prática de morfossintaxe - inez sautchuk

46
7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk http://slidepdf.com/reader/full/pratica-de-morfossintaxe-inez-sautchuk 1/46  n ez Sa ut c huk  rátic a de M ~ ORFOSS INT  X  Esc rever um livro que trata d ee studos r elativos à morfossintaxe da lí:ng ;j a p or tug ues a e tor ná-Io acessível ao s univ ersitáx ios da á rea de L etras e aos professores das escolas de ensino fundament al e médio é uma tar e fa árdua. A p esquisadora e professor a Inez Sautchuk resolveu enfrentar o desafio com uma proposta  de tra- balho m e todológico, n e sta obra que já s e encontr a e ms egunda edição. Prática de morfossintaxe é resultado . do conh ecime nto t eórico  das div e rsas corrent e s linguísticas sobr e o tema e da exp eriência didática da autora.  esq t  ndo o caráter essencialmente lóqico da análise s int át ic a, e m co nso nân ci a co m a m or fol óg i c a, of erece um l eque de tópicos fundamentais, sem se d e ter em pon t os p assíveis de interpretação variada . Por meio de uma explanação teórica clara e ade quada, c om exemplos p recisos da língua em uso, esta obra lembra qu e al íngua é uma atividade social e de ação sobre o outro e que surg ee m textosconstruídos em contextos diversos . Ora. Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliv e ira Andrade  ~ irese  criação indeiinide var iedade sem limite própria vida da linguagem em açãoÉmile Benveniste  t Manole ISBN 978-85-204-3110-8 9  78852 43  8 Inez  u tc h uk  r ática de ORFOSSINT X

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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 nez Sau tchu k

  rá t ica

d e

M~ORFOSSINT X  

Escrever um livro que trata de estudos relativos

à

morfossintaxe

da lí:ng ;japortuguesa e torná-Io

acessível

aos universitáxios da área

de Letras e aos professores das escolas de ensino fundamental e

médio é uma tarefa árdua. A pesquisadora e professora Inez

Sautchuk resolveu enfrentar o desafio com uma proposta  de tra-

balho metodológico, nesta obra que já se encontra em segunda

edição.

Prática de morfossintaxe

é resultado. do conhecimento teórico

 

das diversas correntes linguísticas sobre o tema e da experiência

didática da autora.  esq t ndo o caráter essencialmente lóqico da

análise sintát ica, em consonância com a morfológica, oferece um

leque de tópicos fundamentais, sem se deter em pontos passíveis

de interpretação variada.

Por meio de uma explanação teórica clara e adequada, com

exemplos precisos da língua em uso, esta obra lembra que a língua

é uma atividade social e de ação sobre o outro e que surge em

textosconstruídos em contextos diversos.

Ora. Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade

 ~ irese 

criação indeiinide variedade sem limite própria

vida da linguagem

em

ação. 

Émile Benveniste

  t

Manole

ISBN 978-85-204-3110-8

9

 

78852 43  8

Inez

  u tchuk

  rá t i ca d e

ORFOSSINT X

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L IST D S PRINCIP IS

  R EV I T UR S U TIL IZ D S

A

Aposto

A.Adn.

Adjunto adnominal

A.Adv.

Adjunto adverbial

adj.

Adjetivo

AP

Agente da passiva

adv.

Advérbio

C

Complemento

CN

Complemento nominal

det.

Determinante

intenso

Intensificador

modif.

Modificador

OD Objeto direto

aI

Objeto indireto

PO

Predicativo do objeto

pré-det.

Pré-determinante

prep.

Preposição

PS

Predicativo do sujeito

S

Sujeito

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• I P

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A

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DE M O R E O 5 5

I

N

TA

X E  .

Sujeito simples

Sujeito composto

Sujeito oculto

Sujeito indeterminado

Sintagma adjetival

Sintagma nominal

Sintagma preposicionado

Sintagma preposicionado interno

Sintagma verbal

Verbo

Verbo intransitivo

Verbo de ligação

Verbo transit ivo direto

Verbo transitivo direto e indireto

Verbo transitivo indireto

SUMÁRIO

- -

Sobre a autora XIII

Prefácio à primeira edição.......................................................... XV

Nota sobre a segunda edição XIX

Apresentação XXI

Capítulo 1

o

que é morfossintaxe............................................................. 1

Os estudos gramaticais. 1

As unidades linguísticas e os níveis de análise...... 4

Por que morfossintaxe? 9

Capítulo 2

A classificação morfológica das palavras 15

Considerações sobre os critérios para a classificação

das palavras... 15

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·j PRÁ TICA DE M ORF OS SINTAXE j 

Os mecanismos mórficos e/ou sintáticos para a

classificação ou identificação das classes de palavras. 18

Substantivo.......................................................................... 19

Adjetivo.

22

Verbo.................................................................................... 24

Advérbio.............................................................................. 25

Demais classes de palavras................................................ 30

Funções adjetivas e funções substantivas............................ 31

Funções genéricas dos gramemas independentes............... 33

Questões comentadas 1...... 34

Exercícios de aplicação 1...................................................... 38

Capítulo 3

O estudo da sintaxe............... 43

A importância da sintaxe..................................................... 43

O campo de atuação da sintaxe.......................... 44

A estrutura sintagmática do português.... 46

Tipos de sintagmas 52

Decompondo os sintagmas.................................................. 57

Sintagmas autônomos 57

Sintagmas internos 58

Questões comentadas lI....................................................... 63

Exercícios de aplicação II 66

•I

S J L M .. Á .R . l i l . . . . . .G

Capítulo 4

Estudo dos termos da oração (período simples) 73

Estudo do sujeito da oração 78

Exercícios de aplicação III 88

Complementos verbais e predicação............. 92

Características morfossintáticas dos complementos

verbais .

A oração: funções acessórias (sintagmas autõnomos

e internos) .

Complemento nominal .

Quadro morfossintático dos termos da oração .

Cruzamento dos eixos de construção morfossintática .

Questões comentadas III .

A análise sintática: casos incomuns e sua interpretação .

Questões comentadas IV .

Exercícios de aplicação IV .

Capítulo 5

Emprego do conhecimento sintático 147

Construção de frases no texto............................................. 149

Observação da concordância sujeito/predicado 150

Estabelecimento da ordem direta de construção

de frases 152

Emprego correto das vírgulas 153

Exercícios de aplicação V 155

97

107

117

120

121

124

133

136

l40

xi

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  PRÁT I  D E MORE O SS IN T X E I·

Capítulo 6

Estudo sintático do período composto  

Orações subordinadas substantivas,

adjetivas e adverbiais 167

Paralelismo sintático 178

Questões comentadas

 

184

Exercícios de aplicação VI 193

Respostas dos exercícios de aplicação........................................ 203

Bibliografia 247

Índice remissivo 249

 

SO RE UTOR

Inez Sautchuk

 

Mestre e Doutora em Letras, na área de Filologia

e Língua Portuguesa, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas da Universidade de São Paulo FFLCH-USP e faz pesquisas

orientadas teoricamente pela Linguística Textual.

 

Professora Titular

aposentada do ensino superior em São Paulo, onde ministrou cursos

de graduação e pós-graduação relacionados à produção de texto es-

crito e à morfossintaxe. Participou da banca de correção de redação

da Fuvest por vários anos e fez parte da Comissão de Especial istas

de Ensino de Letras da Secretaria de Educação Superior do MEC. Já

publicou os livros   pr odu çã o di a lóg ica do texto esc rito e disponibiliza o

artigo S intax e  eixo da t ext ualid ade para downloa d no site http://www.filo-

logia. org. brlixfelinltrabalhos/pdf/63. pdf, entre ou tras publicações.

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PREFÁ IO À PRIMEIR EDIÇÃO

É no discurso atualizado em frases que a língua seforma e se con-

figura. Aí começa a linguagem. Poder-se-ia dizer decalcando uma

fórmula clássica: níhíl est in língua quod non prius fuerit in oretione'

Émile Benveniste 

Quando era professora de Língua Portuguesa, ainda no Ensino

Fundamental e Médio, sempre havia, em sala de aula, momentos ine-

vitáveis nos quais era preciso ensinar análise sintática . Aos poucos,

comecei a questionar a própria utilidade de um ensino mecânico e

repetitivo, pautado por uma nomenclatura complicada e por uma

equência exaustiva de exercícios e mais exercícios em forma de ora-

ões  com termos grifados . Sem que nenhum aluno me questionasse,

passei a me perguntar o porquê de tudo aquilo.

Insatisfeita com a limitação dos próprios exercícios e com a re-

dundância e a ineficiência de  macetes para encontrar o sujeito ou

Tradução livre: Nada existe na língua que não tenha existido primeiro na oração.

I1r nvcni S IC , É111i1 C . Problemas de linguística geral. Trad. de Maria da Glória Novak e

I , lltil N('1'1.Silo Paulo: Nacional/Edusp, 1976.

 

o

o O ol

0°0

 

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 JJ. R

Á

T I C A D E

MJlR.LO..5..llN.I~

o objeto direto de uma oração, ou classificar este ou aquele verbo

como transitivo ou intransitivo, compartilhava, secretamente, com a

maioria de meus alunos, certa aversão por esse tipo de estudo.

Ao mesmo tempo, irritavam-me as constantes imperfeições com

que os alunos se expressavam por escrito. Por que períodos tão con-

fusos ou tão obscuros? Por que tanta incapacidade ou impossibili-

dade de se expressarem com clareza e eficiência em suas redações?

Não lhes eram suficientes as tantas regras de gramática e as tantas

aulas e exercícios de análise sintática que os vinham perseguindo

por anos a fio?

Com o avanço dos estudos linguísticos, principalmente na área

aplicada, com a preocupação cada vez maior em se entender o texto

como unidade fundamental de comunicação verbal, e a partir de

noções trazidas pelos teóricos da Linguística Textual, pude começar

a rever a utilidade e a efetiva funcionalidade de certos aspectos do

ensino dalíngua materna. Cada vez mais eu ia deixando uma gramáti-

ca da frase para ocupar-me com uma gramática do texto: o objetivo

maior das aulas de Língua Portuguesa deveria ser sempre ensinar ao

aluno tudo aquilo que ele pudesse, efetivamente, usar com a finalidade

primeira de melhorar sua capacidade de expressão e de comunicação

na língua materna, em sua modalidade oral ou escrita.

Convencia-me, então, de que as aulas de análise sintática não

poderiam continuar em sua mesmice, repetindo conceitos já ul-

trapassados ou ignorando o quanto esse ensino poderia ser útil no

desenvolvimento da capacidade de comunicação verbal do aluno.

O texto assumia, afinal, sua posição central e fundamental dentro

das relações de intercâmbio comunicativo realizadas pelos usuários

da língua. E a frase reaparecia e retomava sua importância como

unidade responsável pela boa forma linguística desses textos: a

x v i

• I

I .RLE.A.uoJJ.luM.El.RAJ..Il..LJ;A.o--.l

frase, criação indefinida, variedade sem limite, é a própria vida da

linguagem em ação' ,

Seum texto deve pautar-se por regras específicas de textualidade

e de textualização, asunidades que o compõem - as frases - aceitam

uma combinação múltipla de constituintes do sistema linguístico,

visando a uma relevância comunicativa, isto é, preenchendo tam-

bém uma condição de textualidade. O sentido de cada uma dessas

unidades é realizado formalmente na língua por meio da escolha

e do arranjo de seus constituintes hierarquicamente combinados.

Submetem-se, ainda, à força das leis que regem essa organização

sintática:  é inerente à própria linguagem, que a ideia não toma

forma senão

num arranjo sintagmático 4.

Era imprescindível considerar os mecanismos sintáticos como

uma espécie de matriz responsável pela força que desencadeia e que

imprime, na superfície do enunciado, as marcas de sua textualidade.

As aulas de análise sintática deveriam ter um objetivo extremamente

importante nesse processo: é preciso realmente dominar a sintaxe

como instrumento necessário para o próprio aperfeiçoamento de

nossa capacidade de produzir textos.

Foi por tudo isso que o presente livro nasceu, calcado em anos

de questionamentos e de busca por uma metodologia de ensino da

sintaxe, ou melhor, da morfossintaxe, método este que realmente

viesse a funcionar como apoio ao desenvolvimento da capacidade

do aluno de se expressar bem em sua língua materna.

Este trabalho não é um método que se aferra a meandros teóri-

cos que acabam por anular a funcionalidade ou a praticidade do que

é ensinado. Antes, quis que fosse um livro que ensinasse a análise

3

Ibidem.

p.139.

4 Ide m.

x v ii

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·1 P R Á T ICA D E M D R E O SSI N TA .X .Ll..  

(morfo)sintática da maneira mais lógica possível, retomando-lhe essa

qualidade já tão esquecida. Assim, os conhecimentos vão se super-

pondo em um processo acumulativo e j amais anulativo: o que se viu

em um tópico deve ser sempre usado como suporte para aprender o

que vem a seguir.

Não se pode separar o conhecimento morfológico do sintático,

pois o primeiro propicia muito mais segurança na determinação

das funções sintáticas dos termos da oração: a base ou a natureza

morfológica de um sintagma (constituinte imediato das orações)

determ ina ou autoriza sua função sintática. E a respeito de sintagmas,

mostro que, aprendendo a reconhecê-Ios e decompõ-los, a tarefa de

observar-Ihes as funções sintáticas fica extremamente mais fácil. Aí,

sim, podem ser abordados todos os termos da oração, em um método

muito prático e seguro de análise, até chegar a um verdadeiro quadro

morfossintático desses termos.

Não me interessei por casos duvidosos ou intrincados de aná-

lise, uma vez que quero apenas tornar este estudo o mais prático e

aplicável possível. Para isso, aponto os principais casos em que o

conhecimento sintát ico da língua é necessário.

Espero que este resultado da prática de morfossintaxe com os

meus alunos, a que venho me dedicando durante tanto tempo, traga

o proveito que espero a todos aqueles que ainda não aprenderam ou

não souberam para que serve este tipo de estudo. Por isso, o presente

trabalho destina-se, basicamente, aos estudantes dos cursos de Letras,

a todos os professores de Língua Portuguesa, em qualquer nível, e

a toda e qualquer pessoa interessada em saber como se constroem

frases  em nossa língua.

A

 ut r

xv i ii

NOT SO RE SEGUND ED IÇÃO

. 5

JF77:'t1jf(=:;:

-

Nesta nova edição, mantive o mesmo propósito de tratar o estudo

da morfossintaxe como pré-requisito para o domínio da língua e,

consequentemente, para a melhoria da comunicação e da expressão

oral e escrita.

Colhendo sugestões e comentários de colegas professores, e

também de nossos alunos, pude não só corrigir imperfeições, mas

também atualizar e acrescentar informações. A abordagem do assunto

tornou-se ainda mais didática e aumentou-se o número de exercí-

cios propostos. Estes estão agora organizados em função do grau de

dificuldade ou da necessidade prática. Assim, pertencem ao nível 1

as atividades que visam mais ao treino e à fixação de conteúdo e, ao

nível 2, as mais complexas, que abordam um uso mais específico na

língua ou que solicitam uma justificativa para a resposta.

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 PRESENT ÇÃO

__ .. .. ..:.....JIIIIM

Escrever um livro que trata de estudos relat ivos

à

morfossintaxe

da Língua Portuguesa e torná-lo acessível aos universitários da área

de Letras e aos professores das escolas de ensino fundamental e médio

é uma tarefa árdua, mas a professora Inez Sautchuk resolveu encarar

esse fato e apresenta na obra

Prática de Mor fo s sint axe -

ed ição

uma

proposta de trabalho metodológico acessível e capaz de elucidar os

leitores sobre a importância do conhecimento da língua e a susten-

tação do pensamento.

Visando à busca de um caminho viável que resultasse em um

trabalho linguístico preciso e aplicável, a professora Inez encontra

no estudo das questões relat ivas à morfossintaxe a resposta para uma

atividade linguística agradável e acessível aos leitores.

Esta obra é resultado do conhecimento teórico das diversas

correntes linguísticas sobre o tema e da experiência didática da pes-

quisadora e professora. Resgatando o caráter essencialmente lógico

da análise sintática, em consonância com a morfológica, a autora

oferece um leque de tópicos fundamentais, sem se deter em pontos

passíveis de interpretação variada. Por meio de uma explanação

teórica clara e adequada com exemplos precisos da língua em uso,

~ .

o

o

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  °

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.

PR Á TI CA D E M O Jli .Q S S IN T A X E I 

a obra confirma o principal atrativo deste estudo gramatical sobre a

morfossintaxe que, embora se limite à abordagem no nível da frase

por uma necessidade de ordem prática, não esquece que a língua é

uma atividade social e de ação sobre o outro e que surge em textos

construídos em contextos diversos.

O livro revela o conhecimento linguístico, a experiência didática

e a capacidade de inovação da pesquisadora séria e competente. Essas

qualidades podem ser comprovadas na escolha dos títulos de cada

parte, na explanação dos tópicos propostos, na seleção dos exemplos,

nas sugestões de questões e de atividades para que a aprendizagem

possa ser efetivada.

O livro é um convite à reflexão e à busca do conhecimento de

como a língua portuguesa funciona no que se refere à morfossintaxe,

mas, para alcançar esse conhecimento, é preciso ler com atenção cada

capítulo e tentar desenvolver cada atividade proposta. Assim, caro

leitor, prepare-se para aceitar o convite e procure desfrutar cada etapa

apresentada ao longo deste livro. Valerá a pena.

Dra . M aria Lú cia d a C unha Vi c tór io d e O liv eira A nd ra de

P ro fessora da A rea de F ilolog ia e Líng ua P ortuguesa

do Departa men to d e L etras C lá ss icas e V ern ác ulas

d a U n iv er sid ad e d e S ão P aulo

xxii

1

o QUE

É

MORFOSSINT XE

Os e s tudo s g r ama ti ca i s

O estudo da gramática de uma língua costuma ser feito, pedago-

gicamente, sob quatro aspectos, conforme as unidades linguíst icas em

estudo: fonemas, morfemas e palavras, sintagmas e frases, e unidades

semânticas em geral. A cada um desses tipos de unidades linguísticas

corresponde uma determinada área de estudo, ou seja, fonologia,

morfologia, sintaxe e semântica.

Assim, quando a unidade focalizada é o fonema', podem-se, por

exemplo, estudar fenômenos da língua como a cacofonia (encontro

de sons que produz um efeito desagradável ou cômico, como

n a v ez

passada - ouve-se n a v es pa a ss ada) e a silabada (desvio de pronúncia

padrão, como pronunciar Nobel como paroxítona). Se estivermos

apenas nos limites dos morfemas (as menores unidades significati-

vas da língua) e/ou das palavras, poderemos estudar, por exemplo,

como se realizam processos de derivação (papel: papelote, papelada,

papelão, papelaria) ou flexão (papel/papéis).

1 Fonema é a menor unidade linguística destituída de sentido, passível de delimita-

ção na cadeia falada, isto

é,

uma sequência de sons. Caracteriza-se, normalmente, pela

substãncia sonora, ou seja, por representar os sons de uma língua.

Page 12: Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

http://slidepdf.com/reader/full/pratica-de-morfossintaxe-inez-sautchuk 12/46

• i P R Á T I C A _D L M J l.R LQ 5..S lJ ilA X .L.G

Relações entre palavras formando sintagmas, e estes formando

frases (ou orações), remetem-nos aos estudos comandados pela sin-

taxe, seja ela de colocação, concordância, regência, coordenação ou

subordinação. Finalmente, fenômenos semânticos que aconteçam

com e em quaisquer dessas unidades propiciam o estudo de fatos

linguísticos como sinonímia

(m enino /guri lm oleque),

antonímia

(feio/

bonito ),

paronímia

(descrição/discrição),

homonímia

(sessã o/seção/c es -

sã o) ,

ambiguidade ou duplo sentido

(e le a c e rt ou n a m o sc a/d iga ao se u

p rim o q ue ir ei à s u a c as a),

pressuposto ou subentendido (informações

implícitas em frases como

e le p a ro u d e e s tu d ar/nã o gosto d os m od os d e

s eu tio e v ocê s e p are ce m uito c om ele)

e outras ocorrências.

A língua, porém, tomada como um código composto de unida-

des e de leis que as ordenam e regulamentam, realiza-se mediante

a interação e a perfeita harmonia entre todos esses aspectos e não

compartimentada por eles. Todo usuário da língua concretiza seus

atos de fala e exerce sua competência comunicativa, produzindo tex-

tos orais ou escri tos, a partir dessas unidades e orientado pela força

intrínseca das leis fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas

que as organizam ou que as autorizam. São as regras das três primeiras

que definem quais construções são

possíveis

na língua, tomada como

sistema, enquanto cabe às regras semânticas estabelecer a relação

dessas construções com o mundo extralinguístico, estabelecendo-

lhes os diversos significados.

São, portanto, consideradas bem fo rmada s todas as construções

que não desobedecerem à gramática da língua, isto é, a qualquer uma

de suas leis, não só àquelas que sejam consideradas normativas, mas

principalmente àquelas que sejam

constitutivas

dessa gramática.

É

o

conhecimento dessa gramática internalizada  que comporta as regras

essenciais constitutivas de sua identidade, possibil ita que todo falante

de uma língua  saiba  construir frases e, com elas, expressar seus

2

.QULL M ..O .R LO ..5..5.1.I :UA .X .Ll

pensamentos. A língua como sistema - fenômeno que lhe garante a

unidade e a identidade secular - permite, porém, muitas realizações

concretas individuais que variam mediante um emaranhado de fato-

res e que representam a

d iv ers id ad e d e u so. É

por isso que, em pleno

século XXI, um falante do português consegue identificar como es-

crito em Língua Portuguesa um texto do século XVI, ainda que lhe

cause estranheza  o uso diferente de algumas regras gramaticais e

de um vocabulário diferente do que ele conhece atualmente. Isso

ocorre porque existe uma estrutura linguística imutável que sustenta

a língua e subjaz a quaisquer outras realizações que dela se façam:

essas são as leis constitutivas de uma língua, não apenas aquelas a

que se costuma chamar de  norma padrão .

É

por isso que um falante

da língua  sabe  que não pode construir uma frase como (1)

*Meu s

tod os

os

am igos s ã o d iv er ti do s

2

,

mas usa, em determinadas situações

de oralidade, uma como (2)

M eus am igo são demais .

Pela mesma ra-

zão, um paulistano do bairro do Bixiga diz (3)

M e d á u m chopes e d ois

pastel,

mas não aceitaria que o colega ao lado admitisse que iria (4)

Beber o pastel ou que o seu (5) *ca chor está doente. As construções

(1), (4) e (5) infringem, respectivamente, leis sintáticas, semânticas 

e morfológicas constitutivas do sistema do português, enquanto (2)

e (3) apenas contrariam regras normativas de sua sintaxe de concor-

dância e de colocação .

2 Todos osexemplos antecedidos por um asterisco representam const ruções não auto-

rizadas pela gramática constitutiva da Língua Portuguesa que, portanto, são consideradas

agramaticais.

3 A const rução (4) contrar ia um conhecimento de mundo geral, ainda que possa ser

usada metaforicamente.

4 A gramática normativa comporta regras de natureza fonológíca, morfológíca, sintática

e até mesmo de natureza semântica, recomendadas oup rescritas como modelos de corre-

ção.A chamada norma culta ou norma padrão representa apenas uma das realizações

do sistema, mas uma variedade linguíst ica de prest ígio, rnais valorizada no meio social.

Essas regras são culturalmente aceitas por expressar o uso correto da língua.

3

Page 13: Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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·1

P R Á T IC A D E M DR FO SS IN T AX E

I.

Pela mesma razão, isto é, pelo conhecimento e pelo domínio de

sua gramática interiorizada, qualquer usuário de nossa língua é capaz

de perceber, ainda que intuitivamente, alguma coisa que lembra o

português , em uma frase assim:

(6 )   fa/ema s d o f an to mevem

em

fiscos.

Nessa frase, há a evidência de leis morfológicas e sintáticas do

português que nos permitem localizar não só flexões típicas de gênero

e número em prováveis substantivos (*Jalemas, »[anto, *fiscos) como,

também, flexões verbais em

*mevem

(um possível verbo na 3

a

pessoa

do plural do presente do indicativo). Leis sintáticas de construção

estão tão presentes na frase que conseguimos distinguir perfeitamente

um sujeito

(*as Jalemas

do

Janto),

um verbo intransitivo

(*mevem)

e um adjunto adverbial

(*em fiscos).

Sabemos que a frase não usa

 palavras  (lexernas) do português, mas organiza-se e autoriza-se

mediante suas regras constitutivas.

A s un idades l ingu ís ticas e os níveis d e a nálise

Podemos, agora, estabelecer aquilo que se convencionou chamar

de hierarquia gramatical, que nada mais é do que uma escala de uni-

dades linguísticas organizadas segundo graus de posição que seguem

princípios constitutivos da língua. Dito de outra maneira, as unidades

linguísticas combinam-se entre si, formando unidades em níveis de

construção cada vez mais complexos e de diferente funcionalidade.

Assim, a menor unidade significativa da língua é o M O R F E M A , que

se combina a outros morfemas para formar a unidade imediatamente

4

~O QU E É M Q R FQS SIN T A X E

superior, o V O C Á BUL O (ou PA LA V R A

5

), que, por sua vez, combina-se

a outros vocábulos para formar o S I N T A G M A .

À

unidade linguística

denominada sintagma cabe o papel de representar os constituintes

imediatos da unidade imediatamente superior - a FR A S E (ou O R A ÇÃ0

6

).

Finalmente, para ocupar o status de maior' unidade significativa e

comunicativa da língua, elegemos o T E X T O S , unidade pela qual todo

falante exerce efetivamente sua capacidade de pôr uma mensagem

em comum . Observe a sequência:

M O R F E M A =? V O CÁ B U L O =? S IN T A G M A =? F RA S E =?

-o cachorro

o

ca ch orro

o

ca chorro

ca chorr- m or reu

T E X T O

O

cac ho rro

morreu?'

Observe que só é possível diferenciar uma unidade linguística

 frase , por exemplo, de outra unidade considerada  texto , pela

necessidade de atuação de uma segunda unidade não linguística: o

contexto ou a situação de comunicação. Isso significa que qualquer

unidade linguística representativa do mundo biossocialJantropocul-

tural ou mesmo do mundo gramatical pode assumir um estado de

texto a partir de sua inserção em um determinado contexto .

5 Por não ser necessário estabelecer, neste momento, suas diferenças teórico-linguís-

ticas, denominaremos VOCábulo  ou  palavra  apenas as unidades que se apresentam

linearmen te na escrita, separadas por um espaço em branco.

6 Chamaremos de  oração  a frase passível de ser analisada sintaticamente por possuir

um núcleo verbal.

7 O termo  maior  não caracteriza a extensão dessa unidade linguística, mas sua

posição superior na escala hierárquica da estrutura da língua.

S O conce ito de texto é estudado especificamente na linguís ti ca textual

(vid e

Sautchuk

1.A produção dialógica do tex to escrito. São Paulo: Mar tins Fontes, 2003).

9 A frase pode assumir um

stat us

de texto, desde que esteja inserida em um con texto.

10 O contexto pode ser tanto o entorno linguístico da unidade vocabular quanto as

condições de uso dessa unidade em uma determinada situação.

5

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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·1 PRÁT ICA DE M O RE O SS INTA XE  

o M O RFE M A

constitui um elemento estrutural da língua cuja fun-

ção é

nomear

os três elementos básicos desse mundo ou

relacioná-Io s.

Por meio de recortes dessa realidade biossocial ou antropocultural,

apreendem-se esses três primeiros elementos, ou seja, ainda que de

forma simplificada, os(as):

• O BJ ET O S :

represe ntado s pe los substantivos;

• QU A L  D A D E S :

repr es entadas pelos ad jetivos;

• A Ç ÕE S :

represent adas pelos verb os.

As unidades linguísticas que servem para nomear esses elementos

são chamadas de

M O R FE M AS LE XIC A IS

ou

L E X E M A S .

Aquelas queservem

para relacionar os primeiros são chamadas de

M O R F EM A S G R AM A T IC A IS

ou

G R A M E M A S,

pois existem apenas no mundo gramatical. Explique-

mos isso de uma forma mais simples. O

L E X E M A

é um tipo de palavra

que contém informação básica de significado que representa o mundo

extralinguístico ou remete a ele. Chamamos esse  mundo extralin-

guístico demundo biossocialJantropocultural, pois representa aquilo

que se poderia definir como o ser humano e a sua cultura na vida

em sociedade . Os lexemas constituem uma espécie de arquivo, de

IN VE N T Á R IO A BER TO , pois, com a função de nomear essa realidade,

podem apresentar um crescimento contínuo e teoricamente infinito

de palavras em uma língua.

Quando se lê, por exemplo, a palavra árvore, forma-se imedia-

tamente na mente do falante da língua o conceito representativo de

ár vore ,

como uma imagem significativa. O mesmo ocorre com

chorar:

sabe-se o conceito significativo dessa palavra em oposição a, por

exemplo,

rir ; verde

expressa ou representa algo diferente de

pesado.

Todas essas palavras -

ár vor e, c horar, rir , ve rd e, pesado -

têm uma

6

~D.Jl..lLLÉ....MO REos SINIA.X.LL

carga semântica representativa desse mundo biossocial/antropocul-

rural

(ou extralinguístico), sendo, portanto, lexemas.

Em relação à categoria dos GR A M E M A S , porém, o mesmo não

ocorre. Há outro conjunto de palavras na língua que remete exclu-

ivamente a um mundo gramatical (apenas linguístico) e é restrito à

função de apenas relacionar ou de estruturar o outro tipo de palavras.

e o mesmo falante da língua lesse apenas a palavra

essa,

o ou

mais,

qual seria a imagem mental representativa do mundo biossocialJ

antropocultural que se formaria em sua mente? Ele conhece essas

palavras, sabe que pertencem

à

Língua Portuguesa, mas elas não

têm carga semântica representativa. Essa categoria de palavras serve,

gramaticalmente, apenas para relacionar palavras do outro tipo de

arquivo, formando estruturas maiores, como

es sa á rv or e,

o

ch orar ,

ma i s pe sado.

Esse tipo de palavra constitui também um arquivo, mas

um IN VEN TÁ R IO F EC H AD O , pois, em nossa língua, não se criam novos

nem se modificam gramemas há muito tempo '.

Quando os gramemas compõem a estrutura de um vocábulo, são

chamados de gram emas dependen te s , pois não têm autonomia, ou seja,

apenas fazem parte de uma espécie de matriz vocabular anterior. Esse

tipo de morfema gramatical aparece na língua sob forma de:

• A fixos

{

P refixos

Suf ixos

• Vo ga is te má tica s

• D es in ênc ias {

N om in a is (d e gê nero e núm e ro)

Verba is (de m odo , te mp o , núm ero e pessoa)

11 Por exemplo, quantos novos artigos definidos apareceram no português no último

século?

7

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·1

P R ÁT IC A D E M O RE O S S IN T A X E I .

Quando os gramemas têm autonomia vocabular e sozinhos cons-

tituem uma palavra, recebem o nome de gramemas independentes. Éo

caso dos artigos, dos pronomes, dos numerais, das preposições, das

conjunções e dos advérbios pronominais':'.

Observe como essa classificação das palavras da língua baseada

em duas grandes categorias iniciais (lexemas e gramemas) mostra-se

muito mais eficiente que o tradicional agrupamento realizado por

meio da divisão não funcional entre

palavras variáveis

(substantivos,

adjetivos, verbos, artigos, pronomes e numerais) e palavras invariáveis

(advérbios, preposições, conjunções e interjeições).

Basta dividir o acervo de palavras do português em

palavras car-

regadas semanticamente

em relação ao mundo biossocial/antropocul-

tural, como os substantivos, adjetivos, verbos e advérbios nominais

13,

e considerar todas as demais categorias autônomas como palavras

defuncionalidade gramatical (são os tais gramemas independentes).

Dessa forma, em qualquer texto, se isolarmos as que se incluem na

primeira categoria, estaremos selecionando justamente aquelas que

detêm a base semãntica representativa da realidade, cabendo às de-

mais exercer suas respectivas funções gramaticais (de substituição,

de determinação, de relação, de quantificação e de auxílio verbal).

Em um enunciado qualquer, teríamos a seguinte categorização

inicial, em que L = lexema e G = gramema:

o

livro preferido de vários alunos caiu sobre a mesa.

G

L L

G G

L L

G G

L

12 Sobre as interjeições, faremos comentários espec íficos em momento oportuno, poi s

estas se revestem de algumas características mui to pecul iares dentro da língua. O mesmo

será feito a respeito dos advérbios (nominais e pronominais).

13 Basicamente aqueles derivados dos adjetivos, por meio do acréscimo do sufixo -mente

(distraidamente, amorosamente).

8

·1.

O _Q JJ. LL M lJ..R F -O ~.sJ.i UA .x .E ... l . 

maior problema para o reconhecimento das categorias de

palavras em português reside justamente em diferenciar aquelas

que pertencem ao arquivo aberto (substantivos, adjetivos e verbos),

uma vez que todas as demais poderiam ser teóricas e facilmente me-

morizadas porque formam um conjunto fechado, que não se altera

ou cresce. Daí a necessidade de se dominar um processo bastante

eguro de reconhecimento dos substantivos, adjetivos e verbos. Para

demonstrar como é possível conseguir essa segurança, reservamos

um item específico no Capítulo 2.

Po r

que morfoss intaxe?

Há um princípio linguístico universal que afirma:  nada na lín-

gua funciona sozinho . Para que todas essas unidades linguísticas a

que nos referimos passem efetivamente a exercer qualquer função

significativa ou comunicativa, é necessário sempre que se organizem

ao menos em duas unidades. Assim, é preciso que se juntem um

radical (o lexema  puro livr-, por exemplo) e uma desinência (um

gramema dependente, como -o) para que tenhamos um vocábulo

autônomo

(livro),

ou para que se forme um sintagma nominal (o

seu livro, por exemplo) a partir de um artigo somado a um pronome

possessivo e a um núcleo substantivo. Até mesmo um texto verbal

não se constitui se não se aliar ao menos um signo linguístico a um

contexto e assim por diante.

A esse princípio linguístico fundamental associa-se outro, com-

plementar, que refere que  na língua as formas se definem em oposi-

ção a tantas outras que com elas mantenham a mesma função . Em

qualquer  nível de análise linguística, é esse princípio que justifica,

9

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• I PR ÁTI CA D E M OR E OS S INT AX E

por exemplo, a possibilidade de se diferenciar

mata

de

pata, corr i

de

correm os , os lobos

de

es tes lobos

e assim por diante.

Quando o falante da língua produz qualquer enunciado, está

sempre articulando duas atividades linguísticas básicas: a de escolha

de uma forma ea de relação dessa forma com outra. O ato de escolher

realiza-se entre os dois arquivos: o acervo que esse falante possui de

unidades linguísticas que pertencem ao sistema fechado da língua

(os gramemas) e o das unidades que pertencem ao sistema aberto

(os lexemas). A relação existe quando essas unidades se dispõem

em uma linha imaginária que, no caso do português, é horizontal e

da esquerda para a direita. Para poderem realizar-se no discurso, os

signos linguísticos devem ordenar-se no tempo, segundo essa linha

imaginária, em uma sequência chamada

CADEIA FALADA.

Amensagem

que assim surge tem seu sentido dependente, ao mesmo tempo, dos

respectivos significados das unidades escolhidas e da função que

desempenham (ou que contraem) umas em relação às outras.

Pode-se dizer, então, que o falante

escolhe

entre um conjunto

de possibilidades de formas que ainda estão

ausentes

no discurso

e

relaciona

aquelas que escolheu para que passem a estar

presentes

nesse  arranjo linear que está construindo. A escolha entre o acervo

virtual, de certo modo, realiza-se numa linha vertical que contém

todas as possibilidades: a este conjunto de unidades

em ausênc ia

no

discurso é que chamamos de EIXO PARADIGMÁTICO. Ao arranjo que

se vai estabelecendo, mediante leis de construção ou de relação da

língua, com as unidades

em pres e nça

no discurso, chamamos de

EIXO

SINTAGMÁTICO. É

como se tivéssemos a seguinte situação, visualmente

esquematizada:

10

Observe que, se isolarmos qualquer uma das formas que c

põem a frase, poderíamos fazer outro corte vertical e encon

outras formas possíveis de serem escolhidas:

stu d-

fa lh-

receb-

toss-

Desinéncia

filh-

I

-inh I

-o

i

-a rad I

  a

---

-ote I

-s

I · w R __   d I  / jI

ferr-

L:;7

i

-o

Desinência

modo- tempora l

. •

Desinência

número-pesso

I~~'

 m~s ]

[

-i~

G-s

j

C~~s

-á -

 

-va-

  ~   =

 

-ríe -

-e - ,'. ]

 tie

- -

- ~

-1 -

-rí a-

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 .LeRÁTICA DE MOREQ5.5INTAXE

I _

Note também que, no eixo sintagmático, a oração se forma pela

junção de unidades escolhidas que mantêm entre si relações muito

específicas. Repare como, no esquema a seguir, as palavras o, esse e

meu

relacionam-se e concordam, respectivamente, com

menino, garoto

e

fil ho;

como o bloco assim constituído, por sua vez, relaciona-se com

a ti ra va uma p ed ra , j og ava a b ola

e

guardou essa figura;

e,a seguir, tam-

bém respectivamente, com

pe la j anela, na v id ra ç a

e

na lembrança .

o

m enino

a tirava um a pedr a

jo gava a bola

gu ardou essa figur a

pe la janela.

na vid raça.

na lembrança.

E s s e g a roto

M eu filh o

Todo recorte, para efeito de análise linguística, que for feito na

vertical  estará necessariamente envolvendo um estudo

morfológic o

da língua.

É

como se uma única palavra fosse colocada em um mi-

croscópio e estudada isoladamente, ou como se fosse  dissecada 

em todas as suas partes constituintes, separando-se os gramemas

dependentes, por exemplo.

Será sempre de caráter

sintático

o estudo que envolver relações

entre pelo menos duas unidades que estão nessa linha imaginária

horizontal, isto é, no eixo sintagmático.

É

por isso que se diz que o

campo de atuação da

SIN TA XE

é o

eix o s intagmático

e o da

M O R FO LO G IA

é

o

e ixo paradigmát ico.

Todavia, como esses recortes servem apenas para se ter uma visão

mais didática dos fenõmenos linguísticos, não se pode afirmar que

a língua em uso funcione ora paradigmaticamente, ora sintagmati-

camente (ou ora morfologicamente, ora sintaticamente). Pode-se

12

 .LO.-'tlLLLM.o..RL05.SJJllU.Ll.. 

deduzir que, na verdade, a língua funciona

mol jossintaticamente

e

que, portanto, seu estudo mais eficiente é feito considerando-se a

M O R FO SSIN TAX E . Esse fato fica bastante claro quando se percebe como

o usuário de uma língua materna rapidamente - e até inconsciente-

mente -  escolhe  unidades de seu arquivo de palavras na vertical 

e as liga  na horizontal .

Para que se possa efetivamente demonstrar como ocorre esse

funcionamento morfossintático da língua, é necessário que se tenha,

porém, um conhecimento seguro das classes gramaticais e das várias

possibilidades de relação que podem ser feitas a partir de seus inte-

grantes. Pode-se afirmar, de antemão, que todas as funções sintáticas

contraídas no eixo sintagmático são confirmadas, originadas ou au-

torizadas pela ba se ou natureza morfo lóg ica das unidades envolvidas

nessas relações. É isso que vamos evidenciar da maneira mais lógica

possível nos Capítulos 3 e 4. Antes, porém, faremos algumas consi-

derações a respeito das classes gramaticais.

13

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2

  L SSIFI ÇÃO MORFOLÓGI D S P L VR S

Co ns id era çõ es so bre o s cr ité rio s p ara a c la ssifica çã o d as

palavras

As palavras existentes em qualquer língua são agrupadas em

várias classes, conforme a semelhança de formas que apresentam

paradigmaticamente, ou, para alguns autores, conforme o tipo de

funções que podem desempenhar no eixo sintagmático ou, ainda,

conforme o sentido que podem expressar. A existência dessas classes

gramaticais é

justíficada

tanto pela necessidade de se organizar um

repertório tão grande de palavras quanto pelo fato de elas constituírem

um modelo: têm características mórficas (estruturais) que permitem

contrair ou não determinadas funções sintáticas, propiciando diversas

expressões de sentido.

Percebe-se, assim, como forma, função e sentido estão intima-

mente ligados para explicar qualquer fenõmeno linguístico. A F O R M A

define-se segundo os elementos estruturais que vierem a compor

ou decompor paradigmaticamente as palavras; a

F U N Ç Ã O ,

conforme

a posição ocupada no eixo sintagmático; e o S E N T I D O depreende-se

da relação de ambas as coisas, quase sempre associado a fatores de

ordem também extralinguística.

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• i

pR A T ICA D E M OR E O SS I N T AX E

I

Observe como, no par de construções em (7), é o fator sintático

(posição/relação horizontal) que interfere na produção de sentido:

 7) homem grande/grande homem

funcionário novo/novo funcionário

ou como, no par em (8), uma mesma estrutura sintática (um mesmo

tipo de relação horizontal) pode apresentar sentidos diferentes,

ainda que os componentes paradigmáticos sejam da mesma classe

gramatical:

(8)

Este

Este

é

o romance mais bonito de Jorge Amado.

o terno mais bonito de Jorge Amado.

No caso das frases em (8), só é possível explicar a diferença de sen-

tido entre ambas por um fator de ordem estritamente semântica e em

dependência de um prévio conhecimento de mundo. Um indivíduo

que não tiver o português como língua materna muito provavelmente

não entenderá a diferença de significado entre as frases.

Não se nega a importância do fator semântico para explicar

muitas ocorrências da língua, nem mesmo que é tão somente o fator

semântico ou extralinguístico que pode explicar muitas delas, como

em (8). Todavia, não se pode continuar, principalmente em relação

a conceitos gramaticais necessários, definindo, por exemplo, subs-

tantivo apenas como a palavra que dá nome aos seres (definição

exclusivamente de caráter semântico, adotada por uma gramática

filosófica que já não pode nortear muitos dos estudos atuais na área

da Linguística).

16

 ..l.A

.H IL S

HE .LU\J ;ÃlLM .ll..R .f..O J...ó .G ..l.C .A .Jl.A ..LRA .lA .\l.R .

t

curioso que justamente em relação à categoria dos três lexemas

hnsicos

que referem o mundo biossocial/antropocultural- substanti-

vo, adjetivo e verbo - que a gramática tradicional menos evoluiu na

tar efa

de conceituá-los. Além de a definição de substantivo envolver

UI11 conceito tão abstrato e filosófico como

ser,

também as definições

de adjetivo e de verbo seguem o mesmo esquema de raciocínio. Ainda

se persiste em definir adjet ivo como  a palavra que dá qualidade aos

seres  (o que é exatamente uma qu alidade e um ser?) ou como  a

palavra que qualifica o substantivo , definição que pressupõe que já se

saiba o que é substantivo e, novamente, que se saiba o que é  qualifi-

car , ou, ainda, a palavra que delimita signif icados do substantivo ,

.onceito provavelmente muito claro apenas para os gramáticos. Há

muitas palavras que indicam qualidade (como beleza, inteligência ) e

nem por isso podem ser classificadas como adjetivo. E fei o ou estúpido:

qualificam ou desqualificam substantivos?

Quanto

à

definição de

verbo,

a mesma insegurança filosófica se

estabelece, uma vez que é considerado  a palavra que exprime ação,

fenômeno ou estado . Não se pode negar que

briga

ou

lançamento

indiquem ações, mas nem por isso essas palavras podem ser consi-

deradas verbos. Da mesma forma, ch uva , r elâ m pa go e m or te ou sono

exprimem fenômenos e estados, mas não há aluno mediano do ensino

fundamental que afirme que são verbos (a menos que ele se lembre

da própria definição tradicional de

verbo).

Parece que as crianças têm aprendido na escola o que é um

substantivo, adjetivo ou verbo,

apesar

dessas definições e não

po r

causa delas. Quais seriam, então, os mecanismos de que aquelas mais

intuitivas acabam por lançar mão para descobrir como identificar

essas palavras nos textos? E quais seriam os critérios usados para

identificá-Ias, além das definições de natureza semântica, que, como

já vimos, são extremamente falhas?

17

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'DRAILC

A D E

MO

R fJ t5 _S JJ llA .llL ~

Os linguistas mais modernos preferem apoiar-se em explicações

de caráter formal e sintático, por serem mais confiaveis, uma vez que

dispensam exigências subjetivas de análise. Se nos ativermos a carac-

terísticas e a mecanismos essencialmente de caráter morfossintáticos

(ou só mórficos, ou só sintáticos) da língua, veremos que é possível

reconhecer com mais segurança as palavras que constituem o seu

sistema lexical aberto - exigência imprescindível, já que é impossível

decorar todo esse acervo .

O s m ec anismos motftcos e/o u sintá tico s para a

class ific aç ão ou identificaç ão d as c la sses de p alavras

Antes de comentar os critérios para a identificação dos lexemas

(substantivos, adjetivos e verbos), é preciso lembrar que tem cará-

ter mórfico (ou formal) toda ocorrência linguística que envolver

os elementos estruturais das palavras (os gramemas dependentes

- desinências, afixos etc.) e que tiver como unidade de estudo tão

somente a palavra. Basta, enfim, que percebamos se essas ocorrências

envolvem cortes verticais  no eixo paradigmático.

Assim, é morficamente que se explicam em português, por exem-

plo, as diversas flexões de gênero e de número (gato/gata, mesa/mesas,

azul/azuis) ou os processos por derivação prefixal ou sufixal (moral/

imoral/amoral, moralmente, moralídade). Contudo, não é uma marca

formal que define o g ênero da palavra  personagem  ou o número da

palavra  pires , mas o fato de comporem, no eixo sintagmático, uma

1 Fato que

é

dispensável em relação às categorias que compõem o sistema fechado,

pois, teori camente, seria possível memorizá-Ias.

18

-~

• I A . ci A .S S II  -LC W LM ..O .Jl.f JlJ Jl ..G .LGLD .A .5 ....eA l.AY JU ..5..- G

i'i'lílÇ: lO

grupal com outrats) palavrats), constituindo, dessa forma,

umn unidade linguística superior':

personagem esqu is i ta

u m b o ni to p e rs o na g em

este pires

mu i tos p i res

Nesses exemplos, dizemos que é um critério ou um mecanismo

slnt ãtic o

da língua que auxilia na confirmação do gênero e/ou do

número

dessas palavras. E serão esses mecanismos - mórfico e/ou

s ln tãtico -

que utilizaremos para ter mais segurança na identificação

das palavras quanto à classe gramatical a que pertencem.

É

imprescindível, porém, lembrar que a classificação das pala-

vras que compõem principalmente o sistema aberto da língua, mas,

em muitos casos, também o sistema fechado, depende muito de seu

 comportamento  na cadeia falada. Assim, é muito difícil dizer que

uma determinada palavra será sempre um substantivo ou um adjetivo.

) que existe são características peculiares (de natureza mórfica e/ou

si

ntática) a determinadas classes de palavras que permitem, em um

leterminado contexto, assegurar-nos de que se trata deste ou daquele

tipo de palavra: a língua não funciona em relação a um único eixo

(paradigmatico ou sintagmático).

Substantivo

O fato de o substantivo ser a única categoria gramatical que aceita

o sufixo

-inhaCa)

ou

-zinhoCa)

e

-ão

ou

-zão,

no sentido de  pequeno 

ou de  grande  (um critério mórfico, portanto), é de maior valia para

2 Essa unidade linguística superior

é

o

sintagma,

cujo' e studo detalhado será feito no

Capítulo 3.

19

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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.; P R Á T ICA D E M O R EO SS IN T A X E

as palavras de caráter concreto (como caneta/canetinhalcanetão, casal

casinha, ou cachorrolcachorrinholcachorrão).

Ainda que esse princípio seja realmente verdadeiro e irretocável,

uma vez que palavras como os adjetivos aceitam os mesmos sufixos,

mas não contêm semanticamente a noção de pequeno ou grande

(como lindinhollindão), esse mecanismo de identificação não serve

para muita coisa. Em relação a palavras de caráter mais abstrato, acaba

tornando-se um critério que contraria, e muito, o uso na língua.

É

o

caso de formas  estranhas , como conteudinholconteudão.

No caso do reconhecimento de substantivos, é o critério sintá-

tico que se mostra extremamente eficiente para sua identificação e

posterior classificação, além de refletir um artifício já consagrado por

qualquer falante. Assim, só é

SUBS T A N T IV O ,

em português, a palavra

que se deixar anteceder pelos determinantes.

A Linguística considera como

D E T E R M I N A N T E

todo o conjunto de

morfemas gramaticais independentes que servem não para acrescentar

um conteúdo semântico ao substantivo ou para modificar seu sentido,

mas para identificar sua referência por meio da situação espaçotem-

poral ou delimitar seu número. Por isso, são de terminantes simples

a classe fechada dos artigos (definidos/indefinidos), dos pronomes

possessivos e demonstrativos e dos numerais cardinais e ordinais .

Por sua natureza morfossintática, esses determinantes art iculam-se

somente com palavras que pertençam

à

classe dos substantivos ou

que, em determinado contexto, estejam funcionando como tal.

Assim, em um enunciado como (9), observe como somente as pala-

vras que se deixam anteceder por determinantes pertencerão

à

categoria

dos substantivos (independentemente de serem seres ou não):

3 Podem-se considerar determinantes, também, os relativos cujo(a, os, as) e os inde-

finidos adjetivos (algum, alguma, alguns, algumas; nenhum, nenhuma etc.).

20

  ...LLU ..A .S ..S I E I CAÇÃO M O R EO I Ó GIC A D A S P A I A V RA S

(9) N ão é fu nç ão p op ul ar impedir r ea justes de preço na p róx im a

temporada.

a, u ma, minha, es ta - fu nçã o

o s, u n s, seus, aqu eles - rea ju stes

o, um , no sso, esse - preç o

a, um a, sua , e ssa, nenhu ma - tem po rada

Como muitos substantivos já vêm antecedidos por determinantes

na frase, basta reconhecer estes últimos e confirmar a classificação.

Observe também como os outros lexemas (popular e próxima) do

exemplo não se articulam com determinantes. Mesmo que o apren-

diz quisesse anteceder essas palavras por eles, o resultado seria uma

expressão de sentido desconexo ou incompleto, como  0(a) popular,

~'um(uma) popular, *este(esta) popular e *seu(sua) popular, o mesmo

ocorrendo com próxima.

Esse mecanismo de reconhecimento dos substantivos é extrema-

mente útil quando se trata daqueles de natureza abstrata ou daqueles

obre os quais evidentemente não é possível afirmar que sejam um

ser,

como ocorre com os lexemas em (9).

No caso dos chamados substantivos concretos, sua praticidade

é ainda mais óbvia, refletindo um expediente bastante usado por

crianças em fase de aprendizagem gramatical:

(10) Ponteiros d e re lóg io p ar ec em a po st ar c or ri da n u m c ír cu lo.

os , estes, m eus, algu ns - po nt eiro s

o, aqu ele, nos so, nenhum - re lóg io

a, es sa, minha, uma - corr ida

.• um ,

o,

e s se , aqu ele - círcu lo

21

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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~A J 2LM .J1R E O íS I N TAJlE-L 

A força substantivadora dos determinantes é tão grande que

pode transformar qualquer palavra de qualquer outra classe em

substantivo:

(11 ) M eu sofrer é proporciona l a o s s e us nãos.

(12) O

co m p o de s er u m a p a la vr a b e m c om u ni ca ti va .

Ad j e t i v o

Também o

AD JET IVO

possui determinadas características mórfi-

cas e sintáticas que o diferenciam de palavras pertencentes a outras

classes gramaticais.

Primeiramente, em português, somente as palavras que são adje-

tivos aceitam o sufixo

-mente,

originando, dessa forma, um

advérbio

nominal

4

.

Veja o que ocorre com algumas palavras extraídas de (9),

(11) e (12):

PO PU LAR +

-meme = popu lar m en te

P R Ó XI M A + -mente = rox imamente

P R O P O R CION A L + -mente

= roporcion alm ente

CO M UNICA TIVA + -mente = comunicativa m ente

~

Adjetivo

Advé rbio nom inal

4 As únicas exceções referem-se às palavras primeiro, segundo, duplo e triplo, que

aceitam o sufixo -mente, mas sào numerais.

 

~.L A UA 55 J E LC .8..Ç .ÃJ L .MJUl i J l ..LÚ .GJ .. .úL .I .l.A .LeA .LA  LR A ..L .G

Esse tipo de procedimento tem, às vezes, o mesmo inconveniente

daquele que propõe acrescentar os sufixos

-ã ol-zão

e -inho/-zinho a

palavras que possam ser substantivos: o uso na língua. Alguns advér-

hios

assim formados podem soar mal  aos ouvidos do falante, como

merid ional + -mente = meridionalmente. Daí ser possível usar outro

critério que, entretanto, não exclui esse a que já nos referimos.

Por uma lei morfossintática do português, todo

ADJET IVO

é palavra

variá vel

em

gênero e o u núm e ro

e

deixa-s e a rt ic u la r (o u mod i fi car) po r

lI u.tra q ue s eja ad vé rbio. Aparentemente, esse fato não seria prático ou

de grande valia para a identificação de um adjetivo, pois implica saber

reconhecer de antemão o próprio advérbio. Entretanto, reformulando

essa asserção de maneira bastante funcional, teríamos:

é ad je tivo tod a

palavra vari á vel

em

gêne ro e/o u n úm e ro qu e

se

d ei xa a nt ec e de r p or  tã o 

ou por qualquer intensificado r, como

be m

ou

muito,

dependendo

do contexto).

Retomemos as mesmas palavras de (9), (11) e (12):

A (um a, m in h a, e s ta ) FUNÇÃO tão P O P U L A R.

A ( um a , s ua , e ss a, n e nh um a )

T EM P O R A D A

tão

PRÓXIMA .

M e u ( es te , s eu , n en hu m ) SOFRER tão PROPORCIONAL .

A (u ma , a qu ela , nenhuma)

P A L A V R A

tã o

COMUNICATIVA .

A eficiência desse mecanismo é tanta que funciona até em con-

textos em que ocorre adjetivação de substantivo:

 13)

E le n ão é h om e m p ar a i ss o. (= E le n ã o é tão ho me m p ara

iss o.)

Não se pode esquecer de que estamos afirmando que é neces-

sário verificar sempre se a palavra que está recebendo o acréscimo

 

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·1 P R Á T IC A D E M O R F O S S I N I A X E

sintático do intensificador é variável em gênero e/ou número (este,

um requisito mórfico) e, também, se está se articulando junto a um

substantivo, com o qual forma um  par perfeito  (outro requisito de

natureza sintática). Isso é necessário por um motivo bastante rele-

vante que será discutido a seguir, ao se comentar o reconhecimento

de palavras como advérbios.

 erbo

Na Língua Portuguesa, o

VERBO

constitui a classe de maior riqueza

formal e, por esse critério mórfico, torna-se facilmente identificável.

Realmente, somente os verbos admitem as desinências próprias de

número, pessoa, tempo e modo (por exemplo, número -mos; pessoa

-eí; tempo -ra; modo -va). Como nenhuma das palavras supostamente

verbos deixam-se anteceder pelos determinantes ou pela palavra tão

(ou aceitam sufixo -mente), fica relativamente fácil diferenciá-Ias dos

substantivos ou dos adjetivos.

As formas nominais no infinitivo impessoal, no gerúndio ou

no particípio passado, quando secomportam como substantivos ou

adjetivos, admitem normalmente os critérios que apontamos:

(14) O do ce balançar da s folha s pa rec ia música ao longe . (substantivo )

 15)

N ã o to me leite tervendcr

 

(adjetivo)

 16) A qu ele trabal ha do r parecia bastante e sf or ça do . ( ad jetivo)

É

também sintaticamente que o reconhecimento das palavras

pertencentes à categoria dos verbos mostra-se mais evidente: somente

5 A fo rma nominal do gerúndio não tem, obviamente, flexão de gênero ou número,

mas permite ser antecedida por tão/muito, quando equivaler a um adjetivo.

24

·1

A C lA SS JJ  liA U_~M .QR F O I ÓG IO D A S P A I A V RA S

11 .\ verbos se articulam com os pronomes pessoais do caso reto. Por isso,

os aprendizes costumam  conjugar  palavras para se certificar de que

rias são ou não verbos. Assim, temos:

Eu : vo u , es tive , pa reç o, fico , alme jo.

Tu : sabes , e st avas , permanec ias , vies te , e st arás .

E le: promete, foi, virá , ca ntav a, ex p lodiu .

Nó s: ficávamos, es crevemos, rec upe ra re mo s, p artimos.

Vó s: es tsis , ficastes , pe reces, sa is.

E les: fica m, de mo raram, gostavam, desabariam.

Enfim, o verbo é uma das classes gramaticais que mais facilmente

se ajusta a uma identificação de natureza morfossintática, pois não

deixa de ser sempre uma palavra inevitavelmente marcada pelas desi-

nências número-pessoais/modo-temporais e vinculada a um pronome

do caso reto, ainda que não expresso no enunciado. Esse fato mostra,

inclusive, por que, no português, o falante pode dispensar o uso do

pronome na oração: as marcas formais do verbo são tão peculiares

a essa classe de palavras que sua utilização concomitante, na maior

parte dos casos, acaba sendo uma redundância.

 dvérbio

A classe dos advérbios, em português, é de complexa descrição e

classificação devido

à

sua acentuada mobilidade semântica e funcional.

Em uma construção linear (no eixo sintagmático), sua condição de

palavra periférica é bastante perceptível, isto é, funciona como saté-

lite de u~ núcleo. Por isso, costuma-se inicialmente o caracterizar

 5

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• i

P

R À T I C

A D E M O

R

E O S S

I

N T A X E .

I •

como palavra que se vincula a um verbo (17), a um adjetivo (18) ou

a outro advérbio (19)6:

~

(17) E la fala be m.

~

(18) E la parece extremamente c an sa da .

~

(19) E la fal a m u ito be m.

Em relação ao vínculo com o adjetivo, os advérbios têm uma

atuação muito peculiar: constantemente surgem como seu intensi-

ficador (muito feia, ignorante demais, mais/menos esperto) ou como

seu modificador. Nesse caso, pode-se mesmo afirmar que, se o ad-

jetivo é o grande modificador do substantiyo;Õ advérbio é o grande

modificador do adjetivo  Com a combinação de adjetivos e a dvérbios

modificadores, é possível conseguir uma gama muito interessante de

efeitos de sentido:

Ser meiga me nte a tu ante.

Ser absurdamente intelig ente.

Estar es tontean temente vestido.

Esta r pr eo cupantemen te so nolento .

Nesse tipo de combinação, fica evidente que o núcleo adjetivo

é que se flexionará em gênero e/ou número, e nunca seu advérbio

modificador ou intensificador:

6 Neste caso, pressupõe-se já ter havido uma classíficação prévia de outro advérbio,

o que é b astante ineficiente para efeito de identificação ou de classificação gramatical

da palavra.

 6

~LU: .LA .S ..5J. .f IC A Ç Ã O M O R E O L Ó GIC A D A S ... PA .lA LR .A ..S ... J  

A qu eles rapa zes parecem esta r ma ldosa men te interess ado s.

A que la m en in a pare ce estar maldosamente inte ressada.

A quele ra paz parece ser muito va id oso.

Aque las m en ina s p arec em se r muito vaidosas .

Também como satélite , há advérbios que se posicionam especi-

ficamente como elemento periférico de todo um enunciado e, nesse

.aso, funcionam como uma marca da posição ideológica e até mes-

1110 emocional do falante, São os chamados advérbios modalizadores

B

geralmente os terminados pelo sufixo -mente):

(20) P rov avelmente , todos s er ão p u n id os.

(21) Infelizmen te, não acredito em você.

(22) N ingué m se feriu, fel izmente .

Quanto

à

estratégia de identificação do advérbio na frase, vejamos

.omo isso pode ser fei to, associando-se cri térios mórficos e sintát icos.

Morficamente, toda palavra, ao aceitar o sufixo -mente, transforma-se

m um advérbio+pertencente ao inventário aberto da língua :

nobre --7 nobremente

equil ibrado

--7

eq uil ibradamente

sá bi o --7

seoiememe 

7 Há casos, nem sempre lembrados, de o advérbio vincular-se a um substantivo, como

em os exemplo s acima .

8 Há outros meios de se manifestar posicionamento ideológico em um enunciado,

utilizando-se verbos como ac har , crer , po der, pe dir etc. ou com frases inteiras, como

pelo que sei, se gllnd o mi n ha o pi ni ão etc.

9 É o caso da classe aberta dos advérbios nominais que se formam a partir de um

adjetivo.

10 Perceba como a palavra que dá origem a esse tipo de advérbio é sempre um adjetivo,

e como, na passagem, quando tiver a forma masculina, esta se altera para feminina.

27

.1 PRÁTlCA.DE MOREOS5J.NJAX..E......G

~ .LJLU1 l5 .5 J.fJ ..UL Ç .Ã JLM J t RL o.LÓ _G .lC .A _ D A S P A I A V R A si ·

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Também é de natureza m ó rf ica a característica diferenciadora tal-

vez mais importante do advérbio: ele é sempre uma palavra invariável

em gênero e/ou número: A uma dessas características (ou às duas,

dependendo do contexto), associemos outra, de natureza sintática.

Em uma relação sintagmática, os advérbios também se deixam

anteceder por um intensificador e, devido à soma de dois critérios, é

possível afirmar, genericamente, que

AD V ÉR BIO

é

toda palavra invariá-

vel em gênero dou número que se deixa antecedêr por  tãol' (ou bem ou

muito, dependendo do contexto). Essa afirmação é morfossintatica-

mente válida e tem uma abrangência maior que a da possibilidade

do acréscimo do sufixo -mente à palavra que se está analisando, pois,

com esta última estratégia, fica incluído também o caso de muitos

advérbios que não são derivados de adjetivos e que fazem parte do

inventário fechado da língua.

Observe como isso funciona:

(2 3) Caminhávamos depr ess a, p ois era tarde.

[=Caminhávamos tã o d e pr es sa/e ra tão tarde.)

(24) Longe f ic av a a c as a e n ós p re ci sá va m os c he g ar ced o.

[= B em/tão longe ficava a casa/p rec isávamos chegar be m/

muito cedo.)

(25) E l a p re ci sa falar agora.

[=

E la p recisa fa la r bem agora.)

Esse mecanismo de reconhecimento que associa a invariabilidade

de flexão do advérbio à aceitabilidade de um intensificador funciona

muito bem nos casos em que acontece a adverbialização de adjetivos '.

Observe a diferença em:

11 São poucos esses adjetivos emportuguês, como

alto, bai xo, c lar o, ca ro , b arato , a f inado,

de sa fin ado ,forte, fraco , g ro ss o, f ino.

 8

(26 ) E las /E les d ev em f al ar claro a r es pe it o d o r ou b o.

[c laro = advérbio - deixa-s e a nt ec ed er p o r tã o e é

invariável)

(27) E le f ez u m r ela to claro

à

polícia.

[claro =d je ti vo - d ei xa-se an te ceder por tã o e é variável)

(2 8) N ã o p ag am os t ão caro po r frutas tão caras.

[caro

=

ad vérb io e é

invetievel/cetes

=

adjetivo

e

é variável)

(2 9) A s m en in as c anta vam forte o h in o n a ci on a l. [ forte  

advérbio - deixa-se anteced er po r tã o e é invariável )

Em (26), veja como é indiferente construirmos a frase com elas ou

eles: a palavra claro permanece invariável quando se deixa anteceder

por, por exemplo, tão ou bem - obviamente porque não se relaciona

a

eles(as), mas ao próprio verbo, que não tem flexão de gênero. Já

.m

(27),

a palavra claro é adjetivo, pois aceita bem/tão, mas é variável

em gênero e número, articulando-se com um substantivo

(relatos

claros/declarações claras, por exemplo). Os mesmos fatos ocorrem

em (28) e (29).

Há alguns advérbios de natureza nominal (que funcionam como

nomes) e alguns de natureza pronominal (que funcionam à maneira

dos pronomes) que, por constituírem um inventário fechado, são mais

fácil ou exclusivamente reconhecidos por essa estratégia. É o caso

de advérbios como agora, hoje, ontem, amanhã, nunca e sempre, no

primeiro caso, e de aqui, lá, acolá (os pouco usados alhures, algures

e nenhures), no segundo caso . Advérbios como meio, mais, menos

e demais não se deixam anteceder por tão, mas seguem as mesmas

condições de serem invariáveis e articularem-se com adjetivo ou verbo

(ela está m~io cansada/ela falou menos).

12 Mais detalhes sobre as funções adverbiais serão discutidos no Capítulo 3.

 9

~J;~OJli .QS ..S I N TA X E

UA .S .s.WJ:.A .Ç .AD J1.QR .LULó ..G.Lc A DA S P A l

AlLRALL 

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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o fato de se conceituar advérbios como palavras que indicam

diferentes circunstâncias

13

(como modo, tempo, lugar, dúvida, instru-

mento, companhia e tantas outras) implica um aspecto semântico

de classificação, que, como mencionado, tem caráter subjetivo, falho

e simplista. Para evitarmos equívocos decorrentes do uso exclusivo

desse critério ( advérbio é a palavra que exprime uma circunstância ),

sugerimos o uso de um critério morfossintático de identificação.

Demais classes de palavras

As demais classes de palavras - artigos, pronomes, numerais,

preposições e conjunções - constituem, como já comentado, um

inventário ou um sistema fechado da língua e, como tal, podem ser

memorizadas. Casos mais específicos de uso não são nossa preo-

cupação no momento, podendo-se recorrer a qualquer gramática

normativa para conferi-los. Entretanto, será sugerido, logo adiante,

seu agrupamento em categorias linguísticas mais eficientes de serem

apreendidas.

Em relação às IN TE R JE iÇ Õ E S, estudos mais recentes e linguistas de

maior expressão vêm considerando-as palavras-frase, pois constituem,

por sisó, verdadeiras orações. Acompanham-se de efeitos prosódicos,

variáveis segundo a situação em que estão inseridas. E, de acordo

com essas situações, podem ser desde certos tons vocálicos, como

hum ... , ui , oh  e ah ... , até adquirir contornos deverdadeiras palavras,

como

olá , puxa , bravo ,

ou reproduzir ruídos, como

clic, pum ,

ou,

ainda, serem usadas em forma de locuções, como ora bolas , ai de

mim , cruz credo .

13 Uma circunstância é def inida como detalhes, particularid ades que acompanham

fatos, acidentes, casos, condições, es tados de coi sas e si tuações em certo momento.

30

'ão

muitas as situações em que se podem empregar interjeições

das mais variadas espécies (de apelo, de alívio, de dor, de impa-

I'i{lncia, de satisfação etc.). Em qualquer caso, é palavra ou expres-

'i/ to

que segue à risca seu sentido etimológico de palavra interjecta,

sto

é,

lançada entre os outros elementos oracionais. Como tal, não

('()l1lrairelação sintática com nenhum outro termo, apesar de poder,

 Hlzinha, constituir uma frase/oração:

O h = e st ou a dm ir ad o ( O h  Você chegou? )

A i' = sin to d or (A i' E sse p é é m eu i)

Oba = s to u m u it o c on te nt e ( O b» P o ss o

seu»)

Psiu =i qu e q u ie to (P siu Pe d ri nh a e s tá d o rm i nd o.)

Funções adjet ivas

e

junções substantiva s

Muitas das palavras (lexemas) que pertencem paradigmaticamen-

te à classe dos substantivos e adjetivos, por exemplo, podem variar de

.lassificação conforme o contexto em que estão empregadas, isto é,

de acordo com sua relação sintagmática. Isso é relativamente comum

normal no português. Assim, temos uma substantivação em (30) e

uma adjetivação em (31):

 30) Só o s fortes sobrevivem 

31)

Você

me

parece tão criança '

Isso ocorre porque essas palavras passam a ter determinados

comportamentos morfossintáticos que explicam essa variação em

14 Neste caso, ob ser ve como a palavra é tomada sempr e em sentido genérico e inde-

terminado. .

31

·1 PRÁTICA DE MOREOS.llI'ilAXLl. 

..LLU ..A .S S I E I C

Açà o

M

~lA.'LRA.5.-l •

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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contexto: fortes, em (30), deixa-se anteceder por determinantes; e:

criança, em (31), é palavra variável em número e que aceita tão.Já em.

(32), amesma palavra forte (classificada em dicionário como adjetivo)

comporta-se como advérbio (modificando o verbo) e, como tal, passa

a ser invariável, deixando-se anteceder por tão:

(32)

E la s es tão resp i rand o fo rte.

Muitas das palavras que pertencem ao sistema fechado da língua

também podem funcionar ora na posição substantiva, ora na posição

adjetiva.

É

o caso específico da classe dos pronomes e dos numerais.

Os pronomes pessoais do caso reto, alguns indefinidos, alguns relati-

vos ou interrogativos, por exemplo, têm, sintagmaticamente, um valor

substantivo, isto é, ocupam a mesma posição no eixo sintagmático que

poderia ser ocupada por outra palavra com as mesmas características

paradigmáticas, ou seja,

substituem

um substantivo de fato:

(33) E les pr ec isam ficar em ca sa ho je.

C rianças precisam ficar em casa hoje.

(34) C oloquei alg uém na sa la de leitu ra ?

C olo que i tin ta na sala de leitura?

(35 ) A s cartas [que chegaram ] tra ze m boas not íc ias.

[a s c a rtas ch eg ara m]

(36) Q uem ainda brinca de ca rrinho?

M enin o aind a br in ca de car rinho?

Já nos exemplos a seguir, outros tipos de pronomes e numerais

cardinais e ordinais comportam-se como adjetivos, pois, sintatica-

mente, isto é, em uma relação sintagmática, acompanham substantivos

concordando com eles em gênero e/ou número.

 

(3 7) Certas pessoas recusam euxllio.

(38) Meus j oe lh o s e s tã o d o en d o.

(39 ) Já perdi duas a g en da s e st e ano.

(40) J á n ão s om os

os

primeiros alunos da c lasse.

Esse tipo de conhecimento será muito importante quando estiver-

mos analisando sintaticamente os termos oracionais, como veremos

no Capítulo 4.

Funçõ es genéricas dos g ra me mo s independentes

Como anteriormente comentado, muitas das palavras que perten-

cem ao inventário fechado dos morfemas gramaticais independentes

podem ser agrupadas de acordo com alguns papéis fixos que vierem

a exercer morfossintaticamente. É possível agrupar esses tipos de

palavras como pertinentes a conjuntos que se caracterizam generi-

camente por serem:

• D ET ER M IN AN TE S: artigos, pronomes possessivos e demonstrativos,

pronomes indefinidos em posição adjetiva e relativos, como cujo

C -a, -os, -as).

• SUBST IT U T O S: pronomes em posição substantiva, como os retos.

• Q U A N T IFIC A D O R ES : numerais cardinais, alguns advérbios, como

muito, pouco, demais, e alguns pronomes indefinidos (em posição

adjetiva), como

muito

C -a,

-os, -us) e

todo

C -a,

-os, -us).

Exemp los :

os três amigos; conversa muito longa; muitos an imais comem

muito; mu ito p ou co ge ntil; e l es falam de mai s ou falam pouco.

 

 J-P.JlAllLLI1.LMJ1RLo.5..SJJi.T.AXL.l. 

t

I

LC .LJI S S I f I C .LI.Ç .À lLM ..QR LQL I2J;J ..LU1 A5 J.A l A V R A 5

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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• R EL ATO R ES: preposições e conjunções.

Exemplos .

até a c id a de ; at é morrer; em casa; quando c ri an ç a ; c a de r no s e

l ivros; nasciam e cresciam ; salvou -se porque n ad ou a té a p ra ia.

• AU XILI A R ES: verbos que participam de forma finita ou não finita de

outro verbo, como

se r, estar, ter

e

haver.

Exemplos:

haviam feito; es ta va m s en do realizados; tiv éssemos escolhido;

estar satisfeito.

Essa possibilidade de agrupamento parece ser uma melhor al-

ternativa à de apenas  decorar  aleatoriamente grupos de palavras

como

variávei s

e

in variáveis .

A partir desses conjuntos, é possível

entender melhor as classes de palavras que os compõem, observando,

em textos, todas as possibilidades de uso e de expressão.

QUESTÕES COMENTADAS I

° m undo é feito d e c on su m id ore s, s er vid o p or alg un s c ri ad or es. °

de sequilíbrio é dram ático, e só não de te rmina a frus traç ão u niv er sa l

p or qu e n ão n os d am o s c on ta d e n os sa im po tê ncia criadora , e até nos

iludimos, at rib ui nd o -n o s u m a p ot ên ci a i ma gi nária. (Cer tos Drummond

d e A n d ra d e)

1. Vamos separar os morfem as lexicais ou lexemas (palavras seman-

ticamente carregadas em relação ao mundo biossocialJantropo_

34

cultu ral)

dos

morjemas g rama t ica is

ou

gram emas

(palavras que

s ó têm significado no mundo gramatical).

M und o, fe ito, consumidores, servido,

cri ad ores, desequilíbr io, dramát ico,

d e te r m in a , f ru s tração, un iversal,

damos, conta, impotência, cr iadora,

i ludimos , at ribuindo, potência ,

imaginária

0 , é , de , por , a lguns,

o , é , e, só , nã o, a,

porque, n ão , n os , d e,

nossa, e, at é , no s,

n os , u m a

Do conjunto dos lexemas, separar, agora, aqueles que pertencem

às categorias dos:

• substantivos (palavras que se deixarem anteceder por deter-

minantes - 0, a, o s, a s, esse, ess a, m eu , m in ha , s eu , s ua etc.):

m und o , consumidores, criadores , desequilíbr io, fru straçã o, conta,

im potência , po tência ;

• adjetivos (palavras variáveis que se deixarem anteceder por

tã o): fe ito , se rvido, d ra m át ic o, u niversa l, cr iadora, imaginár ia ;

O S S .: na verdade,feito e servido, no contexto, são formas nominais

(particípio passado) dos verbos fa zer e servir e constituem as lo-

cuções verbais

éf eito, é servido.

Perceba, porém, como assumem

as mesmas características mórficas e sintáticas de um adjetivo.

. .

• verbos (palavras que se articulam com os pronomes retos):

determ in a, da m os , ilu dimos, a tribu indo .'

35

·1

P R Á TIC A D E M O R EO SS IN TAX E

 ~u..A. S .S IE IC A Ç À O M O .R .E .QIÓG IC A D A S PA LA V R A S

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O B S .:

como já mencionado, é (verbo ser), apesar de não ter carga

semântica, flexiona-se e comporta-se como verbo. Atribuindo é

forma nominal (gerundio) do verbo atribuir.

o

importante, neste tipo de exercício, é conseguir identificar

principalmente os substantivos, os adjetivos e os verbos, pois é

desse tipo de conhecimento que dependerá, posteriormente, a

identificação dos sintagmas, verdadeiros constituintes imediatos

das orações.

3 Fazendo cortes paradigmáticos na primeira oração do trecho,

observe:

• Alguns é um morfema gramatical: por qual outro (ou quais

outros) seria possível substituí-lo, sem grande prejuízo de

sentido da frase no texto?

R E S P O S T A : P od eria se r su bs ti tuí do po r ou tr o m orfe m a gra ma tica l da m es m a

ca tego ria , ou se ja , por ou tros pronomes ind e finido s :

ce rtos

vá rios

I

cr iador es

cr iad ores

• O pronome indefinido alguns poderia ser trocado por um

adjetivo? Por quê?

R E S P O ST A: S im , p od eria ser troca do por um ad je tivo qua lqu er, po is ta mb ém

o s a dje tiv os p od em a rtic ular -se jun to a um sub sta ntiv o (n o ca so ,

criadores) ,

m od ificando-o e com ele c on co rd ando em gênero e /o u n úm ero . P o r e x em p l o:

( tã o ) n ot á ve is c riadores /( tã o) m ar av ilhosos criadores.

36

• No caso de trocarmos o morfema gramatical alguns por um

adjetivo, que é um morfema lexical, haveria alteração semân-

tica na frase?

I

{I SIJO STA : A o troc arm os o lex e m a g r am at ica l (p ronom e in de fin id o) p or u m adj et ivo

qu a lque r. a tr ibui-se um a c a ra c te rí stic a nova ao subs ta nt ivo , de ixa nd o de ocorre r

11ona s um a re fe rênc ia inde fin ida ao te rm o cr iadores. C onse quent em ent e, há u ma

n l t c r a ç ã o do sentid o o rig in a l da fras e no co n tex to .

Na frase O

garotinho quebrou vários pires no café da manhã,

por

meio de qual critério de análise (semântico, mórfico ou sintático)

justifica-se que a palavra pires é masculina?

I

{I SP O ST A : P or um crit é rio s in tát ico , p o is é e m um a re la çã o s in ta gm á tica da p alav ra

co m outra que co n firm am os qu e

pi res

é m a sc ulin o , e não p or um a m ar ca m ó rfica .

I'o r exem plo : me u pires , o pi res , pi res qu ebr ado etc.

5

Observe as construções: ela está meia aborrecida, quero apenas

meia melancia. Em uma delas, ocorre um defeito de concordância,

segundo a norma culta. Por quê?

R E S P O ST A : A pa lav ra

ab orrecida

é um ad jet ivo (de ixa -se an te ced er p or um in te nsifi-

cador, é var iáve l em gên ero e nú m er o). A pa lav ra ca paz de se a rticul a r a um a dje tivo ,

m od ifi ca ndo -lhe o sen tido é um advé rb io . C o m o o advé rb io é in var iáve l em gê nero

e núme r o, a p a lav ra

meia

só pode fic a r no m ascu lin o/ s ingu la r. A ss im , te rem os :

ela

está meio aborrec ida/e las estão meio aborrec idas/eles estão meio aborrec idos.

na co ns truç ão q ue ro a penas m eia m elancia, a p a la v ra me lancia é um sub s tan tivo

e, com o ta l, a ce ita ou prec isa que a p a lavra meie concord e em gê ne ro e n úm e ro

co m ela . N e st e c as o, oc or re , porta nto , u m n um e ra l ( me io

=

metade ) qu e f un cion a

ex a tam ente com o um ad je tivo func ionar ia, a rti cu lando-se a um substa n tivo . P or

exem pl o: pre ciso d e duas m eias melan cias, compr ei m e ia a bó bora, vo u us ar a p enas

meios tijolos na d ec oração.

37

~Tl.C.lLo..LM.QRLo.s...sJJ'LlA)(J

I

A tlA S S II  IC A ÇA O _M ..O _Rf :JUl ÍG IC A D A S~

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E X ER C íC IO S D E A PLIC A ÇÃ O I

N íVE L 1

1. Isole os morfemas lexicais (ou lexemas) dos morfemas gramaticais

(ou gramemas).

o

pre to no branco,

O pen te na pele:

P áss aro espalmado

N o cé u quase branco.

(.. .)

N o e sc ur o recesso,

A s f on tes da vida

A s an grar inúteis

P or d uas ferida s. (M anu el B and eira)

2. Do conjunto dos lexemas, separe aqueles que pertencem, neste

contexto, às categorias dos:

• substantivos (palavras que se deixam anteceder por determi-

nantes - o,

a, os, as, esse, essa, meu, minha, seu, sua

etc.);

• adjetivos (palavras

variáveis

que se deixam anteceder por um

intensificador tão ou muito).

3. Responda às seguintes questões:

3. Na frase Você poderia chamar um táxi?, por meio de qual cri-

tério de análise (semântico, mórfico ou sintático) justifica-se

que a palavra

táxi

é masculina?

38

h.

Na 1  1  1 1  . 1 N ao há Láxisdisponíveis nos bairros distantes,

por meio

le

qu .il

critério de análise (semântico, mórfico ou sintático)

justil It

.i-sc

que a palavra táxis está no plural?

c. Na

rnlM'

O rio desce a montanha vagaroso, como ter certeza

de qllt' l palavra em destaque é um adjetivo ou um advérbio

de modo?

d. Compare as duas expressões:

um urso amigo

e

um amigo urso.

Elas

u - m

o mesmo significado? O fato ocorre por um motivo

de nal ureza mórfica, sintática ou semântica?

e. Como é possível saber se a palavra ônibus está sendo usada

no plural ou no singular? Por um mecanismo mórfico ou

sintático da língua?

f.

Na oração Aquela mulher vendeu caro a própria alma, por que

a palavra caro não está no feminino, concordando com aquela

mulher ou com a própria alma?

g. Em

meu dentista,

sabemos que

dentista

está se referindo ao

masculino por um critério mórfico ou sintático da língua?

h. Em meus dentistas, sabemos que dentistas está no plural por

um critério mórfico ou sintático da língua?

4. A alteração da ordem do adjetivo em relação ao substantivo é

possível na Língua Portuguesa. Entretanto, há casos em que esse

fato precisa ser evitado, pois resultaria em:

• A: uma expressão inaceitável no uso da língua;

• B: uma alteração de sentido.

Observe as expressões listadas a seguir e selecione uma que ilustre

cada um desses casos. Explique sua escolha.

39

  .L  .R Á

T I C A

P E

M OJli.Os.5.llUAX.Ll.. 

• I . A C L AS S I F I

(8,ÇÃ 1l ... M JUlLO.Ló .G .LC .ILD .1\ 5 -.eJ .A ~JU lLl . 

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8. flor bonita/bonita flor;

b, lógica normal/normal lógica;

c. indicações preciosas/preciosas indicações;

d, amigo velho/velho amigo;

e. advogado grande/grande advogado.

N íV E L 2

Para responder às questões de 1 a 8, apóie-se no seguinte texto:

A e st re la

V i u ma e strela tão alta,

V i u ma e stre la tão

fria :

V i um a es tre la luzind o

N a m inha vida vazia.

E ra um a e st re la t ão a lta  

E ra um a e stre la t ão fria 

E ra u ma e stre la s ozinha

Lu zindo no fim do dia.

P or que da sua d i s tânc ia

P ar a a m inha c om panhia

N ão baix av a a q ue la e st re la?

Po r q ue tã o a lt a lu zia?

E ouvi-a na s om br a fu nd a

Responder que assim fazia

Par a d a r um a e sp erança

M ais tris te a o fim do m eu dia .  Manuel Bandeira)

40

ldcruifique, no

texto, todos os lexemas. Agrtlpe-os, a seguir, em três

conjuntos: o dos substantivos, o dos adjetivOse o dos verbos.

observe como as palavras que restarars. após a retirada dos

kxcmas, constituem o conjunto dos morfemas gramaticais in-

dependentes (os gramemas). Responda:

a, Quais deles são determinantes?

h H á substitutos, ou seja, palavras que aparecem no texto no

lugar de outras? Quais, por exemplo?

Você concorda que a forma era, na segunda estrofe, poderia ou

deveria pertencer também ao conjunto fechado dos morfemas

gramaticais, apesar de se comportar morficamente como qual-

quer lexema-verbo? Especificamente, a qual desses subconjuntos

deveria pertencer: quantificadores, substitutos ou relatores? Por

quê? Há alguma outra forma verbal que se comporta da mesma

forma? Exemplifique.

I Observe os três primeiros versos das estrOfes um e dois:

V i um a estre la tão a lta,

V i um a e strel a tão fria

I

V i um a estrel a luzindo

Era um a e st re la t ão alta  

Er a um a es tre la tão f ri a

E r a u m a estrela sozinha

e você fizesse cortes verticais (paradigI11áticos), as formas lu -

zi.ndo

e

sozinha

ficariam na mesma posiç~o de

al ta

e

fria?

O que

se pode concluir, então, a respeito da classe gramatical dessas

quatro palavras? A forma lu zindo, nesse contexto, teria a mesma

classif icação das outras três? Por quê?

41

~.Y -.RA J.JJ :.A .Jl .E ....M -Q RF O S S I N TA2lL.l

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5. Em responder que assim fazia, justifique a classe gramatical da

forma em destaque, levando em consideração a palavra à qual

se articula e o fato de ela ser variável ou não.

6. No verso vi uma estrela tãofria, se você mudasse a forma fria para

friamente, essa alteração traria algum tipo de diferença quanto

ao sentido do verso? Por quê?

7. Em não baixava aquela estrela, há um termo que pode ser trocado

por um pronome reto ela: ela não baixava. Isso significa que o

termo trocado e o pronome reto têm a mesma natureza morfo-

lógica? Por quê?

8. Em vi

uma estrela tão alta,

o termo

uma estrela tão alta

também

pode ser trocado por um pronome reto ela? Por quê? Na última

estrofe do poema, há o mesmo tipo de ocorrência. Qual é?

9. Na oração A gatinha chegou mansinho, há erro de concordância?

Por quê?

10. Fazendo cortes paradigmáticos (verticais) nas orações A e B, o

que você observa paradigmaticamente em comum nas unidades

separadas e o que aparece diferente? Essa diferença gera alguma

alteração semântica? Explique sua resposta.

I A

I

C er tos 1

I

I

func ionários li f umavam

I ·

dis tra id am ent e I no I   corred or . I

I B

i

C ertos fun cionários

i

f umavam d ist ra íd os

t

no corred or . I

42

3

o

E STUDO D S IN T XE

1\ importância da sintaxe

Etimologicamente, sintaxe vem do grego syntaxis e significa

ordem, combinação, relação. A

SIN TAX E

é a parte elagramática que se

I

ireocupa com ospadrões estruturais elos enunciados e com as relações

recíprocas dos termos nas frases e das frases no discurso, enfim, com

t

odas as relações que ocorrem entre as unidades linguísticas no eixo

sintagmãtico (aquela linha horizontal imaginária).

A língua é formada pelo conjunto de morfemas lexicais e grama-

Iicais, bem como pelo conjunto de regras e leis combinatórias que

permitem a atualização dessas palavras na elaboração de uma men-

sagem. Serealmente existem dois tipos de inventários (um aberto e

outro fechado) dessas palavras, não existe, porém, um inventário de

frases.

S ã o

as leis sintát icas que promovem, autorizam ou recusam

determinadas construções, elegendo-as como  pertencentes à Língua

Portuguesa  .•ou como  não pertencentes . Dito de outra forma, se

as sequências (e suas extensões e transformações) forem permitidas

na língua, então essas sequências serão consideradas frases dessa

língua; as s equências que não forem permitidas serão não frases

dessa língua.

  PRÁTI CA DE MOREOSSINTAXE  

· 

o

ESTUDO DA SINTAXE  ·

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A força e a importância dessas leis são tão relevantes que a elas

se reserva a manutenção da própria identidade da língua. Observe

como qualquer falante do português consegue perceber que a frase

 41) está mais próxima de um padrão sintático conhecido  ainda que

 meio estranho ) que a construção  42 :

 41 Acredi to

 o

is so s ua re cu pe ra çã o s er á m a is b re ve.

 4 2 As in co nve ni ências do meio de com uni cação chamad a

te lev isã o

é

ap res entado di ante do vis ar s ua s t ransm issões.

Ocorrem em

 42

tantas transgressões de leis sintáticas do por-

tuguês que fica bastante difícil, quando não impossível, recuperar a

intenção comunicativa de quem produziu a frase.

As

LE IS SINTÁT I  S

de uma língua funcionam como uma espécie

de guardiã da inteligibilidade da superfície linguística de um texto,

pois são o elemento gerador e disciplinador das unidades linguísti-

cas que compõem suas frases. A sintaxe, sem dúvida, é o princípio

construtivo e mantenedor da identidade da língua e, como tal, tem

sua importância alçada à de assegurar a própria capacidade comu-

nicativa dos textos.

 

m po d e tu çã o d sin t xe

Os objetos de estudo da sintaxe são, portanto, todas as relações

que ocorrem no eixo sintagmático da língua. Daremos preferência,

neste momento, àquelas que se formam entre palavras, gerando os

sintagmas, e àquelas que se realizam entre eles, gerando as orações.

Cabe aqui uma primeira distinção entre aquilo que se considera

frase

e o que se convencionou chamar de

oração.

A

FR SE

é consi-

 

lerada qualquer unidade linguística de comunicação que, do ponto

ele vista da oralidade, caracteriza-se por uma entoação própria da

ituação

em que se realiza. Pode constituir-se em uma única palavra,

em uma interjeição

 Que calor /Quem?/Olá )

ou em enunciados mais

complexos  Hoje vai chover.Nocê viu o meu gatinho?).

Ainda que, em qualquer nível de análise das unidades linguís-

ricas,

a força das leis sintáticas deva ser sempre exercida, é somente

quando a frase contiver em si todos os dados para a comunicação,

sem a necessidade da mímica ou da situação para completa-los, que

poderá ser tomada como

oração.

Logo, consideremos OR Ç ÃO como uma frase que se presta a uma

análise sintática de seus constituintes, liberta de seu contexto, e que

deve exibir, de maneira clara ou oculta, um núcleo verbal. Dessa

forma, a oração reúne, na maioria das vezes, duas unidades signifi-

cativas, chamadas sujeito e predicado:

Os

a luno s a tent o s e stu da m a s lições todos

os

d ias ant es do jant a r

Os alunos aten to s e stu da m a s lições todos os di as .

Os

alunos atentos e s tu d am a s l ições .

Os

aluno s a ten to s estudam

Estudam

Reduzindo-se paulatinamente os termos constituintes desses

enunciados períodos), percebe-se que o único indispensável é o ver-

bo, justamente aquele que seconsidera o núcleo da oração. Já as frases

têm um comportamento comunicativo mais amplo e independente

da existência ou não desse núcleo verbal, isto é: a frase é capaz, dife-

rentemente da oração, de subsistir mais em função ou tão somente)

dos elementos de situação ou extralinguísticos. Observe:

 

~RÁlLC.LQLM.Q.RL~SJJ'UAX.L..l 

 .L<LLSlUDo

.Jl..IL5..i1J ..I.AX ..L

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(43) - O lá   (= fras e)

- Tu do bem? (= frase )

- Tudo. (= fras e)

- Vo cê vai ao baile? (= frase

e

oraç ã o)

- Não . (= frase)

- E u vou /po rqu e sou um ótim o bailarino. (= fras e e du as

oraçõ es )

A partir desse exemplo, uma situação de encontro e conversa

entre duas pessoas, é possível perceber como somente as frases que

também constituem orações podem ser retiradas do contexto e, ainda

assim, prestar-se a uma análise sintática de seus constituintes (podem

 sobreviver , independentemente da situação). Percebe-se, então, que

toda oração pode ser frase, mas nem toda frase pode ser oração.

Convencionou-se chamar de PER íO D O , por sua vez, todo enuncia-

do que se comportar como oração, podendo ser

s imples

ou

composto,

no caso de apresentar, respectivamente, uma ou mais orações. Todo

período, para simplicidade de localização em um texto escrito, é

delimitado graficamente por uma palavra iniciada por letra maiús-

cula e um sinal de pontuação final, como ponto-final, interrogação,

exclamação e reticências. Temos, assim, em (43), um período simples

(V oc ê v ai a o b aile? ) e um período composto (Eu vou porque sou um

ót im o ba il ar in o.) .

  e st r ut u ra s in tag m át i c a d o p o rt u g uê s

Quando nos referimos

à

hierarquia gramatical de unidades lin-

guísticas (rnorfema ~ palavra ~ sintagma ~ frase/oração ~ texto),

observamos que os consti tuintes imediatos das frases/orações são os

46

illll\)\I11<1S c não as palavras. Na condição de palavra, a unidade lin-

1',ltl'.Ilcí.\

presta-se a uma análise de seus constituintes estruturais (os

1111

fi.'

rnas dependentes, ou seja, radical, desinências, prefixos ete.)

I

1\( I lta apenas denominações quanto

à

sua classificação gramatical.

\ pulavr a

leão,

por exemplo, está dicionarizada como substantivo

111.1·)('ulino é esse o seu

status

quando vista ou analisada em uma

11I1'spcctiva vertical . Essa mesma palavra, porém, assume o

status

di:

sintagma quando, no eixo horizontal, relaciona-se, combina-se

rnm outra palavra ou com outro sintagma, sob uma perspectiva de

um lise na horizontal . Nesse momento, a palavra leão assume uma

1lt-I11idadeque passa a ser também sintática, dependendo de sua

posição no eixo sintagmático e das relações que possa estabelecer

r.uru outros síntagmas .

E m

sentido amplo, todo S I N T A G M A é a construção que resulta da

lI'l

iculação

de pelo menos duas unidades linguísticas, em qualquer

II

rv c l

de análise. Esse conceito segue, ainda, o pioneirismo linguístico

Ili' Saussure/, para quem sintagma é a combinação de formas mínimas

1:1llunidade linguisticamente superior.

Desse conceito inicial, pode-se inferir que uma palavra, por

exemplo, também é um sintagma (lexical, no caso), uma vez que

resulta da articulação entre duas formas mínimas hierarquicamente

Inferiores (um radical

+

uma desinência, por exemplo). Da mesma

lorrna, um sintagma oracional seria o resultado da combinação entre

duas formas anteriores: um sujeito (um sintagma nominal) e um

predicado (um sintagma verbal).

I Para quem já possuí alguma noção de [unções sintáticas, o substantivo leã o será,

por exemplo, um sintagma nominal funcionando como suj eito, em le ão e scap a

do c ir co ,

ou

um ob jeto direto, em

ci rc o

solta leão.

2. Ferdinand de Saussu re, em Cou rs de líng uistíque généra le, obra clássica, publicada

'111 Paris, em 1916.

47

~i

PRÀTI CA o E M ORLQs..s~A.XLlo

~_ LE.5_lliD_O...D.1L.SJ..IllA.X.LG

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Todavia, restringiremos esse conceito a uma perspectiva que re-

flete melhor o uso da língua pelo falante. Para isso, consideraremos

SIN T A G M A

toda construção sintática que constitua um bloco  signi-

ficativo ou funcional que pode  mover-se  no eixo horizontal. Esse

 bloco  é formado a partir de uma ou mais unidades linguísticas do

nível imediatamente inferior , ou seja, por palavra:

• pertencente ao arquivo aberto:

telefone;

• substitutiva: ele;

• combinada com outra(s) do arquivo fechado ou do arquivo

aberto: meu t el ef one/m eu te le fo ne v erm elh o.

Os sintagmas estruturam-se mediante os mais diversos arranjos

e combinações, segundo as leis da língua e/ou a intenção do falante.

Os sintagmas a seguir (à direita) são formados só pelo núcleo signifi.

cativo (palavra

à

esquerda) ou por ele e palavras circundantes, como

determinantes e/ou modificadores/intensificadores:

Jo sé José

casa

e s ta s u a casa d e m a d e ir a

bo n ito incr ivelment e boni to

amáve l mu i to amáve l

choveu

choveu d e m a is

longe

m ui to longe

48

S ilo essas unidades uninucleares ou grupais que contraem entre

'l 

.llfcrcntes posicionamentos sintagmáticos e, dessa forma, desem-

pt llham

as chamadas

fu nçõ e s s in tá tic a s.

Dito de outra maneira, as

I I I N I ,:O fS SINTÁ T IC A S

originam-se das posições e das relações que os

dl lc rcnt es

tipos de sintagma assumem entre si em uma oração.

Percebe-se facilmente que o falante da língua não processa qual-

1 1 1

ter enunciado sílaba por sílaba, ou palavra por palavra, seja falando,

lrudo ou escrevendo. Se alguém ditasse uma frase sílaba por sílaba

IlI palavra por palavra para outra pessoa, esta não compreenderia de

rucdiato o significado global do que foi ditado. O ouvinte precisaria

I'('organizar essas unidades para formar unidades superiores a síla-

has e superiores a palavras para apreender o significado integral do

que

foi ditado. Isso ocorre porque o falante da língua  sabe  que os

verdadeiros constituintes da oração são os sintagmas. Esse indivíduo

processaria um enunciado como aq uele s p as sa rin ho s fizeram seus

/linh os em u m g alh o de árvore muito provavelmente desta forma:

IIque les passar inhos + f iz era m s eu s n in ho s e m u m g alh o d e á rv ore

ou

IIque l es p a ss ar in h os f iz e ra m + seus n inhos + e m u m g alh o d e á rvo re

ou

Aqu e les passar inhos + fizeram + seus n inhos + e m u m g alh o d e á rvo re

O que acontece com qualquer falante da língua, ao processar

enunciados escritos, é que ele o faz  dividindo esses enunciados

em blocos significativos que podem, inclusive, mudar de posição no

eixo sintagmático. São esses blocos (ou  as combinações de unidades

linguísticas de nível inferior ) que constituem o que chamamos de

s intagma.

49

~IJ..C.A-.lLLM..OJl EO5 5

I

N

TA

x.Ll. 

~ .ll .U .. .Q JLO A 5 I N TA

xLi. 

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Vejamos o que ocorre com a oração-exemplo, se tomarmos, de

uma forma prática e fácil, o verbo como ponto de apoio e fizermos

este tipo de segmentação:

(44)

I

Aque le s p ~ ss arinhos

I   I

seu

I em

um ga/~ de á rvore.

I

Poderíamos ter as seguintes possibilidades de reorganização

desses blocos (sempre tomando o verbo como ponto de apoio):

• 3 + 2 + V + 1;

• 3 + V + 2 + 1;

• V

+

3

+

2

+

1;

• 2 + 1 + 3 + V etc.

Dessa maneira, é possível concluir que a construção (44) tem

três sintagmas que se movem no eixo horizontal, em função de um

ponto de apoio - o verbo -, ocupando as posições mais variadas

possíveis e propiciando ordens ou arranjos de leitura em um número

muito grande de possibilidades. Observe também que alguns desses

arranjos (2

+

1

+

3

+

V,por exemplo)  soam muito mal aos ouvidos

do falante, dificultando, até mesmo, o entendimento do enunciado.

Isso significa que existem  arranjos  sintagmáticos mais próximos

ou distantes de certo padrão linguístico em uso, o que resulta em

uma maior familiaridade para o falante.

É

isso que chamamos de

força das lei s s in táticas

em

um a língua .

O português também tem as

suas e, adiante, veremos qual é esse padrão de construção de frases

em nosso idioma.

50

Tomemos outro período simples:

(4 5) Em c er to s d ias en evoados, o s ol d e v er ão parece fica r

m uit o f ra co .

Em (45), destacando-se outra vez o núcleo verbal como referência,

teríamos dois sintagmas anteriores a ele:

(a) em certos d ias enevoados

(b) o so l de verão

(' um posterior a ele:

(c)

muito frac o

Os sintagmas organizam-se em torno de um elemento fundamen-

(nl,

ao qual chamamos

nú c leo.

Assim, o sintagma o

sol d e verão

tem

por

núcleo o substantivo

sol ,

e o sintagma

mu ito frac o

tem por núcleo

il

adjetivo

fraco.

Por isso, dizemos que o

so l d e v erã o

é um

s inta gma

lIom inal , pois tem como base uma palavra substantiva, e que muito

frac o

é um

s i nt agma ad je ti va l,

pois sua base nuclear é um adjetivo. Já

() sintagma em ce rtos d ias enevoados tem uma configuração diferente:

em + certos d ia s enevoados,

ou seja, é formado por uma preposição e

um sintagma nominal. Esse é o caso dos

si ntagma s preposicionad os,

que poderiam ser representados pela seguinte fórmula: SP

=

prepo-

sição + SN.

Assim, é possível perceber que, em (44), também existe um SP,

lotmado pela estrut: ra em

+

um

ga lho de á rv or e.

51

.; PRÁIICLD.L..M-QJUOSSINIAXE~

....L.lLliIJilULJ1LSJJ'HAXL.J.--

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Tipos de sintagmas

Para observarmos como se constroem frases/orações na Língua

Portuguesa e entender o que são funções sintáticas, é necessário antes

analisar melhor a estrutura dos sintagmas, ao menos daqueles que

nos interessam para este estudo.

O

SINTAGMA NOMINAL

(SN)

é uma unidade significativa da oração

que sempre terá como núcleo uma palavra de natureza (ou base)

morfológica substantiva, podendo esse núcleo vir circundado por

determinantes e/ou modificadores nominais . As possibilidades de

combinações são infinitas:

Es te m e u

A q u ele d ou ra do

Nenhum

{ anel

 

d e o u ro b ra nc o

c a ro d e m ai s

c om g ra vaç ã o d o u ra d a

Com o núcleo substantivo

an el,

poderíamos construir, por exem-

plo, os seguintes sintagmas nominais:

e ste m eu a ne l d e o uro b ra nc o

a qu e le d ou ra do a ne l c ar o d em a is

n en hu m a ne l c om g ra va çã o d ou ra da

e s te m e u an el c om g ra va çã o d ou ra da

Observe como os modificadores do núcleo substantivo de um

sintagma nominal podem ser, eles mesmos, um sintagma adjetival

3 Na falta desses elementos circundantes, o núcleo sozinho constituirá o sintagma,

desde que seja uma palavra substantiva ou substantivada, como ele, nós, alguém, tudo,

quem, o) cantar

etc.

5

caro demais)

ou um sintagma preposicionado

(de o ur o b ra nco,

com

gravação dourada).

O

SINTAGMA ADJETiVAL

(SA) tem como núcleo um adjetivo que, da

mesma forma que ocorre com o sintagma nominal, pode ser consti-

ruído

apenas por esse adjetivo ou circundado por outros elementos,

como advérbios intensificadores (46), modificadores adverbiais (47)

ou sintagmas preposicionados (48). Observe, respectivamente:

 46)

Es te s a n é is s ã o caros demais . (a d). + in tens .)

 47)

E la se mo stro u surp ree ndentem ente honesta .

(m od if a dv +

edj.)

 48) A nd ar p ode ser favorável à saúde. (ad). + sintag . prepos.)

O SINTAGMA PREPOSICIONADO (SP), como já dito, constitui-se de

preposição

+

sintagm a n om in al. Esse tipo de sintagma pode articular-

se a um substantivo - como so l de ver ão, em (45) -, a um adjetivo

- como

favorável à sa úde,

em (48) - ou a um verbo - como em (49)

e (50),

no alto d as m ontanhas

e do

a ux ílio d a polícia:

(49) Os

pássaros de top etes azuis constroem seus n inhos no

alto das monta nh as .

(50) Os cid adãos honestos p recisam d o a u xí li o d a p ol íc ia.

Na verdade, em

  1 + 9  

temos dois sintagmas preposicionados:

(a ) de t op e tes ezui : (q ue se a rticula co m pássaros )

(b ) no alto das m o ntanhas (q ue se ar ticu la com o verbo

constroem)

~

Internamente ao sintagma (b), temos um outro SP:

53

'.l.P.RÁ.I1LLD.LM1LlUj)S.5JlilA1CLG

~_Q..LUJJJ)jl ..Jl.JL5JJilAXL.l ..•

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(c ) das montanhas ( fo r m ad o p o r de + as montanhas e

a rt icu lado ao te rm o an te rior alto)

Em (50), temos um primeiro SPdo a ux íl io d a po líci a (de + auxílio

da po lí c ia)

e, internamente a este,

da po lí c ia (de

+

a po líc ia ).

Como já vimos em (48), também é possível que um SP se prenda

a um adjetivo -

favorável

  l

saú de

(=

a+a s a úd e) -

e, em alguns casos,

que também se articule até mesmo a um advérbio, por exemplo,

favora velmente

c l

sa úde.

A partir dessas primeiras considerações, é possível perceber

como os sintagmas podem se comportar como

au tônomos

ou

int ernos.

Consideramos

S I N T A GM A S A U T Ô N O M O S

aqueles que se movimentam

sozinhos no eixo sintagmático, nele ocupando diferentes posições e

constituindo-se, até mesmo, de outros SINT A G M A S IN TE R NO S. Estes, por

sua vez, estão contidos nos sintagmas autônomos, não tendo liberdade

de se movimentar além do limite do sintagma que os contém, pois

estão presos a algum elemento desse sintagma.

São internos, por exemplo, os sintagmas

d e to pe tes azuis,

e

das

montanhas , ambos em (49), e à saúde, em (48). São internos porque

se fixam às palavras anteriores, constituintes de outros sintagmas,

ou seja, fixam-se a

pássaros , alto

e

fa vor ável .

Note como é possível perceber quando um sintagma é autônomo,

qual é a sua extensão e quando um sintagma constitui outro interno

ao primeiro. Em uma oração como o ódio

é

mu i to pr ej ud ic ia l

à

saúde,

veja o que ocorreria se dividíssemos o sintagma

mu it o p re ju d ic ia l a

saúde

em dois, considerando-os autônomos:

o ódio é }

muito prejudicial

à saúde

(?)

54

Observe como o sintagma

à saúde

não é autônomo, pois não se

articula ao verbo

ser,

o que geraria uma frase sem sentido, como

 0

ôd i.o

é à

saúd e.

Esse sintagma prende-se ao termo

prejud ic ial

e é com

ele que se forma o sintagma completo: mui to prejud ic ia l   saúde (este,

sim,

um sintagma

adjetíval

autônomo).

Veja o que ocorre em outra oração:

 51) A s f lo re s n as cem ma is b on it as n a p rimav er a.

As fia res nascem}

mais b on it as

na primavera

Os dois sintagmas à direita do verbo são autônomos, uma vez

que podem, cada um deles, articular-se sozinhos ao verbo:

a s f lores

nascem m ais b onitas

e

as flores nas cem na prim aver a.

Há ainda outra possibilidade de identificar um sintagma autôno-

mo, em oposição a um interno: os sintagmas autônomos, ou seja, os

que se movimentam no eixo sintagmático, podem ser substituídos,

elemaneira prática, por proformas . Isso funciona assim:

 52) IS eu a ntig o c ole ga d e f ac ul da de l a ss in a v ai r ev is ta s d e

cu lt ur a g er al I c om interesse.  i= IEl el a ss in av a-Ias lassim l

ou IEl el a ss in av al isso/ assim .l)

 53) IP es soas q ue têm m uito d in heiro l vivem l em c as as c om

mu it o má rmo re.  (= IElasl vivem llá l ou IElasl vivem I

nelas. I)

•• Profo rma é a unidade linguís tica que representa o mesmo conjunto das propriedades

comuns aos membros deurna determinada classe gramatical. Assim, os pronomes retos

elelela, por exemplo, são proformas da categoria dos substantivos ou dos SN; o advérbio

lá pode ser proforma de um sintagma preposicionado circunstancial de lugar; o advérbio

assim, de um circunstancial de modo etc.

d

55

  .LJ:.R A I

I

C A P E M O R E O 5 ..5JJl lA .X .L..

  ...LJL.E .Sl I .IJl ..lLD A S I N TA X E I 

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Um SI N T A GM A A D VE RB IA L, por sua vez, é aquele cujo núcleo é um

advérbio, ainda que essa nomenclatura geralmente não seja usada.

Sintagmas com advérbio nuclear podem sozinhos constituir o síntag-

ma

(ce d o; le ntam ente)

ou vir acompanhados por intensificador

(muito

cedo)

ou modificador

(do lorosamente ce do).

Formam-se, portanto,

semelhantemente aos sintagmas adjetivais.

Funções adverbiais (como modificadores circunstanciais) tam-

bém são costumeiramente exercidas pelos sintagmas preposicionados,

uma vez que apresentam as mesmas características morfossintáticas

e, inclusive, semânticas de um advérbio. Perceba a perfeita corres-

pondência que há em:

(54) A chu va cai cedo.

(55) A chu va ca i de manhã.

(5 6) A ch uv a ca i à mes ma hor a.

Finalmente, fal ta comentarmos o

S IN T A GM A V ER B AL,

que é um dos

elementos básicos da oraçâo. Esse tipo de sintagma tem o verbo ou a

locução verbal como núcleo, podendo constituir-se apenas por esse

núcleo ou apresentar diversas configurações, quando acompanhado

de outros tipos de sintagmas. É o que temos a seguir:

 57)

A s cria nça s adormeceram.

(58) O profess or p erd eu a s p r ov as d os a lu no s.

(59) T odo sp o de m p re ci sar de mais d in he iro.

(60) Os

am igos e n vi ar a m c o nd o lê n ci as

à

famíl ia.

De todos os sintagmas descritos, percebe-se que apenas o verbal

não pode deixar de figurar em uma oração e, no eixo sintagmático,

56

vai exercer sempre a mesma função, a de

pr edicado.

Os demais t ipos

de sintagma poderão exercer funções diversas, dependendo das re-

lações que desempenharem entre si e das posições que ocuparem na

li.nha horizontal. Apenas o sintagma adverbial, com núcleo

advérbio ,

terá também uma função sintática fixa: a de

ad junto adverbial,

como

veremos no Capítulo 4.

  ec om p on do o s s i n tag m as

Os diferentes t ipos de sintagmas podem ser decompostos em seus

constituintes imediatos, o que facilita a compreensão de fatos semãn-

ticos e o domínio da própria estrutura da língua. O passo inicial de

uma estratégia bem prática para a decomposição de sintagmas é tomar

o núcleo verbal da oração como ponto de referência ou de apoio:

sumira m

I

do q uarto d os fundos.

61)

I

Todos aq ue les br inquedos de

co res al eg res

S

Sintagmas Autônomos

7. T odosaqu eles b rinqu edos de core s ale gr es

Formação do SN:

pré-det. +

det.

+

núcleo subst.

+

SP

[todos +

aqueles + brinquedos + de co re s a legre s]

2. do q uarto d os fundos

Formação do SP: prep.

[de] +

SN [o

qu arto d os fundos]

57

• i I'RÁ.IliA.JtL&LQIU1tSS I NTA XE I·

·1

o ES TU PO P A SIN TA XE

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S in t agmas In te rno s

7. d e c o re s a le g re s

Formação do Sp:5prep. [de ]

+

SN (núcleo subst. [cores]

+

modif.

[ale gres])

2. d o s fu nd o s

Formação do sp: prep. [de ]

+

SN (det. [os ]

+

núcleo subst.

[fundos])

Visualize a decomposição:

T o d os a q u e le s b r in q u e do s d e c o re s

alegres

su mira m d o q ua rto d os fu nd os

s in ta g m a n o m in al

s in tagma

preposic i onado

erbo

Todosaque les

pr é -de t.

+

d et .

br inquedos

n ú c le o s u b s ta ntivo

d e c o re s a le g re s

s in ta g m a p r ep o sic ionado

de cores aleg res

prepos ição sin tagm a nom ina l

cores alegres

núc leo subs tan tivo m od ificador adjet ivo

5 sp indica um sintagma preposicionado interno a outro sintagma preposicíonado.

Por exemplo, de plástico

é

sintagma preposicionado interno ao sintagma de capa de

pl ásti c o.

58

de

p re po s içã o

o q u a rto d o s fu nd o s

s in ta g m a n o m in a l

o

d o s fu nd o s

d et .

n ú c le o s u b s ta n tivo

s in t a gm a p r e p os ic i onado

de

preposição

os fundos

s in ta g m a n o m in a l

os

fundos

determinante

nú cle o s ub stan tivo

Como saber a extensão de um sintagma? Já dissemos que há sin-

tagmas dentro de outros sintagmas, isto é, há sintagmas autônomos

que contêm sintagmas internos, geralmente preposicionados.

Para sabermos a extensão de um sintagma, basta perceber a re-

lação de dependência que existe entre seus componentes e observar

também que ossintagmas, quando autônomos, podem ser substituí-

dos por um termo próprio para isso - as proformas (um pronome

reto, um demonstrativo neutro , por exemplo). De uma maneira

apenas prática, operacional, pode-se também trocar um sintagma

autônomo por um  advérbio curinga  - assim - ou por um  adjetivo

curinga  -

interessante,

por exemplo. Nessas substituições didáticas,

é óbvio que devemos seguir as leis de uso da língua e não construir

frases gramaticalmente anômalas.

6 Os pronomes issoou aquilo.

59

 ..LrnnüLD..LMJ1RUL5..SJ1UA.X.Ll. 

• I

o

EST  DCLJ1JL.S.lJ'l.IAX~

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o que importa, neste momento, é apenas observar qual sintagma

e de que extensão a palavra curinga estará substituindo. Perceba:

(62 ) o~a re ce r d a c om is sã o d e s en ad ore s foi desfavorável à a p ro v aç ã o d o

pr ojeto. (= E l e foi interesseme'.)

o

primeiro sintagma,

à

esquerda do verbo, é o

pa rec er da comissã o

d e s en ad ores,

que equivale, por inteiro, a um pronome

ele

ou

is so,

por exemplo. Internamente a esse sintagma, existe o sintagma pre-

posicionado

da comissã o de senadore s

e, internamente a este último,

o sintagma também preposicionado de se nadores.

Observe que existe uma relação de dependência entre o primei-

ro sintagma preposicionado e o substantivo anterior

parecer,

e do

segundo sintagma ao substantivo

comissão.

Tanto é assim, que, se

retirarmos o termo

comissão ,

o sintagma

de senadores

não terá a que

se prender, pois não poderia articular-se

à

palavra

parecer,

uma vez

que não é a ela que atribui uma característica, mas a

comissã o.

O que temos no primeiro sintagma é exatamente isto:

o p a re ce r d a c om is sã o d e s en a do re s

d a c omiss ão de senadores

de senadores

(1

°

s in tagma - au tônomo

=

e le/ isso)

(2

0

sin t a g ma - interno)

(3 0

s in tagma - in te rno)

O mesmo ocorre com o segundo sintagma, à direita do verbo:

desfavorável

à

aprovação do projeto ,

que é um sintagma autônomo,

ou seja, pode se movimentar por inteiro no eixo sintagmático.  

ap rovação do p roj et o

é dependente do termo anterior

desfavorável

e não

7 Ou

i ss o foi a ss im

ou

a q ui lo f oi int eressante.

Veja q ue seria anômala quanto ao uso da

língua uma substituição como ele da c om iss ão de sen ad ores foi. O pronome ele substitui

o parecer d a c om i ssão de senadores e não apenas o parec er .

6

do verbo

foi,

constituindo, assim, um sintagma interno. O sintagma

do

projeto ,

por sua vez, é outro sintagma preposicionado interno, preso

à palavra anterior

(aprovação)

do outro sintagma preposicionado.

I~

como se tivéssemos um sintagma menor dentro de outro maior e

assim por diante. Observe:

de sfavorável

à

ap ro va çã o d o p ro jeto

à

aprovação d o p ro je to

do pro je to

(1

°

s int agm a - au tônom o)

( 2° s in ta g ma - in te rno)

( 3° s in ta g m a - in te rno)

Dessa maneira, fica evidente que o sintagma

do p roj et o

não se

articula ao núcleo adjetivo

desfavorável

e muito menos ao verbo, mas

ao substantivo

ap rovação,

completando-lhe o sentido.

(63)

I E las I sã o I p e ss o as tã o p r eo cu p a da s c o m

os

víciosprejudiciais

à

saúde.

SN

I

V

I

SN

Didaticamente = ela s s ão a ss im ou elas são interessantes .

• SN autônomo

[pessoas + t ão p re ocupad as c om

os

víci os p reju-

diciai s

à

saúde] ;

• sp

[co m

os

víc io s prejudiciais

à

saúde] =

prep.

[com ] +

SN

[os

v íc io s p rejudiciais

à

saúde];

• sp [à

saúde] =

prep.

[a] +

SN

[a s aú d e].

(64)

S

chega

I

ao corre io

I

sempre I à m es ma h or a.

q u el e c ar teiro

eficiente

SN

V

S

S adv.

Didaticamente = ele ch ega a ele sem pre assim .

61

 lEJl.AIlLL[LL.M.UR.fJl5 S

I

N

TA

XE  .  J..

1Lf.H.U ..D..O.J1L5llilAXL.l. 

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• aquele + carteiro + eficiente = SN autônomo (det. + núcleo

subst.

+

modif.);

• a

+

o correio = SP autônomo [prep.

+

SN (det.

+

núcleo

subst.);

• sempre

=

S. Adv. autônomo;

• a

+

a mesma hora

=

SP autônomo [prep.

+

SN (det.

+

modif.

+

núcleo subst.).

(65) , U m c erto p oe ta m uito l OU C O' res id ia , naquele castelo ' c om a f am íl ia .'

S N V SP SP

Didaticamente =

el e r e si d ia nele

com

ela .

• um

+

certo

+

poeta

+

muito louco

=

SN autônomo [pré-det.

+

det.

+

núcleo subst.

+

SA interno (intenso.

+

núcleo adj.)];

• em + aquele castelo = SP autônomo [prep. + SN (det. + núcleo

subst.i] ;

• com

+

a família

=

SP autônomo [prep.

+

SN (det.

+

núcleo

subst.) l.

Da mesma maneira que a desconstrução de sintagmas obedece

a verdadeiras  fórmulas  linguísticas, à maneira das de matemática

ou dos teoremas, sua construção também decorre de algumas dessas

fórmulas sintáticas do português:

• det.

+

núcleo subst.

+

sp

=

SN (o

professor

de

português);

• prep.

+

SN (núcleo subst.

+

sp

+

sp) = SP

(c om liv ros

de

capa

de plást ico);

• det.

+

intenso.

+

modif.

+

núcleo subst.

+

sp

=

SN

(m eu muito

e s pe rt o c ã ozinho de est im ação);

62

• intenso.

+

núcleo adj.

+

sp

=

SA

(m uit o c o nf iante n a a pr ov aç ão);

• det.

+

núcleo subst.

+

sp

+

sp

=

SN (o

oferec im ento

de

u m janta r

aos co nvidados).

QUESTÕES C O M E N T A D A S 11

 

De acordo com Perini (2007), a gramática de uma língua inclui

os seguintes componentes: a fonologia, a morfologia, a sintaxe e

a semântica. Esses componentes se art iculam para definir quais

são as sequências que constituem frases da língua e quais as

que não constituem . Comente o que ocorre nas frases a seguir,

baseando-se nessa afirmação.

3. Ela não cabeu na poltrona.

b. Ela comprou seus maçãs?

C.

Ói nóis na fita 

d. Não cabia na gaveta todas aquelas cartas.

e. Cadernos os menino do no caíram chão.

RE SPOST A :

S om en te a alternat iva

E

n ã o s e ri a um a fr as e d a L ín gu a P o rt ug ue sa .

po is n ão há um a o rg aniza çã o m edia nt e q ua lq ue r o rd em s in tá tica c onstitu tiva

da l íngua. H o u ve d e s ob e d iê n cia tota l a os pa drõe s d e p osic io na me nto s in tag-

m á tic o d as u nid ad es linguís t icas. N en hu m fa la nte d o p ortu gu ês c on stru iria

um a fras e d essa fo rm a. Já nos ou tro s e xe mplos . exc eto em B. o que tem os

são des v ios de padrões g ram atica is no r m a tivo s da língua . U m fa lante do

po rtu gu ês p od e/p od eria c om ete r u m d es vio d a n orm a c ulta d e n atu re za rn or-

fo ló gica e m A . fonológ ic a em C e s in tá tic a e m D . N a tu re za m o rfo lóg ica porqu e

há u m a a lt era çã o d a e stru tu ra m órfic a d a fo rm a v erb al coube; n a tu r ez a f o no -

lógica . po is *ói e *nó is s ão re aliz a çõ es f on oló gic as ( p ro nú nc ia s ) p op ulares

de

olha

e

nós;

n a tu r ez a s in t ática po rque o ve rbo deve ria esta r concordando

63

.1

PRÁTICLQE MORFOSSINTA.X.LG

com o núcleo do s in tagm a nomina l, ou seja,

t od as a q u elas cartas nã o cab iam .

  ..lJLE .5.I .lLD-D -.O A S IN T A X E

.-.G

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O caso de B seria o d e um a c on strução fe ita por um não fa la nt e da Lí ngua

P ortuguesa, um a vez que o ind iv íduo que tem o português com o sua língua

m ate rn a a cionar ia sua gram ática in te rior izada e saberia , independen te de

qu alquer regra no r m a tiva de s intaxe, que

m açã s

é fe m in ino e ass im devem ser

s e u s d e te r mina n tes.

2.

Em qual das frases a seguir ocorre um defeito de ambiguidade

sintática, isto é, duplo sentido ocasionado por um mau posicio-

namento dos sintagmas? Justifique sua resposta.

a. Bandido atropela e mata garoto com carro roubado.

b, Ele perdeu a linha.

R E SPOST.A :

O d ef eito d e n at ure za s in tá tic a o co rre n a f ra se A . O m a u p osic ioname nto

do s intagma

c om c ar ro r ou b a do

gera um duplo se ntido : e ra o b and ido que e st av a

com o ca rro roubado ou era o ga roto? P ara que um só sentid o p re va le ç a, um a

reorganiz aç ão d o p os ic io na me nto d os s in ta gm as e u ma alte ra çã o n a e st ru tura da

f ra s e s ã o n e c es s árias . Pode ría m o s te r, a ss im , d ua s p os sib il i da d es d e c o ns tr uç ã o:

Band ido com carro roub ad o a trop e la e m a ta ga roto.

Band ido atrop ela e m ata garoto que dirig ia c arro roubado .

3. Na frase o indivíduo escondeu-se  alucínadol longe de casal, justi-

fique se os sintagmas em destaque são adjetivais ou adverbiais.

R E SP O STA:

O sintagma

alucinado

é a dj etiva l, um a ve z q ue é f orm ado por um nú-

c le o a d je tivo , ou seja , p ala vr a q ue s e a rticul a a o s u bs ta n ti vo

indivíduo.

É va riáve l

em gêne ro e núm ero e s e deixa anteceder po r um intens ific ad or (tã o, m uito) O

sintagma

l on g e d e c as a

é adv e rb i a l um a ve z q ue s eu nú cleo

(longe)

é um a d v ér b io ,

ou se ja, um a pa lav ra in va riáv el q ue se d eixa an teceder p or u m in tensific ad or e s e

ar ticu la a o v erb o (escondeu-se long e)

64

4  Em existem mulheres que se acostumaram ao luxo, transforme

a oração em destaque em um sintagma equivalente, de base ou

natureza morfologíca adjetiva, e explique por que esse sintagma

teria essa natureza.

RESP OS T A : A oraçã o em destaque p od e s er tra ns form ada no sin ta gm a a djet iva l

acos tumadas a o l ux o , cu jo nú c leo (acostumadas) é um ad jet ivo , ou se ja, pa lavra

va riá ve l e m g ên ero e núm er o, que se d eixa anteceder po r um intens if icado r e que

se articul a a o s u bs tan tivo mulheres .

5 Retire do trecho o que for pedido.

A c ha -s e a li, en tri s tec id a, a o p ia no , u ma b ela e n ob re fig ura d e m oça .

A s linh as do perfi l desen ha m-se d ist in tamen te con tra a lu z p álida do

alvorecer

a. Os sintagmas nominais.

R ESP O ST A : u m a b ela e n ob re fig ur a d e m oç a;

esliahe:

d o pe r fi

O s s in ta g ma s n o mi na is tê m c om o núc le os o s s ub stan tivo s figura e l inhas. Es s es

d ois s in ta gm as nom ina is p od eria m s er t ro c ad o s, respectivamente , pe lo s p ro n om e s

ela e elas.

b. Um sintagma adjetival autônomo.

R ES P O ST A :

entristecida

E sses int a gm a , p o r s e r a u tônomo , p od e m u da r d e p o siç ã o n a o ra çã o e m q u e s e encon-

t ra , m a n te n d o s u a indepe ndência em re la ç ão a q u al qu er outro nú c leo . P o r e x e m plo :

Ent r istec ida ,

acha-se

a li, ao pian o, um a be la e nobre figu ra de m oça.

A cha -se ali, ao pia no , entristecida , um a be la e nobre fig ura d e m oç a.

A ch a-s e ali , ao pia no , u ma b ela e no br e fig ura d e m o ça , en tr is tec ida.

65

 .LI'.J .Á1J..LUlLMJ)Jliill..S.llUA.X.L.l. 

c.

Os sintagmas preposicionados autônomos.

~liLUJ).lLJLA.SUil~

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7/23/2019 Prática de Morfossintaxe - Inez Sautchuk

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R E SP O S TA:

a o p iano , c on tr a a lu z p á lid a d o a lv orecer

São autô n om os po rq ue ta m bé m têm a p os sib ili da de d e e sta r em ou tr as p os ições

n o e nu n ciad o , ocupando , int e iros , u m a pa lav ra equi va len te, co m o assim.

d,

Os sintagmas adverbiais.

R E SP O ST A : a li , d istintamente

S ão f orm ad os a pena s pe lo p ró pri o núc leo advé rb io .

e. Os sintagmas preposicionados internos.

RE SPO STA :

d e m oç a, d o p e rf il , d o a lv or ec er

EXERCíCIOS DE APliCAÇÃO 11

N ÍV EL 1

1. Separe com colchetes e classifique os sintagmas autônomos,

anteriores e/ou posteriores ao verbo. Identifique a existência de

sintagmas internos.

3. A chuva cai lentamente na tarde de outono.

b. A intensa brancura do céu inundava o horizonte naquele

início de manhã.

c. Terrível palavra é um não.

d, Havia uma estranha sensação de vazio naquele coração so-

frido.

e. Longamente ela esticava os olhos no horizonte: a pobre don-

zela estava alheia a qualquer coisa.

66

  A frase hipotética [*0 v en di c arro e u c om o.] contraria alguma lei

gramatical da Língua Portuguesa? Constitutiva ou normativa? De

que natureza linguística: fonológica, morfológica ou sintática?

3. No enunciado a seguir, isole os sintagmas que se relacionam ao

verbo funcionar e diga de que tipo são eles.

u m c arr o q ue fun ci o na p er fe itam ente por tant os anos em um país on de

só 15% das estradas s ão pavim ent ada s

Faça assim: escreva o verbo funciona, abra uma chave e coloque

a seguir os sintagmas que se articulam ao verbo, um abaixo

do outro.

4  Isole os sintagmas do trecho a seguir e classifique-os quanto ao

tipo a que pertencem (grife o verbo e v eja quais sintagmas existem

antes ou depois dele). Isole primeiro os sintagmas autônomos e

depois o(s) interno(s) a estes.

1 1 I 1 11

T od os o s d ias, no pát io da e sc o la , a s crianças do prim ár io , m uito aleqr es ,

in venta vam novas brinc adeiras .

5. Nas orações a seguir, ocorrem ambiguidades de natureza sintática.

Reescreva as frases, apenas reorganizando o posicionamento dos

sintagmas para que o duplo sentido desapareça.

3. Assinei um empréstimo para auxiliá-lo no dia 15.

b, Ele viu o incêndio do prédio.

c. O juiz julgou o menor culpado.

d. A governadora falou

à

pla teia que era honesta.

e. Eu li a notícia sobre a greve na universidade.

67

  .LtlÁ.TLC.A....DLM..QREJl5~

6. Reescreva a oração a situação parece que vai melhorar de três

~5~JULJQA-SINTAXE

 ·

  Quantos períodos existem no texto?

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maneiras diferentes, alterando a posição do sintagma a situação.

Elabore uma em que a reorganização dos sintagmas acarretaria

falta de clareza ou inadequação de uso.

NíVEL

2

1. Separe com colchetes e classifique os sintagmas autônomos,

anteriores e/ou posteriores ao verbo. Identifique a existência de

sintagmas internos.

a. Vão lá pedir sinceridade ao coração dos amigos 

b. Aquele rapaz e toda a sua família eram odiosos à minha vi-

zinha.

c. Sem esforço, ninguém progride na vida, mesmo que tenha

um pai de muitas posses.

d,

É

muito importante a leitura do longo artigo de Miguel An-

tunes publicado na revista Veja.

e. Súbita mão de algum fantasma oculto deixou meu corpo

medrosamente gélido.

Use o texto a seguir para responder às questôes de 2 a 9.

A s c ri an ç as n ã o i gn o ra v am . q ue a p re se nç a d aque le c acho rro v ira -lat a

\

e m s eu a pa rta m en to irr ita ri a a m ãe .

l

)

O s m en ino s e sc on .~e .~? rrLOani-

m a l e m u m a rm á rio p ró xim o a o c orre dor e se n ta ra m n a s ala à espera

d os a con tc c irnen tosi N o fim da ta rd e, a m ãe che go u do trabalho ,:

\

L o go d e sc o briu o in tru so q ue , sob os o lha re s a n sio so s d os filh os , f oi

fina lm e n te d e sc o be rto   O re ce io d e q ue tu do te rm ina ria m a l af inal se

concret izou : o pobre c ac ho rrinho fo i exp ulso d e casa e is s o d e ix o u

todo s ex tremamente tristes .

 

1

r   :

i

-..J

/) ~ li

3 Dê o número de oraçôes de cada período.

UU h y}ry)

v   :

 0  

4

Observe o segundo período, divida-o em duas orações constituin-

tes e isole os sintagmas, na ordem em que aparecem. Indique:

a. os dois sintagmas nominais autônomos;

b. os cinco sintagmas preposicionados (três autõnomos e dois

internos).

5 Nesse mesmo período, o termo próximo ao corredor tem um

núcleo adjetival ou adverbial? Por quê?

Observe os SP desse segundo período e diga qual ou quais se

articulam aos verbos, qual se articula ao adjetivo e qual ao subs-

tantivo.

 

Reescreva o terceiro período do texto

(No fim da tarde, a mãe

chegou

do

trabalho.)

de várias maneiras diferentes, mudando a

posição dos sintagmas em relação ao verbo. Justifique qual, em

sua opinião, seria a ordem menos clara e, por isso, menos comu-

nicativamente eficiente.

8. Observe o último período do texto e responda:

a. De que natureza morfológica é a palavra tudo? Deque tipo seria

necessariamente outro sintagma que entrasse, em seu lugar,

na mesma posição? Reescreva a oração com essa mudança

proposta e conclua.

69

~_LpJlÁllCA-llLM-OJli.Q5..S..LNJ.A.X.L.lo

b, A que classe gramatical pertencem as palavras mal e extrema-

-Lo..es ruo o o A 5 I

N.IA~

  2

Muitas vezes, sintagmas mal posicionados no eixo sintagmático

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mente? Justifique.

c. De que tipo é o sintagma extremamente tristes? Decompo-

nha-o.

d. Observe a oração de que tudo terminaria mal. Perceba como

está intercalada outra: O receio  afinal se concretizou. Transfor-

me essa oração intercalada em um sintagma preposicionado

qualquer, de modo que o novo período apresente sentido. A

que substantivo-núcleo a oração ou o sintagma se articulam?

Seriam ambos complementos obrigatórios?

9. Observe que, no primeiro período do texto (As crianças não ignora-

vam que apresença daquele cachorro vira-lata em seu apartamento

irritaria a mãe), também ocorre uma oração inteira que poderia

ser substituída por um sintagma nominal. Assim, responda:

3. Essa oração poderia ser substituída por qual sintagma nomi-

nal, por exemplo?

h, Essa substituição significa que a oração em destaque teria a mes-

ma natureza ou base morfológica do SN? Qual é essa base?

10. Em ainda correm algumas lágrimas pelo teu rosto amargo (Cecília

Meireles), troque o sintagma nominal por um pronome reto ade-

quado (elas). De que natureza morfológica tem de ser esse prono-

me? (Ao fazer a substituição, coloquea oração na ordem direta.)

11. Em parece que perdi as entradas de cinema no ônibus, troque o

sintagma nominal por um pronome adequado. Esse pronome

pode ser o mesmo que você usou na questão anterior? Por quê?

Qual seria sua natureza morfológíca? Explique.

70

produzem ambiguidades (duplo sentido).

É

o caso das orações a

seguir. Reescreva-as, eliminando esse problema semãntico:

 

Todos aplaudiam o espetáculo do corredor.

b Vacas que ficam doentes frequentemente comem demais.

c. Os policiais prenderam os ladrões da viatura.

I I

1

1 1

I r

  3

A sintaxe, ao regular o posicionamento dos sintagmas (autôno-

mos ou internos) no eixo horizontal e o das próprias palavras

nesses sintagmas, exibe toda a sua importãncia como motriz gera-

dora ou destruidora de sentidos das frases. Veja, na frase a seguir,

como a ausência de articulação sintática com um determinante

ou com um pronome reto impede que se possa compreender com

exatidão o seu sentido. Comente isso.

c ho ro p ar a in glê s v er

71