prática de ensino supervisionada em pré-escolar sandra ... · prática de ensino supervisionada...
TRANSCRIPT
Prtica de Ensino Supervisionada em Pr-Escolar
Sandra Raquel Rodrigues Pereira de Sousa
Relatrio Final de Estgio apresentado Escola Superior de Educao de Bragana
para a obteno do Grau de Mestre em Educao Pr-Escolar
Orientado por
Professora Doutora Maria Angelina Sanches
Bragana
2013
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
II
Dedicatria
Aos meus pais, Pedro e Ins,
Joana
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
III
Agradecimentos
Este trabalho no poderia ter sido realizado sem o apoio e incentivo de vrias
pessoas, que de uma forma ou outra foram importantes ao longo desta etapa, s quais
quero agradecer e expressar-lhes toda a minha considerao.
minha orientadora Professora Doutora Maria Angelina Sanches pela
disponibilidade demonstrada, pela partilha do seu saber cientfico e pelo apoio e
palavras de incentivo que sempre soube transmitir-me.
comunidade educativa da instituio em que realizei o estgio com particular
agradecimento s crianas e minha educadora cooperante, pela constante partilha de
saberes, auxlio, apoio e sorrisos trocados.
s minhas colegas de estgio Marina, Ldia e Regina, pelo carinho e apoio
prestado nas longas horas de reflexo em conjunta nas quais partilhmos as nossas
dvidas, medos e anseios, pela amizade que se afirmou que perdurar sempre.
Alexandra, Nat, ao Marquinho, Slvia, ao Carlos, ao Lus, Andreia,
Snia, Belinha pela preocupao e amizade.
A toda a minha famlia um especial e sentido agradecimento por todo o carinho
e incentivo demonstrado, principalmente aos meus avs.
Aos meus pais, o meu maior e mais sentido obrigada pois esta caminhada s foi
possvel de ser realizada devido ao vosso esforo e determinao em ajudar-me a
concretizar um sonho para mim to importante e a tornar-me na pessoa que hoje sou.
Obrigada por acreditarem em mim.
minha irm Joaninha pela pacincia, vontade, apoio, troca de saberes e
sobretudo, pela amizade que nos une.
Um sentido e verdadeiro obrigada a todos!
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
IV
Resumo
Os desafios e responsabilidades com que se apresenta na atualidade a educao
de infncia suscitam-nos reflexo sobre o processo de formao e interveno que
desenvolvemos no mbito do Mestrado em Educao Pr-escolar, ao qual se refere o
presente relatrio.
nessa linha de pensamento que abordamos, de forma contextualizada, a ao
educativa que desenvolvemos com um grupo de vinte e duas crianas, num jardim de
infncia da rede pblica de educao pr-escolar.
Procedemos, no primeiro captulo, caraterizao desse contexto, atendendo a
dimenses que se prendem com a organizao da instituio, do grupo e do ambiente
educativo ao nvel da sala de atividades.
Num segundo captulo, fundamentamos as opes educativas incidindo sobre as
perspetivas e princpios pedaggicos em que apoiar o processo de aprendizagem ao
nvel da educao pr-escolar.
Apresentamos, num terceiro captulo, um conjunto de experincias de
aprendizagem atravs das quais procuramos descrever e interpretar a prtica educativa
que desenvolvemos ao longo do ano letivo 2012-2013, relevando aprendizagens que se
inscrevem no despertar da curiosidade e esprito de descoberta das crianas em relao
ao mundo fsico e social local, no quadro de uma dinmica formativa globalizante e
integrada.
Por ltimo, inclumos uma reflexo sobre o processo educativo na sua
globalidade, procurando atribuir um novo e diferente olhar ao trajeto de formao e
interveno que desenvolvemos e que requer ser continuado, no quadro de uma
aprendizagem ao longo da vida.
Palavras-chave: educao pr-escolar, aprendizagem, explorao e descoberta.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
V
Abstract
The challenges and responsibilities with which presents nowadays the childhood
education raise us reflection on the process of formation and intervention which have
developed within the framework of the master's degree in pre-school Education, to
which this report refers.
It is in this spirit that we approach, contextualised, educational action that we
have developed with a group of twenty-two children in a kindergarten of public pre-
school education.
We're making a first point, the contextualization of educational practice, given
the dimensions relating to the Organization of the institution, of the Group and of the
educational environment at the level of the activities room.
A second point, we base the educational options, focusing on the perspectives
and pedagogical principles that support the learning process at the level of pre-school
education.
We present, a third point, a set of learning experiences through which we seek to
describe and interpret the educational practice that developed throughout the academic
year 2012-2013, raising learning enrolling in the awakening of curiosity and spirit of
discovery of children in relation to the physical and social world location, within the
framework of a global and integrated formative dynamics.
Finally, we have included, a reflection on the educational process as a whole,
looking for assigning a new and different look to the path of formation and intervention
which have developed and that requires be continued within the framework of life-long
learning.
Keywords: pre-school education, learning, exploration and discovery
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
VI
ndice Geral
Agradecimentos _________________________________________________________________________ III
Resumo _________________________________________________________________________________ IV
Abstract __________________________________________________________________________________ V
ndice Geral _____________________________________________________________________________ VI
ndice de Figuras _______________________________________________________________________ VIII
ndice de Tabelas _______________________________________________________________________ IX
Introduo ______________________________________________________________________________ 10
I. Contextualizao da Prtica de Ensino Supervisionada _________________________ 12
1.1. Caracterizao da Instituio ____________________________________________________ 12
1.2. Caracterizao do Grupo de Crianas ___________________________________________ 14
1.3. Aspetos pedaggicos no funcionamento do grupo/sala __________________________ 16
1.3.1. Organizao do espao e dos materiais da sala de atividades ___________________ 16
1.3.2. Organizao do tempo pedaggico ______________________________________________ 23
1.3.3. Desenvolvimento das interaes _________________________________________________ 25
II. Fundamentao das opes educativas __________________________________________ 28
2.1. Educao pr-escolar: desafios para a aprendizagem ____________________________ 28
2.2. Princpios fundamentadores do processo educativo _____________________________ 35
2.3. Perspetivas pedaggicas _________________________________________________________ 38
2.3.1. Contributos de Vygotsky e Bruner ______________________________________________ 38
2.3.2. Contributos de alguns modelos curriculares _____________________________________ 42
III. Descrio, anlise e interpretao das experincias de aprendizagem ___________ 46
3.1. Experincia de Aprendizagem: Conhecendo as caratersticas de alguns animais 46
3.2. Experincia de Aprendizagem: Construindo uma nova rea na sala rea das cincias 62
3.3. Experincia de Aprendizagem: Aprendendo a cultivar uma horta _______________ 67
3.4. Experincia de Aprendizagem: valorizando o papel da famlia _________________ 74
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
VII
Reflexo Crtica _________________________________________________________________________ 80
Consideraes Finais ___________________________________________________________________ 86
Bibliografia _____________________________________________________________________________ 89
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
VIII
ndice de Figuras
Figura 1 - Planta da sala ________________________________________________ 18
Figura 2 - rea das expresses ___________________________________________ 19
Figura 3 - rea da biblioteca ____________________________________________ 20
Figura 4 - rea das construes __________________________________________ 20
Figura 5 - rea das cincias _____________________________________________ 20
Figura 6 - rea da casa/bonecas __________________________________________ 21
Figura 7 - rea dos jogos _______________________________________________ 21
Figura 8 - Dramatizao ________________________________________________ 47
Figura 9 - Construo do puzzle e associao das barras cuisener _______________ 48
Figura 10 - Explorao dos smbolos grficos _______________________________ 48
Figura 11 - Alimentao dos animais ______________________________________ 50
Figura 12 - Ilustrao do cartaz __________________________________________ 51
Figura 13 - Construo do puzzle _________________________________________ 52
Figura 14 - Contacto direto com uma a ovelha ______________________________ 53
Figura 15 - Exposio dos cartazes _______________________________________ 54
Figura 16 - Jogo dos animais ____________________________________________ 55
Figura 17 - Observao da galinha ________________________________________ 57
Figura 18 - Impermeabilidade do ar _______________________________________ 57
Figura 19 - Impermeabilidade da gua _____________________________________ 57
Figura 20 - Observao e explorao das penas e cascas de ovo _________________ 59
Figura 21 - Processo de construo dos animais _____________________________ 60
Figura 22 - Construo da capoeira _______________________________________ 61
Figura 23 - Capoeira elaborada pelo grupo _________________________________ 61
Figura 24 - Explorao da rea das cincias_________________________________ 66
Figura 25 - Dramatizao da narrativa _____________________________________ 68
Figura 26 - Jogo das sementes ___________________________________________ 69
Figura 27 - Processo de semear/ plantar ____________________________________ 70
Figura 28 - Exposio do canteiro na sala __________________________________ 70
Figura 29 - Construo da tabela de registo _________________________________ 71
Figura 30 - Exposio dos registos ________________________________________ 71
Figura 31 - Explorao dos legumes ______________________________________ 71
Figura 32 - Cultivo da horta _____________________________________________ 73
file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569758file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569759file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569760file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569761file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569762file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569763file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569764file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569765file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569766file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569767file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569768file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569769file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569770file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569771file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569772file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569773file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569774file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569775file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569776file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569777file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569778file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569779file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569780file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569781file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569783file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569782file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569784file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569785file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569786file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569787
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
IX
Figura 33 - Recorte e colagem de tecidos___________________________________ 76
Figura 34 - Exposio da "famlia" _______________________________________ 77
Figura 35 - Ilustrao do cartaz __________________________________________ 77
Figura 36 - Exposio do cartaz na rua ____________________________________ 77
ndice de Tabelas
Tabela 1 - Grupo de crianas ____________________________________________ 14
Tabela 2 - Habilitaes acadmicas _______________________________________ 14
file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569788file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569789file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569791file:///C:\Users\Sandra\Desktop\sandra-correes.docx%23_Toc375569790
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
10
Introduo
Ao longo das ltimas duas dcadas a educao pr-escolar tem vindo a merecer
particular ateno, reconhecendo-se a importncia que, como primeira etapa da
educao bsica, representa nos processos de educao ao longo da vida da criana (Lei
n 5/7, de 10 de fevereiro). Pretende-se que favorea a construo de oportunidades para
que todas as crianas possam desenvolver-se integralmente e acederem sua
progressiva autonomia e insero social.
Neste sentido, relevamos o importante papel que cabe aos educadores de
infncia na construo de um ambiente rico em experincias educativas que orientem
participao das crianas. Importa que os educadores desenvolvam competncias que
lhe permitam saber escutar, atentamente as crianas (Oliveira-Formosinho, 2011),
demonstrar interesse pelo que estas fazem e aprendem, entendendo-as como seres ativos
no que respeita construo da prpria aprendizagem e desenvolvimento.
Por conseguinte, os educadores devem criar estratgias de interveno que
levem as crianas a participar e a dialogar com os outros, crianas e adultos, partilhando
vivncias e opinies.
Apresentamos, neste relatrio, o trabalho que desenvolvemos com um grupo de
22 crianas, de 3 e 4 anos, guiando-nos por uma metodologia assente em princpios de
aprendizagem ativa e de colaborao entre os diferentes intervenientes.
Neste processo, apoimo-nos nas Orientaes Curriculares para a Educao Pr-
Escolar (ME/DEB, 1997)1, nas Metas de Aprendizagem (ME, 2010)
2 e no projeto
curricular da instituio/grupo de crianas.
O presente relatrio encontra-se organizado em quatro captulos. No primeiro
captulo consta a caracterizao do contexto institucional. O jardim de infncia situa-se
na rede pblica de educao pr-escolar, em contexto urbano de Bragana, integrando
no momento da ao, quatro salas/grupos em funcionamento, numa das quais
desenvolvemos a prtica educativa. Abordamos, ainda os aspetos pedaggicos que
caracterizam o ambiente educativo ao nvel da sala de atividades.
1 Ministrio da Educao/Departamento de Educao Bsica (ME/DEB) Considerando que vamos
utilizar ao longo do texto vrias vezes a designao Orientaes Curriculares para a Educao Pr-
Escolar, passamos a utilizar a sigla OCEPE. 2 As Metas de Aprendizagem para a educao pr-escolar encontram-se divulgadas no portal do
Ministrio da Educao (ME) em http://.mestasaprendizagem.min-edu.pt/educacao-pre-
escolar/apresentacao/.
http://.mestasaprendizagem.min-edu.pt/educacao-pre-escolar/apresentacao/http://.mestasaprendizagem.min-edu.pt/educacao-pre-escolar/apresentacao/
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
11
No segundo captulo procedemos abordagem de pressupostos tericos em que
procuramos fundamentar as opes educativas, merecendo-nos particular ateno as
linhas e princpios de orientao da ao educativa. De entre as reas de contedo
definidas nas OCEPE (MED/DEB, 1997), merecem-nos particular abordagem a rea de
Conhecimento do Mundo, considerando o enfoque que integraram algumas das
experincias de aprendizagem que desenvolvemos. No sentido de uma melhor
compreenso da orientao a atribuir ao processo de aprendizagem das crianas
debruamo-nos ainda sobre os contributos tericos de Vygotsky de Bruner, bem de
alguns modelos curriculares para a educao de infncia.
No que respeita ao terceiro captulo, fazemos referncia descrio e anlise das
experincias de aprendizagens desenvolvidas, bem como reflexo sobre as mesmas.
Como forma de reforar e compreender o processo educativo promovido,
recorremos a algumas notas de campo sobre os dilogos estabelecidos com as crianas,
e a registos fotogrficos realizados no decurso da ao educativa.
Num ltimo captulo, apresentamos uma reflexo sobre a interveno que
desenvolvemos, tendo em conta os vrios aspetos contemplados para organiz-la,
caracteriz-la e analis-la, bem como os seus contributos para o nosso prprio
desenvolvimento pessoal e profissional.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
12
I. Contextualizao da Prtica de Ensino Supervisionada
O contexto em que se desenvolve a educao pr-escolar merece particular
ateno, considerando as oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento que
importa assegurar a todos os que nele se integram, crianas e adultos.
Assim, e no sentido de melhor poder compreender-se o contexto em que
decorreu a prtica educativa que desenvolvemos, procuramos, neste ponto, explicitar as
caractersticas da instituio, do grupo de crianas e do ambiente educativo, atendendo
organizao do espao da sala de atividades, do tempo pedaggico e das interaes
promovidas.
1.1. Caracterizao da Instituio
A ao educativa que desenvolvemos decorreu num jardim-de-infncia
enquadrado na rede pblica da educao pr-escolar e integrado num Agrupamento de
Escolas do concelho de Bragana. Encontra-se licenciado para uma frequncia de cento
e vinte e cinco crianas, com idades compreendidas entre os trs e os seis anos de idade,
mas no perodo em que desenvolvemos a ao educativa, ano letivo de 2012-2013, era
frequentado apenas por setenta e cinco crianas.
O jardim-de-infncia encontrava-se situado em contexto urbano, numa zona
prxima do centro da cidade. Possua um amplo espao exterior, delimitado por muros,
de forma a favorecer a segurana das crianas. Este integrava um espao relvado, no
qual podiam ser realizadas pelas crianas atividades/brincadeiras diversas, um campo de
futebol e outro de basquetebol, bem como uma zona com vrios equipamentos ldicos,
como escorrega, cordas para trepar, baloios e cavalinhos. Importa salientar que o piso
desta zona era constitudo por placas de borracha, que permitem amortecer os efeitos de
eventuais quedas das crianas. A contribuir para o enriquecimento das atividades
ldicas que poderiam ser promovidas no espao de recreio, existia ainda uma zona com
jogos tradicionais representados no cho, como o da macaca. Estavam disponveis
vrios recursos materiais, como por exemplo bolas e cordas, que podiam ser usados
pelas crianas nos tempos de recreio, mas arquivados no espao de recreio interior.
Quanto aos espaos interiores, a instituio era constituda por cinco salas de
atividades, quatro em funcionamento com grupo de crianas e uma usada para apoio s
mesmas. Integrava, ainda, uma biblioteca de pequena dimenso, mas com um nmero
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
13
elevado de livros, que podiam ser consultados e requisitados para levar para as salas de
atividades ou para casa, pelas crianas e adultos. Faz ainda parte da instituio um
gabinete de coordenao, instalaes sanitrias e um salo polivalente, apresentando
este uma dimenso ampla, permitindo reunir a todo o grupo de crianas da instituio e
ser usado como zona de recreio interior, quando as condies climticas no permitem a
ida para o exterior. Este era ainda utilizado para a realizao de atividades de expresso
motora e para o desenvolvimento das atividades integradas na componente de apoio
famlia. Este espao dispunha de alguns equipamentos e materiais, como televiso com
suporte DVD, rdio e leitor de CDs, DVDs e Cds de msica infantil, arcos, bolas,
cordas, colches, escorrega e uma casa para incentivar o jogo de faz de conta.
Os espaos interiores encontravam-se interligados por um corredor central e, nas
paredes deste, encontravam-se vrios expositores, utilizados para afixar produes e
informaes sobre as atividades e projetos promovidos, de forma a serem partilhados
com os pais e a comunidade escolar. Junto de cada sala encontravam-se cabides para a
arrumao dos pertences das crianas. Estes encontravam-se devidamente identificados
com o nome e fotografia de cada criana, de modo a que pudessem orientar-se na
arrumao e acesso aos mesmos, sem a ajuda dos adultos.
No que se refere equipa educativa, esta era constituda por quatro educadoras
titulares de grupo, desempenhando uma delas as funes de coordenao da instituio.
Faziam ainda parte da equipa educativa, quatro educadoras que exerciam funes de
cooperao com a equipa educativa encontrando-se a aguardar colocao, uma
educadora da equipa de educao especial e uma terapeuta da fala que se deslocava uma
vez por semana instituio. No que se refere ao pessoal auxiliar exerciam funes na
instituio sete assistentes operacionais, assegurando para alm do apoio componente
educativa, o desenvolvimento da componente de apoio famlia.
No que respeita ao horrio de funcionamento o jardim-de-infncia encontrava-se
em atividade desde as 08h00m at s 19h15m por forma a responder s necessidades
das famlias das crianas. A componente letiva no perodo da manh decorria das
09h00m s 12h00m e no perodo da tarde das 14h00m s 16h00m. Os restantes tempos
incluam o horrio da componente de apoio famlia, abrangendo o perodo de almoo,
bem como o do incio e do fim do dia de trabalho.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
14
1.2. Caracterizao do Grupo de Crianas
Considerando que o modo prprio de funcionamento de um grupo pode ser
influenciado por fatores que se prendem com a sua dimenso, a diversidade de idades, o
nmero de crianas de cada sexo que inclui e as caractersticas individuais das crianas
que o compem (ME/DEB, 1997), importa atender a estes aspetos.
Assim, e de acordo com os dados apresentados na tabela 1, de considerar que o
grupo era formado por vinte e duas crianas, sendo dez do sexo masculino e doze do
sexo feminino, com idades compreendidas entre os trs e quatro anos de idade.
Tabela 1 - Grupo de crianas
Idade
Sexo 3 anos 4 anos Total
Rapazes 3 7 10
Raparigas 6 6 12
Total 9 13 22
Segundo os dados que constavam nas fichas de inscrio, no que se refere
constituio do ncleo familiar das crianas, vinte crianas viviam diariamente com os
progenitores, pai e me, e duas viviam com a me e av. Residiam todas na localidade,
provindo de vrias zonas da cidade.
Quanto s habilitaes acadmicas dos pais/mes, como pode observar-se na
tabela 2, a maioria (n=22) possui o ensino bsico, entendido, no momento da aquisio
das habilitaes, como a escolaridade bsica obrigatria. Por sua vez 10 pais/mes
apresentam habilitaes acadmicas de nvel superior e as restantes (n=8) com o ensino
secundrio. Em relao a trs pais e a uma me no nos foi possvel obter dados, em
relao s suas habilitaes acadmicas.
Tabela 2 - Habilitaes acadmicas do agregado familiar
Agregado familiar
Habilitaes Pai Me Total
Ensino Bsico 12 10 22
Ensino Secundrio 3 5 8
Ensino Superior 4 6 10
Sem dados 3 1 4
Total 22 22 44
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
15
Ao nvel da atividade profissional, grande parte dos pais/mes trabalhavam por
conta de outrem em atividades profissionais diversas, encontrando-se porm, no
momento, trs pais e seis mes em situao de desemprego.
No que diz respeito idade dos pais/mes, esta situava-se entre os dezanove e
quarenta e seis anos, ou seja, no grupo dos pais entre os vinte e trs e quarenta e quatro
anos e, no grupo das mes, entre os dezanove e quarenta e seis anos de idade.
No que se refere s caractersticas pessoais e de aprendizagem das crianas,
importa considerar que se tratou de um grupo assduo e que se manifestou ativo e
participativo nas diversas atividades propostas pelos adultos ou da sua prpria
iniciativa. Mostravam particular interesse em ouvir histrias, lengalengas, em entoar
canes e realizar atividades de expresso motora. Manifestavam possuir ainda algumas
dificuldades no cumprimento das regras da vida em grupo/sala, assim como as que se
relacionavam com o uso dos equipamentos e materiais de recreio. Ao nvel da escolha
das reas, as suas opes incidiam mais sobre a rea dos brinquedos/bonecas, a rea das
construes e a rea dos jogos.
No sentido de melhor podermos contribuir para a aprendizagem e progresso de
todas as crianas, sublinhamos a importncia de desenvolvermos competncias
profissionais e pessoais que facilitem a criao de um ambiente educativo organizado e
estvel, que inspire confiana e respeite as diferenas. Importa, ainda, dominar saberes
que permitam dar ateno, apoiar todas e dar respostas s necessidades formativas
individuais das crianas e do grupo.
Neste mbito, de ter em conta que, como afirmam as OCEPE (MEB/DEB,
1977) a educao pr-escolar cria condies para o sucesso da aprendizagem de todas
as crianas, na medida em que promove a sua autoestima e autoconfiana e desenvolve
competncias que permitam que cada criana reconhea as suas possibilidades e
progressos (p.18).
Trata-se de dimenses que mereceram a nossa ateno e reflexo, esforando-
nos por aprofundar conhecimentos e desenvolver competncias que nos ajudem a
promover atividades e apoiar a iniciativa das crianas de modo a favorecer a sua
progresso, bem-estar e integrao no grupo e na instituio.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
16
1.3. Aspetos pedaggicos no funcionamento do grupo/sala
Tendo em conta as caractersticas pessoais e de aprendizagem do grupo tentmos
organizar um ambiente educativo que pudesse suscitar o seu envolvimento no
desenvolvimento de aprendizagens experiencialmente significativas, prestando
particular ateno organizao do espao, dos materiais e do tempo, bem como das
oportunidades de interao que estes possibilitavam s crianas.
1.3.1. Organizao do espao e dos materiais da sala de atividades
O espao fsico de um contexto educativo pr-escolar deve ser organizado de
modo a desafiar as crianas ao e a favorecer a sua aprendizagem e desenvolvimento.
Pretende-se que possibilite s crianas usufrurem de uma rede de benefcios
relacionados com o seu bem-estar, o criar gosto pela descoberta, a participao e o
envolvimento na realizao experincias da natureza diversa, bem como com o
(re)descobrir os materiais. Por isso, fundamental que se crie um ambiente acolhedor,
que oferea o essencial para o desenvolvimento individual e coletivo das crianas.
Como defende Niza (2007) o ambiente geral da sala deve resultar agradvel e
altamente estimulante (p.148).
Por conseguinte implicmo-nos na organizao de um ambiente educativo que
proporcionasse s crianas oportunidades que lhes permitissem assumir um papel ativo
e construtivo na sua aprendizagem. Foi ainda nossa preocupao, promover a criao de
um ambiente educativo apoiante da iniciativa das crianas, que favorecesse a sua
autonomia e autoconfiana.
Seguindo esta linha de pensamento, procurmos organizar um espao que
facilitasse a experimentao, a (re)descoberta e a explorao de materiais, bem como a
vivncia de experincias em que as crianas contassem com o acompanhamento e apoio
do adulto. Aspeto que entendemos sublinhar, pois, como referem Hohmann e Weikart
(2011) o apoio constante e atento dos adultos decisivo no florescimento das vrias
potencialidades da criana como as que se referem a crescer, aprender e construir um
conhecimento prtico do mundo fsico e social (p. 65).
Importa considerar que, quando inicimos a prtica educativa, o espao/sala j se
encontrava organizado, mas que este poderia, como nos informou a educadora, ser
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
17
transformado e enriquecido de modo a ampliar as possibilidades de aprendizagem e
recreao das crianas, envolvendo-as nesse processo.
Assim, procurmos, num primeiro momento observar e refletir sobre a estrutura
fsica da sala e a organizao do espao e dos materiais, tomando em considerao as
orientaes apresentadas por Hohmann e Weikart (2011), sublinhando que:
- o espao se apresente atraente e dividido em reas bem definidas, de modo a
encorajar diferentes tipos de atividades;
- as reas de trabalho sejam organizadas de forma a assegurar a visibilidade dos
objetos e materiais, a locomoo entre as mesmas e a ter em conta as mudanas
de interesse das crianas;
- os materiais e objetos sejam em quantidade suficiente para permitir uma grande
variedade de atividades/brincadeiras;
- a arrumao dos materiais proporcione a execuo do ciclo encontra-brinca-
arruma (pp.163-164).
Considerando que o espao/sala deve favorecer a interao social e que o modo
de organizao integra mensagens educacionais especificas, procurmos ainda ter em
conta o modo como estas dimenses se apresentavam (Gandini, 1999).
No que se refere estrutura da sala, importa sublinhar que esta era ampla e
acolhedora. Possua duas paredes ocupadas por janelas de grandes dimenses, o que
permitia a entrada de luz natural e a observao do meio exterior e, por conseguinte, a
identificao do estado meteorolgico do dia, tarefa diariamente realizada e registada. A
sala integrava possibilidades de arejamento e aquecimento. O pavimento era
antiderrapante, lavvel e encontrava-se, tal como o seu equipamento, em bom estado de
conservao.
No que se refere s reas de trabalho, como podemos observar na figura 1,
inicialmente a sala encontrava-se dividida em sete espaos, integrando: a rea de
expresso plstica; a rea das construes; a rea do computador; a rea da biblioteca; a
rea dos brinquedos/bonecas e a rea dos jogos. No decurso do ano letivo, foi includa a
rea das cincias, de forma a atender s necessidades formativas e interesses que foram
sendo manifestados pelo grupo.
Nesta linha de pensamento, e no sentido de melhor compreender a forma de
organizao do espao/sala, comeamos por apresentar, na figura 1, a planta da mesma.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
18
No que se refere organizao das reas importa considerar que como alertam
Hohmann e Weikart (2011) quando bem pensadas e estruturadas, permitem aos adultos
ficarem mais livres para observar e interagir com as crianas, bem como para
poderem concentrar-se no apoio a dar s brincadeiras das crianas e sua capacidade
de resoluo de problemas (p. 182). Neste sentido, relevamos que as reas da sala em
que nos integrmos se encontravam delimitadas, apresentavam boa visibilidade e os
materiais que integravam se encontravam acessveis e identificados, podendo ser
utilizados e arrumado pelas crianas sem recurso ao adulto, facilitando-nos ficarmos
mais disponveis para observar, interagir e apoiar a sua ao.
No que se refere rea das expresses esta inclua atividades de desenho,
pintura, recorte, colagem e modelagem. No que refere atividade de pintura, apenas
duas crianas podiam faz-la, em simultneo, considerando que esta era realizada num
cavalete e que este no permitia o envolvimento de mais elementos. Em relao s
restantes cada mesa de atividades abrangia quatro crianas. Tratava-se de uma rea que
dispunha de uma grande variedade de materiais, em particular, de recorte e colagem, de
modo a favorecer as possibilidades de escolha, representao e criao.
Os materiais estavam dispostos numa prateleira de baixas dimenses e
organizados em caixas transparentes, bem vista das crianas, facilitando a procura e a
arrumao por parte das crianas, como as imagens da figura 2 permitem observar.
Legenda:
1 - Janelas
2 - Placardes
reas:
3 a 6 - rea das expresses: pintura, desenho
modelagem, recorte e colagem
7 - rea das construes
8 - rea da biblioteca
9 - rea das cincias
10 - rea da informtica
11 - rea dos brinquedos/ bonecas
12 - rea dos jogos
Figura 1 - Planta da sala
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
19
Importa sublinhar o importante papel que o espao vertical assumia para
exposio dos trabalhos das crianas, como a primeira imagem da figura 2 tambm
permite observar. Esse placar encontrava-se acessvel s crianas, permitindo que
pudessem elas prprias expor e retirar os trabalhos, ainda que com o apoio do adulto.
A rea das construes era dimensionada para o trabalho individual ou em
grupo, num mximo de trs crianas, em simultneo. O espao encontrava-se delimitado
por uma carpete e inclua materiais variados, como por exemplo, legos de diferentes
formas e tamanhos, peas de encaixe e carros.
Os materiais encontravam-se arrumados em caixas grandes, dispostas umas no
cho e outras em prateleiras baixas.
A rea da informtica integrava um quadro interativo, frequentemente usado
para a visualizao de imagens e vdeos, sendo usado como suporte para a leitura no
momento de trabalho grande grupo. Inclua ainda o equipamento kidsmart, porm, este
no pode ser usado no decurso da nossa prtica educativa, devido a problemas tcnicos.
A rea da biblioteca, como podemos observar na figura 4, encontrava-se
situada num local com boa visibilidade e calmo, de modo a proporcionar concentrao.
Esta podia ser frequentada por trs crianas, em simultneo. Apresentava-se como um
lugar que consentia procura de informao em suporte de papel e um espao que
apelava fruio e produo (Oliveira-Formosinho e Andrade, 2011).
Neste espao as crianas observavam, folheavam e liam os livros, simulando a
leitura com base na memria (Hohmann & Weikart, 2011). Os livros eram
constantemente renovados, facilitando a variedade e a diversidade de oportunidades de
explorao. A organizao dos livros era conhecida pelas crianas e tida em
considerao entre as regras da sala.
Figura 2 - rea das expresses
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
20
A rea das cincias podia ser frequentada apenas por duas crianas, em
simultneo. Estava colocada num local com muita boa luminosidade o que permitia uma
boa visualizao face s exploraes realizadas pelas crianas. Localizava-se, prximo
da rea da biblioteca, ver figura 5, o que permitia que as crianas pudessem ir consultar
livros, quando entendessem ser pertinente para alargar ou completar informaes.
Esta area era constituda por materiais
relacionados com a explorao de conceitos que
dizem respeito rea de Conhecimento do Mundo,
surgindo entre os mais procurados pelas crianas, as
lupas manuais e a lupa binocular. Alguns materiais
estavam organizados em pequenos recipientes
transparentes de plstico, como os que eram
recolhidos no exterior (folhas, pedras, entre outros),
ou os trazidos de casa pelas crianas.
Foram, pontualmente, integrados a animais
de pequeno porte, como caracis, grilos, joaninhas, minhocas, uns levados pelos adultos
e outros recolhidos pelas crianas no espao de recreio exterior.
A rea da casa/bonecas permitia que pudessem trabalhar/brincar nela quatro
crianas, de cada vez. Esta rea inclua dois espaos, o da cozinha e o do quarto, como a
figura 6 mostra.
O espao destinado cozinha dispunha de armrios e prateleiras de tamanho
adequado altura das crianas. O material a includo era semelhante ao que as crianas
encontravam em casa o qual lhes permitia entrarem no faz-de-conta e reproduzir
situaes do quotidiano familiar. Por vezes, incluamos neste espao alguns alimentos
Figura 4 - rea das construes Figura 3 - rea da biblioteca
Figura 5 - rea das cincias
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
21
verdadeiros, de modo a favorecer a descoberta das caractersticas dos mesmos e
alimentar o jogo de faz de conta. A zona do quarto inclua uma cama, de tamanho
reduzido, comoda e roupas variadas, mesa-de-cabeceira, dois telefones e vrios
bonecos, tratados pelas crianas como bebs ou filhos.
Por ltimo encontrava-se a rea dos jogos (figura 7), dispondo de um vasto
leque de materiais, como puzzles, domins, blocos lgicos, jogos de tabuleiro, barras
cuisenaire e jogos de enfiamento, entre outros. Nesta rea podiam trabalhar quatro
crianas, em simultneo, e os materiais existentes favoreciam a implicao das crianas
na resoluo de problemas.
No centro da sala havia uma rea para a reunio em
grande grupo, onde decorria o acolhimento e atividades
diversas, geralmente da iniciativa do educador, como as que
se prendiam com a leitura de histrias, poemas, a expresso
musical e a reflexo em conjunto, entre outros. Nesses
momentos de reunio, eram utilizadas cadeiras para as
crianas se sentarem, organizadas sob um semicrculo,
permitindo ao educador uma visualizao do grupo e vice-
versa.
O tempo de trabalho nas reas permitiu-nos interagir e observar as crianas nas
diversas atividades que as diferentes reas da sala lhes proporcionavam realizar.
No que se refere aos espaos verticais de considerar que estes integravam uma
cor neutra e incluam expositores que ocupavam grande parte das paredes da sala,
utilizados com vrios fins, entre os quais, como j antes referimos, para dar a conhecer
as produes de cada um e do grupo. Nesses espaos encontravam-se ainda afixados
Figura 6 - rea da casa/bonecas
Figura 7 - rea dos jogos
http://1cicloetic.blogspot.com/2010/09/brincando-com-as-barras-de-cuisenaire.html
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
22
alguns instrumentos pedaggicos de gesto do quotidiano do grupo, tais como o quadro
do tempo, o quadro das presenas e o quadro das responsabilidades.
No que respeita ao quadro do tempo as crianas diariamente, no perodo da
manh, faziam a observao das condies atmosfricas e atualizavam a informao
apresentada no quadro, conforme as alteraes observadas. Para tal, recorriam a
imagens, que nele existiam e representavam, por exemplo, o sol, a chuva, o vento e o
nevoeiro. Essa tarefa era realizada pela criana designada como responsvel do dia,
favorecendo o desenvolvimento do sentido de responsabilidade e do dilogo com os
elementos do grupo, apresentando e partilhando ideias sobre o tempo que entendiam
observar-se.
Quanto ao quadro das presenas tratava-se de um quadro de uma s entrada e a
indicao da presena era feita atravs da afixao de um carto com a fotografia de
cada criana. As crianas em falta eram identificadas e contadas pelo elemento do grupo
que, nesse dia, assumia o papel de responsvel pelo desempenho de algumas tarefas da
sala, sendo ajudado por outras crianas a lembrar-se do nome das que se encontravam
ausentes. Considerando que alguns elementos do grupo era o primeiro ano de contacto
com o jardim-de-infncia, este tipo de quadro pareceu-nos adequado, permitindo que
ficassem a conhecer-se melhor uns aos outros.
Para organizao da participao das crianas e identificao das
responsabilidades a assumir ao nvel do grupo/sala, construmos uma tabela de dupla
entrada. Na linha vertical e no lado esquerdo do quadro consta a identificao de cada
criana atravs de fotografia e, na horizontal, encontravam-se, na parte superior do
quadro, indicadas as tarefas a cumprir no decurso do dia. Entre essas tarefas, e para
alm da j antes referida, incluam-se a distribuio do leite fornecido pela instituio, a
rega do canteiro das plantas que existiam na sala e a ordem para a formao do
comboio, sempre que o grupo saa ou se direcionava para a sala. O desempenho dessa
tarefa era objeto de reflexo de pela prpria criana e grupo, no momento de reunio em
grande grupo que decorria no final do dia de trabalho.
Existia ainda na sala, um placar para apresentao de informao sobre as
atividades e projetos desenvolvidos e outro, de tamanho mais reduzido, para
apresentao de dados de identificao das crianas do grupo e dos seus encarregados
de educao, bem como para afixar mensagens enviadas.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
23
1.3.2. Organizao do tempo pedaggico
O tempo pedaggico deve ser organizado no jardim-de-infncia de modo a respeitar
o ritmo de trabalho das crianas e a sua participao em atividades e interaes de
natureza diversificada. Pretende-se promover a construo gradual de uma rotina diria
coerente, que seja promotora de diferentes oportunidades de dilogo, partilha de
saberes, planear, refletir, trabalhar individualmente ou em grupo, brincar, explorar e
descobrir. Neste sentido, revela-se que, como afirmam Oliveira-Formosinho e Andrade
(2011)
o tempo pedaggico, na educao de infncia, organiza o dia e a semana numa
rotina diria respeitadora dos ritmos das crianas, tendo em conta o bem-estar e
as aprendizagens, incorporando os requisitos de uma dinmica participativa na
organizao do trabalho e do jogo (p.72).
Por sua vez Hohmann e Weikart (2011) sublinham que a rotina diria oferece
um enquadramento comum de apoio s crianas medida que elas perseguem os seus
interesses (p.224). Importa, assim, que oferea s crianas oportunidades de
explorarem, se auto-organizarem e obterem conhecimentos da realidade, em ordem a
tornarem-se progressivamente mais autnomas na tomada de decises.
Organizmos uma rotina diria com o objetivo de ir ao encontro do afirmado
anteriormente, criando um ambiente educativo que transmitisse segurana e confiana
s crianas, perante os vrios momentos e (inter)aes que o dia de trabalho
proporcionava realizar.
A rotina diria apresentava-se estruturada em dois perodos, o da manh e o da
tarde. O perodo da manh inclua os seguintes momentos:
Acolhimento: desenvolvido em grande grupo, no qual eram partilhadas
vivncias e novidades entre os elementos do grupo, contribuindo para estreitar
laos de amizade entre todos.
Trabalho em grande grupo: tempo em que eram desenvolvidas atividades da
iniciativa do educador, relacionadas com as vrias reas e domnios de
contedo curricular, como por exemplo, a narrao de histrias, entoao de
canes, lengalengas, poemas, explorao de jogos, entre outras atividades.
Higiene Pessoal: momento destinado aos cuidados de asseio e higiene
corporal, favorecendo a criao de hbitos de lavagem das mos antes das
refeies, neste caso o lanche.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
24
Lanche: tempo em que as crianas tomavam uma refeio ligeira, indo
autonomamente buscar e arrumar a sua mochila no cabide que lhe
correspondia.
Recreio: tempo de interao e recreao no espao de recreio exterior ou
interior, no salo polivalente, dependendo das condies climatricas. Neste
tempo as crianas podiam utilizar os equipamentos e materiais disponveis e
interagir com as crianas de outros grupos da instituio;
Trabalho nas reas: tempo em que as crianas usufruam de oportunidades de
escolha de reas e materiais a explorar e a utilizar para concretizar as suas
iniciativas.
Almoo: momento que comeava pela realizao da higiene pessoal das
crianas que beneficiavam do servio de almoo includo na componente de
apoio famlia, seguida da deslocao para a cantina do Agrupamento de
Escolas, sendo as acrianas acompanhadas por assistentes operacionais.
O perodo da tarde inclua os seguintes momentos:
Trabalho em grande grupo/acolhimento: tempo em que era promovido o
dilogo, em grande grupo, incluindo relatos relacionados com o ocorrido no
perodo de almoo;
Relaxamento em grande grupo: tempo destinado a atividades calmas que
ajudassem a libertar energias, incluindo o escutar sons e ritmos calmos, ouvir
uma poesia em silncio, imaginar situaes ou ouvir msica e interpret-la
atravs de movimentos, entre outra;
Trabalho em pequeno grupo nas reas: momento no qual as crianas
escolhiam a rea em que gostariam de trabalhar/brincar, podendo dar
continuidade a trabalhos iniciados no perodo da manh ou realizarem um
novo.
Higiene pessoal
Lanche: momento em que as crianas tomavam o leite fornecido pela
instituio;
Recreio: momento de livre recreao que, tal como j antes foi referido, tanto
poderia ocorrer no espao de recreio exterior como no salo polivalente;
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
25
Componente socioeducativa/sada: momento em que as crianas eram
encaminhadas para o salo polivalente, no qual eram desenvolvidas atividades
socioeducativas diversas enquanto aguardam a chegada dos pais/sada.
1.3.3. Desenvolvimento das interaes
As possibilidades de interaes experienciadas pelas crianas nos contextos de
educao de infncia em que se integram, devem ser tidas em ateno, considerando a
importncia que assumem no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. Entre
elas destacam-se as que dizem respeito interao adulto-criana(s) para o que se
requer explicitar o entendimento que se faz desse processo.
Segundo Powell (1996) pode entender-se como o dilogo verbal ou no verbal
que surge quando os adultos brincam ou comunicam com as crianas (p. 27). Ao
participar nesse dilogo os adultos podem encorajar e apoiar a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianas. Como refere Hohmann (1996) ao manifestarem-se os
adultos genuinamente interessados e empenhados em observar, escutar e comunicar
com as crianas; encorajam-nas e apoiam-nas na resoluo de problemas que surgem
(p. 19) podendo, assim, contribuir para o seu desenvolvimento.
O educador deve promover a confiana, a iniciativa e a autonomia das crianas e
do grupo, pelo que importante que favorea a criao de uma relao de escuta, apoio
e incentivo participao na tomada de decises em questes que lhes dizem respeito.
Importa ainda considerar que, como afirmam Hohmann e Weikart (2011) o apoio
constante e atento de adultos decisivo no florescimento das vrias potencialidades da
criana (p.65).
Nesta linha de pensamento procurmos desenvolver interaes que pudessem
constituir-se como promotoras da construo do conhecimento e, potencialmente,
facilitadoras do desenvolvimento das crianas, nas suas mltiplas dimenses, cognitiva,
social, fsica e emocional. Procurmos ainda criar um clima de apoio que, como
sugerem Hohmann e Weikart (2011) estimulasse e fortalecesse o desenvolvimento da
autonomia, da iniciativa, da empatia e da autoconfiana das crianas.
Assim, procurmos estabelecer com as crianas uma comunicao e relao
aberta ao dilogo, de respeito por cada um e valorizao dos contributos de todos para a
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
26
construo de um ambiente educativo que se constitusse potencialmente facilitador do
desenvolvimento de todos, crianas e adultos.
A diversificao da organizao dos grupos de trabalho foi outra dimenso
tomada em considerao para que as crianas pudessem experienciar diferentes
oportunidades de interao e interajudas.
Encorajmos e apoimos a interao entre as crianas, atribuindo, nesse
processo, particular ateno aos tempos de trabalho nas reas e s brincadeiras
promovidas nos tempos de recreio.
A interao com os educadores e outros profissionais da instituio, bem como
com as famlias das crianas, foram dimenses que procurmos tambm ter em conta e
valorizar no quotidiano educativo que desenvolvemos.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
27
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
28
II. Fundamentao das opes educativas
Neste ponto procedemos ao aprofundamento de conhecimentos em torno dos
princpios e linhas de orientao curricular do processo educativo pr-escolar, no
sentido de melhor compreender e podermos responder s exigncias e desafios que
este nos apresenta.
Assim, comeamos por nos interrogarmos sobre o processo de aprendizagem a
desenvolver pelas crianas ao nvel da educao pr-escolar e, de seguida, sobre
algumas perspetivas e modelos pedaggicas em que poderemos apoiar a interveno e
a reflexo sobre a mesma.
2.1. Educao pr-escolar: desafios para a aprendizagem
A educao de infncia entendida atualmente como uma etapa fundamental do
percurso educativo a desenvolver pelas crianas ao longo da vida (Lei n 5/97, de 10 de
fevereiro, art. 2) e que requer integrar uma dinmica formativa globalizante e integrada.
definida como a primeira etapa da educao bsica no processo de educao ao longo
da vida e como complementar da ao educativa da famlia, com a qual deve estabelecer
cooperao, no sentido de favorecer a formao e o desenvolvimento equilibrado das
crianas, tendo em vista a sua formao como cidados com autonomia, livres e
solidrios (idem).
Estas ideias fundamentam o definido nas OCEPE e nas Metas de Aprendizagem,
documentos que constituem o quadro de referncia para o trabalho a desenvolver pelos
educadores de infncia nesta etapa educativa.
Pressupe-se que se criem condies necessrias para as crianas poderem
aceder a um desenvolvimento que lhes facilite enfrentar de forma positiva os problemas
emergentes, bem como aproveitar e tirar partido dos desafios que o mundo de hoje
tambm apresenta. Neste sentido, a educao pr-escolar deve proporcionar s crianas
oportunidades de aprendizagem que contribuam para obterem sucesso.
Nesta linha de pensamento, releva-se tambm a importncia de criar condies
para as crianas criarem interesse e gosto por aprender e por continuarem a aprender,
pelo que se requer que aprendam a aprender (idem, p. 17). No sentido de favorecer
uma maior igualdade de oportunidades, sublinhado no documento que vimos a citar, a
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
29
importncia do recurso a uma pedagogia estruturada, que permita distanciar-nos de
certas prticas tradicionais e valorizar o carter ldico que assumem muitas das
aprendizagens promovidas em contexto pr-escolar, sendo de atender ao esforo,
concentrao e investimento pessoal que integram. O reconhecimento do papel ativo
que as crianas assumem na interao com o meio em que se integram, da importncia
de partir do que sabem, da sua cultura e saberes prprios, bem como o de respeitar e
valorizar as suas caratersticas individuais, so dimenses que merecem ateno nas
prticas educativas pr-escolares e as quais procurmos ter presentes no decurso da
nossa ao educativa.
As OCEPE especificam reas de contedo que devem constituir as referncias
gerais a considerar no planeamento e avaliao das situaes e oportunidades de
aprendizagem (ME/DEB, 1997, p. 14) distinguindo trs que designam-se como: a rea
de formao pessoal e social; a rea de expresso/comunicao e a rea de
conhecimento do mundo. Estas reas so entendidas como mbitos de saber, com uma
estrutura prpria e com pertinncia sociocultural, que incluem diferentes tipos de
aprendizagem, no apenas conhecimentos, mas tambm atitudes e saber-fazer (idem, p.
47). Todavia, como tambm referem as OCEPE (ME/DEB, 1997) e como acentuam as
Metas de Aprendizagem (ME, 2010), importa no esquecer que na educao pr-escolar
se deve procurar promover uma construo articulada do saber, em que as reas sejam
abordadas de uma forma globalizante e integrada
Considerando esta linha pensamento, mas tambm a importncia de promover
um prtica educativa que possa atender s diferentes dimenses acentuadas em cada
rea de contedo, debruamo-nos, em seguida, sobre cada uma delas.
A rea da Formao Pessoal e Social segundo as OCEPE (ME/DEB,1997)
considerada transversal, para o qual as outras reas devem contribuir, no sentido de
promover um processo educativo que favorea o desenvolvimento de atitudes, valores e
pensamento crtico, em ordem formao de cidados conscientes, solidrios e
autnomos. Tal pressupe que no quadro de uma aprendizagem ao longo da vida
desenvolvam saberes que lhes permitam enfrentar e resolver, de forma positiva, os
problemas com que se confrontam e que se integrem socialmente.
Neste sentido importa considerar que a criana se constri, como ser humano,
em interao social e que esse processo influenciado pelos contextos mais ou menos
prximos em que se integra (Bronfenbrenner, 2002) entre os quais devem merecer
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
30
particular ateno os seus primeiros contextos de vida, a famlia e a instituio pr-
escolar, no podendo esquecer-se a influncia que tambm elas exercem nestes
contextos.
ainda de considerar que atravs das experincias de interao que lhe
possvel realizar, que a criana vai interiorizar e criar modelos de pensamento que lhe
permitem distinguir e compreender o que se entende como certo ou errado, assim como
o que poder ou no fazer e quais os direitos e deveres que possuem. Como sublinha
Lino (2007, retomando a ideia de Oliveira-Formosinho, 1991) merece ter em conta que
as pessoas crescem e aprendem atravs da experincia e na experincia que podem
encontrar orientaes para o seu comportamento (p. 95) experincias que originaro a
construo de valores, quando diversificadas, ricas e evolutivas.
Desta forma, as atividades que os educadores proporcionam s crianas devem
organizar-se volta do processo de valorizao (Lino, 1996, p. 95), cabendo-lhes a
importante tarefa de criarem situaes que as levem a progredir ao nvel da construo
dos valores essenciais para uma cidadania ativa e responsvel.
Todavia, importa ter em conta que os valores no se ensinam, mas que se
vivem na ao conjunta e nas relaes com os outros (ME/DEB, 1997, p. 52). , nas
interaes que as crianas estabelecem que vo aprendendo a atribuir valor ao seu
comportamento e ao dos outros. Por conseguinte, os valores subjacentes prtica do
educador e o modo como a concretiza, fazem com que a educao pr-escolar se
constitua como um contexto social e relacional facilitador da educao para os valores.
Importa, por isso, considerar que as relaes e interaes que o educador estabelece
com cada criana e com o grupo, a forma como apoia as relaes e interaes entre
crianas no grupo, so o suporte dessa educao (idem, p. 52).
Por outro lado, no podemos deixar de ter presente que o desenvolvimento
pessoal e social pressupe a constituio de um ambiente relacional securizante, no qual
a criana seja valorizada e escutada, de modo a contribuir para o seu bem-estar e
desenvolvimento.
Parece-nos, por isso, que a relao e a comunicao que educador estabelece
com as crianas, o modo como as aceita, respeita e valoriza, influencia a natureza das
oportunidades de formao pessoal e social que se criam num contexto pr-escolar.
No que se refere rea de expresso e comunicao esta abrange as
aprendizagens relacionadas com o desenvolvimento psicomotor e simblico que
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
31
determinam a compreenso e o progressivo domnio de diferentes formas de
linguagem (ME/DEB, 1997, p.56). Nesta rea incluem-se diferentes domnios,
nomeadamente: o das expresses, integrando quatro vertentes (motora, dramtica,
plstica e musical); o da linguagem oral e abordagem escrita e o da matemtica. Como
argumento de incluso destes diferentes domnios na rea referida, as OCEPE (idem)
afirmam que todos eles se referem aquisio dos cdigos que so meios de relao
com os outros, de recolha de informao e de sensibilizao esttica, indispensveis
para a criana representar o seu mundo interior e o mundo que a rodeia (p. 56).
Quanto expresso plstica este domnio tem como objetivo principal apoiar a
criana na explorao de materiais e instrumentos especficos de expresso, permitindo
que a criana exteriorize as ideias que construiu e que se envolva no desenvolver de
atividades que se tornam educativas pelo envolvimento que, nelas, coloca e pelo prazer
que retira desse processo. Importa que, como referem Godinho e Brito (2010) que as
crianas possam desempenhar, nesse processo, os papis de executantes, criadores e
apreciadores, pois, na vivncia desta tripla dimenso artstica que diferentes
significados e competncias sero desenvolvidos (p. 11).
A expresso musical est relacionada com a comunicao musical, que no pr-
escolar se desenvolve em volta de quatro eixos considerados cruciais, como escutar,
danar, tocar e criar. Assenta, desta forma, num trabalho de explorao de sons e ritmos,
que as crianas vo aprendendo a identificar, produzir e apreciar.
A expresso dramtica permite s crianas um conhecimento de si prpria e dos
outros, assumindo vrias personagens e explorando o papel que a cada uma cabe
representar. atravs da comunicao com o prprio corpo que as OCEPE (ME/DEB,
1997) definem o jogo simblico, entendendo-o como uma atividade espontnea, que
poder ser reforada com o apoio de materiais diversos e da interao com outros
permitindo assim a criao do faz-de-conta. O educador, atravs da sua interveno,
pode permitir um alargamento do jogo simblico atravs de sugestes que ampliam as
propostas das crianas, criam novas situaes de comunicao, novos papis e sua
caracterizao (OCEPE, p.60). Esta rea pode ainda ser enriquecida atravs do uso de
fantoches que tendem a ser percebidos como mediadores e facilitadores de expresso e
comunicao das crianas.
Por sua vez, a expresso motora incide em formas de as crianas utilizarem e
sentirem o seu corpo, exercitando o desenvolvimento da motricidade global e fina, de
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
32
modo a melhor poderem domin-lo. Importa considerar que, pelo facto de as crianas
explorarem diferentes movimentos permite que tenham a perceo dos diferentes
segmentes do corpo, as suas possibilidades e limitaes, favorecendo a interiorizao do
esquema corporal e o conhecimento da sua localizao em relao ao espao fsico.
O domnio da linguagem oral e abordagem escrita entendido como uma
componente formativa fundamental na educao pr-escolar, quer ao nvel da
comunicao oral, quer da emergncia do cdigo escrito. Releva-se que, na atualidade,
as crianas quando chegam ao jardim-de-infncia possuem j conhecimentos dentro
deste domnio, pelo que fundamental saber tirar partido do que j sabem e permitir-
lhes contactar com as diferentes funes do cdigo escrito para, deste modo, facilitar a
emergncia da escrita. Importa considerar que
no clima de comunicao criado pelo educador que a criana ir dominando a
linguagem, alargando o seu vocabulrio, construindo frases mais corretas e
complexas, adquirindo um maior domnio da expresso e comunicao que lhe
permitam formas mais elaboradas de representao (ME/DEB, 1997).
ainda de ter em conta que, como sublinha Glauert (2004), as crianas
necessitam de oportunidades e de encorajamento para comunicarem as suas ideias (p.
79) ao mesmo tempo que sentem uma necessidade de serem encorajadas a articular
questes, afirmaes, explicaes e observaes.
O domnio da matemtica envolve a construo de conceitos que se
fundamentam na vivncia do espao e do tempo estando muitas das aprendizagens
ligadas linguagem. Castro e Rodrigues (2008) sublinham que grande o
desenvolvimento das crianas relativamente aos nmeros, e numerao,
representao e comparao de quantidades e mesmo s operaes (sobretudo de adio
e subtrao) (p.12) na faixa etria pr-escolar.
Nesta linha de pensamento, cabe ao educador, atravs de situaes que vo
surgindo no dia-a-dia, apoiar o desenvolvimento do pensamento lgico-matemtico,
intencionalizando momentos de consolidao e sistematizao de noes matemticas
(p.73) valorizando nesse processo a dimenso ldica. Atravs das vrias experincias
que o educador vai promovendo dever colocar questes que levem as crianas a
construir noes matemticas.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
33
No que diz respeito rea do Conhecimento do Mundo as OCEPE (ME/DEB,
1997) sublinham que as aprendizagens a promover devem enraizar-se na curiosidade
natural das crianas e no seu desejo de saber e compreender porqu (p.79) entendendo
estas como a manifestao da procura de sentido e de compreenso do mundo.
A curiosidade poder e dever ser estimulada na educao pr-escolar atravs
das oportunidades formativas que se proporcionam s crianas devendo proporcionar-
lhes o contacto com novas situaes e usufrurem de momentos de investigao e
descoberta, no sentido de obterem respostas para dvidas e questes que se lhe colocam.
Um dos objetivos centrais desta rea, fomentar a curiosidade das crianas, de
modo a poderem contactar e descobrir o mundo fsico, social e cultural em que se
integram, construindo sobre ele saberes que possam ajud-las a melhor compreend-lo e
colaborar na melhoria das condies de vida para todos. Importa, ento, apoiar o
desenvolvimento do desejo de descoberta que as crianas possuem, devendo os adultos,
como defendem Martins et al. (2009) proporcionar-lhes situaes diversificadas de
aprendizagem, para explorao de questes e fenmenos que lhes so familiares,
aumentando a sua compreenso do real (p.17).
Pelo simples facto das crianas j serem possuidoras de um vasto leque de
conhecimentos aquando da sua primeira passagem pelo pr-escolar o educador deve
valorizar esses mesmos saberes, criando situaes que lhes possibilitem um novo
descobrir, podendo recorrer ao meio local, como ponto inicial para as descobertas, mas
tambm ao menos prximo, no sentido de desencadear exploraes mais alargadas.
Nesta linha de pensamento a rea do conhecimento do mundo encarada como
uma sensibilizao s cincias (ME/DEB, 1997, p. 80) podendo estar relacionada com
um meio considerado mais prximo, que leva ao conhecimento centrado em vrios
domnios do conhecimento humano como a histria, sociologia, a geografia, a fsica, a
qumica, entre outros. Todos estes domnios devem ser explorados com rigor cientfico.
Tendo conscincia das oportunidades de informao que oferecem hoje as
tecnologias da informao e comunicao, mas tambm das rpidas mudanas que nas
sociedades de hoje ocorrem, importa promover aprendizagens que ajudem os cidados a
tornarem-se capazes de mobilizar os recursos que lhes permitam, em cada momento,
compreender melhor, analisar criticamente e responder adequadamente s necessidades
e aos desafios emergentes. Nesta linha de pensamento Reis (2008) defende que numa
sociedade democrtica espera-se que os cidados desenvolvam e defendam os seus
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
34
prprios argumentos (p. 16). No sentido de poderem promover uma argumentao
fundamentada, as crianas necessitam de ser confrontadas com situaes educativas que
lhes permitam aprender a formular e a investigar problemas (idem, ibidem).
Cada vez mais cedo, as crianas contactam com objetos relacionados com a
atividade cientfica, favorecendo assim, como afirma o autor (idem) a formao de
cientistas ativos que procuram, constantemente, satisfazer a sua insacivel curiosidade
sobre o mundo que a rodeia (p. 16). Importa considerar que as crianas contactam,
desde cedo, com objetos envolvidos em cincia, como o levantar objetos, puxar,
empurrar, entre outros, e que, mais tarde, vo questionar o porqu desses e outros
fenmenos que a rodeiam, pelo que deve promover-se a sua explorao. Da que a
recolha de informaes poder ocorrer com base em recursos diversos, como livros,
enciclopdias e material informtico, bem como em materiais do dia-a-dia ou materiais
mais especficos, disponveis nos laboratrios. Como sublinham as OCEPE (idem),
importante que as crianas utilizem instrumentos deste tipo e explorem as suas
possibilidades, como forma de introduo cincia (p.82) como o caso das lupas,
imans, entre outros.
As ideias das crianas face ao mundo que as circunda, comeam desde cedo a
ser construdas atravs de vivncias com as quais se vo deparando. Como Reis (2008)
defende as crianas possuem estruturas cognitivas constitudas por uma rede de
conhecimentos interligados (p. 18) cujas redes vo sendo construdas ao logo do tempo
sendo possvel, em alguns casos, que os conhecimentos adquiridos no correspondam
aos atuais conhecimentos cientficos.
No decurso das atividades importante ouvir as ideias iniciais das crianas a fim
de implementar experincias de aprendizagens que atendam s suas necessidades
formativas. Como afirma Reis (2008) a promoo das capacidades s ocorre num
ambiente de interesse e respeito (p. 20) incentivando-as, o educador, a um registo
ilustrado das suas ideais prvias para que, mais tarde, as possam comparar com as
observaes finais, favorecendo o desenvolvimento das capacidades de comunicao,
atravs da partilha de observaes e resultados obtidos.
As atividades a promover devem ser entendidas como oportunidades de realizar
descobertas com sucesso, o que requer a interao do educador com as crianas, de
forma a gerar um clima de apoio, tanto ao nvel das exploraes que efetuam como de
resposta s dificuldades que possam surgir. Neste sentido, importa lembrar que, como
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
35
afirma Reis (idem) depois de a criana ter experimentado o sucesso, estar mais apta a
enfrentar os desafios de atividades mais difceis (p. 153).
Torna-se ainda importante considerar que a cincia proporciona oportunidades
consideradas valiosas, para o desenvolvimento de qualidades e atitudes pessoais que
facilitam a cooperao, a perseverana e a predisposio para questionar (Glauert,
2004).
Em sntese, importa que, ao longo da educao pr-escolar, as crianas possam
usufruir de um processo formativo que lhes permita progredir ao nvel das diferentes
reas e domnios curriculares, experienciando um percurso formativo integrado e
facilitador de aprendizagem e desenvolvimento de cada uma e do grupo. Neste mbito,
de considerar que, como lembram Bassedas, Huguet e Sol (1999) a maneira como
viveram, o tipo de aprendizagens que realizaram e o tipo de relaes que estabeleceram
podem ser determinantes no sucesso posterior de toda a escolarizao (p. 53).
Requer-se, por isso, promover aprendizagens que favoream a continuidade
educativa, sem que tal signifique escolarizar em funo da preparao das crianas
para etapa seguinte (OCEPE (ME/DEB, 1997, p. 17), mas antes encaradas no sentido de
uma educao ao longo da vida, em que seja favorecida a sua progresso e bem-estar
presente e futuro.
2.2. Princpios fundamentadores do processo educativo
O desenvolvimento de um processo de aprendizagem que se apresente como um
todo integrado e dinmico (ME/DEB, 1997) pressupe que aprofundemos a reflexo
sobre as dimenses em que pode ser apoiado.
Nesta linha de pensamento, entendemos poder retomar quatro princpios
pedaggicos referidos por Mximo-Esteves (1998, baseando-se na perspetiva McGuire,
1997) como devendo ser tidos em conta na educao das crianas mais pequenas,
acentuando a importncia do desenvolvimento de aprendizagens integradas, com
significado, ativas e baseadas em valores. Importa debruar-nos sobre o modo de
entender cada uma destes princpios, no sentido de melhor compreendermos esse
processo.
O desenvolvimento de aprendizagens integradas assenta na ideia de que se
requer o processo de aprendizagem apresente um articulao coerente de diferentes
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
36
saberes, no sentido de melhor poder enfrentar a complexidade incerteza com que o
mundo atual se apresenta. Para tal, a criana necessita de desenvolver muitos e
variados conhecimentos e () a capacidade de imaginar vias alternativas e inovadoras
(Mximo-Esteves, 1998, p. 143). Neste sentido a autora (idem) sublinha a importncia
de desenvolver competncias que permitam que cada um se torne capaz de resolver
problemas, trabalhar colaborativamente com os outros, debater questes manifestando
opinies diferentes, levantar questes pertinentes imaginar e prever solues, investigar
e utilizar as tecnologias, etc. Resumindo, deve promover-se a formao de pessoas
socialmente integradas e capazes de responder s necessidades e contingncias do
mundo atual.
Nesta linha de pensamento, Sanches (2012) alerta que um dos desafios que se
colocam aos contextos pr-escolares, se refere a mobilizar novos e diferentes esforos
para o desenvolvimento de uma ao e uma cultura profissional integradoras, no sentido
de maior dilogo, colaborao, articulao e conexo entre os diferentes agentes,
contextos e momentos educativos (p. 80). Importa atender articulao que se
estabelece quer a nvel horizontal, ou seja, entre as diferentes reas de contedo, no
sentido de promover uma formao globalizante, bem como atuao dos diferentes
agentes educativos que interagem com o grupo de crianas, no esquecendo nesse
processo as famlias. Requer ainda, ter em ateno a articulao curricular que se
estabelece entre as diferentes etapas educativas, nomeadamente com os outros grupos e
nveis educativos, em particular aqueles que integram o mesmo Agrupamento de
Escolas.
No que respeita a promover aprendizagens com significado implica permitir
que as crianas efetuem aprendizagens, de acordo com os seus quadros de referncia
(Mximo-Esteves, 1998, p. 144). Nesse processo, merecem particular ateno, as
estratgias utilizadas pelo educador, devendo, de acordo com a autora, integrar as
dimenses que a seguir se indicam
- Partilha de conhecimentos: refere-se partilha de perspetivas entre as crianas,
os processos de cooperao e colaborao na identificao e resoluo de problemas,
bem como a importncia que o debate e o confronto de opinies assumem na ajuda
mudana de pontos de vista.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
37
- Conhecimento de possibilidades: pressupe a explorao das situaes
problemticas segundo diversos aspetos, recorrendo aos saberes que as crianas j
dominam e sua capacidade imaginativa.
- Conhecimento prvio: requer ter em conta que no processo educativo se deve
atender aos conhecimentos prvios das crianas.
- Partilha de perplexidades: pressupe atender a dvidas e indecises, para o
que se requer um ambiente que transmita segurana e que favorea uma procura
partilhada de solues. Como refere Mximo-Esteves (1998) no se trata apenas da
partilha entre pares, mas entre nveis simtricos de conhecimento e de poder, de modo a
que a criana se atreva a sugerir, confiantemente, percursos e sadas do labirinto da
indeciso (p. 146).
- Desenvolvimento de um conhecimento comum: diz respeito a uma zona de
conhecimento comum, desenvolvida pela partilha de conhecimento entre
professor/educador e crianas. Trata-se de um conhecimento no apenas cognitivo, mas
tambm pessoal, devendo, nesse processo, ser respeitada a identidade e a cultura do seu
ambiente familiar. Pretende-se que o desenvolvimento de um conhecimento comum
permita criana enfrentar desafios, gerir conflitos relacionais, cooperar e tomar
decises esclarecidas.
Quanto ao desenvolvimento de aprendizagens baseadas em valores, sublinha-
se a importncia de favorecer o exerccio da cidadania, no quadro de valores que
favoream a cooperao, tolerncia, respeito pela diversidade e por diferentes pontos de
vista, participao ativa, autonomia e pensamento crtico. Neste mbito, importa
considerar que, como afirma Ribeiro (2010, retomando a perspetiva de Martins 1991)
a escola s conseguir ter um papel preponderante na dinmica social se se
converter num local para todos, se procurar respostas para os mais emergentes
desafios e problemas da sociedade contempornea e seja, em simultneo um
lugar onde se adquiram e desenvolvam competncias que permitam um total
envolvimento com o real e verdadeiro projeto da sociedade, na participao e
tomada de decises (p. 21).
No que se refere a aprendizagens ativas releva-se a ao e a interao enquanto
meio de construo de saberes. A aprendizagem pela ao definida por Hohmann e
Weikart (2011) como a aprendizagem na qual a criana, atravs da sua ao sobre os
objetos e da interao com pessoas, ideias e acontecimento, constri novos
entendimentos (p. 22).
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
38
Num processo aprendizagem pela ao, como sublinha Novo (2009), referindo a
ideia de Piaget, 1983) o essencial no a palavra nem a transmisso do adulto, mas
sim a ao do sujeito, origem primeira do conhecimento e o responsvel ltimo da sua
prpria aprendizagem (p. 53).
Nesta perspetiva, o papel do adulto de apoio ao desenvolvimento da criana,
requerendo esse processo a partilha do controlo com as crianas, focalizado na
construo de relaes autnticas e de encorajamento ao. Nessa linha os adultos
devem observar e interagir com as crianas de modo a descobrir o que pensam e como
pensam para poderem colocar-lhe desafios e responderem aos seus interesses e
necessidades formativas.
Promover uma aprendizagem ativa requer ainda, atender organizao do
ambiente educativo, de modo a que a ao e as interaes sejam facilitadas.
Seguindo esta linha de pensamento, importa debruar-nos sobre os contributos
de alguns autores, como Bruner e Vygotsky, no sentido de melhor poder perspetivar o
processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianas.
2.3. Perspetivas pedaggicas
2.3.1. Contributos de Vygotsky e Bruner
Vygotsky (1979) valoriza a interao educativa como um elemento importante
de desenvolvimento da criana, bem como de apropriao dos instrumentos simblicos
que medeiam esse processo, favorecendo a interiorizao dos smbolos e dos sinais que
lhe permitem desenvolver-se.
O autor enfatiza a natureza social e histrico-cultural do desenvolvimento
humano e o papel da linguagem, enquanto elemento crucial de interao e integrao.
A linguagem entendida pelo autor (1996) como imprescindvel na formao do
pensamento e do carcter, tendo como tarefa a funo de ligar o sujeito e o meio,
recorrendo a vrios instrumentos, sejam eles signos falados, escritos, representaes
grficas, gestos, entre outros. Assim, sem a linguagem o individuo, enquanto ser
humano, no se poder desenvolver social e culturalmente.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
39
Valoriza tambm o papel da comunicao na construo dos conceitos
cientficos, sublinhando que as ideias quotidianas das crianas necessitam ser
explicitadas para que possam aceder a um nvel superior de desenvolvimento, sendo
essencial que a pessoa com a qual interage se situe num nvel mais avanado e atuar no
que o autor designa de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
O autor (1978, citado por Vasconcelos, 1997) entende a ZDP como
a distncia entre o nvel real de desenvolvimento, tal como foi determinado por
uma resoluo independente do problema, e o nvel de desenvolvimento
potencial, como foi determinado pela resoluo do problema sob a orientao de
um adulto ou em colaborao com pares mais capazes de o resolverem (p. 35).
Segundo o autor o nvel de desenvolvimento real compreende aquilo que a
criana j capaz de fazer, autonomamente, onde as funes que j desenvolveu lhe
permitem agir sozinha. Por sua vez, o desenvolvimento potencial refere-se ao nvel de
desenvolvimento que permite criana concretizar atividades, com a colaborao e
apoio de outros mais experientes.
Este conceito destaca o papel do educador, que como membro experiente do
grupo poder ajudar as crianas a atingir nveis superiores de desempenho.
Considerando que se pretende que as crianas aprendam, deve procurar-se, como
aponta Vygotsky, que se evite que operem mecanicamente sobre os conhecimentos que
j dominam e ter em conta que atravs da colaborao e da ajuda que lhe pode ser
proporcionada por outras pessoas com um nvel de desenvolvimento superior, aprendem
a prestar ateno, a pensar de forma adequada a memorizar e concretizar aes para
alm das suas capacidades.
Importa ter em conta a natureza social e cultural que a interao assume, sendo
portanto o comportamento e o desenvolvimento influenciados pelo meio em que a
criana est inserida. Desta forma, importante considerar que o desenvolvimento da
criana tambm depender das interaes que estabelece com o meio sociocultural em
que se integra, assim como da natureza das experincias de aprendizagem em que se
envolve.
Bruner, de acordo com Tavares e Alarco (1992) tambm encara a pessoa como
um elemento ativo no seu processo de aprendizagem, atribuindo particular importncia
ao ambiente cultural e social em que se integra. O conhecimento entendido como
sendo construdo a partir dos problemas que se levantam, as expetativas que se criam, as
hipteses que se formulam e verificam, bem como das descobertas que se fazem (idem).
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
40
Da ser importante que as crianas se envolvam em experincias de aprendizagem que
apresentem situaes em que as crianas possam implicar-se na procura de respostas
para as questes com que se confrontam.
No que se refere s metodologias Tavares e Alarco (1992) acentuam a
importncia do recurso a uma aprendizagem por descoberta, que favorea a resoluo
de problemas e a investigao. Nesta linha, como Tavares e Alarco (1992) afirmam, a
aprendizagem por descoberta conduz a atividades de pesquisa, observao e
explorao, anlise de problemas e resultados, integrao de novos dados (),
explicaes (p. 103).
Cabe ao educador, com base nas questes que coloca s crianas aumentar a
curiosidade, manter o interesse e provocar o desenvolvimento do pensamento, relevando
o conceito que Bruner e colegas, de acordo com Vasconcelos (1997), designam por
scaffolding, entendido por colocar de andaime (p. 37). O conceito de andaime
mantm intacta a dificuldade da tarefa, mas o papel da criana simplificado atravs
da interveno do educador (idem, ibidem), pressupondo que este assume o seu papel
como um apoio face s tentativas de descoberta incrementadas pelas crianas de modo a
adquirirem mais competncias, ao mesmo tempo que visto como promotor de
desafios.
Bruner ao estudar os problemas de organizao curricular nos seus trabalhos,
defende que o currculo deve ser organizado em espiral, ou seja, que o mesmo assunto
pode ser abordado em vrios nveis, devendo essa abordagem ser realizada de forma
cada vez mais abrangente e profunda. Os contedos devero ser estruturados de modo a
ter em conta as caratersticas e as etapas de desenvolvimento dos educandos e integrar
diferentes formas de favorecer a sua progresso.
O desenvolvimento cognitivo da criana, segundo Bruner, caracterizado por
trs estdios de representao que caracteriza como: o estdio da representao ativa; o
estdio da representao icnica e o estdio da representao simblica, entendido por
Bruner, de acordo com Tavares e Alarco (1992).
No primeiro estdio, a representao ativa, situa-se entre os zero e trs anos
destacando a ao da criana como meio de conhecimento do mundo que a rodeia. Essa
representao caracterizada pelas aes que a criana realiza sobre os objetos e
situaes com que se depara, descobrindo a realidade atravs da ao sobre os mesmos,
manipulando-os e explorando-os.
Relatrio Final de Estgio
Relatrio Final de Estgio
41
Quanto segunda representao, a icnica situa-se entre o