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> vista interna Apartamentos do Parque Guinle - 1943 Rio de Janeiro Lucio Costa “Brasília reinventada” - ilustrações especulativas do Relatório do Plano Piloto de Brasília por Lucio Costa Projeto de Diplomação UniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - 07/2013 Orientador _ Professor Gustavo Cantuaria R.A. 21086890 Manoella Otero Carvalheiro 1/4 Introdução: Nas Entrelinhas do Relatório do Plano Piloto O projeto proposto visa restabelecer o “espírito do lugar” imaginado por Lucio Costa para a cidade de Brasília. O modelo brasiliense seria como uma tentativa do humanista Lucio Costa de acelerar o processo de integração no Brasil, ilustrando uma cidade justa na “coexistência de classes” além de “aprazível”. A nova capital poderia ser considerada um modelo de cidade à frente do seu tempo, portanto mutável, acompanhando as evoluções sociais. Considerando a obra escrita e construída, bem como o próprio percurso de Lucio Costa, é possível afirmar que o Plano Piloto de Brasília é, ao mesmo tempo, o resgate das raízes genuinamente brasileiras, miscigenadas, e a incursão no futuro da nação. Uma cidade representativa do passado e do futuro do país. No entanto, analisando, 50 anos depois, a cidade construída, com duas gerações de experiência, podemos estimar os acertos e incompatibilidades na evolução das formas e dos hábitos. E, porque não? Prosseguir a experiência adequando as formas às novas demandas, sempre ensaiando. Sempre à frente do nosso tempo. Observando as obras de Lucio Costa, é possível desvendar igualmente esboços do vernacular brasileiro nos projetos modernistas. A peculiaridade do movimento no Brasil é a procura de formação de uma tradição construtiva autêntica, incorporando a influência histórica-cultural, contrariamente à rejeição do passado na Europa. Nota-se em suas obras elementos do perfil construtivo brasileiro: barro-armado, elementos vazados, telhado cerâmico inclinado, azulejos em fachada, formas puras, mas ritmadas com textura e detalhes, dispositivos de sombreamento, ventilação e iluminação naturais. Ideia inovadora das formas de habitar a cidade, o Relatório do Plano Piloto, em leitura especulativa, apresenta ainda diversos conceitos precursores subentendidos- como sustentabilidade, ecologia e inclusão social. Conceitos hoje instrumentados de forma a poder integrar o modelo, o mesmo pode ser atualizado e se fixar à frente do tempo presente: tendência de retorno à natureza, bem-estar e saúde. Relatório do Plano Piloto - Lucio Costa “16. Quanto ao problema residencial, ocorreu a solução de uma seqüência contínua de grandes quadras dispostas em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada, árvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espécie vegetal, com chão gramado e uma cortina suplementar interminente de arbustos e folhagens, a fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posição do observador, o conteúdo das quadras visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem.. Disposição que apresenta a dupla vantagem de garantir a ordenação urbanística mesmo quando varie a densidade, categoria, padrão ou qualidade arquitetônica dos edifícios e de oferecer aos moradores extensas faixas sombreadas para passeio e lazer, independentemente das áreas livres previstas no interior das próprias quadras.”

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Page 1: Pranchas A3

> vista interna

Apartamentos do Parque Guinle - 1943Rio de Janeiro

Lucio Costa

“Brasília reinventada” - ilustrações especulativas do Relatório do Plano Piloto de Brasília por Lucio Costa

Projeto de DiplomaçãoUniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - 07/2013Orientador _ Professor Gustavo Cantuaria

R.A. 21086890 Manoella Otero Carvalheiro

1/4 Introdução: Nas Entrelinhas do Relatório do Plano Piloto

O projeto proposto visa restabelecer o “espírito do lugar” imaginado por Lucio Costa para a cidade de Brasília. O modelo brasiliense seria como uma tentativa do humanista Lucio Costa de acelerar o processo de integração no Brasil, ilustrando uma cidade justa na “coexistência de classes” além de “aprazível”. A nova capital poderia ser considerada um modelo de cidade à frente do seu tempo, portanto mutável, acompanhando as evoluções sociais.

Considerando a obra escrita e construída, bem como o próprio percurso de Lucio Costa, é possível afirmar que o Plano Piloto de Brasília é, ao mesmo tempo, o resgate das raízes genuinamente brasileiras, miscigenadas, e a incursão no futuro da nação. Uma cidade representativa do passado e do futuro do país.

No entanto, analisando, 50 anos depois, a cidade construída, com duas gerações de experiência, podemos estimar os acertos e incompatibilidades na evolução das formas e dos hábitos. E, porque não? Prosseguir a experiência adequando as formas às novas demandas, sempre ensaiando. Sempre à frente do nosso tempo.

Observando as obras de Lucio Costa, é possível desvendar igualmente esboços do vernacular brasileiro nos projetos modernistas. A peculiaridade do movimento no Brasil é a procura de formação de uma tradição construtiva autêntica, incorporando a influência histórica-cultural, contrariamente à rejeição do passado na Europa.

Nota-se em suas obras elementos do perfil construtivo brasileiro: barro-armado, elementos vazados, telhado cerâmico inclinado, azulejos em fachada, formas puras, mas ritmadas com textura e detalhes, dispositivos de sombreamento, ventilação e iluminação naturais.

Ideia inovadora das formas de habitar a cidade, o Relatório do Plano Piloto, em leitura especulativa, apresenta ainda diversos conceitos precursores subentendidos- como sustentabilidade, ecologia e inclusão social. Conceitos hoje instrumentados de forma a poder integrar o modelo, o mesmo pode ser atualizado e se fixar à frente do tempo presente: tendência de retorno à natureza, bem-estar e saúde.

Relatório do Plano Piloto - Lucio Costa“16. Quanto ao problema residencial, ocorreu a solução de uma seqüência contínua de grandes quadras dispostas em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada, árvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espécie vegetal,com chão gramado e uma cortina suplementar interminente de arbustos e folhagens, a fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posição do observador, o conteúdo das quadras visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem.. Disposição que apresenta a dupla vantagem de garantir a ordenação urbanística mesmo quando varie a densidade, categoria, padrão ou qualidade arquitetônica dos edifícios e de oferecer aos moradores extensas faixas sombreadas para passeio e lazer, independentemente das áreas livres previstas no interior das próprias quadras.”

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SQS210

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SQS412 411

SQS410 409

Escola das Águas*

Piscinas de Vizinhança + Castelos-d’Água = captação e purif icação de águas pluviais para consumo > distr ibuição

Fazendas Verticais = central de compostagem e extrativismo urbano + plantio (pequeno porte) + mercado

Centrais de Energ ia Limpa = centro de pesquisa* + reciclagem + geradores e acumuladores > distr ibuição

Arena (atividades ao ar-livre) = arquibancadas + plataforma-palco + tr ilhas para esportes radicais

Centros de Esportes = campo de futebol com arquibancadas + g inásio comunitário + sede com salas (dança, luta...)

Mercados Cobertos = comércios ambulantes (diurno e noturno) - feirantes horti-f ruti + serviço lava-carros + lanches

Projeto de DiplomaçãoUniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - 07/2013Orientador _ Professor Gustavo Cantuaria

R.A. 21086890 Manoella Otero Carvalheiro

O projeto aborda 3 escalas no âmbito de uma Unidade de Vizinhança, demonstrando como seria possível a atualização do modelo de cidade ideal nas interações entre meio-ambiente e contexto urbano (escala macro), arquitetura e sistemas de autonomia (escala intermediária) e detalhes,materiais e mobiliário urbano (escala micro).

2/4 Escala urbana:Entre-Quadras produtivas eautonomia das Unidades de Vizinhança

Em escala urbana, o projeto de atualização é focado na qualificação das entre-quadras, ainda hoje pouco ou mal aproveitadas. A entre-quadra é reapresentada como elemento federador do bairro, oferecendo lazer comunitário e instituições funcionais que viabilizam a autonomia de sistemas dentro do Plano Piloto: integração social, conscientização, geração de energia, captação/tratamento/reúso de água, gestão de resíduos. A intervenção nas entre-quadras também potencializa mais volume nos transportes, promovendo novas atividades no eixo residencial. Além de marcar ritmo e trazer identidades variadas aos bairros, as entre-quadras se diferenciam por disposição pública ou coletiva de acordo com sua posição na malha urbana (externa/eixos ou interna/quadras).

O novo modelo de sistematização racional das redes urbanas é mais compatível à baixa densidade da região e aplica técnicas ecológicas de permacultura e eco-construção de forma a fechar os ciclos de consumo dentro dos bairros. Esta alteração radical implica em gestão de infrastrutura e serviços básicos diferente, menos onerosa por compatibilização de escala. O serviço passaria da execução à fiscalização - os agentes antes baseados em ETEs, furnas, etc. (eliminadas no novo sistema) se tornariam controladores, verificando as redes fechadas das Unidades de Vizinhança.

A Unidade de Vizinhança estudada é determinada pelo tema desenvolvido na entre-quadra requalificada: energia limpa. A trama pedestre arterial, mais aberta ao público e diretamente relacionada à entre-quadra, recebe praças temáticas “conscientizantes” mais contemplativas ou intertivas: fontes de água de reúso, academia ao ar-livre cinética (aparelhos ativam luzes - mais intensas quanto mais frequentada), praça de jogos eólica (mesas com cobertura catavento iluminada) e parquinho de fontes (bombeadas pelos brinquedos).

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Projeto de DiplomaçãoUniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - 07/2013Orientador _ Professor Gustavo Cantuaria

R.A. 21086890 Manoella Otero Carvalheiro

> malhas de circulação independentes = preferência pedestre marcada

3/4 Escala arquitetônica: super-quadra das águas e esferas de convivência

Nesta escala de sistema se trabalha a gestão de conflitos de fluxos (pedestre X viário) e a interação de esferas de intimidade. A super-quadra é um espaço partilhado, onde zonas públicas, coletivas e privadas devem co-existir em harmonia, com limites, mas sem barreiras.

O paisagismo funcional realiza o tratamento de água (bacias de evapo-transpiração e zonas de raízes) e cria situações de conscientização com praças interativas energéticas e de fontes (públicas e coletivas).

O tratamento das vias reduz a velocidade dos veículos - vias sinuosas, estreitas, pavimento de blocos intertravados vegetalizados = trepidação. Os caminhos pedestres, em malha própria, gerenciam fluxos e conflitos, garantindo rapidez, acessibilidade, segurança e preferência ao pedestre, enquanto canaliza o fluxo externo garantindo a privacidade das áreas coletivas e privadas.

+ centros de convivência = praça central 411/412 (gazebo e aleia) e equipamento 411 (pavilhão, salões e churrasqueiras)

- espaços qualificados: paisagismo funcional, parquinho interativo e centro de convivência

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F

MLR

SALAA: 15,675 m2

BANHOA: 4,232 m2

COZINHAA: 9,432 m2

QUARTOA: 10,016 m2

ESCRIT.A: 8,499 m2

ÁREAA: 1,714 m2

> Pavilhão em estrutura de bambu > Painéis perfurados com tela(visual, filtro e projeção)

Projeto de DiplomaçãoUniCEUB - Arquitetura e Urbanismo - 07/2013Orientador _ Professor Gustavo Cantuaria

R.A. 21086890 Manoella Otero Carvalheiro

4/4 Escala humana: “eco-vernacular” e renovação do bloco JK

Novo JK:+ limites sem barreiras+ ac`essibilidade+ conforto térmico+ privacidade+ cobertura de lazer

Novo JK:+ segurança/acesso direto+ conforto térmico+ economia(água e energia)

A percepção da arquitetura se dá através da interação com o espaço e seus detalhes, de como se acomoda a dinâmica da vida dentro deles. A atenção ao conforto de uso será marcada pelos aspectos ecológico e vernacular, de acordo com a tendência atual.

Os edifícios JK têm autoria de Niemeyer e foram parte das primeira s construções de Brasília. Edificados em 1958, sofreram reformas internas importantes ao longo dos anos, aumentando o número de moradores em detrimento das áreas de serviço . O projeto de extensão demonstra uma vocação patrimonial de preservar os prédios, provavelmente destinados à demolição, através de sua readequação e valorização.

Considerando o caráter “econômico” da quadra, o princípio da intervenção é valorizar a quadra com dispositivos de racionalização que permitam grande economia em compensação. Os equipamentos são partilhados em 23 condomínios e de pouca manutenção.

Os materiais utilizados exemplificam novas técnicas e experimentações: estrutura de bambu, tijolos de solo-cimento e janelas de chapa metálica perfurada com tela no pavilhão do centro de convivência; estrutura wood-frame com bambu e OSB, elementos vazados para ventilação natural e brises de chapa de alumínio perfurado reciclado na extensão dos blocos JK.