práticas cumprimento e não cumprimento das obrigações

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Cumprimento e Não Cumprimento das Obrigações AULA DE 16/09 O cumprimento é apenas uma das formas de extinção das obrigações. Casos práticos: I Américo vendeu a Benedito, maior, um tractor com reboque pelo preço de 10.000 €. Américo comprometeu-se a entregar o tractor e o reboque, mediante o pagamento simultâneo do preço acordado, no dia 31 de Agosto de 2013. 1. Na data estipulada para o cumprimento do contrato, Américo entregou a Benedito o tractor e disse-lhe que o reboque só poderia ser entregue daí a 15 dias. Estará Benedito obrigado a aceitar o tractor sem o reboque? Problema: cumprimento parcial da prestação - pode o devedor forçar o credor a aceitar o cumprimento parcial da obrigação a que está vinculado? Este problema resolve-se de acordo com os princípios do cumprimento da obrigação, nomeadamente o princípio da integralidade: artigo 763, nº 1. Princípio da realização integral da prestação: artigo 763, nº 1 determina que a prestação deve ser realizada integralmente e não por partes, salvo em 3 casos: 1. se as partes convencionaram a possibilidade do cumprimento parcial, 2. se a lei o impõe 3. ou se os usos o impõem. Nesta hipótese, o devedor da obrigação de entrega do tractor e reboque oferece-se para cumprir apenas parte da prestação. De 1

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Aulas práticas de Cumprimento e Não Cumprimento das Obrigações

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Cumprimento e No Cumprimento das Obrigaes

AULA DE 16/09O cumprimento apenas uma das formas de extino das obrigaes.

Casos prticos:I

Amrico vendeu a Benedito, maior, um tractor com reboque pelo preo de 10.000 . Amrico comprometeu-se a entregar o tractor e o reboque, mediante o pagamento simultneo do preo acordado, no dia 31 de Agosto de 2013. 1. Na data estipulada para o cumprimento do contrato, Amrico entregou a Benedito o tractor e disse-lhe que o reboque s poderia ser entregue da a 15 dias. Estar Benedito obrigado a aceitar o tractor sem o reboque?

Problema: cumprimento parcial da prestao - pode o devedor forar o credor a aceitar o cumprimento parcial da obrigao a que est vinculado? Este problema resolve-se de acordo com os princpios do cumprimento da obrigao, nomeadamente o princpio da integralidade: artigo 763, n 1.

Princpio da realizao integral da prestao: artigo 763, n 1 determina que a prestao deve ser realizada integralmente e no por partes, salvo em 3 casos: 1. se as partes convencionaram a possibilidade do cumprimento parcial, 2. se a lei o impe3. ou se os usos o impem. Nesta hiptese, o devedor da obrigao de entrega do tractor e reboque oferece-se para cumprir apenas parte da prestao. De acordo com este princpio, ele deve realizar integralmente e no por partes porque no se verifica nenhuma das excepes previstas no artigo: no houve acordo, no h nenhuma norma que imponha a aceitao do cumprimento, os usos (tm sido entendidos como boa f) no impem a aceitao do cumprimento. O devedor deve realizar a totalidade da prestao.Consequncias da violao deste princpio pelo devedor:O credor pode justificadamente recusar o cumprimento parcial da prestao oferecido pelo devedor e, se o fizer, no incorre em mora do credor: artigo 813 a contrrio.

Alternativas do credor, caso no queira o cumprimento parcial:1) O credor pode recusar o cumprimento parcial. No se aplica regime da mora do credor. O devedor entra em mora em relao a toda a prestao: artigos 804 e ss.

Benedito pode recusar a prestao que lhe oferecida. O credor pode invocar a excepo de no cumprimento da obrigao de pagamento do preo, a que est vinculado, quando o devedor se recusa a realizar integralmente a prestao correspectiva, socorrendo-se do regime do no cumprimento do contrato: artigo 428. Esta excepo aplica-se a contratos sinalagmticos. O contrato de compra e venda sinalagmtico, gera prestaes recprocas para ambas as partes. O devedor do pagamento do preo pode recusar o cumprimento quando a outra parte no cumpre atempadamente, sem entrar em mora. Tem de estar em causa a recusa do cumprimento integral.

possvel entregar mais tarde. A mora do devedor pressupe a culpa no atraso e s se aplica se o atraso no cumprimento for culposo, for imputado ao devedor. Na hiptese no sabemos. Na dvida, aplicamos o regime da mora porque a culpa presumida, devido ao artigo 799, uma vez que responsabilidade obrigacional e neste tipo de responsabilidade h presuno de culpa que tambm se aplica a mora do devedor.

Consequncia da mora do devedor: o devedor civilmente responsvel, obrigado a reparar os danos causados ao credor por causa da demora no cumprimento da obrigao (tinham de estar preenchidos os requisitos da responsabilidade civil).

2) o credor pode aceitar o cumprimento parcial.Consequncias:O devedor entra em mora?Solues possveis: o devedor no entra em mora nem relativamente prestao que lhe falta entregar nem que entregou. O devedor entra em mora mas s relativamente a parte que no cumpre no prazo devido. As duas solues so possveis, depende do credor - depende do mbito da aceitao do credor, quanto realizao parcial da prestao, depende do que tiver sido acordado. O credor pode aceitar o cumprimento parcial e estipular um novo prazo para o cumprimento do restante ou pode aceitar o cumprimento e determinar que quanto parte da prestao em falta se aplica o regime da mora - a vantagem para o devedor que no responde segundo o regime da mora total, mas da mora parcial.

A boa f pode ser um limite ao princpio da pontualidade e da realizao integral da prestao, exemplo: artigo 487 - havendo alterao das circunstncias e verificados demais pressupostos, entre os quais a boa f, pode haver resoluo do contrato ou modificao.

O princpio da boa f tambm pode impor ao credor a aceitao por exemplo: o devedor est obrigado a entregar 1 tonelada de milho e o credor pesa a prestao e falta uma grama. Pode o credor recusar a prestao? No, no pode dizer que s aceita a quantidade quando apresentar uma tonelada, concretamente por causa da ideia de desproporo no exerccio do direito. Ideia do artigo 762, n 2 e do artigo 802, n 2. Artigo 802, n 2: limitao ao princpio da integralidade que decorre do princpio da boa f. Foi destruda uma grama da tonelada de milho que o devedor estava obrigado a entregar ao credor, por culpa do devedor. Aqui no h mora porque o incumprimento definitivo. H uma impossibilidade do cumprimento por culpa do devedor. Esse incumprimento parcial e, atendendo ao interesse do credor, h escassa importncia - no h direito a resoluo atendendo ao princpio da boa f. Temos de ver se da falta de cumprimento da prestao resulta um prejuzo para o interesse do credor - se no houver prejuzo do interesse do credor no cumprimento, no h direito a resoluo nem h mora. Princpio da boa f: quer o credor quer o devedor devem cumprir a obrigao, exercer os seus deveres de conduta principais e acessrios em funo dos interesses do credor com o menor prejuzo dos interesses do devedor.

AULA DE 18/09

213553812 - telefone do escritrio do professorMail: [email protected]

Livro do Prof Menezes leito por causa das divergncias doutrinais.

CasosI

Amrico vendeu a Benedito, maior, um tractor com reboque pelo preo de 10.000 . Amrico comprometeu-se a entregar o tractor e o reboque, mediante o pagamento simultneo do preo acordado, no dia 31 de Agosto de 2013. 1. Na data estipulada para o cumprimento do contrato, Amrico entregou a Benedito o tractor e disse-lhe que o reboque s poderia ser entregue da a 15 dias. Estar Benedito obrigado a aceitar o tractor sem o reboque?

IRACIssueRuleApplicationConclusion

Problema: saber em que medida que o devedor pode cumprir s parcialmente a sua obrigao ou em que medida que o credor est obrigado a aceitar o cumprimento apenas parcial da obrigao. A regra o princpio da integralidade: a obrigao tem de ser cumprida na totalidade, nos termos exactos em que foi acordado. H excepes a esta regra que permitem que o cumprimento seja parcial. As excepes podem ser de natureza legal ou convencional. Princpio da integralidade: artigo 763. Excepes: artigo 649, n 1 e artigoSe se permitir convencionalmente o cumprimento parcial no h violao do princpio da integralidade.

Artigo 763: usos - h uma fbrica de tomate e combina-se com o produtor a entrega de 20 toneladas de tomate at ao dia X. No havendo nenhum camio com capacidade para transportar 20 toneladas de tomate, de acordo com os usos, normal que a prestao seja realizada com vrios camies.Ou estamos perante uma destas excepes ou camos na regra geral e a prestao tem de ser realizada na totalidade. Benedito no est obrigado a aceitar a prestao em parte, a aceitar o camio e no o reboque. Ao no aceitar, o devedor entra em mora. Mora: incumprimento temporrio, mero atraso no cumprimento, mas o cumprimento ainda possvel. A partir do momento em que o cumprimento seja impossvel h incumprimento definitivo. Relevncia da mora: o devedor entra em mora, o que significa? Porque que Benedito pode no querer legitimamente receber uma trator sem reboque? No h m f? Qual o interesse legtimo que o credor tem em no querer receber s parte da prestao? Porque que o devedor h de ter o custo de levar o trator e voltar a traz-lo? Por causa do risco. Nos contratos de alienao h como prestao tpica fundamental a transmisso da propriedade, da titularidade, que em regra anda acompanhada da posse e que em regra anda acompanhada do risco, mas isto no necessariamente assim. Muitas vezes pode haver transmisso da titularidade sem posse e sem risco; pode no haver transmisso da titularidade, mas transmisso da posse e do risco; ou pode haver transmisso da titularidade, da posse, mas no do risco.

O Benedito no est obrigado a receber a coisa. No tendo recebido a coisa, o Amrico ficar em mora at ao integral cumprimento da obrigao.

2. Se Benedito fosse interdito por anomalia psquica, a quem que Amrico estaria obrigado a entregar o tractor e o reboque?

Problema: a quem pode ser feita a prestao ou o problema da capacidade do credor ou problema do cumprimento a um credor que incapaz. incapaz por fora do artigo 139 que equipara o interdito ao menor: capacidade genrica de gozo e incapacidade genrica de exerccio.

Em direito das obrigaes h o artigo 764. Anlise do artigo: Princpio: o credor deve ter capacidade para receber a prestao. Excepo: quando o credor no tem capacidade, qual a excepo? Se o credor no tiver capacidade, deve ser entregue ao representante legal do incapaz. Se o devedor no cumprir e no entregar ao representante legal do incapaz, este pode vir exigir a prestao pontualmente cumprida, o devedor fica obrigado a ter de repetir a prestao. S no vai ter de cumprir outra vez se, apesar de ter cumprido mal e entregado a pessoa errada, o interdito entregou a prestao ao representante, apesar de a prestao lhe ter sido feita ou se a prestao enriqueceu o patrimnio do incapaz.

3. Suponha que Amrico, em vez de entregar o tractor e o reboque a Benedito, o fez ao pai deste, Carolino. No dia seguinte, Benedito morreu num acidente de viao. Poder-se- considerar que Amrico cumpriu o contrato celebrado com Benedito? E se Benedito no tivesse morrido, a soluo seria a mesma?

Problema de prestao feita a terceiro. Artigo 770: Regra: a prestao feita a terceiro no extingue a obrigao. Excepo: se se verificar alguma das excepes do artigo.

Neste caso no se aplica a alnea e), mas a alnea c) porque neste caso quem herdeiro no o credor, o pai. Alnea c) quem recebeu a prestao foi o pai e ele vai receber o crdito por sucesso hereditria.Se a prestao foi cumprida a terceiro no h bom cumprimento, a menos que o terceiro tenha sido nomeado, por exemplo: eu sei que no vou estar em casa e nomeio o meu pai como representante. Como sei que algum representante? A representao est sujeita forma exigida para o negcio que se quer celebrar. Sei que algum representante atravs da declarao de quitao declarao onde se atesta que o cumprimento foi efectuado se algum que no o credor tem na sua posse a declarao de quitao assinada pelo credor, posso inferir que aquela pessoa tem poderes para receber a prestao.

4. Imagine, agora, que, depois de ter concludo o contrato com Benedito, Amrico se lembrou que o tractor e o reboque lhe faziam falta para as vindimas. Na data estipulada para o cumprimento do contrato, Amrico entregou a Benedito uma furgoneta, avaliada em 12.500 . Quid iuris?

Problema: est em causa saber em que medida que uma obrigao se pode considerar cumprida quando a prestao realizada diferente daquela que foi inicialmente acordada. Regra: no h cumprimento, h incumprimento. Quais so as excepes? Quando que a lei aceita uma prestao diferente como bom cumprimento? Se for acordado pelas partes. A furgoneta s extingue as obrigaes se o credor aceitar, se ele no aceitar, h no cumprimento com todas as consequncias: mora (...) artigo 837.Ele no lhe d uma furgoneta, mas uma obra de Joana Vasconcelos, que vale 8000. O credor pode ficar contente e aceitar o cumprimento? Apesar de ficar com menos dinheiro, poderia valorar e querer muito aquela obra e aceitar o cumprimento.

Imaginando que o trator e o reboque sofreram um acidente e o devedor s tem um quadro de Joana Vasconcelos e o agricultor no queria o quadro. Haver algum caso, ainda assim, em que ele poder aceitar a obra como bom cumprimento? O agricultor pensou que o devedor estava falido e decide que melhor aceitar a obra para depois revender - isto uma doao pro solvendo: artigo 840. A obrigao vai-se extinguir quando o crdito do credor for satisfeito na ntegra. Se no for totalmente satisfeito? H dao pro solvendo, mas a obrigao s se extingue em 8000 e ficam por saldar 2000 - cumprimento parcial da obrigao. O credor pode exigir os 2000 que faltam do devedor.

AULA DE 25/09

II

Diogo emprestou 5.000 a Eduardo. O emprstimo foi garantido atravs da constituio de uma hipoteca sobre um imvel pertencente a Eduardo e seguro na Seguradora Sinceridade, S.A.1. Poder Diogo pagar o prmio de seguro em atraso?

Problema: saber quem pode realizar a prestao, saber se terceiro pode ou no cumprir a prestao.Regra: tratando-se de obrigaes fungveis, terceiros podem realizar a prestao - artigo 767.A legitimidade do terceiro nada tem que ver com o interesse. (Ver a gravao).

Aplicando-se a regra do artigo 767, n 1 ao caso concreto, o terceiro poder fazer a prestao. A relao contratual foi estabelecida entre Diogo e Eduardo, Diogo mutuante e Eduardo muturio. Quem celebrou o contrato de seguro? Eduardo e a companhia de seguros. Diogo terceiro relativamente relao entre Eduardo e a companhia de seguros. O pagamento do prmio de seguro uma prestao fungvel, por isso de acordo com o artigo 767, n 1 Diogo pode cumprir.

2. Caso Eduardo se oponha a que Diogo pague o prmio de seguro, pode a Seguradora Sinceridade, S.A. recusar-se a receber o pagamento do prmio?

O que est em causa no regime do cumprimento da prestao sempre o interesse do credor. por ser o interesse do credor que est em causa, temos de ter em conta se a prestao ou no fungvel para saber se ela pode ou no ser cumprida por terceiro. Se a prestao for infungvel e for cumprida por terceiro, o interesse do credor no satisfeito.Artigo 768. Se Eduardo se opuser a que Diogo pague a prestao, mesmo assim Diogo pode continuar a faz-la porque nos termos do artigo 592 est sub-rogado. Se pagar, Diogo vai ficar na posio da parte a quem se subsitituiu. A sub-rogao subjectiva ou objectiva. Pode haver sub-rogao de pessoas (subjectiva) ou de bens (em vez de um bem passa a estar outro - objectiva).

Artigo 768, n 2 parte final: se o devedor se opuser e estiverem verificados os requisitos do artigo 768, n 2, 1 parte, o credor pode recusar a prestao no ficando em mora.

O princpio da realizao da prestao no domiclio do devedor, mas a regra pode ser alterada.

3. Se Diogo pagar o prmio de seguro, poder exigir a Eduardo o valor pago?Questo: problema de direitos de terceiro que cumpre uma obrigao alheia, saber quais so os direitos de terceiro que cumpre uma obrigao que no era sua.O terceiro s fica sub-rogado quando tiver garantido o cumprimento ou quando estiver interessado no cumprimento (592). Aqui verifica-se algum desses casos? Diogo garantiu a obrigao de Eduardo e, alm disso, interessado, por ter emprestado dinheiro a Diogo.

Artigo 590: o terceiro que cumprir pode ser sub-rogado at ao momento do cumprimento sem o consentimento do credor.Se no manifestou a vontade de se sub-rogar o princpio de que no pode sub-rogar-se, a menos que tenha um interesse especial no cumprimento da obrigao.

H um terceiro que cumpriu a obrigao do devedor, que ele sabia que era do devedor. Quando que h terceiros a cumprir obrigaes alheias?Diferena entre gesto de negcios e mandatoMandato: ajo em interesse e por conta de outrem com contratoGesto de negcios: ajo em interesse e por conta de outrem sem contrato.Artigo 467: quando se cumpre uma obrigao alheia na errnea convico de que prpria.

AULA DE 02/10Novao: uma forma de extino das obrigaes para alm do cumprimento e consiste num acordo entre as partes que resulta na criao de uma nova obrigao.

Confuso: consiste na reunio na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor.

Remisso: semelhante a um perdo de dvida, mas no bem porque necessrio o acordo de ambas as partes. H um perdo de uma dvida. um negcio unilateral.

Negcio bilateral: aquele de onde resulta um sinalagma - aquele de onde resultam obrigaes recprocas, interdependentes para as partes, ou seja uma causa da outra. Implicaes prticas: exceo de no cumprimento, direito de reteno.Negcio jurdico unilateral: simples Voluntrio ou acto jurdico:

unilateral

Facto juridico: complexo ou negcio jurdico Involuntrio: - bilateral

III A

Acrdo de Uniformizao de Jurisprudncia n 7/2009[Aplicabilidade do art. 781 ao mtuo oneroso]

Para efeitos sucessrios a morte um facto juridico Involuntrio, mas para o direito penal pode ser voluntrio. Depende da perspectiva saber se acto voluntrio ou no.

Casos prticos

O artigo 781 s se aplica dvida de capital e aos juros moratrios, no aos juros remuneratrios.

A questo saber o que deve resultar da quebra da confiana do credor?

AULA DE 09/10III

Fernando e Guilherme venderam a Helena um carro por 5.000 . No contrato foi estipulado que Helena s teria de pagar o preo no dia 1 de Janeiro de 2015. O pagamento da quantia em dvida foi garantido pessoalmente por Isabel. Fernando teve conhecimento de que Helena se encontra insolvente. Poder Fernando exigir hoje de Helena o pagamento dos 5.000 ?Problemas: em que medida a insolvncia pode resultar numa perda de benefcio do prazo.

Problema: tempo da prestao.As obrigaes quanto ao tempo podem ser a prazo ou puras, consoante as partes tenham estabelecido prazo ou no. A obrigao pura no tem uma data determinada para o cumprimento. Se o decurso do prazo torna a prestao impossvel ( o caso do fotografo para o casamento que no aparece perdi o interesse na prestao), h incumprimento definitivo. Mas o decurso do prazo pode no tornar a obrigao impossvel, posso decidir comprar uma casa e decido que a escritura ser feita da a 3 meses, mas da a 3 meses o comprador no aparece. Neste caso o contrato ainda pode ser celebrado porque o decurso do prazo no frustra o interesse do credor na prestao ele quer vender a casa hoje ou amanh mas pode haver lugar a indemnizao pelo atraso no cumprimento.

Quando as partes querem estipular que o prazo essencial, normalmente estipulam no contrato que o prazo essencial para o credor nos contratos-promessa se no houver essa estipulao o tribunal vai decidir que o prazo no essencial e que a prestao ainda pode ser cumprida. Quando houver contrato-promessa posso exigir execuo especfica ou sinal em dobro

Saber distinguir dois conceitos: exigibilidade e vencimento da obrigao qual a diferena? Exigibilidade: possibilidade que o credor tem de solicitar o cumprimento por parte do devedor.Vencimento: tem a ver com o decurso do prazo para o cumprimento, findo o qual resulta uma situao de incumprimento, ainda que temporrio. Se a obrigao se torna exigvel a 1 de janeiro, a partir desse dia o credor pode pedir ao devedor o cumprimento. No o fazendo, o devedor, enquanto no for interpelado para o efeito pelo devedor, no est em mora. Se tivermos uma obrigao vencida o devedor est em mora- artigo 805. Se estiver a falar de obrigao de prazo certo, decorrido esse prazo entro em mora. Se a obrigao no tiver prazo, eu no estou em mora nunca, a no ser quando o credor me interpela para o cumprimento.

Os conceitos de exigibilidade e de vencimento esto relacionados com o benefcio do prazo.Se o prazo correr em benefcio do devedor, enquanto o prazo no correr, o credor no pode exigir e por consequncia no h vencimento. Na maior parte dos casos h obrigao com prazo certo, em que decorrido o prazo h vencimento aplicando o artigo 805, n 1, a) h vencimento. Exigibilidade: acompanha o vencimento mas no a mesma coisa nem ocorre necessariamente no mesmo momento. Mesmo nas obrigaes puras o credor solicita o cumprimento para determinada data e s depois dessa data h vencimento.

Contratos com prestaes fraccionadas h regras especiais para isso? Artigo 934.Obrigaes fraccionadas: regra especial - artigo 934 comparar com 2 parte do artigo 781. O legislador enganou-se. O artigo 781 fala em vencimento. O que a doutrina e os tribunais tm entendido que o artigo 781 consagra a exigibilidade da prestao como o artigo 934 - uma questo de perda de benefcio do prazo e no de vencimento. Se houver um contrato de compra e venda a prestaes ou contrato de prestaes fraccionadas se no cumprir uma das prestaes no entro imediatamente em mora, perco o benefcio do prazo e posso receber uma carta do credor a dizer que tenho de pagar.

No caso h uma fiana. Fiana e hipoteca: a fiana uma garantia pessoal e a hipoteca uma garantia patrimonial. Fiana: o fiador obriga-se a cumprir a obrigao do devedor, caso este no o faa. uma obrigao pessoal do fiador pela qual responde a totalidade do seu patrimnio. Todo o patrimnio do fiador pode ser chamado a pagar a dvida de terceiro, do devedor. Para a hipoteca saldar a dvida tem de se vender o bem. Quando o banco pede um fiador, quer algum com dinheiro. Como que se prova que se rico? Declarao de IRS. A fiana tem um mbito mais alargado que a hipoteca porque abrange todo o patrimnio do devedor. A hipoteca s incide sobre um bem, mas tem uma caracterstica - registvel e tem sequela, oiu seja, mesmo se o bem for vendido o credor pode exigir o bem do comprador para satisfazer o seu crdito. Quem deu o bem de hipoteca vende a casa a terceiro e no sabe nada da histria - o banco no perde a garantia porque est registada. Se algum no paga, o banco faz a penhora do bem e inicia uma aco declarativa e/ou executiva para vender o bem.A fiana tem caractersticas: acessoriedade - a fiana acessria da obrigao principal garantida e tudo o que acontecer na obrigao principal repercute-se na fiana. Se a obrigao principal for extinta a obrigao acessria (fiana) extingue-se tambm porque o acessrio segue o regime do principal.

Excepo: artigo (?) o que aconteceu na obrigao principal no vai acontecer na obrigao acessria. Se o terceiro garante perde o benefcio do prazo o fiador no perde. O credor no pode directamente ir ter com o fiador e exigir o pagamento isto chama-se benefcio da excusso previa - normalmente o credor tem de esgotar o patrimnio do devedor e s quando o devedor j no tem patrimnio que pode recorrer ao patrimnio do garante. Esta regra dispositiva e os bancos pem uma clusula no contrato em como o garante renuncia ao benefcio da excusso prvia e, assim, o credor quando o devedor no paga vai directamente ao patrimnio do credor.

Artigo 633, n 3 + artigo 780, n 2 + artigo 701. H uma diferena nestes regimes. Em vez de operar imediatamente a perda do benefcio do prazo, se a garantia for reforada no h perda do benefcio do prazo. O que relevante a responsabilidade pela perda da garantia.

Insolvncia: o devedor no tem liquidez para pagar. O devedor pode ter um patrimnio activo superior ao passivo, mas mesmo assim estar insolvente por no ter liquidez para pagar as dvidas que se vo vencendo. Algum recebeu um palcio em herana e tem de pagar dvidas e tem o palcio venda h 20 anos. Se o patrimnio no est disponvel e no consigo ir pagando as dvidas aos credores h insolvncia. Normalmente quando h insolvncia o patrimnio j foi todo liquidado e no h patrimnio, mas no tem de ser assim. OCIRE tem uma regra especfica que limita a possibilidade de resoluo de um contrato em caso de insolvncia.

AULA DE 23/10

A Dao pro solvendo no extingue imediatamente a obrigao.Se a dvida de 1000 e o devedor d um bem que vale 1200?Se for uma dao pro solvendo: o credor fica com os 1000 e depois devolve os 200 ao devedor.Se for uma dao em cumprimento: a obrigao extingue-se e o credor fica com os 1200. Tanto o devedor como o credor consideraram que a obrigao estava cumprida com a entrega do bem, apesar de ele ter um valor superior em relao ao crdito do credor.

A Dona Amlia deve 1000 e entrega um cordo de ouro que vale 800. Ela entrega o cordo e eles acordam que a dvida fica extinta em 800? A Dona Amlia fica a dever 200.H uma extino parcial da dvida.

IV

Em Maio de 2012, Antnio, residente no Porto, vendeu a Bernardo, residente em Coimbra, uma mota de gua, que se encontrava depositada num armazm, propriedade de Carlos, em Sines. O contrato foi formalizado em Leiria, tendo as partes acordado (i) que o preo de 20.000 seria pago em quatro prestaes mensais de igual valor, que se venceriam no primeiro dia til de cada ms e, bem assim, (ii) que a 1. prestao seria paga no dia 1 de Junho de 2012, data em que o bem seria entregue.Mais tarde, em Agosto de 2012, Bernardo vendeu a Antnio, por escritura pblica lavrada num Cartrio Notarial da cidade de Coimbra, um imvel de que aquele era proprietrio nessa cidade, pelo preo de 200.000 , tendo ficando Antnio devedor de metade do preo. Daniel, amigo de Antnio, constituiu uma hipoteca sobre um andar de que era dono para garantir a dvida de Antnio.Pergunta-se:

1. Em 1 de Junho de 2012, Bernardo quer pagar 5.000 . Qual o local apropriado para o fazer? Onde deve, por seu turno, Antnio entregar a mota de gua?

Problema: lugar da prestao.Problema: saber qual o lugar do cumprimento da obrigao, quando as partes nada estipularam.Regra: uma vez que se trata de uma compra e venda, h que ter em conta a regra especial do artigo 885 CC, que estabelece que o preo deve ser pago no momento e no lugar da entrega da coisa. As partes combinaram que o preo seria pago em prestaes, pelo que a primeira prestao deve ser realizada no lugar de entrega da coisa. , portanto, necessrio verificar onde deve ser efectuada a entrega. Para isso recorremos aos artigos 772 a 776. Trata-se de uma coisa mvel, pelo que se aplica o artigo 773 e, assim sendo, a obrigao deve ser cumprida no local onde a coisa se encontrar no momento da concluso do negcio, ou seja, em Sines.Qual a relao do artigo 885 com o artigo 773? Especialidade. O artigo 885 s diz respeito ao lugar de pagamento do preo, nada diz sobre a entrega da coisa. Para verificar onde se procede entrega a coisa recorre-se ao artigo 773.

Como se qualificam as obrigaes no que respeita entrega da coisa?A vendeu um quadro, como se qualifica quanto ao lugar de entrega? Cumprimento no domiclio do devedor Cumprimento no domiclio do credor Obrigao de envio: o devedor v cumprida a obrigao quando a entrega a um transportador e ele que tem obrigao de entregar a coisa ao credor. O devedor quando entrega no est totalmente exonerado. Porqu? H uma vinculao do devedor no sentido de no prejudicar a entrega por parte do transportador, mas a maior parte da sua obrigao est cumprida.

2. Em 1 de Junho, Bernardo cumpriu, contra a entrega do bem, a sua obrigao de pagamento. Porm, em 1 de Julho, invocando passar por srias dificuldades financeiras resultantes de um despedimento de que tinha sido vtima, Bernardo falha o pagamento da 2 prestao. Quid iuris?

Problema: perda do benefcio do prazo.No contrato de compra e venda a prestaes, se h falta de cumprimento de uma das partes o que acontece?Algum no paga a prestao a que estava obrigado. H incumprimento temporrio - resulta em mora. Mora: atraso no cumprimento da prestao. Consequncia: responsabilidade por danos causados ao credor e inverso do risco da coisa. A resoluo s existe quando h incumprimento definitivo.Como se transforma o incumprimento temporrio em definitivo? Quando h interpelao admonitria. No o caso.No h incumprimento definitivo.

H um contrato de compra e venda a prestaes que no foi cumprido pontualmente. O que acontece? H a regra especial do artigo 934. Neste caso excede a oitava parte e por isso d lugar perda do benefcio do prazo. O que acontece com a perda do benefcio do prazo? Todas as prestaes se tornam exigveis, mesmo as que ainda no se tenham vencido. H mora em relao s prestaes que ainda no estavam vencidas antes do incumprimento? No. No est em mora automaticamente, o que acontece que h perda de benefcio do prazo. Para estar em mora preciso que o credor interpele o devedor e s se este no cumprir que h mora. H uma mera situao de exigibilidade: enquanto o credor no exigir o cumprimento da prestao, no h incumprimento quanto s restantes prestaes. Quanto prestao que no foi cumprida j h mora porque quanto a essa prestao j passou o prazo, j est em mora, j est em incumprimento.

Dificuldades financeiras: se o devedor estivesse numa situao de insolvncia, mesmo que no judicialmente declarada, j havia perda do benefcio do prazo. No sabemos se est, mas temos de equacionar a possibilidade.

3. Suponha, agora, que Bernardo efectua o pagamento da 2, 3 e 4 prestaes do preo a Carlos, convencido de que este adquirira o referido crdito a Antnio por contrato de cesso de crditos que, afinal, no chegou nunca a ser celebrado. Considera estes pagamentos vlidos? Justifique.

Problema: prestao feita a terceiro.No se aplica o artigo 583, n 2 porque no houve cesso.Artigos 769 e 770: a prestao deve ser feita ao credor ou ao seu representante. Artigo 770: a prestao feita a terceiro no extingue a obrigao. No cabe em nenhuma das excepes e por isso ele tem de realizar de novo a prestao ao verdadeiro credor. Carlos, a quem foi feita a prestao, ter de restituir o que lhe foi prestado

Problema: cumprimento feito ao credor aparenteRegra: a prestao deve ser feita ao credor actual (artigo 769). Caso a prestao seja feita a algum que no seja o credor, a obrigao no se extingue e o devedor tem de repetir a prestao isto resulta dos artigos 769 e 770.H excepes a esta regra, no artigo 770.Neste caso, a prestao feita a 3 no tem eficcia liberatria. O devedor tem de realizar nova prestao perante o credor: artigo 476, n 2.

4. Admita, ainda, que a dvida referenciada no segundo pargrafo do texto se vencia em 30 de Outubro de 2012, e que nessa mesma data Antnio (que deveria proceder ao pagamento do remanescente do preo) pede a dita soma emprestada a Bernardo, que aceita tal pedido, tendo ambos declarado que consideravam extinta a dvida primitiva e que Antnio passaria a dever a mesma quantia, no j na qualidade de comprador, mas na de muturio. Suponha, tambm, que as partes acordaram que a soma mutuada deveria ser restituda, de uma s vez, a 30 de Novembro de 2012, tendo Antnio falhado esse prazo. Face a esta situao, Bernardo reage intentando uma aco com vista a promover a execuo judicial da hipoteca, ao que Daniel responde alegando, em sntese, que se extinguiu, em 30 de Outubro de 2012, a obrigao que garantira com a hipoteca do seu imvel. Quem tem razo?

Problema: extino das obrigaes para alm do cumprimento.H uma novao: ocorre quando as partes acordam (tem de haver declarao expressa de ambas as partes) extinguir a obrigao, criando uma nova, diferente da primitiva. H uma novao objectiva: artigo 877. Aplica-se o artigo 859: houve declarao expressa.Quando se cria a nova obrigao, esta nasce independente de quaisquer garantias que existiam na obrigao primitiva. Artigo 861: extingue-se a obrigao primitiva e se no houver declarao expressa as garantias da obrigao antiga tambm se extinguem.No houve declarao expressa das partes no sentido de manter as garantias da obrigao anterior, por isso, as garantias da obrigao primitiva extinguem-se.

H dois tipos de novao:1. Novao subjectiva: alteram-se os sujeitos da relao obrigacional2. Novao objectiva: altera-se o objecto da obrigao.

Por que importante a declarao expressa? Para distinguir de outras figuras.A novao cria uma nova obrigao e isso no acontece na dao em cumprimento.

Faz sentido a extino das garantias? Sim, por causa do prazo. Algum garante uma obrigao que ia ser extinta no prazo de um ano e as partes constituem uma nova obrigao, mas que s se extinguir da a 20 anos. O terceiro que garantiu a obrigao no tem de ficar vinculado. Surge uma nova obrigao, se uma nova obrigao as garantias caem.

AULA DE 24/10V

Em 10 de Janeiro de 2012, Antnio celebrou com Bento um contrato de compra e venda de um iate pertencente a este ltimo, sujeito s condies seguintes:(i) O preo era de 200.000 , a pagar em 10 prestaes mensais e iguais, vencendo-se a primeira no dia 1 de Fevereiro de 2012, contra a entrega do iate, e as seguintes no primeiro dia de cada um dos meses subsequentes;

(ii) Para assegurar o cumprimento, Antnio constituiu uma hipoteca a favor de Bento, sobre uma vivenda que possua no Algarve e que estava avaliada em 250.000 .

Pergunta-se:1. Se as partes nada tiverem estipulado a esse respeito, onde dever ser entregue o iate? E onde devem ser pagas as prestaes do preo?Primeira prestao: deve ser paga no lugar onde se encontra a coisa, de acordo artigo 885, n 1.Restantes prestaes: devem ser pagas no domiclio do credor - artigo 885, n 2.

2. Caso Bento fosse menor e o contrato tivesse sido celebrado pelo seu representante legal, seria vlida a entrega do barco feita por Bento, na data aprazada?Problema: validade do cumprimento capacidade do credorArtigo 764/1: Bento incapaz. O acto vlido? Este acto no um acto de disposio, por isso ele tem capacidade para entregar o bem. O negcio foi efectuado pelo representante legal, que tem capacidade, s o acto de entrega que foi feito pelo incapaz. Houve uma venda de um bem, que consistiu n acto de disposio e resultou na transferncia da propriedade, que foi celebrado pelo representante legal. Aqui h um acto de entrega da coisa, para o qual no se exige capacidade.Como que algum pode ter prejuzo com o acto de entrega? Mas obrigaes genricas, em que tem de haver concentrao, acto para o qual o menor ou o incapaz pode no ter capacidade para realizar o acto. Outro caso o das obrigaes alternativas, em que cabe ao devedor escolher qual a prestao a realizar. O que determina se o incapaz pode ou no cumprir a margem de manobra que o incapaz tem, que pode prejudic-lo.

3. Se, aps terem sido pagas as duas primeiras prestaes do preo, Antnio causar inadvertidamente um incndio na vivenda que hipotecou, provocando uma diminuio do seu valor em 30.000 poder Bento fazer alguma coisa? E se o incndio tiver sido intencionalmente causado por Cardoso, conhecido piromanaco que fugira do hospital psiquitrico onde se encontrava internado?

O prdio dado como garantia da obrigao e o incndio diminuiu a garantia. Artigo 780, n 1: a causa do incndio imputvel a Antnio e o credor pode exigir imediatamente o cumprimento da obrigao. O n 2 estabelece que se o credor quiser pode antes pedir o reforo das garantias. Bento pode exigir o cumprimento imediato da obrigao ou o reforo das garantias.Apesar da diminuio do valor da garantia, o bem continua a ter valor suficiente para garantir a obrigao, no entanto o prof Antunes Varela considera que independentemente de a garantia ainda dar para cobrir o valor da prestao, h uma quebra de confiana e portanto o credor pode na mesma beneficiar dos direitos que lhe so conferidos pelo artigo 780.

Caso de o incndio se dever aco de terceiro: h norma especial para a hipoteca - artigo 701. Havendo diminuio do valor das garantias por causa no imputvel ao devedor, o credor pode exigir reforo das garantias e se o reforo no for efectuado, ele pode exigir o cumprimento imediato.

Comparar o artigo 780 e o artigo 701: o artigo 701, n 1 s se aplica se a hipoteca se tornar insuficiente, pelo argumento literal. Prof: no chocaria se a observao do prof Antunes varela tambm valesse para a hipoteca. Quando se vai ao banco pedir emprstimo e a casa vale 100000 e eu pedi 80000. O juro que vou pagar tem duas partes: o custo que o banco tem de pedir dinheiro ao mercado e o spread.Quando se compara o artigo 780 e o artigo 701: no artigo 780 h perda de benefcio do prazo quando o valor da garantia diminui. No artigo 701 d-se a entender que o credor hipotecrio s pode fazer alguma coisa quando o valor da garantia for inferior ao da dvida e no artigo 780 isso no preciso. Quando se fala em diminuio do valor da garantia no 780 no precisa de ser abaixo do valor garantido, basta ser abaixo do valor inicialmente previsto. O credor pode exigir o reforo das garantias ou exigir o montante em dvida porque h uma diminuio da garantia. Nas regras da hipoteca isso no possvel - a garantia tem de cair para baixo do valor do bem garantido. O prof entende que no necessrio, que no artigo 701 tambm basta que o valor da garantia diminua.

4. Imagine agora que Bento reservou a propriedade do iate at ao pagamento integral do preo e que, aps ter liquidado as primeiras oito prestaes, Antnio falha o pagamento da nona (vencida em 1 de Outubro de 2012). Em consequncia disso, Bento enviou a Antnio uma carta a resolver o contrato, exigindo a imediata restituio do iate. Quid iuris?Problema: falta de pagamento de uma das prestaes, no pagamento em prestaes.Artigo 934: houve reserva de propriedade, o bem foi entregue. A prestao em falta no excede a 1/8 parte do preo, assim no pode haver resoluo do contrato nem perda do benefcio do prazo relativamente s prestaes seguintes.Resposta estruturada - ver separadamente a questo da resoluo e da perda do benefcio do prazo:No pode haver resoluo do contrato porque a prestao em falta no excede 1/8 parte do preo.Podia colocar-se a questo de saber se pode haver vencimento das prestaes em falta - no pode porque a prestao a que o devedor faltou no excede a oitava parte do preo.O devedor est em mora. S se ele no pagasse outra prestao podia haver perda do benefcio do prazo.Se ele pagar a 10, mas no pagar a 9? Pode exigir judicialmente o cumprimento da prestao: artigo 817.

5. Dada a recusa de Bento em receber as prestaes de Outubro e Novembro, Antnio depositou-as num banco, em conta ordem daquele. Ter ficado liberado da dvida?Possibilidade de haver consignao em depsito por parte de Antnio.Artigo 841: est reunido um dos pressupostos para que o devedor consigne em depsito a sua prestao - o credor est em mora porque no aceita as prestaes quando devia. O devedor s fica liberado quando Antnio aceitar a consignao ou quando o tribunal aceitar a consignao, por isso partida o devedor no fica liberado da dvida porque a simples consignao em depsito dos valores no determina a liberao. A dvida s fica extinta se o credor aceitar a consignao ou o tribunal declarar a consignao como vlida.

Relativamente consignao h 3 aspectos a ter em conta: Com a consignao h uma relao processual entre o credor e o devedor Relao substantiva tripartida com credor, mediador e depositrio Eficcia da consignao relativamente dvida originria.

VI

Amlcar deve a Benedita 1.000 , vencendo-se a obrigao de pagamento em 31 de Outubro de 2011. Considere as seguintes hipteses:

1. Em Junho de 2011, Amlcar apresenta-se junto de Benedita propondo-lhe a cesso de um crdito que tem sobre Cardoso, com vista total extino do seu dbito. Benedita aceita o negcio proposto. Poucos dias depois, Benedita informa Amlcar de que a sua dvida para consigo se mantm, uma vez que, ao tentar cobrar o crdito a Cardoso, este invocara, justificadamente, a prescrio. Amlcar sustenta, porm, que nada deve a Benedita. Quid iuris?Problema:H uma dao em cumprimento ou uma dao em funo do cumprimento? Aqui difcil perceber e assim sendo podemos recorrer ao artigo 840, n 2: presume-se que uma dao em funo do cumprimento quando houv e uma cesso de crditos ( o caso) ou uma assuno de dvida.

2. Imagine que o crdito no tinha prescrito, mas que Cardoso era pai de Benedita. Se Cardoso morrer, pode Amlcar considerar que a sua dvida para com Benedita se extinguiu nesse momento?H confuso?A questo de aplicabilidade do instituto da confuso. No h extino da obrigao por confuso em virtude do requisito negativo do artigo 872 o crdito e a dvida pertencem a patrimnios separados, por fora da herana, que constitui um patrimnio autnomo.Se depois de pagas as dvidas da herana ela receber alguma quantia, h confuso.

O caso sub Jdice remete-nos para amatria da cesso de crditos eda confuso. Como j foi demonstrado na hiptese anterior, quando estamos perante uma cesso de crditos esta pode ser uma dao em cumprimento ou uma dao em funo do cumprimento, resultante esta da presuno que consta do art. 840, n 2.Contudo, o presente caso levanta tambm a possibilidade de podermos estar perante a confuso. A confuso (artigo 863) consiste na extino simultnea do crdito e da dvida em consequncia da reunio, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor. Para podermos estar perante este instituto necessrio que se encontrem observados alguns requisitos: (1) reunio na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor, o que efectivamente sucede; (2) inexistncia de prejuzo para os direitos de terceiro (art. 871/1): a confuso justifica-se por no existir necessidade jurdica de manter a obrigao, como instrumento de colaborao inter-subjectiva, a partir do momento em que se verifica a reunio das posies do credor e do devedor na mesma pessoa; (3) no pertena do credito e da divida a patrimnios separados: no caso de o credito e a divida pertencerem a patrimnios separados determina o art. 872 a no verificao da confuso. A consequncia que decorre deste ltimo requisito assenta na impossibilidade de verificao da confuso uma vez que esta a ocorrer poria em causa essa mesma separao ao fazer desaparecer os valores activos de um patrimnio em benefcio da extino de responsabilidade de outro patrimnio. Se a confuso se verificar em consequncia deo devedor adquirir o crdito por herana, continua ele a responder pela sua obrigao at liquidao e partilha (artigo. 2074/1 + 2070 pelo menos durante5anos - mesmo que uma pessoa seja o nico herdeiro para assegurar a realizao das preferncias findos os 5 anos pode acontecer que ainda seja a herana no tiver sido partilhada), altura em que se extingue a separao de patrimnios (at liquidao integral herana jacente pressupe que existem vrios herdeiros).Ora, no presente caso, este ltimo requisito (no pertena do crdito e da dvida a patrimnios separados) no se encontra verificado uma vez que a herana um patrimnio autnomo que no se confunde com o patrimnio pessoal do herdeiro. Poderamos ainda levar a questo da herana deficitria: s se pode dizer que uma determinada dvida se extingue quando se entende que Benedita (credor e devedor simultneo) tem interesse em considerar a sua dvida paga atravs da cesso de crditos. Sendo a herana deficitria Benedita como herdeira do seu pai iria pagar alguma coisa e assim sendo em rigor o crdito dele no iria ser pago. Deste modo a divida Amlcar e Benedita no se extingue, na medida em que o devedor nunca iria pagar nada a Amlcar (herana enquanto patrimnio autnomo s responde pelas suas dividas e s ele responde por elas) logo ela tem todo o interesse em cobrar o que Amlcar deve a Benedita. Uma vez que com a confuso a dvida no se extingue, pode acontecer conjugar-se as regras da confuso com a da dao pro solvendo (presuno do art. 840, n 2 no mbito da cesso de crditos).Em suma, no existindo confuso, a dvida de Amlcar para com Benedita mantm-se; se pelo contrrio se tivesse existido confuso, e sendo o activo superior ao passivo na herana de Cardoso a dvida de Amlcar para com Benedita seria extinta: Benedita teria interesse em tal uma vez que no teria de pagar o que devia enquanto herdeira de Cardoso. Havendo confuso e sendo a herana deficitria a dvida de Amlcar para com Benedita no se extinguiria, e Benedita, enquanto herdeira de Cardoso, no teria de pagar nada a Amlcar, tendo interesse em cobrar dinheiro a este.

3. Suponha, agora, que em Novembro de 2011, Benedita escreve a Amlcar lembrando-o de que a obrigao de pagamento (dos 1.000 ) se vencera em 31 de Outubro de 2011, e que, nessa medida, iria avanar com uma aco em tribunal a reclamar o pagamento da dita quantia, acrescida dos respectivos juros de mora. Em resposta, Amlcar alega ser credor de Benedita em 2.000 e respectivos juros, contados desde Outubro de 2010, ms em que sofrera prejuzos no seu bom nome e honra, em resultado de uma notcia, falsa, posta a circular por Benedita no jornal 24 Horas nos termos da qual se dizia que A era arguido num processo criminal por suspeitas de burlas telefnicas cometidas no vero de 2000. Quid iuris?Questo:Pode ocorrer a compensao?O crdito provm de um facto ilcito doloso? necessrio levantar a questo.Se o facto for doloso no se podem extinguir por compensao. Neste caso, Amlcar requer a compensao e por isso podia extinguir o crdito por compensao. Se fosse ao contrrio, se fosse Benedita a requerer a compensao j no poderia.A questo saber em que medida que um crdito resultante de um direito litigioso pode ou no ser compensado.

Nos termosdo art.847 acompensaoconsiste numaforma deextino daobrigao que permite que quando duas pessoas estejam reciprocamente obrigadas a entregar coisas fungveis da mesma natureza admissvel que as respectivas obrigaes sejam extintas, total ouparcialmente, pela dispensa de ambas de realizaras suas prestaes oupela deduo a uma das prestaes da prestao devida pela outra parte. A compensao apresenta como vantagens o facto de produzir a extino das obrigaes dispensando a efectiva realizao das prestaes facilitao de pagamentos; e de permitir ao declarante extinguir a sua obrigao, mesmo que no tenha qualquer possibilidade de receber o seu prprio crdito por insolvncia do seu devedor garantia (atpica) dos crditos.

A compensao pode revestir uma de duas modalidades: ou ser legal (requisitospositivos do art. 847 erequisitos negativos do art. 853), ouser convencional (segundo o Prof. Antunes Varela a lei prescinde dos requisitos do art. 847, mas as partes nopodem derrogar aaplicao dos requisitos doart. 853).No presente caso,parece claro que estamos perante um caso de compensao legal, pelo que desta forma teremos de analisar se os requisitos positivos (art. 847) e os requisitos negativos (art. 853) se encontram preenchidos. Verifiquemos primeiro os requisitos positivos. O primeiro requisito positivo assenta na Reciprocidade de crditos: essencial que o devedor sejaporoutroladocredordoseucredor,sendoqueocrditocomoqualodeclarante extingue a sua dvida se chama crdito activo (aquele que invocado depois para contrapor/extinguir o crdito que pedido, ou seja o credito de quem invoca a compensao). O crdito passivo representa aquele contra o qual a compensao opera. Parece claro que este primeiro requisito se encontra verificado.

2 requisitopositivo: validade,exigibilidadeeexequibilidadedocontracrdito(do compensante), do crdito activo: necessrio que o crdito do compensante sejajudicialmenteexigvelequeodevedornolhepossaoporqualquerexcepoperemptriaoudilatriadedireitomaterial(art.847/1al.a)).Spodemassimser compensados os crditosem relao aos quaiso declarante esteja emcondies de obter a realizao coactiva daprestao. Deste modo no podem sercompensados crditos de obrigaes naturais com dvidas respeitantes a uma obrigao civil. E tambm no pode ser efectuada a compensao se o crdito ainda no estiver vencido (art. 849) oua outrapartepuderrecusarocumprimento(invocao daexcepo denocumprimento(art.428), da prescrio (art. 300), nulidade e anulabilidade - em relao a esta ultima exige-se que ela tenha ocorrido antes do momento em que se verificou a compensabilidade dos crditos (art. 850)). Em suma, o crdito activo no pode ser um crdito no vencido ou natural. Este segundo requisito tambm se encontra verificado.

O terceiro requisito assenta na fungibilidade do objecto das obrigaes: cabendo a uma das partes determinar o objecto da prestao s se poder recorrer compensao se a escolha implicar prestaes de coisas fungveis homogneas para ambos os crditos. O requisito da homogeneidade corolrio do principio de que ningum pode receber uma coisa diversa da devida. Contudo j no necessrio que a quantidade das coisas objecto da prestao seja idntica. O facto de as dividas no serem de igual montante determina apenas que a compensao seja parcial em relao divida de montante superior (847, n 2). Por outro lado, o facto de ainda no estar determinada a quantida dedevida no impede que se opere imediatamente a compensao (art. 847/2) averiguando-se posteriormente o montante em que ela ocorreu. Este requisito tambmparece verificado.

Porfim,oltimorequisito positivoassenta naexistncia evalidade do crdito principal/passivo: o declaratrio tem que ser titularde um crdito valido, sem o que a compensao nunca poderia operar, j que o declarante nem sequer seria devedor. Esse crdito do declaratrio tem que estar na situao de poder ser cumpridopelodevedor. Nopode assimodeclarante pretendercompensar umadivida suaainda no vencida, se o prazo tiver sido estabelecido em beneficio do credor. J no constitui condio para a compensao operar que o declaratrio esteja em condies de poder exigir judicialmente o cumprimento, pelo que nada impede o declarante de compensar dividas ainda no vencidas se o prazo correr em seu benefcio. Pode igualmente o declarante utilizar a compensao para extinguir dividas naturais suas com crditos civis que tenha sobre o declaratrio uma vez que em relao a elas se verifica a possibilidade de cumprimento, ao qual a lei atribui causa jurdica quando espontaneamente realizado (art. 817). Mais uma vez, o requisito tambm se encontra verificado.

Uma vez verificados todos os requisitos positivos, ser necessrio atender s especificaes do art. 583 (requisitos negativos). O art.583, n 1 al. a)considera como causa de excluso da compensao os crditos provenientes de factos ilcitosculposos. Resulta da lei reprimir este tipo de comportamentos e retiraros benefcios que dele poderiam resultar. Contudo, o Prof. Antunes Varelainterpreta esta norma num sentido diferente em que nada impede que lesado venha invocar acompensao para extinguira sua dvida, sendoquequem no pode invocar a compensao neste caso seria o devedor da obrigao de indemnizar pela prtica de factos ilcitos dolosos. A compensao tambm no poderia operar se ambos os crditos respeitassem a factos ilcitos culposos. Tal deriva do facto de a compensao visar simplificar os pagamentos e de ser garante da obrigao de forma atpica (no se encontra prevista no art. 604).

AULA DE 30/10Impossibilidade: A impossibilidade um facto extintivo da obrigao. Pode ser originria ou superveniente. Originria: artigo 280 a obrigao nula desde a origem. Superveniente: no padece de e nenhum vcio genrico. Vamos dar a impossibilidade superveniente.

Temporria ou definitiva: consoante impossvel temporariamente cumprir ou de todo impossvel cumprir.

Subjectiva e objectiva: Subjectiva: eu pessoalmente no posso cumprir a obrigao, mas ela em termos objectivos possvel de cumprir. Obriguei-me a entregar um anel, mas ele caiu num poo de 150 metros de profundidade e fica muito caro tir-lo e eu no tenho dinheiro para tirar o anel - no impossvel verdadeiramente, porque possvel ir l busc-lo, eu que no posso ir porque no tenho dinheiro - a prestao impossvel mas a impossibilidade subjectiva.Objectiva: no possvel cumprir a obrigao. Se me obrigo a entregar um quadro que tenho em casa mas h um incndio e o quadro destrudo, a prestao impossvel h impossibilidade objectiva.

Dao em pagamento: tenho uma casa e entrego ao banco a casa para o cumprimento - princpio geral: necessrio o consentimento do credor em relao nova prestao para haver extino da obrigao. A prof falou em jurisprudncia - princpio: se eu no cumprir com o meu crdito no posso entregar a casa como pagamento sem consentimento do banco. Por causa da crise, e para situaes limite, o legislador criou um regime especial para famlias com grandes dificuldades: lei 58/2012 que permite a ttulo excepcional que as pessoas com grandes dificuldades e verificados muitos requisitos (que essa famlia no ultrapasse determinado tecto de rendimento familiar) possam entregar a casa ao banco em pagamento das dvidas sem o consentimento do banco - mas s para famlias com rendimento muito baixo, desde que o valor da casa e o dinheiro que entregaram para pagamento do emprstimo alcance o valor em dvida. um regime muito especial. O regime geral que a dao carece sempre do consentimento do credor.

4. Suponha, ainda, que a obrigao de Amlcar para com Benedita resultava de um contrato de compra e venda de um computador porttil e estava garantida com um penhor de uma jia pertencente a Cardoso. Suponha, ainda, que em 31 de Outubro de 2011, data em que Amlcar deveria proceder ao pagamento do preo, este pediu a dita soma emprestada a Benedita, que aceitou, passando, assim, aquele a det-la a ttulo de muturio, tendo ficado acordado entre as partes que a referida soma deveria ser entregue, o mais tardar, at ao dia 31 de Outubro de 2012. Nessa mesma data, Amlcar falha o pagamento, tendo, nessa medida, Benedita interpelado Cardoso, na sua qualidade de garante, para o fazer. Cardoso, contudo, recusa-se a faz-lo, alegando, em sntese, que a dvida garantida se extinguira com o novo acordo celebrado em 31 de Outubro de 2011 e que, se assim no se entendesse, declarava a compensao da obrigao de Amlcar perante Benedita no montante de 1.000 com o crdito de que ele prprio, Cardoso, era titular perante Benedita no montante de 1.500 em virtude de um contrato de compra e venda celebrado entre ambos.

Problema: saber se a obrigao de pagamento de preo no primeiro contrato pode ser extinta pela novao.A novao pode ser subjectiva ou objectiva. Tem de haver declarao expressa: artigo 859. Caso a obrigao seja nula ou anulada, a obrigao primitiva ressurge.No caso havia uma novao objectiva. Artigo 860 aplica-se? O artigo 860 para situaes de ineficcia - situao em que o negcio no produz os seus efeitos.

Art 847: usa um crdito seu para extinguir uma dvida que no era sua. Mas h o artigo 851 que permite que ele use um crdito seu para extinguir uma dvida de terceiro porque ele interessado.

Problemas: saber se h novao objectiva e se houve extino da primeira obrigao, extinguindo-se as garantias prestadas. Saber se h compensao.Quanto ao problema de saber se h novao objectiva:A novao uma forma de extino das obrigaes para alm do cumprimento em que as partes extinguem a obrigao inicial constituindo uma nova e que est prevista nos artigos 857 e seguintes. Tem de haver declarao expressa da inteno de ambas as partes extinguirem a obrigao primitiva, de acordo com o artigo 859. Uma vez que no se verifica esse requisito da declarao expressa, no h novao, h alterao dos elementos da obrigao. Assim sendo, a dvida no se extinguiu pelo que Cardoso ainda tem de prestar as garantias que se vinculou a prestar.

Quanto ao problema de saber se h compensao:A compensao uma forma de extino das obrigaes que permite que duas obrigaes fungveis se extingam quando ambos os devedores so tambm credores um do outro.Cardoso invoca um crdito seu para com Benedita para extinguir a obrigao de Amlcar para com Benedita. necessrio que se verifiquem os requisitos positivos: que haja reciprocidade de crditos: artigo 851. Para haver compensao, o compensante s pode utilizar para compensao crditos seus e no de terceiro: o que resulta do artigo 851, n 2. Cardoso invoca um crdito seu, por isso no se levanta problema. No entanto, C invoca este crdito seu contra uma obrigao de terceiro. O artigo 851, n 1 estabelece que a compensao s pode abranger a dvida do declarante e no de terceiro. No entanto, possvel que a dvida seja de terceiro e ainda assim haja compensao caso o declarante esteja em risco de perder o que seu em consequncia da dvida de terceiro. Neste caso, pode haver compensao neste caso ainda que a dvida seja de terceiro. necessrio que o crdito activo seja existente, vlido, exequvel e exigvel.Os crditos tm de ser fungveis.O crdito passivo tem de ser vlido e existente.

Art 851/1: o terceiro at pode cumprir a obrigao enquanto terceiro, mas no pode fazer a compensao de dvidas alheias com crdito dele, com a exceo de quando est em risco de perder o que dele.O compensando s pode usar para a compensao crditos dele e no alheios. No n 1 fala-se de dvidas do declarante e de terceiros, no n 2 fala-se de crditos dele ou de terceiros.

5. Em 31 de Julho de 2011, tomando conhecimento de um conjunto de graves fatalidades que se abateram sobre a pessoa de Amlcar, Benedita escreve a quele uma carta onde, em sntese, lhe props o perdo da dvida. Amlcar nunca respondeu a esta carta. Entretanto, e como a referida dvida fora igualmente assumida por Cardoso, possuidor de uma vasta fortuna pessoal, Benedita exigiu, na data do vencimento da dvida, que a mesma fosse paga, por inteiro, por Cardoso. Este recusa-se a pagar, invocando, a conselho do seu advogado, que houve um perdo de dvida que o beneficia como devedor solidrio.

Quid iuris?Problema de saber se houve remisso da dvida.Artigo 863: para haver remisso de dvida tem de haver acordo das partes, no basta a declarao ser recebida pelo devedor, ele tem de declarar se aceita ou recusa. No houve acordo entre as partes por isso no houve remisso, as partes continuam obrigadas, a obrigao no se extinguiu. Prof Antunes Varela: a ningum pode ser imposto um benefcio contra a vontade. H um enriquecimento patrimonial da esfera do devedor e como tal o devedor tem o direito de dizer se aceita ou no.

A doutrina debateu muito se a remisso devia ter natureza contratual ou se devia ter natureza unilateral. Lei: a remisso natureza contratual. Como normalmente o que acontece so casos como a hiptese, o prof Antunes Varela tenta facilitar a remisso, no obstante o requisito da natureza contratual e f-lo atravs do regime da declarao tcita necessrio verificar de que forma que o comportamento do devedor podia univocamente atestar o consentimento remisso. Pode haver remisso atravs de declarao tcita, como em todos os contratos, mas no h um regime especial para a declarao tcita na remisso, tem de haver os requisitos gerais da declarao tcita: factos que com toda a probabilidade levem a outra parte a convencer-se que a outra parte aceita.

H uma obrigao solidria e o caso sugere que houve assuno de dvida por parte de Cardoso: artigo 595. A assuno de dvida ocorre quando um terceiro assume uma obrigao alheia, assume a posio do devedor. No uma assuno liberatria, uma assuno cumulativa. O antigo devedor no fica exonerado. No sabemos em que termos se processa esta solidariedade, mas Cardoso no fica liberado da dvida, uma vez que a assuno no liberatria. Ele assumiu a dvida solidariamente como devedor principal e portanto est obrigado. Quando sou solidariamente responsvel perante o credor, qualquer dos devedores solidrios pode sempre ser chamado a pagar a totalidade da dvida. A questo saber se a solidariedade perfeita ou no. Saber se o perdo um perdo da dvida ou da possibilidade de exigir a obrigao daquele credor.Solidariedade perfeita ou imperfeita: se houve perdo de dvida em relao a Amlcar a questo saber se Cardoso vai pagar a dvida na totalidade ou se s vai pagar a sua parte.

VII

Abel, Bernardo e Carlos celebraram com Duarte um contrato de compra e venda em virtude do qual ficaram solidariamente obrigados a pagar a Duarte 900 . Supondo que Bernardo detm um crdito de 300 sobre Duarte e que Carlos se encontra insolvente, pergunta-se:1. A quem pode Duarte dirigir-se para obter o cumprimento da prestao devida?Trata-se de uma obrigao solidria: artigo 526, n 1. Nestas obrigaes, os devedores para alm de responderem pela sua parte tm ainda de responder pela parte dos outros devedores, caso o credor exija a obrigao na totalidade de qualquer devedor.Nos termos do art. 512 e do art. 519, n 1, estamos perante um caso de solidariedade passiva, na medida em que existem vrios devedores adstritos mesma prestao e um s credor, podendo este exigir o cumprimento da prestao devida a Abel, Bernardo e a Carlos. O credor poder exigir 900 a um dos trs devedores (existindo depois direito de regresso entre eles) ou pode exigir de qualquer dos obrigados uma parte apenas da prestao, desde que tal no exceda no conjunto das execues o montante do seu crdito. Tal representa uma faculdade estabelecida no interesse do credor.

1. Suponha que Duarte se dirige a Abel e este:0. Mostra-se disposto a pagar apenas a sua parte;Artigo 518. Tem de efectuar a prestao por inteiro, no pode s cumprir a parte dele e recusar-se a cumprir o resto, sob pena de destruir aquilo em que consiste a solidariedade.

Nos termos do artigo 518, se o credor interpelar um dos devedores para cumprir tudo, o devedor solidrio no goza do direito de apenas cumprir a sua parte (excluso do direito diviso), mesmo que chame os co-devedores. A razo de ser do artigo 518 prende-se com o facto de sendo demandado pela totalidade da prestao, ou por uma parte dela superior quota que lhe compete nas relaes internas, o devedor tem a faculdade de chamar todos os outros demanda para com ele se defenderem. Embora no se exima do dever de efectuar toda a prestao, o demandado ter interesse em utilizar este meio, no s para que os outros colaborem com ele na defesa, como para se munir desde logo com o ttulo executivo capaz de lhe assegurar e facilitar a realizao do direito de regresso contra os condevedores. Em suma, Abel, enquanto devedor solidrio demandado pelo credor para cumprir integralmente a prestao, ter que faz-lo gozando depois de direito de regresso em relao a Bernardo e a Carlos nos termos do art. 524.

0. Recusa-se a pagarArtigo 519: se pedi judicialmente ao devedor A no vou poder pedir a B e C, a menos que corra o risco de que A no pague.

Se a prestao debitria se tornar impossvel por causa no imputvel a nenhum dos devedores, a obrigao solidria extinguir-se- em relao a todos eles, sem prejuzo do Commodum de representao (artigo 794) de que goza o credor, na hiptese da impossibilidade da prestao proporcionar ao devedor algum direito sobre certa coisa ou contra terceiro. Se a prestao debitria se tornar impossvel por causa imputvel a um ou a alguns dos devedores, h que distinguir quanto indemnizao entre a parte desta, correspondente ao valor da prestao devida e a parte excedente que corresponda ao dano do credor. Quanto prestao devida, nos termos do artigo 520, mantm-se a responsabilidade solidria de todos os devedores, sendo que quanto indemnizao pelo dano do credor s responde por ela o devedor ou devedores a quem o facto imputvel.

O artigo 520 estabelece um princpio geral relativo impossibilidade da prestao, impossibilidade esta absoluta definitiva e total de cumprimento da prestao que deve ser entendida no sentido de responsabilidade contratual. O Prof. Antunes Varela entende que este artigo poder-se- ainda aplicar aos casos de simples mora. Neste artigo fundam-se as solues no princpio de que os acontecimentos relativos a cada um dos devedores solidrios no devem beneficiar nem prejudicar os outros. Em suma, Abel encontra-se obrigado ao pagamento integral da prestao mais juros de mora, tendo direito de regresso em relao a Bernardo e a Carlos no tocante prestao integral apenas. .1. E se for Carlos quem se recusa a pagar em virtude da sua situao de insolvncia?Em caso de insolvncia, a quem pode pedir o pagamento?Dividir a resoluo da hiptese em relaes internas e externas.Relaes externas: 519, n 1: o credor pode exigir a qualquer dos devedores toda a prestao. Relaes internas: artigo 526 se um devedor est insolvente, a sua parte na dvida reparte-se entre os outros devedores.O devedor que pagar a prestao pode exigir 450 ao outro devedor.

Relaes internas: em caso de insolvncia de um dos devedores solidrios dispe o artigo 526, n 1 que, em caso de o devedor no poder cumprir a prestao a que est adstrito, a sua parte na dvida repartida proporcionalmente entre os outros devedores, mesmo entre aqueles que foram exonerados da obrigao ou da solidariedade pelo credor. Relaes externas: se Carlos for insolvente, Duarte pode exigir a prestao na totalidade a Abel ou Bernardo. Uma vez cumprida a obrigao, a obrigao extingue-se para com o credor, nos termos do artigo 523 e o devedor que cumprir a obrigao fica com direito de regresso para com os outros devedores, nos termos do artigo 524, havendo uma presuno de que as partes participavam na dvida em partes iguais no artigo 516. Aquele que cumprir integralmente a obrigao tem direito de regresso no valor de 450 (300 do outro devedor mais 150 de Carlos).

1. Suponha, agora, que Duarte acciona Bernardo. Poder este invocar algum meio de defesa? Os meios de defesa pessoais que assistem ao devedor solidrio podem ser opostos ao credor?Artigo 519, n 2: pode acionar a compensao e Duarte ficar exonerado da obrigao. Mas os outros codevedores solidrios ficaro devedores na medida da obrigao sem a parte de Duarte. O credor pode exigir a prestao aos outros devedores, mas no pode exigir a parte de Duarte, ou seja, s pode exigir 600, artigo 523.Se um dos devedores solidrios tem uma excepo que pode invocar relativamente ao credor extingue a obrigao parcialmente no valor do montante compensado e ficam a faltar 600. O credor pode pedir os 600 aos devedores. Se o credor pede o cumprimento de 900 e o devedor pode excepcionar 300, ele ao excepcionar 300 no deixa de ter de pagar os 600. Depois tem um direito de regresso de 300 contra um dos devedores e de 300 contra o outro.

Bernardo, tendo um crdito sobre Duarte, pode invocar a compensao. Havendo compensao, se Duarte exigisse o crdito de Bernardo, este s tinha de lhe pagar 600 e, de acordo com o artigo 523, o interesse de Duarte seria satisfeito. Depois de pagar, Bernardo teria um direito de regresso sobre A de 300 e outro sobre C no mesmo valor.

AULA DE 31/10

VIII

Antnio e Berta, casados h 25 anos, decidem celebrar a data festiva oferecendo um jantar a familiares e amigos. Contrataram Carlos e David, reputados chefes da arte da culinria, para confeccionar a refeio, no dia 18 de Agosto. Ficou acordado que a ementa seria escolhida pelo casal.Considere as seguintes hipteses, isoladamente:

1) Na data acordada, Antnio e Berta exigem a confeco do jantar a Carlos e a David. Carlos comunica-lhes que David se ausentou para frias, pelo que a refeio s poder ser servida em Setembro. Antnio e Berta pretendem que Carlos confeccione o jantar, sozinho. a) Podem reclamar a confeco do jantar apenas a Carlos?H uma obrigao indivisvel porque no pode ser fraccionada sem perda do valor econmico. Para alm de indivisvel, a obrigao conjunta: a solidariedade tem de ser prevista pela lei ou pelas partes e no foi, por isso segue-se o regime geral da conjuno: artigo 513. H uma obrigao plural, conjunta e indivisvel. A obrigao infungvel ou seja h um contrato intuito personae porque quero precisamente aqueles dois chefes. O contrato intuito personae tem a tnica na prestao de algum. Neste caso contrata-se o servio conjunto dos chefes A e B e no se contrata o chefe A e o chefe B.O regime do artigo 535: h conjuno neste caso e, sendo conjunta, a obrigao s pode ser exigida a todos os devedores. H mora ou impossibilidade? A mora o atraso no cumprimento da obrigao. o que se passa neste caso? Neste caso h incumprimento definitivo porque h perda do interesse do credor.Pode reclamar a confeco do jantar s a Carlos? No porque a obrigao conjunta: artigo 535, n 1.Para saber se a obrigao se extingue ou no necessrio atender ao artigo 537, que determina a extino da obrigao caso esta se torne impossvel por facto imputvel a algum devedor. S se pode aplicar este artigo se houver impossibilidade objectiva. Cumpre averiguar se h um caso de impossibilidade objectiva, se h incumprimento definitivo. Daniel ausentou-se em Agosto, o que faz com que o incumprimento se torne definitivo porque Antnio e Berta queriam celebrar a data de aniversrio de casamento, que em Agosto, sendo que Daniel s regressa em Setembro. Se houver uma situao de impossibilidade objectiva, a obrigao extingue-se.

b) Se Carlos aceitar, voluntariamente, confeccionar o jantar sozinho, que direitos lhe assistem em face de David?A obrigao conjunta e no solidria. Carlos cumpriu a prestao integralmente e portanto ele que tem o direito de receber o preo. Se os credores pagarem a David, Carlos tem direito de regresso contra David. Carlos podia pedir mais do que o preo: podia pedir uma indemnizao caso tenha tido custos adicionais com a confeco do jantar, nos termos da responsabilidade contratual.Nas relaes entre os vrios credores vigora o princpio de que cada um dos obrigados responde apenas pela quota que lhe pertence ao dbito comum. Se algum dos devedores realiza a prestao indivisvel devida sem o concurso dos outros ter o direito de exigir de cada um deles o que lhe compete na responsabilidade comum. No plano das relaes externas, o solvens poder exigir dos demais devedores a sua quota-parte na responsabilidade comum. Nota: o risco da insolvncia corre integralmente por conta do devedor da obrigao que, renunciado garantia do artigo 535, opta por cumprir a prestao perante o credor.

c) Se Carlos aceitar, voluntariamente, confeccionar o jantar sozinho, pode exigir o pagamento integral do preo convencionado a Antnio e a Berta?Quem cumpriu foi Carlos. Se ele cumpriu, o prof acha que pode exigir a totalidade do preo convencionado a Antnio e a Berta. No h norma especfica, tem de se seguir a lgica do cumprimento e no cumprimento das obrigaes. No presente caso, o pagamento da prestao constitui uma obrigao divisvel, na medida em que o seu fraccionamento possvel sem prejuzo. Nos termos do artigo 534 trata-se de uma obrigao conjunta pelo que Carlos ter apenas direito ao crdito da sua parte, que se presume igual parte de David. Relativamente a essa metade, poder pedir do preo a cada um dos devedores.

2) Na data acordada para o jantar Antnio e Berta desentendem-se quanto ementa pretendida. Antnio exige de Carlos e David a confeco de uma refeio de sushi, para fazer uma surpresa a Berta e, assim, resolver a falta de acordo quanto ementa. Carlos e David, receosos de que Berta no venha a gostar da refeio escolhida, recusam-se a servi-la sem o acordo desta. Existe fundamento legal para essa recusa?Artigo 538: ele pode exonera-se perante um se cumprir judicialmente, para se exonerar da obrigao tem de efectuar a prestao perante os dois credores. Para a poder exigir a prestao sem o consentimento de B tem de solicitar o cumprimento judicial.Nos termos do artigo 538, a lei optou pela soluo de dar a qualquer dos credores o direito de por si s exigir a prestao inteiro, sendo que o devedor enquanto no for citado judicialmente s poder exonerar-se efectuando a prestao a todos os credores caso contrrio poder ter de cumprir de novo perante qualquer um dos outros credores. O regime do artigo 538 significa que a citao judicial do devedor por um dos credores transforma a obrigao conjunta em solidria. Nota: a lei no refere neste caso a possibilidade de extino da obrigao em relao a algum ou alguns dos credores, mas parece que neste caso a soluo no pode ser diferente da consagrada no artigo 536. Deste modo, os restantes credores s podem exigir a prestao do devedor se lhe entregarem o valor da parte que cabia parte do crdito que se extinguiu.

IX

Antnio e Bernardo estavam obrigados a entregar a Carlos e Daniel cinco toneladas de bananas que estes lhes tinham comprado no dia 7 de Agosto. As bananas foram colhidas na propriedade de Antnio no dia 10, pesadas por Bernardo no porto do Funchal no dia 11, carregadas no navio do transportador Eduardo no dia 12 e descarregadas em Lisboa no dia 21 do mesmo ms.1) Por via de uma ruptura no navio de Eduardo, ocorrida durante uma tempestade na viagem, as bananas ficaram inundadas e estragaram-se. Carlos e Daniel tm de pagar o preo acordado a Antnio e Bernardo?Problema: saber por conta de quem corre o risco de perda e deteriorao da coisa.H uma obrigao genrica, em que o objecto da obrigao determinado em funo do gnero (bananas) e da quantidade (5 toneladas). Segundo o artigo 796 o risco corre por conta do proprietrio, pelo que necessrio determinar quem proprietrio das bananas.De acordo com o artigo 408, n 1 a propriedade transmite-se com a celebrao do contrato e, a ser assim, Carlos e Daniel seriam proprietrios das bananas desde 7 de Agosto. No entanto, de acordo com o nmero 2 do mesmo artigo, se a transferncia da propriedade respeitar a coisas indeterminadas, o direito s se transfere quando a coisa se tornar determinada com conhecimento de ambas as partes, com ressalva em relao s obrigaes genricas, em que a propriedade s se transfere com a concentrao.De acordo com o artigo 541, a regra de que a concentrao ocorre no momento do cumprimento, que neste caso se deu a 21 de Agosto. No entanto, pode ocorrer antes quando houver acordo das partes, quando houver concentrao natural e o gnero se extinguir ao ponto de s haver uma das coisas nele compreendidas quando o credor estiver em mora ou com a entrega ao transportador.

H transporte. H uma dvida de envio? Artigo 797: quando as bananas foram entregues ao transportador (dia 12) d-se a concentrao e o risco passa a correr por conta do adquirente e o adquirente vai ter de pagar o preo das bananas.Prof: de onde se retira que se tratava de uma dvida de envio? Artigo 797 diz o regime da obrigao de envio. As bananas estavam na propriedade de Antnio e segundo o artigo 773 a obrigao devia ter sido cumprida l, mas foram entregues em Lisboa e por isso houve transporte. Mas o transporte no determina uma dvida de envio. Para saber se h dvida de envio o ponto-chave saber se o transporte feito por terceiro ou por uma das partes. Se aqui em vez de Eduardo a fazer o transporte fosse Antnio ou Carlos o momento da concentrao seria diferente: sendo Antnio seria quando fossem descarregadas em Lisboa porque Antnio alienante, sendo o adquirente a propriedade podia transmitir-se em vrios momentos.

fundamental saber em casa contrato o momento em que se d a transferncia do risco. Em regra, nos termos do artigo 408, a propriedade e o risco transferem-se com a celebrao do contrato, mas isso no acontece sempre. O que se tem de perceber que a prtica contratual apenas transferncia de risco. A negociao de um contrato a cedncia do risco. Em qualquer contrato o que determinante definir o momento em que o risco se transfere. O prof acha que no resulta claro da hiptese o momento em que o risco se deve transferir. No acha que seja claro que h obrigao de envio. Devamos abrir as duas hipteses:

Se se tratava de obrigao de envio: o que uma obrigao de envio? Obrigao de envio: obrigao por fora da qual a coisa deve ser entregue em local diferente do local do cumprimento. Se h uma dvida de envio: o local de cumprimento podia ser na quinta ou noutros stios. Como que o regime? Onde se transferia o risco? Com a entrega ao transportador e a partir desse momento o risco corre por conta do comprador.No h obrigao de envio sempre que h envio por terceiro. Se estou a falar de pessoal que contrato, em regra no h dvida de envio. Exemplo: comprei uma cmoda do sculo passado em Paris por 1 milho de euros. Moro em Portugal e quero que v para minha casa. Se o alienante a escolher o transportador mas o comprador a pagar o transporte isso no significa que se transfira o risco.

Se tratava de uma obrigao de entrega como se iam passar as coisas? Regra do cdigo: o lugar do cumprimento, tratando-se de uma obrigao de entrega, na quinta: artigo 773, n 1 e n 2, que trata especificamente das obrigaes genricas. Na quinta transferia-se o risco e o comprador passava a suportar o risco. Tinha de pagar o preo das bananas.

Em que situao que o vendedor suportava o risco? Quando o risco s se transferisse com a entrega da coisa ao comprador, porque a quando as bananas estavam no barco o risco ainda corria por conta do vendedor.H 3 momentos relevantes: quando esto na quinta, no barco e quando chegam a lisboa. S se o risco se transferisse com a entrega ao comprador, em Lisboa que o vendedor suportava o risco.

Obrigao de colocao: colocar disposio.

Obrigaes de vir buscar(dettes qurables,Holschulden): aqui, cabe ao credor vir buscar as coisas ao lugar em que o devedor as tenha, designadamente ao domiclio do devedor. Muitas vezes, o devedor (numa compra e venda, o vendedor) obrigase apenas a disponibilizar as coisas ao credor (o comprador) em certo local. Continua, todavia, a falarse de obrigaes de vir buscar quando o devedor se obrigue tambm a carregar as mercadorias para os camies do credor, por exemplo. Ateno que quem vem buscar o credor, no o devedor! Nas obrigaes de vir buscar, o devedor assume a vinculao mnima. Por isso, de esperar que tambm cobre um preo inferior.Obrigaes de envio(ou de enviar;dettes denvoi,Schickschulden): nestas, o devedor obrigase a enviar, e apenas a enviar, as mercadorias. Ou seja, obrigase apenas a entreglas a um transportador, que as levar ao destino. O cumprimento ocorre quando o devedor faz a entrega ao transportador. a estas obrigaes que se refere oart. 797.. Muitas vezes, o transportador indicado pelo credor, mas nem sempre. preciso no esquecer que h obrigao de envioquer quando o transportador seja contratado e pago pelo credor, quer quando seja contratado e pago pelo devedor.Obrigaes de levar(dettes portables,Bringschulden): nestes casos, o devedor cumpre apenas quando faz as coisas chegarem ao seu local de destino. Antes disso no h cumprimento. nas obrigaes de levar que o devedor assume uma vinculao maior, suporta mais custos e suporta mais riscos. Logo, normal que exija um pagamento mais elevado. Nas obrigaes de levar, tudo fica a cargo do devedor at as coisas chegarem; por isso, o mais frequente que o devedor tenha toda a liberdade de opo quanto ao modo de levar as mercadorias (p. ex., fazendo o transporte com quem quiser e pelo caminho que quiser), embora no tenha de ser forosamente assim.Numa compra e venda em que o vendedor se obrigue a levar, h, em rigor, um contrato misto de compra e venda com transporte, pelo menos quando seja autonomizvel este transporte (v.g., quando o preo acordado tambm em funo do transporte), mas isso no impede que s haja cumprimento da compra e venda quando as coisas so entregues no seu destino. Quando, nessa obrigao de levar, a parte do transporte tenha alguma autonomia econmica, pode acontecer que tenha de distinguirse entre o no cumprimento da prestao de coisa e o no cumprimento da prestao de facto (o transporte).Saber se temos uma obrigao de vir buscar, de enviar ou de levar um problema deinterpretao do contrato. As partes so absolutamente livres de estipular o que quiserem a este respeito. Se nada for estipulado, aplicamse as regras supletivas (arts. 772. e ss.), mas em princpio as partes no se esquecem de resolver este aspecto, expressa ou tacitamente. Os usos so aqui bastante importantes para a interpretao do contrato (cf. art. 236.).Por vezes, difcil distinguir uma obrigao de enviar de uma obrigao de levar. Reparese que, dum ponto de vista exterior, as situaes podem ser quase idnticas. Num caso em que o devedor entregue as coisas a um transportador por si contratado e o transportador as entregue ao comprador, tanto podemos ter uma obrigao de envio quanto uma obrigao de levar. Contudo, se for uma obrigao de envio o cumprimento ocorre com a entrega ao transportador. Se for uma obrigao de levar, o transportador um auxiliar do devedor (cf., alis, art. 800.) e o cumprimento s ocorre quando o transportador entrega as coisas ao credor. Num caso destes, necessrio descobrir no contratoaquilo que as partes consideraram cumprimento. E, para isso, convm atender a certos indcios. O uso da expresso obrigase a enviar, por exemplo, uma ajuda evidente. A estipulao de que o vendedor emitir a factura no momento do envio tambm indicia que ele se obriga apenas a isto mesmo, j que as facturas so em regra emitidas no momento do cumprimento. A estipulao de um prazo para o envio vai no mesmo sentido, ao contrrio da estipulao de um prazo para a entrega no local de destino.Na prtica da compra e venda internacional de mercadorias, comum o uso dosincotermsdaCCIpara esclarecer no contrato que tipo de obrigao que as partes assumem. Osincotermsso, essencialmente,abreviaturas de clusulas contratuais. Treze abreviaturas a que a CCI (Cmara do Comrcio Internacional) atribui, desde 1936, um significado muito preciso. Convm saber o mnimo fundamental: oincotermde tipoEestipula uma obrigao de vir buscar; osincotermsde tipoFeCestipulam obrigaes de envio; osincotermsde tipoDestipulam obrigaes de levar. A diferena entre osFe osC que nos primeiros o comprador que contrata o transporte, enquanto que nosC o vendedor que o faz. O devedor assume uma vinculao maior nosC, mas h uma obrigao de envio em ambos os casos. Incoterms , por sua vez, um acrnimo deinternational commercial terms, ou seja, clusulas comerciais internacionais. Osincotermstambm podem ser usados em contratos internos, totalmente portugueses.Num contrato concreto, as vrias modalidades de prestao de coisa podem surgir combinadas. Por exemplo, um vendedor algarvio pode obrigarse a levar as coisas at Lisboa e a envilas a para certo armazm em Coimbra, onde o comprador, minhoto, vir busclas. No comrcio a distncias maiores, este exemplo ser porventura frequente. Contudo,o essencialnas prestaes de coisa (alis, como nas de facto!) determinar o momento do cumprimento. O aspecto decisivo sempre determinar aquilo a que o devedor se obrigou. Por isso, neste caso diramos simplesmente que h umaobrigao de envio, pois o envio o ltimoacto devidopelo vendedor. A partir da, o que acontecer s coisas no lhe diz respeito.Numa obrigao de envio, apesar de o cumprimento ocorrer com esse envio, pode darse um renascimento ouprolongamento da obrigaoquando o contrato de transporte celebrado pelo devedor (incotermsC)eo credor no recolhe as mercadorias no local de destino, desde logo se as mercadorias forem devolvidas ao devedor. O credor, claro, entra a em mora. Alguns autores entendem mesmo que, nas obrigaes de envio, embora aacode cumprir seja o envio, o cumprimento enquantoresultados ocorreria com a entrega pelo transportador ao credor. No direito alemo, alis, a propriedade sobre as coisas s se transmite com esta entrega. Assim, esses autores distinguem, em terminologia convencional, olugar da prestaodolugar do cumprimento. No direito portugus, esta tese no parece de acolher, ou seja, parece dever entender-se que o prprio resultado do cumprimento a entrega ao transportador, mas a questo no lquida. Sobre o tema, pode lerseVaz Serra,Lugar do cumprimento, BMJ 50, 1955, pp. 3439.No seu manual deDireito das Obrigaes(vol. II, Almedina, Coimbra, 2002, pp. 1612),L.Menezes Leitoadopta outra terminologia. Ao lado das obrigaes de envio, distingue obrigaes de colocao (as de vir buscar) e obrigaes de entrega (as de levar). Em nossa opinio, esta terminologia no adequada. A frmula obrigao de colocao , em si, inexpressiva; no comunica a ideia de pr disposio que o Autor pretende. Uma vez clarificada, porm, transmite a ideia inexacta de que j se estaria noutro tipo de obrigao quando o devedor se obriga a carregar as coisas para os camies ou para outro meio de transporte do credor. Acresce que tambm nas obrigaes de levar o devedor pode estar apenas obrigado a pr as coisas disposio do credor (no local de destino). Obrigao de entrega uma designao que ainda menos poderia ser aceite, pois h entrega em todas as prestaes de coisa, mesmo nas obrigaes de vir buscar!Entrega(ao transportador) at o termo que a lei usa quando se refere s obrigaes de envio (art. 797.), entre outros lugares (p. ex., noart. 796./2 e 3). A entrega um conceito geral a todas as prestaes de coisa; com a entrega que o devedor cumpre. Alm disto, no h motivo para no seguir a terminologia francesa e alem:qurireholenquerem dizer vir buscar (ou ir buscar);portablequer dizer levvel (transportvel, porttil) ebringensignifica levar (ou trazer). As expresses aqui propostas s poderiam soar estranhas a quem considerasse que uma construo com o infinitivo de um verbo, em vez da construo nominal, seria demasiado informal para textos acadmicos, o que no parece de acolher.In: http://muriasjuridico.no.sapo.pt/eTermgPrestCoisa.htm

2) Antnio e Bernardo so credores de Carlos e Daniel da quantia de 60.000 . Quanto que o credor Antnio pode exigir ao devedor Carlos?3) Distinga uma prestao de coisa fungvel de uma prestao fungvel, dando exemplos com base nos elementos constantes da hiptese.

X

Antnio reservou no hotel Serra Natura Spa a suite com vista de montanha do primeiro ou segundo andar. O hotel tem sete andares, e uma suite com vista de montanha por andar.

A) Chegado ao hotel, Antnio fica descontente por lhe ter sido destinada a suite do segundo andar, invocando ter medo de alturas. Exige ficar na suite do primeiro andar, que est ocupada.1) Pode faz-lo?2) A sua resposta seria a mesma se Antnio, aps a reserva, tivesse recebido um fax do hotel a comunicar-lhe que ficaria instalado na suite do primeiro andar?

B) Admita que ocorreu um incndio na suite com vista de montanha do primeiro andar.1) Pode o hotel recusar-se a alojar Antnio na suite do segundo andar?2) Se tivesse sido acordado que caberia a Antnio escolher em que suite ficaria alojado, a sua resposta alnea anterior seria a mesma, caso o incndio fosse imputvel ao hotel?3) E se tivesse sido acordado que caberia a Beatriz, noiva de Antnio, escolher entre uma das duas suites?

C) Suponha que Antnio marcou no hotel a suite com vista de montanha do primeiro andar, mas o hotel reservou a faculdade de o alojar na suite com vista de piscina do mesmo andar.1) Pode Antnio exigir ficar alojado na suite com vista de montanha se o hotel o alojar na suite com vista de piscina?2) Suponha agora que houve um incndio na suite com vista de montanha reservada. Antnio exige ficar alojado na suite com vista de piscina. O hotel recusa, invocando estar ocupada. Quid iuris?Se a impossibilidade acontece quando o terceiro, que no parte no contrato, que tem o direito de escolha, nesse caso o prof Antunes Varela defende que havendo duas escolhas e uma se torna impossvel, por excluso de partes a outra obrigao concentra-se e o terceiro pode perder a possibilidade de escolha de uma ou outra alternativa. O terceiro no tem direito de resolver ou pedir indemnizao - isso recai sobre a parte contratual, no sobre o terceiro. O problema est em saber se o terceiro s tem direito de escolha e tornando-se uma prestao impossvel perde o direito ou se o terceiro fica investido como parte no contrato (o prof acha esta ltima hiptese menos verosmil). A questo saber qual a posio que ele tem no contrato, se de alguma forma parte ou no.

XI1. Antnio, credor de Berta por 10.000 , cedeu o seu crdito a Carla. Berta, que no foi notificada da cesso, pagou a Antnio o referido montante. Que direitos assistem a Carla?

H uma cesso de crditos. Que direitos tem o cessionrio quando, depois de celebrada a cesso, o devedor cedido paga ao cedente?Efeito da cesso de crditos: transmisso do crdito por efeito do contrato. No houve notificao, aplica se o n 2. Se o devedor pagar ao cedente antes de ter conhecimento da cesso o pagamento bem feito.C tem de intentar aco por enriquecimento sem causa.

Nos termos do artigo 577, a cesso de crditos consiste numa forma de transmisso de crdito que opera por virtude de um negcio jurdico, normalmente um contrato entre o credor e terceiro, independentemente do consentimento do devedor. Para que ocorra uma situao de cesso de crditos necessria a reunio dos seguintes requisitos cumulativos: (1) negcio jurdico a estabelecer a transmisso da totalidade ou de parte do crdito; (2) inexistncia de impedimentos legais ou contratuais a essa transmisso; (3) no ligao do crdito em virtude da prpria natureza da prestao pessoa do devedor. No ordenamento jurdico portugus, o cumprimento efectuado ao credor aparente no se considera eficaz, salvo em certos casos excepcionais em que por ateno boa f do devedor a lei reconhece como tal. Um desses casos consiste na prestao efectuada pelo devedor ao cedente, antes de aquele ter conhecimento da cesso (artigo 583, n 1 e 2). Nos termos do artigo 583, n 1, embora a cesso de crditos no pressuponha um acordo do devedor, este tem de ser notificado e caso no o seja e nem saiba da cesso o cumprimento realizado ao credor aparente ser oponvel ao cessionrio, tendo o pagamento eficcia liberatria nos termos do artigo 770 al. f). Para que o cumprimento realizado ao credor aparente no seja oponvel ao cessionrio necessrio, nos termos do artigo 583, n 2, que este prove que o devedor conhecia a cesso. Neste caso, o empobrecido ir agir contra o credor que recebeu o dinheiro de acordo com as regras do enriquecimento sem causa.

2. Suponha, agora, que quando Carla exige de Berta o pagamento dos 10.000 , esta no paga em virtude da sua situao de insolvncia. Poder Carla exigir a Antnio o pagamento do referido montante?O cedente garante a solvncia do devedor?Artigo 547 - a regra de que no garante a solvncia, s se isso tiver sido estipulado.No pode exigir a Antnio o pagamento do referido montante.

Nos termos do artigo 587, n 2, necessrio apurar se no momento em que constituda a cesso de crditos Antnio garantiu a Carla a solvncia do devedor, ou seja de Berta. Caso tenha garantido estamos face a um incumprimento do contrato pelo que Carla ter direito a ser indemnizada. Caso no tenha garantido, por aplicao do regime supletivo, quem ir suportar os danos ser Carla, cessionria

3. Antnio, que tinha um crdito de 10.000 sobre Berta, cedeu parcialmente esse crdito, no