portuguÊs para estrangeiros e os materiais didÁticos: um olhar discursivo

Upload: rogerio

Post on 18-Oct-2015

171 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Letras do Instituto deLetras da Universidade Federal do Riode Janeiro, como parte dos requisitospara a obtenção do título de Doutoraem Letras.

TRANSCRIPT

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    1/335

    PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS:

    UM OLHAR DISCURSIVO

    DENISE GOMES LEAL DA CRUZ PACHECO

    UFRJ DOUTORADO EM LETRAS

    ORIENTADOR: PROF DR MARIA APARECIDA LINO PAULIUKONIS

    Rio de Janeiro

    2006

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    2/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    2

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS:

    UM OLHAR DISCURSIVO

    Tese apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Letras do Instituto deLetras da Universidade Federal do Riode Janeiro, como parte dos requisitos

    para a obteno do ttulo de Doutoraem Letras.Orientao: Prof Dr Maria AparecidaLino PauliukonisCo-orientao: Regina Lcia Pret DellIsola

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Instituto de Letras

    2006

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    3/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    3

    FICHA CATALOGRFICA

    PACHECO, Denise Gomes Leal da Cruz

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos:um olhar discursivo / Denise Gomes Leal da CruzPacheco. Rio de Janeiro, 2006.

    xi, 335 f.: il.

    TESE (Doutorado em Letras) Universidade Federal do Rio de Janeiro,Instituto de Letras, 2006.

    Orientadora: Maria Aparecida Lino PauliukonisCo-Orientadora: Regina Lcia Pret Dell Isola

    1. Portugus para Estrangeiros 2. Ensino2. Materiais Didticos. 4. Anlise do Discurso5. Lingstica Aplicada

    Teses.Pauliukonis, Maria Aparecida Lino, (Orient.) II.Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto

    de Ps-Graduao em Letras. III. Ttulo.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    4/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    4

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    5/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    5

    RESUMO

    PACHECO, Denise Gomes Leal da Cruz. Portugus para estrangeiros e os

    materiais didticos: um olhar discursivo. Orientadora: Maria Aparecida Lino

    Pauliukonis. Co-Orientadora: Regina Lcia Pret Dell Isola. Rio de Janeiro:

    UFRJ/PGL, 2006. Tese (Doutorado em Letras), 335 pginas.

    Portugus para estrangeiros (PLE) sob um olhar discursivo. Tomandocomo base de anlise a materialidade lingstica (textos monomodais e modais) dosmateriais didticos (MDs) de PLE dirigidos a adolescentes, publicados no Brasil, combase em constructos tericos de rea interdisciplinar entre a Anlise do Discurso(Semiolingstica Discursiva CHARAUDEAU: 1983) e a Lingstica Aplicada, apresente tese discute os contratos de comunicao firmados nesses MDs e os

    efeitos da implementao da abordagem comunicativa de ensino (WIDDOWSON:1978); reflete sobre os conceitos de autenticidade e comunicao, no ensino delnguas estrangeiras, enfocando o letramento em PLE- ensino da leitura, dametalngua e da escrita sob a tica discursiva dos gneros textuais. apresentadaainda uma reflexo sobre o jogo discursivo no ensino de PLE, com foco nofuncionamento das instncias discursivas e nos processos de construo identitriado MD, do professor e do aprendiz de PLE, segundo os mecanismos defragmentao e homogeneizao que a materialidade lingstica dos MDs revela.Finalmente so apontadas perspectivas para o ensino de PLE no sculo XXI diantedas novas formas de multiletramento e sugeridos alguns encaminhamentos de(re)institucionalizao do ensino de PLE em nvel nacional e internacional.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    6/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    6

    ABSTRACT

    PACHECO, Denise Gomes Leal da Cruz. Portugus para estrangeiros e os

    materiais didticos: um olhar discursivo. Orientadora: Maria Aparecida Lino

    Pauliukonis. Co-Orientadora: Regina Lcia Pret Dell Isola. Rio de Janeiro:

    UFRJ/PGL, 2006. Tese (Doutorado em Letras), 335 pginas.

    The aim of this work is to analyze guidelines of materials published withthe purpose of teaching Portuguese for Foreigners (PLE), to teenagers, using theCommunicative Approach (WIDDOWSON, 1978). This approach aims at orienting theexperiences of teaching and learning Brazilian culture and Portuguese language forforeigners during the last twenty five years in Brazil. In order to fulfill the objectives wehave established for the development of our work, we started by discussing theconcept of authenticity, communication and the communication contract in didactictextbook and materials with the support of two different but related theoretical pointsof view - Discourse Analyses (Semiolingstica DiscursivaCHARAUDEAU, 1983)and Communicative Approach (Applied Linguistics). From this comprehension of theconcept of communication and communication contracts we reflected upon therelations between the discursive game developed by the usage of these materialsand the image of the learning materials the didactic textbook (and itscomplements); the images of the teacher and the student (a foreigner). We alsoreflect about the teaching of reading and writing based on the concept of gender; theteaching of the language structures. We propose multiliteracy based on a discursiveapproach and on the concept of gender and the usage of technological tools. Weanalyze how the teacher and the foreigner language learners identity are created bythe materials. Adding to this we present some suggestions for teaching (PLE) in the

    XXI century not only in Brazil but around the world.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    7/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    7

    Dedico este trabalho a:

    Meus pais, Jayme e Elza, razes das quais sou fruto...

    Stelly e Giselly, frutos meus que frutificaram e dos quais me orgulho muito...

    Joo Victor, fruto do meu fruto, minha chance mais intensa de amar...

    Minha famlia, graas a ela, aprendi a ser o que sou...

    Meus professores, que me despertaram o gosto por to digna profisso;

    Meus alunos, com quem aprendi muito do pouco que sei...

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    8/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    8

    Agradecimentos

    A Deus que sempre me protegeu enquanto eu andava distrada e me deu chancede viver e fazer muito mais do que jamais pudesse merecer e imaginar;

    A Stelly e Giselly, atravs das quais tive a chance de ser me e vivenciarmomentos de mais intensa superao de mim e das mais intransponveis barreiras,mostrando que o esforo nos leva onde no pensvamos chegar;

    A Maria Aparecida Lino Pauliukonis, minha orientadora, pelas lies, pela

    pacincia e principalmente pela confiana;

    A Ana Catarina Nobre, pelo apoio bibliogrfico, mas principalmente pelasorientaes, que me ajudaram a materializar o tema da presente tese;

    A Vanise Medeiros, pela amizade, pelas lies, pela pacincia, pelo incentivo noenfrentamento de minhas crises tericas;

    A Jos Carlos de Azeredo, pelo incentivo e pelos exemplos de sabedoria na artede ensinar;

    A Regina Dell Isola e Danielle Grannier, pelas orientaes e pela chance doencontro nos caminhos da pesquisa aplicada;

    A todos os meus professores, que colaboraram para que eu me tornasse aprofissional que hoje sou;

    A meus amigos (que no nomeio para evitar imperdoveis omisses), de quemsempre recebi incentivo para continuar, mesmo quando o tempo era pouco e avontade de continuar e acabar, muita...;

    A todos os meus alunos, com quem tenho aprendido muito, muito, muito, com opretexto de lhes ensinar;

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    9/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    9

    Essa estrangeira, que talvez jamais venhaser inteiramente a lngua para mim, nosentido que o minha lngua materna,desestrutura o meu pensar, desorganizaminha sintaxe, rearruma espaos, criaefeitos de sentido novos, insuspeitados nomeu dizer o mundo. Falando outra lngua,sou em outro lugar, fao sentidos diversosdo que faria se s conhecesse a minha.(PIETROLONGO, 2001, p. 196-197).

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    10/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    10

    SUMRIO

    LISTA DE GRFICOS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE ABREVIATURAS

    CAPTULO 1 PONTO DE PARTIDA OU HISTRIA DE UMA ESCOLHA

    1. INTRODUZINDO A TEMTICA

    2. EQUACIONANDO A ESCOLHA

    2.1. Traando objetivos

    2.2. Formulando hipteses de trabalho

    3. ORGANIZANDO A TESE

    4. DEFININDO A METODOLOGIA DE PESQUISA

    CAPTULO 2 O LETRAMENTO EM LNGUA ESTRANGEIRA

    2.1. O CONCEITO DE LETRAMENTO EM LE

    2.2. ABORDAGENS E MTODOS DE ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA

    2.2.1. Abordagens audio-orais/visuais situacionais

    2.2.2. Abordagens ncio-funcionais comunicativas

    2.3. O ENSINO DE LE E LIVRO DIDTICO

    2.3.1. Histrico do livro didtico

    2.3.2. O livro didtico de PLE

    2.3.2.1. Cronologia da produo de livros didticos em PLE

    2.3.2.2. Os materiais didticos de PLE para adolescentes

    12

    13

    15

    18

    20

    26

    28

    29

    32

    37

    42

    45

    53

    62

    62

    69

    81

    85

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    11/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    11

    CAPTULO 3 OS MATERIAIS DIDTICOS DE PLE E OS CONTRATOS

    DE COMUNICAO

    3.1. FUNDAMENTOS DA SEMIOLINGSTICA DISCURSIVA

    3.1.1. A situao comunicativa e o contrato de comunicao

    3.1.2. A noo de texto

    3.1.3. A noo de discurso

    3.1.4. As competncias discursivas

    3.2. DO CONTRATO DIDTICO EM LE

    3.2.1. A questo da autenticidade

    3.2.2. As finalidades sociocomunicativas

    3.3. LEITURA EM PLE3.3.1. O trabalho com textos

    3.3.2.Do lugar da interculturalidade

    3.3.3. A aquisio do repertrio vocabular

    3.4. DO LUGAR DA METALNGUA NO ENSINO/APRENDIZAGEM DA LE

    3.5. DA PRODUO DE TEXTOS: A (DES)CENTRALIDADE DOS

    GNEROS TEXTUAIS

    3.6. O GNERO DIDTICONOS LDS

    3.6.1. A constituio do gnero didtico3.6.2. Abordagem didtica com os gneros em PLE

    CAPTULO 4 O JOGO DISCURSIVO NO ENSINO DE PLE

    4.1. O FUNCIONAMENTO DAS INSTNCIAS DISCURSIVAS NOS MDs

    4.1.1. Imagens que fazem de si e do outro as instncias discursivas

    4.1.1.1. A imagem que o EUc tem do EUe

    4.1.1.2. A imagem que o EUc tem da imagem que o TUi tem do referente

    4.1.1.3. A imagem que o EUc tem do TUi

    A . A imagem de aluno como TUi

    B. A imagem de professor como TUi

    4.2. O APAGAMENTO NA CONSTRUO DA IMAGEM DE PROFESSOR

    92

    92

    101

    106

    111

    121

    126

    134

    139144

    166

    171

    180

    191

    207

    208221

    226

    231

    231

    235

    239

    240

    246

    250

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    12/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    12

    CAPTULO 5 PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE PLE

    5.1. O ENSINO DE PLE E O MULTILETRAMENTO

    5.2. (RE) INSTITUCIONALIZAO DO ENSINO DE PLE

    CAPTULO 6 ARREMATE COM RETICNCIAS

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    254

    263

    283

    295

    303

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    13/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    13

    LISTA DE ILUSTRAES

    GRFICOS

    Grfico 1

    Grfico 2

    Grfico 3

    Grfico 4

    Grfico 5

    Grfico 6

    Grfico 7

    Grfico 8Grfico 9

    Grfico 10

    Grfico 11

    A lngua portuguesa no mundo

    Projees demogrficas de falantes de Portugus LM

    Classificao das atividades em TB?: abordagem e metodologia

    Classificao das atividades em S A: abordagem e metodologia

    Meio de produo textual: Tudo Bem?

    Meio de produo textual: Sempre Amigos

    Modo de realizao das atividades em Sempre Amigos

    Modo de realizao das atividades em Tudo Bem?Produo textual Gneros Tudo Bem??

    Materialidade lingstica: imagem do EUe nos MDs

    Apagamento do professor nos MDs do corpus

    21

    22

    184

    185

    202

    202

    203

    204204

    235

    252

    QUADROS

    Quadro 1

    Quadro 2

    Quadro 3

    Quadro 4

    Quadro 5

    Quadro 6

    Quadro 7

    Quadro 8

    Quadro 9

    Tabela comparativa da proximidade entre portugus e outras lnguas

    Esquema de competncia comunicativa

    Classificao das abordagens e metodologias no Ps-mtodo

    Tabela de textos autnticos em TB?

    Distribuio de gnero: meio de produo e concepo de leitura

    Objetivos comunicativos na Teoria Semiolingstica

    Gneros textuais

    Gneros emergentes na mdia virtual

    Formatos de comunicao por computador (Marcuschi, 2004)

    23

    119

    183

    216

    217

    226

    256

    257

    258

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    14/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    14

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1

    Figura 2

    Figura 3

    Figura 4

    Figura 5

    Figura 6

    Figura 7

    Figura 8

    Figura 9

    Figura 10Figura 11

    Figura 12

    Figura 13

    Figura 14

    Figura 15

    Figura 16

    Figura 17

    Figura 18Figura 19

    Figura 20

    Figura 21

    Figura 22

    Figura 23

    Figura 24

    Figura 25

    Figura 26

    Figura 27

    Figura 28

    Figura 29

    Figura 30

    Figura 31

    Figura 32

    Fatores internos e externos do processo de aprender e ensinar lnguas

    Abordagem de ensino de lnguas

    Esquema de funcionamento da proposta RODA

    Reproduo de tira de Ptio Revista Pedaggica

    Capa de Tudo Bem vol. 1

    cone de recurso internet em TB?

    Pgina de entrada de TB? na internet

    Detalhamento da situao comunicativa

    O funcionamento do discurso (Charaudeau)

    Excerto I de TB?Excerto I de S A

    Excerto II de TB?

    Excerto I de Interagindoem Portugus

    Excerto II de S A

    Excerto III de S A

    Excerto III de TB?

    Esquema de fluxo hierrquico e nohierrquico no texto

    Pgina 15 de Portugus para Estrangeiros (Marchand) (20 ed).Pgina 16 de Portugus para Estrangeiros(Marchand) (28 ed).

    Pgina 1 de Passagens

    Pgina 1 de Interagindo em Portugus (vol. 1)

    Foto de TB? capturada na internet

    Foto da Revista MTV

    Excerto IV de TB?

    Capa de S A

    Capa de TB? volume I

    Excerto IV de S A

    Excerto V de S A

    Excerto V de TB?

    Excerto VI de TB?

    Excerto VII de TB?

    Excerto VI de SA?

    40

    44

    59

    63

    90

    91

    91

    95

    96

    101101

    115

    124

    129

    129

    130

    146

    147147

    148

    148

    152

    153

    155

    156

    157

    158

    159

    167

    181

    194

    200

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    15/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    15

    Figura 33

    Figura 34

    Figura 35

    Figura 36

    Figura 37

    Figura 38

    Figura 39

    Figura 40

    Figura 41

    Figura 42

    Figura 43

    Figura 44

    Figura 45

    Figura 46

    Figura 47

    Figura 48

    Figura 49

    Excerto VIII de TB?

    Excerto VII de S A

    Dimenses dos gneros do discurso

    Excerto X de TB?

    Excerto VIII de S A

    Abordagem didtica dos gneros

    Excerto IX de S A

    Excerto X de S A

    Excerto XI de S A

    Print Screen de TB? Internet Psiu

    Print Screende TB? na internet Dicas e sugestes

    Excerto XI de TB?

    Contnuo de gneros na comunicao tradicional

    Contnuo de gneros na comunicao digital

    Reproduo de e-mail de aprendiz de PLE

    Reproduo de pgina de MD de Russo

    Reproduo de pgina de MD de Japons

    201

    210

    213

    218

    219

    222

    240

    240

    241

    243

    244

    250

    258

    259

    269

    284

    284

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    16/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    16

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ACD

    AD

    ABRALIN,

    ALFAL

    ANPOLL

    CALL

    CC

    CD

    CELPE-BrasCNLD

    COLTED

    CP

    DA

    DB

    DUDL

    ELE

    EPLEET

    EUc

    EUe

    FAE

    FENAME

    GEL,

    ICT

    INPLALA

    LD

    LE

    LIBRAS

    Anlise Crtica do Discurso

    Anlise do Discurso

    Associao Brasileira de Lingstica

    Associao de Lingstica e Filologia da Amrica Latina

    Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Letras e

    Lingstica

    Computer Assisted Language Learning)

    Contratos de comunicao

    Compact Disc

    Certificado de Proficincia em Lngua Portuguesa para EstrangeirosComisso Nacional do Livro Didtico

    Comisso do Livro Tcnico e do Livro Didtico

    Condies de Produo

    Deficientes Auditivos

    Dicionrios bilnges

    Declarao Universal dos Direitos Lingsticos

    Ensino de Lngua Estrangeira

    Ensino de Portugus Lngua EstrangeiraExcertos Textuais

    Eu comunicante

    Eu enunciador

    Fundao de Assistncia ao Estudante

    Fundao do Material Escolar

    Grupo de Estudos Lingsticos do Estado de So Paulo

    Information and Communication Technologies1

    Intercmbio de Pesquisa em Lingstica AplicadaLingstica Aplicada

    Livro didtico

    Lngua estrangeira

    Lngua Brasileira de Sinais

    1 Esse termo empregado no sentido de unidade intermediria entre o texto (unidade menor e suamaterialidade lingstica) e o discurso (unidade maior).

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    17/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    17

    LM

    MASTOR

    MDs

    MEC

    MRE

    PALOP

    PBSL

    PCNs

    PLE

    PLID

    PLIDEF,

    PLIDEMPLIDESU

    PLM

    PNLD

    PSL

    SA

    SC

    SD

    SESUSIPLE

    TB

    TUd

    TUi

    UFF

    UFRJ

    UNB

    WWW

    Lngua Materna

    Multilingual Automatic Speech-to-speech Translator

    Materiais Didticos

    Ministrio da Educao e Cultura

    Ministrio das Relaes Exteriores

    Pases de Lngua Oficial Portuguesa

    Portugus do Brasil Segunda Lngua

    Parmetros Curriculares Nacionais

    Portugus Lngua Estrangeira

    Programa do Livro Didtico

    Programas do LD para Ensino Fundamental

    Programas do LD para Ensino MdioProgramas do LD para Ensino Supletivo

    Portugus Lngua Materna

    Programa Nacional do Livro Didtico

    Portugus Segunda Lngua (SL ou L2)

    Sempre Amigos

    Situao comunicativa

    Semiolingstica Discursiva

    Secretaria de Educao Superior do MECSociedade Internacional de Portugus Lngua Estrangeira

    Tudo Bem?

    Tu destinatrio

    Tu interpretante

    Universidade Federal Fluminense

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Universidade de Braslia

    World Wide Web

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    18/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    18

    CAPTULO I - PONTO DE PARTIDA OU HISTRIA DE UMA ESCOLHA

    O Brasil (...) purilnge e multicultural (...) a imagem do pas que fala

    somente portugus, e de que o portugus brasileiro no tem dialetos, conseqncia da interveno do estado e da ideologia da unidadenacional que desde sempre, com diferentes premissas e em diferentes

    formatos, conduziram as aes culturais no Brasil.(OLIVEIRA: 2003, p. 8-9)

    1.1. INTRODUZINDO A TEMTICA

    O Brasil plurilnge2

    . E sabemos que o desde 1500, quando aqui

    chegaram os primeiros jesutas, incumbidos pelo rei portugus da tarefa de educar

    os gentios, de estruturar um sistema de ensino, enfrentando uma primeira

    dificuldade - o plurilingismo e as tenses desse processo decorrentes.

    Quatro sculos de intercambialidade cultural separam o momento histrico

    inicial de aculturao dos habitantes de nossa terra e a chegada de imigrantes

    estrangeiros, que ao Brasil aportaram, motivados principalmente pelas novas

    demandas da economia no cenrio nacional e internacional.

    importante analisar a meno explcita feita educao desses novos

    integrantes da populao brasileira no texto constitucional, pois ela d visibilidade a

    esse processo histrico, conforme podemos observar na reproduo do artigo 149

    da Constituio Federal de 1934, feita a seguir:

    A educao direito de todos e deve ser ministrada pela famlia e pelos poderespblicos, cumprindo a estes proporcion-la a brasileiros e estrangeirosdomiciliados no Pas, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral eeconmica da Nao, e desenvolver num esprito brasileiro, a conscincia dasolidariedade humana. (nfase adicionada).

    2Retomo o conceito de plurilingismo em comunidades lingsticas de contato: lnguas autctones (indgenas),lnguas alctones (em escolas bilnges), lnguas de fronteira (faladas em regies de fronteira entre os pases) elnguas estrangeiras (de imigrantes), conforme SAVEDRA (2003, p. 49).

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    19/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    19

    A presena da palavra estrangeiros no texto constitucional citado tem uma

    significncia muito especial, porque fica assumida, de modo oficial, a presena de

    uma plurietnia e, conseqentemente, de um plurilingismo no Brasil. A prpria

    omisso de artigo antes do substantivo (estrangeiros) cria um efeito de sentido que

    confirma a conhecida diversidade de grupos de imigrantes, que para o Brasil vieram

    no incio do sculo XX, processo que foi exigindo mudanas no sistema

    educacional estruturado at ento.

    Percebe-se que houve mudanas. E assim todo e qualquer processo

    histrico. Como podemos analisar essa trajetria? Vivemos hoje a Era dos Direitos,

    da Declarao Universal dos Direitos Lingsticos (DUDL)3. Em relao realidade

    brasileira, eles so a conquista de uma longa trajetria histrica de cinco sculos,

    que chegou a ser classificada como lingicdio (LUNA: 2000, p.14), uma vez que

    foram enfrentados muitos conflitos para a implementao do que hoje podemos

    denominar Poltica Lingstica.

    Esse processo teve como marco inicial o nosso descobrimento, desde a

    chegada dos jesutas no Brasil no incio do sculo XVI. No podemos, pois, ignorar a

    importncia desses religiosos no desenvolvimento de um sistema educacional na

    colnia, na fundao de um discurso didtico e na instituio de prticas

    pedaggicas, cujas ressonncias discursivas4 podem at hoje ser identificadas.

    Podemos atribuir tambm aos jesutas o pioneirismo no processo histrico de

    constituio dos Materiais Didticos (MDs) no territrio brasileiro, a influncia sobre

    as primeiras escolas de imigrantes alemes, poloneses, italianos, japoneses. Esses

    3Ela foi proclamada em junho de 1996, em Barcelona, tendo como pressupostos a Declarao Universal dosDireitos do Homem (1948), o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos (1966), Declarao sobre osDireitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou tnicas, Religiosas e Lingsticas (1992), a CartaEuropias sobre as Lnguas Regionais ou Minoritrias (1992), Declarao de Santiago de Compostela (1995),Declarao do Recife de 09/10/1987, Declarao Universal dos Direitos Coletivos dos Povos, Barcelona (1990),Declarao Final da Assemblia Geral da Federao Internacional dos Professores de Lnguas Vivas , Hungria,1991, entre outros.4No dizer de SERRANI-INFANTE (1994).

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    20/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    20

    constituem os primeiros ensaios de ensino de Portugus como Lngua Estrangeira

    (PLE) no solo do Brasil, a produo de MDs, a presso das polticas pblicas de

    educao.

    De Pombal DUDL, muitos aspectos constituem elementos fundamentais

    para a compreenso dos contratos de comunicao que do suporte ao discurso

    didtico veiculado pelas polticas lingsticas adotadas no pas durante o perodo

    colonial e republicano no que se refere ao ensino de PLE. E a essa temtica iremos

    nos dedicar.

    1. 2. EQUACIONANDO A ESCOLHA

    A Lngua Portuguesa encontra-se, pois, particularmente bemposicionada no contexto da disputa lingustica que actualmente se trava

    no panorama internacional, sendo um dos raros idiomas que detm oestatuto de lngua materna em estados ou territrios de quatro

    continentes.(COUTO: 2004)

    Dados estatsticos sobre as cem lnguas maternas mais faladas no mundo,

    divulgados em 1999, colocavam a lngua portuguesa em sexta posio, com um total

    de falantes calculado em 170 milhes. Verificava-se, por conseguinte, que entre as

    dez lnguas maternas com maior expanso no planeta, o Portugus apenas era

    suplantado pelo Chins (Mandarim), o Espanhol, o Ingls, o Bengali e o Hindi,

    ocupando a posio de terceira lngua europia, embora com um nmero de falantes

    idntico ao Russo. O Portugus , atualmente, a lngua oficial de oito Estados 5em

    quatro continentes; lngua de trabalho em doze organizaes internacionais, sendo

    5Portugal, Cabo Verde, Guin Bissau, So Tom e Prncipe, Mocambique, Angola, Brasil.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    21/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    21

    utilizado quotidianamente por cerca de 200 milhes de seres humanos. O grfico 1

    mostra a importncia da lngua portuguesa entre as dez principais lnguas maternas

    do mundo:6

    Grfico 1: A LNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

    (In: http://www.instituto-camoes.pt/bases/lingua/portugues.htm )

    Os dados, apesar de recentes, j esto defasados, visto que a populao

    brasileira atinge hoje 182 milhes de habitantes, representando quase o dobro das

    93 milhes de pessoas existentes no pas em 1970. Ou seja, em 34 anos apopulao do pas praticamenteduplicou. Em 2050, o contingente populacional do

    Brasil poder alcanar os 259,8 milhes de habitantes, o que colocaria o pas na 6

    posio do ranking mundial, precedido da ndia, com 1,531 bilho; da China, com

    1,395 bilho; Estados Unidos, com 408,7 milhes; Paquisto, com 348,7 milhes; e

    Indonsia, com 293,8 milhes.7

    A sociedade mundial est em rpida transformao e os principais motores

    desse processo so o avano tecnolgico e das novas tecnologias do conhecimento;

    a internacionalizao e o processo de globalizao, favorecidos pelo uso cada vez

    6In: . Acesso em 03 de outubro de 2004.7Os dados esto na publicao Projeo da Populao do Brasil por sexo e Idade para o perodo 1980-2050,Reviso de 2004, do Instituto Brasileiro de Geografia e estatstica (IBGE). Dado colhido em 06 de novembro de2004 no site governamental: .

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    22/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    22

    mais amplo da internet, pela formao de blocos de pases como a Comunidade

    Europia (com moeda nica) e o MERCOSUL, s para citarmos alguns exemplos.

    O MERCOSUL prev medidas de integrao educativas, culturais e lingsticas,dentre as quais o ensino de portugus e de espanhol nos pases membros [...]Quanto aos resultados, eles se mostram ainda bastante tmidos, eprovavelmente isto se deve em parte ao fato da [sic] lngua portuguesa assimcomo a lngua espanhola ocuparem um lugar de pouco prestgio como lnguaestrangeira no sistema escolar dos pases da Amrica do Sul. (PEREIRA: 2003,p. 59).

    Os alunos que hoje aprendem PLE vivem nesse mundo globalizado, em um

    contexto intercultural, o que lhes permite construir uma bagagem de experincias e

    de conhecimentos cada vez mais heterognea. O grfico 2, a seguir, mostra a

    projeo estatstica feita para 2050:

    Grfico 2 PROJEES DEMOGRFICAS DE FALANTES DE PORTUGUS LM

    Ainda conforme COUTO (2004):

    A partir do cruzamento dos dados fornecidos pelas organizaes de carizregional em que o Portugus assume a funo de uma das duas lnguasoficiais com as projeces demogrficas das Naes Unidas at 2050chegamos concluso de que o nosso idioma encontra as maiorespotencialidades de crescimento, enquanto lngua de comunicaointernacional, na frica Austral e na Amrica do Sul [...] O recente fenmenode integrao regional que conduziu criao do MERCOSUL est a contribuirde forma intensiva para um movimento recproco de ensino do Portugus e doEspanhol entre os pases membros. A associao deste elemento novo edinmico com as projeces demogrficas revela que existe um vastssimoespao para um crescimento exponencial do ensino da Lngua Portuguesa na

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    23/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    23

    Argentina, no Uruguai e no Paraguai, actualmente com uma populao globalde 44,5 milhes de indivduos e que rondar os 60 milhes em 2025 e os 71milhes em 2050 (COUTO, Ibidem)

    Dentro desse panorama de intenso crescimento que podemos conceber a

    anlise de Materiais Didticos (MDs) de PLE que se constituem como instrumento

    de veiculao da lngua/cultura brasileira em idioma portugus para falantes de

    outras lnguas e, portanto, de culturas diferenciadas em contextos de imerso ou

    no, (ou endolnge e exolnge, no dizer de FRANZONI, 1992), em um contexto

    de forte demanda internacional. Mas devem levar em conta tambm a distncia ou

    proximidade da lngua portuguesa em relao do estrangeiro que deseja estudar

    PLE, se tomarmos por base bem genrica, o quadro a seguir, elaborado por

    GRANNIER (2002, p. 58).

    Quadro 1: Tabela comparativa da proximidade entre portugus e outras lnguas

    O quadro apresentado destaca a relao de proximidade entre as lnguas e o

    portugus, e identifica as possibilidades maiores ou menores de ser adotada a

    estratgia de anlise contrastiva no ensino de PLE a alunos estrangeiros das

    nacionalidades apresentadas.

    Para que possamos entender mais claramente esse processo, necessrio

    distinguir Segunda Lngua (SL ou L2) de Lngua Estrangeira (LE), tal como

    concebemos PLE na presente pesquisa.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    24/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    24

    Citando RICHARDS 1978, HEYE (2003, p. 31) situa a distino entre LE e SL

    (L2) em termos de aquisio versus aprendizagem. H, em alguns casos,

    preferncia por distinguir LE de L2, considerando a primeira (LE) como a lngua que

    se adquire depois da materna (ou primeira), em um ambiente onde ela no usada

    naturalmente, ou seja, em ambiente de sala de aula. A segunda (L2) a lngua que

    se adquire depois da primeira (L1), num ambiente social onde ela usada como

    meio de comunicao, tornando-se, para quem a adquire, uma outra ferramenta de

    comunicao, alm de sua L1.

    O autor distingue tambm bilingualidade de bilingismo, que, segundo ele

    entendido como a situao em que coexistem duas lnguas como meio de

    comunicao num determinado espao social, ou seja, um estado situacionalmente

    compartimentalizado de uso de lnguas (HEYE: 2003, p. 33-4). Bilingualidade

    seriam os diferentes estgios distintos do bilingismo, pelos quais os indivduos,

    portadores da condio de bilnge, passam na sua trajetria de vida. Os estgios

    so vistos como processos situacionalmente fluidos e definem, de forma dinmicaa

    bicompetncia lingstica, comunicativa e cultural nas diferentes pocas e situaes

    de vida (HEYE, Ibidem, idem).

    Para ALMEIDA FILHO (2004b), LE uma outra lngua em outra cultura de um

    outro pas pela qual se desenvolve um interesse autnomo (particular) ou

    institucionalizado em conhec-la, enquanto L2 uma L no-materna que se

    sobrepe a outra(s) que no circula(m) ou circula(m) setorialmente com restries

    [...] que os alunos dominam bem ou dominam com lacunas.

    GRANNNIER (2001, p. 2) introduz o termo nova lngua, referindo-se

    segunda lngua lato sensu. Neste grupo a autora insere os brasileiros que tm como

    L1 uma das mais de 180 lnguas indgenas brasileiras, [...] os que tm como a

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    25/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    25

    Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como sua L1, o caso dos africanos dos

    pases de lngua oficial portuguesa (PALOP), que tm uma perto de 200 lnguas

    africanas como sua L1 (...).

    Diante dessa fundamental delimitao, vamos aprofundar nossa anlise nos

    processos de constituio do PLE,assim como o portugus que foi sendo ensinado

    pelos jesutas nos primeiros anos de nossa colonizao o era. Com o passar do

    tempo, os descendentes dos nativos, que foram aprendendo portugus, passaram

    a aprend-lo como L2 ou SL.

    No exerccio de regncia de turmas de PLE, em turmas com alunos de

    nacionalidades distintas, compostas de filhos de estrangeiros que tm o ingls como

    lngua materna (LM), a prtica demonstra necessidades e interesses diferenciados

    dos aprendizes. Essa constatao, ajuda a descortinar as distintas formas de lidar

    com o aprender PLE de cada estrangeiro, o que vai demandar escolhas distintas no

    que tange a estratgias de ensino, abordagem e mtodos, tipo de recursos a serem

    explorados, os MDs a serem utilizados.

    Ao lado da importante (s vezes confortvel ou desconfortvel) inquietao

    que a escolha/utilizao de um MD suscita, outras no menos importantes surgem,

    como fruto doestudo de textos tericos da Lingstica Aplicada (LA) como o desejo

    de fugir do modelo perverso de simplesmente criticar os MDs por estarem ou no

    estruturados com base nos constructos tericos eleitos para fundamentar a anlise,

    na qual eles vo sendo enquadrados. O presente trabalho vai buscar no MD, na

    materialidade lingstica de sua estruturao, incluindo os efeitos de sentidos

    criados a partir da anlise de sua gramtica verbal e visual (KRESS & LEEUWEN:

    1996) as bases tericas, reveladas por sua estruturao - uma concepo de ensino

    aprendizagem que extrapola o mbito da LA e vai descortinando a exigncia por um

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    26/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    26

    olhar inter e transdisciplinar como to bem sugeriu BORDIEU (2002, p. 105). O

    principal objetivo refletir e apresentar possveis caminhos de superao

    metodolgica no ensino de lnguas (ALMEIDA FILHO: 2005, p. 87) na tentativa de

    apresentar algumas respostas s perguntas por ele formuladas: Que novas

    transformaes esperar agora? Por que chegamos s at aqui? At onde podemos

    chegar? Como chegaremos l? (ALMEIDA FILHO: Ibidem, p. 97-100). Ousadia ou

    Obstinao? Somente a partir da leitura e anlise do texto da presente tese essa

    ltima pergunta poder ser respondida.

    1.2.1. Traando objetivos

    A principal meta da presente tese identificar como se do os contratos de

    comunicao (CC) em MDs de PLE dirigidos a adolescentes com base nos

    constructos tericos de uma rea interdisciplinar entre a Anlise do Discurso (AD)

    Semiolingstica Discursiva de Charaudeau e a LA. Ela , portanto, produto do

    entrecruzamento de referncias tericas especficas da LA e da AD confrontadas

    com as experincias didticas, vivenciadas atravs de minha prtica pedaggica

    como professora regente de PLE. No decorrer do trabalho sero investigados os

    efeitos de sentido criados pelo respeito ou infrao dos contratos de comunicao

    (CC) firmados na elaborao dos MDs de PLE, que explicitam seu objetivo (ensino

    comunicativo), seu pblico-alvo (adolescentes), suas estratgias para atingir essas

    condies de produo. Fica evidente que a complexidade do objeto de estudo vai

    alm do ensino de LE, uma vez que trata a linguagem compreendida como um

    conjunto de prticas sociais, com foco nos textos e nas circunstncias nas quais eles

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    27/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    27

    so utilizados, segundo os CC firmados entre as instncias subjetivas. Objetiva, ainda,

    observar a construo do processo identitrio das instncias subjetivas no discurso

    dos MDs, justificada atravs da anlise da materialidade lingstica com que ele

    estruturado; fazer o levantamento e anlise dos itens lingsticos mais recorrentes e

    relevantes para a construo das imagens das instncias enunciativas, segundo os

    CC firmados entre elas (os itens que definem essas instncias); identificar possveis

    relaes entre os CC e o contrato didtico (CHARAUDEAU, 1984) ao qual as

    instncias enunciativas estariam/esto subordinadas; identificar possveis relaes

    histrico-pedaggicas entre a trajetria do ensino de PLE e de elaborao de MDs de

    PLE e a histria do Livro Didtico no Brasil; relacionar as implicaes histrico-scio-

    culturais, pedaggicas e lingsticas dos contratos (didtico e de comunicao),

    visando identificao de processos discursivos entre elas existentes que, pela

    anlise dos CC, so evidenciados. Finalmente, objetiva sinalizar alguns caminhos de

    (re)institucionalizao do ensino de PLE, sob o olhar discursivo.

    Como docente/pesquisadora de PLE, sinto-me nesse incio de sculo XXI,

    desafiada a colaborar no resgate de ressonncias fundadoras do ensino de PLE no

    Brasil: o incio das atividades jesuticas na colnia, as medidas tomadas pela

    metrpole a expulso dos jesutas, o processo de institucionalizao do portugus

    como lngua nacional e as medidas de nacionalizao diante da expanso das escolas

    de imigrantes-, a retomada do ensino de portugus como lngua estrangeira e,

    finalmente, a configurao do atual quadro do Ensino de Portugus Lngua

    Estrangeira (EPLE) e da pesquisa em PLE.

    Passado tanto tempo do marco inicial do processo histrico de disciplinarizao

    da lngua portuguesa como LE, a presente tese pretende contribuir para o

    delineamento do espao que o ensino de PLE tem ocupado e eventualmente poder

    ocupar no contexto geral de ensino da lngua portuguesa no Brasil no sculo XXI.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    28/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    28

    1.2.2. Formulando hipteses de trabalho

    Como a presente pesquisa situa-se no campo interdisciplinar entre a AD e a

    LA, esto sendo levadas em considerao algumas hipteses de trabalho nessa

    dimenso, para serem devidamente analisadas, segundo os elementos que

    comprovem ou no dados colhidos no transcorrer do trabalho com base na

    metodologia da AD emprico-dedutiva. So elas as seguintes:

    1. Fazendo a retrospectiva histrica do EPLE no Brasil, poder-se-ia

    estabelecer uma relao direta entre o modelo de constituio do livro didtico (LD)

    de Portugus Lngua Materna (PLM) e os LDs de PLE, dada uma aparente

    semelhana entre eles quanto estruturao (fragmentao, descontextualizao detextos e exerccios). Contudo, de modo especfico, os MDs de PLE, tal como

    constitudos, apresentariam uma importante incoerncia constitutiva, cujas causas

    estariam no seu modelo de produo, (des)focado dos fundamentos da abordagem

    comunicativa, na qual consideram estar estruturados (autenticidade e sociointerao);

    2. As instncias enunciadoras das prticas educativas pressupostas

    pelos/nos MDs eu comunicante e tu interpretante poderiam produzir entre si (e de

    si) um entrecruzamento ou provvel apagamento em relao instncia

    enunciadora, cuja imagem ilusoriamente aparenta ser comunicante. Poderia haver

    uma estreita ligao entre o contrato didtico e os CC armazenados na memria das

    situaes de comunicao firmados nos MDs de PLE (CHARAUDEAU, 1984;

    CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2004), provocando determinados efeitos de

    sentido, cuja investigao poderia elucidar o modelo de estruturao dos MDs no que

    concerne concepo de ensino e sua conseqente implementao.

    3. O eu enunciador (EUe) dos MDs seria, na verdade, a instncia subjetiva

    do discurso pedaggico (o Estado, as Leis de Educao, os editores) e funcionaria

    como um superpoder, pr-determinando as regras do CC firmado entre o eu

    comunicante e o tu interpretante (consumidores potenciais dos livros: professores,

    alunos, escolas de lnguas) e a constituio do modelo identitrio das instncias

    subjetivas enunciadora e destinatria.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    29/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    29

    1.3. ORGANIZANDO A TESE

    O presente trabalho organiza-se, considerando as suas partes principais, em

    cinco captulos, alm das consideraes finais, referncias bibliogrficas

    consultadas durante a pesquisa e a listagem de figuras, quadros, grficos e siglas.

    O Captulo I, intitulado Pontos de partida ou histria de uma escolha traa

    uma panormica das inquietaes vividas como professora-pesquisadora e os

    passos dados no desenvolvimento do trabalho investigativo, situando o contexto de

    sua realizao. Mais do que um captulo de introduo, visa pontuar uma tenso de

    carter constitutivo do ser professor, do ensinar/aprender uma LE. Tem como

    objetivo principal postular o ser aprendente de uma LE, fazendo a distino

    necessria entre LE, SL, L2, esclarecendo o conceito de bilingismo, de

    bilingualidade e especificando as caractersticas da interlngua. Retratanto o

    contexto do ensino de PLE, notadamente no Brasil e no exterior, sinaliza a

    relevncia do estudo realizado e as possibilidades de extenso dos caminhos que

    por ele sero apontados.

    O captulo I ressalta ainda o carter interdisciplinar da pesquisa, entre a LA e

    a AD Semiolingstica Discursiva - CHARAUDEAU, 1983a, 1984, 1992;

    1995/2005, 1996, 1999, 2002; CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2004. Finalmente

    explicitada a metodologia de pesquisa, so equacionadas as hipteses formuladas

    e elucidados os procedimentos adotados para consecuo dos objetivos definidos.

    No captulo 2, intitulado O letramento em lngua estrangeira, estabelecida a

    distino entre abordagem e mtodo e feita uma sucinta categorizao das

    abordagens, segundo os dois tipos em que foram divididas: as abordagens audio-

    orais/visuais situacionais e as ncio-funcionais comunicativas. A seguir, seguindo a

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    30/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    30

    unanimidade dos tericos em relao centralidade do LD no processo de

    ensino/aprendizagem de LE, feito um histrico do LD no Brasil, do LD de PLE e

    elencadas as obras publicadas na rea. feita a caracterizao dos MDs de PLE

    para adolescentes, Sempre Amigos e Tudo Bem? que compem o corpus de

    anlise.

    O captulo 3 Os materiais didticos de PLE e os contratos de comunicao

    iniciado com a definio desse tipo de contrato, em paralelo com o conceito de

    contrato didtico (CHARAUDEAU, 1984). No que tange a PLE, so discutidos os

    pilares da abordagem comunicativa e discutida a questo da autenticidade e das

    finalidades scio-comunicativas nas prticas discursivas de leitura em PLE (com

    destaque para o lugar da interculturalidade no trabalho com textos) e os processos

    de aquisio de vocabulrio. So explicitados os conceitos de texto, discurso,

    contexto discursivo, estratgias e competncias discursivas. Alm disso,

    configurado o espao do ensino da metalngua dentro do contexto terico

    comunicativista e estudadas as estratgias de ensino da produo de textos orais e

    escritos em PLE. Finalmente, abordando o conceito de tarefa em perspectiva

    relacional com o que preconizam os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de

    LE, discutido o conceito de gnero textual e sua importncia para a definio de

    um ensino/aprendizagem de lngua numa abordagem discursiva. Finalmente, com

    base na anlise do corpus, formulado o conceito de transposio didtica de

    gneroe de gnero didtico.

    No captulo 4, intitulado O jogo discursivo no ensino de PLE feita a

    apresentao das caractersticas das trocas linguageiras e definidas as instncias

    discursivas que firmam entre si CC. No desenvolvimento da anlise descrito o

    processo de ocupao dos papis discursivos e estabelecida a necessria relao

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    31/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    31

    entre a ocupao desses papis e a (re)caracterizao das prticas discursivas de

    que eles so parte, segundo o critrio da autenticidade. So caracterizadas a

    imagem de aluno, de professor e de LD; so explicitados os de seus modos de dizer

    discursivo, os processos de homogeneizao, fragmentao e de apagamento

    identitrio das instncias discursivas, o que, segundo a anlise vai comprovar,

    interfere sobremaneira no desenvolvimento das prticas discursivas, abalando,

    fortemente, os pilares da abordagem comunicativa apontados anteriormente: a

    autenticidade e a sciocomunicao.

    No captulo 5, so propostos caminhos e so retomadas, conseqentemente,

    as hipteses de pesquisa e as reflexes sedimentadas na anlise dos dados. Com

    base na anlise da materialidade lingstica dos prprios MDs, so analisados os

    seus processos de fragmentao e homogeneizao e revelada a circularidade do

    discurso didtico. No que tange ao ensino da leitura em PLE, destacada a

    imprescindibilidade de uma ao de perspectiva intercultural e interdisciplinar.

    Finalmente, so apontadas perspectivas para o ensino de PLE e sugeridas novas

    prticas discursivas de multiletramento. So sugeridas, ainda, aes de

    (re)institucionalizao do ensino de PLE.

    No captulo 6 so apresentadas as concluses gerais da tese e, a seguir,

    elencadas as referncias bibliogrficas que sustentaram teoricamente o presente

    trabalho.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    32/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    32

    1.4. DEFININDO A METODOLOGIA DE PESQUISA

    Como explicitado anteriormente, o presente trabalho foi estruturado em rea

    interdisciplinar entre a AD e a LA. Por essa razo, a tradicional apresentao dos

    fundamentos tericos em que a tese ser embasada vai sofrer uma necessria

    adaptao. Segundo o prprio CHARAUDEAU (1995/2005, p. 19-20):

    A anlise do discurso, do ponto de vista das cincias da linguagem, no experimental, mas emprico-dedutiva. Isto significa que o analista parte de ummaterial emprico, a linguagem, que j est configurada numa certa substnciasemiolgica (verbal). esta configurao que o analista percebe, podendomanipul-la atravs da observao das compatibilidades e incompatibilidades das

    infinitas combinaes possveis, para determinar recortes formais, simultaneamentes categorias conceituais que lhes correspondem. Uma anlise do discurso, deve,pois, determinar quais so seus objetivos em relao com o tipo de objetoconstrudo, e qual a instrumentalizao utilizada, de acordo com o procedimentoescolhido.

    importante destacar a existncia de trs vertentes da AD. Aquela com a

    qual vamos trabalhar, a Semiolingstica Discursiva - (CHARAUDEAU, 1983), com

    filiaes pragmticas, psicossociolgicas, retrico-enunciativas e mesmo

    socioideolgica, enfim, de carter pluridisciplinar. Segundo essa abordagem terica,

    na semiotizao do mundo, a linguagem multidimensional e estruturada com base

    no pressuposto de intencionalidade das instncias discursivas na

    estruturao/interpretao do discurso. (CHARAUDEAU, 1995/2005). O principal

    objetivo de anlise da AD destacar as caractersticas dos comportamentos

    linguageiros (o como dizer) em funo das condies psicossociais que os

    restringem segundo os tipos de situao de troca (os contratos) - CHARAUDEAU,

    ibidem, p. 21- nfase do autor. A outra corrente da AD denominada de linha

    francesa (Pcheux/Orlandi). PAULIUKONIS (2002) assim a define:

    [...] prtica comum de anlise que comeou na dcada de 60 na Frana (em 1969apareceu um nmero especial da revista Langages com o ttulo Analyse dudiscours ), que se disps a caracterizar a nova tendncia: nessa poca, foi tambm

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    33/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    33

    importante a influncia da obra Analyse Authomatique du Discours, de MichelPcheux (1967) [...] denunciava-se como sendo uma iluso a idia de ser o sujeitoa fonte do sentido, uma vez que ele estaria sendo sempre assujeitado a umaideologia coletiva e social; privilegiava-se a desestruturao dos textos, para serevelar a ideologia social. Pode-se, em sentido amplo, definir essa corrente comouma tentativa de aproximao com a linha analtica do discurso de modo

    psicanaltico, em que se decompe a totalidade para se chegar ao sentido.

    A terceira corrente designada Anlise Crtica do Discurso (ACD) centrada

    na anlise dos discursos preconceituosos, como o racista, o machista, o xenfobo

    entre outros. Essa corrente de anlise tem arrebanhado adeptos que estudam as

    influncias desses discursos nos espaos institucionais, uma vez que, envolvendo

    valores, requerem, como conseqncia, um tratamento crtico. Seus maiores

    representantes so Fairclough, Van Dijk, Emlia Ribeiro; Meurer e Motta-Roth (no

    Brasil).

    Apesar das reflexes que a pesquisa em AD tem apontado, sua importncia

    na rea do ensino de lnguas ainda vista de forma controversa, sendo criticada por

    alguns e defendida por outros, respectivamente citados a seguir:

    [...] os resultados de pesquisa aplicada sobre questes do ensino comunicativono tm sido suficientes para compor um quadro terico slido que respalde aprtica renovadora. Isso pelos motivos que passo a expor: [..] idias com forastomadas de fora da lingstica aplicada/ensino de lnguas que se candidatam aalavancar mudanas metodolgicas de amplo alcance, quase sempre alm do quepodem oferecer grande operao do ensino de lnguas na prtica. (Acompanhauma postura aplicadora e muitas vezes salvadora que os inocentes no podiamver: por exemplo, alguns criticalistas escorados na AD de linha francesa oucriticalistas-transformadores na perspectiva de Freire). (ALMEIDA FILHO: 2005,p.100)

    (...) A AD que tem basicamente trs vertentes distintas um campo terico que

    oferece ferramentas imprescindveis para o tratamento das relaes entre lnguas, na medida em que prope, como pressuposto terico, a indissociabilidade entre asregularidades discursivas e as representaes de identidades sociais.(FANJUL:2002, p. 14).

    Reiterando a crena na eficcia de uma abordagem interdisciplinar entre a AD

    e a LA e, concordando com Fanjul, acreditamos que o processo de

    inter(in)compreenso momentaneamente travado entre as falas destacadas acima

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    34/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    34

    seja extremamente profcuo para o desenvolvimento de pesquisas na rea de

    ensino/aprendizagem de lnguas. Que as concluses a que chegamos no

    desenvolvimento da presente tese sirvam para ratificar essa afirmao.

    Conforme o exposto, a seguir so definidos conceitos tericos basilares na

    fundamentao da Semiolingstica Discursiva (cf. captulo 2) e da LA ao ensino de

    lnguas. No que se refere LA, basilar o conceito de abordagem.

    Conjunto de conceitos nucleados sobre aspectos cruciais do aprender e ensinaruma nova lngua (...) a abordagem mais ampla que a metodologia por seenderear no s ao mtodo mas tambm s outras trs dimenses dematerialidade do ensino a saber:, a do planejamento (...) a dos materiais (que se

    escolhe e se produzem)e a do controle do processo mediante avaliaes.(ALMEIDA FILHO: 2005, p. 93).

    No ensino de lnguas, as abordagens podem ser classificadas em dois

    grandes ramos a saber: as udio-orais /visuais situacionais e as nciofuncionais

    /comunicativas. importante esclarecer que os MDs que compem o corpus de

    anlise da presente tese soditos representantes da abordagem comunicativa de

    ensino, portanto do segundo tipo identificado.

    Outros dois conceitos tericos da LA so importantes para o desenvolvimento

    de nossa anlise. O primeiro o de autenticidadeque, apesar de ser atribudo a

    WIDDOWSON (1978/1991) nas exaustivas referncias feitas a este conceito por

    lingistas aplicados, j era definido, em relao ao ensino de lnguas, duas dcadas

    antes, por COSTE (1970): [...] tudo aquilo que no foi preparado para ao ensino de

    francs como lngua estrangeira [...] aquilo que no adaptado ou retocado [...] que

    no se limita a formas escritas.

    interessante o registro do pioneirismo de COSTE (na rea de LA com o

    conceito de autenticidade) e de Charaudeau, em 1984, em anlise desenvolvida em

    campo interdisciplinar entre a LA e a AD, distinguindo, com base nesse mesmo

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    35/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    35

    conceito, o professor nativo (aquele que, no contrato didtico, ocupa o lugar

    discursivo de testemunhaautntica), do professor no-nativo (a testemunhacrtica).

    Os desdobramentos dessa formulao terica de Charaudeau vo ser definidos e

    utilizados para anlise dos contratos didticos em PLE.

    O outro conceito basilar da LA o de comunicao, ou seja, a qualidade de

    ser comunicativo. ALMEIDA FILHO (2005, p. 102-3) assim o define:

    Para responder com maior segurana sobre a centralidade da comunicao, parase aprenderem outras lnguas, precisamos considerar os seus vrios sentidosgerais possveis: (...)1 Entrar numa relao dialgica com outros permitindo que emerjam significados,laos sociais, conscincia e, eventualmente, ao transformadora;

    2 Desenvolver atividades orais (compreenso de linguagem oral, repeties paraajudar a fixar, desempenho de papis em grupos e dramatizaes) com instruesna prpria lngua-alvo;3 Ensinar num ritmo rpido mantendo interaes orais breves com os alunos como intuito de praticar e testar a aprendizagem da lngua-alvo;4 Na prpria lngua-alvo (ou crescentemente nela) criar ambientes de uso ouvivncia enquanto se estuda algum tpico ou rea ou se busca resolver tarefas eprojetos; (...)Ao entrarmos em comunicao aumentamos fortemente a demanda nos alunos porlngua (vocabulrio, regras fonolgicas, sintticas e discursivo-culturais) nummomento em que eles (os aprendizes) ainda no as possuem. Este o grandedesafio pedaggico inicial o de abrir comunicao com poucos recursoslingsticos. (nfase adicionada)

    Na relao entre o conceito de comunicao formulado acima (notadamente

    nos itens de nfase adicionada) com os de AD no transcorrer da anlise, vamos

    investigar se os contratos de comunicao firmados nos MDs implementam a

    comunicao autntica, to buscada pelos comunicativistas.

    A confluncia entre os pilares tericos at agora explicitados sugere

    (exigem?) assumir o risco de delimitar fronteiras do(s) novo(s) territrio( s),

    definido(s) a partir do conceito de desterritorializao: a dimenso cultural na

    definio de territrio, o v antes de tudo como um espao dotado de identidade,

    uma identidade territorial (HAESBAERT: 2002, p. 35). Em que territriosdentro e

    fora do Brasil se fala o portugus? Qual o territrio do EPLE no Brasil e no

    exterior? Qual o territrio da pesquisa aplicada do ensino de lnguas? No

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    36/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    36

    desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem de LE, qual o territrio do

    aluno? E do professor? Estamos falando de polissemia ou de constitutividade?

    Para concluir o presente captulo, cito SERRANI-INFANTE (1998, p. 232), que

    reitera o encaminhamento da pesquisa em LA em direo multidisciplinar:

    Os desenvolvimentos atuais dessa disciplina (Lingstica Aplicada),particularmente nas propostas de perspectiva transdisciplinar, a meu ver, permitemrepensarmos, no cruzamento com outros domnios, fatores fundamentais nocondicionamento de processos tais como o de aquisio de segunda lngua/lnguaestrangeira e seu correlativo de ensino aprendizagem. (nfase adicionada)

    Segundo as atuais necessidades do mundo ps-moderno (HALL, 1996), no

    pode ser considerada uma atitude perdulria ou teoricamente confusa, mas

    intrinsecamente constitutiva do ser-pesquisador, a incurso por vrios territrios

    acadmicos. Simultaneamente. Embasada nesses pressupostos, a presente tese faz

    essa opo metodolgica.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    37/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    37

    CAPTULO 2. O LETRAMENTO EM LNGUA ESTRANGEIRA

    Ns somos medo e desejo/ somos feitos de silncio e som

    Tem certas coisas que eu no sei dizer...

    (Lulu Santos, CertasCoisas)

    2.1. O CONCEITO DE LETRAMENTO EM LE

    No saber dizer. No conseguir compreender. Querer expressar-se e no ter

    palavras para faz-lo. Assim se sente o estrangeiro ao iniciar o processo de

    aprendizagem de uma LE entrecruzando domnios, (re)delimitando fronteiras,

    (re)dimensionando valores culturais... Falar sempre navegar procura de si

    mesmo com o risco de ver sua palavra capturada pelo discurso do Outro [...] No

    raro que esse navegar mude de direo (CHARAUDEAU: 2002).

    O domnio de lnguas estrangeiras globalizou-se, tornou-se indispensvel e

    sempre muito bem-vindo, tanto no que tange facilidade de interao em tempos de

    popularizao da interao digital quanto nos processos de interao face-a-face, no

    campo profissional, nas formas de lazer e de aprimoramento acadmico. Uma das

    razes para algum se tornar bilnge , segundo MACKEY (1962) a existncia de

    diferentes comunidades monolnges com as quais se precisa interagir. Do contato

    lingstico resultar o bilingismo em diferentes graus de competncia, dependendo

    das funes de cada lngua na vida de cada falante.

    No que tange a adolescentes, pblico a quem se dirige os MDs analisados na

    presente tese, a situao de aprendizagem de uma lngua estrangeira pode ser uma

    necessria mas indesejada imposio. Na condio de imigrante compulsrio,

    muitos chegam ao Brasil em funo das oportunidades de trabalho dos pais. Deixam

    para trs um lastro de amizades, de expectativas um universo sociocultural com

    que se exprimem em lngua materna. Nesses casos, a saudade dos amigos

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    38/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    38

    deixados no pas natal e at mesmo um eventual namorado(a) podem criar

    situaes de dificuldade no processo ensino/aprendizagem, com as quais o

    professor de LE dever saber lidar atenta e cuidadosamente, para que o processo

    deslanche de modo positivo.

    Em um primeiro momento, elas se evidenciam fisicamente, atravs da

    adaptao do aparelho fonador s necessidades articulatrias para produo dos

    sons da nova lngua:

    Comear o estudo de uma lngua estrangeira se colocar em uma situao

    de no saber absoluto, retornar ao estgio do infas, do nenm que no falaainda, (re)fazer a experincia da impotncia de se fazer entender. Osentimento de regresso associado a essa situao reforado quando aaprendizagem privilegia, no incio, como acontece freqentemente,, umtrabalho exclusivamente oral focalizando os sons. [...] to difcil para eles(aprendizes de uma LE) sair dos automatismos fonatrios de sua lnguamaterna que no conseguem, repetir mesmo as seqncias mais simples(REVUZ: 1998, p.221).

    Outras dificuldades vo surgindo, conforme a realidade de cada aprendiz, que

    lida com um segundo importante e flagrante entrave: a visibilidade da arbitrariedade

    do signo lingstico:

    [...] a operao de nominao em lngua estrangeira, mais do que umaregresso, vai provocar um deslocamento das marcas anteriores. A lnguaestrangeira vai confrontar o aprendiz com um recorte do real mas sobretudo comum recorte em unidades de significao desprovidas de sua carga afetiva [...] oque se estilhaa ao contato com a lngua estrangeira a iluso de que existe umponto de vista nico sobre as coisas, a iluso de que uma possvel traduotermo a termo, de uma adequao da palavra coisa [...] o arbitrrio do signolingstico torna-se uma realidade tangvel, vivida pelos aprendizes na exultao... ou no desnimo (REVUZ: Ibidem, p. 223 - nfase da autora).

    O aluno vai aprender o significado das palavras e expresses utilizadas, mas

    inicialmente, no conseguir sentir o seu peso, processo que vai mobilizar ou no

    os filtros afetivos (KRASHEN: 1982), conforme seja sua experincia pessoal diante

    desse estranhamento do dito na outra lngua. Os processos anteriormente

    apresentados, ainda segundo a autora, mobilizam as mais variadas reaes nos

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    39/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    39

    aprendizes, que vo desenvolver diferentes estratgias para lidar com a nova

    situao (REVUZ: Ibidem, p. 224-5).

    A primeira a da peneira o aprendiz retm muito pouco do que lhe

    ensinado. A segunda, a do papagaio os alunos decoram frases-tipo para

    empreg-las em situaes especficas (termos tcnicos, por exemplo, ainda que seu

    uso seja inadequado ao contexto discursivo). Na terceira, a do caos, ou seja, [...] a

    lngua estrangeira ficar eternamente um acmulo de termos no organizado por

    regra alguma. Finalmente, na do afastamento total, os aprendizes rejeitam todo

    contato direto com a lngua estrangeira. Ela freqente nos casos de adolescentesimigrantes que no aceitam a nova condio e, muitas vezes, para agredirem os

    pais, se recusam, a aprender a LE. Dois sentimentos so manifestados pelos

    aprendizes diante dessa constatao: exultao ou desnimo (REVUZ: Ibidem, p.

    223)8.

    A complexidade do processo de ensino-aprendizagem de uma LE bastante

    significativa: [...] quando se aprende uma nova lngua, no se aprende apenas uma

    nova tcnica palavras, sons, regras mas se aprende tambm a recortar o mundo

    de forma diferente. [...] Ao professor de LM cabe ampliar a competncia lingstica

    do falante e ao professor de LE constitu-la (BITTENCOURT:1997, p. 92-98). E a

    prpria autora complementa sua afirmao, atravs da tipologizao dos saberes

    necessrios aprendizagem de uma LE: elocucional (saber sobre as coisas do

    8Em relao aos adolescentes, minha experincia docente destaca o interesse e a enorme curiosidade. Lembro-me de um momento marcante em que, ao trabalhar com os alunos uma situao de comunicao telefnica, eulhes expliquei uma das maneiras brasileiras de dizer no. Uma delas seria dizer A gente se fala. Os alunosriram, se divertiram, experenciando o entrecruzamento das ressonncias de sentidos: os da LM (A gente se fala,significando Vou ligar mais tarde para combinar) e dos aprendidos nas aulas de PLE - o brasileiro que,dizendo isso, no vai ligar, ou seja, est polidamente dizendo no. Outro exemplo a ser mencionado o davivncia de dois sentidos da palavra gostosa: A pizza est gostosa. Essa garota gostosa. Um ex-alunoestrangeiro, descobrindo o sexo em plena juventude, em toda situao de comunicao oral, proposta em aula,inventava uma maneira de incluir uma mulher passando para ele dizer Gostosa. Atravs dessa repetio (e osmovimentos de face e a entonao com que proferia a frase), manifestava tambm uma sombra de machismoque os meninos da classe curtiam muito, pois irritavam as meninas...

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    40/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    40

    mundo), idiomtico(saber lingstico) e expressivo (saber concernente a uma dada

    situao).

    As consideraes iniciais sobre o aprender/ensinar uma nova lngua at aqui

    apresentadas podem ser visualizadas no esquema a seguir (figura 1), no qual so

    listados os fatores que interferem no processo de ensino/aprendizagem de uma LE.

    Observe-se a presena de vrios fatores intercorrentes, cuja influncia no processo

    ser apresentada no transcorrer da anlise.

    Figura 1: Fatores internos e externos do processo de aprender e ensinar lnguas 9

    Analisando os discursos dos aprendizes sobre a histria deles com a

    aprendizagem de uma lngua estrangeira, TAVARES (2003, p. 10-11) mostra que:

    9In: Almeida Filho,2005, p.18. Registre-se que na produo dos esquemas e grficos nas obras mais recentespode-se perceber uma inevitvel polifonia, fruto das relaes intertextuais entre elas e os textos dospesquisadores que produziram os conceitos fundadores empregados na LA como Fillmore, Krashen, Widdowsonentre outros.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    41/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    41

    [...] fica claro que h algo da ordem das subjetividades [...] o papel que elesconferem lngua estrangeira na vida deles, a frustrao por, muitas vezes, noalcanar o sucesso na aprendizagem e o desejo por dominar a lngua estrangeira[...] o grande desejo subjacente ao aprendizado de uma lngua estrangeira: odizer-se na lngua do outro, a possibilidade de ter outros significantes que

    possam significar os sujeitos.

    Ainda que sejam levados em considerao todos os fatores at agora

    elencados, imprescindvel frisar que a mobilizao dos saberes necessrios

    aprendizagem de uma LE se d sempreatravs de um trabalhode expresso, no

    qual o aprendiz vai vivendo um questionamento permanente sobre a adequao

    daquilo que diz quilo que quer dizer (REVUZ: Ibidem, p. 227). E os que aprendem

    uma lngua estrangeira sabem que a LM continua sendo a eleita para expressar as

    emoes mais intensas, os assuntos mais pessoais. Parafraseando a epgrafe do

    presente captulo, de autoria de Lulu Santos, usando a LE tem certas coisas que

    no se sabe dizer.

    Assim, o letramento em PLE o processo de aprendizagem no s da

    estrutura gramatical da lngua-cultura/alvo, mas a aquisio do saber elocucional,idiomtico e expressivo dessa lngua. o desenvolvimento da competncia

    comunicativa para a leitura e produo de textos nessa lngua, de modo que,

    paulatinamente, possam ser identificados o peso das palavras, ou seja, o seu valor

    discursivo. Nesse processo, o aluno vai estar utilizando os conhecimentos

    adquiridos na aprendizagem de sua LM e de outras LE, no que se refere s

    estruturas gramaticais, aos processos de discursivizao, bem como de identificao

    dos diferentes gneros textuais e de sua materialidade lingstica constitutiva, para o

    atingimento cada vez mais eficiente de seus objetivos comunicativos.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    42/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    42

    2.2. ABORDAGENS E MTODOS DE ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA

    Adquire-se uma lngua materna, mas aprende-se uma lngua estrangeira(KRASHEN: 1982).

    Muitos pesquisadores tm-se dedicado a pesquisas em LA em busca da

    melhor maneira de ensinar uma LE, movidos pelo desejo de equacionar omtodo

    mais eficiente, a abordagem mais adequada. Para dar prosseguimento anlise

    do letramento em LE, vamos, inicialmente fazer a distino entre abordagem e

    mtodo:

    A abordagem seria [...] refletidora de cmbios e equao contnua de umparadigma ou modelo de fazer pesquisa aplicada rumo produo de maisconhecimentos relevantes sobre o ensino e aprendizagem de lnguas nascondies que temos [...] a abordagem encapsula um corte epistmico cujoreconhecimento rigoroso traz benefcios ao desenvolvimento terico do ensino delnguas (ALMEIDA FILHO: 2005, p. 95).

    [...] mtodo basicamente um conjunto ordenado, estvel e coerente deprocedimentos, atividades e tcnicas de ensino, utilizados pelos professores paradesenvolver o contedo programtico [...] mtodo a aplicao de princpiostericos e, por estarem atrelados s teorias, os mtodos apresentam podernormativo, com tcnicas padronizadas de ensino a serem seguidas peloprofessor. Dessa forma, a prtica pedaggica limita-se aos procedimentosprescritos pelo mtodo, ou seja, significa ser fiel a ele (MENEGAZZO & XAVIER:

    2004, p. 116).

    Mtodo significa, ento, uma combinao de princpios e tcnicas. Os

    princpios representariam a estrutura terica do mtodo envolvendo cinco aspectos

    do ensino de LE: o professor, o aluno, o processo de ensino, o processo de

    aprendizagem e a cultura da lngua-alvo, enquanto as tcnicas (estratgias)

    englobariam atividades feitas em sala de aula, realizadas com base na aplicao

    dos princpios (LARSEN-FREEMAN:1986). Caso dois mtodos compartilhem

    princpios, uma determinada estratgia poder ser desenvolvida em ambos.

    Alguns autores consideram questionvel o conceito de mtodo, visto que as

    tcnicas, atividades e procedimentos especficos de um mtodo no so exclusivos

    dele. Podemos citar como exemplo, os dilogos dramatizados, que podem ser

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    43/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    43

    utilizados nos mais diversificados mtodos. Segundo PRAHBU (1990), muitos

    fatores interferem na escolha do melhor mtodo, dentre os quais podemos destacar

    os relacionados ao prprio aluno (ex. suas aspiraes, personalidade, estilo de

    aprendizagem), ao professor (ex. sua motivao, habilidade, atitude frente lngua

    que ensina) e organizao educacional (ex. objetivos da escola, carga horria,

    recursos).

    Em relao ao ensinar LE de modo institucionalizado, podemos identificar os

    dois extremos. H docentes que s dispem de um ttulo de livro didtico (para

    estudo dos alunos e seu prprio) e um aparelho de som (com entrada para fita

    cassete), quando h. o caso de muitos profissionais que atuam em escolas,

    geralmente da rede pblica, em que as condies de ensino clamam por reviso. H

    aqueles que trabalham em instituies na qual o professor dispe de recursos os

    mais variados (dentre os quais livros didticos de vrios autores e livros tericos,

    laboratrio com computadores conectados internet ininterruptamente e interligados

    em rede, Smart Board10, assinatura para acesso a vrios links institucionais

    educativos). Acrescente-se aos fatores anteriormente mencionados a diferena nos

    estilos de aprendizagem, de conhecimentos prvios em LE trazidos por alguns

    alunos, de bagagem cultural acumulada em ensino-aprendizagem de LM, fatores

    que influenciam decisivamente na eficincia e agilidade do processo. Sem falar nos

    aspectos emocionais, que so extremamente importantes.

    A relao direta existente entre a escolha da abordagem e a seleo das

    estratgias de ensino/aprendizagem e de avaliao, bem como a identificao do

    10O Smart Board um quadro computadorizado onde o professor pode escrever e ir abrindo novos quadros novas telas. Tudo o que escreve fica armazenado e ele pode ir retomando o que foi escrito e vrios quadrospodem ser abertos ao mesmo tempo. Toda a aula em udio e vdeo pode ser registrada (esses arquivos ficamdisponibilizados para os alunos ou para consulta posterior). Durante o uso do Smart Board o professor teminclusive acesso internet. O uso desse equipamento permite o encaminhamento diferenciado das atividades defixao dos contedos estudados. Sobre os recursos citados cf captulo 5 da presente tese.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    44/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    44

    pblico-alvo, so de extrema relevncia no planejamento de cursos e elaborao de

    MDs, conforme podemos visualizar na figura 2, reproduzida a seguir:

    Figura 2 Abordagem de ensino de lnguas11

    Segundo CORACINI (1995) a concepo de lngua(gem) e as vises de

    leitura podem ser classificadas em trs tipos distintos: o de base estruturalista,

    cognitivista e discursiva. Segundo cada tipo de abordagem, h variaes no conceito

    de texto. Para os estruturalistas, o texto visto como fonte nica de sentido. Para

    os cognitivistas, ele o conjunto de pistas deixadas para serem descobertas pelo

    leitor. Na abordagem discursiva, o texto e sua materialidade lingstica so

    concebidos como uma infinita rede de jogos de linguagem (WITTGENSTEIN: 1969),

    de significados partilhados por instncias enunciativas em determinado scio-

    histrico-ideolgico.

    Para os estruturalistas, o leitor decodificador, receptculo do saber contido

    no texto. O sentido (nico existente) encontra-se nas palavras e nas frases; a leitura

    (autorizada pela forma do texto) um processo passivo de decodificao. Na

    concepo cognitivista, a lngua um sistema de esquemas socialmente adquiridos;

    11In: ALMEIDA FILHO (2002, p.22).

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    45/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    45

    o leitor um sujeito ativo, inferidor de sentidos, recuperados pelas pistas deixadas

    pelo autor, e a leitura um processo interacionista autor/leitor/texto realizado com

    base no confronto entre os conhecimentos prvios do leitor e os dados do texto. Na

    concepo discursiva, a produo de sentidos se d pela ao das instncias

    enunciativas (, portanto, processual) e, por conseguinte, cada leitura nica, pois

    sero sempre variveis o momento, os sujeitos e os lugares em que ela se

    desenrolar.

    As numerosas pesquisas em LA tm revelado o ecletismo com que tem sido

    desenvolvido o trabalho de ensino de lnguas. Vamos, portanto traar um sucinto

    panorama dos principais mtodos de ensino de lnguas, dividindo-os em dois

    grandes ramos de abordagens: as udio-orais/visuais situacionais e as nocio-

    funcionais comunicativas.

    2.2.1. Abordagens udio-orais/visuais situacionais

    De base estruturalista, no Mtodo da Traduo e Gramticaocorre o privilgio

    da leitura, habilidade a ser desenvolvida alm da escrita. A capacidade de se

    comunicar oralmente na lngua-alvo no um objetivo de ensino. A traduo, meta

    mais importante para o aluno, empregada no ensino da LE (sendo inclusive, ponto-

    chave na avaliao). Para uma boa traduo, acredita-se ser necessrio o domnio

    das regras gramaticais e das conjugaes verbais da lngua-alvo, alm, claro, da

    memorizao do vocabulrio.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    46/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    46

    O professor domina os turnos de fala durante a aula. A participao do aluno

    bastante restrita e quase nula a interao aluno-aluno. Entre as atividades mais

    desenvolvidas destacam-se exerccios de traduo de passagem literria da lngua-

    alvo para a materna (momento em que o aprendiz desenvolve sua capacidade de

    procurar de sinnimos e antnimos, de identificar cognatos e aplicar, ainda que

    intuitivamente, regras gramaticais assimiladas).

    A ampliao de vocabulrio se d pela memorizao de palavras, que se

    espera sejam insumo para formao de frases. So realizados exerccios de

    preenchimento de espaos com palavras omitidas nos textos e testes de

    compreenso de leitura. Como atividade de produo escrita, os alunos fazem

    composies partindo de um tpico dado pelo professor.

    O Mtodo Direto segue na contramo e condena a traduo para a LM.

    Conseqentemente, as aulas so totalmente ministradas na lngua-alvo (inclusive

    para principiantes), atravs de mmicas e simulaes de situaes reais, nas quais

    fundamental o uso, pelo professor, de relias (objetos, fotos, ilustraes em geral),

    de gestos e mmicas na introduo do contedo e depreenso dos significados pelos

    alunos.

    A diviso dos turnos de fala equnime entre alunos e professores e entre

    alunos e seus colegas de classe. A gramtica nunca apresentada explicitamente,

    mas deve ser intuda pelos alunos. Leitura em voz alta de passagens, peas ou

    dilogos; ditados e exerccios de pergunta e resposta, de preenchimento de lacunas

    so conduzidos na lngua-alvo. Ocorre ainda a simulao de conversao e

    produo escrita discente sobre situaes reais.

    O Mtodo Audiolingual e o Mtodo Direto tm muitos aspectos em comum,

    mas muitas diferenas tambm. Surgido a partir das idias geradas pela lingstica

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    47/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    47

    descritiva e pela psicologia behaviorista, o principal objetivo no mtodo Audiolingual

    tornar os alunos capazes de usar a lngua-alvo para a interao. Presumia-se,

    quando de sua implementao, que os aprendizes podiam aprend-la

    automaticamente, sem parar para pensar, formando novos hbitos na lngua-alvo

    e superando os antigos assimilados de sua LM. Nesse mtodo, o contedo

    sempre bastante estrutural e introduzido atravs de dilogos iniciais aprendidos com

    memorizao, imitao e repetio. A partir desses recortes interativos so

    propostos exerccios de fixao dos contedos e do vocabulrio novo.

    A estratgia de proposio de jogos tambm adotada e as repostas corretas

    apresentadas pelos alunos so reforadas positivamente com prmios ou elogios.

    Introduzido de modo indireto, atravs dos recortes estruturais, includos

    intencionalmente nos dilogos, o conhecimento gramatical no vem acompanhado

    de sistematizao de regras. A interao aluno-aluno uma constante,

    especialmente nos drills, quando cada aprendiz se reveza nos diferentes papis do

    dilogo. Essa interao dirigida pelo professor, responsvel por apresentar aos

    alunos um modelo de fala, alm de ser o facilitador no processo de dirigir e controlar

    o aprendizado lingstico dos discentes.

    Sendo o foco a competncia oral, a pronncia ensinada desde o comeo,

    geralmente com os alunos trabalhando em laboratrios de lnguas e em atividade

    em pares. As estratgias mais empregadas so as de memorizao de frases

    longas parte por parte, de memorizao e dramatizao de dilogos, para a

    realizao de jogos de completar esses mesmos dilogos ou bem similares. So

    tambm desenvolvidas atividades de conversao em pares; drills ou jogos de

    vrios tipos como repetio (para memorizar estruturas ou vocabulrio); de

    pergunta-resposta (para praticar estruturas); de construo de frases a partir de

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    48/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    48

    pistas (palavras) dadas; de transformao de frases negativas em afirmativas (entre

    outros), alm de jogos para diferenciar palavras parecidas (tia /dia; po/pau) ,

    realizados com o objetivo de melhorar a pronncia dos alunos.

    No Silent Way (ou mtodo silencioso), a aquisio lingstica considerada

    um processo no qual as pessoas, atravs do raciocnio, descobrem e formulam

    regras sobre a lngua aprendida, com o objetivo de estimular a expresso do

    pensamento, a percepo e o sentimento dos alunos e desenvolver sua

    autoconfiana e independncia. Centrado no aluno e na crena de que ele e

    somente ele constri seu processo de aprendizagem, o papel do professor o de

    provocar o raciocnio discente usando o silncio como estratgia tanto para atingir

    esse objetivo como estimular o trabalho cooperativo entre os aprendizes. Segundo

    sua estrutura de funcionamento, a implementao do mtodo requer a elaborao

    de fichas com cores, ou sinais que representem sons ou palavras. Os sons da lngua

    so distintos e aprendidos atravs da memorizao das cores de cada uma das

    fichas manipuladas pelo professor. Paulatinamente, os alunos vo formando

    palavras com a associao dessas fichas aos sons que elas representam.

    O ensino da estrutura da lngua feito pelo professor, medida que vo

    sendo criadas situaes que focalizam a ateno dos alunos para o mnimo de

    pistas faladas, em cuja base eles so conduzidos a produzir a estrutura. As

    habilidades de falar, ouvir, ler e escrever se reforam mutuamente. Como o prprio

    nome diz, o silncio do professor a mola mestra do mtodo. Aliado a ele, o uso de

    fichas coloridas associadas a sons ou palavras, uso de gestos e de um quadro de

    palavras. A avaliao dos alunos realizada atravs de correo em pares -

    avaliao da lio no final da aula pelos prprios alunos, o que favorece o

    desenvolvimento de uma atitude contnua de autocorreo.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    49/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    49

    SERRANI-INFANTE (1989, p. 261), estudando os bloqueios provocados nos

    aprendizes em suas etapas iniciais do processo de aprendizagem de uma LE,

    mostra como eles podem interferir no processo de aquisio dessa LE. A etapa de

    silncio funcionaria como um marco de produo pr-verbal. Essa posio

    defendida por GRANNIER (s/d, p. 2)12 que, estudando as dificuldades de

    comunicao de aprendizes hispanofalantes devido a falhas de pronncia, afirma:

    (...) quando a percepo estiver bem consolidada que o aprendiz devercomear a produzir enunciados com a distino em questo. A queima de etapas eo estmulo produo oral espontnea constituem impedimento aquisio depropriedades distintivas. Na maioria das vezes, o impedimento torna o processoirrecupervel, pois o aprendiz se acostuma a transferir o portugus para a fonologiade sua lngua materna (o espanhol).. (nfase da autora).

    Outros autores tambm reforam a importncia da consolidao de

    conhecimento comunicativo-alvo antes de o aluno ser impelido a realizar atividades

    em que esse conhecimento seja exigido. Em outras palavras, preconizam que no

    se cobrem do aluno a sua explorao, sem um preliminar e consistente trabalho de

    ensino/aprendizagem.

    Suggestopedia (Sugestopedagogia) um mtodo que parte do princpio do

    esperado atraso da aprendizagem lingstica em decorrncia de barreiras que o

    prprio aprendiz se impe, por medo ou auto-sugesto. H uma grande

    preocupao no sentido de ajudar os alunos a superarem esses entraves e o

    trabalho concentrado no sentimento dos alunos e na necessidade de ativao de

    suas potencialidades cerebrais. H tambm um grande investimento na composio

    do ambiente de estudo, que deve ser acolhedor, relaxante e confortvel, pois o

    aluno precisa sentir-se bem, confiar no professor, para que este possa ativar sua

    imaginao e ajud-lo no desenvolvimento de seu processo de aprendizagem.

    12Texto capturado em http://lamep.aokatu.com.br, acesso em 30 de julho de 2005.

  • 5/28/2018 PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS E OS MATERIAIS DIDTICOS: UM OLHAR DISCURSIVO

    50/335

    Portugus para estrangeiros e os materiais didticos: um olhar discursivo

    Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

    50

    A utilizao de reforos visuais como psteres com informaes gramaticais

    dispostos pela sala um recurso empregado para incitar a aprendizagem perifrica

    do aluno, ou seja, sua capacidade de aprender atravs de estmulos externos e do

    recebimento de insumos constantes no ambiente escolar, como mecanismo de

    suprir os que muitas vezes no so objetiva