando levantamos osolhos para Deus, os problemasda vida não desaparecem, massentimos que o Senhor nos dáa força necessária para enfren-

    tá-los. Assim, «levantar osolhos» é o primeiro passo quepredispõe para a adoração.Trata-se da adoração do discí-pulo que descobriu, em Deus,uma alegria nova, uma alegriadiferente. A alegria do mundoestá fundada na posse dosbens, no sucesso ou noutrascoisas semelhantes, mas sem-pre com o “eu” no centro, aopasso que a alegria do discípu-lo de Cristo tem o seu funda-mento na fidelidade de Deus,cujas promessas nunca falham,apesar das situações de criseem que possamos chegar a en-contrar-nos. Então a gratidãofilial e a alegria suscitam o de-sejo de adorar o Senhor, que éfiel e nunca nos deixa sozi-nhos.

    A segunda expressão, quenos pode ajudar, é pôr-se a cami-nho. Levantar os olhos era a pri-meira; a segunda: pôr-se a ca-minho. Antes de poder adoraro Menino nascido em Belém,os Magos tiveram que enfren-tar uma longa viagem. Lê-seem Mateus: «Chegaram a Je-rusalém uns Magos vindos doOriente. E perguntaram: “O n-de está o Rei dos judeus queacaba de nascer? Vimos a suaestrela no Oriente e viemosadorá-lo”» (Mt 2, 1-2). A via-gem implica sempre umatransformação, uma mudança.A pessoa, depois de uma via-gem, já não fica como antes; hásempre algo de novo em quemviajou: os seus conhecimentosalargaram-se, viu pessoas e coi-sas novas, sentiu fortalecer-se avontade ao enfrentar as dificul-dades e os riscos do trajeto.Não se chega a adorar o Se-nhor sem antes passar peloamadurecimento interior quenos dá o pôr-se a caminho.

    É através de um caminhogradual que nos tornamos ado-radores do Senhor. Por exem-plo, a experiência ensina que apessoa, aos cinquenta anos, vi-ve a adoração com um espíritodiferente de quando tinha trin-ta. Quem se deixa moldar pelagraça, costuma melhorar como passar do tempo: enquanto ohomem exterior envelhece, dizSão Paulo, o homem interiorrenova-se dia após dia (cf. 2 Cor4, 16), predispondo-se cada vezmelhor a adorar o Senhor. Des-te ponto de vista, os falimen-tos, as crises, os erros podemtornar-se experiências instruti-vas: não é raro servirem paranos tornar conscientes de quesó o Senhor é digno de ser ado-rado, porque só Ele satisfaz odesejo de vida e eternidadepresente no íntimo de cadapessoa. Além disso, com o pas-sar do tempo, as provas e ad-

    versidades da existência — vivi-das na fé — contribuem parapurificar o coração, torná-lomais humilde e, consequente-mente, mais disponível para seabrir a Deus. Inclusive os peca-dos, até a consciência de serpecador, de ter feito coisasmuito feias. “Mas eu fiz isto...aquilo...”: se tu o considerascom fé, com arrependimento,com contrição, ajudar-te-á acrescer. Tudo, tudo colabora —diz Paulo — para o crescimentoespiritual, para o encontro comJesus, inclusive os pecados,também os pecados. E S. To-más acrescenta: “Etiam morta-lia”, mesmo os pecados mor-tais, os piores. Mas se tu o con-sideras com arrependimento,ajudar-te-á nesta viagem rumoao encontro com o Senhor e aadorá-lo melhor.

    Como os Magos, tambémnós devemos deixar-nos ins-truir pelo caminho da vida,marcado pelas dificuldadesinevitáveis da viagem. Nãodeixemos que o cansaço, asquedas e os fracassos nos preci-pitem no desânimo; antes, pelocontrário, reconhecendo-oscom humildade, devemos fazerdeles ocasião de progredir parao Senhor Jesus. A vida não éuma demonstração de habili-dades, mas uma viagem rumoàquele que nos ama. Não pre-cisamos de exibir a cada passoda vida a lista das virtudes quetemos; mas, com humildade,devemos caminhar para o Se-nhor. Olhando para o Senhor,encontraremos a força paracontinuar com renovada ale-gria.

    E chegamos à terceira ex-pressão: v e r. Levantar os olhos,pôr-se a caminho, ver. Como selê no Evangelho, «entrandoem casa, [os Magos] viram oMenino com Maria, sua Mãe.Prostrando-se, adoraram-no»(Mt 2, 11). A adoração era o atode homenagem reservado aossoberanos, aos grandes digni-tários. Com efeito, os Magosadoraram aquele que sabiamser o Rei dos judeus (cf. Mt 2,2). Mas, na realidade, que vi-ram eles? Viram um meninopobre com a sua mãe. E contu-do estes sábios, vindos de paí-ses distantes, souberam trans-cender aquela cena tão humil-de e quase deprimente, reco-nhecendo naquele Menino apresença de um soberano. Por

    outras palavras, foram capazesde “ver” para além das aparên-cias. Prostrando-se diante doMenino nascido em Belém, ex-primiram uma adoração eraprimariamente interior: a aber-tura dos escrinhos trazidos deprenda foi sinal da oferta dosseus corações.

    Para adorar o Senhor, é pre-ciso “ver” para além do véu dovisível, pois este muitas vezesmostra-se enganador. Herodese os notáveis de Jerusalém re-presentam a mundanidade, pe-renemente escrava da aparên-cia. Olham, mas não conse-guem ver — já não digo que nãoacreditam; seria demais — nãoconseguem ver, porque a suacapacidade é escrava da apa-rência e à procura de atrativos:dá valor apenas às coisas sensa-cionais, aquilo que chama aatenção do vulgo. Entretanto,nos Magos, vemos um com-portamento diferente, que po-deríamos definir realismo teologal— uma palavra demasiado “al-ta”, mas pode-se dizer assim —um realismo teologal: este per-cebe com objetividade a reali-dade das coisas, chegando en-fim a compreender que Deusevita toda a ostentação. O Se-nhor encontra-se na humilda-de; o Senhor é como umacriança humilde, evita a osten-tação, que é o resultado preci-samente da mundanidade. Es-ta forma de “ver” que transcen-de o visível, faz-nos adorar oSenhor muitas vezes escondi-do em situações simples, empessoas humildes e marginais.Trata-se, pois, de um olharque, não se deixando encan-dear pelos fogos de artifício doexibicionismo, procura em ca-da ocasião aquilo que não pas-sa, procura o Senhor. Por isso,como escreve o apóstolo Pau-lo, «não olhamos para as coisasvisíveis, mas para as invisíveis,porque as visíveis são passagei-ras, ao passo que as invisíveissão eternas» (2 Cor 4, 18).

    Que o Senhor Jesus nos tor-ne seus verdadeiros adorado-res, capazes de manifestar coma vida o seu desígnio de amor,que abraça a humanidade in-teira. Peçamos, para cada umde nós e para toda a Igreja, agraça de aprender a adorar, decontinuar a adorar, de exercitarfrequentemente esta oração deadoração, porque só a Deus sedeve adorar!

    Na manhã de 6 de janeiro, no altar da Cátedra dabasílica de São Pedro, o Papa presidiu à missa nasolenidade da Epifania do Senhor. Antes da celebra-ção, foi recitado o rosário. Estavam presentes vintecardeais e, no momento da prece eucarística, aproxi-maram-se do altar o decano Giovanni Battista Re eo vice-decano Leonardo Sandri. Após a leitura doEvangelho, foi proclamado o anúncio do dia daPáscoa, que este ano será celebrado a 4 de abril. Na

    oração dos fiéis foram recordadas «as Igrejas jovense antigas», para que «cresçam juntas e se ajudemcomo Igrejas irmãs, no esforço comum de suscitarnovos discípulos do Evangelho». Orou-se também«pelos pastores do povo de Deus e pelos seus colabo-radores: à imitação da Virgem Mãe, que aos próxi-mos e distantes anunciem Cristo, verdadeira luz domundo». E a fim de que «os missionários, parti-lhando a labuta, as dores e as esperanças das pes-

    soas às quais forem enviados, possam ser testemu-nhas claras da misericórdia do Pai». Foram eleva-das intenções pelos «homens de cultura e de ciênciapara que, como os Magos, saibam reconhecer os si-nais de Deus na criação e se abram ao dom de todaa verdade». A celebração terminou com o canto daantífona «Alma Redemptoris Mater»: o Papa aca-riciou a imagem mariana e em seguida fez o sinal dacruz. No final foi entoado um hino de Natal.

    O evangelista Mateus assinalaque os Magos, quando chega-ram a Belém, «viram o Meninocom Maria, sua mãe. Prostran-do-se, adoraram-no» (Mt 2, 11).Adorar o Senhor não é fácil,não é um dado imediato: re-quer uma certa maturidade es-piritual, sendo o ponto de che-gada de um caminho interior,por vezes longo. Não é espon-tânea em nós a atitude de ado-rar a Deus. É verdade que o serhumano precisa de adorar, mascorre o risco de errar o alvo;com efeito, se não adorar aDeus, adorará ídolos — não hámeio-termo, ou Deus ou osídolos; para usar a frase de umescritor francês: «Quem nãoadora a Deus, adora o diabo»— e, em vez de ser crente, tor-nar-se-á idólatra. É assim, ouuma coisa ou outra.

    Neste nosso tempo, há par-ticular necessidade de dedicar-mos, tanto individualmentecomo em comunidade, maistempo à adoração, aprendendocada vez melhor a contemplaro Senhor. Perdeu-se um poucoo sentido da oração de adora-ção; devemos recuperá-lo, tan-to comunitariamente como naprópria vida espiritual. Por is-so, hoje, queremos aprendercom os Magos algumas liçõesúteis: como eles, queremosprostrar-nos e adorar o Senhor.Adorá-lo seriamente, não co-mo disse Herodes: «Fazei-mesaber onde é o lugar, para eu iradorá-lo». Não! Esta adoração

    O compromisso da Rede mundial de oração doPapa para o ano de 2021 começa sob o sinal dafraternidade. A intenção confiada pelo Pontífi-ce para o mês de janeiro é precisamente «Aoserviço da fraternidade».

    No vídeo, publicado a 5 de janeiro, são exibi-das imagens de pessoas pertencentes às gran-des religiões monoteístas. Uma cristã, uma mu-çulmana e um judeu são filmados durante ummomento de oração. Cada um com as suas mo-dalidades caraterísticas: a muçulmana voltadapara a Meca, ajoelhada num pequeno tapete; acristã com as mãos postas e um rosário, com oolhar fixo na imagem de Nossa Senhora do Per-pétuo Socorro; e o judeu em pé, com um textosagrado nas mãos, usando o tradicional talit e oquipá na cabeça.

    «Rezando a Deus, seguindo Jesus», diz oPapa, «unimo-nos como irmãos àqueles queoram seguindo outras culturas, outras tradiçõese outras crenças. Somos irmãos que rezam». Eprossegue, enfatizando que «a fraternidade nosleva a abrir-nos ao Pai de todos e a ver no outroum irmão, uma irmã, com quem partilhar a vidaou ajudar-se reciprocamente, para amar, para

    conhecer». Salienta também que «a Igreja va-loriza a ação de Deus noutras religiões, sem es-quecer que para nós, cristãos, a fonte da digni-dade humana e da fraternidade está no Evange-lho de Jesus Cristo». E exorta: «Nós, crentes,devemos voltar às nossas fontes e concentrar-nos no que é essencial. O essencial da nossa fé éa adoração a Deus e o amor ao próximo».

    Os três protagonistas do vídeo comunicam-se entre si, enviando mensagens através dos te-lemóveis. E trabalham juntos ao serviço dos ir-mãos na caridade. Com efeito, são filmados du-rante a realização de um refeitório para os po-bres e a distribuição das refeições. O Papa con-clui, convidando a rezar para que o Senhor«nos dê a graça de viver em plena fraternidadecom os irmãos e as irmãs de outras religiões,sem disputas, rezando uns pelos outros, aber-tos a todos».

    O vídeo — distribuído, como habitualmente,através do site www.thepopevideo.org e tradu-zido em nove línguas — foi criado e produzidopela Rede mundial de oração do Papa, em cola-boração com a agência La Machi e o Dicastériopara a comunicação.

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    Com uma carta aposólica em forma de motu proprio o Papa abre às mulheres os ministérios instituídos de Leitor e Acólito

    O testo do documento

    «Spiritus Domini»

    Carta ao prefeito da Congregaçãopara a doutrina da fé

    C A R TA APOSTÓLICASPIRITUS DOMINI

    EM FORMADE «MOTU PROPRIO»

    Sobre a modificaçãodo cân. 230 § 1 do Código

    de Direito Canónicoacerca do acesso das pessoas

    do sexo feminino aoministério instituído

    do Leitorado e do Acolitado

    OEspírito do Senhor Jesus, fon-te perene da vida e missão daIgreja, distribui aos membrosdo Povo de Deus os dons quepermitem a cada um, de mo-do diverso, contribuir para aedificação da Igreja e para oanúncio do Evangelho. Estescarismas, chamados ministé-rios, uma vez que são publica-mente reconhecidos e instituí-dos pela Igreja, são postos àdisposição da comunidade eda sua missão de forma está-vel.

    Em certos casos, esta con-tribuição ministerial tem a suaorigem num sacramento espe-cífico, a Ordem sagrada. Ou-tras tarefas, ao longo da histó-ria, foram instituídas na Igrejae confiadas mediante um rito

    litúrgico não sacramental afiéis individuais, em virtudede uma peculiar forma deexercício do sacerdócio batis-mal, e em benefício do minis-tério específico de bispos,presbíteros e diáconos.

    Seguindo uma tradição ve-nerável, a receção dos “minis-térios laicais”, que São PauloVI regulamentou no MotuProprio Ministeria quaedam (17de agosto de 1972), precediaem forma de preparação a re-ceção do Sacramento da Or-dem, embora tais ministériosfossem conferidos a outrosfiéis idóneos de sexo masculi-no.

    Algumas Assembleias doSínodo dos Bispos realçarama necessidade de aprofundardoutrinalmente este tema, demodo a responder à naturezados mencionados carismas eàs exigências dos tempos, ofe-recendo um apoio oportunoao papel de evangelização quecabe à comunidade eclesial.

    Aceitando estas recomen-dações, nestes últimos anos al-cançou-se um desenvolvimen-to doutrinal que evidencioucomo determinados ministé-rios instituídos pela Igrejatêm como fundamento a con-dição comum de batizado e osacerdócio real recebido noSacramento do Batismo; elessão essencialmente distintosdo ministério ordenado, rece-bido com o Sacramento daOrdem. Com efeito, tambémuma prática consolidada naIgreja latina confirmou quetais ministérios laicais, ba-seando-se no Sacramento doBatismo, podem ser confiadosa todos os fiéis que forem idó-

    neos, de sexo masculino ou fe-minino, de acordo com quan-to já é implicitamente previstopelo cânone 230 § 2.

    Por conseguinte, depois deter ouvido o parecer dos Di-castérios competentes, decidiprover à modificação do câno-ne 230 § 1 do Código de DireitoCanónico. Portanto, disponhoque no futuro o cânone 230 §1 do Código de Direito Canónicoseja assim redigido:

    «Os leigos que tiverem a idade eas aptidões determinadas com decre-to pela Conferência Episcopal, po-dem ser assumidos estavelmente, me-diante o rito litúrgico estabelecido,nos ministérios de leitores e de acóli-tos; no entanto, tal concessão nãolhes atribui o direito ao sustento ou àremuneração por parte da Igreja».

    Disponho do mesmo modoa modificação das outras dis-posições, corroboradas pelalei, que se referem a este câno-ne.

    Quanto deliberado por estaCarta apostólica sob forma deMotu Proprio, ordeno que te-nha vigor firme e estável, nãoobstante qualquer disposiçãocontrária, mesmo que sejadigna de menção especial, eque seja promulgado atravésda publicação em L’O s s e r v a t o reRomano, entrando em vigor nomesmo dia, e em seguida pu-blicado no comentário oficialdas Acta Apostolicae Sedis.

    Dado em Roma,junto de São Pedro,no dia 10 de janeiro

    do ano de 2021,Festa do Batismo do Senhor,

    nono do meu pontificado.

    AO VE N E R ÁV E L IRMÃOCARDEAL LUIS F. LADARIA, s.j.,

    PREFEITO DA CONGREGAÇÃOPA R A A DOUTRINA DA FÉ

    OEspírito Santo, a rela-ção de amor entre oPai e o Filho, edifica ealimenta a comunhãode todo o Povo de Deus, susci-tando nele muitos dons e caris-mas diferentes (cf. Francisco,Exortação Apostólica Evangeliigaudium, n. 117). Através dos sacra-mentos do Batismo, Crisma e Eu-caristia, os membros do Corpo deCristo recebem do Espírito doRessuscitado, em diferentes grause com diferentes expressões,aqueles dons que lhes permitemdar o contributo necessário para aedificação da Igreja e para oanúncio do Evangelho a todas ascriaturas.

    O Apóstolo Paulo distingue aeste respeito entre dons de graça-carismas (“charismata”) e serviços(“diakoniai” — “ministeria” [cf.Rm 12, 4 ss. e 1 Cor 12, 12 ss.]). Deacordo com a tradição da Igreja,são chamados ministérios as dife-rentes formas que os carismas as-sumem quando são reconhecidospublicamente e são postos à dis-posição da comunidade e à suamissão de forma estável.

    Em alguns casos o ministériotem a sua origem num sacramen-to específico, a Ordem Sagrada:estes são os ministérios “o rd e n a -dos” do bispo, presbítero e diáco-no. Noutros casos, o ministério éconfiado, por acto litúrgico dobispo, a uma pessoa que tenha re-cebido o Batismo e a Confirma-ção e em quem são reconhecidos

    carismas específicos, após umadequado caminho de prepara-ção: falamos então de ministérios“instituídos”. Muitos outros ser-viços ou cargos eclesiais são exer-cidos de facto por muitos mem-bros da comunidade, para o bemda Igreja, muitas vezes por umlongo período e com grande efi-cácia, sem que seja previsto um ri-to particular para conferir o car-go.

    Ao longo da história, com amudança das situações eclesiais,sociais e culturais, o exercício dosministérios na Igreja Católica as-sumiu diferentes formas, enquan-to a distinção, não só de grau, en-tre ministérios “instituídos” (ou“laicais”) e ministérios “o rd e n a -dos” permaneceu intacta. As pri-meiras são expressões particularesda condição sacerdotal e real pró-pria de cada batizado (cf. 1 Pd 2,9); as últimas são próprias de al-guns dos membros do Povo deDeus que, como bispos e sacerdo-tes, «recebem a missão e a facul-dade de agir na pessoa de CristoCabeça» ou, como diáconos, «es-tão habilitados a servir o Povo deDeus na diaconia da liturgia, dapalavra e da caridade» (BentoXVI, Carta Apostólica sob formade Motu Proprio Omnium in men-tem, 26 de outubro de 2009). Ex-pressões como o sacerdócio batismale o sacerdócio ordenado (ou ministe-rial) são também utilizadas paraindicar esta distinção. É bom emqualquer caso reiterar, com aconstituição dogmática Lumen gen-tium do Concílio Vaticano II, queeles «estão ordenados uns aos ou-tros; cada um, à sua maneira, par-ticipa no único sacerdócio de

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    Com uma carta aposólica em forma de motu proprio o Papa abre às mulheres os ministérios instituídos de Leitor e Acólito

    Carta ao prefeito da Congregaçãopara a doutrina da fé

    Cristo» (LG, n. 10). A vida eclesialnutre-se desta referência recíprocae é alimentada pela tensão frutuo-sa destes dois pólos do sacerdó-cio, ministerial e batismal, mesmose na sua distinção estão enraiza-dos no único sacerdócio de Cris-to.

    Em consonância com o Concí-lio Vaticano II, o Sumo PontíficeSão Paulo VI quis rever a práticados ministérios não ordenados naIgreja Latina — até então chama-dos “ordens menores” — adaptan-do-a às exigências dos tempos.Esta adaptação, contudo, não de-ve ser interpretada como uma su-peração da doutrina anterior, mascomo uma implementação do di-namismo que caracteriza a natu-reza da Igreja, sempre chamadacom a ajuda do Espírito de Ver-dade a responder aos desafios decada época, em obediência à Re-velação. A Carta Apostólica sobforma de Motu Proprio Ministeriaquaedam (15 de agosto de 1972)configura dois ofícios (tarefas), odo Leitor e o do Acólito, o pri-meiro estritamente ligado ao mi-nistério da Palavra, o segundo aoministério do Altar, sem excluirque outros “ofícios” possam serinstituídos pela Santa Sé a pedi-do das Conferências Episcopais.

    Além disso, a variação nas for-mas de exercício dos ministériosnão ordenados não é a simplesconsequência, a nível sociológico,do desejo de adaptação às sensi-bilidades ou culturas dos tempose dos lugares, mas é determinadapela necessidade de permitir a ca-da Igreja local/particular, em co-munhão com todas as outras etendo como centro de unidade a

    Igreja que está em Roma, viver aação litúrgica, o serviço aos po-bres e o anúncio do Evangelhoem fidelidade ao mandato do Se-nhor Jesus Cristo. É tarefa dosPastores da Igreja reconhecer osdons de cada batizado, orientá-los também para ministérios es-pecíficos, promovê-los e coorde-ná-los, a fim de que possam con-tribuir para o bem da comunida-de e para a missão confiada a to-dos os discípulos.

    O compromisso dos fiéis lei-gos, que «são simplesmente aimensa maioria do povo deDeus» (Francisco, ExortaçãoApostólica Evangelii gaudium, n.102), certamente não pode e nãodeve esgotar-se no exercício dosministérios não ordenados (cf. ibi-dem), mas uma melhor configura-ção destes ministérios e uma refe-rência mais precisa à responsabili-dade que nasce, para cada cristão,do Batismo e da Confirmação,pode ajudar a Igreja a redescobriro sentido de comunhão que a ca-rateriza e a iniciar um renovadocompromisso na catequese e nacelebração da fé (cf. ibidem). E éprecisamente nesta redescobertaque a sinergia frutuosa resultanteda ordenação mútua do sacerdó-cio ordenado e do sacerdócio ba-tismal pode encontrar uma me-lhor tradução. Esta reciprocidade,do serviço ao sacramento do altar,é chamada a refluir, na distinçãodas tarefas, para aquele serviço de«fazer de Cristo o coração domundo», que é a missão particu-lar de toda a Igreja. É precisa-mente este, embora distinto, ser-viço ao mundo que alarga os ho-rizontes da missão da Igreja, im-

    pedindo-a de ser encerrada em ló-gicas estéreis destinadas sobretu-do a reivindicar espaços de poder,e ajudando-a a experimentar-secomo uma comunidade espiritualque «caminha juntamente comtoda a humanidade, participa damesma sorte terrena do mundo»(GS, n. 40). É nesta dinâmica quepodemos verdadeiramente com-preender o significado da “I g re j aem saída”.

    No horizonte de renovação tra-çado pelo Concílio Vaticano II,existe hoje um crescente sentidode urgência em redescobrir a cor-responsabilidade de todos os ba-tizados na Igreja, e especialmentea missão dos leigos. A AssembleiaEspecial do Sínodo dos Bispospara a Região Pan-Amazónica (6-27 de outubro de 2019), no quintocapítulo do documento final assi-nalou a necessidade de pensar em“novos caminhos para a ministe-rialidade eclesial”. Não só para aIgreja Amazónica, mas para todaa Igreja, na variedade de situa-ções, «é urgente promover e con-ferir ministérios a homens e mu-lheres... É a Igreja dos batizadosque devemos consolidar promo-vendo a ministerialidade e, sobre-tudo, uma consciência da digni-dade batismal» (Documento Final,n. 95).

    A este respeito, sabe-se que oMotu Proprio Ministeria quaedamreserva a instituição do Ministériodo Leitor e do Acólito apenas aoshomens, e por conseguinte assimestabelece o cânon 230 § 1 do Có-digo de Direito Canónico. Contudo,em tempos recentes e em muitoscontextos eclesiais, tem sido sa-lientado que a libertação de talreserva poderia contribuir parauma maior manifestação da co-mum dignidade batismal dosmembros do Povo de Deus. Jápor ocasião da XII AssembleiaGeral Ordinária do Sínodo dosBispos sobre A Palavra de Deus naVida e na Missão da Igreja (5-26 deoutubro de 2008), os Padres sino-dais expressaram a esperança «deque o ministério do Leitor sejaaberto também às mulheres» (cf.17); e na Exortação Apostólicapós-sinodal Verbum Domini (30 desetembro de 2010), Bento XVI es-pecificou que o exercício do mu-nus do Leitor na celebração litúr-gica, e de forma particular o mi-nistério do Leitor enquanto tal,no rito latino é um ministério lai-cal (cf. n. 58).

    Durante séculos, a “veneráveltradição da Igreja” considerou aschamadas “ordens menores” — in-cluindo a do Leitor e a do Acólito— como etapas de um percursoque deveria conduzir às “o rd e n sm a i o re s ” (Subdiaconado, Diaco-nado, Presbiterado). Uma vezque o Sacramento das Ordens es-tava reservado apenas aos ho-mens, isto também se aplicava àsordens menores.

    Uma distinção mais clara entreas atribuições dos que hoje sãochamados “ministérios não orde-nados (ou laicais)” e “ministérioso rd e n a d o s ” torna possível dissol-ver a reserva dos primeiros apenasaos homens. Se em relação aosministérios ordenados a Igreja«não tem de modo algum a facul-dade de conferir a ordenação sa-cerdotal às mulheres» (cf. S. JoãoPaulo II, Carta Apostólica O rd i n a -

    tio sacerdotalis, 22 de maio de 1994),para ministérios não ordenados épossível, e hoje parece oportuno,superar esta reserva. Esta reservafazia sentido num contexto parti-cular, mas pode ser reconsideradaem novos contextos, tendo sem-pre como critério a fidelidade aomandato de Cristo e o desejo deviver e proclamar o Evangelhotransmitido pelos Apóstolos econfiado à Igreja para que possaser escutado de forma religiosa,guardado de forma santa e fiel-mente anunciado.

    Não sem razão, São Paulo VIrefere-se a uma tradição v e n e ra b i l i s ,não a uma tradição veneranda, nosentido estrito (ou seja, uma tra-dição que “deve” ser observada):pode ser reconhecida como váli-da, e durante muito tempo o foi;não é, no entanto, vinculativa,uma vez que a reserva apenas aoshomens não pertence à naturezaprópria dos ministérios do Leitore do Acólito. Oferecer aos leigosde ambos os sexos a possibilidadede acesso aos ministérios do Acó-lito e do Leitor, em virtude da suaparticipação no sacerdócio batis-mal, aumentará o reconhecimen-to, também através de um acto li-túrgico (instituição), da preciosacontribuição que durante muitotempo muitos leigos, incluindomulheres, oferecem à vida e mis-são da Igreja.

    Por estas razões, considereioportuno estabelecer que possamser instituídos como Leitores ouAcólitos não só homens mas tam-bém mulheres, nos quais e nasquais, através do discernimentodos pastores e após adequadapreparação, a Igreja reconhece «a

    firme vontade de servir fielmentea Deus e ao povo cristão», comoestá escrito no Motu Proprio Mi-nisteria quaedam, em virtude do sa-cramento do Batismo e da Con-firmação.

    A decisão de conferir estes ofí-cios, que implicam estabilidade,reconhecimento público e ummandato do bispo, também àsmulheres, torna mais eficaz naIgreja a participação de todos naobra de evangelização. «Isto tam-bém permite que as mulheres te-nham uma incidência real e efeti-va na organização, nas decisõesmais importantes e na liderançadas comunidades, mas sem deixarde o fazer com o estilo próprio dasua marca feminina» (Francisco,

    Exortação Apostólica QueridaAm a z o n i a , n. 103). O “sacerdó ciobatismal” e o “serviço à comuni-dade” representam assim os doispilares sobre os quais se baseia ainstituição dos ministérios.

    Desta forma, além de respon-der ao que é pedido para a missãono tempo presente e de acolher otestemunho dado por tantas mu-lheres que cuidaram e continuama cuidar do serviço da Palavra edo Altar, tornar-se-á mais eviden-te — também para aqueles que seorientam para o ministério orde-nado — que os ministérios do Lei-tor e do Acólito estão enraizadosno sacramento do Batismo e daConfirmação. Deste modo, no ca-minho que conduz à ordenaçãodiaconal e sacerdotal, aqueles quesão instituídos Leitores e Acólitoscompreenderão melhor que parti-cipam num ministério partilhadocom outros batizados, homens emulheres. Deste modo, o sacer-dócio próprio de cada fiel (commu-nis sacerdotio) e o sacerdócio dosministros ordenados ( s a c e rd o t i u mministeriale seu hierarquicum) serão or-denados ainda mais claramenteuns para os outros (cf. LG, n. 10),para a edificação da Igreja e parao testemunho do Evangelho.

    Será tarefa das ConferênciasEpiscopais estabelecer critériosadequados para o discernimentoe preparação dos candidatos e dascandidatas para os ministérios doLeitor ou do Acólito, ou outrosministérios que considerarem ins-tituídos, de acordo com o que jáestá disposto no Motu ProprioMinisteria quaedam, com a aprova-ção prévia da Santa Sé e de acor-do com as necessidades de evan-

    gelização no seu território.A Congregação para o Culto

    Divino e a Disciplina dos Sacra-mentos providenciará a imple-mentação da reforma acima refe-rida, alterando a Editio typica doPontificale romanum ou “De Institutio-ne Lectorum et Acolythorum”.

    Ao renovar-lhe a certeza dasminhas orações, concedo cordial-mente a Bênção Apostólica a Vos-sa Eminência, incluindo de bomgrado todos os Membros e Cola-boradores da Congregação para aDoutrina da Fé.

    Vaticano, 10 de janeiro de 2021,Festa do Batismo do Senhor.

    FRANCISCO

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 6 terça-feira 12 de janeiro de 2021, número 2

    Apelo do Santo Padre Francisco na mensagem para o XXIX dia mundial do doente

    É necesssário investir recursosno cuidado e na assistência

    O Papa escreveu ao Cardeal venezuelano Porras Cardozo

    Pastor de um povo que sofre

    «O mandamento do amor, que Jesus deixouaos seus discípulos, encontra uma realizaçãoconcreta também no relacionamento com osdoentes», recordou o Papa Francisco na men-sagem para o XXIX Dia mundial do doenteque será celebrado a 11 de fevereiro, memória li-túrgica de Nossa Senhora de Lourdes. Publica-mos a seguir a mensagem pontifícia.

    «Um só é o vosso Mestree vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8).

    A relação de confiança na basedo cuidado dos doentes

    Queridos irmãos e irmãs!A celebração do XXIX Dia Mundial doDoente que tem lugar a 11 de fevereirode 2021, memória de Nossa Senhorade Lourdes, é momento propí-cio para prestar uma atençãoespecial às pessoas doentes e aquantos as assistem quer noscentros sanitários quer no seiodas famílias e comunidades.Penso de modo particular naspessoas que sofrem em todo omundo os efeitos da pandemiado coronavírus. A todos, espe-cialmente aos mais pobres emarginalizados, expresso a mi-nha proximidade espiritual, as-segurando a solicitude e o afetoda Igreja.

    1. O tema deste Dia inspira-se no trecho evangélico em queJesus critica a hipocrisia dequantos dizem mas não fazem(cf. Mt 23, 1-12). Quando a fé fi-ca reduzida a exercícios verbaisestéreis, sem se envolver na his-tória e nas necessidades do ou-tro, então falha a coerência en-tre o credo professado e a vidareal. O risco é grave; Jesus, paraacautelar do perigo de derrapa-gem na idolatria de si mesmo,usa expressões fortes e afirma:«Um só é o vosso Mestre e vós sois to-dos irmãos» (23, 8).

    Esta crítica feita por Jesusàqueles que «dizem e não fa-zem» (23, 3) é sempre salutarpara todos, pois ninguém estáimune do mal da hipocrisia,um mal muito grave, cujo efei-to é impedir-nos de desabro-char como filhos do único Pai,chamados a viver uma fraterni-dade universal.

    Como reação à necessidadeem que versa o irmão e a irmã,Jesus apresenta um modelo decomportamento totalmente oposto àhipocrisia: propõe deter-se, escutar,estabelecer uma relação direta e pes-soal, sentir empatia e enternecimento,deixar-se comover pelo seu sofrimen-to até lhe valer e servir (cf. Lc 10, 30-35).

    2. A experiência da doença faz-nossentir a nossa vulnerabilidade e, aomesmo tempo, a necessidade naturaldo outro. Torna ainda mais nítida anossa condição de criaturas, experi-mentando de maneira evidente a nos-sa dependência de Deus. De facto,quando estamos doentes, a incerteza,o temor e, por vezes, o pavor impreg-nam a mente e o coração; encontramo-nos numa situação de impotência,porque a saúde não depende das nos-

    sas capacidades nem do nosso afã (cf.Mt 6, 27).

    A doença obriga a questionar-se so-bre o sentido da vida; uma perguntaque, na fé, se dirige a Deus. Nela, pro-cura-se um significado novo e uma di-reção nova para a existência e, por ve-zes, pode não encontrar imediatamen-te uma resposta. Os próprios amigos efamiliares nem sempre são capazes denos ajudar nesta busca afanosa.

    Emblemática a este respeito é a fi-gura bíblica de Job. A esposa e os ami-gos não conseguem acompanhá-lo nasua desventura; antes, acusam-no au-mentando nele solidão e desorienta-mento. Job cai num estado de aban-dono e confusão. Mas é precisamenteatravés desta fragilidade extrema, re-jeitando toda a hipocrisia e escolhen-do o caminho da sinceridade para comDeus e os outros, que faz chegar o seugrito instante a Deus, que acaba porresponder abrindo-lhe um novo hori-zonte: confirma que o seu sofrimentonão é uma punição nem um castigo,tal como não é distanciamento deDeus nem sinal de indiferença d’Ele.E assim, do coração ferido e recupera-do de Job, brota aquela vibrante e co-movente declaração ao Senhor: «Osmeus ouvidos tinham ouvido falar de

    ti, mas agora veem-te os meus pró-prios olhos» (Job 42, 5).

    3. A doença tem sempre um rosto, eaté mais do que um: o rosto de todas aspessoas doentes, mesmo daquelas quese sentem ignoradas, excluídas, víti-mas de injustiças sociais que lhes ne-gam direitos essenciais (cf. Enc. Fra t e l l itutti, 22). A atual pandemia colocouem evidência tantas insuficiências dossistemas sanitários e carências na as-sistência às pessoas doentes. Viu-seque, aos idosos, aos mais frágeis e vul-neráveis, nem sempre é garantido oacesso aos cuidados médicos, ou não oé sempre de forma equitativa. Isto de-pende das opções políticas, do modode administrar os recursos e do empe-nho de quantos revestem funções deresponsabilidade. O investimento derecursos nos cuidados e assistência daspessoas doentes é uma prioridade di-tada pelo princípio de que a saúde éum bem comum primário. Ao mesmotempo, a pandemia destacou tambéma dedicação e generosidade de profis-sionais de saúde, voluntários, traba-lhadores e trabalhadoras, sacerdotes,religiosos e religiosas: com profissio-nalismo, abnegação, sentido de res-ponsabilidade e amor ao próximo,ajudaram, trataram, confortaram e

    serviram tantos doentes e os seus fami-liares. Uma série silenciosa de homense mulheres que optaram por fixaraqueles rostos, ocupando-se das feri-das de pacientes que sentiam comopróximo em virtude da pertença co-mum à família humana.

    Com efeito, a proximidade é umbálsamo precioso, que dá apoio e con-solação a quem sofre na doença. En-quanto cristãos, vivemos uma tal pro-ximidade como expressão do amor deJesus Cristo, o bom Samaritano, que,compadecido, Se fez próximo de todoo ser humano, ferido pelo pecado.Unidos a Ele pela ação do EspíritoSanto, somos chamados a ser miseri-cordiosos como o Pai e a amar, de mo-do especial, os irmãos doentes, frágeise atribulados (cf. Jo 13, 34-35). E vive-mos esta proximidade pessoalmente,mas também de forma comunitária:na realidade, o amor fraterno em Cris-to gera uma comunidade capaz de cu-rar, que não abandona ninguém, queinclui e acolhe sobretudo os mais frá-geis.

    A propósito, quero recordar a im-portância da solidariedade fraterna,que se manifesta concretamente noserviço, podendo assumir formas mui-to diferentes mas todas elas tendentes

    a apoiar o próximo. «Servir significacuidar dos frágeis das nossas famílias,da nossa sociedade, do nosso povo».Neste compromisso, cada um é capazde, «à vista concreta dos mais frágeis(...), pôr de lado as suas exigências eexpectativas, os seus desejos de omni-potência (...): o serviço fixa sempre orosto do irmão, toca a sua carne, sentea sua proximidade e, em alguns casos,até “padece” com ela e procura a pro-moção do irmão. Por isso, o serviçonunca é ideológico, dado que não ser-vimos ideias, mas pessoas» (Homilia emHavana, 20 de setembro de 2015).

    4. Para haver uma boa terapia é de-cisivo o aspeto relacional, através doqual se pode conseguir uma aborda-gem holística da pessoa doente. A va-lorização deste aspeto ajuda tambémos médicos, enfermeiros, profissionaise voluntários a ocuparem-se daquelesque sofrem para os acompanhar aolongo do itinerário de cura, graças auma relação interpessoal de confiança(cf. Nova Carta dos Agentes da Saúde, 2016,4). Trata-se, pois, de estabelecer umpacto entre as pessoas carecidas decuidados e aqueles que as tratam; umpacto baseado na confiança e respeitomútuos, na sinceridade, na disponibi-lidade, de modo a superar toda e qual-

    quer barreira defensiva, colocarno centro a dignidade da pes-soa doente, tutelar o profissio-nalismo dos agentes de saúde emanter um bom relacionamen-to com as famílias dos doentes.

    Tal relação com a pessoadoente encontra uma fonteinesgotável de motivações eenergias precisamente na cari-dade de Cristo, como demonstrao testemunho milenar de ho-mens e mulheres que se santifi-caram servindo os enfermos.Efetivamente, do mistério damorte e ressurreição de Cristo,brota aquele amor que é capazde dar sentido pleno tanto àcondição do doente como à dapessoa que cuida dele. Assim oatesta muitas vezes o Evange-lho quando mostra que as curasrealizadas por Jesus nunca sãogestos mágicos, mas fruto deum e n c o n t ro , uma relação interpes-soal, em que ao dom de Deus,oferecido por Jesus, correspon-de a fé de quem o acolhe, comose resume nesta frase que Jesusrepete com frequência: «A tuafé te salvou».

    5. Queridos irmãos e irmãs,o mandamento do amor, queJesus deixou aos seus discípu-los, encontra uma realizaçãoconcreta também no relaciona-mento com os doentes. Umasociedade é tanto mais humanaquanto melhor souber cuidardos seus membros frágeis e atri-bulados e o fizer com uma efi-ciência animada por amor fra-terno. Tendamos para esta me-ta, procurando que ninguém fi-

    que sozinho, nem se sinta excluído eabandonado.

    Todas as pessoas doentes, os agen-tes da saúde e quantos se prodigali-zam junto dos que sofrem, confio-os aMaria, Mãe de Misericórdia e Saúdedos Enfermos. Que Ela, da Gruta deLourdes e dos seus inumeráveis san-tuários espalhados por todo o mundo,sustente a nossa fé e a nossa esperançae nos ajude a cuidar uns dos outroscom amor fraterno. A todos e cada umconcedo, de coração, a minha bênção.

    Roma, São João de Latrão,4º Domingo de Advento,20 de dezembro de 2020.

    «Deus continue a dar-te força e parrésia a fim deque, com o coração de pai, saibas acompanhar econsolar o seu santo povo fiel, posto à prova pelossofrimentos causados pelo flagelo da pandemia, pelaarrogância dos poderosos e pela crescente pobrezaque o sufoca». Eis os votos que o Papa Francisco —numa breve mensagem transmitida na solenidade daEpifania, data em que se recorda também São Bal-tasar, um dos três reis magos — dirigiu ao cardeal ve-nezuelano Baltazar Enrique Porras Cardozo, arcebis-po de Merida e administrador apostólico de Caracas,

    por ocasião do seu onomástico. No texto, o Pontí-fice assegura orações pelo ministério episcopal dopurpurado, confiando-o à proteção da Virgem Mariae de São José, bem como ao patrocínio do santo reimago, Baltazar, com a certeza da sua Bênção apos-tólica.

    Aos votos formulados pelo Papa uniram-se tam-bém o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado,que foi núncio apostólico na Venezuela, e o arcebis-po venezuelano Edgar Peña Parra, substituto da Se-cretaria de Estado.

    «Jesus cura um doente», afresco no mosteiro de Dečani (Sérvia)

  • L’OSSERVATORE ROMANOnúmero 2, terça-feira 12 de janeiro de 2021 página 7

    INFORMAÇÕES

    Onde quer que haja um irmãoà espera de ajuda

    O trabalho da organização sem fins lucrativos “Hop e” no Brasil contra a Covid

    SI LV I A CAMISASCA

    Os olhares cruzaram-se pela primeiravez num encontromuito rápido entrea clínica Mangiagalli e o vai-vém de ambulâncias no pátioda policlínica de Milão: ela,Elena Fazzini, fundadora e res-ponsável de “Hop e”, organiza-ção sem fins lucrativos sediadaem Milão, altamente especiali-zada em projetos humanitáriospara a saúde e a educação; eele, Paolo Taccone, diretor mé-dico de cuidados intensivos nomesmo hospital, desde feverei-ro em primeira linha na bata-lha contra a Covid-19. E se éverdade que alguns encontrosmudam a vida, os deles salva-ram centenas de pessoas: osnumerosos pacientes curados,quando as últimas esperançasdesvaneciam, com equipamen-tos médicos que, através deHope, foram importados paraa Itália e depois, em tempo re-corde, doados a hospitais naluta contra o vírus. O extraor-dinário espírito de sacrifíciocom que trabalharam e a efi-ciência das suas intervençõesdistinguiu Hope a tal pontoque até o Papa Francisco suge-riu que à equipe de Elena fosseconfiada a responsabilidade deorientar os esforços de socorroa alguns hospitais nos confinsda terra: Brasil, Líbano e, logoque Elena e a sua organizaçãohumanitária puderem contarcom os recursos necessários, aAmazónia e a Índia.

    São muitos os recantos doplaneta onde há sofrimento edor; em cada terra há um ir-mão à espera da nossa ajuda.Em lugares fronteiriços, uni-dos pela necessidade urgentede ventiladores pulmonares,ultrassons, monitores e outrosaparelhos médicos que salvamvidas, levar ajuda significa daresperança deveras concreta devida e de cuidados. Paolo, quehá poucos meses era médicoreanimador que trabalhava emunidades de terapia intensivana luta à Covid-19 em Milão,agora é também especial em-baixador voluntário de Hope,pronto para levar a tecnologiada saúde onde quer que sejanecessária. As pessoas morremde coronavírus, mas um venti-lador mecânico e um médicoformado na sua utilização po-dem fazer a diferença: é por is-so que Hope oferece, além dosdispositivos de saúde, a forma-ção especializada necessáriapara fazer o melhor uso da tec-nologia. Para atuar da melhorforma possível, organizar mis-sões em lugares remotos, ondemuitas vezes é difícil chegar, eem condições logísticas com-plexas, é necessária uma certacapacidade para enfrentareventos e incidentes inespera-dos, para os quais tem sido útila experiência de Elena, conso-lidada em organizações huma-nitárias, bem como o grandedesejo de se dedicar gratuita-mente ao serviço do próximo:qualidade que atraiu Paolo aesta aventura. «Lembrar-me-eisempre do telefonema de 15 defevereiro, com o qual Elena,respondendo ao nosso apelodesesperado por ventiladores,repentinamente não disponí-veis, com incrível energia e de-terminação restituía confiançaa todos nós. Este é também oespírito que me levou a esco-lher a profissão médica», afir-

    mou Paolo. Da policlínica deMilão e do hospital San Gerar-do de Monza, com os primei-ros 18 ventiladores, continuan-do com os de Bergamo, Bres-cia, Pavia e Como, todos oshospitais da Lombardia rece-beram o equipamento necessá-rio. «Foi uma luta contra umvírus invisível, mas tambémcontra o tempo, poder levarajuda tangível em apenas umasemana, com todas as compli-cações de uma experiêncianunca vivida antes». Dois se-res humanos, como todos nóscom muitos receios e dúvidasperante a escuridão de um pe-ríodo tão incerto, escolheramfazer a sua parte para o bem dacomunidade humana, a únicaem que todos nos reconhece-mos. E assim, silenciosamente,sem qualquer heroísmo osten-tado, a sua rotina diária trans-formou-se na busca de meios erecursos para recuperar apare-lhos salva-vidas e depois trans-feri-los para as estruturas hos-pitalares. Em seguida, a fase deformação do pessoal médicopara a utilização dos apare-lhos.

    Como organização humani-tária, especializada em proje-tos de saúde e educação na Itá-lia e no Médio Oriente, e pre-parada para trabalhar em con-textos de emergência, desde fe-vereiro Hope destacou-se co-mo um dos principais protago-nistas capazes de implementarações específicas em respostaao SOS dos hospitais commaiores dificuldades no trata-mento de doentes atingidospela epidemia de coronavírus.Centenas de milhares de dis-positivos de proteção para osprofissionais da saúde e a po-pulação, e mais de 170 apare-lhos médicos salva-vidas, mastambém prestação de serviçosao pessoal médico e oferta demeios às famílias dos doentesem dificuldades concretas. Pe-la segunda vez, nesta novaemergência, a mobilização foirápida e, agora, incansavel-mente, os voluntários chegamonde há necessidade — hospi-tais, paróquias e famílias em si-tuações difíceis — levando res-piradores pulmonares, másca-ras, computadores e alimentos.Contudo, a missão que melhordemonstra a amplitude da soli-dariedade humana viu Hope

    protagonista da maior opera-ção italiana a favor dos hospi-tais brasileiros, através da com-pra e doação de 18 unidades deterapia intensiva equipadascom ventiladores pulmonaresde alta tecnologia e ecógrafosportáteis para o diagnóstico etratamento da Covid-19, comum valor superior a um milhãode euros, obtido graças ao pre-cioso apoio de doadores parti-culares e associações filantró-picas, incluindo a Fundaçãoeuropeia Guido Venosta, deGiuseppe Caprotti.

    A iniciativa nasceu em res-posta ao apelo do Papa Fran-cisco através do seu esmoler,cardeal Konrad Krajewski,que confiou a Elena a missãono então segundo país do

    mundo por número de contá-gios e mortes. Como testemu-nho do grande trabalho reali-zado, uma nova unidade de te-rapia intensiva chamada Unida-de intensiva Papa Francisco & HopeOnlus foi inaugurada no hospi-tal São Lucas, em Porto Ale-gre, com um gesto que mani-festa a gratidão de toda a vastacomunidade local. Nesta lon-ga viagem da esperança, PaoloTaccone foi acompanhado pe-lo ex-dirigente do Banco mun-dial, Antonio Guizzetti, quetambém é voluntário de Hope.Juntos viajaram milhares dekm até às estruturas mais des-favorecidas, de difícil acesso,também de um ponto de vistalogístico. Com efeito, algunsdestes hospitais encontram-se

    em recantos remotos do país eoferecem serviços de saúdenum raio de quinhentos km,cobrindo assim as áreas habita-das pela população amazóni-ca. Receberam os equipamen-tos médicos os centros que es-tavam desprovidos, geridosprincipalmente por várias or-dens religiosas, que oferecemcuidados gratuitos a todos: ohospital Santa Casa da Miseri-córdia em Goiânia, o hospitalde maternidade Dom Orioneem Araguaiana, a sociedadebeneficente São Camilo emCrato, o hospital São José emAracaju, o hospital São Fran-cisco na Providência de Deus,no Rio de Janeiro, e o hospitalSão Lucas em Porto Alegre.Todos foram doados, sem na-

    da exigir em troca. «Não foiabsolutamente fácil encontrardoadores prontos a apostarnuma missão quase impossível— admite Elena, na véspera dasua partida para a próximamissão, no Líbano — mas noBrasil, na Índia e no Líbano,há milhares de pessoas esque-cidas, que a epidemia corre orisco de tornar invisíveis: pelocontrário, esta deve ser a oca-sião para despertar em todosuma humanidade e uma forçahoje adormecidas. Pois cabe anós e às novas gerações capita-lizar a necessidade de uma re-lação com o outro, renovandoo nosso olhar sobre o próximo:um olhar que restitua sentido eesperança à vida de todos osdias».

    Renúncias

    O Sumo Pontífice aceitou a renúncia:

    A 31 de dezembro de 2020De D. Thomas E. Gullickson, Ar-

    cebispo Titular de Polymartium, aocargo de Núncio Apostólico na Suíçae no Liechtenstein.

    A 3 de janeiroDe D. Tadeusz Kondrusiewicz, ao

    governo pastoral da ArquidioceseMetropolitana de Minsk-Mohilev(Belarus), em conformidade com ocânone 401 § 1 do Código de DireitoCanónico (CD C).

    A 4 de janeiroDo Senhor Cardeal John Njue, ao

    governo pastoral da ArquidioceseMetropolitana de Nairobi (Quénia).

    De D. Henryk Marian Tomasik,ao governo pastoral da Diocese deRadom (Polónia).

    Nomeações

    O Santo Padre nomeou:

    No dia 1 de janeiroNúncio Apostólico na Argélia, D.

    Kurian Mathew Vayalunkal, Arcebis-po Titular de Ratiaria, até agoraNúncio Apostólico na Papua-NovaGuiné e nas Ilhas Salomão.

    Arcebispo Coadjutor da Arquidio-

    cese Metropolitana de Wellington(Nova Zelândia), D. Paul Martin,S.M., até esta data Bispo da Diocesede Christchurch.

    Vigário Apostólico de Quetta (Pa-quistão), o Rev.do Pe. Khalid Reh-mat, O.F.M. C A P., até à presente dataGuardião da Ordem dos Frades Me-nores Capuchinhos no Paquistão.

    D. Khalid Rehmat, O.F.M. C A P., nasceu nodia 5 de agosto de 1968, em Mianwali, Dio-cese de Islamabad-Rawalpindi, no Paquis-tão. Emitiu os votos solenes na Família reli-giosa dos Frades Menores Capuchinhos em28 de dezembro de 2007 e recebeu a Ordena-ção presbiteral a 16 de agosto de 2008.

    No dia 3 de janeiroAdministrador Apostólico “sede

    vacante” da Arquidiocese Metropoli-tana de Minsk-Mohilev (Belarus), D.Kazimierz Wielikosielec, O.P., atual-mente Bispo Titular de Blanda Juliae Auxiliar da Diocese de Pinsk.

    Arcebispo Metropolitano da Ar-quidiocese de Korhogo (Costa doMarfim), D. Ignace Bessi Dogbo, atéhoje Bispo da Diocese de Katiola.

    No dia 4 de janeiroBispo da Diocese de Radom (Po-

    lónia), D. Marek Solarczyk, até agoraBispo Titular de Hólar e Auxiliar daDiocese de Warszawa-Praga.

    No dia 5 de janeiroBispo da Diocese de Buéa (Cama-

    rões), D. Michael Miabesue Bibi, até

    esta data Bispo Titular de Amudarsae Auxiliar da Arquidiocese Metropo-litana de Bamenda.

    Prelados falecidos

    Adormeceram no Senhor:

    A 31 de dezembro de 2020D. Floribert Songasonga Mwitwa,

    Arcebispo Emérito de Lubumbashi,na República Democrática do Con-go.

    O ilustre Prelado nasceu em Kalas, Ar-quidiocese de Lubumbashi (República Demo-crática do Congo), a 29 de agosto de 1937.Foi ordenado Sacerdote em 14 de agosto de1963 e recebeu a Ordenação episcopal no dia24 de agosto de 1974.

    A 4 de janeiroD. Antoni Stankiewicz, Bispo Ti-

    tular de Nova Petra, Decano Eméritoda Rota Romana.

    O venerando Prelado nasceu em Oleszcze-nice (Polónia), a 1 de outubro de 1935. Re-cebeu a Ordenação presbiteral a 20 de de-zembro de 1958 e foi ordenado Bispo em 16de dezembro de 2006.

    D. Guillermo Rodríguez—Melga-rejo, Bispo Emérito de San Martín,na Argentina.

    O saudoso Prelado nasceu no dia 20 demaio de 1943, em Buenos Aires (Argentina).Foi ordenado Presbítero em 23 de maio de1970 e recebeu a Ordenação episcopal a 27de setembro de 1994.

  • L’OSSERVATORE ROMANOpágina 8 terça-feira 12 de janeiro de 2021, número 2

    Reconciliação nacionale tutela da democracia nos E UA

    ANGELUS — Apelo do Papa depois do assédio ao congresso dos Estados Unidos

    O Papa pediu às autoridades e «ao povo dos Estados Unidos da América,abalado pelo recente ataque ao Congresso», um duplo compromisso em prol da«reconciliação nacional» e da salvaguarda dos «valores democráticos enrai-zados na sociedade». O apelo foi lançado a 10 de janeiro, no final do Angelusrecitado na Biblioteca do Palácio apostólico do Vaticano, ainda sem a presençade fiéis por causa do coronavírus. Precedentemente, comentando o Evangelhodo dia, Francisco propôs uma meditação sobre o Batismo de Jesus.

    O batismo de João consistianum rito penitencial, era sinalda vontade de se converter, deser melhor, pedindo perdãopelos próprios pecados. Certa-mente Jesus não os tinha. Defacto, João Batista procuraopor-se, mas Jesus insiste.Porquê? Porque quer estarcom os pecadores: é por issoque se põe na fila com eles efaz o mesmo gesto. Ele fá-locom a atitude do povo, com asua atitude [do povo] que, co-mo diz um hino litúrgico, seaproximava com “nua a alma enus os pés”. A alma nua, ou

    seja, sem cobrir nada, pecador.Este é o gesto que Jesus faz, edesce ao rio para se imergir nanossa própria condição. Comefeito, batismo significa preci-samente “imersão”. No pri-meiro dia do seu ministério,Jesus oferece-nos assim o seu“manifesto programático”. Elediz-nos que não nos salva decima, com uma decisão sobe-rana ou um ato de força, um

    decreto, não: salva-nos vindoaté nós e assumindo os nossospecados. É assim que Deusvence o mal do mundo: abai-xando-se, e assumindo-o sobresi mesmo. É também o modocomo podemos elevar os ou-tros: não julgando, não lhesdizendo o que fazer, mas es-tando perto deles, partilhandoo amor de Deus. A proximida-de é o estilo de Deus para con-nosco; Ele próprio disse aMoisés: “Pensa: que pessoastêm os seus deuses tão próxi-mos como tu me tens a mim?”.A proximidade é o estilo deDeus para connosco.

    Depois deste gesto de com-paixão de Jesus, acontece umacoisa extraordinária: os céusabrem-se e a Trindade é final-mente revelada. O EspíritoSanto desce sob a forma depomba (cf. Mc 1, 10) e o Pai diza Jesus: «Tu és o meu Filhomuito amado» (v. 11). Deusmanifesta-se quando a miseri-córdia aparece. Não vos es-queçais disto: Deus manifesta-se quando a misericórdia apa-rece, porque esse é o seu rosto.Jesus faz-se servo dos pecado-res e é proclamado Filho; Eleabaixa-se sobre nós e o Espíri-to desce sobre Ele. O amorchama pelo amor. Também seaplica a nós: em cada gesto deserviço, em cada obra de mise-ricórdia que realizamos, Deusmanifesta-se, Deus põe o seuolhar sobre o mundo. Isto éválido para nós.

    Mas, mesmo antes que faça-mos algo, a nossa vida é mar-cada pela misericórdia que sepousou sobre nós. Fomos sal-vos gratuitamente. A salvaçãoé gratuita. É o gesto gratuitode misericórdia de Deus paraconnosco. Sacramentalmente,isto é feito no dia do nosso ba-tismo; mas até aqueles que não

    são batizados recebem semprea misericórdia de Deus, por-que Deus está lá, à espera, àespera de que as portas doscorações se abram. Ele aproxi-ma-se, ouso dizer, acaricia-noscom a sua misericórdia.

    Que Nossa Senhora, aquem agora rezamos, nos aju-de a salvaguardar a nossa iden-tidade, ou seja, a identidade desermos “m i s e r i c o rd i a d o s ”, queestá a base da fé e da vida.

    Após a oração mariana, o Pontíficefalou sobre a situação nos EstadosUnidos; depois, saudando os fiéis quesintonizados através dos meios de co-municação social, lamentou não terpodido batizar — devido às limita-ções impostas pela pandemia — os re-cém-nascidos na Capela Sistina, se-gundo a tradição, e dirigiu um pen-samento a «todas as crianças queneste período recebem» o sacramento.No final, recordou a conclusão dotempo litúrgico do Natal e o início dotempo comum, exortando a «vivercom amor as situações da vida» pa-ra «as tornar extraordinárias».

    Estimados irmãos e irmãsDirijo uma saudação afetuosa

    ao povo dos Estados Unidosda América, abalado pelo re-cente assédio ao Congresso.Rezo por quantos perderam avida — cinco — naqueles mo-mentos dramáticos. Reiteroque a violência é sempre auto-destrutiva. Nada se ganhacom a violência e muito seperde. Exorto as Autoridadesdo Estado e toda a populaçãoa manterem um elevado senti-do de responsabilidade, a fimde acalmar os ânimos, promo-ver a reconciliação nacional eproteger os valores democráti-cos enraizados na sociedadeamericana. Que a VirgemImaculada, Padroeira dos Es-tados Unidos da América, aju-de a manter viva a cultura doencontro, a cultura do cuida-do, como via mestra paraconstruir juntos o bem co-mum; e que o faça com todosos que vivem naquela terra.

    E agora saúdo de coraçãotodos vós que estais conecta-dos através dos meios de co-municação social. Como sa-beis, devido à pandemia, nãopude celebrar hoje os Batis-mos na Capela Sistina, como éhabitual. Contudo, gostaria deassegurar as minhas oraçõespelas crianças que foram ins-critas e pelos seus pais, padri-nhos e madrinhas; e tambémpor todas as crianças que nestemomento estão a receber o Ba-tismo, a receber a identidadecristã, a receber a graça doperdão e da redenção. Deusabençoe a todos!

    E amanhã, caros irmãos e ir-mãs, ao concluir o Tempo doNatal, retomaremos com a li-turgia o caminho do TempoComum. Não nos cansemosde invocar a luz e a força doEspírito Santo, para que nosajude a viver as coisas comunscom amor e, assim, torná-lasextraordinárias. É o amor quemuda: as coisas comuns pare-cem continuar a ser comuns,mas quando são feitas comamor, tornam-se extraordiná-rias. Se permanecermos aber-tos, dóceis ao Espírito, Ele iráinspirar os nossos pensamen-tos e ações quotidianas.

    Desejo a todos um bom do-mingo. Por favor, não vos es-queçais de rezar por mim.Bom almoço e até à vista!

    Amados irmãos e irmãs,bom dia!Hoje celebramos o Batismodo Senhor. Há alguns diasdeixámos o menino Jesus, visi-tado pelos Magos; agora en-contramo-lo adulto nas mar-gens do Jordão. A Liturgiafaz-nos dar um salto de quase

    trinta anos, trinta anos dosquais sabemos uma coisa: fo-ram anos de vida escondida,que Jesus passou em família —primeiro, alguns anos no Egi-to, como migrante fugido daperseguição de Herodes, osoutros em Nazaré, aprenden-do o ofício de José — em famí-lia obedecendo aos pais, estu-dando e trabalhando. É im-pressionante que a maior parte

    do tempo do Senhor na Terratenha sido passado desta for-ma, vivendo a vida quotidia-na, sem aparecer. Pensemosque, de acordo com os Evan-gelhos, foram três anos de pre-gações, milagres e muitas coi-sas. Três. E os outros, todos,de vida escondida em família.

    É uma bela mensagem paranós: revela-nos a grandeza do diaa dia, a importância aos olhosde Deus de cada gesto e mo-mento da vida, até o mais sim-ples, o mais escondido.

    Após estes trinta anos de vi-da escondida, começa a vidapública de Jesus. E tem inícioprecisamente com o batismono rio Jordão. Mas Jesus éDeus, por que se faz batizar?

    CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 1

    sões sociais até dentro dos Estados”.E assim falou da “classe dirigente”quer na Igreja, quer na vida política.Neste momento de crise, exortou,“toda a classe dirigente não tem o di-reito de dizer ‘eu’… deve dizer ‘nós’e buscar uma unidade diante da cri-se”. Neste momento, reafirmou comforça, “um político, um pastor, umcristão, um católico, ou um bispo,um sacerdote, que não tem a capaci-dade de dizer ‘nós’ em vez do ‘eu’,não está à altura da situação”. Eacrescentou que os “conflitos na vidasão necessários, mas neste momentodevem ir de férias”, dar espaço à uni-dade “do país, da Igreja, da socieda-de”.

    Aborto é questão humanaantes de ser religiosa

    Mais uma vez, Francisco observouque a crise devida à pandemia exa-cerbou ainda mais a “cultura do des-

    carte” no confronto dos mais fracos,quer sejam pobres, migrantes ou ido-sos. Falou especialmente no dramado aborto que descarta crianças inde-sejadas. “O problema do aborto”, ad-vertiu, “não é um problema religioso,é um problema humano, pré-religio-so, é um problema de ética humana”e depois religioso. “É um problemaque também um ateu tem de resolverna sua consciência”. “É correto”, per-guntou o Pontífice, “cancelar uma vi-da humana para resolver um proble-ma, qualquer problema? É corretocontratar um assassino para resolverum problema?”.

    Capitol Hil,aprender com a histórianunca a violência

    O Papa não deixou de comentaros dramáticos acontecimentos no Ca-pitol Hill no último dia 6 de janeiro.Confidenciou que ficou “s u r p re e n d i -do”, considerando a disciplina dopovo dos Estados Unidos e a maturi-

    dade da sua democracia. No entanto,observou, até nas realidades maismaduras, há sempre algo erradoquando há “pessoas que empreen-dem um caminho contra a comuni-dade, contra a democracia, contra obem comum”. Agora que isto se veri-ficou, continuou, foi possível “verb em” o fenómeno e “pode-se reme-diar”. Francisco condenou a violên-cia: “Devemos refletir e compreenderbem e, para não repetir, aprendercom a história”, estes “grupos para-regulares que não estão bem inseri-dos na sociedade, mais cedo ou maistarde causam estas situações de vio-lência”.

    A fé, um dom a ser pedidoao Senhor

    Por fim, o Papa comentou comoestá a viver as restrições devidas àpandemia. Ele confidenciou que sesente “enjaulado”, que pensa nas via-gens canceladas para evitar as aglo-merações e acalenta a esperança de

    visitar o Iraque. Neste momento, de-dica mais tempo à oração, à conversapelo telefone e reitera como foramimportantes para ele alguns momen-tos, tais como a Statio Orbis em SãoPedro a 27 de março passado, “umaexpressão de amor a todas as pes-soas” e que nos faz “ver novas formasde nos ajudarmos uns aos outros”.Ele oferece assim uma reflexão sobrea fé no Senhor, que — disse — é antesde tudo “um dom”. “Para mim” —afirmou —, “a fé é um dom, nem eunem tu, nem ninguém pode ter fécom as próprias forças: é um domdado pelo Senhor”, que não se podecomprar. Retomando em seguidauma passagem do Deuteronómio, oPapa Francisco exortou a invocar a“proximidade de Deus”. Esta proxi-midade “na fé é um dom que deve-mos pedir”. A entrevista conclui-secom os votos de que em 2021 “nãohaja descartes nem comportamentosegoístas” e que a unidade possa pre-valecer sobre os conflitos.

    Entrevista do Papa ao programa do canal televisivo italiano “Tg 5 ”

    Portoghese 1 (01 - Prima) - 12/01/2021 002_PORTPortoghese 2 (Gerenza_SX) - 12/01/2021 002_PORTPortoghese 3 (Destra) - 12/01/2021 002_PORTPortoghese 4-5 (Doppia centrale) - 12/01/2021 002_PORT (Left)Ý�V;õ>²¼l��Ÿ�ãu��x¨?rd²¼l��Ÿ�ãu��p·!w��‹W„z��™7n��¾˘-Úû�À���‹W„z��þÿÿÿÿÿÿÿ5ýul™7n��]èul`9Èw��•9Èw��`9Èw��þÿÿÿÿÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿPortoghese 4-5 (Doppia centrale) - 12/01/2021 002_PORT (Right)�¢Â‚–0Äzrl ƒr��•�0z��X¨?rd\¨?rdÀw�»£ …lÀw�€�,n��»�ÿÿÿÿÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿÀx�•À•lP¹cx��`˳l‹=*v��»Àx�L˙-Úû�Portoghese 6 (Sinistra) - 12/01/2021 002_PORTPortoghese 7 (Destra) - 12/01/2021 002_PORTPortoghese 8 (Ultima_colore) - 12/01/2021 002_PORT