práticas deformadas para a tomada de decisão nas entidades dos movimentos sociais

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  • 8/3/2019 prticas deformadas para a tomada de deciso nas entidades dos movimentos sociais

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    PRTICAS DEFORMADAS PARA A TOMADA DE DECISO NASORGANIZAES LIGADAS AOS MOVIMENTOS SOCIAIS

    Ailton Benedito de Sousa Do Cebela

    Introduo

    Mostrar incongruncias entre contedo, forma e funo, aparncia e essncia, enfimmostrar a amplitude da distncia entre o imaginado e o obtido relativamente a um dado,fato, processo, fenmeno aceitemos aqui ser este um dos objetivos da anlise, termo quemais se refora com a juno do adjetivo crtica, isto , a fragmentao, segundo princpioou mtodo, das partes de um todo, geralmente num campo de debate, com vistas suacompreenso e transformao, o processo traduzindo-se em termos de reflexo referenciadaa parmetros de validao quanto a uma admitida noo de verdade, a prtica em ltimainstncia.

    Na atividade de anlise crtica, tambm, a comunidade de seres pensantes testa ou pe emquesto a possibilidade de, atravs da lngua, um sistema aberto de signos, que no acoisa, mas a representao da coisa, poder-se atingir a verdade, ou seja, a cadeia designos que, gerando conceitos e proposies a partir de percepo-hiptese-crena, podevir a expressar, antecipar fatos, base para a ao individual e coletiva na admitida realidade Nessa linha, aceitemos tambm que, por falta de anlise crtica, a cada dia mais seconsolidam, sedimentam, cristalizam prticas deformadas para a tomada de deciso nombito das formaes polticas em geral e no dos movimentos sociais, em particular. Asdeformaes, parece, no grassam s aqui, mas em todo o mundo, aspecto que tornasurpreendente o fato de ser to escasso o nmero de textos introdutrios sobre o assunto.

    Algumas das deformadas prticas

    A falta de uso responde pelo olvido ou obsolescncia de bens culturais cuja aquisio ouexistncia dependa da memria coletiva, da prxis repetida, do intercmbio socialdiretamente ligado funo que esse bem ou prtica desempenhe nos processos de produo e reproduo social. No obstante a metade ou mesmo os trs-quartos da populao dessa ou daquela formao social da Antiguidade se constiturem de escravos,certas prticas de democracia direta, de se convir, tiveram que ter vigncia de fato entreos cidados livres, sob pena de colapso da referida experincia social. Da observa-senessas sociedades a institucionalizao de campos de estudo ligados filosofia, retrica, lgica e argumentao. A cidade-estado que optava por forma de governo queconsagrasse audincia aos iguais, precisava compartilhar certos conhecimentos. Ao tempode Ccero, alm da retrica, era estudada e praticada, seno institucionalmente, mas principalmente de indivduo para indivduo, a mnemnica ou seja, as tcnicas dememorizao, de modo que no apenas Ccero sabia de cor suas orationis, como tambmdeviam conhec-las de cor todos aqueles que quisessem viver das lides judiciais. Alis,

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    para um advogado romano, grego ou das medievais Florena e Lisboa, no s o corpo deleis desse ou daquele ramo do direito tinha que ser memorizado, mas tambm suascomplicadas frmulas processuais e a imensa jurisprudncia.

    Dado o fato de que a ps-modernidade tende a dispensar de modo definitivo e acrtico a

    memria humana natural, individual e coletiva, como base indispensvel nos processos de produo e reproduo de suas sociedades, a que tipo de lastro de bens culturais podero osindivduos ter acesso diante de exigncias sociais eminentemente humanas que a tecnologiano derroga, como os festejos de confirmao de pertinncia religiosa, tnica, os festejosligados sociabilidade vicinal, ou mesmo de organizao para fazer oposio ou prestar apoio a esse ou quele poder?

    J pertenceu memria coletiva dos brasileiros todo o instrumental de conceitos e procedimentos inerentes participao ativa numa reunio ou assemblia de uma tpicaorganizao sem fins lucrativos. Nesse sentido, ainda ao tempo da Constituio de 1946,derrogada com o golpe de 1964, no nvel de sindicatos, associaes culturais, carnavalescae esportivas, o primeiro item a mobilizar os membros de uma simples reunio ouassemblia, era a eleio da mesa. Aquele a ser eleito pelo plenrio presidente damesa, sabia que ali todos estavam em funo de uma convocao, de acordo com oestatudo no estatuto do rgo ou associao. A convocao que, no caso das entidadeslegalmente reconhecidas, tinha que ter sido anteriormente publicada atravs de edital em jornal de grande circulao, fixava os pontos essenciais da reunio: sua regularidadenormativa (os dispositivos estatutrios que a legitimavam), sua natureza (ordinria ouextraordinria), a hora de incio e o tempo mximo de espera para a formao do quorummnimo, seus objetivos...que fixavam os limites da soberania do plenrio... O plenrio soberano...para cumprir os termos desta convocao...Mais ainda, subentendido ficava que para que o plenrio exorbite de sua soberania e altere os objetivos da reunio, cumpre queantes regularmente feche esta assemblia, convocando uma nova, publicando editalobservando os prazos e tudo, se o Estatuto assim o permitir...

    O princpio sacrossanto era: O plenrio soberano. Logo ele que elege a mesa. Por qu? Porque ela centro de poder. sua eleio, suspendem-se os poderes da diretoriaeleita naquele perodo, porque numa reunio ou assemblia pode haver tudo, menostrusmo, aquele absurdo da lgica pelo qual num momento a + b = c, noutro a + b = d,sendo c d. Isto , o plenrio soberano.... e a diretoria soberana tambm!.. Da a grandeimportncia que o plenrio, composto por diferentes linhas de interesse e viso das questeem debate, atribua eleio da mesa, seu presidente e secretrios, que elaboravam a ataque geralmente era lida e assinada ao fim da reunio, eventualmente o incio da seguinte.

    A questo de ordem

    Certa base filosfica coletivamente aceita convencia a todos que se somos seres racionais,seres que agem no segundo o esquema binrio Estmulo Resposta, como grande parte doreino animal, mas a partir de um esquema no mnimo ternrio Estmulo Reflexo Resposta, podemos confortavelmente criar organismos sociais para seres ao mesmotempo livres e socialmente vinculados, j que: a) usando da capacidade simblica, base

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    para a reflexo, podemos criar o mundo virtual, ainda com dados simblicos exercermos areflexo, e ento nos convencermos a ns mesmos de que estamos certos ou, na hiptesede nos vermos em erro, de nos corrigirmos. A partir desse pressuposto, tinha-se por axiomaisto , a verdade que no precisava ser provada nem demonstrada: seres racionais econscientes no podiam estar reunidos para deliberarem, se no fosse aceita a existncia

    entre eles de um protocolo, um pacto, um regimento que fixasse as normas mnimasdo processo decisrio: como decidir (maioria simples, absoluta (2/3)?, quem vota(individuo, ordem, gnero)?, o direito palavra, a organizao do debate propositura daquesto, tempo fixado para os debatedores, sua inscrio e ordem de manifestao,encaminhamento da questo para votao, defensores dos diferentes encaminhamentos,encerramento das discusses para votao e...votao. Ento vinha o segundo princpiosacrossanto: Matria votada no volta para discusso. Questo de ordem, grita o porta-voz da maioria, o plenrio por engano votou contra seus interesses! Camos numimpasse. O presidente da mesa, se experto, explica: J que no se pode ferir o princpiosacrossanto, s h um meio de sairmos dessa: Abre-se o perodo de votao para que cadavotante, nominalmente, confirme seu voto...Mas a mesa s considera essa deciso,adverte, se ela for votada por maioria absoluta.

    A atualmente to repetida expresso questo de ordem exigiria o adjetivo regimental,que por to bvio os seres humanos at duas geraes atrs dispensaram. Os da geraoatual repetem-na como papagaios, foroso concluir, j que no mais existe o regimentoa que o adjetivo se refere. Referia-se ao regimento no escrito, gravado na conscincia detodos a partir dos artifcios da memorizao coletiva, ou seja, o quadro de normas que preside a uma reunio deliberativa entre seres racionais. Alis, para os romanos brbaro erquem no podia, pela lngua, descobrir e fruir o logus.

    Cunhou-se a expresso questo de ordem para que qualquer participante, a qualquer momento que perceba um desvio ou incoerncia em relao ao que se julga estatudo noregimento subjacente, grite ao presidente da mesa: Senhor presidente, questo deordem!. Este imediatamente, interrompendo quem quer que esteja falando, pede que omanifestante rapidamente explique sua questo de ordem. Se justificada, a ele concedida a palavra de pronto, para que todos se convenam do erro em que incorriamdebatedores e mesa. Fato corriqueiro no transcorrer de uma assemblia era sua paralisaodiante de um impasse. Sem sobressaltos ou traumas, o presidente pedia a palavra e afirmavconvictamente que seguindo prtica aprovada em nosso regimento, estava suspendendo asesso por quinze minutos ou meia hora, para que as foras vivas do plenrio, atravs deseus porta-vozes chegassem a consenso relativamente questo em debate. Acrescente-seque a sesso pode ser suspensa por prazo indeterminado... nesse ponto, tambm, que o plenrio soberano. Mas tudo isso hoje foi esquecido ou deformado...No h mais processdecisrio coletivo, reunies e assemblias so prticas eminentemente formais,coonestadoras de algo que por medo da polcia os dirigentes no tm coragem demostrar. Por exemplo, que reunio, que assemblia (seno de uma quadrilha) pode deliberasobre a prtica de venda de votos? Que ata pode abrigar o registro de tal discusso edeliberao?

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    Um pouco do que temos hoje

    Dispensando qualquer comentrio sobre a existncia em nossos dias de entidades sem finslucrativos, dispensando qualquer comentrio sobre a origem coletiva da maioria de nossasongs, fixemo-nos apenas em certos aspectos de seu processo decisrio.

    Princpio sacrossanto: ter as casusticas representaes sociais da democracia como nortede toda e qualquer ao no s no mbito do processo decisrio, mas no de todas as aesda organizao. Base filosfica: Em poltica vale o parecer, no o ser.

    Seja numa ong simples, num sindicato, num clube de futebol ou escola de samba, iniciada reunio, cuja pauta, objetivos e demais pressupostos vo ser explicados ou no nodecorrer da mesma, o presidente assume de forma agressiva, geralmente com palavras de baixo calo, a direo dos trabalhos...Eventualmente pode at gritar que na entidade queele dirige o plenrio soberano, porra!.

    Ningum fala nada... Os chefes de claque batem palmas e tm seguidores. No h entre osmembros da platia, antes plenrio, linhas de divergncia significativas. H medo oucumplicidade. A militncia poltica, partidria, do movimento social, toda remunerada,militncia cooptada a partir de emprego ou da promessa de emprego. Os cargos de direode muitas entidades sem fins lucrativos remuneram muito mais do que os equivalentes doservio pblico ou das grandes empresas. Se se trata de uma reunio entre professores e pais de alunos, 70% dos pais de alunos esto ali como tarefa determinada pelo partido aque pertencem plenrio e diretora da escola, por acaso a agremiao poltica a que coube,na partilha do poder em funo da governabilidade, a secretaria estadual ou municipal, ouo ministrio da educao.

    Foco vivo de manifestao de um trusmo atroz, em toda sua absurdidade, o sndico, o presidente do sindicato, o presidente da ong, a diretora de escola, d seqncia sesso,apresentando a soluo dos problemas que num outro contexto caberia ao plenrio discutir e votar. Ao fim da apresentao, se calhar, pergunta: Algum a tem alguma dvida?Cmplices, todos se mantm calados. Espero que todos estejam de acordo e considerovotada essa questo. Agora, vamos ao que interessa.... A ata um conchavo entre seuredator e o presidente. Assim mesmo, se calhar faz-la. Mas imaginemos que no decorrer da reunio algum queira falar alguma coisa. certo que gritar, assustando a todos:Questo de ordem (que entende como equivalente a: quero falar, porra) e em seqnciadespeja os termos de sua arenga. J que a bola saiu da mesa e veio para o plenrio, osgritos questo de ordem se sucedem at o que o presidente resolva caar (com cedilhamesmo) a palavra. Caso no cace (agora com c) a maldita palavra, comum matria votadavoltar discusso e ter outro encaminhamento para a alegria geral, ou melhor para aalegria da geral, da galera, ldimo exemplo de respeito democracia, ao princpio de queo plenrio soberano, porra. Um clima de alegria sacode o plenrio. Afinal de contas, o

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    bom de uma assemblia quando a porrada come entre os caras do outro lado e o presidente.

    A que leva e tem levado essa situao, generalizada em algumas reas, principalmenteclubes de futebol, escolas de samba etc., poucos sabemos muito bem: tornam-se fortalezas

    do crime organizado. No h queixa especfica, condenao a essa ou quela prtica, porque no mais h parmetro. No h a noo do certo, do modelo a que tem que seconformar um processo decisrio numa organizao no lucrativa. O que todos sentem, pressentem e sabem que no h vinculao lgica entre as palavras e as coisas, bagunamesmo, esbrnia, mandonismo, roubalheira. Est tudo dominado. Num contexto real detirano frente a uma claque de circo, a todo momento protesta-se aderncia democracia, aosacrossanto princpio de que o plenrio soberano.

    A partir desse tipo de processo decisrio decorre o resto: os cargos de qualquer diretoriaso formais. Se a entidade mexe com muito dinheiro (leia-se projetos), o contador damesma amigo direto e de confiana do presidente, retm o poder de fato da entidade. Nose presta contas a ningum... O presidente e seu contador mandam sozinhos. O conselhofiscal, quando da formao dessa fictcia diretoria, teve seus membros caados elaados entre os amigos do dono do sindicato, do clube de futebol (principalmente da primeira diviso), ou de qualquer outro tipo de entidade, a partir do engodo: No se preocupe, no tem nada para fazer no, s pr-forma. Nesse sentido, agremiaescarnavalescas bicentenrias, com imenso quadro de scios e patrimnio incalculvel, principalmente imobilirio, desaparecem de um dia para o outro sem a menor manifestaodos Ministrios Pblicos relacionados esfera local, estadual ou federal. Pior ainda, o poder institudo de uma dessas esferas, para que o povo soberano no fique sem suacentenria agremiao, doa-lhes, aos falidos diretores (em que termos no se fala), umanova sede... Este tambm est dominado, conclui o povo. Deprimente mesmo, para ns brasileiros, ver que essa situao que aqui antecipa a barbrie oposta, por membros denossas ditas elites, de alguns pases, obviamente no na frica, onde ainda se pratica ecultua a democracia direta, onde a segurana da populao tal que se dorme de portasabertas... E a sada para isso, h sada?

    Pressupostos da anlise para uma sada, necessariamente abertos a contestao

    1. O saber atual (ou discurso em sua mais lata significao) autoproclama-se oriundoda chamada civilizao grego-romana-judaico-crist, base ou fonte para ahorizontalizao unilateral da Histria sob a liderana decisiva de povoseuropeus, a bem da verdade jamais testa de qualquer processo civilizatrioecumnico, ou seja, geograficamente expressivo: sem tirar nem pr, admitamos, povos europeus brancos ebrbaros. A histria (qualquer) desconhece qualquer tipode vida civilizada no norte europeu, mesmo porque terreno de passagem de brbarosinvasores, vendedores de peixe e peles na rota comercial Egito Mar Bltico, demais de 5 mil anos.

    2. A proposio do atual calendrio,depois de Cristo , embora prenunciasse essahorizontalizao, no a determinou no decorrer do primeiro milnio, dependente defenmenos histricos a terem ecloso nos sculos seguintes, em perodos por essahistria horizontalizada referenciveis como Queda do Imprio Romano do

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    Ocidente e do Oriente, Renascimento, Descobertas, Reforma e Contra Reforma,Iluminismo, Capitalismo comercial, Revoluo Industrial, entre outros.

    3. A horizontalizao unilateral da Histria, quer em direo Bacia Mediterrnea, frica, Mdio Oriente, Extremo Oriente, Austrlia e Oceania, por um lado, quer emdireo ao Ocidente (maias, astecas, incas, chimus etc.) implicou o apagamento por

    completo das contribuies milenares relativas s precedentes experinciascivilizatrias da frica, da China, ndia, Indonsia, da Oceania e das Amricas, justificando no interior desses continentes que as respectivas elites agissem emrelao a seus povos e legados culturais do mesmo modo como eram ou foramtratadas pelas naes hegemnicas. A frica fica caso parte porque a civilizaoegpcia, negra nigrrima, foi embranquecida, o vale do Nilo deslocado para perto doOriente Mdio. Unilateralmente horizontalizada a histria, faz-setabula rasa dasheranas culturais a partir de dentro de casa. Os mais ricos e poderosos vendedoresde escravos na frica eram negros, um por acaso negro e brasileiro.

    4. Muito mais que implicar o apagamento ou contrafao, nos registros histricoshorizontalizados, daquelas experincias civilizatrias ocorridas em nichos dehistria verticalizada os egpcios, astecas ou maias, os incas, ou mesmo oZimbbue, por exemplo, a ao unilateral implicou a destruio completa do patrimnio material e espiritual de um sem nmero de outras civilizaes a fricae as Amricas com destaque, a falsificao de autoria e/ou mutilao de peas do patrimnio cultural universal (a exemplo do monumento at hoje despudoradamentechamado de a Esfinge de Giz), a trofeizao museolgica (ressalve-se oneologismo de significao imediata) de peas desse patrimnio (assim tornado butim, at nossos dias smbolos da hegemonia absoluta do homem branco), aes precedidas e concomitantes escravizao e ao genocdio puro e simples atnossos dias dos produtores dessas culturas, sua subclassificao biolgica (comosub-homens) e nos sistemas de hierarquizao social, com sua eleio para otrabalho a partir dos mais baixos escales,verbis gratias a Dispora Negra eescravido no Novo Mundo.

    5. Implicou tambm a inscrio, no repertrio memorizvel dos povos de histriahorizontalizada, ento (e agora) genericamente referidos como a humanidade,apenas daqueles atributos que justificassem os seres e culturas objetos desseapagamento e subclassificao como brbaros, nativos, selvagens, brutos,colonizados, escravos... Justificou o racismo sob todas as formas. Mais ainda, tendoem vista a cor atribuda aos ento ocasionais (hoje eternos) hegemnicos, justificou o especfico racismo contra os negros.

    6. Nada impede que 2000 anos aps o marco zero da Histria unilateralmentehorizontalizada por meia dzia de naes, a fraternidade universal de seres humanosque conscientemente se assumem filhos de Lucy, a ancestral me negra do Homem,abram discusso aquele processo de horizontalizao da Histria com vistas correo dos rumos e aes malficas dessa humanidade que se apresenta sob osdisfarces de uma punitiva, autoritria, arrogante e imperialista comunidadeinternacional.

    A anlise crtica s prticas deformadas dos processos de tomada de deciso nosorganismos dos movimentos sociais, hoje, aqui e alhures, com vistas a uma sada, tem a ver

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    com um decisivo posicionamento, por parte do analista, relativamente base de pressupostos acima referidos.

    O discurso que presidiu e preside ao processo de horizontalizao da histria h 2000 anosem curso, ao fechar qualquer sada quele que identifica suas contradies e aberraes,

    torna lgico o que ilgico, virtude o que vcio. Que h de ilogicidade-maldade no fatode que as populaes desfalcadas culturalmente em relao cultura militarmentedominante sejam massacradas e escravizadas? O mundo tem sido sempre assim, conclui-seJamais Ferno Cortez se ter feito essa pergunta porque no se faz pergunta cuja resposta jfoi dada. Como enxergar as contradies, paradoxos e aberraes de atos justificados pelodiscurso que explica a atual humanidade horizontalizada, se no tenho meios dequestionar a legitimidade do projeto levado acabo pelas naes (raas, etnias, culturas) queunilateralmente horizontalizaram a Histria, no processo criando de chofre o racismo eetnocentrismo como pilares estruturantes da nova experincia civilizatria?

    Quando aceitamos sem crtica a histria horizontalizada como a est um filme de bang-e-bang onde os eternos protagonistas do bem so de um lado, os brancos, e de outro, os bandidos so principalmente os negros, por necessidade lgica temos que aceitar:

    a) como um absoluto a humanidade resultante da Histria unilateralmente horizontalizade no como uma contingncia a ser superada, ou pior, temos que aceitar a comunidadeinternacional eleita pela Otan como a Humanidade a ser defendida a ferro e fogo contraos povos do Isl, por exemplo; b) temos que aceitar a ao malvola do hegemnico como a ao benfica do Homem,representante de todos os Homens, eventualmente branco, nrdico, lembrado que a tica,apangio da espcie, desaparece no momento em que se acaba a distino (mesmo que provisria) entre Bem e Mal, por via de conseqncia, desaparecido o atributo, desaparecea espcie que o ostentava;c) temos que aceitar a exibio do patrimnio e monumentos culturais dos povossubjugados, por um lado como trofus de guerra, por outro como caues, vauchers,garantes do mercado de capitais do capitalismo destruidor, obra do hegemnico frente do processo de horizontalizao unilateral.

    Dada a histria de crimes, roubos e massacres que subjaz a qualquer dos fenmenos, fica-ssem saber o que mais humilhante e vergonhoso ao esprito do Homem: se um dessesfamosos jardins zoolgicos feitos por homens e para homens que amam os safris, ou umLouvre...Fao ponto final provisrio aqui para que o leitor pense, reflita. Anlise crtica para isso.

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