preferÊncia alimentar de oncopeltus unifasciatus ... · insetos, utilizam os glicosídeos...

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PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE Oncopeltus unifasciatus (LYGAEIDAE) POR Calotropis procera (ASCLEPIADACEAE) Priscila Alves Bezerra 1 , Antonio Fernando Morais de Oliveira 2 , Claudemir Santos da Costa 3 , Maria Luiza Lyra Barreto 4 ________________ 1. Primeiro Autor é Técnica do Laboratório de Ensino da Biologia, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Fazenda Saco, BR-232, margem direita, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada, PE, CEP 56000-000. E-mail: [email protected]. 2. Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Moraes Rego, Cidade Universitária, Recife, PE, CEP 50670-901. 3. Terceiro Autor é Técnico do Laboratório de Ensino da Biologia, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Fazenda Saco, BR-232, margem direita, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada, PE, CEP 56000-000. 4. Quarto Autor é Técnica do Laboratório de Ensino da Biologia, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Fazenda Saco, BR-232, margem direita, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada, PE, CEP 56000-000. Apoio financeiro: CAPES e CNPq. Introdução Calotropis procera (Asclepiadaceae), conhecida popularmente como flor-de-seda, é uma planta de porte arbustivo ou subarbórea, originária da Ásia e introduzida no Brasil em época desconhecida para fins de ornamentação, atualmente encontrando-se amplamente distribuída [1]. Quimicamente C. procera é conhecida por apresentar látex [2] que tem demonstrado ser extremamente tóxico contra invertebrados. Por outro lado, algumas espécies de insetos, utilizam os glicosídeos cardioativos presentes no látex da C. procera e as demais plantas da família Asclepiadaceae como defesa química. A maioria dos insetos fitófagos é atraída por características visuais e/ou químicas de plantas, tendo primariamente contato físico com a cera epicuticular, uma camada lipídica que recobre as superfícies aéreas. É na camada cuticular que se desenvolvem os estágios primários na interação entre os herbívoros e as plantas; segundo Müller & Riederer [3], este viés também pode determinar o desenvolvimento e o comportamento do inseto. Insetos fitófagos apresentam forte qualidade distintiva por suas preferências alimentares, que resultam em vários graus da especificidade para com o hospedeiro. Alguns insetos se alimentam de colheitas agrícolas importantes como milho, café e tomate resultando em perdas econômicas significativas. Segundo Ting et al. [4], dado a importância econômica e ambiental do comportamento alimentar dos insetos fitófagos, torna-se necessária uma compreensão básica sobre os mecanismos de reconhecimento e de preferência destes insetos por seus hospedeiros. Material e Métodos A. Coleta e manutenção Insetos em diferentes estádios foram coletados manualmente de frutos maturos e inflorescências de uma população de C. procera, em seguida foram mantidos em aquários telados contendo algodão embebido com água e sementes como fonte de alimento. Para simular o habitat e garantir a oviposição foram utilizadas as fibras do fruto, controle da temperatura e da umidade. B. Teste de preferência alimentar Teste de preferência alimentar foi realizado usando-se a técnica de controle confinado. As fontes de alimento usadas nos testes foram sementes, pétalas e folhas. Apenas insetos adultos foram usados nos ensaios. C. Tratamento das sementes A remoção da cera epicuticular foi realizada com clorofórmio e secagem a temperatura de 30° C por 24 horas. Resultados e Discussão Sobre o comportamento alimentar foi observado que os insetos são mais ativos durante o dia, no período compreendido entre 11 horas da manhã e 14 horas da tarde. Os insetos demonstraram reconhecer sua fonte alimentar através de um exame de superfície utilizando o estilete e as antenas. Uma maior expressão deste comportamento ficou evidenciada na escolha dos insetos por sementes com a superfície cerosa, o que sugere uma provável influência da estrutura epicuticular e seus constituintes na sua preferência. No primeiro ensaio, realizado após 24 horas de restrição alimentar, 50% dos insetos demonstraram preferência pelas sementes, 40% não se alimentaram e 10% morreram. No segundo ensaio, realizado após 48 horas de restrição, 77,8 % preferiram as sementes, 11,1% não se alimentaram e 11,1 % morreram. O terceiro ensaio foi realizado após 72 horas sem alimento e 25% dos insetos testados preferiram sementes, 50% não se alimentaram e 25% morreram. Pétalas e folhas não foram escolhidas como fonte alimentares, provavelmente pelos seus altos teores de látex, segundo Nascimento & Oliveira [5] órgãos ricos em látex não são escolhidas pelos Hemípteros. No entanto,

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Page 1: PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE Oncopeltus unifasciatus ... · insetos, utilizam os glicosídeos cardioativos presentes ... As fontes de alimento usadas nos testes foram sementes, pétalas

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE Oncopeltus unifasciatus (LYGAEIDAE) POR Calotropis procera

(ASCLEPIADACEAE)Priscila Alves Bezerra1, Antonio Fernando Morais de Oliveira2, Claudemir Santos da Costa3, Maria Luiza Lyra Barreto4

________________1. Primeiro Autor é Técnica do Laboratório de Ensino da Biologia, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de

Pernambuco. Fazenda Saco, BR-232, margem direita, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada, PE, CEP 56000-000. E-mail: [email protected].

2. Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Moraes Rego, Cidade Universitária, Recife, PE, CEP 50670-901.

3. Terceiro Autor é Técnico do Laboratório de Ensino da Biologia, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Fazenda Saco, BR-232, margem direita, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada, PE, CEP 56000-000.

4. Quarto Autor é Técnica do Laboratório de Ensino da Biologia, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Fazenda Saco, BR-232, margem direita, Sertão do Alto Pajeú, Serra Talhada, PE, CEP 56000-000.

Apoio financeiro: CAPES e CNPq.

Introdução

Calotropis procera (Asclepiadaceae), conhecida popularmente como flor-de-seda, é uma planta de porte arbustivo ou subarbórea, originária da Ásia e introduzida no Brasil em época desconhecida para fins de ornamentação, atualmente encontrando-se amplamente distribuída [1]. Quimicamente C. proceraé conhecida por apresentar látex [2] que tem demonstrado ser extremamente tóxico contra invertebrados. Por outro lado, algumas espécies de insetos, utilizam os glicosídeos cardioativos presentes no látex da C. procera e as demais plantas da família Asclepiadaceae como defesa química.

A maioria dos insetos fitófagos é atraída por características visuais e/ou químicas de plantas, tendo primariamente contato físico com a cera epicuticular, uma camada lipídica que recobre as superfícies aéreas. É na camada cuticular que se desenvolvem os estágios primários na interação entre os herbívoros e as plantas; segundo Müller & Riederer [3], este viés também pode determinar o desenvolvimento e o comportamento do inseto.

Insetos fitófagos apresentam forte qualidade distintiva por suas preferências alimentares, que resultam em vários graus da especificidade para com o hospedeiro. Alguns insetos se alimentam de colheitas agrícolas importantes como milho, café e tomate resultando em perdas econômicas significativas. Segundo Ting et al. [4], dado a importância econômica e ambiental do comportamento alimentar dos insetos fitófagos, torna-se necessária uma compreensão básica sobre os mecanismos de reconhecimento e de preferência destes insetos por seus hospedeiros.

Material e Métodos

A. Coleta e manutenção

Insetos em diferentes estádios foram coletados manualmente de frutos maturos e inflorescências de uma população de C. procera, em seguida foram

mantidos em aquários telados contendo algodão embebido com água e sementes como fonte de alimento. Para simular o habitat e garantir a oviposição foram utilizadas as fibras do fruto, controle da temperatura e da umidade.

B. Teste de preferência alimentar

Teste de preferência alimentar foi realizado usando-se a técnica de controle confinado. As fontes de alimento usadas nos testes foram sementes, pétalas e folhas. Apenas insetos adultos foram usados nos ensaios.

C. Tratamento das sementes

A remoção da cera epicuticular foi realizada com clorofórmio e secagem a temperatura de 30° C por 24 horas.

Resultados e Discussão

Sobre o comportamento alimentar foi observado que os insetos são mais ativos durante o dia, no período compreendido entre 11 horas da manhã e 14 horas da tarde. Os insetos demonstraram reconhecer sua fonte alimentar através de um exame de superfície utilizando o estilete e as antenas. Uma maior expressão deste comportamento ficou evidenciada na escolha dos insetos por sementes com a superfície cerosa, o que sugere uma provável influência da estrutura epicuticular e seus constituintes na sua preferência. No primeiro ensaio, realizado após 24 horas de restrição alimentar, 50% dos insetos demonstraram preferência pelas sementes, 40% não se alimentaram e 10% morreram. No segundo ensaio, realizado após 48 horas de restrição, 77,8 % preferiram as sementes, 11,1% não se alimentaram e 11,1 % morreram. O terceiro ensaio foi realizado após 72 horas sem alimento e 25% dos insetos testados preferiram sementes, 50% não se alimentaram e 25% morreram. Pétalas e folhas não foram escolhidas como fonte alimentares, provavelmente pelos seus altos teores de látex, segundo Nascimento & Oliveira [5] órgãos ricos em látex não são escolhidas pelos Hemípteros. No entanto,

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ficou evidente que outros fatores químicos influenciam na escolha, pois sementes sem revestimento epicuticular também foram rejeitadas.

Agradecimentos

Agradeço aos que colaboraram com a realização deste trabalho, em especial ao Professor Antonio Fernando Morais de Oliveira; e a FACEPE/CNPq pelo apoio financeiro.

Referências[1] MELO, M. M. et al. 2001. Estudo fitoquímico da Calotropis

procera Ait., e sua utilização na alimentação de caprinos: efeitos clínicos e bioquímicos séricos. Revista Brasileira de Saúde. v. 2. p. 15-20.

[2] NICHOLAS, A. & BAIJNATH, H. 1994. A consensus classification for the order Gentianales with additional details on the suborder Apocynineae. Botanical Review. v. 60. p. 440-482.

[3] MÜLLER, C. & RIEDERER, M. 2005. Plant surface properties in chemical ecology. Journal of Chemical Ecology. v. 31, p. 2621-2651.

[4] TING, A. MA, X. HANSON, F.E. 2002. Induction of feeding preference in larvae of the patch butterfly, Chlosyne lacinia. Acta Zoológica Academiae Scientiarum Hungaricae. v. 48, p. 281-295.

[5] NASCIMENTO, D. J. & W.; OLIVEIRA, A. F. M. 2006. Influência do látex de Calotropis procera na preferência alimentar de hemípteros. In: Anais do XXI Congresso Brasileiro de Entomologia. Recife. p. 409 (2).