PPGTE – PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

LINHA DE PESQUISA: TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

Orientação indicada:1ª) Professor Hélio Gomes da Carvalho2ª) Professora Faimara do Rocio Strauhs

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM TRIBUNAL TRABALHISTA COMO

MEIO DE EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA PARA A EFETIVIDADE NA

PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Joneson TeodoroTribunal Regional do Trabalho da 9ª Região – Paraná

jonesonteodoro@trt9.jus.br

Resumo: Esta proposta de trabalho demonstra o paradoxo da Administração Pública do Poder Judiciário brasileiro ao ser demandado e escrutinado pela sociedade e, ao mesmo tempo, ter grande dificuldade em melhor gerir seus recursos para poder atender o aumento da demanda com celeridade e efetividade. Procura analisar como o Judiciário mitiga esse paradoxo ao desenvolver soluções de modernização administrativa. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão criado para modernizar o Poder Judiciário, definiu o planejamento estratégico como instrumento obrigatório para melhoria da gestão das cortes judiciais. Ante esse comando do CNJ, o objetivo principal deste trabalho é estudar a implantação e execução do planejamento estratégico, com o uso do Balance Score Card (BSC), como sistema de gestão do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT-PR). O BSC foi desenvolvido pelos pesquisadores David P. Norton e Robert S. Kaplan, da universidade americana Harvard Business School, em meados de 1990. O sistema de gestão BSC permite traduzir a estratégia em ações operacionais e controlá-las, direcionando os esforços para a sua realização. Como essa ferramenta de gestão poderá contribuir para a gestão do tribunal e para a efetividade na prestação jurisdicional aos trabalhadores paranaenses? A metodologia da pesquisa será o estudo de caso com enfoque longitudinal, pois o projeto pretende estudar, nos termos conceituais de Best (1967) apud Salomon (2010), “a interação dos fatos que produzam mudança” e “diagnosticar o problema e indicar medidas de reabilitação”.

Palavras Chave: administração pública; judiciário; planejamento estratégico; sistema de gestão.

1.Caracterização do problema e justificativa

No âmbito do setor público brasileiro, a ideia de “modernização administrativa”

tem sido mais orientada para como as coisas são feitas do que para o cidadão beneficiário

dos serviços públicos. É uma ambiguidade conveniente para os políticos, pois “não fica

claro o seu significado e que coisas deveriam ser feitas; não define claramente os

problemas a serem enfrentados; e não é associado com o sentido de urgência. Esse tipo de

resposta às mudanças que veem impactando o Estado e a governança tem produzido os

efeitos perversos e retardados que seriam de esperar” (CUNHA, 2010, p. 128).

Essa “ambiguidade” não é diferente na Administração do Poder Judiciário

brasileiro. O escrutínio sobre o Judiciário vem crescendo na forma de cobranças sociais por

maior eficiência na prestação jurisdicional. Ainda, com a criação do Conselho Nacional de

Justiça (CNJ)1, cresceu a expectativa da sociedade de que o Judiciário também possa

prestar contas aos cidadãos, no âmbito do conceito de accountability. Nesse contexto, a

avaliação sobre o Judiciário deve envolver não só metodologias que incorporem aspectos

quantitativos, mas também critérios qualitativos no aferimento de produtividade,

eficiência e efetividade de cortes e magistrados (CONSELHO..., 2011, p. 7, grifo nosso).

Assim, o CNJ iniciou uma nova fase da Reforma do Judiciário: “a modernização

administrativa através do planejamento estratégico obrigatório” (FALCÃO; org.

GUERRA, 2009, p. 14).

Segundo Salomon (2010), um problema “requer um tratamento científico a (...)

um desafio à sua capacidade solucionadora, revestida de notas de relevância: operativa,

contemporânea, humana” (SALOMON, 2010, p. 154-155). Uma melhor gestão do

Judiciário é uma relevância contemporânea, pois se “refere à atualização, à novidade (...)

ou se apresenta como uma necessidade da época e do local onde se realiza” (SALOMON,

2010, p. 155). Esta é a relevância contemporânea do tema objeto desse projeto de pesquisa,

o qual será focado na implantação do planejamento estratégico no Tribunal Regional do

Trabalho da 9ª Região (TRT-PR). No que se refere aos conceitos do planejamento

1As Emendas Constitucionais nº 19/1998 e 45/2004 são conhecidas respectivamente como Reforma Administrativa e Reforma do Judiciário. A primeira alterou o caput do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao acrescentar o princípio da eficiência como norteador das atividades praticadas pela Administração Pública, resultado do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), elaborado em 1995, pelo então Ministro Bresser Pereira. A segunda, ao acrescentar o inciso LXXVIII no artigo 5º da Carta Magna, conferiu aos institutos da celeridade e da razoável duração do processo, status de norma constitucional, dentre outros institutos para promover a celeridade processual (como a Súmula Vinculante, por exemplo), bem como criou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como órgão responsável pelo controle externo administrativo do Poder Judiciário, além de ampliar a competência da Justiça do Trabalho.

estratégico, considerar-se-á a metodologia recomendada pelo CNJ a todo Poder Judiciário,

denominada “Balance Scorecard (BSC)”. Tal ferramenta de gestão é a que está sendo

implantada na Corte Trabalhista paranaense para o quinquênio 2012-2016. Ou seja, a

pesquisa é original no sentido de que há poucos estudos sobre o impacto do BSC na gestão

de cortes judiciais brasileira, em especial na organização foco da pesquisa, o TRT-PR, que

está iniciando a gestão orientada à estratégia com o BSC.

O “BSC” foi desenvolvido pelos pesquisadores David P. Norton e Robert S.

Kaplan, da universidade americana Harvard Business School, em meados de 1990. O

sistema de gestão BSC permite traduzir a estratégia em ações operacionais e controlá-las,

direcionando os esforços para a sua realização (KAPLAN; NORTON, 2000, p. 81-84).

Torna-se, portanto, obrigatória a revisão da literatura das obras de Norton e Kaplan, posto

que tal metodologia de planejamento estratégico (BCS) foi desenvolvida por esses dois

autores. Além desse referencial teórico, o estudo também será pautado nas publicações

oficiais de órgãos do Judiciário (CNJ, CSJT, TST) que se referem a temas como efetividade

na prestação jurisdicional e o planejamento estratégico para o alcance de uma justiça célere

e efetiva. Quanto aos aspectos e conceitos da Administração Pública Gerencial, serão

utilizados os constantes da obra do Professor Luiz Carlos Bresser Pereira (2006).

No que se refere à pertinência temática do projeto, verifica-se no sítio do PPGTE,

na internet2, que um dos objetivos da linha de pesquisa “tecnologia & desenvolvimento” é a

investigação de uma organização, por meio de métodos de análise e diagnóstico, para

avaliar a racionalidade no uso da tecnologia e a consequente redução dos impactos

negativos ao homem e seu meio.

A tecnologia de gestão orientada à estratégia, por meio do BSC, poderá melhorar a

eficiência operacional do TRT-PR e trará impacto no mercado de trabalho do Paraná, pois,

segundo Mendes (2007), a Justiça do Trabalho tem a função de regular a assimetria entre o

capital e o trabalho surgida no Brasil em decorrência das especificidades de sua

industrialização tardia3. Considerando isso, o projeto é pertinente à linha de pesquisa do

PPGTE no qual pretende atuar.2 http://www.ppgte.ct.utfpr.edu.br/linhas-de-pesquisa#TD. Acessado em: 06 out. 20113 Mendes (2007) conclui que a Justiça do Trabalho “insere um elemento normalizador das relações de trabalho, através de procedimentos judiciais formais, tanto em nível de contrato individual, como no contrato coletivo, já que, como elemento simbólico, o que é julgado pelo sistema de justiça transforma-se na síntese do ‘justo’ para a comunidade”. A regulação do trabalho pelos próprios trabalhadores e capitalistas foi substituída, no processo de industrialização tardia brasileira, na “regulação pública do mercado de trabalho e na peculiar interação do sistema de relações de trabalho com duas faces do Estado: o Poder Executivo e o Poder Judiciário”. A estratégia de desenvolvimento nacional ganha mais dramaticidade no caso brasileiro, pois o Brasil tinha que se industrializar intensamente enquanto superava sua economia agrária mercantilista. (MENDES, 2007, p. 26-33).

2. Objetivos almejados

É na gestão do processamento das demandas judiciais que se apresentam os

sintomas mais visíveis da morosidade e da denominada “crise do Judiciário”, pois “nossa

era vive um paradoxo. Enquanto se avolumam as críticas à Justiça – à sua lentidão, o seu

hermetismo e distanciamento do povo, à sua onerosidade e à complicação do processo –

nunca se verificou tamanha explosão na demanda pelo Judiciário” (NALINI; apud

FREITAS, 2010, p. 212). A Administração do Poder Judiciário é carente de método

administrativo eficiente e eficaz para dar vazão em tempo razoável à elevada quantidade de

processos que aumenta a cada ano.

Este estudo tem como objetivo principal pesquisar o processo de implantação do

planejamento estratégico e sua execução, com uso da ferramenta Balance Score Card

(BSC), bem como aferir se a implantação e execução do sistema de gestão do TRT-PR,

baseado no BSC, proporcionarão eficiência operacional e em qual nível de excelência.

3. Metodologia e estratégia de ação

Considerando a linha de pesquisa do PPGTE na qual o autor do projeto pretende

atuar, a de “tecnologia & desenvolvimento”, bem como que o projeto é pertinente a esta

linha, conforme demonstrado no item 1. O objeto da pesquisa será a investigação do

processo de implantação e execução do planejamento estratégico numa organização estatal

judicial, o TRT-PR, cuja função jurisdicional impacta no mercado regional de trabalho,

conforme Mendes (2007). A pesquisa será de cunho descritivo com delineamento dos fatos

(descrição, registro, análise e interpretação do processo de implantação e execução do BSC)

com enfoque na aplicação à solução de problemas, no caso, a mudança do atual sistema de

gestão do TRT-PR para um sistema orientado à estratégia na ferramenta BSC.

Portanto, nos termos conceituais de Best (1967) apud Salomon (2010), a

metodologia de trabalho será a de Estudo de Caso com enfoque longitudinal, pois o projeto

de pesquisa pretende estudar “a interação dos fatos que produzam mudança” e

“diagnosticar o problema e indicar medidas de reabilitação” (BEST; apud SALOMON,

2010, p. 159-161).

4. Resultados e impactos esperados

Segundo a publicação do CNJ, Justiça em Números de 2010, o TRT-PR teve em

2010 uma despesa de R$ 546 milhões e arrecadou em taxas e impostos R$ 416 milhões. Do

total da despesa, 82% foi dispêndio com recursos humanos para remunerar um quadro de

2.947 pessoas (195 magistrados, 2.211 servidores efetivos e 541 do quadro auxiliar). Em

2010 foram ajuizados 218.174 processos, havendo 195.047 processos pendentes de anos

anteriores. Foram baixados (decididos com sentença e decisões) 204.991 processos em

2010 nas 81 varas do trabalho (primeiro grau) e nos gabinetes dos 28 desembargadores do

trabalho (segundo grau). Em 2010 teve um custo por processo de R$ 2.609, inferior ao

custo médio nacional da Justiça do Trabalho, que foi de R$ 3.218 por processo. À título de

comparação, a Justiça Estadual do Paraná custou R$ 999 por processo e a Justiça Federal da

4ª Região (PR-SC-RS), R$ 1.429 por processo. A taxa de congestionamento4 no 2º grau foi

de 32,6% e no 1º grau foi de 34,7%, ante as taxas médias nacionais de 27,7% e 35,8%,

respectivamente dos 2º e 1º graus, da Justiça do Trabalho. (CONSELHO..., 2010).

Extrai-se dos números acima que a redução da taxa de congestionamento resultará

em maior efetividade do tribunal. Espera-se que com o cumprimento das metas dos

indicadores vinculados aos objetivos estratégicos, constantes do Mapa Estratégico,

proporcione a eficiência operacional do TRT-PR e, com isso, a redução da taxa de

congestionamento.

O resultado finalístico do sistema de gestão na ferramenta BSC aplicado ao setor

público é fazer com que a prestação jurisdicional, um serviço público exclusivo do Estado,

nas palavras de Bresser Pereira (2006, p. 34) “seja ocupado por servidores públicos

altamente competentes (...) que entendam o ‘ethos’ do serviço público como o dever de

servir ao cidadão”.

5. Referências

4 A taxa de congestionamento é um indicador que mede a efetividade do tribunal em um período,  levando-se em conta o total de casos novos que ingressaram, os casos  baixados e o estoque pendente ao final do período. Ele tem analogia direta com uma caixa dágua, que quando dá vazão ao volume que entra e mantém um nível baixo, resulta numa baixa taxa de congestionamento. Ao contrário, quando não dá vazão ao que entra e ainda mantém um estoque alto resulta numa alta taxa de congestionamento. É calculado pela seguinte fórmula: 1 – (TPJB/(TCN+TCP)), onde TPJB – Total de processos judiciais baixados; TCN – Total de casos novos; e TCP – Total de casos pendentes. Fonte: CNJ

BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos; SPINK, Peter. (Org.). Reforma do estado e administração pública gerencial. 7.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Avaliação do desempenho judicial: desafios, experiências internacionais e perspectivas. Departamento de Pesquisas Judiciárias. Brasília: CNJ, 2011. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/dpj/seer/index.php/CNJA/article/view/40/69>. Acessado em: 06 out. 2011

_____________. Justiça em números. Departamento de Pesquisas Judiciárias. Brasília: CNJ, 2010.

CUNHA, José Ricardo (Org.). Poder judiciário: novos olhares sobre a gestão e jurisdição. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010

FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Dario Almeida Passos de (Coord.). Direito e administração da justiça. 1.ed. Curitiba: Juruá, 2006.

GUERRA, Sérgio (Org.). Transformações do estado e do direito: novos rumos para o poder judiciário. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.

KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. Organização orientada para a estratégia: como as empresas que adotam o balance score card prosperam no novo ambiente de negócios. 20.reimpressão. Tradução: Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

MENDES, Marcus Menezes Barberino. Justiça do trabalho e mercado de trabalho interação entre poder judiciário e a regulação do trabalho no Brasil. 1.ed. São Paulo: LTr, 2007.

SADEK, Maria Teresa (Coord.). Magistrados: uma imagem em movimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 12.ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.