ppg mariabucho

Upload: araceli-helenna-thomaz

Post on 09-Jan-2016

27 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Metabolismo do Etanol e suas consequências no organismo

TRANSCRIPT

  • Maria Sofia Correia Ribeiro da Cruz Bucho

    Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2012

  • Maria Sofia Correia Ribeiro da Cruz Bucho

    Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2012

  • Maria Sofia Correia Ribeiro da Cruz Bucho

    Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Trabalho apresentado Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obteno do grau Mestre em Cincias Farmacuticas.

    _________________________________

    Maria Sofia Correia Ribeiro da Cruz Bucho

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Sumrio

    O alcoolismo um problema de sade pblica de escala mundial. A doena heptica

    alcolica uma consequncia primria do uso excessivo e prolongado do lcool, sendo

    um problema de sade pblica em Portugal, uma vez que o lcool a droga de abuso

    mais comum do pas.

    Esta reviso de literatura aborda a fisiopatologia da doena heptica alcolica, incluindo

    a hepatoxicidade do etanol sobre o fgado, o espectro da doena heptica alcolica e as

    suas principais manifestaes.

    A fisiopatologia da doena heptica alcolica envolve as consequncias do metabolismo

    do lcool e mecanismos secundrios, tais como o stress oxidativo, a depleo da

    glutationa, a produo de endotoxinas, citocinas e reguladores imunolgicos.

    O desenvolvimento da doena heptica alcolica um processo multifatorial e de vrias

    etapas, que compreende muitos fatores de risco e o seu espectro inclui: esteatose,

    hepatite alcolica, fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular.

    Cada uma destas condies patolgicas produz uma diversidade de manifestaes

    clnicas muito importantes, podendo algumas ser fatais.

    i

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Abstract

    Alcoholism is a world scale health problem. Alcoholic liver disease is a primary

    consequence of prolonged and excessive use of alcohol being a public health problem in

    Portugal, since alcohol is the most common drug of abuse in the country.

    This literature review discusses the pathophysiology of alcoholic liver disease,

    including the hepatotoxicity of ethanol on the liver, the spectrum of alcoholic liver

    disease and its main manifestations.

    The pathophysiology of alcoholic liver disease involves the consequences of the

    metabolism of alcohol and secondary mechanisms such as oxidative stress, depletion of

    glutathione, production of endotoxins, cytokines and immune regulators.

    The development of alcoholic liver disease is a multifactorial and multistep process that

    includes many risk factors and its spectrum includes: simple steatosis, alcoholic

    hepatitis, fibrosis, cirrhosis, and hepatocellular carcinoma.

    Each one of this pathological conditions produces a variety of clinical manifestations

    very importante, some may be fatal.

    ii

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Agradecimentos

    Agradeo Professora Doutora Ftima Guedes, minha orientadora, pela competncia

    cientfica e acompanhamento do trabalho, pela disponibilidade e generosidade

    reveladas, assim como pelas crticas, correes e sugestes relevantes, feitas durante a

    orientao.

    Agradeo Universidade Fernando Pessoa e a todos os profissionais que a constituem

    pela formao que me proporcionaram.

    Agradeo minha famlia, em particular, aos meus pais por todo o apoio incondicional

    ao longo da minha carreira acadmica e pela sensatez com que sempre me

    aconselharam.

    Agradeo aos meus amigos pelo incentivo e companheirismo demonstrados ao longo do

    meu percurso acadmico.

    iii

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    ndice

    Sumrio...i

    Abstract.....ii

    Agradecimentos....iii

    ndice de figurasv

    Lista de abreviaturas....vii

    1-Introduo...1

    2- A doena heptica alcolica..3

    2.1- Consideraes gerais.....3

    2.2- Hepatotoxicidade do etanol .....4

    2.3 - Espectro da doena heptica alcolica.. 18

    2.3.1- Esteatose heptica.19

    2.3.2- Hepatite alcolica..21

    2.3.3- Fibrose heptica.24

    2.3.4 - Cirrose heptica...27

    2.3.5- Carcinoma hepatocelular...34

    3- Consideraes finais....39

    4- Bibliografia......................................40

    iv

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    ndice de figuras

    Figura 1- Metabolismo heptico do etanol...4

    Figura 2- Reao de oxidao do etanol pela ADH.5

    Figura 3- Classificao dos genes da enzima lcool desidrogenase.5

    Figura 4- Reao da oxidao do etanol pelo MEOS...8

    Figura 5- Reao da metabolizao do lcool pela catlase.8

    Figura 6- Oxidao do acetaldedo pela ALDH..9

    Figura 7- Converso do acetato a acetil-Coenzima A....10

    Figura 8- Funo das citocinas envolvidas na doena heptica alcolica..12

    Figura 9- Ativao da clula de Kupffer....13

    Figura 10- Ativao do NFkb pelo TNF-.14

    Figura 11- Ativao das clulas estreladas hepticas.....15

    Figura 12- Diversos mecanismos da hepatotoxicidade do etanol no fgado.17

    Figura 13- Fatores de risco da doena heptica alcolica..18

    Figura 14- Alteraes morfolgicas e histolgicas da esteatose....20

    Figura 15- Inter-relaes entre as manifestaes da doena heptica alcolica.20

    Figura 16- Mecanismos pelos quais o etanol causa inflamao na doena heptica

    alcolica ..22

    Figura 17- Alteraes histolgicas da hepatite alcolica...23

    Figura 18- Vias de ativao das clulas hepticas estreladas aps leso heptica.25

    Figura 19- Lbulo heptico....26

    v

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Figura 20 - Cirrose micronodular e macronodular....28

    Figura 21- Circulao portal: A: sistema de portal normal. B: fgado cirrtico:

    formao de varizes e esplenomegalia30

    Figura 22- Ascite...30

    Figura 23- Lquido acumulado na cavidade peritoneal..31

    Figura 24- Mecanismos de ascite na cirrose heptica...32

    Figura 25- Fisiopatologia da SHR.33

    Figura 26- Hepatocarcinognese35

    Figura 27- Carcinoma hepatocelular difuso num fgado cirrtico.36

    Figura 28- Carcinoma hepatocelular unifocal num fgado cirrtico..37

    Figura 29- Carcinoma hepatocelular multifocal....37

    Figura 30- Carcinoma hepatocelular infiltrante.37

    vi

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica Lista de Abreviaturas

    ADH- lcool Desidrogenase

    ALDH- Acetaldedo Desidrogenase

    ATP- Adenosina Trifosfato

    CHC- Carcinoma Hepatocelular

    CYP2E1- Citocromo P450 2E1

    DHA- Doena Heptica Alcolica

    GSH- Glutationa

    HSCs- Clulas Estreladas Hepticas

    IL- Interleucina

    LBP- Protena de Ligao a Lipopolissacardeos

    LPS- Lipopolissacardeos

    MEOS- Sistema Microssomal de Oxidao do Etanol

    MMPS- Metaloprotenases

    NAD- Dinucletido de Nicotinamida e Adenina

    NADH- Dinucletido de Nicotinamida e Adenina na forma reduzida

    NADP- Dinucletido de Nicotinamida e Adenina Fosfato

    NADPH- Dinucletido de Nicotinamida e Adenina Fosfato na forma reduzida

    NFkB - Factor Nuclear Kappa B

    OMS- Organizao Mundial de Sade

    ROS- Espcies Reativas de Oxignio

    SHR- Sndrome Hepato-Renal

    TGF-- Fator de Transformao de Crescimento Beta

    TIMPs- Inibidores Tissulares de Metaloprotenases

    TLR4- Recetor Toll do Tipo 4

    TNF-- Fator de Necrose Tumoral Alfa

    vii

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    1-Introduo

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) estima que 2 bilies de pessoas de todo o

    mundo consumem bebidas alcolicas, e que 76,3 milhes apresentam doenas

    associadas ao consumo de lcool, visto que este constitui uma das drogas mais

    acessveis e com mais consumo imprprio de todas as drogas de abuso (World Health

    Organization, 2011).

    Segundo dados apurados pela OMS o consumo excessivo e descontrolado de lcool

    responsvel pela morte de 2,5 milhes de pessoas por ano, um nmero mais elevado do

    que as mortes causadas pelo vrus da imunodeficincia humana, sendo um fator causal

    em 60 tipos de patologias (World Health Organization, 2011).

    O uso prejudicial do lcool uma ameaa particularmente grave para os homens, sendo

    o principal fator de risco de morte em homens com idades compreendidas entre 15-59

    anos, principalmente devido a leses, violncia e doenas cardiovasculares e, ainda,

    globalmente, 6,2% de todas as mortes de homens so atribuveis ao lcool, em

    comparao a 1,1% das mortes femininas (World Health Organization, 2011).

    O relatrio da OMS, mais recente, sobre o consumo alcolico (World Health

    Organization, 2011) revela o padro Europeu relativamente ao consumo de lcool: "Os

    adultos na Europa consomem trs bebidas alcolicas por dia", o que equivale a 12,5

    litros de lcool puro por ano, ou seja 27 gramas por dia.

    Numa lista de 34 pases da Europa, Portugal surge no nono lugar no que se refere

    mdia anual de consumo de lcool puro per capita, com 13,43 litros (World Health

    Organization, 2011).

    Neste contexto, dentro das vrias patologias associadas ao consumo excessivo e crnico

    do lcool, uma das doenas mais relevante a doena heptica alcolica (DHA), que

    considerada uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo

    (Seth et al., 2011).

    1

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    A elaborao deste trabalho surge no sentido de dar cumprimento a uma exigncia

    curricular para a finalizao do Mestrado integrado em Cincias Farmacuticas da

    Universidade Fernando Pessoa, tratando-se de uma reviso bibliogrfica sobre o tema

    Doena heptica Alcolica, em que a metodologia utilizada foi de cariz terico, tendo

    por base publicaes cientficas na rea do tema proposto.

    Porm, para alm disso, atendendo ao crescente consumo de lcool em todo o mundo,

    particularmente em Portugal, assim como o aumento das suas consequncias na sade

    pblica, esta monografia pretende atingir uma maior e melhor qualificao profissional,

    entendendo-se que o farmacutico deve assumir um papel preponderante no que diz

    respeito orientao do doente, nomeadamente a nvel da preveno, assim como do

    tratamento da doena heptica alcolica.

    2

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2- A doena heptica alcolica

    2.1-Consideraes gerais

    A doena heptica mais frequente em Portugal, que causa maior morbilidade e

    mortalidade, a doena heptica alcolica. Dois teros dos doentes com doena

    heptica apresentam como causa o lcool (Mello et al., 2011).

    A considerar que o lcool representa a droga de abuso mais consumida no pas, a

    doena heptica alcolica traduz-se num grave problema no contexto da sade pblica

    portuguesa (Mello et al.,2011).

    A doena heptica alcolica a leso do fgado que diz respeito a uma variedade de

    alteraes hepticas que surgem aps anos de consumo excessivo de lcool

    (Lieber,2000).

    Trata-se de uma doena multifactorial, complexa e representa um espectro de doenas e

    alteraes morfolgicas que variam desde a esteatose, inflamao e necrose heptica

    (hepatite alcolica) fibrose progressiva e cirrose. Alm disso, o consumo excessivo de

    lcool favorece a progresso de outras patologias hepticas, tais como a hepatite pelo

    vrus C , a hepatite pelo vrus B e o carcinoma hepatocelular (CHC) (Lieber , 2000).

    A progresso da doena heptica alcolica implica vrios mecanismos decorrentes da

    hepatoxicidade do etanol no fgado, alm de outros fatores, entre eles a dose, a durao

    e tipo de consumo de lcool, sexo, etnia e ainda a obesidade, desnutrio, infeo

    concomitante com hepatite viral B e C e, ainda, fatores genticos (Gao e Bataller,2011;

    OShea et al., 2010).

    No que concerne quantidade do consumo de lcool, de referir que em alguns

    alcolicos pesados (geralmente definidos como homens que habitualmente consomem

    mais de 80 g de etanol por dia ou mulheres que bebem regularmente mais de 20 g de

    etanol por dia, durante 10 anos), verifica-se que h o desenvolvimento de vrios

    estdios da doena heptica alcolica (Diehl, 2002).

    3

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.2 Hepatotoxicidade do etanol

    O fgado o maior rgo interno do corpo, sendo responsvel por vrias funes como:

    metabolizao de substncias, sntese de protenas, detoxificao, secreo biliar, entre

    outras. Tais funes so vitais e a preservao destas indispensvel sobrevivncia do

    ser humano (Seeley et al., 2005).

    Neste contexto, o fgado metaboliza aproximadamente 90% do lcool ingerido,

    envolvendo vias metablicas: oxidativa e no oxidativa (Laposata e Lange, 1986).

    A via oxidativa a que desempenha o papel mais importante no metabolismo do lcool,

    em que este metabolizado nos hepatcitos, sobretudo por dois sistemas: pela enzima

    lcool desidrogenase (ADH) e pelo sistema microssomal de oxidao do etanol

    (MEOS), sendo que cada um destes sistemas metablicos causa alteraes metablicas e

    txicas especficas levando produo de acetaldedo como demonstrado na figura 1

    (Caballera,2003; Lieber, 1997).

    Figura 1 Metabolismo heptico do etanol (Adaptado de Caballera,2003).

    4

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    A lcool desidrogenase a principal enzima que oxida o lcool a acetaldedo,

    envolvendo os cofatores dinucletido de nicotinamida e adenina (NAD) e dinucletido

    de nicotinamida e adenina na forma reduzida (NADH) (Cabellera, 2003). A reao

    esquematizada na figura 2:

    Figura 2 Reao de oxidao do etanol pela ADH (Adaptado Gramenzi et al., 2006).

    A ADH uma metaloenzima dimrica que se encontra no citoplasma celular e

    codificada por sete genes localizados no cromossoma 4. Esta enzima exibe vrios

    polimorfismos genticos, existindo em humanos aproximadamente 20 isoenzimas que

    possuem diferenas a nvel estrutural e funcional, em termos de propriedades cinticas e

    de distribuio no organismo, dividindo-se em cinco classes, conforme apresentado na

    figura 3 (Rebello e Carvalho, 2008). Os polimorfismos genticos da ADH concedem

    uma maior suscetibilidade individual ao alcoolismo e sua toxicidade e,

    consequentemente doena heptica alcolica ( Cabellera, 2003).

    Figura 3- Classificao dos genes da enzima lcool desidrogenase (Rebello e Carvalho, 2008).

    5

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Das vrias isoenzimas da ADH, as mais importantes, envolvidas no metabolismo do

    lcool, so as pertencentes s classes I,II,IV. A classe I de isoenzimas, encontrada no

    fgado, localiza-se em trs loci de genes: ADH1, ADH2, ADH3 os quais originam as

    subunidades , e , respetivamente. A classe II comporta o gene ADH4, estando

    presente no fgado e a classe IV o gene ADH7, que encontrada no estmago

    (Caballera, 2003).

    Contudo, os polimorfismos apenas ocorrem nos genes pertencentes classe I, ADH2 e

    ADH3, que possuem diferentes alelos. Os alelos ADH2*1, ADH2*2 e ADH2*3

    possuem subunidades 1,2 e 3 respetivamente e os alelos ADH3*1 e ADH3*2

    possuem as subunidades 1 e 2, respetivamente. Neste sentido, as isoenzimas de

    subunidade 2 e 1 codificadas pelos alelos ADH2*2 e ADH3*1, respetivamente,

    diferem na capacidade de oxidao do etanol e apresentam uma maior atividade

    enzimtica, oxidando o etanol de forma rpida, originando nveis elevados de

    acetaldedo (Matsuo et al., 2006).

    Assim, indivduos portadores do alelo ADH2*2 encontram-se mais sujeitos a apresentar

    reaes adversas ao consumo de etanol, o que em ltima anlise, reduz a probabilidade

    dos indivduos se tornarem alcolicos e desenvolverem doenas consequentes (Matsuo

    et al., 2006).

    Neste contexto, um aspeto a considerar o que se refere s diferenas da suscetibilidade

    por parte das diferentes etnias relativamente toxicidade do lcool e doena heptica

    alcolica. Esta diferena entre as populaes particularmente devida ao gene ADH2,

    em que o alelo ADH2*1 comumente expresso em caucasianos e afro-americanos e o

    alelo ADH2*2 predomina entre japoneses e chineses (Caballera, 2003).

    Consequentemente, este polimorfismo responsvel por uma converso rpida do

    etanol a acetaldedo em 90% da populao asitica e cerca de 50% desta, denuncia uma

    resposta desagradvel ao lcool, visto que nveis altos de acetaldedo originam a

    manifestao de sinais como: rubor, taquicardia, dor de cabea, nuseas, entre outros

    (Caballera, 2003).

    Por outro lado, a ADH encontrada no estmago (ADH7), de extrema importncia,

    uma vez que em comparao com a ADH heptica, apresenta uma menor afinidade mas

    uma maior capacidade de oxidao do etanol. Ainda, esta ADH7 pode limitar a

    6

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    biodisponibilidade do etanol, dependendo da forma como este ingerido, de modo que,

    no consumo de elevadas quantidades de etanol em curtos perodos de tempo, origina-se

    uma elevada concentrao desta molcula no estmago (Matsuo et al., 2006).

    , ainda, de referir que o aumento do consumo de lcool inibe, por si s, a atividade da

    ADH. A sua atividade v-se tambm reduzida durante o jejum, o que explica o facto de

    o etanol ser mais txico quando consumido com o estmago vazio, concluindo-se que a

    presena de alimentos no estmago no s diminui a velocidade de absoro de etanol

    como tambm aumenta a atividade da ADH7 gstrica (Matsuo et al., 2006).

    Outro aspeto a ter em conta o que concerne ao gnero, a ADH7 gstrica tem a sua

    atividade diminuda nas mulheres, em comparao com os homens, constituindo um

    fator de suscetibilidade individual DHA. Tradicionalmente, as mulheres bebem menos

    do que os homens, mas para uma determinada quantidade de lcool consumida, os

    nveis de sangue so mais elevados em mulheres do que em homens principalmente

    devido a duas razes farmacocinticas (Lieber , 1995).

    Uma razo que as mulheres apresentam maior proporo de gordura corporal, logo

    menor quantidade de gua e consequentemente menor volume de distribuio; e a outra

    razo traduzida pelo facto das mulheres exibirem menor capacidade de metabolizao

    da enzima lcool desidrogenase gstrica, o que leva ao aumento da absoro do etanol e

    dos seus nveis sanguneos (Mello et al.,2001).

    Alm disso, outro fator a referir o atraso no esvaziamento gstrico durante a fase ltea

    do ciclo menstrual das mulheres, que faz com que haja uma maior absoro do etanol

    sem que ocorra uma prvia metabolizao (Lieber, 1995).

    Cabe ressaltar que, quando se atingem elevados nveis de etanol na corrente sangunea,

    a oxidao do etanol passa a ser efetuada pelo sistema microssomal de oxidao do

    etanol, localizado no reticulo endoplasmtico. Este sistema inclui algumas enzimas

    envolvidas na metabolizao geral de substncias como, por exemplo, o Citocromo P-

    450 e sob condies de ingesto crnica e/ou excessiva de lcool (quando a

    concentrao superior a 10mM (50 mg/dl)), a metabolizao do lcool origina

    Citocromo P-450 2E1, uma variante do citocromo P-450 induzida pelo etanol

    (Gramenzi et al., 2006; Suddendorf, 1989).

    7

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    A reao da oxidao do etanol pelo MEOS envolve o cofator NADP (nicotinamida

    adenina dinucletido fosfato) e oxignio, e tem a seguinte representao (figura 4):

    Figura 4- Reao da oxidao do etanol pelo MEOS (Adaptado de Suddendorf, 1989).

    A induo do citocromo P-4502E1 origina desequilbrios metablicos importantes,

    produzindo espcies reativas de oxignio (ROS), como por exemplo, perxido e

    superxido de hidrognio, causando leso tecidual do rgo. As espcies reativas de

    oxignio so responsveis pela ativao de fatores de transcrio redox-sensveis, como

    o fator nuclear kappa B (NFkB), promovendo um perfil pr-inflamatrio (Lieber 1997;

    Gramenzi et al., 2006).

    Assim, o stress oxidativo sem dvida uma fora motriz na doena heptica alcolica,

    pois d incio peroxidao lipdica que danifica diretamente o plasma e as membranas

    intracelulares e induz a produo de grupos aldedos reativos com potentes propriedades

    pr-inflamatrias e pr-fibrticas (Stewart et al., 2004).

    Por fim, o metabolismo do etanol pode ainda ser mediado pela catalase, uma enzima

    peroxissomal. De acordo com Seth e os seus colaboradores (2011) este processo ainda

    no foi devidamente esclarecido e tem por base a pequena produo do perxido de

    hidrognio, um pr-requisito para oxidao do etanol por esta via. Assim, no processo

    oxidativo do etanol via catalase, ocorre, inicialmente, a oxidao do NADPH atravs da

    NADPH-oxidase, com a formao da gua oxigenada, a qual, sob a influncia da

    catalase, promove a oxidao do etanol (Jnior, 1998). A reao esquematizada da

    seguinte forma (figura 5) :

    Figura 5- Reao da metabolizao do lcool pela catalase (Adaptado de Suddendorf,1989).

    8

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Finalmente, relativamente via no-oxidativa do metabolismo do etanol, cabe dizer que

    esta caracterizada pela formao de til-esteres de cidos gordos, atravs da reao do

    etanol com cidos gordos (Laposata e Lange, 1986).

    Estudos apontam que esta via, embora possa ter um algum efeito em leses do fgado

    causadas pelo consumo excessivo de lcool, no apresenta evidncias no

    desenvolvimento da doena heptica alcolica, no sendo preponderante, adquirindo

    dessa forma um papel minoritrio (Laposata e Lange, 1986).

    Cada uma destas vias referidas, produz uma perturbao metablica especfica e txica

    e todos as trs resultam na produo de acetaldedo, um metabolito cuja hepatoxicidade

    elevada (Bruha et al., 2012).

    Neste sentido, o acetaldedo considerado a toxina chave na doena heptica alcolica,

    provocando danos celulares, inflamao, remodelao da matriz extracelular e

    fibrinognese dos hepatcitos (Lieber, 1997).

    Desta forma, o acetaldedo induz uma resposta de fase tardia nas clulas hepticas

    estreladas envolvendo o fator de transformao de crescimento beta (TGF-), para

    manter um perfil pro-fibrinognico e pr-inflamatrio. Alm disso, o acetaldedo liga-se

    covalentemente a protenas e ao DNA, formando aductos imunognicos, tais como, o

    malondialdedo e hidroxinonenal, que podem afetar diretamente as funes celulares,

    contribuindo para a leso heptica (Casini et al., 1991).

    Por outro lado, seguindo-se a metabolizao completa do etanol, o acetaldedo

    resultante da ao da ADH sobre o etanol, oxidado a acetato pela enzima mitocondrial

    lcool desidrogenase (ALDH), como esquematizado na figura 6 (Suddendorf, 1989).

    Figura 6- Oxidao do acetaldedo pela ALDH (Adaptado de Suddendorf,1989).

    9

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Assim sendo, o metabolismo do etanol, requer basicamente o envolvimento de duas

    etapas oxidativas dependentes de NAD, a primeira catalisada pela ADH e a segunda

    pela ALDH (Suddendorf, 1989).

    Relativamente aldedo desidrogenase, existem duas classes, a ALDH1 localizada no

    citoplasma e a ALDH2 localizada na mitocndria. Esta ltima representa a classe mais

    importante no que concerne ao metabolismo do acetaldedo e como acontece na enzima

    ADH, a ADH2 tambm polimrfica, apresentando os alelos ALDH2*1 e ALDH2*2

    (Cabellera ,2003).

    Segundo Crabb e colaboradores (1989) a prevalncia das diferenas genticas da

    ALDH varia de acordo com a etnia, em que os polimorfismos de ALDH2 esto

    presentes entre 10% a 44% na populao asitica, enquanto que em caucasianos,

    praticamente no detetada (Cabellera ,2003).

    Conforme os estudos de Cabellera (2003), esta mutao,ALDH2*2, tal como o

    polimorfismo anteriormente referido da enzima ADH, d origem a elevados nveis de

    acetaldedo e consequentemente aos seus efeitos txicos, conduzindo averso do

    lcool, sendo um fator de proteo ao alcoolismo por parte da populao asitica.

    sabido que a metabolizao do acetaldedo resulta na produo de acetato livre, o que

    tambm pode afetar outras vias metablicas, incluindo a gerao de acetil-coenzima-A

    em diferentes partes do organismo (figura 7) (Suddendorf, 1989).

    Figura 7- Converso do acetato a acetil- coenzima A ( Adaptado de Suddendorf, 1989).

    10

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Tem sido referido que a converso de lcool para acetato, e ainda mais a acetil-

    coenzima A, aumenta a acetilao das histonas, proporcionando um mecanismo de

    inflamao acrescido em determinadas leses do fgado como a hepatite alcolica

    aguda. A acetilao da histona em promotores de genes especficos crtica na

    regulao da sntese de citocinas inflamatrias de macrfagos, tais como, interleucina-6

    (IL-6), IL-8 e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-) ( Seth et al., 2001).

    Para alm das alteraes metablicas, o etanol tambm induz alteraes noutras

    molculas, entre as quais a glutationa (GSH) (Townsend et al., 2003).

    A glutationa um tripeptdeo solvel em gua, que possui caractersticas antioxidantes,

    sendo um importante fator contra a formao e manuteno de radicais livres,

    desempenhando um papel na desintoxicao de uma variedade de compostos via

    catlise pela glutationa S-transferase e pelas glutationa- peroxidases (Townsend et

    al.,2003).

    A glutationa encontrada tanto no citoplasma como nas mitocndrias, em que a maior

    parte da produo de energia da clula ocorre, e para a clula funcionar normalmente,

    importante que a quantidade de GSH presente na mitocndria seja suficiente, visto que a

    maior parte dos ROS so formados nesse local (Neuman, 2004).

    importante mencionar que, se os ROS no forem rapidamente eliminados pela GSH,

    estes podem danificar a mitocndria, permitindo que a molcula de citocromo se liberte

    da mitocndria para o citoplasma, e consequentemente o citocromo c vai ativar vrias

    molculas mediadoras qumicas, contribuindo para a apoptose celular heptica

    (Fernandez-Checa et al., 1998) .

    de referir, que diminuies deste antioxidante indispensvel, so relatadas na

    associao com a doena alcolica heptica, uma vez que o etanol reduz os nveis dessa

    molcula nas clulas (Lieber, 1997).

    No que concerne s citocinas, cabe ressaltar que tratam-se de mensageiros qumicos que

    desempenham um papel importante durante a primeira resposta do organismo infeo

    pois atraem e ativam componentes do sistema imunolgico. De acordo com McClain e

    colaboradores (1997) o consumo de lcool causa a produo acentuada de citocinas no

    fgado, conduzindo hepatoxicidade .

    11

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Com base nas suas funes especficas de combate inflamao, neste caso em relao

    doena heptica alcolica, as citocinas podem ser agrupadas em diferentes grupos,

    conforme apresentando na figura 8 (Neuman, 2004).

    Figura 8 Funo das citocinas envolvidas na doena heptica alcolica ( Adaptado de Neuman,2004).

    Estudos reportam que concentraes de soro/plasma de interleucinas: IL-1, IL-6 e IL-8 ,

    esto aumentados em pacientes inicialmente hospitalizados com esteato-hepatite

    alcolica e que estas diminuem durante a sua recuperao. A atividade destas citocinas

    pr-inflamatrias est extremamente relacionada com o grau da inflamao heptica

    (Dominguez et al., 2011).

    Tem sido referido que, entre as vrias citocinas, o fator de necrose tumoral alfa e o fator

    de transformao de crescimento beta so as citocinas que representam fatores-chave e

    que influenciam fortemente os processos de disfuno heptica (Neuman, 2004).

    Citocinas Funo

    Citocinas proinflamatrias

    Interleucina1 (IL1)

    Produz respostas inflamatrias; induz febre, estimula o crescimento e diferenciao do sistema imunitrio

    Interleucina6 (IL6) Promove a maturao de clulas B secretoras de anticorpos, atua com outras citoquinas para estimular outras clulas do sistema

    imunitrio; estimula a produo de mediadores de resposta inflamatria e a regenerao heptica

    Fator de necrose tumoral alfa (TNF)

    Promove respostas inflamatrias; estimula neutrfilos e macrfagos; induz febre, induz macrfagos a produzirem citocinas, induz a

    apoptose e necrose Fator de transformao

    de crescimento beta (TGF)

    Promove a sntese de colagnio

    Citocinas Imuno-reguladoras

    Interleucina10 (IL10) Inibe a proliferao de certas clulas do sistema imunolgico e promove a proliferao de outras; reduz a produo de citocinas

    inflamatrias; promove a secreo de anticorpos

    Quimiocinas

    Interleucina8 (IL8)

    Atrai neutrfilos para o local de uma infeo.

    12

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Outro aspeto importante, que a produo destas citocinas envolvidas na leso do

    fgado desencadeada pela estimulao das clulas de Kupffer (Hritz et al., 2008).

    Neste sentido, de acordo com Hritz e colaboradores (2008), o consumo de lcool

    aumenta a permeabilidade do intestino, permitindo a libertao para a circulao

    sangunea de certos produtos bacterianos txicos- as endotoxinas, nomeadamente os

    lipopolissacardeos (LPS) que so componentes das bactrias gram-negativas no

    intestino, e que estimulam e sensibilizam as clulas de Kupffer.

    Ainda, segundo Hritz e colaboradores (2008) e Tilg e Diehl (2000), este efeito sobre as

    clulas de Kupffer resulta do facto dos LPS complexarem com a protena de ligao, a

    LPS (LBP), que se liga superfcie do recetor CD14 nas clulas de Kupffer hepticas e

    este complexo CD14-LPBLPS interage com recetor do tipo toll-4 (TLR4) para acionar

    uma cascata de sinalizao que ativa o fator nuclear kappa B (NFkB) e libertar citocinas

    pr-inflamatrias, TNF-, TGF- e outras citocinas que contribuem para a disfuno do

    hepatcito, necrose e apoptose e a formao de protenas de matriz extracelular levando

    fibrose / cirrose, como representado no esquema seguinte (figura 9):

    Figura 9 Ativao da clula de Kupffer.

    13

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Alm disso, o TNF- pode aumentar o metabolismo dos hepatcitos, em especial a

    produo de energia na sua mitocndria, o que pode levar a um aumento da produo de

    ROS nas mitocndrias que, por sua vez, pode ativar o fator nuclear kappa B, que

    controla a atividade de vrios genes, incluindo aqueles que codificam o TNF- e, assim

    como os genes que codificam protenas que promovem a apoptose ( Neuman, 2004) .

    Desta forma, um ciclo vicioso estabelecido nos hepatcitos: o TNF- promove a

    produo de ROS, a produo de ROS ativa o NFkB, e o NFkB conduz produo de

    TNF- adicional, assim como a produo de fatores que promovem a apoptose, e este

    ciclo, eventualmente altera a estrutura dos hepatcitos, prejudicando a sua funo, e

    pode levar apoptose dos hepatcitos (figura 10) (Parlesak et al., 2000).

    Figura 10 Ativao do NFkb pelo TNF-.

    Relativamente ao TGF-, estudos revelaram que a quantidade de TGF- produzida

    maior no fgado de pacientes com cirrose alcolica do que nos fgados de pessoas

    saudveis, o que sugere que o TGF- pode estar envolvido no desenvolvimento da

    fibrose induzida por lcool no fgado (Neuman et al., 2002).

    14

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Assim, o TGF- tambm pode contribuir para a leso heptica atravs da ativao das

    clulas estreladas hepticas, as quais desempenham um papel-chave no processo de

    regenerao e fibrinognese heptica (figura 11) (Neuman et al., 2002).

    Deste modo, a fibrinognese, uma resposta de cura da ferida tpica de leso, envolve

    regenerao heptica, remodelao da matriz extracelular e estabelece uma cicatriz

    tecidual ( Diehl, 1998).

    Figura 11 Ativao das clulas estreladas hepticas (Adaptado de Mann e Mann, 2009).

    Conforme os postulados de Friedman (1999) estas clulas, em estado de repouso,

    servem essencialmente para armazenar gordura e vitamina A no fgado. Contudo,

    quando ativadas as clulas estreladas hepticas podem produzir colagnio, o principal

    componente do tecido cicatricial, sendo que essa produo de colagnio representa um

    passo crucial no desenvolvimento de fibrose em pacientes com hepatite alcolica e,

    desta forma, como o TGF-, como ativa as clulas estreladas hepticas, pode ser um

    ator importante neste processo.

    Tal como com o TNF-, os hepatcitos normalmente produzem pouco ou nenhum TGF-

    . Entretanto, sob certas condies, os hepatcitos podem produzir TGF- em maior

    escala. Neste contexto, o lcool pode desencadear a ativao do TGF- e, assim,

    contribuir para a iniciao de apoptose, se esta molcula entrar na corrente sangunea

    em concentraes mais elevadas (Neuman, 2001; Katz et al., 2001).

    15

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Alm disso, esta citoquina pode fazer com que os hepatcitos aumentem a produo de

    certas molculas, como a transglutaminase e citoqueratinas, que normalmente so

    responsveis pela estrutura e forma das clulas. Quando os nveis dessas molculas

    esto aumentados, h a formao de estruturas denominadas corpos de Mallory, que so

    indicadores de leso heptica, nomeadamente de hepatite alcolica (Cameron e

    Neuman,1999).

    Em suma, o fgado o rgo mais severamente afetado pelo alcoolismo sendo que o

    consumo excessivo de lcool provoca danos que envolvem uma sria de alteraes

    fisiolgicas e bioqumicas (Lieber, 1997) (figura 12).

    Dentro dos vrios efeitos txicos do lcool no fgado, destacam-se aqueles ligados ao

    seu metabolismo, demonstrando que o lcool exerce hepatotoxicidade intrnseca

    independente de deficincias nutricionais como estudos iniciais referiam (Lieber, 1997).

    Contudo, a hepatoxicidade do etanol no fgado para alm de envolver o metabolismo do

    lcool, tambm compreende mecanismos secundrios (Seth et al., 2011).

    Estudos recentes indicaram que a etopatogenia da DHA est profundamente ligada no

    s com o metabolismo do etanol mas tambm com o stress oxidativo, a depleo de

    glutationa, induo mediada pelo etanol da libertao de endotoxinas do intestino e

    consequente ativao das clulas de Kupffer e as clulas estreladas hepticas (Gao e

    Bataller, 2011).

    16

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Figura 12 - Diversos mecanismos da hepatotoxicidade do etanol no fgado ( Adaptado de Neuman,2004).

    17

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.3 - Espectro da doena heptica alcolica

    A doena heptica alcolica engloba vrios estdios, assim o seu espectro diverso e

    inclui: a esteatose heptica alcolica, hepatite alcolica, fibrose alcolica, cirrose

    alcolica e hepatocarcionoma. Estes estdios no so necessariamente fases distintas da

    evoluo da doena, mas sim, vrias etapas que podem estar presentes simultaneamente

    num dado indivduo, sob a influncia de inmeros fatores de risco (figura 13)

    (Lieber,2000).

    Figura 13 Fatores de risco da doena heptica alcolica ( Gao e Bataller, 2011).

    18

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.3.1- Esteatose heptica

    A esteatose a manifestao mais precoce, mais frequente e menos grave da doena

    alcolica heptica, que compromete o parnquima heptico e caracteriza-se pela

    acumulao de gordura nos hepatcitos, decorrente do consumo crnico do etanol

    (figura 14) (Breitkopf et al., 2009; Arteel et al., 2009).

    Como j referido anteriormente, o etanol e os efeitos txicos do seu metabolismo

    originam vrias alteraes na funo normal do fgado. Desta forma, cabe ressaltar que

    a formao de acetaldedo e acetato, tanto pela via da enzima lcool desidrogenase

    assim como pela via do citocromo P450 2E1, causa disfunes mitocondriais

    (Yang,2008).

    Estudos prvios postulam que o consumo de lcool crnico e excessivo altera a relao

    NADH/NAD, aumentando a proporo de dinucletido de nicotinamida e adenina na

    forma reduzida/dinucletido de nicotinamida e adenina na forma oxidada nos

    hepatcitos, alterando, em consequncia, a - oxidao mitocondrial dos cidos gordos

    e resultando na acumulao dos mesmos nos hepatcitos, o que leva ao

    desenvolvimento da esteatose (Gao e Bataller,2011).

    Neste contexto, em condies normais os lpidos so transportados para o fgado na

    forma de cidos gordos livres, cuja maioria penetra o hepatcito e esterificada em

    triglicerdeos, ou oxidada produzindo energia sob forma de ATP e corpos cetnicos,

    existindo assim um ciclo constante de cidos gordos entre o fgado e o tecido adiposo,

    que est sob um delicado equilbrio (Lieber, 2004).

    No entanto, como j referido, o lcool altera as funes mitocondriais, aumentando a

    sntese e absoro dos cidos gordos e diminuindo a sua oxidao. Consequentemente, a

    no-utilizao destes cidos gordos resulta na acumulao excessiva de lpidos no

    interior dos hepatcitos e o desenvolvimento de esteatose heptica ( Lieber, 2004).

    No que diz respeito s manifestaes clnicas da esteatose, observa-se uma estreita

    relao com o grau da infiltrao de gordura, causa subjacente e ao tempo de

    exposio. De um modo geral, os indivduos mostram-se geralmente assintomticos,

    porm quando a infiltrao da gordura mais pronunciada pode ocorrer hepatomegalia,

    cujo aumento do volume heptico pode atingir at seis vezes o seu volume normal, dor

    19

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    no hipocndrio direito e pode ocorrer a evoluo para um quadro de insuficincia

    heptica (Donohue,2007).

    Figura 14 - Alteraes morfolgicas e histolgicas da esteatose ( Fonte:

    http://www.mayoclinic.com/health/medical/IM03725).

    No que concerne s complicaes hepticas resultantes da esteatose, cabe salientar que

    esta uma condio patolgica benigna e reversvel, visto que a interrupo de

    ingesto alcolica leva normalizao da arquitetura heptica, e que esta manifestao

    constitui uma alterao relevante e um fator de risco para o desenvolvimento de

    manifestaes hepticas avanadas, nomeadamente esteato-hepatite, fibrose, e cirrose

    heptica (figura 15 ) (Donohue,2007) .

    Figura 15 - Inter-relaes entre as manifestaes da doena heptica alcolica (Adaptado de Shrestha e

    Shakya, 2011).

    20

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.3.2- Hepatite alcolica

    A hepatite alcolica um processo inflamatrio associado necrose hepatocitria,

    resultante do consumo excessivo de lcool e considerada como uma leso pr-cirrtica

    (Trabut et al., 2012).

    Desta forma, a hepatite alcolica caracterizada pela infiltrao do fgado por clulas

    inflamatrias e leses hepatocelulares, podendo-se desenvolver em pacientes com

    esteatose e sendo associada fibrose progressiva (Trabut et al., 2012).

    No que diz respeitos aos mecanismos atravs dos quais o uso abusivo do etanol produz

    as leses mais caractersticas da hepatite alcolica, cabe salientar que a ao lesiva do

    etanol pode estar relacionada ao direta do seu metabolismo ou absoro de

    endotoxinas do intestino, decorrente da reduo da barreira intestinal induzida pelo

    etanol (Stickel e Seitz, 2010).

    Neste contexto, alm da agresso direta causada pelo stress oxidativo, todos os

    metabolitos originados pela oxidao do etanol podem interagir com aminocidos,

    provocando uma srie de alteraes funcionais e morfolgicas, nomeadamente,

    alteraes na tubulina importante elemento da constituio dos microtbulos- o que

    prejudica o transporte citoplasmtico (Gao e Bataller,2011).

    Alm disso, tambm, so observadas as alteraes nas protenas do citoesqueleto, como

    as citoqueratinas, resultando em depsitos hialinos no citoplasma, denominados

    corpsculos de Mallory ( Gao e Bataller ,2011).

    Por outro lado, como j citado anteriormente, o etanol favorece a absoro de

    endotoxinas e de outros produtos da flora intestinal, que atuam sobre as clulas de

    Kupffer promovendo a produo de citocinas, especialmente TNF-, mas tambm IL-1,

    IL- 6 e IL-8, favorecendo a inflamao, a agresso hepatocitria e a estimulao das

    clulas estreladas hepticas, com induo de fibrose (Trabut et al., 2012).

    A infiltrao neutroflica na hepatite alcolica deve-se produo de grande quantidade

    das quimiocinas CxCL 8 (IL-8) por parte das clulas de Kupffer, ativadas no s pelos

    metabolitos do etanol (acetaldedo e radicais livres), como pelos produtos bacterianos

    absorvidos do intestino ( Trabut et al., 2012).

    21

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Todos estes processos acabam por induzir o sistema imune a produzir anticorpos,

    clulas T auxiliares e citotxicas, capazes de agredir hepatcitos, contribuindo, desta

    forma, para a necrose e a inflamao ( figura 16) ( Gao e Bataller,2011).

    Neste contexto, ocorre a ativao da imunidade adaptativa, com consequentes nveis

    aumentados de anticorpos circulantes, originados para combater os aductos de

    peroxidao lipdica, e nmeros elevados de clulas T no fgado, o que indica que a

    ativao da imunidade adaptativa, est envolvida na patognese da doena heptica

    alcolica, inclusivamente na hepatite alcolica. Coletivamente com a ativao de

    componentes da imunidade inata no s se inicia a leso heptica alcolica, mas

    tambm se aciona a resposta hepato-protetora, regenerativa, e anti-inflamatria

    (figura16 ) ( Gao e Bataller, 2011).

    Figura 16 - Mecanismos pelos quais o etanol causa inflamao na doena heptica alcolica ( Gao e

    Bataller ,2011).

    de referir que, o quadro histolgico muito mais evidente do que a expresso clnica

    da doena. As caractersticas histolgicas da hepatite alcolica incluem: infiltrao

    neutroflica, balonizao centrolobular dos hepatcitos, necrose irregular, fibrose

    perivenular e ocorrncia de corpsculos de Mallory (figura 17) (Trabut et al., 2012).

    22

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Figura 17 Alteraes histolgicas da hepatite alcolica ( Adaptado de

    http://www.kmle.co.kr/search.php?Search=alcoholic+hepatitis&Page=3).

    No que concerne ao quadro clnico da hepatite alcolica, este apresenta um amplo

    espectro, variando de formas totalmente assintomticas a quadros fulminantes, sendo

    que, os casos assintomticos e as formas brandas so muito mais frequentes do que os

    casos graves. Por outro lado, as formas graves geralmente esto associadas a quadros

    fulminantes devido a surtos de hepatite alcolica em fgados j cirrticos (Gonalves et

    al., 2006).

    Assim, o incio da sintomatologia geralmente insidioso, com manifestaes

    inespecficas como a anorexia, nuseas e vmitos, mas quando o quadro clnico se

    agrava, surgem manifestaes como hepatomegalia dolorosa, febre, leucocitose,

    ictercia, podendo ou no ter outros sinais de insuficincia heptica e/ou hipertenso

    portal (esplenomegalia, ascite, varizes vasculares, etc.). Ao contrrio da esteatose, a

    hepatite alcolica aps curada, deixa cicatrizes permanentes no fgado, podendo levar

    ao aparecimento de fibrose (Gonalves et al., 2006).

    23

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.3.3- Fibrose heptica

    A fibrose heptica alcolica pode ser definida como uma resposta de cicatrizao s

    leses hepticas desencadeadas pelo abuso crnico de etanol e caracterizada por uma

    deposio excessiva de matriz extracelular , que inclui trs grandes famlias de

    protenas: glicoprotenas colagnios e proteoglicanos ( Tsukada et al., 2006) .

    Como anteriormente referido, o etanol promove a fibrinognese tanto atravs do seu

    metabolito primrio, o acetaldedo, assim como pelo desenvolvimento de ROS, que ao

    originar stress oxidativo ativa as clulas de Kupffer, aumentando a produo de

    citocinas pr-inflamatrias e consequente ocorre a ativao das clulas estreladas

    hepticas. Nesta sequncia, as clulas hepticas estreladas, localizadas no espao de

    Disse, e aquando ativadas, proliferam-se e adquirem as caractersticas de

    miofibroblastos (Tsukada et al., 2006; Bataller e Brenner, 2005).

    Neste contexto, a deposio excessiva da matriz extracelular resultante do

    desequilbrio entre a fibrinognese e a fibrlise no fgado, sendo que a deposio de

    matriz extracelular passa a ser maior que a sua remoo, principalmente a nvel de

    colagnio tipo I e II, mas tambm proteoglicanos e glicoprotenas (Pinzani e

    Rombouts,2004).

    Em condies normais, o metabolismo da matriz extracelular realizado por enzimas

    designadas por metaloprotenases (MMPS), que so produzidas pelas clulas estreladas

    hepticas e clulas de Kupffer. Estas enzimas e os seus inibidores especficos (TIMPs-

    inibidores tissulares de metaloprotenases), garantem o equilbrio na remodelao da

    matriz extracelular, uma vez que esto envolvidas na degradao das protenas da

    matriz, nomeadamente o colagnio I, o principal tipo presente no fgado fibrtico

    (Guedes, 2004).

    Porm, estas enzimas so reguladas por inibidores fisiolgicos, que esto atuantes no

    processo fibrtico e impedem a atividade dessas enzimas sobre o excesso de matriz, que

    por sua vez no degradada e se acumula, resultando em fibrose heptica

    (Friedman,2008).

    24

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Deste modo, a ativao de clulas estreladas hepticas em resposta leso heptica,

    ocorre em duas etapas: a iniciao e a perpetuao ( figura 18 ) ( Friedman, 2008) .

    A iniciao provocada por estmulos solveis, que incluem ROS, resultante do stress

    oxidativo, assim como por lipopolissacardeos, clulas de Kupffer, hepatcitos, clulas

    endoteliais sinusoidais, leuccitos, plaquetas e corpos apoptticos circulantes

    (Guedes,2004).

    A perpetuao que se segue caracterizada por um certo nmero de alteraes

    fenotpicas especficas, incluindo proliferao, fibrinognese, contratilidade, degradao

    da matriz extracelular, quimiotaxia e sinalizao inflamatria (Friedman, 2008).

    Figura 18- Vias de ativao das clulas hepticas estreladas aps leso heptica ( Friedman, 2008).

    25

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Cabe ressaltar que inicialmente na doena heptica alcolica, o excesso de matriz

    extracelular, isto , a leso fibrtica inicia-se na zona III do lbulo heptico com fibrose

    perivenular que acomete a veia centrolobular (figura 19). No entanto, posteriormente

    ocorre a evoluo para fibrose septal, ocorrendo ligao entre as veias centrolobulares e

    os espaos portais, com consequente formao de septos fibrosos (Guedes, 2004) .

    Figura 19- Lbulo heptico (Micheu e Hoa, 2012).

    Alm disso, a transformao das clulas estreladas em miofibroblastos e consequente

    desorganizao da arquitetura parenquimatosa, tambm origina o aumento da resistncia

    vascular, pois ocorre a ativao de substncias vasoconstritoras, o que constringe os

    canais vasculares, resultando na resistncia portal aumentada (Friedman, 2008).

    A progresso d fibrose heptica leva cirrose, podendo ocorrer descompensao desta,

    com consequente hipertenso portal, e em ltima anlise, insuficincia heptica

    (Mormone et al., 2011).

    26

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.3.4 - Cirrose heptica

    Com j referido anteriormente, o principal agente etiolgico entre os pacientes com

    cirrose o lcool, ressaltando que a cirrose heptica alcolica, designada em termos

    histricos como cirrose de Laennec, responsvel por cerca de 90% do total de cirroses

    em Portugal (Matos, 2006).

    Existem evidncias que a cirrose heptica alcolica ocorre quando h consumo

    significativo de lcool por perodos de mais de 10 anos, nomeadamente 60 a 80 g

    etanol/dia em homens e 20g etanol/dia em mulheres. Contudo, se houver associao

    com outros fatores agressores do fgado, tais como hepatites virais, sndrome

    metablica, depsitos de ferro ou uso de medicamentos hepatotxicos, o perodo e a

    quantidade de lcool necessrios podem ser menores (Diehl, 2001).

    A cirrose heptica uma leso crnica do fgado, consequente de todas as doenas

    hepticas crnicas e ocorre por um processo difuso, caracterizado por fibrose tecidual e

    pela converso da arquitetura normal em ndulos estruturalmente anormais, sendo

    tradicionalmente considerada como uma leso irreversvel, muito embora estudos

    recentes questionem a sua irreversibilidade (Pinzani et al., 2011).

    A forma como o acetaldedo, resultante do consumo excessivo do lcool, lesa a clula

    heptica j foi amplamente debatida. Cabe ressaltar, que a instalao da fibrose e da

    regenerao nodular do fgado determina alteraes na funo dos hepatcitos e o

    aparecimento de diversas complicaes (Pinzani et al., 2011).

    Do ponto de vista morfolgico, as caractersticas da cirrose incluem: fibrose difusa,

    ndulos regenerativos, arquitetura lobular alterada e estabelecimento de shunts

    vasculares intra-hepticos entre a veia porta e a artria heptica, bem como a veia supra-

    heptica do fgado (Millward-Sadler et al., 1985).

    Por outro lado a nvel macroscpico, estabelecido que existem dois padres de

    regenerao nodular: cirrose micronodular e macronodular, sendo que a cirrose causada

    pelo lcool , predominantemente, do tipo micronodular. Desta forma o fgado cirrtico

    pode-se apresentar com um tamanho inicialmente aumentado e posteriormente reduzido,

    com o lobo caudado, via de regra, hipertrfico e com contorno nodular irregular (figura

    20) (Robbins et al., 1996).

    27

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Figura 20- Cirrose micronodular e macronodular ( Castro, 2012 ).

    Relativamente s manifestaes clnicas da cirrose, estas so amplas e variam muito

    desde a ausncia de sintomas at ao desenvolvimento de complicaes, muitas delas

    fatais, sendo as principais: hipertenso portal (manifestada por varizes esofgicas e

    gstricas e esplenomegalia), ascite, peritonite bacteriana espontnea, encefalopatia

    heptica, sndrome hepato-renal e carcinoma hepatocelular (Pinzani et al., 2011).

    Do ponto de vista fisiolgico, a veia porta resultante da confluncia da veia esplnica

    e das veias mesentricas superior e inferior, sendo responsvel pela drenagem da

    circulao esplncnica para o fgado. Assim, o fgado o principal stio de resistncia

    ao fluxo venoso portal e age como uma rede vascular distensvel de baixa resistncia.

    Deste modo, a presso venosa portal normalmente baixa (5-10 mmHg), sendo a

    hipertenso portal definida como uma presso anormalmente elevada na veia porta

    (superior a 10 mmHg) (Garcia-Pagan et al., 2005).

    Assim, a hipertenso portal ocorre como consequncia de mudanas estruturais da

    arquitetura heptica decorrente da cirrose e pode resultar do aumento da resistncia ao

    fluxo portal ou do aumento do fluxo sanguneo portal, ou, ainda, de ambos (Pinzani et

    al., 2011).

    Neste contexto, por um lado o aumento de fluxo sanguneo portal pode ocorrer como

    causa primria de hipertenso portal, mas um evento raro. Ao contrrio, o aumento da

    28

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    resistncia o evento mais comum e pode ocorrer em qualquer ponto ao longo do

    sistema venoso, na veia porta, nos espaos vasculares dentro do fgado e nas veias e

    compartimentos vasculares que recebem o fluxo portal aps sair do fgado

    (Martinelli,2004).

    Cabe ressaltar que a hipertenso portal a consequncia mais antiga e mais importante

    da cirrose e subjaz a maioria das complicaes clnicas da doena, sendo de facto o

    principal mecanismo que leva morte de pacientes cirrticos (Martinelli,2004).

    De acordo com a localizao anatmica do obstculo ao fluxo sanguneo, a hipertenso

    portal pode ser classificada em: pr-heptica, ps-heptica e intra-heptica, sendo que,

    na cirrose heptica, o aumento da resistncia ao fluxo portal principalmente do tipo

    pr-heptico sinusoidal e ps- sinusoidal (Martinelli,2004).

    A ocorrncia da hipertenso portal adquire muita relevncia, devido frequncia e

    gravidade das suas complicaes, que representam a primeira causa de internamento

    hospitalar, transplante de fgado e morte em pacientes com cirrose, uma vez que a

    hipertenso portal cirrtica uma doena vascular que envolve vrios sistemas e rgos

    cujas principais manifestaes clnicas so: hemorragia por varizes gastro-esofgicas,

    esplenomegalia, ascite, circulao colateral superficial (veias abdominais e peri-

    umbilicais) e varizes de reto (Costaguta e Alvarez,2010).

    No que refere s varizes esofgicas, estas so veias anormalmente dilatadas, geralmente

    localizadas no tero distal do esfago, podendo tambm ocorrer na parede gstrica, que

    surgem como resultado da tenso elevada nas paredes dos vasos que leva sua dilatao

    e rutura, uma consequncia do aumento da presso do sangue na veia porta (Costaguta

    e Alvarez,2010).

    A rutura das varizes esofgicas e/ou gstricas a causa mais comum de hemorragia

    digestiva na hipertenso portal e est geralmente acompanhada por esplenomegalia

    (aumento do bao) e hiperesplenismo, o que faz com que o bao aumente a sua funo e

    consequentemente ocorra o aumento da destruio de clulas sanguneas,

    nomeadamente as plaquetas (figura 21) (Costaguta e Alvarez, 2010).

    29

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Figura 21 Circulao portal: A: sistema de portal normal. B: fgado cirrtico: formao de varizes e esplenomegalia (Costaguta e Alvarez, 2010).

    No que diz respeito ascite, outra das complicaes da hipertenso portal, esta

    definida por um acmulo anormal de lquido na cavidade peritoneal, em torno do

    intestino e outros rgos abdominais e notada pelo aumento do volume abdominal

    (figura 22) (Bernardi et al., 2004).

    Figura 22 Ascite (Fonte: http://www.hepcentro.com.br/ascite.htm).

    30

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Neste contexto, a hipertenso portal aumenta a presso hidrosttica dentro dos

    sinusoides hepticos e favorece a transudao de fluido para a cavidade peritoneal

    (Moore e Aithal, 2006).

    Desta forma, as alteraes vasculares hepticas e a consequente hipertenso portal

    ativam a vasodilatao esplncnica (sequestro lquido no terceiro espao),que

    posteriormente origina um deficit no volume sanguneo efetivo e a queda na presso

    arterial, que tem como consequncia a ativao de fatores neuro humorais, que por sua

    vez, ativam sistemas endgenos como: sistema renina angiotensina aldosterona, sistema

    nervoso simptico e libertao de hormona antidiurtica, como tentativa de restaurar a

    homeostasia sangunea (figura 24) (Moore e Aithal, 2006).

    Assim, como consequncia ocorre a reteno de sdio e gua no organismo, que

    juntamente com o aumento da permeabilidade vascular esplncnica e acumulao de

    linfa na cavidade peritoneal origina a formao da ascite (figura 23) (Bernardi et al.,

    2004).

    Figura 23 - Lquido acumulado na cavidade peritoneal ( Adaptado de http://www.medicalook.com/Digestive_system/Ascites.html).

    31

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Cirrose

    Aumento da resistncia vascular intra-heptica

    Hipertenso portal

    Vasodilatao esplncnica

    Aumento do volume plasmtico

    Hipotenso arterial

    Aumento fatores neuro-humorais

    Reteno de sdio e gua

    ASCITE

    Figura 24 - Mecanismos de ascite na cirrose heptica.

    Os pacientes com cirrose e ascite podem desenvolver infeo bacteriana aguda no

    lquido peritoneal, denominada de peritonite bacteriana espontnea. Atualmente sugere-

    -se que a maioria dos episdios de peritonite bacteriana resultante da translocao

    bacteriana de origem intestinal, em que ocorre a migrao de bactrias do lmen

    intestinal para os linfonodos mesentricos ou outros stios extraintestinais,

    representando a rutura do equilbrio da flora intestinal normal do hospedeiro, causando

    uma resposta inflamatria sustentada podendo, finalmente, acarretar infeo (Strauss e

    Caly , 2003) .

    No que concerne a outra manifestao clnica, a encefalopatia heptica definida como

    um sndrome neuropsiquitrico complexo, caracterizada por distrbios da conscincia e

    do comportamento com alteraes de personalidade (Albrecht e Jones , 1999) .

    Acredita-se que a encefalopatia heptica seja desencadeada por substncias txicas que

    atingem o crebro. Essas substncias no so eliminadas na detoxificao realizada pelo

    fgado devido funo heptica comprometida, ou pela presena de shunts porto-

    sistmicos que impedem a detoxificao heptica. A principal substncia envolvida

    nesse processo a amnia, sendo considerada um composto altamente neurotxico

    (Wright e Jalan, 2007).

    32

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Por fim, outra complicao da hipertenso portal que pode surgir o sndrome hepato-

    renal (SHR), que ocorre em pacientes com doena heptica crnica, sendo caracterizado

    pela alterao da funo renal, sem leso morfolgica (Arroyo et al.,2002).

    Desta forma o SHR responsvel por diversas alteraes da funo renal,

    nomeadamente pela reteno de sdio, alterao da excreo de gua, diminuio da

    perfuso renal e da taxa de filtrao glomerular, sendo o seu mecanismo de patologia

    esquematizado na figura 25 (Gins et al., 2003).

    Como resultado o SHR origina vrias manifestaes clinicas como azotemia

    progressiva, hipotenso, hiponatremia, insuficincia heptica e insuficincia renal

    (Arroyo et al., 2002).

    Cirrose heptica

    Hipertenso portal

    Vasodilatao esplncnica acentuada

    Estimulao dos sistemas vasoconstritores

    Vasoconstrio renal

    SHR

    Figura 25 - Fisiopatologia da SHR.

    33

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    2.3.5- Carcinoma hepatocelular

    O carcinoma hepatocelular a sexta neoplasia mais comum no mundo e a terceira causa

    mais frequente de morte por tumor maligno, sendo que na maioria dos casos, o

    carcinoma hepatocelular surge como uma das complicaes da cirrose, representando o

    estado final da doena, sendo considerado uma das principais causas de morte entre os

    pacientes com cirrose (Forner et al., 2012).

    Neste contexto, bem estabelecida a associao entre o abuso crnico de lcool e o

    desenvolvimento de cirrose, assim como entre o desenvolvimento de cirrose e

    consequente CHC. No entanto, a relao direta entre o consumo de lcool e o

    desenvolvimento de CHC, ainda no est bem esclarecida (El-Serag, 2011).

    Alm disso, estudos evidenciaram que a presena de hepatite viral, outra condio

    frequente em pacientes alcolicos, aumenta significativamente o risco de

    desenvolvimento do cancro do fgado (Tinkle e Haas-Kogan, 2012 ).

    No que concerne patognese molecular do carcinoma hepatocelular, um processo

    complexo, de mltiplos passos e a maioria dos investigadores concorda que os efeitos

    do metabolismo do etanol sobre a integridade do DNA e mecanismos de reparao

    desempenham um papel significativo na processo de transformao (Mckillop et al.,

    2006).

    No entanto, torna-se cada vez mais evidente que o etanol, o metabolismo do etanol, ou

    ambos tambm podem afetar as vias de sinalizao de clulas que regulam a funo

    normal dos hepatcitos, a sua proliferao e apoptose (Mckillop et al., 2006).

    Assim, o metabolismo do etanol contribui para o desenvolvimento de carcinoma

    hepatocelular especificamente em doentes com doena alcolica heptica,

    nomeadamente devido formao de acetaldedo, que uma substncia cancergena

    com propriedades mutagnicas, induo de CYP2E1, que aumenta a produo de

    ROS, e ao efeito imunossupressor do lcool (Gao e Bataller ,2011).

    Por outro lado, as mutaes no DNA e na proliferao dos hepatcitos so causadas por

    vrios mecanismos que incluem: encurtamento dos telmeros (que induz a instabilidade

    genmica), alteraes no microambiente e macroambiente, que promovem a

    sobrevivncia e proliferao de clulas tumorais, perda de postos de controlo do ciclo

    34

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    celular, nomeadamente supressores tumorais e ativao de vias oncognicas (Gao e

    Bataller ,2011) .

    De acordo com os estudos de Gao e Bataller (2011) e Conte (2000), num primeiro

    momento ocorre hiperplasia (proliferao anormal de clulas) e com o agravamento da

    doena, ocorre a displasia, j com instabilidade genmica. Posteriormente, esta

    instabilidade genmica agrava-se e somada perda do gene supressor de tumores (p53)

    e reativao da telomerase, forma-se ento o carcinoma hepatocelular (figura 26).

    Figura 26 Hepatocarcinognese ( Paraskevi et al., 2006 ).

    Relativamente s manifestaes clnicas, cabe ressaltar que os sintomas atribuveis ao

    carcinoma hepatocelular, numa fase inicial so geralmente ausentes, sendo este,

    portanto, assintomtico (Tinkle e Haas-Kogan, 2012).

    Porm, quando existe a presena de sintomas, estes podem estar relacionados com a

    cirrose subjacente na maior parte dos casos. Entretanto, a maioria dos pacientes

    apresenta dor abdominal superior mal definida, perda de peso acentuada e progressiva,

    massa ou irregularidades palpveis e, com a descompensao heptica, esplenomegalia,

    com aumento da ascite, hemorragia digestiva, encefalopatia (Tinkle e Haas-Kogan,

    2012 ).

    35

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    de referir que, o carcinoma hepatocelular pode estar associado a um nmero de

    sndromes para-neoplsicos resultando em: hipoglicemia, hipercolesterolemia,

    eritrocitose, hipercalcemia, trombocitose, manifestaes cutneas (Tinkle e Haas-

    Kogan, 2012 ).

    Cabe ressaltar, ainda, que macroscopicamente o CHC pode ser classificado conforme

    dois padres distintos: quanto sua forma e tamanho e quanto ao padro de crescimento

    (Kojiro, 1998)

    No que respeita forma e tamanho, distingue-se o tipo nodular, indicando uma massa

    arredondada com limites ntidos em relao ao parnquima circundante; o tipo macio,

    no qual uma grande massa aparenta invadir o parnquima adjacente; e o tipo difuso, no

    qual mltiplos ndulos semelhantes a ndulos cirrticos so encontrados por todo o

    fgado (Kojiro, 1998).

    Quanto ao padro de crescimento, so referidos o crescimento unifocal, multifocal e

    infiltrante. O tumor unifocal tem uma ntida demarcao entre os limites da massa

    tumoral e do parnquima circundante, sendo uma massa unifocal geralmente grande

    (figura 28). O tumor multifocal (figura 29) geralmente representado por mltiplos

    ndulos em diversos segmentos hepticos, e o tumor infiltrante, (figura 30) o mais

    comum em fgados cirrticos, possui os seus limites mal definidos e irregulares e com

    frequente invaso vascular (figura 27) (Kojiro, 1998).

    Figura 27 Carcinoma hepatocelular difuso num fgado cirrtico (Ficher, 2010).

    36

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Figura 28 Carcinoma hepatocelular unifocal num fgado cirrtico ( Peterson et al., 2000).

    Figura 29 Carcinoma hepatocelular multifocal (Fonte:

    http://escuela.med.puc.cl/paginas/cursos/tercero/anatomiapatologica/imagenes_ap/fotos588-596/589.jpg).

    Figura 30- Carcinoma hepatocelular infiltrante (http://galeria.sld.cu/main.php?g2_itemId=28246).

    37

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    Assim, de uma forma geral, a apresentao clnica do carcinoma hepatocelular depende,

    principalmente, da extenso da neoplasia e do nvel de comprometimento da funo

    heptica pela doena de base, sendo que a evoluo natural consiste no aumento

    progressivo da massa primria at que esta comprometa a funo heptica e / ou evolua

    para metstases, nomeadamente para os pulmes em primeiro lugar e posteriormente

    para outros locais como a glndula adrenal, linfonodos, ossos e crebro (Tinkle e Haas-

    Kogan, 2012 ).

    Num estdio final da doena, a morte ocorre mais comumente por: caquexia,

    hemorragia gastrintestinal ou de varizes esofgicas, insuficincia heptica ou coma

    heptico e mais raramente, por rutura do tumor com hemorragia fatal (Tinkle e Haas-

    Kogan, 2012 )

    38

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    3- Consideraes finais

    O consumo excessivo e crnico de etanol representa uma das maiores causas de

    mortalidade e morbilidade de todo o mundo, ressaltando-se a doena heptica alcolica,

    cujo espectro envolve: esteatose, hepatite alcolica, fibrose heptica, cirrose e

    carcinoma hepatocelular.

    No que concerne fisiopatologia da doena heptica alcolica, verifica-se uma relao

    estreita entre a hepatoxicidade direta do etanol, as consequncias advindas do processo

    metablico, a produo de metabolitos txicos e a participao de citocinas, com as

    leses hepticas decorrentes

    Dada prevalncia e gravidade da doena heptica alcolica, bem como seu elevado

    custo mdico-social, torna-se imperativa a necessidade da implementao de programas

    que envolvam a preveno da doena alcolica e a assistncia do doente alcolico.

    A considerar o importante papel dos profissionais de Cincias Farmacuticas, enquanto

    profissionais de sade, a abordagem da temtica reveste-se de enorme relevncia,

    possibilitando maior e melhor qualificao para a orientao adequada dos doentes

    alcolicos.

    39

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    4- Bibliografia

    1. Albrecht, J. e Jones, E. A. (1999). Hepatic encephalopathy: molecular mechanisms underlying the clinical syndrome, Journal of the Neurological Sciences,

    170, pp. 138-146.

    2. Arroyo, V., et al. (2002). Hepatorenal syndrome in cirrhosis: Pathogenesis and treatment, Gastroenterology, 122, pp. 1658-1676.

    3. Arteel, G. (2003). Advances in alcoholic liver disease, Best Practice &

    Research Clinical Gastroenterology, 17, pp. 625-647.

    4. Bataller, R. e Brenner, D. A. (2005). Liver fibrosis, The Journal of Clinical Investigation, 115, pp. 209-218.

    5. Bedossa, P. e Paradis, V. (1995). Transforming growth factor-beta (TGF-beta): a

    key role in liver fibrogenesis, Journal of Hepatoly, 22(2), pp. 37-42.

    6. Bernardi, M., et al. (1994). Renal sodium handling in cirrhosis with ascites: mechanisms of impaired natriuretic response to reclining, Journal of Hepatology, 21,

    pp. 1116-1122.

    7. Breitkopf, K., et al. (2009). Current Experimental Perspectives on the Clinical Progression of Alcoholic Liver Disease, Alcoholism: Clinical and Experimental

    Research, 33, pp. 1647-1655.

    8. Bruha, R., et al. (2012). Alcoholic liver disease, World Journal of Hepatology,

    4, pp. 81-90.

    9. Caballera, J. (2003). Current concepts in alcohol metabolismo, Annals of Hepatology, 2, pp. 60-68.

    10. Cameron, R.G., e Neuman, M.G. (1999). Novel morphologic findings in

    alcoholic liver disease, Clinical Biochemistry, 32, pp. 579584.

    11. Casini, A., et al. (1991). Acetaldehyde increases procollagen type I and fibronectin gene transcription in cultured rat fat-storing cells through a protein

    synthesis-dependent mechanism, Hepatology, 13, 758-65.

    40

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    12. Castro, J.M. (2012). Hepatites Cronicas e Cirrose. [Em linha] Disponvel em [Consultado em 22/06/2012].

    13. Conte, V. P. (2000). Carcinoma hepatocelular. Parte 1: consideraes gerais e diagnstico, Arquivos de Gastroenterologia, 37, pp. 58-67.

    14. Costaguta, A. e Alvarez, F. (2010) Hipertensin portal en pediatra. I: Aspectos fisiopatolgicosy clnicos, Arch. argent. pediatr, 108(3), pp. 239-249 .

    15. Diehl, A. M. (2002). Liver disease in alcohol abusers: clinical perspective, Alcohol, 27, pp. 7-11.

    16. Donohue, T.M. (2007). Alcohol-induced steatosis in liver cell, World Jounal Gastroenteroly. 2007, 13(37), pp.4974-4978.

    17. Dominguez M., et al. ( 2009) Hepatic expression of CXC chemokines predicts portal hypertension and survival in patients with alcoholic hepatitis, Gastroenterology,

    136, pp. 16391650.

    18. ElSerag, H. B. (2011). Hepatocellular carcinoma, New England Journal of

    Medicine, 365, pp. 1118-1127.

    19. Escuela de Medicina Home Page. [Em linha]. Disponvel em [Consultado em 22/08/2012].

    20. FernandezCheca, J.C., et al. (1996) Plasma membrane and mitochondrial transport of hepatic reduced glutathione, Seminars in Liver Disease, 16, pp. 147158.

    21. Fischer, K.G. ( 2010) . Carcinoma hepatocelular, Revista Dolor, Foro Nacional de Investigacin y Clnica Mdica, 7, pp. 4-7

    22. Forner E. R., et al., (2012) Hepatocellular carcinoma, The Lancet, 379, pp. 1245-1255.

    23. Friedman, S. (1999). Liver fibrogenesis and the role of hepatic stellate cells: new insights and prospects for therapy, Jounal Gastroenteroly Hepatoly. 14,pp. 618633.

    41

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    24. Friedman, S. L. (2008). Mechanisms of Hepatic Fibrogenesis, Gastroenterology, 134, pp. 1655-1669.

    25. Gao, B. e Bataller, R. (2011). Alcoholic liver disease: pathogenesis and new therapeutic targets, Gastroenterology 141(5), pp. 1572-85.

    26. Gins, P., et al . (2003). Hepatorenal syndrome, The Lancet, 362, pp. 1819-1827.

    27. Gonalves C. J. et al. (2006). Hepatite alcolica, Gastroenterologia, 6(2), pp.59-

    68.

    28. Gramenzi, A., et al. (2006). Review article: alcoholic liver disease--pathophysiological aspects and risk factos, Aliment Pharmacol Ther, 24,pp. 1151-1161.

    29. Guedes, A. (2004). Estudo dos marcadores sricos de fibrose hepatica crnica

    pelo alcol e/ou infeco pelo VHC. Dissertao apresentada ao Instituto de Cincias

    Biomdicas de Abel Salazar.

    30. Hepcentro Home page. [Em linha] Disponvel em

    [Consultado em 6/6/2012].

    31. Hritz, I. et al. (2008) The critical role of toll-like receptor (TLR) 4 in alcoholic liver disease is independent of the common TLR adapter MyD88, Hepatology, 48, pp.

    1224 1231.

    32. Infomed Galeria Home page [Em linha]. Disponvel em http://galeria.sld.cu/main.php?g2_itemId=28246 [Consultado em 22/08/2012].

    33. Katz, G., et al.(2001) Signaling for ethanolinduced apoptosis and repair in

    vitro, Clinical Biochemistry 34, pp.219227.

    34. Kojiro M. (1998). Pathology of early hepatocellular carcinoma: progression from early to advanced, Hepatogastroenterology, 45(3), pp. 1203-1205.

    35. Korean Medical Library Engine Home Page. [Em linha]. Disponvel em [Consultado

    em 1/08/2012].

    42

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    36. Laposata, E.A e Lange, L.G. (1986). Presence of nonoxidative ethanol metabolism in human organs commonly damaged by ethanol abuse, Science, 231, pp.

    497-499.

    37. Lieber, C.S. (1995) Medical disorders of alcoholism, The New England Journal of Medicine, 333(16) pp. 1058-1065.

    38. Lieber, C. S. (1997b). Ethanol metabolism, cirrhosis and alcoholism, Clinica

    Chimica Acta, 257, pp. 59-84.

    39. Lieber, C. S., (2000). Alcohol and the Liver: metabolism of alcohol and its role in hepatic and extrahepatic diseases, The Mount Sinai Journal of Medicin, 67 (1), pp.

    84-94.

    40. Lieber, C. S. (2004). Alcoholic fatty liver: its pathogenesis and mechanism of progression to inflammation and fibrosis, Alcohol, 34,pp. 9-19.

    41. Mann, J. e Mann, D. A. (2009). Transcriptional regulation of hepatic stellate cells,

    Advanced Drug Delivery Reviews, 61, pp. 497-512.

    42. Martinelli A.L. (2004) Hipertenso portal, Medicina, Ribeiro Preto, 37, pp.

    253-261.

    43. Matsuo, K., et al. (2006). Alcohol dehydrogenase 2 His47Arg polymorphism influences drinking habit independently of aldehyde dehydrogenase 2 Glu487Lys

    polymorphism: analysis of 2,299 Japanese subjects, Cancer Epidemiol Biomarkers

    Prev, 15, pp. 1009-1013

    44. Mayo Clinic Home Page. [Em linha]. Disponvel em [Consultado em 05/07/2012].

    45. McClain, C., et al. (1997). Cytokines and Alcoholic Liver Disease, Alcohol

    Health & Research World, 21(4) pp. 317-320.

    46. Mckillop I. H., et al. (2006). Molecular Pathogenesis of Hepatocellular Carcinoma, Journal of Surgical Research, 136, pp. 125-135.

    43

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    47. Medicalook Home Page. [Em linha].

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    58. Parlesak A, et al. (2000). Increased intestinal permeability to macromolecules and endotoxemia in patients with chronic alcohol abuse in different stages of alcohol-

    induced liver disease, Journal of Hepatology, 32(5) pp. 742-747.

    59. Peterson, M. S., et al. (2000). Pretransplantation Surveillance for Possible Hepatocellular Carcinoma in Patients with Cirrhosis: Epidemiology and CT-based

    Tumor Detection Rate in 430 Cases with Surgical Pathologic Correlation1, Radiology,

    217, pp. 743-749.

    60. Pinzani, M., et al. (2011). Liver cirrhosis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology , 29(2), pp. 243-148.

    61. Pinzani, M. e Rombouts, K. (2004). Liver fibrosis: from the bench to clinical

    targets. Digestive and Liver Disease, 36, pp. 231-242.

    62. Rebello, S.A e Carvalho M.C. (2008). Metodologia para estudo do polimorfismo do gene da enzima lcool desidrogenase. Revista de Cincias Mdicas e Biolgicas,

    7(2), pp.163-168.

    63. Suddendorf, R. F. (1989) Research on alcohol metabolism among Asians and its implications for understanding causes of alcoholism, Public Health Rep, 104 (6), pp.

    615620.

    64. Seeley,et al. (2003). Aparelho digestivo. In: Anatomia & Fisiologia. 6 Ed.

    Loures , Lusocincia, 23, pp. 898-903.

    65. Sherlock, S. e Dooley, J. (2002). Alcohol and the Liver. In: Sherlock, S. e Dooley, J. Diseases of the Liver and Billiary System. 11 Ed. Oxford Blackwell Science,

    pp . 381-98.

    66. Shrestha, S e Shakya, S. (2011). Morphology of alcoholic liver disease. [Em linha]. Disponvel em [Consultado em 22/08/2012]

    67. Stewart, S. F., et al. (2004). Oxidative stress as a trigger for cellular immune

    responses in patients with alcoholic liver disease, Hepatology, 39, pp. 197-203.

    45

  • Fisiopatologia da Doena Heptica Alcolica

    68. Seth, D., et al. (2011), Pathogenesis of Alcohol-induced Liver Disease classical concepts and recent advances, Journal of gastroenterology and hepatology.

    26(7), pp. 1089-105.

    69. Stickle, F. e Seitz , H. K. (2010). Alcoholic steatohepatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology, 24, pp. 683-93.

    70. Strauss, E. e Caly, W. R. (2003). Peritonite bacteriana espontnea. Revista da

    Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 36, pp. 711-717.

    71. Tilg H. e Diehl, A. M.(2000). Cytokines in alcoholic and nonalcoholic steatohepatitis, New England Journal of Medicine, 343, pp. 14671476.

    72. Tinkle, C. L. e Haas-Kogan, D. (2012). Hepatocellular carcinoma: natural

    history, current management, and emerging tools, Biologics, 6,pp.207-219.

    73. Townsend, D. M., et al. (2003). The importance of glutathione in human disease. Biomedicine & Pharmacotherapy, 57, pp. 145-155.

    74. Trabut, J.B et al., 2012. Hpatite alcoolique aigu, La Revue de Mdecine

    Interne, 33, pp. 311-317.

    75. Tsukada, S., et al. ( 2006). Mechanisms of liver fibrosis, Clinica Chimica Acta, 364, pp. 33-60.

    76. Wright, G. e Jalan, R. (2007). Management of hepatic encephalopathy in

    patients with cirrhosis, Best Practice & Research Clinical Gastroenterology, 21,

    pp. 95-110.

    77. Yang, S. (2008). Alcoholic Liver Disease: Clinical and Sonographic Features, Journal of Medical Ultrasound, 16, pp. 140-149.

    78. World Health Organization(2011) . Global status report on alcoholic and health. Geneva. Department of Mental Health and Substance Abuse.

    46

    Tese doc1tese doc 22.1- Consideraes gerais.....32.2- Hepatotoxicidade do etanol .....4

    Tese doc32.1-Consideraes geraisA considerar que o lcool representa a droga de abuso mais consumida no pas, a doena heptica alcolica traduz-se num grave problema no contexto da sade pblica portuguesa (Mello et al.,2011).A doena heptica alcolica a leso do fgado que diz respeito a uma variedade de alteraes hepticas que surgem aps anos de consumo excessivo de lcool (Lieber,2000).Trata-se de uma doena multifactorial, complexa e representa um espectro de doenas e alteraes morfolgicas que variam desde a esteatose, inflamao e necrose heptica (hepatite alcolica) fibrose progressiva e cirrose. Alm disso, o consumo ex...