prado, a. l. - kamasutra - versão em português - 032012

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  O KAMASUTRA O Tratado Hindu do Amor e do Sexo Do original em espanhol Mallanâga Vâtsyâyana 2011

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O Kamasutra, obra atemporal de Mallanâga Vâtsyâyana é ao mesmo tempo uma leitura alegre e instigadora. Instigadora porque, escrito há mais de mil e oitocentos anos, pinta um retrato com todos os matizes de uma sociedade exótica e maravilhosa. A cultura hindu é, no mínimo, curiosa... Alegre, porque trata de um tema tabu até os nossos dias (pelo menos na sua forma textual) e, fazendo isso no transcurso dos Séculos, acrescenta pitorescas pitadas de “nossa!”.“Kama” é o significado hindu para amor, prazer, satisfação, enquanto que o “sutra” quer dizer tratado onde se encontram reunidas, sob a forma de aforismos as regras dos rituais, da moral e da vida quotidiana dos hindus. Daí que o trabalho do nosso mestre quer se referir a um tratado sobre a arte do amor e do prazer. Enquanto isso insere informações importantes e interessantes sobre a fascinante cultura e a sociedade hindu e mais aprofundadamente na casta brâmane. É uma boa oportunidade parauma revisitação histórica e social que tem sido explorado sob o aspecto, muitas vezes da excentricidade, para dizer o mínimo.

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KAMASUTRA O Tratado Hindu do Amor e do Sexo

Do original em espanhol

Mallanâga Vâtsyâyana

2011

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 2 

APRESENTAÇÃO PARA ESTAVERSÃO BRASILEIRA

O Kamasutra, obra atemporal de Mallanâga Vâtsyâyana é ao mesmo tempo uma leitura alegree instigadora.

Instigadora porque, escrito há mais de mil e oitocentos anos, pinta um retrato com todos osmatizes de uma sociedade exótica e maravilhosa. A cultura hindu é, no mínimo, curiosa...

Alegre, porque trata de um tema tabu até os nossos dias (pelo menos na sua forma textual) e,fazendo isso no transcurso dos Séculos, acrescenta pitorescas pitadas de “nossa!”.

“Kama” é o significado hindu para amor, prazer, satisfação, enquanto que o “sutra” quer dizertratado onde se encontram reunidas, sob a forma de aforismos as regras dos rituais, da moral eda vida quotidiana dos hindus. Daí que o trabalho do nosso mestre quer se referir a um tratadosobre a arte do amor e do prazer.

Enquanto isso insere informações importantes e interessantes sobre a fascinante cultura e asociedade hindu e mais aprofundadamente na casta brâmane. É uma boa oportunidade para

uma revisitação histórica e social que tem sido explorado sob o aspecto, muitas vezes da ex-centricidade, para dizer o mínimo.

É muito comum nesta obra os olhos ficarem inebriados com as imagens e o cérebro se perderum pouco da mensagem. Isto é sabido por todos. Nesta versão, tomamos o cuidado de descar-tarmos as imagens (mantendo apenas umas poucas para reverenciar monumentos hindus) enos detivemos no texto. Assim, muito mais que os olhos, apurem a mente, e boa viagem.

Divirtam-se! E se puderem ampliar seus horizontes, melhor ainda; afinal, a intenção do nossomestre Vâtsyâyana, ainda no Século III era exatamente esta: lembrar o que a natureza ensinou

e o homem tenta melhor ao longo do tempo.

Alexandre L.PradoPara esta versão em português  

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 3 

INTRODUÇÃO

enhuma obra literária da Índia clássica e, pensando bem, nenhuma outra de uma civi-lização tão remota teve a sorte, no Ocidente, de ser tão célebre como o Kamasutra, olivro de arte erótico escrito por Mallanâga Vâtsyâyana no Século III d.C. O próprio

termo Kamasutra tem assumido, em linguagem comum, o sinônimo de sensualidade, que nãodeixa lugar a dúvidas ou ao acaso, e às vezes, soa excessivo e extravagante, para não dizerinverossímil. Esta fama acompanha o Tratado Sobre o Amor – assim poderíamos traduzir otítulo em sânscrito – criado a partir de fartas descrições contidas na segunda parte do livro,das posturas amorosas, beijos, abraços, arranhões, mordidas e atos tais, que, sem dúvida, so-

am um tanto surpreendentes para um leitor ocidental, um pouco longe da sua concepção doque seja usual, comum, ou permitido em um tema tão delicado, e principalmente quando co-locado de forma textual. Por seus efeitos causados pela distância cultural o texto foi criandocúmplices, com traduções especializadas com acesso fácil, ou mesmo desatualizadas ou aindanegligenciadas das suas reais intenções. De qualquer forma, da surpresa ao juízo apressado háuma distância muito tênue, e por isto, para a maioria das pessoas, o Kamasutra foi convertidoem um livro se não pornográfico, pelo menos “picante”, luxurioso, e imoral.

Quão longe foi este sábio, Vâtsyâyana, com intenção tão nobre e séria!

Em primeiro lugar, o Kamasutra não se ocupa apenas das práticas eróticas, mas da totalidadedas relações entre homem e mulher. Impõe-se aqui uma advertência: A Índia nunca entendeuestas relações em termos de uma dedicação afável, sentimental, recíproca1; toda a concepçãoindiana de amor deriva do desejo sexual, da atração física, que não se degrada nunca a umplano inferior. O sexo está, naturalmente, submetido a normas e a vetos – inclusive muitomais rigorosos que os vigentes no ocidente – de ordem social e religiosa, mas, nem por isso,evoca nenhum rechaço nem remete ao pecado. Reconhecido como expressão de uma exigên-cia natural, ele é considerado entre as necessidades básicas: “as ações relacionadas com oAmor têm a mesma natureza que a alimentação, já que contribuem para a sustentação do cor-

po”. Em uma visão deste tipo, não surpreende que os abraços dos amantes sejam consideradoso prazer supremo nesta terra, e que, ao contrário, o amor insatisfeito evoque abismos de so-frimento.

O Kamasutra é um tratado com intenções científicas e educativas, criado para ensinar aoshomens e às mulheres o comportamento que devem ter frente ao desejo, e que indicações de-

 1 Não deve ser fácil, para uma mulher ocidental, viver num país cheio de crenças, superstições e rituais, onde ela, por exemplo, só podepronunciar o nome do marido no dia do casamento e, jamais, poderá chamar sua sogra pelo nome. // Uma moça (ou menina) não pode esco-lher seu pretendente, pois o compromisso da união é com a casta a que pertence e não com seus sentimentos. E, para protegê-la contra aesperteza do coração, nada melhor que lhe providenciar um casamento, o quanto mais jovem possível. Por isso vemos tantas crianças viúvas,

sofrendo o martírio do afastamento social). – Editado a partir de http://www.almacarioca.net/as-mulheres-na-cultura-indiana-lu-dias/. (NT)

N

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 4 

vem seguir para conseguir uma vida amorosa feliz. A função da sensualidade está definida noconjunto de relações entre os sexos, examinadas em minúcias: os princípios éticos, as preli-minares básicas, a conquista, o casamento, as relações com mulheres distintas em uma épocade poligamia, a prostituição, o adultério. Vâtsyâyana não se cala às coisas que desaprova. Ao

multiplicarem-se as situações, estudam-se os estados de ânimo e as reações dos amantes comuma profunda base psicológica; advertem-se sobre as implicações sociais e as consequênciasdas decisões tomadas, não se levando em consideração que certos costumes e aspirações po-dem corresponder a realidades distintas e específicas. Com seu estilo expositivo, o Kamasutra quer colocar-se entre os textos “oficiais” do seu tempo, expressão de uma honorável e ponde-rada doutrina: a forma de exortação realizada mediante uma série de aforismos (sutra é umaforismo para “prosa”) é uma das privilegiadas entre os tratados em sânscrito mais antigos. Abase da composição de uma obra com este estilo encontra-se não apenas em uma visão bene-volente da sensualidade, mas também em uma sólida análise da posição que esta deve ocuparna vida humana.

Desde as primeiras palavras, Mallanâga Vâtsyâyana alude à doutrina clássica e fundamentalque regula a ética brâmane2 e mais tarde a hindu: enquanto está nesta vida, o homem está o-brigado a cultivar um determinado grupo de valores definidos “finalidades da vida” - ( puru-

sartha), ou “triada” (trivarga) por antonomásia3 -, que devem contribuir ainda mais com obem estar de si próprio e dos outros. Estes grupos de valores são o dharma, o artha e o kama.Para estes termos, e em particular para o primeiro, as línguas ocidentais não têm umacorrespondência exata, o que significa que fizemos a tradução do Kamasutra utilizando a LeiSagrada, o Útil e o Amor. Convém ter claro que os significados subtendidos são

especificamente hindus. Com dharma se indica a ordem cósmica; no final da vida, aadequação do homem a esta ordem, ou seja, a observância das normas rituais e das leis,compreendendo o respeito aos direitos e deveres da classe social à qual se pertença. Emresumo, trata-se da uniformização ativa com tudo o que consideram justo do ponto de vistaético e legal. O artha expressa, ao contrário, a finalidade concreta pela qual vivemos, e emespecial, pelos interesses materiais e pela riqueza. Mas que nenhum outro, a tutela da artha édever do soberano, cujo bem estar coincide com o do reino e o dos seus súditos – em outraspalavras, o artha é o seu dharma pessoal. Com kama se designa, fundamentalmente, o desejo,como alguém pode realmente orgulhar-se pela capacidade de dar prazer e satisfação; o que

mais apetece e produz a satisfação suprema é, naturalmente, o prazer erótico, e que, neste

2 O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo. Não há um fundador desta religião, ao contrário de tantas outras - no Islamismo,por exemplo, temos Maomé, e no Budismo, o próprio Buda. O Hinduísmo, na verdade, se compõe de toda uma intersecção de valores,filosofias e crenças, derivadas de diferentes povos e culturas. // Para compreender o Hinduísmo, é fundamental situá-lo historicamente. Porvolta de 3 000 a.C., a Índia era habitada por povos que cultuavam o Pai do Universo, numa espécie de fé monoteísta de castas -, começa aperder o sentido, pois existe um clamor ético por igualdade e solidariedade. // Tradicionalmente os hindus têm sido divididos em quatrocastas: os Brâmanes, os Kchatriyas, os Vaicyas e os Sudras. Os que não pertencem a nenhuma destas castas são chamados “os intocáveis”!Lutas tribais entre castas são muito comum. // A casta Brâmane é considerada a mais elevada, a mais inteligente, superior. O casamento,associações íntimas, negócios ou sociedades entre membros de castas diferentes são totalmente proibidos. Editado a partir dehttp://www.solbrilhando.com.br/Sociedade/Religiao/Hinduismo.htm. (NT)

3 Antonomásia: Figura que consiste em substituir o nome próprio por um nome comum ou por uma expressão que o dê a entender e vice-

versa: O poeta das pombas (para significar Raimundo Correa), Um Rui Barbosa (para designar uma pessoa de grande talento).http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=antonom%E1sia&CP=14411&typeToSearchRadio=exactly&pagRadio=50. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 5 

caso, o prazer erótico seja entendido quase como um sinônimo de satisfação. Desta forma, asensualidade ocupa o primeiro lugar na visão hindu do amor.

Até agora se falou dos homens. E que lugar ocupam as mulheres? Na sociedade brâmane, sua

vida transcorre por caminhos muito estreitos [como vimos em nota de rodapé anterior (NT)].Relegadas a uma posição de constante inferioridade, geralmente consideradas seres perigosose impuros, a ortodoxia as exclui da educação, da ciência sagrada e da participação no ritovédico, relegando-as aos estratos mais inferiores da coletividade. Elas não são mais que oprolongamento de um homem, do qual dependem sempre e ao qual seguem presas seguindo-oem seu destino: “pai de minhas filhas, então um marido indispensável”. Este tem que serhonrado como um deus; em particular, a ele se devem a procriação e o cuidade dos filhoshomens, e apenas estes são importantes para ele já que um dia cumprirão os ritos necessáriospara mantê-lo “no céu”. Mas, precisamente nesta função, começa a aparecer para a mulher apossibilidade de resgate. Se a mulher é capaz de, sem se retrair, aceitar este ideal de dedicaçãoe fidelidade absoluta, é redimida da infâmia e da iniquidade que lhe é cobradacongênitamente, tornando-se, então, um ser sublime. É dever do dharma de uma mulher, aouní-la de forma indissolúvel a um homem, colocá-la a serviço do Amor. Isto vale para todosos casos; se renuncia à missão de esposa, pode esperar reconhecimento social apenas comoprostituta.

Poderiamos pensar que, ao se considerarem seres inferiores, no âmbito erótico, às mulherescaberia apenas o papel de objeto no prazer masculino. Mas, por uma espécie de milagrecultural, acontece exatamente o contrário; dado que o amor é sua missão reconhecida, na

sensualidade ela adquire igualdade absoluta com o homem. De outro lado, como se poderiadar a verdadeira satisfação do desejo, que por si mesmo é um valor que temos que buscar,sem a participação e o envolvimento de ambos? A literatura sânscrita não cessa de propor àcompanheira, como modelo, um parceiro íntimo desinteressadamente satisfeito, caso contrarioeste irá reivindicar os seus direitos. Para Mallanâga Vâtsyâyana este é um ponto forte. Muitasdas partes do Kamasutra, em particular a seção sobre o amor físico, resultariamabsolutamente inconcebíveis se no plano erótico as mulheres não fossem consideradas, paratodos os efeitos, em igualdade de condições com os homens.

O amor, portanto, tem como base a sensualidade, ocupa um posto reconhecido na vida dohomem e é a essência da mulher. Na satisfação do amor ambos podem reclamar as mesmasexigências. Por isto, na literatura normativa brâmane, onde como regra o interlocutor ésomente o macho, o Kamasutra se apresenta como uma clamorosa exceção: é o único tratadoque se dirige, abertamente, também a um público feminino, e as convida, tanto às nobresquanto às cortesãs, a estudá-lo com o máximo proveito.

Uma última observação: se o amor se compreende a partir do prazer recíproco, não nos podesurpreender a ausência da sensualidade e, como fim, da procriação. Embora seja óbvio que osfilhos nasçam em obediência ao kama, estes pertencem, na verdade, à esfera do dharma. Doponto de vista religioso e social, ao mundo dos deveres.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 6 

O kama na India brâmane é um ingrediente da ética humana estabelecido oficialmente; eMallanâga Vâtsyâyana, ao decidir-se a escrever este tratado, não alterou a sua ótica individualde avaliação e inspiração, tal como, por exemplo, Ovídio em Ars Amatoria

4. Em relação como poeta latino, um autor da antiga Índia mantém laços distintos com sua obra e com a cultura

na qual se move. Um sintoma disso é a dificuldade em definir datas, que, por regra,acompanha a literatura sânscrita, sobretudo dos autores mais famosos, e que tem uma soluçãoparcial em termos de cronologia relativa; alem disso, há que se considerar, sempre, o mistérioque sempre ronda esses autores. Mallanâga Vâtsyâyana não é uma exceção: não se conhececom certeza nenhum dado sobre sua vida. E sobre sua atuação no Século III d.C. é o resultadode minuciosas referências, obra de estudos modernos. Traços característicos da Índia,concepção mítica da história e a debilidade da noção de indivíduo excluem, quase sempre, osdados biográficos em benefício de citações fictícias, carregadas de simbolismos. Mas isso nãonos parece tão grave: se uma civilização rejeita peremptoriamente certos tipos de informaçãoé porque essas informações nãos lhes parecem indispensáveis. Baseado em pressupostosdespersonalizantes, a cultura indiana tende a mover-se em ondas objetivas, onde cada voz seliga ao pensamente que a precede para reelaborá-lo; e pretende que nos enfrentemos com elaem termos de história das ideias e não da mera cronologia e da inovação revolucionária doindivíduo. Mallanâga Vâtsyâyana se coloca, consciente e orgulhoso, nesta tradição. Quandoproduziu sua obra, o bramanismo tinha redigido os textos fundamentais sobre o dharma esobre o artha, ou seja, o Dharmasastra atribuido a Manu e o Arthasastra atribuido a Kautilya.Vatyayana copia, evoca e imita distintas seções do tratado anterior, que toma como modelotanto no espírito quanto na estrutura e estilo. Mas sobre o kama, como enfatiza o autor doKamasutra desde o primeiro parágrafo, exibe uma literatura nova, florescente, que ele toma

como fonte e justificativa.

Mallanâga Vâtsyâyana vincula a teoria da origem e finalidade da vida a fins celestiais,atribuindo a elaboração desta teoria a Prajapati, deus criador da literatura védica. Osensinamentos do Senhor supremo teriam logo se subdividido e sido copiados por três autoresdistintos: cada um deles teria se ocupado de expor sobre uma finalidade: Manu, o dharma,Brhaspati, o artha e Nandin, servo do deus Siva, o kama. Manu, considera que o primeirohomem pela mitologia, é o presumido autor de um tratado sobre o dharma. Contudo, esse,bem como os autores dos outros tratados incluem-se entre os personagens que não se podem

considerar fidedignos para efeitos de dados biográficos. A extensão que o Kamasutra atribuiao tratado de Nandin (mil capítulos) é demasiado ampla para poder ser atribuída comoexpressão da verdade ou obra real.

A situação muda quando Mallanâga Vâtsyâyana decide ocupar-se de uma das finalidades davida: o kama. As névoas da lenda se desvanecem. Svetaketu, que trabalhou no resumo daampla obra de Nandim, parece ter vivido realmente, e, sobretudo, parece que a sua autoria foi

4   A Arte de Amar (" Ars Amatoria", em latim) é uma série de três livros do poeta romano Ovídio. Escrita em versos, tem como tema a arte dasedução. Os primeiros dois volumes da série, escritos entre 1 a.C. e 1 d.C., falam 'sobre conquistar os corações das mulheres' e 'como manter

a amada', respectivamente. O terceiro livro, dirigido às mulheres e ensinando-as como atrair os homens, foi escrito depois. A publicação da Arte de Amar pode ter sido ao menos em parte responsável por Ovídio ter sido banido de Roma pelo imperador Augusto. A celebração doamor extraconjugal pode ter sido tomada como uma afronta intolerável a um regime que promovia os 'valores da família'.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ars_Amatoria. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 7 

atribuída a um tratado sobre o Amor. Mallanâga Vâtsyâyana, no transcurso de sua obra,convalida, inclusive com citações, a existências desses predecessores a partir da obra deSvetaketu. 

A consistência histórica e os laços com o Kamasutra são mais chamativos quando passamosao personagem Babhravya del Pancala, que se apresenta como alguem que resume o livro deSvetaketu. Na época de Mallanâga Vâtsyâyana, o texto de Babhravya era a fonte maisautorizada sobre o kama. A partir deste tratado foi que o autor do Kamasutra tirou ainspiração fundamental e o material básico da sua obra, e, sobretudo, a subdivisão do tratadoem sete seções, cada uma dedicada a um tema específico. A obra de Babhravya, todavia muitoextensa, foi reformulada por sete autores que tentaram sistematizar cada uma das sete seçõesindividualmente, separando-a do restante da obra. Dattaka, por convite das cortesãs da cidademais importante da Índia daquela época, Pataliputra (hoje Patna), sistematizou o capítulosobre a prostituição; Carayana trabalhou com a parte geral; Suvarnanabha com a uniãoerótica; Ghotakamukha com as relações com as donzelas; Gonardiya dedicou-se a sistematizara seção que tratou sobre as mulheres casadas; Gonikaputra dedicou-se às esposas dos outros eKucumara às doutrinas secretas. Esta é a situação que se apresentava antes de MallanâgaVâtsyâyana. E, para ele, havia chegado o momento de colocar ordem no caos. Muito grandepara um estudo rápido e de fácil compreensão, o tratado de Babhravya corria o risco de seresquecido em um baú de recordações, inclusive por culpa de imitações fragmentadas do seutrabalho; sobre este trabalho, sua utilidade fica limitada, pois cada um é confrontado com umaparate de um tema amplo; por este motivo Mallanâga Vâtsyâyana decide compor seuKamasutra “resumindo toda a matéria em um pequeno livro”.

Desde as primeiras linhas, Mallanâga Vâtsyâyana não se apresenta como um autor original,senão como um reelaborador, em termos da atualização de doutrinas que, em sua época, erammais antigas. A prova disso está entre aspas, ou melhor, em paráfrases, que aparecemcontinuamente nesta obra, do pensamento dos seus predecessores desde Svetaketu. Quandonão for adicionado qualquer comentário - e é o meio mais comum, de acordo com umprocedimento recorrente do estilo em sânscrito -, é porque o texto é compartilhado na suatotalidade. Críticas mais frequentes vêm da parte de invocados "professores não-identificados", talvez apenas em razão da necessidade de discussão. Para entrar no debate e

colocar a sua visão pessoal, cita-se Mallanâga Vâtsyâyana na terceira pessoa; quando essaforma não existir, quer dizer que o autor apenas tenta melhorar o que já foi dito à época, emtextos de Babhravya, da sua escola e dos seus sete epígonos5. O autor do Kamasutra emergecomo o continuador de uma efervescente tradição literária, entre os que não querem cortar asraízes de suas veneráveis doutrinas e sempre reclamam a autoridade de todos os quenobremente os precedem.

 Aurélia Nicásio

5 Epígonos: Representante da geração seguinte. Seguidor, discípulo de um grande mestre nas letras, nas ciências, nas artes.http://www.dicio.com.br/epigono/. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 8 

PARTES

APRESENTAÇÃO A ESTA VERSÃO BRASILEIRA 2

INTRODUÇÃO 3

I – PARTE GERAL 12

1 – Resumo do tratado 122 – Realização das três finalidades da vida 133 – Exposição do saber 164 – A vida do homem elegante 195 – Exame das amantes, dos amigos e da função dos alcoviteiros 22

II – UNIÃO ERÓTICA 25

1 – Descrição do prazer segundo as medidas, a duração e o temperamento 25a – Distintas classes do amor 28

2 – Análise dos abraços 293 – Variedades do beijo 31

4 – Diferentes formas de arranhar 335 – Regras para morder 35

a – Costumes locais 366 – Diversas maneiras de deitar-se6 38

a – Uniões extraordinárias 397 – Utilização de tapas. Como recorrer a gemidos apropriados 408 – O amor como homem. As iniciativas do homem durante a união 429 – O amor com a boca 4510 – Início e final da união 48

11 – As diferentes classes de união 50a – As disputas de amor 50

III – RELAÇÕES COM AS DONZELAS 53

1 – Normas para pedir em casamento 53a – Comprovação das relações 55

2 – Como inspirar confiança às donzelas7 563 – Como se iniciar com uma donzela 59

6 Deitar-se: aqui utilizado como neologismo para “fazer sexo” ou “fazer sexo deitado”

7 Para o Kamasutra a donzela é a mulher de até dezesseis anos de idade.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 9 

a – Atitudes e expressões 614 – Cortejo por parte do homem, sem intermediários 62

a – A conquista do homem eleito 64b – O que uma donzela obtém do cortejo 64

5 – Diferentes formas de contrair matrimônio 66

IV – MULHERES CASADAS 69

a – O comportamento da mulher quando é a única esposa 69b – Conduta durante as viagens do marido 72

1 – Como deve se comportar a esposa mais velha ante as outras mulheres 73a – Como deve se comportar a esposa mais jovem 74b – A viúva que volta a se casar 74c – A esposa que cai em desgraça 75

d – A vida no harém 76e – As relações do homem com muitas esposas 76

V – AS ESPOSAS DE OUTRO HOMEM 78

1 – A índole da mulher e do homem, e os motivos da rejeição 78a – Os homens que têm sucesso com as mulheres 80b – Mulheres que podem ser conquistadas sem esforço 80

2 – Maneiras de conhecer melhor as mulheres 81a – O namoro 83

3 – Exame da prestação de contas 844 – As funções do alcoviteiro 865 – As aventuras amorosas dos reis e soberanos 906 – O comportamento das mulheres no harém 93

a – Como ser o guardião das esposas 96

VI – A PROSTITUIÇÃO 98

1 – Análise dos amigos, dos homens com os quais pode-se ou não estabe-lecer uma relação e as razões para se estabelecer uma relação

98

a – Como atrair um possível cliente 100

2 – Como é o prazer com um amante 1013 – Métodos para se obter dinheiro 103

a – Como reconhecer um homem desencantado por amor 105b – Como descartar um amante 105

4 – Reconciliação com um amante 1065 – Diferentes tipos de renda 1096 – Perdas e ganhos: Exame das consequências e diferentes categorias deprostitutas

112

VII – AS DOUTRINAS SECRETAS 1171 – Como ser atraente 117

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 10 

a – Como vencer 118b – Estimulantes da virilidade 119

2 – Como reacender o desejo que se apaga 121a – Como engrossar o pênis 122

b – Simpatias 122

NOMES BOTÂNICOS CITADOS NO TEXTO 126LOCAIS DA ÍNDIA CITADOS NO TEXTO 128MAPA DA ÍNDIA ATUAL 130 

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 11 

I - PARTE GERAL

1 – RESUMO DO TRATADO

econheça-se os méritos da Lei Sagrada, do Útil e do Amor, pois disto fala o tratado8; ereconheça-se também os méritos dos mestres que expuseram estas doutrinas, pelarelação que estas têm com este tratado.

De fato, no princípio, Prayapati9, depois de haver criado os seres vivos, propôs, em cem milcapítulos, as normas para a consecução das três finalidades da vida. Normas estas, que são,para as seres vivos, o fundamento da sua existência. Mais tarde, Manu Svayambhuva acres-centou a sua parte à Lei Sagrada; Brhaspasti separou o que se referia ao Útil e Nandim, servode Mahadeva, separou, dentre os mil capítulos, aqueles que tratavam do Amor10.

Logo Svetaketu, filho de Uddalaka11, reduziu este tratado a quinhentos capítulos e, por suavez Babhravya, de Pañcala, reduziu a obra a cento e cinquenta capítulos, divididos em seteseções: parte geral; união erótica; a relação com as mulheres donzelas; as mulheres casadas;as esposas dos outros; a prostituição; e por último, as doutrinas secretas.

Deste resumo, Dattaka tratou, em separado, na sexta seção, das prostitutas, a pedido das cor-tesãs de Pataliputra. Carayana, seguindo seu exemplo, expôs, em obra separada, a parte geral;Suvarnanabha expôs a parte sobre a união erótica; Ghotakamuka, das relações com as donze-

 8 A Lei Sagrada (dbarma), o Útil (ariba) e o Amor (kama) são as três “finalidades da vida”, geralmente definidos com o nome conjunto detrivarga, que, segundo as doutrinas brâhmanes e logo hindus, cada homem está obrigado a conseguir no curso de sua existência. Os compo-nentes do trivarga estão indissoluvelmente unidos entre si, e por isto Mallanâga Vâtsyâyana, que trata especificamente do kama, não podedeixar de examinar as relações com os demais valores.

9 “Senhor das Criaturas”: é o deus que, desde o início do mundo, deu origem a todos os seres vivos.

10 Prayapati, Manu, Brhaspati e Nandin são seres mitológicos. Svayambhuva significa “filho do que existe por si mesmo”; este Manu é oprimeiro representante da humanidade a quem o criador deu vida. Mahadeva (“Grande Deus”) é Siva, uma das divindades mais importantes

do panteão hindu.11 A partir deste autor, nos encontramos com personagens históricos e tratados sobre o Amor, que parecem ter existido.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 12 

las; Gonadiya, das mulheres casadas; Gonikaputra, das esposas dos outros; e Kucumara, dasdoutrinas secretas12.

E assim, escrita parte por parte, peça por peça, por muitos mestres, a obra de Babhravya caiu

quase em desuso. Chegando-se a este ponto, fragmentado, a obra elaborada por Dattaka e osoutros autores e o texto de Babhravya ficou difícil de ser estudado e entendido dada a sua ex-tensão. Então, se compôs este kamasutra, na forma de um pequeno livro13.

2 – REALIZAÇÃO DAS TRÊS FINALIDADES DA VIDA

homem, cuja vida pode alcançar cem anos, deve distribuir seu tempo e dedicar-se as trêsfinalidades da vida, subordinados entre si, e de tal forma que um não prejudique o outro.

Quando criança, procure adquirir cultura e aspectos ligados ao Útil; se entregue ao Amordurante a juventude, e, na velhice, à Lei Sagrada e à Liberação14. Ou, dada a incerteza da vida,pode dedicar-se a cada uma dessas fases assim que tenha a oportunidade. O período juvenildos estudos, no entanto, deveria durar até o final previsto para a instrução.

Agir conforme a Lei Sagrada consiste em fomentar, segundo as doutrinas, algumas ações,como os sacrifícios aos deuses, que não se cumprem por necessidade, já que não pertencem aeste mundo e não se percebem as vantagens; e ao descartar, sempre segundo as doutrinas, atoscomo alimentar-se de carne15 como costumam fazer, pois pertencem a este mundo, logo per-cebem os resultados. A Lei Sagrada pode ser aprendida nos textos da Revelação16 e tendo

contato com especialistas.

O Útil é procurar cultura, terras, ouro, ganhos, bens materiais, amigos e coisas parecidas esempre aumentar o que houver obtido. Pode-se aprender com o comportamento dos emprega-dos, dos conhecidos, daqueles que conhecem as técnicas dos profissionais e dos comerciantes.

12 Estes autores são conhecidos por outras fontes literárias, à exceção de Suvamanabha, cujo nome (”Umbigo de Ouro”) faz crer em um

pseudônimo; o mesmo que Gonikaputra, que parece um nome desfigurado, onde o “o” representaria um “a” para eliminar um significadodifamatório, ou seja, “filho de uma puta”.

13 O termo sutra (aforismo sintético em prosa) indica a forma literária em que está composta a obra sobre o kama.

14 Refere-se à importante doutrina dos “estágios da vida”, prescrita pelos textos para os que pertencem às três primeiras classes sociais, sobretodos os brâmanes. É correto que um homem passe por um período na sua juventude dedicado aos estudos sagrados ( brahmacarya), onde seobriga à castidade; após isso, se case e seja o cabeça da família (grhastha). Uma vez nascido o filho do seu fiho – seu neto -, pode deixar suacasa e retirar-se para o bosque como um eremita (vanaprastha), dedicando-se aos rituais, à penitência e à meditação; finalmente, já ancião,pode decidir-se por abandonar todos os seus bens terrenos para tornar-se asceta mendicante (sannyasin) e buscar a perfeição espiritual. Acada um desses estados corresponde a busca de um fim específico da vida e uma forma de complementá-los.

15 No tempo de Mallanâga Vâtsyâyana, o vegetarianismo já estava difundido na Índia desde Séculos antes, em sintonia com as doutrinas danão violência. Era, e é, uma prática que segue de forma particular, a classe dos brâmanes, sacerdotes e intelectuais, à qual que pertencia oautor.

16 Por “Revelação” entende-se o corpus dos Veda, os textos sagrados mais antigos da Índia, considerados atemporais pelos profetas e trans-mitidos por eles a toda a humanidade.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 13 

O Amor é atuar de forma que resulte agradável a audição, ao tato, a visão, ao paladar e aoolfato, cada um ao seu modo, todos controlados pela mente unida à alma. Mas, especifica-mente, o Amor é a sensação adequada à alma transbordante de alegria que brota da consciên-cia rica em resultados e relacionada com um contato especial 17. Isto se pode aprender no Ka-

masutra e no contato com as pessoas.

Quando a Lei Sagrada, o Útil e o Amor entram em conflito, o que precede é sempre mais im-portante. O Útil, contudo, é o mais importante para um soberano, porque nele se fundamentao curso regular do mundo; e também para uma prostituta. Assim se conseguem as três finali-dades da vida.

Alguém pode objetar: se a Lei Sagrada não pertence a este mundo, é conveniente a existênciade um tratado que a explique; e esta observação vale também para o Útil, dado que, para va-ler, é necessário que haja um método e este se consegue com um manual. Mas o Amor, pelofato da sua espontaneidade até nos animais, por ser inato, não precisa de um tratado; é a opi-nião de alguns especialistas.

Contudo, como depende da união erótica de um homem e de uma mulher, exige um método,que se consegue com o Kamasutra, diz Vâtsyâyana. Entre os animais, ao contrário, a vidasexual não necessita de métodos, porque as fêmeas não se mantêm escondidas; o acasalamen-to ocorre até a satisfação, durante todo o período do cio, e as uniões não são acompanhadas denenhuma reflexão.

Outros asseguram que não se devem realizar as ações recomendadas pela Lei Sagrada, poisapenas produzem resultados no futuro e que torna essas ações incertas. Quem, se não estátonto, daria a outro o que tem nas mãos? É preferível um pombo hoje que um pavão real ama-nhã; melhor uma moeda de ouro segura que um colar de ouro incerto; é a opinião dos materia-listas18.

Mallanâga Vâtsyâyana diz, ao contrário, que se devem realizar as obras previstas pela LeiSagrada, pois as escrituras não podem suscitar dúvidas; vemos que os sortilégios e os exor-cismos têm existido às vezes. As constelações, a lua, o sol e o conjunto dos planetas parecem

atuar em benefício do mundo; além disso, o curso regular das coisas no mundo está determi-

 

17 Kama, palavra analisada sob diversas conotações. Em primeiro lugar, Mallanâga Vâtsyâyana o define como toda experiência agradável. Apartir desta concepção geral o autor passa a uma segunda, mais específica, onde kama se identifica com o amor erótico. E se poderia parafra-sear assim a definição: se tem kama quando a alma leva o estímulo sensorial ao nível dos órgãos sexuais (“a partir de um estímulo ou contatoespecial”), e vive-se uma experiência real e conciente (no sentido próprio), que é coroada com o prazer do orgasmo (rica em resultados). Opré-requisito para que isto aconteça é a relação entre dois seres humanos sob a influência da paixão, uma vez que isso traz a "alegria" de"consciência", que acontece nos beijos, nas carícias e similares.

18 Os materialistas reduziam toda a realidade a única atividade da matéria; negavam a existência dos deuses, de uma alma transcendente e davida depois da morte, e rechaçavam, naturalmente, a santidade e a autoridade dos Veda. 

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 14 

nado pela observância das normas sobre as classes sociais e sobre os estágios da vida19 e éevidente que a semente que temos nas mãos se planta em função da colheita futura.

Para alguns ainda não se deve tomar como obrigatórias as medidas relacionadas com o Útil.

Benefícios perseguidos com grande esforço podem não chegar nunca, ou podem não serconquistados sem uma busca específica por eles. Uma vez que tudo é obra do destino, elerealmente leva os homens á riqueza ou à pobreza, ao sucesso ou ao fracasso, à felicidade ou àtristeza. O destino transformou Bali20, o destino o destronou; o destino será sempre colocadoem um pedestal. É a argumentação preferida pelos pessimistas e fatalistas21 .

Um método, no entanto, é o fundamento de toda a atividade, porque pressupõe o esforço dohomem. O benefício da segurança, para a maioria, depende de alguns fatores. Um homemocioso não pode depender só da sorte. É a opinião de Mallanâga Vâtsyâyana.

Para alguns, finalmente, não se deve tomar as ações relacionadas ao Amor como elesenfrentam a Lei Sagrada e o Útil, que são as coisas são mais importantes e, portanto, compessoas honestas, podem induzir um homem a ter contatos com pessoas indignas e impuras ecomprometer o seu futuro. Provocam, além disso, negligência, desconfiança e exclusão porparte de outras pessoas. Se ouve muito falar de escravos do Amor, que tiveram final horrível,

 junto dos seus; assim foi com Dandakya, rei dos Bhoja, que por amor violou a filha de umbrâhmane22 terminando arruinado com sua estirpe e o seu reino. E basta pensar no rei dosdeusas com Ahalya, no poderosíssimo Kicaka com Craupadi, em Ravana com Sita, e em

muitos outros, que viveram mais tarde: escravos do Amor, como se pode ver, gravementecastigados23. É o que entendem os defensores do Útil.

19 As classes em que se divide a sociedade hindu, segundo um rígido esquema de finais de época védica, em ordem decrescente deimportância na organização social: brâhmanes (brabmana), os sacerdotes e intelectuais; ksatriya, reis e guerreiros; vaisya, campesinos ecomerciantes; sudra, os empregados de outras classes. Apenas os que pertencem às três primeiras classes são universalmente consideradosarya, “nobres”, enquanto que os sudra ficam excluídos de qualquer participação nos rituais da cultura védica.

20 Trata-se da famosa lenda do demônio Bali, que consegiu tanto poder que ameaçou substiuir Indra, rei dos deuses. Contudo, Vishnuvenceu-o utilizando-se de um estratagema em uma de suas descidas ao mundo. Vishnu apareceu para ele sob a forma de um anão e pediu-lhea concessão de terras em que pudesse cobrir em três etapas. Bali fez a concessão, imaginando que, como anão, não poderia fazer nada.Vishnu se tornou um gigante e em dois passos, assenhorou-se do céu e da terra, abrindo mão do inferno (os três mundos concedidos) para sergovernado por Bali.

21 Os fatalistas provavelmente são os Ajivika, cujas doutrinas fazem depender o curso do mundo exclusivamente do destino, visto comoforça cósmica impessoal. O homem não tem livre arbítrio nem responsabilidade moral pelo curso do mundo.

22 Diz-se que o rei Dandakya ou Dandaka, da linhagem dos Bhoja, teria seduzido a filha do eremita Bhargava. Este, como maldição, teriaenterrado o reino do rei sob uma chuva de areia.

23 Indra, rei dos deuses, seduziu Ahalya, a esposa do sábio eremita Gautama, naquele que foi, sem dúvida, o adultério mais famoso de toda aliteratura sânscrita. Draupadi é a esposa dos cinco irmãos Pandava, protagonistas do Mahabbarata; o guerreiro Kicaka, que colocou armadi-

lhas, para raptar Draupadi, pagou seu gesto com a morte nas mãos de Bhima, um dos cinco irmãos. O rapto de Sita, a virtuosa esposa deRama, perpetrado pelo demoníaco rei Ravana, que foi assassinado, e seu reino, Lanka, caiu devastado, é a trama central da grande epopéiahindu, Ramayana.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 15 

Na realidade, as ações relacionadas com o Amor têm a mesma natureza que a alimentação, jáque contribuem com o sustento do corpo e são fruto da Lei Sagrada e do Útil24. Mas convémfugir às consequências negativas. De fato, não se deixa de colocar as panelas do fogo porquehá mendigos por perto; nem se deixa de semear a terra porque já existem brotos. Esta é a opi-

nião de Mallanâga Vâtsyâyana.

Algumas valorosas estrofes sobre o assunto em questão:

Um homem que se dedique como temos dito, ao Útil, ao Amor e à Lei Sagrada consegue a felicidade sem espinhos, infinita,

tanto aqui na terra como em qualquer outro mundo.

Os sábios se ocupam das ações onde dúvidas não há sobre as consequências,e nas quais se encontram alguma satisfação 

 sem causar prejuízo algum ao Útil.

Que se tome iniciativa que resulte eficaz para realizar as três finalidades da vida,

ou ao menos duas, ou ainda uma; mas não conseguir apenas uma, prejudicando às duas outras.

3 – EXPOSIÇÃO DO SABER

m homem deveria estudar o Kamasutra e as ciências complementares sem roubar otempo do estudo da Lei Sagrada e do Útil e das ciências auxiliares. Uma mulher deve-

ria dedicar-se a esse estudo antes da juventude25

, e uma vez casada, a critério do seumarido.

Alguns sábios sustentam que, partindo da premissa de que as mulheres não entendem os tex-tos científicos, é inútil instruí-las neste livro. Mas, se elas entendem o aspecto prático, é por-que este se baseia em um tratado; é assim que pensa Vâtsyâyana. E não apenas nesta área,mas em todas as áreas. Apenas uns poucos conhecem os textos científicos e, contudo, a práti-

 24 A sensação é que, observando as regras da Lei Sagrada e buscando um bemestar econômico adequado, ser o chefe da família é ter o direitode garantir, por direito divino, o desfrute das alegrias do amor.

25 De acordo com a classificação de um tratado de erotismo posterior (o Ratirahasya), uma mulher é donzela (bala) até os dezesseis anos;dos dezesseis até os trinta anos é taruni (que quer dizer jovem); até os cinqüenta e cinco anos é praudha (madura), e, depois velha (vrddha).

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 16 

ca lhes afeta a todos. Ainda que remotamente, sempre há a possibilidade de haver instruçõesde ordem prática. Existe a gramática, mas, mesmo sem serem gramáticos, os que realizam ossacrifícios, utilizam uha

26  durante os rituais. Existe a astrologia, mas mesmo quem não a do-mina leva a bom termo o compromisso com os dias propícios. O mesmo que os pastores de

cavalos e elefantes, que sabem como cuidá-los sem haver estudado para isso. Pelo fato deexistir um soberano, o povo, que está longe dele, não ignora as leis impostas por ele. É assimque as coisas são.

Na verdade, cortesãs, filhas de reis ou de altos dignatários, ocuparam sua inteligência comeste tratado. Por isso, uma mulher deveria aprender, de forma reservada e através de pessoa deconfiança, sobre os aspectos práticos deste tratado, ou pelo menos uma parte do mesmo.Quando é donzela deve estudar, em segredo sobre as plantas, e sobre as sessenta e quatro artesou ciências complementares que se aplicam ao exercício feminino. Em outros casos, podemser mestres da donzela: a filha da sua ama de leite ou babá, que tenha crescido com ela e quetenha se unido a um homem; ou uma amiga com as mesmas características, com a qual elapossa conversar sem nenhum perigo, ou uma tia materna que tenha a mesma idade que ela;uma velha escrava de total confiança, que ocupe o lugar desta última, ou uma monja mendi-cante que a donzela já conheça, e uma irmã, se se pode confiar nela.

As sessenta e quatro ciências complementares do Kamasutra, que formam suas subdivisõessecundárias27 são as seguintes:

o canto, a música instrumental, a dança, a confecção de adesivos para a testa 28, a criação de

decorações ornamentais com arroz e flores; a decoração com flores; o clareamento dos den-tes; o cuidado e a atenção com a roupa do corpo; trabalhos de incrustação com pedras; ar-rumação de camas; arranjos sonoros usando água; criar jogos com aspersão de água; criartruques surpreendentes; trançar colares de maneiras variadas; fazer diademas e coronitas29;saber fazer seu próprio asseio pessoal; formas diferentes de adornar os lóbulos das orelhas;preparar perfumes; enfeitar a casa; saber a arte da magia; conhecer os remédios de Kucuma-ra; destreza com as mãos; preparar diferentes tipos de verduras, sopas e alimentos sólidos;preparar bebidas, sucos, temperos e licores; trabalhos de costura em tecido; jogos de carre-téis; tocar música com o alaúde e com o tambor; resolver enigmas; escrever sob a forma deestrofes; fazer trava línguas; recitar trechos de livros; conhecer as obras teatrais e os contos;conhecer de memória estrofes de poesias; conhecer diferentes formas de tecer correias e cin-

tas de juncos; fazer trabalhos de artesanato com barro; carpintaria; ter noções de arquitetura;saber distinguir a prata e as pedras preciosas de outros metais e minerais; metalurgia; conhe-cer a cor e os lugares de origem das pedras preciosas; saber aplicar as doutrinas sobre o cui-dado com os árboles

30; preparar peles de carneiro, galos e perdizes; ensinar papagaios e es-torninhos a falar; ser especialista em esfregar com as mãos; dar massagens e pentear cabe-

 26 “Modificação”: Tem lugar quando, em um ritual, se muda um vocábulo para adequá-lo às necessidades do momento.

27 Comumente chamadas “artes”, Mallanâga Vâtsyâyana elenca nesta famosa passagem, técnicas de grande valor intrínseco em conjunto,formando a bagagem cultural da amante perfeita.

28 As mulheres indianas têm o costume de colocar um distintivo decorativo no centro da testa. (NT)

29

Coronita: tipo de bebida. (NT)30 Tipo de árvore. (NT)

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 17 

los; comunicar-se utilizando a mímica; conhecer as diversas linguagens convencionais; falarem dialetos; interpretar os oráculos celestes; decifrar os presságios; conhecer o alfabeto dosdiagramas místicos31; dominar a técnica da memorização; saber recitar um texto em tertú-lias32; compor poesias mentalmente; conhecer o significado das palavras; conhecer a métricada formação de frases; conhecer as normas poéticas; saber imitar outra pessoa; conhecer

técnicas de disfarce com roupas; conhecer os diversos jogos de azar (principalmente o jogode dados); conhecer as brincadeiras de crianças; ser especialista em boas maneiras; ser espe-cialista em estratégias e em exercícios físicos. 

As sessenta e quatro artes de Babhravya são distintas; explicaremos sua utilização, assentadosem argumentos, na seção dedicada à união erótica, já que o amor consiste nestas artes.

Uma prostituta, que se destaca,e tenha um bom caráter, beleza e qualidades,

consegue o título de cortesã e um posto na assembléia pública.

O soberano sempre a respeita,os homens superiores a louvam,

 se lhe desejam, é digna de receber visitas,e é considerada como modelo.

 A princesa e a filha de um alto dignatário  que conheça estas artes 

 submete seu esposo  mesmo que no harém haja mil mulheres.

Por este motivo, embora o marido esteja longe,ou tenha caído em terrível desgraça,

uma mulher pode viver bem com estas ciências em um país estrangeiro.

Um homem especialista nestas artes,espirituoso e sedutor.

31 Os “diagramas místicos”, dedicados a diversas divindades, servem para concentrar as forças espirituais do devoto por motivos religiososou mágicos. Refere-se ao conhecimento das palavras sagradas inscritas nos mesmos, às quais se atribui um poder extraordinário.

32 Tertúlia - Reunião familiar; Agrupamento de amigos; Assembléia literária; Pequena agremiação literária, menos numerosa que as acade-mias e arcádias. Assembléia. (NT) 

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 18 

 mesmo que seja um desconhecido, consegue com facilidade o coração das mulheres.

O êxito no amor se consegue  quando se aprendem estas artes: mas convém utilizá-las ou não,

tendo em conta o lugar o momento.

4 - A VIDA DO HOMEM ELEGANTE

epois de terminar os estudos e converter-se em cabeça da família graças ao patrimô-

nio acumulado com doações, vitórias militares, comércio ou um estipêndio, ou aindarecebido por herança já ganha ou herdada, um homem deve levar vida de elegante33.

Viva em uma capital, em uma cidade, em um bairro ou em um importante centro, onde vivagente de bem. Também pode fazê-lo em outro lugar, de acordo com seus meios decia. Que ele construa uma casa com dois quartos, com água corrente, que tenha um jardimcom árvores e um pátio para trabalhos diversos.

Em um dos quartos trate de colocar uma cama macia, com almofadas em um dos extremos,macia no centro e com uma colcha branca e um peque sofá adicional em um dos cantos. Junto

à cabeceira da cama, um assento de palha (para cumprir com os rituais aos deuses) e umabanqueta. Em cima desta, pomada, uma grinalda, um cesta de cera, um caixa de perfume, fo-lhas de limão e betel34.

Uma escarradeira no chão.

Ainda no quarto, não muito longe da cama, no chão, deve ficar um assento redondo comapoio de cabeça e um uma mesa própria para o jogo de dados e uma outra para outros jogos.A sala deve ter um alaúde, uma mesa de desenho, uma caixa de tintas para desenho, algumas

guirlandas de amaranto

35

amarela.

Fora da casa, viveiros para pássaros domesticados. De um lado um local para trabalhos decarpintaria e outras atividades de entretenimento. No jardim arborizado um balanço confortá-

 33 “Elegante” refere-se a um homem culto e refinado, que dispõe de meios, tempo livre e leva uma vida social ativa.

34 Betel é uma planta trepadeira (espécie de videira), cujas folhas se mastigam junto com pedaços de noz, cal e outras substâncias; perfuma aboca, ajuda a digestão e sacia a fome, produzindo ligeira embriaguez. Como resultado do seu uso, produz salivação vermelho escura, tornan-do necessário o uso de escarradeira.

35 Amaranto - Planta desse gênero, particularmente a espécie Amarantus caudatus, cultivada por sua espiga densa vermelho-carmesim, quese assemelha a uma cauda de raposa. Cor vermelho-púrpura. A.-branco: erva amarantácea, glabra e ereta, que vai a 1 m de altura (Celosia

argentea); também chamada celósia-branca, crista-de-galo, veludo-branco. (NT)

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 19 

vel, à sombra, e um pouco de terra viva, coberto por um caramanchão, propício para o plantiode flores. Esta deve ser a disposição da casa.

O homem elegante deve procurar levantar-se sempre à boa hora e procurar cumprir com suas

obrigações: escovar os dentes, passar uma dose moderada de pomada, de incenso e colocaruma grinalda. Passar um pouco de cera de abelhas e lápis nos lábios. Deve olhar-se no espe-lho e tomar um pouco de betel para perfumar a boca. Logo após, deve iniciar suas ocupações.

Banhe-se todos os dias; a cada dois dias, esfregue-se; a cada três, esfregue-se com uma con-cha de jibia36 do joelho para baixo; a cada quatro, faça a barba, a cada cinco dias ou dez dias(segundo o método), depile as partes íntimas, sem exceções; e, diariamente, remova o suordas axilas.

Alimente-se, pela manhã e à tarde; pela manha e à noite, na opinião de Carayana. Após o caféda manhã, pode se dedicar a ensinar papagaios e estorninhos a falar. Organize rinhas de perdi-zes, galos e carneiros, e dedique-se também a passatempos artísticos. Ocupe-se de relacionar-se bem com o pithamarda, o vita e o vidusaka

37e, logo a seguir, tire um bom descanso. À tar-de, depois de realizar seu asseio pessoal, dedique-se a jogos de tertúlia e, à noite, aos espetá-culos musicais. Ao terminar a noite, com os amigos, em sua casa, bem acomodado e na com-panhia de transbordante e perfumado incenso, deite-se confortavelmente na cama à espera dasmulheres em visitas íntimas. Providencie para que um alcoviteiro de sua confiança vá pesso-almente escolher algumas mulheres ou vá você mesmo cumprir essa enfadonha tarefa. Rece-ba-as (as mulheres) na companhia de amigos com palavras corteses e gentis e com gestos a-

máveis. Preocupe-se pessoalmente para que estas moças – as que lhe venham visitar - nemseus amigos tenham que se importar com as intempéries do mau tempo. Nada os pode pertur-bar nesses momentos de descontração amorosa. Seja atencioso com todos durante todo o tem-po. Utilize-se das várias ocupações possíveis para o dia e para a noite.

Além disso, saiba organizar procissões38, promover encontros em seu círculo de conhecidos,seções de degustação, excursões campestres nos arredores da casa e jogos de grupos de pesso-as. O dia da quinzena ou do mês39 que todos já conheçam dê uma festa com homens encarre-gados da organização no templo de Sarasvati

40. Atores de fora serão contratados para fazer

um espetáculo, e, no dia seguinte, recebam o tratamento e a compensação acordada. A seguir,segundo a vontade, eles podem ficar ou serem dispensados. Se os atores convidados para as

36 Mineral marinho em forma de concha com propriedades adstringentes. (NT)

37 As pessoas que formam a corte (entourage) do homem elegante. (NT)

38 Entendido aqui no sentido de “visitas surpresa à casa de outros ‘homens elegantes’” como forma de estreitar relacionamentos pessoais eamorosos e de seguir ritos dirigidos a divindades. (NT)

39 O mês hindu, que consta de trinta dias lunares, se divide em duas partes: a quinzena chamada escura, com a lua em quarto minguante, quetermina com a lua nova, e a quinzena clara, com a lua em quarto crescente, que acaba com a lua cheia. Este calendário, utilizado mesmo navida religiosa, prevê que alguns dias fixos de ambas as quinzenas sejam reservados para a veneração de uma divindade distinta; como citado,por exemplo, no seguinte comentário: o oitavo dia se dedicará ao culto de Shiva, o quinto a Sarasvati, e assim sucessivamente.

40 A deusa Sarasvati, sempre representada com luminosos vestidos brancos e com um alaúde e um livro entre as mãos, é considerada aprotetora do saber e das artes.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 20 

festividades não comparecerem, deverão ser substituídos por locais. O mesmo vale para asprocissões, com suas normas específicas e para cada uma das divindades.

A tertúlia tem lugar quando homens de cultura, inteligência, caráter, posses econômicas e

idades mais ou menos equivalentes se reúnem com suas amantes na casa de uma destas mu-lheres, em um salão, ou na casa de um deles. Trocam opiniões sobre poesia e arte. Rendemhomenagens àqueles que são brilhantes e queridos pela gente, e formulam-se convites aos quesão muito estimados.

Organizam-se as festas de forma alternativa: uma vez na casa de um, outra vez na casa deoutro. E os homens elegantes convidam as amantes a beberem. Logo, eles bebem madhu,

maireya e asava41

 com petiscos: saladas à base de frutas, verduras e hortaliças amargas, pi-cantes e cítricas. As mesmas bebidas e petiscos consumidos nos passeios.

No início da manhã, os homens irão a cavalo, elegantemente vestidos, companhia das suasamantes e com os seus criados aos passeios. Comem, bebem e passeiam, organizam brigas degalos, perdizes e carneiros, jogos e atividades lúdicas. À tarde, ao voltarem para casa, sempretrazem lembranças dos passeios.

Além disso, os homens elegantes podem se divertir mesmo com a estação do calor, aprovei-tando os locais onde não haja animais para banhar-se em pequenos rios ou lagos na compa-nhia de suas amantes e dos seus amigos.

Diversões nos passeios da sociedade: a noite dos yaksa42, vigília de Kaumudi, a festa da pri-mavera, colher mangas, comer grãos tostados; degustar fibras de lótus; praticar o jogo dasfolhas verdes, jogarem água uns nos outros com canudos, imitar bonecas, o jogo da árvoreúnica de salmali; o dia da cevada; o dia da liteira; a festa do deus Amor; colher flores de Ar-temísia; o carnaval; colher e fazer coroas de flor de asoka; jogo dos galhos de manga; quebrarcanas de açúcar; lutas com flores de kadamba.

Os homens elegantes participam destes e de outros passatempos, universais e locais, distin-guindo-se da gente comum. Se você está sozinho, se comporta em função de suas riquezas;

41 Bebidas inebriantes: o madh era feito, provavelmente, a base de mel, enquanto que o maireya e o asava se obtinham a partir do melaço ede ervas, misturando o primeiro (o maireya) com distintas especiarias e com mel o segundo (o asava).

42 Os yaksa são divindades menores associadas a Kubera, o deus que vigia as fabulosas riquezas que provêm das entranhas da terra, ou seja,minerais, metais e pedras preciosas. A noite que leva o seu nome cai em lua nova do mês hindu de Karttika (outubro/novembro), momentoculminante de uma celebração que dura três dias e que é muitas vezes chamada dipavali, “iluminar”, pois se enfeita acendendo muitas lâm-padas. La Kaumudi (“luz da lua”) é a festa da lua cheia do mesmo mês de Karttika. O – dia da cevada – cai em um mês de Vaixakha (a-bril/maio): neste dia, é jogada fora farinha de cevada perfumada. As outras festividades estão relacionadas com o deus Amor, que na Índia sechama com diversos nomes, entre os quais Kama e Madana (o “Inebriante”), e é conhecido como um jovem fascinante, armado com um arcoem que a corda é feita com abelhas em enxame, e as flechas são flores. A festa da primavera, dedicada a ele, é a mais explícita “festa do deusAmor”. Nessa época, as mulheres rendem homenagem ao deus, pagando tributo a árvore asoka, consagrada ao deus Amor, rendendo-lhe suahomenagem. Unido ao deus Amor esta também o carnaval hindu, celebrado em dia de lua cheia do mês de Phalguna (fevereiro/março),

derivado da festa da fertilidade; neste dia, as pessoas jogam umas nas outras um pó que provoca riso e líquidos coloridos de vermelho. Du-rante o “dia do lixo”, no mês de Sravana (julho/agosto), a imagem do deus Amor vem para ser adorada sobre uma espécie de liteira, tambémchamada columpio.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 21 

assim se ilustra também o comportamento da cortesã e da jovem com as amigas e com os ho-mens elegantes.

5 – EXAME DAS AMANTES, DOS AMIGOS E DA FUNÇÃO DOS AL-COVITEIROS

amor devotado a uma mulher que não teve outro homem de igual classificação dentrodas quatro classes sociais de acordo com a escritura, tendo filhos, confere honra ecorresponde aos caminhos do mundo43. O oposto e proibido, é o amor com mulheres

de classe superior44 casadas com outro homem. O amor com mulheres de classe inferior, nãoexpulsas da sociedade, com prostitutas e com viúvas que voltam a se casar não se aconselhanem se proíbe pois só tem validade para a realização do prazer. Neste sentido, as amantes são

de três tipos: as donzelas, as viúvas que voltam a se casar e as prostitutas.

Existe ainda uma quarta alternativa: também é possível um amante casar com outra mulherdiz Gonikaputra. Este é o caso quando um homem pensa, "Esta é uma mulher semescrúpulos”. É uma situação que tem sido contestada, mas se unir a ela certamente não é umatransgressão à Lei Sagrada. Assim, “se unir a uma viúva, uma mulher que já pertenceu a outrohomem, que já foi possuida por outro também não transgride a Lei.”

Há situações em que o homem estabelece: “Esta exerce uma pressão forte sobre o marido, umgrande senhor com boas relações com meu inimigo; se ficar íntima minha, manterá, por afetoa seu esposo, esse indivíduo longe”. “Fará com que seu marido mude de opinião fazendo-opensar que eu não seja hostil e que não posso causar prejuízos”. Através dela, ganharei umamigo (o marido), e graças a ele saberei quem está comigo e quem é contra mim e assim,fazer-me alguma coisa ficará difícil”. “Conseguida a intimidade dela, matará seu marido eobterá o poder que este tem”.

Ou ainda: “Assediá-la não apresenta nenhum risco e traz vantagens para mim, que sou pobree não tenho meios de subsistência. Assim, poderei me apoderar, sem esforço, das suasextraordinárias riquezas”. “Ela conhece meus pontos fracos, e está muito apaixonada por

mim; se eu a rechaço, ela me arruinará divulgando meus pontos fracos.” “Me acusará de umdelito não cometido, crível e difícil de defender, e que poderá decretar minha ruína.”“Indisporá contra mim seu poderoso e dócil esposo, e o alinhará com todos aqueles que meodeiam; o fará ela mesma ataques contra mim”. Seu marido violará meu harém, e portantopagará corrompendo suas esposas.” “Por ordem do rei terei que matar um inimigo seu, queesteja escondido nas cercanias...”

43

É a mulher com que ele pode, de fato, contrair legítimas núpcias para realizar o dharma. 44 Este matrimônio está universalmente desaconselhado: se define como pratiloma, ou seja, “contrário à ordem natural”; quanto maior for adiferença, mais desaconselhável será a união, e, normalmente, os filhos serão de posição inferior à dos pais na escala social.  

O

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 22 

Ou por último: “outra mulher se junta com uma mulher que quero. Através dela, muito euposso conseguir”. “Ela poderá me proporcionar uma donzela, inalcançável por qualquer outromeio, que esteja submetida a ela, rica e bela.” “Meu inimigo se fará íntimo do esposo dela”(da outra mulher). “através da sua mulher, a fará provar uma poção envenenada.” Por esses e

outros motivos parecidos pode-se seduzir a esposa de outro homem. E por esse motivo oadultério não apenas se realiza pela paixão.

São várias as razões para unir-se à esposa de outro.

Por motivos idênticos, há um quinto tipo de amante, segundo Carayana: uma viúva ligada aum alto funcionário e ao rei, ou relacionada parcialmente com eles a forma outro tipo de uniãoa que se confiam responsabilidades.

Para Suvarnanbha, um sexto tipo é a união com uma monja mendicante com as mesmascaracterísticas.

Ghotakamukha opina que uma sétima categoria corresponde à filha, ainda virgem, de umacortesã ou de uma serva.

É um oitavo tipo, para Gonardiya, a jovem de boa família que superou a infância, já que comela se procede de forma diferente.

Entretanto, uma vez que a ordem não difere, também estas amantes estão incluídas dentre as

que tratamos acima. Por isto Vatsyayaba tem a opinião que as categorias de amantes sãoapenas a donzela, a viúva que volta a se casar, a prostituta e a esposa de outro homem.

Alguns autores enumeram ainda como uma quinta categoria, a dos eunucos, como umacategoria distinta.

Um homem amante conhecido por todos é de um só tipo. Um segundo tipo é secreto, queconsegue algo especial. Em função dos méritos ou por falta deles, pode-se reconhecer se é umbom, um médio ou um péssimo amante. Falaremos das qualidades e dos defeitos dos amantes

no capítulo destinado às prostitutas.

Também existem as mulheres às quais não se deve frequentar nunca: uma leprosa; uma louca;uma mulher expulsa da sociedade; uma mulher que revele segredos; a que expressa seusdesejos em público; a que quase passou da juventude45; a mulher branca demais ou negrademais; a mulher que cheira mal; aquela a que se é ligado por laços de parentesco; umamulher por quem se nutre fortes laços de amizade; uma monja; as esposas dos familiares, dosamigos, dos sábios brâhmanes ou a esposa do rei.

45 A mulher que quase passou dos trinta anos de idade. (NT)

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 23 

Os discípulos de Babhravya são de opinião que se pode manter relações com qualquer mulherque já tenha tido até cinco homens. Gonikaputra diz que a exceção são as esposas dosfamiliares, dos amigos de outros brahmanes ou do rei.

Um amigo é o homem com quem se viveu desde criança, com o qual se ache vinculado porum favor, que tenha o mesmo caráter e inclinações, um colega que conhece suas fraquezas esegredos, ou que seja filho da sua ama e tenha crescido junto com você.

Um amigo perfeito é o hereditário, cujo bisavô já era amigo do seu bisavô. É o que mantem apalavra, que tem firmeza de objetivos, dócil, constante, de bom caráter, que não se deixainfluenciar e que não é dado a fazer fofocas.

São amigos: o lavadeiro, o barbeiro, o florista, o farmacêutico, o garçom, os monjesmendicantes, o vaqueiro, o vendedor de betel, o joalheiro, o pithamarda

46 , o vita, o vidusaka,entre outros. Os homens elegantes devem ser amigos, até mesmo de suas esposas, Vâtsyâyanadiz.

Realiza a função do alcoviteiro, o amigo comum dos amantes, sincero com ambos, e,sobretudo, com ele, e que goza de total confiança da amada. As caracaterísticas do alcoviteirosão: destreza, audácia, capacidade de compreender atitudes e expressões, sentido deorientação, conhecimento dos pontos fracos das pessoa, que imponha autoridade, facilidadede convencimento, conhecimento do lugar e do tempo oportunos, rapidez e reflexos,compreensão imediata acompanhada de grande astúcia.

Um verso sobre o assunto:

Um homem dono de si, com muitos amigos e inteligente, que conhece o caráter e distingue o tempo e o lugar,

conquista sem fazer grandes esforços inclusive a mulher mais difícil de conseguir .

46 - pithmarda – espécie de professor de todas as artes; vita – espécie de ”bom malandro”; vidusaka – espécie de “bobo da corte”

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 24 

II – UNIÃO ERÓTICA

1 – DESCRIÇÃO DO PRAZER, SEGUNDO AS MEDIDAS, A DURAÇÃOE O TEMPERAMENTO

s diferentes tipos de amante masculino, em relação com o órgão sexual, são lebre,touro e cavalo. A amante, ao contrário, pode ser cervo, égua ou elefante. Nesteâmbito, quando a relação tem lugar, se dão três uniões iguais. Em caso contrário,

existem seis uniões desiguais47.

Entre as desiguais, se a preponderância é do homem, quando a relação se efetua entrecategorias contíguas, são possíveis duas uniões altas. Não contígua, existe apenas uma união

superior48. Se apreponderância é damulher, ao contrário,entre categorias con-tíguas, se dão duasuniões baixas, e, nãocontígua, uma uniãoinferior. Entre estas, as

uniões iguais são as melhores; as piores, as marcadas pelo comparativo. As outras sãomodera-damente boas. Inclusive, em uma situação média, uma união definida como “alta” épreferível a uma união definida como “baixa”. São as nove uniões segundo as medidas.

Quem, por ocasião de abraços, encontra-se desanimado, tem pouca virilidade e não aguenta oscarinhos é um homem fraco de paixão. O contrário, são homens de paixão ardente; o mesmovale para as mulheres. Também assim, no que se refere às medidas, os tipos de união são no-ve.

47 Refere-se, sem dúvida, às possíveis combinações entre os distintos tipos de amantes. Por exemplo, a união entre homem lebre e mulhercervo é “igual”, assim como lebre e égua é “desigual”.

48 Uma união “alta” é, por exemplo, a do homem touro e da mulher cervo; a união “superior” é entre categorias extremas, ou seja, cavalo ecervo. O mesmo raciocínio, ao contrário, vale para as uniões chamadas “baixa” e “inferior”.

O

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 25 

Em relação à duração, os amantes podem ser velozes, médios ou lentos. Há diversidade deopiniões a respeito da mulher. Há quem sustente que ela não consegue a satisfação igual aohomem, mas que seu desejo é continuamente aplacado pelo macho. Esse desejo é satisfeito, sevem acompanhado da alegria da consciência, um prazer diferente, em que a mulher tem o

conhecimento do deleite. Por outro lado, o prazer do homem pertence às categorias definidascomo ato cognitivo. E não basta perguntar: Como é o seu prazer? 49 Então, um deles poderiaprotestar: como se pode entender (que o prazer da mulher seja distinto)? Porque o homem,tendo atingido o orgasmo e satisfeito os seus desejos, pára, sem se preocupar com a mulher;ela, contudo, não se comporta assim. É o que afirma Svetaketu.

É discutível: quando o amante demora muito tempo no ato, as mulheres ficam satisfeitas;enquanto que, se é rápido, não percebendo que eles alcançaram a satisfação, elas se irritam.Tudo isso indica se elas alcançaram, ou não, a satisfação. Não é uma explicação muito válida,pois a simples satisfação do desejo se aprecia, se dura muito. E como a dúvida persiste, aobjeção não prova nada. Svetaketu conclui:

Na união, o homem silencia o desejo da mulher;

 se acompanhado de consciência, se chama satisfação .

Para outros, a jovem consegue a satisfação de forma continuada, desde o início. O homem, ao

contrário, apenas no final. Isto parece lógico. Efetivamente, se ela não conseguisse o deleite,não teria lugar a concepção. É a opinião dos discípulos de Babhravya.

Mesmo o fato de que as mulheres fiquem satisfeitas com os amantes que prolongam muito oato é suficiente para dissipar as dúvidas. Poder-se-ia dizer: se as mulheres alcançam o prazerde forma continuada não seria normal se no início se sentissem indiferentes, e sim o contrário,quer dizer, muito ansiosas; logo, ficariam entediadas, sem se preocupar-se com as reações doseu corpo e quereriam parar o ato?

Isso não quer dizer, na realidade, nada. Para a roda do oleiro, o fato de a roda girar em tornodo eixo em um movimento constante parece normal; no início é lenta, e então, gradualmente,aumenta a rotação até atingir a velocidade máxima. E a parada só ocorre porque ocorre o gozoe a ejaculação. Por esta razão não há motivos para apor objeções.

Para os discípulos Babhravya as coisas são assim:

Os homens gozam ao final do amor,

49

O sentido é o seguinte: o prazer do homem pertence à consciência, vai mais à esfera dos sentidos; por isto não se pode saber quando, porconhecimento, se entende a percepção direta. Além disso, dado que nem a mulher nem o homem podem experimentar uma forma de prazerdiferente da sua, é impossível uma comunicação real entre eles sobre o prazer individual.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 26 

e as mulheres em continuidade;vem o desejo de parar 

 porque não há mais sêmen.

Com base nisso, Vâtsyâyana tem a opinião de que a manifestação do prazer da mulher deveser julgada de igual forma que o do homem: como poderia haver diferença de resultados, se aespécie humana é a mesma, se todos buscam alcançar o mesmo objetivo? Talvez pela diversi-dade de instrumentos e de consciência? Mas como? A diversidade de instrumentos é da natu-reza. O homem é a parte ativa, a mulher a parte passiva. O agente realiza uma função, a partepassiva realiza outra; ou seja, dada a diversidade de instrumentos, existente também uma dife-rença de consciência. O homem dá-se por satisfeito quando pensa: “eu a conquistei”; e a mu-lher se dá por satisfeita ao pensar: “ele me possuiu”. Essa é a opinião de Vâtsyâyana.

Mas poder-se-ia argumentar: em função da diversidade de instrumentos, não deveria dar-setambém uma diferença de resultados? A diversidade de instrumentos está fundamentada nadesigualdade de características: parte ativa e parte passiva; mas a diferença de resultados, sembase lógica, seria imprópria, já que não existe diversidade de espécies.

Neste ponto, é possível dizer: os que trabalham juntos realizam apenas uma tarefa; mas osamantes trabalham individualmente a sua finalidade. Por isto, o planejamento não é correto. Éevidente que se consegue mais em uma meta de cada vez, como uma batida de carneiros,quando investem um contra o outro, ou ainda da luta entre os lutadores. Se se objeta que aqui

não há disparidade entre os agentes, a resposta é que no nosso caso nem sequer a diversidadeé essencial, se foi dito antes que a diferença de instrumentos é assim em virtude da natureza, oque nos leva à conclusão de que os dois amantes alcançam também igual satisfação.

E conclui Vâtsyâyana:

 Já que a espécie não é diferente,o esposo e a esposa buscam o mesmo prazer;

 por isto, por quê não acariciar a mulher para que ela 

 seja a primeira a alcançar o prazer? 

Demonstrada a igualdade há, como no caso das medidas, nove tipos de união segundo a dura-ção, e baseados nisto, também segundo o temperamento.

Os sinônimos de “orgasmo” são: prazer, deleite, amor, satisfação, paixão, ejaculação, obedi-ência. Os sinônimos de “fazer amor” são: relação sexual, união, tabu, “hora de dormir”, êxta-se. Como cada uma das uniões produzidas pela medida, duração e temperamento são de novetipos, resulta impossível, quando estes se mesclam, indicar os distintos modos do amor, são

amplíssimos. Para cada um, diz Vâtsyâyana, deve-se usar com critério as iniciativas eróticas.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 27 

Durante a primeira união o homem é ardente e veloz, ao contrário de nas sucessivas. A mu-lher, contudo e ao contrário, age do mesmo modo até que o homem ejacule. Diz-se que o ho-mem fica incapaz para o sexo antes de a mulher.

Pelo fato de serem ternas, graças às carícias e por natureza;

 as mulheres chegam ao prazer depressa, assim estabeleceram os mestres.

 Até agora os estudiosos têm exposto  a doutrina da união:

 para ensinar aos menos preparados,vamos agora a uma descrição mais detalhada.

A - DISTINTAS CLASES DE AMOR

Os especialistas dos tratados  dizem que o amor é de quatro tipos:

 por prática e por consciência, por convencimento e por sensualidade.

O amor que nasce de uma percepção,e tem como característica a reiteração,

 há que ser considerado amor “por prática” como acontece com a caça ou atividades parecidas.

O amor por ações nunca antes tentadas. que não se baseia em objetos sensoriais, mas que apenas nasce de uma vontade 

 será amor “por consciência”.

Este amor se reconhece com a boca  dos eunucos ou das mulheres 

e nas diferentes iniciativas 

como beijos e coisas parecidas.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 28 

Quem conhece os tratados chama o amor de fato, “por convicção”, se pensa: “É isso, realmente!”,

 quando a causa do afeto é outra.

É amor, evidente, conhecido por todos,é o que descansa nos objetos dos sentidos, porque dá os frutos mais importantes:

e deste adquirem significado também os outros.

Uma vez examinados segundo o tratado 

estes tipos de amor definidos, se coloca em prática de forma adequada,

com base em como eles se apresentam.

2 – ANÁLISE DO ABRAÇO

parte sobre a união erótica denomina-se “sessenta e quatro”, porque existem sessenta

e quatro parágrafos. A opinião de alguns mestres é que com “sessenta e quatro” secompleta um tratado sobre o amor como este. Ou, dado que as artes são sessenta e

quatro, e estas formam um ramo da união erótica, o conjunto das artes se denomina “sessentae quatro”.

Alguns consideram que, como também as dez seções que formam o  Rigveda se chamam as-sim, e também neste caso subsiste uma relação com o termo “dez”, existe talvez uma conexãocom Pañcala, os mestres do Rigveda utilizam esta denominação a título honorífico.

Para os discípulos de Babhravya, a união tem outros aspectos: abraços, beijos, arranhões,mordidas, formas de se fazer sexo, gemidos, fazer amor com a boca, e cada um destes aspec-tos têm variedades distintas, por isso existem outros grupos de oito, que fazem sessenta e qua-tro. Contudo, parece evidente que alguns destes oito grupos de variedades têm (como vere-mos) um menor número de formas, ao mesmo tempo em que outros têm mais. Além disso,entram nesse raciocínio, também, outros agrupamentos, como pegar, gritar, as iniciativas dohomem, as uniões extraordinárias e outros mais. Por este motivo, a opinião de Vâtsyâyana éque “sessenta e quatro” é uma forma de expressar-se, como se fala da árvore “sete folhas” oudo arroz “cinco cores”.

Ou seja, para dois amantes que ainda não se uniram existem quatro tipos de abraços, que ser-vem para mostrar os sinais do amor: o abraço que é apenas para provocar uma primeira emo-

A

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 29 

ção, o abraço que transfere, que mostra, que deixa clara a intenção, o abraço que roça, queapenas sinaliza a intenção, o abraço pecaminoso, que “une os corpos” e o abraço que aperta,que transmite a emoção. Em cada caso, já se indica a forma de atuar com o termo utilizadocomo definição. Quando a mulher que pretendemos abraçar se apresenta diante de nós, se o

homem dá um passo adiante sob qualquer pretexto e toca o seu corpo, se tem o “abraço queroça”. Quando o homem que se seve conquistar está de pé ou sentado em um lugar isolado, ea moça, ao pegar alguma coisa, o aperta com força contra o seu corpo, e ele a agarra, abraçan-do-a, esse é o “abraço que roça”, que apenas provoca uma primeira emoção. Ambos têm lugarquando os dois não tem tido muita oportunidade de se falar entre si.

Se no escuro, entre as pessoas, ou em um lugar isolado, andar devagar e esfregar os corposum contra o outro durante um curto intervalo de tempo, tem-se o “abraço pecaminoso”, queune os corpos, que mexe com a libido. O mesmo, quando se aperta forte o outro contra umaparede ou coluna, travando-o. Aí se converte no “abraço que aperta”. Estes dois têm lugarentre os que conhecem reciprocamente “seu estado de ânimo”.

Os quatro tipos de abraços dados no momento do casamento são o entrelaçamento na videira,escalando a árvore, gergelim e arroz e leite e água.

“Entrelaçamento na videira”: A mulher, aproximando-se como uma videira em torno de uma árvore, faz orosto do homem se inclinar para beijá-la, ou levanta orosto, preso a ele, entre a luz e, com gemidos, fica um

tempo olhando para ele com ternura e ele é“emaranhado na videira” do seu abraço. Este abraço érealizado de pé.

“Escalando a árvore”: A mulher se coloca de pé sobreos pés do amante e coloca o outro pé na sua coxa, e emseguida lança-lhe um braço em volta das suas costas edo seu ombro, gemendo e arrulhando um pouco, e vaisubindo lentamente para beijá-lo. Isto é “subir na

árvore”. Este abraço é realizado de pé.

“Gergelim e arroz”: Deitados na cama, os amantes se abraçam fortemente, cruzando as coxase os braços, quase em uma luta. Este abraço ocorre no momento da paixão.

“Leite e água”: Ou paixão cega. Sem se preocupar em se machucar, como se para conseguiruma vitória um do outro, ela se senta nos joelhos do homem e o agarra firmemente pelopescoço enquanto estão sentados na cama. Este abraço ocorre no momento da paixão.

Até agora, expusemos as diversas formas de abraço na conceção de Babhravya. No entanto,Suvarnanabha também enumera seus quatro tipos de abraço. Se um amante aperta o outrocom toda sua força, trabalhando com sua coxa um bloqueio em uma ou ambas as coxas do

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 30 

outro, você tem o "abraço das coxas." Se com a barriga apertando a barriga do outro, amulher, balançando seu longo cabelo sobre o rosto do homem para poder arranhá-lo, mordê-lo, bater nele e beijá-lo, acontece o “abraço do ventre". Se com os seios da mulher em seupeito, descansando delicadamente o seu peso o homem pratica o “abraço ao seio". Unidos

boca a boca, olhos nos olhos, o homem dá um leve tapa na testa da mulher, você tem o“ornamento da testa".

Alguns consideram que incluir a massagem é um tipo de abraço, já que tem lugar um contato.Vâtsyâyana não concorda, pois a massagem se produz em um momento distinto, e diverge nafinalidade já que não é uma ação comum dos amantes.

 Aos homens que perguntam o que querem conhecer,inclusive os que mostram 

toda a doutrina dos abraços lhes nasce o desejo do amor.

Também outros abraços, que não consideramos  mas que atiçam a paixão,

 há que utilizá-los com cuidado, pois podem levar à união.

O âmbito dos acordos mostra que uma vez que os homens comecem a ficar excitados;

uma vez movimentada a roda do prazer, nada mais vale o que está escrito.

3 – VARIEDADES DO BEIJO

ão há uma ordem estabelecida para os beijos, arranhões e mordidas, já que acontecemem momentos de excitação. Recorre-se aos mesmos, geralmente, antes da união, en-quanto que aos golpes e gemidos durante o ato. Vâtsyâyana diz, ao contrário, que se

pode fazer tudo a qualquer hora, já que a paixão não conhece horários nem diferenças. Duran-te a primeira união convém valer-se dos mesmos com uma mulher que já se sinta confiante,não demasiado abertamente e de forma alternativa; A partir daí que se pratique com muitoardor e em grupos particulares, para inflamar o desejo.

Beija-se a testa, os cabelos, o rosto, os olhos, o peito, os lábios e a boca. Beija-se também avirilha, as axilas e a área abaixo do umbigo. Em função da excitação e de costumes locais,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 31 

existem muitos outros lugares em que o beijo é normal, mas nem todas as pessoas têm querecorrer a eles, é a opinião de Vâtsyâyana.

Os beijos das jovens são de três tipos: o contido, o palpitante, e o que toca. O beijo “contido”

acontece quando a jovem coloca os lábios nos lábios do outro, quase que obrigatoriamente,mas sem fazer qualquer movimento. Todavia, quando, um pouco envergonhada, deseja contero lábio inferior do seu amante, que está invadindo a sua boca e faz tremer seu lábio inferior,mas não consegue, temos o beijo “palpitante”. Se apenas toca levemente os lábios do amante,com os olhos fechados, e com a ponta da língua toca a ponta da língua dele, tem-se o beijo“que toca”. Isso para as jovens. [Assim consideradas a mulher dos dezesseis até os trinta a-nos.] (N.T.)

Os outros beijos inserem-se em quatro classes: de frente, de lado, vago e apertado. Existe ain-da um quinto modo de se beijar apertado: quando o amante força a abertura dos lábios da a-mante – ou vice versa - entre os seus dedos, em forma de copa, sem usar os dentes.

Nessas ocasiões, pode-se começar uma brincadeira: ganha quem primeiro consegue beijar olábio inferior do outro. Quando a mulher perde, deve, em lágrimas, movimentar as mãos,fugir a ser mordida ou agarrada e propor uma nova aposta. Quando ha muito amor econfiança, ela pode agarrar os lábios do homem com os dentes para evitar que este lhe escapee então rir, gritar, saltar, obter depoimentos e dançar, e, agarrando seu cabelo e seu rosto fazeruma série de comentários.

A mesma abordagem também vale para as disputas durante as brincadeiras de arranhões,mordidas e golpes. A estas brincadeiras só recorrem os amantes ardentes, já que lhes cai bem.

Se a amante beija o homem, lhe aperta o lábio superior, tem-se o “beijo do lábio superior”.Quando se beija agarrando com os lábios os lábios do outro, em uma espécie de trava, os lá-bios do outro, é o beijo “em forma de taça”, que se oferece a uma mulher ou a um homem queainda não chegaram à puberdade. Se o homem toca com a língua os dentes, ou a língua dela,se tem a “disputa da língua”. E isto também vale quando a boca e os dentes de agarram e seoferecem com força (ou seja, as “disputas” da boca e dos dentes).

Em outras partes do corpo o beijo pode ser, segundo o local, comedido, apertado, curvilíneoou delicado.

São os diferentes tipos de beijo.

Se a mulher, contemplando o rosto do amante adormecido, o beija com desejo, o beijo sechama “que incendeia a paixão”

Quando o amante está descuidado, ou discutindo, ou distraído com alguma outra coisa ouqueira dormir, o beijo para tirar-lhe o sono (ou ainda para excitá-lo) se chama “que distrai”

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 32 

Se se chega tarde durante a noite e se beija profundamente a amada que dorme na cama, ocor-re um beijo “que desperta”. Portanto, caso a mulher deseje sondar os sentimentos do amante,pode fingir que dorme depois de haver se inteirado da hora da sua chegada.

Beijar um espelho em uma parede ou a imagem do seu amado espelhada na água é um gestoque revela o estado de espírito do amante. Quando se beija uma criança, uma pintura ou se étatuado, ocorre o beijo "transferido" e o mesmo vale para o abraço. Algo semelhante ocorrequando, durante a noite, em um show ou em família, o homem, ao lado da amada, beija-lhe osdedos dos pés. Quando, finalmente, uma mulher lhe dá massagens, para mostrar o seu estadode humor, e coloca o seu rosto entre as coxas do homem, como se vencida pelo sono e semqualquer desejo beija-lhe o polegar dos pés, são beijos de "cortejar".

Trocam-se todas as ações,

um golpe com outro golpe,e pelo mesmo motivo 

um beijo com outro beijo.

4 – DIFERENTES FORMAS DE ARRANHAR

uando a paixão é arrasadora, se recorre a arranhões, que consistem em produzir leves

marcas com as unhas. Eles são usados no primeiro casamento, quando geralmente ohomem retorna ou parte para uma viagem, quando um amante enfurecido vai seacalmando ou ainda quando está bêbado. Mas nem sempre é usado apenas para osapaixonados mais ardentes. Vale exatamente igual às pequenas mordidas, mas os costumestambém devem ser levados em conta no caso dos arranhões. 

Os arranhões são de oito tipos, quais sejam: o crepitante, o meia lua, o círculo, a linha, a garrade tigre, a marca do pavão real, o salto da lebre, a folha de lótus azul. Os locais que usualmen-te podem ser arranhados são: as axilas, os seios, o pescoço, os ombros, a barriga e as coxas.Suvarnanabha opina que, uma vez que se inicia o jogo do prazer, não há que se fazer distinção

entre os locais adequados ou não adequados para se arranhar. Vale o momento e a excitação.

Por isso, os amantes ardentes devem ter as unhas muito bem tratadas, limpas e bonitas. As damão esquerda devem ser cortadas sempre rentes, de forma regular, e com duas ou três pontas.

Os homens de Gauda50 tendem a ter unhas compridas, que fazem suas mãos muito atrativasaos corações femininos. Os habitantes do Sul, contudo, as têm curtas, pois assim podem su-portar qualquer tipo de trabalho e se adaptam ao prazer de realizar diferentes formas de arra-

 50 Gauda: território localizado em Bengala em tempos antigos e medievais. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 33 

nhões. No Maharastra51 os homens conservam as unhas médias, e participam das qualidadesde ambos os tipos.

Quando, mantendo as unhas bem juntas, tocam-se suavemente as maçãs da face, os seios ou o

lábio inferior sem que se deixe nenhum sinal, mas a ponto de arrepiar os cabelos tem-se oarranhão “crepitante”. Usado com a mulher que se queira conquistar, massageando-lhe o cor-po, pode-se, ao mesmo tempo, massagear-lhe a cabeça ou espremer-lhe uma espinha paraassustá-la um pouco e ganhar-lhe a confiança.

Se se deixa com as unhas uma marca em forma de curva no pescoço ou nos seios, se tem umarranhão “meia lua”. Dois destes arranhões, colocados um em frente do outro, formam o “cír-culo”, que podem ser feitas abaixo do umbigo e nas ondulações da virilha.

Em qualquer parte do corpo se pode colocar uma “linha”, desde que não demasiado larga.Esta, se muito curva, é a “garra de tigre”, que chega até a ponta do seio. Se se traça uma linhacom as cinco unhas até o mamilo tem-se a “marca do pavão real” e se faz em uma mulher quequer alardear seus amores. Se as marcas das cinco unhas estão muito perto do mamilo tem-seo “salto da lebre”. Uma espécie de folha de lótus, impressa na curva dos seios ou na cintura éa “folha de lótus azul”. Três ou quatro linhas contíguas nas coxas ou na curva do seio servempara deixar de recordação ao que vai viajar. É assim que se deve utilizar das unhas.

Além desses, deve-se colocar outros arranhões com outras formas. Alguns mestres comentam:desde o momento em que as variedades são inúmeras, infinitas são as possibilidades, ditadas

pela experiência e pela prática sem limites e, ademais, como o arranhão nasce da paixão,quem pode examinar todos os diferentes modos? Mas embora a excitação seja viva, se desejaa variedade e, com a variedade, suscitar a paixão no outro.

As cortesãs mais hábeis e seus amantes se desejam mutuamente; contudo, da mesma formacomo no tratado sobre a ciência do tiro com arco e em outros manuais sobre armas, se exigevariedade; por este motivo, considera Vâtsyâyana, com muito mais razão, há que aplicá-laneste campo, referindo-se à variedade de aranhões no sexo.

Porém, um homem não deve comportar-se dessa maneira com mulheres casadas com outro;para essas mulheres, podem-se deixar marcas muito especiais em locais escondidos do corpo,como pequenas recordações, e porque isto, sem dúvida, vai aumentar a paixão.

Quando uma mulher descobre  arranhões em locais secretos,

 que devido ao tempo foi esquecido, deixa-lhe um novo arranhão, como que renovando um amor sincero.

51 Maharastra ou Maarastra: Estado na costa central ocidental da Índia. Sua capital é Bombaim, o centro econômico da Índia. Sua línguaoficial é o marata. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 34 

Se em muito tempo não se vive a paixão,o amor se evapora;

 se falta o arranhão,o amor lamentará o descuido.

Quem contempla uma jovem de longe,cujos seios tenham sido levemente arranhados e à mostra, mesmo que seja de um estranho, isto provoca excitação,

e inflama o desejo.

O homem marcado em certos lugares com marcas de unhadas 

 faz vacilar – é quase uma norma - o coração  mais firme de uma mulher.

Não há maneira mais eficaz  para aumentar a paixão 

 que a que se realiza com as unhas e com os dentes.

5 – REGRAS PARA MORDER

e morde nas mesmas regiões em que se beija, menos no lábio superior, dentro da boca enos olhos.

Os dentes bonitos são os regulares, lisos, brilhantes, com tamanho e cores proporcionais, jun-tos e pontiagudos.

Os dentes feios são irregulares, melados, grandes, muito separados, mal formados e mal cui-dados.

As mordidas podem ser do tipo: escondidas, inchadas, ponto, guirlanda de pontos, pedra decoral, colar de pedras, nuvem quebrada e mordida de javali.

A mordida “escondida” se reconhece apenas pela cor arroxeada que deixa na pele. A mesma,se um pouco mais forte, se transforma em mordida “inchada”. Se ambas acontecem no lábioinferior, temos um “ponto”.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 35 

A mordida “inchada” e a “pedra de coral” podem ser deixadas nas maçãs do rosto ou nas bo-chechas. O beijo do “brinco de flores na orelha”, as mordidas e os arranhões normalmenteenfeitam a bochecha esquerda.

A mordida em forma de “pedra de coral” faz-se apertando os dentes e lábios; o “colar de pe-dras” é igual, mas em uma extensão maior da pele. O “ponto” se tem quando se aperta entreos dentes, como que travando e puxando uma porção da pele; a “guirlanda de pontos” se fazcom todos os dentes.

As mordidas do “colar” e da “guirlanda” são dadas geralmente no pescoço, nas axilas e navirilha. A “guirlanda de pontos” na testa e nas coxas. Em forma de círculo, com saliênciasirregulares, é a mordida “nuvem quebrada”, que se faz na base da curva dos seios. Ambas sãopraticadas por amantes ardentes.

São as diferentes formas de mordidas.

Podem-se deixar arranhões e mordidas como sinais de cortejo, perto dos distintivos fixados natesta, perto dos brincos, na folha de betel ou de tamala52 da mulher que se deseja conquistar.[As folhas de tamala, bem como as de betel, eram usadas como ornamento pelas mulhereshindus.] (NT)

A – COSTUMES LOCAIS

Deve-se cortejar as mulheres seguindo os costumes locais.

Os habitantes de Machyadesa, em geral arias53, mantêm uma conduta pura e detestam os bei- jos e as marcas de unhas e dentes. O mesmo se aplica às mulheres de Bahlika e de Avanti, quetendem às chamadas uniões extraordinárias, que veremos à frente.

As mulheres de Malava e de Abhira gostam, sobretudo, dos abraços, dos beijos e das sensa-ções dos arranhões e mordidas, mas detestam as marcas deixadas (sobretudo as que ferem).Para conquistá-las, devem-se esbanjar atos de carinho.

As habitantes da região entre os rios54, dos quais o Indo é o sexto, tendem à prática do amorcom a boca.

As do Extremo Ocidente e de Latta são fogosas e gostam de emitir gemidos roucos.

No Strirajya e em Kosala as mulheres gostam de ser golpeadas fortemente, apaixonam-se sel-vagemente e, sobretudo, amam as “brincadeiras eróticas”.

As mulheres de Andhra são delicadas, buscam o prazer, têm desejos puros e modos corteses.

52 Tamala - ou Cinnamomum Tamala Garcinia xanthochymus, planta de tronco reto, escuro, comfolhas perfumadas, símbolo de Krishna.

53

Os pertencentes às três primeiras classes sociais.54 Refere-se ao Punjhab, que significa “região dos cinco rios”.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 36 

As de Maharastra se inflamam ao empregar as sessenta e quatro artes, gostam de utilizar pala-vras grosseiras e na cama são ardorosamente decididas. O mesmo se aplica às mulheres dacapital, Pataliputra, mas estas o demonstram mais discretamente.

As mulheres de Dravida, ainda que em princípio demorem, se bem acariciadas pouco a poucose excitam. As de Vanavasa são moderadamente apaixonadas, suportam tudo, cobrem seucorpo, riem umas das outras e evitam os homens críticos e vulgares. As de Gauda falam comdoçura, são muito afetuosas e têm corpos delicados.

Para Suvarnanabha, os costumes que dependem do caráter têm maior valor que os costumesdos lugares; para ele, não existem costumes locais. É necessário, ademais, ter claro que com otempo os costumes, os hábitos e práticas passam de um país a outro.

Entre os abraços e outras práticas, o que precede é sempre o melhor meio para acender a pai-xão, e o que se segue é o que é mais surpreendente.

 A ferida que um homem  assediado pode infligir,

 sem aceitação pela mulher, deve ser apagada pelos dois.

Devolva o “ponto” com uma “guirlanda”, a “guirlanda” com uma “nuvem quebrada”,

realize suas disputas de amor,como se estivesse irado.

Ela levanta o rosto agarrando-lhe o cabelo e saboreando-lhe a boca;

 abraçando-lhe, alimentada pela embriaguez, mordendo-o em todas as partes.

 Abraçando o seio da amante,

levanta-lhe a cabeça,e marca seu pescoço com um “colar de pedras” e tudo mais que você sabe.

Mesmo que durante o dia se ria, discretamente os outros,

 pelas marcas deixadas pela noite de amor,o amante as mostra com orgulho às outras pessoas.

Insinuando um muxoxo com a boca e reprovando o amante,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 37 

como se estivesse nervosa, mostre as marcas  que ficaram em seu corpo.

Quando estão bem dispostos um em relação ao outro,

 dois amantes atuam, assim, com pudor,e nunca se consome seu amor, mesmo depois de cem anos. 

6 – DIVERSAS MANEIRAS DE DEITAR-SE55 

o momento da paixão, na união “alta”, a mulher cervo deve deitar-se alargando apélvis; a mulher elefante, na união “baixa”, contraindo-a. Quando a união é igual, amulher deve deitar-se de costas. O mesmo procedimento deve ser aplicado à mulher

égua.

Então ela recebe o amante com asua vagina e, principalmente naunião “baixa”, também com os“brinquedos eróticas”.

“Que se abre”, “que boceja”, “àmaneira de Indmini56”: estas trêsposturas correspondem em parti-cular à mulher cerva. A “que seabre” é realizada mantendo a ca-beça abaixada e levantando a pél-vis para facilitar o vai e vem. De-ve-se facilitar a saída. Se a mulherrecebe o amante levantando ascoxas obliquamente, se tem a pos-tura “de Indmni”, que se aprende com a prática. Com esta postura pode-se realizar, inclusive,a união considerada superior.

Na união baixa, e também na inferior, recebe-se o amante com a postura “em forma de con-

cha”.

Para a mulher elefante, valem estas posturas: “em forma de concha”, “que aperta”, “que pren-de” e a postura “de égua”.

Se ambos os parceiros estão com as pernas esticadas, tem-se a “forma de concha”. Esta podeser de dois tipos: “a concha sobre as costas” e a “concha por cima”, pois é assim que se reali-za. Quem a pratica tem que deitar-se sobre o lado direito da mulher, também deitada: é umanorma universal.

55

Vide Nota de Rodapé nº 6. (NT)56 É a esposa de Indra, o rei dos deuses nos Veda.

N

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 38 

Entretanto, se a mulher, ao fazer amor na postura em “forma de concha” fecha com força ascoxas, tem-se a união “que aperta”. Quando cruza as pernas está na postura “que prende”. Se,como uma égua, aperta com muita força, pratica a postura “de égua”, que só se consegue commuita prática. Essas práticas são mais comuns entre os habitantes de Andhra. São as diferen-tes formas de deitar-se segundo Babhravya.

Para Suvarnanabha, existem outras posturas: se as duas coxas estão levantadas, se tem a pos-tura “muito curvada”. Quando o amante mantém levantados os pés da mulher, é a união “queboceja”. A mesma, com os pés dobrados (contra o peito do amante), é a “que empurra”; seuma perna está esticada, muda a postura para “que empurra pela metade”.

Quando a amante coloca um pé nos ombros do homem enquanto se estica a outra perna, e sealternam os movimentos, tem-se a postura “aperto do bambu”. Se se coloca um pé na cabeçado outro e mantêm-se a outra perna esticada adota-se a postura “passar o bastão”, o que só seconsegue com muita prática.

Quando o amante coloca os pés juntos da mulher em seu baixo ventre tem-se a postura “docaranguejo”. Se ela cruza as coxas levantadas, é a “que aperta”. Quando ela cruza as pernaspor baixo dos joelhos, se consegue uma postura parecida com a “de lótus” 57. Se a mulherabraça o ombro do amante, enquanto ele se vira para o outro lado, é a união chamada “troca-da”, que também só se aprende com muita prática.

Suvarnanabha é de opinião que se pode fazer amor deitados, sentados ou também de pé dentrod’água, e estas uniões devem ser consideradas extraordinárias, pois resultam fáceis de seremrealizadas. Contudo, Vâtsyâyana discorda, já que estas posturas não aparecem convalidadaspelos sábios.

A - UNIÕES EXTRAORDINÁRIAS

Trataremos agora das chamadas uniões extraordinárias.

Quando dois jovens, em posição de pé, se sujeitam um ao outro, apóiam em uma parede ouem uma coluna tem-se uma “união de pele”. Se o homem se apóia em uma parede e sua com-panheira, jogando-lhe os braços em volta do pescoço senta-se em suas mãos (que se encon-tram entrelaçadas) e lhe aperta a pélvis com as coxas e move-se empurrando os pés contra aparede, acontece uma “união suspensa”.

Ao contrário, se a mulher está no chão, “de quatro”, e o amante se põe em cima dela, comoum touro, tem-se a postura “da vaca”. Neste caso, os ombros da mulher recebem o peito dohomem. Partindo-se desta postura, podem-se considerar muitas outras, sempre que se trate deuma união íntima e não usual: o “amor do cão”, “o amor do antílope”, “o amor do carneiro”,“o pulo no burro”, “o jogo do gato e rato”, “o salto do tigre”, “a pressão do elefante”, “esfre-gando o javali”, o “acasalamento do cavalo”...

O amor com duas mulheres que mantêm relação de amizade entre elas é a “união conjunta”, ecom muitas é o “rebanho de vacas”. O “jogo do harém de elegantes” e as uniões do “carneiro”e do “antílope” são realizadas imitando a forma de atuar desses animais.

57 A conhecida postura meditativa do Yoga.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 39 

Na região de Gramanari, no Strirajya e no Bahliharém vários jovens, submetidos à mesma leide um harém, são maridos de cada uma das mulheres. Estes têm que satisfazê-las a cada umaseparadamente ou em conjunto, segundo os costumes e as funções. Nesse caso os jovens, atu-ando em conjunto, se ocupam, cada um, de uma parte do corpo da mulher: um se ocupa do

rosto, outro dos seios, outro da vagina e assim devem fazê-lo, variando as funções. O mesmovale para a prostituta possuída por um grupo de homens e para os que fazem amor com asesposas de um rei.

Entre os habitantes do Sul existe também uma união baixa, anal. São as distintas uniões ex-traordinárias. Falaremos das iniciativas do homem durante o sexo, quando tratarmos do “amordo homem”.

Com os gestos amorosos dos animais  pacíficos ou selvagens, e de pássaros,

com estas e outras destrezas, quem conhece os corações  aumenta as diferentes formas do prazer.

Quando se aplicam formas diferentes de amar,conforme os costumes dela 

e os hábitos locais, surge nas mulheres  afeto, paixão e um grande respeito.

7 – UTILIZAÇÃO DE TAPAS. COMO RECORRER A GEMIDOS A-PROPRIADOS

união dos animais, dizem, parece-se com uma disputa, porque o amor tem a natu-reza de uma dissidência, e parece conter raiva. Os tapas são uma parte da paixão.Os lugares propícios aos tapas são os ombros, a cabeça, o espaço entre os seios, as

costas, o púbis, os lados do corpo. Os golpes podem ser divididos em quatro variedades: comas costas das mãos, com a mão em concha, com os punhos e com a palma da mão.

A dor que se origina desses tapas permite a emissão de gemidos de vários tipos. Os gemidos,

somados com os gritos de amor, são de oito tipos: pronunciar um som parecido com hinn, umrugido, um arrulho, um choro baixo ou convulsivo, sut, uff e puff . Depois, há as palavras quesignificam “mama”, que expressam oposição, desejo que deixem a um dos dois livres, “che-ga” e outras com significado parecido.

Alem disso, pode-se imitar (os gritos) da tartaruga, do cuco (o pássaro), da pomba e do papa-gaio, o zumbido das abelhas, o grasnado do ganso e da pata, o arrulho da perdiz, tudo issomisturado com gemidos.

Uma atuação sexual é quando a mulher senta-se sobre os joelhos, ela pode golpear com ospunhos as próprias costas. Então, como se ela estivesse com raiva, tem que imitar o som do

trovão, lamentar, arrulhar e devolver o golpe. Durante o sexo, o homem a golpeia entre osseios com as costas das mãos, começando suavemente e aumentando segundo vai crescendo a

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 40 

paixão, até o clímax. Então, quando a paixão chega ao clímax ela faz o som hinn variandopara todos os outros.

Quando o homem bate na cabeça da mulher com os dedos levemente curvados para dentro eela se mostra arisca, foge e emite um som puffff , tem-se o tapa com a mão “em forma de ta-

ça”. Então ela arrulha profundamente e volta a fazer  pufff . Ao terminar o sexo se expressarácom suspiros e choro. Pronunciar o uff significa emitir o som, mais ou menos, de um bambuque se parte; já o pufff se parece, ao contrário, com bagas de azufaifa58 que caem na água.

Nos casos em que recebe beijos e outras práticas de amor, a mulher deve corresponder comgemidos. Se no momento da paixão é atingida mais fortemente, devem utilizar palavras queexpressem oposição e a vontade de se ver “livre”; deve chamar sua mãe e gritar, imitando ossons do trovão, suspirando e chorando. Quando está a ponto de chegar ao clímax, ele bate noslados do púbis da parceira, liberando-se aos poucos para o orgasmo, até o clímax. Aqui, eladeve elevar rapidamente o grito da perdiz ou do ganso. São as diferentes formas de utilizar ossons e os tapas.

Estes dois versos falam bem sobre o assunto:

Essência do homem a que chamamos tenacidade e impetuosidade;

retiradas da dor, da impotência e da debilidade, essências da mulher.

Em certas ocasiões, pela paixão e pelo hábito,

 pode ter lugar uma troca, mas não por muito tempo, e ao final  se volta, cada um à sua natureza.

A “cunha” no peito, a “tesoura” na cabeça, o punção59 nas bochechas, a “pinça” nos seios enas costas: com essas variedades, os tapas são de outros tipos entre os habitantes do Sul. Ascunhas e os seus efeitos colocados no peito dos jovens é costume local. Para Vâtsyâyana éuma perversidade, um comportamento bárbaro, algo depreciável. Este e qualquer outro doscostumes regionais não se devem adotar aqui. Inclusive onde é uso corrente deve-se evitar nosexo qualquer ação que promova perigo. Efetivamente o rei de Cola, durante a união, deu umgolpe de morte com uma “cunha” na cortesã Citrasena. Kuntala Satakarni Satavahana matoucom tesouras a rainha Malayavati. Naradeva, que tinha uma mão aleijada, com um punçãousado indevidamente, furou o olho de uma dançarina.60 

Alguns versos sobre o assunto:

Esta enumeração não tem nem 

58 - Fruto do azufeifo, árvore bastante conhecida na Índia. (NT)

59 - Ferramenta de aço de alta resistência, cilíndrica ou prismática, com uma ponta ou boca afiada ou grave, usada para usada para apoiar e

marcar superfícies ou impressos. (NT)60 O reino dos Cola, na região do mesmo nome, é o dos Pandya, que o comentário põe em relação com Naradeva, dois dos domínios em quese divide a Índia habitada pelos tâmiles, no seu extremo meridional.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 41 

é a observância de um tratado. quando se começa uma união de amor.

 a paixão é a única força motriz.

Nem mesmo em sonho podem ser idealizadas.Situações ou atos de fúria 

 podem ser cometidos ao se fazer amor;inventados na hora 

Como um cavalo na corrida  que de repente galopa mais rápido 

e cego pelo impulso, não vê 

os perigos que o rodeiam  Assim, na batalha do amor,

cegados pela paixão,comportam-se como amantes ardentes 

 sem perceberem os perigos.

Portanto, o especialista que aprende o tratado  sabe unir a delicadeza, o ardor e a força 

 dos jovens em si e, portanto, agir de acordo.

Nem sempre, e com todas as mulheres valem as destrezas do amor; seu uso deve levar em conta 

 as circunstâncias, o lugar, e o momento.

8 – O AMOR COMO HOMEM – AS INICIATIVAS DO HOMEM DU-RANTE O SEXO

e a mulher percebe que o amante está cansado devido à sua contínua entrega, masque seu desejo ainda não foi apagado, pode, com o seu consentimento, colocá-lo porbaixo e prestar-lhe ajuda com o “amor como homem”; ou adotar esta função por ini-

ciativa própria, desejosa de poder colocar em prática algo particular, ou ainda por curiosidadedo amante.

Neste caso, a mulher, levantada pelo amante sempre unido a ela, se coloca por baixo, de talforma que a união não experimente interrupções no prazer, e continue da mesma forma comohavia começado. É a primeira forma; a segunda se efetua se, ao começar de novo, a mulherassume esse papel desde o princípio.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 42 

Espalhando as flores que enfeitam os seus cabelos, rindo e suspirando, ela se aperta, parachegar mais perto do rosto do amante, peito com peito, e sacode a cabeça várias vezes. Eleretoma os gestos que tinha feito anteriormente e diz: "eu ganhei, é a minha vez agora". Riameaçadoramente, mostra fadiga e vontade de parar. Agora, ela deve tomas as iniciativas. É a

mulher no papel do homem. É o que vamos discutir agora.

Enquanto a amante está na cama, eparece distraída com suas palavras, oamante vai tirando devagar a sua saia.Se ela lhe opõe resistência, acalma-abeijando-lhe as bochechas. Uma vezexcitado, acaricia-a com suavidade ascoxas que ela, em princípio, manteráapertadas, se for uma donzela. Acariciatambém os seios, as axilas, as mãos, osombros, o pescoço, partes que elatentará cobrir. Não será o caso,evidentemente, se se tratar de umamulher sem escrúpulos ou segundo os costumes e as circunstâncias.

Para beijá-la, agarre-a fortemente, segurando-a pelos cabelos e pelo queixo. Ela, se se tratarda primeira relação ou se for uma donzela, vai se mostrar envergonhada e fechará os olhos.

Aos poucos, durante o casamento, ela se soltará e tentará descobrir a melhor forma de secomportar e de satisfazer ao homem.

Quando o casal é jovem e é surpreendido durante o ato por terceiros, o homem deve cobrir aspartes da mulher contra quem ela dirige o seu olhar. É o segredo dos jovens, diz,Suvarnanbha.

O corpo está relaxado, os olhos estão fechados, foi perdido todo o pudor, o sexo é intenso;estes são, para as mulheres, indicativos do orgasmo. (caso contrário) Uma mulher move suasmãos, transpira, morde, não permite ao homem que se levante, bate os pés, e ao final do amor,continua além do homem (continua sozinha). Para evitar isso, o amante deve, antes de possuí-la, excitá-la, utilizando a ponta dos dedos nas suas partes íntimas, até que fiquem bemlubrificadas, para só então penetrá-la.

Abordagem, batida de asas, punhal, dente, pressão, rajada de vento, ataque de javali, carga dotouro, jogo do pardal, taça: estas são as iniciativas do homem durante o sexo.

A união mais comum, direta, é a “abordagem”.

Quando ele aperta com sua mão em volta do pênis e o balança, se colocado sob o osso púbicoda mulher e escorregado desde o alto, resvalando no clitoris antes de entrar na vagina, é o“punhal”.

A mesma coisa, só que na postura invertida e feito impetuosamente é o “dente”.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 43 

Se introduz o pênis na mulher, segura-a e aperta-a durante bastante tempo resulta a “pressão”.

Quando, de forma seca, o homem levanta e pênis e o abaixa violentamente contra a vagina da

mulher tem-se a “rajada de vento”.

O “ataque do javali” se consegue quando se fricciona com muita insistência apenas umaregião do corpo da mulher. Este movimento, feito continuamente é a “carga do touro”.

Quando, sem interromper o ato, se pára um pouco e se dá dois, três, ou quatro tapas – em umou em outro dos amantes – é o “jogo do pardal” que tem lugar, geralmente, ao final do ato.

A “batida de asas” se consegue quando a mulher égua (já descrita), tendo o pênis nas mãosinsiste em apertá-lo muito. Se juntamente com o amante, move-o como uma roda e o torce,obtém-se a “rotação”, o que só se consegue com bastante prática. Neste caso o homem temque levantar o seu púbis. Se, por fim, ela balança e ginga a pélvis sensualmente é o “balanço”

Sempre junto ao amante, a mulher apóia a frente contra a frente do amante e descansa. Quan-do se recupera, o homem volta à ação. São os distintos modos de fazer amor como homem.

Eis algumas estrofes sobre o assunto:

Embora esconda sua própria natureza e estejam cobertas suas expressões, a amante revela seus sentimentos, pela paixão, quando a pratica.

Que característica tem as mulheres e como se deseja o prazer  se deduz perfeitamente 

 do seu comportamento.

Mas o amor não é permitido como o homem  a uma mulher no seu período fértil 61 ,

 nem a uma mulher em resguardo, nem a uma mulher grávida, nem a uma demasiado gorda.

61 O período fértil da mulher madura, segundo Manu, são doze diasque antecedem à menstruação; se o amor está proibido durante a mens-truação, continuar dormindo com a esposa nos dias seguintes é considerado pelos textos um dever conjugal. Pelo comentário, a proibição deusar a postura erótica em tais circunstâncias se deveria ao fato de que o fruto de uma possível concepção resultaria – de natureza confusa – aestrofe expressa de salvaguardar a saúde da mulher.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 44 

9 – O AMOR COM A BOCA

chamado terceiro sexo pode-se fazer de duas maneiras: com a forma feminina oucom a forma masculina. A que tem a forma de mulher deve imitar esta: a limpeza docorpo, voz, graça, as características, o caráter, a ternura, os medos, a ingenuidade, a

fragilidade incapacidade e o pudor. O que, normalmente, é feito geralmente na vagina é aquifeito na boca, e échamado de "amor coma boca." Por isto, quempertença ao terceiro sexodeve tentar conseguir o

prazer que vem daconsciência e dos meiosde subsistência: busqueviver como umaprostituta. Destamaneira deve secomportar quem temtrejeitos femininos.

Ao contrário, o que

aparenta ser macho,deve manter segredo dos seus desejos, e se quiser ter um amante, deve escolher a profissão demassagista. Durante a massagem aperte firme, quase em um abraço, as coxas do outro contrao seu corpo, e depois, nascida uma certa familiaridade, vá mais longe, tocando-lhe a virilha eo púbis. Neste ponto, quando perceber que o homem está excitado, você deve movimentá-locom as mãos em vai e vem, e rir, como se estivesse reprovando sua lascívia. Se o homem,apesar de haver mostrado sinais de desejo, dá-se conta do desvio do outro e não lhe evita,deve, ele mesmo tomar a iniciativa; se, ao contrário, pede a ele que tome a iniciativa, estedeve fingir se opor e só fazê-lo após a insistência do outro.

Os diferentes mo-dos de ação são oito, e deve-se fazer todos: o modo moderado, a mordidalateral leve, a pressão externa, a pressão interna, o beijo, o toque, segurar, engolir e chupar.Geralmente o ato pode ocorrer de duas formas: de-pois de consentir uma prática, o amanteexpressa o desejo de parar; ou, uma vez conseguido o primeiro modo da prática, siga com oque vem depois; terminado este, com o seguinte.

Enquanto segura o pênis do amante com as mãos, aperte-o com os lábios e mova a boca. É omodo “moderado”. Em seguida, cubra com a mão e aperte a parte de cima com os lábios, semusar os dentes, e com calma, dizendo: “só isso!”: é a “mordida lateral leve”.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 45 

Quando, após um novo convite, aperta o pênis do amante com os lábios bem juntos, a partesuperior como que atraindo-lhe para sí, e afrouxa a pressão, tem-se a “pressão externa”. Se,neste momento, se introduz um pouco mais o pênis na boca, ou abaixa-se a pressão que está

na cabeça do pênis se tem a “pressão interna”.

Pegá-lo com um lábio, enquanto o segura em uma das mãos é o “beijo”. Se isso for feitoesfregando todo o pênis com a língua tem-se o “toque”.

Uma vez adquirida a excitação, se introduz a metade do pênis na boca e se faz pressão váriasvezes, muito forte, soltando (cada vez), se consegue o modo “chupar”.

Quando, seguindo a vontade do amante, ele recebe o pênis em sua boca e o pressiona até ofim é “engolir”. Engolido o pênis do parceiro, deve-se emitir sons, dar tapas e sofrer tapas doamante. Estes são os tipos de amor em sua boca.

Dessas técnicas também se valem mulheres libertinas, sem escrúpulos, empregadasdomésticas e massagistas, algo que se deve evitar, já que contradizem as doutrinas e resultamdepreciável pois, se mais tarde um homem beija uma boca destas pode sentir repugnância. É oque explicam os mestres. Para o amante de uma prostituta não é pecado, mas deve ser evitado,ainda que por outros motivos. É a opinião de Vâtsyâyana.

Os habitantes do Leste não se unem a mulheres que praticam sexo com a boca. Os homens

não visitam as cortesãs de Ahicchattra e, se o fazem, evitam seus beijos. Já os de Saketa juntam-se a elas sem nenhuma repugnância. Os homens da capital, Pataliputra, não se prestamnaturalmente ao amor com a boca. No entanto, esta prática é descarada em Surasena ondedizem: “quem pode realmente confiar no caráter, na pureza, nos princípios, nocomportamento, na sinceridade ou nas palavras de mulheres?” Elas, por natureza, têm umamente corrupta. Mas não devemos rechaçá-las por isso. Segundo a tradição sagrada, elasdevem ser consideradas puras, pois se afirma: “Durante a amamentação o bezerro é puro, puroé o cão quando caça armadilhas, e também o pássaro quando faz cair a fruta e, na união deamor, a boca da mulher também há de ser considera pura.”

Visto que nisto os homens de cultura estão de acordo, e se pode recorrer à tradição sagrada, háque se viver segundo os usos locais e baseando-se no temperamento e nas convicções de cadaum; é a opinião de Vâtsyâyana.

Aqui estão algumas estrofes sobre o assunto:

 Alguns homens 

 fazem amor com a sua boca  mesmo jovens criados 

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 46 

com brincos de brilhantes.

E acontece também com homens elegantes 

 que querem se sentir bem sobre si mesmos; quando têm confiança, por favor, dê um presente para outra.

 Assim como alguns homens realmente realizam essa ação com as mulheres,

e para ser executada, deve ser conhecida,tanto quanto o beijo na boca.

No entanto, se investido de corpos,estão ligados uns aos outros, homem e mulher juntos,

é o que é chamado de "amor como corvos".

Por isto as cortesãs deixam.

Homens distintos, capazes, generosos, honestos, se apaixonam por pessoas baixas:escravos, cuidadores de elefantes e outros.

Mas não se permita este amor com a boca  ao brâhmane ou ao ministro 

 ao encarregado dos assuntos do rei  nem a quem goze da confiança do povo.

Não que, como indicou o tratado,isso seja motivo suficiente para agir;

um livro, você lê e entende, ele fala de modo geral, seu uso, no entanto, refere-se apenas ao particular.

Na ciência médica se conhece muito bem o sabor, a força e os efeitos digestivos 

 até mesmo a carne de cachorro. Por isso 

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 47 

os sábios têm que comê-la? 

Há alguns homens,

Há certos países, mesmo momentos onde estes requisitos não são inúteis.

Portanto, depois de considerar o tempo, o lugar, use o tratado,

e até a si mesmo, você pode realizar ou evitar essas práticas.

E já que é um segredo e a mente é inconstante,Que pessoa pode saber 

 quem, quando, o que faz e por quê? 

10 – INÍCIO E FINAL DA UNIÃO

m companhia dos amigos e dos serviçais, em um lugar prazeiroso e repousante, comincenso perfumado, ou seja, bem acomodado na sua casa, rodeado de flores, ohomem elegante deve dirigir-se à mulher com palavras agradáveis, depois de

convidá-la a beber. Esta, depois de um banho fresco e suavemente perfumada, deve bebercom naturalidade. Então, o homem senta-se à sua direita; detém-se nos seus cabelos, na orla enos nós do seu vestido, pensando nas delícias do amor, a aperta no seu braço esquerdo, masnão com muita força. A corteja com pavras alegres e apaixonadas, fala sobre eventosocorridos, sobre segredos picantes dos dois. Exibe-se para ela, cantando e tocando e, se achar

que deve, também dançando, e conversa sobre artes e a tenta seduzir com brindes. Quando amulher já se encontra cheia de desejo, ele se despede dos demais, jogando-lhe flores,unguentos e folhas de betel. Estando sozinhos, ele a abraça e, lentamente, a desnuda como jáensinamos. É o início da união.

Agora, vejamos o final do amor.

Satisfeita a paixão, os amantes vão, um atrás do outro, ao quarto de banho, envergonhados,como se não se conhecessem, sem se olhar. Ao voltar, todavia, com timidez, sentam-se em

um lugar adequado, e tomam betel; o homem deve aplicar no corpo da enamorada puríssimosândalo ou outro unguento. Logo após, deve abraçá-la com o seu braço esquerdo, e,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 48 

segurando o copo, deve convidá-la a beber com ele com palavras doces e ternas. Ambosbebem água adocicada ou outra bebida adequada ao seu temperamento ou aos costumes: caldoclaro de carne, sopa ácida, bebidas com assados picantes, suco de manga, carne seca,limonada, segundo o lugar ou os costumes. Ele oferece a ela diferentes doces provando-os

antes, para saber se estão saborosos, macios e frescos. Se se encontram no terraço acima dacasa, podem sentar-se e apreciar o luar. O homem entreterá sua companheira com históriasbonitas, enquanto ela se senta apoiada nos joelhos e aprecia a lua. Ele lhe mostra Arundhati, aestrela polar e a coroa dos Sete Profetas62. É o final da união.

Sobre esse particular se diz:

Mesmo no final, um amor  adornado de atenções,

 histórias e atos de delicadeza leva a um grande prazer.

Gestos doces, com a dinâmica de cada um  que despertam o amor de um e de outro,

e afastam a raiva,olhando o amor.

Com danças e jogos e músicas,e declamações, admirando 

com olhos trêmulos, molhados de ardorel o disco da lua;

 Após a primeira união, os desejos  que surgem de imediato, e mesmo assim 

 dor na distância; dizendo todas essas coisas,

E, quando terminam imprimem, com abraços  abalados, misturados com beijos;

62 A “coroa dos Sete Profetas” é a Ursa Maior, cujas sete estrelas principais se comparam aos grandes sábios da mitologia. Na mesmaconstelação, Arundhati, ou seja, a pequena Alcor, é considerada como a esposa de um destes personagens (os sábios) ou de todos eles. Aestrela polar é o símbolo da fidelidade. A contemplação dos astros pelos novos esposos, acompanhada da recitação de fórmulas de bonsaugúrios forma parte do ritual matrimonial exposto nos Grhyasutra, manuais sobre o rito doméstico.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 49 

uma paixão jovem cresce, se eles se envolvem nestas e em outras emoções também.

11 – AS DIFERENTES CLASSES DE UNIÃO

s diferentes classes de união são: a apaixonada, onde deve ser alimentada a paixão,onde a paixão é artificial, onde a paixão é transferida, a união de meio homem, aunião com pessoas baixas e a união sem limites.

Se um homem e uma mulher foram esmagados pela paixão desde a primeira vezque se viram e muito tempo depois, após muito esforço, conseguir voltar a se ver, na volta deuma viagem, ou quando os amantes, afastados por uma disputa, voltam a se encontrar, tem

lugar a união “apaixonada”. Neste caso, deve-se comportar segundo os desejos e até a satisfa-ção plena dos amantes.

A união de amantes não muito ardentes, que esmorece aos poucos depois de haver se iniciado,é aquela “onde deve ser alimentada a paixão’. Então convém seguir atiçando o desejo com assessenta e quatro formas de erotismo, adequando-se aos costumes. Se isto se realiza com umafinalidade em particular, que não o amor, ou os amantes canalizam seus desejos para outracoisa, tem-se uma união “onde a paixão é artificial”. Neste caso, que se cumpram todas asformas de erotismo, segundo o tratado. No entanto, quando o homem, desde o início do amor,

para o seu único deleite, volta os seus pensamentos para outra mulher que deseje tem comoconsequência, uma união “onde a paixão é transferida”.

Fazer amor até a satisfação com uma mulher de casta inferior, como uma carregadora de águaou com uma serva é a “união de meio homem”. Neste tipo de união o homem não deve sepreocupar com galanteios. Da mesma forma que uma união com uma cortesã, com uma cam-pesina, até a satisfação é apenas uma união “com uma pessoa baixa”; e o mesmo acontece, seum homem elegante se une com mulheres do povo, com estancieiras, com pastoras de cabrase ovelhas e com mulheres de países vizinhos.

Por último, quando dois amantes têm total confiança entre si, porque estão em boa disposiçãoum com o outro, é a “união sem limites”. Estas são as formas diferentes de união.

A – AS DISPUTAS DE AMOR

À medida que o afeto cresce uma mulher não deve tolerar que seja dito o nome da esposa ri-val na sua presença nem que dela se fale, nem que, por um lapso de memória, seu nome sejatrocado pelo nome da outra; nem mesmo deve admitir qualquer infidelidade por parte do ho-mem. Nesses casos, surge uma violenta disputa; ela deve por-se a chorar copiosamente, solu-

çar, desgrenhar os cabelos, atirar-se na cama ou mesmo no chão, destruir as guirlandas de

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 50 

flores ou adornos com os quais esteja adornada e, por fim, quedar-se prostrada no chão paramostrar o seu estado de espírito em relação à traição consumada.

O homem, então, deve manter-se calmo, esforçando-se para utilizá-la com palavras delicadas

e apropriadas, ou, pondo-se de joelhos a seus pés, convidá-la a deitar-se na cama. A mulherdeve contestar suas palavras demonstrando ainda mais raiva, deve agarrá-lo pelos cabelos,levantar o seu rosto, fazê-lo olhar para si e sacudi-lo pelos ombros. Depois, deve caminhar atéa porta do quarto, deve voltar, sentar-se na cama e continuar a chorar. Entretanto, apesar deestar muito triste e com raiva não deve cruzar os umbrais da porta, já que isto constitui gravefalta. O texto de Dattaka tem esta precisão.

Chegados a este ponto, é conveniente que a mulher se acalme aos poucos e espere a reconcili-ação. Ainda que suavemente, agrida ao homem, por assim dizer, com palavras e expressõesduras e mesmo pejorativas. Por fim, tranquilizada e sedenta de amor, deixe que o companhei-ro a abrace.

Uma mulher que vive em sua casa e que por algum motivo discute com o amante e este deixaa casa, deve ir visitá-lo e comportar-se como dito acima (e em seguida se deixar levar). Então,o amante deve instruir o pithamarda, o vita e o vidusaka que aplaquem sua cólera. Aplacadasua cólera, deve voltar com ela para casa e lá ficar. São assim as disputas de amor.

Algumas estrofes, a título de conclusão:

Se recorre às sessenta e quatro  artes eróticas propostas por Babhravya,

um amante tem êxito com mulheres extraordinárias.

 Apesar de estar dito em outros tratados,Se você não domina as sessenta e quatro artes,

 sua prática não será muito apreciada  durante as reuniões de pessoas educadas.

Mesmo que não possua outros conhecimentos, se ele é dominador dessas artes,

consegue sempre um posto relevante entre mulheres e homens nos encontros sociais.

Os sábios o reverenciam,o reverenciam os homens do povo;

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 51 

 acredito que até as cortesãs, dispensadores de alegria – porque não? - hão de homenageá-lo.

Os mestres dos tratados definem essas artes pródigas em felicidade, amadas, poderosas, encantadoras e adoradas por todas as mulheres.

Elas olham com afeto e muita estima o homem hábil nas sessenta e quatro artes,

tanto as donzelas quanto as esposas 

 de outro homem, e até as cortesãs.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 52 

III- RELAÇÕES COM AS DONZELAS

1 – REGRAS PARA SE PEDIR EM CASAMENTO

umpre-se a Lei Sagrada e o Útil casando-se, de acordo com as escrituras, com umamulher da sua própria classe social, que nunca tenha pertencido a outro homem, eque lhe dará filhos varões, parentes, aumente o número de pessoas do seu círculo de

contatos e que te apóiem e para propiciar o verdadeiro prazer do amor. Assim, um homemcom estes requisitos e cuidado deve definir a donzela, tanto quanto o seu pai e a sua mãe, queseja pelo menos três anos mais jovem, nascida de família de bom caráter e preferivelmenteabundante de recursos. Essa jovem deve ter muitos relacionamentos tanto por parte de mãe

quanto por parte de pai e ser bonita, de bom caráter e sinais de bons presságios: dentes, unhas,orelhas, cabelos não muitopequenos e nem muitograndes a ponto de seremmuito chamativos e des-frutar de um corpo saudá-vel.

Ghotakamukha explicaque, quando um homemconquista uma donzelaassim, deve considerar-seum afortunado, e seusamigos não podem repro-var o carinho que possavir a sentir por ela.

C

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 53 

Pais e familiares, amigos fieis de ambas as partes não devem poupar esforços para fazê-laesposa do homem. Este deve se manifestar claramente (aos pais da jovem) quanto a defeitosvisíveis e inatos, de outros pretendentes, destacando as suas vantagens como homem e suasorigens, que possam favorecer a decisão (sobretudo as que sejam do gosto da mãe da jovem) e

aquelas qualidades que podem garantir o presente e o futuro do casal. O pretendente podeapresentar os estudos de um astrólogo, por exemplo, onde se anteveja sua sorte na carreira,mostrando o vôo dos pássaros, os presságios, as influências da conjunção dos planetas em seuhoróscopo e sinais auspiciosos em seu corpo. Outros sinais, por sua vez, podem inquietar amãe da jovem, indicando-lhe que ele poderia ter, facilmente, uma mulher em outro lugar.

Convém pedir por esposa uma donzela (jovem até dezesseis anos), conforme a vontade dodestino, dos presságios, dos pássaros, e dos oráculos; não por acaso, simplesmente porque

você é homem, diz Ghotakamukha. E ele deve renunciar a uma moça que, no momento dopedido em matrimônio, dorme, chora ou sai de casa. Também deve evitar uma jovem quetenha um nome desagradável de se ouvir; que permaneça escondida dentro de casa ou em ou-tro lugar durante o pedido de matrimônio ou que já esteja comprometida com outro homem; aque tenha cabelos ruivos ou que tenha sardas; a que seja masculinizada, deformada ou calva; acomprometida com a castidade; a nascida ilegitimamente ou que não tenha atingido a puber-dade; a uma muda; a uma amiga; a uma que tenha irmã mais jovem que seja muito bonita ouque esteja sempre transpirando.

 Ao se procurar uma jovem para esposa deve-se evitar, por ser reprovável, a jovem que se que tem por nome 

uma das fases da lua, um rio, uma árvore,ou que seja terminado em “erre”.

Alguns sustentam que a donzela que absorve o coração do homem e ostenta um olhar especialtraz prosperidade. E que por esta razão um homem não deveria olhar para qualquer outra. Poreste motivo, chegada a hora de ter que concedê-la em matrimônio, os familiares devemapresentá-la em público com o seu melhor vestido, e procurar que ela se divirta todas astardes. Sem nada para fazer, que brinque o dia todo com as amigas. Quando se reúne muitagente, como nos sacrifícios e nos casamentos, faça com que todos os olhares se fixem nela, etambém em todas as festas, pois ela tem as mesmas características de jóias que devem serapreciadas.

Receba com sinais de amizade os homens elegantes e cortezes que acompanham os pais da  jovem dada em casamento, e que devem ser apresentados, juntamente com a juvem, quedeverá estar elegantemente trajada.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 54 

Assim que se termine o exame do destino para que se tome a decisão de conceder ou não a jovem em matrimônio, os pretendentes, são convidados a tomar um banho ou outras formasde entretenimento, o que podem ou não aceitar, tratando-se de um contato de primeiro dia.Podem também sugerir que tudo deve ser realizado no seu devido tempo.

Segundo as regiões, os princípios e os costumes, são as seguintes as formas de casamentosegundo as escrituras: Brahma, Prajapatya, Arsa ou Daiva63. São as distintas formas para sepedir em casamento.

A – COMPROVAÇÃO DAS RELAÇÕES

Alguns versos sobre o assunto:

Os jogos de sociedade, como completar versos,os casamentos e as amizades 

 devem ser realizados entre uma mesma classe, não para os de classe superior nem para a inferior.

Se uma mulher casada ou donzela,vive como uma criada,

esta já se sabe, é uma relação “alta”  que deve evitar todos os acordos 

Se, rodeado por sua família,

ele leva uma vida de cavalheiro,é uma relação “baixa”, não digna de louvor;

e os sábios também hão de recusá-lo.

Quando se realiza um jogo  muito bom para ambos 

63

São as primeiras quatro as mais recomendadas e as únicas universais concedidas aos brâmanes, das oito formas de casamento intituídasnos tratados. Trazem o nome de seres divinos ou sobrenaturais; exigem o acordo das famílias e o ritual religioso, e se diferenciam entre elasprincipalmente pelas formas estabelecidas para o dote.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 55 

e que satisfaz mutuamente,existe uma relação bem aceita.

Se se contraria uma relação “alta”,

termina-se se submetendo aos pais; mas não caia, porém, em uma “baixa”,

 desprezada pelos homens de bem.

2 – COMO INSPIRAR CONFIANÇA ÀS DONZELAS

ma vez que o casamento tenha tido lugar, os esposos devem dormir no chão durantetrês noites, permanecerem castos e tomar bebidas sem melaço nem sal. Nos sete diasseguintes, devem banhar-se acompanhados por música e cantos de bom presságio,

dedicando-se à limpeza pessoal. Devem comer juntos. Devem ir a festas e assistir a espetácu-los e dar graças às famílias; isto vale para todas as classes sociais.

Durante todo o período, à noite, sozinho, o homem deve dirigir-se à sua esposa com atenção emuita sensibilidade. A jovem verá que ele está lá, sem dizer uma palavra, quieto, sensível e

atento. Isto dizem os discípulos de Babhravya. Vâtsyâyana aconselha ficar junto da mulherpara inspirar-lhe confiança, mas recomenda não transgredir-lhe a castidade.

O homem, quando se aproxima da mulher, tem que proceder de modo a não forçar nada. Co-mo as mulheres têm a mesma natureza que uma flor, devemos enfrentá-las com a maior deli-cadeza. Se, ao contrário, o homem são souber conquistar sua confiança estas odiarão a relaçãomatrimonial. Por isso, é preciso tratá-las com extrema doçura.

Quando, porém, mesmo com pedidos de desculpa, o homem nota que pode, deve seguir adi-ante.

Abrace-a como ela gosta, ou seja, sem insistir por muito tempo, começando pela parte superi-or do seu corpo, já que é uma parte menos delicada; se a mulher já não é mais tão jovem ou se

 já existe certa intimidade entre o casal, deve ser feito à luz de velas, caso contrário, deve serfeito às escuras.

U

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 56 

Uma vez que ela consinta em ser abraçada, ele deve dar-lhe betel à boca; se ela não aceita, ohomem deve convidá-la a beber com palavras doces, súplicas, e pedidos a seus pés. Por maistímida que seja, ou por mais enfadada que esteja, nenhuma mulher resiste a um homem que seponha prostrado a seus pés; e isto vale para todas as mulheres. Aproveitando a ocasião de ofe-

recer-lhe betel, dá-lhe um beijo terno, suave, sem ultrapassar os limites. Uma vez convencida,leve-a com uma boa conversa. Para ouvi-la dizer alguma coisa, faça-a uma pergunta qualquer,fingindo não saber a resposta e ela poderá lhe responder com poucas palavras. Se ela perma-necer em silêncio, repita-lhe várias vezes a pergunta, amavelmente, sem assustá-la. Ghotaka-mukha diz que as donzelas costumam ficar ouvindo de bom grado os pensamentos de um ho-mem, sem dizer uma só palavra.

Depois de muito insistir, ela replicará movendo a cabeça; para ouvi-la dizer algo, pergunte:

“queres-me ou não me queres?” Pensará bastante sobre esta pergunta. Se seguir insistindo,sinalizará que sim com a cabeça. Mas cuidado, se insistir demais poderá torná-la rebelde emvirtude da pressão.

Se já há alguma familiaridade, faça intervir uma amiga bem intencionada e de confiança paraambos e a convide a que conte uma história (a sua história de amor). Ela vai rir com a cabeçaabaixada; mais tarde a amiga discutirá o assunto com ela. Então, a amiga, em tom de piada,deve atribuir-lhe algumas afirmações que ela nunca fez; então ela negará veementemente a

amiga e, ao insistir para que ela responda, ficará em silêncio. Após alguma insistência, pro-nunciará palavras confusas, evasivas e pouco claras, tais como “eu não falo essas coisas...”; erindo, de vez em quando, olhará para o homem furtivamente. É uma forma de iniciar um diá-logo.

Quando, por este caminho, já tiver conquistado alguma confiança da mulher, sem dizer umapalavra porá, perto dela, os objetos pedidos: betel, unguento, uma grinalda. Ao fazer este ges-to, roce-lhe os seios, tenros como botões, com o arranhão “crepitante”. Se você parar e elapedir para que você a abrace, imponha esta condição: “abraça-me também tu, e eu não façomais isso”. Então, deixe que sua mão resvale, várias vezes, até o umbigo dela, e logo a retire;e com muita suavidade, coloque-a sentada sobre seus joelhos, indo mais e mais longe. Mas elanão deve se assustar. “Vou deixar seus lábios marcados e seus seios arranhados e eu contareiàs suas amigas que você também me deixou assim. O que você diria disso?” Essas intimida-ções infantis são formas de se ganhar a confiança e ela, a pouco e pouco, irá cedendo.

A segunda e a terceira noites, quando ela já estiver mais confiante, toque-a, e depois decida-sepor beijar seu corpo inteiro. Coloque as mãos em suas coxas e, pouco a pouco, tente acariciar-lhe a virilha. Se for impedido, repreenda-a, dizendo: “que mal há nisso?” e continue acarici-ando-a. Uma vez convencida, ouse até as áreas mais íntimas, afrouxe seu cinto, desate o nó da

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 57 

sua saia acariciando novamente sua virilha. Peça para ela para segurar e acariciar o seu pênis ebrincar com ele. Mas você ainda não pode romper com o seu voto de castidade.

Em seguida lhe ensine o amor. Mostre-lhe como é agradável a sensação do prazer. Descreva-lhe os desejos, as sensações, os sentimentos. Prometa-lhe que, no futuro, você estará semprepronto a lhe ajudar e tire-lhe da cabeça o temor de outras esposas; inclusive, lhe diga que essetemor é infundado, que isso é coisa de menina, que vai amá-la e desejá-la sempre. Isso é umaforma de inspirar confiança.

Sobre esse assunto, eis algumas estrofes:

Ele ganha a donzela com estratagemas, seguindo os desejos do coração;

 assim, cheia de confiança,ela acaba se apaixonando por ele.

Sem ser muito condescendente  nem criando muitos conflitos 

o homem tem sucesso com as donzelas; para isso serve a conquista pelo caminho do meio.

 Aquele que sabe inspirar confiança nas donzelas, algo que desperta amor pelo homem e aumenta o orgulho das mulheres,tem que fazer com que seja querido.

Entretanto, se ele deprecia uma donzela, porque a considera muito pudica,

ela pode rejeitá-lo como a um animal, por não compreender os seus desejos.

Mas se, pelo contrário, chega-se a ela com violência,

 por não saber conquistar o coração da doznela,esta pode se assustar, e treme,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 58 

 se surpreende e pode vir a odiá-lo.

Quem já sofreu por amor 

e sofre com esse deslumbramento  pode acabar odiando a todos os homens ou, transformando-se em inimiga, unir-se a outro homem.

3 – COMO SE INICIAR COM UMA DONZELA

m homem que não tenha meios econômicos, mesmo que tenha qualidades, não podepedir em casamento a uma donzela, pois para ele, ela seria inalcançável. Da mesmaforma um homem com poucos recursos e sem oportunidades. Nem quem tenha um

vizinho que seja rico. Nem quem dependa dos pais e de irmãos. Nem sequer quem, sendohóspede habitual, possa ser considerado como da família. Este homem, desde pequeno, temque buscar pessoalmente que uma donzela por ele se apaixone. Assim, se ele tem característi-cas deste tipo e desde pequeno vive no Sul com a família de um tio materno, longe dos pais eem situação de desamparo, esforce-se em conquistar a filha do seu tio, sua prima, difícil deconseguir por suas muitas riquezas, ou porque já está comprometida com outro homem; ou

aspire a outra noiva fora da família. Sim, atuando desta forma com uma donzela, cumpre-se aLei Sagrada (através do matrimônio). Obtê-la para si será digno de louvor, explica Ghotaka-mukha.

Com esta donzela colherá flores, entretê-la-á, brincará de construir casinhas, brincará combonecas, fará cozinhadinhos adequadamente de acordo com o grau de amizade. Com ela ecom os escravos e servas, envolvidos com o mesmo entretenimento, jogará dados e brincarácom as fitas, brincará de par ou ímpar, e outros jogos semelhantes; brincará de amarelinha e

outros passatempos locais, de acordo com a preferência das crianças. Também praticarão jo-gos de movimento, como esconde-esconde, perseguição, linhas de sal, bater palmas, pilha degrãos (procurar moedas escondidas), cabra-cega e outros jogos regionais, com as amigas.

Estabeleça uma sólida amizade e cuide de familiarizar-se com a donzela que, segundo suaopinião, goza da sua confiança. Trate a irmã com simpatia e cuidado extraordinários para queesta, uma vez que perceba que você gosta da sua irmã, não o rejeite e ajude-o a promover asua união com ela. Além disso, apesar de não haver uma forma explícita, é notável que, sem

saber as intenções do homem, destaquem-se suas boas qualidades, de modo que o amor possaacontecer naturalmente.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 59 

Ele deve descobrir coisas que interessem à donzela e que ela queira conquistar e deve propor-cionar essas coisas a ela. Pode dar-lhe brinquedos raros, que as outras meninas não sonhemconquistar. Dê-lhe uma bola pintada de várias cores, salpicadas com pequenas manchas, ouainda mais raras; dê-lhe bonecas feitas de madeira, chifre de búfalo, marfim e farinha de cerade abelha ou argila.

Se o homem prepara a comida, tenha as vasilhas de cozinheiro. Mostre-lhe duas ovelhas demadeira, macho e fêmea juntos, ou cabras e ovelhas, casas feitas de barro, gaiolas de madeirapara papagaios e outros pássaros, vasos de água de forma surpreendente, amuletos, alaúdespequenos, berços para bonecas, bolsas de toucador, unguento de sândalo, noz de betel, aça-frão, arsênico vermelho, amarelo, preto e de outras cores. Dê-lhe, de forma reservada, mensa-

gens óbvias de união homem mulher, macho fêmea. No entanto, em público, deve ser recata-do e fazer todo esforço para parecer discreto e deve deixar claro à mocinha que ela satisfaztodos os seus desejos.

Neste ponto, peça paravê-la a sós e para conver-sar sozinho com ela. Digaque quer lhe dar presentes

e que teme que seus paisnão entendam e não gos-tem do encontro e quetalvez eles (os pais) quei-ram que ela goste de outrapessoa. Quando ela co-meçar a se apaixonar,você deve lhe contar his-tórias sugestivas e que lhe

comovam o coração. Seela gosta de coisas extra-ordinárias, você deve sur-preendê-la com truques de mágica; se lhe interessam as artes, mostre-se bom nas artes; se elagosta de canções, cante para ela. Nas solenidades de Asvayuji, Astamicandraka e Kaumudi64,nas festas, durante uma procissão, um eclipse, ou quando se encontra no caminho de casa,surpreenda-a levando-lhe coroas de flores de formas variadas e adornos de todo o tipo para as

64 A festa de Asvayuji cai na lua cheia do mês hindu de Asvina (setembro/outubro); na festa de Astamicandraka (também chamada Astami-candrika ou Astamicandra), que cai na lua quarto crescente de Margasirsa (novembro/dezembro), se jejua durante todo o dia e se comequando a lua nasce.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 60 

orelhas, especialmente com pérolas; e pense que, dando-lhe vestidos, anéis e colares, não aestará importunando ou molestando.

Para que sua competência imponha respeito aos outros homens, basta a palavra da irmã; seesta já teve um amante, está instruída nas sessenta e quatro artes eróticas, e, através dos ensi-namentos dados, revele à escolhida sua maestria no amor.

Vista-se com elegância e mostre-se impecável; por suas reações e por suas atitudes, saberá seela se sente atraída. Efetivamente, as jovens gostam muito de um homem ao qual conheçambem e que vêm sempre. Embora nem sempre sejam cortejadas por ele. Isso é o que mais ocor-re. Desta forma, o homem deve se dirigir à mocinha.

A – ATITUDES E EXPRESSÕES

Atitudes e expressões que revelam o amor.

Não coloque os seus olhos sobre o homem, mas, se ele a olha procure parecer-se envergonha-da. Sob um pretexto qualquer, procure descobrir um pouco do seu bonito corpo. Lance olha-res para o amado quando ele estiver distraído, escondido ou esteja, de modo a que não a vejaolhando-o. Se ele lhe faz uma pergunta, responda com um sorriso, de cabeça baixa, com pala-vras sem sentido e confusas. Ele vai ficar feliz por poder ficar mais tempo ao seu lado.

Se está um pouco distante do amado, faça caretas para quem o esteja acompanhando, pois issofará com que ele pense que você o está olhando, e não quer que ele saia dalí. Ele percebe issoe logo começa a rir e começa a contar uma história para ficar mais perto. Se você está ajoe-lhada perto de uma criança, abrace-a e beije-a; coloque um enfeite na testa de uma emprega-da. Esses são gestos que chamam a atenção e falam por si mesmos.

Através de pessoas da sua comitiva, mostre e imponha respeito e faça-se respeitar.

Confie em seus amigos, goste deles e siga os seus conselhos. Faça novas amizades, converse e

brinque com seus criados; não se envergonhe de pedir o que precisar. Quando os criados esti-verem falando de seu amado com outras pessoas, procure ouvir atentamente. Convidada por

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 61 

sua irmã vá a sua casa. Procure não sair à rua sem colares. Se ele (o amante) lhe pede umbrinco, uma pulseira, um pendente, uma guirlanda como recordação, os dê através de umaamiga, nunca diretamente. Mantenha bem guardado tudo que ganhe do amado. Mostre-se tris-te se lhe falam de outro pretendente e não frequente lugares onde essa outra pessoa possa es-

tar.

Uma vez que você já tenha visto estas expressões,transbordando de amor, e essas atitudes,

 pensa em várias desculpas  para se juntar à donzela.

Com jogos infantis, se é ainda muito jovem, as artes, quando, um pouquinho mais velha,

e, se é mais madura, terá que conquistá-la vencendo pessoas em quem ela confia.

4 – CORTEJO POR PARTE DO HOMEM, SEM INTERMEDIÁRIOS

uando a donzela mostrar essas atitudes e expressões, o homem deve cortejá-la com ouso de estratégias especiais. Se, por alguma casualidade, discutem enquanto estiverembrincando, pegue sua mão de forma que ela note. Coloque em prática as regras queexpusemos anteriormente sobre o abraço “que roça” e tudo o que segue a ele.

Se, brincando, você pegar uma folha e recortar, faça e lhe mostre uma imagem de um casal,como que revelando seus desejos; e, de vez em quando, faça também outras figuras de igual

simbolismo e lhe mostre.

Se, por diversão, se banham, mergulhe furtivamente, toque-lhe casualmente e imediatamenteemerja, fingindo susto e espanto. Tanto nas brincadeiras quanto em cada novo encontro, pro-cure expressar seus sentimentos de forma especial. Fale do quanto você sofre, e, a qualquerpretexto, diga que teve um sonho de amor.

Durante uma festa ou uma reunião de família, procure sentar-se ao seu lado, e, fingindo qual-quer coisa, busque um contato com ela. Para manter-se de pé, apóie seu pé nos pés dela e,

Q

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 62 

pouco a pouco, esfregue seus dedos nos dedos dela. Conseguindo isto, tente ir mais longe,uma após outra parte do corpo. Para que ela não se assuste e reprima, repita várias vezes amesma coisa.

Por ocasião da lavagem de pés, aperte-lhe os dedos, esmagando-os contra os seus pés. Mos-tre-se emocionado em dar-lhe algo ou dela receber algo e, quando terminar de beber na palmada mão, salpique-a com a água que sobrou.

Quando sentar-se com ela, sozinhos em um canto isolado, no escuro, mostre-se acolhedor;como se estivessem dormindo no mesmo lugar. Nestas circunstâncias, procure descobrir osseus sentimentos sem assustá-la ou importuná-la. Se tiver oportunidade, diga-lhe que precisa

lhe contar algo: neste momento, dê a entender o seu amor, como explicaremos na parte sobreas esposas dos outros.

Quando a donzela já estiver ciente dos seus desejos, simule uma doença e faça com que a le-vem na sua casa para falar com ela. Quando ela chegar, peça-lhe que lhe faça massagens nacabeça, tome-lhe as mãos e a olhe expressivamente nos olhos. Para poder aproveitar-se do“efeito dos remédios” peça-lhe que ela lhe cure. Diga-lhe; “Só tu podes fazer. Pois apenasuma donzela como tu podes me curar”. A seguir, para saudá-la expresse seu desejo de que ela

volte. Se puder utilizar esse estratagema durante três dias seguidos, pela manhã, à tarde e aoanoitecer, terá conquistado a donzela.

Para vê-la constantemente, quando da visita, organize entretenimentos, inclusive com outrasmulheres, para que a confiança dela possa aumentar; e corteje-a cada vez com maior assidui-dade, sem expressá-lo com palavras. Pois um homem que alcançou resultados no amor e semostra convencido disto não tem êxito com donzelas; é o que ensina Ghotakamukha. Entre-tanto, quando as donzelas estão fascinadas, é mais fácil passar a ação. Ao cair da noite, no

final da tarde, as mulheres se mostram menos medrosas, estão mais decididas a fazer o amor emais apaixonadas, e não rechaçam o namorado; por este motivo, devem ser amadas nestesmomentos, como é opinião da maioria.

Se um homem não pode terminar o cortejo, convide a donzela à sua casa, acompanhada desua irmã ou de uma amiga que esteja ciente das suas intenções, que seja íntima dela e que nãolhe conte nada. Assim que ela chegar à sua casa corteje-lhe da forma exposta. Caso contrário,pode mandar primeiro uma criada, para que estabeleça uma amizade. Durante um sacrifício,

um casamento, uma procissão, uma festa ou uma comemoração qualquer, enquanto as pessoasassistem ao espetáculo, observe como a donzela se comporta e quais são suas expressões, co-

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 63 

mo ela demonstra os seus sentimentos e, quando ela estiver sozinha, passe às  preliminares.

Pois, quando se conhece o amor de uma mulher, se achega a ela no momento e no lugar cer-tos, ela não se esquiva, não se retrai; é o que ensina Vâtsyâyana. Este é o cortejo por parte dohomem diretamente, sem se utilizar da ação de intermediários.

A – A CONQUISTA DO HOMEM ESCOLHIDO

É possível que uma donzela, com boas qualidades, tenha poucas ocasiões; que lhe faltemmeios econômicos, embora venha de boa família; que não a peçam em casamento homens deigual classificação social, ou que não tenha pais, ou viva na casa de familiares outros que nãoos pais. Neste caso, uma vez alcançada a juventude, ela mesma pense no seu matrimônio.

Nesse caso, ela mesma pode cortejar, com um carinho muito inocente, um homem muito es-timado, competente e bonito; ou pode, assumindo que a carne é fraca e independentemente daopinião dos pais dele, fazer a corte diretamente a um jovem - com ternos galanteios e tentandoestar com ele o máximo de vezes possível. Um encontro à tarde, junto com amigas e irmãs,com muitas flores, perfumes, betel, onde lhe mostrará o quão perita é nas artes e nas massa-gens. Com muitas e ternas conversas.

Contudo, a opinião de alguns mestres é clara: em nenhum caso a jovem deve cortejar a um

homem, nem quando o deseje. Toma-se a iniciativa, gasta sua fortuna em amor. Entretanto,receba com satisfação o fato de que ele a corteje. Se ele a abraça, pareça-se nervosa; aceitecomo um gesto de ternura, como se não estivesse entendendo as intenções. Deixe que ele lheroube um beijo à força. Se ele lhe pede o amor, resista às suas investidas sobretudo em algunslugares secretos.

Por muito que ele suplique, não deve mostrar-se em demasia – afinal, nada foi, ainda, decidi-do. Mas quando você se dá conta de que o homem a ama e não lhe abandonará, peça ao pre-

tendente que lhe livre da sua virgindade; e depois de havê-la perdido, só conte às pessoas dasua confiança. Essa é a forma de se conquistar o homem eleito.

B – O QUE UMA DONZELA OBTÉM COM O CORTEJO

Alguns versos sobre este assunto:

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 64 

Cortejada, uma donzela tem que tomar por esposo 

o homem que considere um refúgio,

um prazer, bem intencionado e fiel.Quando, independentemente das qualidades,

 da aparência ou mesmo da experiência,ela busca um marido por sede de riqueza, mesmo competindo com outras mulheres,então uma donzela não deve persuadir um homem cheio de qualidades boas,

 fiel, competente, cheio de paixão, que a corteja por todos os meios.

Melhor um esposo pobre, mas fiel,e que, sem tantos méritos, só pense nela; ao invés de um que pense em muitas;

 porque aquele está cheio de boas qualidades.

Em geral os ricos têm muitas esposas 

 que se comportam com liberalidade; felizes por fora, são desconfiados,

embora não lhes falte o prazer externo.

Mas, se você tem que conquistar um plebeu,ou a um que já tem os cabelos brancos 

ou a um que está sempre viajando, não vale a pena o casamento.

 A quem corteja apenas por capricho,ou se dedica a jogar e a enganar,

ou tem mulher e filhos, não é digno da união.

 A igualdade de qualidade, entre os pretendentes  apenas um dos pretendentes será o escolhido;

e este pretendente vence os demais, porque é pela natureza do amor.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 65 

5 – DIFERENTES FORMAS DE CASAMENTO

uando um homem pensa que é impossível ficar com uma donzela em particular, emprincípio pode levar sua irmã, depois de tê-la conquistado com afeto e atenção. Esta,fingindo não conhecer pessoalmente o amor, fascina-se com suas qualidades e atençãopara com ela. Ficando claras, acima de tudo, as qualidades do apaixonado, e destacado

também os seus defeitos, mas muito menores que os de outros pretendentes. Deixe claro queos pais da jovem não conhecerem as suas virtudes e são avaros, além de cabeças duras.

Citando como exemplo Sakuntala65 e outras donzelas iguais à ela, que conseguiram um mari-do por iniciativa própria e foram felizes na sua união enquanto que em famílias nobres, vêm-se mulheres sofridas pelas rivalidades com outras esposas, presas pelo ódio, afligidas e aban-donadas. Por fim, pinte o futuro radiante do esposo, a felicidade perfeita que gozará ao ser suaúnica esposa e o amor que lhe proporcionará aquele homem.

•  Quando você está cheio de desejos, com argumentos consistentes, alheio ao sentido doperigo, do medo e do pudor, peça ajuda a um alcoviteiro. Preocupe-se em convencê-la para

que não titubeie, dizendo: “O amor te dominará pela força, como se você de nada soubes-se.” Quando ela aquiescer a te encontrar no lugar desejado, o namorado a deve esposar: le-ve o fogo da casa de um sacerdote66, estenda a reza da doutrina dos mestres. Depois de ha-ver perdido sua virgindade, deve, então, revelar, com muito tato, o que aconteceu aos fami-liares da jovem; e deve falar de tal forma que os familiares dela, para evitar a impureza dafamília e por temor ao castigo (devido a qualquer situação de ilegalidade), lhe a concedama jovem. Imediatamente após a concessão, conquiste a família com gestos de amizade e ca-rinho. Em resumo, aja conforme o matrimônio preconizado em Ganhdharva67.

•  Se a jovem não consente, o homem deve procurar outra mulher de boa família, que habitu-almente conviva com a jovem, que a conheça há muito tempo e que seja sua amiga; consi-

 65 Sakuntala, um dos personagens mais famosos da literatura hindu, cujas peripécias são narradas no Mahahharata. Filha de uma ninfaceleste e de um asceta seduzido, é criada pelo sábio Kanva em seu eremitório; convertida em uma jovem, encontra-se com o príncipe Kuhs-yanta, que havia chegado às cercanias do eremitório em uma de suas caçadas, une-se com ele secretamente através do matrimônio Gandhar-va. Separada do amado, se junta a ele novamente apenas depois de muito tempo e lhe impõe o reconhecimento do herdeiro nascido da suafurtiva união. Sua história se apresenta como exemplo de felicidade conseguida pela donzela que, contra o costume que outorga essa funçãoprimeiramente aos pais, escolhe o esposo pela própria iniciativa.

66 Gestual fundamental do rito matrimonial, centrado na presença do Fogo Sagrado, que, como se vê, é considerado como “testemunha” doato.

67 Quinta das oito formas possíveis de contrair matrimônio, chamada Gandharva, em que os músicos celestes seriam as testemunhas: basea-do na simples união consensual dos nubentes, não requer nem a presença do fogo sagrado, que aqui é mencionado em razão de escrúpulos.

Q

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 66 

ga que esta a acompanhe sob qualquer pretexto a um local adequado. Depois leve o fogoda casa de um sacerdote e faça tudo como dito acima.

•  Se a jovem tem um casamento com outro marcado para breve, mas a mãe da jovem se ar-repende, ao descobrir os defeitos do pretendente a quem concedeu a jovem. O novo pre-tendente então, com a aprovação da mãe, convida a jovem, à noite, à casa de um vizinho. Onovo pretendente deve levar o fogo da casa de um sacerdote e realizar todo o procedimentopreconizado em Ganhdharva em conluio com a mãe da jovem.

•  Em outro caso, o homem pode ganhar a confiança e atenções do irmão da donzela que te-nha a sua idade, com favores e atenções afetuosas durante um longo tempo facilitando-lhe

o acesso a prostitutas e ao adultério até revelar as suas intenções. Muitas vezes os jovenssão capazes de dar até a vida para ajudar os amigos e esse novo amigo não hesitará em aju-dá-lo acompanhando a irmã a um local adequado, simulando uma desculpa qualquer. Leveo fogo da casa de um sacerdote e faça conforme os escritos.

•  Na festa de Astamicandrika e em solenidades parecidas, a irmã pode induzir a donzela abeber alguma bebida embriagante e, logo, invocando um motivo pessoal,  levá-la a umlugar apropriado onde esteja o amante. Este a violará, como se estivesse fora de sí também

pelo efeito de bebidas embriagantes e fará como o exposto. Pode possuí-la antes que elarecobre a consciência, quando estiver adormecida e sozinha – uma vez que a irmã teráfugido de comum acordo com o amante. E então atuará como o acima exposto.68 

•  Se o homem tiver um bom número de parceiros ajudantes e descobrir que a donzela vaipara outra cidade em viagem ou está em um jardim fora de casa, pode aterrorizar àquelesque a acompanham ou até mesmo matá-los, e raptar a donzela69.

São as diferentes formas de se contrair matrimônio.

 A primeira forma do casamento é sempre maior  porque é baseado na Lei Sagrada;

68 Das variantes do matrimônio chamados Paisaca, dos Pisaca, seres demoníacos; considerado o mais reprovável, no que se supõe que omarido só o revelará aos familiares, e não há a presença do fogo, pois este casamento não pode ser bendito pelo ritual.

69 O casamento Raksasa, chamado assim pelos demônios de mesmo nome: uma forma de casamento não santificado com o fogo, que ostextos admitem apenas para os homens da classe dos guerreiros.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 67 

 mas se isso é impossível  que se recorra, em cada caso, a que se seguir.

Se para casamentos celebrados é indispensável que haja o amor,o Gandharva, apesar de estar no meio,

 deve ser considerado uma ligação excelente.

 Ao proporcionar felicidade, e exigir pouco esforço, não requer pedido formal é feito apenas por amor,

 por isso o casamento Gandharva é o melhor.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 68 

IV – AS MULHERES CASADAS

A – O COMPORTAMENTO DA MULHER QUANDO É A ÚNICA ES-POSA

Quando é única, a esposa tem que secundar o marido, confiando-lhe como a um deus 70. Devetambém apresentar gosto pelos trabalhos domésticos e em família. Deve certificar-se semprede que a casa está bem, sempre adornada com flores, imaculada de cuidados, com piso liso emuito limpo; deve realizar oferendas três vezes ao dia e honrar o templo doméstico. Pois nãoé diferente esta morada das que fazem armadilhas aos corações dos donos da casa, diz Gona-diya.

Que seja tão respeitosa como convém com os familiares mais velhos, com a criadagem quelhe serve, com as irmãs do marido e com os maridos destas.

Em locais muito bem cuidados, plante canteiros de verduras e hortaliças, cana de açúcar ecominho, mostarda, salsa, erva-doce e tomates. Cultive rosas, amalaka, jasmins variados, nozmoscada, amaranto amarelo, tagara, nandyavarta, malvavisco e outras plantas; que possuaestrados com muitas flores de valaka e usiraka, e deliciosos gramados arborizados, e no cen-tro, que mande cavar um poço, um tanque ou que faça um pequeno lago. 

Não deve se relacionar com monjas mendicantes de nenhuma classe, nem com mulheres liber-tinas, prestidigitadoras, adivinhas, ou que pratiquem feitiços com raízes71. 

70 O marido é o deus das mulheres. Este capítulo está em sintonia com as normas reservadas às mulheres nos textos normativos da época, e,

na verdade, segundo a concepção brâmane de mulher fiel.71 Os feitiços realizados com a manipulação de raízes têm como finalidade submeter totalmente o destinatário.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 69 

Quando ouvir os passos do marido chegando, que a esposa esteja sempre no centro da casa,pronta, e lhe pergunte o que pode fazer. Peça à empregada – ou ela mesma o deve fazer - pararemover os sapatos do marido e banhe-lhe os pés cansados. Quando estiverem a sós, nuncafixe os olhos diretamente no esposo. Se ele gasta muito tempo com pessoas indignas, e se

deve ser reprovado por isto, que o seja privadamente. Se a esposa é convidada para uma festa,um sacrifício, a uma reunião com amigas, ou a uma visita a um templo, só vá após a permis-são do marido e em qualquer ocasião comporte-se conforme ele queira.

Deite-se sempre depois dele e levante-se sempre antes dele. Cuide para que a cozinha apre-sente-se sempre resplandecente. Se ficar triste por um mau comportamento do esposo, nãoexagere na repreensão ao marido. A esposa pode usar de ironia para com seu esposo, masapenas quando estiver sozinha com ele ou, no máximo, junto a amigos muito íntimos do casal.

Além disso, jamais faça feitiçarias com raízes, pois nada suscita maior desconfiança ao mari-do que feitiçarias, explica Gonardiya. Evite usar expressões que possam ter duplo sentido eque soem mal, assim como evite olhar de soslaio. Não converse com ele olhando “para o teto”ou para outra parte, como se a conversa não fosse importante. Não fique parada sob o umbralda porta e não o fite nos olhos. Procure não ficar muito tempo nos jardins ou sozinha em luga-res solitários. Tenha muito cuidado com o suor, com a limpeza dos dentes, e com o seu odoríntimo, pois isso é motivo de profundo descontentamento.

Boas jóias, muitas flores e cosméticos, um vestido resplandecente, muito estampado: esta é acombinação para os encontros de amor. No entanto, para ficar em casa, convém um vestido deseda muito fina, lânguido e curto, poucos colares, pouco perfume, poucos enfeites e floresbrancas ou de cores suaves.

Se o esposo realiza um voto ou faz um jejum, a esposa deve segui-lo por sua livre iniciativa; ese ele a impede, ela deve se opor, evitando que, nessas circunstâncias, ele a impeça.

Pechinche na hora de fazer compras para casa – da argila ao vime, do couro à madeira ou me-tal. Além disso, tenha em casa, escondidas, provisões de sal e azeite e todas as outras que setenha dificuldade para conseguir: perfumes, especiarias e ervas medicinais.

Recolha as sementes, e no seu devido tempo, plante todo o tipo de plantas: rabanete, aluka,acelga, sálvia, amrataka, pepino, coloquíntida, berinjela, abóboras  , surana, sukanasa, sva-

 yamgupta, tilaparnika, agnimantha, cebola e outros vegetais.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 70 

Jamais fale com estranhos so-bre as economias domésticasnem fale sobre os projetos doesposo; procure superar as mu-

lheres da sua classe em habili-dade, elegância, afazeres do-mésticos, sensatez e comporta-mento com a criadagem.

A esposa deve cuidar de tersempre exato o controle dosgastos anuais. Deve ser capaz

de fazer manteiga com leite devaca não utilizado pelos bezerros e de fazer o mesmo com o azeite e com o melaço. Deve sa-ber fiar e tecer o algodão, fazer cordas, barbantes e ráfia para carregar pesos, controlar a moa-gem de alimentos, utilizar a água em que foi lavado o arroz, sua espuma, as cascas, grãos, opó do arroz e o carvão. Deve ser capaz de avaliar o salário e os meios para manter os servi-çais, os cuidados devidos no campo e à criação – ovelhas, galinhas, codornas, corvos, cucos,pavões, macacos e veados – e, finalmente, deve saber harmonizar as entradas e saídas diáriasdo dinheiro disponível.

Deve recolher as roupas velhas do esposo – as de cor branca – e dá-las aos criados ou encon-trar outros destinos para elas. Deve manter abastecidas, na casa, garrafas de aguardente e deasaya e regular o seu uso. Também lhe cabe se ocupar da compra venda, ganhos e gastos, ouseja, as economias do lar.

A esposa deve tratar adequadamente os amigos do seu esposo, oferecendo-lhes, guirlandas,pomadas, e betel. Esteja a serviço da sua sogra e do seu sogro, a quem deve se submeter; nãolhes contradiga, nem seja com eles muito faladora ou demasiado impetuosa. Evite rir em vozalta na presença deles. Com amigos e inimigos destes, comporte-se como se fossem seus pró-prios amigos ou inimigos.

Mostre-se moderada na hora de comer e amável com o séquito do seu esposo. Não dê nada aninguém sem antes pedir autorização ao esposo. Limite suas ações aos serviçais da casa e nãose esqueça de agradecer ao esposo pelas festas proporcionadas. Assim deve se comportar umamulher quando é a única esposa.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 71 

B – CONDUTA DURANTE AS VIAGENS DO MARIDO

Quando o esposo está em viagem, a mulher só deve usar ornamentos auspiciosos, de bom

augúrio. Deve dedicar-se ao jejum para que os deuses sejam propícios, buscar notícias sobre omarido e ocupar-se da casa.

A esposa deve procurar dormir perto da casa dos seus sogros. Realize tudo com a aprovaçãodestes e procure fazer as coisas do mesmo modo que o seu esposo gostaria que fossem feitas.Nas atividades diárias e ocasionais, gaste como de costume e tente terminar as empreitadascomeçadas por ele.

Não deve ir em visita à casa dos seus familiares, a não ser em casos extremos ou no caso deuma festa especial. E, neste caso, acompanhado do séquito do esposo, e usando vestido deseparação.

Faça jejuns aprovados pelos sogros. Com a sua permissão, recorra, quando necessário, a ser-viçais honestos, e sob as suas ordens, procure aumentar o patrimônio da família com aquisi-ções e vendas e reduza, na medida do possível, os gastos domésticos.

Quando o esposo estiver de volta à casa, logo no começo se mostre com os mesmos vestidosmodestos que usava na sua ausência, e cumpra com as devoções aos deuses, que lhe presente-aram com a volta do esposo. Esta é a conduta de uma mulher durante as viagens do marido.

Vale colocar duas estrofes sobre o assunto:

Tenha um comportamento virtuoso  a mulher que seja esposa única 

e que queira o bem do seu homem, seja ela de boa família, que tenha voltado a se casar ou que tenha sido cortesã.

 As mulheres que vivem na virtude,cumprem a Lei Sagrada, o Útil e o Amor,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 72 

obtêm uma boa posição e um marido sem esposas rivais .

1 - COMO A ESPOSA MAIS ANTIGA DEVE SE COMPORTAR COMAS OUTRAS MULHERES

m homem casado contrai outras núpcias devido à pequenez de caráter da sua primeiraesposa ou se esta se lhe apresente desagradável porque não lhe dá filhos ou porquesimplesmente é de personalidade inconstante.

Uma esposa, para evitar estas situações, desde o início deve se mostrar de bom caráter, leal, ehábil no trato com o esposo.

Mas, se não puder ter filhos, deve pedir ao esposo que tome para si outra esposa.

Quando esta nova esposa irá substituí-la, a esposa primeira, por sua vez, deve tentar conquis-

tar uma posição mais elevada na relação e, uma vez conseguida, deve tratar a nova esposacomo a uma irmã mais nova. Prepare-se muito bem para as noites, de forma tal que desperte ointeresse do seu esposo. Não leve em consideração se, sendo favorita, ele se mostre hostil ouarrogante; e não se preocupe se no início ele lhe for negligente. Se puder ajudar, faça-o comboa vontade; quem sabe se o marido, mesmo que discreta e intimamente destaque suas extra-ordinárias qualidades.

Seja imparcial com os filhos da outra, e extremamente compreensiva com seus servos. Mos-

tre-se afetuosa com seus amigos; Não dedique muitas atenções aos familiares dos amigos de-la, mas tenha muito cuidado com os familiares dela.

Nos casos em que a substituam várias esposas, alie-se com a que tenha a idade mais próximaà sua. Procure jogar a favorita do esposo contra a sua aliada e demonstre compaixão por esta.

Aliada às outras, mas sem comprometer-se com nenhuma, procure desacreditar a nova esco-

lhida. Entretanto, quando a escolhida discutir com o esposo, apóie-a discretamente, mas man-tendo-se à parte e a console; enquanto isso fomente a discussão entre ambos. Se perceber que

U

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 73 

a discussão é banal, tente atiçá-la. Mas se perceber que o esposo guarda muitas atenções paraa rival, faça um esforço para que se reconciliem. Assim deve se comportar a esposa mais anti-ga.

A – COMO DEVE SE COMPORTAR A ESPOSA MAIS JOVEM

A esposa mais jovem, ao contrário, deve considerar a esposa rival como sua mãe. Atrás de sinão existe nada, nem mesmo seus familiares; tudo o que a esposa jovem fizer estará sob atutela da mais antiga, portanto, peça sempre o seu consentimento. Não conte a outros o queela lhe diz; tenha uma atenção maior com os filhos dela que com os seus próprios filhos.

Na intimidade, esteja obrigada a fazer de tudo com o seu esposo. Se lhe dói que as outras es-posas te humilhem, cale-se e esforce-se para ganhar as atenções do esposo. Deve mostrar-sesempre que está bem servida e bem atendida, mas sem dizê-lo aos quatro ventos, por presun-ção ou por paixão. Mas, a bem da verdade, uma mulher que não guarda os segredos só conse-gue que seu esposo a despreze; por temor à esposa mais antiga, deve aspirar sempre aos reco-nhecimentos guardados. Assim explica Gonardiya.

Se a esposa mais antiga cai em desgraça com o marido, e sem filhos, que a mais jovem sintacompaixão por ela e procure o esposo e tente fazer com que ele sinta o mesmo. No entanto,quando esta fase for superada, comporte-se como esposa única. Assim deve comportar a es-posa mais jovem.

B – A MULHER VIÚVA QUE VOLTA A SE CASAR

Uma viúva que, ao sofrer pela fraqueza dos sentidos, encontra de novo um companheiro a-mante dos prazeres e com grandes qualidades é uma viúva que volta a se casar72. No entanto,se a mulher deixá-lo (seja porque ele não tenha qualidade bastante para almejar uma donzela,por exemplo), talvez ela tenha encontrado outro homem. É a opinião de Babhraya. Talvez elaainda possa encontrar outro, se quer ser feliz. Gonardiya opina que a felicidade resulta com-pleta quando se encontram juntos qualidades e prazeres; em relação com ele (o homem semqualidade) existe uma diferença: Vâtsyâyana diz que um homem deve atuar conforme lhemanda o coração.

72 O segundo casamento não pode ser santificado com o ritual e, na realidade, se fundamenta em uma simples conveniência.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 74 

Esta mulher, com a família, deve tentar conseguir do seu companheiro, benefícios que exijamgastos: festas, visitas a jardins, presentes, favores aos amigos e coisas parecidas. Ou procure,através de bens materiais, agradar, tanto a ele quanto a si mesma. Nos presentes de amor nãodeve haver limites. Se a viúva deixa sua casa por iniciativa própria, para juntar-se a um novohomem, deve deixar tudo o que o marido lhe tenha dado, exceto os presentes de amor; se, aocontrário, fica na casa, fica com tudo.

Tome posse da casa do companheiro como se fosse dona. Com as esposas de boa famíliacomporte-se com delicadeza; mostre-se sempre educada com os serviçais e alegre e respeitosacom os amigos. Esmere-se em mostrar-se hábil nas artes e com uma cultura superior à média;se confrontos surgirem, procure não censurar o parceiro. Na intimidade deve entretê-lo muito

bem com as sessenta e quatro artes eróticas.

Seja útil por iniciativa própria com as outras esposas; dê presentes aos seus filhos e lhes cubrade atenções, adereços e ornamentos. Com os serviçais e com os amigos, seja muito generosa.E, por último, sinta paixão verdadeira pelas reuniões, festas, diversões nos jardins e por ocasi-ão das procissões. Assim deve fazer a viúva que volta a se casar.

C – A ESPOSA QUE CAI EM DESGRAÇA

A esposa caída em desgraça e afligida pela rivalidade com outras mulheres deve apoiar-se naque ocupa a posição mais elevada, para colocar-se, de algum modo, ainda na prestação deserviços ao esposo.

Mostre ostensivamente o conhecimento das artes; sendo uma mulher agora marginalizada, denada adiantarão os segredos.

Exerça a função de babá para os filhos do marido. Ganhe a simpatia dos amigos e se comportede tal maneira que eles reconheçam a sua fidelidade. Preceda a todos nos atos de culto, nosvotos e nos jejuns. Seja atenta com os serviçais e não se coloque em posição de importância.Na cama, tendo a oportunidade de acessar ao esposo, tente convencê-lo do seu amor. Não lhereprove nada que faça nem se mostre esquiva; se ocorrer algum tipo de confronto com alguma

das outras esposas, tente trazer de volta a relação a uma atitude afetuosa. Se o esposo amauma mulher em segredo, ajude ao esposo e procure fazer com que essa união permaneça se-

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 75 

creta; e faça-o de tal forma que o esposo compreenda quão fiel e sincera tens procurado ser.Assim deve atuar a esposa caída em desgraça.

D – A VIDA NO HARÉM

Pode-se deduzir do que foi escrito anteriormente como devem se comportar as mulheres deum harém.

Suas assistentes e suas damas de companhia devem vestir o soberano de guirlandas, unguen-tos e vestidos, presenteando-o por parte das rainhas do harém. O rei, ao aceitar, deve dá-losem oferenda para serem utilizadas em sacrifícios73. Sempre na parte da tarde, elegantementevestido, o rei deve visitar todas as esposas do seu harém juntas, suntuosamente decoradas.Segundo o momento e os méritos de cada uma, devem ser recompensadas com manifestaçõesde respeito. Também deve mantê-las entretidas com conversas divertidas. Depois, deve visitaràs viúvas que tenham voltado a se casar; logo a seguir as cortesãs que vivam no harém e asatrizes. Estas mulheres estão em suas habitações, segundo a ordem de classificação já exposta.

Quando após a sesta da tarde o rei se levanta, as damas de companhia, acompanhadas das

criadas de cada esposa devem anunciar ao rei qual é a esposa do turno, quem se descuidou dosseus afazeres e quem está no período fértil. Devem dar-lhe anéis e pomadas que as esposastenham enviado, e lhe indiquem o turno seguinte e os dias férteis das esposas. Então, o sobe-rano, escolhe a esposa que chamará para amar conforme as possibilidades apontadas.

Durante as festas, as esposas devem atender adequadamente e participar em todas as comemo-rações, e também nos concertos e nas exibições. As que habitam no harém não devem sair, eas que vivem fora não podem entrar no harém, exceto as mulheres consideradas irreprováveis,

que estejam acima de qualquer suspeita; desta forma, não se perturbam as atividades do ha-rém. Esta é a vida em um harém.

E – AS RELAÇÕES DE UM HOMEM COM MUITAS ESPOSAS

Este assunto pode ser apresentado sob a forma de versos:

73 Excelente presente, porque o que resta de oferendas a uma divindade após o rito é considerado carregado com poderes sobrenaturais.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 76 

Um homem que tem muitas mulheres  deve ser imparcial;

 não faltar ao respeito nunca e não tolerar qualquer dobra.

Não deve falar nada de uma mulher para outra  nem no jogo do amor.

 nem sobre um defeito físico  nem uma crítica feita em confiança.

Nunca deixe solta uma mulher  quando o assunto é uma rival;

 se uma delas o critica por esta razão, nela ele deve jogar toda a culpa.

 Agindo desta forma adulará as mulheres:inspirando total confiança,;

 demonstrando evidentes atenções,e com grandes manifestações de estima.

 Agrade a todas, de uma em uma,com passeios pelos jardins, delícias, presentes,

 honrando suas famílias,e com favores secretos de amor.

Uma jovem que ele pode tomar e viver de acordo com os ensinamentos do tratado 

 submete-se ao marido 

e domina as esposas rivais.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 77 

V – AS ESPOSAS DE OUTRO HOMEM

1 – A ÍNDOLE DA MULHER E DO HOMEM E OS MOTIVOS DA RE-JEIÇÃO

m homem pode ter relações com as esposas de outros pelas razões já expostas.

Em relação às mulheres há que se analisarem, desde o início, o que têm a ganhar, os riscosque vão correr, quais são as perspectivas futuras do ato de se ter relações com outro homem,se há razão para que o esposo fique longe tanto tempo.

Quando um homem se dá conta de que seu desejo vai lhe queimando aos poucos, para evitarque o corpo sofra, pode ir mais fundo e procurar as esposas de outros homens. O desejo de

amor tem dez etapas, cujas características são: boa aparência, dedicação da mente, intenção defazer, insônia, perda de peso, desinteresse do que acontece à sua volta, perda da vergonha, aloucura, os desmaios, a morte.

Nestas circunstâncias, afirmam alguns mestres, um homem precisa conhecer os “recados”característicos sinalizados por jovens mulheres para facilitar a conquista. Vâtsyâyana sustenta,ao contrário, que, se a pessoa só leva em consideração a aparência os sinais característicospodem ser interpretados erradamente. Ele deve avaliar a mulher em termos exclusivamente

das suas atitudes e expressões. Gonikaputra acredita que quando uma mulher vê um homembonito, instintivamente lhe passa sinais do seu desejo e o mesmo acontece quando um homemvê uma mulher bonita. Contudo, por motivos diferentes, eles podem não se darem conta disso.

Sobre esse aspecto em particular, há uma diferença da mulher em relação ao homem. Ela nãoleva em consideração o que seja ou não permitido pela Lei Sagrada; simplesmente se inflamade paixão, mas, em função de escrúpulos, pode não fazer nada e, mesmo que o homem a cor-teje como ela gostaria que acontecesse, e por mais vontade que tenha, retrai-se. Nesses casos,

para a mulher ceder, só em casos especialíssimos.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 78 

O homem, porém, que respeita as normas da Lei Sagrada e os usos e costumes dos arianos, jácitados neste tratado, embora ame, se retrai para não ceder às suas convicções.

O homem pode cortejar sem motivos aparentes, nem mesmo para conquistar a mulher. Àsvezes ele até despreza a mulher, mas o faz porque o cortejo é a visão predominante para oshomens.

A mulher tem motivos para não ceder facilmente: porque ama seu esposo; porque respeitaseus filhos; porque é uma pessoa madura; porque está aflita por uma dor física ou psicológicaou social; e fica impossível para ela pensar só em si; está nervosa, pois o homem se lhe insi-

nua de forma pouco respeitosa; não lhe passa a ideia de que ele seja sincero uma vez que nãoacredita no que ela pensa ou pelo que ela esteja passando; não vê perspectivas sabendo queaquela relação vai deixá-la ausente, com a cabeça em outro lugar, estará preocupada e nãopoderá ocultar seu estado de espírito; seus sentimentos serão revelados aos amigos e isto apreocupa; suspeita que esteja sendo cortejada inutilmente; tem medo, pois é um homem pode-roso; é apenas uma corsa prestes a ser atacada por um leão e por este motivo teme que ele sejamuito fogoso ou muito dotado; sente-se envergonhada, porque ele é um homem elegante, umexpert nas artes, ou porque, antes, a tenha tratado apenas como a um amigo. Também se senteindignada porque ele a procurou em um lugar e em um momento inadequados; não o estima,

pois o considera fonte de desprezo; tem sobre ele péssima opinião; desde o momento em quefoi encorajada não recebeu dele uma resposta bem vinda; e se é uma mulher “elefante”, por-que pensa que ele é um homem “lebre” e fraco no amor; tem piedade dele, quer evitar portodos os meios que ele passe por desagradável; reluta, porque ficou claro para ela algum de-feito nele; teme que, se esse defeito for descoberto, façam algo contra a sua família; se esqui-va, porque ele é velho, já tem os cabelos brancos; suspeita que ele tenha sido enviado pelo seupróprio marido para colocá-la sob prova; por último, ela respeita a Lei Sagrada.

Se um homem se dá conta de que tem algum destes motivos para ser rechaçado, desde o iníciodeve tomar suas precauções. Se os motivos estão ligados aos nobres sentimentos da mulher,conseguirá o que se propõe demonstrando e deixando claro sua grande paixão por ela.

Quando, contudo, são ocasionados pela submissão, deve procurar estabelecer com a mulheruma intimidade profunda; se essa submissão vier do desprezo que sinta por ele, deve mostrarorgulho e valor. Se perceber que a mulher acha que ele tem pouco respeito pelas mulheres,deve consertar a situação com reverência. Se elas têm medo, deve inspirar confiança.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 79 

A – OS HOMENS QUE TÊM SUCESSO COM AS MULHERES

Têm êxito, geralmente, os seguintes homens: os que conhecem o Kamasutra; os que sabemcontar histórias com sabedoria; os que estiveram com a mulher desde a infância destas; os quecom ela se encontraram na juventude e estiveram com elas desde então; os que conquistarama sua confiança com jogos e coisas parecidas; os que prestam favores de boa vontade; os queconversam amavelmente; os que fazem favores; os que tenham sido alcoviteiros de outro; osque sabem quais são os pontos fracos da mulher.

Também tem sucesso o que deseja ardentemente uma mulher; o que, às escondidas, estreitarelação com uma amiga da mulher; os que gozam de fama de afortunados no amor; o que te-

nha crescido com ela; um vizinho de casa ou um criado, quando estão apaixonados; o esposoda irmã; um novo parente, recém incorporado à família; um homem que frequenta espetáculose jardins e se mostra generoso; um com reputação de ser muito viril; o ousado; o heroi; o quesupera o esposo da mulher em cultura, encanto, qualidades e entrega nos prazeres; e, por últi-mo, os que se vestem bem vivam gastando muito.

B – MULHERES QUE PODEM SER CONQUISTADAS SEM ESFORÇO

Da mesma forma que um homem tem que analisar suas probabilidades de êxito, também develevar em conta a facilidade para seduzir uma mulher. Por isso vamos falar das mulheres quepodem ser conquistadas sem muito esforço.

O homem pode conquistá-la apenas cortejando-a: a mulher que sempre se entretém à porta dasua casa; a que, do terraço da sua casa, à porta, fica olhando o movimento da rua ou assiste auma reunião na casa de uma jovem vizinha; a que olha descaradamente os homens que pas-sam para lá e para cá e, quando esses homens fixam olhares nela, abaixam os olhos e ficamolhando de soslaio. Da mesma forma, há a que, sem motivo, se deixa difamar por uma rival; aque odeia seu esposo ou este a odeia; a que não se preocupa em ser discreta ou guardar algu-ma precaução; a que não tem filhos; a que sempre viveu em família e não sabe ficar sozinha; aque só teve abortos; a que frequenta muitas reuniões; a que é pródiga em atenções.

E também: a mulher de um ator; uma jovem a quem o marido tenha morrido; uma mulherpobre mas que seja amante de prazeres caros; uma mulher mais velha mas que tenha muitoscunhados; uma mulher orgulhosa casada com um marido insignificante; uma mulher orgulho-sa das suas qualidades e que se irrita pela estupidez do seu esposo, por sua insensatez ou por

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 80 

sua ganância; a mulher que, quando era menina, foi pretendida por um homem como esposacom muito afinco, sem conseguir seu objetivo por algum motivo, e agora ele novamente acorteja.

E finalmente: uma mulher com idênticos pontos de vista, caráter, inteligência, formas de pen-sar e de costumes iguais; uma mulher que espontaneamente tende a colocar-se ao lado destehomem; uma mulher que se envergonha sem, contudo, ter cometido nenhuma falta, e que te-nha sido humilhada por rivais quase tão belas quanto ela; a mulher que tenha seu marido via-

 jando muito; e para terminar, as esposas de homens ciumentos, sujos, de coksa74, de eunucos,de indivíduos antipáticos, de afeminados, anões, homens feios, cortadores de pedras, homenspouco educados e grosseiros, homens que cheiram mal, doentes ou velhos.

Duas estrofes sobre o tema abordado:

Um desejo surge naturalmente reforçado pela iniciativa,

e que a prudência nega a preocupação,

 pode ser muito firme e não fugaz.

Se você compreender suas perspectivas,estudou os sinais mostrados e viu que são bonitas,

e eliminado todo o motivo de rejeição, pode ser bem sucedido com as mulheres.

2 – MANEIRAS DE CONHECER MELHOR AS MULHERES

lguns mestres argumentam que uma donzela se conquista mais facilmente com o cor-tejo pessoal do que através de um intermediário, mas o intermediário pode resultarmelhor nos casos da conquista de uma mulher casada, de índole mais complexa. Vâts-yâyana considera que em qualquer circunstância, dentro das possibilidades, o melhor é

atuar pessoalmente; se a situação se complica, deve-se recorrer a um intermediário. Segundo a

opinião comum, as mulheres que cometem adultério pela primeira vez e aquelas com as quais74 Pelo comentário, trata-se de uma casta particular, em que as mulheres geralmente exercem a prostituição

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 81 

se pode falar sem restrição devem ser seduzidas pessoalmente; para as de características dife-rentes, pode-se usar um intermediário.

Quem decide cortejar diretamente, a primeira coisa que deve fazer é conhecer bem a mulher.Pode-se travar contato com uma mulher de forma espontânea ou calculada. O encontro espon-tâneo tem lugar perto de casa; o calculado, perto da casa de um amigo, de um familiar, de umpolítico ou de um médico, em uma festa, em um sacrifício, em uma boda, durante o tempolivre, na visita a um jardim e em outras ocasiões parecidas.

Quando se produz o encontro, o homem deve olhar fixamente a mulher com uma expressãomuito eloquente, com os cabelos bem penteados, unhas bem feitas, jóias tilintando, torcendo

os lábios e atitudes parecidas para chamar-lhe a atenção. E quando ela lhe olhar, mostre gene-rosidade e amor pelos prazeres.

Sentado junto a um amigo, bocejando preguiçosamente, franzindo a testa ao falar, falandobaixinho para ouvir todos os que estão à volta, mantendo uma criança ou outra pessoa paraconversação como se estivesse dando muita atenção a ela, aproveite a oportunidade, enquantoconversa, para revelar a ela o que você deseja. Beije e abrace um menino, mas se referindo aela, ofereça-lhe betel com a língua e acaricie o queixo com o dedo indicador, ou seja, valendo-

se de um pretexto ou de outra pessoa, segundo as circunstâncias e as ocasiões, procure se a-proximar o máximo possível da mulher e deixar claro suas intenções, mas mantendo a discri-ção.

Se a mulher tem um filho no colo, brincando com um brinquedo, brinque com a criança. Comisso, aproxime-se dela e inicie uma conversa. Estabeleça uma amizade com alguém com quemela possa conversar com você quando queira e que você possa visitar quando quiser. Se elaescuta, inicie uma discussão e fale sobre o Kamasutra.

Quando a houver conhecido melhor, lhe presenteie com várias lembranças. E a cada dia, acada instante deixe que ela as devolva pouco a pouco; por exemplo, perfumes ou nozes deareca. Favoreça um encontro com suas esposas em uma reunião confidencial, em um lugarreservado. Se você conseguir o trabalho de um ourives, de um lapidador, de um cortador depedras, de um joalheiro, de um tintureiro ou de outros artesãos, coloque-os a seus serviçospara poder vê-la sempre que quiser e ganhar a sua confiança. Enquanto isso tente ampliar suaintervenção sobre ela em outras áreas; qualquer obra, objeto ou habilidade que necessite, de-

monstre-lhe que conhece seu uso, a produção a origem, ter os meios e os conhecimentos.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 82 

Discuta animadamente com ela e com a sua comitiva dos fatos acontecidos no mundo, e sobreo valor que têm os objetos; intencionalmente faça apostas e lhe conceda a função de árbitro.Se aposta com ela, encarregue a outro de ser o fiel e garanta que ela vá ganhar. São os distin-tos modos para conhecê-la melhor.

A – O NAMORO

Quando a conhecer melhor, se a mulher mostrar atitudes e expressões de simpatia, corteje-acomo a uma donzela, com estratagemas. Com as donzelas em geral, os cortejos devem sersutis, pois ainda não foi estabelecida uma união com um homem. No entanto, com aquelas sepode ir em frente, pois já conhecem os prazeres do amor.

Quando a desejada já tiver deixado claro o seu sentimento, será a hora da troca de objetos queelas gostem e que ao homem se deleita dá-los. Pode aceitar um perfume caro, uma capa, umaflor ou um anel; a mulher recebe betel da sua mão e ele, se vai a uma reunião com amigos, lhepede uma flor para adornar seus cabelos. Presenteie-lhe, com toda a intenção, com um perfu-me muito apreciado e muito procurado, levando, impresso em seu rótulo, marcas de unhas edentes; e procure, cortejando-a sem parar, dissipar seus temores. Proceda gradualmente; che-gar-se a ela em um lugar isolado, abraçá-la, beijá-la, oferecer-lhe betel, enchê-la de presentes,

trocarem lembranças e, por último, acariciar-lhe as partes íntimas. São os distintos tipos decortejo.

Na casa onde corteja uma mulher, um amante não deve dirigir suas atenções a outra mulher;se a esposa mais antiga cedeu as habitações, deve mantê-la conciliadora e à distância comafetuosas adulações.

Duas estrofes em particular

Embora seja fácil de conquistar um homem não deve tocar uma mulher cujo esposo mostre atenções para outra.

O sábio não deve olhar uma mulher hesitante, guardada, medrosa,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 83 

ou que esteja com a sogra do lado; deve saber que não estará seguro.

3 – EXAME DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

m homem, quando começa a cortejar, tem que examinar o comportamento da mulher,e assim, levará em conta a sua disposição e o seu ânimo. Se ela não esconde as suasintenções, será conquistada mais facilmente através de alcoviteiro. Quando não aceitaque a cortejem, mas volta a encontrar-se com ele novamente, está demonstrando cla-

ramente que está indecisa e deve ser conquistada de forma lenta e gradual. Se rechaça os elo-

gios, mas se veste elegantemente e assim vai lhe fazer uma visita, está sinalizando que o ho-mem tem que continuar tentando, principalmente quando estejam a sós, porque vai ter chancede conquistá-la. Se se permite ser cortejada, mas depois de muito tempo não se entrega, é umamulher que gosta de chamar a atenção, mas inutilmente; ela pode ser vencida se lhe for corta-da toda a chance de se mostrar já que a mente humana é bastante inconstante. Se uma vezcortejada, se retrai, não vai ao encontro, mas tampouco o rechaça, há que ser respeitada pelasua dignidade e orgulho, é uma mulher que pode ser seduzida mas com muito esforço, graçasa uma profunda intimidade; conquiste-a recorrendo a um alcoviteiro que conheça muito bemseus pontos fracos.

Se, mesmo sendo objeto das atenções do homem o rechaça, convém deixá-la. Contudo, quan-do demonstra afeto, mesmo tendo sido pouco amável, pode-se tentar convencê-la. Se por al-gum motivo se deixa tocar, como se não notasse, é porque se sente indecisa; com paciência econstância o homem pode seduzi-la.

Se uma mulher, em uma situação em que, deitada ao lado do homem, fingindo dormir, des-

cansa a mão em seu corpo, ou quando na mesma situação o homem roça o pé no pé dela e elafinge continuar dormindo e não dá importância. É porque deseja ser cortejada. O mesmo a-contece quando, passado muito tempo, a mulher se recorda dessa situação rindo e falandobaixo, como se nada tivesse acontecido. Nesse caso, a utilização de um alcoviteiro é reco-mendada. Da mesma forma, se a mulher houver dado mostras de aceitação e revelou suas in-tenções.

Inclusive quando não se corteja diretamente, pode acontecer que as expressões do corpo traem

e costumam aparecer em lugares bastante impróprios. O tremor dos lábios, das mãos, o ga-

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 84 

guejar, o suor das mãos e dos pés e acima dos lábios; a vontade de passar-lhe as mãos na ca-beça e nas pernas; a vontade de tocá-la com o roçar do braço e envolvê-la em um abraço.

Como se confuso entre a realidade e o sonho, toca-lhe com as coxas e os braços e a apertadurante um bom tempo. Acaricia as suas coxas. Se a pede-lhe que lhe massageie a virilha, elanão foge à ação. Coloca suavemente a mão, sem movê-la, e quando a aperta com força, entreas suas pernas, retira-a depois de segurar algum tempo. E se aceita um carinho desse tipo porparte do homem, no dia seguinte volta a lhe dar massagens. Não se encontra muito com ele,mas quando estão juntos e sozinhos, revela todo seu ardor e disposição. Até mesmo em locaisnão privados e sem nenhum pretexto, abertamente, costuma aventurar-se movida pela paixão.

Se ninguém pode aproximar-se dela sem que este seja um criado e, apesar de que o homemtenha mostrado claramente suas intenções não muda de atitude, este deve conquistá-la atravésde alcoviteiro que conheça seus pontos fracos para poder explorá-los. Mas, se o homem derum passo em falso, convém pensar bem no que vai fazer. Esse é o exame sobre o que deve serfeito.

Sobre isso, algumas estrofes:

De início, convém conhecê-la, mais tarde se inicia uma conversa;

e, durante a mesma, se captam as intenções recíprocas. .

Pelas respostas se entende 

 que as insinuações encontram eco,um homem corteja uma mulher  sem nenhum tipo de obstáculo.

 A mulher cuja atitude  demonstra sua inclinação 

 deve ser cortejada logo  a primeira vez que se lhe encontre.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 85 

 A mulher que recebe pouca atenção e dá respostas muito claras a elas,

 deve saber, já está conquistada;é uma das que desejam o prazer! 

Existe uma regra muito sutil  para mulheres fortes, a ser considerada: :

  já estão conquistadas  as que têm atitudes claras 

4 – AS FUNÇÕES DO ALCOVITEIRO

m homem pode se aproximar, através de um alcoviteiro, de uma mulher que demons-trou, por atitudes e expressões, mas que não se faz próxima, e a que não o conhece. Oalcoviteiro (que tanto pode ser um homem quanto uma mulher, conforme a confiança,

a conveniência e o momento) serve para se aproximar da mulher com tato e acima dequalquer reprovação, alegrando sua vida, inventando histórias, revelando-lhe várias maneirasde seduzir homens e fatos contados no mundo, histórias escritas por artistas, histórias e estó-rias de adultérios. Através de expressões afetuosas enaltecendo sua beleza, cultura, elegânciae caráter, lhe insinua a tristeza dizendo: “Como é possível que uma pessoa como tu tenha ummarido assim?” E ele mesmo responde: “Querida, não és digna de ser sua escrava!”. Quandoo alcoviteiro percebe que começa a quebrar a autoestima e a segurança da mulher lança-lhedúvidas sobre as qualidades do seu esposo: sua paixão débil, o ciúme doentio, a falsidade,ingratidão, sua negativa em deixar que a mulher viva seus prazeres preferidos, sua inconstân-cia, sua cobiça e muitas outras falhas escondidas que o alcoviteiro irá descobrir e aumentar,evidentemente. O alcoviteiro, falando isso, perceberá qual o defeito mais incomoda a mulhere perseverá nesse defeito. Se a mulher for uma “mulher cerva”, não suporá que seja deméritopara o esposo ser um “homem lebre”; um argumento parecido vale para a “mulher égua” epara a “mulher elefante”

Gonikaputra entende que, havendo conquistado a confiança de uma mulher, um homem podeabordá-la através dos bons ofícios de um alcoviteiro, se o primeiro adultério que ela cometeseja de natureza complexa.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 86 

O alcoviteiro tem por dever contar a mulher as aventuras deste homem e dos seus amores,pintando-os de cores boas e vivas. E quando estabelecida confiança e um bom estado de âni-mo, lha exponha detalhadamente suas intenções expressando-se mais ou menos assim: “Escu-ta, querida, porque vais te surpreender. Parece que este tipo, um jovem de boa família, em

plena flor da idade e vigor, encontra-se transtornado. É muito sensível, mas nunca até agorahavia sentido algo assim; está atormentado, e pode até morrer.” Isso tem que ser dito do modomais discreto possível. Conseguido isso, no dia seguinte, se o alcoviteiro notou boa disposiçãona voz da mulher, em seu rosto e no seu olhar, prossegue na conversa. Relata diante dela asperipécias de Ahalya, Avimaraka, Sakuntala75 e coisas parecidas e ainda outras histórias po-pulares, adequadas às circunstâncias. Descreve a virilidade do homem, sua maestria nas ses-senta e quatro artes, seu êxito com as mulheres; e fala de um dos seus amores secretos, verda-deiro ou não, com uma senhora muito estimada, e finge a reação da mulher em questão.

Reações favoráveis: O alcoviteiro nota que seu intento vem encontrando sucesso quando, umavez reencontrado pela mulher esta lhe dirige a palavra e convida-o a sentar-se com ela; per-gunta-o por onde tem andado, onde tem dormido, comido, passeado, o que tem feito. Quandoestiverem mais a sós, pede a ele que lhe faça um curto relato. Pensativa, suspira e boceja; dá-lhe presentes, lembra-se com ela das festas e solenidades, deixa-o ir com a condição de quevolte. Exclama: “Você sempre falou tão bem, porque diz coisas tão inconvenientes?”, que olevam a continuar a conversa. Admite as culpas do homem, ou seja, que é um mentiroso e uminconstante, deseja que lhe conte que foi visto antes e que isto lhe foi contado, sem dizer nadapessoalmente; e, uma fez que ela lhe se exponha os desejos, ri-se como se lhos depreciasse,mas não se indigna. Quando a mulher mostra uma atitude favorável, o alcoviteiro a consolida,evocando recordações do amante. No entanto, se, todavia não lhe resulta familiar, procureconquistá-la descrevendo suas qualidades e sua paixão.

Svetaku é de opinião que a função do alcoviteiro não se aplica a um homem ou a uma mulherque não se conheçam ou que não tenham mostrado sinais de simpatia comum. Os discípulosde Babhravya afirmam que duas pessoas cujas inclinações sejam de domínio público, aindaque não se conheçam, devem se utilizar dos serviços de alcoviteiros. Segundo Gonikaputra,

aplica-se àqueles que sendo amigos, não conhecem suas intenções íntimas recíprocas. Vâts-yâyana opina, ao contrário, que o alcoviteiro de confiança é útil mesmo para quem não conhe-ce ou não revelou seu estado de espírito.

O alcoviteiro deve dar, sob as expensas do homem, é claro, muitos presentes às mulheres:betel, unguentos, guirlandas, aneis, vestidos, etc. Eles devem carregar, conforme for o caso,vestígios de arranhões e mordidas de amor e outros sinais. Nos vestidos, deixe marcas demãos juntas, feitas com açafrão, O alcoviteiro deve mostrar à mulher folhas recortadas, que

75 Avimaraka é o heroi de uma obra teatral de Bhasa, que conta seus amores apaixonados com a princesa Kurangi.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 87 

simbolizem desejos distintos, pendentes e rosários com cartas escondidas, nas quais o homemrevela suas ambições. O alcoviteiro deve pressioná-lo a trocar presentes. Depois de ter trocadosinais de apreço mútuo, o alcoviteiro tentará marcar um encontro entre os dois. Discípulos deBabhravya opinam que isto pode ter lugar no transcurso de uma visita a um templo ou de uma

procissão, durante jogos no parque, banhos, matrimônios, sacrifícios, diversões e festas,quando se divulga um incêndio ou há confusão e roubo, se se coloca o exército do país nasruas ou as pessoas estão distraídas assistindo a um show, e em muitas outras ocasiões. Goni-kaputra considera que se pode propiciar facilmente o encontro na casa de uma amiga ou dereligiosas pertencentes a qualquer ordem. Vâtsyâyana julga, ao contrário, que o melhor é ir eentrar na casa da mulher, quando a entrada e a saída forem de fácil acesso e quando não hou-ver riscos a correr; ninguém saberá a hora e ficará mais fácil de ser feito.

Os diferentes tipos de alcoviteiro são: o autorizado, o limitado, o portador de cartas, o inter-mediário de si mesmo, o bobo, o alcoviteiro-esposa, o silencioso e o “embaixador do vento”.

O “autorizado” é o que, dominada a situação baseando-se nos desejos da mulher e do corteja-dor, leva a cabo a missão a seu exclusivo critério. Geralmente atua quando os dois se conhe-cem, mas nunca se falaram; e ele, o alcoviteiro, entende que há afinidade entre ambos emboranem se conheçam.

O alcoviteiro “limitado” é o que, apenas uma das partes é ciente da questão e do cortejo. É útilpara um homem ou uma mulher que já descobriram as intenções recíprocas, mas que se vêmmuito esporadicamente.

O “portador de cartas” apenas leva mensagens. Serve para informar sobre lugares e horáriosde encontros entre os que já têm sentimentos profundos entre si.

O “intermediário de si mesmo” é o que, contratado por outro que faz uma espécie de embai-xador, visita a mulher por sua própria iniciativa, como se soubesse de algo, diz-lhe que al-guém sonha com ela, critica seu marido, ou lhe dá presentes marcados com sinais de unhas edentes, explicando que desde o princípio desejava dar-lhe um presente; e quando estão sozi-nhos, lhe pergunta insistentemente quem é mais bonito, se ele ou o seu marido. Este alcovitei-ro procura que o vejam e convém recebê-lo em um lugar privado. É também “intermediária desi mesma” a que, fingindo-se embaixadora, trabalhada para outra, mas durante a transmissãodas suas mensagens aproveita pra conquistar o destinatário e prejudicar a contratante. Isto

também vale para um homem, quando faz de outro um intermediário. Por isso, vale ter cuida-do ao utilizar esse tipo de ajuda.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 88 

Às vezes uma mulher ganha a confiança da esposa – uma ingênua – do amante, e conseguevisitá-lo frequente e livremente, se informa dos movimentos do homem, lhe ensina truques,lhe mostra como ele deve se insinuar, explica como ele deve agir, e, por fim, ela mesma lheimprime sinais de arranhões e mordidas; por este caminho, dá a entender ao marido seu dese-

 jo. Nesse caso a esposa é uma “alcoviteira tonta”; através dela recebe respostas da mulher.

Às vezes pode ser o homem a utilizar-se da ingenuidade da sua esposa; faz com que se estabe-leçam relações, porque confia nela, com a mulher que quer conquistar, e, através da esposa,mostra à mulher quais são suas intenções, além de revelar suas experiências. É a “mulher al-coviteira”; através dela, o homem compreenderá as reações da que quer conquistar.

Caso contrário, pode mandar uma criada muito jovem, sem malícia ainda, com um pretextoinocente; neste caso, coloca-se em uma guirlanda, um pendente ou um bilhete escondido, oudeixa marcas de arranhões ou mordidas. É o “alcoviteiro silencioso”; através dela o homempode solicitar a resposta da amada.

Se, em lugar disto, encarrega a uma mulher imparcial de preferir palavras que contenham umaalusão a algo já conhecido, mas incompreensível para os demais, ou que tenham um sentidovago e outro mais sutil, é a “embaixadora do vento”; também neste caso se busca uma respos-ta da mulher através dela. São os diferentes tipos de alcoviteiro.

Vale registrar algumas estrofes sobre o assunto:

Uma viúva, um adivinho, um escravo,

uma freira ou até mesmo um artesão rapidamente encontram o caminho de acesso,

 para obter a confiança e atuar como alcoviteiros..

Despertar o ódio contra o marido, descrever as qualidades do rival 

e encontrar mesmo entre tantas outras,os prazeres extraordinários do amor com ele.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 89 

Pinte a paixão do amante,reiterando o perito que é no prazer,

conte que lhe pretenderam mulheres importantes  mas ele já se decidiu.

 Até uma palavra não intencional, que escapa por engano o alcoviteiro sabe corrigir,

 pois é especialista no convencimento.

5 – AS AVENTURAS AMOROSAS DOS REIS E SOBERANOS

ntrar na casa de outro homem não é permitido nem mesmo ao rei nem aos altos fun-cionários, pois o povo os imita em seu comportamento. Os habitantes de todo o mun-

do sabem quando sai o sol, e também eles despertam; o sol segue o seu curso e eles lhe imi-tam. Por isto, os poderosos não deveriam ser indulgentes com nenhum gesto de ligeireza, tan-to por irrealizável quanto por irreprovável. Mas se, forçados pelas circunstâncias, têm quecomportar-se assim, que recorram a estratagemas.

O chefe de um povo, um funcionário ou o filho de um responsável pelos campos, enquanto é jovem, pode conquistar as mulheres do campo um uma palavra; os vita lhes chamam “infiéis”.Pode-se fazer amor com estas as mulheres em muitas ocasiões: durante as prestações obriga-tórias das obras, no interior dos celeiros e durante o transporte das mercadorias de ou parafora; quando se gerencia a casa, enquanto trabalham no campo, enquanto se contabiliza o al-godão, a lã, o linho ou o cânhamo, ou se recebe os fios, quando são vendidos, comprados ouleiloados e coisas parecidas.

O mesmo acontece com o chefe dos rebanhos em relação às mulheres dos pastores e ao res-ponsável pela fiação com as viúvas, as mulheres sobre as quais nenhum homem exerce a pos-se e as monjas mendicantes; também acontece com o oficial de polícia, pois conhece os pon-tos fracos das que encontra pelas ruas quando faz a ronda da noite, e ao superintendente decompra e vendas dos mercados durante os seus negócios.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 90 

Na Astamicandra, na Kaumudi, na festa de primavera e em ocasiões assim, as mulheres dosgrandes povos, das cidades e das aldeias muitas vezes se distraem com as que vivem no ha-rém do palácio do soberano. Então, ao término dos festins, as mulheres entram nas habitaçõesdas damas do harém; sentam-se para conversas, recebem presentes, bebem e se despedem àtarde. Se o rei deseja uma dessas mulheres, encarrega uma escrava que se inteire de quem sejaela, que converse com ela e a entretenha, mostrando-lhe delícias de todo o tipo. E a mulher,mesmo estando já em sua casa, pode ser avisada: “Durante a festa lhe ensinarei as maravilhasdo palácio real”: e, no momento oportuno, pode seduzi-la.

O convite para visitar o castelo se estende a ver o exterior, o chão de coral pavimentado compedras preciosas, o jardim arborizado, a pérgula de vinhas, as casas de banho os terraços com

passagens secretas nas paredes, as pinturas de ensinar, os veados domesticados, os teares, ospássaros, as gaiolas de tigres e leões e tudo o que ele indicar. Então, em um aparte, pergunta-lhe da paixão por seu governante e descreve-lhe de como é especialista na arte de fazer amor.Se ela consente, ele lhe promete discrição. Se, no entanto, ela resiste o soberano a agarra comgestos delicados, a faz sorrir, a despe afetuosamente e a coloca assim, despida, na companhiadas outras concubinas.

O soberano também pode ganhar o marido da mulher a quem quer o amor, com favores, con-

vidando-a continuamente ao harém; então encarrega uma escrava, e prossiga conforme o jáensinado. Ou uma dama do harém, ao seu mando, estabelece amizade com a escolhida; umavez que tenha boas relações, peça-a, com algum pretexto, que lhe faça uma visita. Quandovier lhe visitar, que receba presentes e bebidas, e que esteja certa de que uma escrava do reifaça tudo como o explicado. Caso contrário, se a mulher que se deseja seduzir é uma mestraem alguma área do saber, uma mulher do harém pode lhe convidar, com amabilidade, paraque faça uma demonstração. Então, uma escrava do soberano faça como o descrito.

Quando se tratar da esposa de um homem que tem um contratempo, ou tem medo de algumacoisa, uma monja mendicante pode fazer-lhe uma abordagem mais ou menos assim: “Umadama do harém, que goza da estima do rei e cujas palavras têm muito peso, presta muita aten-ção ao que eu digo. E considerando que, pela minha natureza, eu consigo que se compadeçamde mim, com um estratagema meu tentarei conseguir que me conceda uma audiência e tu vi-rás comigo. Essa dama conseguirá remediar a terrível situação de se abateu sobre o seu espo-so.” Se a mulher aceita, e acompanha a monja ao palácio duas ou três vezes, a dama do harémlhe garante valores e, quando a mulher cair em si, sabendo que não tem nada a temer, um es-cravo do rei se aproximará e “cobrará a conta”, conforme o indicado acima. O mesmo argu-

mento vale para as esposas de homens que ambicionam certas rendas, tiranizados por minis-tros, retidos pela força, fracos no dia a dia ou insatisfeitos com o que têm; ou os que, desejan-

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 91 

do cair nas graças do soberano, aspiram a um posto entre os seus favoritos; ainda aqueles quesão abusados por parentes ou que querem abusar desses parentes se estes são mais próximosao soberano; ou ainda se o homem se presta a delator ou para outros fins.

Por outro lado, se a mulher escolhida já tem relações (ilícitas) com outro homem, pode-seordenar que a prendam, a convertam em escrava e, gradualmente, levem-na para o harém. Porúltimo, pode-se difamar o marido de uma mulher como inimigo do rei através de um emissá-rio, e logo, com o pretexto de mantê-lo longe da esposa, impedi-lo de entrar no harém. Sãométodos secretos, usados, sobretudo, pelos soberanos.

De todas as formas, os soberanos não devem entrar nas habitações alheias. Foi dessa forma

que um lavador de roupas, empregado do seu irmão, matou a Abhira, rei de Kotta, quandoestava na casa de outro; e um tomador de contas de cavalos tirou a vida de Jaytsena, soberanode Kasi.

No entanto, a vida amorosa pública se deve desenvolver segundo os usos e as práticas locais.Em Andrhra as donzelas do país, dez dias depois das núpcias76 vão ao harém com um repre-sente, e ali o rei as possui e logo voltam para a casa. Em Vatsagulma as mulheres do harémdos ministros mais importantes visitam à noite o rei para prestar-lhe os seus serviços. Em Vi-

darbha, sob o pretexto da amizade, as damas do harém hospedam por um mês ou por umaquinzena as mulheres bonitas da região. Entre os habitantes do extremo Oriente os homensoferecem aos ministros e ao rei as suas graciosas esposas em sinal de amizade e respeito. E,por último, em Surastra, as mulheres da capital e do resto do país se juntam em grupo ou indi-vidualmente para se deleitarem com o rei.

Acerca disso tudo, duas estrofes:

Estes e muitos outros subterfúgios relacionados com as esposas dos outros 

 se dão em diferentes países e são colocados em prática pelos soberanos.

O rei não deve entreter-se com estas coisas 

76 Se, como disse Vâtsyayana, a castidade dos recém casados deve prorrogar-se durante dez dias, se trata de um ius primae noctis.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 92 

 preocupado que deve estar com o bemestar de seu povo; porque, uma vez que tenha reprimido seus seis inimigos 77  , ,, ,

ele vai dominar a terra.

6 – O COMPORTAMENTO DAS MULHERES DO HARÉM

onsiderando-se que as mulheres do harém estão sob custódia, nenhum homem podeslhes visitar; e, além disso, como há apenas um esposo para muitas mulheres, ele nãotem que dar satisfações. Por isto, as mulheres do harém podem procurar o prazer comoutras mulheres recorrendo a subterfúgios. Vestindo de homem sua irmã, a uma amiga

ou a uma escrava, e acalmando seu desejo com a utilização de instrumentos de forma adequa-da, feitos de raízes, tubérculos ou frutos, ou objetos artificiais. Em outros casos, fazendo sexocom estátuas de homens com o membro ereto.

Às vezes os soberanos são compreensivos e, embora sem paixão, se aplicam pênis artificiais ese unem quantas vezes seja necessário às mulheres, inclusive com várias mulheres em uma sónoite. No entanto, as que eles amam ou a que é a da vez, ou as que se encontrem no períodofecundo eles as abordam apenas com desejo. São os diferentes usos dos povos orientais.

Com o método adotado pelas mulheres sugere-se que também os homens que não conseguemter relações consigam aplacar a excitação com pessoas diferentes, estátuas femininas ou sim-plesmente tocando-se. Muitas vezes as mulheres do harém conseguem que entrem com ascriadas, homens disfarçados de mulheres. Para convencê-los, podem se utilizar das irmãs, quetêm relações de intimidade com eles, facilitando-lhes as possibilidades. Elas lhes indicam asmaneiras mais seguras de entrar e sair do edifício distraem os guardas e a criadagem. Mas nãose deve convencer uma pessoa a entrar enganando-o, pois isso é uma falta grave.

Vâtsyâyana considera que, a um homem elegante, seria muito melhor não entrar em um ha-rém, uma vez que se trata de uma empresa muito arriscada. No entanto, pode-se entrar, se olugar tem saída, está em frente a um bosque, dispõe de muitas salas e pouca vigilância. Maisfácil ainda se o rei está em viagem. Depois de examinar todas as dificuldades, se o homem foiconvidado e considerando que as mulheres lhe tenham indicado como deve fazê-lo o homempode correr o risco. De qualquer forma, procure sair todos os dias. Não é prudente que se per-noite no harém.

77 Os seis vícios do homem: desejo (não controlado), ira, ganância, orgulho, luxúria e vício pelas drogas.

C

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 93 

Ele também pode, simulando outro motivo, estabelecer amizade com a segurança exterior.Fingir que gosta de uma criada que trabalha no palácio e que ela está ciente das suas inten-ções; organize uma rede interna de informantes com as mulheres que entram e saem do haréme aprenda a conhecer os espiões do soberano.

No entanto, se para um alcoviteiro não é fácil entrar no harém, e a mulher de quem o homemgosta se deu conta das suas intenções, ele pode colocá-la onde possa ser encontrada. Tambémneste caso deve-se utilizar dos serviços de uma criada como pretexto com a segurança. Se osguardas olharem muito para a criada, esta lhes dirige olhares com expressões de paixão, o quevai acalmá-los. Onde ela habitualmente possa ser encontrada, o homem ou a criada deve dei-xar uma pintura que a represente, folhas com trechos de canções de duplo sentido e objetos

para brincar, um rosário ou um anel impresso com signos de amor. Conhecida a resposta damulher, o homem deve fazer todo o possível para entrar no harém.

Espere-a escondido, onde saiba que ela costuma ir; ou então, disfarçado de segurança e, como seu consentimento, em uma hora previamente combinada, esgueire-se para dentro do harém.Também lhe podem fazer entrar envolto em um tapete ou toalha de mesa. Outra possibilidadeé que se utilize das aparências com feitiços das sombras para desaparecer.

Para fazer este feitiço, proceda da seguinte forma: cozinhe, de modo que a fumaça não se es-palhe, um coração de fuinha, frutos de coraka e tumbi e ovos de serpente; em seguida, mistureo composto com pomada e água. Se uma parte do corpo está ungido com esta pasta se tornainvisível. Finalmente, você pode entrar durante as festas de lua cheia, misturado às pessoasque carregam as lâmpadas de óleo, ou ainda através de uma passagem subterrânea.

Eis aqui alguns versos sobre o tema:

Mesmo enquanto os bens são removidos, quando entram os carros,

ou se as criadas estão muito atarefadas  por ser festa e ocasiões para se brindar;

 ao mudar-se de residência com a troca da guarda,

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 94 

 ao passear nos jardins ou procissões e ao retornar destes;

 se, finalmente, o rei partiu 

em uma expedição cujo sucesso requer um longo tempo, pode, especialmente os jovens 

esgueirar-se dentro, ou também sair.

 As mulheres que vivem no harém,conhecendo seus diferentes desenhos 

conseguem estabelecer alianças;

 por isso, podem incomodar as demais.

É claro que se pode corromper alguns enfrentando-os, oferencendo a todos o mesmo objetivo;

 pois, ao não temer uma traição,imediatamente consegue-se o que ambiciona.

Entre os habitantes do extremo Ocidente, as mulheres que frequentam a corte são as que in-troduzem no harém os homens ilustres, porque a guarda se preocupa pouco com isto. Em A-bhira, eles conseguem o que buscam com os guardas do harém, que podem adornar-se com onome de ksatriya, enquanto que em Vatsagulma deixam jovens dândis entrarem acompanhan-do as criadas vestidos como elas. Em Vidarbha os filhos unem-se com as damas do harém –exceto com sua mãe -, e podem ir quando querem. Em Strirajya fazem amor com a família ecom os amigos que, por isto, podem entrar livremente no harém. Em Gauda, também os brâ-manes, os amigos, os subordinados, os criados e os escravos. Na região do Indo se unem comos guardas da entrada do harém e com os artesãos, a quem não é impedida a entrada nas casas.

Nas regiões de Himavat os homens corajosos corrompem a guarda com dinheiro e entram emgrupo. Em Vanga, em Anga e em Kalinga os brâmanes da cidade, ao ficarem encarregados delevar flores como presentes, vão visitar as mulheres do harém, e o soberano sabe. Mantêmconversas atrás de uma cortina e nessas circunstâncias, fazem amor.

Nas regiões do Leste, cada grupo de nove ou dez mulheres mantém um jovem escondido.Desta forma, podem-se seduzir as esposas de outro. Este é o comportamento das mulheres doharém.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 95 

A – COMO SER O GUARDIÃO DAS ESPOSAS

O homem guarde suas esposas mantendo-as afastadas de certas situações. Os mestres aconse-

lham para o harém guardas vacinados contra a tentação amorosa. Gonikaputra objeta que es-tes, por medo ou por cobiça, poderiam fazer entrar outro homem no harém; por isso devemestar vacinados contra a tentação amorosa, contra as ameaças e contra a corrupção. Virtude éa ausência de engano, mas pode-se renunciar a ela por medo; Para Vâtsyâyana, devem ser devirtude a toda prova e vacinados contra o medo os guardas do harém.

Para conhecer sua honestidade ou desonestidade pode-se examinar as suas esposas, recorren-do a mulheres que lhes contem coisas de outros, sem revelar suas intenções. É o que dizem os

discípulos de Babhravya.

Para Vâtsyâyana, como entre os jovens os enredos fazem sucesso, não há que tentar sem mo-tivo um inocente. As causas de corrupção entre as mulheres são: reunir-se muito; falta de bar-reiras ao comportamento; o egoísmo do marido; a excessiva liberdade no comportamento comos homens; ficar demasiado sozinhas porque o marido está viajando; residir em um país es-trangeiro; ter problemas financeiros de subsistência; visitar mulheres sem escrúpulos; ter ciú-mes do marido.

Ninguém que considere, como consta neste tratado,os meios expostos na seção das esposas de outro,

ou que seja mestre no tratado, dará motivos para que sejam enganados pelas mulheres.

Como essas práticas só valem em certos casos, pode-se perceber claramente os riscos contra a Lei Sagrada e o Útil,

um homem não deveria olhar a esposa de outro.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 96 

Isto se converte em uma vantagem para os homens, se você tem que tomar conta das suas esposas;estas regras não são para conhecê-las melhor,

 mas prejudicam as pessoas.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 97 

VI – A PROSTITUIÇÃO

1 – ANÁLISE DOS AMIGOS, DOS HOMENS COM OS QUAIS PODE-SEOU NÃO ESTABELECER UMA RELAÇÃO E AS RAZÕES PARA ES-TABELECER UMA RELAÇÃO.

a sua relação com um homem as prostitutas encontram o prazer e, naturalmente, osmeios da sua subsistência. Se a sua motivação é o prazer, se comportam espontanea-mente; ao contrário, quando buscam dinheiro, mantêm um comportamento artificial.Mas, inclusive neste caso, uma prostituta deve tentar fazer com que suas ações pare-

çam espontâneas, pois efetivamente os homens confiam nas mulheres dedicadas ao amor.Para mostrar seus dotes não deve ser gananciosa ou tentar levantar recursos por meios ilícitospara garantir seu futuro. Sempre elegantemente vestida, deverá estar parada olhando a avenidaprincipal de onde esteja atuando, de tal forma que seja vista, mas sem se mostrar demasiado,

 já que tem a natureza de mercadoria.

Faça amizade com quantos lhe possam ser úteis para conquistar um amante e afastá-lo deconcorrentes, remediarem seus desconfortos e ganhar dinheiro, e para que os possíveis clien-tes não a depreciem. Estas pessoas geralmente são: policiais, magistrados, astrólogos, indiví-duos corajosos, heróis, homens de cultura, professores de artes,  pithmarda; vita, vidusaka,fabricantes de grinaldas, de perfumes, vendedores de bebidas, lavadores, barbeiros, religiososmendicantes e outros afins, conforme a finalidade desejada.

Existem homens que devem ser vistos apenas sob a perspectiva do lucro. São eles: o indepen-dente, o jovem, os ricos, que não precisam de outros para mantê-lo, um funcionário, um ho-mem que tenha conseguido renda sem esforço; o que é motivado por ressentimentos ou temrenda fixa; o que é considerado de sorte no amor; o fanfarrão e o homem impotente que querse valer como homem; o que quer mostrar que é melhor que outros; o homem que é generosopor natureza, o que tem influência no palácio ou um ministro; um que se entrega ao destino eé indiferente ao dinheiro; aquele que transgride à autoridade dos pais; o que pertence a umaordem religiosa; o que ama secretamente; o que é um heroi ou o homem que é um médico.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 98 

No entanto, todos que desfrutem de boas qualidades e que podem dispensar amor e reputaçãodevem ser bem atendidos. Então, são estes os bons amantes: os de famílias nobres, os estudio-sos, os eruditos, os mestres em todas as áreas, os poetas, os mestres de narrativas eloquentes,os decididos, os que respeitam os velhos, os que têm altos ideais e grande determinação e de

inquebrantável fidelidade. Os não invejosos, os leais aos amigos, os alegres e festivos, os sau-dáveis e não mutilados, os que bebem pouco, os viris e educados, os que vivam de forma in-dependente e que não sejam grosseiros, os não invejosos e os homens que não sejam insegu-ros.

Vamos ver agora as qualidades de uma boa amante: deve ser bela, jovem, deve apresentarsinais claros de boa sorte e se mostrar extremamente doce; dar valor às pessoas e não ao di-nheiro; deve desejar os prazeres do amor, ter um espírito estável, sem mudanças bruscas de

personalidade, deve ser distinta, viver sempre sem ganância, deve gostar das artes, de festas ede encontros.

Os valores gerais devem ser: a inteligência, bom caráter, educação, honestidade, gratidão,antecipação, disposição, fidelidade à palavra para distinguir o momento e o lugar apropriadospara viver como uma pessoa inteligente, evitar a depressão, ser alegre, não deve ser perversa,não pode ser caluniosa, evitar a ira, a ganância, a arrogância. Deve ter correção na conversa e,finalmente, tem que ser especialista no tratado do Amor e nas suas ciências adicionais. Afas-

tar-se dessas qualidades é mostrar seus defeitos.

O que os homens não devem mostrar às prostitutas, ou o que eles não podem ser: consumis-tas, doentes, afetados por vermes, ter mal hálito, amar a esposa, ter linguajar vulgar, ganan-cioso, cruel, ter sido abandonado pelos pais, ladrão, hipócrita, praticar magia com raízes, indi-ferentes à honra ou à desonra, deixar-se corromper pelo dinheiro e, finalmente, ser muito mo-desto ou demasiado pudico.

Segundo os mestres, as razões para se ter um relacionamento com uma prostituta são: medo,paixão, ganância, concorrência, vingança, rivalidade, curiosidade, uma decisão, tristeza, es-crúpulos morais, a fama, a compaixão, o conselho de um amigo, a vergonha, querer aparecerpara a amada, a riqueza, o apaziguamento do desejo, a paridade social, a vontade de ver-secontinuamente, a esperança em um futuro juntos. Para Vatsyuyana, os motivos são simples-mente a ganância, a necessidade de não ter prejuízos e o amor. O amor, no entanto, não sedeve prejudicar os lucros, pois este último é o principal motivo. No caso de temor e de situa-ções parecidas, deve-se analisar a importância relativa.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 99 

A – COMO ATRAIR UM POSSÍVEL CLIENTE

Mesmo que um cliente em potencial convide, uma prostituta não deve aceitá-lo rapidamente,porque os homens desprezam as mulheres que sejam fáceis de se obter. Para conhecer o moti-

vo do convite, envie vestidos de criados, mensageiros, cantores, bufões

78

ou outros à casa dohomem. Através deles conhecerá a integridade do candidato, se sente desejo ou o rechaça, seé apaixonado ou indiferente, se é generoso ou avaro. Se encontra o que tem buscado, façaamizade com ele mandando à frente o vita.

Então, com o pretexto de uma luta de perdizes, galinhas ou ovelhas, ou o ensino de papagaiosou estorninhos, ou ainda um show ou um espetáculo de arte, o  pithamarda levará o homem àcasa da prostituta ou ela à casa dele. Uma vez ali, a mulher lhe oferecerá como presente deamor um objeto que suscite simpatia e curiosidade, dizendo “Para ti, pessoalmente!” Alegre-ocom a sua conversa e com atos galantes que lhe satisfaçam. Depois de despedir-se, envie-lheum presente através de uma criada que saiba contar piadas; ou lhe faça uma visita acompa-

nhada do pithamarda, fingindo um pretexto qualquer. É uma forma de atrair um possível cli-ente.

Sobre esse assunto, algumas estrofes:

 A quem visita, ofereça com amor  betel, guirlandas 

e refinados unguentos e saiba conversar sobre artes.

Quando há amor,troque presente com ele;e mostre o seu desejo 

 de fazer amor por iniciativa própria.

Com presentes amorosos, propostas ou simples atos de cortesia,

Uma vez ligada ao amante,  procure fazê-lo feliz.

78

Bufão é um tipo característico do grotesco. Existe desde a antiguidade, estando presente na corte, no teatro popular, sendo cômico econsiderado desagradável por apontar de forma grotesca os vícios e as características da sociedade. O corpo do bufão caracteriza-se peladeformidade e o exagero, sendo o excesso uma de suas principais características. Também apontado como Arlequim, Faustaff ou Bobo dacorte. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bobo_da_corte (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 100 

2 – COMO É O PRAZER COM UM AMANTE 

ma vez unida ao amante, para fazê-lo feliz, a prostituta deve viver como ela fosse suaúnica esposa. Em resumo, faça o necessário para que o homem se encante, mas sem se

encantar com ele, comportando-se, entretanto, como se o amasse.

Deve parecer suave como sua mãe, mas avara quanto ao dinheiro, como sua madrasta. Se osganhos obtidos de um cliente não lhe parecem suficiente, não hesite em sequestrar sua filhapara forçar-lhe a dar-lhe mais dinheiro. Se o amante fica doente, a prostituta não o visita nacasa da sua mãe. Nestas circunstâncias, se necessário, manda uma criada fazer o que for ne-cessário (inclusive levar-lhe flores, afirmando trazer-lhe conforto, anonimamente).

Durante o amor, mostre-se maravilhada pelas esquisitices do homem; aprenda as sessenta equatro artes eróticas e ponha-as em prática com regularidade. Quando estiverem sozinhos,comporte-se conforme os costumes do amante; expresse os seus desejos, e esconda eventuaisdefeitos nas partes secretas do seu corpo. Na cama, quando o homem estiver longe dela, nãose mostre indiferente; seja condescendente, se lhe acaricia as partes íntimas; abrace-o e beije-o enquanto dorme.

Acostume-se a olhá-lo quando ele estiver desatento e com o olhar perdido. Ou quando elepassa pela rua principal da sua casa; se ele percebe que você o segue com o olhar, mostre seudesconforto e, com isto, sua sinceridade. Odeie os inimigos dele, seja amiga das pessoas aquem ele quer, sinta prazer com o que ele gosta, compartilhe da sua alegria e da sua dor, quei-ra saber coisas das suas esposas e não demonstre enfado por muito tempo. Não fique enraive-cida se ele tem marcas de arranhões e mordidas, mesmo que suspeite até de outra prostituta.

Não fale do seu amor, mostre-o através das suas atitudes; pode insinuar-se bêbada, sonolentaou doente, e expresse-se com clareza mesmo quando o homem tenha um comportamento dig-no de elogio. Enquanto fala, preste atenção ao significado das suas palavras; não o interrompaenquanto estiver falando; depois de ouvi-lo, expresse a sua opinião de forma objetiva e, senecessário, conteste o que foi dito. Isto sim é a amante fiel.

Interesse-se por seus assuntos, com exceção das conversas que se refiram às esposas rivais.Quando ele suspirar, bocejar, gaguejar você deve dizer: “Saúde!”. Se se irritar, se sentir eufó-rica, se está de mau humor, justifique com o pretexto de uma dor ou vontade de engravidar.Nunca elogie outro homem por suas qualidades, nem critique a quem tenha os mesmos defei-tos que o seu homem; guarde o que lhe for presenteado por ele. Se ele lhe ofende ou se temum contratempo, retire todas as jóias e guarde-as rapidamente. Lamente o que aconteceu, diz

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 101 

que está disposta a deixar o país com ele e que pretende indenizar o soberano79. Quando vocêestiver longe, chame-o de “a força da sua vida”; se ele ganha dinheiro, realiza seus desejos erecupera a saúde, leve uma oferenda – que havia anteriormente prometido – a sua divindadeprotetora.

Seja elegante e moderada no que come; se canta, pronuncie entre as palavras o nome e o so-brenome do amante. Canta, pegue a mão do amante e coloque no seu peito e na sua testa esatisfeito com esta alegria, adormeça; sente-se e durma em seus joelhos. Se ele quiser, deixeque ele descanse nos seus joelhos. Se ele deixa, siga-o.

Queira um filho dele e manifeste o seu desejo de morrer antes dele. Não fale, secretamente,

sobre algo que lhe afete sem que ele saiba. Impeça-o de realizar promessas ou jejuns, afir-mando que assume a culpa, seja por que motivo for; caso não consiga detê-lo, siga com ele.Se acontece uma discussão, considere o assunto como sem solução, inclusive para ele.

Não estabeleça diferenças entre o que seja seu e o que seja dele. Procure não frequentar festasou outras situações mundanas sem a sua presença; contente-se em guardar as flores que sobra-rem de uma oferenda aos deuses e coma as sobras. Deve honrar a família dele, o caráter, ahabilidade, a casta, a cultura, o aspecto, as propriedades, o país, os amigos, as qualidades, a

idade e a cortesia. Se for corajosa, convide-o a cantar, e coisas parecidas. Vista-se sem preo-cupar-se com frio, calor, chuva. Se ele morrer, exclame nos funerais: “Que ele venha me tocarde novo!” (na vida futura, é claro)

Adeque-se aos seus desejos e aos seus gostos, às suas inclinações e aos seus comportamentosamorosos. Suspeite que ele possa ter utilizado magia com raízes para conquistar você (isso

 justifica o forte laço que os une). Quando ele quiser fazer-lhe uma visita, finja estar brigandocontinuamente com sua mãe, e, se esta quiser levar-lhe para outro lugar à força, peça que lhe

dêm veneno, jejue até a morte, mostre um punhal ou uma corda para se matar. Tente persuadi-lo de sua inocência através de emissários, sem questionar ou criticar o seu modo de vida. Noentanto, nunca discuta por dinheiro, e não faça nada sem consultar sua mãe.

Se ele parte em viagem para terras distantes, faça-o jurar que retornará breve; em sua ausên-cia, abstenha-se da limpeza pessoal e de pintar-se, mas procure colocar um amuleto, ou ape-nas uma pulseira de concha, porque uma pulseira de concha é sinal de boa sorte. Lamente osacontecimentos. Vá se consultar com os adivinhos e escute as previsões; estude o movimento

79 É provável que se refira à cortesã que depende diretamente do Estado (situação descrita no Arbasastra), onde se indica que o montantenecessário para resgatá-la é muito alto, cerca de 24.000 panas, em relação ao seu salário anual, de cerca de uns 1.000 panas.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 102 

das constelações, a lua, o sol e os astros, porque a pessoa amada também pode vê-los. Se temum sonho feliz, deseje que prenuncie a chegada do amante; se sonha algo de mal, mostre-seperturbada e faça uma cerimônia para neutralizá-lo. Quando o amante volta, dê graças ao deusAmor, realize oferendas aos deuses, faça com que as amigas distribuam presentes como os

que celebram os acontecimentos felizes e agradeça aos corvos (que levam os presságios).Quando já não se trata da primeira vez, não importa, faça tudo, excluindo apenas o agradeci-mento aos corvos.

Se o amante está apaixonado, prometa segui-lo até a morte. Um amante assim tem estas carac-terísticas: dá livre vazão ao sentimento, não muda o comportamento, faz o que a mulher dese-

 ja, não tem dúvidas e é desinteressado em questões de dinheiro.

Tudo isto é explicado a título de exemplo, na sequência dos requisitos propostos por Dattaka.O que não foi explicado, a prostituta aprende fazendo. Com as pessoas. É a natureza dos ho-mens.

A seguir, algumas estrofes sobre o assunto:

Por sua sutileza e sua grande força e porque é obtido naturalmente,

é difícil distinguir os sinais do amor entre as mulheres, mesmo para aqueles que se dedicam a isso.

Elas amam, mas tornam-se indiferentes,

 amam e abandonam,tendo por vezes toda a riqueza; nunca se chega a conhecer, de fato, as mulheres. 

3 – MÉTODOS PARA SE OBTER DINHEIRO

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 103 

prostituta pode tirar dinheiro de um amante apaixonado naturalmente ou utilizando-se deestratagemas. Sobre isso, alguns sustentam que, se se consegue espontaneamente além doque precisa uma prostituta não deveria recorrer a outros meios. Para Vâtsyâyana, o amantedará inclusive o dobro do acordado se a prostituta recorrer a algumas estratégias.

Escolha entre os bens, segundo o momento e o valor do dinheiro, jóias, alimentos, bebidas,colares de flores, vestidos, perfumes e coisas parecidas, ante ao amante, que a elogiará por suariqueza.

A prostituta pode utilizar uma desculpa de que tem que pagar promessas, cuidar de jardins,templos, lagos, parques, festas ou dar presentes; ou inventar que suas jóias foram roubadas

por guardas ou ladrões exatamente quando ia visitar o amante; ou que perdeu tudo em umincêndio ou porque aconteceu uma desgraça em sua casa, e o mesmo pode acontecer em rela-ção às jóias presenteadas há pouco pelo amante ou às de sua propriedade e que estavam em-prestadas a ela ou dela que estavam emprestadas a outra prostituta. A prostituta pode tornarpúblico os gastos que teve – ou que tem – para visitar o amante; contrair dívidas por sua cul-pa, e discutir com sua mãe para escapar de ir ao seu encontro. Ela não deve ir a festas dosamigos porque não tem como lhes presentear; antes mesmo, mostre ao amante, e lhe recorde,os presentes de valor que houvera ganhado. Deve, em nome do amante, renunciar a algumacoisa que houvera ganhado em troca de algo que estime maior.

A prostituta também pode aduzir como justificativa, um trabalho de um artesão em benefíciodo amante; fazer um favor, por algum motivo, a um médico ou a um ministro, e uma ajuda aamigos, a muitos serviçais em dificuldades; ou trabalhos em casa, ritos a cumprir pelo filho deuma mulher a quem queira muito bem, desejo de gravidez, uma doença ou o desejo de aliviara pena de um amigo. Pode, invocando os bens do amante, vender parte dos seus bens materi-ais; ou mostrá-los a um mercador, com a finalidade de empenhá-los, principalmente as jóias eos objetos preferidos da casa (para que ele pense que a prostituta está afogada em dívidas). Sehá troca de móveis parecidos com outras prostitutas, tenha sempre algum que a distinga.

A prostituta não deve se esquecer, mas sim apregoar, as atenções recebidas no passado; façachegar ao amante o conhecimento do muito que ganham outras prostitutas, mas a estas, napresença dele, descreva seus ingressos financeiros extraordinários, verdadeiros ou não, quasecom vergonha. Rechace ostensivamente aos clientes antigos que tentem reatar os laços, compropostas de altos ganhos para a prostituta e enfatize o comportamento generoso do atual a-mante. Por fim, faça que ele lhe suplique um filho, que ele lhe assegure que já não terá queprocurar outros amantes jamais. São as formas diferentes com que uma prostituta se utilizapara obter recursos financeiros.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 104 

A – COMO RECONHECER O HOMEM DESENCANTADO POR AMOR

Uma prostituta deve saber reconhecer o amante desencantado pela sua mudança de humor oupela expressão do seu rosto. Um homem assim é muito pouco generoso; estabelece laços compessoas hostis; diz que vai fazer uma coisa e faz outra; interrompe o que está acostumado afazer; deixa de cumprir o prometido ou cumpre o prometido de outra forma. Passa a conversarcom os seus amigos através de senhas ou sinais estranhos; passa a dormir em outros lugarestendo como pretexto compromissos com amigos; além disso, começa a cair na escravidão damulher com quem teve relações antes.

Antes que ele se dê conta, a prostituta tem que se apropriar, sob qualquer pretexto, dos seusobjetos de valor, que logo um falso credor vai lhe tirar à força. Se o amante se opõe, a prosti-tuta deve levá-lo a um juiz. Desta forma se reconhece o homem desencantado por amor.

B – COMO DESCARTAR UM AMANTE

O amante fiel, que no passado era bom, se agora oferece poucos benefícios, a prostituta omantenha por perto, mas o engane. No entanto, se ele já não tem nada a oferecer a prostitutadeve livrar-se dele com soluções alternativas, mas sem crueldade, recorrendo à ajuda de outrohomem.

Se se interessa pelo que ele não gosta, você deve insistir que não está de acordo; aperte oslábios, esfregue os pés, fale de temas raros e mostre desinteresse e desprezo pelo que ele co-nhece.

Mortifique seu orgulho, estabeleça relações com homens superiores a ele, ignore-o, reprove aquem tem os mesmos defeitos que ele e, por fim, prefira divertir-se em lugares separados.

Se você continua sendo abordada para fazer amor, mostre-se nervosa, negue-lhe a boca, cubraa barriga e o ventre, mostre repugnância a arranhões e mordidas. Se ele tenta lhe abraçar, in-terponha os braços em forma de agulha; permaneça rígida, cruze as pernas se estiver deitada e

com vontade de dormir. Se o vê cansado, provoque-o; se ele não consegue fazer amor, provo-que-o e ria-se dele; em caso contrário é você que não deve sentir vontade - nem de noite nem

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 105 

de dia; quando ele perceber que você sente alguma vontade, saia para fazer algumas visitas apessoas importantes e esfriar a cabeça.

Se conversam, distorça o que fala; ria, mesmo se o assunto é sério e se ele diz algo alegre fin- ja que se diverte com outra coisa. Enquanto ele fala, olhe com o canto do olho os serviçais elhes faça sinais para que eles interrompam a conversa e digam alguma coisa. Fale em públicoos defeitos dos homens que você não gosta e faça com que uma criada confirme que o homemtem muitos desses defeitos. Quando ele vier a você não o receba pessoalmente, mande per-guntar-lhe se lhe deve alguma coisa e a mesma pessoa que o recebeu o deve dispensar. São asnormas que, segundo Dattaka, devem ser utilizadas no tratamento dos amantes.

Sobre o tema, duas estrofes ficam registradas:

Prostituição é unir-se aos clientes atenta aos valores  dar prazer ao homem com o qual se tem relações 

 ganhar dinheiro enquanto anima ao homem e, ao final, livrar-se dele.

 A prostituta que, ao acolher seus clientes  se comporta segundo esta norma 

  jamais se deixa enganar por eles e acumula muitas riquezas.

4 – RECONCILIAÇÃO COM UM AMANTE

uando uma prostituta deixa um amante imediatamente depois de haver-lhe espremidotudo que tinha, pode restabelecer uma relação com ele, o que pode acontecer se ele érico, ou voltado a ganhar muito dinheiro, ou se continua a atrair-lhe. Em outros casos,há que se pensar.

Este homem pode ser, baseando-se nos fatos, de seis tipos: que a tenha abandonado esponta-

neamente, ou porque tenha se apaixonado por outra; porque em um primeiro contato ambosde rejeitaram por motivos variados; porque lhe deu vontade de romper a relação com ela e

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 106 

outro a tomou, imediatamente, a primazia; deu-lhe vontade de abandoná-la e agora ela estácom outro; ela o deixou porque o homem era viciado em jogos e por causa disso ele se envol-veu com outra amante.

Se um homem que foi abandonado pela mulher porque houve proposta por parte de outra mu-lher em ser sua nova amante esta não deve se reconciliar com ele; independentemente da qua-lidade de uma ou de outra, não lhe interessa, pois fica claro que o homem é uma pessoa volú-vel.

Se o casal se separou porque a prostituta escolheu unir-se a outro homem, o outro poderá con-tinuar sendo um homem desejado. Nesse caso, mesmo tendo se tornada rica, a prostituta po-

derá ser rejeitada no caso de tentar uma reconciliação. Ainda assim isso será possível. Vale apena tentar se o homem não depender do dinheiro da mulher. Caso contrário, a prostituta nãodeverá investir nesse novo relacionamento.

Ao homem que deixou a mulher porque lhe deu vontade, e outro homem a acolheu, a prostitu-ta pode acolhê-lo novamente, desde que esteja disposta e o homem lhe seja muito generoso.No caso de que ele se proponha a ser seu amante e ela continue com seu novo homem, eladeve examinar a situação sob as circunstâncias dos ganhos que poderá auferir.

É possível que a prostituta se veja assediada por um homem – que já tenha sido seu amante -que recentemente tenha deixado uma mulher, em busca de algo especial. Esse homem podeestar apaixonado e não viu na atual mulher as qualidades que esperava. Nesses casos, o ho-mem pode ser extremamente generoso.

Mas, se a prostituta se dá conta de que ele se comporta como uma criança, cujo olhar se detém

em todas as partes de uma mulher, que gosta de mentir, ou que suas paixões duram tantoquanto o açafrão, ou ainda, que é um indivíduo capaz de tudo, a prostituta deve analisar sevale a pena restabelecer os laços com ele ou deixá-lo definitivamente.

O homem deixado pela prostituta por vontade própria se propõe a ser seu amante. Essa hipó-tese é passível de exame. Pode ser que a prostituta queira voltar a ter um novo amor e, nessecaso, muito generoso. Pode ser oportuno porque com o homem atual não sente nenhum pra-zer. Nesse caso, então, ela poderia juntar o prazer e os ganhos.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 107 

Também existe a possibilidade de que, ao haver sido posto para fora, sem razão, agora o ho-mem volta com desejo de vingança; e que, depois de obter confiança, queira se ressarcir dosgastos que teve enquanto estiveram juntos. Com um homem assim, que pensa em como pre-

 judicá-la, não se deve nem reiniciar uma relação. Se, mais tarde, ele pensar de outra forma, há

que se descobrir com o tempo. E o raciocínio é o mesmo para o homem que a prostituta dei-xou e que ficou com a rival, mesmo que lhe faça nova propostas.

Há os homens que se oferecem como amantes quando a prostituta está ligada a outro homem,porque pensam que podem aproveitar de uma situação qualquer. Eles pensam: “tenho campolivre e vou fazer todos os esforços para recuperá-la”. Vai falar com ela, afastar seu atual opo-nente e infligir um golpe no orgulho de sua amante. Mas a prostituta pode raciocinar: seutempo de ganhar dinheiro já viu dias melhores, o seu lugar de residência também; já passou

da fase mais importante da mulher, já alcançou a sua liberdade e a sua independência, já per-deu os laços familiares. Então, pode ser a hora de conquistar definitivamente um amante rico,melhor que o homem com quem vive agora. O homem pode pensar que se a prostituta tiverum tratamento melhor, conseguirá ter melhor visibilidade social; e ainda, os amigos poderãosaber que ele está com essa mulher que é almejada por muitos e isso será bom para a sua au-toestima; ou finalmente, poderá esperar o desenrolar dos fatos, já que é instável e se comportaconforme os acontecimentos. Pode ser uma boa opção para ambos. A um homem assim, tantoo pithamarda como todos os seus companheiros lhe disseram que, da última vez, foi a malda-de da mãe da prostituta a responsável pela separação, pois ela, mesmo que quisesse, não pode-ria fazer nada; e lhe explicaram que ela agora acompanha o seu amante atual sem paixão al-guma, mas sem ódio. O convenceram recordando-lhe dos antigos gestos de afeto da mulher,cheios de lembranças de cada um deles. É a reconciliação com um amante já desfrutado.

Alguns mestres sustentam que, entre um amante novo e um já usufruído, este último é melhor,porque já se conhece o seu caráter, já se comprovou a sua paixão e fica muito mais fácil de seragradado. Vâtsyâyana considera, no entanto, que um amante já usufruído, dado que seus bens

 já foram todos usufruídos, não oferece demasiado dinheiro, e é difícil conquistar a sua confi-ança enquanto que o amante novo se apaixona com muito mais facilidade. Apesar de tudo,

sempre há exceções, segundo a natureza dos homens.

Sobre o texto:

Se você quer a reconciliação, para afastar a rival do cliente,

ou ele dela 

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 108 

ou para dar um golpe na amante atual.

Quando o homem é muito apaixonado tem medo de que ela se una com outro, fecha os olhos diante das ofensas e por medo fica muito generoso.Dê prazer a quem não é fiel,

e maltrate o amante apaixonado; quando vier o mensageiro de outra pessoa mais importante,

 sabendo que a mulher, com tempo, acabará  dedicando-se ao primeiro que se ofereceu,

 não interrompendo a reconciliação, sem abandonar o amante que lhe seja fiel.

Mantenha relações com quem seja apaixonado e doce,

embora atenda também a outros;uma vez que lhe tenham pago,

é agradável manter relações com quem a ama.

 A mulher esperta se reconcilia com um acompanhante já desfrutado,

examinando muito bem  as perspectivas, os benefícios, o amor e a amizade.

5 - DIFERENTES TIPOS DE RENDA

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 109 

e uma prostituta tem inúmeros clientes e ganha muito diariamente, não pode se limitar aentreter a apenas um amante; deve, então, estabelecer o seu preço por noite, levando emconsideração o lugar, o tempo e as condições, suas qualidades e o seu valor em relaçãoàs outras prostitutas. Em suas relações com os seus clientes a prostituta deve se valer

de mensageiros e de pessoas próximas a ela. Pode ter ao mesmo tempo dois, três ou quatrohomens a fim de fazer uma renda extra e poder ter um bom controle da situação. Mas devefazer todo o necessário para que nada lhe falte.

Para alguns mestres, quando se tem vários clientes e os preços cobrados são parecidos, deve-se fazer com que os valores cobrados sejam traduzidos em bens que ela deseje. Entretanto,Vâtsyâyana é de opinião que a mulher deve preferir o homem que lhe paga os préstimos emouro, prata, utensílios de cobre, bronze e ferro, roupa de cama, colchas, vestidos, perfumes,

temperos, pratos, manteiga, azeite, cereais e animais. Nos casos em que os objetos oferecidostenham aproximadamente o mesmo valor, porque se pareçam ou sejam mais ou menos iguais,que se leve em conta os conselhos de um amigo, a necessidade premente ou futura daqueleartigo, as qualidade do cliente e o seu afeto.

Segundo alguns entendidos, entre dois pagamentos iguais, de um enamorado e de outrogeneroso, evidentemente deve-se dar preferência ao segundo caso. Na verdade, é possíveltender ao ser presenteada por um homem apaixonado, já que mesmo um avarento cede

quando se apaixona; mas o mesmo não se pode dizer de um ganancioso sem amor. É aopinião de Vâtsyâyana.

Além disso, entre o rico e o pobre, deve-se sempre preferir o rico; entre o amante generoso eo que cumpre o que interessa à mulher, fica claro que ela deve escolher este último. É isto queopinam alguns mestres. Para Vâtsyâyana, considerando atendido o que interessa à prostituta, eestando ele satisfeito, deve-se escolher o homem generoso, uma vez que este não se fixa nopassado. Nestes casos, a preferência deve recair naqueles que se baseiam nas perspectivas defuturo. Entre um homem agradecido e outro generoso, há que privilegiar o segundo, ogeneroso. O generoso, contudo, embora tenha sido o preferido durante muito tempo, sedescobre uma ofensa, por mais simples que seja, ou ainda, que outra prostituta mostra-se-lhehostil equivocadamene, não costuma levar em conta os bons serviços que tenham sidoprestados por esta mulher; pois os homens generosos são, por regra geral, muito dignos,honestos e demasiadamente cuidadosos. O indivíduo agradecido, ao contrário, leva em contaos serviços que lhe foram prestados, não deixa de gostar por problemas simples, e, uma vezcomprovado que a mulher tenha caráter, não é uma pequena hostilidade que a desabonará;esta é a opinião de Vâtsyâyana. Também neste caso a preferência deve considerar asperspectivas futuras.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 110 

Para alguns mestres, entre a palavra de um amigo e a possibilidade de ganho de dinheiro, éóbvio que se deve escolher o último. Vâtsyâyana considera, contudo, que a possibilidade deganhar dinheiro sempre está ao seu alcance, enquanto que um amigo não é fácil de conseguire manter, principalmene quando se acredita na sua palavra. Neste caso deve-se levar em conta

o momento, quer dizer, o que é mais necessário naquele momento para a prostituta. E nestascircunstâncias a mulher pode manter o amigo mostrando-lhe os motivos da sua opção eassegurando-lhe que não deseja perder sua amizade e que a continuaria tendo no dia seguinte,enquanto que o dinheiro, o perderia. Entre ganhar a impedir a perda, há que preferir, com todaa clareza, a primeira opção, afirmam alguns mestres. Mas os ganhos têm limites, enquantoque as perdas, uma vez iniciadas, não se sabe onde vão acabar; é essa a opinião deVâtsyâyana. Em um caso deste tipo a decisão depende da importância relativa. Baseando omesmo princípio, em relação a um ganho guficoso, é preferível evitar um prejuízo.

Os ganhos extraordinários das prostitutas de nível superior servem para fazer erigir templos ecuidar de lagos, jardins, construir barragens e capelas para o Fogo Sagrado, presentear comum bom número de vacas aos brâmanes através de intermediários de confiança e promovercerimônias e oferendas aos deuses, ou para conseguir o dinheiro de que se necessita para estesgastos. As prostitutas mais distintas, que vivem da sua beleza, destinam parte dos seus ganhospara cobrir-se de jóias, construir moradias suntuosas, diferentemente das prostitutas dascategorias baixa e média. Para Vâtsyâyana, esta não pode ser uma regra, já que os ganhos sãoincertos segundo o lugar, o tempo as riquezas, as capacidades, as paixões e as pessoas.

A prostituta pode aceitar uma pequena compensação para manter afastados os clientes entresi, ou para se defender se querem lhe roubar um cliente fiel, ou mesmo se lhe querem privarde ganhos em relação a uma sua oponente. Ou quando considera que, estabelecendo umarelação com um dado cliente, conseguirá uma boa posição, mais bem estar,perspectivas defuturo e muitas visitas; no caso em que a prostituta queira induzir o homem a impedir umaperda, ou se pensa ofender outro homem, apaixonado, mostrando uma cortesia que teve comela como se nunca tivesse feito, ou simplesmente por desejo de amor e com boa disposição deânimo. Não deve aceitar uma compensação modesta quando ajuda um homem a assegurar

uma oportunidade ou evitar um prejuízo. Deve buscar um ganho imediato do cliente,principalmente se tem em mente abandoná-lo num futuro breve e reconciliar-se com outro. Seo considera a ponto de voltar para sua esposa, ou se o detém na véspera de superar ummomento difícil, inclusive quanto teja prestes a perder o emprego ou o amor dos pais. Seconsidera que ele seja uma pessoa muito inconstante; ou ainda, se num futuro próximo,alguma dessas perspectivas pode vir a ocorrer: o homem receberá um favor prometido pelosoberano, tais como imóveis de grande valor, um bom emprego, a liberação de uma grandecarga sem maiores fiscalizações, a liberação de um barco com mercadorias e outros. Noscasos descritos, a prostituta deve olhar mais por ele e fazer-se sua mulher.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 111 

Umas estrofes sobre o assunto:

Mantenha-se bem longe tanto hoje quanto no futuro 

 daqueles que foram enriquecidos com o esforço cruel, e tão amados pelo rei.

Se os homens têm evitado danos e procuram bem estar onde frequentam aproxime-se deles,

 mesmo que seja necessário algum esforço,e visite-os sob qualquer pretexto.

Os homens que voluntariamente dão imensa riqueza para o serviço mínimo 

 são generosos e muito coerentes  mesmo que para visitá-los tenha o seu próprio custo.

6 – PERDAS E GANHOS: EXAME DAS CONSEQUÊNCIAS E DIFE-RENTES CATEGORIAS DE PROSTITUTAS

s ganhos perseguidos levam consigo também a perdas, a suas consequências e a dúvi-das. Estas podem nascer de uma inteligência fraca, da presença excessiva de paixão,

de dúvida, da honestidade, da confiança ou da raiva, da negligência, da pressa ou dopróprio destino. O resultado é a falha do investimento feito, a evaporação do lucroesperado, a perda do que foi alcançado; a mulher se torna grossa, acessível a todas as doen-ças, perde o cabelo, e porque aparece como culpada de algum delito, ela pode até ser presa emutilada.

Por este motivo, ela deve fazer um esforço para evitar, desde o princípio, esses defeitos e pro-curar situações que essencialmente propiciem ganhos. Os três fatores que propiciam ganhossão: o Útil, a Lei Sagrada e o Amor, enquanto que os três fatores das perdas são: o prejuízo, aimoralidade e a aversão. Se, enquanto se coloca em prática um destes, se consegue outro. Um

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 112 

é, portanto, “consequência” do outro. Quando não estamos seguros de alcançar um determi-nado objetivo, ou seja, não estamos seguros de que algo se realize, temos a “dúvida pura”. Sepuder acontecer algo, ou o contrário, é uma “questão mista”. Quando se persegue um fim e seconsegue dois, tem-se um “duplo resultado”; no caso de se conseguir resultados por vários

caminhos se terá um “resultado coletivo”. Tentaremos mostrar tudo isto.

A natureza dos três fatores de ganhos já foi discutida; o contrário são os três fatores de perdas.

Quando uma prostituta, que visita um homem de excelentes qualidades consegue um benefí-cio econômico claro, uma boa aceitação geral, boas perspectivas, visitas e pedidos de outros,isto é algo útil que tem como consequência o Útil.

Visitar a outro homem, desde que se consiga apenas dinheiro, é algo útil, mas sem conse-quências.

Frequentar, arcando com os gastos, a um herói ou a um ministro poderoso e mesquinho, in-clusive quando não há compensação alguma, para lutar contra uma adversidade, fazer desapa-recer as causas de um grave desastre econômico e gerar perspectivas futuras, é um prejuízo

que tem como conseqüência o Útil.

Quando se seduz, arcando com os gastos, a um avaro, a um homem que se acredita irresistí-vel, a um ingrato ou a um mentiroso, e ao final não se consegue nada, é um prejuízo sem con-sequências. Quando, da mesma forma, se pretende seduzir a um homem que é o favorito deum soberano que é muito cruel e influente, e ao final não se consegue nada, enquanto se li-vrar-se dele ainda lhe rende alguns problemas, é um prejuízo que traz como consequênciaoutro problema.

Estes princípios se aplicariam também às consequências da Lei Sagrada e do Amor; além dis-so, se combinam os vários fatores de forma apropriada. Essas são as consequências diferentes.

Quando a prostituta se pergunta se o homem, mesmo satisfeito, será ou não generoso, tem-seuma dúvida sobre o Útil. Quando não há certeza do que seja justo, sem conseguir algum bene-fício, abandonar um amante que não resultou em nada, mesmo depois que ele foi espremido

como a um limão, é uma dúvida sobre a Lei Sagrada. Nascerá o amor ou não, se se frequentaum homem de baixa condição, sem conhecer suas intenções? É a dúvida sobre o Amor.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 113 

Tem-se uma dúvida sobre o prejuízo quando não resulta nada claro se um homem poderoso ede baixa condição, não satisfeito, pode ou não trazer dano. Se se abandona ou se morre umamante apaixonado, que não proporcionou nenhuma vantagem é uma ação responsável ounão? É uma dúvida sobre a imoralidade. Quando não se entende o que o amante deseja, já quenão expressa nem sequer uma paixão, é por acaso intolerância? É uma dúvida sobre a aversão.Estas são as “dúvidas puras”.

Agora responderemos às “dúvidas mistas”. Quando se dedicam atenções a um estrangeiro decaráter desconhecido, ou a um homem poderoso como um favorito, surge a dúvida se terácomo resultado o Útil ou um prejuízo. Um sábio sacerdote, um estudante e, portanto submeti-do à castidade, ou um homem que foi consagrado, fez votos ou pertence a uma seita particu-

lar, depois de ver a cortesã, apaixonou-se e está a ponto de morrer; se ela o visita, a pedido deum amigo ou por benevolência, a dúvida está em saber se a ação está em conformidade com aLei Sagrada ou contrária à mesma. Assediar um homem sem conhecer seus méritos, simples-mente porque outros o indicam, sem estar seguro de como ele é, implica uma dúvida: surgiráamor ou aversão? Estas possibilidades devem se combinar umas com as outras: são as chama-das “dúvidas mistas”.

Se, ao visitar um homem, se antevê uma vantagem, e ao mesmo tempo consegue-se outro

tanto de um amante apaixonado, é um útil por ambos os lados. Mas se um encontro que acon-tece arcando-se com os gastos, resulta infrutífero, e o amante apaixonado, fica com raiva eleva seus presentes, fica-se no prejuízo pelos dois caminhos. Quando não se sabe se levarávantagem na visita, e se o amante apaixonado, por ciúme, não se mostrará generoso, é umadúvida sobre o Útil. De um encontro que exige gastos, no caso de que seja impossível saber seum amante anterior, hostil, corajoso provocará algo desagradável ou não, ou se o homem fiel,indignado, retirará tudo o que lhe foi presenteado, fica uma dúvida dupla sobre o prejuízo.São os “resultados duplos”, segundo Svetaketu.

Os discípulos de Babhravya, ao contrário, mantêm: quando do encontro com um homem seconseguem alguns ganhos, enquanto que do amante apaixonado se perdem vantagens, inclu-sive sem mesmo visitar-lhe, tem lugar um duplo Útil. Se, realizando uma visita, a cortesã temque assumir alguns gastos sem nenhum resultado, enquanto que lhe é negado pelo amante fiel,se derivam inevitavelmente perdas, tem-se um prejuízo pelos dois caminhos. Quando não seestá segura de que, ao visitar um homem, este será generoso sem olhar os gastos, nem que,mesmo sem receber visitas, o amante apaixonado se manterá generoso, existe uma dúvidadupla sobre o Útil. Quando, por último, no caso de uma visita que exige gastar dinheiro, não

se tem segurança de que o amante de um tempo atrás se mostrará hostil e muito duro, e tam-

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 114 

pouco é seguro de que, o homem fiel, privado destas visitas, por despeito, provocará perdas,se tem uma dúvida dupla sobre o prejuízo.

Quando se encontram estas situações, o resultado é: por um lado o Útil, por outro, o prejuízo;por um lado o Útil, por outro a dúvida sobre o Útil; por um lado o Útil, por outro a dúvidasobre o prejuízo; por um lado, parte do prejuízo, por outro a dúvida sobre o Útil, por um ladoo prejuízo, por outro a dúvida sobre este mesmo prejuízo; por um lado a dúvida sobre o Útil epor outro lado a dúvida sobre o prejuízo. Estes são os seis resultados mistos.

Em casos parecidos, depois de ter refletido com os amigos, aceite a dúvida sobre o Útil,quando os ganhos parecerem muito consistentes e resultem possíveis para amortizar um gran-

de prejuízo. Desta forma, baseando-se em um arrazoado parecido, podem-se exemplificaroutros casos relacionados com a Lei Sagrada e com o Amor. Estes se combinam e se cruzamentre si. São os “resultados duplos”

Vários vita juntos frequentemente recebem apenas uma prostituta: é a seleção em companhia.Quando uma mulher tem relações com um ou com outro deve buscar ter vantagens de cadaum através da rivalidade que os separa.

Na festa de primavera e em ocasiões parecidas onde a mãe advirta: “hoje minha filha irá comaquele que lhe satisfaça este ou aquele desejo”. Logo, neste tipo de festividade, considere asvantagens com bom senso. Útil em um sentido, ou em todos os sentidos; prejuízo por um la-do, ou por todos os lados; Útil meio a meio, ou em cada caso; prejuízo meio a meio, ou emtodos os casos: os “resultados coletivos”. Como antes, também aqui se apliquem as dúvidassobre o Útil e sobre o prejuízo, e procure-se mesclá-las; e praticamente o mesmo se faça emrelação à Lei Sagrada e ao Amor. É o exame das consequências e das dúvidas relacionadascom os ganhos e com as perdas.

As distintas categorias de prostitutas são: a carregadora de água, a mulher infiel, a desinibida,a dançarina, a artesã, a mulher completamente corrompida, a que vive de sua beleza e a corte-sã. Para todas estas vale, nos termos adequados a cada uma, as abordagens sobre clientes eamigos, como satisfazê-los, métodos para ganhar dinheiro, como descartar os amantes e re-conciliarem-se com eles, êxitos dos diferentes tipos de vantagens e exame das consequênciase dúvidas relativas aos ganhos e perdas. Esta é a prostituição.

No fechamento, duas estrofes sobre o assunto:

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 115 

Uma vez que os homens perseguem o prazer,e este tem lugar com as mulheres 

- é o ponto fundamental do tratado -, aqui temos tratado dos êxitos femininos.

Existem mulheres que se entregam à paixão e mulheres que buscam o dinheiro;

em outra parte deste tratado se falou sobre a paixão,e na parte dedicada às prostitutas, aos resultados que elas têm.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 116 

VII – AS DOUTRINAS SECRETAS

1 – COMO SER ATRAENTE

Kamasutra teria terminado aqui. Entretanto, aqueles que não conseguem o que bus-cam com as normas estabelecidas neste documento, ainda podem lançar mão das dou-trinas secretas. Beleza, qualidades, juventude, generosidade: estes fatores são baseadosna sedução. Um unguento de tagara, kustha e folhas de talisa têm poderes imensos;

também se pode usar a fumaça negra como colírio preparado com os mesmos ingredientes,bem triturados, em um crânio humano, estendendo a mescla com azeite de aska. Um bálsamode eficácia parecida é o azeite de sésamo cosido com raízes de punarnaya, sahadevu, sariva eamaranto amarelo, e folhas de lótus azul; isto funciona também nas guirlandas.

Um homem ficará coxo e fascinado por uma mulher se for ungido com creme de fibras de póseco de lótus azul e Naga, com mel e manteiga clarificada, Também ficará se a essa pomadafor juntada flores de tagara, talisa e tamala.

Tem um efeito assustador manter na mão direita um ovo de pavão real ou de hiena cobertocom ouro; o mesmo que um amuleto de azufaifa e um de conchas. Nestes casos devem-seaplicar os encantamentos do Atharvaveda.

Um mestre, que siga as artes mágicas na sua doutrina, pode manter aleijado durante um anouma serva que tenha atingido a puberdade; logo em seguida, dá-la a um candidato apaixonadoporque é muito bonito e se este oferecer muito pela menina: é um meio para aumentar a fasci-nação. Quando sua é virgem, a cortesã convida com grande fausto aos pretendentes adequadospara ela por cultura, caráter e aspecto, prometa-a em matrimônio àquele que possa oferecer-lhe dotes especiais, e logo a mantenha escondida. A garota, fingindo ausentar-se, pode entre-gar-se aos prazeres de um jovem elegante e rico às escondidas, por um acordo feito antes, e

em troca de bons valores, em lugares previamente marcados. E todos ganham um pouco comisso.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 117 

Além disso, um dos pretendentes, paga o combinado à mão e esta lhe concede a mão da moça.Se chegada a hora não consegue o dinheiro combinado, tira-lhe todo o dinheiro que tem eafirma que esse homem não merece a sua filha. Caso contrário, basta dar a virgindade da filhaapós o casamento. E se ela faz uma parceria com os amantes em segredo, à revelia da mãe, elapode processar o homem (primeiro responsável) perante os juízes, que a conhecem bem. Ascortesãs, de todas as formas, deixam livre a sua filha, quando ela tenha perdido da virgindadepor culpa de uma amiga ou uma escrava, ou quando o Kamasutra tenha sido bem estudado,quando é experiente nos artifícios que se aprendem com a prática e tanto sua idade como suafortuna amorosa já começam a aparecer; são procedimentos tão antigos quanto a vida do ho-mem. Se o casamento de uma menina assim durar mais de um ano sem traições, então é por-que há laços de amor.

No entanto, ao final de um ano, o homem que a desposou pode convidar a um amigo a fazeruma visita noturna à esposa, sem pagamento. É a regra dos casamentos das prostitutas, e amaneira de aumentar o seu fascínio. Este mesmo argumento vale para as filhas de gente doteatro. Estes, entretanto, podem conceder uma donzela ao homem, que teriam vantagens, por-que se destacam por tocarem um instrumento musical. Teria esse direito. São as distintas ma-neiras de fazer-se atraente.

A – COMO VENCER

Tem um efeito subjugante fazer amor com o pênis aspergido com o pó de datura, pimentanegra e  pippali; e também, esfregar (a outra pessoa) com o pó cozido de uma folha trazidapelo vento, junto com o pó da coroa de um osso de um faisão morto. O mesmo efeito se con-segue com pó mesclado com mel, tirados de um abutre fêmeo morta de morte natural; devem-se adicionar frutos de amalaka e dar-se um banho.

Quando um composto feito com caroços de euforbio feito em pedaços, misturado com arsêni-co vermelho em pó e enxofre, seco sete vezes e finamente picados é passado no pênis com umpouco de mel, a mulher se torna escrava após o amor. Se uma donzela é pulverizada com asmesmas substâncias reduzidas a pó e misturadas com fezes de macaco, jamais se entregará aoutro homem.

Faça um buraco no tronco de uma árvore de simsapa e encha com pedaços de carne de vaca,

deixadas em molho de azeite de manga durante seis meses; desta forma tem-se um unguentodos deuses que, dizem, tem o efeito de subjugar. Quando se faz uma incisão no tronco de uma

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 118 

árvore e se coloca, sempre durante seis meses, resina de kadhira em rodelas finas, estas adqui-rem o perfume das flores daquela árvore e desta forma se consegue um unguento amado pelosDandharva80, o qual como se disse, é capaz de fazer escravos. Se você fizer um buraco notronco de uma naga e colocar, durante seis meses, flores de privangu misturadas com tagara 

molhadas em azeite de manga, consegue-se o unguento muito apreciado pelos Naga81

, quedizem, tem a propriedade de também subjugar.

Um osso de camelo preso e queimado em suco de bhrngaraja nos dá um preparado para osolhos; se este preparado é colocado um osso tubular e, mediante uma haste feita de osso –sempre de camelo – juntamente com antimônio, obtem-se uma substância purificadora para osolhos e faz escravos. A mesma explicação vale para os colírios que são feitos a partir de ossosde gaviões, abutres e pavões reais. Estas são as diferentes maneiras de subjugar.

B – ESTIMULANTES DA MASCULINIDADE

Um homem estimula a virilidade se bebe leite açucarado, ao qual é adicionado um dente dealho, pimenta cavya e alcaçuz.

Também se consegue vigor sexual tomando leite no qual foram cozidos testículos de carneiroadoçados com açúcar.

O mesmo efeito tem uma bebida de svavamgupta, vidari, ksirika e leite, se preparado com aadição de sementes de privala e raízes de cana de açúcar e vidari.

Também se pode moer srngatak, ksirakakoli e kaseruka e raiz de alcaçuz, adicionando leite

adoçado e manteiga, tudo cozido em fogo lento e feito um doce; o homem que come destedoce até saciar-se pode se unir a várias mulheres e não se cansa. É o que contam os mestres.

80 Míticos músicos celestiais, como é interpretado em relação às diferentes formas de casamento nas que o Dandharva se fundamenta nosimples ato do amor consensual. Através do canto, e, de alguma forma, sobre o “feitiço” do amor.

81 Divindades em forma de serpentes, que vivem no subsolo, cujo culto se encontra difundido por todas as partes da Índia desde os temposmais remotos.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 119 

O mesmo sucede, sempre segundo alguns mestres, quando um homem se alimenta com umprato assim preparado: Lave algumas judias82 abertas, com água e banhadas em manteigaquente. Após, cozinhe-as em leite de uma vaca que tenha bezerro já crescido, acrescentandomel e creme de manteiga. Consegue-se o mesmo efeito, dizem os mestres, comer até saciar-

se, um doce feito com vidari, svayamgupta, açúcar, mel, creme de manteiga e farinha de trigo.

Funciona do mesmo modo, tomando até a saciedade uma bebida de leite e arroz empapado emovos de pardal, regada com mel e creme de manteiga; e carrega a mesma força quem é levadoa comer um doce assim preparado: grãos de gergelim embebidos em ovos de pardal, frutos desrngaraka, kaseruka e svayamgupta, com farinha de trigo e de judias, leite adoçado e cremede manteiga.

Duas  palas83 para cada uma de creme de manteiga, mel, açúcar e alcaçuz, um karsa de ma-

dhurasa, um  prastha de leite. Este néctar, composto de seis ingredientes, segundo os mestresé uma poção purificadora, capaz de dotar de virilidade e vida longa.

Há, além disso, um prato preparado com o cozimento de satavarik, svadamstra e melaço, umapasta de pimenta e mel, leite de vaca e creme de manteiga de cabra; se deve tomar todos osdias, a partir de quando a lua entre em Pusya84; os mestres afirmam que é uma receita purifi-

cadora, capaz de dar vigor sexual e de prolongar a vida.

Também se podem cozinhar satavari, svadamstra e alguns frutos amassados de sriparni comquatro partes de água até conseguir a consistência adequada; deve ser comido de manhã, apartir de quando a lua entra em Pusya; também a isto, as autoridades competentes nesta maté-ria consideram uma receita purificadora, capaz de dar virilidade e prolongar a vida.

E, por fim, se pode tomar todos os dias, pela manhã, bem cedo, ao se levantar, uma mistura deduas pala de farinha de cevada e svadamstra divididas em partes iguais; é, segundo os profes-sores desta arte, uma preparação que purifica e dá poder erótico.

82 Judia – Planta da família da leguminosas. As vagens secas são utilizadas como diurético na retenção de líquidos, gota, cascalho, pedrasnos rins, dor ciática, eczema. Antidiabético. (NT)83  Pala, karsa e prastha, medidas de peso equivalentes, respectivamente, a 38, 9,5 e 600 gramas aproximadamente.

84 Pusya é um dos vinte e sete (na verdade o vigésimo oitavo) maksatra, espécie de “constelações” características da astronomia hindu; aque trata das características humanas, o grupo de estrelas distintas pelas quais a lua passa, por assim dizer, em cada um dos dias do seu ciclomensal.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 120 

Convém aprender as diferentes maneiras que existem para suscitar o amor do  Ayurveda e doVeda

85 , das artes mágicas e de pessoas preparadas. Não utilize procedimentos questionáveis

ou que representem risco para o corpo ou exijam a morte de seres vivos ou, ainda, que sejamligados a substâncias impuras.

O homem viciado em acumular poder, que use os métodos ensinados pelos sábios e aprova-dos com todas as bênçãos pelos brâmanes e pelos amigos.

2 - COMO REACENDER O DESEJO QUE SE APAGA

e um homem não se sente capaz para satisfazer uma mulher ardente, que busque remédio.

Ao iniciar o sexo, acaricie com a mão suas partes íntimas e, quando ela já tiver consegui-do o prazer, una-se a ela; essa é uma maneira de reacender o desejo. Por sua vez, o amorpraticado com a boca desperta os sentidos de um homem com a paixão fraca, já não tão jo-vem, obeso ou já cansado por outras relações.

Ou, caso contrário, ainda pode recorrer a mecanismos artificiais. Estes mecanismos são o ou-ro, a prata, o cobre, o ferro, o marfim, o chifre de búfalo, o estanho ou o chumbo, suaves, com

efeitos refrescantes,ou violentos. São osdiferentes apoios arti-ficiais segundo Bab-

hravya. Para Vâtsyâ-yana, podem ser demadeira ou comomelhor agrade a cadaum.

Um mecanismo arti-ficial deve ter umorifício com o diâme-tro do pênis, a circun-ferência exterior ru-gosa, com nódulos eser bastante volumo-

so. Os que são deste tipo são os chamados “capa”. Usados três ou mais, constituem o “brace-lete”; o “bracelete único” obtém-se enrolando ou colocando no pênis. Segundo o tamanho quese queira, coloque tantas “capas” quantas se deseje.

O objeto com um buraco em um dos lados (para que se possa passar uma corda), duro e rugo-so, imitando veias de sangue, que se ajusta à cintura do homem chama-se “armadura” ou “re-de”. Se não se pode conseguir isto, pode-se utilizar um talo de alabu ou um pedaço de bambu,

85 O Ayurueda (Ciência da Vida) é a medicina tradicional hindu, um ramo que compreende, entre outras coisas, a preparação dos afrodisía-cos. Como Veda se entende, neste caso, o Atharvaveda (o quarto livro dos Veda).

S

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 121 

bem empapada em azeite e unguentos e atada à cintura por uma cinta, ou ainda um colar demadeira lisa, laçado e com muitos nódulos de amalaka.

São os diferentes objetos artificiais que podem auxiliar os que não se sentem capacitados.

Dado que consideram que sem a utilização desses objetos não se pode fazer amor a contento,os habitantes do Sul, ao contrário, fazem um buraco à faca no pênis, como se faz no lóbulo daorelha, mergulhando imediatamente o pênis em água até que pare de sangrar; para manter oburaco aberto, naquela noite se dedicará muito tempo ao amor (considerando a longa ereçãodo pênis). Passado um dia, limpará a ferida com unguentos e pomadas. Para manter a dilata-ção do furo, usará cataplasmas feitos com folhas de vetasa e kutaja limpando-o com alcaçuzmisturado com mel. Em seguida, tentará aumentar o diâmetro do furo usando um pedaço dechumbo e óleo de caju. Feita a abertura, podem se lhe aplicar objetos artificiais fabricadoscom formas distintas: a “volta”, o “semicírculo”, o “pilão”, a “flor”, a “espinha”, o “osso dagarça-real”, o “tronco”, os “oito discos”, o “espiral”, o “cruzamento” e outros, segundo a ima-ginação e a prática.

Esses objetos podem ser lisos ou rugosos e devem resistir convenientemente ao uso. Assim sepode reacender o desejo que se apaga.

A - COMO ENGROSSAR O PÊNIS

Uma das possibilidades é a seguinte: comprime-se o pênis com os pelos de alguns insetosnascidos em árvores. A seguir, massageia-se o pênis com azeite durante dez noites, e nova-mente comprime-o com os pelos dos insetos e, novamente, volta-se-lhe a massagear; desta

forma um homem consegue que ele fique mais grosso; em seguida, deita-se na cama (sem ocolchão), de barriga para baixo, deixando que o pênis fique caído por um buraco no estrado dacama. É o modo típico dos vita de deixar o pênis mais grosso, e que dura toda a vida e que échamado “com pelos”.

O engrossamento dura um mês, se se esfregar o pênis com o líquido obtido da maceração dosseguintes vegetais e animais: ashagwanda

86 , batata doce, sanguessugas, frutos de brhati87 ,

manteiga fresca de búfala, hastikarna88 e girassol. Este procedimento e outros parecidos se

aprendem com pessoas preparadas.

São as maneiras diferentes de engrossar o pênis.

B - SIMPATIAS

86 Planta nativa da Índia, muito utilizada para acelerar a convalescença e reforçar a saúde. (NT)

87

Planta muito usada para benefício da garganta, alivia edemas e soluços. (NT)88 Planta a que se atribui propriedades de reguladora homeostática, antituberculínica e anestésica. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 122 

•  Se uma mulher for polvilhada com pó de euphorbia89 misturado com  punarnaua,

excrementos de macaco e raiz de laugalika, esta não será mais capaz de amar outrohomem.

•  Se um homem já não é mais capaz de fazer amor com uma mulher, esta deve lhe aplicarnas partes íntimas poeira de estrada, avalguja, alba, urina de formigas e suco de jambu.

•  O mesmo efeito valerá para se unir a uma mulher que se banhou em poeira de estercoanimal, menta e urina de formigas com leite aguado de búfala.

•  Para que se sintam infeliz no amor, mande-lhes coras de flores salpicadas com unguentopreparado com flores de nipa, amrataka e jambu. Um bálsamo de kokilksa faz com que seconsiga uma noite com uma mulher elefante. Polvilhar com lotus azul, kadamba, sarjaka esugandba, molhados em mel, formando um ungüento, faz com que se dilate a mulher cer-va.

•  Os frutos de amalaka em suco de eufórbio, soma, arka e frutos de avalguja têm o poder declarear os pelos. Um banho com raízes de jasmim silvestre, de kutajaka, añjanika, girikar-

nika e slaksnaparni devolve ao pelo sua cor natural. Se se passa nos pelos azeite cozidocom estes ingredientes faz-se com que os pelos fiquem negros como antes. Branqueiam-seos lábios pintando-os com tinta fresca dos testículos de um cavalo branco. O jasmim sil-vestre e outros ingredientes já citados devolvem aos lábios a sua cor natural.

•  O homem que toca uma flauta embebida em menta, kustha, tagara, talisa, deodara e eufor-

bio, consegue encantar a mulher que ouve esta música.

•  A bebida feita com frutos da datura é alucinógena. O melaço ou a digestão fazem com quepassem os efeitos alucinógenos.

•  Se você tocar nos excrementos de um pavão real que tenha comido arsênico amarelo ouroxo, os objetos que toque a seguir ficam invisíveis.

•  Água com cinzas de carvão, ervas e azeite torna-se branca como o leite.

•  Os pratos de ferro, cobertos com sravana e priyanguka esmagados em baritaka e amrataka ficam da cor do cobre – avermelhados. Quando acendemos uma lâmpada de azeite de sra-

vana e de priyanguka com pedaços de camisa de seda de motivos de serpente e se põe las-cas de madeira ao fogo se consegue que estas pareçam serpentes.

•  Beber leite de uma vaca branca que tem um bezerro branco produz glória e vida longa; e abenção dos veneráveis brâmanes.

89 Alba, amrataka, añjanika, arka, avalguja, datura, euphorbia, girikarnika, jambu, kadamba, kokilka, kusthya, kutajaka, laugalika, nipa,priyanguka, sarjaka, slaksnaparni, soma, sravana, subanba, tabara e talisa, mencionadas neste capítulo, são plantas da botânica hindu. (NT)

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 123 

Examinados os tratados anteriores e cumpridas as suas prescrições,

com grande esforço e de maneira concisa lhes exponho este Kamasutra.

Quem sabe suas doutrinas compreende a Lei Sagrada, o Útil e o Amor,

está confiante, conhece o mundo e não apenas age segundo sua paixão.

 As formas estranhas de acender a paixão  perfeitamente bem fundamentadas neste tratado,imediatamente a seguir nestas páginas,

 mesmo aquelas que tenham sido expressamente proibidas.

Quando não há tratado  só existe a prática;

convém saber que a teoria inclui tudo 

enquanto a prática refere-se a uma parte.

Vâtsyâyana escreveu este Kamasutra levando em conta todos os encargos,

 depois de analisar e submeter a revisão  do conteúdo do ensaio de Babhravya.

Esta obra foi redigida em castidade e com uma total concentração, para que sirva para a vida cotidiana:

 não foi feita fingindo-se apenas a paixão.

Vence os sentidos o que conhece a fundo  a mensagem deste tratado,

enquanto concede à Lei, ao Útil e ao Amor 

o posto que tem no mundo.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 124 

Por este motivo o sábio experiente neste livro, que respeita a Lei e o Útil, sem ser escravo da paixão cega,

tem êxito, se se adequa a ele quando ama.

F I M

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 125 

NOMES BOTÂNICOS CITADOS NO TEXTO 

Relação de plantas e árvores da Índia, cujos nomes foram conservados no original. Junto aonome em sânscrito, colocamos o equivalente na nomenclatura botânica oficial:

Aguimantba (Premna spinosa ou Clerodendrom phlomoides).Aksa (Terminalia beIlerica)Alabu (Lagenaria vulgaris)

Aluka (Arum campanulatum)Amalaka (Emblica officinalis Gaenn.)Amrataka (Spondias mangifera)Afjanika; arka (Calotropis gigantea);Asoka (Jonesia asoka Roxb.);Asuagandba (Physalis fexuosa ou Withania somnifera);Atmlguja (Vemonia anthelminthica);Bbrnga, bbrngaraja (Eclipta prostrata ou alba);Brbatf; cavya (Piper chaba);Coraka (Trigonella corniculata);Girlkarnika (Clitoria tematea);Baritaka (Temtinalia chebula);Bastikarna (Alocasia macrorrhiza);Jambu (Eugenia jambolana);Kadamba (Nauclea cadamba ou Anthocephalus indicus);Kapittba (Feronia elephantum);Kaseruka (Scirpus kysoor);Kbadira (Acacia catechu);Kokilaksa (quizdu, Asteracantha longifolia);Ksirakakoli; ksirlka; kustha (Costus speciosus ou Saussurea lappa);kutaja, kutajaka (Wrightia antidysenterica);

Laugalika (Methonia superba ou Jussiaea repens);Madburasa (Sanseviera Roxburghiana);Rurga (Mesua Roxburghii);Randyauarta; nipa (cfr., kadamba);Pqpali (Piper longum);Priyala (Buchanania latifolia);Prlyangu, priyanguka (Panicum italicum);Punarnaua (Boerhavia procumbens);Sabadevi (Sida cordifolia ou Vernonia cinerea);Sala (Vatica ou Shorea robusta);Salmali (Bombax eptaphyllum ou Salmalia malabarica);

Sariaa (Ichnocarpus frotescens);Sarjaka (talvez Terminalia tormentosa);

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 126 

Satavarl (Asparagus racemosus);Simsapa (Dalbergia sissoo);Slaksnaparni; soma; sravana; sriparni (Gmelina arborea);Srngaraka; srngataka (Trapa bispinosa);Sugaudba (Andropogon schoenanthus);

Sukauasa; surana, valaka (Amorphophallus campanulatus);Svndamstra (Asteracantha longifolia ou Pedalium murex);Svayamgupta (Mucuna proritus);Tagara (Tabemaemontana coronaria);Talisa (Flacounia cataphracta ou Abies Webbiana);Tamala (Xanthochymus pictorius ou Cinnamomum tamala);Tilaparnika (talvez, Gmelina arborea);Tumbi (Lagenaria vulgaris);Usiraka (Andropogon muricatus);Uyadbigbataka (Cathanocarpus fistula); Vaca (Acorus calamus);Vetasa (Calamus rotang);Vidart (Batatas paniculata ou Hedysarum gangeticum);

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 127 

LOCAIS DA ÍNDIA CITADOS NO TEXTO

ABHIRA Região habitada pela tribo de mesmo nome, situada a Oeste de Delhi.AHIOCHATRA Região no entorno da atual Ramnagar, no estado de Bihar, a Nordeste

da Índia.ANDHRA Território do Deccan, ente os rios Godavari e Krishna.

ANGA Antigo reino. Ocupava parate da atual Bengala.AVANTI Antigo reino na região de Ujjayini.BAHUKA Região montanhosa situada entre o Norte do Paquistão e o Sul do Afe-

ganistão.COLA Antigo reino, anexado à costa do Coromandel, nome dado à faixa marí-

tima de Tamil Nadu, no Sudeste da Índia.DRAVIDA Região da costa oriental do Deccan, que corresponde a Tamil Nadu, no

Sudeste da Índia.GAUDA "País da Cana de Açúcar”, correspondente a Bengala ocidental, um es-

tado da Índia.GRAMANARI Região da fantasia, “vilas femininas”. Região montanhosa do Stri Raj-

ya, também chamado de “reino das mulheres” onde as mulheres podiamdesposar vários amantes ao mesmo tempo. Não há evidências da sua e-xistência.

HIMAVAT "Nervoso", um dos nomes da cadeia de montanhas do Himalaya.INDO O grande rio, forma em seu curso superior o fértil vale do Punjab.KALINGA Reino compreendido entre os ríos Mahanadi e Godavari.KASI É a atual Benares, cidade sabrada sobre o rio Ganges.KOSALA A cidade de Ayodhya.KOTTA "Fortaleza", antiga dicade da atual Gujarat.LATA Reino que se estendia pela parte meridional da atual Gujarat.

MADHYADPSA "Região central” da Índia, que atualmente corresponde a Uttar Pradesh.MAHARASTRA "Grande reino", nome de um grande território no centro ocidental daíndia.

MALAVA Provavelmente a região de Malwa, ao Norte do rio Narmada.PAÑCALA Região de Delhi. Nos tempos védicos habitada por um povo poderoso.PATAHPUTRA Antiga capital de Magadha, correspondente à atual Patna.SAKETA Otro nome da cidade de Ayodhya; cfr, KOSALA.STRIRAJYA "Reino das mulheres", localizado no extremo Norte da Índia.SURASENA Região de Mathura, no Norte da Índia.SURASI'RA Atual Kathiawar, península da Índia ocidental.VANAVASA Este reino ocupava os bosques da floresta ocidental de Konkan.

VANGA Antigo reino de Bengala oriental, hoje Bangladesh.VATSAGULMA Provavelmente um reino do Deccan.

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Versão em português: Alexandre Prado (da versão em espanhol) Página 128 

VIDARBHA Reino ao sul dos montes Vindhya. Corresponde a Bera.

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O KAMASUTRA  Mallanâga Vâtsyâyana 

MAPA DA ÍNDIA, HOJE

Disponível em: oracoesemilagresmedievais.blogspot.com. Acesso: 26112011