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PRECIFICAÇÃO DE PRODUTO INOVADOR: LIDANDO COM INCERTEZA E URGÊNCIA NA TOMADA DE DECISÃO EM UMA EMPRESA NASCENTE DE BASE TECNOLÓGICA Jonathan Simões Freitas (IEBT) [email protected] Júlio Cézar Fonseca de Melo (IEBT) [email protected] Bruno França Pádua Coelho (IEBT) [email protected] Lin Chih Cheng (DEP/UFMG) [email protected] Antônio Artur de Souza (FACE/UFMG) [email protected] Ao se considerar a gestão do desenvolvimento de produtos (GDP) como um sistema de decisões, a decisão relativa ao preço a ser atribuído a um novo produto é destacada como uma das mais importantes na fase de desenvolvimento do conceito. Nessse sentido, visto no contexto de posicionamento e projeto do produto, o problema da precificação tem sido amplamente estudado. Contudo, as abordagens propostas na literatura para determinação de preço têm aplicabilidade limitada em situações marcadas por incerteza, nas quais a disponibilidade de dados é restrita. Este, porém, tende a ser o caso em se tratando da precificação de um produto inovador em uma empresa nascente de base tecnológica (ENBT). Afinal, pelo fato de essas empresas ainda não estarem transacionando com clientes e fornecedores, a inexistência de dados históricos e a conseqüente dificuldade de projeção são recorrentes nessas organizações. Além disso, por se embasarem na inovação tecnológica, a incerteza associada ao planejamento de produto nessas firmas é agravada. A complexidade do problema aumenta ainda mais quando a formação do preço tem de ser feita sob constrangimentos de tempo. Nesse contexto, como lidar com a urgência e a incerteza na precificação? É esta a questão abordada neste artigo, a partir de um projeto de pesquisa- ação relativo à definição de preço de um produto inovador numa ENBT. Na construção conjunta da decisão a ser tomada pelos gestores da empresa, entrevistas individuais, grupos focais e pesquisas em bases de dados secundários foram utilizadas para a coleta de dados. A Abordagem da Escolha Estratégica (SCA), análises estatísticas descritivas e análises de investimento sob diferentes cenários foram os principais procedimentos analíticos adotados. Como resultado direto, XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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PRECIFICAÇÃO DE PRODUTO

INOVADOR: LIDANDO COM

INCERTEZA E URGÊNCIA NA TOMADA

DE DECISÃO EM UMA EMPRESA

NASCENTE DE BASE TECNOLÓGICA

Jonathan Simões Freitas (IEBT)

[email protected]

Júlio Cézar Fonseca de Melo (IEBT)

[email protected]

Bruno França Pádua Coelho (IEBT)

[email protected]

Lin Chih Cheng (DEP/UFMG)

[email protected]

Antônio Artur de Souza (FACE/UFMG)

[email protected]

Ao se considerar a gestão do desenvolvimento de produtos (GDP)

como um sistema de decisões, a decisão relativa ao preço a ser

atribuído a um novo produto é destacada como uma das mais

importantes na fase de desenvolvimento do conceito. Nessse sentido,

visto no contexto de posicionamento e projeto do produto, o problema

da precificação tem sido amplamente estudado. Contudo, as

abordagens propostas na literatura para determinação de preço têm

aplicabilidade limitada em situações marcadas por incerteza, nas quais

a disponibilidade de dados é restrita. Este, porém, tende a ser o caso

em se tratando da precificação de um produto inovador em uma

empresa nascente de base tecnológica (ENBT). Afinal, pelo fato de

essas empresas ainda não estarem transacionando com clientes e

fornecedores, a inexistência de dados históricos e a conseqüente

dificuldade de projeção são recorrentes nessas organizações. Além

disso, por se embasarem na inovação tecnológica, a incerteza

associada ao planejamento de produto nessas firmas é agravada. A

complexidade do problema aumenta ainda mais quando a formação do

preço tem de ser feita sob constrangimentos de tempo. Nesse contexto,

como lidar com a urgência e a incerteza na precificação? É esta a

questão abordada neste artigo, a partir de um projeto de pesquisa-

ação relativo à definição de preço de um produto inovador numa

ENBT. Na construção conjunta da decisão a ser tomada pelos gestores

da empresa, entrevistas individuais, grupos focais e pesquisas em bases

de dados secundários foram utilizadas para a coleta de dados. A

Abordagem da Escolha Estratégica (SCA), análises estatísticas

descritivas e análises de investimento sob diferentes cenários foram os

principais procedimentos analíticos adotados. Como resultado direto,

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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obteve-se um preço em relação ao qual as pessoas que se

responsabilizariam pelas conseqüências da decisão tomada tiveram

confiança para atribuí-lo ao produto em questão, tendo o valor

definido sido bem recebido pelo mercado. Dessa forma, ilustrou-se,

por meio de um exemplo concreto, uma maneira pela qual a incerteza e

a urgência podem ser trabalhadas na precificação de produtos

inovadores em ENBTs. O trabalho representa, portanto, uma

referência pioneira para o refinamento da adaptação de abordagens

para a definição de preço nesse contexto organizacional específico.

Palavras-chaves: Inovação Tecnológica, Produto Inovador,

Precificação, Empresa Nascente de Base Tecnológica

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1.1.

2. Introdução

A gestão do desenvolvimento de produtos (GDP) tem sido concebida de diferentes maneiras

por distintas comunidades acadêmicas, as quais refletem, tradicionalmente, as principais

perspectivas funcionais que se diferenciaram ao longo do tempo – e.g. marketing, pesquisa e

desenvolvimento (P&D), gestão de operações (KRISHNAN & ULRICH, 2001). Assim, do

ponto de vista prevalente na área de mercadologia, por exemplo, um produto é visto como

uma constelação de atributos, sendo a gestão do seu desenvolvimento representada como um

conjunto de análises de mercado centradas na obtenção da voz dos potenciais clientes e no

atendimento de suas necessidades (e.g. CHENG & MELO FILHO, 2007; HAUSER &

CLAUSING, 1988). Outras comunidades, por sua vez, concebem o produto como uma

seqüência de processos de desenvolvimento e produção ou como um conjunto de

componentes inter-relacionados, levando, conseqüentemente, a diversas concepções da GDP.

Essa diversidade de perspectivas resultante da reprodução da divisão funcional no meio

acadêmico obscurece, contudo, o fato de que, num determinado nível de agregação, as

decisões que têm de ser tomadas ao longo do desenvolvimento de produtos são

consideravelmente independentes dos pontos de vista funcionais (KRISHNAN & ULRICH,

2001). Em outras palavras, apesar de a maneira como, funcionalmente, o desenvolvimento dos

produtos é gerido nas organizações variar notavelmente (de empresa para empresa e dentro de

uma mesma empresa ao longo do tempo), o que tem que ser decidido no âmbito da GDP

permanece, em grande medida, constante, ao se adotar uma perspectiva desvinculada das

divisões funcionais organizacionais. Nesse sentido, postula-se que a concepção da gestão do

desenvolvimento de produtos enquanto um processo de negócio centrado em um sistema de

decisões a serem tomadas oferece uma oportunidade distintiva de parcimônia teórica, uma vez

que, independentemente da organização em questão, certas definições comuns terão que ser

feitas (ainda que de diferentes maneiras e por diversas funções) para que se transforme uma

oportunidade de mercado em um produto disponível para venda (KRISHNAN & ULRICH,

2001). Essa perspectiva decisória da GDP encontra fundamentação nas teorias que enfatizam

o papel, nas organizações, da gestão da incerteza pelo processamento de informação

(GALBRAITH, 1977; THOMPSON, 1967), ainda que este se dê de forma racionalmente

limitada (SIMON, 1969).

Nesse sentido, pelo menos dois níveis de tomada de decisão são reconhecidos ao se descrever

a gestão do desenvolvimento de produtos como um complexo sistema adaptativo de decisões:

“projeto de desenvolvimento” e “portfólio de projetos” (KRISHNAN & ULRICH, 2001;

McCARTHY, TSINOPOULOS, ALLEN, & ROSE-ANDERSSEN, 2006). No âmbito de

portfólio, ainda uma subdivisão pode ser feita entre “definição” e “revisão” (McCARTHY et

al., 2006), englobando, assim, desde decisões relativas à estratégia de mercado e produto de

uma organização até aquelas referentes aos chamados “gates” do sistema stage-gate de

desenvolvimento de produtos (COOPER, 1993; COOPER, EDGETT, & KLEINSCHMIDT,

2002). Já no nível de projeto, as decisões envolvidas vão desde as relativas ao

desenvolvimento do conceito do produto até aquelas que se referem ao aumento da escala de

sua produção e ao seu lançamento e acompanhamento no mercado (KRISHNAN & ULRICH,

2001; McCARTHY et al., 2006).

Nesse contexto, a decisão relativa ao preço a ser atribuído a um novo produto é destacada

como uma das mais importantes na fase de desenvolvimento do conceito (KRISHNAN &

ULRICH, 2001). Afinal, o problema da precificação tem sido considerado crítico no contexto

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de posicionamento e projeto do produto (YAHAYA & ABU-BAKAR, 2007), sendo vários os

modelos e as abordagens propostos, na literatura, para seu estudo (KAUL & RAO, 2005).

Contudo, formas de determinação do preço de novos produtos sob circunstâncias de incerteza

e urgência permanecem pouco exploradas até o momento. Investigar esse tipo particular de

situação apontando maneiras pelas quais as abordagens existentes podem ser adaptadas para

lidarem com essa problemática específica é, portanto, o objetivo deste artigo.

3. Referencial teórico

É vasta a literatura acadêmica dedicada ao estudo do posicionamento e projeto de produtos

(KAUL & RAO, 2005). Em especial, o problema relativo à atribuição de preço a um novo

produto tem sido amplamente investigado (KAUL & RAO, 2005). As abordagens

apresentadas consistem, basicamente, na determinação do preço balizada por um modelo da

escolha do consumidor, embasado nas diferenças de sua preferência entre atributos de

produtos substitutos – avaliados nas demais dimensões do mix de marketing (HAUSER &

SIMMIE, 1981).

Choi, DeSarbo e Harker (1990), por exemplo, modelaram como um jogo a competição em

preço entre firmas, usando a estratégia de posicionamento como variável e derivando o

equilíbrio obtido pelo posicionamento ótimo. Semelhantemente, Dobson e Kalish (1988)

usaram programação matemática para levarem em consideração o impacto de decisões de

precificação no posicionamento ótimo de produto.

Um dos modelos mais robustos apresentados, contudo, é o proposto por Schmalensee e Thisse

(1988), os quais empregaram técnicas de mapeamento de percepções, técnicas de pesquisa

operacional utilizadas para o tratamento do problema de localização de fábricas e técnicas da

área de economia voltadas para a maximização de lucro no framework que propuseram.

Horsky e Nelson (1992), por exemplo, basearam-se nesse modelo para investigarem o

posicionamento e a precificação de uma nova marca num mercado oligopolista.

Nesse contexto, em termos operacionais, segundo Kotler (1998), o processo de

estabelecimento do preço de um novo produto deve contemplar as seguintes atividades:

seleção do objetivo de preço (objetivo da empresa, em termos de abordagem do mercado, em

relação ao lançamento do produto – e.g. a maximização de seus lucros); determinação da

demanda de mercado; estimação dos custos; análise dos custos, preços e ofertas dos

concorrentes; seleção de um método de determinação de preço (ao tomar como base os custos

levantados e objetivos definidos para o negócio e/ou a percepção do mercado em relação ao

produto); e seleção do preço final.

No processo de seleção do preço final, após a escolha dos métodos, ainda devem ser

considerados alguns fatores adicionais, incluindo o preço psicológico, a influência de outros

elementos do composto de marketing sobre o preço, as políticas de preço da empresa e o

impacto do preço sobre terceiros (KOTLER, 1998). O preço psicológico é relacionado a

aspectos comportamentais que devem ser considerados na seleção do preço final – e.g. a

supervalorização atrelada à idéia de atribuição de maior qualidade ao produto. A qualidade da

marca e da propaganda em relação à concorrência são, também, elementos de marketing a

serem considerados nessa etapa. Os preços de cada produto ainda devem estar atrelados às

políticas de preço da empresa como um todo, como forma de estarem alinhados à estratégia

de marketing desenvolvida. Por fim, o impacto do preço sobre outros envolvidos no mercado

deve ser considerado na etapa de seleção, pois pode haver reações que impactam na

administração da empresa, advindas, principalmente, de: distribuidores e revendedores;

vendedores; concorrentes; fornecedores; e governo.

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Porém, quando o conhecimento acerca desses fatores intervenientes na determinação do preço

é limitado, a decisão de precificação tem de ser tomada sob condições de incerteza, havendo

restrição de informações disponíveis. Esta tende a ser a situação prevalente na decisão relativa

à atribuição de preço a produtos inovadores em ENBTs, tornando a questão da precificação

crítica nessas organizações (SCOTT, 1999; SHANE & ULRICH, 2004; YAHAYA & ABU-

BAKAR, 2007). O problema mostra-se ainda mais complexo quando essa decisão tem de ser

tomada sob constrangimentos de tempo – o que freqüentemente ocorre, por exemplo, quando

o lançamento do produto está previsto para se dar em uma data específica (e.g. evento

setorial). Nesse sentido, a concepção de abordagens apropriadas para lidarem com

circunstâncias de incerteza e urgência em situações reais de precificação é uma demanda

perceptível no referencial teórico-metodológico correlato.

4. Metodologia

O trabalho realizado consistiu na operacionalização de um projeto de pesquisa-ação relativo à

definição de preço de um produto inovador numa ENBT. Essa estratégia metodológica

adotada tem sido apontada como adequada para a investigação de problemas organizacionais,

em geral, e relativos à gestão de operações, em especial (COUGHLAN & COGHLAN, 2002;

EDEN & HUXHAM, 1996; THIOLLENT, 1997). Essa metodologia de pesquisa tem seus

méritos científicos justificados e seu embasamento epistemológico consolidado

(CHECKLAND & HOLWELL, 1998; RIORDAN, 1995; SUSMAN & EVERED, 1978;

THIOLLENT, 1996), diferindo-se, essencialmente, do trabalho de consultoria (COUGHLAN

& COGHLAN, 2002; SCHEIN, 1995) e constituindo-se como uma alternativa promissora

para a pesquisa acadêmica em campos gerenciais (COGHLAN, 2004).

Uma vez adotada essa metodologia, houve, ao longo da pesquisa, um processo iterativo de

diagnóstico do problema, planejamento da ação, intervenção, avaliação e consolidação do

aprendizado (SUSMAN & EVERED, 1978), sendo essa construção conjunta dos resultados

intermediada, basicamente, por instrumentos de coleta, análise e síntese de informações.

Nesse sentido, entrevistas individuais, grupos focais e bases de dados secundários foram

utilizados para a coleta de dados, enquanto a Abordagem da Escolha Estratégica – Strategic

Choice Approach, SCA (FRIEND & HICKLING, 1997) –, análises estatísticas descritivas e

análises de investimento sob diferentes cenários foram os principais procedimentos analíticos

adotados. Um relato detalhado desses processos e uma discussão dos resultados obtidos são

apresentados a seguir.

5. Caso

5.1. Contextualização do problema

5.1.1. Empresa

A empresa na qual o projeto de pesquisa-ação foi realizado foi fundada no ano de 2009, em

Belo Horizonte, Minas Gerais, com a missão inicial de oferecer materiais inovadores para o

setor de construção civil.

O grupo de empreendedores é formado por quatro empresários, sendo três deles sócios de

uma proeminente imobiliária local (tendo vários contatos com grandes construtoras e

escritórios de arquitetura) e o outro, um dos sócios de uma importante empresa de alta

tecnologia brasileira, tendo sido o responsável pela aquisição e proteção da tecnologia

estrangeira que fundamentou a abertura do novo negócio. Além dos quatro sócios, a empresa

contava, na época do projeto, apenas com um químico – responsável pela finalização do

desenvolvimento da tecnologia – e uma vendedora.

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5.1.2. Produto

O produto para o qual se desejava atribuir um preço consiste num tipo inovador de

revestimento de elementos de vedação e estruturais, no âmbito da construção civil de

edificações. Nova para o mundo, essa inovação, de natureza similar à das argamassas, dá uma

aparência final distintivamente semelhante à de revestimentos pétreos.

Para isso, contudo, essa diferenciada solução construtiva de aderência mecânica não exige o

corte de rochas, podendo utilizar como agregado os próprios resíduos gerados pelas empresas

no processo de extração de pedras das jazidas. De fato, para que o produto apresente os

resultados desejados, nem mesmo a utilização do pó de pedra como agregado é necessária;

outras matérias-primas amplamente abundantes na natureza, como a própria areia (incluindo a

de fundição), podem ser empregadas como substitutas, sem perda alguma dos benefícios

associados ao produto final.

A tecnologia subjacente a esse produto foi desenvolvida autonomamente, em outro país, por

um pesquisador, tendo sido vendida para um dos sócios da ENBT, sendo por ele protegida em

âmbito nacional e internacional.

5.1.3. Problema

O problema abordado no presente estudo advém da necessidade de introdução de um produto

inovador no mercado de construção civil. Geralmente, quando há esse tipo de necessidade em

uma empresa, uma extensa gama de atividades deve ser realizada (e.g. ROZENFELD, 2006).

A definição do preço do produto a ser comercializado deve ser contemplada como uma dessas

atividades. Especificamente para o caso em questão, tal definição deveria ser realizada de

forma urgente (em 10 dias), pois o produto seria apresentado em um evento do qual iriam

participar potenciais compradores.

Sendo esse o problema, existiam algumas premissas a serem consideradas para a realização

do trabalho e algumas definições iniciais foram desdobradas.

5.1.4. Premissas e definições iniciais

Para a resolução do problema identificado, foram consideradas as seguintes premissas –

advindas de estudos feitos previamente pelos empreendedores – e definições iniciais –

realizadas com a participação tanto da equipe de pesquisa quanto dos empreendedores: área

de aplicação do produto; tempo considerado para se realizar a análise do projeto de

investimento; projeção da capacidade máxima de produção do produto; região do público-

alvo; projeção prévia de vendas do produto. Vale ressaltar que as premissas consideradas

poderiam ter seus valores alterados durante a operacionalização do trabalho, devido,

principalmente, a novas informações que seriam encontradas.

Sobre a área de aplicação do produto, foi considerado que ele seria aplicado, inicialmente, em

superfícies verticais, externas, de edifícios residenciais, devido, principalmente, às

especificidades das suas características técnicas no momento do início da sua

comercialização. No futuro, talvez pudesse ser aplicado em superfícies horizontais e em

ambientes internos, mas, para isso, haveria a necessidade de se realizarem mudanças na sua

composição.

Em relação à determinação do tempo de projeto a ser utilizado na análise do projeto de

investimento, foram levados em consideração a necessidade dos empreendedores em relação

ao tempo de retorno do projeto e o conservadorismo advindo do fato de que o negócio foi

classificado como arriscado. Tal classificação foi realizada ao se levar em conta que o negócio

se baseia na comercialização de um produto inovador, até então, desconhecido no mercado

brasileiro. O tempo considerado, então, foi de 5 anos, a partir do início do investimento futuro

na planta de produção.

Já a capacidade máxima de produção foi previamente projetada pelos empreendedores, de

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acordo com o risco máximo que gostariam de assumir no negócio. Tal risco é traduzido em

valores monetários ao se levar em consideração o investimento máximo que desejavam

realizar. Nesse contexto, foi feita uma análise junto à equipe de pesquisa, logo no início do

projeto e foi considerado que a capacidade de produção mais provável, seria de 1.000

toneladas do produto no primeiro ano de produção e de 2.400 toneladas nos quatro anos

seguintes.

Em relação às vendas, considerou-se, inicialmente, que o produto seria comercializado na

cidade de Belo Horizonte. A demanda mais provável projetada para esse mercado local

superaria a capacidade de produção dado o período considerado na análise e dadas as

dimensões do mercado para todos os tipos de edifícios residenciais construídos para o público

de diversas classes sociais. A projeção da demanda do mercado foi baseada, principalmente,

em pesquisas prévias realizadas pelos empreendedores com players do mercado imobiliário

da região. Vale ressaltar que os empreendedores já tinham uma grande atuação prévia nesse

mercado e, devido a isso, a sua rede de contatos se tornou valiosa para o projeto.

5.2. Estruturação do trabalho

Para estruturação do trabalho, foi realizada, preliminarmente, uma modelagem, por meio da

Abordagem da Escolha Estratégica, do problema apresentado pela empresa-cliente.

Nesse sentido, sendo a questão “qual preço atribuir ao produto?” a área de decisão levantada,

foram identificadas as áreas de incerteza associadas (no contexto específico da empresa) a

essa dúvida e as inter-relações existentes entre essas áreas. Dessa forma, foi criado um

modelo estrutural em que: informações não obtidas (i.e. áreas de incerteza – e.g. quem são os

produtos substitutos? Qual o preço de cada um?) constituíram os nós; e as relações de

dependência entre essas informações (e.g. para saber os preços dos produtos substitutos, é

necessário saber, primeiramente, quais são esses produtos), as ligações. (Por questões de

espaço, o modelo não foi anexado ao trabalho; contudo, sob demanda, pode ser

disponibilizado pelos autores).

Diante da urgência existente para a tomada de decisão, foi feita uma análise, a partir desse

modelo, das relações de precedência entre os nós, priorizando-se as informações em ordem

decrescente do impacto – direto e indireto – nas demais informações (assim como é feito na

chamada “análise de domínio”, constituinte da análise de topologia de redes – EDEN, 2004).

Dessa forma, foi possível identificar conjuntos (i.e. conglomerados) altamente relacionados

entre si, mas pouco relacionados com os demais, que teriam um grande impacto na decisão de

precificação. Desses, três foram considerados críticos, tendo sido intitulados:

a) “Preço minimamente atrativo do produto”, envolvendo o levantamento de informações

como: “qual é a previsão de vendas para os próximos períodos de tempo?”, “qual é a

previsão de investimento e de despesas iniciais em relação ao produto?”, “quais serão os

custos provenientes da gestão do negócio (administração e produção)?”;

b) “Preços dos produtos substitutos”, envolvendo o levantamento de informações como:

“quais são os produtos substitutos?”, “qual o preço de cada um?”;

c) “Percepção do valor relativo do produto”, envolvendo o levantamento de informações

como: “qual a percepção de potenciais clientes em relação ao valor técnico do produto?”,

“qual a percepção de potenciais clientes em relação ao valor associado ao modelo de

negócio a partir do qual o produto será comercializado?”.

Para cada um desses agrupamentos de variáveis priorizados, foi estabelecida uma frente de

trabalho distinta. A frente de trabalho referente à obtenção de um preço minimamente atrativo

do produto teve o objetivo de projetar um preço mínimo de venda que viabilizasse

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financeiramente o desenvolvimento do projeto de start-up da empresa. A frente relativa aos

preços dos produtos substitutos visou fornecer uma referência do contexto do mercado no

qual o produto inovador pretendia se inserir, sinalizando o espaço de possibilidades existente

para a precificação. Por fim, a frente referente à percepção do valor relativo do produto

objetivou a identificação de um limite superior para o preço e a obtenção de diretrizes

orientadoras para o posicionamento do produto dentro do intervalo estabelecido. Por estarem

relacionadas, as atividades dessas frentes foram realizadas simultaneamente, havendo

retroalimentação dinâmica entre os resultados obtidos.

Assim, apesar de ter envolvido um tempo razoável para a estruturação do problema, a SCA

contribuiu, contudo, para direcionar, estrategicamente, a busca por informações, remindo o

tempo restante e propiciando, com base no modelo, o controle do trabalho realizado, ao

explicitar a contribuição de cada nova informação levantada e a possibilidade de erro por cada

incerteza não resolvida devido à urgência.

5.3. Operacionalização do trabalho

5.3.1. Projeção do preço minimamente atrativo

A projeção do preço minimamente atrativo foi baseada em uma análise de investimento que

contemplou um prazo de projeto de 5 anos, como explicitado anteriormente. Nessa análise,

foram desdobrados o Fluxo de Caixa e a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) de

cada ano. O desenvolvimento da análise foi baseado em Casarotto e Kopitike (2006) e Galôba

e Motta (2002). Para a realização da projeção, foram considerados três fatores principais, dos

quais o preço mínimo do produto é dependente:

a) Meta de produção e vendas relacionadas ao produto: metas de produção e vendas de

acordo com a capacidade de investimento e com uma inferência inicial sobre a

aceitabilidade do mercado ao produto;

b) Investimentos e despesas iniciais: investimentos e despesas iniciais necessários para que o

produto possa ser produzido de acordo com a capacidade de produção almejada;

c) Custos provenientes da gestão do negócio (administração e produção): custos fixos e

variáveis necessários para que a produção do produto e a administração do negócio sejam

compatíveis com a capacidade de produção almejada.

Além dos fatores principais, dos quais o preço é dependente, algumas premissas importantes

foram consideradas na realização da projeção:

a) Foi considerado o Lucro Presumido como forma de apuração dos resultados;

b) Para o cálculo do Valor Presente Líquido (VPL) a partir do Fluxo de Caixa, o valor

residual do projeto foi desconsiderado na análise (uma forma de tornar a análise mais

conservadora, dada a dificuldade vislumbrada de se obter retorno financeiro a partir da

venda dos ativos atrelados ao projeto ao final dos 5 anos);

c) Para as análises dos custos e despesas nos DREs, a forma de custeio considerada foi o

custeio variável, devido à maior facilidade de compreensão deste tipo de análise pelos

empreendedores nos casos de investimentos de uma start-up;

d) Todos os impostos incidentes sobre o negócio foram considerados nas análises, segundo a

legislação em vigor;

e) Foram considerados na análise manutenção, seguros e depreciação (de acordo com a

INSTRUÇÃO NORMATIVA SRF nº 130, 1999) dos bens físicos.

Nesse contexto, foram realizados três tipos de simulações de acordo com diferentes cenários

incluídos na análise de investimentos: projeções “mais prováveis”; projeções “otimistas”; e

projeções “pessimistas”. Como tais projeções seriam realizadas com base em um negócio sem

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precedentes, advindo do desejo de comercialização de um produto inovador, foi consenso que,

nesse contexto, se deveria levar em consideração diferentes cenários. Isso foi definido com o

objetivo de que os empreendedores pudessem ter uma melhor idéia de como o preço

minimamente atrativo do produto poderia variar, de acordo com situações diversas, não

previstas, que poderiam ocorrer tanto referentes ao mercado quanto a atividades internas.

Para cada cenário, ainda foram realizadas duas análises diferentes: ao se levar em

consideração o retorno do projeto, representada pelo seu VPL; e ao se levar em consideração

o resultado anual do projeto em fase madura, com resultado líquido (RL) mensurado na DRE

do 5º ano considerado.

Sendo assim, em cada uma das seis simulações, as premissas e fatores de impacto no

resultado das análises podem ser considerados como parâmetros, o preço pode ser

considerado como uma variável e os dois tipos de função objetivo do problema podem ser

definidos como: minimização do VPL; e minimização do RL do 5º ano. As funções são

dependentes respectivamente das seguintes restrições: VPL maior ou igual a zero; e RL do 5º

ano maior ou igual a zero. As restrições representam a necessidade de que o projeto seja

viável financeiramente, ou seja, que tenha um retorno maior ou igual a zero – para o primeiro

caso, em relação ao seu retorno e para o segundo, em relação ao resultado considerado no seu

5º ano.

Para o cenário mais provável, foi considerado que:

a) A taxa mínima de atratividade (TMA) do projeto foi de 10%, pois foi considerada como

maior que a taxa Selic (aproximadamente 8,6% ao ano) e que a poupança (6,6% ao ano),

no momento da pesquisa, dado o risco do projeto, considerado como acima da média;

b) A produção no último mês do primeiro ano seria de 2.400 t/ano e seria mantida assim para

os quatro anos seguintes, tendo sido gradativamente incrementada no primeiro ano.

Para os cenários pessimista e otimista houve modificações em alguns parâmetros em relação

ao cenário mais provável, de acordo com a análise conjunta da equipe de pesquisa e dos

empreendedores. Na Tabela 1, são apresentados os resultados obtidos.

Cenários

Pessimista Mais Provável Otimista

Parâmetros

TMA 13% 10% 10%

Produção do 12º mês em diante 2400t-(0,3x2400t) 2400t 2400t+(0,3x2400t)

Investimentos e despesas iniciais I+(0,3xI) I I-(0,3xI)

Custos fixos e variáveis C+(0,3xC) C C-(0,3xC)

Resultados VPL → 0⁺ 1,29 1,13 0,94

RL do 5º ano → 0⁺ 1,25 1,10 0,92

Tabela 1 – Resumo dos parâmetros e resultados da projeção do preço minimamente atrativo, com escala dos

resultados alterada por questões de confidencialidade

5.3.2. Posicionamento dos produtos substitutos

Os dados para posicionamento dos produtos substitutos foram obtidos com base tanto em

entrevistas semi-estruturadas, realizadas por telefone, quanto por meio da análise de dados

secundários. O objetivo para com a coleta dos dados foi fornecer informações para possibilitar

que os produtos fossem comparados, dada a restrição de tempo do projeto. Assim, não foi

almejada a possibilidade de se fazer qualquer tipo de inferência. Para a realização da pesquisa,

foram contempladas 31 fontes de dados, incluindo fornecedores e estudos com cotações de

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preços e características de: granitos, porcelanatos, cerâmicas, texturizados e monomassas. O

tratamento dos dados foi realizado por meio de cálculos de medidas de posição (i.e.

percentis).

A pesquisa foi realizada com o objetivo de identificar cada tipo de revestimento substituto,

considerando as suas diferentes configurações (cor; área; espessura; tipo de tratamento do

material), assim como faixa de preço de cada uma em R$/m². Tais preços se referem única e

exclusivamente ao produto em si e, não foram considerados os custos pós-venda tais como:

custos de instalação ou aplicação do material, transporte, entre outros. Por meio da Figura 1 é

explicitado o posicionamento dos produtos em termos das suas características e preços.

5.3.3. Extração da percepção do valor relativo do produto

Dois grupos focais foram realizados para extração da percepção de potenciais clientes acerca

do valor relativo do produto. Do primeiro, participaram 8 pessoas, construtores e arquitetos

decoradores, convidados pelos sócios da ENBT. O objetivo era obter um conceito preliminar

do produto, a ser validado, posteriormente, por outros profissionais que desconhecessem a

empresa. Assim, para o segundo grupo, foi elaborado um instrumento de pesquisa (passível de

disponibilização pelos autores) baseado nas questões mais relevantes levantadas pelos

primeiros entrevistados, tendo sido realizada a análise de conteúdo dos dados (gravados e

transcritos em forma de tópicos). As principais conclusões obtidas dessa análise estão

sumarizadas a seguir:

“Foco inicial em empreendimentos para classe A”, pois, além de ter diferenciais suficientes

para concorrer nesse segmento, uma expansão futura para nichos centrados em classes

mais baixas seria possível alterando-se o preço. Além de o movimento contrário não ser

plausível (pois o setor de alto luxo não adere, em geral, a produtos utilizados em

edificações mais populares), o produto poderia não conseguir competir em preço com

tintas e texturas, caso se direcionasse para as classes mais baixas inicialmente;

“Preço abaixo do preço médio da maioria dos granitos”, uma vez que o produto não

deveria ser apresentado como um substituto de revestimentos pétreos, mas apenas como

uma alternativa ambientalmente mais responsável. Nesse sentido, sugeriu-se que o preço

do produto estivesse entre o das texturas e o de porcelanatos de nível médio;

“Serviço de aplicação associado à venda do produto”, pois a aplicação incorreta poderia

denegrir a imagem do novo revestimento no mercado;

“Mesmo preço para todas as cores”, dado que, para os entrevistados, a variação no preço se

justificaria apenas para o caso de existirem diferenças de desempenho técnico.

5.3.4. Definição do preço do produto

A operacionalização da frente de trabalho voltada para a definição do preço minimamente

atrativo resultou no estabelecimento de um limite inferior para o preço, abaixo do qual não

haveria interesse econômico, por parte dos sócios da empresa, de continuarem investindo no

produto. Já a frente voltada para o mapeamento do posicionamento dos produtos substitutos

propiciou a definição, fundamentada nas opiniões manifestadas nos grupos focais, de um

limite superior para o preço, acima do qual sua comercialização foi considerada inviável pelos

entrevistados. Por fim, a frente voltada para a extração da percepção dos potenciais clientes

acerca do valor relativo do produto, além de ter informado as demais análises, suscitou

comentários relevantes para o posicionamento do produto no espaço-solução resultante dos

limites estabelecidos (Figura 1).

Preço x Categorias de Análise (Produtos Substitutos, Preço Minimamente Atrativo )

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

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Preço do novo

produto

Figura 1 – Gráfico de suporte à definição do preço do produto no âmbito dos limites estabelecidos (com escala

alterada por questões de confidencialidade)

Nesse sentido, uma reunião com os sócios da empresa, visando a esta definição final do preço,

foi realizada. Todos os dados coletados e as respectivas conclusões tiradas foram novamente

apresentados. Por fim, uma sugestão inicial de preço foi proposta para discussão. A

justificativa para o valor proposto foi explicitada a partir dos resultados obtidos nas análises

realizadas, tendo os sócios considerado consistente e satisfatória a sugestão dada,

apropriando-se do resultado, na medida em que ganharam a confiança necessária para se

comprometerem com a atribuição, ao produto, do preço estabelecido (1,90, na escala alterada,

como mostrado na Figura 1).

Esse comprometimento foi um resultado extremamente valioso, uma vez que, apenas dez dias

antes, com base em documentos internos da empresa, as especulações dos sócios acerca do

preço a ser adotado variavam em até cinqüenta por cento do preço acordado na reunião e

tendiam a um valor consideravelmente inferior a este. Portanto, mesmo sob fortes

constrangimentos de tempo, foi possível passar de uma situação marcada por alta incerteza

para uma marcada por alta confiança na decisão tomada.

Como conseqüência, o preço proposto foi praticado na feira de mercado em que o produto foi

lançado. Visando avaliar a adequação da proposta, entrevistas presenciais semi-estruturadas

foram realizadas com as responsáveis pelos estandes nos quais o produto foi exposto (não

vinculadas à empresa e desconhecedoras da vinculação dos entrevistadores), questionando-se

sobre a reação dos interessados ao preço informado. Segundo essas informantes-chave, houve

generalizada aceitação do preço pelos potenciais clientes, tendo havido o interesse por parte

de vários deles pela obtenção do contato da empresa (o que, de fato, se evidenciou nas

semanas seguintes, tendo sido efetivadas as primeiras vendas do produto como resultado da

exposição na feira). Nas palavras das entrevistadas: “não há quem vem e não pede o contato”;

“ninguém contestou o preço”.

6. Conclusão

Alguns modelos teóricos existentes para determinação de preço de produto mostram-se

“matematicamente elegantes, mas contextualmente ingênuos” (ROSENHEAD & MINGERS,

2001), negligenciando restrições empíricas encontradas na prática da precificação. Afinal, sua

aplicabilidade a situações marcadas por incerteza e urgência é consideravelmente limitada,

uma vez que muitos dos dados demandados não existem ou não poderiam ser disponibilizados

em tempo hábil. Nesse sentido, uma adaptação dessas abordagens para essas circunstâncias

faz-se necessária.

Nesse contexto, este artigo relatou a maneira pela qual, a partir de um projeto de pesquisa-

ação, uma metodologia de precificação foi estruturada para o caso particular da definição do

preço de um produto inovador em uma ENBT. Destaque foi dado para a maneira pela qual se

lidou com a falta de informações e com os constrangimentos de tempo a que estavam

submetidos os tomadores de decisão.

O uso da Abordagem da Escolha Estratégica para estruturação do problema enfrentado pelos

membros da organização propiciou a identificação das variáveis particularmente relevantes no

contexto em questão e o direcionamento estratégico da busca por informações, economizando

o escasso tempo disponível para o comprometimento com uma decisão. A consideração de

múltiplos cenários na análise de investimento minimizou o impacto da imprecisão dos dados

na projeção do preço minimamente atrativo. A identificação de produtos substitutos a partir

da aplicação-alvo – mesmo não havendo, no mercado, nenhum produto da mesma natureza

que o produto desenvolvido – permitiu a visualização do espaço de possibilidades para a

precificação. Por fim, a confrontação entre os resultados da realização de dois grupos focais –

diferenciados pelo envolvimento de potenciais clientes com diferentes níveis de conhecimento

prévio sobre o produto – forneceu um embasamento consistente (tendo em vista o tempo

13

disponível) para o estabelecimento de algumas diretrizes norteadoras para o posicionamento

do preço do produto no espaço mapeado.

É importante ressaltar, contudo, que projetos de pesquisa-ação, como o relatado neste artigo,

devem ser compreendidos como estudos de situações únicas, que não levam diretamente à

obtenção de proposições generalizáveis. A investigação tende a ser localizada, aplicada a

casos específicos. Nesse sentido, cada intervenção é, em certa medida, particular ao ambiente

organizacional estudado – fato que tem gerado críticas à metodologia por sua falta de

repetibilidade e, segundo os críticos, conseqüente falta de rigor. Contudo, defende-se que o

acúmulo de um número considerável de intervenções em casos semelhantes pode e deve

contribuir para a evolução da teoria até conclusões mais gerais (EDEN & HUXHAM, 1996).

Nesse sentido, este trabalho constitui-se como uma referência inicial para o estudo da

precificação de produtos inovadores em ENBTs. Novas pesquisas, focadas nesse contexto

organizacional específico, poderão refinar a compreensão sobre como a precificação de

produto pode ser realizada em circunstâncias marcadas por incerteza e agravadas por

constrangimentos temporais.

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