português - uma experiencia vivida

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Escola Secundária de Bocage Curso de Técnicos de Apoio à Infância Turma I do 10º ano Disciplina: Português Professor/a: Josete Perdigão Título do trabalho “Uma experiencia vivida” 15 De Setembro de 2008

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Page 1: Português - Uma Experiencia Vivida

Escola Secundária de Bocage

Curso de Técnicos de Apoio à Infância

Turma I do 10º ano

Disciplina: Português

Professor/a: Josete Perdigão

Título do trabalho

“Uma experiencia vivida”

15 De Setembro de 2008

Ano lectivo 2008/2009

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Antigamente passava por um deficiente e não gozava. É um facto!

Mas também não dava nehuma importancia. Não vou ser hipócrita! Se no

momento ridicularizassem a pessoa em questão, eu secalhar até me ria da

piada.

É dificil explicar o que às vezes se passa na nossa vida. Deus

escreve mesmo direito por linhas tortas. A minha vida avançou tão

depressa, que eu nem dei por ela. Mas o tempo faz-nos crescer e

amadurecer como seres humanos. Eu cresci e amadureci. Levei a minha

vida para a frente saltando os óbstaculos de modo a não tropeçar. Mas

tropeçei. Todos tropeçam. Tropeçei e não foram poucas as vezes. Mas eu

não me drogo, não fumo, não bebo…demais, claro! Por isso tive sempre

quem me desse a mão em momentos dificeis. Todos nós, mais do que

segundas oportunidades, merecemos saber o que queremos para uma

vida, que salvo alguma catástrofe, será sempre longa. Estudei e trabalhei.

Certo dia não tinha mais trabalho. Por e simplesmente acabou o meu

tempo numa fábrica de produção de Azeite. Fui contratado para fazer o

lugar de quem estava a descansar no meio do Verão. A vida é mesmo

assim. Quando acabou, procurei outro emprego, mas até encontrar estava

a dar em doido. Parar é morrer. Eu punha na cabeça que não estava a

ajudar a minha família quando a minha obrigação era essa. O meu pai e

amigo dizia-me para não me preocupar que haviam de me telefonar. Mas

quando? Sobreviviria até lá? Ou seria consumido pelas “minhocas” da

minha cabeça. Estava um pouco em baixo. É natural, quando as coisas não

nos correm bem. Mas tal como a phoenix, tambem eu ressurgi das cinzas.

O segredo às vezes está nas pequenas coisas e mesmo à frente dos nossos

olhos.

Estava cabisbaixo, em mais uma noite chata depois de um dia

aborrecido. O meu pai ao ver-me assim disse para eu experimentar uma

coisa que ouvia falar mas no meu pensamento não existia. Voluntariado?

Trabalhar sem me pagarem? Quem trabalha de graça é o relógio. Ele dizia

vai. Eu dizia não vou. Ele dizia experimenta e eu ripostava metendo os

“fones” nos ouvidos para não escutar o que me parecia uma autentica

parvoice. Mas se há pessoa que me acompanhou ao longo da vida foi o

meu pai. Porque não tentar, só para ver se me destraio e afasto as

“minhocas”? Perguntei onde ia fazer aquela coisa do voluntariado. O meu

“velhote” respondeu-me que podia ir ajudar um tal de Professor José Vaz

a treinar uma equipa de futsal. Óptimo, exelente. Sempre adorei dar uns

toques na bola e para me distrair era exelente. Assim não havia problema.

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Errado! O “manda chuva” disse no final que a equipa era de deficientes.

Há pois, já cá faltava essa. Não que tivesse alguma coisa contra, mas um

deficiente sabe dar um pontapé na bola? Tantos anos de vida e tanta

ignorância. Meu deus, até tenho vergonha.

Bom, eu já sou tímido por natureza por isso pedi ao meu pai que me

apresentasse ao professor José Vaz. Ele fê-lo. O meu pai foi trabalhar e eu

fiquei ali à espera de ver as tropas depois de conhecer o comandante.

Entre dez e quinze minutos depois, chega um grande Autocarro ao

pavilhão das manteigadas. Na lateral do veiculo podia ler-se “APPACDM”.

Da janela todos me faziam adeus contudo eu não conhecia ninguem. Como

era isto possível, devia ter sido o meu pensamento, mas eu já tava

avisado para a hospitalidade daquelas pessoas.

Entro no balneario e equipo-me. Pé direito no pavilhão para dar

sorte e começam os treinos. Não era o Cristiano Ronaldo ou o Ronaldinho

mas estava convencido que devia chegar para a encomenda. Se tivesse

um buraco escondia-me. O professor disse-me para fazer tambem o

aquecimento. Eu sou muito passivo, logo nem contestei. Mandou-me

correr lado a lado em “sprint” contra um tal de João Caldeira. Verdade

seja dita não o subestimei. Mas tambem nunca pensei que corresse tanto.

Um a zero, ganhavam eles. Continuava o treino com alongamentos e

corrida. Quando chegou à parte dos abdominais, só eu é que não me

levantava. Se havia ali alguem diferente era eu. Depois de tanto aquecer

realizámos uma situação de jogo. Nesta altura já pensava era em salvar a

minha honra. Bola no meio do campo para dar inicio à lição de vida que

iria mudar para sempre a minha. Golo lá, golo cá, o jogo proseguia e se

alguém chegou estafado ao final do jogo, essa pessoa fui eu. Fui tomar

banho de água gelada, tal era o calor. Sai cá para fora e sentei-me ao pé

do professor José Vaz. Perguntou-me se eu tinha gostado. Mesmo que não

tivesse, eu não lhe ia dizer, mas o facto é que gostei. Gostei mesmo. O

jogo, o treino, o companheirismo, o esforço e sobretudo a alegria que

aqueles rapazes punham em campo fez-me perceber que não era só eu

que tinha problemas, mas que naquela altura era só eu que fazia deles

uma catástrofe. Levantei-me e fui ao balneário outra vez. Estavam-se

todos a despachar para ir embora. Cheguei-me ao pé de cada um e

apartei-lhes a mão. Surgiam perguntas de todo o lado. Vens outra vez?

Quando voltas? Viste o golo que marquei? Jogo bem? Incrivel. Fui-me

embora atrapalhado com tanta pergunta. Mas eles vieram atras de mim e

eu fui respondendo a cada um deles. Cheguei cá fora e a carrinha que me

levaria a casa já estava à minha espera. O meu pai estava ao volante. Ele

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era o coordenador de transportes da instituiçao. Entrei no carro e ele riu-

se. Perguntei do que se estava a rir e fez uma pausa. Até hoje não percebi

mesmo que sorriso era aquele. Já em casa agradeci ao meu pai e disse-lhe

que tinha realmente gostado da experiencia.

Mas porque é que os pais teem quase sempre razão? Depois temos de

ouvir o famoso “eu não te disse”. O tempo passou e eu continuei a ir ao

voluntariado.

Passado duas semanas já conhecia todos aqueles que hoje posso

considerar amigos. Mais, maifestei ao meu pai a minha vontade de tirar

algum curso na área da educação ou de auxiliar como muitas pessoas que

trabalhavam com ele. Quando já estava a entrar na rotina fui chamado

para um trabalho. Óptimo porque me fazia falta. Mas a tristeza que se

apoderou de mim não tinha explicação. Já não ia ver aquela que eu já

considerava a minha equipa. De vez em quando ainda ia ao voluntariado.

Esta regularidade, mesmo em tempo de trabalho permitiu-me entrar num

torneio adaptado, onde alcançamos a maior classificação de sempre na

história da instituição. Formámos um grupo unido e forte. Mais para a

frente os meus projectos iam-se realizando aos poucos. Com o

voluntariado em mente, ajudar os outros já fazia parte de mim e por isso

continuei passando por outros locais.

Conjugar trabalho e voluntariado não era fácil, mas era

recompensador. O primeiro dia que partilhei o balneário com aqueles

rapazes ajudou-me a enfrentar o passado, a viver o presente e a dedicar-

me ao futuro. Obrigado pessoal!

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