potencial de aproveitamento do gÁs: o … projeto do aterro foi concebido por técnicos brasileiros...

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POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DO GÁS: O CASO DO ATERRO SANITÁRIO METROPOLITANO DE NATAL-RN COMO INDICADOR À GESTÃO ENERGÉTICA Zorayde Lourenço de Oliveira 1 e-mail: [email protected] 1 Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Engenharia Civil UFPE - Endereço: Avenida Prof. Moraes Rego, 123 - Cidade Universitária, 50670-901. Recife. PE. Marília Regina Costa Castro Lyra E-mail : [email protected] Instituto Federal de Pernambuco, Mestrado Profissional em Gestão Ambiental- IFPE - Endereço: Av. Prof. Luiz Freire, 500. Cidade Universitária, Recife-PE CEP: 50740-540.. Jose Antonio Aleixo da Silva E-mail: [email protected] . Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Engenharia Florestal- UFRPE _Endereço: Rua Manuel de Medeiros - Dois Irmãos, Recife - PE, 52171-030.: Sílvio Romero de Melo Ferreira E-mail :[email protected] Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Engenharia Civil UFPE - Endereço: Avenida Prof. Moraes Rego, 123 - Cidade Universitária, 50670-901. Recife. PE. Sebastião Luiz de Oliveira, E-mail: [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Escola de Ciências e Tecnologia - ECT. Campus Universitário Lagoa Nova, Lagoa Nova. CEP: 59078970 - Natal, RN. Resumo: A emissão de Biogás gerado pela decomposição de resíduos sólidos em aterros sanitários contribui para formação do efeito estufa. O metano contido no biogás é um gás de efeito estufa com poder de aquecimento global 21 vezes superior ao do dióxido de carbono. Através do projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) o aterro sanitário inseriu-se no contexto que apresenta a maior relação custo-benefício ambiental, apesar de ter um investimento inicial grande. O aproveitamento energético do resíduo justifica-se por oferecer até 30% da eletricidade consumida no país, e a comprovação da viabilidade do produto biogás possibilita a implantação de um programa para aterros sanitários e a comercialização de créditos de carbono capaz de tornar o Brasil, o principal agente internacional deste mercado. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o gerenciamento da recuperação energética do biogás no aterro sanitário de Ceará Mirim no Estado do Rio Grande do Norte. Conclui-se que a gestão do projeto do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal a principio visava à recuperação energética. Porem o aterro não vai gerar energia e sim entregar o gás para compressão a uma empresa especializada no setor de Gás e Biogás. Avalia-se que o aproveitamento energético deve ser priorizado já que aterros sanitários podem negociar com o Banco Mundial a venda dos créditos de carbono. Palavras Chave: Resíduos Sólidos, metano, Créditos de Carbono, Desenvolvimento Sustentável. POTENTIAL OF UTILIZATION OF GAS: The CASE OF METROPOLITAN HEALTH Landfill IN NATAL-RN AS an INDICATOR In THE POWER MANAGEMENT Abstract: The emission of biogas generated by the decomposition of solid waste in landfills contributes to the greenhouse effect. The methane contained in biogas is a greenhouse gas with a global warming power 21 times that of carbon dioxide. Through the design of the Clean Development Mechanism (CDM) landfill was inserted in the context that has the highest environmental cost-benefit ratio, despite having a large initial investment.The energy use of waste justifies itself by offering

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POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DO GÁS: O CASO DO ATERRO SANITÁRIO

METROPOLITANO DE NATAL-RN COMO INDICADOR À GESTÃO ENERGÉTICA

Zorayde Lourenço de Oliveira

1e-mail: [email protected]

1 Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Engenharia Civil UFPE - Endereço: Avenida Prof. Moraes Rego,

123 - Cidade Universitária, 50670-901. Recife. PE.

Marília Regina Costa Castro Lyra E-mail : [email protected]

Instituto Federal de Pernambuco, Mestrado Profissional em Gestão Ambiental- IFPE - Endereço: Av. Prof. Luiz Freire, 500.

Cidade Universitária, Recife-PE CEP: 50740-540..

Jose Antonio Aleixo da Silva E-mail: [email protected].

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Engenharia Florestal- UFRPE _Endereço: Rua Manuel de

Medeiros - Dois Irmãos, Recife - PE, 52171-030.:

Sílvio Romero de Melo Ferreira E-mail :[email protected]

Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Engenharia Civil UFPE - Endereço: Avenida Prof. Moraes Rego,

123 - Cidade Universitária, 50670-901. Recife. PE.

Sebastião Luiz de Oliveira, E-mail: [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Escola de Ciências e Tecnologia - ECT. Campus Universitário Lagoa Nova,

Lagoa Nova. CEP: 59078970 - Natal, RN.

Resumo: A emissão de Biogás gerado pela decomposição de resíduos sólidos em aterros sanitários contribui para formação

do efeito estufa. O metano contido no biogás é um gás de efeito estufa com poder de aquecimento global 21 vezes superior

ao do dióxido de carbono. Através do projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) o aterro sanitário inseriu-se

no contexto que apresenta a maior relação custo-benefício ambiental, apesar de ter um investimento inicial grande. O

aproveitamento energético do resíduo justifica-se por oferecer até 30% da eletricidade consumida no país, e a comprovação

da viabilidade do produto biogás possibilita a implantação de um programa para aterros sanitários e a comercialização de

créditos de carbono capaz de tornar o Brasil, o principal agente internacional deste mercado. Neste contexto, o objetivo

deste estudo foi avaliar o gerenciamento da recuperação energética do biogás no aterro sanitário de Ceará Mirim no Estado

do Rio Grande do Norte. Conclui-se que a gestão do projeto do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal a principio visava à

recuperação energética. Porem o aterro não vai gerar energia e sim entregar o gás para compressão a uma empresa

especializada no setor de Gás e Biogás. Avalia-se que o aproveitamento energético deve ser priorizado já que aterros

sanitários podem negociar com o Banco Mundial a venda dos créditos de carbono.

Palavras Chave: Resíduos Sólidos, metano, Créditos de Carbono, Desenvolvimento Sustentável.

POTENTIAL OF UTILIZATION OF GAS: The CASE OF METROPOLITAN HEALTH

Landfill IN NATAL-RN AS an INDICATOR In THE POWER MANAGEMENT

Abstract: The emission of biogas generated by the decomposition of solid waste in landfills contributes to the greenhouse

effect. The methane contained in biogas is a greenhouse gas with a global warming power 21 times that of carbon dioxide.

Through the design of the Clean Development Mechanism (CDM) landfill was inserted in the context that has the highest

environmental cost-benefit ratio, despite having a large initial investment.The energy use of waste justifies itself by offering

up to 30% of the electricity consumed in the country, and to prove the feasibility of biogas product enables the

implementation of a program to landfills and sale of carbon credits can make the Brazil, the main agent this international

market. In this context, the aim of this study was to evaluate the management of energy recovery from biogas in landfill

Ceará Mirim in the state of Rio Grande do Norte. We conclude that the management of the Metropolitan Landfill Christmas

project aims for energy recovery, thus already being elaborating the project to adapt to the CDM. The gas generated in the

landfill can be marketed with two possibilities of recovery, the generation of electricity at the landfill to be launched in the

electricity network with a substation Cosern, and the second release in the pipeline Potigás. The landfill will not generate

energy but deliver gas compression company specializes in Gas and Biogás.Avalia sector is that energy use should be

prioritized as landfills can negotiate with the World Bank the sale of carbon credits .

Keywords: Solid Waste, Methane, Carbon Credits, Sustainable Development.

1. INTRODUÇÃO

A técnica de aterros sanitários para disposição de resíduos sólidos é a mais difundida e aceita em todo mundo.

Enquanto novas tecnologias de destino final não surgirem como alternativa viável, esta tecnologia é um constituinte essencial

de qualquer sistema de manejo de resíduos sólidos.

Os resíduos dispostos em aterros sanitários são decompostos biologicamente, predominando neste processo a

digestão anaeróbia.

O modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade de consumo, produzindo mais e mais embalagens e

resíduo; o agravamento dos conflitos ambientais que levou à consciência internacional sobre os graves riscos associados ao

acúmulo dos gases do efeito estufa; a grande carência existente no Brasil de recursos e de programas governamentais que

priorizem o adequado tratamento dos resíduos sólidos urbanos; a aprovação do Protocolo de Kyoto.

O Brasil destaca-se no contexto mundial pelo uso de fontes energéticas renováveis, o consumo mundial de

energia não-renovável está acima de 80% e nos países membros da OECD (Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico) ultrapassam os 90%. Em contra partida, a produção de energia através de fontes renováveis contribui para quase

a metade de toda energia utilizada no Brasil (MME, 2008).

Segundo Fecuri (2004), o aproveitamento energético dos aterros sanitários, proveniente da extração e utilização do

gás bioquímico, produzido justamente pela decomposição da matéria orgânica nestes existentes (biomassa), até então

utópico, passou a ser uma realidade, o que motivou o interesse de alguns municípios e do setor privado na produção e

extração do biogás através de resíduos sólidos produzidos pelos munícipes e depositados nos aterros sanitários e sua

utilização, dentre outras, como fonte energética.

Segundo Lima (2004), a conversão biológica do lixo com fins energéticos vem a cada dia tornando-se mais

interessante, uma vez que os resíduos urbanos passaram a ser considerados como uma fonte inesgotável de energia

alternativa.

O potencial de geração de energia elétrica a partir do biogás no Brasil é superior a 350 MW em 2005, bastante

coerente com as estimativas do inventário do MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia (2004).

Um projeto para a obtenção de energia a partir de gás captura aproximadamente 50% do metano que emite um

aterro. O metano que se captura, ao queimar o gás para produzir eletricidade, transforma-se em água e CO2 que é muito

menos potente. O mesmo CO2 seria emitido como resultado do processo natural de decomposição. Os benefícios de redução

de gás que provoca o efeito estufa de um projeto de gás de aterro sanitário típico de 5 MW equivale a plantar mais de

32.374,85 hectares de bosque por ano ou eliminar as emissões anuais de mais de 60.000 carros (IMBELLONI, 2004).

Através do projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) os aterros sanitários inseriram-se no

contexto que apresenta a maior relação custo-benefício ambiental, apesar de ter um investimento inicial grande, é preciso que

todos os custos sejam muito bem estimados para que não se tenha um projeto do MDL deficitário. O projeto executivo é a

ferramenta fundamental para um orçamento preciso; porém, mesmo no projeto básico já é possível estabelecer um orçamento

de referência que pode auxiliar a tomada de decisão de investimento. As faixas de investimento vão desde R$ 2.000.000,00 a

R$ 3.000.000,00, para projetos pequenos (até 500m³/hora de gás), até R$ 60.000.000,00 a R$ 80.000.000,00, para projetos de

maior porte (a partir de 10.000m³/hora de gás) (FELIPETTO, 2007).

O clima da terra tem sido alterado de forma preocupante. O Relatório do Intergovernmental Panel on Climate

Change (IPCC, 2007) mostra que as temperaturas globais de superfície a de 1850-1899 a 2001-2005 tiveram no total um

aumento de 0,76 [0,57 a 0,95]ºC.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) tem como objetivo a mitigação das emissões de gases nos

países em desenvolvimento, na forma de sumidouros (sumiço do gás), investimentos em tecnologias mais limpas, eficiência

energética (racionalização do uso de energia), florestamento e reflorestamento, fontes alternativas de energia, entre outras

atividades, gerando créditos de carbono que podem ser comercializados com os países industrializados.

Deve-se ressaltar que o MDL não é simplesmente um instrumento comercial onde o poluidor paga, segundo

Limiro (2005): “A captura do biogás proveniente dos aterros sanitários é multidisciplinar, mostrado-se como uma excelente

alternativa ao desenvolvimento sustentável alem do ganho do aproveitamento energético”. De acordo com Filho (2005), no

Brasil, estudos sobre o biogás de aterros vêm se tornando frequente já que o biogás se mostra uma alternativa para geração

de energia elétrica, além de reduzir as emissões de metano para a atmosfera contribui com o Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo (MDL).

O desenvolvimento deste trabalho foi, em parte, motivado pela gravidade dos problemas que representam

atualmente os resíduos sólidos urbanos, uma vez que a disposição final e o tratamento inadequado de volumes cada vez

maiores e mais complexos de resíduos das mais diferentes naturezas causam prejuízos ambientais.

Dentro dessa perspectiva é que esse estudo pretende contribuir, refletindo sobre questões postas na atualidade

referente ao tema aterro sanitário, especificamente a questão do aproveitamento do biogás que além de diminuir a poluição

ambiental possibilita a comercialização dos créditos de carbono. O presente estudo contém a experiência prática do aterro

sanitário do RN e objetivou investigar a possibilidade do uso do biogás como fonte de energia térmica e os ganhos indiretos

da comercialização de créditos de carbono.

2.METODOLOGIA

A metodologia de trabalho consistiu na realização de pesquisa bibliográfica, pesquisa on-line, entrevistas aos

administradores do aterro e visitas ao aterro de Ceará Mirim – RN.

2.1Técnica de coleta de dados

Para o desenvolvimento deste estudo e pesquisa foi necessário à utilização das seguintes técnicas de coleta de

dados descritas a seguir:

Revisão bibliográfica (livros, artigos científicos, boletins, monografias e teses). A técnica de coleta de dados

através da pesquisa bibliográfica tem como objetivo permitir o reforço paralelo na análise das pesquisas ou manipulação de

suas informações. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição, mas propicia o exame de um tema sob novo

enfoque ou abordagem (LAKATOS, 2005).

Pesquisa documental do Projeto Executivo do Aterro Metropolitano Sanitário de Natal. Segundo Lakatos

(2005), a característica da pesquisa documental que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos escritos ou não,

constituindo o que se denomina de fontes primárias.

Registro fotográfico no decorrer de toda pesquisa de campo exploratória ao aterro.

Pesquisa de campo exploratória ao aterro sanitário que serve a regiões metropolitana de Ceará Mirim – RN. Essa

investigação tem por objetivo a formulação de questões ou de um problema para aumentar a familiaridade do pesquisador

com o ambiente, cuja variedade de procedimentos pode ser utilizada, como entrevista ou observação de campo (LAKATO,

2005).

Visita a Sede da BRASECO S/A, empresa responsável pela implantação e operação do aterro sanitário de Ceará

Mirim – RN.

Entrevistas orais e gravadas, do tipo despadronizadas ou não-estruturadas. Este tipo de técnica deixa com que o

entrevistador tenha liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de

poder explorar mais amplamente a questão em foco, tornando-se uma conversação informal (LAKATOS, 2005).

2.2O Aterro Sanitário Metropolitano de Natal- O Caso do Aterro Sanitário de Ceará Mirim – RN

Histórico do Empreendimento

O projeto do aterro foi concebido por técnicos brasileiros e italianos. Através da Joint Venture entre as empresas

SERECO LTDA (Brasileira) e CASSAGNA S.R.L. (Italiana, a qual projetou e opera também o aterro sanitário de Turim),

que formou a empresa Braseco S/A. O aterro sanitário da Região Metropolitana de Natal funciona nos mesmos moldes

daquele de Turim, tendo sido feitas apenas adaptações para as condições climáticas locais (PINHEIRO, 2005). Fundada em

1995, a BRASECO S/A é a empresa que opera o Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal. Através de uma

licitação, venceu em 1996 a concessão para tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos, em especial do

município de Natal, por um período de 20 anos.

A pesquisa divide-se em duas partes, que serão detalhadas a seguir:

A primeira parte envolveu a visita ao aterro sanitário de Ceará Mirim - RN, bem como entrevistas aos

administradores deste aterro, e concentrou-se em uma pesquisa bibliográfica e pesquisas online com vistas à obtenção de

dados.

2.2.1Área de abrangência

O aterro sanitário de Natal localiza-se no Distrito de Massaranduba, em Ceará-Mirim, a 800 metros da BR-406 e

distante 38 quilômetros de Natal (Figura 1e 2). Foi inaugurado dia 24 de junho de 2004. O terreno ocupa 90 hectares e destes,

60 hectares são destinados para o aterro.

O aterro tem capacidade de receber cerca de 1300 toneladas de lixo por dia. O Contrato de Exploração da área é de 20

anos, e após o encerramento do contrato de exploração, haverá um monitoramento por mais 10 anos.

Figura 2 – Localização do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal. Fonte: Adaptado de BRASECO, 2004.

Características Gerais do Aterro

O terreno ocupa 90 hectares e destes, 60 hectares são destinados para o aterro, que ao todo comportará 16 células,

cada uma com 125m x 250m de tamanho, profundidade de 3m e capacidade para 1,5 milhão de metros cúbicos (BRASECO,

2005).

Segundo Henrique Muniz Dantas (2005), Diretor da BRASECO S.A. (empresa concessionária do aterro) O aterro tem

capacidade de receber cerca de 1300 toneladas de lixo por dia, sendo que Ceára-Mirim é isento da cobrança porque doou o

terreno para a construção do aterro. O Contrato de Exploração da área é de 20 anos, e após o encerramento do contrato de

exploração, haverá um monitoramento por mais 10 anos.

O total estimado deste projeto foi de R$ 140 milhões, sendo uma obra de engenharia que atende a todas as normas

ambientais. Por este motivo é considerada uma das formas mais adequadas para o destino final dos resíduos sólidos urbanos,

acabando com os principais problemas característicos do depósito indiscriminado do lixo, a céu aberto, como mau cheiro,

urubus, ratos, insetos e a contaminação das águas subterrâneas. Além dos benefícios ecológicos oferecidos pelo aterro,

também existem os sociais, uma vez que não existe a presença de catadores e de crianças que atualmente aparecem nos

lixões, pois o acesso é restrito às pessoas devidamente identificadas: empregados e fiscalização. O aterro é bem cercado para

impedir a entrada de animais e evitar invasões. No caso do impacto visual, toda a área circundante será protegida com a

implantação de um “cinturão verde”, formado de plantas nativas da região, que ainda servirá de abrigo para predadores de

alguns vetores (MUNIZ, 2005).

2.2.2 Modo de Funcionamento do Aterro Sanitário.

O aterro sanitário está sendo implantado por etapas, através da escavação planejada do

solo, obedecendo ao desenho do projeto executivo. Apresentam-se abaixo as etapas de operação, bem como do

funcionamento do aterro sanitário:

a) Implantação e Operação

a.1) Seqüência da Fase de Implantação

Antes de se proceder ao inicio da disposição dos resíduos nas células do aterro sanitário, uma série de atividades

preliminares foram executadas, visando otimizar as atividades de execução da obra, bem como evitar problemas ambientais.

De um modo geral, as principais atividades, preliminares foram:

Proteção e limpeza do local;

Remoção e estoque do solo orgânico;

Terraplenagem de confinamento das células;

Instalação de rede de drenagem superficial provisória;

Instalação de proteções ambientais (impermeabilização, sistema de drenagem de

percolados, drenagem de gás, monitoramento, etc);

Preparo das entradas de acesso principal e secundário;

Construção das edificações de apoio (escritório, laboratório, balanças, cercas, etc).

a.2) Recepção dos Resíduos

A entrada é restrita a veículos devidamente cadastrados, desde que contenham resíduos sólidos permitidos para

aquele aterro.

Figura 3 – Chegada do caminhão para Pesagem (Figura A) e Pesagem do caminhão (Figura B)

1. Os caminhões que chegam ao aterro são pesados em uma balança rodoviária, que é aferida pelo INMETRO, instalada ao

lado da guarita (Figura 3 A e B). A balança tem capacidade de quase 60 toneladas e uma precisão de quase 100%. Isto se faz

necessário para o acompanhamento da quantidade de resíduos depositados no aterro, para o monitoramento, visando o

planejamento de construção de novas células.

Os seguintes tipos de resíduos, mediante autorização expressa do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio

Ambiente (IDEMA) poderão ser destinados ao aterro sanitário:

Resíduos domésticos (Classe II); Resíduos Industriais (Classes I, II e III);

Resíduos de Serviços de Saúde; Podas de Árvores; Resíduos Especiais.

Após o Caminhão depositar o resíduo na célula este e compactado por trator (Figura 4 A e B)

Figura 4– Caminhão depositando o resíduo na célula (Figura A)e Resíduo sendo compactado por trator (Figura B).

2.2.3Sistema de Drenagem de Percolados

O aterro sanitário possui dispositivos para captação e drenagem do líquido, resultante da decomposição dos resíduos

(chorume) (Figura 5), evitando a sua infiltração no local e o livre escoamento para os corpos condutores (cursos de água). As

B A

B A

células são dotadas de três drenos principais, que conduzem os percolados para dentro de um poço de coleta de concreto. Os

percolados coletados são recirculados para a célula, de forma compatível com as condições climáticas e de umidade dos

resíduos aterrados, acelerando a biodegradação e o tratamento dos resíduos sólidos através de bombeamento. Quando houver

excedente de percolados, os mesmos poderão seguir por gravidade para a estação de tratamento.

Figura 5 - Extração do chorume para lagoa

O sistema de tratamento biológico por lagoas trata-se da alternativa mais natural de tratamento de efluentes e que envolve o

mínimo de equipamentos, pois o fluxo dos mesmos ocorre pela gravidade.

Etapas de percurso dos percolados:

1. Poço de coleta e recirculação dos percolados

2. Lagoa de Contenção/Decantação

3. Lagoa Anaeróbia

4. Lagoa Facultativa 1

5. Lagoa Facultativa 2 e Recirculação de percolados

A Figura 6 abaixo apresenta o percurso do chorume do aterro sanitário metropolitano

de natal:

Figura 6 – Representação esquemática do percurso do chorume. Fonte: BRASECO, 2005.

A Figura 7 apresenta Lagoa de tratamento do chorume (Figura A ) e placa de recalque e ao fundo dreno de gás (

Figura B)

Figura 7 -Lagoa de tratamento do chorume (Figura A) e placa de recalque e ao fundo dreno de gás (Figura B)

As placas de recalques incorporadas ao aterro têm a finalidade de servir como indicadores dos deslocamentos aos quais o

aterro está sujeito. Os gases produzidos pela decomposição do resíduo são drenados e conduzidos aos queimadores (flares -

dispostos no interior das células), para serem dissipados através da queima.

O aterro conta com uma estação meteorológica, a qual colhe dados sobre as variações do tempo a cada dois segundos,

emitindo relatórios detalhados a cada duas horas. Esses dados são de fundamental importância para o planejamento das

operações do aterro.

2.3 Aterro Sanitário Metropolitano de Natal – RN

Segundo Bernardes (2005), a 1ª célula do aterro foi calculada para que pudesse receber 293 mil toneladas de

resíduos. No entanto a célula ultrapassou as 310 mil toneladas, excedendo a cota prevista. Esse fato se deve ao desempenho

que o trabalho de compactação teve, sendo superior ao estimado no projeto, e permitindo depositar mais resíduo em menos

espaço. Esse resultado determina, ou pré-determina, a vida útil do aterro.

2.3.1Cobertura Final

Segundo Bernardes (2005), a cobertura final de solo deve ser encarada como fator decisivo no sucesso da

operação do aterro, já que esta camada da FASE I servirá de base para a operação das células da FASE II. Atingida a cota

máxima prevista, os resíduos serão cobertos com uma camada de até 1 metro. Em contato direto com a superfície dos

resíduos poderá ser colocado um tipo de geotêxtil (GEOTÊXTIL OU PEAD – Mantas de Polietileno de Alta Densidade),

com função de separação e drenagem, favorecendo o fluxo dos biogases, na direção dos poços de coleta. Sobre o geotêxtil

será colocada uma camada de terreno siltoso, com espessura de até 50 cm, que terá a função de reduzir a infiltração das águas

de chuva e evitar a dispersão dos biogases na atmosfera. Um segundo geotêxtil, colocado acima do estrato siltoso, terá função

de direcionar as águas de infiltração na direção externa ao aterro sanitário, antes de infiltrar. Acima do segundo geotêxtil

será, por fim, colocada uma camada de terra para vegetação do aterro, constituído de 20 ou 30 cm de solo, preparado para

este fim.

A B

A Figura 8 apresenta a Célula do aterro sendo coberta com solo e célula do aterro fechada

Figura 8 - Célula do aterro sendo coberta com solo (Figura A) e célula do aterro fechada (Figura B)

Procedimento de terraplanagem para abertura de uma nova célula conforme apresentado na figura 9A. Segundo

Muniz (2005), efetivamente, cada célula é revestida com uma manta de 2mm de PEAD(Figura 9B), para impermeabilização

do solo, a qual vai impedir a passagem do chorume e a conseqüente contaminação do lençol freático

A Figura 9 apresenta o procedimento de terraplanagem para abertura de uma nova célula (9 A) e revestimento da célula com

a manta de PEAD(Figura 9B), para impermeabilização do solo

Figura 9-Procedimento de terraplanagem para abertura de uma nova célula (Figura 9A) e revestimento da célula com uma

manta de 2mm de PEAD(Figura 9B,Fonte:BRASECO), para impermeabilização do solo

Ainda segundo Muniz (2005), está sendo feito monitoramento da avifauna no aterro. A preocupação da

BRASECO não é apenas que o aterro não seja um foco de atração de aves, mas sim de impactar o mínimo possível o meio

ambiente. O aterro está aberto à visitação, e tem recebido visitas de escolas, instituições e universidades.

B

A A

A

B

3.0APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Entende-se que é preciso controlar a produção do biogás no aterro sanitário. Um forte argumento que justifica o

controle da produção de biogás é que o metano é um gás de efeito estufa, 21 vezes mais poderoso que o gás carbônico. Uma

alternativa seria o aproveitamento, através de sistema de captura do biogás através de uma tecnologia específica na qual se

pode usar o metano, transformando-o em energia elétrica .

A geração de biogás em um aterro sanitário é iniciada alguns meses após o início do depósito dos resíduos e

continua por 20 anos após seu encerramento. Uma tonelada de resíduo disposto em um aterro sanitário gera em média 200

Nm3 de biogás. Para comercializar o biogás através da recuperação energética seguindo o padrão do projeto de adequação

ao MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), e necessário que o aterro sanitário receba no mínimo 200 toneladas/dia

de resíduos, e que tenha a capacidade de recepção de resíduos de 500.000 toneladas e em sua vida útil a altura mínima de

carregamento de 10 metros ( WORLD BANK , 2005)

O Aterro Sanitário Metropolitano de Ceará-Mirim recebe por dia, 1,2 mil toneladas de resíduos. Cada célula

chega a receber cerca de 780 mil toneladas, a qual é preenchida no periodo de 3 anos (sendo esta reduzida após a

compactação natural do material). Sendo assim, o aterro se enquadra nas especificações descritas já que a capacidade

mínima seria de 200 toneladas/dia de resíduos, pela literatura ou segundo alguns autores, para geração de gás.

3.1 O ATERRO SANITÁRIO E O PROTOCOLO DE KYOTO

O projeto do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal visa queimar o gás para adquirir os Certificados de Emissão

Reduzida (CERs). Segundo Muniz (2005), o gás gerado no aterro pode ser comercializado se simplesmente for queimado, ou

seja, transformado de CH4 para CO2. O processo de Certificação se faz em um certo período de tempo, normalmente 1 ano,

no qual é contabilizado quantas toneladas de CO2 equivalente o aterro deixou de emitir para a atmosfera.“O investimento é

alto, espera-se que seja um custo competitivo”. O monitoramento e o aproveitamento dos gases para o Tratado de Kyoto, já

começou no início da operação do aterro. É necessário esse procedimento para avaliar o quanto de metano já existe quanto é

gerado por célula e como será confinado o gás.

Segundo Muniz (2005) o resíduo aterrado no Aterro Sanitário Metropolitano, situado no km 159, em

Massaranduba, distrito de Ceará-Mirim produz 1,4 mil metros cúbicos de biogás por hora. Cerca de 50% é metano. Para ter

valor comercial é preciso tratar e filtrar apenas o metano e que o estudo de viabilidade técnica e econômica do biogás está

em fase de conclusão.

A Braseco desenvolveu o seu projeto com vistas à redução das emissões atmosféricas dos gases emanados pela

decomposição da matéria orgânica do lixo depositado no aterro. O projeto atende a metodologia para elaboração de projetos

de mecanismos de desenvolvimento limpo que, no Brasil, é acompanhado pelo Ministério da Indústria Ciência e Tecnologia,

através do Comitê Interministerial de Mudança Global do Clima.

Desse modo, foi iniciado o processo de Consultoria a qual esta elaborando o projeto de adequação do aterro ao

MDL, bem como já estão em negociação com o Banco Mundial, responsável pela intermediação da venda dos créditos de

carbono. Além disso, foi exemplificado que para adequação ao MDL, se faz necessário realizar um estudo de viabilidade,

seguido do investimento, para torná-lo um potencial candidato a negociar os CERs. A concepção do projeto candidato ao

MDL vai passar por uma série de adaptações, onde uma delas consiste na implantação de 16 a 18 flares por célula, além dos

2 já existentes do projeto inicial de operação do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal. Para isso a BRASECO terá que

fazer um investimento inicial de, aproximadamente, 1,5 milhões de dólares.

Nesse caso a gestão do projeto do Aterro Sanitário Metropolitano de Natal, segundo MUNIZ (2013) a principio

visando a recuperação energética o aterro poderia utilizar o gás gerado no aterro para ser comercializado, com duas

possibilidades de recuperação, a geração de energia elétrica no aterro para ser lançada na rede de energia elétrica com uma

subestação da Cosern, e a segunda o lançamento no gasoduto da Potigás, contudo Muniz concluiu que o aterro não vai

gerar energia e sim entregar o gás para compressão a uma empresa especializada no setor de Gás e Biogás.

4.0 CONCLUSÃO

De tudo que foi analisado ao longo deste estudo, sobre os aspectos técnicos, ambientais e econômicos, conclui- se que:

A correta operação dos aterros sanitários traz contribuições à redução das agressões ao meio ambiente, e ainda

melhoram a qualidade de vida das populações, evitando a disposição em vazadouros, onde podem se tornar apropriados para

a proliferação de vetores, a poluição e a contaminação do solo, da água e do ar; e, quanto aos aterros sanitários, além de

representarem uma evolução em relação aos lixões a céu aberto e aos aterros controlados, deve-se lembrar, também, que estes

evitam igualmente que os resíduos sejam jogados nos logradouros públicos, onde acabam, muitas vezes, por entupir o

sistema de escoamento de águas pluviais, causando enchentes.

O processo de combustão do biogás, produzido nos aterros sanitários, pode ser uma alternativa importante como

fonte de energia. Além da oportunidade de geração de energia elétrica, diversificando a matriz energética com uma

alternativa descentralizada, a utilização do biogás de aterros contribui, também, para diminuir as conseqüências nas

mudanças climáticas, já que o gás metano, produzido pelo lixo, é muito mais nocivo que o gás carbônico na formação do

efeito estufa. Com isso, projetos de aproveitamento desse recurso, além dos demais benefícios, são passíveis de

enquadramento nos (MDL), e posterior comercialização de CERs, conforme previsto no Protocolo de Kyoto;

O Aterro Sanitário Metropolitano de Natal mostrou interesse em queimar o gás gerado pelo aterro, tornando-se um

potencial candidato a negociar os Certificados de Emissão Reduzida, porem para atender às normas técnicas que disciplinam

o credenciamento à venda futura dos créditos de carbono, o aterro deveria passar por uma série de adaptações, visando à

maximização do benefício ambiental e dos ganhos energéticos, que podem ser obtidos com a aplicação da coleta de gases.

Assim sendo o empreendimento não vai mais gerar energia e sim entregar o gás para compressão a uma empresa

especializada no setor de Gás e Biogás.

Avalia-se que o aproveitamento energético deve ser priorizado já que o gás proveniente de aterro pode ser

negociado com o Banco Mundial para venda dos créditos de carbono.

Como desdobramento deste trabalho, sugere-se o desenvolvimento de pesquisa voltadas ao Biogás tratado para uso

veicular e formas de utilização direta em meios de transporte (como feito pela COMLURB na década de 1980) e

aproveitamento dos gases provenientes dos aterros para novas aplicações comerciais, além da energética

Agradecimentos

Agradeço ao diretor presidente da BRASECO, Sr. Henrique Muniz Dantas e ao diretor técnico operacional

Alexandre Damazo Bernardes, pela atenção e esclarecimentos sobre o Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal.

5.0 REFERÊNCIA

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