pós-graduação em educação(módulo básico) - a psicologia do comportamento escolar

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Pós-Graduação em Educação Módulo Básico A Psicologia do Comportamento Escolar Rita de Cássia Spréa Uhle

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Pós-Graduação em Educação

Módulo Básico

A Psicologia do Comportamento Escolar

Rita de Cássia Spréa Uhle

FAEL

Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar

Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo

Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes

EDITORA FAEL

Autoria Rita de Cássia Spréa Uhle

Gerente Editorial William Marlos da Costa

Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues

Revisão Monique Gonçalves

Programação Visual e Diagramação Sandro Niemicz

ATENÇÃO: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael.

É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael.

EDITORA FAEL

Av. Visconde de Guarapuava, 5.406

Batel | Curitiba | PR | CEP 80240-010

FAEL

Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427

Lapa | PR | CEP 83.750-000

FOTOS DA CAPA

Anissa Thompson

Jos van Galen

Julia Freeman-Woolpert

Krishnan Gopakumar

Stefan Krilla

Viviane Stonoga

Todos os direitos reservados.

2012

A Psicologia do Comportamento Escolar

1 . Introdução

O comportamento escolar é reflexo do contexto e

dos relacionamentos de cada aluno. As situações mar-

cantes, problemáticas ou não, influenciam diretamente as

ações das crianças em seu ambiente, no caso a escola,

no qual precisam lidar com suas questões, colegas e

professores e também se encontrar no processo de

aprendizagem. Quando existem falhas, esse processo

é interrompido ou distorcido, gerando prejuízos para a

própria criança e para o ambiente escolar.

Problemas como desatenção, transtornos emocio-

nais ou psicológicos, traumas e até mesmo violência são

entendidos como fatores determinantes no comporta-

mento individual, que influenciam e ocasionam crises

nas salas de aula.

O objetivo deste trabalho é compreender esses

comportamentos e indicar as possibilidades oferecidas

pela psicologia no intuito de colaborar para um apren-

dizado dentro dos limites aceitos e, também, relaciona-

mentos aceitáveis tanto na escola quanto em casa.

Essa abordagem da psicologia comportamental

escolar é necessária, uma vez que, alunos reconhecidos

como preguiçosos ou desatentos na verdade podem

sofrer algum distúrbio e, com a intervenção correta,

podem se adequar ao padrão escolar e aprender dentro

de seus limites.

A relevância se dá pela necessidade de os profes-

sores reconhecerem cada tipo de transtorno, para assim

lidarem da maneira mais adequada com toda a turma,

identificando os conflitos, aprendendo a lidar com eles e

encontrando soluções para o convívio dentro da escola.

2 . Teorias da aprendizagem

O que é aprendizagem?

Todas as mudanças relativamente permanen-

tes no potencial de comportamento, que resul-

tam da experiência, mas não são causadas por

cansaço, maturação, drogas, lesões ou doen-

ças (LEFRANÇOIS, 2008, p. 6).

A aprendizagem pode ser considerada um resultado

da experiência vivida e vai além da definição de obtenção

de informações, uma vez que as informações obtidas nem

sempre se fazem óbvias no processo de aprendizagem.

As mudanças de comportamento são evidências da

ação da aprendizagem, mas isso não significa que todas

as mudanças de comportamento a procedam, pois alte-

rações resultantes de cansaço e drogas são temporá-

rias, e não se caracterizam como prova de que houve

aprendizagem. Ela implica em mudanças na capacidade

de fazer algo e na disposição em realizá-lo.

A generalização e a discriminação são importantes

na aprendizagem. A generalização diz respeito ao envol-

Resumo

O presente artigo tem como objetivo expor os com-

portamentos influentes em sala de aula, apresentando

suas causas, contextos e as consequências ocasionadas

pelas ações e decisões dos alunos, que muitas vezes

impedem o desenvolvimento próprio e de seus colegas.

Visa explanar a respeito do comportamento escolar por

intermédio das teorias de aprendizagem, a fim de com-

preendê-lo. Por meio desse reconhecimento, aplicar

estratégias, assim como teorias que a psicologia pro-

porciona para um tratamento e acompanhamento efe-

tivo na busca de bons relacionamentos sociais, melho-

rando as condições em sala de aula e aperfeiçoando o

aprendizado. Destaca transtornos e atitudes que

influenciam o ambiente estudantil. Utiliza como fonte

diversas bibliografias para compreender e basear

informações a respeito do assunto. Discute questões

relacionadas ao papel do educador no processo de

aprendizagem e no manejo com problemas caracte-

rísticos no comportamento escolar, com opções de

estratégias e práticas.

Palavras-chave

Comportamento escolar. Psicologia. Transtornos.

MÓDULO BÁSICO

2.

vimento com os comportamentos aprendidos anterior-

mente, na solução de novas situações. Nem todas as

situações podem ser apresentadas em sala de aula, por

isso a importância da generalização, uma vez que se

ensina para generalizar (LEFRANÇOIS, 2008, p. 127).

Já a discriminação complementa a generalização e

implica na distinção entre situações semelhantes que

precisem de respostas diferenciadas, agregando valor

ao aprendizado social, o que é certo fazer ou não.

2.1 Teoria científica

Teoria científica é o conjunto de afirmações con-

gruentes que objetiva explicar determinadas obser-

vações. A teoria tem o propósito de avaliar, resumir e

organizar fatos, assim como ser compreensível e simples

para melhor compreensão. E para entender as mudan-

ças comportamentais existe a teoria da aprendizagem.

Essa teoria, também conhecida como teoria com-

portamental, tem como objetivo organizar as hipóteses,

as observações feitas a respeito do comportamento

humano (LEFRANÇOIS, 2008, p. 22).

As teorias da aprendizagem tiveram suas origens

na explicação do comportamento baseado em instintos

e emoções (LEFRANÇOIS, 2008, p. 22). Existem duas

classificações para essas teorias:

behaviorismo – foco nos aspectos mais obje- xtivos do comportamento, como estímulo, res-

posta e recompensa.

cognitivismo – concentração nos conceitos xbiológicos, na atividade mental humana.

Os psicólogos behavioristas examinam o compor-

tamento real e as condições que levam a tal atitude,

lidam com estímulos, respostas ao comportamento. Já

os psicólogos cognitivistas, sem contradizer o beha-

viorismo, acreditam que o comportamento humano se

baseia em atividades como pensar, desejar, raciocinar,

o que envolve o processo intelectual, a formação de

conceitos, a memória e a percepção.

3 . Terapia cognitiva comportamental – TCC

A terapia cognitiva comportamental surgiu nos

anos 60 do século XX e foi implementada pelo psiquia-

tra Aaron Beck. Baseia-se em teorias desenvolvidas na

formulação de planos de tratamento e orientação das

ações do terapeuta. Possui dois princípios centrais

(WRIGHT; BASCO; THASE, 2008, p. 15):

as cognições têm uma influência controladora xsobre as emoções e os comportamentos dos

indivíduos.

o modo como as pessoas agem ou se compor- xtam pode afetar profundamente seus padrões

de pensamentos e suas emoções.

Existem três proposições fundamentais que definem

as características presentes na terapia cognitivo-com-

portamental (DOBSON apud KNAPP, 2004, p. 19):

a atividade cognitiva influencia o comporta- xmento.

a atividade cognitiva pode ser monitorada e xalterada.

o comportamento desejado pode ser influen- xciado mediante a mudança cognitiva.

Essa terapia tem como objetivo a correção das

distorções do pensamento (KNAPP, 2004, p. 20) e se

baseia na relação existente entre cognição, emoção e

pensamento, responsável pelo funcionamento normal

do ser humano.

Knapp (2004) afirma que a TCC se apoia no pres-

suposto teórico de que as experiências de cada indiví-

duo são determinantes na interpretação das situações

em seu contexto. O que ele pensa a respeito dos acon-

tecimentos gera determinadas emoções e comporta-

mentos. Esses pensamentos que influenciam, muitas

vezes, podem ser distorcidos, fato que é conhecido

como distorções cognitivas.

De acordo com Knapp,

Se a situação é avaliada erroneamente, essas

distorções podem amplificar o impacto das

percepções falhas. As distorções cognitivas

podem levar o indivíduo a conclusões equivo-

cadas mesmo quando sua percepção da situa-

ção está acurada. O objetivo da terapia cog-

nitiva é corrigir as distorções do pensamento

(2004, p. 20).

As técnicas utilizadas na TCC auxiliam na identifi-

cação, na avaliação e na modificação de pensamentos

e crenças disfuncionais, pois sabe-se que a alteração

desses pensamentos tem impactos significativos na vida

do paciente. As crenças, conceitos incondicionais esta-

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

3.

belecidos, formam-se com as experiências e se consoli-

dam durante a vida. Knapp (2004, p. 21) diz ainda que

“as crenças disfuncionais são absolutistas, generalizadas

e cristalizadas; [...] sendo ativadas nos transtornos emo-

cionais”.

3.1 Relacionamento professor-aluno sob a influência da TCC

Em pesquisas realizadas a respeito da psicoterapia,

Michael Lambert constatou que “o impacto do terapeuta

pode ter caráter tanto positivo, quanto negativo, por isso a

importância dos aspectos pessoais do profissional, bem

como da sua formação e treinamento” (LAMBERT apud

PICCOLOTO; WAINER; PICCOLOTO, 2008, p. 14).

Pode-se traçar um paralelo entre essa pesquisa

com o relacionamento vincular entre professor e aluno

na sala de aula. O vínculo positivo que o professor esta-

belece com seu aluno influencia o seu desempenho

durante todo o ano letivo.

Beck sempre considerou a necessidade de alguns

fatores específicos no tratamento terapêutico, tais como:

calor humano, empatia, genuinidade e confiança. A base

da TCC é a utilização do questionamento como instru-

mento de abordagem.

Uma das características atraentes da terapia

cognitivo-comportamental (TCC) é o emprego

de um estilo de relação terapêutica colabora-

tiva, simples e voltada para a ação. Embora a

relação entre terapeuta e paciente não seja

considerada o mecanismo principal para a

mudança como em algumas outras formas de

psicoterapia, uma boa aliança de trabalho é

uma parte essencialmente importante do trata-

mento (BECK apud WRIGHT; BASCO; THASE,

2008, p. 33).

Esses fatores específicos que Beck coloca como

fundamentais no vínculo terapêutico são habilidades

necessárias para o educador no ambiente escolar. A rela-

ção entre aluno e professor/educador define o curso do

comportamento no ambiente escolar. Para os autores, há

a necessidade de o profissional se envolver, demonstrar

compreensão e flexibilidade ao reagir às características

singulares de sintomas, crenças e influências em cada

pessoa. A colaboração entre ambos auxilia na identifica-

ção dos problemas e na busca por soluções.

Essas teorias são utilizadas pelos profissionais em

diversas situações, como no relacionamento e no com-

portamento em sala de aula.

Aprendizagem social pode significar toda a

aprendizagem que ocorre como resultado da

interação social (uma definição de processo)

ou o tipo de aprendizagem que está envolvido

na descoberta de quais comportamentos são

esperados e aceitáveis nas diferentes situações

sociais (LEFRANÇOIS, 2008, p. 391).

A teoria de aprendizagem social dá dois significa-

dos ao termo, uma aprendizagem ocorrida da interação

social, como uma consequência, e o processo pelo qual

todos aprendem. Essa aprendizagem é o conhecimento

a respeito do que é aceitável socialmente.

Para Guy Lefrançois, uma das mais importan-

tes tarefas de acompanhar o crescimento infantil é o

ensinamento sobre os comportamentos adequados no

aspecto social (2008, p. 373). Isso é a socialização.

As instituições são consideradas as maiores influências

nesse processo. E essas instituições são: família, igreja,

meios de comunicação, escola. As crianças recebem

delas valores e crenças que definem a cultura em que

estão inseridas.

Mas como uma criança aprende o que é social-

mente aceitável?

Albert Bandura, psicólogo, dá a resposta com o termo

“aprendizagem” por observação, que vem da imitação.

A teoria reconhece a enorme significância da

nossa capacidade de antecipar as consequên-

cias de nossos comportamentos, de simbolizar

e perceber as relações de causa e efeito. O

poder dos modelos tem a ver, principalmente,

com sua função informativa. Os modelos nos

informam não apenas como fazer certas coi-

sas, mas também as consequências que os

nossos comportamentos podem ter (LEFRAN-

ÇOIS, 2008, p. 376).

Dentro da aprendizagem por observação, encon-

tram-se alguns processos diferentes que completam

essa etapa:

processo de atenção x – a atenção é neces-

sária para aprender. Segundo Brandura (apud

LEFRANÇOIS, 2008), estar atento ao compor-

tamento depende da importância dada a ele.

Aquilo que é valorizado tem muita atenção.

MÓDULO BÁSICO

4.

processo de retenção x – além de prestar

atenção, é preciso lembrar o que foi visto. Exis-

tem dois tipos de representação no processo

de aprendizado: visual e verbal. Ambos são

importantes, porém cada um tem sua relevân-

cia para a transmissão de informações.

processo de reprodução motora x – com-

portamentos concretos são alcançados atra-

vés dessa imitação, que é feita com habilidade

física e intelectual. Pode promover a correção

da ação ou ensinamento passado.

processos motivacionais x – motivos são

razões e causas do comportamento e, para

aprender, é preciso haver motivação.

Para Brandura (apud LEFRANÇOIS, 2008), não

se pode definir o comportamento apenas pelas inter-

venções externas ou internas. Os estímulos externos

não são os únicos responsáveis pelo comportamento

humano, e o mesmo pode ser dito de estímulos inter-

nos. O autor acredita que existem três sistemas que, em

conjunto, determinam o comportamento das pessoas:

controle de estímulos x – ações reflexas

usadas para responder a determinados estí-

mulos, como medo, espirro, amor, susto.

controle de resultados x – alguns comporta-

mentos são controlados por suas consequên-

cias, são ações condicionadas.

controle simbólico x – atividades huma-

nas influenciadas por processos internos. Um

exemplo é o pensamento, que pode afetar o

comportamento das pessoas.

Existem vários fatores que influenciam o compor-

tamento, o qual pode ser determinado por problemas,

perdas e abusos. Mas, mesmo em face de situações

complicadas e desestruturadoras, há uma possibilidade

de manter um bom comportamento através de cuida-

dos, compreensão. Isso pode ser conhecido como resi-

liência.

A resiliência, que pode ser definida como resis-

tência aos choques, é uma maneira de enfrentar gran-

des problemas. Segundo Poletti e Dobbs, a resiliência

pode ocorrer em situações de risco devido a fatores de

estresse e tensão. As autoras dizem não ser uma tarefa

fácil acabar com todas as cicatrizes, mas os resilientes

podem viver com dignidade, ainda que tenham sofrido

abusos quando crianças. Para elas, os educadores

podem enxergar de outra maneira a evolução de seus

alunos, com muito mais atenção, disposição e motiva-

ção (2007, p. 17).

Essa característica surge a partir do temperamento

da pessoa, de seu contexto cultural, das marcas e feri-

das que possui, e do apoio que ela recebe. Ela está

na ajuda de organizações, no amor próprio, valorização

pessoal, religião e, por não ser uma constante, deve ser

incentivada sempre.

[...] cada um vive seus dramas e feridas de

maneira única e individual. Não se pode fazer

uma descrição padronizada das consequên-

cias de um trauma ou outro numa criança.

A maneira pela qual ela vai superá-lo ou não

depende de seu patrimônio genético, das

circunstâncias de sua primeira infância, das

mensagens que recebeu, das ligações afetivas

que criou e da segurança que estas lhe fizeram

sentir (POLETTI; DOBBS, 2007, p. 40-41).

A resiliência, como comportamento, pode ser ensi-

nada às crianças. Ela se constrói na união dos fatores

internos, por meio de mensagens verbais e visuais

ou elementos externos, com a presença de adultos,

acontecimentos importantes. Ela pode ser promovida

nas escolas pela motivação, pois com esse incentivo

a criança desenvolve competência social, aprende a

conviver bem com os outros, aprende a se comunicar

e busca a resolução de suas questões, estabelecendo

seus objetivos e pedindo auxílio quando necessário.

As autoras acreditam que a escola é um lugar essen-

cial para as crianças que estão sofrendo, independe-

mente dos problemas (POLETTI; DOBBS, 2007, p. 50).

Lá, ela precisa encontrar pessoas preocupadas com seu

bem-estar, assim como em casa; ter esperança, tendo

uma razão para acreditar em si mesma; ter oportunidade

de participação, aumentando sua autoestima e se sen-

tindo parte de um todo, segura, ativa e feliz.

4 . Gestão de relacionamento e comportamento escolar

Em qualquer escola, os mesmos alunos

podem se comportar de maneira diferente, em

diferentes cenários e com diferentes professo-

res. O comportamento do professor e o com-

portamento do aluno têm um efeito recíproco

um sobre o outro e sobre o sempre presente

“público” de colegas (ROGERS, 2008, p. 17).

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

5.

Bill Rogers afirma que tanto o professor quanto o

aluno ensinam um ao outro pelo seu comportamento

relacional diário (2008, p. 17). Rogers acredita que,

ainda que professor ou o aluno estejam passsando por

um dia ruim, o comportamento e a sua administração

podem influenciar na ocorrência de incidentes. Uma

importante ferramenta para benefícios em sala de aula

é ser um profissional reflexivo, que avalia a prática e a

gestão de ensino.

Entretanto, muitos comportamentos inadequados

em determinadas situações impedem que haja uma

real reflexão e, até mesmo, uma mudança de posicio-

namento. Rogers nomeia comportamentos secundários

atitudes como olhar de desaprovação, mau humor, irri-

tação e rebelião e diz que estes são considerados mais

intolerantes que os comportamentos primários, quais

sejam: não realizar tarefas, atrasos, etc.

Para haver um bom desenvolvimento do grupo de

alunos é necessário o estabelecimento da gestão com-

portamental por meio de práticas e habilidades. Durante

essa fase, o professor faz um acompanhamento para

destacar responsabilidades da turma, seus direitos e

deveres. Existem algumas metas da gestão de compor-

tamento a serem alcançadas (ROGERS, 2008, p. 49):

reconhecer/ser responsável por seu compor- xtamento;

respeitar os direitos, sentimentos e necessida- xdes dos outros;

construir relações funcionais. x

Muitas escolas utilizam o acordo comportamental

em sala de aula para estabelecer direitos e responsabi-

lidades compartilhados.

Os alunos participam, juntamente com seus

professores, de “um acordo” abordando direi-

tos, responsabilidades e regras em comum

sobre o comportamento e aprendizagem; as

consequências principais para um comporta-

mento inaceitável e uma estrutura de apoio

para auxiliar os alunos quando eles estão se

esforçando com seu comportamento e apren-

dizagem (ROGERS, 2008, p. 51).

Para que os alunos entendam o que lhes é pro-

posto, é preciso comunicação e linguagem adequada

ao contexto, assim como uma expressão dinâmica.

Quando utilizada de maneira correta, pode ser a base

para relacionamentos positivos e funcionais. Existem

alguns princípios básicos para o desenvolvimento dessa

linguagem, entre eles pode-se destacar uma interação

corretiva, declarações assertivas, tom de voz respeitoso

e positivo. O processo de ensino flui à medida que o

professor se apresenta interessado e envolvido no pro-

gresso de seu aluno com atitudes como encorajamento,

dedicação e positivismo.

De acordo com Bill Rogers, um professor precisa

de habilidade para se relacionar e se comunicar com

os alunos. Esses são atributos essenciais para motivar

o trabalho com tarefas e relações interpessoais (2008,

p. 151).

Todo comportamento gera uma consequência e o

professor necessita saber gerenciá-las.

Consequências comportamentais, como uma

característica de disciplina cuidadosa, são uma

tentativa do professor de ligar o comporta-

mento perturbador ou errado do aluno a um

resultado que, espera-se, enfatizará a impar-

cialidade e a justiça, e até mesmo ensinará à

criança alguma coisa sobre responsabilidade

final (ROGERS, 2008, p. 156).

A aplicação de consequências sugere uma orga-

nização de resultados, permitindo aos alunos experi-

mentarem a reação de suas atitudes comportamentais.

Assim como escolhem incomodar, optam por enfrentar

as consequências geradas.

As detenções também podem ser usadas

para rastrear se alunos, turmas e professores

estão passando por dificuldades. Elas são uma

“advertência antecipada” de que professores

experientes podem (e deveriam) oferecer apoio

moral e prático (ROGERS, 2008, p. 172).

Para lidar com essas reações, é preciso haver uma

administração das consequências negociáveis e não

negociáveis. Ambas devem ser explicadas de antemão,

apresentando as questões envolvidas como comporta-

mentos aborrecedores frequentes ou não. Também é

necessário equilibrar os aspectos disciplinares com o

apoio adequado: mediação, restituição, aconselhamento

e até planos de comportamento para cada aluno.

5 . Inteligência emocionalÉ a capacidade natural que nós, os humanos,

temos para gerir nossas emoções com o obje-

tivo de nos adaptarmos às circunstâncias de

MÓDULO BÁSICO

6.

As crianças precisam, assim como todos os indivíduos, de regras para manter um bom relacionamento.

nosso ambiente; capacidade que podemos

melhorar mediante a introspecção e a prática

(AGÜERA, 2008, p. 91).

Baron (apud AGÜERA, 2008, p. 92) define a inteli-

gência emocional a partir de três fatores:

percepção da emoção x – itens que reco-

nhecem as emoções por expressões faciais,

desenhos e relatos.

compreensão da emoção x – itens que

reconhecem a mudança das emoções ao

longo do tempo e como se misturam.

regulação das emoções x – testes qualifica-

dores das estratégias a serem seguidas, situa-

ções problemáticas de ordem emocional.

Para Agüera (2008), a inteligência emocional é

fator determinante para o sucesso profissional e até

mesmo de domínios científicos. A inteligência emocional

é composta por competências; a primeira é emocional,

a segunda, competência pessoal e, por fim, competên-

cia social. Com uma boa administração de ambas, é

possível um contentamento individual, apesar de dile-

mas, e um bom relacionamento interpessoal.

Goleman (apud AGÜERA, 2008, p. 95) define a

competência emocional como:

uma meta-habilidade composta pelas habi-

lidades de saber controlar os impulsos emo-

cionais, saber desprender-se dos estados de

ânimo negativos e saber adiar gratificações

(2008, p. 95).

5.1 Comportamento em sala de aula

A indisciplina é um problema comum em salas de

aula e demanda do professor atitudes corretivas e dis-

ciplinares. A conduta indisciplinar pode ser causada por

diversos fatores, como problemas psicológicos, familia-

res, estruturação familiar e pode, também, transformar-se

com o contexto social em que a criança esteja inserida.

As situações de indisciplina têm relação com uma

perspectiva pedagógica, uma vez que problemas peda-

gógicos influenciam atitudes indisciplinares.

Segundo Silvia Parrat-Dayan “a disciplina é um

conjunto de regras de conduta estabelecidas para man-

ter a ordem e o desenvolvimento normal das atividades

de uma aula ou num estabelecimento escolar” (2008,

p. 20). A autora diz que o conceito de indisciplina se

traduz de várias maneiras e também por diversas inter-

pretações, existem três referências para a avaliação,

a do aluno, a do professor e a da escola. A indisci-

plina se mostra nas condutas e nos relacionamentos

interpessoa is do aluno.

A avaliação é feita pela escola, por exemplo, na

ausência de valores democráticos ao se declarar como

tal, e da perspectiva do professor se ele obedece ou não

as normas estabelecidas e sua intervenção em questões

problemáticas com seus alunos.

As crianças precisam, assim como todos os indiví-

duos, de regras para manter um bom relacionamento no

ambiente em que estão inseridas, nesse caso, a escola.

Quando essas regras não são devidamente assimiladas

ou seguidas, existe o problema indisciplinar, o qual é

associado a problemas de moral.

Agir moralmente significa se conformar às

regras da moral, que são exteriores à consciên-

cia da criança porque foram elaboradas sem

ela. Mas chegará o momento em que a criança

entrará em contato com essas regras. Esse

momento da existência da criança é decisivo

no que diz respeito à formação da disciplina

(PARRAT-DAYAN, 2008, p. 32).

As regras são necessárias ao ambiente escolar,

uma vez que agem como instrumentos no processo

de educação moral. A autora sugere que uma escola

democrática promove e favorece a cooperação e a inte-

ração entre os alunos e que é a fonte de autonomia

intelectual e moral.

Os motivos para a indisciplina podem ser encon-

tradas tanto nas escolas como fora delas. As causas

externas podem ser influência de programas de TV,

relacionamentos sociais, falta de valores e problemas

familiares. Já as internas estão presentes na relação

professor-aluno, adaptação ao contexto, perfil do aluno,

interesse e habilidades.

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

7.

De um modo geral, a indisciplina pode ser enten-

dida como um problema de razão social e, por isso,

deve ser considerada uma questão pedagógica para ser

compreendida nos relacionamentos entre professor e

aluno (intervenção escolar). Ela deve ser vista não ape-

nas como um problema pessoal, mas como parte da

responsabilidade das instituições de ensino. É na sala de

aula que o aluno vai aprender tanto o conteúdo quanto

o manejo de conflitos.

Para combater a indisciplina nas escolas é preciso

levar em consideração o desenvolvimento da criança e

adotar postura e ideia construtivistas e motivacionais.

Isso por meio de democracia, estímulo ao respeito,

debate, atitudes que dependem da formação do profes-

sor. Segundo Dayan, educar não é estabelecer exigên-

cias às crianças, é fixar normas e supervisionar para que

sejam cumpridas (2008, p. 69).

Um projeto de investigação, que foi dirigido por

Neuenschewander (apud PARRAT-DAYAN, 2008, p. 70),

sugere quatro tipos de gestão de classe, com as regras

sociais elaboradas:

soberano x – equilíbrio entre regras e flexibi-

lidade.

regulamentado x – pouco flexível.

relacional x – há muita flexibilidade e poucas

regras.

desorganizado x – não há regras ou flexibi-

lidade.

O soberano é o mais exigente, contudo, eficaz por

sua avaliação de ensino.

5.2 Habilidades sociais em sala de aula – professor e aluno

Turmas difíceis de lidar podem desestruturar um

bom professor, abalando a confiança dos mais expe-

rientes. Por essa razão, é importante contar com o apoio

dos colegas no desenvolvimento de um plano de ação

colegial para restabelecer a turma “difícil”.

O professor precisa, por meio de habilidades, estru-

turar interações sociais educativas, pois seu posiciona-

mento – maneira de lidar com os objetivos propostos

com os alunos – pode interferir no comportamento da

sala em geral.

É preciso levar em consideração algumas questões:

quantos são os alunos perturbadores, quão frequentes

são suas ações e quem são os líderes desse comporta-

mento. Assim que reconhecidas, o professor pode fazer

reuniões com sua turma a fim de responder à seguinte

pergunta: o que podemos fazer para mudar nossa sala

de aula e como?

O professor pode destacar os direitos e as respon-

sabilidades dos alunos, provando que o comportamento

pode afetar a segurança da turma e mostrando quais as

consequências de não agir conforme as regras estabe-

lecidas. Segundo Bill Rogers (2008), os alunos devem

estar cientes dos resultados da reunião e o professor

deve publicá-los sempre que possível, de maneira posi-

tiva e estimulante. O autor oferece um roteiro de ações

para lidar com o mau comportamento em sala de aula,

com o apoio de colegas:

análise do problema x – por meio de um

contato planejado, estruturado.

estabelecimento de objetivos x – con-

quistar a atenção dos alunos ou habilidades

particulares na linguagem da disciplina, por

exemplo.

feedback x – apresentar os resultados dos

objetivos conquistados.

desengajamento x – o professor recebe o

apoio mais distante, dando-lhe a oportunidade

de se ajustar às habilidades encontradas.

Silvia Parrat-Dayan acredita que o professor não

pode apenas transmitir seu conhecimento, e sim guiar e

acompanhar o seu aluno nas atividades, investigações e

tentativas (2008, p. 116).

Além do mais, o educador é o persona-

gem-chave no que se refere ao desenvolvi-

mento de interações positivas; portanto, ele

desenha, em colaboração com toda a equipe

educativa, uma estratégia que mostre aos

alunos a necessidade de escutar, de dialogar,

de ter tolerância, de enfrentar os conflitos,

de reconhecer os erros e de conseguir pro-

gressivamente a independência de critério

( PARRAT-DAYAN, 2008, p. 116-117).

Sentimentos, transtornos, família e acontecimentos

são peças expressivas na construção do caráter das

crianças e ajudam a definir a personalidade e as ações

de cada uma. Quando passam por situações embaraço-

sas, constrangedoras ou até mesmo problemáticas, as

MÓDULO BÁSICO

8.

crianças tendem a revelar suas frustrações por meio de

comportamentos, assim como ocorre em momentos de

alegria. Esses comportamentos influenciam seu apren-

dizado e os relacionamentos sociais.

Com dinamismo, trabalhos criativos e motivação,

um professor pode proporcionar uma mudança em sala

de aula, incentivando responsabilidade e o anseio por

aprender.

O profissional que cuida de uma criança com difi-

culdade de aprendizagem, para garantir a normalização

das aquisições de conhecimento, precisa conhecer a

maneira como se dá o aprendizado, os fatores influen-

tes, as características pessoais e de desenvolvimento.

Somente assim terá as condições necessárias para

determinar a melhor opção terapêutica.

A aprendizagem, como um fenômeno psicológico,

precisa ser compreendida em diversos fatores, tanto bio-

lógicos quanto psicossociais, já que a inteligência interage

com a emoção, agregando valor ao processo cognitivo.

5.3 Emoção na sala de aula

As emoções são sinais entre animais da mesma

espécie, que comunicam duas mentes entre si (HOBSON

apud AGÜERA, 2008, p. 78). Essas emoções podem

ser positivas ou negativas, mas sempre são traduzi-

das pelo comportamento social. Em uma sala de aula,

os alunos estão sempre apresentando suas emoções

com variados comportamentos, ansiosos por atenção,

mesmo que para isso desafiem, instiguem, questionem

ou, até mesmo, ofendam. Esses alunos são conhecidos

como desafiadores.

Esses estudantes fazem parte de um grupo que

representa 5% do geral, com comportamentos carac-

terísticos, inconvenientes e perturbadores. Existe também

o grupo de alunos que participa e se dedica, o qual,

segundo que segundo as estatísticas, é a maioria, 80%.

O comportamento, para Rudolf Dreikurs (apud

ROGERS, 2008, p. 171), dirige-se a objetivos específi-

cos e particulares, tendo como base a busca por acei-

tação social. Há crianças que procuram se adaptar por

meio de comportamentos atentivos. O autor desafia os

educadores a encontrarem o objetivo comportamental

de seus alunos.

6 . Bullying influenciando o comportamento escolar

A definição de bullying, segundo Fante:

Palavra de origem inglesa, adotada em mui-

tos países para definir o desejo consciente e

deliberado de maltratar uma outra pessoa e

colocá-la sob tensão; termo que conceitua

os comportamentos agressivos e antissociais,

utilizado pela literatura psicológica anglo-saxô-

nica nos estudos sobre o problema da violên-

cia escolar (2005, p. 27).

Esse fenômeno é antigo, mas professores e edu-

cadores só começaram a ter consciência da relevância

dele a partir dos anos 70 do século XX.

Conflitos entre alunos são comuns em determina-

das situações, porém, se essa agressividade é intencio-

nada, há uma influência no contexto da sala de aula,

promovendo comportamentos similares.

Não é um comportamento restrito a crianças de

baixa renda e sua ação é percebida em muitas esco-

las em todo o país, sejam elas municipais, estaduais ou

particulares. O bullying é um problema crônico, que gera

baixa autoestima e dificuldades de relacionamento.

Agressões marcam a personalidade e a vida de uma

criança e de um jovem por toda sua vida. As consequên-

cias são diversas e podem ocasionar decisões erradas,

assim como falhas de comportamento. Questões como

essas são preocupantes tanto para pais e educadores

quanto para psicólogos, por isso a necessidade de se

investigar mais sobre esse tema, descobrindo causas,

coibindo a violência, trazendo as informações relevantes

a respeito do bullying para dentro das salas de aula e

indicando opções de tratamento de casos relacionados.

Uma reação para incidentes de bullying na escola

envolve algumas características como a colaboração e a

contextualização da perspectiva. A colaboração implica

uma atitude dos educadores de minimizar a problemática

entre os alunos necessitados de assistência, buscando

cooperação e colaboração com uma parceria positiva

no controle de problemas relacionados ao desrespeito

e ao bullying. Já a contextualização serve para indicar

uma perspectiva sociocultural, otimizando uma análise

dos contextos da vida social da criança.

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

9.

Uma forma para diminuir esses problemas é a

exteriorização de pensamentos e sentimentos, o que

pode transformar a visão de uma criança briguenta

na de alguém que precisa de ajuda para lidar com a

raiva, a frustração e a violência. Os problemas, quando

exteriorizados, podem ser encarados como algo a ser

controlado, o que pode gerar um sentimento de respon-

sabilidade no tratamento deles.

É preciso que haja o conhecimento da realidade da

escola, reconhecendo as diversas formas de violência

escolar. O educador deve ter como objetivo e, a partir

daí, compreender seu papel para evitar e até mesmo

eliminar esse tipo de atitude dentro de sala de aula.

Para identificar o bullying, faz-se uma investigação

em sala de aula, utilizando um questionário, que pode

abranger um contexto mais amplo ou ser mais espe-

cífico e fazer perguntas descritivas e diretas. Existem

instrumentos de investigação que servem como identi-

ficação de alunos problemáticos, vítimas de agressões,

como a redação sobre a vida familiar ou uma entrevista

particular, em que o aluno é questionado sobre sua

rotina e costumes familiares.

Além desses aspectos, existem algumas vantagens

com o estímulo ao vínculo, como o esforço do aluno em

ser o melhor que puder, a construção da autoestima, a

segurança, a satisfação, o compromisso e a participação.

Os educadores podem criar oportunidades de

os alunos tornarem visíveis o eu de sua pre-

ferência e sua determinação, mesmo quando

todas as pessoas têm uma história proble-

mática a respeito desses alunos – casos de

fracasso, de bullying ou de falta de respeito

(BEAUDOIN; TAYLOR, 2006, p. 121).

A colaboração de todos na turma é uma ação valo-

rizada para minimizar os efeitos e as consequências do

bullying. No entanto, para que ela aconteça, métodos

de competitividade não devem coexistir. A autorreflexão

também é uma ação necessária para que o contexto seja

modificado. Ela traz vantagens ao permitir uma avaliação

dos valores e intenções, habilidade de atenção e percep-

ção e melhoria do relacionamento com outras pessoas.

Reconehcendo e avaliando os problemas que

envolvem bullying, é o momento de alterar a realidade

escolar pelas estratégias de intervenção. Esse posicio-

namento facilita a reflexão, promovendo a humanização

dos problemas, o que os torna comuns a todos e propi-

cia um envolvimento geral na busca da solução concreta

para ele.

6.1 Perfis existentes no bullying

Existem três personagens envolvidos nessa reali-

dade: o agressor, a vítima e o espectador ou testemu-

nha. O perfil do agressor é caracterizado pela presença

de violência, muitas vezes aprendida com adultos rela-

cionados. Ele tem um caráter provocador e intimidador e

possui dificuldades de relacionamento, pois acredita que

tudo deve ser feito conforme seu desejo.

A vítima é a criança tímida e retraída, que não tem

capacidade de se defender, por se sentir insegura, dis-

criminada e excluída. Ela não se sente à vontade no

ambiente escolar e pode desenvolver inúmeros dis-

túrbios de personalidade, como se tornar uma pessoa

ansiosa, depressiva, com grandes danos à sua auto-

estima.

Já a testemunha é a criança que não participa do

ato de violência ou é submetida a ele, mas o presencia

em seu cotidiano e não denuncia por insegurança ou

medo da reação do agressor. Isso gera conivência e até

mesmo a falsa sensação de que ações como o bullying

não são tão erradas.

6.2 O papel do educador

Existem diversas causas que auxiliam no envol-

vimento de crianças e adolescentes com bullying. Os

alunos, para Beaudoin e Taylor (2006, p. 45), não são

o problema, mas sim “o sentimento da falta de opções

(devido aos bloqueios contextuais) [...]”. De acordo com

as autoras,

Os jovens envolvidos em questões de desres-

peito e bullying precisam de um auxílio que

eles realmente possam fazer escolhas dife-

rentes [...] isso não significa adultos expondo

opções, mas sim jovens que são convidados

a realizar um processo mais aprofundado de

autoinvestigação, dado o contexto específico

de suas vidas (2006, p. 44).

O educador deve considerar o contexto em que

cada um de seus alunos vive e está envolvido. Não

MÓDULO BÁSICO

10.

A separação dos pais pode interferir no bom comportamento da criança.

pode apenas julgar a situação pelo ato em si, mas antes

conhecer as histórias, problemáticas ou não.

De acordo com Beaudoin e Taylor (2006, p. 48):

Se os educadores reconhecerem que

nenhuma verdade efetiva pode ser descoberta,

mas sim apenas a perspectiva de cada aluno e

sua experiência subjetiva da situação, estabe-

lece-se um tipo bem diferente de conversa. Os

alunos sentem-se então ouvidos e respeitados,

talvez não tentem provar nem defender nada,

e cria-se um contexto no qual pode surgir a

compreensão e a resolução de problemas.

A verdade não pode ser encontrada, mas existe

uma diversidade de perspectivas a serem conhecidas

e analisadas. A punição para as consequências de atos

irresponsáveis nem sempre é útil para modificar o com-

portamento do aluno, antes colaboram com as pres-

sões, frustrações e resistência a autoridade. As punições

constantes “levam professores e aluno a ficar presos em

um ciclo vicioso cheio de problemas, no qual as mes-

mas reações se repetem” (BEAUDOIN; TAYLOR, 2006,

p. 53).

Para haver mudança no comportamento, as boas

intenções contam e são importantes, mas por si só não

são determinantes para a transformação. A presença

da capacitação e do encorajamento aos alunos se faz

necessária para que eles cumpram esse propósito.

6.3 Divórcio e novo casamento

A separação dos pais causa sofrimento na criança,

sentimento que gera marcas, as quais, se não forem per-

cebidas, podem ter influência no comportamento atual

e futuro da criança, tanto na família quanto na escola. A

autoestima é gerada pela identidade adquirida de ambos

os pais e, quando há uma separação, essa identidade se

perde, tornando a criança isolada e retraída.

Após todo o processo de separação, a criança pre-

cisa se sentir segura, sabendo o que aconteceu a ela e

à sua família. Por isso é preciso administrar sentimentos,

informações e até o comportamento em sala de aula.

Se a criança começa a apresentar mau rendimento ou

um comportamento inaceitável em sala, ela pode estar

passando por problemas em casa.

Para trabalhar o problema de uma forma positiva,

existem estratégias como: histórias e programas de TV

que ajudem a turma a entender os sentimentos experi-

mentados em situações semelhantes. Atividades espor-

tivas, de lazer, podem ajudar a criança a esquecer ou

a desviar seus pensamentos referentes ao problema, à

frustração. Outra atividade interessante é a de expres-

são emocional, na qual a criança pode se expressar por

meio de música, filme, arte, etc.

A separação dos pais pode interferir no bom com-

portamento da criança e, se isso acontecer, ela preci-

sará de apoio para enfrentar tal situação, necessitará de

alguém que a escute, que lhe dê atenção e a motive a

se ocupar com as tarefas escolares.

7 . Influência dos transtornos psiquiátricos/emocionais na sala de aula

A criança pode sofrer transtornos psicológicos,

sociais, físicos, ocasionados por perdas e frustrações.

Problemas como esses estão presentes em sala de aula

e precisam ser reconhecidos para serem tratados da

maneira adequada.

Esses transtornos podem acontecer em qualquer

fase da vida, contudo, são comuns à infância, e os pro-

fessores devem estar preparados para receber crianças

que passaram por algum problema. Situações como o

ciclo inicial da escola básica, a não aceitação ou ridicula-

rização por parte de crianças mais velhas podem causar

euforia, mal-estar e angústia. Muitas vezes a criança não

se sente acolhida na escola.

Para lidar com esses transtornos emocionais, não

é preciso uma fórmula mágica ou um padrão preesta-

belecido, uma vez que cada criança tem características

específicas e problemas individuais. A generosidade e a

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

11.

compreensão do contexto social e emocional são alia-

das no reconhecimento e no tratamento de transtornos.

As desordens emocionais são ocasionadas, em sua

maioria, por abusos. Uma criança pode passar por situa-

ções problemáticas e ser abusada fisicamente, emocio-

nalmente, sexualmente ou até por negligência.

Abuso físico x : tapas, socos e queimaduras,

feitos por pais, familiares ou responsáveis.

Abuso emocional x : causado por rejeição,

maus tratos. É um dos mais difíceis de ser

reconhecido, pois influencia diretamente no

desenvolvimento emocional da criança.

Abuso sexual x : toques inadequados, porno-

grafia, ou algum envolvimento para o qual a

criança não está preparada ou com o qual não

consentiu.

Negligência x : ignorância com relação às

necessidades da criança, todo tipo de des-

cuido, como deixar de alimentar, vestir ou até

mesmo cuidar da saúde da criança.

O abuso pode ocorrer no ambiente escolar, sendo

que pode conter as características de um mais tipos de

violência. Faz parte do papel de educar estar atento aos

sinais de abuso.

As crianças podem apresentar problemas especí-

ficos e transtornos característicos, os quais dificultam

o processo de aprendizagem e interrompem o desen-

volvimento de relações e do comportamento em sala

de aula. Um transtorno conhecido e bastante comum

em crianças de idade escolar é o transtorno de deficit de atenção.

7.1 Transtorno de deficit de atenção e hiperatividade – TDAH

Trata-se de um problema comum e constante

em escolas, muitos professores e educadores ainda

não sabem lidar com portadores desse transtorno. De

acordo com o DSM-IV-TR (2002, p. 112), a definição

de TDAH é a seguinte:

Alguns sintomas hiperativo-impulsivos que

causam comprometimento devem ter estado

presente antes dos 7 anos, mas muitos indi-

víduos são diagnosticados depois, após a

presença dos sintomas por alguns anos [...].

Algum comprometimento deve estar presente

em pelo menos dois contextos (por ex. em

casa e na escola ou trabalho). [...] Deve haver

claras evidências de interferência no funciona-

mento social, acadêmico ou ocupacional pró-

prio do nível de desenvolvimento [...].

A criança portadora de TDAH pode apresentar

vários sintomas, contudo, destacam-se a desatenção,

a hiperatividade ou a impulsividade, separadamente

ou em conjunto. Esse transtorno, por ser crônico, não

pode ser eliminado, mas tratado para que a criança

com essa síndrome possa ter sua vida organizada,

apresentando um comportamento funcional tanto em

casa como na escola.

O TDAH surge, geralmente, no início da infância

e permanece durante toda a fase adulta, tendo como

principais sintomas a distração e a impulsividade, além

da incapacidade de relacionamento e adequação aos

colegas. Mesmo que esses sintomas possam acontecer

em idades diferentes, são mais acentuados na infância,

e, mesmo que a criança conheça as regras estipuladas,

não as obedece em situações sociais.

A incidência de TDAH em crianças é muito comum,

principalmente em idade escolar (6 a 12 anos). O

comportamento dessas crianças pode ser exagerado

em relação às atividades (tarefas chatas, complicadas,

fáceis) e as habilidades se mostram deficientes, gerando

prejuízos nas relações sociais.

Educadores que lidam com crianças portadoras

desse distúrbio devem levar em consideração os sinto-

mas que variam de acordo com o estágio do desenvol-

vimento da criança, para auxiliar na identificação do pro-

blema, assim como no seu tratamento. A hiperatividade,

por exemplo, é mais percebida em crianças mais jovens.

Já a desatenção é percebida em crianças mais velhas,

intensificando-se em jovens, uma vez que o grau de

atenção exigido para determinadas atividades aumenta

conforme a idade.

Crianças com TDAH com prevalência de desaten-

ção tendem a se isolar mais, dificultando os relaciona-

mentos e a maturação, a qual depende de habilidades

sociais para existir, assim como gera uma ansiedade e

resistência no envolvimento grupal.

Existem algumas técnicas de avaliação que podem

ser usadas para o diagnóstico do TDAH, tais como:

MÓDULO BÁSICO

12.

O TDAH geralmente se apresenta com comorbidades, ou seja, outros transtornos em conjunto.

entrevistas e coleta de histórias x – o his-

tórico familiar, médico, psiquiátrico e as entre-

vistas com familiares e com o próprio paciente

são ferramentas importantes para identificar o

perfil sintomático de TDAH. São avaliadas qua-

tro áreas: ambiente familiar, desempenho esco-

lar, relações sociais e funcionamento pessoal.

observação x – é uma técnica pouco utilizada,

porém, eficiente, pois auxilia no acompanha-

mento do paciente em situações regulares e

pode melhorar o diagnóstico. São avaliados

sinais como: inquietação motora, atenção e

impulsividade, habilidades sociais e de relacio-

namento.

Além de medicamentos, existe o tratamento psi-

cológico que, muitas vezes, é a melhor indicação para

determinados pacientes que apresentam, por exemplo,

deficit de habilidades escolares. Ainda que o remédio

auxilie na melhora em alguns pontos específicos, não

é o suficiente.

Uma intervenção utilizada com frequência no manejo

do comportamento em sala de aula inclui o controle de

contingência, em que a atenção positiva ou negativa do

professor se faz reforço; as estratégias cognitivo-com-

portamentais, em que são trabalhadas a autoconversa; a

repetição de instruções e a aprendizagem assistida por

pares, um método eficaz no aumento das habilidades

escolares (podem ser escolhidos colegas para ajudar a

copiar as tarefas).

As crianças com TDAH apresentam prejuízo no

desempenho escolar em vários níveis. Assim,

os programas para ensinar habilidades esco-

lares precisam ter como alvo tanto habilida-

des gerais quanto específicas. As habilidades

escolares geralmente são ensinadas por meio

de estratégias cognitivo-comportamentais em

aulas especiais ou professores particulares

(CONNERS, 2009, p. 83).

A terapia multimodal é indicada por ser eficaz e

consiste em medicamentos e tratamentos psicossociais

e, além disso, há o treinamento dos pais, controle em

sala de aula, reforço comportamental e terapia para

habilidade social (CONNERS, 2009, p. 86-87).

O TDAH geralmente se apresenta com comorbi-

dades, ou seja, outros transtornos em conjunto. Essas

comorbidades podem ser: desvios de conduta, trans-

tornos de humor (bipolaridade, depressão) e ansiedade.

Quando há o diagnóstico desses transtornos é preciso

haver também um tratamento específico para o conví-

vio social adequado. Uma doença comórbida bastante

comum é o transtorno desafiador de oposição.

7.2 Transtorno desafiador de oposição – TDO

Esse transtorno consiste em um comportamento

opositivo às figuras de autoridade e, em geral, é dire-

cionado a pais e professores. Há sempre uma agressi-

vidade latente na criança, ela discute sobre tudo e culpa

outros por suas atitudes.

A criança com TDO apresenta, em geral, baixa

autoestima devido às frequentes críticas que

recebe e pela sensação de que está sendo

injustamente criticada e punida. Esse padrão

de comportamento gera consequências nega-

tivas a longo prazo, e está associado a vários

marcadores de mau prognóstico na vida adulta

(ROHDE; MATTOS, 2003, p. 86).

O tratamento indicado para TDO é o cognitivo-com-

portamental, no qual acontece um acompanhamento do

paciente em questão e de sua família no conhecimento

a respeito da doença e quais as maneiras possíveis para

lidar com ela, tanto em casa como na escola, proporcio-

nando assim uma vida social saudável.

7.3 Transtorno de conduta

Outro transtorno possível de ser diagnosticado

como comorbidade é o transtorno de conduta, no qual

se reconhecem mentiras frequentes, fugas, abusos e

crueldade. Esses fatores colaboram para destruir rela-

cionamentos sociais, familiares e escolares, prevale-

cendo até a idade adulta.

O transtorno de conduta, de acordo com o

DSM-IV-TR (2002), é um padrão repetitivo e persistente

de comportamento, no qual são violados os direitos

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

13.

básicos dos outros ou as normas sociais. O transtorno

envolve violar regras, causar perdas ou danos a pro-

priedades, defraudar ou furtar e causar danos físicos a

pessoas ou a animais.

A investigação e a avaliação correta em relação às

comorbidades pode ajudar na identificação de grupos

de pacientes específicos e na busca pelo tratamento

correto. Estando ciente do histórico familiar, de acon-

tecimentos marcantes e características pessoais do

paciente, há a oportunidade de respostas para o manejo

dos transtornos e a modificação cognitiva, já que esta

pode ser alterada com o propósito de melhorias, tanto

individuais quanto sociais.

7.4 Depressão na infância

Existe ainda a depressão infantil, em que são iden-

tificadas alterações no comportamento, como retrai-

mento, irritação, desânimo e agressividade. Entre as

razões existentes para o surgimento da depressão nessa

fase, podem ser destacadas: o próprio diagnóstico de

TDAH, baixa autoestima, aceitação da família e colegas,

assim como problemas decorrentes desse transtorno. A

depressão, aliada ao TDAH, prejudica a vida estudantil

da criança, gerando mais falta de atenção e interesse

pelas atividades propostas em sala, como também a

dificuldade de aprendizagem.

A depressão nessa fase pode existir por si só ou

estar associada a alguns fatores relevantes na vida da

criança. De acordo com Aquino (1999, p. 65), a infância

é um tempo de desenvolvimento e aprendizagem, assim

como de descoberta de oportunidades e desafios. Nesse

período, a depressão é mal compreendida. A criança se

mostra infeliz, desinteressada, com a autoestima baixa.

Tem a sensação de não ser amada, não se sente segura

e por essa razão sofre e se afasta dos demais, o que

prejudica seu desenvolvimento e sua interação com

outras crianças e também familiares.

Ainda segundo Aquino, o prazer é parte integral da

vida de uma criança e um componente necessário para

a aprendizagem, crescimento e divertimento (1999,

p. 67).

Existem alguns comportamentos que indicam a pre-

sença da depressão na vida de uma criança: frequên cia

e rendimento escolar baixos, fugas de casa, problemas

de relacionamento com colegas e família. Essa interação

de múltiplos fatores pode ocasionar grande dificuldade

educacional, gerando um aprendizado fraco, quase ine-

xistente.

As crianças em idade escolar podem receber estru-

tura a apoio nesse ambiente, para lidar com sentimentos

fortes e muitas vezes incompreensíveis. Os professores,

unidos aos pais, podem oferecer cuidados a fim de

reduzir a reação depressiva, mostrando à criança que é

amada e não ficará sozinha. Mas, além da intervenção

de pais e educadores, profissionais podem colaborar

nesse processo de solução do conflito, com avaliações

mais aprofundadas, testes criteriosos e terapia individual,

assim como familiar.

7.5 Transtorno da ansiedade generalizada

De acordo com o DSM-IV-TR (2002), o transtorno

de ansiedade generalizada consiste em ansiedade e

preocupação excessivas com diversos eventos ou ati-

vidades. Ocorre na maioria dos dias durante aproxima-

damente seis meses, sendo que o indivíduo considera

difícil controlar a preocupação.

Esse transtorno está associado a sintomas como:

irritabilidade, inquietação e dificuldade de concentra-

ção. A psicoterapia, terapia cognitiva comportamental

em questão, busca conceder aos pacientes o desen-

volvimento de estratégias para lidar com os sintomas

da ansiedade.

7.6 Transtorno alimentar

A bulimia nervosa (BN) e a anorexia nervosa (AN)

são distúrbios alimentares, assim como o grupo dos

não definidos (Ednos), que são mais comuns entre os

pacientes.

A TCC para o tratamento desse transtorno tem

como objetivo a redução dos sintomas. Knapp explica

que “o foco cognitivo é a preocupação extrema com a

forma e peso e a proposta de atitudes alternativas mais

saudáveis em relação à comida, peso, forma e imagem

corporal” (2004, p. 301).

Barlow acredita que tanto a BN quanto a AN podem

ser tratadas pela TCC, ainda que a primeira seja mais

MÓDULO BÁSICO

14.

pesquisada. Para ele, as estratégias terapêuticas se

estendem a outros transtornos, como a AN (1999,

p. 314). No caso da BN, o tratamento é realizado com

a psicoeducação, com informações a respeito dos sin-

tomas da bulimia, compulsões alimentares e as conse-

quências médicas.

A AN é considerada um transtorno grave e tem seu

tratamento diferenciado da BN. Um programa de TCC

de três estágios foi desenvolvido para a AN. Nele se

avalia a natureza do distúrbio, auxiliando na motivação

para uma mudança; prescrição de objetivos de peso;

normalização de padrões alimentares; reconhecimento

das crenças disfuncionais relacionadas à comida e o

trabalho com a autoestima (KNAPP, 2004, p. 302).

A observação desse quadro de distúrbio alimentar,

muitas vezes, é vista em primeira instância no ambiente

escolar. O banheiro é um local utilizado por várias crian-

ças/adolescentes e estes percebem alguém realizando

purgações (vômitos). Colegas notam que determinado

colega nunca lancha e sempre está preocupado com

sua aparência. Por meio de comentários e em redações

e composições de texto, o aluno, muita vezes, coloca a

distorção cognitiva. Educadores atentos e que conhe-

cem os sintomas tomam providências imediatamente

para ajudar o aluno.

7.7 Transtorno obsessivo compulsivo – TOC

O DSM-IV-TR diz que

O transtorno obsessivo compulsivo caracteri-

za-se por obsessões (que causam acentuada

ansiedade ou sofrimento) e ou compulsões

(que servem para neutralizar a ansiedade). As

obsessões são ideias, pensamentos, impulsos

ou imagens persistentes, que são vivenciados

como intrusivos e inadequados e causam acen-

tuada ansiedade ou sofrimento. [...] As compul-

sões são comportamentos repetitivos ou atos

mentais cujo objetivo é prevenir ou reduzir a

ansiedade ou sofrimento, em vez de oferecer

prazer ou gratificação (2002, p. 443).

As crenças no TOC são identificadas como disfun-

cionais e as técnicas cognitivas propõem a sua correção.

Knapp mostra algumas etapas na utilização da TCC para

TOC: avaliação do paciente e indicação do tratamento

adequado; motivação e estabelecimento da relação

terapêutica; treinamento na identificação dos sintomas;

sessões de terapia com técnicas comportamentais e

cognitivas para a correção de pensamentos e crenças

disfuncionais e a prevenção da recaída com a terapia de

manutenção (2004, p. 196).

7.8 Transtorno de personalidade

A TCC, ainda que tenha sido elaborada para o tra-

tamento do transtorno do humor unipolar, foi estendida

a outros distúrbios, como o caso do transtorno de per-

sonalidade.

Esse distúrbio dificulta a interação social do seu

portador, já que este não tem um bom repertório para

lidar com seus pensamentos e crenças distorcidas ou

disfuncionais. Ele se torna um indivíduo desconfiado e

evita contato íntimo com os demais. Para Knapp (2004),

esse comportamento é caracterizado como um desafio

para terapeutas que lidam com pacientes que apresen-

tam esse transtorno.

Para o tratamento, a TCC foca a modificação das

crenças disfuncionais, como na aplicação de outros

distúrbios. Mas há algumas características que forçam

uma adaptação da terapia no acompanhamento ao

paciente, pois este tem problemas de relacionamento

interpessoal. Por essa razão, o terapeuta se apresenta

mais confrontativo.

7.9 Transtorno afetivo bipolar – TAB

O transtorno bipolar é uma doença mental

grave, crônica, recorrente e incapacitante.

Enquanto alguns raros indivíduos podem expe-

rimentar somente um único episódio de mania

e depressão em suas vidas, mais de 95% das

pessoas com transtorno bipolar têm episódios

recorrentes de depressão e mania ao longo

da vida (GOODWIN; JAMISON apud KNAPP,

2004, p. 318).

Segundo Knapp, a TCC, no tratamento desse dis-

túrbio, parte da premissa de que “os sentimentos e

comportamentos das pessoas estão fortemente conec-

tados, cada um influenciando o outro” (2004, p. 319).

Se há alterações no humor, com início de depressão, o

comportamento será influenciado.

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

15.

Existem alguns objetivos específicos para o trata-

mento do TAB que envolvem a psicoeducação do aluno

a respeito de seu distúrbio, as dificuldades associadas à

doença e o fornecimento de estratégias de habilidades

cognitivas a fim de lidar com os problemas cognitivos e

comportamentais, que sejam associados aos sintomas

depressivos e maníacos.

7.10 Transtorno de pânico (TP)

Circunstâncias desagradáveis e estressantes podem

ocasionar o pânico, como a morte de pessoas signifi-

cativas, doenças graves e conflitos. Essas ocorrências

podem gerar sensações de ansiedade, característica

presente no distúrbio.

A técnica da TCC para o tratamento do transtorno

do pânico é bem aceita entre os profissionais da saúde

e professores, e tem mostrado sua eficácia ao longo do

tempo de experimentos.

O modelo cognitivo-comportamental tem

como foco principal o papel do medo dos

sintomas físicos associados à ansiedade, das

cognições catastróficas e da conduta evitativa

na gênese e na manutenção do transtorno de

pânico (OTTO; DECKERSBACH apud KNAPP,

2004, p. 219).

8 . Dificuldades de aprendizagem

Dificuldade de aprendizagem é uma expressão

geral que se refere a várias desordens manifestadas nos

processos de aquisição de leitura, escrita, fala, compre-

ensão auditiva e raciocínio matemático. Essas desordens

são intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam

dificuldades funcionais relacionadas ao sistema nervoso

central, e podem ocorrer durante toda a vida.

O órgão privilegiado da aprendizagem é o cérebro. O

cérebro humano é um sistema complexo, que estabelece

relações com o mundo que o rodeia. Portanto, as relações

entre o cérebro e o comportamento e entre o cérebro e

a aprendizagem são as mesmas quando se abordam as

relações com as dificuldades de aprendizagem (DA).

Faz-se necessário conhecer a estrutura e o fun-

cionamento do cérebro para melhor compreender as

suas relações dinâmicas e complexas na aprendizagem,

porém, o foco deste trabalho é conhecer melhor sobre

a visão da reeducação da dislexia, por uma abordagem

estruturada.

Atualmente, não se podem separar os aspectos

psicossociológicos ou psicoculturais dos aspectos neu-

rofisiológicos ou neurobiológicos da concepção das difi-

culdades de aprendizagem.

8.1 Dislexia

Quando se fala em dislexia, ainda é comum as pes-

soas reagirem da seguinte forma: “O que é isso? Já ouvi

falar, mas não sei o que é”.

A dislexia é uma dificuldade duradoura na apren-

dizagem da leitura e de seu automatismo em crianças

inteligentes, normalmente escolarizadas e livres de inter-

ferências causadas por disfunções visuais, auditivas ou

lesões cerebrais. Também não pode ter como causa

comprometimentos de origem emocional. Vem acom-

panhada, quase constantemente, de grandes dificulda-

des na aquisição de regras ortográficas.

Segundo Ciasca (2003), dislexia é a falha no pro-

cessamento da habilidade da leitura e da escrita durante

o desenvolvimento. É o mais incidente entre os distúrbios

específicos da aprendizagem, pois tem como caracte-

rística um atraso do desenvolvimento ou a diminuição

em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender

qualquer material escrito.

Ainda para Ciasca (2003), as dificuldades de apren-

dizagem ficam entre 5 e 7%, e as dificuldades escolares

entre 10 e 15%. Sabe-se que a incidência da dislexia

situa-se entre 10 e 15% da população, sem distinção

entre raças, culturas ou condição socioeconômica.

As crianças disléxicas apresentam as seguintes

dificuldades: deficit perceptivo, transposições de letras

e sílabas, inversões, substituições, inclusões, omissões,

perseverações, confusões entre vogais, confusões entre

sons surdos e sonoros.

Para definir o que é dislexia, é necessário saber o

significado de leitura, que é uma forma de aprendizagem

simbólica, na qual mudanças podem alterar os significa-

dos das palavras. Para a comprerensão da escrita, são

necessárias atenção, organização e imagem mental.

MÓDULO BÁSICO

16.

O Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais –

DSM-IV (2002, p. 112) dá a seguinte definição para

dislexia:

Comprometimento acentuado no desenvolvi-

mento das habilidades de reconhecimento das

palavras e da compreensão da leitura. O diag-

nóstico é realizado somente se esta incapa-

cidade interferir significativamente no desem-

penho escolar ou nas atividades da vida diária

que requerem habilidades de leitura.

O diagnóstico da dislexia começa a partir da per-

cepção dos pais com relação à alfabetização da criança,

que mostra, aparentemente, um desinteresse pela leitura

ou pela escrita. Além dos problemas específicos com a

leitura, a criança passa por uma avaliação devido ao seu

comportamento, resultado de um fracasso na aprendi-

zagem.

Mais que conhecer o histórico familiar e cultural

da criança, é preciso observar sua leitura e escrita, se

há confusão de letras, troca de sílabas e dificuldade de

compreensão do texto lido. O tratamento adequado para

esse distúrbio consiste na reestruturação da linguagem

educacional e envolve uma avaliação específica, pois a

dislexia tem causas e sintomas que variam de pessoa

para pessoa.

8.2 Discalculia

De acordo com a Academia Americana de

Psiquiatria, a discalculia é a dificuldade em

aprender matemática, com falhas para adquirir

proficiência adequada neste domínio cognitivo,

a despeito de inteligência normal, oportuni-

dade escolar, estabilidade emocional e motiva-

ção necessária (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO,

2006, p. 202).

Crianças com esse tipo de problema tendem a

serem vistas como preguiçosas e desinteressadas,

mas uma estimativa revela que cerca de 3 a 6% das

crianças, em geral, possui discalculia do desenvolvi-

mento.

Os sintomas mais comuns são: erros na formula-

ção dos números, incapacidade de realizar operações

simples, dificuldades de ler corretamente e realizar

operações como multiplicação e divisão. É necessário

haver um acompanhamento dos alunos que apresentam

dificuldades em matemática, pois eles precisam ser esti-

mulados com atividades para que seu desenvolvimento

cognitivo e as relações dentro da sala de aula não sejam

comprometidos.

Duas estratégias importantes no manejo desse

transtorno são: o trabalho dos conceitos numéricos, em

que a criança faz associações dos símbolos à quanti-

dade por meio de atividades; e as operações aritmé-

ticas trabalhadas de maneira a incentivar a criança na

percepção da soma como acréscimo, subtração pela

diminuição e assim por diante.

8.3 Dispraxia

Para entender o conceito de dispraxia, primeira-

mente deve-se conhecer sobre praxia, que pode ser

definida como “a capacidade que o indivíduo tem de

realizar um ato mais ou menos complexo, anteriormente

aprendido, de forma voluntária, ou seja, sob ordem”

(2006, p. 208).

Segundo Ajurianguerra e Hécaen (apud ROTTA;

OHLWEILER; RIESGO, 2006, p. 212), “a dispraxia é um

transtorno de atividade gestual aparecido em um indiví-

duo cujos órgãos de execução da ação estão intactos

e que tenha pleno conhecimento do ato a cumprir”.

Segundo esses autores, existem alguns tipos de dispra-

xia, entre elas:

alterações dos desempenhos motores – difi- xculdades motoras;

dispraxia construtiva – mais comum em crian- xças;

discinesia espacial – falta de organização dos xmovimentos;

dispraxias especializadas – verbal, facial, ocu- xlar, etc.

A dispraxia é uma das causas para a dificuldade

de aprendizagem escolar, já que, nessa fase, a criança

se isola mais por causa de seus erros e falhas, sendo

discriminada por seus colegas de classe por causa de

suas limitações motoras.

Isso contribui para uma baixa autoestima, o que

prejudica todo o processo de desenvolvimento cogni-

tivo. Como tratamento, a alternativa é a educação psico-

motora que dá uma noção de espaço e de como lidar

com ele, por meio de exercícios ritmados, relaxamentos

e o domínio sobre o corpo.

A PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO ESCOLAR

17.

8.4 Técnicas cognitivas comportamentais que o professor pode utilizar no ambiente escolar

A psicologia do comportamento escolar utiliza

muitas técnicas da terapia cognitiva comportamental.

Embora sejam muito utilizadas para o tratamento de

diversos transtornos, existem algumas técnicas bastante

comuns para os comportamentos em sala de aula ou no

ambiente escolar.

Para a utilização da terapia, existem técnicas cogni-

tivas que auxiliam o terapeuta no alcance de seus obje-

tivos. Segundo Beck (apud KNAPP):

[...] A terapia cognitiva não é definida pelas

técnicas que são empregadas, mas pela

ênfase que o terapeuta dá ao papel dos pen-

samentos na causa e manutenção dos trans-

tornos (2004, p. 133).

Entre as técnicas comportamentais, podem ser

destacadas:

monitoramento x – o aluno, com a ajuda do

professor, controla comportamentos específi-

cos. Por exemplo: com o uso do baralho das

emoções.

programação de atividades x – o professor

prescreve atividades diárias que podem trazer

recompensas ao aluno.

prescrição de tarefas graduais x – como

auxílio ao aluno para que não se sinta depri-

mido, sugestão de atividades benéficas que

ele mesmo se propõe a realizar.

resolução de problemas x – o professor

disponibiliza uma variedade de respostas como

alternativas a situações problemáticas. Identifi-

car o problema, avaliar as consequências de

cada solução, escolher e colocar em prática a

solução preferencial.

controle de contingências x – os profes-

sores, orientados pelo terapeuta, identificam o

comportamento do aluno, cumprido por inte-

resse, e estabelecem uma recompensa.

avaliação e modificação de crenças x– as crenças precisam ser modificadas, para

isso, utiliza-se o exame de vantagens e des-

vantagens, experimento comportamental, etc.

experimento comportamental x – usado

com o propósito de avaliar os pensamentos

e crenças do aluno, examina os resultados de

seu experimento e considera a modificação de

suas crenças.

A estruturação e a educação caminham unidas no

processo de tratamento da TCC, pois ambas se comple-

mentam no incentivo ao aprendizado, “mantendo o tra-

tamento bem-organizado, eficiente e focado” (WRIGHT;

BASCO; THASE, 2008, p. 59).

A fim de utilizar o meio mais acertado, é preciso

haver um minucioso diagnóstico, pois a criança não

consegue, por mais que compreenda as circunstâncias

dos problemas que enfrenta, estabelecer uma narrativa

organizada para que seu terapeuta possa elaborar um

diagnóstico de seu transtorno. Após esse diagnóstico,

baseado em critérios e dados, o terapeuta usa a lingua-

gem mais acessível e compreensível à criança, desde

gráfica até a teatral.

Os problemas podem ter várias raízes: ser asso-

ciados a fatores genéticos, em que cromossomopatias

podem alterar o comportamento do aluno; problemas

familiares, em que abusos e traumas podem fazer a

diferença. Qual seja a fonte do problema, ele precisa

ser identificado, compreendido, diagnosticado e tratado,

para que o educando não tenha prejuízos na fase adulta,

em relacionamentos pessoais, sociais e de trabalho.

9 . Considerações finais

Tendo como base a relação existente entre o com-

portamento escolar e a psicologia, compreende-se que

há a necessidade de um cuidado e acompanhamento

maior em sala de aula, a fim de reconhecer e definir

problemas a serem trabalhados com o auxílio de pro-

fessores, profissionais da área – terapeutas, psicólogos,

psicopedagogos, etc. – e a interação de alunos e pais.

Todas as ações em sala de aula refletem situações

vividas pelas crianças e podem ocasionar consequên-

cias influentes no desenvolvimento individual e social.

Por essa razão, a criança precisa aprender a se relacio-

nar sem que os problemas sejam fatores determinantes

no processo de aprendizagem.

A psicologia possui as ferramentas necessárias

para identificar distúrbios que possam interromper a

MÓDULO BÁSICO

18.

aprendizagem, mecanismos para lidar com as proble-

máticas como violência e desrespeito, que se refiram ao

ambiente escolar ou familiar. Assim, é possível amenizar

marcas características, ocasionadas por diversas cau-

sas e contextos que tendem a influenciar e, até mesmo,

danificar o ambiente em sala de aula por meio de com-

portamentos inaceitáveis, agressivos e que prejudicam

as relações sociais.

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