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Prefeitura Municipal de Porto Alegre Escola de Gestão Pública Curso: Educação para as Relações Étnico-raciais Módulo I: Contexto histórico da questão racial no Brasil Aula I: Da colonização à Abolição Educador: André Luis Pereira Sociólogo OBSERVAPOA/SMGL Porto Alegre, março de 2013. A Escravidão: Cerceamento da liberdade humana que desencadeia diferentes processos para além da submissão. O homem submetido pela força, nem sempre é escravo. Podemos classificar uma comunidade escravista quando o trabalhador escravizado é considerado uma mercadoria; quando seu proprietário pode decidir onde, como e quando empregar seu trabalho; quando ao menos em teoria, a totalidade do produto do trabalho cativo pertence ao amo e, finalmente, quando o status servil é vitalício e hereditário.

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Prefeitura Municipal de Porto Alegre Escola de Gestão Pública

Curso: Educação para as Relações Étnico-raciais

Módulo I: Contexto histórico da questão racial no Brasil

Aula I: Da colonização à Abolição

Educador: André Luis PereiraSociólogo OBSERVAPOA/SMGL

Porto Alegre, março de 2013.

A Escravidão: Cerceamento da liberdade humana que

desencadeia diferentes processos para além da submissão. O

homem submetido pela força, nem sempre é escravo. Podemos

classificar uma comunidade escravista quando o trabalhador

escravizado é considerado uma mercadoria; quando seu

proprietário pode decidir onde, como e quando empregar seu

trabalho; quando ao menos em teoria, a totalidade do produto

do trabalho cativo pertence ao amo e, finalmente, quando o

status servil é vitalício e hereditário.

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A ESCRAVIDÃO NO BRASIL

• A chegada dos portugueses ao Brasil traz consigo novas forma s

de práticas econômicas;

• Extrativismo da madeira (exploração do pau-brasil);

• O monopólio dessa matéria-prima foi possibilitado não só pe la

sua localização, já que as florestas estavam próximas ao

litoral, mas também pela colaboração dos índios, com os

quais os portugueses desenvolveram um tipo de comércio

primitivo baseado na troca – o escambo;

• A desconfiança quanto às práticas culturais indígenas gero u a tentativa

de escravização destes.

• A escravidão no Brasil inicia-se assim com os índios, parale lamente

ao processo de desterritorialização. Diante dessa situação , os nativos

só tinham dois caminhos a seguir: reagir à escravização ou ace itá-la.

A escravidão e o tráfico negreiro

• Entre os anos de 1525 e 1851, mais de cinco milhões de

africanos foram trazidos para o Brasil na condição de escrav os,

não estando incluídos neste número, que é uma aproximação,

aqueles que morreram ainda em solo africano, vitimados pela

violência da caça escravista, nem os que pereceram na

travessia oceânica. Não se sabe quantos foram trazidos desd e

que o tráfico se tornou ilegal;

• A África já praticava o cativeiro muito antes da descoberta d a

América e a Europa já importava escravos africanos antes da

descoberta do novo mundo, mas foi o tráfico para cá do

Atlântico que transformou a caça de escravo na rendosa

atividade para o próprio africano, em um mercado de escambo

por mercadorias do novo mundo (principalmente o tabaco).

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• Os povos africanos que vieram para o Brasil, são originários,

grosso modo, de dois grandes grupos linguísticos: sudaneses

e bantos;

• Nos primeiros séculos do tráfico, chegaram ao Brasil

preferencialmente africanos bantos, seguidos mais tarde

pelos sudaneses. A disputa militar e a ocupação de

territórios foi um dos principais processos de dominação que

constituiu o mercado e o tráfico de africanos, sustentando

assim todo sistema escravagista no Novo Mundo;

• A economia brasileira, de base agrícola, e posteriormente,

com extrativismo mineral gerou um processo de mobilidade

geográfica da escravidão: O ciclo do açúcar no Nordeste

(Pernambuco e Bahia principalmente), até meados do séc.

XVIII é o primeiro momento de grande utilização de mão-de-

obra escrava no país;

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• Com a descoberta do ouro em Minas, no séc. XVIII, há um

deslocamento do tráfico para as Minas Gerais,

correspondendo ao chamado Ciclo do Ouro;

• A mão-de-obra escrava foi utilizada de norte a sul do país, nas

mais diversas atividades, desde o trabalho no campo (de

menor complexidade) até atividades técnicas que requeriam

maior conhecimento e desenvolvimento intelectual;

• Quanto as funções que exerciam, existiam três tipos de

negros:

1. escravo de eito (usados na agricultura ou na mineração);

2. escravo do ganho (exerciam ofícios e prestavam serviços a

terceiros mediante remuneração para o seu proprietário);

3. escravo doméstico (exerciam os trabalhos domésticos).

• O escravo era propriedade de seu senhor, não possuindo assim

qualquer direito. Era o seu proprietário o responsável por

garantir os elementos básicos à sua sobrevivência, como a

alimentação e as suas vestimentas. Era vigiado pelos

chamados capitães-do-mato, que também capturavam os

escravos fugitivos e lhes aplicava os mais diversos tipos de

castigos. Nas fazendas, trabalhavam até 16 horas por dia,

principalmente no verão, enquanto existisse a claridade solar.

• A alimentação dos escravos era um problema para os

comerciantes e importadores. Começava pelo embarque nas

costas africanas. Parte dos mantimentos deterioravam pelo

forte calor e a umidade durante a viagem. E eram servidos

assim mesmo. O consumo ocasionava envenenamento

alimentar e a morte dos escravos.

A condição de vida dos africanos no período da escravidão

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• Eram proibidos de praticar sua religião de origem africana

ou de realizar suas festas e rituais. Tinham que seguir a

religião católica, imposta pelos senhores de engenho,

adotar a língua portuguesa na comunicação. Mesmo com

todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura

africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais,

praticavam suas festas, mantiveram suas representações

artísticas e até desenvolveram uma forma de luta: a

capoeira.

• As mulheres negras também sofreram muito com a

escravidão, embora os senhores de engenho utilizassem

esta mão-de-obra, principalmente, para trabalhos

domésticos. Cozinheiras, arrumadeiras e até mesmo amas

de leite foram comuns naqueles tempos da colônia.

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QUILOMBOS NO BRASIL EA SINGULARIDADE DE PALMARES

• Os Quilombos representam uma das maiores expressões de luta

organizada no Brasil, em resistência ao sistema colonial-

escravista, atuando sobre questões estruturais, em diferentes

momentos histórico-culturais do país, sob a inspiração,

liderança e orientação político-ideológica de africanos

escravizados e de seus descendentes de africanos nascidos no

Brasil.

• Desde o princípio da colonização no século XVI, os africanos

escravizados se engajaram num combate firme contra a

condição de escravizados em núcleos de resistência diversos.

Os quilombos, entre os quais destaca-se a República de

Palmares, a Revolta dos Alfaiates, Balaiada, Revolta dos Malês,

entre tantos outros núcleos que continuam no pós-abolição em

oposição às consequências da escravidão, continuam numa luta

por uma liberdade que sempre lhes foi negada.

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O movimento abolicionista e a abolição da escravatura

Ainda que seja parte integrante de um amplo e complexo processo

histórico, é fato conhecido que a Abolição da escravidão no Brasil

somente ocorreu depois do surgimento de um crescente e intenso

movimento abolicionista, que tomou forma e tamanho na década de

1880, em diversas regiões do Império. Embora a existência e a

repercussão de uma tensão antiescravista – e, em alguns casos,

emancipacionista – estivesse, de longa data, presente no campo

intelectual e político, na opinião pública e, até mesmo, no universo

da resistência escrava, foi apenas a partir de meados da década de

1860 que a questão do fim da escravidão foi realmente colocada –

com avanços, recuos e descontinuidades – nos espaços de poder e

na sociedade civil; culminando na expansão e na popularização do

movimento pela completa abolição da escravidão nos anos 1880.

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Na década de 1880, o Brasil era uma das últimas nações

do mundo que mantinham a escravidão. Apesar de alguns

avanços, ainda havia no país cerca de 700 mil escravos.

Então, algumas das grandes vozes do império abraçaram a

causa abolicionista. Homens como Joaquim Nabuco, Castro

Alves e José do Patrocínio queriam acabar com essa situação

vergonhosa. Já os donos dos escravos, que eram os grandes

latifundiários, responsáveis por quase toda a economia

nacional, pressionavam para que a abolição não acontecesse,

pois o trabalho nas fazendas dependia dessa mão-de-obra. Em

1850, o tráfico negreiro é oficialmente extinto com a Lei

Eusébio de Queirós. Com o fim da principal fonte de obtenção

de escravos, o preço destes elevou-se significativamente, uma

vez que ocorre uma diminuição na sua oferta.

Já em 1871, foi promulgada a Lei do Ventre Livre, que garante a

liberdade aos filhos de escravos. Oito anos depois, em 1879,

iniciou-se uma campanha abolicionista estimulada por

intelectuais e políticos, como José do Patrocínio (1853-1905) e

Joaquim Nabuco (1849-1910). O sistema escravista

enfraqueceu-se mais ainda com a Lei dos Sexagenários (1885),

que libertava todos os escravos com mais de 60 anos de idade.

Em 5 de maio de 1888, o papa Leão XIII (1810-1903), na

encíclica In Plurimis, dirigida aos bispos do Brasil, pede-lhes

apoio ao Imperador e a sua filha, na luta que estão a travar pela

abolição definitiva da escravidão. Sintomaticamente no dia 13

de maio de 1888, a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel

(1846-1921), extinguindo oficialmente a escravidão no Brasil.

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Referências bibliográficas

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