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PRATICAS EDUCATIVAS DIFERENCIADAS: CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO LER E PENSAR PARA O APRENDIZADO DA LEITURA CRITICA E DA ESCRITA ARGUMENTATIVA OGAWA, Mary Natsue – SME [email protected] FURTADO, Andréa Garcia - SME [email protected] Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O projeto Ler e Pensar, desenvolvido nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, em parceria com o Instituto Rede Paranaense de Comunicação – RPC, objetiva estimular no estudante o interesse pela leitura. Tem como premissa a utilização da mídia escrita como elemento propulsor para a potencialização do aprendizado em leitura, e estabelece como prioridade o desenvolvimento da criticidade na interpretação dos textos e da possibilidade de compreender os fatos e a sua significação no contexto social do aluno. A Secretaria Municipal de Educação vem desenvolvendo concomitantemente ao trabalho com o jornal impresso, a proposta de utilização do jornal on-line. Esta modalidade de trabalho pedagógico parte da leitura, interpretação e análise do jornal impresso como etapas para a elaboração e escrita do jornal eletrônico, ferramenta educativa que envolve saberes que perpassam as áreas do conhecimento inerentes ao processo de formação acadêmica do estudante e também da construção da cidadania. O estudo em questão é um relato de experiência de escolas desta rede de ensino, e visa discutir a articulação da leitura de jornais com a escrita dos jornais na escola, como o “mural” e o “eletrônico”. Este estudo de caráter investigativo está fundamentado em Freinet (1974) e Faria (2001) em relação ao uso do jornal em sala de aula, e Koch (2006), que discute leitura e a compreensão textual. O acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos nestas escolas aponta para uma significativa melhora na produção de textos, indicando ampliação do vocabulário, aperfeiçoamento quanto à utilização da gramática e ortografia, e textos mais críticos dos estudantes. Palavras-chave: Leitura. Escrita. Jornal na sala de aula. Introdução O estudo aqui apresentado tem como proposta discutir e apresentar alguns elementos presentes no projeto Ler e Pensar.

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PRATICAS EDUCATIVAS DIFERENCIADAS: CONTRIBUIÇÕES

DO PROJETO LER E PENSAR PARA O APRENDIZADO DA LEITURA

CRITICA E DA ESCRITA ARGUMENTATIVA

OGAWA, Mary Natsue – SME

[email protected]

FURTADO, Andréa Garcia - SME [email protected]

Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo O projeto Ler e Pensar, desenvolvido nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, em parceria com o Instituto Rede Paranaense de Comunicação – RPC, objetiva estimular no estudante o interesse pela leitura. Tem como premissa a utilização da mídia escrita como elemento propulsor para a potencialização do aprendizado em leitura, e estabelece como prioridade o desenvolvimento da criticidade na interpretação dos textos e da possibilidade de compreender os fatos e a sua significação no contexto social do aluno. A Secretaria Municipal de Educação vem desenvolvendo concomitantemente ao trabalho com o jornal impresso, a proposta de utilização do jornal on-line. Esta modalidade de trabalho pedagógico parte da leitura, interpretação e análise do jornal impresso como etapas para a elaboração e escrita do jornal eletrônico, ferramenta educativa que envolve saberes que perpassam as áreas do conhecimento inerentes ao processo de formação acadêmica do estudante e também da construção da cidadania. O estudo em questão é um relato de experiência de escolas desta rede de ensino, e visa discutir a articulação da leitura de jornais com a escrita dos jornais na escola, como o “mural” e o “eletrônico”. Este estudo de caráter investigativo está fundamentado em Freinet (1974) e Faria (2001) em relação ao uso do jornal em sala de aula, e Koch (2006), que discute leitura e a compreensão textual. O acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos nestas escolas aponta para uma significativa melhora na produção de textos, indicando ampliação do vocabulário, aperfeiçoamento quanto à utilização da gramática e ortografia, e textos mais críticos dos estudantes. Palavras-chave: Leitura. Escrita. Jornal na sala de aula.

Introdução

O estudo aqui apresentado tem como proposta discutir e apresentar alguns elementos

presentes no projeto Ler e Pensar.

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O projeto Ler e Pensar tem como proposta o incentivo a leitura entre os estudantes a partir da

utilização do jornal, entendido aqui como fonte de informações e ferramenta para o aprimoramento

da leitura e interpretação, e o aperfeiçoamento da produção escrita como consequência da prática da

leitura.

A formação de um leitor crítico é resultado do exercício constante em leitura dos diversos

gêneros textuais, e esta criticidade vai se refletir na escrita com opinião, e principalmente na

construção da leitura de mundo. Segundo as palavras do educador Paulo Freire “a leitura do mundo

precede sempre a leitura da palavra” (1990, p.11), todavia, a leitura da palavra não se limita ou se

conclui na decodificação dos grafemas, mas se articula à vivência e aos saberes do mundo e da

sociedade, elementos que conferem sentidos e significação às palavras.

O entendimento das relações sociais se faz perceptível a partir do acesso às informações e da

adequada interpretação dos fatos. E a possibilidade de intervenção nas relações que se estabelecem

na sociedade, só se materializa na real compreensão da leitura da palavra e do mundo.

A leitura é indiscutivelmente um problema da sociedade. O desenvolvimento econômico é condicionado pela possibilidade que todos os homens e mulheres ativos (e não apenas certas camadas sociais) tem de tratar a informação escrita de uma maneira eficaz. (MORAIS, 1996, p. 19)

A importância do jornal neste processo está na possibilidade de democratizar as informações e

conhecimentos, e o papel do professor que utiliza o jornal como ferramenta educativa é oportunizar

ao estudante a reflexão sobre as informações e a consequente reelaboração em direção à escrita

argumentativa e ao posicionamento crítico diante dos fatos, ou seja, a meta do professor que realiza

este trabalho é efetivar uma leitura de mundo, na qual deve estar implícita a formação crítica e

cidadã.

A concepção atual de sociedade nos remete a uma aproximação com a realidade social, ou

seja, não cabe a escola somente educar, mas também criar condições de acesso aos bens culturais e

formar cidadãos no estrito sentido da palavra. Educar nesta perspectiva passa pela busca de

alternativas pedagógica que criem vínculos profícuos entre os saberes escolares e o conhecimento

socialmente instituído. Requer ainda um profissional que esteja atento a dinâmica social e que

utilize a diversidade cultural a favor do processo educativo, transformando informação em

conhecimento. O trabalho com jornal traz justamente esta possibilidade: a análise da informação e

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sua reinterpretação a partir do contexto do estudante, sua bagagem cultural e sua conseqüente re-

elaboração a partir dos conteúdos postos no currículo escolar.

Com vistas a esta formação crítica, o projeto Ler e Pensar propõe também o trabalho com o

jornal on-line que tem como premissa a utilização das tecnologias educacionais, articulando-as às

atividades de leitura, decorrentes do uso do jornal em sala de aula, conferindo uma nova dinâmica

ao aprendizado escolar. A experiência do trabalho com mídias e tecnologias a serviço da educação,

assentada em uma adequada base teórica e orientação contínua do professor, possibilitará, sobretudo

em uma reflexão crítica sobre mídia, tecnologias e informação, elementos necessários para o

desenvolvimento social na contemporaneidade.

Entretanto falar em desenvolvimento social significa falar também em educação de qualidade,

que só será possível a partir do compromisso ético de seus profissionais que buscam nas práticas

educativas diferenciadas o melhor caminho para a construção social e a formação do estudante que

irá intervir e agir criticamente nesta sociedade.

O Jornal na Sala de Aula

A busca por alternativas pedagógicas que favoreçam o aprendizado, particularmente da

leitura e escrita, perpassa as diferentes épocas e educadores. O trabalho com jornal em sala de aula

faz parte deste contexto, inscrevendo-se como busca por opções atrativas e mesmo prazerosa de

exercitar e leitura e possibilitar assim, a escrita de forma qualitativa.

Na década de 20, o pedagogo francês Célestin Freinet recorre a um curioso instrumento para

enriquecer suas aulas: a tipografia. A partir da articulação desta à prática em sala de aula, Freinet

daria vazão ao surgimento da imprensa escolar.

A implementação da imprensa escolar como atividade rotineira no universo escolar, iniciaria

um trabalho não só de incentivo a leitura e escrita, mas de motivação pelo aprendizado e gosto pelo

aprender. Faziam parte deste contexto, atividades como a correspondência interescolar, o jornal

escolar, viagens-intercâmbios.

Fruto deste trabalho realizado com paixão por educador e educandos o texto livre, nascido

das diversas produções exercitadas nas tipografias, será o elemento indicador de uma pedagogia

voltada para a práxis, com o objetivo de efetivar qualitativamente o processo aprendizagem da

escrita e da leitura, com resultados positivos visíveis na produção intelectual de seus estudantes.

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A imprensa escola acabou por se mostrar um método completo de ensino-aprendizagem,

visto que não apenas propiciava a aprendizagem da leitura, como também instigava melhores

produções escritas. Contudo o trabalho com a imprensa escolar partia da elaboração e confecção do

jornal escolar, e posteriormente do jornal mural, ou seja, partia da produção escrita, tendo como

consequência a leitura. A criticidade das produções ficava relegada a um segundo plano.

É certo que o contexto social e histórico em que ocorre a implementação desta atividade

determinou os rumos do aprendizado daqueles para a qual empregada. Ainda assim, o advento da

imprensa no cotidiano escolar tornou-se referência para outras experiências desta natureza,

refletindo-se nos mais variados projetos de leitura e escrita com a utilização do jornal em sala de

aula, por todo o mundo.

No decorrer da história da educação, outros estudiosos lançaram seus olhares e também

contribuições sobre o jornal como recurso pedagógico. Mais contemporaneamente, citamos Bahia

(2007), Camargo (2006) e Ferreira (2006) que trataram do uso do jornal em sala de aula enquanto

proposta de parcerias por parte da iniciativa privada, caso do projeto Ler e Pensar. Faria (2001) e

Rodrigues (2006) abordaram o tema a partir da formação continuada de profissionais e a sua

intervenção na prática educativa.

A proposta de utilização do jornal em sala de aula tem como meta elevar a patamares mais

eficientes a leitura e consequentemente a escrita, mas traz sobretudo a possibilidade de oportunizar

aos educando maiores espaços na sociedade, visto que o acesso à informação tende não somente

democratizar conhecimento, mas principalmente propiciar a elaboração de novos conhecimentos

que se constroem a partir da articulação do conhecimento prévio do sujeito à interpretação adequada

das informações que são veiculadas diariamente.

Ainda que o acesso á Informações seja possível por meio de diversos canais, sem o devido

preparo e orientação, estes subsídios se perdem, se tornam vazios em seu conteúdo. A necessária

interpretação crítica da informação se faz com base no aprendizado da leitura, da palavra e do

mundo, conforme Melo (1985).

Neste contexto, o jornal contribui não somente como material para o incentivo a leitura, mas

propicia o desenvolvimento de noções de cidadania (FARIA, 2001:91), possibilita ainda a

constituição de um senso crítico necessário para o exercício de “ler e interpretar” o mundo, pois “o

domínio do saber representa condição indispensável para o exercício da cidadania” (MELO,

1985:10).

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Quando o professor faz uso do jornal em sala de aula possibilita a articulação entre o mundo

e a escola, favorece a contextualização dos fatos e conteúdos escolares (BAHIA, 2007:174). Esta

aproximação torna o aprendizado mais significativo e implica na afirmação de um posicionamento

em que participação do estudante na rotina escolar se constrói de maneira ativa e crítica.

O conceito de letramento, tão atual na contemporaneidade, se traduz justamente no ir além

das linhas, em extrapolar as entrelinhas e ter condições de interpretar e principalmente se posicionar

frente aos fatos sociais. Somente uma prática pedagógica efetiva e condizente com os objetivos

propostos para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, justa e igualitária em

que todos tenham iguais condições de acesso e permanência a uma educação de qualidade.

Neste contexto, é preciso pensar praticas educativas que tenham em seu bojo a emancipação

política e a criticidade como cerne do aprendizado.

O Projeto Ler e Pensar

O projeto Ler e Pensar parte também da experiência de Celestin Freinet, objetivando

primordialmente o incentivo à leitura e escrita de forma prazerosa, interessante e desafiadora.

Embora, assim como a imprensa escolar de Freinet também parta do uso do jornal, diferencia-se em

alguns aspectos práticos, pois utiliza o jornal imprenso como base para a leitura e interpretação das

notícias, para então partir para a estruturação do jornal, seja no formato jornal da escola, do jornal

mural ou do jornal eletrônico.

O formato deste projeto prevê a discussão da estrutura do jornal de forma que o estudante

possa se familiarizar com o mesmo e entender a distribuição das informações no jornal e o porquê,

qual a lógica desta distribuição, por que abordar as notícias em cadernos temáticos (esporte,

política, classificados, etc.), direcionando o conteúdo de acordo com a preferência ou interesse de

cada consumidor. Trabalha também com a seleção de informações por temas: as hemerotecas, que

se constituem em fontes de pesquisa criadas pelos próprios estudantes.

Todas estas atividades vão implicar em ler e compreender. Em um primeiro momento, a

leitura se faz buscando o entendimento daquilo que se lê, entretanto esta leitura, adequadamente

orientada, irá ser aprofundada com discussões que possibilitem o pensar sobre o que se lê e buscar

além do que está pautado nas linhas, ler as entrelinhas, tornando-se, portanto, um leitor crítico com

reais condições de opinar, intervir e questionar informações e pontos de vistas, muitas vezes ocultos

nas notícias que são veiculas pelas mídias.

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Como fruto deste trabalho também a escrita é aprimorada, pois em consequência da

intensificação da leitura com um material diversificado, com um vocabulário amplo e diverso, a

produção escrita será enriquecida com maiores possibilidades, seja em termos de conteúdo,

gramática e ou ortografia, ou seja, o estudante que lê e compreende a realidade tem maiores chances

de opinar, de expressar por escrito, de argumentar e defender o seu posicionamento sobre

determinado assunto ou acontecimento.

Outro espaço incorporado ao trabalho com o jornal como recurso pedagógico é o das

tecnologias de informação e comunicação, em especial o jornal eletrônico. A construção do jornal

eletrônico ou on-line requer não somente a compreensão da estrutura do jornal, a utilização da

linguagem adequada, tipologia, etc., mas exige o domínio dos recursos tecnológicos, e

principalmente a organização do trabalho em equipe, pois cada etapa da construção do jornal

eletrônico prescinde de cuidados e atenção. Embora toda produção escrita deva ser cuidadosamente

organizada, no caso do jornal eletrônico, deve-se considerar o alcance deste, o que certamente irá

exigir maior preocupação por parte de seus criadores.

A produção do jornal seja ele eletrônico, mural, impresso a partir do trabalho com os

recursos tecnologias, traz variadas possibilidades pedagógicas, visto que implica no domínio da

tecnologia da informação, no adequado uso e interpretação das informações, e principalmente na

articulação destas com o contexto social.

Fazer uma incursão pelo mundo digital, articular idéias e relacioná-las ao mundo e aos fatos

que ocorrem diariamente só é possível diante de uma formação verdadeiramente crítica. Para tal a

escola deve proporcionar ao estudante condições de ler e interpretar o mundo em suas diversas

nuances, contribuindo assim para que o mesmo seja capaz de opinar, argumentar e posicionar-se

diante das questões sociais.

Esta criticidade aqui proposta está muito além dos livros didáticos, mas está centrada nos

fatos sociais, no entendimento das entrelinhas, na leitura de mundo, da qual o jornal é um dos

principais canais de acesso.

O projeto Ler e Pensar é desenvolvido nas escolas da Rede Municipal de Educação de

Curitiba desde 2003, atualmente das 174 escolas da RME, 78 participam do projeto. Deste total, 48

escolas desenvolvem o projeto somente na modalidade on-line. Embora se trate de uma modalidade

de trabalho recente, incentivada pela Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, que

disponibiliza todos os recursos necessários para tal, ainda requer uma maior caminhada entre os

professores, porém algumas unidades já têm se destacado, servindo de modelo e estímulo. Realizam

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o trabalho de leitura do jornal a partir da interface com os canais tecnológicos disponíveis em

nossas escolas, e aprimoram sua escrita na postagem das notícias, que são rigorosamente verificadas

e avaliadas para este fim. Obviamente, este trabalho também se reflete na produção escrita em sala

de aula e na articulação com outros conteúdos escolares.

A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba vem desde 2007 realizando

sistematicamente avaliações em todas as escolas da rede nas áreas de língua portuguesa e

matemática. Estas avaliações têm como objetivo não somente verificar o processo ensino-

aprendizagem, mas principalmente orientar o trabalho quanto a estes resultados. A partir das

análises realizadas o trabalho pedagógico é reorganizado no sentido de intensificar e aprimorar o

ensino de conteúdos que indiquem baixos índices de aproveitamento escolar.

Para assegurar a eficácia deste trabalho, a SME tem investido cada vez mais em cursos de

capacitação e formação contínua, produção e implementação de materiais pedagógicos que

condizem com as Diretrizes Municipais para a Educação de Curitiba, como os cadernos

pedagógicos nas diversas áreas do conhecimento, aplicação de projetos de atividade complementar,

e tem realizado o acompanhamento constante junto ao corpo docente das escolas. Como resultado

deste trabalho as escolas da RME vem elevando significativamente o seu Índice de

Desenvolvimento de Educação Básica - IDEB.

As escolas que desenvolvem o projeto Ler e Pensar apresentam também um relevante

aumento no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica, o que aponta para a necessidade de

verificar-se em que grau o trabalho com jornal contribui para compor os índices do IDEB e qual os

seus efetivos resultados no aprendizado da leitura e escrita.

Relatos

O desenvolvimento do projeto Ler e Pensar prevê, como parte de sua programação, reuniões

periódicas para o acompanhamento do projeto. O objetivo desses encontros é perceber de que

maneira o projeto tem sido realizado nas escolas e qual o envolvimento do grupo de professores.

Mas o ponto principal desta integração entre as escolas participantes do projeto é o momento de

apresentação dos trabalhos desenvolvidos. Todos têm a oportunidade de mostrar o que tem sido

feito em sala de aula, e ocorre uma intensa troca de experiência quanto às praticas pedagógicas com

o jornal.

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O acompanhamento das escolas que realizam o trabalho com o projeto Ler e Pensar aponta

resultados relevantes, em especial quanto a compreensão da leitura e produção escrita.

Na escola que aqui iremos denominar como escola X, que participa do projeto desde 2003, a

professora que acompanha a turma durante as duas etapas que compreende o ciclo II, relata as

transformações de cunho qualitativo que são visivelmente perceptíveis quanto à escrita de seus

alunos. A escola em questão, em 2005, teve como rendimento o índice de 3,8 no IDEB; em 2007,

apresentou um crescimento de 34,2% em relação a 2005, com um índice de 5,1. Em 2009, a escola

obteve como índice 5,4.

É importante pontuar que a partir de 2008, o projeto passou a ser desenvolvido somente no

Espaço de atendimento em contraturno vinculado à escola. Neste espaço os estudantes não são

agrupados por turma, mas somente por idade. Logo pode coincidir de estudantes de uma mesma

turma freqüentarem conjuntamente o contraturno ou ainda do grupo de estudantes deste espaço

serem oriundos de turmas diferentes. Desta forma se torna mais difícil mensurar o rendimento de

uma turma com base no desenvolvimento do projeto Ler e Pensar, pois alguns dos estudantes da

turma participam do projeto, enquanto outros não.

Outro importante indicativo a ser considerado nesta analise são os resultados da avaliação de

rendimento escolar da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Tais avaliações realizadas

anualmente trazem resultados qualitativos quanto ao rendimento dos estudantes nas áreas do

conhecimento.

Realizada uma comparação em relação a uma escola que não tem participado do projeto nos

últimos anos, os resultados quanto à língua portuguesa, particularmente quanto à produção textual,

interpretação, inferência, e argumentação, os estudantes da escola participante do projeto têm

apresentado maior número de acertos nestas questões.

Ainda que não tenhamos até o presente momento, instrumentos que dê conta de mensurar

em que medida os efeitos da participação no projeto, compõem os índices e resultados das

avaliações, é possível o apontamento dos benefícios quanto a aplicação do projeto em relação à

desenvoltura dos estudantes na área de língua portuguesa de demais áreas do conhecimento.

Embora a escola participe desde 2003 do projeto, ano em o mesmo teve início na rede

municipal, é preciso considerar a necessidade de um determinado intervalo de tempo, para que se

possam observar os resultados de um trabalho específico.

Obviamente, são vários os fatores que incidem sobre os índices do IDEB, não sendo ainda

possível mensurar em números em que medida o desenvolvimento do projeto contribuiu para esta

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elevação, pois a Rede Municipal de Ensino de Curitiba tem como já citado anteriormente, investido

nas diversas frentes para efetivar a melhoria da qualidade na educação. Contudo não se pode

também desconsiderar a aplicação de atividades envolvendo o uso do jornal e os resultados do

mesmo.

Diversos são os relatos sobre o avanço dos alunos em leitura e escrita, e em especial na fala

daquelas professoras que acompanham suas turmas de uma etapa para outra do ciclo, dando

continuidade ao trabalho com jornal em sala de aula. Os relatos trazem aspectos relativos ao

aprimoramento da escrita e da leitura, e também quanto à oralidade, pois uma das atividades de

maior preferência dos alunos é a apresentação de telejornais, que aborda o trabalho com a mídia

televisiva.

A professora A. M. S. que trabalha desde 2005 com o projeto em espaço de contraturno

(desvinculado) que atende estudantes na faixa etária de 12 a 15 anos, relata ter observado nas

produções escritas de seus alunos uma melhora perceptível, quanto à estruturação, conteúdo e

mesmo gramática e ortografia, e ainda a professora continua a relatar quanto à desenvoltura dos

estudantes para atividades envolvendo exposição de idéias, tais como debates, apresentações de

seminários e afins. Segundo a professora, nesta área é que houve maior avanço e mesmo surpresas,

pois estudantes extremamente tímidos e retraídos passaram a se comunicar e a se expressar com

mais desembaraço e habilidade.

Na perspectiva de identificar elementos do projeto que contribuam mais pontualmente para

o aprendizado em especial da leitura e da escrita e faz necessário um mapeamento preciso que

possibilite mensurar a influência do projeto no aprendizado escolar e implica no empreendimento

de estudos, que incluam a elaboração de instrumentos específicos para avaliar as turmas e

estudantes que participam do projeto e que resultados especificamente podem ser observados a

partir da aplicação deste.

É importante ter claro que não se trata somente de avanços quantos aos aspectos cognitivos

nas áreas do conhecimento, mas também de proposições quanto à socialização do estudante, de

como este se relaciona com o mundo e intervém sobre o mesmo. Sobre que possibilidades a escola e

a educação podem trazer para a formação integral do cidadão e que intencionalidade podem se

somar a esta construção, no sentido de propiciar uma leitura critica de mundo.

Conclusão

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A proposta do presente trabalho não se baseia em apontar resultados conclusivos, mas

indicar caminhos e possibilidades, e ainda articular discussões e opções para o enriquecimento e

ampliação da prática pedagógica, sobretudo da leitura e escrita. Ao deflagrar o processo avaliativo,

a Secretaria Municipal da Educação propôs aos seus profissionais reavaliar a prática educativa e

também buscar inovações que aliem o pedagógico e a tecnologia, elementos que compõem a

necessária formação do estudante em consonância com a dinâmica social contemporânea.

Nesta perspectiva, o projeto Ler e Pensar, imbuído de uma intencionalidade pedagógica de

trabalhar a informação e a notícia com o intuito de possibilitar o aprimoramento da leitura crítica e

da escrita argumentativa, traz significativas contribuições para a conquista de uma ampliação na

qualidade de ensino, constituindo-se como mais um instrumento a serviço da formação crítica e

cidadã de nossos estudantes.

Não se trata, contudo de uma defesa irrestrita do projeto por si só, mas de refletirmos sobre a

necessidade de buscar praticas pedagógicas diferenciadas, que prenda o interesse do estudante, sem,

no entanto estar desarticulado do mundo real, que incluam o lúdico, sem, contudo perder de vista o

foco no aprendizado, que articule currículo escolar e saber social, propiciando tanto a estudantes

quantos aos professores a oportunidade de formar e se formar, buscando na criticidade um elemento

de desenvolvimento social, propulsor de uma sociedade mais igualitária, em que a educação seja

não mais um anseio distante, mas um fato, uma realidade concreta da qual todos possam

verdadeiramente se beneficiar, com plenas condições de contribuir para uma desejada

transformação social.

No entanto é preciso ter clareza que a implementação de pratica pedagógicas emancipadoras

que promovam a criticidade, passam necessariamente pela discussão a cerca da formação docente,.

Segundo Veiga “a formação centra-se no desenvolvimento de competências para o exercício

técnico-profissional, baseando-se no saber fazer para o aprendizado do que vai ensinar” (2009, 17).

Todavia o ensinar, nesta perspectiva, deve ir além do ler e escrever e implica em compreender a

importância da educação e da escola como instituição social que historicamente tem formado as

sociedades.

A formação social como conseqüência da educação escolar é também fruto da

profissionalização (ou falta desta) de nossos professores, portanto a necessidade de se pensar ética e

politicamente a formação de quem forma a sociedade. Profissionais da educação têm, de forma

indireta, corroborado para o processo de exclusão social, alienando-se de suas potencialidades e

possibilidades e negando também estas possibilidades a quem tem a obrigação de ensinar e formar.

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Ensinar criticamente pressupõe ainda a responsabilidade de pensar a educação a partir do

viés do desenvolvimento social e do crescimento humano, proporcionando aos estudantes condições

para vencer obstáculos e superar limites construídos social e historicamente, impregnados de uma

ideologia nem sempre visível e perceptível aos olhos daqueles a quem se destina. Neste sentido,

cabe aos educadores não somente buscar novas práticas, mas, sobretudo refletir de forma coerente,

critica e principalmente ética sobre as conseqüências de suas ações ou a falta destas no processo de

formação da identidade do cidadão.

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