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Prefácio

Ao longo do tempo, muita gente refletiu sobre as questões funda-mentais da existência humana. Este livro é uma viagem ao vale das grandes perguntas. Trago comigo sábios e pensadores de todas as crenças, nacionalidades e épocas para nos inspirar com suas ideias.

Na viagem, encontraremos Platão e Saint-Exupéry, Wittgens-tein e Lewis Carroll, Freud e Descartes, Rabindranath Tagore e Thich Nhat Hạnh, Nietzsche e o rei Salomão, A. A. Milne e Tols-tói, só para mencionar alguns.

Faremos um teste sobre o sentido da vida, tentaremos desco-brir por que os números são tão importantes para as pessoas e sa-beremos de quanta terra o homem precisa, segundo o conde Tols-tói. Nietzsche nos guiará pela experiência das Máscaras. O Ursinho Pooh revelará o momento mais feliz da vida. Indagaremos às mu-lheres o que as faz felizes e veremos por que as respostas surpreen-dem tanto os homens. Descobriremos o que Mark Twain pensava da fúria. Epicuro nos apresentará sua receita para uma vida feliz. A Raposa dará lições de amor e amizade ao Pequeno Príncipe.

O livro que você tem em mãos pretende mudar seu ponto de vista sobre quase tudo na vida – principalmente o conceito de felicidade. Mas, como você deve saber, nada sai de graça. Quem quiser aproveitar este livro ao máximo terá de ser ativo: destacar partes do texto, corrigir os erros que encontrar e promover as ideias de que gostar.

Por mais séria que seja a viagem à terra das coisas que impor-tam, aproveitar o passeio é igualmente válido. Depois de desco-brir que sério não é o contrário de divertido, fiz um sério esforço para lhe apresentar um livro engraçado e divertido que discuta profundamente sobre aquilo que de fato é importante.

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Capítulo1

Aristóteles acreditava que “a felicidade é o sentido e o propósi-to da vida; toda a sua meta”. Mas nós temos ideias diversifica-das sobre o que é felicidade. Alguns precisam praticar bungee--jump para ter um surto de alegria, enquanto outros encontram a bem-aventurança ao cuidar da casa. Alguns são felizes escu-tando música clássica numa sala de concerto, enquanto outros ficam contentes ao ouvir o som de crianças brincando numa pracinha. Há quem fique em êxtase ao resolver uma equação complicada, e há aqueles que se lembram com alegria dos dias em que a professora de matemática faltava. Os romances de Dostoiévski nos apresentam personagens que se sentem felizes só por existirem, outros que adoram sofrer e vários cuja maior alegria é fazer os outros sofrerem.

Somos diferentes, mas será que há um jeito certo e um errado de ser feliz? Todos queremos ser felizes, mas é realmente possível alcançar a felicidade?

“A intenção de que o homem seja feliz não faz parte do plano da Criação.”

Sigmund Freud

Não devemos confundir felicidade com momentos ou perío-dos de alegria. É possível ser feliz por duas horas, dois dias, talvez

Viagem à felicidade

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até por um ano inteiro, mas a coisa para por aí. Woody Allen, no entanto, discorda de mim. Ele acredita que os períodos de feli-cidade são muito mais curtos, e que se uma pessoa se sente feliz por mais de dois dias seguidos é porque alguém está escondendo alguma coisa dela.

Neste capítulo, veremos por que Nabokov acreditava que o caminho da felicidade é estreitíssimo, com espaço apenas para uma pessoa. Vamos nos juntar a Heinrich Heine en-quanto ele planeja seu dia de suprema felicidade. Vamos nos familiarizar com momentos de apogeu na vida de homens e mulheres e tentar entender a razão da imensa diferença entre eles. Também descobriremos o que o Ursinho Pooh pensa so-bre comer mel.

Antes de colocarmos o pé na estrada, aí vai uma breve reflexão:

“A felicidade é uma borboleta que, quando perseguida, está sempre fora de alcance, mas que, caso nos sentemos

em silêncio, pode pousar em nós.”Nathaniel Hawthorne

COMO SER FELIZ PARA SEMPRE EM APENAS TRÊS MINUTOS

Caso nunca tenha lido O segredo, vou lhe poupar algum tempo. Eis a grande revelação: Se sentir vontade de ser alguma coisa, pense que já é.

Só isso.Li alguns livros desse tipo para compreender melhor o fenôme-

no da autoajuda. Eis a minha conclusão: na maioria dos casos, ler livros sobre como ser feliz não o fará mais feliz. Vou citar as três razões principais, dentre muitas:

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1. É óbvio que os livros que ensinam a ser feliz são inúteisSe apenas um fiapinho das promessas feitas em muitos des-ses guias fosse verdadeiro, o mundo estaria mergulhado até o pescoço numa quantidade absurda de bem-aventurança. Sabemos que isso não é verdade.

2. Não sabemos o que nos deixará felizesAo pesquisar os guias para a felicidade, encontrei O que nos faz felizes, excelente livro de Daniel Gilbert. Ele não pretende nos guiar até a felicidade, mas explicar, com base em toneladas de estudos psicológicos atuais, por que não somos capazes de saber o que nos deixa felizes (nem mes-mo uma TV de LED 3D top de linha, um carro de luxo ou uma cozinha nova). “Se você não sabe aonde vai, como conseguirá chegar lá?”, pergunta Gilbert. E se estiver no caminho errado?

3. Saber como se faz não traz vantagem alguma em estudos sobre a felicidadeO conhecimento é fundamental quando se quer resolver uma equação diferencial, preparar uma torta de trufas ou mandar um foguete para o espaço. Mas é completamente inútil quan-do se busca a felicidade. Vou explicar. Ao folhear um des-ses guias, encontrei um conselho sapientíssimo: “Levante-se toda manhã com um sorriso largo e excelente humor.” Como eu me senti contente com os autores por decidirem me reve-lar essa descoberta! Antes de deparar com essa ideia maravi-lhosa, eu achava que deveria me levantar com uma dor aguda no rim esquerdo e profundamente deprimido. Agora sei que estava errado.

O impacto de conselhos assim é igual ao do “Bom dia!” de um balconista. É claro que ouvir isso não deixará o seu

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dia bom. Saber o que fazer não ajuda muito. Os fuman-tes sabem que devem largar o cigarro, mas como isso cura fisiologicamente o vício em nicotina? É claro que esses livros são tão populares porque quem os lê se identifica com a meta: “Isso é verdade. Eu deveria mesmo abrir um grande sorriso toda manhã e fazer uma boa ação pelo me-nos uma vez por dia.” O estranho é que esses manuais nos fazem pensar: e agora? Como eu faço isso? Essa é a grande questão.

“Não há visitas guiadas à felicidade. Duvido que o caminho estreito que leva a esse sentimento tenha espaço

suficiente para uma pessoa.”Inspirado em Vladimir Nabokov

É claro que Nabokov está certo. É absurdo supor que uma visita guiada possa levar todos à felicidade. Afinal, somos tão diferentes uns dos outros que nem mesmo uma visita guiada à Itália satisfaria os desejos de todos os viajantes. Enquanto alguns querem ver a Capela Sistina e se banquetear com macarronadas e vinho tinto, outros querem encontrar compatriotas em Roma. Embora essas visitas guiadas sempre sejam insuficientes, será que existem regras de navegação que nos ajudem a encontrar o caminho que devemos percorrer sozinhos? Em outras palavras, haverá verdades que possamos aprender e que sejam válidas para a maioria?

Aí vai um belo exercício. Tente responder: se tudo fosse pos-sível, como seria o dia mais feliz da sua vida?

Não é uma pergunta simples. Portanto, pense um pouco an-tes de responder.

Enquanto isso, vou lhe contar o que o poeta Heinrich Heine teve a dizer sobre essa questão.

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O dia mais feliz da minha vidaInspirado em Heinrich Heine

O dia mais feliz da minha vida começará quando eu acordar lenta-mente numa cabana de madeira muito bem projetada nos Alpes suíços. Saio da cama tranquilo, alongo o corpo, me coço, bocejo e me aproximo da mesa do café da manhã. Seguindo o olfato, en-contro uma baguete quentinha na qual espalho bastante mantei-ga fresca. Suavemente, mordo o pão crocante e tomo um longo gole do café italiano recém-passado que meus criados trouxeram.

Depois ando até a janela e banqueteio os olhos no peque-no lago turquesa que cintila no vale lá embaixo. Meu olhar pas-seia pela trilha da montanha que leva à minha cabana enquan-to percebo a cordilheira nevada e seu reflexo no lago.

Sim, isso é bem-aventurança, mas ainda não é perfeito. Do que um poeta e pensador como eu precisa agora? Ora, se Deus quiser mesmo me fazer feliz, aqui vai a coisinha a mais de que preciso para tornar o dia absolutamente maravilhoso: eu gostaria de ver, entre a cabana e o lago, uma árvore com meus inimigos pendurados em cada galho. Isso! A cabana, a vista, a manteiga fresca numa baguete quentinha e quem me odeia enforcado na árvore. Nada poderia ser melhor!

Simpatizei bastante com Heine, até chegar à parte da árvo-re dos enforcados. Não quero ver ninguém pendurado em nada, muito menos em árvores. Isso não me deixa feliz, nem um pou-quinho. Mas, numa das minhas palestras, alguém na plateia ado-rou a ideia. E foi além: disse que um país pequeno como Israel não tem árvores suficientes para todos aqueles que ele gostaria de enforcar. Agora tente dizer a esse homem que ele deveria se levantar toda manhã com um sorriso no rosto.

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Como já destaquei, as pessoas são bem diferentes entre si e têm sonhos e desejos distintos. Certa vez dei uma oficina so-bre “pensamento positivo” para os funcionários de uma gran-de empresa de tecnologia e descobri dois fatos interessantes: 1) Ninguém sabe direito o que quer. Alguns participantes levaram 15 minutos só para começar a escrever. 2) Homem algum sonha em passar seu dia mais feliz com a esposa.

Pois é. Você não encontrará o segredo da felicidade nos guias comuns e, infelizmente, nem neste livro. Como afirmei no pre-fácio, o livro que você tem em mãos cumpre outra função. Ele pretende mudar seu ponto de vista sobre quase tudo na vida, principalmente o conceito de felicidade.

“Não podemos ensinar nada a ninguém; só podemos ajudar o próximo a descobri-lo dentro de si.”

Galileu Galilei

TRÊS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS

Muito já se escreveu sobre o Ursinho Pooh e seus amigos en-cantadores. Tivemos O tao de Pooh, The Te of Piglet (O te de Leitão) e Pooh and the Philosophers (Pooh e os filósofos) e des-cobrimos que Pooh é pelo menos tão sábio quanto Sócrates, Aristóteles, Descartes, Heidegger, Sartre, Mill, Wittgenstein e Kant juntos. Lemos sobre a Pedra Poohlosofal. Há livros sobre Pooh e o empirismo inglês, Pooh e o pragmatismo americano, Pooh e os grandes magos, Pooh e a administração de empresas, a perplexidade de Pooh, e Pooh no Pós-Modernismo, além de Cooking with Pooh: Yummy Tummy Cookie Treats (Cozinhan-do com Pooh: biscoitos deliciosos e barriguinha cheia). Há até artigos científicos sobre os transtornos psicológicos do ursinho

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e seus companheiros, e agora só falta publicarem a opinião de Pooh sobre quem matou Kennedy.

Acredito que A. A. Milne ficaria surpreso se soubesse até onde seu personagem chegaria. Para mim, essas várias interpre-tações entram em conflito com o espírito de Pooh. Os livros de Milne são apenas contos infantis, ainda que os melhores e mais encantadores do gênero.

Então, vou começar pedindo desculpas a Milne, mas estuda-rei seus livros – principalmente seu protagonista. Escolhi o urso gorducho como guia nesse estágio do livro porque ele tem uma bússola embutida que sempre indica como encontrar o caminho desejado. Mas aí vai uma palavra de cautela: saber o que fazer é bem diferente de entrar em ação. Muitos que encontraram o caminho logo descobriram que, por mais difícil que tenha sido achá-lo, mais difícil ainda era segui-lo.

Primeiro princípio: Tudo bem não fazer nada enquanto faze-mos uma boquinha

Todos conhecemos a sensação: a gente acorda de manhã e a pri-meira ideia que passa pela cabeça é que o melhor a fazer é voltar direto para debaixo dos lençóis só por mais cinco minutinhos, ou duas horinhas, ou cinco, ou dez.

“O homem pode acordar de manhã, mas a manhã não acorda nele.”

David Avidan

Quando acordo de manhã e sinto que a manhã não acordou em mim, ligo para o trabalho e peço que a secretária cancele tudo o que estiver planejado para o dia porque minhas costas estão me matando (tenho que mentir um pouco porque muita gente no meu círculo acadêmico ficaria espantada se eu ligasse

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dizendo que não vou trabalhar porque a manhã não acordou em mim).

O que o Ursinho Pooh faria em manhãs assim?

Pensativos, Pooh e Leitão voltam juntos para casa no entar-decer ensolarado. Permanecem calados por muito tempo.

– Pooh, quando você acorda de manhã, qual é a primeira coisa que diz a si mesmo? – pergunta Leitão, por fim.

– O que tem para o café da manhã? – responde Pooh. – E você, Leitão?

– Eu me pergunto: o que vai acontecer de empolgante hoje?

Pensativo, Pooh assente.– É a mesma coisa – comentou.

"Ficar sem fazer nada é um trabalho duríssimo."

Oscar Wilde

Concordo plenamente com o sábio Pooh e o espirituoso Os-car. Ficar sem fazer nada é dificílimo e uma aventura maravilho-sa. Vou explicar melhor com uma historinha.

Certo dia, fui convidado a dar uma palestra sobre a teoria dos jogos durante uma conferência numa cidade turística à beira--mar. Como a palestra seria na quinta-feira, achei que precisaria descansar no fim de semana e acabei ficando um pouco mais no hotel. Na manhã de sexta, depois de um farto café da manhã (que Pooh adoraria), fui à piscina tomar sol e ficar sem fazer nada. O espantoso foi que fracassei redondamente.

Eis o que disse o meu cérebro: “Como é, Haim? Que ideia é essa de se sentar e ficar sem fazer nada? Por que pelo me-nos não pega um livro? Leia um artigo sobre topologia dife-rencial ou sobre o fractal de Mandelbrot. Não seria um ótimo

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momento para finalmente ler Ulisses, de James Joyce, de cabo a rabo, ou algum outro clássico? Por que não escreve outra tese de doutorado? Ah, já sei: vá escutar a Oitava sinfonia de Mah-ler ou o Concerto de piano de Ravel. Será que você não deveria aproveitar essa folguinha para decidir o que quer ser quan-do crescer? Por que está perdendo o tempo aqui neste hotel, quando sua casa está aquela bagunça? Tudo bem, pelo menos se exercite. Nade um pouco. Nadar faz bem. Você precisa mes-mo perder esses pneuzinhos...”

E assim meu cérebro não me deixou gozar nem um minuto de ócio. Afinal, não é tão difícil ficar sem fazer nada. Muita gente consegue. O difícil é não se sentir culpado.

Quando percebi que as pontadas de culpa não me deixa-riam em paz, decidi me exercitar e me dediquei a exercícios torturantes por um bom tempo. Hoje me orgulho de dizer que consigo ficar sem fazer nada durante uma semana inteira e apreciar cada momento! Assim, será que nossos momentos mais felizes não são aquelas manhãs em que acordamos mas ficamos na cama um pouco mais, nos mimando sem fazer nada, divagando sob a coberta quentinha? Experimente isso quando tiver oportunidade.

Muita gente não entende e usa um argumento esquisito: “Haim, não fazer nada é bobagem. Você está perdendo tempo.”

Sempre respondo que o tempo vai se perder de qualquer ma-neira. Não importa o que eu faça ou deixe de fazer: o tempo se perde. É da natureza dele!

Pooh nunca tem pressa e só faz o que quer. Paradoxalmen-te, embora nunca se esforce demais, sempre consegue realizar seus desejos e vive muitas aventuras: acha o polo Norte, aju-da Bisonho a encontrar o rabo, cria poemas e voa pendurado num balão.

Os chineses chamam o ócio criativo de wu-wei. Wu significa “sem”, e wei, “esforço”. A ideia principal desse princípio taoista

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é  que precisamos saber quando agir e quando simplesmente deixar acontecer. E, mesmo quando agimos, não devemos nos esforçar, da mesma forma que as árvores crescem ou as ondas se quebram.

Atualmente, a maioria de nós, seres humanos, passa grande parte do tempo “fazendo” e pouco se dedica a apenas “ser”. Pooh demonstra a essencialidade de “ser” e, claramente, se diverte muito.

É claro que não defendo a inércia total. Estou falando do pri-mordial ato de equilíbrio: enquanto trabalhamos e criamos – que é a nossa essência e o propósito de nossa existência neste mundo – temos de encontrar tempo para apreciar nossa presença, nosso “ser”, e saboreá-lo.

E, agora, algo não muito diferente: quatro novas versões da história da cigarra e da formiga. Caso se sinta curioso demais e esteja louco para conhecer o segundo princípio de Pooh, fique à vontade, pule os próximos parágrafos e volte para visitar a nossas amiguinhas quando tiver vontade.

1. A Cigarra e a Formiga Uma fábula com moral de Esopo/La Fontaine/Krilov

A Cigarra passou o verão e o outono inteiros can-tando, dançando e bebendo com amigos enquanto a Formiga trabalhava com afinco e armazenava comida para o inverno.

Quando o inverno chegou, a Cigarra, faminta, pro-curou a Formiga e lhe pediu algo de comer. Além de não lhe dar nada, a Formiga a repreendeu pela preguiça.

Eis a moral da história, de acordo com diversos sábios:

Esopo: Vá atrás da formiga, sua cigarra preguiçosa, avalie a vida dela e aprenda a ser sábia.

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La Fontaine: O bom planejamento é metade do serviço.Krilov: Pense antes de agir.Dani Kerman (cartunista israelense): Se você gosta de can-

tar e dançar, escolha amigos melhores do que essa formiga mal-educada.

2. A Cigarra e a Formiga Versão de Pooh

A Cigarra passou o verão e o outono inteiros cantando, dançando e bebendo com amigos enquanto a Formi-ga trabalhava com afinco e armazenava comida para o inverno.

Quando o inverno chegou, a Formiga se sentou no conforto de sua casa abarrotada de comida e se sentiu muito entediada. Certo dia, ouviu um carro parar na entrada da garagem. Curiosa, abriu a porta e levou um susto ao ver a Cigarra sair de uma Ferrari vermelha, usando um tailleur de costureiro famoso e fumando um charuto cubano.

– Onde você arranjou tudo isso? – perguntou a For-miga trabalhadeira, mas simplória.

– Ora, querida, eu cantei, dancei e toquei rabeca até meu empresário me arranjar uma temporada de inver-no na Ópera de Paris por um bom dinheiro. Estou indo para lá agora. Quer vir comigo?

– É claro. Vou pra Paris contigo, a gente procura aquele tal de La Fontaine e eu vou explicar direitinho para ele: trabalhar duro só é bom nas fábulas que ele copiou de Esopo.

– Trato feito. Nós o encontraremos no Angelina. Eles têm uma torta de castanha maravilhosa, você vai adorar – disse a Cigarra, abrindo a porta da Ferrari para a Formiga.

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3. A Cigarra e a Formiga Versão de Walt Disney

A Cigarra passou o verão e o outono inteiros can-tando, dançando e bebendo com amigos enquanto a Formiga trabalhava com afinco e armazenava comida para o inverno.

Quando o inverno chegou, a Cigarra foi pedir comi-da à Formiga, que disse:

– Preciso consultar a Rainha. Volte amanhã.No dia seguinte, quando a Cigarra apareceu, a For-

miga lhe disse que fora decidido que ela receberia comi-da, desde que se mudasse para o formigueiro e, todas as noites, às sete e meia, cantasse, dançasse e tocasse rabe-ca para o povo de lá. Faminta demais para avaliar se ha-via alternativa, a Cigarra aceitou os termos da Rainha.

Logo as formigas passaram a gostar muito da Ci-garra. Toda noite, seus espetáculos se transformavam em um grande baile, com as formigas se banquetean-do e dançando. E sempre que o concerto terminava, a Cigarra ia para os seus aposentos com duas lindas formigas, uma de cada lado.

(Não tenho muita certeza desse final. Disney fez esse desenho animado em 1934.)

4. A Cigarra e a Formiga Versão do Bisonho

A Cigarra passou o verão e o outono inteiros can-tando, dançando e bebendo com amigos enquanto a Formiga trabalhava com afinco e armazenava comida para o inverno.

Quando o inverno chegou, a Cigarra foi implorar comida à Formiga. Esta a repreendeu pela vida ociosa,

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mas, antes de dizer tudo o que queria, um homem que passava pela floresta pisou sem querer na Formiga e na Cigarra e as esmagou. C’est la vie.

Nesse momento, só me resta discutir o segundo princípio da filosofia de vida de Pooh.

Segundo princípio: “Sentir raiva é punir-se pela estupidez dos outros”, ou “Abaixo o pessimismo!”

Num dia ensolarado, o Ursinho Pooh decidiu visitar seu amigo, o coelho Abel. Pooh ficara sabendo que Abel tinha uma bela reserva de mel, e esta sempre é uma boa razão para visitar os amigos.

Pooh foi até a toca de Abel e bateu à porta. Ninguém atendeu, e o ursinho resolveu bater de novo, chamando:

– Tem alguém em casa?Como continuou sem resposta, Pooh teve de bater à porta

pela terceira vez. Bateu com força e gritou:– Olá! Tem alguém em casa?Dessa vez, Pooh ouviu uma voz:– Não tem ninguém aqui, e você não precisa gritar!Só que Pooh é um ursinho bem pequeno com um cérebro

minúsculo. É extremamente ingênuo e concluiu que, se alguém lhe disse que não havia ninguém na casa de Abel, então não havia ninguém na casa de Abel. Ele deu meia-volta e foi para casa, mas, antes de dar o vigésimo passo e de pensar em algo para cantaro-lar, fez uma importante descoberta científica e filosófica. Só René Descartes teve uma revelação de semelhante magnitude. (Tem-pos depois, Pooh argumentou que fez a sua dedução de forma independente das ideias do filósofo francês.)

Eis a profunda conclusão a que Pooh chegou usando seu cé-rebro pequenininho:

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“Ouvi uma voz, portanto tem alguém lá.”Poohlósofo

Voltaremos a Pooh daqui a pouco, mas agora, que menciona-mos Descartes, tenho de perguntar: já parou para pensar naquela famosíssima declaração, “Penso, logo existo”?

Talvez devesse ser:

“Existo, logo penso.”Martin Heidegger

Ou então:

“Às vezes penso, às vezes existo.”Paul Valéry

Eu poderia passar anos discutindo a afirmação de Descartes, mas este não é o lugar adequado. Portanto, voltemos a Pooh e Abel.

No fim das contas, Abel deixou Pooh entrar e até lhe per-guntou se gostaria de comer alguma coisa. Eram 11 da manhã, a melhor hora para fazer uma boquinha. Quando Abel pergun-tou a Pooh o que ele gostaria de passar no pão, mel ou geleia, Pooh ficou tão empolgado que respondeu: “Os dois.” Mas depois lembrou que, supostamente, era um gentleman e, portanto, não devia parecer guloso. Por isso, logo acrescentou: “Pode deixar o pão de fora.”

Em seguida, ficou um bom tempo quieto. Apenas comeu sem parar, e o mundo ficou maravilhoso enquanto seu corpo inteiro era inundado por uma sensação de alegria e satisfação. Depois de lamber o fundo dos potes de mel e geleia, ele se levantou e disse que tinha mesmo de ir, a menos, é claro, que Abel convidasse para comer mais um pouquinho – o que não aconteceu. Mas as coisas nunca são tão simples no Bosque dos Cem Acres.

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Saindo da casa de Abel, Pooh descobriu que, por ter comi-do tanto, simplesmente não conseguia se espremer pela porta do amigo. Pior: não conseguia entrar de volta. Ficou entalado.

Chegamos a um ponto importantíssimo da discussão: o que você pensaria numa situação dessas?

Se disséssemos que engordamos por comer demais, seria uma ideia pessimista; isso não combina com Pooh, que, ao contrário de Bisonho, não tem ideias pessimistas. Como não quer ou não é ca-paz de pensar com pessimismo, Pooh precisa ser criativo. Sarcás-tico, Abel olhou para a metade de Pooh ainda em sua casa e disse:

– Tudo isso acontece por comer demais. Alguém comeu de-mais, e com certeza não fui eu.

A visão de Pooh a respeito da questão é muito diferente:– Tudo isso acontece porque a porta da frente não é grande

o suficiente! – retorquiu. – Não engordei coisa nenhuma. O pro-blema é a porta, que já era estreita no começo e ficou ainda mais estreita com o passar do tempo.

Eis a Teoria da Relatividade de Pooh:

1. Não engordei. A porta é que emagreceu.2. Portas estreitas são muito chatas.

Viu com que facilidade Pooh se perdoou? O legal é que o ur-sinho não é generoso assim só com ele mesmo. Quando Leitão, preocupado, conversou com ele sobre a sanidade de Tigrão, Pooh assegurou que o amigo felino estava bem. Como Leitão concor-dou, Pooh tirou uma conclusão profunda e encantadora:

– Sabe, Leitão, embora eu não tenha cérebro e minha cabeça seja cheia de serragem, pensei um pouco e concluí que não só Tigrão está bem, como todo mundo está bem.

“Todo mundo está bem.”Ursinho Pooh

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Eis um comentário um pouco pessimista (pode pular este pa-rágrafo): ter pensamentos otimistas não é nada simples. Treino todo dia, mas meu nível de sucesso deixa muito a desejar. Alguns cientistas acreditam que seja genético. Bisonho devia estar certo ao afirmar que alguns não conseguem ser otimistas, mesmo que queiram (ele não deu mais detalhes).

Raiva e perdão

Deixamos Pooh numa situação bem estranha. Ele ainda está en-talado na porta de Abel, e uma de suas pernas ficou presa do lado de dentro da sala. Agora vem a cena inacreditável. Abel – que, pelo que acredito, é completamente insano e não deveria ter per-missão para andar à vontade nesses livros – vira-se na direção de Pooh e faz uma pergunta que só ele seria capaz de formular:

– Olhe só, Pooh. Desse jeito você ocupa muito espaço na mi-nha casa. Quero transformar o caos que você provocou por aqui numa coisa boa. Enquanto estiver entalado, você se importa que eu use sua perna para pendurar umas toalhas molhadas?”

É natural que a pessoa de humor mediano se zangue com Abel e se sinta insultado e com pena de Pooh. Como Abel ousa pensar em fazer uma pergunta dessas ao amigo tão encrencado? Pendurar toalhas?? Agora?!

Será uma atitude sábia nos irritarmos porque Abel está sendo ridículo? Não sei o que você pensa, mas Pooh não achou que a conduta de Abel merecesse nem um pouquinho de sua raiva. Ao mesmo tempo, Abel aproveitou a perna do urso da melhor ma-neira possível e pendurou tudo o que precisava secar: cobertores, roupões, meias e até as cortinas que lavara.

E como Pooh se manteve tão calmo?Pouquíssima gente sabe, mas Pooh é um dos maiores especia-

listas mundiais na filosofia de Baruch Spinoza.

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“Nunca se zangue ou nunca perdoe.”Inspirado em Baruch Spinoza

Vou explicar. De acordo com o filósofo judeu, antes de se zangar com alguém, você deve pensar se pretende perdoar essa pessoa no futuro. Na verdade, no calor do momento, talvez a tal pessoa seja uma ótima candidata a alvo de sua raiva, mas, caso ache que conseguirá perdoá-la um dia – daqui a uma semana, um mês, seis meses ou alguns anos –, é melhor perdoá-la agora mesmo e evitar fúria e sofrimento desnecessários.

Portanto, na sua peculiar versão de filosofia, Spinoza tra-tava o tempo de um jeito muito especial (na verdade, tentava ver tudo do ponto de vista da eternidade). Uma de suas con-clusões foi que, se algum dia vamos perdoar alguém, a raiva de hoje não tem motivo para existir. É totalmente desneces-sária, até absurda.

Esse ponto de vista recebeu um apoio inesperado:

“Não se deve perder a calma, a não ser quando se tem certeza de que se vai ficar

cada vez mais zangado até o fim.”William Butler Yeats

Mas Spinoza não era ingênuo. Ele sabia que certas coisas são imperdoáveis e afirmou que, se você decidiu se zangar e guardar rancor pelo resto da vida, tudo bem, vá fundo. Mas tome cui-dado, porque há uma tremenda pegadinha aí. Caso se zangue com alguém e decida perdoá-lo dali a 30 minutos (se só ficou um pouquinho zangado) ou 30 anos (se ficou terrivelmente zanga-do), terá cometido dois erros e não deveria ter se zangado, para começo de conversa.

É fundamental adotar a atitude de Spinoza nos relaciona-mentos mais íntimos. Afinal, qual é a chance de um pai se zangar

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com o filho pelo resto da vida? Irmãos conseguiriam ficar briga-dos uns com os outros para sempre? De que adianta se zangar com alguém durante um dia, uma semana ou mesmo um ano, se você vai acabar perdoando?

Como sempre, é mais fácil falar do que fazer.Uma das razões para Spinoza ter sido tão admirado até pelos co-

legas filósofos, que o chamavam de Filósofo dos Filósofos, foi o fato de fazer o que pregava e viver de acordo com seus ensinamentos. Bom para ele, mas não somos Spinoza. É muito mais difícil para nós.

O Dalai Lama ensina um método que deveria nos ajudar a não perder a calma. Ele diz que precisamos separar as pessoas de seus atos. Não temos razão alguma para nos zangar com os ou-tros, porque a vida de ninguém é fácil. No entanto, podemos nos irritar com suas ações. Experimentei o método do Dalai Lama, mas não me saí muito bem. Quando alguém me deixa fulo da vida (o que é raro, mas acontece), acho impossível esquecer a pessoa e concentrar minha raiva apenas na ação. Considero as duas inseparavelmente entrelaçadas.

Portanto, eis um conselho humano:

“Quando se zangar, conte até dez. Quando se zangar de verdade, pragueje.”

Mark Twain

UMA HISTÓRIA REAL

Dirigido por David Lynch, o filme Uma história real narra a vida de Alvin Straight (pense só nos muitos significados do nome em inglês: reto, direito, correto, honesto, virtuoso, rígido, rigoroso), um veterano da Segunda Guerra Mundial que mora com a filha, Rose, mulher de coração bondoso mas deficiente mental. Ele tem

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um irmão afastado, Lyle, que não vê há muitos anos porque tive-ram algum tipo de desentendimento.

Certo dia, Alvin descobre que seu irmão teve um derrame e decide visitá-lo antes que seja tarde demais para os dois. As pernas e os olhos de Alvin estão muito debilitados para ele dirigir qual-quer veículo decente, então decide fazer a viagem em seu trator de jardim. Leva seis semanas para percorrer os quase quatrocentos quilômetros entre Laurens, Iowa, e Mount Zion, Wisconsin.

Quando os irmãos finalmente se encontram, fica claro que sentiam saudades um do outro (na verdade, a gente vê isso nos olhos de Richard Farnsworth e Harry Dean Stanton, atores mara-vilhosos). Eles lamentam profundamente os anos de raiva e dis-tanciamento (e, o mais absurdo, nem conseguem se lembrar do que os separou). Nada é reto, direto nem simples na história.

Mas, ei, esquecemos o Ursinho Pooh. Depois de examinar os tex-tos de Spinoza, Pooh nunca se zanga com ninguém, nem com Abel!

Entalado na porta de Abel, Pooh sabe que não pode se zan-gar com ele a partir desse ponto – isto é, até o fim do livro, o que é muito para um ursinho –, e, assim, não se zanga com nada.

“Em cada minuto de raiva, perdem-se sessenta segundos de paz.”

Pooh & Ralph Waldo Emerson

Nunca adquiri a tranquilidade de Pooh. Às vezes me irrito com Abel quando leio os livros de A. A. Milne. Afinal, Abel é ar-rogante, preconceituoso (queria expulsar Dona Can e Guru por terem bolsas e ele, não), um conspirador cruel (odeio isso nele) e maltrata muito os amigos.

Admito que ainda tenho bastante a aprender sobre o con-trole da raiva (e estou tentando), mas, como costuma acontecer, aprendi muito com o seguinte incidente, no qual tentei ensinar a alguém o mal de se zangar.

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TAXISTA

Certo dia, chamei um táxi (com seu motorista). Enquanto via-jávamos pela autoestrada, outro carro nos cortou enlouqueci-do e pôs em grave perigo a vida e o formato original do táxi e de seus passageiros. O taxista ficou furioso e começou a gritar e xingar. Quando percebi que ele não iria parar, tentei explicar que sua atitude não tinha lógica alguma. Disse que o moto-rista maluco com quem ele gritava provavelmente já estava em casa, deitado na banheira de água quente, molhando tudo e brincando com o patinho de borracha (como qualquer ho-mem de verdade). Continuei e afirmei que os punidos éramos nós dois: eu, que precisava escutar seus gritos desvairados, e ele, que naquele estado de nervos poderia sofrer danos físicos reais. Ele se convenceu.

– Nunca mais vou perder a calma – declarou o taxista. – Nun-ca mais vou dar essa satisfação a eles! Não vão me ver com raiva nem que me matem!

A voz dele quase estilhaçou as janelas.Certa vez, um médico me disse que estudos científicos recen-

tes mostravam com clareza que quem perde a calma e se irrita à toa vive menos. Alguém se surpreende?

Tenho o hábito de só me zangar quando há possibilidade de a minha fúria mudar alguma coisa.

Portanto, oremos:

Senhor, nos conceda a graça de aceitar com serenidade o que não pode ser mudado, a coragem de mudar o que pode ser mudado

e a sabedoria para distinguir os dois.Reinhold Niebuhr,

Oração da serenidade, 1943

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TAXISTA 2

Certo dia, lá estava eu de novo num táxi (já peguei muitos táxis na vida), e dessa vez caímos num engarrafamento. Enquanto nos arrastávamos rumo ao destino, o motorista notou um carro que nos ultrapassou (e a todo mundo) pela direita, usando o acosta-mento. Furioso, soltou algumas frases desnecessárias para este livro. Depois que se acalmou um pouco, disse:

– Que povinho nojento são os israelenses, todos eles. Des-cumprem a lei como se estivessem com pressa de tirar o pai da forca. Me diga: por que todos os israelenses são grosseiros? (ele usou outra palavra) – perguntou, virando-se na minha direção.

Foi uma ótima oportunidade para eu lhe dar uma aula de dedução estatística.

– Será que a sua conclusão não está equivocada? – perguntei.– Como assim? Por que acha que estou errado?– Vejamos: o senhor está dirigindo pelo acostamento? – co-

mecei a apresentar a minha argumentação.– Não, não estou.– E o carro à frente está fazendo alguma coisa proibida?– Não – respondeu ele, parecendo muito desconfiado.– Espero que o senhor tenha notado que o carro à esquerda

também está se comportando bem. A verdade é que apenas um carro desrespeitou a lei. Não vimos mais ninguém andando no acostamento, vimos? – perguntei, começando a concluir a argumentação.

– O que o senhor quer dizer? – questionou ele, já menos irritado.

– Que somos pessoas engraçadas. Notamos o mal depressa, mas ignoramos o bem. Dezenas de motoristas à nossa volta não atravessaram a faixa amarela, mas o senhor não disse que é bom ter tantos motoristas pacientes e bem-educados por perto. O senhor viu apenas um motorista desrespeitando a lei e na hora concluiu

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que, além de todos os motoristas israelenses serem maus, todos os israelenses no geral são infratores. Não é incrível? – concluí.

Assim terminam minhas histórias de táxis.

Experimente: veja quantos programas de TV apresentam pessoas boas. Por que todo noticiário traz tantas reportagens sobre coisas negativas, enquanto um programa sobre pessoas que fazem o bem, transmitido por um canal pago, logo é cancelado por causa da bai-xa audiência? (Acredito que os telespectadores tenham trocado de canal em busca de coisas “melhores” para assistir, como reporta-gens sobre maridos que matam mulheres, jovens que surram ido-sos ou mães que agridem os filhos.) O que isso revela sobre nós?

“Por que tanta gente acha fácil acreditar em tudo de ruim que ouve sobre os outros mas

não consegue acreditar nas coisas boas?”Inspirado em Leon Tolstói

Seja franco: você sabe que o velho conde estava certo. Pensa-mos assim mesmo. Se ainda duvida, eis a prova. Suponha que um jornal ou site noticie amanhã que Haim Shapira, autor do livro em suas mãos, foi preso por suspeita de espionagem para os russos. Sei exatamente como serão as reações. Todos dirão coisas como “Eu soube que havia algo de suspeito nele no momento em que o vi”, “Ah, não me surpreende”, “Ele tem sotaque russo e vive citando escritores russos. Como é que conhece Tolstói, Nabokov e Visotz-ki tão bem?”, “Ele também é bom em matemática e toca piano, tudo típico da Rússia. Além disso, todos os russos são espiões”.

Eis uma resposta parcial à pergunta de Tolstói:

“Se não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em notar os do próximo.”

François de La Rochefoucauld

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Essa sábia frase do aristocrata francês me faz admirar ainda mais o Ursinho. Só uma criatura perfeita como Pooh concluiria que “todo mundo (até Tigrão) está bem”.

DIVULGAÇÃO ADEQUADA

Muitos acreditam que o homem é do tamanho das coisas que o irritam. Eu diria que é uma bela frase, mas não está totalmente correta. Acredito que Heráclito tinha razão ao dizer que o ca-ráter do homem é seu destino. O sábio não deveria se zangar, mas isso não passa de teoria. Na verdade, ouvi dizer que Spi-noza e alguns outros sábios conseguiam evitar a raiva usando a sabedoria, mas eles foram uma minoria insignificante. Nós, mortais, não conseguimos. Ralph Waldo Emerson achava que as pessoas fervem em temperaturas diferentes, que indepen-dem da vontade delas.

Eis a melhor descrição do que estou tentando dizer:

“E comecei a acreditar que tudo segue a vontade e o desejo do homem: ele pode encher seu coração

de raiva e animosidade ou fazer as pazes com tudo, se assim desejar. E, se assim for, por que estimular "a raiva no

coração e trazer o mal sobre nós se podemos nos fazer bem e ser felizes? Mas aí algo acontece,

e tudo é como sempre foi.”Shmuel Yosef Agnon

De “O divórcio do médico”

Na verdade, nem tudo é como o homem quer.Mais à frente, voltaremos a analisar nossos surtos de fúria.

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