preÇo de transferÊncia interna como instrumento gerencial

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 77 Marcos Antonio Souza, Mauricio Farias Cardoso e Rosane Machado Gestão & Regionalidade - Vol. 27 - Nº 79 - jan-abr/2011 PREÇO DE TRANSFERÊNCIA INTERNA COMO INSTRUMENTO GERENCIAL: UM ESTUDO DA UTILIZAÇÃO POR INDÚSTRIAS LOCALIZADAS NO ESTADO RIO GRANDE DO SUL INTERNAL TRANSFER PRICING AS MANAGEMENT TOOL: A STUDY OF UTILIZATION BY COMPANIES LOCATED IN RIO GRANDE DO SUL STATE RESUMO O objetivo deste artigo é analisar o uso do preço de transferência interna como parte dos instrumentos gerenciais das empresas. O crescimento das organizações provoca, dentre outras questões, a necessidade de adaptação das práticas de gestão. Para empresas que optaram por uma gestão descentralizada, o preço de transferência interna, segundo a literatura da área, revela-se de grande utilidade. A pesquisa realizada identifica- se como um estudo exploratório, descritivo e qualitativo. Para desenvolvimento do estudo, utilizou-se a estratégia metodológica do estudo de caso múltiplo, o qual contou com a participação de três empresas gaúchas de médio e grande porte, que viabilizaram a coleta de dados mediante entrevistas realizadas com os respectivos gestores. Os principais resultados sinalizam que o uso do preço de transferência está consistente com as recomendações da literatura enquanto instrumento de planejamento, controle e avaliação de desempenho das áreas e dos gestores correspondentes, prevalecendo o preço baseado no custo real e no custo padrão mais margem. Os entrevistados ratificaram a utilidade do preço de transferência em possibilitar a identificação das principais fontes geradoras de valor na empresa. Palavras-chave:  gestão empresarial, descentralização, resultado divisional, preço de transferência interna. Marcos Antonio Souza Professor do Curso de Mestrado em Ciências Contábeis da Unisinos – Universidade do Vale do Rio dos Sinos Mauricio Farias Cardoso Mestrando em Ciências Contábeis pela Unisinos Rosane Machado Mestranda em Ciências Contábeis pela Unisinos Endereços dos autores: Marcos Antonio Souza E-mail: [email protected] ABSTRACT This paper aims to analyze the use of internal transfer pricing as part of companies management tools. The growth of organizations results in, among other issues, the need to adapt the management practices. For companies that have opted for a decentralized operational structure, the internal transfer price, according to the business literature, it is useful practice. The research is identified as exploratory, descriptive and qualitative. The multiple case study method was used with data collected from three large companies located in Rio Grande do Sul state through interviews with their managers. The main results indicate that use of the transfer price is consistent with the recommendations of literature as an instrument in planning, control and performance evaluation of managers and related areas, with adoption on actual cost and standard-cost plus margin methods. Respondents have ratified the usefulness of the transfer price in enabling the identification of major sources of the company added value. Keywords:  business management, decentralization, divisional results, internal transfer pricing. Recebido em: 25/01/2011 Aprovado em: 18/02/2011 Mauricio Farias Cardoso E-mail: [email protected] Rosane Machado E-mail: [email protected]

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Marcos Antonio Souza, Mauricio Farias Cardoso e Rosane Machado

Gestão & Regionalidade - Vol. 27 - Nº 79 - jan-abr/2011

PREÇO DE TRANSFERÊNCIA INTERNA COMO INSTRUMENTO GERENCIAL:UM ESTUDO DA UTILIZAÇÃO POR INDÚSTRIAS LOCALIZADAS NO ESTADORIO GRANDE DO SULINTERNAL TRANSFER PRICING AS MANAGEMENT TOOL: A STUDY OF UTILIZATION 

BY COMPANIES LOCATED IN RIO GRANDE DO SUL STATE 

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar o uso do preço de transferência interna como parte dos instrumentosgerenciais das empresas. O crescimento das organizações provoca, dentre outras questões, a necessidade deadaptação das práticas de gestão. Para empresas que optaram por uma gestão descentralizada, o preço detransferência interna, segundo a literatura da área, revela-se de grande utilidade. A pesquisa realizada identifica-se como um estudo exploratório, descritivo e qualitativo. Para desenvolvimento do estudo, utilizou-se aestratégia metodológica do estudo de caso múltiplo, o qual contou com a participação de três empresasgaúchas de médio e grande porte, que viabilizaram a coleta de dados mediante entrevistas realizadas com osrespectivos gestores. Os principais resultados sinalizam que o uso do preço de transferência está consistentecom as recomendações da literatura enquanto instrumento de planejamento, controle e avaliação dedesempenho das áreas e dos gestores correspondentes, prevalecendo o preço baseado no custo real e nocusto padrão mais margem. Os entrevistados ratificaram a utilidade do preço de transferência em possibilitar

a identificação das principais fontes geradoras de valor na empresa.Palavras-chave: gestão empresarial, descentralização, resultado divisional, preço de transferência interna.

Marcos Antonio SouzaProfessor do Curso de Mestrado em Ciências Contábeis da Unisinos –Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Mauricio Farias CardosoMestrando em Ciências Contábeis pela Unisinos

Rosane MachadoMestranda em Ciências Contábeis pela Unisinos

Endereços dos autores:

Marcos Antonio SouzaE-mail: [email protected]

ABSTRACT

This paper aims to analyze the use of internal transfer pricing as part of companies management tools. Thegrowth of organizations results in, among other issues, the need to adapt the management practices. Forcompanies that have opted for a decentralized operational structure, the internal transfer price, according tothe business literature, it is useful practice. The research is identified as exploratory, descriptive and qualitative.The multiple case study method was used with data collected from three large companies located in Rio

Grande do Sul state through interviews with their managers. The main results indicate that use of the transferprice is consistent with the recommendations of literature as an instrument in planning, control and performanceevaluation of managers and related areas, with adoption on actual cost and standard-cost plus margin methods.Respondents have ratified the usefulness of the transfer price in enabling the identification of major sourcesof the company added value.

Keywords: business management, decentralization, divisional results, internal transfer pricing.

Recebido em: 25/01/2011Aprovado em: 18/02/2011

Mauricio Farias CardosoE-mail: [email protected]

Rosane Machado

E-mail: [email protected]

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PREÇO DE TRANSFERÊNCIA INTERNA COMO INSTRUMENTO GERENCIAL:UM ESTUDO DA UTILIZAÇÃO POR INDÚSTRIAS LOCALIZADAS NO ESTADO RIO GRANDE DO SUL

1. INTRODUÇÃO

As práticas de gestão empresarial, dado o am-biente competitivo em que as empresas estão inse-ridas, e a maior complexidade das operações, pre-cisam ser cada vez mais compreendidas e apropriadasa fim assegurar a condução da organização para umacontinuidade sustentável.

No contexto de uma evolução histórica, Sanchez(1991) observou que as mudanças no cenário empre-sarial ocorrem desde os remotos tempos do mer-cantilismo, mas foi após a Primeira Guerra Mundialque as discussões se intensificaram sobre qual técnicade gestão seria melhor para se obter o controle dosresultados e, com isso, se garantir não somente asobrevivência, mas, também, o crescimento e a

continuidade das empresas.Diaz (1991) complementou o estudo de Sanchez

e destacou que, após a Segunda Guerra Mundial,novas mudanças na economia global forçaram asgrandes corporações a reverem seus procedimentosde gerenciamento dos negócios. A gestão começoua ser vislumbrada a partir de uma estrutura descen-tralizada, em detrimento da então predominantevisão centralizada do processo de tomada de decisões.

O estudo de Duarte (2006) seguiu no mesmo sen-

tido, enfatizando as pesquisas de Peter Drucker, rea-lizados na empresa General Motors, na década de1940, fazendo a alta administração refletir sobre suaspráticas de gestão e delegação de poderes para osgestores de menor nível da organização.

Diante das novas propostas de descentralizaçãoda gestão, conforme destacaram Gomes & Mandin(2005), outra discussão passou a ser levantada, noque diz respeito à mensuração do desempenho dasunidades de negócios e de seus gestores. Atkinsonet al . (2008), a esse respeito, fizeram referência ao

início da adoção de práticas, tais como a contabilidadepor área de responsabilidade e o resultado divisional.

Ainda de acordo com Atkinson et al . (2008), e noâmbito das novas práticas contábeis, outro tema queganhou relevância foi a precificação das transfe-rências efetuadas internamente. O objetivo centralera mensurar o impacto das operações realizadasentre essas unidades no resultado global da empresa.Conforme acrescentaram Atkinson et al . (2008), coma adoção do preço interno de transferência, passou

a ser possível avaliar o resultado das unidades e areal contribuição de cada uma delas para a formaçãodo resultado global da empresa.

A relevância do preço dessas transferências inter-

nas ganhou maior projeção na medida em que elepassou, nas suas diversas modalidades de cálculo, ainfluenciar as políticas, os critérios e as decisões to-madas, além dos impactos provocados no desem-penho econômico das unidades organizacionais e daempresa como um todo.

Diante dessa realidade, o objetivo do presenteestudo é investigar sobre as principais característicasque envolvem a adoção do preço interno de trans-ferência na prática da gestão empresarial.

A relevância do tema, tradicional no campo dacontabilidade gerencial desde os pioneiros estudosde Solomons (1965), continua presente, dado o impac-to e a importância que tem nas atividades de planeja-mento e controle de custos, principalmente nessasépocas em que a continuidade dos negócios é forte-mente dependente da eficiência e da eficácia no con-sumo de recursos. Isso está corroborado pelos recen-tes estudos divulgados sobre o tema, tais como Uliana& Waweru (2010), Autrey & Bova (2009), Li & Ferreira(2008), Beuren, Grunow & Hein (2008), Cheng (2005)

e Lin & Yu (2002), dentre outros.

A relevância e a contribuição do tema também fo-ram referendadas pelo pronunciamento de Anthony& Govindarajan (2007), os quais enfatizaram que estru-turar e fazer funcionar um sistema de registro dosprodutos e serviços transferidos de um centro de lucropara outro é um dos principais desafios da gestão em-presarial. Estes autores acrescentaram que projetarsistemas de preços transferências é um ponto funda-mental do controle gerencial. A partir de tais entendi-

mentos, considera-se relevante pesquisar nas empre-sas como esses procedimentos têm sido efetivamenteutilizados e qual a satisfação com eles quando anali-sados comparativamente ao que preceitua a literatura

O artigo está organizado em quatro seções princi-pais, além dessa introdução. Seguem a revisão deliteratura, os aspectos metodológicos, a apresentaçãoe análise dos dados e as conclusões. Finaliza-se oestudo com a listagem das referências pesquisadaspara o desenvolvimento da pesquisa.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Descentralização e processo de gestãoempresarial

A economia do planeta pós-Segunda Guerra Mun-

dial passou por significativas mudanças, principal-mente no que tange a globalização econômica. Ocrescimento e a expansão das empresas (sejam elasnacionais, transnacionais ou multinacionais) são osprincipais indicadores da internacionalização daeconomia. Diante desse quadro, conforme enfatizouSanchez (1991), novas demandas deram início aestudos desenvolvidos, principalmente na França enos EUA, que contribuíram para que as empresasrepensassem sua estrutura de gestão. As empresaspassaram a ser organizações mais funcionais, mudan-

do seus procedimentos de mensuração de custos eresultados unicamente com foco nos produtos, demodo a ampliar o foco para os departamentos eoutras unidades organizacionais. Foi nesse períodoque se assumiram outros termos na estrutura orga-nizacional, tais como os centros de responsabilidade,unidades de negócios, centro de resultado etc.

No entanto, essa mudança de perfil nas empresastrouxe outra dificuldade, ou seja, controlar uma em-presa regionalizada, ou até mesmo internaciona-lizada, que cresce em escala progressiva e ampliacada vez mais seu campo de atuação, diversificandoseu mix de produtos e multiplicando suas plantas esua estrutura operacional.

Um exemplo clássico dessa situação, segundoDuarte (2006), é o caso da empresa General Motors,que teve de mudar a forma de gerir a organizaçãopara poder superar as crises vividas pela empresa en-tre as décadas de 1920 a 1950. Medidas como descen-tralização do processo de gestão, divisão da organiza-ção em departamentos e áreas de negócios e sua

mensuração de desempenho passaram a ser adotadas.Essa tendência de aumento no tamanho das

organizações também levou as altas administraçõesa reavaliarem suas formas de estruturação organiza-cional, encorajando a adoção do conceito de descen-tralização. O tema “descentralização”, bem comoas consequências de sua implantação, não é recenteem se tratando de gestão empresarial. Os estudosde Vieira (1973) e Quirino (1999) destacam as caracte-rísticas da descentralização como um processo de

transferência de poder, ou seja, algo que reflete ograu em que o poder de decisão é transferido aosvários níveis organizacionais.

Para Jiambalvo (2009), a descentralização leva ànecessidade de se avaliarem as unidades ou divisões,bem como os seus gerentes. Medir o desempenho éum fator crítico que estabelece regras e passa a de-terminar como será o comportamento dos indivíduose das organizações diante de certas situações.

A questão da medição de desempenho, de acordocom Jensin & Mekling (2009), deve ser bem elabora-da, e incluir avaliações subjetivas e objetivas do de-sempenho dos gestores de subunidades de uma orga-nização nos seus mais diversos níveis. Escolher quaisserão as medidas de desempenho envolve a fixação

de valores e pesos para as diferentes medidas dedesempenho, visando a verificar se a condução daempresa está de acordo com aquilo que foi determi-nado em seu planejamento estratégico e operacional

A partir da necessidade de mensurar o desempe-nho dos gestores de cada unidade organizacional,tem-se a divisionalização acompanhada da descen-tralização. Enquanto a primeira refere-se à criaçãode divisões organizacionais, a descentralização, con-forme observou Solomons (1965), significa, em suaessência, delegar aos gestores o poder de tomar de-

cisões nos níveis das respectivas divisões.

De forma mais específica, Santos, Couto & Gallo(2010) destacaram que divisionalizar significa trans-ferir o poder de tomar decisões sobre os resultadosde cada unidade de negócio na qual o gestor éresponsável.

Solomons (1965) considerou como incentivos àopção pela divisionalização três situações básicas: (a)quando a empresa procura diversificar, é indicado ouso da divisionalização, já que ela permite diferentes

processos e comercialização; (b) diante do propósitode desenvolvimento de talentos e treinamentos paraos futuros gestores; (c) ao se considerar que o lucroé uma boa métrica para avaliar a divisão e, conse-quentemente, para manter o controle sobre ela.

Para Shor & Chen (2009), em uma empresa cen-tralizada, pode haver ineficiências ocultas na estru-tura das subdivisões, nem sempre transparentes. Paramelhorar o desempenho das divisões, as empresas bus-cam divisionalizar seu processo de gestão, podendo,

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com isso, avaliar o desempenho de cada um dos ges-tores que tem a responsabilidade de gerar os resulta-dos, contribuindo assim da melhor forma possível paraa maior eficiência e eficácia da empresa. Nesse senti-do, os autores em referência afirmaram que a empresa

precisa tratar as suas divisões descentralizadas comocentros de resultados independentes, permitindo queo conjunto de preços e quantidades se baseie naspreocupações divisionais de maximização do lucro.

Souza (2001b) complementou, afirmando queuma divisão é um segmento da empresa, administradacom certo grau de autonomia, sujeita apenas às políti-cas estratégicas da organização. A responsabilidadepelos resultados somente será bem cumprida seestiver conjugada com certo nível de poder de de-cisão de quem responde pelos resultados.

Cada organização se estrutura instituindo o mode-lo divisional que lhe proporcione os melhores resul-tados. Este modelo pode ser organizado em linhasde produtos (conforme a natureza de bens e servi-ços); em linhas geográficas (divididas por região delocalização); e por responsabilidade ou área divisional(divididas através de centros de responsabilidade).

Junqueira, Moraes & Silva Neto (2004) indicarama adoção dos centros de responsabilidade para umamensuração do resultado divisional e do desempenhode cada gestor em decorrência das ações de suaresponsabilidade. Nesse sentido, é possível denominá-las como unidades gerenciais, criadas com a finalidadede acumular informações quanto às transações ope-racionais e patrimoniais, nas quais o gestor é respon-sável por produzir resultados que estejam consistentescom a estratégia da organização.

Conforme destacaram Frezatti et al . (2009), numprocesso de descentralização, a empresa pode serdesmembrada em qualquer tipo de divisão que osgestores considerem apropriada, o que normalmenteocorre em função de produtos ou serviços, em relação

à localização geográfica. De qualquer forma, umcentro de responsabilidade é um segmento de umaempresa cujo gestor é responsável por um conjuntode atividades. Atkinson et al . (2008) compararam umcentro de responsabilidade a um pequeno negócioem que o gestor responsável é escalado para admi-nistrá-lo a fim de promover os interesses da empresa.

Frezatti et al . (2009) esclareceram que um aspectoimportante da divisionalização está na determinaçãoda unidade de gestão e mensuração do resultado.Os autores em tela exemplificaram que uma filial podeser classificada como centro de investimento, comum gestor responsável pelo retorno do capital inves-tido e, ao mesmo tempo, possuir centros de resultadoe centros de custos dentro da própria filial, comdiferentes gestores e com diferentes métricas paraavaliação do resultado e do desempenho.

Tem-se, então, que os centros de responsabilidadepodem ser divididos em centros de custos, centros dereceita, centros de lucros (ou resultados) e centros deinvestimentos, conforme apresentado no Quadro 1.

O conteúdo do Quadro 1 destaca as principais ca-racterísticas de cada tipo centro de responsabilidade.Vale salientar que, enquanto o centro de custo buscaespecialmente refletir informações usuais ao moni-toramento e à avaliação das operações realizadas,comparando os custos e despesas atuais com os quese pretendia atingir (padrão), os centros de receita

Quadro 1: Características dos centros de responsabilidade

Tipos de centros de responsabilidadeResponsabilidade

pelo controle Centro de custo Centro de receita Centro de resultado Centro de investimento

Controlado pelo gestor Custos e despesas Receitas Custos, despesas Custos, despesas,e receitas receitas e investimentos.

Controlado pela Receitas e Custos, despesas,alta administração investimentos receitas e investimentos Investimentos ———

Foco para avaliação Custos e despesas Receitas em relação Lucro relativo a Retorno do investimentode resultado e relativos a alguma a alguma alguma meta em relação a algumadesempenhor meta meta meta

Fonte: Frezatti et al . (2009).

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Marcos Antonio Souza, Mauricio Farias Cardoso e Rosane Machado

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preocupam-se unicamente com a variação das recei-tas, indicando, de um modo geral, como conduzir damelhor forma possível as atividades de vendas.

Já o centro de resultado preocupa-se com o lucroque a atividade gerou, sendo necessário, para atingi-lo, o controle dos custos e despesas incorridos e dasreceitas auferidas. Os centros de investimento sãomais completos, uma vez que, além dos custos, des-pesas e receitas, observam também o nível de investi-mento e o retorno que pode ser gerado.

Souza (2001b) destacou que o nível máximo de au-tonomia operacional de uma unidade divisional da em-presa é a comandada por um gestor responsável peloplanejamento, execução e controle das atividades sobsua responsabilidade. Dependendo do nível de auto-

nomia delegado, o gestor decide sobre como e quaisoperações devem ser realizadas, quais produtos ven-der, e a que preço, em quais áreas atuar e quais pro- jetos de pesquisa e investimento devem ser priorizados.

Jiambalvo (2009) entendeu que, em empresasdivisionalizadas, é importante dar assistência aos ge-rentes dos seus diversos tipos de centros de responsa-bilidade no que tange à avaliação e ao controle dassuas áreas. A mensuração do resultado divisional,apresentado na sequência, surge para atender a talnecessidade.

2.2. Resultado divisional

Ao se considerar, no contexto deste estudo, queo resultado econômico é uma das principais medidasde desempenho de qualquer organização, tornando-se uma medida da eficácia organizacional (CATELLI,1999), nas empresas divisionalizadas, a medição doresultado divisional é um procedimento de grandeatenção, pois é por ele que se avaliará a performancede cada um dos gestores de cada divisão.

Segundo Somolons (1965), um dos mais relevantesprincípios do resultado de cada divisão é que ele nãodeve ser aumentado por qualquer ação que reduzao lucro total da organização, sendo ele o maisindependente possível da eficiência e das decisõesgerenciais de qualquer outra área de decisão.Observa-se aqui a preocupação em que o resultadoreflita tão somente os itens que são objetos dedecisão e controle do gestor divisional ou de seussubordinados.

Este resultado divisional é registrado por meio dacontabilidade por área de responsabilidade ou porcontas divisionais das unidades de negócio. Para Fre-zatti et al .  (2009), a contabilização por unidades denegócio ou áreas de responsabilidade tem por obje-

tivo registrar também as operações internas realiza-das entre as divisões, permitindo apuração dos custose mensuração do resultado das mesmas.

Essa relação de preços e resultado também é reco-nhecida por Souza (1992), para o qual o preço detransferência como instrumento gerencial é uma dasatividades fundamentais da alta administração em-presarial que adota sistemas de controle e geren-ciamento de resultados por divisão. Essa relevância,conforme explicitou o autor, decorre das possíveisconsequências que podem afetar desfavoravelmentea motivação dos gestores e a geração do resultadoda empresa.

A apuração do resultado pela contabilidade divi-sional pode trazer vantagens para a empresa. Jiam-balvo (2009) mencionou algumas delas: (a) melhoresinformações, o que leva a decisões de melhor qua-lidade; (b) resposta rápida às mudanças; (c) maiormotivação para os gerentes; (d) se uma empresa temuma estratégia de diversificação, a estrutura da divi-sionalização facilita o trabalho de especialistas e peritos

de diferentes atividades; (e) as divisões estão sujeitasàs pressões para um melhor desempenho competitivo

Jiambalvo citou também as desvantagens que estemétodo de apuração pode incorporar: (a) a descen-tralização pode resultar em uma onerosa duplicaçãode atividades; (b) unidades organizacionais, que emdeterminados momentos cooperavam entre si, po-dem passar a competir umas com as outras, com des-vantagem geral para a empresa; (c) inexistência deum sistema completamente satisfatório para assegu-rar que cada centro de lucro, ao melhorar seus pró-

prios lucros, esteja melhorando os lucros da empresa;(d) os gerentes de subunidades podem buscarobjetivos pessoais que sejam incompatíveis com osobjetivos da empresa como um todo.

Além das desvantagens descritas, controlar o re-sultado dos centros de responsabilidade pode acar-retar dificuldades na hora de se avaliarem as opera-ções realizadas entre estes centros, tornando delica-da e complexa a precificação dos bens e serviçosentre as divisões. As diversas alternativas de precifica-

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ção e as suas possíveis repercussões constam dapróxima seção.

2.3. Preços de transferência interna

Conforme destaca a pesquisa de Coelho (2001),o estudo sobre os preços de transferência teve seuinício em 1956, por meio da National Association of  Accounts (NAA). No seu estudo, a NAA afirmou queo objetivo dos preços de transferência era o controledo investimento em capital.

A partir da década de 1960, verificou-se o iníciode uma forte tendência para a descentralização e aestruturação das organizações em centros de resulta-dos. Com isso, o preço de transferência passou a ser

discutido dentro do processo de divisionalização dasorganizações. O estudo dos preços de transferênciaconheceu um desenvolvimento mais significativo nosanos 1980 e 1990 devido aos desafios que as organi-zações em geral e as unidades industriais em parti-cular tiveram de enfrentar em decorrência do acirra-mento da concorrência, da evolução da tecnologia edos sistemas de informação, todos eles vistos comoefeitos da globalização da economia (COELHO, 2001).

Alegria & Cosenza (2004) enfatizaram que o con-ceito de preços de transferência sofreu uma amplia-

ção desde suas primeiras aplicações no âmbito dasorganizações empresariais. De início, eles eram de-finidos principalmente em função do valor dos custosdos produtos e serviços que eram transferidos de umcentro de custo para outro dentro da mesmaorganização.

Retomando o começo do seu desenvolvimento,Calijuri (2000) conceituou o preço de transferênciacomo o preço pelos quais os produtos e serviços sãotransferidos entre as unidades de negócio em umamesma organização,

A fim de que os objetivos operacionais e gerenciaissejam atingidos, e visando a avaliar o resultado decada centro de responsabilidade da organização,Junqueira, Moraes & Silva Neto (2004) argumentaramque o preço de transferência deve ser calculado deforma a refletir a real contribuição de cada área aoresultado global da organização.

Dada essa necessidade de mensurar, analisar eavaliar a contribuição de cada área de negócio da

empresa, Alegria & Cosenza (2004) afirmaram quepreço de transferência interna apresenta grande rele-vância quando se refere a empresas divisionalizadasou descentralizadas.

Anthony & Govindarajan (2007) também reconhe-ceram a importância do preço de transferência eargumentaram que isso ocorre porque o desempenhoeconômico de um centro de responsabilidade éavaliado segundo o lucro auferido, que é a diferençaentre as receitas e custos, dentre os quais se incluemtambém as transferências internas.

Para Atkinson et al .  (2008), existem diferentesmétodos para o cálculo do valor do preço a serpraticado entre as divisões, como o preço de trans-ferência com base no custo, baseado no mercado,

negociado e o administrado. Além desses, Catelli etal . (1999) incorporaram o preço de transferênciabaseado no custo de oportunidade. Essas modali-dades de cálculo do preço de transferência integrama próxima seção.

 2.3.1. Preço de transferência com base nomercado

Nessa modalidade, parte-se da base de que é omercado quem principalmente dita o quanto estádisposto a pagar por aquele produto ou serviço. Em

decorrência disso, para Anthony & Govindarajan(2007), o preço de transferência com base no mer-cado é a base mais apropriada para estimar o valordas mercadorias ou serviços transferidos entre oscentros de responsabilidade. Ele é assim considera-do ideal porque se baseia num preço normal demercado, de um produto idêntico àquele que estásendo transferido, isto é, um preço de mercado quereflita as mesmas condições gerais do produto aoqual se aplica o preço de transferência. Tambémpode ser interpretado qual o custo que a empresa

teria caso não fabricasse internamente o produto emquestão e teria de buscá-lo no mercado.

Para Atkinson et al .  (2008), o preço de mercadoprovê uma estimativa independente do valor doproduto ou serviço transferido e provê como cadacentro de responsabilidade contribui para o lucro totaganho pela empresa na transação. Sob a ótica doscentros de responsabilidade, a unidade vendedora, emvez de transferir a mercadoria internamente, poderiavendê-la ao mercado externo, auferindo essa receita

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De forma semelhante, a outra unidade poderiacomprar externamente em lugar de receber a trans-ferências interna, caso esteja a um preço superior.

Pereira & Oliveira (1999) argumentaram em favor

da adoção do preço de mercado ajustado, o queimplica a exclusão dos elementos componentes dessepreço que não existem em uma transação interna,tais como impostos, despesas de inadimplência, fretese embalagens, custos financeiros etc. Na essência,os autores ensejaram a necessidade de que o preçode mercado seja analisado em sua composição, e nãosimplesmente utilizado como base de comparação euso imediato na forma em que se encontra.

 2.3.2. Preço de transferência com base no custo

Segundo Chwolka, Martini & Simon (2008), ateoria recomenda a utilização de vários modelos depreços de transferência, dependendo da finalidadea que se destinam. No entanto, segundo os mesmosautores, a evidência empírica mostra a predominânciade um único modelo, ou seja, a dos preços baseadosnos custos.

Para Beuren, Grunow & Hein (2008), quando ospreços de mercado não estão disponíveis, os preços detransferências internas podem ser definidos com base

nos custos, nas suas várias formas de mensuração, ouseja, determinado pelo somatório dos custos fixos ecustos variáveis alocados de forma direta ou indireta(por meio de rateio) aos produtos ou serviços.

Jordan, Neves & Rodrigues (2003) afirmaram que,tendo por base os custos, as formas mais usuais decalcular e fixar o preço de transferência interna são asseguintes: custo real, custo padrão, custos padrão maisuma margem, custo marginal e preço sombra ( shadow  price). Essas modalidades são discutidas na sequência.

a) Custo real: este modelo pressupõe a determi-nação do preço em função dos custos efetiva-mente suportados para produzir o bem ou oserviço. No entanto, haverá situações em queum preço de transferência interno baseado nocusto real não deva ser utilizado, pois não avaliaos gestores de forma justa (principalmentequando da existência de ineficiências), nem osmotiva para a utilização de serviços ou produtosinternos, o que é contrário aos princípios da

gestão e aos interesses da empresa. Além disso,a própria empresa como um todo pode serprejudicada no mercado, dada a ineficiêncianão eliminada.

A respeito da impropriedade desse tipo de preçode transferência, Padoveze (1993) argumentou quetransferir ao custo efetivo pode ser um critério, masé o menos recomendado, tendo em vista que aunidade pode praticar custos maiores ou indevidos,comprometendo com essa ineficiência o resultadodas demais divisões em favor do seu.

b) Custo padrão: o custo padrão é menos pro-blemático que o custo real, porém pode conteros mesmos riscos. Se os padrões forem cons-truídos buscando realmente estabelecer custos

que deveriam ser praticados, em condições ex-ternas, torna-se possível sua utilização, desdeque aceito entre as divisões da organização.

Beuren, Grunow & Hein (2008) esclareceram que,quando usado o custo padrão para preço de transfe-rência, há necessidade de adoção de um incentivo afim de que os padrões sejam estabelecidos comausteridade e que sejam constantemente atualizadosSe forem ajustados sempre que houver alteraçõesem qualquer dos seus componentes, isso não só difi-culta a sua administração na empresa, como tambémpode desincentivar o centro de responsabilidadevendedor em melhorar a sua eficiência ou os seuscustos, porquanto tal ir-se-ia traduzir numa reduçãoimediata do seu preço de transferência e o lucro.

c) Custo padrão com margem: representa umavariação do método baseado no custo padrão,acrescentando uma margem de lucro desejada(markup) sobre o custo-base numa tentativade aproximação ao preço de mercado.

Para Junqueira, Morais & Silva Neto (2004), a fixa-ção de um preço de transferência a partir de um custopadrão acrescido de uma margem tem a vantagemde criar um espírito mais empresarial entre os centrosfornecedores e clientes. No entanto, a sua aplicaçãoé prejudicada pelo fato de não ser fácil identificar oquantitativo mais adequado da margem.

Padoveze (1993), de outra parte, afirmou que umavariação do critério do custo padrão, acrescentandoao custo uma margem padrão de lucratividade, busca

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PREÇO DE TRANSFERÊNCIA INTERNA COMO INSTRUMENTO GERENCIAL:UM ESTUDO DA UTILIZAÇÃO POR INDÚSTRIAS LOCALIZADAS NO ESTADO RIO GRANDE DO SUL

aspectos adicionais de motivação entre os centros. Éum dos critérios mais utilizados, pois a incorporaçãode uma margem de lucro incorpora o aspectomotivacional, e a unidade transferidora deverá, emprincípio, apresentar esta margem padrão de lucro

como resultado global.

d) Custo marginal: no contexto de preço detransferência, os custos variáveis são, às vezes,usados como sinônimos de custos incrementaisou marginais (BEUREN, GRUNOW & HEIN, 2008). Oscustos marginais, consoante Jiambalvo (2009),são os custos de alternativas diferentes, associa-dos com um adicional da unidade de produção,também chamado de custo marginal.

Segundo Beuren, Grunow & Hein (2008), a

utilização desta metodologia é importante quandonão existir demanda de mercado para produtosintermediários.

e) Preço sombra (  shadow price): conformesalientaram Beuren, Grunow & Hein (2008), opreço sombra é conhecido internacionalmentecomo   shadow price. Este preço identifica ovalor de uma unidade de recurso para cadarestrição, ou seja, quanto à função objetiva (nor-malmente, lucro), aumentará se for aumentadacada restrição por unidade.

Segundo Reig, Picazo & Hernandez (1999), issosignifica que preços sombra devem ser computadosa fim de medir, em termos de custos de oportunidade,o impacto das restrições de uma unidade emdetrimento da outra.

 2.3.3. Preço de transferência negociado

Na ausência de preços de mercado, algumas em-presas permitem que os centros de responsabilidade

negociem entre si o preço a ser praticado para astransferências. De acordo com este método, osgestores envolvidos se reúnem para definir os termose as condições das transações, que deverão seraceitos pelas partes (ATKINSON et al ., 2008).

Um preço de transferência negociado é frequen-temente o resultado de acordos feitos entre com-pradores e vendedores. Uma razão para se ter asunidades de negócio como negociadora dos seuspreços é que elas geralmente possuem a melhor

informação sobre os mercados e custos e, consequen-temente, são mais capazes de chegar a preçossensatos.

Padoveze (1993) reafirmou que, quando existir

algum problema grave para obtenção de preço demercado, a alternativa seria a negociação de umpreço de transferência entre as partes. Outra pro-vidência é a organização criar instrumentos paraevitar que uma unidade imponha preços a outras, ouseja, deve haver condições mútuas de negociação,evitando que o resultado global da empresa sejaafetado desfavoravelmente.

 2.3.4. Preço de transferência administrado

Conforme afirmaram Wachholz, Benetti & Reginato(2005), esse preço de transferência é caracterizadoquando a alta administração impõe uma política depreços. Utiliza-se quando uma transação particularacontece de forma rotineira. Segundo as autorascitadas, ele é fácil de ser utilizado, dado que evita osconflitos de negociação entre as duas partes datransação.

Atkinson et al . (2008) esclareceram que, nestescasos, as políticas de preços são impostas pelaadministração central. A empresa possui um árbitro

ou um gerente, e este, por sua vez, aplica as políticaspara a definição dos preços a serem adotados nastransferências entre os centros de responsabilidadeO risco existente é a possibilidade de haver um efeitomotivacional desfavorável se os membros de algumcentro acreditarem que a aplicação de tais regras éinjusta para a sua unidade.

 2.3.5. Preço de transferência com base no custode oportunidade

O preço de transferência baseado no conceito decusto de oportunidade estrutura-se a partir da premis-sa de que o valor dos produtos e serviços transacio-nados entre as unidades deveria refletir o valor dobenefício possível de ser auferido na melhor alter-nativa econômica de obtenção dos bens e serviçosdemandados (JUNQUEIRA, SILVA NETO & MORAIS, 2004).

Para Jiambalvo (2009), o custo de oportunidaderepresenta o valor e o benefício que se renunciamquando uma alternativa de decisão é selecionada em

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detrimento de outra. Isso significa que, para o gestor,deve haver uma recompensa pela decisão de supri-mento interno, dada a desconsideração da transaçãono mercado, que, neste caso, deixa de ser efetuada.

2.4. Avaliação de desempenho

Horngren, Sundem & Stratton (2006), ao trataremda avaliação de desempenho, destacaram que ofator-chave de sucesso da divisionalização e dospreços de transferência interna pode ser consideradono que se refere à controlabilidade.

Para El-Shishimi (2001), a maneira pela qual asdivisões são controladas e avaliadas é de considerávelimportância. Segundo este autor, a literatura decontabilidade gerencial distingue o desempenhoeconômico de uma divisão e o desempenho de seudirigente, defendendo que a avaliação do desem-penho de um gestor deve ser composta apenas defatores sob o seu controle. Isso remete à questão dacontrolabilidade destacada por Horngren, Sundem &Stratton (2006).

Dikolli & Vaysman (2005) afirmaram que uma formade controlar o desempenho das divisões e dos gestoresé a execução do orçamento. Além do controleorçamentário das divisões, é fundamental, de acordo

com Souza (2001a), que a administração centralmonitore as operações das divisões do empreendimento.Os relatórios divisionais devem abordar os seguintesaspectos: (a) lucros gerados com o uso dos recursosinvestidos em cada divisão; (b) os métodos e políticasempregados para a obtenção desses lucros; (c) atos quepermitam a avaliação dos gerentes das divisões.

Para Jiambalvo (2009), uma medida de análise dedesempenho que pode ser utilizada é o lucro residual(LR), definido como a parcela de resultado queexceder um predeterminado custo de capital. Com

enfoque voltado ao mercado financeiro, centraliza-se na adoção do custo de oportunidade de capital,ou custo do dinheiro. Esse entendimento também foidado por Jensen & Meckling (2009), os quais propu-seram a análise do valor econômico agregado dadivisão e consideraram esta a medida mais eficazporque visa a incentivar apenas as decisões de inves-timento de valor crescente.

Sempre que possível, o desempenho de uma divi-são deve ser comparado com um modelo externo,

tal como o desempenho de uma empresa concorrenteque ofereça o mesmo tipo de bens e serviços que adivisão em questão. Nas situações em que as divisõesestejam expostas a níveis de riscos diferentes, podeser conveniente aplicar diferentes taxas de custo de

capital ao mensurar o lucro residual (LR), valoreconômico adicionado (VEA), ou quando se estivercomparando o retorno sobre ativos (ROA) com o custode capital (SOUZA, 2001a)

Para Anthony & Govindarajan (2008), outrasmedidas de lucratividade se destacam no processode controlabilidade e análise de desempenho dasdivisões, tais como a margem de contribuição, o lucrodireto e o lucro controlável.

2.5. Discussão sobre preço de transferência internaDiversos estudos científicos têm sido elaborados

sobre o preço de transferência interna, tanto no Brasicomo no exterior. O primeiro foi o de Vaysman (1996),onde o autor buscou evidenciar os custos e os bene-fícios da delegação de decisões através de um sis-tema de preços de transferência e de avaliação dedesempenho divisional, utilizando preços de trans-ferência baseados no custo. No referido estudo, fopossível perceber que um sistema de gestão utilizan-do preços de transferência, baseado no custo, per-

mite que a empresa controle com maior rigor os lucrosesperados, com a alta administração contando comrelatórios dos gerentes divisionais.

No estudo de Baldenius & Rechelstein (2005), osautores buscaram analisar o problema dos preços detransferência num cenário em que uma divisão temo poder de monopólio na venda de um componentetanto para clientes no mercado externo quanto parauma divisão dentro da mesma empresa. Nessa pes-quisa, foi verificado se a imposição de descontosintracompany  pode aliviar ou, mesmo, eliminar osefeitos da dupla marginalização. Quando a capaci-dade de produção da divisão é efetivamente irres-trita, acha-se que os descontos aumentarão o lucrototal da empresa apenas sob certas condições. Aomesmo tempo, é impossível para qualquer regra dedesconto induzir os preços e as quantidades de vendasque totalmente maximizam o lucro corporativo daempresa. Em contrapartida, se a capacidade de pro-dução da divisão de venda é restrita, os descontosdevidamente escolhidos serão sempre para melhorar

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o lucro global da empresa em relação a uma políticaem que as transferências internas são valorizadas aopreço de mercado.

Tradicionalmente, os estudos sobre preço de

transferência interna limitam-se ao problema intra-firma e, diante disso, Shor & Chen (2009) demons-traram que as empresas podem utilizar tais preçosestrategicamente como um dispositivo de colusão. Aestratégia aparente da descentralização de preçosna configuração de decisões realmente faz sentidoquando considerado no contexto estratégico, incor-porando seu impacto sobre a indústria. Os resultadosdo trabalho também fornecem algumas explicaçõessobre por que e como a descentralização é umaalternativa de arquitetura organizacional que está setornando cada vez mais popular em muitas indústrias.

No Canadá, o estudo de Steiner (2007) analisa asimplicações estratégicas dos preços de transferênciapara o projeto organizacional como o resultado daimposição de fortes pressupostos informativos sem aconsideração explícita dos incentivos complementaresno desenho organizacional. Com base nesse estudo,o autor concluiu que uma política de preços detransferência deve ser considerada quanto à suahabilidade de afetar positivamente os lucros, aexigência de tempo mínimo para se chegar a um preço

de transferência adequado, e sua capacidade deabordar a noção de conflitos e justiça sobre os preçosentre os gestores das unidades.  Isso implica anecessidade de concepção e análise das políticas depreços de transferência num contexto mais global daorganização, inclusive quanto ao potencial de explorara complementaridade da estratégica organizacional.

Dando sequência à pesquisa sobre preço de trans-ferência, Beuren, Grunow & Hein (2008) objetivaramidentificar os métodos de preço de transferênciainterna utilizados nas maiores indústrias do Brasil,concluindo pelo preço baseado no custo.

O estudo de Santos, Couto & Gallo (2010) buscou,por meio de um estudo de caso, verificar se umaempresa subsidiária brasileira de um grupo francêsfaz uso dos conceitos de preço de transferência. Foiidentificado que a empresa faz uso desses conceitose aplica o método baseado no custo real, consideradoo que menos afeta as relações internas, pois estáabaixo do valor de mercado.

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

Do ponto de vista da abordagem, a pesquisa seclassifica como exploratória, uma vez que proporcionafamiliaridade com o problema (MENEZES & SILVA, 2001)

Quanto à natureza, é aplicada, tendo em vista que oseu objetivo envolve o tratamento do assunto sob ofoco do que ocorre na realidade. Tem também acaracterística de um estudo qualitativo, uma vez quenão ocorre a não utilização de técnicas estatísticas,e sim da discussão dos resultados com ênfase no seusignificado (GIL, 1999).

O desenvolvimento do trabalho ampara-se naestratégica metodológica do estudo de caso múltiploConforme definido por Yin (2001), os estudos de casoressaltam o exame contextual detalhado de um

número limitado de eventos ou condições e seus rela-cionamentos. O objeto de investigação é geralmenteuma entidade, uma pessoa ou um grupo de pessoasAo usar múltiplos casos, cada caso é tratado comoum único, com as conclusões contribuindo cominformações para o estudo como um todo.

Ainda de acordo com Yin (2001), no estudo decaso, faz-se uma investigação empírica sobre umfenômeno contemporâneo dentro do seu contextode vida real, quando as fronteiras entre o fenômenoe o contexto não são claramente evidentes, e emque múltiplas fontes de evidência são usadas.

O estudo envolve a participação de três empresasindustriais atuantes em ramos de atividades diversose situadas no Estado do Rio Grande do Sul. Asempresas são classificadas como de médio e grandeporte, com base no faturamento bruto anual, parâ-metro este estabelecido por BNDES (2010).

A investigação abordou diferentes métodos decoleta de dados para a produção do estudo, utilizan-

do-se, além de pesquisa documental via exame derelatórios gerenciais, também da aplicação de entre-vista semiestruturada, conforme detalhado por VanMaanen (1983).

As perguntas foram direcionadas para um númerolimitado de eventos. Para ajudar na formulação dasquestões, partiu-se de uma revisão da literatura, adefinição da finalidade do estudo de caso e umadeterminação prévia do público potencial. Para asentrevistas, foram elaborados quesitos semiestrutu-

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rados que geraram repostas abertas, com o objetivode alcançar informações sobre o uso do preço detransferência interno pelas empresas e como estesafetam o processo de gestão.

Os quesitos relacionados no roteiro da entrevista

buscaram, em um primeiro momento, caracterizar aempresa e o respondente, e posteriormente seguiramas abordagens expostas no aporte teórico, na se-guinte ordem: gestão centralizada / descentralizada;avaliação de desempenho dos gestores; modelodivisional; principais centros de responsabilidade;preço de transferência interno (forma de cálculo econtribuições a gestão). Todo o conteúdo foi dire-cionado para o objetivo de identificar as práticas deutilização de preços de transferência interna.

Como forma de manter o rigor da pesquisa cien-tífica, foi realizado um protocolo de estudo de caso afim de formalizar a estruturação da pesquisa. Oprotocolo definido estabelece questões importantespara a pesquisa, conforme citado por Yin (2001),sendo eles: (a) visão geral do projeto contendo osobjetivos, questões básicas e o referencial teórico quesuportará o estudo; (b) procedimentos de campo paraa realização das entrevistas, incluindo revisão das in-formações prévias, documentos importantes a seremanalisados, relação dos entrevistados e o roteiro daentrevista; (c) plano de análise para cada estudo e

um esboço do relatório individual; e (d) plano deanálise para a avaliação conjunta dos casos e con-clusão sobre os resultados encontrados.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1. Breve caracterização das empresas

As empresas que fizeram parte deste estudo sãotodas indústrias, cujas sedes administrativas estãosituadas no Estado do Rio Grande do Sul (RS).

O Quadro 2 apresenta informações centrais sobreelas, envolvendo os seguintes dados: (a) ano de fun-dação; (b) país e Estado sede das unidades; (c) quan-tidade de funcionários; (d) mercados de atuação; (e)quantidade de divisões. Com estas informações, é

possível traçar um primeiro comparativo entre asempresas.

Observa-se que as empresas 2 e 3 são as maisantigas, uma delas fundada há 62 anos, e a outra há56. Apesar de menor, a empresa 1 também já temuma longa trajetória, com 37 anos de existência.

Todas são indústrias gaúchas e possuem sede admi-nistrativa no Rio Grande do Sul. Uma delas é umaempresa transnacional com plantas em vários paísesda América Latina. Quanto à quantidade de funcio-

nários, destacam-se novamente as empresas 2 e 3,com 1.739 e 1,5 mil respectivamente.

Observa-se que há relação entre as indústriasfundadas há mais tempo e com maior número defuncionários, maior diversidade de mercados eorganizadas em forma de divisões. Além dessascaracterísticas gerais, também foi verificada a receitabruta, apresentada na Figura 1.

Quadro 2: Caracterização geral das empresas

Empresas Fundação Localização Número de Funcionários Segmento de atuação Divisões

Empresa 1 1973 Brasil (RS) 150Indústria moveleira para

lojas comerciaisNão há

Brasil (RS, PR e SP)Empresa 2 1948 e cinco países da 1.740

Indústria química de5

América Latinaadesivos e derivados plásticos

Empresa 3 1954Brasil (RS, MS, Indústria eletrometalúrgica

PR e PE)1.500

e hidraúlica8

Fonte: dados da pesquisa.

Figura 1: Receita bruta média anual das empresas (em R$ mil)Fonte: dados da pesquisa.

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Considerando-se o faturamento bruto comoparâmetro para classificar o porte de empresas(BNDES, 2010), é possível observar que a empresa 1pode ser considerada como de médio porte, e asdemais, empresas 2 e 3, de grande porte.

4.1. Empresa 1

Modelo de gestão

A estrutura é departamentalizada e a gestão,centralizada. O proprietário desempenha os papéisde diretoria e outros membros da família (cunhado eirmã) desempenham funções de gerência.

Há intenção em profissionalizar a empresa edescentralizar a gestão. Decisões ao encontro dessaintenção foram tomadas há dois anos, tais como aformação de um grupo para trabalhar com os riscosinerentes ao negócio (formado por contador, advo-gado, assessor de marketing). Uma das ações destegrupo foi delegar um cargo de gerência que estavana família para um profissional contratado: a gerênciaadministrativa financeira, que antes era desempe-nhada pela esposa do proprietário e que passou aser executada por um profissional contratado.

A empresa possui uma única planta que comporta

todos os setores produtivos, comerciais e admi-nistrativos. Não há controle por divisões como centrode responsabilidade, ou seja, o negócio é gerenciadocomo um todo, através das receitas e custos de cadaprojeto. A contabilidade é terceirizada, aspecto rela-tado como fator limitativo ao acesso de informaçõesde cunho gerencial. A apuração por projetos não éprecisa, e um dos fatores apontados para este proble-ma informacional é o fato de o sistema integrado degestão (ERP) não estar funcionando de forma plena.

Quando explanado sobre o que seria um modelo

divisional, o entrevistado mostrou-se interessado,citando, inclusive, o exemplo de seu principal cliente,no qual constatou a concorrência entre as divisões.

Uma das dificuldades citadas para implantar ummodelo divisional recai no mesmo problema de ge-ração de informações já apresentado. O entrevistadoinformou não ter informações seguras, ou seja, ogestor não consegue acompanhar a evolução doscustos de forma on-line. Nesse sentido, somentetoma conhecimento do desempenho do negócio após

o balanço do mês ser entregue pela contabilidadeexterna.

Avaliação de desempenho

Os coordenadores dos setores são avaliados me-diante metas que são comparadas ao final de deter-minado período. Como exemplo, pode ser citada aárea de vendas (tem-se aqui um centro de receita),que é avaliada pelas metas de vendas estipuladaspara o mês, ou a área de engenharia (tem-se aquium centro de produção), cujos critérios de avaliaçãosão pendências e falhas no desenvolvimento dos pro-  jetos negociados pelo comercial.

Centros de responsabilidade utilizados

A estrutura é departamentalizada, base do contro-le realizado pela diretoria. Esse é o único indício decentro de responsabilidade utilizado, como sinalizadono tópico anterior (centro de receita e de produção)Não há uma estrutura de gestores por centros decustos, resultado ou investimento nos moldes do con-teúdo apresentado no Quadro 1.

Preços de transferências internas

Não foi identificada a prática de preços de transfe-rência interna, provavelmente devido ao fato de não

possuir divisões. O entrevistado conhece a existênciade preços que precisam ser cobrados entre asdivisões, mas reconheceu não ter conhecimento dospossíveis modelos e da forma de cálculo.

Dado o interesse do entrevistado, nessa oportuni-dade foram apresentados alguns princípios que pre-cisam ser observados para a implantação de uma ges-tão organizacional descentralizada por áreas deresponsabilidade e da utilidade dos preços de transfe-rências. A necessidade de uma estrutura organizacio-nal assim formalizada, e de um sistema contábil mais

sistematizado, de preferência realizado internamente,foram outros aspectos esclarecidos ao entrevistado.

O relato apresentado pelo entrevistado ratifica oconteúdo de outros estudos sobre o tema (SOLOMONS,1965; FREZATTI et al ., 2009; SHOR& CHEN, 2009), ou seja,apesar de estar caminhando para uma estruturadescentralizada, a empresa 1 ainda tem várias etapasestruturais a cumprir. Tais etapas são consideradasnecessárias a uma gestão descentralizada e à conse-quente adoção da sistemática de preço de transfe-

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rência interna para sustentar os procedimentos deavaliação de desempenho divisional.

4.2. Empresa 2

Modelo de gestão

A companhia adota o modelo de gestão descen-tralizado; há delegação de poderes aos gestores dasunidades de negócio, os quais têm um limite de atua-ção bem claro e estabelecido por políticas internas.

Até aproximadamente o ano de 1990, os negóciosda companhia eram gerenciados como um todo, semdivisão por áreas de negócios. Após este ano, passou-se a adotar um modelo divisional, decisão esta que

foi institucionalmente acatada, principalmente devidoao fato de que, naquele ano, houve aquisições denovos negócios, diferentes dos já existentes. Nota-se aqui, conforme apresentado pela literatura (VIEIRA,1973; QUIRINO, 1999; DUARTE, 2006), que a gestãodivisional foi uma consequência natural do cresci-mento da estrutura de negócios das organizações.

O modelo adotado foi de unidade de negócio –UEN, formatada por segmento de produção. Nestemodelo, houve a descentralização do poder dedecisão, já que a delegação foi transferida para ogestor divisional.

As principais ferramentas de gestão divisional utili-zadas são planejamento estratégico, plano orça-mentário e relatórios de avaliação de desempenhodivisional, compostos por diversos indicadores finan-ceiros e não financeiros.

Segundo os gestores, as principais contribuiçõesdo modelo de gestão utilizado, são as seguintes: (a)possibilidade de comparação com o ambiente externo

por segmento (principalmente concorrência); (b)estabelecimento de cenários e projeções de onde sepretende chegar; (c) fatia de mercado atingida eprojetada para o segmento de negócio; (d) projeçãode cenários por segmento e definição dos rumos donegócio como um todo.

Não há intenção da companhia em mudar demodelo divisional, somente em aperfeiçoar o modeloexistente via melhor uso das ferramentas e técnicasde gestão atualmente utilizadas.

Avaliação de desempenho

Dois momentos foram relatados como essenciaisà avaliação de desempenho das divisões: (a) avaliaçãode desempenho do próprio gestor de unidade; e (b)

apresentação e discussão sobre os resultados dasdivisões com a alta administração.

A avaliação de desempenho dos gestores divisio-nais ocorre com base em contrato de metas firmadoentre o gestor e a presidência executiva. Este contratoé estabelecido mediante regras existentes em umapolítica de distribuição de benefícios. Neste sistema, osgestores com desempenho considerado acima desatisfatório são premiados em condições predeter-minadas. Segundo os entrevistados, muitas vezes o valordas premiações está vinculado à base de 80%, em

relação ao desempenho da unidade, e 20%, em funçãodo resultado global da empresa. Isso faz parte da estra-tégia da empresa em comprometer os gestores nãosomente com o resultado de suas áreas de controle,mas também com o resultado global da empresa.

A empresa tem um sistema formal de relatóriosde desempenho divisional, fortemente amparado nosistema contábil, considerado relevante para a aná-lise das divisões. A elaboração deles é realizada nosdez primeiros dias após o encerramento do mês, pelaárea corporativa de controladoria que processa as

informações e elabora uma apresentação individuacom os dados de cada negócio. Há uma reunião men-sal de diretoria, onde estas informações são apre-sentadas para diretoria executiva e para os gestoresdas demais unidades de negócio.

Centros de responsabilidade utilizados

A organização utiliza centros de custos, de receitae de resultado. Os investimentos são controlados maisna esfera corporativa, apesar da participação dosgestores tanto na proposição como aprovação.

Os centros de responsabilidade são monitoradosmediante orçamento anual, que é comparado com orealizado. Os desvios relevantes precisam ser justi-ficados pelos gestores divisionais. A participação dogestor divisional no momento do orçamento é neces-sária, pois ele coordena a execução do orçamentodas suas unidades e negocia a aprovação do orça-mento com a presidência executiva. Após a apro-vação do orçamento, cabe ainda ao gestor a apro-vação da execução de quaisquer despesas ou

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PREÇO DE TRANSFERÊNCIA INTERNA COMO INSTRUMENTO GERENCIAL:UM ESTUDO DA UTILIZAÇÃO POR INDÚSTRIAS LOCALIZADAS NO ESTADO RIO GRANDE DO SUL

compras gerais, até o limite de 15 mil reais, desdeque anteriormente aprovados no orçamento.

Quanto aos investimentos, há uma política que regeos investimentos realizados no grupo. Este documento

demonstra a existência de níveis diferentes de alçadapara aprovação, sendo o poder de decisão do gestordivisional limitado à aprovação de investimentosprevistos no orçamento até o valor de 50 mil reais pormês, ou investimentos até o valor de 25 mil reais pormês, independentemente de planejamento.

Preços de transferências internas

Nem todas as divisões da companhia realizam trans-ferência de produtos entre elas. As transferênciasocorrem principalmente entre uma unidade do Brasil

e as da America Latina, e são originadas pelo fato deque a unidade brasileira produz um insumo utilizadonas demais unidades da America Latina.

Sempre que as transferências ocorrem, elas são rea-lizadas pelo valor do custo padrão mais margem. Foramidentificados percentuais de margem de contribuiçãodiferentes entre as unidades. Houve o relato detransferência realizada com margem de 10%, enquantooutro gestor afirmou transferir com 15% de margem.

Como justificativa de definição do método utili-

zado, foi citado que ele permite cobrir os custos etrazer uma pequena margem à unidade transferidora,margem esta inferior ao valor que seria vendido nomercado. Essa é uma forma, inclusive, de viabilizaros negócios da unidade compradora.

Segundo os gestores, não há intenção de mudan-ça de critério para o cálculo, dado que o atual tematendido aos planos estratégicos da organização. Co-mo vantagem da utilização do preço de transferênciapara fins gerenciais, afirmou-se que, apesar de o vo-lume financeiro não ser tão expressivo, estas tran-

sações viabilizam avaliações mais consistentes dasdivisões e mais motivadoras aos seus gestores.

Observa-se que a empresa 2 apresenta estruturaadequada para uma gestão descentralizada. Foi de-clarada a adoção do preço de transferência baseadono custo padrão; entretanto, a utilização de diferentesmargens pode indicar que, na prática, adota-se umpreço negociado (ou custo mais margem negociada),mas, mesmo assim, baseado em custos. Esse proce-dimento está de acordo com o entendimento dado

por pesquisadores da área, conforme indicaram Pa-doveze (1993) e Atkinson et al . (2008).

4.4. Empresa 3

Modelo de gestão

A organização adota um modelo descentralizado,cujas divisões se reportam à administração central,órgão gestor do negócio como um todo. Apesar dehaver delegação de poder, as unidades e a profis-sionalização da gestão da empresa ainda carecemde maiores avanços já que a diretoria está totalmenterelacionada com a família fundadora e principal acio-nista da empresa.

Até 2008, a empresa era organizada por divisão

de vendas que tinha um atendimento diferenciadopor segmento. Porém, a indústria e a área administra-tiva possuíam a gestão centralizada.

A partir de 2009, passou-se a adotar o modelo divi-sional por unidade de negócio, estruturado com baseno segmento de produção. A decisão por divisionalizartambém a fábrica, foi a possibilidade de gerir as ope-rações com mais eficiência e eficácia, ao mesmo tempoque se teria maior transparência nos atos negociaisde cada divisão. Outro aspecto favorável foi a melhora

no sistema de informações sobre as receitas, custos eresultado de cada um dos diferentes segmentos.

Mais especificamente, os gestores consideram queas principais vantagens da adoção deste modelo sãoas seguintes: (a) proporcionar segurança dos negó-cios, maior controle e autonomia das decisões dele-gadas aos gestores; (b) permitir focar o segmento demercado; (c) avaliar as estratégias e ações desen-volvidas pelo gestor da divisão; (d) refletir juntamentesobre o desempenho do gestor divisional; (e) provocarmais rapidez na identificação de discrepâncias do

custo dos produtos.Foi citado como desvantagem da utilização deste

modelo o fato de que, em alguns casos, criam-seanimosidades e rivalidades entre gestores de divisões.

Avaliação de desempenho

A análise individual da avaliação de desempenhodas divisões foi relatada como ponto importante domodelo divisional, sendo possível, por meio dela,identificar ineficiências de custos e processos que

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antes não eram transparentes no sistema deinformações.

Esta avaliação ocorre pela análise dos resultadose indicadores financeiros e não financeiros de cada

divisão. É feita a verificação do percentual que a di-visão atinge em relação às metas estipuladas no orça-mento anual, levando-se em conta os investimentos,as receitas, custos e despesas orçadas.

Verifica-se que, desta forma, o orçamento passoua ser um instrumento relevante no processo de pla-nejamento, controle e avaliação do desempenho dasdivisões e dos gestores. A preocupação em vincular àunidade e ao gestor somente as transações e os valo-res que estão sob sua direta ação é considerado umdos procedimentos que mais trouxe confiabilidade e

credibilidade ao sistema de avaliação de desempenho.

Centros de responsabilidade utilizados

A empresa realiza o orçamento por centros deinvestimento, receita e custo, projetando desta formao orçamento anual, base para monitorar os gastos eresultados.

Além dos gestores divisionais, há gestores dos centrosde custos e de receitas que devem monitorar o valorrealizado, comparando-o com o orçamento aprovado.

Preços de transferências interna

O preço de transferência é definido pela compa-nhia como meio de transferir o custo de um produtode um centro de responsabilidade para o de outrocentro, utilizado somente com foco gerencial.

A organização procura tornar o mais independentepossível as suas divisões, utilizando estas transferên-cias somente quando não há produto disponível nomercado a um custo menor, ou quando se trata deum serviço administrativo. Desta forma, há transfe-

rência dos serviços administrativos prestados pelaárea corporativa valorados mediante percentual docusto estabelecido com base no histórico do ano an-terior, parâmetro de transferência para todo o ano.

Quanto aos produtos, a transferência é realizadapelo custo real de produção, entendido pelos gestorescomo uma forma de não beneficiar a unidadeprodutora uma vez que ela só é reembolsada do custoincorrido. Conforme visto na revisão de literatura, essainterpretação pode ser enganosa, dada a possívetransferência de ineficiências. Em sendo assim, o

prejuízo não é somente da divisão compradora, embenefício da divisão vendedora, mas da empresa comoum todo, tendo em vista a perda de competitividadede mercado. Esse aspecto é apresentado no estudodesenvolvido por Jordan, Neves & Rodrigues (2003).

4.5. Análise comparativa dos casos estudados

Para realizar uma análise dos principais achados,elaborou-se o Quadro 3, no qual são apresentadosos principais aspectos identificados com relação aos

cinco elementos principais da pesquisa: modelo degestão, avaliação de desempenho, modelo de divisio-nalização, centros de responsabilidade e método dopreço de transferências internas.

Verificou-se, pelos dados coletados, que é nas duasempresas de maior expressão que se faz presente

Quadro 3: Síntese dos resultados

Foco de análise Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3

Modelo de gestão Centralizado Divisionalizado DivisionalizadoAvaliação de desempenho Realizado de modo Há avaliação de desempenho Há avaliação de desempenho

centralizado do gestor e do resultado de do gestor e do resultado

e departamentalizado desempenho das unidades de desempenho dasque gerencia unidades que gerencia

Modelo de divisionalização Não há Organizado em linhas de Organizado em linhasprodutos de produtos

Centros de responsabilidade Não há Centro de receita, de custos Centro de receita, dee de investimento custos e de investimento

Método do preço de transferência Não há Custo padrão mais margem Custo real

Fonte: dados da pesquisa.

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PREÇO DE TRANSFERÊNCIA INTERNA COMO INSTRUMENTO GERENCIAL:UM ESTUDO DA UTILIZAÇÃO POR INDÚSTRIAS LOCALIZADAS NO ESTADO RIO GRANDE DO SUL

um modelo de gestão descentralizado. Os respon-dentes da empresa 1, de médio porte e que aindaadota um modelo centralizado, manifestaram anecessidade de caminhar para um modelo semelhanteao descentralizado.

A análise dos dados das empresas descentrali-zadas, as empresas 2 e 3, revela procedimentos bas-tante consistentes e alinhados com o conteúdo daliteratura que trata do tema. Nota-se que há a preo-cupação em delegar autoridade aos gestores dasunidades divisionais criadas, e com um processo deavaliação de desempenho que respeita a sua auto-nomia decisória, ou seja, não avaliá-lo por ações eresultados que estão fora da sua esfera de atuaçãodireta. De fato, esse posicionamento das empresas2 e 3 vai ao encontro dos resultados dos estudosdesenvolvidos por Sanchez (1991), Dias (1991) eDuarte (2006), os quais constatam a preferência deum modelo de gestão descentralizado para empresasde grande porte.

Dada a existência de centros de responsabilidadena modalidade dos centros de resultados (custos ereceitas), a utilização da sistemática de preços detransferência se faz presente como forma de avaliarde maneira específica os resultados gerados pelasunidades e pelos gestores. Esse achado da pesquisa

novamente ratifica o entendimento que é dado pelaliteratura, tanto em trabalhos iniciais sobre o tema(SOLOMONS, 1965) como em outros mais recentes(JIAMBALVO, 2009).

A modalidade preferencialmente adotada pelasempresas para determinação do preço de transferên-cia centra-se no critério baseado em custos, comalgumas variações. De fato, enquanto na empresa 2é dada preferência ao custo padrão mais uma mar-gem, na empresa 3 adota-se o custo real. Essasmodalidades de formação do preço de transferência

estão consistentes com o apresentado em outrosestudos, como o de Jordan, Neves & Rodrigues (2003),os quais abordaram as possíveis variações do preçode transferência baseado em custos. Tais autoresdestacaram, inclusive, as possíveis desvantagens dasua utilização para efeito de avaliação de desem-penho das unidades organizacionais. Apesar dessaspossíveis desvantagens, os resultados aqui apresen-tados ratificam outros de pesquisas recentes (BEUREN,GRUNOW & HEIN, 2008; SANTOS, COUTO & GALLO, 2020), os

quais também identificaram a predominância deadoção do preço de transferência baseado em custos.

Mesmo com tais deficiências, essa consistência deresultados das pesquisas efetuadas com amostras

diferentes sugere que as empresas sentem maisconfiança e segurança de preços baseados em custos,talvez por ser um valor mais objetivamente conhecidoe controlado por elas. Constata-se, assim, que asempresas estão distantes da adoção do preço basea-do no mercado, tido pela literatura como o mais útideles (PEREIRA & OLIVEIRA, 1999; ANTHONY & GOVINDARAJAN,2007; ATKINSON et al ., 2008), preferindo trabalhar comvalores da sua realidade interna.

Além dos estudos já citados, os resultados dessapesquisa, quanto à predominância do preço de pre-

ferência baseado em custos, também estão consis-tentes com outros realizados no País, como Jordan,Neves & Rodrigues (2003), ou no exterior, por Chwol-ka, Martini & Simons (2008).

5. CONCLUSÕES

O objetivo desta pesquisa foi analisar se o preçode transferência interna é utilizado por indústriasgaúchas no processo de uma gestão descentralizada.Das três empresas que fizeram parte do estudo de

casos múltiplo, apenas a empresa 1 acha-se fora darealidade de uma empresa divisonalizada e descen-tralizada. Dessa forma, os achados vinculados ao te-ma do estudo estão representando a realidade dasduas outras empresas. Ressalta-se, entretanto, quemesmo na empresa 1, de menor porte, há manifes-tações de que isso passará a fazer parte do seumodelo de gestão.

Constatou-se que tanto a empresa 2 como a 3adotam um modelo formal de gestão descentralizada,realmente uma necessidade, dadas as suas dimen-

sões geográfica, econômica e operacional, com váriossegmentos de negócios integrados e com plantas noBrasil e, no caso da empresa 2, no exterior. No geral,pode ser observado que, nos modelos adotados, háconsistência quanto aos aspectos de delegação deresponsabilidade e critérios de avaliação de desem-penho. Nesse aspecto, as empresas pesquisadas ado-taram procedimentos e estruturas consistentes como que tem sido apresentado pela literatura que tratado tema.

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Quanto ao preço de transferência, e contraria-mente ao considerado pela literatura, o preço esta-belecido com base no mercado não é o adotado pelasempresas. Apesar das reconhecidas limitações, asempresas optaram por utilizar o preço com base em

custos, com alguma variação entre as empresas. Naempresa 2, adota-se como base o custo padrão maisuma margem e, na empresa 3, o custo real. Essesachados da pesquisa ratificam os resultados de outraspesquisas semelhantes, nas quais o preço baseadoem custos é o predominante.

Apesar das potenciais limitações de se utilizar ocusto como base de formação do preço de trans-ferência interna, há de se reconhecer que as empre-sas deram um avanço em relação aos sistemas maisortodoxos de gestão. De fato, ainda que realizadascom as limitações destacadas, e de acordo com amanifestação dos entrevistados, os sistemas adota-dos possibilitam uma gestão mais eficaz sobre osrecursos consumidos pelas operações, assim comoavaliar as contribuições setoriais na construção doresultado global da empresa.

Os resultados da pesquisa, consistentes com outraspesquisas no que se refere à predominância da ado-ção de preços baseados em custos, permitem supor

que as empresas procuram vincular a avaliação dedesempenho com o controle de custos. Além disso,também é possível supor que os custos internos sãointerpretados como elementos passíveis de controlepela empresa, contrariamente ao preço de mercado,

uma variável externa fora do controle interno.

Mesmo sendo um tema tradicional no âmbito dacontabilidade gerencial e da gestão empresarial, opreço de transferência ainda carece de estudos demaior profundidade. O conteúdo deste estudo sinalizaque há significativo potencial de contribuição de umestudo de caso único, realizado com a profundidadenecessária para refletir em detalhes as contribuiçõese mudanças efetivamente provocadas pela adoçãoda sistemática de preços de transferência; inclusive,compreender por que se adota um método (baseadonos custos), e não outro (baseado no mercado). Alémdisso, com tais estudos, também será possível confir-mar, ou não, as suposições apresentadas no pará-grafo anterior.

Enfim, acredita-se que um estudo desse tipopoderá evidenciar a efetiva contribuição dos tradi-cionais desenvolvimentos teóricos realizados sobre otema e, possivelmente, avançar para novos desen-volvimentos.

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