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PRÉ-SAL SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE

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PRÉ-SAL

SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE

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PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE 31

Introdução

A Agência Internacional de Energia estima que, de 2006 a 2030, o crescimento

da demanda mundial de energia será da ordem de 45%. Segundo essas proje-

ções, o petróleo e o gás natural diminuirão sua participação na matriz energética

mundial de 55% para 52% e na brasileira, de 47% para 41%.

Dessa forma, mesmo considerando-se a ampliação das fontes energéticas reno-

váveis, o petróleo continuará tendo papel essencial nos próximos 20 anos. No

Brasil, o consumo de petróleo evoluirá de 1,95 milhão (2008) para cerca de 3,0

milhões (2030) de barris por dia (bpd).

Em 2008, a produção mundial de petróleo foi de 85 milhões de bpd. Considerando-

se apenas os campos produtores existentes e seu declínio natural, a Agência

Internacional de Energia projeta para 2030 uma produção de 31 milhões de bpd.

Como se estima uma demanda mundial de 106 milhões de bpd, esse déficit de

75 milhões de bpd deverá ser suprido tanto pela melhoria do fator de recupera-

ção dos campos existentes como, principalmente, pela incorporação de novas

descobertas de petróleo, com volumes capazes de atender à demanda prevista.

Dessa forma, observa-se que a descoberta do petróleo do Pré-Sal se torna re-

levante no cenário não apenas nacional, mas também no mundial. Prova dis-

so é que apenas os volumes atuais estimados das áreas de Tupi, Iara, Guará e

Jubarte, se somados, constituem a segunda maior descoberta petrolífera dos

dez últimos anos, abaixo apenas de Kashagan – campo gigante descoberto no

Cazaquistão em 2000.

O acesso às reservas de petróleo é uma das principais causas de crises, confli-

tos e guerras internacionais, principalmente porque os países mais industriali-

zados e as grandes companhias petrolíferas privadas mundiais são fortemente

dependentes da importação. Em 1977, entre o primeiro e o segundo choque do

petróleo, Henry Kissinger (professor da Universidade de Havard, diplomata e ex-

secretário de Estado norte-americano) já previa:

“Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até

hoje, se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis no

planeta, a um preço próximo do custo de extração e transporte e, se elevados,

sem perda de relação de troca pelo reajustamento correspondente nos seus pro-

dutos de exportação. Para tanto, terão os países industrializados que montar um

sistema mais requintado e eficiente de pressões e constrangimentos políticos,

econômicos ou mesmo militares, garantidores da consecução dos seus inten-

tos.” – Folha de São Paulo – 29/06/1977.

Nesse cenário de conflito de interesses, a garantia de suprimento é questão de

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32 PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE

segurança nacional. De um lado, países consumidores com pouca ou nenhuma

reserva, grandes mercados e base industrial, disponibilidade de capitais e alta

tecnologia exploratória. Do outro, países produtores com enormes reservas, mer-

cado pequeno, reduzida base industrial, baixa disponibilidade de capitais (exceto

Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes e Qatar), pouca tecnologia petrolífera e

alguns com instabilidade institucional. Trata-se de países tipicamente exportado-

res de petróleo bruto. As reservas mundiais de petróleo estão assim distribuídas:

!75% das grandes reservas pertencem a países da Opep; seis países (Arábia

Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes e Venezuela) controlam 65%

do volume de uma reserva provocada de 1,26 trilhão de barris; outros seis

países que compõem essa organização (Líbia, Nigéria, Argélia, Angola,

Qatar e Equador) possuem mais 10% da reserva provada;

!Os países da antiga União Soviética (principalmente Rússia, Cazaquistão e

Azerbaijão) têm cerca de 10% da reserva provada;

!Países da OCDE (Estados Unidos, Canadá, Noruega, Grã-Bretanha e ou-

tros) possuem em torno de 7% das reservas;

!O restante do mundo conta com 8% das reservas de óleo (China, Brasil,

México, Índia e demais países asiáticos, africanos e sul-americanos).

!Os Estados Unidos – país com o maior consumo mundial – têm reserva

declinante, assim como Canadá, Grã-Bretanha e Noruega. Mas, à diferença

destes, não são autossuficientes em petróleo. Mesmo com a crise econô-

mica, o país importa hoje cerca de 13 milhões de bpd de petróleo e deriva-

dos, tendo um correspondente dispêndio anual da ordem de 500 bilhões

de dólares. No pico de preços do petróleo ocorrido no primeiro semestre

de 2008, essa quantia se aproximou de 1,0 trilhão de dólares.

A China, embora tenha uma expressiva produção de petróleo (da ordem de 3,8

milhões de bpd), devido a um consumo superior a 8,3 milhões de bpd, importa

cerca de 4,5 milhões de bpd.

A Índia também precisa de grandes importações (2,3 milhões de bpd). Já que

consome cerca de 3,0 milhões de bpd, mas só produz 0,7 milhão de bpd.

Outros países altamente consumidores, como Japão (4,8 milhões de bpd),

Alemanha (2,5 milhões de bpd), Coréia do Sul (2,3 milhões de bpd), França (1,9

milhão de bpd) e Itália (1,7 milhão de bpd), não têm petróleo ou produzem volu-

mes inexpressivos, sendo totalmente dependentes de importações.

A Rússia é exceção, uma vez que produz 9,8 milhões de bpd e consome cerca de

2,8 milhões de bpd, exportando em torno de 7,0 milhões de bpd. Suas reservas

estão em ligeiro declínio, mas há potencial para novas descobertas. Uma dificul-

dade para o país são problemas logísticos relacionados à possibilidade de oferta

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PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE 33

ao mercado mundial.

Com relação às companhias petrolíferas, empresas estatais controladas pelos

governos com acesso limitado dominam 77% da propriedade das reservas mun-

diais. Situação similar ocorre em relação as reservas de gás natural.

Quanto ao sistema de contratação, praticamente todos os países da Opep –

onde a probabilidade de descoberta de grandes reservas de petróleo é rela-

tivamente alta – adotam a partilha de produção, também utilizada por China e

Índia. Rússia e Cazaquistão adotam um sistema misto, mas com predominância

da partilha de produção.

O Brasil se encontra numa posição altamente privilegiada. É um país com grande

mercado consumidor, matriz energética diversificada – incluindo fontes renová-

veis -, sólido parque industrial, alta tecnologia petrolífera, além de estabilidade

institucional, econômica e jurídica. Graças às descobertas no Pré-Sal, continuará

autossuficiente por muitos anos e, futuramente, será um importante ator no ce-

nário petroleiro mundial, como exportador de derivados e de petróleo bruto.

As reservas totais do Pré-Sal ainda são desconhecidas, mas, apenas com os vo-

lumes potenciais anunciados das áreas de Tupi, Iara, Guará e Jubarte (ainda não

totalmente quantificados), já se tem um volume de óleo capaz de mais do que

dobrar a reserva brasileira. Esse campos poderão produzir até 2020 mais do que

1,8 milhão de bpd (a produção atual é de 2,0 milhões de bpd). Nesse mesmo

ano, a produção total do País deverá estar na faixa de 4,0 milhões de bpd.

Para o Brasil, portanto, esse cenário aponta:

!Segurança energética, com garantia da manutenção da autossuficiência

petrolífera, que contribuirá para a estabilidade econômica;

!Blindagem quanto a eventuais crises energéticas mundiais;

!Geração de divisas com exportação, seja de excedentes de petróleo bru-

to, seja por exportação de produtos refinados, aumentando o superávit da

balança comercial;

!Melhoria da percepção de risco do País, atraindo mais investimentos e cap-

tações financeiras a menores juros;

!Expansão do parque industrial e da engenharia brasileira, com aumento

das encomendas de equipamentos e serviços;

!Diversificação da economia, com a criação de novos empregos, o cresci-

mento da renda nacional e per capita e uma melhor distribuição, incluin-

do a aplicação de mais recursos em saúde, educação, habitação, pesquisa

tecnológica e infraestrutura, apenas com as receitas geradas pela renda

petrolífera governamental;

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!Maior consumo interno, com aumento da arrecadação tributária e redução

da dívida interna;

!Acúmulo de novas reservas, o que auxiliará a sustentabilidade do cresci-

mento econômico;

!Criação e desenvolvimento de tecnologia de ponta, consolidando a lide-

rança em exploração e produção (E&P) off-shore;

!Geração de volumes apreciáveis de gás natural, que contribuirá para um

melhor equilíbrio da matriz energética nacional;

!Possibilidade futura de exportação de gás natural liquefeito (GNL);

!O País como um dos dez maiores produtores mundiais de petróleo (a pro-

dução pode ser superior a 5,0 milhões de bpd nos próximos anos);

!Fortalecimento da Petrobras como importante player no cenário latino-

americano e mundial;

!Aumento da importância econômica e geopolítica no cenário latino-ameri-

cano e mundial.

Atualmente, as atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural

são regidas pela Lei 9.478/97 em substituição à Lei 2.004/53 -, que adotou o mo-

delo de concessão no Brasil e permitiu que outras empresas atuassem no setor.

A mesma lei institui o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) – órgão

que assessora o presidente da República para formular políticas e diretrizes de

energia – e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP)

– autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME) e criada para re-

gular, contratar e fiscalizar as atividades dessa indústria.

Para as atividades de exploração e produção, a ANP passou a promover leilões

públicos (chamados de rodadas de licitação), abertos a empresas públicas e pri-

vadas, visando à assinatura de contratos de concessão. No sistema atualmente

adotado pela ANP, vence a empresa ou consórcio que obtiver a maior pontuação

em três fatores: o bônus de assinatura (valor em dinheiro ofertado à União pelo

direito de assinar um contrato de concessão); o índice de nacionalização das

compras de equipamentos e serviços para as atividades de exploração e desen-

volvimento; e, finalmente, um programa de trabalho mínimo a ser seguido.

Nesse sistema, as atividades são realizadas por conta e risco dos concessioná-

rios, sem interferência da União no ritmo dos projetos. Assim, as reservas perten-

cem à União até serem levadas à superfície, quando se tornam propriedade de

quem as extraiu.

Desde 1999, foram concedidos em rodadas de licitações mais de 500 blocos ex-

ploratórios, localizados em diferentes bacias sedimentares brasileiras, para gru-

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PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE 35

pos de controle nacional e estrangeiro.

São quatro as participações governamentais previstas no modelo de concessão:

bônus de assinatura; royalties (incidem sobre a renda bruta da produção e po-

dem variar de 5% a 10%); participações especiais (alíquotas que variam de 10% a

40%, aplicáveis nos casos de grandes produções); e pagamento pela ocupação

ou retenção de área (o que a concessionária paga por área concedida). Além das

participações governamentais, o proprietário da terra onde se realize atividade

de produção tem direito a 1% da receita bruta da produção de petróleo e gás

natural.

A distribuição das participações governamentais ocorre entre a União, os esta-

dos e municípios, em percentuais variáveis, conforme definidos na lei e no de-

creto específicos.

Quando a atual legislação que regula o setor de petróleo foi criada, em 1997,

o Brasil e a Petrobras estavam inseridos num contexto de instabilidade econô-

mica, e o preço do petróleo estava baixo (US$19 o barril). Além disso, os blocos

exploratórios tinham alto risco, perspectiva de baixa rentabilidade, e o País era

grande importador de petróleo. O marco regulatório que adotou o sistema de

concessão foi criado, à época, para possibilitar retorno àqueles que assumiram

esse alto risco.

Hoje, o contexto é outro. O Brasil alcançou estabilidade econômica, foi atingida

a autossuficiência, os preços do petróleo estão significativamente mais elevados,

e as descobertas no Pré-Sal, uma das maiores províncias petrolíferas do mundo,

poderão, apenas com as áreas de Tupi, Iara, Guará e Jubarte, dobrar o volume

de reservas brasileiras. Pelos teste realizados, sabe-se que o risco exploratório

é baixo e a produtividade é alta nas descobertas localizadas na camada Pré-Sal.

Com o regime da partilha, o governo pretende obter maior controle da explo-

ração dessa riqueza e fazer com que os recursos obtidos sejam revertidos de

maneira mais equânime para a sociedade brasileira. Portanto, esse modelo é

mais apropriado ao contexto atual e ao desenvolvimento social, econômico e

ambiental do País.

O novo marco regulatório são as novas regras para exploração e produção de

petróleo e gás natural na área de ocorrência da camada Pré-Sal e em áreas que

venham a ser consideradas estratégicas, enviadas pelo governo para apreciação

do Poder Legislativo no dia 31 de agosto de 2009, na forma de quatro projetos

de lei (PL).

Os projetos de lei propõem o sistema de partilha de produção para a exploração

e a produção nas áreas ainda não licitadas do Pré-Sal; a criação de uma nova es-

tatal (Petro-Sal); a formação de um Fundo Social; e a cessão onerosa à Petrobras

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do direito de exercer atividades de exploração e produção (E&P) de petróleo e

gás natural em determinadas áreas do Pré-Sal, até o limite de 5 bilhões de barris,

além de autorizar a União a participar de uma capitalização da companhia. Se

a proposta do governo for aprovada, o País passará a ter três sistemas para as

atividades de E&P de petróleo e gás natural: concessão, partilha da produção e

cessão onerosa.

O sistema da partilha de produção será vigente nas áreas ainda não licitadas do

Pré-Sal e naquelas que venham a ser definidas como estratégicas pelo Conselho

Nacional de Política Energética (CNPE).

Na partilha de produção, os riscos das atividades de exploração são assumidos

pelos contratos, que serão ressarcidos apenas se fizerem descobertas comer-

ciais. Esse pagamento é feito com o custo em óleo (chamado de óleo-custo),

em valor suficiente para ressarcir as despesas da(s) empresa(s) contratada(s).

O restante da produção (excedente em óleo, chamado de óleo-lucro) é dividido

entre a União e a(s) contratada(s).

Segundo esse projeto de lei, a União poderá celebrar os contratos de duas for-

mas: exclusivamente com a Petrobras (100%) ou a partir de licitações, com livre

participação das empresas, atribuindo-se à Petrobras tanto a operação como

um percentual mínimo de 30% em todos os consórcios. Os contratos, até que

seja publicada legislação específica, terão que pagar royalties, na forma da Lei

9.478/97, e bônus de assinatura fixo, definido contrato a contrato, que não será

critério de licitação. O projeto prevê ainda que, até a edição de regulamento es-

pecífico, será devida a participação especial, na forma da Lei 9.478/97, a ser paga

a partir da receita obtida pela venda da produção que couber à União.

As vantagens da adoção de um sistema de partilha são econômicas e estratégi-

cas. No modelo de partilha proposto ao Congresso Nacional, a União participa-

rá diretamente das decisões de cada projeto de E&P por meio da Petro-Sal e,

dessa forma, terá maior controle sobre o setor, além da propriedade de parte do

petróleo e do gás produzidos.

A diferença da Petrobras como operadora única dos contratos de partilha tam-

bém é uma vantagem deste modelo porque será acentuado o papel que a com-

panhia já desempenha com relação aos fornecedores nacionais, priorizando suas

compras no mercado local. Tudo isso estimulará o crescimento e o fortalecimento

da indústria nacional – em segmentos direta ou indiretamente ligados ao setor -,

que poderá se tornar exportadora de bens e serviços na área de petróleo e gás

para o mercado mundial. O sistema de partilha permite ainda que a União ob-

tenha ganhos gerados pelo aumento do preço do petróleo, em um cenário que

indica a escassez desse combustível.

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PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE 37

Nas áreas já concedidas, mesmo que incluam o Pré-Sal, os contratos anterior-

mente firmados serão respeitados, permanecendo o regime de contrato de con-

cessão.

A província do Pré-Sal tem 149 mil quilômetros quadrados. Destes, 41.772 qui-

lômetros quadrados (28% do total) já foram concedidos. A nova legislação vale-

rá, portanto, para os 107.228 quilômetros quadrados (72%) ainda não licitados,

descontadas as áreas que vierem a ser objeto da cessão onerosa para Petrobras.

Segundo a proposta do Governo Federal, a Petrobras será designada para ope-

rar todos os blocos sob o novo sistema porque, com 56 anos de experiência

acumulada, foi responsável pela descoberta do petróleo na camada Pré-Sal no

Brasil. Trata-se da maior operadora em águas profundas do mundo, com a maior

frota de sistemas flutuantes de produção. Além disso, a Petrobras detém conhe-

cimentos fundamentais sobre a pesquisa e a lavra nas bacias sedimentares bra-

sileiras, fruto de seus investimentos no País ao longo de mais de cinco décadas.

Como operadora exclusiva, a Petrobras poderá aplicar toda essa experiência na

exploração e na produção de petróleo e gás no Pré-Sal brasileiro.

O Governo Federal propõe a Petrobras como operadora exclusiva por se tratar

de uma empresa de economia mista, com capital privado e público, podendo

ser utilizada como instrumento de implementação da política energética nacio-

nal, sempre preservando os direitos dos acionistas minoritários. A Petrobras,

dessa forma, terá o papel de defender e colocar em prática, junto aos demais

integrantes do Comitê Operacional, as diretrizes de contratação preferencial de

bens e serviços no mercado nacional. Com isso, a cadeia de fornecedores desse

segmento crescerá e será fortalecida, repercutindo seus efeitos em toda a indús-

tria brasileira, que poderá ocupar espaço relevante no mercado internacional de

bens e serviços para a indústria de petróleo e gás.

Hoje, no sistema de concessão, a ANP exige um mínimo de 30% para que uma

empresa atue como operadora. Nas águas profundas do Golfo do México (EUA),

por exemplo, 97% dos operadores têm participação acima de 30%. E em 46

países da África, 85% dos operadores têm mais de 30%. Esse valor oferece ma-

terialidade ao operador e confiança aos parceiros porque representa o compro-

metimento da operadora com as atividades de E&P.

Maior empresa do Brasil e líder mundial em atividades de E&P em águas pro-

fundas e ultraprofundas, a Petrobras possui capacidade operacional e financeira

para assumir essa participação. A credibilidade da companhia foi mais uma vez

comprovada quando conseguiu captar significativos recursos durante a recente

crise global.

Nos termos previstos no projeto de lei, o Fundo Social será um fundo financeiro

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constituído por recursos gerados pela partilha de produção, destinados às se-

guintes atividades prioritárias: combate à pobreza, educação, cultura, ciência e

tecnologia, e sustentabilidade ambiental.

A receita do Fundo Social será proveniente da comercialização da parcela do

excedente em óleo da União proveniente dos contratos de partilha, do bônus de

assinatura e dos royalties que forem destinados à União.

A cessão onerosa de direitos prevê que a União poderá ceder à Petrobras o di-

reito de exercer atividades de E&P, em determinadas áreas do Pré-Sal, sem licita-

ção, no limite de até 5 bilhões de barris de petróleo e gás natural. A companhia

arcará com todos os custos e assumirá os riscos de produção.

O valor desta cessão onerosa será avaliado segundo as melhores práticas da in-

dústria do petróleo, e a Petrobras pagará à União este valor. Segundo o projeto

de lei, o pagamento da Petrobras ao governo poderá ser feito no meio de títulos

da dívida pública mobiliária, cujo preço será fixado segundo o valor de mercado.

Propostas

O Confea, por meio de seu Plenário, dada a importância dos temas relacionados

à Petrobras e ao Pré-Sal para o crescimento sustentável brasileiro e, também,

para as profissões da área tecnológica, as quais fiscaliza e das quais regula o

exercício dos profissionais envolvidos, especialmente porque o planejamento do

Governo Federal e da Petrobras anunciado com as descobertas já confirmadas

sinaliza a necessidade de mão de obra qualificada, manifestou oficialmente por

diversas vezes sobre o tema, em especial, com as duas decisões plenárias apro-

vadas em 2009 que expõem as posições do Sistema Confea/Crea a respeito da

integridade da Petrobras e das mudanças no marco regulatório da exploração

de petróleo e gás, descritas nos dois manifestos a seguir apresentados:

Decisão PL - 0688/2009, de 29 de maio de 2009

Manifesto aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário

Hoje reconhecida como uma das maiores companhias mundiais do segmen-

to de petróleo e gás, a Petrobras - Petróleo Brasileiro S/A, ao longo

dos seus 54 anos de história, colocou o Brasil no seleto grupo de

!"#$#%&'(% $)*+,$'%#-.&/$0)$% !*!%!)$01$*%2#%0$&$##/1!1$#%0!&/'0!/#%

e com tecnologia própria para obtê-lo.

Em 2007 a empresa informou o País da existência de grandes volumes

de óleo e gás nas bacias sedimentares do sudeste brasileiro – o Pré-

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PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE 39

federal de propor a alteração do marco regulatório, direcionando

esta riqueza em benefício da sociedade brasileira.

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dirigir seus esforços para um envolvimento cada vez maior da enge-

nharia, das empresas, das tecnologias e mão-de-obra nacionais, no

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Considerando tudo o que representa a Petrobras, tanto materialmente

para nosso desenvolvimento econômico e social, quanto simbolicamente

!*!%!%&'0.!0;!%1'#%=*!#/,$/*'#%$%!1(/*!;6'%1'#% '9'#%$#)*!0:$/*'#%

ao Brasil, o Plenário do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura

e Agronomia (Confea) dirige-se ao Congresso Nacional e ao governo

brasileiro convicto da importância da Petrobras e de tudo que por

meio dela já se pôde realizar neste país, para recomendá-la como

operadora do Pré-sal. Isto, por certo, vai assegurar o controle, a

independência e a soberania nacionais sobre este bem estratégico.

@#% *'.##/'0!/#%$%!#%$( *$#!#%=*!#/,$/*!#%1!#%A*$!#%)$&0',+:/&!#%$#-

)6'% *$ !*!1'#% !*!%(!/#%$##$%:*!01$%1$#!.'3%B$C$01$*%$#)!%=!01$/*!%

é reconhecer a capacidade da realização do nosso povo!

Anexo Decisão PL-1498/2009, de 25 de setembro de 2009

Pré-Sal:

Mobilizar a comunidade técnica – garantir essa conquista!

4.0!,?%)$('#%'% *DE#!,3%F!)'%/0#'.#(A9$,%7-$%GA% *'1-8%/( !&)'#%&'0-

cretos do mercado ao panorama geopolítico; da pesquisa ao desenvol-

vimento tecnológico; dos investimentos das empresas operadoras ao

1$#$09',9/($0)'%/01-#)*/!,H%1'%$( *$:'%7-!,/.&!1'%A%*$01!H%0!%*$:--

lação e no ambiente político.

Não podia ser diferente, haja vista os volumes já estimados, somente

nos campos de Tupi, Iara e Parque das Baleias, apresentarem reser-

vas mínimas de 9,5 bilhões, podendo atingir 14 bilhões de barris de

petróleo e gás natural. Somente estas reservas, que representam uma

pequena parcela da província do pré-sal que, em sua totalidade pos-

sui 149 mil quilômetros quadrados, estendendo-se do litoral de Santa

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nas reservas dimensionadas ao longo dos últimos 50 anos.

Esta realidade obriga a nação brasileira a adquirir competência téc-

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40 PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE

nica, legal e institucional para tirar o máximo proveito das riquezas

esperadas com a exploração do pré-sal.

Em primeiro lugar, a nação necessita de um novo marco regulatório

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favorável de nossa economia – marcada por uma melhor distribuição

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considerando os investimentos em pesquisa e riscos já assumidos pela

Petrobras. Neste contexto, está claro que a Lei n.º 9.478, de 1997,

núcleo do atual marco regulatório, quedou-se absolutamente anacrô-

nica.

Há que se recordar que o marco vigente foi produzido num contexto

de redução do papel do Estado; de uma realidade de exploração pe-

trolífera em blocos de risco elevado; e de uma nação com carência

de investimentos e dependência de petróleo. Hoje, as atividades de

exploração, desenvolvimento e produção de petróleo não podem ocorrer

senão por meio de contratos de concessão. No regime de concessão,

os riscos são do concessionário, ou seja, da empresa exploradora;

porém, a União detém o monopólio do produto apenas no subsolo, que

passa a ser propriedade do concessionário a partir da boca do poço.

4,D(%1/##'?%!%,$/% *$&/#!%#$*%! */('*!1!%7-!0)'%2%1$,/(/)!;6'%Q%$(%

termos técnicos, unitização - dos campos petrolíferos, que parece

ser o caso da província do pré-sal. Nessa situação, a extração de

óleo e gás realizada em uma área de concessão pode interferir em ou-

tras áreas. Imprevisibilidades quanto a esta questão no novo marco

regulatório é grave, pois as concessionárias dos blocos já licitados

'1$*6'%#$%=$0$.&/!*%1!#%*$#$*9!#%1'#%=,'&'#%9/8/0>'#%!/01!%06'%,/-

citados, que pertencem ao povo brasileiro.

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e Noruega, rege a exploração nos países que dependem fortemente da

importação para atender suas necessidades de petróleo, além do fato

de se localizarem nesses países as sedes das principais operadoras.

Para a exploração do pré-sal, sem dúvida alguma, o regime de explo-

ração mais adequado é o de partilha da produção, que determina, uma

vez cobertos os custos de exploração arcados pela empresa, a divisão

do lucro-óleo entre a União e a contratada, além de proporcionar um

maior controle por parte do Governo.

Em segundo lugar, está claro que a Petrobras necessita investimen-

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PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE 41

tos vultosos para garantir a execução de uma das mais consistentes

carteiras de projetos da indústria do petróleo no mundo e superar os

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tica, geológica, exploratória, ambiental, de planejamento, tecnoló-

gica e econômica.

Será necessário, num planejamento inicial, o acréscimo de 36 novas

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47 existentes, até 2013. Somente o Plano de Renovação de Barcos de

Apoio, lançado em maio de 2008, prevê a construção de 146 novas em-

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custo total orçado em US$ 5 bilhões. A construção de cada embarcação

vai gerar cerca de 500 novos empregos diretos e, para cada um destes,

cerca de três indiretos. São previstas, também, um total de 3 mil e

800 vagas para tripulantes para operar a nova frota.

Estimam-se os investimentos totais da Petrobras e de outras opera-

doras em 190 bilhões de dólares, com expectativa de criação de 656

mil postos de trabalho na cadeia do setor até 2013. Hoje, o número

total de trabalhadores da cadeia produtiva, abrangendo das platafor-

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empregados.

Outro aspecto relevante para o novo paradigma que se descortina diz

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interesses do Estado Brasileiro no pré-sal. Essa empresa deverá ter

por objetivo a redução da assimetria de informações entre a União e

as empresas de petróleo por meio da atuação e acompanhamento direto

de todas as atividades na área de extração e produção e ser dota-

da de capacidade para representar a União nos consórcios e comitês

operacionais que serão criados para gerir os diferentes contratos

de partilha e, atividades que não se confundem com aquelas desenvol-

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usufruir plenamente do que já lhe pertence.

Temos a consciência de que o Brasil tem a oportunidade de recolocar

o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental no centro

de sua agenda, garantindo a exploração das reservas nacionais, a par-

tir de diretrizes que visem: reconstruir e expandir a cadeia local de

fornecedores, internalizando a indústria de bens e serviços; agregar

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42 PRÉ-SAL – SOBERANIA E FINANCIAMENTO DA SUSTENTABILIDADE

química; garantir que os recursos da União decorrentes do pré-sal

se destinem aos investimentos necessários para antecipar o combate

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recursos do Fundo Social se dê em investimentos na área social e na

área de infraestrutura do País, especialmente em mobilidade urbana,

buscando uma inversão em nossa matriz de transportes, priorizando o

transporte coletivo, e reduzindo os impactos provocados pela opção

individual nos deslocamentos realizados nas cidades e regiões metro-

politanas brasileiras.

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sareiro para o Brasil, uma vez que a riqueza gerada por sua explo-

ração poderá nos colocar em um patamar socioeconômico equivalente ao

dos países desenvolvidos, com parte dela se transformando em inves-

timentos voltados ao desenvolvimento sustentável social e ambiental-

mente. Para tanto, os recursos auferidos com a exploração do pré-sal

1$9$*6'%/0&*$($0)!*?%$# $&/!,($0)$?%!#% $#7-/#!#%9',)!1!#%2%/0'9!;6'%

tecnológica e desenvolvimento de fontes energéticas renováveis e

mais limpas. E, assim, ampliar a quantidade e aprofundar a qualidade

1'#% *'.##/'0!/#%1!%A*$!%)$&0',+:/&!3

As mudanças propostas, hoje em debate na Câmara Federal, apresentam-

se como indispensáveis para a garantia do interesse nacional.

Sim, O pré-sal é nosso, e o Confea tem um papel indelegável na mobi-

lização da comunidade técnica, num amplo e vigoroso movimento polí-

tico que consolide essa conquista.