pregação cristocêntrica - bryan chapell.pdf

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B ryan C hapell “O melhor livro que já li sobre esse ossunto. R. C. SPROUL

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  • Bryan C hapell

    O melhor livro que j li sobre esse ossunto. R. C. SPROUL

  • Urn guia

    Uma perspectiva com pleta dos alvos e mtodos do sermo expositivo, com Sees sobre sermes para casamentos, funerais e ocasies evangelsticas - recursos difceis de encontrar. O livro expe aos alunos o propsito redentivo de toda a Escritura enquanto comunica o mtodo expositivo de pregao.

    Ferramenta extraordinria para o curso de homiltica. O melhor livro que j li sobre esse assunto. R .C . Sproul

    Pregao Cristocntrica um guia profundo, equilibrado e til sobre o que a pregao expositiva j foi e ainda pode se tornar. A ltima parte, discutindo uma teologia de mensagens Cristocntricas, uma contribuio nova e muito necessria. Jam es M ontgom ery Boice

    O plano da obra lgico, o esboo claro, a percepo da comunicao inteligente e eu gosto da teologia e da preocupao prtica que transparecem no livro todo. A pregao confortadora segundo o padro apresentado aqui certamente ser edificante. J. I. Packer

    Bryan Chapell (Ph.D., Southern Illinois University) tornou-se professor de Homiltica aps dez anos de ministrio pastoral. tambm professor e presidente do Covenant Theological Seminary. Prega e ensina regularmente em todo o mundo.

    ISBN 8 5 8 6 8 8 6 4 7 -5

    9 7 8 8 5 8 6 8 8 6 4 7 8

    Homiltica/Doutrina/Estudo bbliDITOfln CUUUftA CRISTI)Rua Miguel Teles Junior, 382/394 - Cambuci 01540-040 - So Paulo - SP - Brasil C .Postal 15.136 - So Paule - SP - 01599-970 Fone (0**11) 3207-7099 - Fax '0**11) 3209-1255 www.cep.org.br - cep@ coo.org.br

    0800-141963

  • minha esposa, Kathy, pelo amor, famlia, lar e amizade que a graa do Senhor nos permitiu compartilhar.

  • Pregao Cristocntrica 2002, Editora Cultura Crist. 1994, Brian Chapell. Originalmente publicado em ingls com o ttulo Christ-Centered Preaching, pela Baker Books, uma diviso da Baker Books House Company, Grand Rapids, M ichigan, 49516, USA. Todos os direitos so reservados.

    Ia edio, 2002-3.000 SB DOKa Oac

    Claudete gua de Melo I OEditorao ClurH.o Csar Gonalves

    CapaExpresso Exata ^

    Traduo Oadi SalumDigitao Jonatas Alessandro MoreircReviso Rubens Castilho

    Publicao autorizada pelo Conselho Editorial: Cludio Marra (Presidente), Alex Barbosa Vieira, Aproniano Wilson de Macedo, Fernando Hamilton Costa, Mauro Meister, Ricardo Agreste, Sebastio Bueno Olinto.

    DITOAA CULTURA CAISTARua Miguel Teles Junior, 382/394 - Cambuci 01540-040 - So Paulo - SP - Brasil C.Postal 15.136 - So Paulo - SP - 01599-970 Fone (0**11) 3207-7099 - Fax (0**11) 3209-1255 www.cep.org.br - [email protected] 0800-141963

    Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cludio Antnio Batista Marra

  • 112342567893

    1011

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    NDICE

    Prefcio.................................................................................... 09Agradecimentos...................................................................... 13P r in c pio s para a P reg a o E x po sitiv aPalavra e Testem unho.............................................................17Obrigaes do Serm o........................................................... 37A Prioridade do Texto.............................................................55Os Componentes da Exposio............................................. 83P repa r a o de Serm es Ex po sitiv o sO Processo de Explicao................................................... 107Esboo e Estrutura................................................................137O Modelo de Ilustrao........................................................177A Prtica da A plicao........................................................ 217Introdues, Concluses e Transies.............................. 247U m a T eo lo g ia de M ensagens C r isto c n tr ic a sUma Abordagem Redentora da Pregao.........................285Desenvolvendo Sermes Redentores................................313A pndicesOratria, Vesturio e E stilo .................................................. 341Divises e Propores.........................................................359Mtodos de Preparao........................................................361Mtodos de A presentao...................................................363Leitura da B b lia ...................................................................367Mensagens N upciais............................................................ 371Mensagens Fnebres............................................................375Mensagens Evangelsticas.................................................. 379Recursos de E studo...............................................................383Forma de Avaliao de Sermo de P ro v a ......................... 391

  • 6 P regao C r ist o c n tr ic aBibliografia...........................................................................393n d ice .....................................................................................405

    Lista de Figuras1.1 Componentes de uma Mensagem do Evangelho........................... 274.1 Uma Informao Prioritria da M ensagem ....................................844.2 Uma Exposio Prioritria da M ensagem ...................................... 854.3 Exposio Equilibrada da Espiral D upla.........................................924.4 Variaes dos Componentes da Exposio..................................... 935.1 Esquema Mecnico Tradicional de 2Tm 4 .1 ,2 ............................ 1165.2 Esquema Mecnico Alternativo de 2 T m 4 .2 ................................ 1176.1 Exemplos de Esboo com Erro Coexistente.................................1716.2 Pontos Secundrios..........................................................................1717.1 Perspectiva da Ilustrao Espiral D upla........................................ 1778.1 O Sermo como Alavanca da A plicao..................................... 2198.2 Aplicao como Alvo da Exposio.............................................2208.3 Desenvolvimento da Aplicao do Ponto Principal....................2318.4 Aplicao A m pliada........................................................................2328.5 Focalizando a Aplicao com Especificidade Situacional.......2338.6 A Aplicao do Ponto de R uptura........................... .....................2379.1 A Corrente da Introduo...............................................................2549.2 Um Padro Comum para Inicio Eficaz do Serm o......................2629.3 Perspectiva de Transio da Espiral D upla ..................................27711.1 O Salto Imaginativo para C risto .....................................................31811.2 Exposio Cristocntrica................................................................ 32111.3 Problemas dos Trs Pontos Mais ............................................... 32511.4 Pregao Direcionada para a G raa .............................................. 325A l.l Uso do M icrofone............................................................................ 346A 3.1 Uma Preparao de Sermo em Forma de Pirm ide...................362

    Lista de Tabelas4.1 Termos-chave do Antigo Testamento.............................................. 964.2 Termos-chave do Novo Testamento.................................................97

  • n d ic e 79.1 Anlise de uma Introduo de Serm o.......................................... 2559.2 Exemplo de uma Introduo Escritura........................................26110.1 Como Determinar o Foco da Condio Decada (R eviso).... 286A2.1 Propores e Discusses do Serm o........................................... 359A 9.1 Bblias de E studo ............................................................................. 383A9.2 Lxicos A uxiliares.......................................................................... 384A9.3 Manuais Lxicos A uxiliares..........................................................386A9.4 Gramticas das Lnguas O riginais................................................ 387A9.5 Concordncias................................................................................. 388A9.6 Dicionrios da Bblia e Enciclopdias......................................... 390

    Lista de Grficos5.1 Exemplos de Esboos Gram aticais............................................... 1159.1 Grfico da Intensidade do Serm o................................................266

  • PREFCIOAs duas palavras que poderiam conter a totalidade deste trabalho so auto

    ridade e redeno.Nos tempos atuais, dois poderes antagnicos desafiam a exposio eficaz

    da Palavra de Deus. O primeiro inimigo comprovado do Evangelho a eroso da autoridade. As filosofias do subjetivismo caminham de mos dadas com os cticos da verdade transcendente para forjarem um clima cultural antagnico a qualquer forma de autoridade. No entanto, como o apstolo Paulo percebeu h muito tempo, este repdio aos padres bblicos inevitavelmente torna as pessoas escravas de suas prprias paixes e vtimas do egosmo de cada um.

    Nossa cultura e a igreja esto desesperadas em busca de verdades fidedignas que proclamem ao mundo dilacerado esta perda crescente de autoridade. Nem todas as respostas que a igreja proporciona por meio dos seus pregadores proclamam boas-novas. Algumas simplesmente abandonaram toda esperana de encontrar uma fonte da verdade que tenha autoridade. Outras, conscientes da averso da cultura a todos aqueles que se apresentem como tendo respostas definitivas e que restrinjam o comportamento, evitam a autoridade. Caso tenham um desejo de realizar curas, esses pregadores, muito freqentemente, decidem por uma readaptao de aconselhamento ou administrao de teorias em discursos altissonantes de cunho religioso. Ao confortar com respostas humanas, devido mudana operada pela recente onda de livros amplamente divulgados, tal pregao mais dissimula do que cura o sofrimento da alma.

    A pregao expositiva, que interpreta de modo preciso o que a Palavra de Deus afirma acerca dos acontecimentos do nosso tempo, os interesses da nossa vida e o destino de nossa alma, fornece uma alternativa. Tal pregao apresenta uma voz de autoridade que no procede do homem e assegura respostas no sujeitas a fantasias culturais. To bvia quanto esta soluo possa ser, sua ampla difuso enfrenta grandes desafios. Nestas duas ltimas geraes, o sermo expositivo tem sido estigmatizado (nem sempre injustamente) como representante de um estilo de pregao que se degenera em recitaes estreis de trivialidades bblicas ou que indevidamente faz defesas dogmticas de caractersticas doutrinrias distantes da vida comum.

  • 10 P regao C r ist o c n tr ic aChegou o tempo de restaurar o sermo expositivo - no apenas para reivin

    dicar sua necessria voz de autoridade, mas tambm para resgatar os mtodos expositivos de profissionais despercebidos (ou descuidados) de foras culturais, condies essenciais para comunicao, e instruo bblica que faro deles eficientes veculos do evangelho. Este livro pretende fornecer uma abordagem que satisfaz essa reivindicao. Inicialmente, o texto oferece instruo prtica que ligar o sermo s verdades da Escritura, ao mesmo tempo em que promover seu livramento de posies atadas tradio e prticas de comunicao ingnua que tm desnecessariamente oprimido tanto os pastores como os membros da igreja.O segundo inimigo que se ope eficaz comunicao do evangelho, que este livro pretende confrontar, surge freqentemente como um incompreendido efeito secundrio do primeiro. Pregadores evanglicos, reagindo seculariza- o da igreja, bem como da cultura, podem erroneamente fazer da instruo moral ou da reforma da sociedade o foco primrio de suas mensagens. Ningum deve culpar esses pregadores por pretenderem desafiar os males da poca. Quando o pecado est perto, pregadores fiis tm o direito, a responsabilidade e o desejo de dizer: Pare com isso!Todavia, se a cura dos males do pecado, de fato ou percebida, desses pregadores, constituir-se em correo do carter humano ou crtica cultura, eles inadvertidamente apresentam mensagem contrria ao evangelho. A Bblia no diz como ns podemos melhorar a ns mesmos, a fim de obter a aceitao de Deus. Fundamental e amplamente, as Escrituras ensinam a insuficincia de todo e qualquer esforo estritamente humano para garantir a aprovao divina. Somos absolutamente dependentes da graa de Deus para ser o que ele deseja e fazer o que ele requer. A graa governa!

    Contudo, o ensino do sermo pode ser bem-intencionado e biblicamente enraizado, mas, se a mensagem no incorporar a motivao e aptido inerentes a ela, numa apreenso prpria da obra de Cristo, ento o pregador proclama mero farisasmo. Pregao que fiel totalidade da Escritura no apenas estabelece as reivindicaes de Deus, mas tambm ilumina as verdades redentoras que tomam possvel a santidade. A tarefa parece ser impossvel. Como fazer para que toda a Escritura esteja centrada sobre a obra de Cristo quando uma vasta poro sequer a menciona? A resposta consiste em aprender a ver toda a Palavra de Deus como uma mensagem unificada da necessidade humana e da proviso divina.

    No ato de investigar como o evangelho permeia toda a Escritura, este livro tambm estabelece princpios teolgicos para resgatar o sermo expositivo do

  • P refcio 11bem-intencionado, porm mal concebido, legalismo que caracteriza grande parte da pregao evanglica. A pregao cristocntrica substitui fteis arengas por um intenso esforo humano mediante exortaes obedincia a Deus na dependncia da sua obra. Verdadeira pureza, confiana espiritual e permanente alegria provm desta precisa e poderosa forma de exposio bblica.

  • AGRADECIMENTOSEscrevo este livro com profunda apreciao por aqueles cuja contribuio

    foi significativa para meu prprio pensamento e a minha vida.Agradecimentos so devidos especialmente ao Dr. Robert G. Raybum, meu

    professor de homiltica, firme na busca exclusiva da excelncia ao longo do tempo em que ensinava ser a glria de Deus o nico foco da tarefa da pregao, e ao Dr. John Sanderson, professor de teologia bblica, que abriu meus olhos necessidade da focalizao central de Cristo em toda exposio digna de f.

    Sou profundamente devedor famlia Rayburn, especialmente a Sra. LaVerne Rayburn e a seu filho, Dr. Robert S. Rayburn, por permitir-me o acesso aos escritos e notas no publicados do Dr. Robert S. Rayburn. Ser objeto da confiana ao compartilhar alguns discernimentos do Dr. Rayburn um grande privilgio.Embora a pesquisa e a reflexo por trs desta obra tenham atravessado duas dcadas, escrevi a maior parte dela durante um perodo proporcionado pelo Covenant Theological Seminary. Expresso meus agradecimentos ao Conselho de Curadores por ter me concedido essa esplndida oportunidade de escrever. Trabalhar em uma instituio regida por princpios religiosos uma bno pela qual serei para sempre grato.

    Sou especialmente reconhecido ao Presidente Paul Kooistra, do Covenant Seminary, cujo incentivo, ministrio e muitas horas de conversa ao longo de nossa lenta caminhada acerca do papel da graa na pregao, moldou e fortaleceu minha mente.

    Sou grato pelo ministrio e amizade do Reverendo James Meek, deo designado junto aos acadmicos no Covenant Seminary, cuja dupla funo durante o tempo em que estive ausente das aulas permitiu-me continuar este trabalho.

    Como sempre, devo mais do que as palavras podem expressar ao incansvel e jubiloso trabalho da Sra. June Dare, cuja habilidade como secretria sempre me fez parecer melhor do que eu realmente acho que sou.

  • P a r t e 1

    PRINCPIOS PARA A PREGAO EXPOSITIVA

  • CONTEDO DO CAPTULO 1A NOBREZA DA PREGAO O PODER NA PALAVRA

    O P o d e r d e D e u s In e r e n t e P a l a v r a O P o d e r d a P a l a v r a M a n if e st a d o em C risto O P o d e r d a P a l a v r a A p l ic a d o P r e g a o

    A Pregao Expositiva Apresenta o Poder da Palavra A Pregao Expositiva Apresenta a Autoridade da Palavra A Pregao Expositiva Apresenta a Operao do Esprito

    A E F IC C I A D O TESTEMUNHO D ist in e s C l s s ic a s C o r r o b o r a o d a E sc r it u r a

    1 Tessalonicenses 2.3-8 e 11,122 Timteo 2.15, 16 e 22-24 Tito 2.7,82 Corntios 6.3,4 Tiago 1.26, 27 Tiago 3.13

    IMPLICAES DO ETHOS P r e se r v e S e u C a r t e r A m e a g r a aS eja u m G r a n d e P r e g a d o r

    OBJETIVO DO CAPTULO 1C o m u n ica r o quan to im portan te a p reg a o e o que verd adeiram en te im portan te na p reg a o

  • 1PALAVRA E TESTEMUNHO

    A NOBREZA DA PREGAOO pregador ingls Ian Tait zomba de quem estuda a Bblia somente para

    adquirir mais informaes, crendo que sua mente esteja se desenvolvendo quando, de fato, apenas seus ouvidos esto inchando. Conhecer simplesmente por amor ao conhecimento ensoberbece (IC o 8.1). As riquezas da Palavra de Deus no so tesouros privativos de ningum, e quando compartilhamos esses valores estamos participando de seus mais elevados propsitos. Esta a razo pela qual Robert G. Rayburn ensinou, por mais de um quarto de sculo, aos estudantes seminaristas: Cristo o nico Rei dos seus estudos, mas a rainha a homiltica.1 Quer sejam seus estudos num seminrio, num instituto bblico ou num programa de leitura particular, sero melhor recompensados quando voc visualiza a maneira como cada elemento o prepara para pregar com preciso e autoridade. Cada disciplina bblica atinge o propsito mais elevado, quando a usamos no simplesmente para dilatar nossa mente, mas para propagar o evangelho.

    Elevar a pregao a um pedestal to sublime pode intimidar at mesmo o mais leal estudante da Escritura. Provavelmente, nenhum pregador cuidadoso tenha incorrido em erro ao questionar se a tarefa maior do que o servo. Quando encaramos pessoas reais dotadas de uma alma eterna, equilibrando-se entre o cu e o inferno, a nobreza da pregao nos amedronta mesmo quando revela nossa insuficincia.

    Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de to amplas conseqncias. Reconhecemos que nosso corao no puro o bastante para guiar outros santidade. Uma honesta avaliao de nossa percia inevitavelmente nos leva concluso de que no temos eloqncia ou sabedoria capazes de levar as pessoas da morte para a vida. Esta pode ser a causa1. Robert G. Rayburn foi o presidente fundador do Covenant Theological Seminary, e seu primeiro professor de homiltica de 1956-1984. Citao de suas notas de classe, no publicadas.

  • 18 P r in c pio s para a P rega o E xpositivade jovens pregadores fugirem de sua primeira pregao, imposta como tarefa que precisa ser cumprida, e ainda de experimentados pastores sentirem-se desalentados quando no plpito.

    O PODER NA PALAVRAEm face das dvidas relativas eficincia pessoal numa poca que questio

    na a validade da pregao2 precisamos de uma lembrana do desgnio de Deus para a transformao espiritual do ser humano. No final das contas, a pregao cumpre seus objetivos espirituais no por causa das habilidades do pregador, mas por causa do poder da Escritura proclamada. Os pregadores exercero seu ministrio com grande zelo, confiana e liberdade quando compreenderem que Deus retirou de suas costas as artimanhas da manipulao espiritual. Deus no est confiando em nossa destreza para a realizao dos seus propsitos. Por certo, Deus pode usar a eloqncia e deseja esforos adequados importncia do assunto em questo, porm sua prpria Palavra cumpre o programa de salvao e santificao. Os esforos pessoais dos maiores pregadores so ainda demasiado fracos e manchados pelo pecado para serem responsveis pelo destino eterno das pessoas. Por essa razo Deus infunde sua Palavra com poder espiritual. A eficcia da mensagem, mais que qualquer virtude do mensageiro, transforma coraes.

    O P o d e r de D eus In e r e n t e P a la v r aNo podemos saber precisamente como a verdade de Deus transforma

    vidas, mas devemos discernir a dinmica que nos d esperana em nossa prpria pregao. A Bblia torna isto claro - que a Palavra no somente poderosa, ela inigualvel. A palavra de Deus

    Cria: Disse Deus: Haja luz; e houve luz (Gn 1.3). Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou e tudo passou a existir (SI 33.9).Controla: Ele envia as suas ordens terra, e sua palavra corre velozmente;

    2. David L. Larsen, The Anatomy o f Preaching: Identifying the Issues in Preaching Today (Grand Rapids: Baker, 1989), 11-12; Byron Vai Johnson, A Media Selection M odelfor Use with a Homi- letical Taxonomy (Diss. de doutorado, Southern Illinois University at Carbondale, 1982), 215.

  • P alavra e T e s t e m u n h o 19d a neve como l e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas... Manda sua palavra e o derrete (SI 147.15-18).

    Persuade: ... mas aquele em quem est a minha palavra fale a minha palavra com verdade... diz o Senhor. No a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiua a penha? (Jr 23.28,29).Cumpre seus propsitos: Porque, assim como descem a chuva e a neve dos

    cus e para l no tornam, sem que reguem a terra... assim ser a palavra que sair da minha boca; no voltar para mim vazia, mas far o que me apraz, e prosperar naquilo para que a designei (Is 55.10,11).

    Anula os motivos humanos: Na priso, o apstolo Paulo se regozijava, porque quando outros pregavam a Palavra, quer por pretexto, quer por verdade, a obra de Deus seguia adiante (Fp 1.18).

    A descrio da Escritura acerca da sua potncia desafia-nos a lembrar sempre que a Palavra pregada, antes mesmo da pregao, cumpre os propsitos do cu. Pregao que fiel Escritura converte, convence e amolda o esprito de homens e mulheres, pois ela apresenta o instrumento da compulso divina, e no que pregadores tenham em si mesmos qualquer poder transformador.

    O P o d e r d a P a la v r a M a n if e s t a d o em C r ist oDeus manifesta plenamente o poder dinmico da Palavra do Novo Testa

    mento ao identificar seu Filho como o divino Logos, ou Palavra (Jo 1.1). Por meio da identificao do seu Filho como sua Palavra, Deus revela que a mensagem do Filho e a pessoa do Filho so inseparveis. A palavra o incorpora. Isso no quer dizer que as letras e o papel da Bblia so divinos, mas que as verdades que a Escritura sustenta so veculos de Deus, de sua prpria atividade espiritual.

    A Palavra de Deus poderosa porque ele est presente nela e opera por meio dela. Por meio de Jesus todas as coisas foram feitas (Jo 1.3) e ele continua sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3). A Palavra emprega sua palavra para levar a cabo todos os seus desgnios.

    O poder redentor de Cristo e o poder da sua Palavra unem-se ao Novo Testamento com Logos (a encarnao de Deus) e logos (a mensagem acerca de

  • 2 0 P r in c pio s para a P regao E xpositivaDeus), tomando-se termos to reflexivos como que para formar uma identidade conceptual. Da mesma forma como a obra da criao procede da Palavra que Deus articula, assim tambm a obra da nova criao (i., redeno) nos vem pela Palavra viva de Deus. Tiago afirma: ele [i., o Pai] nos gerou pela palavra da verdade ... (Tg 1.18). A expresso palavra da verdade se aplica como um trocadilho que reflete a mensagem sobre a salvao e o nico que opera o novo nascimento. O mesmo jogo de palavras empregado por Pedro: pois fostes regenerados no de semente corruptvel, mas de incorruptvel, mediante a palavra de Deus (IP e 1.23). Nessas passagens, a mensagem acerca de Jesus e o prprio Cristo se harmonizam. Ambos so a viva e eterna Palavra de Deus, pela qual nascemos de novo.Assim, no algo meramente prosaico insistir que o pregador deve servir ao texto,3 pois se a Palavra a presena mediadora de Cristo, o servio . devido. Paulo instrui corretamente o jovem pastor Timteo a ser um obreiro que maneja bem a palavra da verdade (2Tm 2.15), pois a Palavra de Deus viva e eficaz (Hb 4.12a). A verdade da Escritura no objeto passivo para nossa investigao e apresentao. A Palavra nos examina. [Ela] apta para discernir os pensamentos e propsitos do corao (Hb 4.12c). Cristo permanece ativo em sua Palavra, levando a efeito tarefas divinas que o apresentador da Palavra no tem o direito ou a capacidade pessoal de assumir.

    Essas perspectivas sobre a Palavra de Deus culminam no ministrio do apstolo Paulo. O estudioso missionrio que no se tomou conhecido pela habilidade no plpito, no entanto, escreveu: Pois no me envergonho do evangelho, porque o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr (Rm 1.16). Como os estudantes do grego elementar logo aprendem, a palavra poder nesse versculo dunamis, da qual nos vem o termo dinamite em portugus. A fora do evangelho transcende o poder do pregador. Paulo, em suas habilidosas comunicaes, prega sem envergonhar-se, pois a Palavra que ele anuncia quebra a dureza do corao humano de tal forma que nenhum progresso tcnico pode competir com ela.

    De certo modo, o processo como um todo parece ridculo. Pensar que o destino eterno sofrer mudana s por que anunciamos conceitos de um texto antigo, desafia o bom senso. Quando Paulo elogia a loucura da pregao - no pregao louca - ele reconhece a aparente insensatez de tentar transformar atitudes, estilos de vida, perspectivas filosficas e compromissos de f, com meras palavras (veja ICo 1.21). No entanto, a pregao persiste e o evan3. Herbert H. Farmer, The Servant o f the Word (Nova York: Scribner, 1942), 16-17.

  • P alavra e T e s t e m u n h o 21gelho se expande porque Deus confere aos dbeis esforos humanos a fora de sua prpria Palavra.

    A cada ano repito aos novos estudantes do seminrio sobre uma ocasio em que a realidade do poder da Palavra atingiu-me com fora excepcional. A obra do Senhor dominou-me quando entrei na classe de novos membros da igreja. Sentadas juntas na primeira fila estavam trs jovens mulheres - todas primas. Embora estas tivessem se comprometido a ir, o fato de estarem ali me surpreendeu.

    No ano anterior, cada uma delas, com srios problemas, havia buscado a nossa igreja procura de socorro. Tomei conhecimento da situao da primeira depois que, frustrada, deixou o marido por causa do alcoolismo dele. Era ele um membro ocasional da igreja e no escondia seu desinteresse por religio, mas com o abandono da esposa ele buscou nossa ajuda. Afirmou que faria qualquer coisa para t-la de volta. Vieram juntos para o aconselhamento. Ele tratou da embriagus. Reconciliaram-se, e agora ela desejava fazer parte da nossa famlia da f.

    A segunda prima tinha tambm abandonado o casamento antes que viesse pedir auxlio por sugesto da primeira. Tinha sido vtima de abusos do marido, e procurou consolo na companhia de outro homem. Embora no tivssemos alcanado nenhum desses dois homens, nosso ministrio voltado para essa mulher aqueceu o seu corao diante de Deus. Mesmo depois de o marido ter-se juntado com outra mulher, ela deixou seu amante, submetendo sua vida vontade de Deus.A ltima das primas era tambm casada, mas trabalhava como vendedora viajante e vivia com vrios homens, como se cada um deles fosse seu marido. Um acidente que feriu seu sobrinho levou nossa igreja para dentro de sua vida. Tendo testemunhado o cuidado dos crentes pela criana e por ela (a despeito de sua hostilidade inicial para conosco), descobriu um amor que seus envolvimentos sexuais no poderiam fornecer. Agora ela tambm vinha para ser parte da famlia de Deus.A presena dessas trs primas na condio de membros de uma classe da Igreja era um milagre. Quo tolo seria pensar que meras palavras que eu tinha dito - algumas consoantes e vogais sadas da boca por uma pequena exploso de ar - poderiam ser responsveis pela deciso que elas haviam tomado. Nenhuma soma de persuaso humana poderia transform-las do egosmo da busca do prazer ou o estilo de vida autodestrutivo, para um comprometimento eterno com Deus. Coraes antes hostis sua Palavra, agora sentiam necessidade de comunho com ele.

  • 2 2 P r in c pio s para a P regao E xpositivaDeus havia arrancado trs almas de um redemoinho infernal de confuso

    familiar, traio conjugal e pecado pessoal. No entanto, por mais improvveis que esses acontecimentos paream ser, eles so prontamente explicados. O Senhor empregou sua verdade para mudar o corao delas. Nos termos da Escritura: deixando os dolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e aguardardes dos cus o Seu Filho, no devido a alguma habilidade do pregador, mas por causa do poder da Palavra (lTs 1.9,10).

    Quando os pregadores percebem o poder que a Palavra possui, a confiana em seu chamado cresce, da mesma forma como o orgulho em seu desempenho murcha. No precisamos temer nossa ineficcia quando falamos das verdades que Deus revestiu de poder para a realizao dos seus propsitos. Ao mesmo tempo, trabalhar como se nossos talentos fossem os responsveis pela transformao espiritual, toma-nos semelhantes a um mensageiro que reivindica mrito por ter posto fim guerra por haver ele entregue a declarao escrita de paz. O mensageiro tem uma nobre tarefa a realizar, mas por em risco sua misso e depreciar o verdadeiro vitorioso se atribuir a si faanhas pessoais. Mrito, honra e glria com relao aos efeitos da pregao pertencem apenas a Cristo, pois somente a Palavra produz renovao espiritual.

    O P o d e r d a P a l a v r a A p l i c a d o P r e g a o A Pregao Expositiva Apresenta o Poder da Palavra

    O fato de que o poder para a transformao espiritual baseia-se na Palavra de Deus, argumenta em defesa da pregao expositiva. A pregao expositiva tenta apresentar e aplicar as verdades de uma passagem bblica especfica.4 Outros tipos de pregao que proclamam a verdade bblica so por certo vlidos e valiosos, mas para o pregador principiante e como um sistema de pregao congregacional regular, nenhum outro tipo mais importante.

    A exposio bblica liga o pregador e as pessoas nica fonte de transformao espiritual verdadeira. Considerando que os coraes so transformados quando as pessoas deparam com a Palavra de Deus, os pregadores expositivos ficam comprometidos a dizer o que Deus diz.5 No estamos inte4. Haddon Robinson, Biblical Preaching: The Delivery o f Expository Messages (Grand Rapids: Baker, 1980), 20. Mais adiante desenvolveremos a definio.5. Sidney Greidanus, The Modern Preacher and the Ancient Text: Interpreting and Preaching Biblical Literature (Grand Rapids; Eerdmans, 1988), 15.

  • P alavra e T e s t e m u n h o 2 3ressados em propagar nossas opinies, filosofias alheias ou reflexes especulativas. O interesse do pregador expositivo deve ser a verdade de Deus proclamada de tal maneira que as pessoas possam ver que os conceitos emanam da Escritura e aplicam-se vida pessoal de cada um. Tal pregao pe as pessoas em contato imediato com o poder da Palavra.

    A Pregao Expositiva Apresenta a Autoridade da PalavraA pregao, em sua essncia, fala do eterno problema humano com rela

    o autoridade e ao sentido. Embora vivamos em poca hostil autoridade, a luta diria por sentido, segurana e aceitao, leva cada pessoa a perguntar: Quem tem o direito de me dizer o que fazer? Essa pergunta tipicamente colocada como um desafio , de fato, um apelo por socorro. Sem uma autoridade suprema em defesa da verdade, toda luta humana no tem valor fundamental, e a prpria vida torna-se ftil. Tendncias modernas de pregao que negam a autoridade da Palavra6 em nome da sofisticao intelectual, conduzem a um subjetivismo desesperador em que as pessoas fazem o que direito a seus prprios olhos - situao cuja futilidade a Escritura j anunciou claramente (Jz 21.21).

    A resposta ao relativismo radical de nossa cultura com as incertezas que o acompanham a reivindicao bblica de autoridade. Paulo elogia os crentes tessalonicenses porque eles aceitaram sua mensagem ...no como palavra de homens, e sim como, em verdade , a Palavra de Deus, a qual, com efeito, est operando eficazmente em vs, os que credes (lTs 2.13). A afirmao da Escritura e a premissa da pregao expositiva que Deus falou. Nossa tarefa transmitir o que ele j confiou Escritura. Tais esforos no se constituem em cega adeso a dogmas fundamentalistas, mas um compromisso ao que tanto a f como a razo confirmam ser a nica base de esperana humana.

    Sem a autoridade da Palavra, a pregao toma-se uma infindvel busca de assuntos, terapias e tcnicas que granjearo aplausos, provocam aceitao, desenvolvam uma causa ou aliviem preocupaes. A razo humana, as agendas sociais, o consenso popular e as convices morais pessoais, transformam-se em recursos da pregao que carecem da convico histrica de que o que a Escritura diz, Deus diz.7 As opinies e emoes que formulam o contedo da pregao destituda da autoridade bblica so as mesmas foras6. David Buttrick, Homiletic: Moves and Structures (Filadlfia: Fortress, 1987), 408.7. J. I. Packer, Cod Speaks to Man: Revelation in the Bible (Filadlfia: Westminster, 1965), 18.

  • 2 4 P r in c pio s para a P regao E xpositivaque podem negar a validade desses em cultura diferente, em gerao subseqente ou num corao rebelde.Quando pregadores tratam a Bblia como a prpria Palavra de Deus, as questes acerca das coisas que temos o direito de dizer desaparecem. Deus pode dizer ao seu povo o que eles devem fazer e no que devem crer, e ele o faz. A Escritura constrange os pregadores a se certificarem de que as outras pessoas entendam o que Deus diz. No temos autoridade bblica para dizer nada alm disso. certo que as nossas expresses so culturalmente condicionadas, mas a transcendncia da sua verdade e os privilgios que a nossa natureza desfruta por trazer a imagem divina tomam-nos possvel receber e transmitir sua Palavra.Apenas pregadores comprometidos em proclamar o que Deus diz tm o imprimatur da Bblia sobre sua pregao. Desse modo, a pregao expositiva se empenha em descobrir e propagar o significado preciso da Palavra. A Escritura exerce domnio sobre o que os expositores pregam, pois eles esclarecem o que ela diz. O significado da passagem a mensagem do sermo. O texto governa o pregador. Pregadores expositivos no esperam que outros reverenciem suas opinies. Tais ministros aderem s verdades da Escritura e esperam que seus ouvintes tenham o mesmo cuidado.

    A Pregao Expositiva Apresenta a Operao do EspritoAs expectativas dos pregadores expositivos esto, elas mesmas, baseadas nas verdades da Bblia. Se nenhuma soma de eloqncia e oratria pode ser

    levada em conta com respeito transformao espiritual, quem, unicamente, pode mudar coraes? Os Reformadores responderam: O Esprito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos coraes.8 A Palavra de Deus a espada do Esprito (Ef 6.17; cf. At 10.44; Ef 1.13). O meio extraordinrio, porm normal, por cujo intermdio Deus transforma vidas, a participao conjunta de sua Palavra com o poder regenerativo e persuasivo do seu Esprito.Quando anunciamos a Palavra, trazemos com ela a obra do Esprito Santo para produzir frutos na vida de outras pessoas. Nenhuma verdade confere maior incentivo nossa pregao e nos d mais motivos para esperar resultados dos nossos esforos. A obra do Esprito est inseparavelmente unida pregao, como o calor est para a luz que a lmpada emite. Ao apresentarmos a luz da Palavra de Deus, seu Esprito cumpre os propsitos divinos de aquecer, moldar e conformar coraes sua vontade.8. Confisso de F de Westminster, 1.5.

  • P alavra e T e s t e m u n h o 25O Esprito Santo usa nossas palavras, mas o trabalho dele e no o nosso que

    produz efeito no ntimo oculto da vontade humana. Paulo escreveu: Deus... resplandeceu em nosso corao para iluminao do conhecimento da glria de Deus, na face de Cristo. Temos, porm, este tesouro em vasos de barro, para que a excelncia do poder seja de Deus e no de ns (2Co 4.6,7). A glria da pregao que Deus realiza sua vontade por intermdio dela, mas somos sempre humilhados e ocasionalmente confortados com o conhecimento de que ele age alm das nossas limitaes humanas.

    Essas verdades desafiam todos os pregadores a conduzirem sua tarefa com um profundo senso de dependncia do Esprito de Deus. Ministrio eficaz requer devotada orao pessoal. No devemos esperar que nossas palavras faam com que outras pessoas conheam o poder do Esprito, se no desfrutamos ainda do encontro com ele. Pregadores fiis rogam a Deus que opere e ao mesmo tempo proclamam sua Palavra. O sucesso no plpito pode ser a fora que leva um pregador para longe de uma vida piedosa de dependncia do Esprito. Elogios congregacionais em razo da excelncia no plpito podem levar tentao de depositar demasiada confiana em talentos pessoais, habilidades adquiridas ou num mtodo pessoal de pregao. Sucumbir a tais tentaes torna-se evidente, no tanto por uma mudana de opinio religiosa, como por uma mudana na prtica. A negligncia em orar indicativa de srias deficincias no ministrio, mesmo que outros sinais de sucesso no tenham diminudo. Devemos sempre lembrar que aplauso popular no necessariamente o mesmo que eficincia espiritual.As dimenses espirituais da pregao expositiva desautorizam muito do que voc pode ser tentado a crer a respeito deste livro, isto , se voc aprende a falar muito bem, pode ser um grande pregador. No verdade! Por favor, no deixe que nfases necessrias deste livro, comentrios de outros, ou desejos do seu prprio corao o desencaminhem. Grandes dons no o tomam grande pregador. A excelncia tcnica da mensagem pode repousar nas suas habilidades, mas a eficcia espiritual da sua mensagem reside em Deus.

    A EFICCIA DO TESTEMUNHOConfiana na operao da Palavra e do Esprito de Deus no significa que

    voc vive sem responsabilidade. O antigo pastor americano John Shaw certa vez pregou um sermo de ordenao:

  • 2 6 P r in c pio s para a P regao E xpositiva verdade, como se observa, que Deus pode trabalhar mediante qualquer meio: por um escndalo, domnio, pregador interesseiro; contudo, este no o seu modo habitual de agir. Raposas e lobos no so instrumentos da natureza para gerar ovelhas. Quem jamais conheceu o que de bom foi feito s almas por qualquer pastor que no aqueles que vivem no poder do amor, que laboram sob uma luz clara e convincente e so conduzidos por uma seriedade santa e viva? Voc precisa de fogo para acender fogo.9No necessrio conjeturar sobre a bondade de Deus. Conquanto o poder

    inerente na Palavra possa trabalhar alm de nossas fraquezas, no h motivo de intencionalmente colocar obstculos em seu caminho. Boa pregao, num sentido, significa sair do caminho para que a Palavra possa fazer seu trabalho. Os comentrios de Shaw lembram-nos que sair do caminho geralmente significa pregar e viver de tal modo a tornar a Palavra clara e digna de crdito.

    D is t in e s C lssicasEmbora no sejam certamente inspiradas, as clssicas distines retricas

    de Aristteles podem auxiliar os pregadores a considerar suas responsabilidades bsicas e a ateno que cada uma merece. Embora o apstolo Paulo tenha ensinado acerca da inerente eficcia da Palavra, tambm relatou sua resoluo pessoal de no colocar pedra de escndalo ao evangelho no caminho de quem quer que fosse (2Co 6.3).

    Na retrica clssica trs elementos compem cada mensagem persuasiva:Logos - o contedo verbal da mensagem incluindo sua arte e lgica. Pathos - os traos emotivos da mensagem incluindo paixo, fervor e sen

    timento, que o orador transmite e os ouvintes experimentam.Ethos - o carter percebido do orador; determinado mais significativa

    mente pelo interesse expresso pelo bem-estar dos ouvintes. Aristteles acreditava que o ethos era o componente mais poderoso da persuaso.

    Os ouvintes avaliam automaticamente cada um desses aspectos na mensagem de modo a pesarem as verdades que o pregador apresenta. Essa percepo9. John Shaw, The Character o f a Pastor According to Gods Heart, sermo reimpresso (Ligonier, PA: Soli Deo Gloria, 1992), 3-4.

  • P alavra e T es t e m u n h o 2 7adverte os pregadores que desejam criar livre acesso Palavra que transforma coraes a se esforarem seriamente para tomar cada aspecto de sua mensagem uma porta e no uma barreira.

    Paulo pondera a importncia de cada um desses componentes em sua primeira carta aos tessalonicenses (veja fig. 1.1). Embora seus termos no sejam os de Aristteles, eles repercutem traos das categorias clssicas do professor de retrica e nos lembram que a arte no o bastante para tomar poderosa a mensagem, se o corao e o carter no validarem suas verdades. Paulo toma claro que, embora o Esprito Santo molde o caminho do evangelho, os ouvintes avanam para uma confrontao com a Palavra atravs das portas que o pregador abre com a mensagem. Paulo cita, significativamente, sua prpria vida como afetando a receptividade da mensagem, dando assim credencial bblica noo de que o ethos uma fora poderosa no processo ordinrio da persuaso espiritual.

    F ig u r a 1.1Componentes de uma Mensagem do EvangelhoC am in h o do E va ng elh o

    C a m in h o do E s pr ito S a n to

    C o m o P r o f u n d a sv . n . . P a l a v r a sV i v e m o s C o n v i c o e sI I IE t h o s P a t h o s L o g o s

    C a m in h o d o O u v in te

    tPorque o nosso evangelho no chegou at vs to-somente em palavra {Logos) mas, sobretudo, em poder, no Esprito Santo e em plena convico (Pathos), assim como sabeis ter sido o nosso procedimento (Ethos) entre vs e por amor de vs (lTs 1.5).

    Paulo menciona sua conduta e sua compaixo no apenas como evidncia de sua profunda convico, mas tambm como fontes integrais do poder de sua mensagem. Embora este livro de mtodo homiltico enfoque os elementos do logos e do pathos na pregao, a prpria nfase bblica nos lembra que o carter pastoral permanece como o fundamento do ministrio. A glria da pregao pode ser a eloqncia, mas a batida do corao a fidelidade.

  • 28 P r in c pio s para a P regao E xpositivaA observao de Phillips Brooks, tantas vezes citada, de que a pregao a

    verdade transmitida por meio da personalidade reflete princpio bblico bem como bom senso. Nossos pais ensinaram: Suas aes falam to alto que no ouo o que voc diz. Os jovens hoje em dia nos dizem: No converse a conversa, se voc no caminha o caminho. Cada mxima simplesmente reflete uma sabedoria superior que constrange o lder cristo a conduzir-se de modo digno do evangelho (cf. Fp 1.27). Nossa pregao deveria refletir o carter nico de nossa personalidade, mas nosso ser deveria refletir a semelhana de Cristo, de modo que sua mensagem se espalhe sem embarao.

    CORROBORAO DA ESCRITURANo h falta de registros nas Escrituras que confirmam a importncia do ethos para a proclamao mais eficiente. Comeando aqui com as passagens preemi

    nentes sobre teologia pastoral, e com nfase acrescentada, esto textos que ligam a qualidade da pregao qualidade do carter e conduta do pregador:

    1 Tessalonicenses 2.3-8 e 11, 12Pois a nossa exortao no procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrrio, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, no para que agrademos a homens e, sim, a Deus, que prova o nosso corao. A verdade que nunca usamos de linguagem de bajulao, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto testemunha. Tambm jamais andamos buscando glria de homens, nem de vs, nem de outros. Embora pudssemos, como enviados de Cristo, exigir de vs a nossa manuteno, todavia, nos tornamos carinhosos entre vs, qual ama que acaricia os prprios filhos; assim, querendo-vos muito, estvamos prontos a oferecer-vos no somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a nossa prpria vida\ por isso que vos tornastes muito amados de ns.E sabeis, ainda, de que maneira, como pai e seus filhos, a cada um de vs, exortamos, confortamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glria.

    2 Timteo 2.15, 16 e 22-24Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que no tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita igualmente os falatrios

  • P alavra e T es t e m u n h o 2 9inteis e profanos, pois os que deles usam passaro a impiedade ainda maior. Foge, outrossim, das paixes da mocidade. Segue a justia, a f, o amor e a paz com os que, de corao puro, invocam o Senhor. E repele as questes insensatas e absurdas, pois sabes que s engendram contendas. Ora, necessrio que o servo do Senhor no viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente.

    Tito 2.7, 8Toma-te, pessoalmente, padro de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverncia, linguagem sadia e irrepreensvel para que o adversrio seja envergonhado...

    2 Corntios 6.3, 4No dando ns nenhum motivo de escndalo em coisa alguma, para que o ministrio no seja censurado. Pelo contrrio, em tudo recomendando-nos a ns mesmos como ministros de Deus...

    Tiago 1.26, 27Se algum supe ser religioso, deixando de refrear a sua lngua, antes, enganando o prprio corao, a sua religio v. A religio pura e sem mcula, para com o nosso Deus e Pai, esta: visitar os rfos e as vivas nas sua tribulaes, e a si mesmo guardar-se incontaminado no mundo.

    Tiago 3:13Quem entre vs sbio e entendido? Mostre em mansido de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras.

    Im p lic a e s d o E t h o sPreserve Seu Carter

    A influncia do testemunho do pregador sobre a aceitao do sermo requer que nossa vida esteja posta sob o domnio da Escritura. Com franca sinceridade, Joo Wesley certa vez explicava a um esforado protegido por que razo faltava poder ao seu ministrio: Seu temperamento irregular;

  • 3 0 P r in c pio s para a P rega o E xpositivafalta-lhe amor ao prximo; voc se enraivece facilmente; sua lngua spera demais - assim, as pessoas no o ouviro.10 A honestidade de Wesley espelha a exortao da Escritura e desafia cada um de ns a cuidar do nosso carter, se almejamos eficincia com a Palavra.No se pode esconder o verdadeiro carter, embora ele possa ser temporariamente disfarado. O carter mostra-se em nossas mensagens. Da mesma forma, como as pessoas se revelam a ns na troca de idias, pelas palavras e nos maneirismos, tambm ns, constantemente em nossa pregao, revelamo-nos aos outros. Com o tempo, nossa linguagem, os assuntos que discutimos e nosso tom de voz desvendam nosso corao, apesar da satisfao de imaginar o isolamento em que fomos capazes de encerrar as verdades mais ntimas, para que no fossem expostas publicamente. O interior est sempre vista. Os ouvintes percebem mais do que podem provar, pelo modo como nos apresentamos nas situaes mais inocentes ou intencional.

    Com o discernimento de muitos anos de experincia na pregao, Haddon Robinson sintetiza:

    Tanto quanto pudssemos desejar que isso fosse diferente, o pregador no pode separar-se da mensagem. Quem no ouviu algum piedoso irmo orar antes do sermo: Esconde nosso pastor por detrs da cruz para que vejamos no a ele, mas a Jesus somente. Recomendamos o esprito de tal orao... ainda que no haja lugar algum onde um pregador possa se esconder. Mesmo um plpito espaoso no pode escond- lo da vista... O homem afeta sua mensagem. Pode estar proferindo enfaticamente uma idia da Escritura e, mesmo assim, permanecer to impessoal quanto uma gravao telefnica, to superficial quanto um comercial de rdio, ou to manipulador quanto um vigarista. O auditrio no ouve o sermo, ele ouve um homem.11Nenhuma verdade apela mais fortemente santidade pastoral do que a ligao do carter do pregador absoro do sermo. Devo admitir que se tivesse de

    retornar s igrejas em que exerci o pastorado, improvvel que as pessoas se relembrassem de muitas coisas especficas que eu disse. Poderiam lembrar uma ilustrao especificamente vvida, o modo como um versculo produziu efeito num momento crtico da prpria vida, ou a impresso que uma mensagem particular lhes deixou na mente. No entanto, ningum se recordaria de uma dzia de pala10. Citado em James L. Golden, Goodwin F. Berquist e William Coleman, The Rhetoric o f Western Thought, 3a ed. (Dubuque: Kendall-Hunt, 1978), 297.11. Robinson, Biblical Preaching, 24.

  • P alavra e T e s t e m u n h o 31vras entre as milhares que proferi ao longo dos anos. As pessoas no se lembrariam do que eu disse, mas de mim, e se minha vida comunicou ou no veracidade mensagem da Escritura.

    Tanto deve o ministrio eficaz depender confiantemente do carter do ministro, que o telogo John Sanderson aconselhava os estudantes a jogarem beisebol leve [com bola maior e macia] com os candidatos ao ministrio, quando suas igrejas estivessem entrevistando novos pregadores. Ento, num lance prximo segunda base, dizia Sanderson em sua voz arrastada, provoque-o quando ele se sentir realmente seguro. Depois, veja o que acontece! Por certo, ningum reflete o carter de Cristo to puramente como ele deseja. Eis a razo por que Deus no torna os efeitos de sua Palavra dependentes de nossas aes. Mas, como afirmava o ministro George Campbell, no sculo 18: Quando a prtica est de acordo com a teoria, nossa eficincia triplica.

    Talvez a maioria de ns tenha experimentado a influncia do carter pastoral nos sermes ao visitar uma igreja, a convite de algum amigo para ouvir as maravilhosas mensagens do pregador e, em vez disso, ter de ouvir apenas mediocridade. O amor dos nossos amigos e a confiana em seus pastores produzem a estima pelo sermo e ocultam suas fraquezas. O carter e a piedade do ministro determinam mais a qualidade da mensagem ouvida do que as caractersticas da mensagem pregada.

    Am e a GraaA nfase sobre o carter do pregador ftil e incorreta se no ressalta a

    graa que amolda o carter e a mensagem vontade de Deus. O esforo humano no produz santidade. Justia prpria e amor sacrificial jamais so auto- induzidos. Tentativas de moldar o carter por meio de nossas aes s exigncias de Deus so to arrogantes quanto ao esforo de salvar almas pelos nossos talentos. Os pregadores poderosos precisam tornar-se bem familiarizados com a graa que o seu carter requer.

    No importando quo extraordinria seja sua habilidade, impossvel levar pessoas a se aproximarem de Deus, se o seu corao no refletir o trabalho constante do Salvador em sua vida. Um ministrio centrado na graa reconhece a contrio que nossas oraes devem constantemente expressar, reconhece a ajuda divina que garante o fortalecimento de nossas resolues, obedece a Deus em gratido pelo perdo que Cristo oferece, expressa a humildade prpria de um pobre pecador, transpira a alegria da salvao pela f somente,

  • 32 P r in c pio s para a P regao E xpositivae reflete o amor que reivindica nossa prpria alma e aceita nossos servios sem mrito algum de nossa parte. A pregao sem a centralidade da graa concentra- se sobre os meios de obter o favor divino, provas da retido pessoal e fazer contrastes com aqueles que so menos santos que ns.

    A necessidade da graa numa pregao equilibrada, direciona inevitavelmente tanto o pregador quanto o membro da igreja obra de Cristo, como nico e adequado centro de nossos sermes. A pregao cristocntrica no simplesmente evangelstica, nem confinada a uns poucos relatos do evangelho. Abrange o todo da Escritura como revelao do plano redentor de Deus, e anuncia cada passagem dentro do seu contexto - um modelo que Jesus mesmo nos apresenta (Lc 24.27). Oportunamente, algo mais ser dito a este respeito. O que crtico neste ponto, ao iniciar a considerao dos componentes estruturais do sermo, compreender o que a Bblia exige de ns na elaborao das mensagens, de modo a revelar a graa que o foco supremo de cada texto, a capacitao mxima para cada ensino, e a nica fonte de verdadeira santidade.Sem a compreenso da nossa constante dependncia da graa, temos pouca esperana de espelhar o carter que defende a integridade de nossas mensagens. Ao descobrir o contexto redentor de cada texto, -nos permitido usar a Bblia toda para discernir a graa necessria para pregar e viver de modo a conduzir pessoas a uma comunho mais ntima com o Senhor. Joseph Ruggles Wilson, ministro presbiteriano do sculo 19, pai de Woodrow Wilson, advertia: Tornem-se o que vocs pregam e, ento, preguem Cristo em vocs.12 Suas palavras relembram-nos que o Redentor, aquele que nos santifica e que nos amolda a si mesmo para o apoio sua mensagem, no pode ser negligenciado em nossos sermes. Palavra e testemunho esto profundamente ligados na digna pregao do evangelho de Cristo.Sem o enfoque redentor podemos acreditar estar fazendo exegese da Escritura, quando estamos simplesmente traduzindo suas partes e analisando gramaticalmente seus termos sem qualquer referncia ao papel que desempenham no plano eterno de Deus. Joo Calvino afirmou: Deus ordenou sua Palavra como instrumento pelo qual Jesus Cristo, com todas as suas graas, dispensado a ns.13 Progresso algum se alcana quando passagens da Palavra so arrancadas do seu contexto redentor, como se fossem meros exemplos morais e diretrizes12. Joseph Ruggles Wilson, In What Sense Are Preachers to Preach Themselves, Southern Presbyterian Review 25 (1874) 360.13. Citado em Larsen, The Anatomy o f Preaching. Compare com as Instituas de Joo Calvino, 2.9.1; 4.1.6.

  • P alavra e T e s t e m u n h o 33comportamentais. A graa mantm verdadeiro o nosso carter perante Deus, e nossas mensagens verdadeiras para a Escritura. Confiana nesta graa resulta em sermes autorizados por Deus, pois somente ele responsvel pela santidade e verdade que suprem a fora espiritual da pregao.

    Seja um Grande PregadorA conscincia da capacitao de Deus deve estimular todos os pregadores (inclusive pregadores principiantes) a se lanarem de todo o corao ao seu chamado. Embora o grau de habilidade homiltica possa variar, Deus promete cumprir seus propsitos por meio de todos quantos fielmente proclamam sua verdade. Ainda que suas palavras mal se arrastem pelos beirais do plpito, o amor pela Palavra e pela vontade de Deus e pelas pessoas assegura um eficiente ministrio espiritual. Pode ser que voc jamais oua elogios do mundo, ou seja pastor de uma

    igreja com milhares de membros, mas uma vida de piedade associada a uma clara explanao da graa salvadora e santificadora da Escritura garantem o poder do Esprito para a glria de Deus.Se o seu alvo a honra de Cristo, voc pode ser um grande pregador pela fidelidade a ele e sua mensagem. Paulo oferece o mesmo incentivo a Timteo, com promessas que agora lhe so aplicadas:

    Ningum despreze a tua mocidade; pelo contrrio, torna-te padro dos fiis, na palavra, no procedimento, no amor, na f, na pureza. At minha chegada, aplica-te leitura, exortao, ao ensino.Medita estas coisas e nelas s diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvars tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes [lTm 4 .12,13,15,16],

  • 3 4 P r in c pio s para a P regao E xpositivaPERGUNTAS PARA REVISO E DISCUSSO

    1. Por que os pregadores expositivos esto comprometidos a fazer do significado da passagem a mensagem do sermo?

    2. Somente quem, ou o qu, tem poder para transformar eternamente os coraes?

    3. O que so logos, pathos, e ethos? Qual deles afeta com maior intensidade a persuaso da mensagem?

    4. Por que todo sermo deve ter um ponto de convergncia redentor?

    5. De que uma grande pregao deve depender mais?

  • P alavra e T e s t e m u n h o 35EXERCCIOS

    1. Localize e comente passagens bblicas que confirmam o poder inerente da Palavra.

    2. Localize e comente passagens bblicas que ligam o carter do mensageiro aos efeitos da mensagem.

  • CONTEDO DO CAPTULO 2A VERDADE NO UM SERMO UNIDADE

    A s R a z e s p a r a a U n id a d eOs Pregadores Precisam de Foco Os Ouvintes Precisam de Foco

    A N a t u r e z a d a U n id a d e O P r o c e s so d a U n id a d e O O b je t iv o d a U n id a d e

    P R O P S IT O C o n s id e r a n d o o F C D D e t e r m in a n d o o F C D

    A P L IC A OA N e c e s sid a d e d a A plic a o A s C o n se q n c ia s d a N o -A plica o

    OBJETIVO DO CAPTULO 2Id e n tific a r as ob riga es que um p reg a d o r

    tem p a ra d esen vo lver um serm o bem -e labo ra do

  • 2OBRIGAES DO SERMO

    A VERDADE NO UM SERMOPor que uma mensagem elaborada em tomo das seguintes afirmaes prova

    velmente no figuraria nos anais de pregao dos maiores sermes?1. O muros de Babilnia mediam 350 ps de altura e 80 ps de largura.2. A heresia gnstica em Colossos continha elem entos extremos de

    hedonismo e ascetismo.3. A palavra grega para designar o conceito de esvaziar de Filipenses 2.7

    kenosis.Essas afirmaes so claras, verdadeiras e bblicas. Por que elas no for

    mam um sermo?Primeiro, falta unidade a elas. Nenhum fio condutor mantm essas declara

    es juntas. Sem um tema unificador, os ouvintes simplesmente no tero como compreender os numerosos conceitos do sermo.

    Segundo, as afirmaes parecem no ter objetivos. So apenas fatos que no se podem comparar, extrados com dificuldade dos elos bblicos que comunicam sua causa e conseqncia. Sem um claro objetivo em vista, os ouvintes no tm motivo para ouvir o sermo.

    Finalmente, as afirmaes no sinalizam qualquer aplicao. No apresentam evidente relevncia entre si e nem para a vida das pessoas a quem so dirigidas. Por que razo deveriam passar tempo prestando ateno a algo que no lhes diz respeito?

    Afirmaes de verdades, mesmo de verdades bblicas, no se convertem automaticamente em mensagem para o plpito. Sermes bem-elaborados requerem unidade, objetivo e aplicao.

  • 38 P r in c pio s para a P regao E xpositivaUNIDADE

    Conceito-chave: Com quantas coisas o sermo se preocupa? Uma!Sermes exaustivamente elaborados apresentam numerosos conceitos teol

    gicos, materiais ilustrativos e fatos corroborativos. Este grande nmero de componentes, contudo, no significa que o sermo se ocupa com muitas coisas. Cada aspecto de uma mensagem bem trabalhada reflete, esclarece, aperfeioa e/ou desenvolve uma idia maior. Esta idia maior, ou tema, fixa a mensagem em seu conjunto e firma seus aspectos na mente dos ouvintes. Todas as caractersticas do sermo completo devem sustentar o conceito que unifica o todo.

    As R a z e s p a r a a U n id a d eConstruir uma mensagem de tal sorte que todas as suas caractersticas essen

    ciais sustentem a idia principal, requer disciplina. Fervilhar estranhos pensamentos e cristalizar idias para que a mensagem no seu todo funcione como uma unidade, tm posto prova muitos pregadores. Alguns se rendem presso e administram suas idias com a seqncia, nfase e a estrutura que mais prontamente lhes venha mente. Outros argumentam que no podem dizer tudo o que querem acerca de um texto, caso precisem relacionar pormenores ao todo. Assim, por que empenhar-se pela unidade?

    Os Pregadores Necessitam de FocoAs palavras de um antigo hino no raras vezes se ajustam aos nossos sermes

    tanto quanto nossa vida espiritual. Somos inclinados a vaguear. Pregao sem disciplina da unidade tipicamente leva o pregador a apenas andar a esmo, perdido em seus pensamentos. Tais mensagens raramente comunicam bem. Os ouvintes logo se cansam de perseguir idias e histrias atravs de paisagens teolgicas, no empenho de descobrir para onde seu pastor est indo.

    Precisamos de unidade de modo a convergir as infinitas possibilidades exegticas para uma mensagem controlvel. Quase literalmente centenas ou talvez milhares de pginas de comentrios e de anlise gramatical poderiam ser escritas sobre qualquer texto bblico (e em muitos casos isso tem sido feito). A profundidade da Palavra nos supre com sugesto de sermes para um longo perodo, o que nos desafia a encontrar alguns meios de manter os nossos ouvintes e a ns mesmos livres da ameaa de afogamento em suas complexi-

  • O brigaes d o S erm o 39dades. A unidade pode, em princpio, parecer limitativa, porm ela verdadeiramente liberta os pregadores das ciladas no labirinto da linguagem e possibilita- lhes o esclarecimento.

    Os Ouvintes Precisam de FocoSermes so para ouvintes, no para leitores. O grau de pormenores e diva

    gaes aceitvel num ensaio ou romance, no pode ser controlado num ambiente de ouvintes que no podem voltar uma pgina, reler um pargrafo, devagar, ou pedir ao orador que faa uma pausa para que eles possam alcan-lo. Os ouvintes tm menos inclinao e oportunidade de decifrar um sermo que os leitores de um manual ou um comentrio. Se as partes do sermo no se relacionarem de modo bvio a um tema claro que d s partes da mensagem forma e objetivo, ento torna-se improvvel que os ouvintes concentrem sua ateno sobre o assunto por muito tempo.

    Toda boa comunicao reclama um tema. Se o pregador no confere um conceito unificador mensagem, os ouvintes o faro. Instintivamente eles encontraram algum pensamento no qual prendero as idias do pregador, sabendo que, se assim no o fizerem, nada conservaro para si mesmos. No processo de determinar esse pensamento, os ouvintes podero perder pensamentos que o pregador j tenha mencionado. Nem mesmo existe qualquer garantia de que os pensamentos escolhidos pelos ouvintes sustentaro todas as idias adicionais que o pregador deseja inculcar na conscincia deles. Se esposa perguntar ao marido qual foi o tema do sermo, a resposta orao demasiado genrica para ter conseqncia na vida real. Como resultado, a resposta mensagem, com toda a probabilidade, ser mais confuso do que desejava o pregador ou o membro da igreja.Os ouvintes mais prontamente agarraro idias que tenham sido formadas e trabalhadas juntas. mais fcil segurar uma bola de beisebol do que um punhado de areia, ainda que ambos tenham o mesmo peso. O fato de que as palavras do pregador so pesadas no significa que os ouvintes respondero a elas, quando o prprio orador no conseguiu transmitir uma idia coerente.

    A N a t u r ez a d a U n id a d eComo j constatamos, na pregao expositiva o sentido da palavra produz o

    tema da mensagem. Isso significa que o conceito unificador do sermo deve pro

  • 4 0 P r in c pio s para a P regao E xpositivaceder do prprio texto. Haddon Robinson pede-nos para determinar a Grande Idia das nossas mensagens, perguntando, primeiro: A respeito de que o autor (da passagem) est falando? e, depois, O que ele est dizendo acerca do que est falando? 1 So essas as questes bsicas do sermo expositivo. Obrigam- nos a examinar os vrios aspectos da passagem e a discernir como o escritor bblico os emprega para chegar aos seus prprios objetivos.2 Somente desse modo saberemos como unificar os detalhes do texto conforme as perspectivas e prioridades do autor.

    Na pregao expositiva, a unidade ocorre quando os elementos da passagem so demonstrados a fim de apoiar uma nica idia principal que serve de tema ao sermo. Queremos que nosso tema seja o tema da Bblia. No quer dizer que somente o tema principal da passagem pode servir de tema ao sermo expositivo. Um sermo sobre um tema secundrio da passagem pode tambm ser expositivo, contanto que o pregador demonstre que h material exegtico suficiente na passagem que d apoio ao tema apresentado e que este tema ainda reflita de modo exato a verdade da passagem em relao ao contexto.

    O tema, objetivo, ou foco do escritor bblico, deve prender nossas mensagens e coloc-las ao seu servio, pois a verdade de Deus controla nossos esforos. Nosso comprometimento com a eficincia nica da Escritura significa que desejamos estar seguros de estar dizendo o que a Bblia diz. Assim como as caractersticas de um texto desenvolvem seu assunto, assim as caractersticas de nossos sermes devem, todos eles. contribuir para o seu tema. raro os escritores bblicos simplesmente exporem uma amostragem de idias sem conexo (e quando o fazem, h um propsito mais amplo que a perspiccia do intrprete pode descobrir). Os componentes de uma passagem, todos, indistintamente, contribuem para o objetivo do autor. Esta a maneira em que nossos sermes devem funcionar. Apesar de muitas idias e caractersticas comporem um sermo, todas elas devem contribuir para um tema. Cada sermo possui apenas um tema.

    O P r o c esso d a U n id a d eDepois que o pregador determina a importncia da unidade, a pergunta que surge : como posso obt-la? O processo no complicado; o caso que muitas

    1. Haddon Robinson, Biblical Preaching: The Development and Delivery o f Expository Messages (Grand Rapids: Baker, 1980), 41-44.2. Jay Adams, Preaching with Purpose: A Comprehensive Textbook on Biblical Preaching (Grand Rapids: Baker, 1982), 31-33.

  • O brigaes d o S erm o 41vezes ignorado, pois exige algum trabalho. Entretanto, o trabalho livrar o pregador de muito labor adicional e os ouvintes de muita confuso. Siga estes passos simples para conseguir unidade nos seus sermes:

    I. Leia e assimile a passagem para determinar:A. A idia principal que o escritor transmite por meio das caractersticas do

    texto (isto , discernir qual conceito maior os pormenores sustentam ou desenvolvem); ou,

    B . Uma idia na passagem que apresenta material suficiente no texto para desenvolver o assunto principal de uma mensagem.

    II. Associe, numa declarao concisa, essa idia que os aspectos da passagem sustentam ou desenvolvem.

    Voc saber que est de posse da unidade quando puder demonstrar que os elementos da passagem sustentam a idia que voc quer transformar no tema de sua mensagem e voc puder exprimir essa idia numa forma bem simples, para passar no Teste das trs horas da madrugada.

    O Teste das trs horas da madrugada requer que voc imagine sua esposa, seu pai ou um membro da igreja, acordando-o de um sono profundo com esta simples pergunta: Sobre o que o sermo de hoje, pastor? Se voc for incapaz de dar uma resposta incisiva, saber que o sermo provavelmente est incompleto. Pensamentos que voc no consegue juntar s trs da madrugada por certo no sero apreendidos pelos outros a qualquer hora.

    s trs da madrugada voc sabe que isto no funcionar como tema:Quando a pecaminosa nao israelita foi levada para o exlio, sua esperana e viso messinicas foram erradas e deslealmente reduzidas, pois, anterior a Esdras e Neemias, as provas do plano soberano, propsito e intenes de Deus em favor do seu povo foram obscurecidas nas circunstncias de encarceramento e opresso na Babilnia, condies que no puderam ser aliviadas, at a liberao persa e posteriores revelaes pactuais no avano da histria redentiva.Isto funcionar:Deus se mantm fiel ao seu povo.

  • 4 2 P r in c pio s para a P r egao E xpositivaQuando cristalizamos o pensamento do foco da passagem, a organizao e a aplicao da mensagem tornam-se claras ao pregador e ao ouvinte. Pregadores que desenvolvem afirmativas de um tema conciso e correto, podem discorrer com mais pormenores sem fazer com que a congregao se perca num nevoeiro de detalhes que no tm nenhum conceito limitante.

    O bjetivos d a U n id a d eA unidade se empenha em comunicar a verdade bblica, e no apenas em descobri-la e afirm-la. A unidade organiza a mensagem num nico impulso em vez de uma torrente de pensamentos desconexos. Um sermo no pode discorrer sobre a origem da fora de Sanso, como determinar a vontade de Deus, e o modo correto de batizar. Seminaristas muitas vezes tropeam em suas primeiras experincias de pregao ao tentar concentrar tudo o que esto aprendendo em um nico sermo. Pregadores mais experientes reconhecem que tm esta sema

    na, e a prxima, e ainda a seguinte, para transmitir as verdades de Deus. Para este dia melhor um nico pensamento que pode ser retido do que uma dzia que se escoar da compreenso.Com a unidade, o sermo dispe da capacidade de focalizar o assunto em profundidade. Fragmento das Escrituras sem unidade e, como resultado, sem o poder transformador, fica reduzido a estilhaos. Os pregadores so particularmente susceptveis a seguir pensamentos tangenciais e vaguear pelos assim chamados rastos de coelho de fatos incidentais que fazem parte dos pontos mais importantes da mensagem porque os esboos de nossos sermes so freqentemente mais organizados do que o seu desenvolvimento.3 Mesmo as idias secundrias devem contribuir para o tema geral, uma vez que os pontos principais que elas sustentam compem a fora singular da mensagem.Uma mensagem bem construda poode ter trs pontos (ou mais, ou menos), porm no a respeito de trs coisas. Um sermo cujos pontos principais afirmem (1) Deus amor, (2) Deus justo, e (3) Deus soberano, no est no ponto de ser pregado at que o pregador determine que o assunto do sermo no so essas trs coisas, mas sim A Natureza de Deus . A idia nica conter o restante e, por iluminar seu objetivo, aprofundar seu impacto.Lembra-nos uma antiga mxima: A principal coisa manter a coisa principal.* A regra batida, mas o pregador cujas mensagens causam maior impacto a adotaram no corao.3. Consideraremos como organizar pontos principais e secundrios nos captulos subseqentes.* Traduo literal do ingls The main thing is to keep the main thing cujo sentido deve ser

  • O brigaes d o S erm o 4 3PROPSITO

    Conceito-Chave: O Foco da Condio Decada (FCD)**C o n sid e r a n d o o F C D

    Quando o pregador discerne o que o escritor bblico est dizendo, a tarefa de determinar o tema de um sermo apenas comeou. -nos impossvel entender plenamente o assunto at que tenhamos determinado sua razo ou causa. A considerao do tema de uma mensagem, enfim, nos obriga a perguntar: Por que esses assuntos to importantes chamam a ateno? O que causou essa importncia, esses fatos, ou o registro dessas idias? Qual foi o intento do autor? Visando a que propsito o Esprito Santo incluiu essas palavras na Escritura?

    At que tenhamos definido o objetivo da passagem, no devemos pensar que estamos prontos para pregar suas verdades. No entanto, por mais evidente que seja este conselho, ele freqentemente negligenciado. Pregadores muitas vezes pensam que esto preparados para pregar quando vem o assunto na passagem, ainda que no tenham descoberto o propsito do texto. Por exemplo, to-somente reconhecer que uma passagem revela caractersticas que sustentam a doutrina da justificao pela f somente, no prepara adequadamente o pastor para pregar. Um sermo no somente uma lio sistemtica. Por que o escritor bblico apresentou o assunto da justificao nesse ponto? Em que consistiram as lutas, os interesses, ou as fraquezas das pessoas a quem o texto foi originalmente endereado? Estavam as pessoas clamando por salvao fundamentadas em suas realizaes, estavam elas duvidando da suficincia da graa, ou estavam temerosas da rejeio de Deus devido a algum pecado? Temos que determinar o propsito da passagem antes de conhecer realmente o assunto do nosso sermo.4

    No devemos conjeturar se existe um propsito para o texto. A Bblia nos assegura que h uma razo para cada passagem nela contida, e ela claramente nos afirma a natureza bsica desse propsito. O apstolo Paulo escreve: Toda a Escritura inspirada por Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja perfeitoassim expresso: O fato de que manter a coisa principal consiste em manter esta coisa principal, resultar, por sua vez, na coisa principal. (N. do T.)** Em ingls The Fallen Condition Focus (FCF). (N. do T.)4. Adams, Preaching with Purpose, 27.

  • 4 4 P r in c pio s para a P regao E xpositivae perfeitamente habilitado para toda boa obra (2Tm 3.16,17). Paulo indica que Deus quer, por meio de sua Palavra, completar-nos.5 Esta a razo por que a Almeida Revista e Atualizada interpreta o verso 17 da passagem como que o homem de Deus seja perfeito, Deus pretende por meio de cada passagem da sua Palavra (isto , toda Escritura) tomar-nos mais semelhantes a ele mesmo.6Uma vez que Deus destinou a Bblia para nos tomar completos, seu contedo indica necessariamente que em algum sentido somos incompletos. Nossa falta de inteireza a conseqncia da condio decada em que vivemos. Aspectos desta decadncia que so refletidos em nossa prpria condio pecaminosa e nosso mundo arruinado mostram a necessidade da instruo e construo da Escritura. Paulo escreve: Pois tudo quanto, outrora, foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela pacincia e pela consolao das Escrituras, tenhamos esperana (Rm 15.4). O estado corrupto de nosso mundo e do nosso ser clamam pelo auxlio de Deus. Ele responde com sua Palavra, centralizando sua ateno sobre alguma faceta de nossa necessidade em cada poro dela. Nossa esperana reside na certeza de que toda a Escritura tem um Foco da Condio Decada (FCD). Deus se recusa a abandonar seus filhos, frgeis e pecadores, sem guia ou defesa num mundo antagnico ao bem-estar espiritual deles. Nenhum texto foi escrito e destinado s pessoas do passado somente; Deus pretende em cada texto da Escritura dar-nos a pacincia e o incentivo de que hoje necessitamos. O FCD a condio humana recproca que os crentes contemporneos compartilham com aqueles ou aquele a quem o texto fo i escrito que requer a graa da passagem.Visto que um FCD resplandece por trs de toda Escritura, uma pregao ciente desse fato luta tenazmente para desvendar esse propsito em cada passagem. E evidente que pode haver mais de um propsito em um texto, mas a unidade do sermo exige do pregador que seja seletivo e geralmente concentrado no principal propsito de cada passagem da Escritura. O FCD indica o real assunto da mensagem, desde que o verdadeiro propsito para a passagem.7 Em ltima5. Veja o termo grego artios no versculo 17.6. Alguns exegetas entendem a expresso o homem de Deus em 2 Timteo 3.17 como referindo-se ao ministro cristo, caso em que a obra para a qual a Palavra habilita diz respeito ao ministrio antes que santificao dos crentes. Essa interpretao no altera a concluso de que Deus pretende que toda a Escritura complete os crentes, uma vez que os deveres do ministro de ensinar, repreender, corrigir e educar na justia procedentes de toda Escritura comunicaro a perspectiva de Deus sobre a inerente necessidade que o ouvinte tem da finalidade da verdade bblica.7. Sindey Greidanus, The Modern Preacher and the Ancient Text: Interpreting andPreaching Biblical Literature (Grand Rapids: Eerdmans, 1988), 128-29.

  • O brigaes d o S erm o 4 5anlise, o sermo sobre como os cristos de hoje devem lidar com o FCD. Diversas subdivises e dimenses do FCD podem ser desenvolvidas enquanto o sermo se desenrola, mas o tema principal deve permanecer claro. Esse modo de proceder faz sentido quando lembramos que o contedo do texto a resposta de Deus para um aspecto de nossa condio decada. O FCD ajusta o tom, determina a abordagem e organiza a informao no sermo.

    D e te r m in a n d o o FCDA compreenso prpria de uma passagem e a formao de um sermo exige um claro FCD. Sem determinar um FCD no podemos saber, de fato, com que a Escritura se preocupa, mesmo se j conhecemos muitos fatos verdadeiros acerca da passagem.8 O FCD revela o prprio objetivo do Esprito para a passagem, e no devemos ter a ousadia de pregar, a menos que tenhamos identificado sua vontade

    pela sua prpria Palavra. Precisamos perguntar: Qual foi o FCD que requereu o registro desse texto? antes de expor corretamente o seu significado. O FCD nos habilita a interpretar de maneira adequada a passagem, comunicar seu contedo a dar congregao o motivo para ouvir, procedente do prprio Esprito Santo.Quanto mais especfica a declarao do FCD na abertura do sermo, mais poderosa e comovente ser a mensagem. Um FCD de No Ser Fiel a Deus no nem de longe to firme para prender a ateno quanto: Como Posso Manter Minha Integridade Quando Meu Patro No Tem Nenhuma? Afirmativas genricas do FCD do ao pregador pouca orientao para organizar o sermo, e congregao pouca razo para ouvir. A especificidade tende a produzir interesse e poder pela demonstrao de que as Escrituras falam de coisas reais.Pecados especficos so freqentemente o FCD da passagem, mas um pecado nem sempre tem de ser o FCD do sermo. Aflio, doena, desejo intenso pelo retorno do Senhor, a necessidade de saber como compartilhar o evangelho e o desejo de ser melhor pai, no so pecados, mas so necessidades que nossa condio decada impem e para qual as Escrituras chamam a ateno. Assim como a ganncia, a rebelio, a luxria, a irresponsabilidade, a administrao improdutiva e o orgulho so assuntos prprios de um sermo, tambm so o desejo de criar filhos piedosos, identificar a vontade de Deus e entender os prprios dons. Um FCD no precisa ser alguma coisa da qual somos culpados. Simplesmente precisa ser um aspecto da condio humana que pede a instruo, admoestao e/ou conforto da Escritura.S. Ibid.. 173.

  • 4 6 P r in c pio s para a P regao E xpositivaA personalidade do pregador, as circunstncias da congregao, e a nfase de

    um sermo em particular podem fazer com que a declarao do FCD varie grandemente. Uma passagem cujo foco central seja a confiana na providncia de Deus pode igualmente bem indicar a necessidade de descansar em Deus nas horas difceis, a responsabilidade de ensinar os outros a respeito do cuidado constante de Deus, ou o pecado de duvidar da proviso de Deus. No existe uma maneira prpria de formular o FCD de uma passagem para um sermo. Isso pelo fato de os pregadores poderem pregar de modo notvel sermes diferentes baseados numa mesma passagem, sem que qualquer deles aparente ser menos fiel ao texto. O pregador precisa ser capaz de demonstrar que o texto indica o FCD da mensagem, no que este FCD do sermo seja o nico possvel para esse texto.Visto que o FCD pode variar grandemente de texto para texto, e pode variar nos sermes pregados sobre um mesmo texto, os pregadores precisam estar certos de que o propsito dos seus sermes permanea sendo o propsito da passagem. O seu FCD permanecer fiel ao texto e identificar propsitos poderosos para seu sermo se voc fizer trs perguntas:

    1. O que o texto quer dizer?2. De que interesse(s) o texto tratou (no seu contexto)?3. O que os ouvintes tm em comum com aqueles a quem (ou acerca de) o

    texto foi escrito, ou a pessoa por quem foi escrito?Ao identificar a semelhana da condio dos nossos ouvintes com a do escri

    tor bblico, do assunto, e/ou do auditrio, determinamos por que o texto foi escrito, no apenas para os tempos bblicos, mas tambm para o nosso tempo. Podemos imaginar, porm, que o Esprito Santo no apresenta um FCD simplesmente para nos informar a respeito de um problema. Paulo disse a Timteo que Deus inspirou toda Escritura para habilitar-nos para seu trabalho (vej a 2Tm 3.16,17). Deus conta conosco para agirmos a respeito dos problemas que o Esprito revela.

    APLICAOConceito-chave: O E da? da pregao.Nenhuma passagem relata um comentrio neutro sobre nossa condio de

    cada. Texto algum comunica fatos apenas para informao. A prpria Bblia nos diz que suas pginas instruem, repreendem e corrigem. Deus conta com as verda

  • O brigaes d o S erm o 4 7des bblicas para transformar seu povo. A pregao fiel faz o mesmo. O pregador que identifica o FCD de uma passagem para sua congregao automaticamente a equipa para considerar as solues e instrues da Bblia para a vida contempornea. Portanto, a pregao bblica que traz um FCD superfcie, tambm reconhece a necessidade de aplicao.

    Memorvel nos meus treinamentos homilticos foi o coronel da fora area que se tomou professor do seminrio, que pedia a seus alunos que, onde quer que viessem a pregar nos anos futuros, que o imaginassem sentado na parte de trs do santurio. Com uma graciosa carranca o professor esbravejava: Com os olhos da mente olhem para mim, sempre que tiverem proferido a concluso da mensagem. Meus braos esto cruzados, minha face retm um olhar de censura, e esta pergunta pesa nos meus lbios: E a? O que voc quer que eu faa? Se voc no for capaz de responder, ento voc no pregou.

    As pessoas tm o direito de perguntar: Por que voc me contou isso? O que eu tenho de fazer com essa informao? Muito bem, entendo o que voc pensa - e da? A pregao mais saudvel no supe que os ouvintes automaticamente vem como aplicar as verdades de Deus prpria vida. Ela apresenta a aplicao de que as pessoas necessitam.9 Se at o prprio pregador no pode dizer (ou no tem a preocupao de determinar) como as verdades do sermo se relacionam com a vida, ento, torna-se improvvel que as pessoas faam a conexo e, alm disso, se perguntaro por que se dariam ao incmodo de ouvir.

    A N ec essid a d e d a A p l ic a oO ensino e o modelo da Bblia indicam a importncia da aplicao na pregao.

    Quando Paulo diz a Tito: Tu, porm, fala o que convm s doutrina (Tt 2.1), os estudantes da Bblia daquela poca provavelmente ecoariam o estribilho de entusisticos amns, expresso to presente nas vozes dos seminaristas atuais. Porm, Paulo, com essa ordem, no quis dizer que era para Tito simplesmente ensinar proposies teolgicas. Na sentena seguinte o apstolo comea a explicar o que a referida s doutrina envolve:

    Quanto aos homens idosos, que sejam temperantes, respeitveis, sensatos, sadios na f e na constncia.

    9. Veja no captulo 8 uma discusso mais ampla sobre a aplicao na pregao.

  • 4 8 P r in c pio s para a P regao E xpositivaQuanto s mulheres idosas, semelhantemente, que sejam srias em seu proceder, no caluniadoras, no escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instrurem as jovens recm-casadas a amarem ao seu marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a Palavra de Deus no seja difamada.Quanto aos moos, de igual modo, exorta-os para que, em todas as coisas, sejam criteriosos (Tt 2.2-6).Paulo conta com a doutrina de Tito para dar s pessoas de sua congrega

    o, direo especfica para o dia-a-dia da vida delas. Tal instruo no caracteriza apenas essa nica passagem; ela reflete o padro das cartas de Paulo. O apstolo inicia tipicamente cada epstola com uma saudao, dirige-se para a instruo doutrinal e, depois, aplica a doutrina a uma variedade de circunstncias. Paulo recusa-se a deixar que a verdade bblica permanea na estratosfera da abstrao teolgica. Ele concretiza sua mensagem nos interesses das pessoas a quem se dirige.10 Nossa pregao no tem objetivo mais alto do que este.A pregao bblica se move da exposio doutrinria para a instruo de vida. Essa pregao tanto exorta como expe, pois reconhece que o prprio alvo da Escritura no consiste apenas em compartilhar informao acerca de Deus, mas conformar seu povo semelhana de Jesus Cristo. Pregar sem aplicao pode satisfazer a mente, porm pregar com aplicao exige servio prestado a Cristo. A aplicao faz de Jesus o centro da exortao do sermo, bem como o foco de sua explanao.

    Clara articulao de um FCD dirige uma aplicao da mensagem e garante que o sermo seja cristocntrico. O FCD pe em ordem as feies do sermo diante de objetivo especfico e, portanto, auxilia o pregador a ver como aplicar a informao contida no texto. Ao mesmo tempo, o fato de que a mensagem focalizada sobre um aspecto de nossa condio decada, impede solues simplistas centralizadas no homem. Se pudssemos resolver o problema com nossos prprios esforos em nossas prprias foras, ento no seramos verdadeiramente decados. A aplicao que identifica um FCD necessariamente conduz as pessoas presena e ao poder do Salvador da forma com elas procuram servi-lo.

    As primeiras afirmativas do FCD no sermo abrem a porta para aplicao por diversos meios. O pregador pode abrir uma ferida espiritual ou emocional10. John R. W. Stott, Between Two Worlds: The Art o f Preaching in the Twentieth Century (1982); reprint (Grand Rapids: Eerdmans, 1988), 140.

  • O brigaes d o S erm o 4 9de modo a prover cura bblica; identificar uma aflio, de modo a oferecer o conforto de Deus; mostrar um perigo, de modo a assegurar a autoridade da Escritura; ou condenar um pecado, de modo a oferecer purificao ao pecador. Em cada caso, a declarao do FCD gera forte desejo no ouvinte pela Palavra ao identificar as necessidades bblicas que a passagem indica.11 A aparncia externa de tais necessidades compele ao pregador a fazer alguma coisa a seu respeito. Esta compulso torna-se o imperativo espiritual que leva o pregador a discernir as respostas e instrues do texto. Quando estas se cristalizam, aplicaes que so verdades para o objetivo, o foco e o contexto do texto se desenvolvem naturalmente.

    As C o n s e q n c ia s d a N o - A p l i c a oPor melhor selecionado que seja o alimento slido do sermo, a mensagem

    permanece incompleta, sem uma aplicao sria e verdadeira em relao ao texto. Essa parte mais importante no to rara assim na pregao evangelstica, como Walter Liefeld afirma:

    Nos primeiros anos (no mais, espero) muitas vezes eu fazia exegese no plpito, pois estava consciente do anseio profundo e difundido pelos ensinos da Palavra de Deus. Finalmente eu compreendi que se pode ensinar e, no entanto, falhar na misso de nutrir ou inspirar. Penso (e de novo espero) que meus sermes sejam hoje menos informativos, porm muito mais teis.Pregao expositiva no simplesmente um comentrio contnuo. Com isso eu quero dizer uma cadeia de pensamentos livremente conectados, ocasionalmente ligados passagem, sem estrutura homiltica ou aplicao adequada...Pregao expositiva no um exame de uma passagem com um ttulo. Com isso quero dizer o tpico: 1. A Convico de Saulo; 2. A Converso de Saulo; 3. A

    11. Nota: uma necessidade bblica pode ser ou no uma necessidade experimentada. Em anos recentes, muita crtica tem surgido sobre pregao centralizada nas necessidades sentidas, de modo a tornar o evangelho atraente (veja Terry Muck, The Danger of Preaching to Needs [Jackson, MS.; Reformed Theological Seminary Ministries, cassetes, 1986], respondendo a trabalhos tais como Charles H. K rafts Communicating the Gospel G ods Way [Pasadena,' CA: William Carey Library, 1979]. Tal crtica corretamente admite que um constante regime de pregao centrada sobre necessidades sentidas pode tornar a f e a adorao em assuntos puramente de auto-interesse. Ao mesmo tempo, o evangelho muitas vezes ajuda as pessoas a verem suas necessidades bblicas sentidas (Jo 4.4-26; At 17.22, 23). Os pregadores no devem recear ajudar outros a verem suas necessidades bblicas, de modo que tais pessoas possam discernir suas obrigaes bblicas.

  • 50 P r in c pio s para a P regao E xpositivaComisso de Saulo. (At 9.1-19). Em meus crculos pessoais julgo ter ouvido mais sermes desse tipo que qualquer outro. Eles soam muito bblicos porque esto baseados numa passagem da Escritura. Porm, sua falha bsica que tendem a ser descritivos antes que pastorais. Carecem de um alvo claro ou de aplicao prtica. A congregao deixada sem nenhuma viso verdadeira sobre o que o texto est falando e sem que tenha recebido qualquer ensino claro acerca de Deus ou de si mesma.12Lio de gramtica no sermo. Um sermo no um resumo textual,

    um discurso sistemtico ou uma preleo sobre Histria. Meras prelees so pr-sermes porque fornecem informaes sem aplicao relevante que focalize o ouvinte nas suas obrigaes para com Cristo e o ministrio que ele lhe deu.13Uma mensagem permanece como pr-sermo at que o pregador organize suas idias e os aspectos do texto para aplicar a um FCD nico, principal. Podemos representar o conceito desta maneira:

    Informao Textual (pr-serm o)----- > Identificao de um FCD + Aplicao Relevante = SERMO.

    Uma mensagem que demonstre meramente que Deus bom no um sermo. Entretanto, quando o mesmo discurso lida com a dvida que possamos ter sobre se Deus bom quando enfrentamos sofrimento, e demonstra, a partir do texto, como devemos lidar com nossa dvida a respeito da bondade de Deus, ento o pregador tem um sermo. Uma mensagem do pr-sermo apenas expe o texto. Tal discurso pode ser correto, biblicamente alicerado e erudito, mas a congregao percebe que no se trata de um sermo, mesmo que o pregador no.

    Um antigo aluno recentemente me telefonou pedindo ajuda porque sua congregao parecia estar se tornando cada vez menos responsiva sua pregao. No domingo passado, ele disse, eles apenas olhavam para mim como se fossem pessoas insensveis. No obtive retorno algum. O que estou fazendo de errado?12. Walter L. Liefeld, New Testament Exposition: From Text to Sermon (Grand Rapids: Zondervan, 1984), 20, 21.13. Adams, Preaching with Purpose, 51; e, repetido at com mais nfase pelo mesmo autor em Truth Applied: Application in Preaching (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 33-39.

  • O brigaes d o S erm o 51Pedi-lhe que descrevesse seu sermo para mim. Respondeu dando-me os principais pontos do seu esboo:No era sbio.No era destemido.No era fiel.Isso soa bem, eu disse. Mas, por que voc disse isso a eles?

    Houve uma longa pausa do outro lado da linha. Ento, ele suspirou, Ah, sim. Eu me esqueci!

    Informao sem aplicao gera frustrao. Esse velho adgio verdadeiro tanto para os pregadores quanto para os membros da igreja. Pregadores incapazes de responder ao e da?, pregaro a um que interessa? Somente quando pudermos demonstrar que as verdades da Escritura foram registradas com um propsito e tiveram aplicao prtica na vida do povo de Deus que nossos sermes vo ter a garantia de que sero ouvidos. Isso no simplesmente devido ao fato de as pessoas no terem motivo para ouvir o que no tem clara relevncia para a vida delas. Sermes que no explicam os objetivos e aplicaes para os quais foram escritos, de igual modo vo falhar em cumprir a vontade de Deus, determinada por sua Palavra.

    No somos simplesmente ministros de informao; somos ministros da transforma