prática de ensino supervisionada em educação pré-escolar ... · adulto, releva-se a ideia de...
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Prtica de Ensino Supervisionada em Educao Pr-Escolar
Iveta Pinto Parra
Relatrio Final de Estgio apresentado Escola Superior de Educao de
Bragana para obteno do Grau de Mestre em Educao Pr-Escolar
Orientado por
Professora Doutora Maria Angelina Sanches
Bragana
2013
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I
Dedicatria
Ao meu pai [in memorium]
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II
Agradecimentos
Este relatrio um trabalho individual, mas que reflete as contribuies de todos
os que me apoiaram na sua elaborao e na formao desenvolvida. Assim, ao termin-
lo quero agradecer a todos os que, de algum modo, contriburam para a sua
concretizao:
minha orientadora, Professora Doutora Maria Angelina Sanches, pela sua
disponibilidade, incentivo e partilha do seu saber cientfico.
Aos profissionais da instituio onde realizei o estgio, com um agradecimento
particular minha educadora cooperante pela partilha de saberes e apoio que me
proporcionou para que pudesse percorrer a caminhada efetuada.
s crianas que participaram no desenvolvimento das atividades e sem as quais
no era possvel a realizao deste trabalho.
Aos professores e funcionrios da Escola Superior de Educao do Instituto
Politcnico de Bragana, pela colaborao e ateno prestada.
s minhas colegas do curso pelo incentivo que me deram ao longo do trabalho.
Aos amigos e familiares que direta ou indiretamente me ajudaram e apoiaram.
Um muito obrigada a todos
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III
Resumo
O presente relatrio corresponde ao relato de um trabalho desenvolvido no
mbito da unidade curricular de Prtica de Ensino Supervisionada do Mestrado em
Educao Pr-Escolar, tendo como finalidade aprofundar a reflexo sobre a ao
educativa que desenvolvemos num jardim-de-infncia situado em contexto urbano.
Apresenta a caraterizao da instituio e do grupo de crianas, as opes
pedaggicas em que procurmos apoiar a ao educativa, bem como algumas
experincias de aprendizagem desenvolvidas no decurso da ao educativa. Estas
experincias integram uma abordagem integrada e integradora das diferentes reas de
contedo previstas nas Orientaes Curriculares para a Educao Pr-escolar. A prtica
educativa foi orientada segundo uma perspetiva de aprendizagem pela ao, valorizando
o papel ativo da criana e do educador, enquanto mediador e facilitador do
desenvolvimento desse processo.
Inclui ainda uma reflexo acerca da prtica educativa, na sua globalidade, tendo
em conta o ambiente educativo e processo de aprendizagem promovido com as crianas,
bem como os seus contributos para a nossa formao e desenvolvimento pessoal e
profissional.
Palavras-Chave: Educao pr-escolar, prtica de ensino supervisionada, experincias
de aprendizagens integradas, pedagogia participativa.
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IV
Abstract
This report corresponds to the report of a work within the course of Supervised
Teaching Practice of the Masters in Preschool Education, and aims to deepen the
reflection on the educational work we develop a garden for children located in an urban
context.
Presents the characterization of the institution and the group of children,
educational options that sought to support educational activities, as well as some
learning experiences developed during the educational activity. These experiments are
part of an integrated approach and integrating the different content areas specified in the
Curriculum Guidelines for Pre-school Education. Educational practice was oriented
according to an action learning perspective, emphasizing the active role of the child and
the educator as a mediator and facilitator in the development of this process.
It also includes a reflection on the educational practice as a whole, taking into
account the educational environment and learning process promoted with children as
well as their contributions to our training and personal and professional development.
Key Words: Pre-school, supervised teaching practice, learning experiences integrated,
participative pedagogy.
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V
ndice Geral
Resumo ...III
Abstract IV
ndice de Figuras ............................................................................................................ VI
Introduo ......................................................................................................................... 7
1.Contextualizao da Prtica e Ensino Supervisionada .................................................. 9
1.1. Caracterizao da Instituio ..................................................................................... 9
1.2. Caracterizao do grupo de crianas ....................................................................... 11
1.3. Aspetos pedaggicos de funcionamento em grupo/sala .......................................... 13
1.3.1. Organizao de espaos e materiais ..................................................................... 13
1.3.2. Organizao do tempo pedaggico....................................................................... 18
1.3.3. O desenvolvimento de interaes ......................................................................... 20
2.Fundamentao das opes educativas........................................................................ 22
2.1. A educao pr-escolar: princpios e orientaes educativas .................................. 22
2.2.As Orientaes Curriculares: Relanando o olhar sobre as reas de contedo ........ 26
2.3. Perspetivas pedaggicas .......................................................................................... 31
2.4. Modelos Curriculares em Educao de Infncia ..................................................... 32
3. Descrio, anlise e interpretao das experincias de aprendizagem ....................... 42
3.1. Experincia de aprendizagem: Descobrindo as caractersticas de algumas
substncias ...................................................................................................................... 43
3.2.Experincia de Aprendizagem: Imaginando e descobrindo em conjunto, partindo
duma histria .................................................................................................................. 55
3.3 Experincia de Aprendizagem: A msica e a expresso corporal da criana .......... 72
4. Reflexo crtica ........................................................................................................... 85
Consideraes Finais ...................................................................................................... 89
Bibliografia ..................................................................................................................... 91
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VI
ndice de Figuras
Figura1 - Planta da sala de atividades.........16
Figura 2 Rotina diria/Responsvel do dia...17
Figura 3 Regras da sala.........17
Figura 4 Quadro de presenas..18
Figura 5 Verificao das substncias que se dissolvem na gua..46
Figura 6 Carta de planificao e registos das crianas.47
Figura7Verificao da dissoluo de diferentes quantidades de sal e acar na gua..51
Figura 8 Carta de planificao..52
Figura 9 Dissoluo da mesma quantidade de sal em gua fria e quente54
Figura 10 Verificao da dissoluo do sal em gua quente e fria...54
Figura 11 Cuquedo imaginado pelas crianas..57
Figura 12 Imitao dos animais da histria..58
Figura 13 Os animais ordenados..59
Figura 14 Formao e registo grfico de conjuntos.60
Figura 15 Modelagem e elaborao dos animais..60
Figura 16 Reproduzindo nomes com letras soltas62
Figura 17 Registo grfico das palavras que rimam com Cuquedo ..63
Figura 18 Texto elaborado pelas crianas64
Figura 19 Elaborao do grfico dos animais preferidos.64
Figura 20 Formao de padres66
Figura 21 Pesquisa de caractersticas dos animais...68
Figura 22 Elaborao das mscaras..70
Figura 23 Dramatizao da histria..70
Figura 24 Registo grfico dos instrumentos musicais..74
Figura 25 Construo dos instrumentos musicais....75
Figura 26 Instrumentos musicais construdos..75
Figura 27 - Agrupamento de instrumentos por categorias..78
Figura 28 Copiar palavras por iniciativa das crianas.81
Figura 29 Formao de palavras..81
Figura 30 - Explorao de sombras83
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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Introduo
A educao de infncia uma etapa crucial no processo de aprendizagem ao
longo da vida das crianas, da qual se espera que lhes proporcione oportunidades de
desenvolvimento de saberes essenciais para o seu sucesso e integrao na vida em
sociedade. Esse processo implica uma ao refletida, integradora e flexvel, na qual
sejam contempladas, articulada e coerentemente, as diferentes reas de contedo.
, nesta linha de pensamento que se situa a ao que descrevemos e refletimos
no presente relatrio, tendo por base a ideia de que a criana constri o conhecimento na
interao com os objetos, pessoas, ideias e acontecimentos. No que se refere ao papel do
adulto, releva-se a ideia de observar e interagir com as crianas para descobrir o que
estas pensam acerca do mundo que as rodeia, percebendo, desta forma, as suas
verdadeiras necessidades e os seus verdadeiros interesses. Procura-se, assim, valorizar a
aprendizagem pela ao. Este tipo de aprendizagem s se torna possvel a partir se
forem tidos me conta os interesses pessoais das crianas e o seu desejo de conhecer e de
procurar resposta para as perguntas com que se confrontam.
Neste trabalho, procuramos atribuir relevncia ao processo de aprendizagem das
crianas, no que se refere mais especificamente sua capacidade de observar, ao desejo
de experimentar, curiosidade de saber, atitude para criticar e satisfao por
descobrir e partilhar com os outros as suas descobertas, e no tanto ao produto final.
Valoriza-se sobretudo o processo experienciado por todos, crianas e adultos,
bem como os seus potenciais contributos para sua progresso, no quadro de um
processo formativo globalizante.
No que se refere estrutura do relatrio, este encontra-se organizado em quatro
pontos interligados.
O primeiro ponto inclui a caracterizao do contexto onde decorreu a nossa
prtica educativa, incidindo sobre a caraterizao do ambiente educativo, mais
especificamente no que diz respeito organizao do espao, caracterizao do grupo, a
organizao da rotina diria e o desenvolvimento das interaes ao nvel do grupo.
O segundo ponto centra-se em torno das opes educativas, relevando os
pressupostos tericos em que procurmos situar a prtica pedaggica, atribuindo
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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particular ateno s Orientaes Curriculares para a Educao Pr-escolar1. Fazemos
ainda referncia a alguns modelos curriculares para a educao de infncia, visando
recolher ideias que possam ajudar-nos a melhor compreender, fundamentar e interpretar
a prtica pedaggica.
O terceiro ponto integra a descrio, anlise e reflexo de algumas experincias
de aprendizagem que desenvolvemos e que, pela sua abrangncia e diversidade de
contedos nelas contemplados, permitem perceber o processo formativo que
procurmos promover e a continuidade que tentmos que integrasse. Para tal,
valorizmos o recurso a alguns instrumentos de recolha de informao, entre os quais
so de destacar a planificao da ao educativa, as notas de campo, as produes das
crianas e os registos fotogrficos, permitindo, no seu conjunto, evidenciar os processos
de aprendizagem promovidos.
Por ltimo, o quarto ponto constitui uma reflexo crtica final que incide sobre a
globalidade da ao educativa desenvolvida e aspetos que a influenciaram, relanando
sobre ela um olhar crtico construtivo, no sentido de melhor poder compreend-la e
encontrar formas alternativas de interveno, no quadro de um desenvolvimento pessoal
e profissional em continuidade.
1
Referimo-nos ao documento subordinado a esse mesmo ttulo, publicado pelo Ministrio da Educao/Departamento de Educao Bsica (ME/DEB, 1997), bem como ao definido no Despacho n
5220/97 de 4 de agosto.
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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1. Contextualizao da Prtica de Ensino Supervisionada
Um contexto educativo bem organizado constitui a base para um bom
desenvolvimento e formao global da criana. Um ambiente educativo que responda s
necessidades formativas da criana e equipado com materiais diversificados e de
qualidade um elemento essencial para criar oportunidades de aprendizagem s
crianas. Conhecer o contexto, permite ao educador conhecer os recursos disponveis
para desenvolver a sua ao pedaggica e melhor poder mobiliz-lo.
Deste modo, neste ponto comeamos por descrever e refletir sobre o contexto
em que desenvolvemos a ao educativa, considerando a instituio na sua globalidade
e, mais especificamente, a sala de atividades e o grupo de crianas, bem como as aes
pedaggicas em que apoimos o nosso estgio.
1.1. Caracterizao da Instituio
O jardim-de-infncia em que desenvolvemos a ao educativa, um
estabelecimento da rede pblica da educao pr-escolar e integra-se num Agrupamento
de Escolas do distrito de Bragana. Situa-se em contexto urbano ladeado por duas ruas
com um fluxo de trfego considervel, relativamente perto do centro da cidade.
O jardim-de-infncia, est dimensionado para 125 crianas, mas ao longo do ano
letivo em que decorreu o nosso estgio, era frequentado por 90 dos 3 aos 6 anos,
organizadas em cinco grupos/salas.
A estrutura fsica do jardim-de-infncia encontra-se ao nvel do rs-do-cho,
delimitado por muros e grades de forma a possibilitar uma maior segurana das
crianas. O acesso ao edifcio feito atravs de duas entradas, possuindo uma delas uma
rampa de acesso, o que possibilita a sua utilizao por pessoas com limitaes motoras.
O pavimento que circunda o edifcio de cimento, relva e areia. Encontra-se organizado
de modo a potenciar atividades de natureza diversa. Neste espao existe um parque
infantil, onde esto fixas algumas estruturas/equipamentos de recreio (molas/cavalinhos,
balizas de futebol e de basquetebol). Existe ainda um espao que possui pavimento em
placas de borracha onde esto fixos um escorrega, baloios e cordas para trepar, bem
como outro em cimento onde esto desenhados jogos como o da macaca e do galo.
O espao exterior potencia autnticos momentos de recreio e aprendizagem,
usufruindo as crianas de oportunidades para o explorar e usar em funo de gostos
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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pessoais e estabelecer interaes alargadas com crianas de outros grupos, de diferentes
idades. Hohmann e Weikart (2009) lembram que fundamental para o desenvolvimento
das crianas que usufruam do contacto com espaos ao ar livre, sendo neles que se
assumem como construtores imaginativos.
Relativamente ao espao interior composto por cinco salas de atividade, um
hall de entrada, um salo polivalente, dois sanitrios para crianas e dois para adultos,
uma pequena cozinha que se destina, essencialmente, a atividades culinrias e de
expresso plstica, uma arrecadao com materiais de apoio (cartolinas, roupas de
disfarce, carto, papel de desenho, esferovite, ) indispensveis realizao de
atividades, uma pequena biblioteca e gabinetes de coordenao e de apoio s atividades
pedaggicas. Destes espaos, fazemos referncia particular ao salo polivalente e
biblioteca, pela complementaridade que proporciona ao trabalho curricular. O
salo/polivalente um espao amplo, no qual se desenvolvem atividades de expresso
motora, festividades e de recreio interior, bem como as atividades integradas na
componente de apoio famlia. Este espao usufrui de uma boa iluminao natural,
contendo vrias janelas que possibilitam criana ter contacto visual com o exterior.
Est equipado com materiais diversos de recreao e lazer, como televiso, cassetes de
vdeo, leitor de CD, DVDs, colunas, colches, bolas, cordas, escorrega, baloios, entre
outros.
A biblioteca um espao de apoio aos diferentes grupos do jardim-de-infncia,
que embora de dimenso reduzida, rene um alargado conjunto de livros, podendo estes
serem consultados por toda a comunidade educativa e, ainda, serem levados para as
salas de atividade.
Estes espaos so interligados por um corredor, equipado com cabides
individuais, identificados com o nome e a fotografia de cada criana, para que, cada
uma, possa proceder com autonomia na arrumao e acesso aos seus pertences.
Encontram-se ainda no corredor placards para expor trabalhos, registos de atividades e
projetos desenvolvidos, com o objetivo de partilha com os pais/comunidade. No hall da
entrada existe ainda um outro placar que se destina a expor informaes aos
encarregados de educao.
No que se refere ao equipamento de segurana, constata-se a existncia de
quatro extintores, prontos a serem utilizadas em situaes de emergncia, refletindo
existir preocupao pela segurana das crianas e do pessoal docente e no docente.
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Todo o espao interior que temos vindo a referenciar provido de equipamento
adequado, com uma boa iluminao natural, facilitando uma tima ventilao, assim
como de um sistema de aquecimento central que permite suportar as baixas condies
meteorolgicas que se fazem sentir em meses mais frios.
O horrio de funcionamento do jardim-de-infncia rege-se de acordo com o
calendrio escolar da rede pblica e complementa-se com um horrio adequado s
necessidades das famlias das crianas, funcionando a partir das 8h00m s 19h15m.
Inclui a componente letiva, que funciona das 9h00m s 12h00m e das 14h00m s
16h00m, num total de cinco horas dirias, como a legislao prev (Lei n5/97, de 10 de
fevereiro) e a componente de apoio famlia funciona nos tempos de permanncia das
crianas no jardim-de-infncia que vo para alm da componente letiva.
A equipa educativa da instituio, no ano em que decorreu o estgio era
constituda por cinco educadoras de infncia titulares de grupo, sendo que uma das
cinco educadoras exercia funes como coordenadora de departamento de docentes,
uma educadora do QZP (Quadro de Zona Pedaggica), colocada por concurso de
afetao, uma educadora de educao especial e uma terapeuta da fala que apoiavam as
crianas com necessidades educativas especiais, bem como sete assistentes operacionais
e outros educadores que apoiavam o desenvolvimento da componente educativa e a
componente de apoio famlia.
1.2. Caracterizao do grupo de crianas
A informao relativa s caractersticas do grupo de crianas apresentada neste
relatrio, foi recolhida atravs de observaes, dilogos informais com as crianas e
outros elementos da comunidade educativa, da entrevista no estruturada educadora e,
ainda atravs da consulta de dados das fichas de caracterizao e inscrio das crianas
preenchidas pelos pais, no perodo inicial do ano letivo.
Importa, assim, caraterizar o grupo de crianas com o qual desenvolvemos a
nossa interveno pedaggica, nas diferentes dimenses.
O grupo era constitudo por vinte crianas com cinco anos de idade, sendo dez
crianas do sexo masculino e dez do sexo feminino. As crianas eram provenientes de
diferentes zonas/bairros citadinos. Tambm se caracterizam pela diversidade cultural e
tnica: integravam o grupo trs crianas de etnia cigana, uma do sexo masculino e duas
do sexo feminino. Das vinte crianas do grupo, dezoito j frequentavam o Jardim-de-
Infncia pela terceira vez e duas pela primeira vez.
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A maioria das crianas apesar de viverem na cidade, tinham contacto frequente
com o meio rural, possibilitando-lhes desta forma conhecer diferentes espaos
socioculturais e geogrficos.
O grupo revelava-se, de um modo geral, ativo e curioso, principalmente por
situaes novas, predisposto a levar a efeito, quer as tarefas propostas pela educadora
quer as que surgiam por iniciativa prpria. Mostravam-se recetivas leitura de histrias
e dramatizaes, manifestando especial interesse por atividades relacionadas com a
expresso musical e expresso plstica, o que lhes permitia a fluidez de muitas
oportunidades de explorao de tcnicas e materiais. Algumas crianas eram bastante
recetivas a atividades que envolvessem a linguagem oral e abordagem escrita, bem
como o domnio da matemtica.
No que se refere escolha das reas, o interesse demonstrado pelas crianas na
rea da expresso plstica era evidente. A rea da casa era maioritariamente procurada
pelas meninas e a rea das construes pelos rapazes. Por sua vez, a rea menos
frequentada era a da biblioteca. Neste sentido, ao longo do ano letivo, introduzimos
material nesta rea de modo a que despertasse nas crianas o gosto pela leitura.
Ao identificarmos determinados interesses das crianas, procurmos dar-lhes
relevncia, pelo que nos propusemos, no decorrer da ao educativa, intervir no sentido
de desenvolver uma relao afetiva com as crianas, envolvendo-as na vivncia da
rotina diria, desafiando-as com experiencias de aprendizagem que fossem ao encontro
das suas necessidades formativas e interesses. Considerando o agregado familiar das
crianas, de acordo com os dados que constavam no projeto curricular do grupo, a
maioria (n=15) delas vivia com os dois progenitores e cinco com um deles (a me).
A formao acadmica dos pais/encarregados de educao das crianas situava-
se maioritariamente ao nvel do ensino bsico e do secundrio, apenas seis
apresentavam nvel superior (4 mes e 2 pais). Ao nvel da atividade profissional
indicada na ficha de inscrio da criana, observam-se vrias atividades profissionais, as
profisses apresentadas dizem respeito, na sua maioria, a duas categorias, sendo elas:
servios e comrcio e pessoal operrio. Constatam-se algumas situaes de pais
desempregados (5 pais e 1 me) e 8 mes integram a condio de domstica.
No que concerne faixa etria dos pais, situa-se em idades compreendidas entre
os vinte e cinco e os cinquenta anos de idade e a idade das mes varia entre os vinte e
trs e quarenta oito anos de idade.
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1.3. Aspetos pedaggicos de funcionamento em grupo/sala
Para que o ambiente educativo seja facilitador de aprendizagens, necessrio
que o educador reflita acerca dos materiais existentes e pondere a insero de novos
elementos, tendo em perspetiva o desenvolvimento de competncias associadas s
vrias reas de contedo.
O ambiente educativo deve organizar-se como um contexto que facilite o
desenvolvimento das crianas, bem como dos prprios adultos que intervm nesse
mesmo ambiente. O espao deve ser facilitador de mltiplas aprendizagens, por isso,
deve ser criado com e em funo das crianas que o iro utilizar. O educador deve estar
sempre atento a tudo o que se passa na sala, refletindo para que o seu ambiente se torne
desafiante e enriquecedor para as crianas.
1.3.1. Organizao de espaos e materiais
Na ao educativa, promovida no Jardim-de-infncia, valoriza-se o espao
enquanto meio potenciador da construo de aprendizagens. Entende-se que a sua
organizao deve ser planeada de modo a atender s caractersticas e necessidades das
crianas, aos projetos emergentes e gesto dos tempos pedaggicos. Tem por base a
criao de oportunidades de manipulao, experimentao, recriao e descoberta das
crianas, individualmente, em pares, em pequeno grupo ou em grande grupo. Como
referem as Orientaes Curriculares para a Educao Pr-escolar (ME/DEB, 1997):
os espaos de educao pr-escolar podem ser diversos, mas o tipo de
equipamento, os materiais existentes e a forma como esto dispostos
condicionam, em grande medida, o que as crianas podem fazer e aprender. A
organizao e a utilizao do espao so expresso das intenes educativas e da
dinmica de grupo, sendo indispensvel que o educador se interrogue sobre a
funo e finalidades educativas dos materiais de modo a planear e fundamentar
as razes dessa organizao (p.37).
Nesta linha de pensamento, interrogmo-nos sobre o tipo de estruturas,
equipamentos, materiais, organizao e reflexo permanente sobre a funcionalidade e
adequao do espao e as potencialidades educativas dos materiais no qual as crianas
tivessem a oportunidade de assumirem um papel ativo no processo de co construo do
seu conhecimento e aprendizagem, alargar o seu desenvolvimento pessoal, social,
cognitivo, fsico, intelectual, ou seja aprendendo brincando num clima de aprendizagens
ativas. De acordo com Hohmann e Weikart (2009) ambientes que promovem a
aprendizagem activa incluem objectos e materiais que estimulam as capacidades de
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explorao e criatividade das crianas. Deve existir bastante espao para estas
brincarem, quer sozinhas, quer umas com as outras (p. 160), em que explorem,
inventem, imaginem e construam. importante que o espao seja atraente e esteja
dividido em reas de interesse bem definidas e que o material esteja organizado e
etiquetado de modo a permitir a sua visualizao.
Tendo em conta que, quando inicimos a ao educativa, o espao/sala estava
organizado, mas que dispnhamos de liberdade para promover a sua reorganizao,
questionmo-nos sobre o modo como se apresentava, tomando por referncia os
princpios assinalados por Hohmann e Weikart (2009), que indicam que deve: ser
atraente para as crianas; estar dividido em reas de interesse bem definidas, de forma a
encorajar diferentes tipos de atividade; organizar as reas de forma a assegurar a
visibilidade dos objetos e materiais, bem como a locomoo entre elas; incluir materiais
e objetos de modo a permitirem uma grande variedade de brincadeiras e serem
arrumados no sentido de facilitarem a execuo do ciclo encontra-brinca-arruma
(pp.163-164).
A sala das crianas de cinco anos, onde desenvolvemos a ao educativa era
agradvel e convidativa, pela cor suave e pela vantagem de ter amplas janelas, o que lhe
dava muita luz natural, uma maneira de suavizar o ambiente e trazer para o interior
elementos naturais. A organizao parecia ir ao encontro dos princpios acima referidos.
Optmos por manter a disposio das reas da sala e, ao longo da nossa ao
educativa, ir introduzindo material diversificado e as alteraes necessrias na
organizao das reas, indo ao encontro dos interesses do grupo de crianas, mediante
os projetos que se estavam a desenvolver e aos critrios de qualidade, de maneira a criar
novas e amplas aprendizagens.
O espao estava organizado por diversas reas com o objetivo de possibilitar
diferentes aprendizagens curriculares tendo em ateno as necessidades e interesses do
grupo. Tal como refere Oliveira-Formosinho, (2007b) a organizao do espao em
reas e a colocao dos materiais nas reas onde so utilizados so a primeira forma de
interveno da educadora (p. 69).
A sala integrava as seguintes reas de atividades: rea da expresso plstica que
inclua desenho, recorte, colagem, modelagem e pintura; rea da escrita; rea da
biblioteca; rea da casa; rea dos jogos; rea das construes; e, a rea do computador
com equipamento kidsmart, devidamente identificadas com o nome, registo grfico
(elaborado pelas crianas) e o nmero de crianas que podiam frequent-las.
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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As reas da sala apresentavam limites bem definidos e reconhecveis de modo a
permitirem, s crianas, uma boa visualizao de todas elas, no sentido de poderem ver
os materiais que contm e as atividades que os colegas estavam a desenvolver em cada
uma. A organizao da sala por reas indispensvel para a dinmica do grupo para que
lhes possa permitir uma maior autonomia e responsabilidade. Concordando com
Hohmann e Weikart (2009) definir as reas de interesse uma maneira concreta de
aumentar as capacidades de iniciativa, autonomia e estabelecimento de relaes sociais
das crianas (p. 165).
Intencionalmente, as reas estavam dispostas e organizadas consoante a
funcionalidade de cada uma. Na rea de expresso plstica existia um enorme placar,
permitindo que as crianas expusessem trabalhos que realizavam. De acordo com as
OCEPE (ME/DEB, 1997) os contactos com a pintura, a escultura, etc. constituem
momentos privilegiados de acesso arte e cultura que se traduzem por um
enriquecimento da criana, ampliando o seu conhecimento do mundo e desenvolvendo o
sentido esttico (p. 63). A rea da escrita e a rea da biblioteca foram integradas na
zona mais calma e iluminada da sala, pois potenciava, nas crianas uma melhor
concentrao.
Nesta sala existia, ainda, um espao central, onde diariamente o grande grupo se
reunia, sendo neste espao que se desenvolveram vrias conversas, troca de opinies,
resoluo de problemas, momentos de planeamento, de partilha e de reflexo.
A observao das interaes do grupo com o espao e os materiais levaram-nos,
por vezes, a fazer alteraes, para que aquele se tornasse mais funcional e estimulador
de aprendizagens, pois da responsabilidade do educador, como nos dizem Brickman e
Taylor (1991) criar e manter um ambiente fsico que encoraje as brincadeiras ativas
(p. 151). Foi sobretudo na parte dos materiais existentes em algumas reas, em pequena
quantidade e j explorados pelas crianas que optmos por introduzir materiais variados
em cada rea, dispostos de forma a permitir criana uma viso daquilo que cada rea
lhe podia oferecer, reforando a rea da casa, da expresso plstica e dos jogos. Os
materiais encontravam-se etiquetados, visveis e acessveis, o que permitiu criana
uma maior facilidade de arrumao.
As crianas cooperavam no processo de organizao dos materiais, de forma a
favorecer a autonomia na escolha e utilizao dos mesmos, sendo de ter em conta que a
organizao dos materiais etiquetados em prateleiras e gavetas de arrumao que os
tornem visveis possibilita, como refere Oliveira Formosinho (2007b), a independncia
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em relao ao adulto [e] sobretudo para as crianas (), um caminho de autonomia
(p.67).
de salientar que tivemos em ateno a qualidade pedaggica dos materiais,
pois atravs destes que a criana promove aprendizagens significativas. Tal como
refere, Oliveira Formosinho (2007b) o ambiente rico em materiais (usados em grupo
de pares, em contextos de projectos significativos) tem todas as condies para provocar
essas aprendizagens (p.68)
Esta organizao do espao e materiais facilita a proposta de atividades por parte
do educador, e sobretudo, promove a escolha da criana.
Mediante o esquema apresentado na figura 1, podemos observar a planta da sala.
Figura 1 Planta da sala de atividades
1 a 4 - rea da expresso plstica 8 rea dos jogos
5 - rea da escrita 9 rea das construes
6 rea da biblioteca 10- rea do computador
7 rea da casa
Placares
Janelas
Armrio
Das reas faziam parte equipamentos de apoio especficos, como mesas,
cadeiras, um armrio com vrias estantes onde se encontravam materiais que o adulto
podia usufruir para o seu trabalho dirio. Outro dos armrios possua uma grande
variedade de material de apoio s atividades das crianas. As paredes da sala que se
encontravam livres eram revestidas com as produes das crianas, divulgando o
trabalho que se desenvolvia na sala.
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Para alm das produes das crianas havia, tambm, alguns quadros que
ajudavam a regular a ao educativa e que passamos a descrever.
Quadro da rotina diria, construdo depois de termos refletido com as crianas
sobre cada momento do dia do jardim-de-infncia. Esses momentos foram registados
por fotografia servindo, posteriormente,
como referencial para que as crianas
pudessem fazer os seus prprios registos
e ainda a descrio verbal de cada
momento. Este quadro facilitava porque
permitia que as crianas assimilassem a
sequncia dos tempos e as
oportunidades de trabalho que havia ao
longo do dia. Na figura 2 procuramos
especificar mais em detalhe a sua
organizao. Este quadro tambm tinha a
funo de quadro de responsabilidades. Nele estavam todas as fotografias das crianas
com os respetivos nomes, no qual todos os dias, seguindo a ordem da lista do grupo,
uma criana indicada assumia uma tarefa. Tinha algumas tarefas a cumprir, como
verificar se reas estavam arrumadas, ajudar a distribuir o leite aos colegas, ser o
primeiro na fila quando iam para o recreio, entre outros.
Quadro das regras, nele encontravam-se registadas as regras de funcionamento
da sala. Do lado esquerdo colocaram-se
as fotografias com as atitudes que as
crianas deveriam assumir, no meio
fizeram o respetivo registo e na coluna
do lado direito escreveu-se a regra
enunciada em grupo. As regras foram
estabelecidas e negociadas em grupo,
sendo introduzidas pouco a pouco
conforme as necessidades. Figura 3 Regras da sala.
Como apontam Oliveira-Formosinho e Andrade (2011) escrever um
compromisso e faz-lo visvel cria uma oportunidade de ajuda no cumprimento do
compromisso (p.26).
Figura 2- Rotina diria/Responsvel do dia
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
18
Quadro das presenas, constitudo por um mapa de dupla entrada que servia
para a criana marcar com um sinal,
escolha, a presena na quadrcula
correspondente. Era uma forma de a
criana se consciencializar sobre a
sequncia dos dias da semana e de
perceber que h dias de ausncias
intercalados com dias de presenas.
1.3.2. Organizao do tempo pedaggico
A distribuio do tempo est estreitamente relacionado com a organizao do
espao e as diversas atividades que nele se desenvolvem, reforando a coexistncia
duma articulao entre estas dimenses, com vista integrao e resposta s
caractersticas e necessidades formativas das crianas. Para tal, requer-se que o tempo
pedaggico, como referem Oliveira-Formosinho e Formosinho (2011), inclua uma
polifonia de ritmos: o da criana individual, o dos pequenos grupos, o do grupo todo
(p.30). Pressupe-se, ainda, como acrescentam os autores (idem) que inclua
intencionalidades e experincias diversificadas, no sentido de favorecer o
desenvolvimento das crianas, nas mltiplas dimenses que integra.
Importa considerar que, como sublinham Hohmann e Weikart (2009), a
existncia de uma rotina diria oferece um enquadramento comum de apoio s crianas
medida que elas perseguem os seus interesses e se envolvem em diversas atividades de
resoluo de problemas (p.224).
Assim, e no que se refere rotina diria que se implementou na sala dos cinco
anos, privilegiavam-se trs momentos educativos diferentes, sendo eles: tempo de
grande grupo, tempo de pequeno grupo e tempo de planear/fazer/rever. No sentido de
melhor poder perceber-se a rotina praticada, passamos a descrev-la:
i) Tempo de acolhimento: Momento de receo das crianas, onde se
partilhavam ideias, vivncias e notcias que traziam de casa. Neste momento
privilegiava-se a escuta de cada criana, no respeito que todas merecem e do
direito de cada uma participao.
Figura 4 Quadro de presenas
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
19
ii) Tempo de trabalho em grande grupo: Momento em que todos os elementos
do grupo, crianas e educadoras, se envolviam na concretizao de atividades.
Normalmente tinha a durao de 30 minutos contavam-se histrias, liam-se
poesias, realizavam-se jogos de linguagem, de matemtica, msica e movimento,
entre outras iniciativas.
iii) Higiene/lanche: Momento em que as crianas faziam a sua higiene pessoal
com o auxlio de um assistente operacional e lanchavam na sala.
iv) Tempo de recreio: As crianas e adultos, neste tempo, iam para o espao de
recreio exterior, podendo desfrutar dos equipamentos que nele existiam ou iam
para o salo polivalente, onde se envolviam em diversos jogos e brincadeiras.
v) Tempo de trabalho em pequeno grupo: Momento em que as crianas
trabalhavam organizadas em pequenos grupos, sendo este destinado ao
alargamento das experincias de aprendizagem e sua sistematizao, em
atividades propostas pela educadora com intencionalidades especficas.
vi) Higiene pessoal: Momento destinado higiene e preparao das crianas
que almoavam na cantina, enquanto as que iam almoar a casa continuavam a
realizar as atividades em desenvolvimento.
vii) Almoo: Sada das crianas para almoar.
viii) Tempo de relaxamento: Momento destinado a atividades calmas, em que
as crianas, sentadas nas cadeiras ou no cho, ouviam msica, poemas, faziam
mmicas ou, simplesmente em silncio, escutavam os sons do exterior.
ix) Tempo de planear/fazer/rever: Neste bloco tripartido de tempo, as crianas
planeavam o trabalho que queriam desenvolver, escolhiam a rea, bem como os
colegas que poderiam ajud-las no trabalho. No final, as crianas arrumavam os
materiais e partilhavam com o restante grupo o trabalho desenvolvido. Os
colegas questionavam os processos de realizao, dando opinies e sugestes
para melhorar o trabalho.
x) Higiene/lanche: As crianas faziam a sua higiene pessoal, com o apoio de um
assistente operacional e tomavam o leite escolar.
xi) Tempo de recreio: Momento em que as crianas usufruam, mais uma vez
de oportunidades de recreao e interao com as crianas das outras salas no
espao de recreio.
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
20
xii) Componente socioeducativa: Tempo de atividades integradas na
componente de apoio famlia que decorria no salo polivalente.
A existncia de uma estrutura do tempo, ou seja, uma rotina educativa
organizada da forma como foi apresentada, facilita, em nosso entender e como a
literatura sobre este tpico nos permite perceber (Hohmann & Weikart, 2009; Oliveira-
Formosinho & Andradade, 2011), a segurana necessria para o investimento cognitivo
e emocional das crianas. Estabelece-se um fluir para o tempo dirio que, tendo
flexibilidade, no deixa de ser estvel, o que permite s crianas apropriarem-se do
mesmo, o qual contribui para que possam tornar-se progressivamente mais autnomas e
independentes dos adultos. Permite-lhes conhecer a sequncia dos acontecimentos e
prever as atividades que integram o quotidiano da instituio pr-escolar. Isto porque a
rotina diria constante, estvel e, portanto, previsvel para a criana. Assim, a criana
sabe o que a espera, conhece o tempo de rotina em que est no momento, conhece as
finalidades desse tempo de rotina e, por isso, no precisa ficar ansiosa nem se preocupar
com o que poder suceder a seguir, pois sabe que existem momentos para diferentes
atividades. Estes permitem ainda construir noes de sequncia temporal, como as de
antes, agora e depois. A previsibilidade da sequncia dos tempos de atividade contribui
para a segurana e independncia das crianas, o que, em conjugao com as diferentes
possibilidades educacionais de cada tempo, permite-lhes fazer escolhas, tomar decises,
agir e estabelecer diferentes tipos de interao.
A rotina diria e o espao educativo so um organizador duplo de ao do
educador, principalmente porque criam condies estruturais para as crianas se
tornarem independentes, ativas, autnomas, facilitando-lhe, assim, uma utilizao
cooperativa do poder.
1.3.3. O desenvolvimento de interaes
As interaes entre criana e adulto baseiam-se na ideia de que, como afirmam
Hohmann e Weikart (2009), crianas e adultos tomam iniciativa e respondem s
iniciativas uns dos outros, alicerando as suas interaces nas ideias, sugestes e aces
de todos e de cada um (p.51). No que se refere a esta dimenso, procurmos
proporcionar situaes que fossem desafiantes para o pensamento da criana, capazes de
gerar o desequilbrio das suas estruturas cognitivas, entendido como conflito cognitivo
(Piaget, 1976) na medida em que desencadeia a procura de um novo equilbrio e
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impulsiona reorganizao dessas estruturas e, por conseguinte, favorecem a sua
progresso.
Consideramos que ao longo de todo este processo o nosso objetivo baseou-se em
proporcionar, s crianas, um conjunto de atividades que favorecesse a sua implicao
na procura de solues para as questes e problemas emergentes. Deste modo,
procurmos ter presente a pertinncia de fornecer s crianas um clima que se pautasse
pelo equilbrio, proteo e interajuda. Nesta linha de pensamento, entendemos as
crianas como sujeitos ativos e, como sugere Vasconcelos (2009), sujeitos de direitos e
deveres, numa dinmica interactiva com os outros (p. 56). Assim, procurmos criar
oportunidades de estabelecerem diferentes tipos de interaes, quer em momentos do
trabalho em grande grupo, quer em pequeno grupo, favorecendo um clima de
cooperao e entreajuda entre as crianas e entre os adultos e as crianas. A interao
estabelecida pelo grupo na concretizao das atividades permitiu-lhe confrontar
diferentes pontos de vista, question-los, emitindo a sua opinio e escutando a opinio
dos outros. Assumimos o papel de mediadores desses processos, utilizando uma
linguagem que permitisse s crianas compreenderem, negociarem e aceitarem
diferentes formas de pensar e ser, no quadro de respeito por todos e cada um, do direito
diferena e de uma cidadania ativa e responsvel.
O desenvolvimento de interaes educativas num clima de segurana afetiva
requer, como sublinha Mesquita-Pires (2007), a promoo do bem-estar na criana, da
sua autonomia; a adequao da linguagem s necessidades do grupo; o respeito e a
valorizao pelas aces das crianas, demonstrando tambm capacidade de se envolver
afetivamente com elas (p.179).
Os instrumentos construdos e utilizados para proceder organizao
pedaggica do quotidiano de vida pr-escolar, como o quadro da rotina diria, o quadro
mensal das presenas e o quadro das regras ajudaram a regular as interaes,
favorecendo o sentido de pertena, responsabilizao e gesto da vida em grupo. neste
sentido que se constri um grupo capaz de regular as suas prprias aes com base nos
direitos, deveres e regras elaboradas colaborativamente e que todos devem assumir.
Sublinha-se o papel de apoio que cabe ao adulto proporcionar a cada criana
para que todas possam progredir. Nesta linha de pensamento, procurmos promover o
envolvimento de todos os intervenientes no processo educativo (crianas, educadoras,
pais e parceiros da comunidade), favorecendo o dilogo e a colaborao, o que
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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possibilitou vivenciarmos experincias de aprendizagem estimulantes, bem como
conhecermos outros espaos educativos da comunidade local.
Procurmos ainda tomar em considerao que, como se expressa nas
Orientaes Curriculares para a Educao Pr-escolar (DEB/ME,1997), a colaborao
dos pais, e tambm de outros membros da comunidade, o contributo dos seus saberes e
competncias para o trabalho educativo a desenvolver com as crianas, um meio de
alargar e enriquecer as situaes das crianas e adultos (p. 65).
Relativamente interao estabelecida entre os adultos, sublinhamos a dinmica
de formao criada, onde foi valorizado o trabalho em equipa e a reflexo, pr e ps-
ativa, em conjunto, debatendo princpios e dinmicas de ao a ter em conta para criar
oportunidades potencialmente facilitadoras da aprendizagem e desenvolvimento de
todos, crianas e adultos.
Parece-nos que este trabalho se tornou frutfero, pois ajudou a compreender
melhor os papis, expetativas e desempenhos de cada um, bem como a identificar e a
mobilizar estruturas de apoio para uma continuada melhoria das respostas educativas
em que nos encontrvamos envolvidas e para a nosso prprio desenvolvimento
profissional e pessoal.
2. Fundamentao das opes educativas
Neste ponto procedemos ao aprofundamento de conhecimentos que possam
contribuir para nos ajudar a melhor orientar, analisar e interpretar a ao educativa pr-
escolar e, por conseguinte, sustentar a prtica pedaggica que desenvolvemos. Neste
sentido, procuramos debruar-nos sobre os princpios e orientaes em que se apoia a
educao pr-escolar, as aprendizagens que se pretendem promover e as perspetivas e
modelos curriculares a ter em conta para que possamos responder aos desafios e
exigncias que a interveno nesta etapa educativa apresenta.
2.1. A educao pr-escolar: princpios e orientaes educativas
A educao pr-escolar tem vindo a merecer um crescente reconhecimento,
enquanto etapa fundamental no processo de aprendizagem ao longo da vida, alertando o
Conselho da Unio Europeia (2011) para os benefcios que a sua frequncia representa
no desenvolvimento de aprendizagens/competncias essenciais para o sucesso da
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Mestrado em Educao Pr-Escolar - Relatrio de Estgio
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criana ao longo do seu percurso escolar e de vida, bem como para a sua integrao
social (idem).
No que se refere ao nosso pas, os princpios de organizao e orientao da
educao pr-escolar, parecem-nos apontar nesse sentido, estabelecendo a Lei-Quadro
da Educao Pr-escolar2, na sequncia do previsto na Lei de Bases do Sistema
Educativo3 que:
A educao pr-escolar primeira etapa da educao bsica no processo de
educao ao longo da vida, sendo complementar da ao educativa da famlia,
com a qual deve estabelecer estreita relao, favorecendo a formao e o
desenvolvimento equilibrado da criana, tendo em vista a sua plena insero na
sociedade como ser autnomo, livre e solidrio (Lei n 5/97, artigo 2).
nas ideias contidas neste princpio que assentam as Orientaes Curriculares
para a Educao Pr-escolar (OCEPE)4, nas quais deve apoiar-se o processo educativo a
desenvolver com as crianas.
Dos princpios acima referidos, como sublinha Rodrigues (2007), salienta-se o
papel social bsico da educao pr-escolar e a relao de complementaridade que
assume com a famlia, mas tambm a dimenso educativa que lhe cabe desempenhar,
acentuando o princpio da continuidade da articulao com os restantes nveis
educativos da educao bsica, no quadro de uma igualdade de oportunidades e de
sucesso para todos.
Relativamente ao desenvolvimento do processo educativo relevada a
importncia de favorecer a progresso e diferenciao das aprendizagens, no sentido de
se criarem as condies necessrias para que todas as crianas tenham ocasio de
progredir e para continuarem a aprender (ME/DEB, 1997, p. 17), perspetivando-a no
quadro de uma igualdade de oportunidades e de aprendizagem ao longo da vida.
De acordo com o expresso nas OCEPE (idem): a educao pr-escolar cria
condies para o sucesso da aprendizagem de todas as crianas, na medida em que
promove a autoestima e autoconfiana e desenvolve competncias que permitem que
cada criana reconhea as suas possibilidades e progressos (p. 18).
Estas dimenses so desenvolvidas medida que as crianas se desenvolvem na
sua individualidade, tendo em conta as suas caratersticas, mas tambm se promove no
2 Lei n 5/97, de 10 de fevereiro
3 Lei n46/86, de 14 de outubro Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE); Lei n 115/97, de 19 de
setembro Alterao LBSE: Lei n49/2005, de 30 de agosto Segunda Alterao LBSE. 4 Despacho n5220/97, de 4 de agosto; Ministrio da Educao/Departamento de Educao Pr-escolar
ME/DEB (1997).
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coletivo, na tomada de conscincia enquanto membro do grupo. Ela vai aprender a
trabalhar com os outros, a ser progressivamente mais autnoma na concretizao das
tarefas e a saber recorrer, quando necessrio, ao adulto enquanto mediador do processo
educativo.
Trata-se de dimenses que carecem, por isso, de ateno e reflexo,
reconhecendo a complexa tarefa que reveste atender e responder s solicitaes e
necessidades formativas de um grupo de crianas da faixa etria pr-escolar.
Nesse processo merece no descurar o papel ativo que cada criana pode
assumir na construo do seu desenvolvimento e aprendizagem, o que, como o
documento que vimos citando sustenta partir do que as crianas j sabem, da sua
cultura e saberes prprios (idem, p. 19) e valorizar os contributos do grupo para o
processo formativo do mesmo.
Vasconcelos (2007a), considerando os resultados de um estudo da Faculdade de
Psicologia e Cincias da Educao da Universidade do Porto (2006), alerta para a
necessidade de investir na qualidade das propostas educativas que so colocadas s
crianas, de modo a contribuir para o desenvolvimento de processos cognitivos mais
elaborados, sem cair no risco da escolarizao das crianas. Neste sentido, a autora
(idem) releva que o carcter, mesmo fsico, dos jardins-de-infncia deve ultrapassar as
propostas tradicionais (), para introduzir desafios que trabalhem na zona do
desenvolvimento prximo das crianas, que provoquem problemas, que induzam a
pesquisa cientfica e o trabalho exploratrio (idem, p. 55).
Nesta linha de pensamento, Vasconcelos (idem) lembra, ainda, que o estudo da
OCDE (2006) alerta para o perigo de uma escolarizao precoce das crianas,
aconselhando a [manter] as caractersticas de uma educao de infncia que tome como
ponto de partida o jogo e a expresso livre da criana (pp. 56-57), de forma a manter as
caratersticas prprias deste etapa educativa. Por isso, considera-se importante:
Colocar o bem-estar, o desenvolvimento e aprendizagem no centro do trabalho
em educao e infncia, ao mesmo tempo que se respeita a inteligncia da
criana e as suas estratgias naturais de aprendizagem, introduzindo as crianas
aos valores democrticos da sociedade (idem, p. 55).
Por outro lado, considerando um trabalho realizado por Peter Moss (2006), a
autora (idem) lembra que este introduz a ideia de que o jardim-de-infncia, deve ser
um lugar de encontro e dilogo entre cidados (p. 57), tendo em vista uma prtica
democrtica, a qual necessita da partilha de um conjunto de valores, como: Respeito
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pela diversidade; reconhecimento da existncia de mltiplas perspetivas; favorecer a
curiosidade, a incerteza e a subjetividade; pensamento crtico e um trabalho sistemtico
de documentao pedaggica.
Estas dimenses no podem deixar de constituir um importante desafio para ns,
conscientes que estamos da rdua tarefa que representa concretizar um processo pautado
por estes princpios, mas tambm do valor formativo que assume a sua promoo. Tanto
mais que, como alerta tambm Vasconcelos (2007b), num outro documento:
O jardim-de-infncia, formando as crianas a nvel pessoal e social, educando o
seu sentido tico e esttico, prepara-as para uma efetiva prtica de cidadania:
aprendem a importncia do respeito, como difcil negociar diferentes pontos de
vista mantendo a amizade, aprendem acerca da diversidade e da igualdade de
oportunidades, da paridade entre sexos, da diversidade de culturas, da
importncia de cuidar do ambiente e da sade, interiorizando um sentido de
responsabilidade social (p.113).
Releva-se, neste sentido, a importncia de proporcionar s crianas
oportunidades e recursos para poderem realizar experincias que envolvam esse tipo de
vivncias. Esse processo pressupe que a construo de saberes ocorre da implicao
pessoal e do relacionamento com os outros, tanto adultos como crianas, no quadro de
uma corresponsabilizao pela sua prpria aprendizagem e a dos outros.
Destaca-se a importncia de sustentar a ao educativa na indagao e na
participao ativa e efetiva de todos os intervenientes, orientando-a para o dilogo com
o meio que nos rodeia.
Assim, deve valorizar-se o relacionamento reflexivo com a famlia das crianas,
no sentido da partilha de informaes e cooperao no projeto formativo que, ao nvel
do grupo e instituio, se pretende promover.
Importa considerar que, como relevam as OCEPE (ME/DEB, 1997) e o Perfil
especfico de desempenho profissional do educador de infncia5, importante promover
o desenvolvimento de um currculo integrado, no qual sejam tomadas em considerao
as diferentes reas e domnios de contedo curricular, aspeto que nos merecer maior
desenvolvimento no ponto que se segue. Merece atender, tambm, as verdadeiras
aprendizagens so as que ficam para a vida, que ajudam cada um a mudar como pessoa
e a progredir, relacionando-se, portanto, com o seu desenvolvimento intelectual, tico e
emocional.
5 Decreto lei n 241, de 30 de agosto, de 2001.
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2.2. As Orientaes Curriculares: Relanando o olhar sobre as reas de contedo
As reas de contedo previstas nas Orientaes Curriculares e as Metas de
Aprendizagem para a Educao pr-escolar so entendidas como formas de pensar e
organizar o trabalho do educador e as experincias de aprendizagem a desenvolver com
as crianas. Como se refere nas OCEPE (ME/DEB, 1997) a sua organizao tem por
base as reas do desenvolvimento socio-afetivo, motor e cognitivo, no quadro de uma
formao global da criana e de atividades que tm a ver com as possibilidades
oferecidas pelo espao educativo, relevando formas diversas de articulao.
Considerando o importante suporte que as reas de contedo representam para a
orientao e reflexo da nossa interveno educativa importa que, de uma forma
resumida, faamos uma breve abordagem s dimenses curriculares de cada uma,
nomeadamente s reas de formao pessoal e social, expresso e comunicao e de
conhecimento do mundo.
A rea de Formao Pessoal e Social entendida como uma dimenso,
transversal e integradora, para a qual devero contribuir as outras diferentes
componentes curriculares e refere-se a um processo que deve favorecer a aquisio do
esprito crtico e a interiorizao de valores espirituais, estticos, morais e cvicos (p.
51), de modo a permitir s crianas tornarem-se em cidados conscientes, solidrios e
autnomos, capacitando-os para a resoluo de problemas de vida. Nesta perspetiva
surge acentuada a importncia de promover aprendizagens que se relacionam com a
identidade, autoestima, autonomia, cooperao, convivncia democrtica e exerccio da
cidadania.
Sendo na famlia e no meio sociocultural prximo que as crianas iniciam as
experincias de desenvolvimento pessoal e social, importa ter em conta que a educao
de infncia facilita a sua integrao num contexto educativo mais alargado, no qual
pode interagir com outros adultos e crianas que tm, possivelmente, valores e
perspetivas diferentes das suas, constituindo-se como um contexto favorvel tomada
de conscincia de si prprios e dos outros. Importa ter em conta que, como se refere nas
OCEPE (ME/DEB, 1997), as relaes e interaes que o educador estabelece com cada
criana e com o grupo, a forma como apoia as relaes e interaes entre as crianas no
grupo, so o suporte dessa educao (p. 52).
A rea de Expresso e Comunicao, como se referem nas Orientaes
Curriculares (ME/DEB,1997) engloba as aprendizagens relacionadas com o
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desenvolvimento psicomotor e simblico que determinam a compreenso e o
progressivo domnio de diferentes formas de comunicao (p. 56). Esta rea divide-se
em trs domnios: domnio das expresses motora, dramtica, plstica e musical;
domnio da linguagem oral e abordagem escrita e o domnio da matemtica.
Todos estes domnios esto relacionados entre si e apontam para a aprendizagem
de cdigos que so meios de relao, de recolha de informao e sensibilizao esttica
e que permitem criana representar o seu mundo interior e o mundo que a rodeia. Por
se tratar de formas de comunicao, estes domnios apelam para a perceo do mundo, a
sensibilizao esttica, a utilizao de materiais e tcnicas como meio de criar
oportunidades para pensarem e para construrem cadeias de conceitos que lhes
permitam organizar os saberes (Leito et al., 1997).
Ao nvel da linguagem oral e abordagem escrita, de acordo com Hohmann e
Weikart (2009) as crianas de idade pr-escolar esto muito motivadas para comunicar
com os outros atravs da conversao [e] apreciam participar em altos voos literrios
como escrever e ler atravs de formas muito prprias (p. 522). Da o importante
desafio que se coloca ao educador para propiciar-lhes ambientes instigadores
expresso e interao verbal. Requer-se que as crianas usufruam de oportunidades para
alargarem o seu vocabulrio, construrem frases corretas e mais complexas, permitindo
um progressivo domnio da linguagem.
As OCEPE (ME/DEB,1997) salientam a importncia de proporcionar s
crianas o contacto com diversos tipos de texto escrito, levando-as a compreender a
necessidade e as funes da escrita, bem como a desenvolver a sensibilidade esttica e a
partilhar sentimentos e emoes.
As novas tecnologias da informao e comunicao so um meio de
comunicao com que as crianas contactam diariamente. Cada vez mais, fazem parte
do nosso dia-a-dia e, por essa razo, devemos valoriz-las no processo de aprendizagem
pr-escolar.
No que se refere ao domnio da matemtica, de acentuar que na idade pr-
escolar a construo de noes matemticas fundamenta-se na vivncia do espao e do
tempo, tendo como ponto de partida as atividades espontneas e ldicas da criana. a
partir da conscincia da sua posio e deslocao no espao, bem como da relao e
manipulao de objetos que a criana pode desenvolver muitas noes matemticas,
como: longe/perto, dentro/fora/entre, aberto/fechado, reconhecer, representar,
diferenciar e nomear diferentes formas, classificar, seriar, ordenar, formar padres e
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construir o conceito de nmero. O desenvolvimento da capacidade de pensamento
atravs destas experincias , segundo Zabalza (1998), crucial para a aprendizagem
futura.
Quanto ao domnio das expresses, podem diferenciar-se quatro vertentes:
expresso motora, expresso dramtica, expresso plstica e expresso musical, cada
uma com a sua especificidade prpria, mas que se completam mutuamente. Como se
refere nas OCEPE (ME/DEB, 1997):
O domnio das diferentes formas de expresso, implica diversificar as situaes e
experincias de aprendizagem, de modo a que a criana v dominando e
utilizando o seu corpo e contactando com diferentes materiais que poder
explorar, manipular e transformar de forma a tomar conscincia de si prprio na
relao com os objectos (p.57).
No que diz respeito Expresso motora, importa considerar que medida que a
criana cresce vai desenvolvendo a motricidade, comea a gatinhar, a andar e a correr,
pelo que devemos proporcionar s crianas ocasies para exercitarem as suas
competncias motoras, quer em termos de motricidade global quer de motricidade fina,
recorrendo a jogos e materiais diversificados. Como sublinham Hohmann e Weikart
(2009) numa abordagem educacional baseada no conceito aprendizagem activa e na
importncia da construo do conhecimento efectuada pela criana, o movimento
constitui um elemento essencial da experincia de aprendizagem (p. 625). Trata-se de
ideias que procuramos ter em conta na nossa ao e, por conseguinte, que nos levam a
valorizar os jogos de movimento na nossa ao, na sua relao com outras linguagens
expressivas, como a dramtica, a musical, a plstica e a oral.
No que se refere expresso dramtica, importa considerar que as crianas
gostam e criam situaes de faz de conta com muita facilidade, utilizando e atribuindo
aos objetos diferentes significados. Como afirmam Hohmann e Weikart (2009) atravs
da imitao e do faz de conta as crianas organizam aquilo que compreendem e ganham
sentido de mestria e controlo sobre os acontecimentos que testemunharam ou nos quais
tomaram parte (p. 494). , ainda, de considerar que cada criana cria formas nicas
de fazer de conta e de construir smbolos, de uma forma que para si fazem sentido.
Importa que os adultos apoiem e encorajem as crianas a implicarem-se em jogos
dramticos e a criarem os seus prprios smbolos e textos narrativos, para o que se
requer valorizar os tempos de trabalho nas reas da sala e refletir sobre a qualidade e
diversidade dos materiais que existem para poderem facilitar as suas representaes.
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A expresso plstica implica que as crianas controlem a motricidade fina, que
promovam a imaginao e as possibilidades de expresso (ME/DEB, 1997). Devem
proporcionar-se s crianas experincias de aprendizagem com uma grande variedade
de materiais e instrumentos, de modo a permitir-lhes alargar a imaginao e as
possibilidades da expresso. Como sublinham Godinho e Brito (2010), na educao pr-
escolar a expresso plstica deve combinar experincias em torno da explorao e
descoberta (criao), da utilizao de tcnicas (execuo) e do contacto com diferentes
formas de manifestaes artsticas (apreciao) (p. 11).
No que diz respeito expresso musical, importa considerar que assenta num
trabalho de explorao de sons e ritmos que as crianas vo aprendendo a identificar e a
produzir, tendo por base, como se refere nas OCEPE (ME/DEB, 1997), diversos
aspetos que caraterizam os sons: intensidade (fortes e fracos), altura (graves e agudos),
timbre (modo de produo), durao (sons longos e curtos), chegando depois audio
interior, ou seja, a capacidade de reproduzir mentalmente fragmentos sonoros (p. 64).
No que se refere educao musical, esta desenvolve-se em torno de cinco mbitos, que
se prendem com o escutar, cantar, danar, tocar e criar.
Relevando a importncia a atribuir expresso musical, Hohmann e Weikart
(2009), lembram que ouvir msica, mover-se ao seu som e fazer msica so
experincias vitais que permitem s crianas expressar-se e participar nos rituais das
suas comunidades (p. 656). Atravs de sons e ritmos a criana produz e explora
espontaneamente o que vai aprendendo.
Sintetizando as ideias apontadas em relao rea de expresso e comunicao,
importa relevar a importncia de as crianas se envolverem num ambiente que
possibilite promover as diferentes linguagens, quer seja na sua forma oral, escrita e
criativa, dimenses a que ao longo da nossa prtica pedaggica, procurmos atender,
como ainda teremos, no ponto 3 deste trabalho, ocasio de explicitar melhor.
Em relao rea de Conhecimento do Mundo, importa considerar que esta
abarca o incio das aprendizagens das diferentes cincias naturais e humanas, no sentido
do desenvolvimento de competncias essenciais para a estruturao de um pensamento
cientfico cada vez mais elaborado, que permita s crianas compreender, interpretar,
orientar-se e integrar-se no mundo que as rodeia. Conforme as OCEPE
(ME/DEB,1997), esta rea enraza-se na curiosidade natural da criana e no seu desejo
de saber e compreender porqu (p. 79). Essa curiosidade fomentada e alargada na
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educao pr-escolar atravs de oportunidades de contactar com novas situaes
simultaneamente ocasies de descoberta e explorao do mundo (p.79).
A rea do Conhecimento do Mundo encarada como uma sensibilizao s
cincias e que aponta para a introduo a aspetos relativos a diferentes domnios do
conhecimento humano: a histria, a sociologia, a geografia, a fsica, a biologiaque,
mesmo elementares e adequados a crianas destas idades, devero corresponder sempre
a um grande rigor cientfico (ME/DEB,1997, pp.80-81).
Alguns destes domnios esto, tambm, diretamente relacionados com a rea de
Formao Pessoal e Social e a de Expresso e Comunicao, possibilitando s crianas
edificarem conhecimentos de forma integrada acerca do mundo, dos outros e de si
mesmas.
Importa no esquecer que, desde muito cedo, a criana comea a contactar com
situaes e objetos repletos de cincia, como por exemplo, encher um balo, ao brincar
na banheira com brinquedos que flutuam, ao empurrar, puxar, atirar e levantar objetos,
entre outros (Martins et al., 2009). atravs destas aes com os objetos, que a criana
constri as primeiras aprendizagens. Quando as crianas chegam ao pr-escolar j tm
algumas explicaes para diversos acontecimentos que nem sempre esto de acordo
com o conhecimento cientfico da atualidade, mas que, para elas, fazem sentido e, por
isso, difcil mud-las (idem). Como tal, relevante as crianas comearem, desde cedo
a envolver-se em experincias de aprendizagem relacionadas com as cincias,
incentivando-as e ajudando-as a descobrir mtodos ou estratgias que facilitem a
observao e descoberta.
Martins et al. (2009) sublinham que a educao em cincias, nos primeiros anos,
estimula e desenvolve as ideias e interesses das crianas, contribuindo para uma
imagem positiva e reflexiva face s cincias. Os autores (idem) relevam ainda que este
tipo de aprendizagens facilita uma melhor perceo de conceitos em outros nveis de
ensino, impulsiona a antecipao de pensar crtica e cientificamente, favorece o respeito
pelo que se observa e a preocupao com o meio ambiente.
Tendo como suporte estes propsitos, desenvolvemos experincias de
aprendizagem diversas, algumas das quais descrevemos neste relatrio, no prximo
ponto.
Considerando as diferentes reas e domnios de contedo referidos, sublinha-se a
importncia de, tal como as Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997) e Metas de
aprendizagem (ME, 2010) sublinham, que devemos privilegiar uma abordagem que
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favorea a construo articulada do saber e, por conseguinte, enveredar por uma
abordagem integrada e globalizante.
2.3. Perspetivas pedaggicas
A opo por uma perspetiva pedaggica pressupe o questionamento sobre
teorias e prticas que podero ajudar-nos a construir um ambiente educativo
comprometido com o desenvolvimento de respostas que favoream o bem-estar e
progresso das crianas e dos contextos em que se integram e de ns prprios.
Nesta linha de pensamento releva-se, como defende Oliveira-Formosinho
(2007a), a importncia de mobilizar ideias que apontem para uma pedagogia
transformativa que permita valorizar a ao e os saberes de todos, crianas e adultos no
processo formativo.
Segundo a autora (idem) podem caraterizar-se duas perspetiva pedaggicas em
que os modos de interveno contrastam, assumindo uma matriz pedaggica
transmissiva e outra uma matriz participativa.
A perspetiva pedaggica transmissiva, tal como a designao deixa perceber,
apoia-se na transmisso cultural e valoriza a estimulao ambiental exterior criana.
Os objetivos educacionais so alcanados socialmente, de acordo com o previamente
definido. O educador de infncia que desenvolve a sua ao educativa dentro desta
perspetiva planifica, com antecipao, um currculo, diferenciando reas de contedo
por componentes, numa ordenao de realizao, que vai do mais simples para o mais
complexo. Os alunos so considerados passivos, necessitando motivao extrnseca e
sensvel ao reforo (Skinner, citado por Fosnot, 1996). A preocupao central a
organizao do currculo sequencial, bem estruturado, e a determinao do modo como
iro avaliar, reforar e motivar a criana. O progresso das crianas avaliado atravs da
medio de resultados observveis.
A perspetiva pedagogia participativa, assume uma forma educacional alternativa
anterior, que assenta nos processos de desenvolvimento das crianas, nas suas etapas
de crescimento. Esta perspetiva v as crianas como construtoras ativas e que, como
refere Fosnot (1996) d significados, interpretando a experincia por meio de
estruturas cognitivas que so resultantes de maturao (p. 25).
Nesta conceo, ao educador de infncia que cabe o papel de organizar o
ambiente educativo enriquecido e ajustado do ponto de vista do desenvolvimento das
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crianas. A avaliao efetuada em funo dos limites de desenvolvimento e o
currculo decomposto em termos das suas necessidades cognitivas, sendo, moldado ao
estdio de desenvolvimento destes (Krogh & Slentz, 2001). Citando Kolberg e Mayer,
Oliveira-Formosinho (1998) aponta que esta perspectiva no tem fundamentao
terica clara que permita a prossecuo de objectivos educacionais especficos (p.123).
2.4. Modelos Curriculares em Educao de Infncia
Segundo Spodeck e Brown (2002) um modelo curricular uma representao
ideal de premissas tericas, polticas e administrativas e componentes pedaggicas de
um contexto que visa obter um determinado resultado educativo (p. 194). Baseando-
nos em diferentes teorias, podemos entender que o modelo curricular estipula um
conjunto de recursos e de estratgias que facultam a adequao, bem como a
mobilizao dos saberes fundamentais necessrios na aprendizagem das crianas.
Para Oliveira-Formosinho (2007b) a adopo de um modelo pedaggico pelas
educadoras um factor de sustentao da sua prxis. A autora acrescenta dizendo que
o facto de o Estado definir linhas curriculares no contraditria com esta adopo,
pois a definio do estado diz respeito s aprendizagens mnimas obrigatrias, no s
dimenses curriculares nem aos dispositivos pedaggicos, pois no compete aos estados
arbitrar questes cientficas nem dirimir entre propostas pedaggicas. (p.40)
Entre os modelos curriculares que se inscrevem na pedagogia participativa
evidenciam-se o modelo High/Scope (Hohmann e Weikart, 2009), o modelo Escola
Moderna (Niza, 2007) e o modelo Reggio Emilia (Malaguzzi, 2008). Importa que
faamos, ainda que de uma forma resumida, uma abordagem a cada um destes modelos.
No que se refere ao modelo curricular High/Scope a partir de meados da
dcada de 80 que comea a surgir, no nosso pas, interesse por este modelo.
O currculo situa-se no quadro de uma perspetiva desenvolvimentista, tendo
vindo a evoluir para uma perspetiva socio-construtivista. Comeou por fundamentar-se
na teoria de Piaget e Erikson, mas veio a integrar outras perspetivas, como a de Dewey,
Bruner e Vygostky.
Privilegia a metodologia de aprendizagem por descoberta, da resoluo de
problemas e de gesto partilhada. O processo de aprendizagem visto como interativo,
centrado na aprendizagem pela ao, uma vez que considera que o desenvolvimento e o
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conhecimento se vo construindo pelo sujeito a partir das suas interaes com o mundo
que o rodeia, ou seja, atravs da ao e da experimentao.
A preocupao central do modelo a construo intelectual da autonomia da
criana (Hohmann & Weikart, 2009; Oliveira-Formosinho, 2007b). Os elementos
estruturantes desse modelo so o espao, a rotina diria e as interaes (adulto-criana,
criana-criana e adulto-adulto), numa lgica que coloque a criana no centro da
construo da sua autonomia. Estes elementos funcionam como fatores facilitadores e
promotores da mesma.
Proporcionar criana o envolvimento ativo com pessoas e ideias e proporcionar
atividades que lhes permitam explorar de forma natural os diferentes espaos e materiais
a melhor forma de tornar as vivncias dirias das crianas em aprendizagens
significativas. portanto, um modelo centrado na criana, nas suas exploraes e no
desenvolvimento de experincias-chave (Hohman & Weikart, 2009).
O conhecimento no emerge dos objetos ou das crianas, mas das interaes que
se estabelecem entre a criana e esses objetos (Piaget, 1976). A aprendizagem ativa que
este modelo defende depende, sobretudo, da interao positiva entre os adultos e as
crianas. Pressupe-se que os adultos apoiem as conversas e brincadeiras das crianas,
que as escutem com ateno, que faam os comentrios e observaes que considerem
pertinentes, devendo encoraj-las a envolverem-se em experincias educativas,
ajudando-as a aprender, a fazer escolhas e a resolver problemas. Desta forma, a criana
sentir-se- mais confiante e com liberdade para manifestar os seus pensamentos e
sentimentos.
No que se refere ao espao de aprendizagem (sala de atividades), este deve ser
organizado em reas bem definidas e diferenciadas, de modo a integrar uma grande
variedade de materiais e a proporcionarem oportunidades de aprendizagem e de
relacionamento entre todas as crianas. Como salientam Hohmann e Weikart (2009)
num contexto de aprendizagem ativa as crianas necessitam de espaos que sejam
planeados e equipados de forma a que essa aprendizagem seja efectuada (p. 161)
Para que as experincias das crianas possam ser variadas, os materiais e
objetos sua volta tambm o devero ser. As diferentes reas contm materiais
facilmente acessveis que as crianas possam escolher para depois usarem conforme o
que tinham planeado, para levar a cabo as suas brincadeiras e jogos. A criana dever-se-
sentir desafiada a tocar, a experimentar, a ouvir, a cheirar e a saborear, em
segurana fsica e emocional.
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Quando a criana termina a tarefa que realizou, arruma devidamente os
materiais que utilizou no lugar. Para que isto acontea, necessrio que todos os
materiais se encontrem devidamente etiquetados, visveis e acessveis, o que permitir
criana uma maior facilidade de arrumao. Esta organizao do espao e materiais
facilita a proposta de atividades por parte do educador e, sobretudo, promove a escolha
da criana. O tempo de planeamento, permite a iniciativa da criana, em qualquer
momento, seja o da realizao de um plano, seja o da resoluo de um problema, seja o
da colaborao com outros num pequeno projeto.
O espao fsico entendido como um meio fundamental de aprendizagem que
deve exigir do educador investigao e grande investimento, no seu arranjo e
equipamento. A organizao do espao permite usufruir de um ambiente mais arrumado
e organizado e, ao mesmo tempo, constitui uma forma de passar mensagens implcitas
s crianas. dada preferncia aos materiais simples que possam ter vrias funes,
como por exemplo os do dia-a-dia. As cores da instituio so tambm discretas. Os
armrios, as mesas e as paredes so neutros, de preferncia da cor da madeira para
transmitirem criana um ambiente familiar calmo, com pouca estimulao visual.
Um espao educacional estruturado nestes moldes torna-se condio necessria
para que a aprendizagem ativa que nele emerge, seja um suporte central das
aprendizagens curriculares.
Segundo Oliveira Formosinho (2007b) a organizao de um espao fsico que
responda criana e a criao de estilos de interao que revelem respeito pela criana
tm de fazer-se no quadro de coisas reais. Essas coisas reais so os interesses e as
necessidades das crianas. De facto, no parece que possam restar dvidas sobre a
centralidade destas preocupaes no mbito do programa High-Scope (p. 77)
No que se refere rotina diria, embora a gesto do tempo seja pensada pelo
adulto, tem que ser progressivamente construda pela criana. O adulto no pode alterar
a rotina diria todos os dias, mas utilizar o tempo de cada dia para prestar servios
educativos criana.
Assim, estabelece-se um fluir do tempo dirio, que permite criana apropriar-
se do mesmo, permitindo-lhe tornar-se autnoma e independente do adulto. A rotina
diria estvel e, portanto, previsvel para a criana. A criana sabe o que a espera,
conhece o tempo de rotina em que est no momento, conhece as finalidades desse
tempo e, por isso, no precisa de ficar ansiosa, nem de se preocupar, pois sabe que
existem momentos para diferentes atividades.
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Este conhecimento , simultaneamente, muitas coisas, entre elas, o
conhecimento do antes, do agora e do depois. A previsibilidade da sequncia dos
tempos de rotina contribui para a segurana e independncia da criana, estas, em
conjugao com as possibilidades educacionais diferenciadas de cada tempo, permitem
escolhas, decises, aes, tal como permitem diferentes tipos de interao e sustentam a
comunicao.
A rotina diria e o ambiente educacional assim estruturados, so um organizador
duplo de ao do educador, principalmente, porque se criam condies estruturais para a
criana ser independente, ativa, autnoma, facilitando, assim, ao educador uma
utilizao cooperada do poder.
Todos os dias, os adultos fazem um plano de uma rotina que apoiar a
aprendizagem ativa da cada criana. Os adultos ficam a saber o que as crianas
pretendem fazer (processo planear-fazer-rever) questionando-as. Depois, as crianas
pem em prtica aquilo que planearam, e cabe ao adulto incentiv-las a rever as suas
experincias. Isto no significa que elas tenham que contar de forma oral todos os
passos que deram dentro da rea. A criana pode fazer uma reviso da sua experincia e
do que acha que aprendeu, atravs de um simples desenho. Por outro lado, alm dos
planos individuais, podem criar-se pequenos grupos numa sala, devendo o educador
encorajar as crianas a explorar e a experimentar novos materiais. Quando se trabalha
em grande grupo pode optar-se por atividades de msica e de movimento e de jogo
cooperativo (incentivando assim a coeso de grupo).
A avaliao realizada atravs de vrios instrumentos de avaliao, prprios do
modelo. So instrumentos rigorosos e complementares, permitem que a avaliao seja
feita mediante um registo dirio das observaes feitas. Essas observaes so
registadas em papel, fotografia ou em gravao de voz e de imagem e, posteriormente,
analisadas, tanto pelos educadores como pelo psiclogo.
O modelo curricular Reggio Emilia baseia-se nas relaes, interaes e
cooperao, onde o educador procura criar um ambiente agradvel e familiar, no qual,
as crianas, as famlias e os educadores se sintam como em casa. Segundo Lino (2007)
um dos pilares do modelo Reggio Emilia o sentimento e a vivncia de
comunidade educativa, onde os professores e as famlias constituem uma equipa
de trabalho, cooperando e colaborando para conseguir um atendimento de
melhor qualidade para as crianas. A aprendizagem processa-se de forma
bilateral e recproca entre as crianas professores e famlias, em que todos
aprendem com todos (p. 95).
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Trata-se de um modelo que prima pela valorizao do outro e que d primazia
escuta atenta da criana. Valoriza-se uma pedagogia de escuta (Lino, 2007), pois,
escutando que se valoriza e respeita o outro, estando atento s suas diferenas e de ser
capaz de as aceitar, conhecer e legitimar. Por isso, a escuta requer uma profunda
abertura mudana e no significa perder o poder, significa multiplicar o poder,
enriquecendo aquele que escuta e o que escutado (p. 110).
O papel do professor o de criar um contexto educacional de conforto,
confiana e motivao, no qual as teorias e a investigao das crianas so escutadas e
legitimadas. Neste contexto, privilegia-se o ouvir (no s com os ouvidos, mas com
todos os sentidos) e o falar, d-se prioridade ao que a criana diz em detrimento do que
o professor fala e expe. A criana vista como ativa, possuidora de conhecimentos e
competncias, criativa e produtora de cultura.
No modelo Reggio Emilia procura-se, como sublinha Lino (2007) retomando a
ideia de Rinaldi (1998):
promover as relaes, as interaes, a comunicao entre os trs protagonistas
do processo educativo as crianas, os professores, os pais e a comunidade em
geral. Acredita-se que todo o conhecimento emerge de uma construo pessoal e
social, onde a criana tem um papel activo na sua socializao co construda
com o grupo de pares e com os adultos (p. 102).
As crianas so estimuladas a explorar o ambiente, expressando-se, usando
diversas formas de linguagem ou modelos de expresso, o que significa usar diferentes
tipos de palavras, desenhos, movimentos, pintura, moldagem, msica e jogos
dramticos. Atravs destas mltiplas formas de expresso a criana pode representar a
realidade que a rodeia e o seu conhecimento fsico e social.
A documentao assume um papel importante, no modelo Reggio Emilia, pois
atravs desta as crianas podem com facilidade partilhar as suas experincias,
favorecendo as relaes entre educadores crianas e famlias.
A organizao do espao resulta, tambm, de um trabalho de cooperao e
colaborao, em que todos os intervenientes, no processo educativo, devem
complementar e partilhar esforos e tarefas. Deste modo, o espao cuidadosamente
planeado por educadores, pedagogos, artistas plsticos, pais e arquitetos.
No que se refere organizao do espao fsico, nas escolas que seguem o
modelo Reggio Emlia existe um espao comum que a piazza e sua volta encontram-
se dispostas as trs salas de atividades. Junto de cada sala existe um miniatelier de apoio
aos projetos que vo surgindo. Comum a toda a escola existe tambm uma biblioteca
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com computadores, um arquivo, um atelier, uma sala para guardar materiais, uma
cozinha, um refeitrio e vrias casas de banho.
Os espaos comuns (piazza, biblioteca, atelier, arquivo, refeitrio) permitem s
crianas e adultos estabelecer interaes, partilhando assim experincias, ideias,
conhecimento, espaos e materiais.
As salas esto divididas por reas. Para essa diviso so utilizadas divisrias
baixas de forma a permitir criana e ao educador uma visibilidade global da sala e das
diferentes possibilidades que o espao lhe oferece.
O espao exterior entendido como uma continuidade do espao interior. Este
deve ter caractersticas naturais, zonas com sombras, solo irregular e terreno uniforme,
zonas com areia, gua e materiais que permitam realizar experincias lgico-
matemticas. Devem existir tambm estruturas para brincar e realizar atividades
especficas, trepar, saltar, escorregar, baloiar, ultrapassar obstculos, etc. No espao
exterior (na entrada) devem existir cadeiras para que os pais possam sentar-se e
conversar uns com os outros, com as crianas e com os professores. O aspeto deste
espao deve ser agradvel estando cuidadosamente decorado, existindo harmonia entre
os materiais e equipamentos e as cores, procurando favorecer o desenvolvimento social
e cognitivo das crianas.
Nas escolas Reggio Emilia a esttica fundamental, as paredes e mobilirios tm
cores neutras, as janelas so grandes, as portas ou paredes de vidro, para facilitar a
comunicao entre os diferentes espaos, os materiais de diferentes cores e diferentes
texturas. Nas paredes existem placares onde so expostos os trabalhos das crianas,
esses podem estar acompanhados de fotografias e textos que documentam as etapas do
processo das atividades educativas das crianas. Como frisa Gandini (1999) um
modo de transmitir aos pais, aos colegas e aos visitantes o potencial das crianas, suas
capacidades em desenvolvimento e o que ocorre na escola (pp.155-156)
O espao sem dvida muito importante sendo mesmo considerado como o 3.
educador, j que na sala devem existir dois (idem). O espao deve ser flexvel, estar
aberto s mudanas, de modo a dar resposta s necessidades dos que o ocupam.
No que se refere organizao do tempo nestas escolas, no se pode considerar
que existe uma rotina diria, o que existe um tempo determinado para cada uma das
atividades, ou seja o tempo organizado de forma a proporcionar s crianas
oportunidades de estabele