portugues instrumental para cursos de direito miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

206
como elaborar textos jurídicos Miriam Gold e Marcelo Segai PEARSON Prentice Hall

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como elaborar textos jurídicos

Miriam Gold e Marcelo Segai

P E A R S O N

PrenticeHall

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P ABA CURSOS DtDIcomo elaborar textos jurídicos

Pearson Education

t IEMPRESA CIDADÃ

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como elaborar textos jurídicos

Miriam Gold e Marcelo Segai

P E A R S O N

Prentice HallSão Paulo

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© 2 0 0 8 by M iriam Gold e M arcelo Segai

Todos os d ire itos reservados . N e n h u m a p a r te desta pub licação p o d e rá ser rep ro d u z id a ou t ran sm it id a de q u a lq u e r m o d o ou p o r q u a lq u e r o u t ro m eio ,

e le t rôn ico ou m ecân ico , in c lu in d o fotocópia, g rav ação ou q u a lq u e r o u t r o t ipo de s is tem a de a r m a z e n a m e n to e t ran sm issão de in fo rm ação , sem prév ia au to r ização ,

p o r escrito, da P ea rson E d u c a t io n d o Brasil.

Gerente editorial: R oger T rim er Editora sênior: Sabrina Cairo

Editora de desenvolvimento: Jos ie Rogero Editor de texto: H e n r iq u e Z anard i d e Sá

Preparação: Érica Al v im Revisão: Paula M e n d e s Capa: A le x a n d re M ieda

Editoração Eletrônica: Figurativa Editoria l M M Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gold, M iriamPortuguês instrumental para cursos de direito : como elaborar

tex to s ju r íd ico s / M ir iam Gold e M arce lo Segai . — São Paulo :P ea rson P ren tice Hall, 2008 .

ISBN 9 7 8 -8 5 -7 6 0 5 -1 5 4 -1

1. P o r tu g u ê s - G ram ática 2. P o r tu g u ê s - R edação3. R edação ju r íd ica I. Segai, M arcelo . II. Título.

0 7 -8 6 35 ________________________________________________________ C D U -3 4 0 .1 13.2índice para catalogo sistemático:

1. Textos jurídicos : Redação 340.113.2

2007Direitos exclusivos para a l íngua p o r tu g u e s a cedidos à

Pearson E duca t ion do Brasil, u m a e m p resa do g ru p o Pearson E d u ca t io n

Av. E rm a n o M archett i , 1435 CEP: 05038-001 - São P au lo - SP

Fone: ( 1 1 ) 2 1 7 8 - 8 6 8 6 - Fax: ( 1 1 ) 2 1 7 8 - 8 6 8 8 e-mail: v en d as@ p ea rso n ed .co m

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A meus pais, Calmon e Hadassa, o meu amor, por me ensinarem o valor do estudo e da integridade. A meu filho Mareio, por sua bondade e perseverança,

o meu orgulho e meu amor. Ao Bill, com quem construo meus castelos.

M iriam Gold

A m inha querida filha Isabella, amor incondicional da m inha vida.M a rc e lo Segai

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Illl SUMARIO

P a r t e IA COMUNICAÇÃO NO TEXTO JURÍDICO........................................................................................ 1

C apítulo 1O TEXTO JURÍDICO........................................................................................................................................ 3

A boa escrita................................................................................................................................................ 3A escrita ju r íd ic a ........................................................................................................................................3Forma de redação dá s ta tus? .................................................................................................................4Chocante, mas real................................................................................................................................... 4Nem todos seguem o conselho ..............................................................................................................5Uma questão técnica: a inépcia ............................................................................................................ 7Perigo de trabalhar com os 'm o d e lo s ' ................................................................................................7

C apítulo 2C onsiderações sobre a l in g u a g e m ............ ................................................................................ 1 0

Teoria da comunicação.......................................................................................................................... 10Elementos da comunicação...................................................................................................................11Requisitos para uma boa m ensagem ................................................................................................ 12Linguagem e língua................................................................................................................................ 12Dialeto e registro..................................................................................................................................... 13Língua íalada e língua escrita..............................................................................................................14Funções da l in g u ag em ..........................................................................................................................14

C apítulo 3V ocabulário j u r í d i c o ........................................................................................................................ 2 0

Por que vocabulário ju r íd ico? ............................................................................................................ 20Denotação e cono tação .........................................................................................................................21

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V I I I 1 S u m á r io

Sentido unívoco, equívoco e an á log o ...............................................................................................21H om ônim os............................................................................................................................................... 23P a rô n im o s ..................................................................................................................................................23N eo log ism o s .............................................................................................................................................25E strange ir ism os.......................................................................................................................................25Expressões la t in a s ...................................................................................................................................26Gírias........................................................................................................................................................... 26Palavras de baixo calão ........................................................................................................................27Pleonasmos ..............................................................................................................................................27Arcaísmos...................................................................................................................................................27Um caso especial: a am bigü idade .......................................................................................................28Erros crassos..............................................................................................................................................28Recursos gráficos..................................................................................................................................... 29

Aspas......................................................................................................................................................29Etc............................................................................................................................................................30S ic .......................................................................................................................................................... 30

Ex e r c í c i o s ................................................................................................................................................3 2

P a r t e I IE m b u s c a d a q u a l i d a d e d o t e x t o ........................................................................................ 3 7

C apítulo 4C o n str u in d o o t e x t o ..........................................................................................................................3 9

Por onde c o m e ç a r ................................................................................................................................... 39Plano da m e n sa g e m ................................................................................................................................39Dicas para escrever b e m ........................................................................................................................ 41Organização dos p a rág ra fo s .................................................................................................................41

Ordenação por causa e conseqüência............................................................................................... 42Ordenação por tempo e espaço......................................................................................................... 42Ordenação por comparação ou contraste........................................................................................ 44Ordenação por enumeração...............................................................................................................44Ordenação por explicitação................................................................................................................ 45

C apítulo 5C omo obter c l a r e z a ............................................................................................................................4 7

Contexto histórico...................................................................................................................................47Evite ser p ro lixo .......................................................................................................................................47

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S u m á r io IX

Leis da legibilidade................................................................................................................................. 47Redundância: u m pecado a ser e v i ta d o ..........................................................................................48Fórmula m á g ica ...................................................................................................................................... 49Inteligibilidade: você sabe o que é? ....................................................................................................51E os elementos ex tra tex tuais? ..............................................................................................................51Como deve ser o vocabulário? ............................................................................................................ 51Pode-se usar linguagem técn ica? .......................................................................................................52Palavras que contribuem para a obscuridade.................................................................................52Posicionamento correto das pa lavras ................................................................................................52Sobre os p a rá g ra fo s ................................................................................................................................52Você já viu uma frase c e n to p é ic a ? ................................................................................................... 53Evite a frase l a b i r i n to ............................................................................................................................53

C apítulo 6C omo obter c o n c is ã o ..........................................................................................................................5 5

É possível ao texto jurídico ser c o n c i s o ? ........................................................................................ 55O ajuste entre pensam ento e l in g u a g e m ........................................................................................56A concisão e a capacidade de s ín te se ............................................................................................... 56

Características básicas da concisão ...................................................................................................57Escreva de forma mais elegante usando ad je tivos.......................................................................57Concisão e ênfase são com patíveis?..................................................................................................58

C apítulo 7A UNIDADE DO TEXTO................................................................................................... ...................... 5 9

Unidade: coesão e coerênc ia ............................................................................................................... 59Q uando u m texto é c o e re n te ? ........................................................................................................... 59A coerência c o tipo de t e x t o ..............................................................................................................59Coerência entre palavras e coerência lóg ica ..................................................................................60Características da c o e rên c ia ................................................................................................................ 60

Conexão entre as palavras...................................................................................................................61Conexão entre as orações....................................................................................................................61Conexão entre os parágrafos..............................................................................................................64

A integração em prol da u n id ad e .......................................................................................................65

C apítulo 8M odalidades de texto e sua aplicação no português f o r e n s e . . . . ........................ . 6 7

iModalidades de te x to .............................................................................................................................67Narração................................................................................................................................................ 67Descrição...............................................................................................................................................70Dissertação............................................................................................................................................. 71

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X S u m á r io

C apítulo 9R a c io c ín io j u r í d i c o ....................................................... .............................. ................. ................7 6

Preâm bulo ..................................................................................................................................................76Validade das declarações.......................................................................................................................76Fatos e indícios......................................................................................................................................... 77M é to d o s ......................................................................................................................................................77

Métodos fundamentais e subsidiários do raciocínio....................................................................... 78A rgum entação ...........................................................................................................................................78Silogismo.................................................................................................................................................... 78Sofisma........................................................................................................................................................ 79

Principais sofismas empregados no direito.......................................................................................79

Ex e r c í c i o s ....... ................................................................................. ......................................... . 8 1

P a r t e I I IP e ç a s p r o c e s s u a i s .............................................................................................................................. 8 9

C apítulo 1 0P etição i n i c i a l ......................................................................................................................................... 9 1

In trodução .................................................................................................................................................. 91Requisitos da petição inicial................................................................................................................. 91Processo como meio ético de so lu ç ã o .............................................................................................. 92E n d e reçam en to ........................................................................................................................................94Partes da petição inicial......................................................................................................................... 94P ro cu ração .................................................................................................................................................96

C apítulo 1 1C o n testa çã o ....................................................................... ....................................................................... 9 9

Modalidades de resposta .......................................................................................................................99As preliminares....................................................................................................................................100

Prejudicial de m é r i to .............................................................................................................................101Mérito em s i ............................................................................................................................................ 102

C apítulo 1 2R e c u r s o ............................. ............ ...................................................................................................... 1 0 4

Conceito e o b je t ivo .............................................................................................................................. 104Motivos da existência de recursos................................................................................................... 104Requisitos dos recu rsos ....................................................................................................................... 104

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S u m á r io | X I

Sucumbência.......................................................................................................................................104Tempestividade....................................................................................................................................105Preparo.................................................................................................................................................106

Realidade dos recursos ........................................................................................................................ 106Estrutura do r e c u rs o ............................................................................................................................106

C apítulo 1 3P a r e c e r . . ................................. ................................ ................... ............................................... . 1 0 9

O que é e sua im por tân c ia ................................................................................................................. 109Partes do parecer ................................................................................................................................... 110

Ex e r c í c i o s ............................................................................................................................................. 1 1 1

P a r t e I VI n f o r m a ç õ e s g r a m a t i c a i s .........................................................................................................1 1 3

C apítulo 1 4La t in is m o s e seus s ig n if ic a d o s .......................... ................... ................................................. 1 1 5

C apítulo 1 5O EMPREGO DE LETRAS .............................................. ....................................................................... 1 3 1

Os porquês: Por que usamos esses por quês? Ou por que usamos estes po rquês? ...... 131Este/esse....................................................................................................................................................131Uso de - s sã o ............................................................................................................................................ 132Uso de -são ...............................................................................................................................................132Uso de -ção...............................................................................................................................................133Uso de - i s a r ...........................................................................................................................................133Uso de - iz a r ............................................................................................................................................. 133Uso de - s in h o ....................................................................................................................................... 133Uso de -z in h o ..........................................................................................................................................134Verbos 'usar ', 'pôr ' e 'q u e re r ' ............................................................................................................134Verbos term inados cm - u i r ..............................................................................................................134Verbos terminados em -uar e - o a r ................................................................................................134Verbos term inados em - e a r ................................................................................................................134Verbos term inados em - ia r .................................................................................................................134Verbos 'ter ' c 'v i r ' ................................................................................................................................134Verbos 'crcr', 'dar ', 'ler ' e 'v e r ' ..........................................................................................................134Verbos 'obter', 'con ter ' e 'd e te r ' .....................................................................................................134

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X I I S um á r io

Uso das iniciais maiúsculas .............................................................................................................. 135Uso da inicial m in ú sc u la .................................................................................................................... 135Siglas: uso e p lu r a l ............................................................................................................................... 135Unidades de medida e ho ra ............................................................................................................... 136Formas de t ra ta m e n to .........................................................................................................................136

C a p í t u l o 1 6

G r a f i a e s i g n i f i c a d o .............................................................................................................................. 1 3 8

A / h á .......................................................................................................................................................... 138Abaixo/a b a ix o ...................................................................................................................................... 138À b eça /à bessa ........................................................................................................................................138Acerca de/a cerca de /há cerca d e .................................................................................................... 139Acima/a c im a .........................................................................................................................................139A fim de /a f im ......................................................................................................................................... 139A folha/a folhas/às folhas/à folhas..................................................................................................139À medida que/à medida em que /na medida cm q u e ............................................................... 140A m eu ver/em meu ver/ao meu v e r ..............................................................................................140A nível de /em nível d e ........................................................................................................................140A o n d e /o n d e ............................................................................................................................................140A par/ao p a r ........................................................................................................................................... 140A ponlo de/ao ponto cie......................................................................................................................141A rigor/em rigor.....................................................................................................................................141A todo m om ento /a todo o m o m en to ..............................................................................................141B em -v indo /B env indo ..........................................................................................................................141De férias/em férias ................................................................................................................................141Em face de/face a ..................................................................................................................................142Em m ã o /e m m ã o s .................................................................................................................................142Em todo o caso/em todo c a s o .......................................................................................................... 142Grosso m odo/a grosso m o d o .................................................................................................................142No meu ponto de vista/sob meu ponto de v is ta ........................................................................142Pagamento a m aior/pagam ento a m e n o r ..................................................................................... 142Percen tagem /porcen tagem ............................................................................................................... 142Por toda a parte /por toda p a r le ........................................................................................................143Ter de /te r q u e ......................................................................................................................................... 143Toda ou todo/toda a ou todo o ......................................................................................................... 143Toda vez que/toda vez cm q u e ......................................................................................................... 143Ver/vir.......................................................................................................................................................143Viger/vigir............................................................................................................................................... 143

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S u m á r io X I I I

C a p í t u l o 1 7

R e g r a s b á s i c a s d e a c e n t u a ç ã o .................................... ................................................................... 1 4 4

Regras de a c e n tu a ç ã o ..........................................................................................................................144Acento diferencial.................................................................................................................................145Uso do t re m a ...........................................................................................................................................145

C a p í t u l o 1 8

P a l a v r a s h o m ô n i m a s e p a r ô n i m a s ................................................................................................. 1 4 6

C a p í t u l o 1 9

U s o DO H Í F E N ................................................................................................................................................ 1 5 0

Regra g e ra l .............................................................................................................................................. 150Prefixos que exigem hífen antes de qua lquer le tra ....................................................................151Regra para diferenciar palavras com postas ...................................................................................151

C a p í t u l o 2 0

G ê n e r o d a s p a l a v r a s .............................................................................................................................. 1 5 2

Regra geral de formação do fem in ino ............................................................................................ 152Tipos especiais........................................................................................................................................ 152Significados diferentes e forma ig u a l ............................................................................................. 152Palavras usadas só no m a sc u l in o .....................................................................................................152Palavras usadas só no f e m in in o ....................................................................................................... 153O gênero e as siglas.............................................................................................................................. 153Concordância com a palavra 'm ilh ão '............................................................................................ 153

C a p í t u l o 2 1

P l u r a l d o s n o m e s c o m p o s t o s ............................................................................ ......... ............. . 1 5 4

S u b s tan t iv o s ...........................................................................................................................................154Adjetivos .................................................................................................................................................154

C a p í t u l o 2 2

V a r i a ç õ e s d o a d j e t i v o ........... .......................................... ......... ......................... .......................... 1 5 6

Adjetivos superla tivos......................................................................................................................... 156Locuções adjetivas.................................................................................................................................158

C a p í t u l o 2 3

C o l o c a ç ã o d o s p r o n o m e s o b l í q u o s á t o n o s ............................................................................ 1 6 5

P ró d ise ......................................................................................................................................................165

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X I V S u m á r io

Ênclisc.......................................................................................................................................................165Mcsóclisc..................................................................................................................................................166O pronom e á tono nas locuções v e rb a is ........................................................................................ 166

C a p í t u l o 2 4

F o r m a s v e r b a i s q u e s u s c i t a m d ú v i d a s ......... ............................... ........................................... 1 6 7

A bolir ........................................................................................................................................................167A d e q u a r ................................................................................................................................................... 167A derir ........................................................................................................................................................167Colorir .......................................................................................................................................................167D e te r ......................................................................................................................................................... 168Dizer.......................................................................................................................................................... 168E s ta r .......................................................................................................................................................... 168E n tu p ir ......................................................................................................................................................168In te rv ir ......................................................................................................................................................168M a n te r ......................................................................................................................................................168Mobiliar.................................................................................................................................................... 168Pôr.............................................................................................................................................................. 169Possuir.......................................................................................................................................................169Precaver-se.............................................................................................................................................. 169

C a p í t u l o 2 5

E m p r e g o d o i n f i n i t i v o f l e x i o n a d o ............................................................................................... 1 7 0

Uso do infinitivo impessoal..............................................................................................................170Uso do infinitivo pessoal.................................................................................................................. 170

C a p í t u l o 2 6

C o n c o r d â n c i a v e r b a l ............................................................................................................................ 1 7 1

Regra g e ra l ...............................................................................................................................................171Casos especiais ........................................................................................................................................171

Verbo 'haver '.......................................................................................................................................171Verbo 'fazer'..........................................................................................................................................171Verbos relativos a fenômenos da natureza.....................................................................................171Verbo 'ser'.............................................................................................................................................171'Que' e 'quem '.................................................................................................................................... 172Pronomes indefinidos........................................................................................................................ 172'Um dos q u e ' .......................................................................................................................................172Expressões coletivas...........................................................................................................................172Expressões coletivas partitivas..........................................................................................................172

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S u m á r io ( X V

Um milhão, um bilhão etc.................................................................................................................172Percentuais e fracionários..................................................................................................................173Verbos com a partícula 's e ' ................................................................................................................173

C a p í t u l o 2 7

C o n c o r d â n c i a n o m i n a l ........................................................................................................................ 1 7 4

Concordância gramatical.....................................................................................................................174Concordância a tra t iva ......................................................................................................................... 174Casos especiais ....................................................................................................................................... 174

'Anexo' e Incluso'..............................................................................................................................174'Mesmo', 'próprio', 'só', 'extra', 'leso', 'obrigado', 'quite', 'nenhum', 'junto '..........................174'É preciso',' é necessário', 'é bom '................................................................................................... 175'É proibido'.......................................................................................................................................... 175'Caro', 'barato', 'bastante '.................................................................................................................175'A olhos vistos', 'alerta', 'haja vista', 'menos', 'de modo q u e ' ....................................................175'Exceto', pseudo-, 'tirante', 'salvo'..................................................................................................176'M eio '................................................................................................................................................... 176'Possível'...............................................................................................................................................176Adjetivos adverbializados..................................................................................................................176'Todo'.................................................................................................................................................... 176Numeral ordinal + substantivo.........................................................................................................176Dois adjetivos + um substantivo.......................................................................................................176'Nem um nem outro'......................................................................................................................... 177

C a p í t u l o 2 8

R e g ê n c i a .......................................................................................................................................................... 1 7 8

Tipos de verbos.......................................................................................................................................178Pronomes pessoais como o b je to s .....................................................................................................178Principais regências.............................................................................................................................. 179

C a p í t u l o 2 9

C r a s e ................................................................................................................................................................. 1 8 2

Regra g e ra l ...............................................................................................................................................182Sempre ocorre crase...........................................................................................................................182Nunca ocorre crase.............................................................................................................................183

C a p í t u l o 3 0

P o n t u a ç ã o ............................................................. .............................................. ........... ........................ 1 8 4

P on to ......................................................................................................................................................... 184

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X V I | S u m á r io

Vírgula....................................................................................................................................................... 184Ponto-e-vírgula...................................................................................................................... 185Dois p o n to s ..............................................................................................................................................185Travessão.................................................................................................................................................. 186

E x e r c í c i o s ..................................... ...................... ................................................................................. 1 8 7

G a b a r i t o ............................................................................................................................................... 1 9 8

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Illl PREFACIO

Este livro há m uito c idealizado. Pcrccbcmos no m u nd o atual um a alteração no estilo das comunicações escritas, que se to rnaram m enos prolixas e mais inteligíveis. Mas tal m udança ainda não atingiu como deveria o meio jurídico.

Depois de longo período de am adurecim ento , chega a hora de contribuir para a melhoria dessa comunicação. Uma comunicação que se encontra degradada pela descrença em valo­res éticos, fazendo-nos achar que o exercício da análise e do diálogo — mediatizados pela palavra — tem m en o r valor que as articulações politiqueiras. Degradação que vemos ocorrer tam bém na manifestação en tre os jovens de uma comunicação quase que restrita aos meios eletrônicos, em que o exercício da linguagem é reduzido a meia dúzia de palavras, sempre com fins relacionais e imediatistas.

O nde fica en tão o espaço para o exercício da linguagem com o elaboração de p ensa ­m e n to ?

O meio jurídico é por excelência o da argum entação pela palavra. Por ela constrocm-se teses, assim como refutações. Por ela descrimina-se alguém c clama-se por justiça. Pensa­m en to argum entalivo, exercício da linguagem e articulação convincente são pom os cardeais no seio do direito.

E o prim or pelo texto elegante prescinde dos pedantism os com os quais nos defrontamos nas lides judiciais. Locuções em desuso e exercícios de virtuosismos estão em desacordo com o pensam ento claro, a serviço de esclarecer pontos de vista, c não de obscurecê-los. Q uem ainda se vale de recursos como os citados está na contram ão da história, revelando uma influência do início do século, q uan do nossa classe média ia te rm inar seus estudos de direito nas universidades de a lém -m ar e, ao voltar à 'colônia', fazia questão de diferenciar-se, d a n ­do-se ares de 'império '.

A Justiça brasileira clama por um a linguagem que impulsione resultados. Não há mais espaço para expressões de gosto duvidoso, textos longuíssimos e "fala vazia". Erudição é em pregar os recursos da linguagem para expor pensam entos claros c coerentes, precisos cm seus argum entos, fortes em seus arrazoados.

Em vista do amplo material objeto de nosso trabalho, dividimos a abordagem da matéria em quatro partes: Parte I - "A comunicação no texto jurídico", Parte II - "Em busca da q u a ­lidade do texto"; Parte III - "Peças processuais" e Parte IV - "Informações gramaticais".

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X V I I I ■ P r efá c io

A Parte I aborda a necessidade de m odernizarmos nossa linguagem jurídica, d em o ns tran ­do que as peças jurídicas não têm como principal objetivo a dem onstração de conhecim ento erudito, mas sim a eficácia, que reside na utilização adequada das palavras e do raciocínio.

Nossas considerações sobre a comunicação 110 texto jurídico visam dem onstrar as varia­ções que ocorrem ao se em pregar diferentes padrões e funções de linguagem, bem como cuidar do vocabulário jurídico, exam inando a distinção entre palavras unívocas, equívocas e análogas. Destacamos a inconveniência na utilização de neologismos e estrangeirismos, recom endando sempre uma consulta ao vocabulário ortográfico da língua portuguesa.

Na Parte II, trabalhamos a construção do texto, destacando que o trabalho de es tru tu ra ­ção do plano, com sua esquematização das idéias, possibilita eliminar porm enores excessivos e inoportunos e adicionar informações necessárias ao funcionam ento articulado da m ensa ­gem. Alertamos para 0 perigo dos parágrafos longos, das frases rebuscadas, que parecem não te rm inar nunca, e convocamos os profissionais do direito a produzir as frases de acordo com leis de legibilidade.

A par desses aspectos, incitamos nossos leitores a seguir os passos da clareza, cuja o r ien ­tação conduz à objetividade e precisão de raciocínio. Defendemos ainda a necessidade de concisão do texto jurídico, dem onstrando que ela se constitui em poderosa aliada 11a busca pela eficácia da peça processual.

A fim de dem onstrar a importância do encadeam ento do raciocínio, desenvolvemos vá­rios aspectos que contribuem para a unidade da peça processual, assim como exemplifi­camos de que m aneira os m odos discursivos estão presentes no texto jurídico e como seu domínio auxilia no processo de persuasão.

A Parte III trata exclusivamente das peças processuais. Nela o leitor encontrará com en tá­rios tanto sobre a forma quan to sobre o conteúdo das petições, contestações, recursos e pare- ceres. São abordados aspectos relativos aos requisitos básicos das citadas peças, da linguagem que deverá ser empregada aos cuidados com a inépcia, b em como se ressalta a importância de um a adequada apresentação formal.

Por fim, a última parle assessora 0 leitor no em prego das norm as gramaticais vigentes. Não se pretende, com este livro, elaborar um a gramática completa da língua portuguesa, mas sim auxiliar o profissional do direito na utilização de nossa língua.

Partindo desse objetivo, abordam-se itens que no rm alm en te suscitam dúvidas, como a ortografia de m uitas palavras c expressões, 0 uso do hífen, as formas verbais que provocam hesitações. No aspecto frasal, destacamos as regras que norte iam as concordâncias, as p repo­sições exigidas pela regência verbal, 0 uso do sinal indicativo da crase, além de noções gerais de pontuação, e n o tadam en te o uso da vírgula.

Para finalizar, esperamos contribuir com um a orientação aos estudantes e profissionais de direito no sentido de levá-los à construção de 11111 texto mais conciso, mais claro, mais persuasivo, mais eficaz e que, ao m esm o tem po que lhes possa conferir maior prazer de rea­lização, tam bém auxilie a imprimir mais dinamicidadc à nossa Justiça.

Miriam Gold

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PARTE I

A COMUNICAÇÃO NO TEXTO JURÍDICO

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cxn3U

O TEXTO JURÍDICO

A boa escritaO médico enterra seus erros; o engenheiro os aprecia; o advogado os assina.Escrever bem é um a qualidade m uito apreciada na sociedade e, tratando-se do âmbito

jurídico, transforma-se cm um a imperiosa necessidade para o sucesso profissional. Isso se justifica porque, além da desejável inteligência, sagacidade e raciocínio jurídico, mede-se a habilidade do profissional de direito pela capacidade de transferir para o p a p e l adequada e corretamente, suas teses, decisões e arrazoados.

Para escrever bem e corretam ente, é incontroversa a necessidade de boa leitura, cultiva­da ao longo do tempo, além dos conhecimentos técnicos básicos da redação jurídica, com a qual este livro ousa colaborar.

Dúvida não resiste que, trilhando o caminho proposto por esta obra, o profissional poderá otimizar sua forma de redação, beneficiando a tantos quantos dela se valerão.

E, acreditem, ler um a boa petição é um colírio para as fatigadas retinas dos magistrados. Pois bem, iniciemos nossa jornada.

A escrita jurídicaA manifestação jurídica reclama escrita formal, devendo ser simples e objetiva, c nunca

u m exercício de demonstração de conhecim ento restrito a poucos. Explicamos: alguns apli- cadores do direito veneram emitir manifestações com tam anha dificuldade de compreensão que necessária se faz a proximidade pe rm anen te de um dicionário.

Perguntamos: Para que isso? Respondemos: Para coisa alguma. É vaidade pura e incon­fessável. A língua acaba sendo um a barreira entre as pessoas, em vez de ser o elo.

Quer ver um exemplo?"Diagnosticada a mazela, põe-se a querela a avocar o poliglotismo. A solvência, a

nosso sentir, divorcia-se de qualquer iniciativa legiferante. (...) A oitiva dos litigantes e das vestigiais por eles arroladas acarreta intransponível óbice à efetiva saga da obtenção da verdade real. Ad argumentandum tantum, os pleitos inaugurados pela Justiça pública, preceituando a estocástica que as imputações e defesas se escudem de forma ininteligí-

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4 Parte I — A comunicação no texto jurídico

vel, g e s t a n d o o b s tá c u lo à h e r m e n ê u t i c a . P o r ta n to , o h e r c ú le o d e s p e n d i m e n to de esforçosp a ra o d e s a f o r a m e n to d o ' j u r id iq u ê s ' d e v e c o n t e m p l a r ig u a lm e n te a m a g is t r a tu ra , o íncli toP a rq u e t , os d o u to s p a t r o n o s d as p a r te s , os co rp os d isc e n te s e d o c e n te s d o m ag is té r io dasciências ju r íd ic a s /1

Você en tend eu? Nem nós.O texto acima é uma ironia à forma ex trem am en te culta de um petitório ou m anifes­

tação, que, sem dúvida, está divorciado do espírito que norteia a manifestação judicial desejável. É como se o texto transmitisse, como principal objetivo, a dem onstração de conhecim ento erudito, esquecendo seu criador que as peças jurídicas têm um a finalidade que resta irrem ediavelm ente perdida no meio desse espinhoso cam inho, pois a a tenção do leitor se volta para a tentativa de decifrar e com preender aquilo que se p re tende — e não para o objeto do requerim en to .

No m esm o sentido, o uso de expressões que a maioria desconhece, como 'cártula chéqui- ca' (é o nosso velho cheque) e 'ergástulo público' (é a cadeia), são belos exemplos.

Então, opte pela boa escrita porque não é vantagem ser invejado por um a que pouquís­simas pessoas conhecem e en tendem .

Forma de redação dá status?A escrita não precisa ser u m exercício constante de dem onstração da exuberância in te­

lectual de seu autor, m esm o porque as pessoas que o fazem geralm ente só conhecem poucas palavras difíceis ou incompreensíveis.

A eficácia da redação está na utilização cirúrgica das palavras; escrever pouco, mas con­ferir ao texto a noção exata do que se pretende. Nada a mais, nada a menos. Isso sim é invejável.

Repisamos, m esm o com o risco de sermos repetitivos, que as manifestações jurídicas devem ser simples. Mas atenção: dissemos 'simples' e não 'simplórias'. É ex trem am ente im ­portante que os arrazoados con tenham uma boa fundam entação, em especial aqueles que almejam uma decisão judicial de certa importância.

Chocante, mas realVeja o bom conselho que u m juiz de Santos (SP) dá em suas aulas, citando o poeta fran­

cês Paul Valéry: "Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, a mais curta".

Procurando despertar essa consciência em seus alunos, o juiz recorre a u m artifício: pede para fecharem os olhos e imaginarem quem vai ler suas petições. Depois, lança a questão: "Quem você imagina? Um juiz arrum adinho , com um a paciência enorm e, que espera a tar­de inteira você chegar para trazer alguma coisa para ele ler?" A classe se choca quando ele aconselha: "Você tem que imaginar u m a pessoa cansada, irritada, com um m onte de petições para ler e que a sua será, portanto, mais um a delas".

Na magistratura há 15 anos, Coelho comenta que existem muitos que buscam a rg u m en ­tações na In ternet e as copiam no processo, só para impressionar. Com isso, o que antes era

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C a pítu lo 1 — O texto jurídico 5

escrito cm duas ou três laudas, agora e feito cm 20 ou 30. "Ele aperta u m ou dois botões, copia, recorta, cola", diz o juiz.

O advogado Paulo Guilherme de M endonça Lopes diz que o excesso de páginas em uma petição é desnecessário. Segundo ele, a petição que mais gerou repercussão em seu escritório foi uma de apenas cinco páginas sobre leasing. A decisão do assunto criou até jurisprudência no Superior Tribunal de Justiça (STJ): "A verdade é m uito simples de ser demonstrada em poucas páginas".

O advogado Gustavo Castro2 afirma que "o direito m oderno exige objetividade e conci­são". Segundo ele, som ente em casos mais específicos é preciso um a exposição mais longa do assunto.

Benditos os breves, pois deles será a gratidão dos juizes e auditórios.

Nem todos seguem o conselho...Por mais espantoso que pareça, ainda hoje existem operadores do direito que vinculam

sua qualidade profissional à quantidade de folhas da petição. Seria um a espécie de te rm ô­m etro de sua capacidade intelectual, mais ou m enos nessa equação:

t peso da petição = T sagaz e ladino

T folhas utilizadas = í arguto e perspicaz

Saem, então, a apresentar um a petição com dezenas de laudas para algo relativamente simples, que poderia ser sintetizado em poucas folhas. E isso se transforma em sua rotina. Para requerim entos de somenos importância, longevas e enfadonhas peças, com citações in­finitas de jurisprudências, no mais das vezes sem n en h u m a utilidade. Para coisas relevantes, então, verdadeiros tratados jurídicos.

Um exemplo real e emblemático de desrespeito à filosofia da simplicidade ocorreu em Santa Catarina, quando o juiz Jaime Luiz Vicari m andou um advogado reduzir sua petição inicial de 162 páginas para cinco laudas.

Veja o despacho:"Cuida-se de ação denominada 'ordinária', deflagrada por pessoa natural contra es­

tabelecimento financeiro, contendo múltiplos pedidos, alguns inclusive, aparentemente, de natureza cautelar. Observo que a petição inicial é composta por '162' laudas. Exatamente isso, CENTO E SESSENTA E DUAS LAUDAS! A ninguém é dado desconhecer os avanços e as facilidades que os modernos meios eletrônicos, em especial o computador, trouxeram às atividades humanas em geral e às atividades jurídicas no particular.

"Estamos assistindo, contudo, à outra face da moeda que é o exagero, a demasia com que se apresentam determinadas situações. O avanço da tecnologia deve servir ao homem, tornar mais rápida a solução dos problemas da vida c não o contrário. Numa visão superficial, após ler as cento e sessenta e duas laudas que constituem a exordial, conclui-se que o autor é correntista de banco, tendo celebrado contrato(s) com esse estabelecimento, com a convicção de que esses pactos estariam com algumas cláusulas em desacordo com a legislação em vigor no país.

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Parte I — A comunicação no texto jurídico

"Em cinco linhas, então, pode-se colocar a suma. Admito que em cinco páginas ou, qui­çá, em até dez, pode-se e muito bem fazer uma petição que contenha os requisitos do artigo 282 do Código de Processo Civil, notadamente, causa(s) de pedir e pedido(s). Mas cento e sessenta e duas laudas é uma demasia, afasta-se do razoável, foge da proporcionalidade, seja qual for o ângulo em que se examine a questão. Cento e sessenta e duas laudas é dissertação de mestrado, tese de doutorado, opúsculo sobre um determinado assunto legal.

"Mas, poder-se-á dizer: o magistrado não dispõe de instrumentos ou atribuições para repor as coisas no seu devido caminho, pois a parte deve sempre ter livre acesso à Justiça. Data venia, penso de forma diferente. O artigo 125 do Código de Processo Civil qualifica o juiz como 'diretor do processo', vale dizer, como o capitão do navio ou do avião. Em tais condi­ções não só ele tem a faculdade como também, a meu juízo, o dever de adotar as medidas que se fizerem necessárias para 'velar pela rápida solução do litígio', inciso II, e 'reprimir atos contrários à dignidade da justiça', inciso III, dentre outros.

"O artigo 284 do mesmo Estatuto determina: 'verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos do artigo 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento do mérito, determinará que o autor a emende ou a com­plete no prazo de dez dias'.

"O legislador de 1973 não imaginava de que é capaz a tecnologia, em especial quando aplicada de maneira abusiva. Não se pode, igualmente, ignorar, que a defesa do réu, diante de uma petição com CENTO E SESSENTA E DUAS laudas, fica em muito afetada. Nessa linha de raciocínio, cabe lembrar que a Lei 8.952 de 13 de dezembro de 1994 alterou o § único do artigo 46 do Código, que disciplina o chamado litisconsórcio rnultitudinário, dispondo que o juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa.

"Sobre esse tema, sustenta Nelson Nery Jr.: 'A aferição da dificuldade da defesa ou do comprometimento da rápida solução do litígio deve ser feita pelo juiz casuisticamente. É vedado ao magistrado fixar, objetiva e abstratamente, por meio de ato judicial (portaria, provimento etc.) qual o número de litigantes que deve ter a causa'. (Eu diria, qual o número de páginas de uma inicial.)

"'Quanto ao primeiro motivo ensejador da limitação — 'comprometimento da rápida solução do litígio' — pode o juiz exofficio determinar a limitação consorcial, dado que é o juiz, enquanto diretor do processo (art. 125), quem tem a primeira noção sobre as dificuldades queo litisconsórcio rnultitudinário acarretará para a rapidez da entrega da prestação jurisdicional. Deve fazê-lo na primeira oportunidade que se lhe apresentar, evitando assim o tumulto pro­cessual que esse litisconsórcio poderia acarretar'.

"'Por defesa entende-se a possibilidade de a parte ou o interessado, por todos os meios, poder deduzir suas manifestações em juízo, em face do pedido do autor. Se o réu quiser, por exemplo, reconvir, e tiver dificuldades cm virtude do litisconsórcio rnultitudinário, poderá pedir a limitação deste ao juiz, a fim de que possa viabilizar sua pretensão reconvencional'.

"Postas essas considerações que atingiram três laudas, porque o inciso IX do artigo 93 da Constituição Federal manda que as decisões do juiz devam ser fundamentadas, abro o

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C a pítu lo 1 — O texto jurídico 7

prazo de dez dias para que o autor adeque a inicial aos parâmetros razoáveis, não olvidadosos requisitos de l e i / 3

Há um ditado que diz "petição longa, direito curto".Os autores desta obra longe estão de p re tender limitar vocações literárias inatas, que não

se controlam e precisam extravasar em algum plano, mas se o jurista é seduzido pela longa escrita, prolixa, talvez seja mais adequado escrever um livro ou algo do gênero.

E dizemos isso porque o m u nd o pode estar perdendo u m grande au to r dc livros, trocan­do-o por um questionável profissional do direito.

Enfim, para o exercício da nobre função jurídica diária, o simples é sempre o melhor.

Uma questão técnica: a inépciaQualquer requerim ento necessita ser suficicntemente claro para ensejar sua apreciação

pelo órgão competente, que irá avaliá-la e deferir (ou não) o pleito. Isso se materializa com extrema ênfase na petição inicial, que, carente dos elementos mínimos que perm itam o exercício do direito de defesa, será indeferida, como preconiza o artigo 295 do Código de Processo Civil (CPC):

A petição inicial será indeferida:I - quando for inepta; (...)Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: (...)II - da narração dos faios não decorrer logicamente a conclusão.4

A boa redação tam bém é exigência presente nas sentenças e acórdãos, sob pena de serem alvejados pelo recurso de embargos declaratórios, como se vê no próprio CPC, na Consolida­ção das Leis Trabalhistas (CLT) c no Código de Processo Penal (CPP):

Cabem embargos de declaração quando:I - houver na sentença ou no acórdão obscuridade ou contradição.5Caberão embargos de declararão da sentença ou acórdão, no prazo de cinco dias, devendo

seu julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subseqüente a sua apresentação, registrado na certidão, admitido efeito modificativo da decisão nos casos de omissão e contradição no julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso.6

Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de 2 (dois) dias contado da sua publicação, quando houver na sentença ambigüidade, obscuridade, contradição ou omissão.7

Perigo de trabalhar com os 'modelos'Não há como negar que a informatização estendeu seus tentáculos para todas as ati­

vidades hum anas , inclusive a jurídica. E isso é um a boa notícia, pois a tecnologia permite au m en to da produtividade, democratização da informação e diversos outros benefícios que, sem esse im portan te recurso, jamais existiriam.

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8 Parte I — A comunicação no texto jurídico

Ate m esm o as peças jurídicas sofreram conseqüências. Petições já padronizadas ou usa­das em outros processos semelhantes, ou m esm o sentenças já prolatadas em outras causas, são instantaneam ente resgatadas com uma simples tecla de computador.

Isso é ex trem am ente útil para o advogado porque evita a construção de raciocínio já rea­lizado an teriorm ente , quando em regra o profissional se esmerou na fundamentação, mercê de u m estudo mais aprofundado sobre determ inado tema.

Nos escritórios mais m odernos c com grande m ovim ento , são criados verdadeiros m ó d u ­los jurídicos padronizados que, encaixados, produzem a petição que será apresentada.

É algo parecido com uma receita de bolo. Misturados os ingredientes, sai do forno ju ríd i­co a petição. Nem o advogado pode nela mexer, senão para trocar o endereçam ento, nom e da parte e n ú m e ro do processo. Mas há sérios riscos em relação a isso.

O primeiro é que o trabalho indiscriminado com modelos faz o profissional não ler mais o escrito ou que, na mais otimista hipótese, faça uma leitura 'em diagonal' do texto, passan­do rapidam ente os olhos pelo arrazoado; o segundo, como conseqüência lógica e im anen te do anterior, é que multiplicam-se os erros, porque cada caso tem suas peculiaridades, que acabam sendo tratadas de forma indiscriminada pelos módulos, sem atenção am iúde às par­ticularidades.

Desse modo, apesar de o trabalho com módulos ser quase inevitável em um m u n d o que exige cada vez mais rapidez, eficiência e eficácia, no qual há multiplicação geométrica das demandas, o profissional deve sempre ficar a ten to e vigilante aos equívocos que isso pode gerar.

O profissional do direito deveria ser um a espécie de alfaiate jurídico, elaborando cada peça sob medida para o cliente. Mas isso é um a utopia nos dias de hoje, verdadeira visão romantizada e quixotesca do direito. Então, se isso não é viável em razão da avassaladora quantidade de prazos a cumprir, que ao m enos o profissional minimize esse problema p o ten ­cial com um a leitura crítica dos escritos antes de sua apresentação em juízo.

E em com plem ento e ratificação ao que foi escrito alhures, se a petição é simples, com ­pacta e m enor — sem que isso comprometa sua qualidade —, certam ente os erros não ocorrerão com tanta freqüência, ainda que não haja garantia incondicional de que eles não acontecerão.

Notas

1 Associação dos Magistrados Brasileiros, 0 judici­ário ao alcance de todos: noções básicas de juridiquês, Brasília: AMB, 2005, p. 4.

2 Disponível em: http://conjur.estadao.com.hr/ static/text/28861,1. Acesso em: 12 set. 2007.

3 Jaime Luiz Vicari, apud. "Juiz manda advogado adequar petição inicial em SC". Consultor Jurídi­

co, 31 mai. 2001. Disponível em: http://conjur. estadao.com.br/static/text/28861,1. Acesso em: 23 jul. 2007.

4 Brasil, artigo 295, seção III, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Proces­so Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

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C a pítu lo 1 — O texto jurídico 9

5 Brasil, artigo 535, capítulo V, Lei na 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Proces­so Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

6 Brasil, artigo 897, incluído em 12 de janeiro de 2000, capítulo VI, Decreto-Lei n" 5.452, de l tt de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­

balho. Diário Oficial da União, Brasília, 9 ago. 1943.

7 Brasil, artigo 619, capítulo VI, Decreto-Lei na 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Pro­cesso Penal. Diário Oficial da União, Brasília, 13 out. 1941.

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cn£3 CONSIDERAÇOES SOBREt A LINGUAGEM

Teoria da comunicaçãoA utilização da teoria da comunicação pelo bacharel em direito favorece a construção

de um discurso forense mais eficaz, uma vez que, de posse do instrumental teórico, o reda­tor visualizará em suas peças processuais os elementos necessários à elaboração de boa sus­tentação.

Para iniciar o processo de compreensão do fenôm eno da comunicação e de como ele afetará o discurso jurídico, deve-se perceber que a comunicação não existe por si mesma, como algo separado da sociedade. Ela é um a necessidade básica do hom em , do ser social, e, como tal, comporta duas acepções: a de estabelecer relações entre os seres hum anos e a de transmitir mensagens com finalidades intencionais.

No direito, o texto jurídico é ferramenta de trabalho, por isso pode-se afirmar que a co­m unicação é sempre estabelecida com um a finalidade.

Quando consideramos as várias teorias da comunicação, notamos diferenças no conceito de comunicação abordado por cada um a delas. A razão de tal diversidade consiste na própria complexidade do fenômeno, que abrange uma massa de variados domínios do conhecimento.

Já no scculo V antes de Cristo, Aristóteles, em seu estudo sobre a comunicação c a retóri­ca, ressaltava que devemos olhar para três e lementos da comunicação: o emissor, o discurso e a audiência.

Hoje em dia, uma das mais interessantes conceituações de comunicação aparece nas palavras de David Berlo:

Firmamos a tese de que o homem deseja influenciar seu meio, seu próprio desenvolvimen­to e o comportamento de outros. O hom em não é animal auto-suficiente. Precisa comunicar-se com outros, para os influenciar por meios que se ajustem aos seus propósitos. No comunicar, temos de fazer previsões sobre como outras pessoas se comportarão. Criamos expectativas a res­peito dos outros e de nós mesmos. Podemos desenvolver estas expectativas ou previsões pelo aperfeiçoamento de nossa capacidade empática, de nossa capacidade de projetar-nos na persona­lidade do outro. Podemos tentar interagir com outros. Já dissemos que a interação é o objetivo da comunicação.1

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C a pítu lo 2 — Considerações sobre a linguagem 11

A maioria dos modelos atuais de comunicação são similares ao dc Aristóteles, embora u m pouco mais complexos. Um dos modelos contem porâneos mais usados foi elaborado, em 1947, pelo matem ático Claude Shannon e pelo engenheiro eletricista W arren Weaver.

O modelo de Shannon e Weaver,2 que tinha po r princípio a tender às telecomunicações, constava dos seguintes elementos: fonte, transmissor, canal, receptor e destinatário.

Os estudiosos da comunicação e os lingüistas adaptaram -no e estabeleceram o modelo da figura abaixo:

Em linhas gerais, podemos afirmar que todo ato de comunicação é emitido por alguém e tem por escopo a transmissão de uma m ensagem que será decodificada por outrem . Po­demos afirmar que um advogado, ao redigir u m a petição, deverá fazê-lo de forma clara, coerente c precisa, a fim dc que ela seja bem compreendida pelo destinatário, produzindo os resultados esperados.

Uma segunda constatação diz respeito ao sistema de sinais que constitui o código: este deve ter um a organização consistente, a fim de que a m ensagem — em nosso caso transm i­tida pela peça processual — não perca a força em decorrência de falhas grosseiras, tais como erros gramaticais, que provarão a falta de diligência do advogado.

Um terceiro fator a ser considerado relaciona-se ao contexto. Embora haja conhecim en­tos culturais com uns ao emissor e receptor, é necessário extremo cuidado para não supor que deles advirá o sentido do texto. Este deve ser uma unidade au tônom a, na qual clareza, coerência e precisão são qualidades necessárias à decodificação da mensagem.

Como pudem os constatar, a comunicação bem estruturada acom panhará o bom desem ­p en h o do profissional do direito e se constituirá em discurso jurídico apropriado caso sejam utilizados conscientem ente os elementos com ponentes do processo.

Elementos da comunicaçãoA comunicação verbal é um processo dinâmico, em que ocorre a interdependência do

emissor e do receptor. A interpretação, obtida por mecanismos de relação entre a palavra empregada, seu contexto e o m odo de articulação discursiva, precisa coincidir na transm is­são c na recepção para que o nível básico de significado seja compreendido.

De forma resumida temos:1. Quem diz: emissor, transmissor ou rem etente — aquele que emite a mensagem.

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1 2 Parte I — A comunicação no texto jurídico

2. A quem diz: rcccptor ou destinatário — aquele que recebe a mensagem.3. O que diz: m ensagem — o conjunto de informações transmitidas. Pode ser verbal

(oral ou escrita) ou não verba! (abraço, beijo, sinais de trânsito).4. Como se diz: código — o conjunto de sinais utilizados para a transmissão. Pode ocor­

rer por meio de signos (palavras) ou símbolos (a cruz, a bandeira etc).5. Com o que se diz: veículo ou canal — o meio concreto pelo qual a m ensagem é

transmitida. Pode ser natural, subdividido em visual (fumaça), auditivo (trovão) ou artificial (filme, gravação, Internet etc.).

6. Em que circunstância se diz: contexto — situação em que a m ensagem foi cons­truída.

Aplicando esses e lem entos em um a petição inicial, por exemplo, teremos, conforme dis­põe o artigo 282 do CPC,’ o seguinte:

1. Emissor: au tor da petição.2. Receptor: o juiz ou o tribunal a que é dirigida a petição inicial.3. Mensagem: o fato e seus fundam entos jurídicos, as provas, o pedido e suas especifi­

cações, a argum entação jurídica do pedido e o valor da causa.4. Código: a linguagem empregada, passando pelo vocabulário, pelas regras da língua c

pelo jargão técnico utilizado.5. Canal: folha de papel.6. Contexto: situação que fundam enta a elaboração da petição inicial.

A comunicação só será completa se todos os elementos que a com põem estiverem p re ­sentes e, por isso, são todos igualmente importantes.

Requisitos para uma boa mensagemA fragilidade da comunicação h u m a n a reside no caráter individual presente cm todas as

fases do processo: a escolha do vocabulário, a organização das palavras em frases, a escolha do meio, a intenção e a finalidade.

No cam po do direito, se o texto jurídico contiver falhas, seja na má escolha do vocabu­lário, seja na falta de conhecim ento lingüístico para a construção clara da mensagem, ele poderá ocasionar u m despacho desfavorável ou até m esm o ser considerado inepto.

Então, deve-se verificar se a mensagem:1. está ajustada ao receptor;2. tem conteúdo significativo;3. apresenta sentido claro;4. não é inconcludenie.

Linguagem e línguaOs dois conceitos — linguagem e língua — são usados hoje em dia de forma quase indis­

tinta. Há, porém, uma diferença fundam ental entre eles.

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C a pítu lo 2 — Considerações sobre a linguagem 13

0 term o linguagem refere-se a uma capacidade genérica de atribuir significação a ele­mentos, o que, segundo estudiosos, seria uma característica praticamente exclusiva aos seres hum anos.

Se tivéssemos de resumir em um a palavra a diferença entre comunicação hum ana e animal, a palavra Inovação ' seria um a boa escolha.

Cada vez que uma abelha comunica a localização de um suprim ento de néctar, está re­petindo uma variante de uma m ensagem básica que já foi transmitida u m sem -núm ero de vezes entre as abelhas.

Entretanto, não é o que ocorre em relação à linguagem hum ana . Uma das características fundamentais do nosso uso da linguagem é a criatividade. Muitas das frases que ocorrem na comunicação entre os seres hum anos são novas e nunca ocorreram antes. O falante tem a capacidade de com preender e criar um núm ero ilimitado de frases que nunca ouviu antes: essa é a característica principal da linguagem dos homens.

Já o termo língua refere-se a um conjunto de regras pertencente a uma determinada comunidade. Assim, há a língua francesa, a inglesa, a portuguesa etc.

Sobre a existência de uma chamada 'língua brasileira', não há ainda — de acordo com estudos lingüísticos sérios defendidos por Celso Cunha e Barbosa Lima Sobrinho, entre o u ­tros — indícios de que ela se configure como distinta da língua portuguesa. As variações no campo do vocabulário e cm algumas preferências estruturais (como o uso privilegiado no Brasil do pronom e 'você' em vez de ' tu ') não conceituam um a língua como diferente de outra. Um exemplo paralelo pode ser observado entre a língua inglesa falada na Inglaterra e a falada nos Estados Unidos.

Temos, portanto, que:1. Linguagem: é a faculdade que o h o m e m possui de poder expressar seus p en sa ­

m entos. Envolve sons e sinais de que pode servir-se o hom em para transm itir suas idéias, sensações, experiências etc. Há a linguagem falada (sons vocais), a escrita (quando se utilizam letras), a mímica (quando em item -se gestos) e outras.

2. Língua: quando o complexo sistema de sons e sinais passa a ser um código e a per­tencer a um determ inado povo, ele se constitui na língua. A língua é a linguagem articulada, atributo específico do ser hum ano .

Dialeto e registroAs situações lingüísticas são m uito complexas. Em u m panoram a sucinto, temos duas

principais variações:1. Dialeto: as variações de uso regional, que se verificam na entonação, no vocabulário

c cm algumas estruturações sintáticas, caracterizando um a com unidade lingüística dentro de u m determ inado espaço geográfico.

2. Registro: as variações decorrentes de ajustes em função da situação contextual e do destinatário. Em conseqüência, podem os separar várias modalidades e níveis de língua: escrita, falada, jurídica, dos economistas, dos in ternautas etc.

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1 4 Parte I — A comunicação no texto jurídico

As variações dc dialeto e registro costum am ser usadas para distinção social, qualificando os falantes de acordo com sua origem, grau de escolaridade, profissão etc.

Língua falada e língua escritaA com panhe no Quadro 2.1. um a esquematização ampla sobre as diferentes modalidades

e níveis da língua.1. Falada vulgar: não existe preocupação com a norm a gramatical. É geralmente usada

por pessoas que não tiveram n e n h u m tipo de alfabetização.2. Falada coloquial despreocupada: é usada na conversação corrente, com gírias e

expressões familiares, e há pouco policiamento gramatical.3. Falada culta: há preocupação gramatical, sendo bastante utilizada cm sala de aula,

reuniões, palestras, sem, no entanto , perder a naturalidade de expressão.4. Falada formal: similar à escrita, e por isso soa artificial.5. Escrita vulgar: utilizada por pessoas sem escolaridade, apresentando vários erros.6. Escrita despreocupada: de caráter híbrido, utilizada por pessoas escolarizadas em

situações que não exigem tanta atenção com relação à gramática, como em bilhetes informais ou correspondência íntima.

7. Escrita formal: preocupada em seguir a norm a gramatical vigente, sendo utilizada na correspondência formal, em apresentações e livros.

8. Escrita literária: respeita as norm as gramaticais, mas pode quebrar determinadas padronizações para obter o efeito estilístico desejado, un indo o conteúdo a u m a for­ma inovadora.

Portanto, podemos perceber que há m uitas formas de expressar idéias e cada um a delas deve ser usada dc acordo com a situação que se apresenta. A sobriedade da justiça, por sua vez, exige a escrita formal.

Quadro 2.1 Modalidades e níveis da língua.

Língua falada Língua escritaVulgar VulgarColoquial despreocupada DespreocupadaCulta FormalFormal Literária

Funções da linguagemEm meados do século XX, um lingüista cham ado Roman Jakobson percebeu que uma

m esm a organização discursiva pode assumir diferentes intenções, dependendo da atitude do au to r cm relação à sua mensagem. Essas variações ele denom inou dc 'funções'. Assim, u m m esm o tema pode ser apresentado dc diferentes formas, conforme o uso de um a função ou outra. As funções definidas pelo lingüista são:4

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C a pítu lo 2 — Considerações sobre a linguagem 15

1. Referencial: centrada sobretudo na mensagem.2. Expressiva: centrada principalmente no emissor e voltada para a expressão dos sen ­

timentos, emoções, julgamentos.3. Conativa: voltada para o destinatário, acionando-o diretamente.4. Fática: refere-se ao cuidado de m an te r o contato, portanto, relacionada ao canal para

comunicação.5. Metalingüística: centrada na explicação do código.6. Poética: o ritmo, a sonoridade e a estrutura da m ensagem têm tanta importância

quan to o conteúdo das informações.

Ainda segundo Jakobson,embora disiingamos seis aspectos básicos da linguagem, dificilmente lograríamos, contudo, e n ­

contrar mensagens verbais que preenchessem uma única função. A diversidade reside nào no m ono­pólio de alguma dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções.5

Ao longo de u m texto, o au tor pode valer-se de diversas funções, m udando e pluralizan- do suas intenções. Se em um parágrafo imporia sensibilizar o destinatário, em outro pode julgar necessário explicitar o código.

Assim, o profissional do direito não deve se preocupar em a tender burocraticam ente a um a única função, mas, sim, e fundam entalm ente , em usar os recursos que a linguagem oferece a fim de conseguir o grau de persuasão que seu discurso forense almeja.

De acordo com o próprio Jakobson e outros estudiosos, como Francis Vanoye, a função referencial serviria de base para qualquer mensagem, e nela estariam apoiadas as outras funções, de acordo com as intenções do emissor.

Assim, há textos que se valem da lu n ç ã o expressiva' ou 'emotiva', quando o objetivo do au to r é expressar seus sentim entos e emoções. A carta íntima é u m exemplo. Um acusado, tam bém , em seu depoimento, serve-sc em geral de um a linguagem m arcadam ente subjeti­va, carregada dos pronom es 'eu ', 'rne', 'm im ', 'm inha ', enfatizando o emissor.

O profissional do direito poderá valer-se da função emotiva ao exprimir o estado e m o ­cional do emissor da m ensagem perante seu pleito. Assim, ele incluirá na linguagem forense adjetivos e palavras cuja carga semântica exprime sentimentos e opiniões, como nos ex em ­plos abaixo, em que tais expressões encontram -se em negrito:

Esse infortúnio ocorreu por culpa exclusiva do empregador, que não ofereceu condições míni­mas de segurança a este reclamante.

0 locatário, ora réu, vem utilizando indevidamente o imóvel, sublocando-o para pessoas de

reputação duvidosa, em flagrante infração contratual.

A informação de u m relatório de empresa, por sua vez, é precisa, objetiva, sem inclusão de sentimentos pessoais nem metáforas; fala-se, então, de 'função referencial' ou 'in form a­tiva'. Também a notícia de jornal prima pela função referencial.

Na linguagem forense faz-se uso muitas vezes da função referencial quando da citação de conceitos e legislação própria. Veja os exemplos a seguir:

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1 6 Parte I — A comunicação no texto jurídico

"Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos le­gais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações 'in natura', que o empregador por força do contrato ou costume, fornecer habitualmente ao empregado."6

'Substabelecer' é transferir a outrem os poderes recebidos de um outorgante.

Já a 'função conativa' ou 'persuasiva' aparece quando o au tor — por meio de procedi­mentos argumentativos e outras estratégias de convencim ento — procura convencer o leitor de lima tese ou ponto de vista. Sabe-se que o texto jurídico é em inen tem en te persuasório, dirige-se espccificamcntc ao receptor e dele sc aproxima para convcncc-lo a alterar com por­tamentos.

Podemos afirmar que o cerne das contestações, das apelações e dos recursos, em ge­ral, apresenta o predom ínio da função conativa, pois estes docum entos forenses objetivam convencer e influenciar o destinatário, fazendo-o compartilhar da visão apresentada pelo emissor. Confira no exemplo:

Ademais, admitindo-se, apenas para argumentar, que o autor esteja doente, ainda assim não

haveria o que indenizar, já que a doença geradora da invalidez teve início antes da sua admissão na

empresa, de modo que não pode, em absoluto, ser considerada doença profissional.

A ré agiu como se a relação existente fosse mera prestação de serviços, o que, como veremos, não se coaduna com a verdade, pelo abaixo exposto:

1. O autor, durante o período já mencionado, esteve sob a dependência jurídico-econômica da

reclamada, dela recebendo ordens, revelando de forma inescondível a subordinação.

2. Prestou serviços essenciais ao objetivo pelo qual se criou e funciona a empresa, estando a ativi­

dade, pois, inserida na atividade-fim.

3. Houve, indiscutivelmente, habitualidade no serviço prestado, visto que cotidianamente o recla­mante comparecia à empresa para efetuar as obrigações acordadas.

Conforme afirma Vanoye, os textos com predom ínio da função conativa "estão destina­dos a implicar d ire tam ente o destinatário no processo de comunicação e, quer ele queira, quer não, atingi-lo pelo teor da m ensagem ".7 E, mais adiante, completa: "O leitor não sc sentirá envolvido pelo texto senão na medida em que ele tiver a impressão de que este texto se endereça efetivamente a clc,,.8

Com relação à 'função fática', ela se distingue por evidenciar o canal de comunicação. No discurso forense podemos afirmar que quan to mais claro e bem construído o texto, mais será capaz de estabelecer contato com seu leitor.

Sc há alguma dúvida, é só ler o texto abaixo para perceber que frases longas e texto a r­rastado afastam com pletam ente o contato pretendido:

Há de se ressaltar que, assim como todos os funcionários, desde o mês de novembro, por motivo de

produtividade e obedecendo a política de qualidade estabelecida pela empresa, e a fim de evitar que os setores ficassem vazios quando os clientes os procuravam na hora do almoço, a autora obedecia o horário

estabelecido de almoço, ou seja, das I l h a s I2h.

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C a pítu lo 2 — Considerações sobre a linguagem | 17

A função fática diz respeito à legibilidade da mensagem. Chama-se legibilidade' a q u a ­lidade do texto que perm ite um a leitura de fácil compreensão. Em vários m om entos deste livro serão encontradas diretrizes nesse sentido.

Os finais das peças processuais tam bém são pontuais na exemplificação da função fática. Observe no exemplo como se invoca o contato com o juiz:

Portanto, com fundamento no que dispõe o artigo 22, III, da Lei 8.245/91 e demais ordenamentos legais, requer a V. Exa. que determine a citação do réu para, se quiser e puder contestar a ação, sob pena

de revelia e confissão quanto à matéria fática, devendo, ao seu final, ser julgado procedente o pedido, decretando-se o despejo, com a condenação em custas e honorários advocatícios.

Q uanto à 'função poética', ela não é com um ao discurso forense, pois supõe a valorização da informação por meio dc efeitos rítmicos c jogos dc sonoridade. Entretanto, a depender da veia artística de cada um, nada impede a construção dc peças ou sentenças cm forma dc poesia, o que não tem sido tão raro quan to haveria de se esperar.

Em 1989, na comarca de Araraquara (SP), o advogado Nicanor Rocha Silveira ingressou com a seguinte ação de retificação de registro civil:

"Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Comarca de Araraquara, SP.

"IVETE NASCIMENTO DA SILVA, brasileiro, solteiro, funcionário público municipal, residente na r. Trajano Gomes 237, nesta, onde domiciliado, por seu Advogado vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência para requerer RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL, amparado na Lei n. 6015/73 e, para tanto, em versos deseja narrar, ao menos para amenizar, este problema dc arrasar.DOUTOR MAGISTRADO:

O Autor, inconformado, pede vênia para expor seu problema, um terror.Cabra macho, baiano e assim nascido, tal qual é conhecido, tem problema, por engano.Registrado como Ivctc, tem nome de chacrete, mas que nome, feminino, diria Aulete.Graça sem graça que só traz pirraça no bar, no emprego, até no lar causa medo.

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1 8 Pa r te I — A c o m u n ic a ç ã o n o texto ju r íd ic o

Mas não e só isso, há também muito enguiço, na ficha, no cadastro é mulher ou é macho?!Nome de nordestino, até então sem destino, hoje em São Paulo, deseja retificá-lo.Homenagem a Santo Ivo, padroeiro do Advogado, prenome escolhido e que assim seja chamado.Esperando que o promotor, sempre culto e professor, entenda sua dor e concorde — por rigor.O Autor, a quem duvidar, está a esperar e provará, como quiser, que nunca foi mulher.Provará o estendido, em vestes ou despido com a devida mercê desde que exija o CPC.Deferida esta pretensão, de mandado de averbação se requer a expedição, de imediata execução.Ainda meio sem jeito, desde já satisfeito, com constrangimento pede deferimento.Valor: NCz$ 1.000,00NICANOR ROCHA SILVEIRA OAB/SP 66925"9

Como solução, o juiz, seguindo opinião do promotor, decidiu pela procedência do pedido sem a realização de qualquer prova.

Cabe ainda tecer breve comentário sobre a 'função metalingüística'. O foco dessa função está no próprio código empregado, o que significa dizer, no nosso caso, que se tratará da explicação da própria linguagem forense.

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Sc a peça jurídica, por exemplo, ao com entar o crime de violação de domicílio, exigir adefinição da palavra 'casa', teremos:

No art. J50 do Código Penal, vemos claramente que a imputação da pena não é congruente e, para

comprovação, citamos o referido artigo, em seus parágrafos 4 e 5:

§ 4*. A expressão 'casa' compreende:

I - qualquer compartimento habitado;II - aposento ocupado de habitação coletiva;

III -compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.§ 5-. Não se compreendem na expressão 'casa

I-hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição

do nc II do parágrafo anterior;

II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Notas1 David Bcrlo, O processo da comunicação. São Pau­

lo: Martins Fontes, 1982, p. 135.2 Roman Jakobson. Lingüística e comunicação. São

Paulo: Cultrix, 2001, p. 18.3 Brasil, artigo 282, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro

de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Di­ário Ojicial da União, Brasília, 17jan. 1973.

4 Roman Jakobson, Lingüística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2001.

5 Roman Jakobson, Lingüística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2001, p. 123.

6 Brasil, artigo 458, Decreto-Lei n- 5.452, de 1- de maio de 1943. Consolidação das Leis do Traba­lho. Diário Ojicial da União, Brasília, 9 ago. 1943.

7 Francis Vanoye, Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 104.

8 Francis Vanoye, Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 105.

9 Nicanor Rocha Silveira, apud. “A advocacia também é arte. Embora quase sempre seja taci­turna", Araçatuba. Disponível em: http://www. pericia.eng.br/artigo.php?id=27. Acesso em: 24 jul. 2007.

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VOCABULARIO JURÍDICO

Por que vocabulário jurídico?É indubitável que o discurso forense difere da elaboração discursiva de outros meios de

comunicação escrita e nem sempre o sentido com um da palavra eqüivale à sua significação jurídica.

Veja a palavra transação, por exemplo, e seus significados listados 110 Novo dicionário Au­

rélio da língua portuguesa

[Do lat. transactione.]S. f.1. Ato ou efeito de transigir.2. Combinação, convênio, ajuste.3. Operação de compra e venda.4. Inform. Em um sistema de informações, operação lógica que não fere a coerência dos

dados armazenados.5. Operação em que há troca ou transferência de valores.6. Jur. Ato jurídico que dirime obrigações litigiosas ou duvidosas mediante concessões recí­

procas das partes interessadas; composição.O profissional de direito convive com um sem -núm ero de palavras específicas, conferindo-

lhe um jargão técnico que lhe permite expressar com precisão e clareza sua argumentação.O vocabulário jurídico é requisito indispensável para que as idéias sejam revestidas de

forma adequada, com precisão de significado. Assim, cabe aos operadores do direito e m ­p reenderem esforço significativo na busca do te rm o que m elhor expuser o fato e seus fu n ­dam entos jurídicos, objetivando a construção bem -articulada de suas peças processuais.

Com certeza, esse jargão supõe um processo de aprendizado, que ocorrerá tanto nos bancos escolares quanto no exame atento de peças elaboradas por colegas. Muita leitura e consulta a dicionários capacitarão o profissional de direito a uma melhor elaboração de sua peça.

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C a pítu lo 3 — Vocabulário jurídico 2 1

Denotação e conotaçãoAs palavras podem ter significado denotativo ou conotativo. A denotação diz respeito a

um a ponte estabelecida entre o vocábulo e seu significado literal, ou seja, tal como está d e ­finido no primeiro sentido do dicionário. Já a conotação expressa um a linguagem figurada, isto c, estabelece-se um feixe dc significados, do qual se elegerá um, norm alm ente afetivo c relacionado ao contexto.

Q uando dizemos "o leão é um a fera", a palavra 'fera' refere-se ao animal selvagem, bra- vio. Já na frase "aquele advogado é uma fera", poderem os ter vários significados para esta última palavra. Caso o profissional esteja preparadíssimo na defesa ou acusação de seu clien­te, 'fera ' poderá significar "dotado de grande energia ou conhecimento". Em outro contexto, nessa mesma frase, a palavra 'fera' poderá significar agressividade.

Embora hoje em dia a lógica e a lingüística moderna estejam revendo esses conceitos à luz de novos estudos, podemos citar as sábias palavras esclarecedoras do mestre Othon Garcia:

Quando uma palavra é tomada no seu sentido usual, no sentido próprio, isto c, nào figurado, não metafórico, no sentido 'primeiro' que dela nos dão os dicionários, quando é empregada de tal modo que signifique a mesma coisa para mim e para você, leitor, como para todos os membros da comunidade sociolingüística de que ambos fazemos parte, então se diz que essa palavra tem um sentido denotativo (...) O seu sentido é, digamos assim, 'pão, pão, queijo, queijo'.2

E ele continua mais adiante:Se, entretanto, a significação de uma palavra não é a mesma para mim e para você, leitor,

como talvez nào o seja também para todos os membros da coletividade de que ambos fazemos parte, e não o é por causa da interpretação que cada um de nós lhe possa dar, se a palavra não remete a um objeto do mundo extra lingüístico mas, sobretudo, sugere ou evoca, por associação, outra(s) idéia(s) de ordem abstrata, de natureza afetiva ou emocional, então sc diz que seu valor, i.e., seu sentido, é conotativo ou afetivo.3

Lem brando que o discurso forense prim a pela clareza, objetividade c precisão, o p ro ­fissional de direito deverá ter m uito cuidado na escolha de seu vocabulário, preferindo sem pre a denotação, para que sua m ensagem não assum a sentido dúbio ou sentido p ro ­vocativo.

Sentido unívoco, equívoco e análogoHá m uitas palavras, no universo jurídico, que, sc mal empregadas, podem gerar sentidos

divergentes do pretendido. Por isso, em prol da precisão e da clareza, é importante estabele­cer que, na linguagem forense, os termos podem apresentar sentido unívoco, equívoco ou, ainda, análogo. Vejamos as peculiaridades de cada um.

1. Sentido unívoco: no jargão técnico do profissional do direito, são palavras que contêm um único sentido, sendo utilizadas para descrever ou tipificar situações específicas. Tomemos, por exemplo, os termos 'roubo ' e 'furto '. Muitas vezes escutamos na mídia televisiva a confusão en tre essas duas palavras que têm, entretanto , definições bem

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2 2 Parte I — A comunicação no texto jurídico

distintas no texto jurídico. Enquan to 'roubo ', dc acordo com o artigo 155 do Código Penal (CP) significa "subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel alheia m ediante grave ameaça ou violência, depois de reduzir a resistência de uma pessoa" / o termo 'furto ', no artigo 157, é designado como sendo "a subtração, para si ou para outrem, de coisa alheia móvel".5 Em suma, no roubo existe o e lem ento violência ou grave ameaça contra pessoa, situação inexistente no furto.Outro exemplo corriqueiro no jargão do profissional do direito é a confusão entre os lermos 'petição' e 'requerimento'. A petição é, conforme ensina Eliasar Rosa, "toda de­claração de vontade fundamentada pela qual alguém se dirige ao Juiz para entrega de determinada prestação jurisdicional, devendo, ou não, ser citada a outra parte". E com­pleta: "Toda petição determina o conteúdo dc resolução judicial" diferindo, portanto, do 'requerimento', "peça cm que o advogado solicita a intimação da parte, ou do perito, ou do representante do Ministério Público, ou a remessa dos autos do Contador etc."6

2. Sentido equívoco: as palavras equívocas são as que possuem mais de u m signifi­cado, sendo este determ inado pelo contexto em que o vocábulo é empregado. Um bom exemplo específico do português forense é o do verbo 'seqüestrar '. Enquan to no Direito Processual Civil, artigo 822, a palavra significa medida cautelar incidental que objetiva "apreender judicialmente determ inado bem sob litígio", no Direito Penal, artigo 148, significa "privar ilegalmente alguém de sua liberdade de ir e vir".Claro está que o profissional do direito deve em preender bastante esforço no sentido de evitar qualquer deslize na com preensão de sua mensagem, utilizando, sempre que em pregar palavras de natureza equívoca, marcadores que especifiquem o sentido pretendido.

3. Sentido análogo: são palavras que com põem u m m esm o campo de significado, e m ­bora definam situações jurídicas diferentes.É o caso dos vocábulos 'resolução', 'resilição' e 'rescisão'. Todas fazem m enção à idéia dc 'dissolução', porém cada um a traz sua especificidade. Se 'resolução' é a dissolu­ção de um contrato ou acordo, 'resilição' será empregada quando da dissolução por vontade dos contraentes. Já o term o 'rescisão' ocorrerá na dissolução por lesão do contrato ou nulidade.Assim, vemos que o emprego preciso de cada term o é de fundam ental importância no que tange à correta apreciação dc cada caso, c u m erro na escolha vocabular poderá ocasionar conseqüências jurídicas diversas do pretendido, podendo, inclusive, lesar o direito de outrem.O leitor estará agora a se perguntar por que tantas variações, podendo ocasionar tantos problemas. Ele faria coro com o professor Garcia, quando reflete: "A linguagem ideal seria aquela em que cada palavra (significante) designasse ou apontasse apenas uma coisa, correspondesse a uma só idéia ou conceito, tivesse um só sentido (significado)". Mas o mestre continua: "Como tal não ocorre em n enh um a língua conhecida, as pala­vras são, por natureza, enganosas, porque polissêmicas ou plurivalentes."7

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C a pítu lo 3 — Vocabulário jurídico 1 2 3

Pelo exposto, depreende-se que a precisão vocabular c condição fundam ental para a eficiência do ato comunicativo jurídico.

HomônimosPalavras hom ônim as são aquelas que têm a mesma pronúncia e grafia diferente. Por

exemplo:1. Cela (cubículo, quarto pequeno) x Sela (arreio de animais).2. Concerto (recital) x Conserto (reparo).3. Taxa (espécie de tributo) x Tacha (prego pequeno).4. Cerrar (fechar) x Serrar (cortar).Veja outros hom ônim os no Capítulo 18.

ParônimosParonímia c o fenôm eno lingüístico no qual palavras têm som sem elhante ao de outras,

podendo confundir-se com estas quando ouvidas por pessoas pouco instruídas. Significa o uso de palavras de sentido diferente, mas sem elhantes pela grafia ou pelo som.

Eis alguns exemplos jurídicos de parônimos:1. Absolver (perdoar) x Absorver (assimilar):

O réu fo i absolvido pelo júri.

Os ensinamentos não foram, absorvidos pelos alunos de direito.

2. Comprimento (extensão) x Cumprimento (saudação):O comprimento da área alienada fiduciariamente é insignificante.

A vítima, não sabendo do perigo, chegou a cumprimentar seu algoz.

3. Descriminar (tirar o crime) x Discriminar (diferenciar):0 tipo conhecido como sedução fo i descriminalizado.

A discriminação salarial entre empregados pode levar a um pedido de equiparação.

4. Destratar (ofender) x Distratar (romper o trato):O advogado fo i destratado pelo juiz em plena audiência.

O contrato cria, o distrato desfaz.

5. Elidir (suprimir) x Ilidir (refutar, anular):A audiência especial de conciliação fo i elidida porque o acordo era inviável.

Para ilidir a aplicação da pena pela ausência em audiência a parte deve comprovar impossibili­dade de locomoção.

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2 4 Parte I — A comunicação no texto jurídico

6. Eminente (ilustre, preclaro) x Im inente (prestes a acontecer):Um eminente ministro do STJ palestrou na faculdade.

A lesão ao direito do autor é iminente, daí a necessidade de concessão da tutela antecipada requerida.

7. Emitir (mandar para fora) x Imitir (colocar, investir em):Foram emitidas debêntures para que a sociedade pudesse ampliar suas atividades, buscando re­

cursos no mercado.

0 autor fo i imitido na posse do imóvel objeto do litígio.

8. Flagrante (manifesto, evidente) x Fragrante (perfumado):Qualquer pessoa do povo pode prender em flagrante delito.

A fragrância da terra mostrava que o imóvel não era improdutivo.

9. Incontinenti (sem delonga) x Incontinente (falho de moderação):O juiz determinou a citação incontinenti.

0 advogado demonstrou incontinência verbal durante a instrução da causa.

10. Infligir (impor pena) x Infringir (desobedecer):A sociedade infligiu ao criminoso pena exemplar.

O motorista infringiu diversas leis de trânsito.

11. Mandado (ordem) x Mandato (procuração):O mandado que estava na posse do oficial de justiça determinava a busca e apreensão dos autos.

Sem instrumento de mandato o advogado não pode defender interesses em juízo.

12. Remição (resgate, pagamento) x Remissão (perdão, absolvição):Para evitar que o bem saísse de seu patrimônio, o devedor efetuou a remição da dívida.

É possível que o credor efetue a remissão de uma dívida que possui e, em isso ocorrendo, ela é extinta.

13. Fluir (correr em estado fluido) x Fruir (estar na posse de; possuir):A oitiva da testemunha fluiu como o réu desejava.

A Lei garante ao proprietário o poder de fruir do bem de que é titular.

14. Ratificar (confirmar) x Retificar (corrigir):O autor ratificou em depoimento pessoal que realizava horas extras.

No aditamento o autor retificou seu nome, que fora lançado com erro na petição inicial.

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C a pítu lo 3 — Vocabulário jurídico 2 5

15. Emenda (correção) x Ementa (resumo):Por meio de um a emenda à inicial o autor retificou a data de admissão na empresa.A ementa daquele acórdão continha um a omissão, que fo i enfrentada através da oposição de

embargos de declaração.

NeologismosNeologismo é u m fenôm eno lingüístico que consiste na criação de u m a p a la v ra ou ex­

pressão ou na atribuição de novo sentido a um a antiga.Há uma tendência popular de criar, principalmente a partir de prefixos e sufixos, novas

palavras. Embora encontre respaldo lingüístico, esta situação, por não estar legitimada na gramática padrão, pode gerar problemas. Assim, evite a tentação e, sempre que ficar em d ú ­vida quan to à existência ou não de um vocábulo, consulte o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.

O neologismo é u m fenôm eno com um nas línguas, um a vez que estas se caracterizam por serem dinâmicas, ajustando-se ao desenvolvimento cultural hum ano . Só as línguas mortas, como o latim, por exemplo, são estáticas, justo por não serem mais faladas, e sim somente utilizadas para fins mais específicos dentro da língua escrita.

Como pode-se observar, o fenôm eno do neologismo mostra que a língua está em evolução. Entretanto, alguns neologismos têm vida curta, pois só servem para designar algo circunscrito a u m determinado m om ento histórico-cultural. Outros, porém, incorporam-se à língua.

O neologismo está m uito presente, atualm ente , nas discussões e assuntos ligados ao cam ­po da Internet. Há alguns anos surgiu a palavra 'deletar'. Era um neologismo e só recen te­m ente ela foi incorporada form alm ente ao idioma. Na verdade, só o tempo dirá se as novas palavras serão incorporadas ao idioma.

Na área jurídica, o neologismo deve ser repelido porque certam ente não é campo ad e ­quado para a criação de novas palavras ou significados. Gera arrepios imaginar sua criação e uso em debates técnicos que envolvam bens tão relevantes como a liberdade e o patrimônio das pessoas.

EstrangeirismosPreconiza a Constituição Federal no artigo 13: "A língua portuguesa é o idioma oficial da

República Federativa do Brasil".8Mas a incorporação de estrangeirismos é um falo lingüístico ex trem am ente com um .

Quem hoje em dia fala em 'quebra-luz ' em vez de 'a b a ju r? Pois saibam que esta última é um aportuguesam ento da palavra francesa abat-jour. Q uem tam bém desconhece o significa­do da palavra 'd e le ta r? Mas esse verbo foi incorporado m uito recentem ente à língua p o r tu ­guesa, já constando, inclusive, de nosso vocabulário ortográfico, produzido pela Academia Brasileira de Letras.

Há formas estrangeiras que, por força do intercâmbio político, econômico ou cultural, impuseram-se en tre nós. Um exemplo é a forma 'outdoor'. Há outras que foram aportu-

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2 6 ■ Parte I — A comunicação no texto jurídico

gucsadas, como a palavra layout, que já consta dc nosso vocabulário ortográfico como 'le iau ie '.

No caso de uso de u m estrangeirismo, deve-se usar o itálico se ele estiver grafado em sua língua de origem. Entretanto , caso ele já esteja incorporado ao nosso léxico, devemos a ten ta r para usar a correspondente aportuguesada. Consulte sem pre o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Você pode acessá-lo no site www.academia.org.br.

Ultimamente, m uitas palavras estrangeiras incorporaram-se ao costum e lingüístico bra­sileiro e, certamente, algumas fazem parte do vocabulário jurídico.

Use-as, se necessário, de forma parcimoniosa, e não para tentar convencer seu leitor de que você conhece outros dois ou três idiomas, já que não é isso que assegura ganho de causa.

A propósito, diz-se estrangeirismo quando propositalmente se utiliza um term o estran­geiro mesmo quando existe um correspondente na língua portuguesa. Por exemplo: ele comeu u m hot dog (cm vez dc comeu u m cachorro-quente); ela é um a lady (em vez de ela é uma dama).

Expressões latinasQuanto às expressões latinas, elas serão úteis quando utilizadas corretamente, pois têm o

condão de transmitir com invulgar felicidade uma idéia que necessitaria de muitas palavras.Por exemplo, a ação de investigação dc paternidade surgiu a partir do seguinte brocardo

latino: matercertus, pater incertus (a m ãe é certa, o pai, incerto). Quantas palavras não se pou ­pam com essa expressão, que sintetiza a própria razão de ser de um a ação?

Outro exemplo: a expressão ad corpus, não raras vezes utilizada em transações imobiliárias, significa a venda de u m corpo determinado — por exemplo, a Fazenda Bem Viver — , sendo apenas enunciativa a área total, pois o relevante é a unidade que está sendo alienada.

Mas, no âmbito jurídico, u m problema que se tem observado é o uso excessivo dc ex­pressões latinas. Q uem as emprega deve fazê-lo com edidam ente, para que a peça processual possa ser compreendida até m esm o pelas partes — maiores interessados no processo e que, no mais das vezes, não detêm conhecimentos técnico-jurídicos.

Se falarmos contractus qui habent tractum sucessivum et dependentiam de futuro, rebus sicstan- tibus intelliguntur, quase n inguém saberá que estamos abordando a teoria da imprevisão, aplicável aos contratos. As pessoas acharão que somos cultos, mas não en tenderão absolu­tam ente nada.

Nesse caso, é mais fácil fazer um a digressão acerca desse princípio, explicando que é aplicável aos contratos de trato sucessivo com execução diferida no futuro, que podem ser revistos se, en tre o m om en to da contratação e o do cum prim ento da obrigação, houver m o ­dificação radical no estado das coisas que a torne por demais onerosa para um a das partes.

Finalmente, é sempre bom lembrar que palavra latina não é acentuada.

GíriasGíria é um a palavra nova ou já existente na língua que assum e acepções diferentes de

seu sentido denotativo, sendo utilizada em linguagem coloquial. Por exemplo, a palavra

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C a pítu lo 3 — Vocabulário jurídico | 2 7

I r a d o ' deixa de ser relacionada ao sen tim en to de raiva, ira, para designar algo 'legar, 'bacana '.

O linguajar técnico-jurídico não se coaduna com a utilização desses termos. A gíria e m ­pobrece o texto e revela que o escritor possui vocabulário limitado.

Nesse sentido, prega Luis Antonio Sacconi:A língua escrita não a tolera, a não ser na reprodução da fala de determinado meio ou época,

com a visível intenção de documentar o fato, ou em casos especiais de comunicação entre amigos, familiares, namorados, etc., caracterizada pela linguagem informal.9

Então, gíria, jamais. Falou, bicho?

Palavras de baixo calãoTrata-se do uso dc termos que a ten tam contra a moral das pessoas. Um advogado — ou

quem participe do processo — deve escrever respeitosamente, sem ofensas. Evite palavras, frases, expressões ou construções vulgares.

Palavras de baixo calão ou ofensas a parte adversa são inadmissíveis e intoleráveis em uma petição, exceto se destinadas à tradução de algo que ocorreu e se tiverem relevância com o objeto da pretensão deduzida em juízo — por exemplo, a transcrição literal de xin- gam entos assacados contra o au to r para fundam entar u m pedido de indenização por dano moral por injúria.

Se assim não for, a lei determina, inclusive, que tais expressões sejam riscadas da peça: "É defeso às partes e seus advogados em pregar expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerim ento do ofendido, m andar riscá-las".10

Isso, convenham os, é no m ínim o vergonhoso para o advogado, além de poder gerar o u ­tra ação com pedido dc dano moral por parte do ofendido.

Pleonasmos'P leonasmo' significa o emprego de palavras inúteis para a expressão do pensam ento. É a

redundância de termos. Em certos casos, ele pode dar mais colorido, vigor ou graça ao estilo, devendo ser utilizado, quando cabível, com sabedoria. Veja alguns exemplos:

0 plano é para sua livre escolha.Esses pequenos detalhes merecem atenção.

É expressamente proibido fum ar neste recinto.

Todos têm certeza absoluta de que ele é culpado.

ArcaísmosArcaísmos são palavras que caíram em desuso.No português forense, é comum vermos textos que utilizam palavras arcaicas por entenderem

que estão sendo eruditos. Esse vício redacional encontrou respaldo por muitos anos nos bancos escolares, nos quais 'escrever bonito' significava "escrever de maneira incompreensível".

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2 8 Parte I — A comunicação no texto jurídico

Um bom exemplo e o que se segue:O juiz, em sua postura irrepreensível, recolheu o pronunciamento das testemunhas e comungou

com os nobres alvarizes em sua decisão correta e acrisolada.O profissional do direito deve ter cm m en te que a m elhor redação é aquela em que im ­

pera a clareza de expressão, abolindo elaborações confusas, vagas e pseudam ente eruditas, próprias do início do século passado.

Um caso especial: a ambigüidadeHá, na linguagem, uma situação específica de ambigüidade, ocasionada pela presença

de dois nom es an tecedendo o pronom e relativo 'que ' ou os pronom es possessivos 'seu(s) ' e 'suais) '. Veja duas frases que nos servem de exemplo:

A advogada falou com o procurador que trabalhava ali. (Quem na verdade trabalha ali: a advogada ou o procurador?)

A advogada falou com o procurador em seu escritório. (De quem era o escritório: do ad­vogado ou do procurador?)A fim de evitar o duplo sentido, podemos utilizar alguns recursos:1. Deslocar as orações de m aneira que som ente um dos termos preceda os pronomes:

A advogada, que trabalhava ali, falou com o procurador.

A advogada falou, em seu escritório, com o procurador.

2. Substituir o p ronom e relativo pelo correspondente 'o qual' (e suas variantes no plural ou no feminino):

A advogada, a qual trabalhava ali, falou com o procurador.

A advogada falou com o procurador, o qual trabalhava ali.

3. Substituir o p ronom e possessivo por um demonstrativo:A advogada falou com o procurador na sala deste.

Erros crassosErros crassos são erros grosseiros de escrita. Tais equívocos devem ser evitados a qualquer

custo, na medida em que petições redigidas com deficiências desse quilate perdem (e muito) credibilidade e confiança.

Seguem alguns exemplos, entre muitos.1. Jus x juz: 'jus' é escrito com 'esse' porque que vem de 'justiça' (também com 'esse').

Não existe "juz".Por tudo o que fo i exposto na causa de pedir, o autor faz jus à indenização por dano moral, o que

persegue através da presente demanda.

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C a pítu lo 3 — Vocabulário jurídico | 2 9

2. Tampouco x Tão pouco: ' tam pouco ' reforça uma negação, significa 'nem ', 'm uito m enos'. Já 'tão pouco ' significa 'm uito pouco', 'em pequena quantidade '.

0 reclamante não recebeu o 13* salário do último ano trabalhado e tampouco o dos anos anterio­

res. (Significa que ele não recebeu uma coisa nem outra.)O preso recebeu tão pouca comida.

3. Haja vista x Haja visto: 'haja vista' vem da expressão 'tendo em vista'. Logo, é in ­variável. Não existe 'haja visto', pois não existe 'tendo em visto'.

O autor merece ser declarado filho do réu, haja vista o reconhecimento expresso desse fato pelo

reclamado.

4. Pacífico x Passífico: 'pacífico' é escrito com 'cê', e nunca com dois 'esses'.É pacífico, na jurisprudência pátria, que a matéria em exame não comporta recurso extraordinário.

5. Exceção x Excessão de incompetência: um a das modalidades de resposta é a e x ­ceção dc incompetência relativa, que será apresentada em peça autônom a. A palavra 'exceção' é escrita com 'cê-cedilha' e nunca com dois 'esses'.

"Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa."11"Apresentada a exceção de incompetência, abrir-se-á vista dos autos ao exceto, por 24

horas improrrogáveis, devendo a decisão ser proferida na primeira audiência ou sessão que se seguir."12

6. FGTS x Fundiário: 'fundiário ' significa 'relativo à terra'. O Brasil tem um grave problema fundiário, pois existem muitos latifúndios improdutivos. Mas esse termo não guarda n en h u m a relação com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), assim considerado u m dos direitos dos em pregados.13 Há verdadeira disseminação do uso indevido dessa palavra.

O reclamante não teve a CTPS assinada e, por conseguinte, não teve recolhido o depósito do

FGTS.

Erros crassos devem ser evitados a todo custo, sob pena de o operador necessitar sistematicamente 'culpar a secretária' por u m suposto erro.

Recursos gráficosServem para retratar outras intenções. São exemplos letras maiúsculas, minúsculas, as­

pas, negrito, itálico, espaçamento, onomatopéia e asteriscos.

A s p a s

As aspas são sinais de pontuação representadas pelos s in a is " e ", e são utilizadas geral­m en te em citações, como dem onstra o exem plo a seguir:

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3 0 Parte I — A comunicação no texto jurídico

0 professor Othon Moacir Garcia, na apresentação de sua obra, afirma que tem procurado "ensi­nar não apenas a escrever mas principalmente a pensar" (p. VIU).

Podemos tam bém utilizar as aspas para destacar palavras ou expressões que fogem à norm a culta, como arcaísmos, latinismos, gírias etc.

Vale ressaltar que, quando usadas dentro de um texto já entre aspas, são chamadas de 'aspas simples' e representadas pelos s in a is ' e

E t c .

Etcetera é uma expressão que significa "e os restantes" ou "e outras coisas mais". Usa-se norm alm ente no fim de uma frase para representar que existe um a continuação lógica. Por ser um a abreviação, o ponto é sempre obrigatório.

Não é recomendável sua utilização nas petições jurídicas, especialmente naquelas em que se formula algum pedido, pois suscita dúvida na m ente do julgador, além de afastar a pretensão da certeza e determinação reclamadas cm lei.

Imagine-se u m pedido dc "aluguéis vencidos c vincendos etc." ou "verbas resilitórias - aviso prévio, 13° salário etc.". Haverá dúvida sobre o que realm ente está sendo postulado em juízo. Quais seriam os outros direitos representados pelo 'e tc /? Fica difícil saber.

Tal situação agride o artigo 286 do CPC:0 pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:1 - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do

fato ilícito;III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado

pelo réu.14

Por fim, nunca escreva 'c etc.', pois a conjunção já faz parte da abreviatura.

S ic

Sic é term o usado em um a citação para evidenciar que determ inada palavra ou frase foi utilizada no texto original escrito ou falado por outrem.

Norm alm ente é utilizado para enfatizar erro ortográfico daquele último autor, por vezes como forma dc ironia, ou apenas para ten tar impor descrédito ao adversário. Também serve na transcrição de algum depoim ento existente nos autos.

É meio legítimo de escrita, competindo ao advogado que escreve não com eter erros que possam dar m argem a esse tipo de exploração.

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C a pítu lo 3 — Vocabulário jurídico | 31

Notas1 Versão eletrônica, 3.0.2 Othon Garcia, Comunicação em prosa moderna. 4.

ed. Rio de Janeiro: FJV, 1976, p. 149.3 Othon Garcia, Comunicação em prosa moderna. 4.

cd. Rio de Janeiro: FJV, 1976, p. 150.4 Brasil, artigo 155, Decreto-Lei na 2.848, de 7 de

dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Brasília, 31 dez. 1940.

5 Brasil, artigo 157, Decreto-Lei nü 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Brasília, 31 dez. 1940.

6 Eliasar Rosa, Os erros mais comuns nas petições. 6.cd. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1985, p. 85.

7 Othon Garcia, Comunicação em prosa moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: FJV, 1976, p. 146.

8 Brasil, artigo 13, capítulo III, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

9 Luis Antonio Sacconi, Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual Editora, 1998, p. 11.

10 Brasil, artigo 15, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

11 Brasil, artigo 112, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

12 Brasil, artigo 800, Decreto-Lei nü 5.452, de i- de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Brasília, 9 ago. 1943.

13 Brasil, artigo 1-, Lei 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, e dá outras providências. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 14 mai. 1990.

14 Brasil, artigo 286, Lei nü 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

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Illl EXERCÍCIOS

1. Viu-se no Capítulo 1 que a escrita jurídica não precisa ser um exercício de d em ons­tração de exuberância intelectual. Assinale qual das opções abaixo apresenta a m e­lhor redação.a) Em resposta à consulta verbal formulada por V. Sü, sobre a necessidade, em face

da Lei de Imprensa n ü 5.250, de 9 de fevereiro de 1967 e da Lei n tt 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a qual alterou, atualizou e consolidou a legislação sobre direitos autorais, de constar no Jornal da Casa os nom es dos jornalistas que as­sinam as matérias publicadas, esclarecemos que...

b) Em resposta à consulta verbal formulada por V. Sü sobre a necessidade de constar no Jornal da Casa os nomes dos jornalistas que assinam as matérias publicadas, esclarecemos que, de acordo com a Lei de Imprensa n“ 5.250, de 9 de fevereiro de 1967 e da Lei nQ 9 610, de 19 de fevereiro de 1998...

2. A utilização da teoria da comunicação pelo bacharel em direito favorece a constru­ção de um discurso forense mais eficaz. Assinale 'C' (certo) ou 'E' (errado) para as frases abaixo.Em relação à comunicação verbal, devemos assinalar que:a) ( ) tan to o emissor quan to o destinatário (ou receptor) são pessoas que parti­

cipam do processo.b) ( ) o canal não é o suporte físico pelo qual a m ensagem é transmitida.c) ( ) a m ensagem compõe-se da articulação das várias informações.d) ( ) o código com um en tre o emissor e o destinatário atrapalha o processo de

comunicação.3. Relacione o código da coluna abaixo com os tipos de textos a seguir:

I - Texto com informações sem o rdenam en to lógico seqüencial.II - Texto com linguagem rebuscada, mas correio do ponto de vista estritamente gramatical.III - Texto apresentando erros gramaticais.a) ( ) Em atendimento a solicitação de carta de 15 de abril, comunicamos o envio de

50 latas de tinta Farol branco. Segue em anexo as notas fiscais.b) ( ) É com satisfação que recebemos sua correspondência pelo transcurso do 30u

aniversário desta conceituada empresa, pelo qual apresentamos nossas felicita­ções, bem como agradecemos o envio de seu folheto com os produtos promo-

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E x e r c íc io s 3 3

cionais. Porem, cm virtude dc nossas novas diretrizes, recebemos o rien ta­ção no sentido de não efetuarmos n e n h u m pedido no presente m om ento , embora esperemos re tom ar nosso contato comercial em breve,

c) ( ) Uma vez que nosso estoque encontra-se bem limitado, e depois de efetuar­mos estudos sobre o que se ajusta m elhor a nosso mercado, solicitamos nos informar sobre a possibilidade de executar o em barque das mercadorias 110 m eno r prazo possível. Pedimos ainda informação sobre 0 preço dos p ro du ­tos, bem como amostras grátis que sirvam como estratégia de prom oção de vendas. Segue abaixo a lista com a identificação do produto e a quantidade solicitada. Lembramos que esta solicitação está condicionada à m a n u te n ­ção dos preços do mês anterior.

Relacione a coluna da direita com a da esquerda, tendo em vista 0 predomínio dc uma das funções da linguagem.a) Função (

referencial

b) Função expressiva

c) Função conativa

d) Função fática

e) Função metalin- giiística

f) Função poética

) Inicialmente requer, na forma do § 2- do artigo 1- da Lei 5.478/68, abaixo transcrito, a concessão de gratuidade de justiça na medida em que 0 autor é menor impúbere e sua genitora encontra-se desempregada, motivo pelo qual não podem arcar com as custas c demais ônus processuais sem prejuízo do sustento próprio, con­soante se extrai da declaração em anexo.

) "A ação de alimento é de rito especial, independe de prévia dis­tribuição e de anterior concessão do benefício de gratuidade".1

) 0 pai expressamente reconheceu a paternidade do menor, con­soante se extrai da certidão de nascimento em anexo. E mais não fez.

) É obrigação dos parentes a prestação mútua de alimentos e, anco­rado 110 artigo 397 do Código Civil, há condição plena de alvejar os avós para 0 cumprimento dos alimentos, mormente quando 0 pai é um estudante desempregado que não tem qualquer fonte dc renda: "0 direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos cm grau, uns em falta dc outros."2

) Entrementes, uma vez que não pode aguardar a demora natural do processo, requer a concessão imediata de alimentos provisórios na razão de R$ 800,00 (oitocentos reais), submetendo-se, todavia, a outro valor que Vossa Excelência entenda por bem determinar.

) O autor não tem dúvida e afirma categoricamente que a capaci­dade de auxílio de seu genitor é inexistente na medida em que 0 mesmo, além de ter pouca experiência em razão da juventude, ainda é estudante e não trabalha. É, isso sim, sustentado pelos pais, ora réus.

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Parte I — A com unicação no texto jurídico

5. Vários erros são cometidos hoje cm dia nos textos jurídicos. Assinale a única resposta que completa corre tam ente as lacunas:a) Estranham os o motivo da cobrança da duplicata a c im a ______________________

(supram encionada/m cncionada)b) ______________________exposto acima, conclui-se que o novo decreto que versa

sobre contratação de pessoal não esclarece sobre a utilização de mão-de-obra terceirizada. (Face ao /Em face do)

c) Os nossos esforços são no sentido de que seja comprovado o homicídio doloso, as provas testemunhais, (haja visto/haja vista)

d) Encaminhamos a V. o Relatório Mensal de Custos, p a r a ____________ decisãoquan to aos novos procedimentos, (vossa/sua)

e) A Construtora Cai Cai Ltda., c o m ______________Rua Lopes Bueno, 660, nestacidade, executou as obras de asfaltamento da estrada, (sede à/sede na)

6. Preencha as lacunas com um a das opções en tre parênteses, aquela que julgar mais adequada ao contexto.a) No auditório, o g e r e n t e ___________________um a palestra maravilhosa, (apre­

sentava/exibia)b) Eles se pronunciaram n u m m o m e n t o _____________________(incompetente/

impróprio)c) Os seminários f o r a m _________________ em várias cidades dos Estados Unidos.

(feitos/realizados/executados)d) Quase todos os empregados desta divisão s e m p r e ___________________bons d e ­

sem penhos nas tarefas solicitadas, (ganharam /obtiveram )e) Os concorrentes d e v e r ã o ___________________tarefas bem penosas, (cumprir/

executar/desem penhar)7. Sabemos que há muitas palavras no universo jurídico que se mal empregadas podem

gerar sentidos divergentes do pretendido. Explique o sentido de cada uma das pala­vras listadas:a) Procedimento: e) Seqüestro:b) Processo: f) Rapto:c) Requerimento: g) Furto:d) Petição: h) Roubo:

8. Parônimas são palavras que têm som sem elhante, podendo confundir-se um as com as outras. Explique o sentido de cada um a das palavras:a) Despercebido: f) Ilidir:b) Desapercebido: g) Incerto:c) Distratar: h) Inserto:d) Destratar: i) Intemerato:e) Elidir: j) Intimorato:

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E x e r c íc io s 3 5

9. Corrija os modismos abaixo:a) Marcelo namora com Sofia há dois meses.b) Filho, sente-se na mesa para comer.c) Está errada a sua colocação da idéia. Não coloque o problema desta forma.d) Entre eu e ele não há segredos.e) Maria está falando no telefone.f) É m elhor ficar no sol.g) Vamos comer sobremesa só na janta.h) Gosto de fazer horas-extra.i) Você é de menor.j) A rigor, a meditação ajuda a m an te r o equilíbrio emocional.

10. As frases seguintes podem ser escritas sem o 'que '. Reescreva-as eliminando o 'que ' e fazendo as adaptações necessárias.

a) Peço informações sobre os livros que foram enviados pelo correio.b) Urge que se cumpra o regulamento.c) É necessário que se implante mais um plano.d) O assistente mais antigo, que não esteve presente à última reunião, foi demitido.e) O trabalhador que não produzia foi dispensado ontem.f) O interessante é que todos saiam ao m esm o tempo.g) A diretoria esperou que o gerente retornasse da licença.

Notas1 Brasil, artigo l 2, Lei n- 5.478, de 25 de julho

dc 1968. Dispõe sobre ação de alimentos e dá outras providências. Diário Oficial da União,Brasília, 26 jul. 1968.

2 Brasil artigo 397, capítulo VIL Lei n- 3.071, de l 2 de janeiro de 1916. Código Civil. Rio de J a ­neiro.

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PARTE II

EM BUSCA DA QUALIDADE DO TEXTO

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o3

\|— I

03CJ

CONSTRUINDO O TEXTO

Por onde começarFixar o objetivo para orien tar o que se vai escrever sobre u m assunto é o primeiro pas­

so para obter u m texto bem escrito, selecionando a linha de pensam ento que orientará a condução das idéias. Esse procedimento c fundam ental no sentido da escolha dc idéias per­tinentes ao assunto.

Simulando um a situação, podemos imaginar a redação de uma petição para sanar um caso no qual o locatário não esteja pagando o aluguel devido, sendo cabível o ajuizamento de um a ação de despejo por falta de pagamento.

0 bom profissional procura cercar-se das m elhores possibilidades para explorar o direito de seu cliente, fazendo com que ele prevaleça.

Em vez da ação simples de despejo, o advogado poderá cum ular tal pedido com cobrança dos aluguéis em mora, na forma do artigo 6 2 , 1 da Lei 8 .2 4 5 /9 1.1

Além disso, o fundam ento único da falta de pagam ento para ensejar o despejo não é o m elhor caminho, já que o réu poderá purgar a mora, pagando sua dívida, e com isso manter- se na posse do bem locado.

Então, o caso seria de ajuizar ação de despejo cum ulada com cobrança de aluguéis por duplo fundam ento: ausência de pagam ento do aluguel e infração de cláusula contratual. As­sim, m esm o que o locatário pague o débito, ainda será possível o despejo porque o inquilino descumpriu um a das obrigações contratuais que o une ao locador.

Observe que, para cada objetivo, haverá u m texto com pletam ente diferente. Se, ao con­trário, m isturarm os os objetivos, a clareza estará comprometida.

É por meio da fixação do objetivo que poderão ser relacionadas as idéias afins ao assunto em pauta, m an tendo a clareza na construção do texto.

Plano da mensagemA elaboração do plano compreende a determinação de partes, tópicos e itens, bem como

a distribuição estratégica das partes, organizadas de forma lógica para que se obtenha um resultado eficaz.

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4 0 Parte II — Em busca da qualidade do texto

0 trabalho dc estruturação do plano, com sua esquematização das idéias, possibilita eli­m inar porm enores excessivos e inoportunos, além de adicionar informações necessárias ao funcionam ento articulado da mensagem.

Veja, a seguir, o trecho de um a petição com sua seqüência apresentada pela idéia-núcleo de cada parágrafo.

No dia 24/2/2007 (sábado), a autora, acompanhada de sua genitora, tomou a condução n* 415, da qual a ré é concessionária, e que faz o trajeto Jardim Leal — Central. (Introdução do relato.)

Aproximadamente às 18hf quando o veículo passava pela Avenida Brasil na altura da Penha,

seis elementos anunciaram um assalto ao coletivo. (O anúncio do assalto.)Após aterrorizarem os passageiros com promessas de morte, já que dois deles exibiam armas de

fogo, passaram a retirar de todos, com violência, carteiras, bolsas, celulares e demais objetos de valor. (O assalto aos passageiros.)

Em seguida, o alvo fo i o trocador do coletivo, que teve de entregar a féria que estava em seu poder.

(O assalto ao trocador.)A ação dos bandidos demorou aproximadamente dez minutos, e, em seguida, evadiram-se em

direção a uma favela. (O fim do assalto.)Pois bem, após o trauma por todos sofrido, o motorista, em vez de dirigir-se à Delegacia de Polícia

mais próxima para dar notícia do crime à autoridade policial, prosseguiu normalmente seu itinerário, como se nada houvesse sucedido. (A atitude do motorista.)

Desconfia a autora que tal atitude seja previamente recomendada pela direção do réu para desestimu­

lar a oficialização desses eventos e, por conseguinte, evitar que os lesados busquem reparação perante o Poder Judiciário. (A autora desconfia de que a ré estimule a não-oficialização do assalto.)

Outra coisa que chamou a atenção da autora fo i que, ao chegar ao ponto final, o motorista diri­

giu-se ao despachante nesses termos: "Teve ganho no ônibus de novo", revelando que tal ocorrência é freqüente naquela linha. (A suspeita de que os assaltos são freqüentes.)

Aliás, a ocorrência de assaltos a coletivos longe está de ser coisa esporádica ou eventual, consoante

se extrai da matéria tirada do site da Fetransport, no qual aquela entidade informa que ocorreram 689

assaltos no mês de dezembro de 2006 (documento anexo). (A comprovação de que os assaltos são freqüentes.)

Então, sabedora a ré de que a situação de violência é periclitante, deveria envidar esforços para

mitigar a chance dessas ocorrências, seja através de câmeras, detector de metais, fiscais acompanhando os veículos ou qualquer outro meio para inibir tal violência. (A falta de atitude preventiva aos assaltos por parte da ré.)

Em vez disso, a ré preferiu a absurda e desastrosa negativa de qualquer socorro às vítimas, inclu­sive em face da autora, que nem um copo de água teve oferecido, sendo obrigada a valer-se de favor de

estranhos para ligar para sua residência e clamar pela ajuda de seu pai, pois não tinha numerário para

absolutamente nada. (A falta de apoio da ré.)Em seguidaf com a vinda de seu genitor, a autora dirigiu-se à Delegacia mais próxima com sua

mãe e fez o devido boletim de ocorrência, que em verdade deveria ter sido feito quando do episódio, para

que a autoridade policial pudesse instaurar inquérito visando apurar o crime e sua autoria. (O bole­tim de ocorrência efetuado pela autora.)

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C a p ít u l o 4 — Construindo o texto 4 1

Então, veja, V. Exa., a situação da autora: sofreu um enorme trauma com a violência experimen­tada, não teve qualquer auxílio do transportador e agora viverá por longevo tempo com a dúvida quanto à utilização indevida de seus documentos pessoais. (Conseqüência 1.)

Há mais. Em razão do roubo do celular da empresa, o empregador da autora a advertiu e, bastan­

te contrariado, quiçá desconfiado, entregou-lhe novo celular com a informação de que caso novo roubo

venha a ocorrer ela terá de arcar com o custo do aparelho, ou seja, o evento ainda prejudicou a acionante

junto ao seu patrão. (Conseqüência 2.)Por conta disso, a autora almeja o pagamento de indenização pelos danos material e moral ex­

perimentados, ressaltando que a relação que vigorou entre os litigantes fo i de consumo — portanto amparada pelo CDC —, além de ser obrigação do réu transportar incólume a autora, dever esse que fo i

descumprido (CCB, artigo 734). (O pleito justificado pelo relato.)

Dicas para escrever bemEis, em síntese, o que deve ser observado para escrever um bom texto:1. O parágrafo é formado por u m conjunto de enunciados. Todos eles devem convergir

para a produção dc um sentido.2. A primeira frase de cada parágrafo, que se denom ina 'tópico frasal', é sempre muito

importante. Ela deve ter um a palavra de peso que possa ser explorada.3. Fica difícil desenvolver bem um parágrafo se o tópico frasal for m uito vago. Evite

abstrações.4. Todo parágrafo deve ter sempre um a palavra ou idéia central que o norteie.5. Cada parágrafo deve explorar um a só idéia-nucleo. Explorar várias idéias ao mesmo

tempo torna o texto confuso, sem n enh u m a coerência.

Observe as idéias-núclco dos textos seguintes:0 mundo moderno apresenta-nos a todo momento uma avalanche de informações. E, muitas ve­

zes, este excesso prejudica a compreensão do sentido do fato, pois não conseguimos elaborar uma síntese satisfatória. De certo modo, podemos afirmar que o excesso de informações pode se tornar tão prejudicial

ao entendimento quanto sua escassez. (Idéia-nucleo: a quantidade de conhecimento não aumenta necessariamente nossa capacidade de compreensão.)

De acordo com o projeto apresentado pela Associação, a empresa financiará 50% dos custos da impressão do jornal. Os 50% restantes serão cobertos por anunciantes e pela receita obtida com a venda. (Idéia-nucleo: partição dos recursos de impressão do jornal.)

Organização dos parágrafosPodemos organizar o parágrafo (e o texto) de diversas maneiras. Veja algumas possíveis

formas dc organização:1. causa e conseqüência;2. tempo e espaço;3. comparação e contraste;

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4 2 Parte II — Em busca da qualidade do texto

4. enumeração;5. explicitação (definição, exemplificação, analogia).

O r d e n a ç ã o p o r c a u s a e c o n s e q ü ê n c i a

Observe como o texto abaixo, sobre o tema 'divórcio litigioso', é construído cm termos de causa e conseqüência.

Entre as causas que suscitaram o divórcio litigioso estão a falta de diálogo entre os cônjuges e

a mágoa acumulada por dissabores enfrentados. 0 litígio se torna ainda mais grave porque envolve disputas financeiras.

Vemos o efeito desse processo desgastante na maneira como os filhos se comportam. Pode-se obser­

var neles o recalque dos problemas enfrentados, gerando um comportamento anti-social e um individua­lismo exacerbado. Ainda como conseqüência, ocorre a rebeldia em relação a qualquer autoridade, o

que intensifica o desajuste social vivido por eles.

As seguintes expressões indicam causa:1. Substantivos: causa, motivo, razão, explicação, fonte, raiz, base, fundam ento , ali­

cerce, porquê etc.2. Verbos: causar, gerar, originar, produzir, acarretar, motivar etc.3. Conjunções: porque, pois, já que, visto que, um a vez que, porquanto , que etc.4. Preposições e locuções: por, por causa dc, cm vista dc, graças a, por motivo dc, cm

virtude de, devido a etc.

Já a conseqüência pode ser indicada por:1. Substantivos: conseqüência, efeito, decorrência, resultado, repercussão, produto,

reflexo etc.2. Verbos: resultar, decorrer, gerar etc.3. Advérbios e locuções: conseqüentem ente , em /com o conseqüência, em /com o d e ­

corrência, em conclusão etc.4. Locuções verbais: ser efeito de, ser resultante de etc.

O r d e n a ç ã o p o r t e m p o e e s p a ç o

Freqüentem ente , quando falamos ou escrevemos, temos a necessidade de indicar em que lugar estão ou estavam as pessoas a que nos referimos, onde ocorreram ou ocorrem os fatos que narramos. Nesse caso, a ordenação das idéias se dá por 'espaço'.

Nem sempre, porém , organizamos as idéias exclusivamente por indicações de espaço. Muitas vezes é necessário fazer-se a referência 'ao espaço c ao tem po sim ultaneam ente '.

Observe o texto seguinte, com suas referências ao espaço.No caso de a indenização presente na reclamação trabalhista ser deferida, o Autor pretende com­

prar um imóvel para si e outro, próximo ao seu, para seus pais, de maneira que ele possa dar assistência

a seus genitores, já idosos.

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C a p ít u l o 4 — Construindo o texto 4 3

As expressões indicativas dc lugar são particularm ente importantes quando o texto c uma descrição ou narração, mas são tam bém freqüen tem ente necessárias em dissertações.

O critério de ordenação das idéias por espaço pode ser:1. do exterior para o interior;2. da esquerda para a direita;3. dos elementos que estão em cima para os que estão embaixo;4. do que está ao norte para o que está ao sul.

São expressões indicadoras de lugar:1. Advérbios e locuções adverbiais de lugar: longe, perto, cm frente, diante, defron­

te, atrás, detrás, abaixo, acima, debaixo, dentro, fora, aí, ali, cá além, lá, à direita, à esquerda, a distância, ao lado.

2. Certas locuções prepositivas: longe de, perto de, ju n to a, ju n to de, em frente de, em frente a, diante de, defronte de, adiante de, atrás de, detrás de, por trás de, abaixo de, debaixo de, embaixo de, por baixo de, acima de, em cima de, por cima de, dentro dc, fora dc, ao lado de, ao redor dc, cm redor de.

3. Adjuntos adverbiais de lugar: no Brasil, na França, no Sul, no Norte do país, nas zonas rurais, nas grandes cidades etc.

4. Verbos: encontrar-se, localizar-se, aparecer, ocorrer, concentrar-se etc.

Observe como se estrutura um parágrafo em que as idéias se ordenam exclusivamente por 'tempo':

Os últimos anos marcaram o aparecimento em grande estilo dos livros de bolso, ostensivamente concorrendo com jornais e revistas nas bancas e na disputa das horas de ócio dos leitores. 0 livro, antes privilégio da gente de espirito e sensibilidade, de repente fo i elevado à categoria de produto de consumo

para a massa, tratado no mesmo nível do sabão de coco e sabonete. (As indicações de tempo se fazem ou por meio de 'advérbios' — 'sempre', 'antes', 'agora', 'então' — ou por meio do 'tempo verbal' — 'marcaram', 'foi elevado' etc.)

Em 1° de agosto de 2003 o Autor fo i admitido na Empresa Super Bem e, imotivadamente, dispensado em 1° de fevereiro de 2004. Ocorre, porém , que a empresa ré jam ais reconheceu o vínculo

empregatício. (Temos duas marcas explícitas de tempo: as datas.)São expressões indicadoras de tempo:1. Advérbios e locuções adverbiais de tempo: agora, já, ainda, antes, depois, em

seguida, breve, cedo, logo, em breve, então, outrora, sempre, afinal, enfim, final­m ente , u ltim am ente , p resentem ente, atualm ente , recentem ente, temporariam ente, esporadicamente, freqüentem ente .

2. Certas preposições e locuções prepositivas: após, até, desde, antes de, depois de etc.

3. Certas conjunções e locuções conjuntivas: à medida que, ao passo que, à proporção que, enquanto, quando, até que, desde que, logo que, sempre que, assim que etc.

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4 4 Parte II — Em busca da qualidade do texto

4. Adjuntos adverbiais de tempo: na década dc 30, em 1800, no século XIV, no sé­culo passado, muitos anos depois etc.

O r d e n a ç ã o p o r c o m p a r a ç ã o o u c o n t r a s t e

Muitas vezes, no nosso dia-a-dia, estabelecemos comparações, apresentam os contrastes, fazemos paralelos, apontam os semelhanças e diferenças entre dois elementos. Esse procedi­m en to leva-nos a uma organização das idéias cm termos de comparação c contraste, como vemos no texto seguinte:

O direito do Consumidor declaradamente visa proteger uma das partes, a saber, o consumidor.

Tal se justifica porque numa relação de consumo temos duas partes distintas: de um lado, o vendedor de produto ou prestador de serviço, cuja exuberância econômica permite abusar da parte contrária, po­

dendo ainda, em sua defesa judicial, valer-se dos melhores advogados dos mais renomados escritórios. De outro lado, o consumidor, que pouco ou nada tem, sendo apenas o destinatário do produto ou serviço adquirido, que potencialmente pode conter algum vício ou defeito por conta da massificação da produção.

(Observe como já na introdução é expresso o propósito de apresentar o contraste existente entre dois grupos.)São expressões indicadoras de comparação/contraste:1. Comparação: como, assim como, bem como, quanto, tanto... quanto, que ou do que

(depois de mais, menos, maior, menor, melhor, pior).2. Contraste: de um lado... de outro lado, por outro lado, em oposição, em contraste,

ao contrário, mas, porém, contudo, todavia, entre tanto , no entanto , embora, ao passo que, enquanto .

O r d e n a ç ã o p o r e n u m e r a ç ã o

Este tipo de ordenação é adequada sempre que a delimitação do assunto e o objetivo do parágrafo conduzem à indicação de um a série de características, de fatos, de funções, de fatores etc. Veja o exemplo:

Charles Howarth estabeleceu as bases dos princípios doutrinários do cooperativismo: a adesão livre, a gestão democrática e a distribuição das sobras líquidas. A primeira diz respeito ao

ingresso ou à retirada do cooperado, voluntariamente. A segunda estabelece que cada associado tenha direito a um voto apenas, sem nenhuma relação com sua participação no capital social. A terceira base convenciona que as sobras líquidas deverão ser distribuídas de form a a promover

o desenvolvimento da cooperativa. (Observe que, na introdução, é anunciada uma enu­meração; no desenvolvimento, são retomadas cada uma das bases anunciadas na introdução com sua definição; no texto todo, o uso das expressões indicadoras de enumeração: a primeira, a segunda, a terceira base; a ordem de apresentação do desenvolvimento segue a ordem em que as bases foram apresentadas no pará­grafo.)

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C a p ít u l o 4 — Construindo o texto 4 5

São critérios para a ordenação por enumeração:1. do mais familiar para o m enos familiar;2. do mais fácil para o mais difícil;3. do mais difícil para o mais fácil;4. do maior para o menor;5. por classificação das características em semelhanças ou diferenças.

São expressões indicadoras de enum eração: em primeiro lugar, em segundo lugar, d e ­pois, finalmente, por último, outro fator, também, ainda, em seguida, a seguir, a primeira função, a segunda função etc.

O r d e n a ç ã o p o r e x p l i c i t a ç ã o

É freqüente termos de redigir u m parágrafo com o objetivo de explicitar um a idéia, escla­recer u m conceito, justificar um a afirmativa. Podemos fazê-lo de várias maneiras:

1. por definição;2. por exemplificação;3. por analogia.

A 'definição' é, das três formas, a mais abstrata: enuncia os atributos essenciais do objeto, ser ou conceito, determ ina sua extensão ou seus limites.

As principais expressões indicadoras de definição são: verbo 'ser' c outros verbos do tipo de 'chamar-se ', 'denom inar-se ', 'considerar-se'.

Note o exemplo a seguir:0 assédio moral no trabalho não é um fenômeno novo. Poderia-se dizer que ele é tão antigo quanto

o trabalho. A novidade reside na intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na abordagem que tenta estabelecer o nexo causai com o trabalho e tratá-lo como não inerente ao trabalho.

Q uanto à 'exemplificação', ela é uma forma de explicitar u m conceito ou justificar uma afirmativa por meio de exemplos ilustrativos. O exemplo representa um a ponte entre o conceito, ou a afirmativa, e o leitor.

A exemplificação não é exa tam ente um a forma de organização do texto, mas um recur­so que pode ser utilizado sempre que se deseja esclarecer ou reforçar uma afirmação. Por exemplo:

>45 excludentes de antijuridicidade são: estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de

um direito e estrito cumprimento do dever legal. Presente um desses casos, não haverá crime. 0 estado de necessidade ocorre quando a pessoa afasta perigo como, por exemplo, matar um animal bravio que se

encontra em franca posição de ataque a alguém. Repele-se nessa hipótese uma coisa. A legítima defesa ocorre quando se repele pessoa como, por exemplo, quando alguém mata outrem que vinha ao seu

encontro com arma em punho, em evidente a n im u s necand i.

Por meio da 'analogia' explicita-se u m conceito ou justifica-se um a afirmativa apresen­tando seus pontos de semelhança com outros seres, objetos ou processos. A ordenação por

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4 6 Parte II — Em busca da qualidade do texto

analogia c, dc ccrta forma, oposta à ordenação por contraste: enquan to esta se baseia nos pontos de diferença entre seres, objetos e idéias, a analogia se baseia nos pontos de sem e­lhança. Por exemplo:

0 exercício regular do direito é a faculdade que algumas pessoas possuem de reprimir outras, sem que isso caracterize crime, como é o caso dos pais em relação aos filhos, pois detêm o poder de castigá-los

fisicamente, contanto que deform a moderada e necessária para impor determinados comportamentos. É claro que isso não autoriza o espancamento dos filhos pelos pais, pois nesse caso estaria havendo abuso

desse direito, não amparado em Lei.

Nota1 Brasil, artigo 62, Lei n- 8.245, de 18 de outubro

de 1991. Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes.Diário Oficial da União, Brasília, 21 out. 1991.

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C ,03U

COMO OBTER CLAREZA

Contexto históricoNossos textos, até meados da década de 80, valorizavam construções prolixas e rebusca­

das, com vocabulário sofisticado.A partir de 1990, o ritmo acelerado da vida m oderna e a sobrecarga de processos direcio-

na ram o estilo para uma maior facilidade de leitura, o que se refletiu em vocabulário simples e frases mais curtas e diretas.

Assim, a diretriz co n tem p o rân ea é a simplicidade. Mas a tenção! A simplicidade t e x ­tual m oderna n ão é a da pobreza de vocabulário n em a da supressão de inform ações que irão subsidiar análises complexas. É u m a forma de expressão lingüística em q ue o c o n te ú ­do da inform ação possa advir sem m aiores dificuldades para o destinatário .

Evite ser prolixoÉ fácil encontrarm os exemplos de mensagens prolixas em que a forma ilude o que real­

m en te importa — o conteúdo. É com um observarmos a ida e vinda de assuntos, apontando para a dificuldade do profissional em canalizar a informação para o que realm ente importa. É como se não soubesse encontrar o rum o pelo qual caminhar. E quando não se sabe o rum o, fica-se andando em círculos. Por exemplo:

Inolvidável consignar-se que o tema eleito para disciplina legislativa também se apresenta insur­gente ao interesse público, nos moldes em que fo i vazada, eis que presentemente cometidas as atribuições

de planejamento dos serviços de informática, e seus consectários mediatos e imediatos, ao Centro de Pro­

cessamento de Dados do Rio de Janeiro — o Proderj —, circunstância esta que empresta ao projeto em

pauta a nota de indesejável paralelismo organizacional, subtraindo-lhe, por conseguinte, os requisitos afetos à conveniência e oportunidade, no que condiz ao interesse público.

Há como evitar isso na apresentação de u m texto? Sim, há.

Leis da legibilidadeQ uanto às palavras, as leis da legibilidade são:

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4 8 Parte II — Em busca da qualidade do texto

1. Use palavras curtas (as palavras longas exigem u m maior esforço dc decodificação). Por exemplo:

Sugere-se a impertinência do controvertido empréstimo quando consubstanciado em base média nacional.

2. Escolha palavras já conhecidas (as palavras novas se impõem com dificuldade). Por exemplo:

Deve consignar-se que a atitude acarreta instransponível óbice.

3. Use palavras de formas simples (prefixação e sufixação prejudicam a legibilidade). Por exemplo:

A diferenciabilidade de sua linguagem confirma o poliglotismo.

Q uanto às frases, as leis são:

1. A construção das frases deve deixar transparecer n itidam ente suas articulações. Por exemplo:

O presidente sentia-se acuado pelas constantes denúncias de corrupção em seu governo e o cresci­

mento na Constituinte da pressão em favor da fixação de seu mandato em quatro anos.

2. A extensão das proposições não deve ultrapassar uma compreensão mais imediata da idéia. Por exemplo:

Inúmeras são as problematizações provocadas pelos questionamentos que se operam a partir da

estruturalidade econômica e ideológica dos quadrinhos que, destacando-se sua trajetória editorial, operam dentro da dinâmica de cultura de massa, apontando momentos formuladores de uma evolu­

ção form al da linguagem dos quadrinhos.

3. As palavras gramaticalmente (in ter)dcpendentes não devem estar m uito afastadas um as das outras. Perceba esse erro no exemplo a seguir:

Em resposta à consulta verbal formulada por V. Sil, concernente à necessidade, em face da Lei de

Imprensa nL’ 5.250, de 9 de fevereiro de 1967 e da Lei n* 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a qual alterou, atualizou e consolidou a legislação sobre direitos autorais, de constar no jornal os nomes dos jornalistas que assinam as matérias publicadas.

4. As palavras mais im portantes para a com preensão da m ensagem devem estar coloca­das de preferencia na primeira m etade da frase ou proposição.

5. Deve-se evitar uma sintaxe (modo de apresentação das idéias) rebuscada. Por exemplo:O projeto de reforma da Previdência, o governo quer retirá-lo do Congresso.

Redundância: um pecado a ser evitadoObserve o texto a seguir:

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C a p ítu l o 5 — Com o obter clareza | 4 9

0 presente contrato, uma vez assinado perante duas testemunhas instrumentárias, presentes ao ato, se tornará obrigatório perante as partes e todos os seus sucessores, a que título for, e deverá ser respei­tado fielmente entre os contratantes, nos seus exatos termos, no presente e no futuro.

Viu quantos excessos desnecessários?A tes tem unha é quem está presente a de term inado ato, não precisando indicar isso, pois

é implícito. O contrato é u m instituto obrigatório, pois não existe contrato facultativo. E n ­tão, é evidente que deve ser cumprido tal qual pactuado. Da m esm a forma, não se poderia conceber que u m contrato não fosse obrigatório para o presente e para o futuro; o impossível seria uma obrigação para o passado.

Eliminando clichês e excessos, teremos o seguinte texto, mais adequado:0 presente contrato, ora assinado por duas testemunhas instrumentárias, vinculará doravante as

partes e seus sucessores, a que título for.

Outro exemplo:Diante do exposto, requer que o presente recurso interposto pelo recorrente seja conhecido e provido

para julgar improcedente o pedido formulado pelo autor na petição inicial, acolhendo-se a tese de defesa

do réu trazido na contestação.

A expressão "recurso interposto pelo recorrente" c uma redundância sem igual, somente comparável a "pedido formulado pelo au to r na petição in ic ia r (e onde ele pediria, senão lá?) ou a "tese de defesa do réu trazido na contestação" (a peça de bloqueio onde se refuta não é sempre a contestação?).

Reconstruindo sem redundâncias:Diante do exposto, requer que o presente recurso seja conhecido e provido, julgando-se improceden­

te o pedido formulado pelo autor.

Fórmula mágicaNão se pode esquecer jamais de que um texto jurídico deve ser eficaz, ou seja, atingir seu

objetivo. Para isso, pode-se seguir as seguintes etapas:1. Deve-se, sempre, redigir um a listagem das idéias que se deseja ver contempladas na

peça jurídica.2. É preciso identificar as idéias que são principais, ou seja, que tocam em pontos fu n ­

damentais da argumentação. Idéia principal é aquela que não pode deixar de ser transmitida, sob pena de não conduzir à resposta esperada.Esta orientação é fundam enta l para que o texto seja redigido com objetividade e atenda tanto ao destinatário quan to à necessidade de eficácia. Na verdade, essa abor­dagem é a bússola que norteará todo o desenrolar da mensagem.

3. Identificar quais idéias interessam ser expressas e quais devem ser dispensadas. Idéia secundária é aquela que 'pode ' estar presente no texto, mas, se não estiver, não p re ­judica o resultado final, isto é, a eficácia.

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5 0 Parte II — Em busca da qualidade do texto

As idéias secundárias, no texto jurídico, se dividem en tre aquelas que podem vir expressas, pois auxiliam ou justificam a informação básica, e aquelas que obrigato­r iam en te devem ser eliminadas do texto por d ispersarem o en tend im en to da m e n ­sagem.Repare como, ao utilizar a técnica, pode-se trazer elementos de persuasão para obter o que se deseja.

4. Retire do texto toda informação que atrapalhe a assimilação das idéias principais, embora as considere interessantes.

Vejamos a aplicação dessas etapas.Tomemos como primeiro exemplo um a ação de indenização por dano material advinda

de acidente automobilístico.Os fatos juridicamente relevantes são aqueles que importam diretamente para a aplicação

da norma jurídica — condições de tempo, habilitação formal dos motoristas, velocidade com que transitavam na via, se estavam em ziguezague, a distância que guardavam entre si etc.

Depois de definidas as idéias principais, todas as que sobram são as secundárias. Idéia secundária, como dito, é aquela que pode estar presente no texto, mas, se não estiver, não prejudica o resultado final, isto é, a eficácia.

No caso eleito, a cor dos veículos e a qualidade das marcas deles é irrelevante, bem como se as montadoras possuem selo de qualidade ou se algum dos veículos não pagou o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Autom otores (IPVA) do ano anterior.

Vejamos agora como aplicar as etapas de clareza em um parágrafo mal escrito, extraído de uma réplica:

Até por absoluta falta de pressupostos em que se pudessem calcar as insustentáveis justificativas para tentar iludir a irrefutável lesão ao direito dos Autores, argiii a demandada, em prolixa preliminar, a inexistência dos documentos indispensáveis à propositura da ação, sugerindo a extinção do processo sem

julgamento do mérito; não obstante tenha a peça exordial sido instruída com cópias (cujas autenticidades não são questionadas) de provas incontroversas da propriedade dos respectivos veículos, e, assim, venia

concessa, estando a formalidade processual quanto a este aspecto inteiramente cumprida.

Ao separarmos as idéias principais, teremos ao m enos duas, que seguem abaixo:1. a peça exordial foi instruída com docum entos necessários, quais sejam, as cópias de

provas incontroversas da propriedade dos veículos;2. a formalidade processual foi cumprida.

Nesta fase é fundam ental perceber que tudo o que for expresso no texto deverá ter uma função. Nada poderá estar escrito só por sua sonoridade ou por se "achar que é bom".

Q uanto às idéias secundárias, estas deverão acrescentar valor, isto é, ter um propósito ou função determ inada no texto. Assim, aquilo que não preencher este requisito deverá ser eliminado. Em nosso texto reescrito, algumas foram dispensadas em prol da clareza e da ênfase na argumentação.

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C a p ítu l o 5 — Com o obter clareza | 51

1. Na tentativa de iludir a irrefutável lesão ao direito dos autores, argiii a dem andada— em prolixa argum entação — a inexistência dos docum entos indispensáveis à pro- positura da ação.

2. Ora, a tentativa espúria esbarra na constatação de a peça exordial ter sido instruída com cópias dc provas incontroversas da propriedade dos respectivos veículos.

3. Assim, venia concessa, está a formalidade processual referente a este aspecto integral­m en te cumprida.

Veja como a construção ganha clareza. Assim, dificilmente se terá excessos, deixará a idéia principal submergir entre as secundárias ou deixará de focar uma informação relevante.

Inteligibilidade: você sabe o que é?'Inteligível' significa aquilo que é en tendido com facilidade. Portanto, o texto claro é

aquele que é facilmente compreendido pelo destinatário, tan to no que se refere à organiza­ção das idéias quan to à prática do material lingüístico.

O maior problema é que o emissor da m ensagem n em sempre tem a noção dc quan to seu texto está inteligível para o destinatário. E por quê? Porque para ele, emissor, a m ensagem está clara. Ele tem as idéias em sua m en te e julga que todos as terão tam bém , então não se preocupa com a possibilidade de equívoco.

Veja o exemplo retirado da cartilha da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) na cam panha O Judiciário ao Alcance dc Todos:

"Viceja na dialética meditabunda, ao inverso da almejada simplicidade teleológica, se­miótica c sintática, a rabulegência tautológica, transfigurada em plurilingüismo ululante in­decifrável. Na esteira trilhada, somam-se aberrantes neologismos insculpidos por arremedos do insigne Guimarães Rosa, espalmados com o latinismo vituperante. Afigura-se até mesmo ignominioso o emprego da liturgia instrumental, especialmente por ocasião de solenidades presenciais, hipótese em que a incompreensão r e i n a / 1

E os elementos extratextuais?Im portan te ressaltar que não se trata dc com preender o texto por seus elementos ex tra ­

textuais, ou seja, por u m contexto já conhecido. Muito pelo contrário, trata-se de fazer com que o texto se estru ture de tal m aneira que até u m leitor que não esteja familiarizado com o assunto compreenda sem problemas as idéias.

Como deve ser o vocabulário?Para maior clareza, é imprescindível o uso de vocabulário simples, embora formal, como

já vimos nos capítulos anteriores.Claro está que há peculiaridades no português jurídico que não devem ser m enospre­

zadas. Assim, no capítulo específico sobre vocabulário, exam inam os com maior atenção os problemas colocados pela escolha do léxico.

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5 2 | Parte II — Em busca da qualidade do texto

Pode-se usar linguagem técnica?A linguagem técnica pode e deve ser usada, mas sem exageros. O excesso de linguagem

técnica, em vez de afirmar competência, revela superficialidade. Por exemplo:ínolvidável consignar-se que o tema eleito para disciplina legislativa também se apresenta insur­

gente ao interesse público, nos moldes em que fo i vazada.

Palavras que contribuem para a obscuridadeOs substantivos abstratos criam a ilusão de profundidade das idéias e contribuem para a

obscuridade do texto. Por exemplo:A necessidade emergente prefigura uma correta relação entre a estrutura e a superestrutura.

Pense sempre no destinatário e não exija que ele m antenha um dicionário ao lado para de­codificar seu texto. Lembre-se de que isto significa perda de tempo e fator de desmotivação.

Posicionamento correto das palavrasA posição dos termos na frase é de suma importância para a clareza. Portanto, cuide que

cada term o determ inan te esteja vinculado ao respectivo term o determ inado. Veja um ex em ­plo em que o posicionam ento incorreto produz mal-entendido:

Encaminhamos os documentos a V.S-em anexo. (Parece que V. Sâ é que foi encaminhada em anexo.)A seguir, u m exemplo de falta de clareza em u m ofício cm que se deseja efetuar um

convite:Senhora Procuradora,

Tenho a honra de convidar V. Exa. a participar da homenagem ao eminente Juiz Federal, Dr. João

da Silva, que se despede desta Seção Judiciária, em virtude de sua nomeação para o Egrégio Tribunal Regional Federal da 2* Região, a ser realizada às 17:30 horas, do dia 3 de abril de 2007, no 15° andar

da Av. Rio Branco, 123. (Percebe-se que, de acordo com o posicionamento das palavras, pode-se confundir que o que ocorrerá no dia 3 de abril será a nomeação e não a homenagem)

Sobre os parágrafosTambém é fundam ental o uso dc parágrafos não m uito longos. Deve-se cuidar para que

as idéias secundárias não se sobreponham às idéias principais.Leia u m texto retirado de uma reclamação trabalhista em fase de execução, na qual se

discutia sucessão de empresas, e perceba como ele não se expressa com clareza:Tendo em vista que a sucessão já havia sido declarada nos autos não importaria, portanto, a

consumação do ato sucessório uma vez que os sucessores do sucedido já estavam determinados. Ademais, a ordem de retirada dos sócios está sendo respeitada e, por isso, o fato dos sucessores não possuírem ido­

neidade financeira não trará qualquer efeito para a sucessão declarada.

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C a p ítu l o 5 — Com o obter clareza | 5 3

A petição, que se propunha a esclarecer, não cumpriu seu intento, pois faltou clareza à m ensagem que se desejava transmitir. Ao conseguir interpretar qual a idéia principal e quais as secundárias, transformamos o parágrafo longo em u m mais curto e mais claro, pois dis­pensam os os volteios do pensam ento . Leia a reescrita da petição:

Tendo em vista que a sucessão já havia sido declarada nos autos, não mais importaria a ordem de

retirada dos sócios e o fato dos sucedidos não possuírem idoneidade financeira.

Você já viu uma frase centopéica?Deve-se tom ar cuidado com a frase desdobrada ou 'centopéica', que sobrecarrega de

informações o parágrafo, dando a impressão de que ele nunca irá te rm inar c exigindo do receptor um grande esforço para decifrá-la.

Essa frase é m uito perigosa, especialmente quando lida em voz alta, pois o au tor pode m orrer asfixiado antes de chegar a seu final. A seguir, o exemplo de um parágrafo com frase centopéica:

Por outro lado, sendo impraticável a demonstração do efetivo e notório consumo de combustível insusceptível de comprovação, artigo 334, inciso I, do CPC, fo i que o próprio legislador daquele malsinado

Decreto-Lei n~ 2.288/86, reiteradamente tido por inconstitucional, por inúmeros julgados de Primeira e

de Superior Instância, teve a sensibilidade de estabelecer que a restituição do controvertido empréstimo

compulsório fosse consubstanciado com base no consumo médio nacional, consoante orientações Norma­tivas da Secretaria de Receita Federal.

Sc a oração principal fica distante de seu fecho, a frase, além de obscura, pode ser incom ­preensível. Este tipo de construção desnorteia o leitor e não destaca a idéia central, prejudi­cando o sentido da frase.

A solução é retirar as idéias secundárias e m an te r só a principal. Se achar necessário, construa, depois, u m a nova frase com a idéia secundária. O texto reescrito ficaria assim:

Por outro lado, sendo impraticável a demonstração do efetivo consumo de combustível, o próprio

legislador do Decreto-Lei n- 2.288/86 teve a sensibilidade de estabelecer que a restituição do controvertido empréstimo compulsório fosse consubstanciado com base no consumo médio nacional, consoante orienta­

ções Normativas da Secretaria de Receita Federal.

Evite a frase labirintoEvite tam bém a frase de labirinto, constituída de subdivisões infindáveis de idéias. Obser­

ve u m exemplo retirado de um a peça jurídica:A citada empresa, conhecedora das leis trabalhistas, tem uma política social voltada para os apo­

sentados, inclusive associando-se a instituições conhecidas, como a Umei - Associação Nacional dos Hco- nomiários Inativos, com vistas a permitir integração entre os mesmos, apresentando espaço de jogos

e diversas outras atividades com a finalidade de preenchimento de seus tempos, evitando depressões e

outros males conhecidos que psicologicamente a aposentadoria pode causar, em tempo algum convoca

aposentados para prestarem serviços avulsos.

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5 4 Parte II — Em busca da qualidade do texto

As soluções para evitar esse tipo dc frase seriam:1. discriminar as idéias principais;2. identificar as secundárias;3. organizar todas as idéias por ordem dc importância;4. redigir frases curtas sobre as idéias;5. eliminar as frases dispensáveis;6. redigir o parágrafo.

O texto reescrito ficaria assim:A citada empresa, conhecedora das leis trabalhistas, em tempo algum convoca aposentados para

prestarem serviços avulsos e, muito pelo contrário, apresenta uma política social voltada para os aposen­

tados, inclusive associando-se a instituições conhecidas, como a Associação Nacional dos Economiários Inativos (Umei).

Nota1 Associação dos Magistrados Brasileiros, 0 judici­

ário ao alcance de todos: noções básicas de juridiquês. Brasília: AMB, 2005, p. 4.

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3+-> V p — Ia03u

vO

A/COMO OBTER CONCISÃO

É possível ao texto jurídico ser conciso?Embora os textos longos e rebuscados tenham se originado do desejo de persuadir o

destinatário, o contexto do m u n d o m oderno imprime um a nova dinâmica na apresentação das informações.

0 conceito de 'concisão' relaciona-se com uma idéia mais utilitarista da m ensagem — o que não deve significar, em hipótese n enh u m a , 'em pobrecim ento ', mas um a forma mais enxuta e condensada de apresentação, em que se valoriza cada informação.

Ao m an ter o texto longo, o requeren te corre o risco de obter o efeito mais indesejável ao m u n d o jurídico: ter sua m ensagem desprezada pelo destinatário.

É com um observarmos petições de mais dc duas páginas em que o assunto poderia ter sido abordado em quatro ou cinco parágrafos, e não em dez ou doze. Muitas vezes, isso ocorre por insegurança quan to à expressão das idéias. Muitas vezes, não confiamos em uma palavra como suficientemente expressiva do que desejamos dizer e acabamos com um a filei­ra de palavras, as quais repetem o m esm o sentido, quando não o obscurecem.

0 exemplo que se segue confirma o que dissemos:Por que o conhecimento por si só há de ser, conforme a opinião de grande número de pedagogos cujas

idéias não coincidem com as minhas, considerado como a meta fundamental e essencial da educação, se a

experiência que poderíamos chamar de imediata já demonstrou que tem a mesma importância que o já

mencionado conhecimento por si só, como base para que se adquira uma formação profissional correta?Na minha opinião, assim como na opinião de todos os que acompanham as minhas idéias, o ensi­

no teórico ésuperestimado. Do que eu acabo de dizer é fácil concluir que eu acho que o livro e a prancheta

não podem substituir a valiosa e insubstituível experiência do estudante dentro de uma oficina, ou a

presença do estudante em um canteiro de obras. Por isso é preciso que a experiência esteja desde o início da formação acadêmica unida a ela, e não seja meramente acrescentada a ela somente após o término do

curso, depois que o jovem estudante já concluiu sua formação profissional.

Segundo José Roberto Penteado, "para escrever mal há pelo m enos tres razões: Ia: a tradição; 2ü: o desejo de impressionar; 3ü: não sabemos pensar bem ."1

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5 6 Parte II — Em busca da qualidade do texto

0 parágrafo a seguir, retirado de u m a peça jurídica, retrata bem o efeito da tradição e do desejo de impressionar:

Centrar o estudo da atividade administrativa apenas no ato administrativo, com prescindência de

atenção ao procedimento, tem o inconveniente de deixar encoberta a tramitação seqüencial e, portanto, a existência de um instrumental apto a abortar efeitos lesivos — o que é melhor do que simplesmente

remediá-los.

O lexto reescrito ficaria assim:Ao centrar o estudo apenas na atividade administrativa em prejuízo do procedimento em si, deixa-

se de observar sua causa, impedindo-se, portanto, a adequada correção do problema — o que se configu­

ra como melhor do que simplesmente remediá-lo.

É possível no tar como a concisão fez com que a m ensagem conduzisse o leitor mais facil­m en te para a informação relevante?

O ajuste entre pensamento e linguagemQ uanto mais n itidam ente alguém souber transmitir o que pensa, tan to mais eficiente

será sua linguagem e, por conseguinte, sua atuação no intercâmbio social.Para expressar-nos com elareza, temos que perseguir, de acordo com o professor Rocha

Lima, dois objetivos: "educar nossa capacidade dc organização m ental e aprender a pôr em execução convenien tem ente o material idiomático".2

A concisão e a capacidade de sínteseA concisão é um a qualidade que recom enda a expressão do pensam en to em poucas

palavras. O que se deseja é que o leitor seja convencido pelas palavras e não enfadado e desmotivado com o desperdício dc tempo.

Deve-se evitar o acúm ulo proporcionado pela sobrecarga de idéias — muitas delas dis­pensáveis, com certeza — que visem impressionar o leitor com a 'sabedoria' expressa pela prolixidade. A concisão supõe uma capacidade de síntese relacionada à capacidade de arti­culação lingüística do emissor.

Sem dúvida, quan to m aior o vocabulário dc uma pessoa, mais ela será capaz dc operar com os diferentes vocábulos c significados. Como a m ensagem é assentada cm u m voca­bulário que compõe imagens dos fatos, evocando na m en te do destinatário a proposta do emissor, necessitamos ter à nossa disposição um acervo vocabular amplo, que é conseguido mediante leitura atenta a meios de expressão e a formas de construção de idéias.

Com relação ao vocabulário, já dizia Garcia, a propósito da conclusão de um a pesquisa feita com executivos, nos Estados Unidos:

Mas parece não restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à expres­são do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores condições de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros cujo acervo léxico seja insuficiente ou medíocre para a tarefa vital da comunicação.3

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C a p ítu l o 6 — Com o obter concisão 5 7

Alem disso, é necessário saber distinguir idéias principais das secundárias, o que só será conseguido m ediante a rígida análise dos dados e de seus argum entos qualitativos. Quando se conseguir in terpretar os pontos-chave que consolidam ou rechaçam a argumentação, ter- se-ão em m ão as idéias principais a serem focadas.

De posse das idéias principais, todos os chavões e clichês, que an tes funcionavam como 'm ule tas ' e ten tav am da r forma ao texto, perdem seu valor e são reconhecidos como ele­m en tos escorregadios à boa leitura. Por ou tro lado, com o foco bem definido do que se deseja transmitir, vários e lem entos de realce e de ênfase solidificam nossa argum entação .

C a r a c t e r í s t i c a s b á s i c a s d a c o n c i s ã o

Na retórica m oderna, são características da concisão:1. Cortar redundâncias. Veja alguns exemplos:

O advogado repetirá a mesma tese. (O emprego de 'mesmo' é redundante. Melhor seria "o advogado repetirá a tese".)

O teatro vai repetir o espetáculo. (E não "vai repetir de novo" ou "vai repetir o mes­mo espetáculo".)Eduardo Martins4 cita outros exemplos:a) 'Conviver jun to ' (a palavra 'conviver'já encerra a idéia de 'junto'; portanto, é melhor

dizer "eles convivem há muitos anos", "não conseguem conviver sem briga" etc.).b) "Criar novos empregos" (a palavra 'criar' já indica algo de novo; portanto, é melhor

dizer "o governo vai criar empregos na indústria", "serão criados mil cargos" etc.).c) "Não há outra alternativa." (Toda alternativa é 'outra'. Diz-se, portanto: "ele não tem

alternativa", "não há alternativa possível", "ou paga, ou o título será protestado, sem alternativa".

2. Retirar idéias excessivas. Por exemplo:Informamos que a entrada, a freqüência e a permanência nas dependências deste clube sào

terminantemente proibidas, seja qual for o pretexto, a pessoas que não fazem parte de seu quadro de

sócios. (Seria melhor "é proibida a entrada de não-sócios".)Ao reaprender a pensar sem excessos, estaremos dando o primeiro passo em direção a

u m texto mais objetivo, que enfatize as idéias relevantes, que se organize com mais conca- tenação e que atinja o leitor para que ele se sinta comprometido.

Escreva de forma mais elegante usando adjetivosOs adjetivos são palavras que caracterizam um substantivo, atribuindo-lhe uma qualida­

de ou estado. Por exemplo:As regiões urbanas já estão superpopulosas.

A troca das locuções adjetivas por adjetivos produz elegância. Veja alguns exemplos:

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5 8 Parte II — Em busca da qualidade do texto

A citada empresa fez uma jogada de mestre. (A citada empresa fez uma jogada magistral.) Concluímos que aquela fo i uma época de ouro. (Concluímos que aquela fo i uma época áurea .)

Concisão e ênfase são compatíveis?Podemos constatar que em vários m om en tos de uma peça jurídica temos a necessidade

de realçar determ inado elemento. Uma das maneiras de obtermos o efeito desejado é utili­zando o recurso de transform ar o adjetivo em sua forma superlativa. Por exemplo:

A parte citada mostrou-se audacíssima. (O a d je t iv o 'a u d a z ' , e m sua fo rm a su p e r la t iv a , c o n t r ib u i p a ra a re tó r ica d o t e x to p o r seu fo r te e fe i to persuasivo .)

Notas1 José Roberto Penteado, A técnica da comunicação

humana, 11. ed. Sao Paulo: Pioneira, 1991.2 Rocha Lima e Raimundo Barbadinho Neto. Ma­

nual de redação. Rio de Janeiro: Fename, 1982, p. 28.

3 Othon Garcia, Comunicação em prosa moderna, 4. ed. Rio de Janeiro: FJV, 1976, p. 143.

4 Eduardo Martins, Manual de redação e estilo: Esta­do de S. Paulo, 3. ed. São Paulo: Moderna, 1997, p. 82, 83, 206.

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A UNIDADE DO TEXTO

Unidade: coesão e coerênciaDurante muito tempo a gramática que havia era a da frase. Não havia gramática do texto.

Só em meados da década de 60, na Europa, e por volta de 1980, aqui no Brasil, começou a tomar forma a lingüística textual, como ciência da estrutura e do funcionamento dos textos.

Conforme define Leonor Fávero: "O texto consiste, então, em qualquer passagem falada ou escrita que forma u m lodo significativo independente de sua ex tensão".1

Para o profissional de direito, a unidade obtida pelas conexões entre palavras e idéias dará o diferencial da eficácia pretendida.

Convém ressaltar que, por questões didáticas, unificaremos dois conceitos preciosos da lingüística textual: coesão e coercncia.

Analisaremos, então, sob a ótica de u m conceito am plo de coerência, os vínculos neces­sários à textualidade.

Quando um texto é coerente?Basicamente, u m texto é coerente quando existe harm onia entre as palavras, isto é,

quando elas apresentam vínculos adequados de sentido.De acordo com as palavras de Ingedore Koch,

a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser en ten ­dida como um princípio de interpretabilidade.2

A coerência e o tipo de textoNo exemplo a seguir pode-se afirmar que há absoluta falta dc coerência, pois não existe

possibilidade de estabelecer n e n h u m nexo de sentido quando, em uma petição, uma pessoa já falecida é capaz de pleitear algo:

Fulano de tal, falecido em 8 de maio de 2003, conforme certidão de óbito em anexo, doravante denominado reclamante, por seu advogado signatário, vem perante Vossa Excelência ajuizar ação

trabalhista.

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6 0 Parte II — Em busca da qualidade do texto

Por outro lado, a literatura está repleta de exemplos cm que, embora tam bém haja es­tranheza, há sentido. Como exemplo, temos o famoso "Poema de sete faces", de Carlos D rum m ond de Andrade:

"Quando nasci, um anjo tortoDesses que vivem na sombraDisse: Vai, Carlos! Ser gaúche na vida."3

Claro está, então, que a coerência estará ligada ao tipo dc texto, um a vez que o estabele­cimento de sentido de u m texto poético difere do de u m jurídico, por exemplo.

Coerência entre palavras e coerência lógicaNo texto abaixo, repare que a coerência é estabelecida a partir do eixo "incapacidade de

auxílio" e sua explicação: "estudante não trabalhador".0 autor não tem dúvida e afirma categoricamente que a capacidade de auxílio de seu genitor é ine­

xistente na medida em que este, além de ter pouca experiência em razão da juventude, ainda é estudante e não trabalha. É, isso sim, sustentado pelos pais, ora réus.

Q uando o vínculo adequado dc sentido é estabelecido, há o que Koch denom inou de 'interpretabilidade'.4

Entretanto, além da coerência no vocabulário, ou seja, da coerência semântica, podem os afirmar que há um a coerência na lógica das idéias.

No exemplo dado, à pergunta — implícita — sobre o sustento do jovem estudante, o texto p ron tam en te explicita a resposta: "é sustentado pelos pais". A essa seqüência no cnca- deam ento de idéias denom inam os 'coerência lógica'.

Sendo assim, dois são os cuidados que o profissional de direito deve ter para m anter seu texto coerente: preocupar-se com o vocabulário utilizado e apresentar as idéias conforme uma lógica.

Veja um a falha do primeiro tipo:0 réu confessou o crime tacitamente, expondo a todos sua culpa. (Ora, ' t a c i t a m e n te ' s igni­

fica ' im p l ic i ta m e n te ' , e o q u e é im p líc i to n ã o é explíc ito ; p o r ta n to , h á fa lh a n a co e ­rência . P ro v a v e lm e n te o ad v o g ad o q u e r ia u sa r o t e r m o ' t a x a t iv a m e n te ' . )Agora leia um exemplo de falha no estabelecimento da seqüência:

0 advogado solicitou diligências a fim de verificar a saúde mental do acusado, embora tenha

havido prova testemunhai de sua internação por vários meses em clínica psiquiátrica. (A q u e b ra na seq üênc ia lógica oco rre e m v i r tu d e d e o le i to r in fe r ir q u e a in te rn a ç ã o e m h o sp i ta l p s iq u iá tr ico d e c o r re u d e in s a n id a d e m e n ta l . Assim, o conec t ivo 'e m b o r a ' e n t r a e m c o n t ra d iç ã o co m o esperado .)

Características da coerênciaAs seguintes relações de nexo são fundam entais para a expressão correta da mensagem

e harmonização das idéias no texto: a conexão en tre as palavras, en tre as orações e entre os parágrafos.

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C a p ítu l o 7 — A unidade do texto 6 1

C o n e x ã o e n t r e a s p a l a v r a s

Como já vimos, a coerência é estabelecida pela significação dos elementos constituintes da frase. Nos vínculos semânticos entre as palavras, há aqueles que com binam e aqueles que en tram em desarmonia ou desacordo. Na verdade, só u m convívio intenso com as palavras poderá apon ta r esses nexos.

A conexão en tre as palavras exige o conhecim en to de seu significado, e o m e lho r meio de adquiri-lo é a leitura. Q uanto mais se lê a ten tam en te , mais as palavras passam a fazer parte de nosso repertório de linguagem, evitando que ocorram erros na relação de signi­ficado.

Observe, no exem plo abaixo, o erro cometido em um a carta:Solicitamos apontar as atitudes tomadas para bloquear as causas deste lamentável episódio.

('Bloquear causas' de um episódio que já ocorreu só faria sentido se fosse possível voltar no tempo. O que se pretendia era 'identificar' as causas, a fim de prevenir outros incidentes.)O cuidado com as palavras pode evitar erros como:

Ressaltamos a responsabilidade que envolve o relacionamento profissional médico/paciente, já fragili­

zado pela própria natureza do atendimento. (Quem está fragilizado é o paciente, em virtude de sua falta de saúde, e não o médico, que está ali para efetuar o atendimento profissional esperado.)Outro exemplo de incoerência é a resposta de u m universitário, ao fazer a diferenciação

entre 'bens móveis ' e 'bens imóveis', em um a prova de direito civil:Bens móveis são aqueles que são fabricados nas marcenarias. J á os bens imóveis são aqueles que

não se movimentam, como um edifício, e também, por exemplo, um veículo que, por estar sucateado, não tem como ser removido.

C o n e x ã o e n t r e a s o r a ç õ e s

A coerência é im portante tam bém na construção das frases e nos elos de significado entre um a idéia e outra. Veja um exemplo de texto incoerente:

É claro que os réus, como de costume nas Varas de Família, virão lacrimejantes, com. roupas puídas

e velhas nas audiências, utilizando muitos diminutivos, assegurar que seu padrão de vida é muitíssimo

modesto — só têm uma casinha de dois andares, um frigorificozinho, um carrinho, algum dinheirinho etc. —, embora possam furtar-se ao cumprimento de sua obrigação.Observe como a idéia grifada não está adequada à m ensagem principal, pois a partícula

de ligação, 'em bora ', não confere o significado correto à relação de sentido. O texto ficaria mais coerente se fosse escrito da seguinte forma:

É claro que os réus, como de costume nas Varas de Família, virão lacrimejantes, com roupas puídas

e velhas nas audiências, utilizando muitos diminutivos, assegurar que seu padrão de vida é muitíssimo

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6 2 Parte II — Em busca da qualidade do texto

modesto — só têm uma casinha de dois andares, um frigorificozinho, um carrinho, algum dinheirinho etc. —, porém não podem furtar-se ao cumprimento de sua obrigação.

Há várias palavras que podem ser usadas para enriquecer u m texto, estabelecendo um a relação mais evidente en tre as idéias. Essas palavras, denom inadas 'conectivos', contribuem tam bém para a força persuasiva da mensagem, clarificando os vínculos de sentido. Veja como é im portante aplicar os conectivos adequados:

Aliás, isso é mais um ingrediente que milita em favor da pretensão deduzida, uma vez que fati-

camente os réus já são prestadores de pensão, embora de forma insuficiente e irregular.

Os conectivos são os responsáveis por estabelecerem relações de sentido entre as idéias. Por isso são tão importantes. Apresentamos, então, o Quadro 7.1, com os principais conec­tivos e suas relações de sentido.

Q u a d ro 7 .1 Os principais conectivos e seus significados

Idéias Simples Compostos1. Causa/

explicaçãoporque, pois, por, porquanto, dado, visto, como.

Por causa de, devido a, em vista de, em virtude de, em face de, em razão de, já que, visto que, uma vez que, dado que.

2. Conseqüência/conclusão

tão, tal, tamanho, pois, portanto, assim.

De modo que, de forma que, de maneira que, de sorte que, tanto que, assim sendo, por conseguinte.

3. Finalidade para, porque. Para que, a fim de que, a fim de, com o propósito de, com a intenção de, com o fito de, com o intuito de.

4. Condição se, caso, mediante, sem, salvo.

Contanto que, a não ser que, a menos que, exceto se.

5. Oposição mas, porém, contudo, todavia, entretanto, embora, conquanto.

No entanto, apesar de, a despeito de, não obstante, malgrado a, sem embargo de, se bem que, mesmo que, ainda que, em que pese, posto que, por mais que, por muito que, muito embora.

6. Comparação como, qual. Do mesmo modo que, como se, assim como, tal como.

7. Tem po quando, enquanto, apenas, ao, mal.

Logo que, antes que, depois que, desde que, cada vez que, todas as vezes que, sempre que, assim que.

8. Proporção - À proporção que, à medida que.

9. Conformidade conforme, segundo, consoante, como.

De acordo com, em conformidade com.

10. Alternância ou. Nem... nem, ou... ou, ora... ora, quer... quer, seja... seja.

11. Adição e, nem. Não só... mas também, tanto... como, não apenas... como.

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C a p ítu l o 7 — A unidade do texto 6 3

Seguem vários exemplos do uso de conectivos:C a u s a

Inicialmente o autor requer a concessão de gratuidade de justiça uma vez que atualmente está

impossibilitado de arcar com os ônus de um processo.

C a u s a / o p o s i ç â o

"São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:I - os menores de dezesseis anos;II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discer­

nimento para a prática desses atos;III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade".5 [Gri-

fos nossos.]C o n s e q ü ê n c i a / C o n c l u s ã o

"Em uma cooperativa típica, os associados visualizam um objetivo, que é comum a todos, e trabalham em favor desse escopo. Por isso, não são empregados da entidade. São, isto sim, os donos do negócio."6 [Grifo nosso.)

F i n a l i d a d e

"O cooperativismo não visa à excelência das empresas, mas à reunião voluntária de pes­soas, que juntam seus esforços e suas economias para a concretização de um objetivo comum— objetivo delas e não de nenhum a empresa."7 [Grifo nosso.)C o n d i ç ã o

"Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;"8 [Grifo

nosso.]"Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando

importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes."9 [Grifo nosso.)

"Nenhum associado poderá ser impedido de exerccr direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto."10 [Grifo nosso.]

O p o s i ç ã o

"A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro."11 [Grifo nosso.]

"O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou represen­tações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difama­tória."12 [Grifo nosso.]

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6 4 Parte II — Em busca da qualidade do texto

O p o s i ç ã o / e x p l i c a ç ã o

"No entanto, quando essa entidade é utilizada para colocar mão-de-obra à disposição de empresas, em substituição à classe de empregados, surge o problema, pois se desnatura o instituto, transformando o Direito do Trabalho em direito renunciável, o que inviabiliza a sua aplicabilidade/13 [Grifo nosso.)T e m p o

"A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil."14 [Grifo nosso.]

A l t e r n â n c i a

"Em toda comunidade, durante a história da civilização, apareceram, como surgiram sempre, pessoas que procuram fraudar o sistema jurídico em vigor, seja pelo uso malicio­so e abusivo do direito que são titulares, seja pela simulação de atos jurídicos, tendentes a desvirtuar ou impedir a aplicação da lei pertinente, seja, enfim, por qualquer outra forma que a má-fé dos homens é capaz de arquitetar".15 [Grifo nosso.]

C o n e x ã o e n t r e o s p a r á g r a f o s

As partes de um texto precisam estar ajustadas umas às outras e não podem apresentar contradição. Deve-se tom ar o cuidado de, ao trabalhar u m a idéia, ir até seu final para só depois iniciar um a outra.

No caso do profissional do direito, é fundam ental o encadeam ento entre os parágrafos de um a peça processual, a fim de que o encadeam ento do raciocínio estabeleça-se de forma clara e precisa para o leitor.

Leia com atenção o texto a seguir e verifique a análise do encadeam ento elaborada mais adiante.

O assédio moral no trabalho não é um fenômeno novo. Poderia se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho. (A declaração inicial prepara o leitor para a comparação entre o antigo e o novo, o que ocorrerá no segundo parágrafo.)

A novidade reside na intensificação, na gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e na

abordagem que tenta estabelecer o nexo causai com o trabalho. (Cumprindo a expectativa gera­da, o autor especifica a diferença, estabelecendo a característica da novidade.)

0 assédio moral no trabalho é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humi­lhantes. (Tendo afirmado que ocorre a intensificação, neste terceiro parágrafo ela é delimitada.)

E o que é humilhação? É a atitude de ofender, menosprezar, rebaixar e ultrajar,; gerando senti­

mentos de inferiorização, constrangimento e ultraje. É fazer um ser humano sentir-se um ninguém, um

sem-valor, inútil. (A partir do conceito emitido no terceiro parágrafo, é elaborada uma definição mais completa.)

Com tais atitudes constrangedoras — comuns em relações hierárquicas autoritárias onde pre­

dominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas — a chefia desestabiliza a relação da

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C a p ítu l o 7 — A unidade do texto 6 5

vítima com seu ambiente de trabalho e com a organização. (É e s tab e lec id o o v ín cu lo e n t r e os s e n t im e n to s ex p ressos n o p a rág ra fo a n te r io r e suas co nseqü ênc ias , p o r m e io d a r e to m a d a ex p ressa e m 'ta is a t i tu d es ' . )

Verifica-se, então, a degradação das condições de trabalho, gerando uma experiência subjetiva

que acarreta prejuízos práticos e emocionais tanto para o trabalhador quanto para a organização. (A conc lu são d o te x to , q u a n d o se fecha o c o n ju n to d e idé ias es tabe lec id as a p a r t i r d o p r im e i ro p a rág ra fo , é ex p l ic i ta d a p e lo co nec t iv o 'e n tão ' . )

A integração em prol da unidadeAnalisaremos, a seguir, um trecho retirado de urna petição, destacando os elementos que

m a n tê m a unidade das idéias.O autor não tem dúvida e afirma categoricamente que a capacidade de auxílio de seu genitor é

inexistente na medida em que este, além de ter pouca experiência em razão da juventude, ainda é

estudante e não trabalha. É, isso sim, sustentado pelos pais, ora réus.O mesmo, todavia, não se aplica aos avós paternos, pessoas de posse que, conforme será abor­

dado adiante, são os únicos confortavelmente capacitados a auxiliar na criação material do autor.

Com efeito, os ditos avós, ora réus, são titulares de um grande frigorífico neste Município (...), empresa que possui robustez econômica, diversos empregados, múltiplos veículos e vasto maquinário.

A par disso, os réus residem em confortável moradia própria de altos e baixos neste Município,

mantendo muito bom padrão de vida, arcando inclusive com a faculdade particular do genitor do autor que, repise-se, não tendo como sustentar-se, também é mantido pelos réus.

Vale ainda acrescentar que a avó materna recebe proventos de aposentadoria e também tra­

balha como empregada em uma grande empresa de ônibus, o que significa dizer que é empregada,

empregadora e aposentada.Com este panorama fático, outra alternativa não restou ao autor senão ajuizar ação contra seus

avós paternos na medida em que eles podem colaborar na sua mantença, mas, voluntariamente, não se mostram animados a auxiliar na sua formação.

Analise os mecanismos que m an têm a unidade do texto:1. N a m e d i d a e m q u e : recurso de conexão en tre as idéias.2. O m e s m o : recurso de coesão (elemento que recupera o term o 'genitor').3. É: recurso de coesão, pois m an tém o elem ento 'genitor ' subentendido).4. T o d av ia : recurso dc conexão entre as idéias.5. C o n f o r m e se rá a b o r d a d o a d i a n t e : recurso que anuncia algo que será apresen ta­

do adiante, m antendo , por meio desse mecanismo, a coesão entre as idéias.6. C o m e fe i to : e lem ento que aponta a relação lógica entre a idéia do parágrafo an te ­

rior e a que se seguirá.7. D ito s : recurso explícito de coesão.8. E m p re s a : termo que recupera, por meio dc palavra similar, o elemento 'frigorífico'.9. A p a r d is so : e lem ento que aponta a relação lógica entre a idéia do parágrafo a n te ­

rior e a que se seguirá.

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6 6 Parte II — Em busca da qua lidade d o texto

10. Q u e : p ronom e relativo que m an tem a conexão entre o e lem ento anterior e a idéia que se seguirá.

11. R ep ise -se : recurso explícito de coesão.12. A in d a : recurso de realce que colabora com a unidade textual.13. A c re s c e n ta r : palavra que, por seu cunho semântico, confere coesão entre as

idéias.14. E ste : p ronom e demonstrativo utilizado como recurso de coesão.15. N a m e d i d a e m q u e : conector causai que estabelece a conclusão da lógica desenvol­

vida ao longo do texto.

Notas1 Leonor Lopes Fávcro, Coesão e coerência textuais,

8. ed. Sâo Paulo: Ática, 2000, p. 7.2 Ingedore Koch G. Villaça. A coesão textual. Sào

Paulo: Contexto, 1996, p. 21.3 Carlos Drum m ond de Andrade, Reunião, 3. ed.

Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1973, p. 3.

4 Ingedore Koch G. Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1996, p. 21.

5 Brasil, artigo 3G, Lei n- 10.406, de 10 dc jane i­ro de 2002. Novo Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, de 11 jan. 2002.

6 Jorge Luiz Souto Maior, Revista Síntese Trabalhis­ta, Ano VII, n. 81, Porto Alegre: Síntese Ltda, mar. 1996, p. 25.

7 Iara Alves Cordeiro Pacheco, em José Luciano de Castilho Pereira, "Cooperativas de trabalho: re lação de em p reg o " . Revista do Ministério Público do Trabalho, a n o VII, Brasília: LTr Editora , mar. 1997, p. 73.

8 Brasil, artigo T2, Lei n* 10.406, de 10 de janei­ro de 2002. Novo Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, de 11 jan. 2002.

9 Idem, artigo 13.10 Idem, artigo 58.11 Brasil, artigo 2-, Lei n- 3.071, dc I - de janeiro de

1916. Código Civil. Rio de Janeiro.12 Brasil, artigo 17, Lei nQ 10.406, de 10 dc janei­

ro dc 2002. Novo Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, de 11 jan. 2002.

13 Jorge Luiz Souto Maior, Revista Síntese Trabalhis­ta, Ano VII, n. 81, Porto Alegre: Síntese Ltda, mar. 1996, p. 25..

14 Brasil, artigo 72, Lei n* 10.406, de 10 dc janei­ro dc 2002. Novo Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, dc 11 jan. 2002.

15 Arnaldo Sussckind, Instituições de direito do trabalho, vol. 1, São Paulo: LTr, 1999, p. 233.

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0 0

MODALIDADES DE TEXTOQ-* r»J03 E SUA APLICAÇAO NO PORTUGUÊS FORENSE

Modalidades de textoOs textos podem ser classificados e divididos por sua 'organização discursiva', isto é, pela

forma característica como a idéia é organizada.Esses 'modos discursivos' podem estar presentes cm vários tipos de texto e norm alm ente

se mesclam. Segue uma breve conceituação de cada u m deles:1. Narração: apresenta episódios e acontecimentos costurados por uma evolução cro­

nológica das ações. Essas ações são vistas sob determinada lógica e constroem uma história, que nos é dada por u m narrador.

2. Descrição: é um discurso que apresenta, de u m ponto de vista ou foco, objetos, pai­sagens, lugares, ambientes, personagens e seus estados emocionais.

3. Dissertação: quando um texto apresenta ou explica idéias, esclarecendo-as, organi­zando-as, sem, entretanto, tom ar um a posição em relação a elas, estamos diante de um a exposição. Por exemplo:

A era clássica do liberalismo coincidiu com a formação das nações. No século XIX, fa lar em capi­

talismo significava fa lar em unidades nacionais onde o Estado-Nação desempenhava inúmeras funções

econômicas.

4. Argumentação: são apresentadas idéias e fatos que susten tam um ponto de vista acerca de determinada questão. A rgum entar consiste cm provar, dem onstrar ou d e ­fender uma visão particular sobre determ inado assunto. Por exemplo:

A sedução do petróleo se deve a três facilidades: é o combustível mais limpo (se comparado ao car­

vão minerai por exemplo), é o mais barato (pudera, é insumo de origem colonial) e é de fácil transporte.

Em 1950, o consumo era de 10 milhões de barris/dia. Em 1990, chegou a 65 milhões de barris!dia.

N a r r a ç ã o

A narração é um dos m ovim entos de linguagem mais usados pelo profissional do direi­to. Seja na petição inicial, na denúncia ou na reclamação trabalhista, a estru tura narrativa

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6 8 Parte II — Em busca da qua lidade d o texto

cncontra-sc presente e coloca-se como o fio condutor da articulação da m ensagem ao des­tinatário.

Confira u m exemplo de estrutura narrativa:W. S., brasileira, empresária (...), residente e domiciliada nesta cidade (...), por seu procurador

adiante assinado, com escritório nesta cidade, vem expor e requere a V Exa. o seguinte:

1 - O companheiro da requerente, P. S., há cerca de l ano fo i diagnosticado com um tumor na laringe e, por recomendação médica, iniciou um processo de radioterapia aliado à quimioterapia.

2 - N o início, esse processo surtiu efeito, mas, depois de 6 meses, fo i constado o aumento do tumor,

fazendo com que as sessões referidas acima tivessem sua dosagem aumentada.

3 - Após intensivo tratamento, a equipe médica verificou que as faculdades mentais do paciente ficaram afetadas, o que o impossibilitou de gerir seus negócios e de reger sua própria pessoa.

4 - Em face do exposto, e nos termos dos art. 1.177 e seguintes do CPC, a requerente quer promover sua interdiçãot para que, verificada sua incapacidade, seja-lhe nomeada sua curadora a própria supli­cante, ex vi do disposto no art. 1.775 do Código Civil.1

C a r a c t e r í s t i c a s d a n a r r a ç ã oPode-se perceber que:1. a estru tura narrativa tem como finalidade última situar o interlocutor nos aconteci­

m entos que ensejaram a ação;2. a narrativa, no discurso forense, ocorre sempre na 3â pessoa, um a vez que o advogado

está representando seu cliente;3. os verbos relativos às circunstâncias narradas estão no pretérito perfeito do modo

indicativo, pois quando ocorre o relato a ação já sc desencadeou;4. a obediência à seqüência temporal é de suma importância, pois é garantidora de que

a narrativa chegue logicamente a um a conclusão.O profissional do direito não deve olvidar-se de que as circunstâncias narrativas expres­

sas têm a intenção de justificar o ajuizamento da dem anda. Portanto, a narrativa deve pri­vilegiar a precisão e a objetividade, cu lm inando em um fecho lógico, a fim de evitar o argu­m ento da inépcia.

E l e m e n t o s n a r r a t i v o sPara o rien tar a redação de estru turas narrativas, convém ater-se a seus e lem entos

prccípuos:1. Quem: as pessoas que participam do fato jurídico.2. O quê: apresentação clara dos fatos que direcionam a história.3. Quando: o m om en to em que aconteceram as circunstâncias relatadas (tempo).4. Onde: localização dos eventos narrados (espaço).5. Como: m odo como se desenvolveram as circunstâncias, apresentadas em uma se­

qüência cronológica ou lógica.6. Por que: a razão que ocasionou os fatos narrados.7. Por isso: a conseqüência lógica.

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C a p ít u l o 8 — Modalidades de texto e sua aplicação no português forense | 6 9

Veja, a seguir, o exemplo analisado de um a petição e suas partes narrativas:Empresa (...), pessoa jurídica de direito privado (...), por seu advogado infra-assinado, pessoa

que receberá as notificações vindouras (...), com base nos artigos 890 à 900 do CPC e 769 da CLT, vem

ajuizar:

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTOEm face de X, brasileiro, casado, contador (...), pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a

aduzir:

O consignatário fo i admitido aos quadros da consignante em 10/4/2007 para exercer a função de contador, tendo sido dispensando sem justa causa em 10/7/2007, mediante aviso prévio trabalhado.

Recebia por último R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) mensais.Designadas data e hora para homologação da ruptura, o consignatário negou-se a receber seu

crédito alegando que estava incorretamente calculado, algo que não corresponde à realidade.A consignante ainda tentou demonstrar ao consignatário a regularidade dos cálculos o que, in­

clusive, fo i confirmado pelo homologador do sindicato dos empregados. Ainda assim o consignatário não restou convencido.

Para afastar a sua mora e obter quitação da obrigação, a autora vem através desta medida reque­

rer a consignação dos títulos e valores abaixo discriminados, retirados do TRCT juntado neste petitório: (...)

A consignante apresenta em anexo documento comprobatório do depósito da multa de 40% sobreo FGTS, guias para saque do FGTS e formulários do seguro-desemprego.

Informa, por derradeiro, que a anotação de dispensa na carteira profissional do consignatário já

fo i efetuada.Em assim sendo, requer a citação do consignatário para em dia e hora designado por este Juízo

vir receber o que lhe pertence devendo, de qualquer sorte, ao seu final, ser julgado procedente o pedido,

conferindo-se quitação judicial e eficácia liberatória em relação à obrigação do ex-empregador.Requer a produção de provas documental, testemunhai e depoimento pessoal do consignatário, sob

pena de confissão.2

Verifique os elementos desta narrativa:1. Q u e m : as pessoas que participam do fato jurídico — empregado c empregador.2. O q u ê : a dispensa do empregado sem justa causa.3. Q u a n d o : a tentativa de homologação do distraio.4. O n d e : no sindicato de classe.5. C o m o : a negativa do empregado, m esm o sendo o valor ofertado correto, pois os cál­

culos foram conferidos pelo homologador.6. P o r q u e : a razão que ocasionou os fatos narrados — capricho do empregado cm não

aceitar receber o que lhe é devido.7. P o r isso: a necessidade do aju izam ento da ação consignatória para a empresa obter

quitação judicial.

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7 0 Parte II — Em busca da qualidade do texto

D e s c r i ç ã o

De acordo com os professores Rocha Lima e Raim undo Barbadinho Neto, a descrição é "uma espécie de pintura por palavras, a representação verbal da seqüência de aspectos sob os quais evocamos ou imaginamos seres e am biente".3

Para efetuar uma descrição devemos, sobretudo, observar. Descrever é a reprodução ver­bal de um a realidade, extraída da percepção sensoriaL

Há quatro tipos de descrição:1. de ser an im ado ou inanimado;2. de interior;3. de paisagem;4. de cena.

D e s c r i ç ã o o b j e t i v a e d e s c r i ç ã o s u b j e t i v aImportante ressaltar que há um a descrição técnica, objetiva, e uma descrição literária.

Enquan to na primeira a intenção é a de apresentar cientificamente u m ser ou u m a cena, na última deseja-se influenciar o leitor. C onseqüentem ente , na descrição técnica, o vocabulário utilizado é o denotativo. Já na descrição literária ocorre o predomínio de impressões subje­tivas, com vocabulário conotativo.

O profissional do direito deve perceber a necessidade, em suas peças, da utilização de um a ou de outra técnica de descrição. Em alguns mom entos, ela há de ser impessoal, e n ­quanto, em outros, a força da persuasão se impõe, com a utilização de m aior quantidade de adjetivos que conduzem ju lgam entos subjetivos. Veja exemplos a seguir:

Fique registrada a completa inocência do rapaz, que, com 19 anos, é trabalhador e estudante, bom

moço, como demonstram os documentos anexos* (Descrição su b je t iv a d e pessoa , em q u e os ad je t iv o s co n f ig u ram ju ízos d e valor.)

Os requerentes possuem (...), nesta cidade, uma casa onde residem, e cujo terreno confronta e divi­

de, pelos fundos, com o do Sr. A. S.5 (Descrição d e espaço , com c u n h o objetivo .)

C a r a c t e r í s t i c a s d a l i n g u a g e m d e s c r i t i v aÉ característica dessa modalidade de texto a utilização de:1. verbos que designam estado (ser, parecer, ficar, permanecer, con tinuar etc.);2. verbos no pretérito imperfeito do m odo indicativo;3. adjetivos e locuções adjetivas.Por exemplo:

"Vestida de preto, tesa e imóvel à cabeceira da mesa, com seu penteado severo, seu ar calmo, parecia um retrato antigo. Tinha a pele cor de marfim velho e um quê de veludoso nos olhos e pálpebras pisadas, circundados de olheiras arroxeadas. Sua voz era velada. Os gestos, mansos."6 (Os ve rbos d o t e x to são 'p a rec ia ' , ' t i n h a ' e 'e ra '; e seus ad je t iv o s e locuções a d je t iv a s são 'd e p re to ' , ' te sa ' , ' im ó v e l ' , 'severo ', 'c a lm o ', 'a n t ig o ' , 'co r d e m a rf im ve lho ', 'd e v e lu d oso ', 'p isad as ' , 'a r ro x e a d a s ' , 'v e la d a ' e 'm ansos '.)

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C a p ít u l o 8 — Modalidades de texto e sua aplicação no português forense ■ 7 1

F i n a l i d a d e s d o t e x t o d e s c r i t i v oSão trcs as finalidades do texto descritivo:1. identificar;2. localizar;3. qualificar.

É importante perceber que um trecho descritivo pode estar inserido cm outro tipo dc texto cuja finalidade ultrapassa a do mero descrever. Assim, cm muitas peças processuais, a descrição e empregada para imprimir características específicas à narração, fortalecendo o texto narrativo.

D i c a s p a r a u m b o m e s t i l o d e s c r i t i v oQuem descreve deve procurar fazer com que seu estilo:1. seja vivo, rápido e claro, com parágrafos curtos e concisos;2. seja atual — as descrições lentas, morosas, próprias de épocas passadas, cansam e

aborrecem;3. seja direto, objetivo — evite o estilo oratório;4. evite frases frouxas explicativas;5. não em pregue muitas palavras, quando poucas bastam — não seja prolixo.

D i s s e r t a ç ã o

Dissertar é expor um ponto de vista sobre u m determ inado assunto. Seu foco são as idéias, d iferentem ente da narração, cujo foco são os fatos, ou da descrição, em que se re tra ­tam imagens. Na dissertação, analisam-se, explicam-se e interpretam-se opiniões. Portanto, todo texto dissertativo trabalha com temas, postu lando um a tese.

R e c o m e n d a ç õ e s i n i c i a i sPara escrever um a boa dissertação, os seguintes elementos são necessários:1. F a m i l i a r i z a ç ã o c o m o t e m a : pesquisa em obras especializadas, jornais, revistas

etc.2. E s p í r i to re f lex iv o : é a busca da verdade pela análise dos fatos, procurando explicá-

los, prová-los ou rejeitá-los.3. M é t o d o d e e x p o s iç ã o : consiste na busca das idéias propostas e o rdenam ento , de

acordo com um plano (introdução, desenvolvimento e conclusão).4. Im a g in a ç ã o : imaginar é ver bem uma idéia, representá-la como algo vivo, para d e­

pois dar a ela forma.5. C u l tu r a gera l: é hoje considerada informação.

D i f e r e n ç a e n t r e d i s s e r t a ç ã o e a r g u m e n t a ç ã oMuitos autores afirmam haver distinção entre dissertação e argumentação, pois nesta

encontra-se o objetivo precípuo de efetuar o convencim ento das idéias expostas. Sobre isso, são sábias as palavras dos professores Rocha Lima e Barbadinho sobre o assunto:

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7 2 Parte II — Em busca da qualidade do texto

Embora toda dissertação se reduza a uma exposição de opiniões, havemos de distinguir nela dois grandes rumos, segundo o seu propósito maior.

Com efeito, pode ser seu objetivo procurar convencer alguém de alguma coisa, buscando influir no ânimo do leitor por meio de argumentos, provas etc. ou ter simplesmente por finalidade dar a conhecer, ou a explicar, certo modo de ver qualquer questão.

É bem verdade que, manifestando nossa maneira de apreciar um assunto, sempre estare­mos — ainda que implicitamente — a tomar posição diante dele; porém, sem a intenção expressa de criar debate, pela refutação de razões contrárias às nossas.7

De acordo, então, com o que acabamos de ler, podemos afirmar que a distinção entre u m texto dissertativo e um argum entativo decorrerá da intenção. D enom inarem os u m de 'dissertação expositiva' e o outro dc 'dissertação argumentativa '.

Na dissertação expositiva a intenção do autor é expor determinado assunto ou opinião. Já na dissertação argumentativa, o redator busca convencer o leitor de seu ponto de vista. Para tal fim, necessita utilizar técnicas específicas de persuasão, as quais serão analisadas mais adiante.

A DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA E O DISCURSO JURÍDICOA partir do que foi exposto an teriorm ente , já que estamos tratando neste livro do dis­

curso forense, temos como conclusão lógica que a dissertação argumentativa corresponde à própria natureza do discurso jurídico, pois, para atingir sua finalidade, não basta ao p ro ­fissional do direito exam inar distanciadamente o assunto em foco. Mais do que isso, ele necessita em penhar-se na argumentação, utilizando-se de toda a sorte de recursos retóricos para atingir seu intento.

E s t r u t u r a d a d i s s e r t a ç ã o a r g u m e n t a t i v aAssim como lodo texlo bem redigido, a disseriação argumentaliva deve prim ar por uma

estrutura que ofereça ao leitor um acom panham ento da opinião defendida. Por isso, é mister conceber o texto com uma estrutura que comporte uma introdução da idéia, seu posterior desenvolvimento e, finalmente, a conclusão.

Com relação à introdução, veremos no texto a apresentação do ponto de vista ou da idéia a ser defendida. Na petição inicial, por exemplo, o juiz é situado diante dos fatos jurídicos, além de o au tor oferecer uma contextualização dos acontecimentos.

No desenvolvimento, há a explanação do pon to de vista ou da idéia e indicam-se os ele­mentos que servem para defender o tema apresentado. No discurso forense, apresentam-se doutrinas, fundamentações, evidências, testem unhos etc.

Na etapa relativa à conclusão, o au tor encerra de forma lógica a idéia principal. Na peti­ção inicial vemos, além da conclusão lógica, a formulação do pedido ao juiz.

Veja u m exemplo de dissertação argumentativa:"Justifica-se o litisconsórcio passivo porque a 2a ré foi tomadora dos serviços prestados

pelo reclamante, na medida em que a labuta desenvolveu-se, durante todo o período, nasinstalações do Hospital (...).

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C a p ít u l o 8 — Modalidades de texto e sua aplicação no português forense | 7 3

"Então, com sustentáculo na Súmula 331 do TST, tendo havido terceirização dos ser­viços, a 2a ré, na condição de tomadora, responderá de forma subsidiária pela reparação das lesões adiante expostas.

"HISTÓRICO FUNCIONAL"O autor foi empregado da Ia ré de 2/2/2000 a 31/3/2005, oportunidade na qual o con­

trato entre as rés foi rompido, recebendo por último o salário de R$ 1.436,27."DA FALSA CONDIÇÃO DE COOPERATIVADO"O autor era, formalmente, rotulado como cooperativado, mas a dinâmica da relação

mantida revela que jamais ocorreu tal pacto, sendo caso de reconhecer-se a sua ilegalidade."Senão, veja-se: o reclamante era subordinado a servidores públicos do hospital no qual la-

butava e recebia ordens do chefe do setor de informática do hospital ou do Diretor daquela área."Era obrigado a consignar horários em folhas de ponto, ainda que não fidedignas, mas

que demonstram o total e efetivo controle de seu trabalho, o que não se adequa à situação de cooperativismo.

"Na verdade, quando o autor foi encaminhado à Ia ré, estava em busca de emprego, mas não é isso que a cooperativa, filosoficamente, busca alcançar.

"No Brasil, depois de muitas experiências, na prática e na legislação, foi instituída a Política Nacional de Cooperativismo, que compreende a atividade decorrente de iniciativas ligadas ao sistema cooperativo originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordena­das entre si, desde que reconhecido seu interesse público.

"É o que está na Lei 5.764, de 16/12/71 que define, claramente, ser a cooperativa uma 'sociedade de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita à falência, constituídas para prestar serviços aos associados', ou em regime de reciprocidade.

"Como o resultado da affectio societatis está em função do intuitu personae, a cooperativa gira em torno das pessoas que a compõem.

"Daí ser dupla a participação do cooperado: como associado e como usuário dos serviços da sociedade.

"A união, a defesa dos interesses comuns e a mútua assistência constituem os pilares básicos do cooperativismo.

"As pessoas que celebram um contrato de sociedade cooperativa almejam desenvolver uma atividade econômica, de proveito comum, comprometendo-se, para tanto, a contribuir com bens ou serviços, sem objetivo de lucro.

"Em uma cooperativa típica, os associados visualizam um objetivo, que é comum a to­dos, e trabalham em favor desse escopo. Por isso, não são empregados da entidade. São, isto sim, os donos do negócio.

"No entanto, quando essa entidade é utilizada para colocar mão-de-obra à disposição de empresas, em substituição à classe de empregados, surge o problema, pois desnatura-seo instituto, transformando o Direito do Trabalho em direito renunciável, o que inviabiliza a sua aplicabilidade.

"Ora, nestes casos de absoluto desvirtuamento do espírito e da letra da Lei das cooperativas, não há como se pretender aplicar o parágrafo único do artigo 442 da CLT, que deve ser interpre-

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7 4 Parte II — Em busca da qualidade do texto

tado segundo o prescrito no seu artigo 9Q, que considera nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos nela contidos.

"O cooperativismo não visa a excelência das empresas, mas à reunião voluntária de pes­soas, que juntam seus esforços e suas economias, para concretização de um objetivo comum— objetivo delas e não de nenhum a empresa.

"Não pode a cooperativa, deste modo, ser utilizada para substituição da mão-de-obra interna das empresas.

"Mas é o que ocorreu no caso vertente."Pergunta-se: que autonomia o autor, como técnico em rede, trabalhando nas insta­

lações da 2a ré e dela recebendo ordens, tendo horário pré-determinado de entrada, saída e intervalo, poderia ter?

"Responde-se: absolutamente nenhuma."É gritante que a cooperativa limitou-se a disponibilizar pessoal para prestação de ser­

viços em favor da 2a acionada, sendo inegável traficante de mão-de-obra."Irrefutável, pois, a tese de que havia subordinação e pessoalidade, a afastar totalmente

a figura de cooperativado, que só existia no papel para tentar enganar o trabalhador, o juiz e a fiscalização/8

E l a b o r a ç ã o d a d i s s e r t a ç ã o a r g u m e n t a t i v aA dissertação exige, por princípio, de seu redator, um a bagagem de conhecim ento sobre

o assunto a ser examinado. N inguém consegue expor u m a idéia sem antes se alicerçar de informações acerca do tema. Muitas vezes, pensa-se conhecer u m assunto e, quando da colocação dele no papel, verifica-se um a enxurrada dc frases feitas, idéias desconexas e for­mulações carentes de consistência, que não resistem à m enor análise.

Então, como primeiro passo, recom endam os um a listagem de idéias, m esm o que algu­mas delas sejam posteriorm ente descartadas. O fundam ental nessa primeira etapa é cercar- se de conhecim entos sobre o assunto.

Segundo passo: deve-se trabalhar, como recom endam os no capítulo 5, a clareza do texto, a seleção das idéias principais, o discernimento das secundárias e o descarte das idéias que podemos denom inar de 'terciárias'.

Primeiro, destacaremos em nossa listagem as idéias que realçam o ponto de vista que de­sejamos defender. Agregamos a estas, quando for o caso, argumentos, tais como citação de exemplos, definições, contrastes e testem unhos de autoridade.

Depois, prepararem os o plano do desenvolvimento. Toda organização pressupõe u m a or­dem, seja ela lógica, cronológica, indutiva, do particular para o geral, seja dedutiva, do geral para o particular. O que importa é saber organizar as idéias de forma coerente.

Por fim, para elaborarmos o fecho, retomaremos, de maneira concisa, o que foi defendi­do no desenvolvimento. Note que a conclusão é o encerram ento da idéia principal.

L i n g u a g e m d a d i s s e r t a ç ã o a r g u m e n t a t i v aNa elaboração de uma dissertação argumentativa, deve-se:1. evitar palavras abstratas;

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C a p ít u l o 8 — Modalidades de texto e sua aplicação no português forense ■ 7 5

2. usar formas verbais precisas, do tipo 'a firm am os ' (cm vez dc 'podem os dizer' ou 'penso ');

3. utilizar expressões que ressaltam o ponto de vista do redator, como 'cum pre ' ou 'é preciso';

4. fazer uso de períodos subordinados, em que as idéias têm vínculos mais complexos, como as de causa e conseqüência.

P r i n c i p a i s e l e m e n t o s d a a r g u m e n t a ç ã oNo discurso forense, a argum entação está sempre presente, pois o conflito entre as partes

contrárias exige uma sustentação lógica que, por sua vez, será analisada pelo juiz, o qual tam bém terá que fundam entar sua decisão.

Os principais elementos da argum entação são consistência dc raciocínio (firmeza) e evi­dência das provas (fatos).

E t a p a s d o p l a n o - p a d r ã o d a a r g u m e n t a ç ã o f o r m a lUma argum entação formal, segue basicamente o seguinte esquema:1. Proposição.2. Análise da proposição.3. Formulação dos argum entos (com evidência):

a) fatos (comprovados);b) exemplos;c) ilustrações;d) dados estatísticos;e) tes tem unho autorizado (é a opinião de figura consagrada no meio técnico-jurídi-

co) — jurista, dou trinador teórico.4. Conclusão.

Notas1 A identidade e os dados dos envolvidos foram

intencionalmente preservados no exemplo.2 A identidade e os dados dos envolvidos foram

intencionalmente preservados no exemplo.3 Rocha Lima e Raimundo Barbadinho Neto,

Manual de redação, Rio de Janeiro: Fename,1982, p. 111.

4 Pe t i çã o d c habeas cor pus.5 A identidade e os dados dos envolvidos foram

intencionalmente preservados no exemplo.

6 Érico Veríssimo, cm O resto é silêncio, apud. Rocha Lima e Raimundo Barbadinho Neto, Manual de redação. Rio de Janeiro: Fename, 1982, p. 112.

7 Rocha Lima e Raimundo Barbadinho Neto, Ma­nual de redação, Rio dc Janeiro: Fename, 1982, p. 122.

8 Jorge Luiz Souto Maior, Revista Síntese Trabalhis­ta, ano VIL n" 81. Porto Alegre: Síntese Ltda, mar. 1996, p. 25.

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34-»O ,03U

r a c i o c í n i o j u r í d i c o

PreâmbuloPara aprender a falar e escrever bem, é preciso aprender a 'pensar ', a encontrar 'idéias'

e a organizá-las.Não bastam as regras de ortografia c o vocabulário. Não mesmo. É indispensável, ao ad ­

vogado, disciplinar o raciocínio, estimular c aguçar o espírito de observação dos fatos, 'criar' e increm entar idéias, para poder pensar com 'clareza' e 'objetividade'. Em sum a, pensar de forma lógica.

Para São Tomás de Aquino, "lógica é a arte de pensar em ordem, facilmente e sem erros".

Lógica é a ordenação do pensam ento; linguagem é a expressão do pensam ento. Sem o estudo da lógica, a linguagem forense não conseguiria seu objetivo principal, qual seja, "ar­g um en ta r para convencer".

Validade das declaraçõesQuase toda declaração que expressa opinião pessoal ou pretende estabelecer a verdade só

terá validade se devidam ente demonstrada. A declaração deve ser apoiada ou fundam entada na evidência dos fatos, ou seja, acom panhada de 'provas'. Só a prova convence. Por ex em ­plo, verifique as seguintes afirmações:

1. "Fulano é ladrão."2. "Fulano não é ladrão."3. "Fulano é ladrão porque foi preso em flagrante, quando furtava um relógio."

A sentença três está apoiada em u m fato observado e comprovado. Isso é a prova.Prova é o meio de que se vale a parte para convencer o juiz de determ inado falo ou cir­

cunstância. São inadmissíveis nos processo provas colhidas com inobservâncias de regras de caráter material ou processual.

Algumas declarações expressam verdades universalm ente aceitas, motivo pelo qual dis­pensam prova. Por exemplo, que o dia tem 24 horas.

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C a p í t u l o 9 — Raciocínio jurídico 7 7

Outras são verdades artificiais, construídas pelo ordenam ento , mas que obrigatoriamente devem ser observadas, como no âmbito criminal, de que todos são presumidos inocentes até decisão transitada em julgamento.

Fatos e indíciosFato é a ocorrência verificada e observada, que pode ser constatada em juízo. Indícios são

sinais, vestígios, rastros.Os indícios são as circunstâncias que se m ostram e se acum ulam para a comprovação do

fato.Há fatos que não precisam ser provados: os notórios, pois todos, em geral, sabem (por

exemplo, quem é o Presidente da República); os presumidos (por exemplo, a presunção de estupro quando a vítima da conjunção carnal é m eno r de 14 anos);1 e os axiológicos, que em anam das ciências exatas.

O CPC trata do tema no artigo 334:Nào dependem de prova os fatos:I - notórios;IÍ - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;III - admitidos, no processo, como incontroversos;IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.2

Os fatos, devidamente apurados, levam ou podem levar à evidência (certeza absoluta). Os indícios nos perm item apenas inferência (certeza relativa), pois expressam probabilidade ou possibilidade.

'Inferência ' é a conclusão, a dedução pelo raciocínio apoiada apenas em indícios. Por exemplo, u m servidor público que tem salário modesto e passa a levar uma vida de alto pa ­drão, com extenso patrimônio, parecerá corrupto. Isso não é provar, mas apenas inferir, pois ele pode ter ganhado na loteria ou recebido substancial herança. Veja-se ainda a Súmula 301 do STJ, que diz que "em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade."3

Indícios podem persuadir, mas não podem provar. Bom exemplo são os argum entos per- suasivos capazes de levar ju rados a p resum irem que um acusado é inocente (ou culpado), mas o grau de certeza desse ju lgam ento é relativo.

A decisão, nesse caso, será possivelmente, mas não certamente, justa.Para que os fatos provem com certeza, é preciso que sua observação seja cuidadosa e que

sejam adequados, relevantes, típicos ou característicos, suficientes e fidedignos.

MétodosM étodo é a m elhor maneira de se fazer algo.Etimologicamente v em do grego 'meta' (por m eio de) + 'odos' (caminho). Logo, é o cam i­

nho por meio do qual chegamos a u m objetivo.Sob o ponto de vista da lógica, m étodo é o conjunto de meios ou processos empregados

pelo espírito h u m an o para a investigação, a descoberta e a comprovação da verdade. Ter

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7 8 Parte II — Em busca da qualidade do texto

m ctodo implica ter u m caminho, uma direção, u m rumo, regularm ente seguido nas opera­ções mentais.

M é t o d o s f u n d a m e n t a i s e s u b s i d i á r i o s d o r a c i o c í n i o

São métodos fundam entais a indução e a dedução.A indução direciona-se do particular para o geral; a dedução parte do geral para o par­

ticular.Induzir é generalizar, é raciocinar a posteriori, com base na experiência. Por exemplo,

cobre, alumínio e ferro são bons condutores térmicos. Logo, todos os metais são bons con­dutores térmicos.

Deduzir é raciocinar a partir de um fato geral para concluir um fato particular. É particu- larizar, raciocinando a priori, sem vinculação com a experiência. Por exemplo, sabe-se que toda matéria possui energia concentrada. O á tom o de prata é matéria; logo, o á tom o de prata possui energia concentrada.

Na prática, a busca da verdade no processo se faz por dedução e indução simultaneamente.Métodos subsidiários do raciocínio são a análise, a síntese, a definição e a classificação.

ArgumentaçãoMeio eficaz de refutar argumentos, aplicáveis às defesas, recursos e razões finais, foi in ­

dicado com invulgar felicidade por Penteado. Ei-lo:Ia - Procure refutar o argumento que lhe pareça mais forte. Comece por ele.2a - Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária.3U- Utilize a técnica de 'redação às últimas conseqüências', levando os argumentos contrários

ao máximo de sua extensão.4- - Veja se o opositor apresentou uma evidência adequada ao argumento empregado.5a - Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o seu

opositor.6a - Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados.7a - Ataque a fonte na qual se basearam os argumentos do seu opositor.8U - Cite outros exemplos semelhantes que provoquem exatamente o contrário dos argum en­

tos que lhe sào apresentados pelo opositor.9a - Demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada com a omissão de palavras ou

de toda a sentença que diria o contrário do que quis dizer o opositor.10- - Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as falsi­

dades que contém.4

Você não precisa utilizar todos os meios, mas apenas u m ou alguns, que funcionam como ferramentas m uito úteis na construção das teses que serão sustentadas.

SilogismoO tipo clássico de raciocínio dedutivo é o silogismo, que vem do grego 'syllogismo' , que

significa ligação'.

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C a p í t u l o 9 — Raciocínio jurídico 7 9

É um encadeam ento lógico dc três proposições, sendo as duas primeiras chamadas 'p re ­missas', delas resultando uma terceira, chamada 'conclusão'. Então, silogismo é a ligação de dois termos, por meio de um terceiro. Por exemplo:

Premissa maior: "Os pais devem alimentos aos filhos . "Premissa menor: “Fulano é pai. "Conclusão: "Fulano deve alimentos ao fi lh o ."

Outro exemplo:Premissa maior: "O locatário deve pagar aluguel. "Premissa menor: "Beltrano é locatário. "Conclusão: “Beltrano deve pagar aluguel. "

SofismaSofisma vem do grego 'sóphisma' ('sutileza de sofista').É o raciocínio intencionalm ente falso, capcioso, com aparência dc verdadeiro, que tem o

objetivo deliberado de 'provocar engano'.Sofisma é o raciocínio falacioso (falaz). 'Falácia' é 'logro', 'engano ', 'ilusão'. Sofismar é

convencer ou ten tar convencer por meio de falsos argumentos. O sofisma "implica sempre má-fé".

Já o paralogismo é o raciocínio sem o propósito dc enganar, mas que pode induzir a erro. Portanto, en qu an to o sofisma implica sempre má-fé, o paralogismo pressupõe boa-fé.

P r i n c i p a i s s o f i s m a s e m p r e g a d o s n o d i r e i t o

1. Ignorância da questão: ocorre quando fugimos aos fatos, apelando para a emoção. Por exemplo: o defensor de u m acusado de homicídio apela para os sentim entos de hum anidade dos jurados, a rgum entando que o réu é pai dc família num erosa, traba­lhador honesto, cidadão exemplar, desviando a atenção da conduta criminosa. Tais predicados, ainda que verdadeiros, justificariam a conduta ilícita?

2. Petição de princípios: são manifestações padronizadas de quem não tem a rg u m en ­tos melhores. Por exemplo: "o fum o faz mal à saúde" (na verdade, faz mal porque prejudica o organismo); "estas crianças são mal educadas" (são assim porque não aprenderam boas maneiras).

3. Observação inexata: ocorre quando chegamos a falsas conclusões porque não ob ­servamos bem os fatos e /ou os dados concretos. Por exemplo: o assassinato do ex -te ­soureiro de cam panha de um ex-presidente da República, cercado até hoje de dúvidas e suspeitas sobre a verdadeira motivação do crime e sua dinâmica.

4. Ignorância da causa: ocorre quando atribuímos como verdadeira causa aquilo que é simples aparência ou coincidência. Pode ocorrer por falsa ou maliciosa observação c interpretação dos fatos. Por exemplo: "a azeitona da em pada fez mal"; "o café causou insônia"; "o juiz sempre julga a favor do empregado".

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8 0 Parte II — Em busca da qualidade do texto

5. Erro de acidente: tomamos o acidental como sc fosse u m atributo essencial resultan­do um a falsa generalização. Por exemplo: "existem magistrados corruptos, logo todos os juizes são corruptos"; "há advogados despreparados, logo todos são ignorantes".

6. Falsa analogia: o raciocínio por analogia é um a forma de indução imperfeita porque parte de um caso singular para outro caso singular.

Notas1 Brasil, artigo 224, item 'a', Decreto-Lei nâ 2.848,

de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, 1940.

2 Brasil, artigo 334, Lei n* 5.869, de 11 dc janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17jan. 1973.

3 Brasil, súmula 301, de 18 de outubro de 2004. Diário da Justiça, Brasília, 22 out. 2004.

4 José Roberto Whitaker Penteado, A técnica da co­municação humana. 11. ed. São Paulo: Pioneira, 1991.

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INI EXERCÍCIOS

1. Vimos, no Capítulo 4, a importância de haver uma seqüência coerente do texto, apresentada em termos de introdução, desenvolvimento e conclusão. Os parágrafos apresentados abaixo constituem um texto, mas se encon tram fora de um a ordem lógica. Num ere-os de maneira a haver a introdução do assunto, o desenvolvimento e a conclusão.( ) A prim eira concepção relaciona-se com um a definição dada por M artin P. An-

derson , em 1959: "Com unicação é o processo pelo qual com preendem os os ou tros e, em contrapartida , esforçam o-nos p or com preendê-los" . 0 segundo conceito é apoiado em ou tro co m p o n en te conceituai: a intencionalidade. A partir desta referência, Gerald Miller, em 1966, estabelece: "Em sua essên ­cia, a com unicação tem com o seu interesse central aquelas situações com- po r tam en ta is em que um a fonte transm ite um a m ensagem a u m receptor (ou receptores), com o propósito consciente de afetar o co m p ortam en to deste ú lt im o (ou destes últimos)".

( ) Podemos dizer que o term o 'com unicação ' comporta duas concepções: a dc es­tabelecer relações en tre os seres hum anos e a dc transmitir mensagens com finalidades intencionais.

( ) Para tal, deve-se dispor de técnicas que orientem a discriminação de idéias p r in ­cipais e secundárias, o seqüenciam ento lógico das informações e sua adequada expressão frasal, a lém do conhecim ento das norm as gramaticais que conferem o grau necessário dc correção ao texto.

( ) Podemos afirmar, portanto, que a eficácia de uma peça processual residirá, em grande parle, na capacidade do profissional do direito em utilizar-se dos recursos que a linguagem oferece.

( ) Entretanto, o processo de comunicação estabelecido por um texto não depende da quantidade de informações, mas sim do m odo como estas estão apresentadas. A importância de uma petição ou dc qualquer outra peça jurídica consiste cm sua capacidade dc transmitir as informações com precisão c clareza.

2. Determ inar a idéia-núcleo de cada parágrafo é fundamental a um a redação correta das idéias. Já foi apresentado no Capítulo 7 o texto que segue, no qual destacamos os elementos que m an têm a unidade das idéias. Agora relacione os parágrafos às idéias- núclco apresentadas a seguir.

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8 2 Parte II — Em busca da qualidade do texto

( ) 0 au tor c fruto do relacionam ento am oroso que existiu entre Rafael Bandeira e Eliana Carvalho da Silva.

( ) O pai expressamente reconheceu a paternidade do menor, consoante se extrai da certidão de nascimento em anexo.

( ) E mais não fez.( ) Os pais, jovens e inexperientes, n em sequer conviveram sob o m esm o teto. Bas­

ta dizer que m esm o antes dc o au tor nascer, a relação entre ambos já havia sido desfeita.

( ) Entrem entes, com o nascim ento da criança, os gastos norm ais necessários ao cuidado de 11111 ser h u m a n o de tão tenra idade sucederam -se de forma a lu ­cinante, a exigir colaboração daqueles que, por Lei, têm 0 dever de am paro material.

( ) O au tor não tem dúvida e afirma categoricamente que a capacidade de auxílio de seu genitor é inexistente 11a medida em que 0 mesmo, além de ter pouca ex­periência em razão da juven tude , ainda é estudante e não trabalha. É, isso sim, sustentado pelos pais, ora réus.

( ) O mesmo, todavia, não se aplica aos avós paternos, pessoas de posse que, con­forme será abordado adiante, são os únicos confortavelmente capacitados a a u ­xiliar 11a criação material do autor.

( ) Com efeito, ditos avós, ora réus, são titulares de um grande frigorífico neste Município, empresa que possui robustez econômica, diversos empregados, m ú l­tiplos veículos e vasto maquinário.

( ) A par disso, os réus residem em confortável moradia própria de altos e baixos neste Município, m an ten do m uito bom padrão dc vida, arcando inclusive com a faculdade particular do genitor do au to r que, repise-se, não tendo como susten­tar-se, tam bém é m antido pelos réus.

( ) Com este panoram a fático, outra alternativa não restou ao au to r senão ajuizar ação contra seus avós paternos 11a medida em que eles podem colaborar na sua m antença mas, voluntariam ente, não se m ostram animados a auxiliar na sua formação.

Idéias-núcleo:a) Reconhecimento da paternidade.b) Surgimento da criança.c) Falta de convívio dos pais.d) Falta de apoio paterno.e) Incapacidade de auxílio do genitor.f) Gastos da criança.g) Padrão profissional dos avós.h) Capacidade de auxílio dos avós paternos.i) Ajuizamento de ação contra avós paternos.j) Padrão pessoal dos avós.

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E x e r c íc io s 8 3

3. O Capítulo 4 apresentou várias formas possíveis de organização das idéias nos pa rá ­grafos. Relacione as palavras ou expressões abaixo com as idéias que elas expressam quando da apresentação de uma mensagem.a) Uma vez que ( ) Enum eraçãob) Decorrer ( ) Contrastec) Ao lado de ( ) Comparaçãod) À medida que ( ) Tempoe) Assim como ( ) Lugarf) Contudo ( ) Conseqüênciag) Outro fator ( ) Causa

4. Abordou-se no Capítulo 5 que a clareza vai em sentido contrário à prolixidade. Im a­gine que a assessoria de comunicação de um a empresa tenha perguntado ao setor jurídico se seria necessário publicar nas matérias de seu jornal os nom es dos jo rn a ­listas que redigiram os textos. Assinale qual dos parágrafos seguintes apresenta essa resposta com maior clareza:a) No artigo 7Ü da Lei 5.250/67 encontra-se prevista a obrigação de lodo jornal ou

periódico trazer estampado, no cabeçalho, o nom e do diretor ou redator-chefe, os endereços da sede da administração e do estabelecimento gráfico onde é im ­presso, ficando o descum prim ento destas disposições sujeito a multas. Outros- sim, exige que o diretor ou redator-chefe encontre-se no pleno exercício de seus direitos civis e políticos, isto é, que seja maior de 21 anos, profissionalmente registrado e habilitado e que esteja com as obrigações eleitorais cumpridas.

b) A Lei de Imprensa veda a utilização do anon im ato no exercício da liberdade de manifestação do pensam ento e de informações, porém assegura e respeita que sejam m antidos em sigilo os nom es das fontes ou a origem das informações re ­cebidas ou recolhidas por profissionais da imprensa, de acordo com o disposto em seu artigo 7-.

c) Para coibir a prática do anonim ato , a Lei nü 5.250/67, através do artigo 28 caput e seus incisos, considera que os escritos publicados em jornais ou periódicos sem indicação dos autores (nome ou pseudônim o devidam ente registrado) são redi­gidos pelo redator da seção em que são publicados.

5. De acordo com as leis da legibilidade é essencial que as palavras mais importantes para a compreensão da m ensagem estejam colocadas na primeira m etade da frase. Refaça o texto abaixo, de m aneira a contem plar esse aspecto."A Companhia Cam inho Aéreo Pão de Açúcar, que administra o serviço de m a n u ­tenção dos bondinhos, inicialmente levantara a hipótese de fadiga de material para justificar a quebra do cabo e a conseqüente paralisação das atividades do bonde, porém, depois de exam inar minuciosam ente os laudos técnicos, admitiu on tem a corrosão dos cabos."

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Parte II — Em busca da qualidade do texto

6. Assinale qual dos parágrafos está redigido dc acordo com os princípios da inteligibi­lidade:a) Sendo a transformação de registro provisório em registro definitivo obrigatória

dentro dos prazos estabelecidos, orientamos V. Sa no sentido de envidar os esfor­ços necessários para a obtenção do diploma ju n to à faculdade o mais breve pos­sível, caso ainda não o tenha feito, encam inhando a esta instituição, no prazo dc 30 dias, com provante dessa providência.

b) Caso você ainda não esteja com seu diploma, procure o Setor de Registro deste conselho para solicitar a prorrogação por mais um ano de sua carteira provisória, m unido do protocolo de solicitação do diploma expedido por sua faculdade.

7. A manifestação jurídica reclama escrita formal, devendo ser clara e objetiva, e n u n ­ca u m exercício dc dem onstração dc conhecim ento restrito a poucos. Sc a oração principal se torna distante de seu fecho, a frase, além de obscura, pode ficar incom ­preensível. Este tipo de construção desnorteia o leitor e não destaca a idéia central, prejudicando o sentido da frase. São cinco as idéias apresentadas no parágrafo abai­xo. Liste-as."Queremos, neste m om ento , observar que o aceite àquela condição não deve ser en tendido como um a aprovação à mesma, não no que diz respeito ao valor, que, apesar de ter ultrapassado a importância de R$ 350,00, que achávamos justa, dela não sc afastou cm demasia, mas sim quan to ao prazo dc reajuste, qual seja, semes­tral, contrariando o relacionamento comcrcial passado, calcado no prazo dc u m ano, não nos dando sequer a chance da contra-argumentação."

8. Depois de ler e fazer o exercício anterior, refaça o texto do parágrafo, iniciando pela conjunção 'porém '.

9. O texto a seguir possui num erosas palavras c expressões excessivas. Assinale com um 'x ' as opções que representam excessos do texto."Na m inha opinião, assim como na opinião de todos os que acom panham as m inhas idéias, o ensino teórico é superestimado. Do que eu acabo dc dizer c fácil concluir que eu acho que o livro c a prancheta não podem substituir a valiosa c insubstituível experiência do estudante dentro de uma oficina, ou a presença do estudante n u m canteiro de obras. Por isso é preciso que a experiência esteja desde o início da for­mação acadêmica unida a ela, e não seja m eram en te acrescentada à mesma somente após o térm ino do curso, depois que o jovem estudante já concluiu a sua formação profissional."a) ( ) "Na m inha opinião, o ensino teórico é superestimado".b) ( ) "Na opinião de todos os que acom panham as m inhas idéias..."c) ( ) "O livro e a p ranch e ta não pod em substi tu ir a valiosa experiência do es­

tudan te" .

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E x e r c íc i o s 8 5

d) ( ) "É prcciso que a experiência esteja desde o início da formação acadêmicaunida a ela".

e) ( ) "Não seja m eram en te acrescentada à m esm a som ente após o término docurso".

f) ( ) "Depois que o jovem estudante já concluiu a sua formação profissional..."

10. Relacione os termos sublinhados da correspondência com seus adjetivos correspon­dentes."Senhores do condomínio, (1)A assembléia geral ordinária, realizada em 10 de setembro de 2000, decidiu que os serviços prestados pelo senhor José dos Santos deveriam terminar. O senhor José tem se mostrado u m a pessoa sem capacidade (2) para executar suas funções, pois apresenta perturbações dos nervos (3).No último dia 15, o síndico deu-lhe o aviso de prevenção (4) dc 30 dias, e aguar­daremos a chegada do novo zelador, um hom em do Nordeste, (5) que virá para executar os serviços com uma vontade de ferro, (6) um a vez que precisa ser aceito para perm anecer no Rio de Janeiro."( ) nervosas ( ) preventivo ( ) condôminos ( ) incapaz ( ) nordestino ( ) férrea

11. Assinale C (certo) ou E (errado) para as afirmativas seguintes:a) ( ) A coerência não deve ser entendida como apenas a ausência dc contradição

lógica, mas a obrigação de situar-se n u m quadro intelectual relativamenteconstante.

b) ( ) Não se pode afirmar que um dos critérios para se julgar a coerência de umtexto seja o critério da intencionalidade, segundo o qual basta o texto ser adequado à intenção com que foi produzido para ser coerente.

12. Assinale o conjunto de conectivos que, preenchendo as lacunas na ordem dada, con­fere coerência e coesão ao texto."O processo licitatório inicia-se com a publicação do ato convocatório, no qual a m inu­ta contratual se configura in tegralm ente,______________o edital é a lei do certame e,______________, vinculante entre as partes.a) pois, ainda queb) uma vez que, aliás

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8 6 Parte II — Em busca da qualidade do texto

c) daí, porqued) uma vez que, portantoe) todavia, contudo

13. Classifique os conectivos sublinhados abaixo, de acordo com as idéias constantes da Quadro 7.1, apresentada no Capítulo 7:a) Os frutos e mais produtos da coisa pertencem , ainda quando separados, ao seu

proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.

A ind a :_____________________________________________________________________ ,Salvo s e :___________________________________________________________________ ,

b) O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação indus­trial, obedecido o disposto em lei especial.

Desde q u e : _________________________________________________________________

c) O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades econômicas e sociais.Em consonância :___________________________________________________________

d) Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o artigo 1.196.E m b ora :____________________________________________________________________

14. Relacione a coluna da direita com a da esquerda:a) Narração ( ) Apresenta um a visão particular sobre determinado

assunto.b) Descrição ( ) Apresenta ou explica idéias.c) Dissertação ( ) Apresenta lugares, ambientes, personagens e seus es­

tados emocionais.d) Argumentação ( ) Apresenta episódios, acontecimentos.

15. Numere os parágrafos que se seguem, obedecendo à seguinte classificação:I) Narração

II) DescriçãoIII) DissertaçãoIV) Argumentação

a) ( ) Diferentemente do que afirma o réu, a peça exordial a tende sim aos requi­sitos do artigo 282 do CPC, uma vez que: a apresentação dos fatos segue

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E x e r c íc io s 8 7

um a ordem cronológica; a redação tem nexo seqüencial claro e definido, ressaltando ponlos relevantes; a conclusão m a n té m relação com a exposi­ção do falo; são apresentados os fundam entos jurídicos do pedido.

b) ( ) Em 18/5/6, o réu começou a participar de salas de bate-papo virtuais e seenvolveu am orosam ente com uma internauta , enviando-lhe mensagens de paixão e fotografias pessoais, a lém de seu n ú m e ro de telefone celular.

c) ( ) Márcia de Souza, brasileira, casada, gerente de recursos hum anos, por seusadvogados infra-assinados, que receberão as notificações concernentes ao feito, vem propor a presente ação de perdas e danos.

d) ( ) Não podemos deixar de m encionar que a crise econômico-financeira queatingiu a classe média nacional, obrigando-a a modificar seus hábitos de lazer, provocou danos na relação matrimonial.

16. Foi visto, no Capítulo 9, que há diferença entre fatos e inferências. Os fatos, devida­m en te apurados, levam ou podem levar à evidência (certeza absoluta). Já os indícios nos perm item apenas inferência (certeza relativa), pois expressam probabilidade ou possibilidade. Ao analisar o texto a seguir, leve em consideração que tudo é verdade (Mas só o que está escrito é verdade!). Assim, coloque F (fato) ou I (inferência) nas afirmações que seguem após o texto.Maria Santiago, com formação em nutrição, trabalha para a Fast Lanches Ltda. na área de

produção. Maria recebeu convocação para uma reunião a ser realizada, às l l h , no escritório

de dona Tereza, para discutir um grande pedido de lanches para alguns cursos do Sebrae que a

Fast Lanches havia recebido. No caminho para aquele escritório, ocorreu um acidente, do qual

resultaram ferimentos. Quando dona Tereza recebeu a informação do acidente, Maria Santiago estava indo para o hospital fazer uma radiogra fia. Dona Tereza telefonou para o hospital para obter informações, mas ninguém parecia saber nada a respeito de Maria Santiago. É possível

que dona Tereza tenha telefonado para o hospital errado.

a) ( ) Maria Santiago é a gerente geral de produção da Fast Lanches Ltda.b) ( ) Maria Santiago deveria se reunir com dona Tereza.c) ( ) A reunião para a qual Maria Santiago se dirigia estava marcada.d) ( ) A Fast Lanches recebeu u m grande pedido de lanches para o Sebrae.e) ( ) Maria Santiago estava indo para o hospital fazer um a radiografia.f) ( ) Ninguém no hospital para o qual dona Tereza telefonou sabia qualquer

coisa sobre Maria Santiago.g) ( ) Dona Tereza telefonou para o hospital errado.

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PARTE III

PEÇAS PROCESSUAIS

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os INI PETIÇÃO INICIAL&0 3

CJ

IntroduçãoA petição inicial — tam bém chamada de 'prefaciai', 'exordial', "peça de gênese", 'peça

vestibular' ou 'peça pórtica' — é, sem dúvida, a peça mais im portante de qualquer processo. Por meio dela o au to r vai deduzir sua pretensão, ou seja, o bem da vida que pretende através de um provim ento judicial. 0 juiz não pode julgar nem além n em fora do que foi pedido, sob pena de ju lgam ento extra petita ou ultra petita, e é a petição inicial que dará os contornos da lide e m esm o os da futura sentença, pois fixa seus limites. Por isso, ela precisa ser bem elaborada, para ensejar o conhecim ento dos fatos articulados por parte do juiz e permitir à parte adversa o exercício pleno do constitucional direito de defesa.

Requisitos da petição inicialOs requisitos da petição inicial estão espargidos pela legislação. Para o processo comum,

encontram -se listados no artigo 282 do CPC:A petição inicial indicará:I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;IV - o pedido, com as suas especificações;V - o valor da causa;VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;VII - o requerimento para a citação do rcu.1

Na seara trabalhista, esses requisitos são indicados no artigo 840 da CLT:A reclamação poderá ser escrita ou verbal.§ Io. Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do presidente da Junta, ou do

juiz de Direito, a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve ex ­posição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.2

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9 2 Pa r t e III — Peças processuais

No âmbito penal, os requisitos da denúncia ou queixa encontram -se insculpidos no ar­tigo 41 do CPP.

A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstân­cias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais sc possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.5

Processo como meio ético de soluçãoÉ im portante ter em m ente que o processo é cada vez m enos um meio técnico e cada

vez mais um meio ético para a solução dos conflitos. Logo, o excesso de preciosismo e a su- peravaliação de filigranas jurídicas a tendem apenas àqueles que vêem no processo u m fim em si mesmo, dedicando-se exclusivamente a debatê-lo. E isso não está certo, pois, seguindo essa linha de raciocínio, muitas vezes o direito material debatido acaba por ficar em segundo plano, ofuscado ou m esm o esquecido, gerando, por vezes, a negativa do direito a quem o possui, o que é catastrófico, visto que colabora ainda mais para a compreensível descrença da população no poder judiciário.

Em síntese, o processo é um veículo que conduzirá os litigantes ao direito e à justiça. 'Veículo' mesmo, como en trar no táxi 'processo' c pedir ao motorista: "Vamos ao direito".

Se efetivamente o pedido for ininteligível ou as regras m ínim as não forem respeitadas, ocorrerá o fenôm eno jurídico da inépcia.

Tenho um a sugestão para a caracterização da inépcia: o juiz lerá a petição inicial. Se com ­preender seus termos, e considerando que a parte ré certam ente contratou u m profissional no m ínim o de igual nível intelectual do magistrado, conclui-se que há possibilidade do acio­nado defender-se adequadam ente . Caso isso não ocorra, está caracterizada a inépcia.

Em síntese, a petição inicial deve ser inteligível e jurid icam ente estruturada, requisitos suficientes para deflagrar a jurisdição. E isso, convenham os, não exige formalismos ou pala­vras sacramentais, mas apenas um a narrativa simples e fundam entada no direito pátrio.

A petição iniciai é a sentença da m aneira que o au tor deseja. Se fosse dado ao au to r tal poder, certam ente ele desejaria que o magistrado considerasse verdadeiros todos os fatos descritos na peça de gênese.

A proposta da petição inicial, pois, é apresen tar os fatos de m aneira clara, precisa, concisa e coerente, a não ser que o tema seja original ou, por sua natureza, ex trem am ente complexo— o que, inegavelmente, é exceção.

É claro que u m tema palpitante e que ainda se encontre cm franca discussão perante os tribunais merece especial atenção e um a fundam entação substancial, diferenciada mesmo, com boa e extensa argum entação que convença o magistrado da tese defendida pelo postu­lante. Por exemplo, citamos o caso do direito genético e todas as controvérsias jurídicas, reli­giosas e morais que ele proporciona. Mas, como dito, isso é exceção. A regra é a simplicidade nas vindicações porque os direitos estão predeterm inados em norm a cogente.

Em verdade, o bom advogado deve sc esmerar na apresentação dos fatos, pois esses o juiz desconhece. Já dizia o velho ditado rom ano “jura novit am a" — o juiz conhece a lei. 0 que ele desconhece são os fatos, cumprindo ao au tor deles fazer um adequado e sintético relato.

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C a p it u l o 10 — Petição inicial | 9 3

O uso dc frases curtas c simples é um a boa alternativa para quem deseja redigir dc forma clara. Petições grandiosas tendem a tornar o texto nebuloso, enfadonho e confuso. Se for usar uma frase mais longa, que o peticionário se valha da vírgula.

Apenas como exemplo inverso, o texto confuso de um a petição inicial fez u m juiz, da vara da fazenda pública da comarca de Itajaí (SC), extinguir — sem resolução do mérito— um a ação proposta por uma empresa. Veja o com entário do juiz:

O autor, na intenção de demonstrar seu direito, constrói orações extensas, com excesso des­necessário de preposições e transcreve uma série de dispositivos legais no entremeio das palavras sem destaque. Depois de tantas leituras feitas por este juiz, cumpre gizar, por exemplo, que o autor não utiliza o 'ponto final' desde a folha 4 até a folha 6.

O 'ponto final' — classificado pelos livros de gramática como 'sinal sintático', da classe de pontuação objetiva — deve ser usado com o seguinte critério: 'havendo separação de idéias, ou corte nas mesmas, inicia-se o período seguinte na outra linha; se o pensamento continua, sendo o período seguinte uma conseqüência ou continuação do anterior, o novo período começa na mesma linha'. Será que não houve interrupção de pensamento no decorrer de duas folhas escritas pelo autor?4

Vergonhoso, não? Então, pense nisso quando for elaborar sua próxima petição.A petição inicial deve ser atraente. A impressão em letras grandes (ou pelo m enos não

m uito pequenas) e com separação adequada en tre as linhas facilita e torna mais sedutora a leitura.

Não se deve utilizar todo o papel na escrita da petição. Deixe n o m ínim o dois ou três centímetros para o endereçam ento e rodapé (não há porque escrever desde o início ou até o final da folha).

Dedique ainda um espaço generoso para que o juiz possa despachar a petição. Muitas vezes o espaço deixado pelo advogado para tal fim é tão pequeno que obriga o magistrado a escrever à m argem da folha ou m esm o em seu verso. Um m ínim o de dez centímetros é bastante razoável.

Não se esqueça de deixar margens nas laterais, no m ínim o de dois centímetros à direita e dc quatro centímetros à esquerda. O motivo do espaço maior à esquerda é o dc que, no m om en to em que a petição é jun tada aos autos, um pequeno espaço da folha é tomado.

Imagine-se em um a defesa apresentada em reclamação trabalhista na qual a acionada sustente que "o au tor não realizava horas extras" e, no m om en to de jun tada , a palavra 'não ' fique escondida na margem esquerda dos autos do processo. O sentido do texto é inteira­m en te modificado e pode vir a prejudicar a parte.

Abuse do uso dos parágrafos. Embora geralm ente utilizados quando se vai tratar dc outro tema, nada impede sua utilização quando o operador do direito pretende efetuar abordagens distintas de fato ou de direito acerca de um a mesma situação. Além disso, o texto se torna mais organizado em um a visão global.

Se possível, apresente o trabalho impresso em computador. Hipoteticamente, a petição pode ser apresentada até de forma manuscrita, mas, sem dúvida, isso não é adequado, por­que foge aos padrões normais desejados e esperados, exceto se tratar-se dc algo emergencial

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9 4 Pa r t e III — Peças processuais

ou dc petição dc pequena rclcvância (por exemplo, jun tada de procuração ou substabeleci- m ento).

Jamais apresente petição inicial ou qualquer outra peça escrita e subscrita por advogado em xerox. O Juiz sente-se desprestigiado e talvez dê o m esm o tra tam ento que imagina estar recebendo daquele operador do direito.

EndereçamentoDe acordo com o m anual de redação da presidência da república, o pronom e dc tra ta­

m en to para magistrado c 'Excelência' (Exa.) e, nos cndcrcçam cntos a esta autoridade, o correto é 'Exmo. Sr. juiz '.

E o 'D r.7 O 'Dr.' no endereçam ento, tão utilizado no passado, foi abolido, mas muita gente ainda o usa indevidamente.

Não é necessário indicar 'juiz t i tu la r ' já que um substituto ou auxiliar, que eventualm ente esteja funcionando na vara, não deixa de ter competência para apreciar todas as petições.

Partes da petição inicialO corpo h u m a n o é dividido em cabeça, tronco e membros. Da mesma forma, a petição

inicial é dividida em partes: causa de pedir e objeto.Em relação às partes, no processo com um elas devem ser identificadas pelos nomes,

prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência.5 Na seara trabalhista, deve vir a qualificação do reclamante c do reclamado.6

Recomendamos sempre a informação do código de endereçam ento postal (CEP) do d o ­micílio das partes, com vistas a facilitar a secretaria ou cartório da vara na ultimação do ato citatório e demais comunicações processuais que, sabe-se, é feito, em regra, via postal.

A citação far-se-á:I - pelo correio;II - por oficial de justiça;III - por edital;IV - por meio eletrônico, conforme regulado em lei própria.7Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou chefe de secretaria, dentro de 48 horas,

remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o, ao mesmo tempo, para comparecera audiência de julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de cinco dias.

§ 1Q. A notificação será feita em registro postal com franquia. Se o reclamado criar embaraços ao seu recebimento, ou não for encontrado, far-se-á a notificação por edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou, na falta, afixado na sede da Junta ou Juízo.8

A "causa de pedir" é um a das partes mais im portan tes da petição, pois é a sua subs­tância. Nela serão expostos os fatos e toda a fundam entação jurídica que justifica o pleito deduzido.

Pela teoria da individualização, bastaria indicar a causa próxima, por exemplo que a par­te autora "c credora do reu". Já 11a teoria da substanciação, adotada por nosso ordenam ento ,

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C a p ít u l o 10 — Petição inicial | 9 5

há necessidade dc indicação da causa próxima c da causa remota, ou seja, que a parte autora "é credora do réu em virtude de contrato de m útuo".

Nunca se esqueça de que todo pedido deve estar lastreado em algum tópico na causa de pedir, sob pena de padecer de grave vício processual.

Pedido sem causa de pedir enseja inépcia da petição;9 causa de pedir que narra lesão sem pedido correspondente n em sequer é conhecida, porque o juiz julga pedidos — e não causas dc pedir. Digo mais: o juiz julga pedidos que ten ham sustentáculo na causa dc pedir.

É verdade que, se a petição inicial estiver deficiente, o juiz deve conferir prazo para o au to r sanar o defeito, mas o bom profissional domina a técnica da escrita na confecção da peça de gênese e não gera essa perda de tempo:

Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos artigos 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.10

PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO. INSTRUÇÃO OBRIGATÓRIA DEFICIENTE Salvo nas hipóteses do art. 295 do CPC, o indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desa­

companhada de documento indispensável à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal,somente é cabível se, após intimada para suprir a irregularidade em 10 (dez) dias, a parte não o fizer.

U m erro que não raras vezes presenciado nas petições é o de unir a causa de pedir ao p e ­dido, o que tam bém é tecnicamente reprovável. A fundam entação deve ser lançada na causa dc pedir, e não no pedido. Uma boa técnica para mitigar essa falha é realizar um a varredura inversa, ou seja, partindo-se dos pedidos, verificar se cada u m deles contém uma menção própria na causa de pedir.

Obviamente que se há pedido único, o trabalho é ex trem am ente facilitado, assim como na cumulação objetiva de pedidos, a possibilidade de alguma falha é de mais fácil ocorrência.

O 'pedido ' é o objeto almejado pela parte, o motivo pelo qual provoca a tutela jurisdicio- nal cm favor dc algum interesse supostam ente lesado.

Os pedidos devem vir na forma natural dos acontecimentos. Por exemplo, em um a re ­clamação trabalhista, se há pedido de vínculo empregatício, este deve descortinar os pleitos, e não vir por último ou no meio — como ainda muitos fazem.

E isso porque, se não houve oficialização do pacto laborai, não se cogitará pagam ento de qualquer direito.

Reflexos de horas extras devem ser postulados após o pedido de horas extras, se for o caso. Tal se justifica porque não existirá o acessório (o reflexo) sem o principal (as horas extras).

Outro caso: em um pedido de reconhecim ento de filiação cum ulado com o de a lim en­tos, aquele antecede este, pois, sem a declaração do vínculo de parentesco, não se cogitaria obrigação de alimentar.

Outro fator bastante im portante é a utilização da linguagem.A vida não se adequa aos radicalismos. Evite palavras como 'sempre ', 'n u n ca ' e 'jamais',

en tre outras que transm item um a idéia inflexível.

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9 6 Pa r t e III — Peças processuais

Em uma reclamação trabalhista ou ação dc cobrança dc alugueis, sc o au to r afirmar que 'jamais' recebeu horas extras ou aluguel pelo imóvel locado, e depois o juiz se deparar com recibos salariais em que haja quitação de labor extraordinário ou aluguéis, pode haver abalo na credibilidade da petição inicial e, se for o caso, utilização da pena prevista no artigo 940 do Código Civil.

Aquele que demandar por dívida já paga, no iodo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebi­das ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.11

Não faça uso de gírias nem eufemismos, pelas razões já abordadas nesta obra. Também não faça elogios rasgados ao au to r — é inócuo.

Não faça citação jurisprudcncial demasiada. Sc necessária e compatível com a situação, coloque-a cm relevo, m as não se deixe levar pela necessidade dc apon ta r uma ju r isp rudên­cia para cada tópico que for sustentar. Além de tornar a petição dem asiadam ente longa, transmite idéia de insegurança — já que para tudo que é dito é necessário m ostrar que o subscritor não é o único a pensar daquela maneira.

Não se esqueça que todo magistrado tem o próprio repertório de jurisprudência, no qual vai sc abeberar quando necessitar formar alguma linha dc raciocínio ou convencimento, verificando como os tribunais têm enfrentado determ inada matéria.

É sempre bom lembrar que a petição inicial deve se fazer acom panhar dos docum entos que o au to r dispõe para revelar seu direito, pois esse é o m om en to próprio para tal, sob pena de preclusão. Por exemplo, em uma ação de despejo, é necessário ju n ta r o contrato de locação; na separação judicial, a certidão de casamento; na reclamação trabalhista, cópia da carteira profissional c dos recibos salariais.

Esse com ando emerge dos artigos: "A petição inicial será instruída com os docum entos indispensáveis à propositura da ação"12 e "A reclamação escrita deverá ser formulada em duas vias e desde logo acom panhada dos docum entos em que se fundar" .B

Só se admite a jun tada posterior de docum entos se tratar-se de fato novo ou fato super­veniente. Não sc deixe levar pela em oção dos filmes nortc-amcricanos, nos quais os advo­gados sacam dc docum entos desconhecidos da parte contrária c, com um a trilha sonora ao fundo, que mistura em oção e desenlace, ganha triunfalm ente a causa para seu cliente. Isso é só em filme mesmo. No Brasil, em relação a qualquer docum ento jun tado , a parte contrária tem o direito de vista e manifestação antes da decisão.

Estando a petição em ordem e a tendendo aos ditames legais, o juiz determ inará a citação, que é o cham am en to do réu a juízo para se defender dc uma ação contra ele proposta. CPC, Art. 285. "Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, o rdenando a citação do réu, para responder; do m andado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo au tor."14

ProcuraçãoO Código Civil, nos artigos 653 a 692, trata do contraio denom inado 'm a n d a to ' .15

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C a p ít u l o 10 — Petição inicial | 9 7

M andato c o contrato através do qual uma pessoa recebe poderes para, em nom e de alguém, praticar atos ou administrar interesses.

O contrato de m andato materializa-se por m eio do instrum ento cham ado 'procuração'. Portanto, a procuração é o ins trum ento do m andato, ou seja, é incorreto usar a expressão "pelo presente instrum ento de procuração". O certo é utilizar "pelo presente ins trum ento de m andato" —, pois o contrato é o m andato e não a procuração.

O m andato pode ser judicial, ou seja, quando u m advogado recebe poderes dc alguém para defendê-lo em juízo.

A apresentação do ins trum ento de m andato é obrigatória, conforme artigo 37 do CPC, exceto para evitar perecim ento de direito, o que só acontece quando se está às vésperas de algum prazo decadencial ou prescricional.16

Nesse caso, excepcionalmente, a procuração deve ser exibida em 15 dias, prorrogáveis até igual prazo.

Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo. Poderá, todavia, em nome da parle, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz.17

Se o advogado estiver a tuando em causa própria, na tu ra lm en te não precisa outorgar ins­trum en to de m andato para si próprio nem assinar contrato de honorários advocatícios para se precaver de eventual desonestidade do cliente.

Vale lem brar que na Justiça do Trabalho ainda vigora o juspostulandi, ou seja, a possibili­dade de a parte, sozinha, postular seus direito cm juízo.

Nesse caso, o suposto lesado fará reclamação verbal perante o distribuidor da Justiça do Trabalho, que a distribuirá, devendo o interessado comparecer perante a vara sorteada em cinco dias para reduzir sua reclamação a termo, deflagrando en tão o processo.

A reclamação verbal será distribuída antes de sua redução a termo.Parágrafo unico. Distribuída a reclamação verbal, o reclamante deverá, salvo motivo de força

maior, apresentar-se no prazo de cinco dias, ao cartório ou à secretaria, para reduzi-la a termo, sob a pena estabelecida no artigo 731.18

Notas

1 Brasil, artigo 282, Lei ntt 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

2 Brasil, artigo 840, Decreto-Lei nfl 5.452, de l e de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

3 Brasil, artigo 840, Decreto-Lei n fl 3.689, de 3 dc outubro de 1941. Código de Processo Penal.

Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 13 out. 1941.

4 João Alfredo Medeiros Vieira, Português prático eforense, 7. ed. São Paulo: LEDIX, 1991, p. 240.

5 Brasil, artigo 282, Lei n9 5.869, de 11 de janeirode 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

6 Brasil, artigo 840, Decreto-Lei nü 5.452, de 1“de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra-

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9 8 Pa r t e III — Peças processuais

balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

7 Brasil, artigo 221, Lei n* 5.869, de 11 de janei­ro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 17 jan. 1973.

8 Brasil, artigo 841, Decreto-Lei n° 5.452, de lô de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

9 Brasil, artigos 267, í, e 295, Lei nâ 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Proces­so Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

10 ldem, artigo 284.11 Brasil, artigo 940, Lei n” 3.071, de Iy de janeiro

de 1916. Código Civil. Rio de Janeiro.12 Brasil, artigo 283, Lei nu 5.869, de 11 de janeiro

de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

13 Brasil, artigo 787, Decreto-Lei na 5.452, de 1Q de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

14 Brasil, artigo 285, Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

15 Brasil, artigos 653-692, Lei nQ 3.071, de V' de janeiro de 1916. Código Civil. Rio de Janeiro.

16 Brasil, artigo 37, Lei n s 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

17 ldem.18 Brasil, artigo 786, Decreto-Lei n° 5.452, de \v

de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

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CONTESTAÇAO03

u

Modalidades de respostaO direito processual brasileiro contempla três espécies de resposta: contestação/ exce­

ção2 e reconvenção.3 Na CIX os meios de defesa encontram -se indicados nos artigos 801 e 847, sendo aplicado subsidiariamente o direito processual com um , por força do artigo 769 ;1 Leia os artigos a seguir:

Compete ao réu alegar, na contestação, ioda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.5

É lícito a qualquer das partes argiiir, por meio de exceção, a incompetência (artigo 112), o impedimento (artigo 134) ou a suspeição (artigo 135)/’

O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.7

Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes.8

A mais com um , de longe, é a contestação. Nela, o réu refuta os pedidos articulados pelo au tor na petição inicial. Resiste, com as razões jurídicas que possuir, àquilo que foi vindicado pelo adversário. Se não houver apresentação dc contestação, impõe-se a aplicação da pena de revelia e, geralmente, o efeito dela, que é a confissão quanto à matéria de fato: "Sc o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo au tor"9 e "O não compa- recimento do reclamante à audiência importa o arquivam ento da reclamação, e o não com- parecimento do reclamado importa revelia, além de confissão, quanto à matéria de fato."10

A contestação possui uma técnica própria, mas, antes de nela adentrar, urge reviver m enta lm en te u m im portante princípio relativo à contestação: o da eventualidade.

O princípio da eventualidade encontra-se insculpido no artigo 300 do CPC e preconiza que toda a matéria de defesa deve ser trazida na contestação, sob pena de ocorrer preclusão: "Compete ao réu alegar, na contestação, toda a m atéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que im pugna o pedido do au tor e especificando as provas que pre tende produzir ."11

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1 0 0 Pa r t e III — Peças processuais

Com efeito, se algum fato articulado na petição inicial não for refutado na contestação, torna-se incontroverso e, portanto, algo que independe de prova: "Não dependem de prova os fatos: (...) III - admitidos, no processo, como incontroversos".12

É claro que isso não terá o m esm o efeito nas matérias de direito que, como o nom e p ro ­clama, não envolvem questões fáticas, mas exclusivamente jurídicas. Por exemplo, pedido dc diferença por lesão oriunda de planos econômicos.

O prazo para contestação, na justiça com um , é de 15 dias, enquan to na Justiça do Traba­lho não há, pois ela será apresentada em audiência.

Se o juiz do trabalho designar audiência para depois de 30 dias, esse será o prazo para contestar; se marcar para três meses depois, é esse o tem po que o reclamado disporá para formular defesa, pois, repita-se, é na audiência que a contestação será apresentada.

É garantido, contudo, o prazo mínimo dc cinco dias entre o recebimento da citação c a audi­ência, sendo o prazo quadruplicado (portanto, mínimo dc 20 dias) se o réu for ente público.

O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita, dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.1*

Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou chefe de secretaria, dentro de 48 horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o, ao mesmo tempo, para comparecerá audiência de julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de cinco dias.14

Nos processos perante a Justiça do Trabalho constituem privilégio da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das autarquias ou fundações de direito público federais, estaduais ou municipais que não explorem atividades econômicas: (...) II - o quádruplo do prazo fixado no artigo 841, in fine, da Consolidação das Leis do Trabalho.,s

Pois bem, diante dessas explicações, avulta a importância da elaboração de uma boa peça de bloqueio, que tam bém possui técnica própria. A contestação deve seguir o seguinte roteiro:

1. as preliminares, se houver;2. a prejudicial de mérito (prescrição parcial);3. o mérito em si.

A S PRELIMINARES

Preliminares são questões jurídicas que impedirão o magistrado de analisar o âmago da questão.

José Carlos Barbosa Moreira faz um a feliz analogia em sala de aula. Imaginemos um presente que se encontra em um belo em brulho (daqueles cm que o em brulho parece mais bonito que o próprio presente).

O âmago da questão (logo, o mérito) é o presente, mas, para nele chegar, o juiz precisa abrir o em brulho. Geralmente, ele consegue fazê-lo, mas às vezes existe alguma situação que impede o juiz de abrir o presente, ou seja, não pode adentrar no mérito da causa.

Essas situações são as preliminares e por isso devem iniciar a contestação, pois, caso aco­lhidas, te rm inam o processo imediatamente.

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C a p ítu lo 1 1 — Contestação 1 0 1

Por exemplo, imaginemos u m pedido dc divórcio ajuizado na Justiça do Trabalho ou uma reclamação trabalhista distribuída a uma vara cível. Em ambas as hipóteses, o juiz não tem competência funcional para decidir a matéria que lhe foi submetida, de m odo que, j u ­ridicamente, existe incompetência absoluta em razão da matéria.

Os exemplos foram radicais, mas outros existem nos quais existe fundada dúvida sobre a competência para apreciar a ação e que necessitam, inclusive, de confecção de súmulas. A incompetência absoluta impedirá que o juiz analise o mérito (o presente), pois algo o im ­possibilita de assim proceder. Nesse caso, o feito será extinto sem apreciação do mérito, na forma do artigo 267 do CPC.16

As preliminares estão elencadas no artigo 301 do CPC:Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar:I - inexistência ou nulidade da citação;II - incompetência absoluta;III - inépcia da petição inicial;IV - perempção;V - litispendência;VI - coisa julgada;VII - conexão;VIII - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;IX - convenção de arbitragem;X - carência de ação;XI - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.17

Por tratar-se de matéria de o rdem pública, os casos acima indicados podem ser conheci­dos de ofício, ou seja, espon taneam ente pelo juiz, à exceção da convenção de arbitragem.

Vale lem brar que a incompetência absoluta (em razão da matéria ou hierarquia) deve vir como pre lim inar de contestação, mas a incom petência relativa (fundada no território ou valor da causa) deve manifestar-se po r meio de exceção, que é outra modalidade de resposta.

Se existir c caso ultrapassada a preliminar, segue-se a apresentação da prejudicial de mérito.

Prejudicial de méritoAo artigo 301 do CPC somam-se a prescrição total dos direitos patrimoniais e a deca­

dência, pois ambas, agora, podem ser conhecidas de ofício (ou seja, espon taneam ente pelo juiz, m esm o sem provocação): "§ 5o O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição";18 "A petição inicial será indeferida: (...) IV - quando o ju iz verificar, desde logo, a decadência ou prescri­ção (artigo 219, § 5o)";19 "Haverá resolução de mérito: (...) IV - quando o juiz p ronunciar a decadência ou a prescrição".20

A prescrição parcial, m uito utilizada na seara trabalhista, é, na verdade, um limitador no tem po de eventual condenação. A CLT confere o prazo de dois anos para o empregado aju i­zar ação contra o em pregador (ou ex-empregador, como é mais comum), podendo retroagir

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1 0 2 Pa r t e III — Peças processuais

os pedidos a cinco anos da propositura. A única exceção rcferc-se ao FGTS, cuja prescrição retroativa é trintenária.

0 direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve:1 - em cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do

contrato;II - em dois anos, após a extinção do contrato de trabalho, para o trabalhador rural.21

FGTS. PRESCRIÇÃO.É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não-recolhimento da contribuição

para o FGTS, observado o prazo de 2 (dois) anos após o término do contrato de trabalho.22

Então, se o reclamado, independen tem en te das razões que verterá pela improcedência do pedido, deseja acautelar-se para o caso de haver condenação, deverá apresentar a p re ju­dicial de prescrição parcial.

Assim, por exemplo, em um longevo contrato dc empregado que persegue o pagam ento de horas extras, u m eventual deferimento limitará a condenação aos últimos cinco anos que antecedem o aju izam ento da reclamação trabalhista.

A prescrição parcial só tem sentido, e deve ser trazida em defesa, quando efetivamente trouxer algum resultado.

Sc o pacto labora] foi curto c, logo em seguida, houve ajuizamento de ação, não há m oti­vo para alegar prescrição parcial sc toda a interlocução social estiver no lustro (prazo de cin­co anos) anteriores ao ingresso em juízo. Em suma, ela só deve ser trazida se efetivamente tiver condição de ser acolhida.

Mérito em siPresentes (ou não) nas fases anteriores, o mérito da causa obrigatoriamente será atacado,

de m odo que sempre estará presente.No mérito da contestação, o réu traz os argum entos fáticos e jurídicos que possui para

defender-se do que foi postulado na petição inicial.É im portante que o advogado conteste rigorosamente todos os pedidos, caso tenha ju s ­

tificativa para tanto.Se u m dos pedidos é n itidam ente procedente, não há necessidade de reconhecer culpa

ou erro. Basta não se manifestar sobre aquele tópico, que fatalmente o juiz o receberá como verdadeiro.

Isso é im portante porque, havendo diversos pedidos, sc u m deles for repelido por um motivo banal ou n it idam ente improcedente, o advogado corre o risco do restante da contes­tação perder alguma credibilidade.

Certam ente o magistrado pensará: se a parte falseia neste ponto, por que razão não o faria em relação aos demais?

A contestação precisa ter uma lógica sistêmica: um a empresa não pode negar u m vínculo empregatício desejado pelo reclamante e, em seguida, requerer a compensação das férias e 13u salário pagos.

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C a p ít u l o 1 1 — Contestação 1 0 3

Evite te rm inar a contestação com fechos emocionais ou frases de efeito, como "Fulano espera justiça!", "A justiça será feita!", en tre outros, que, na m aior parle das vezes, parecem súplicas patéticas e desproporcionadas, que investem erroneam ente no garimpo da emoção do juiz, já que a decisão será em inen tem en te técnica.

Notas1 Brasil, artigo 300, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro

de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

2 Idem, artigo 304.3 Idem, artigo 315.4 Brasil, artigos 769, 801 e 847, Decreto-Lei nQ

5.452, de V2 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

5 Brasil, artigo 300, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

6 Idem, artigo 304.7 Idem, artigo 315.8 Brasil, artigo 847, Decreto-Lei n* 5.452, de 1G

de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

9 Brasil, artigo 319, Lei n- 5.869, dc 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

10 Brasil, artigo 844, Decreto-Lei nfi 5.452, de l ú de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

11 Brasil, artigo 300, Lei n- 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

12 Idem, artigo 334.

13 Brasil, artigo 297, Lei nfi 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

14 Brasil, artigo 841, Decreto-Lei nG 5.452, de 1- de maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

15 Brasil, artigo l ü, Decreto-Lei nQ 779, de 21 de agosto de 1969. Dispõe sobre a aplicação de normas processuais trabalhistas à União Fede­ral, aos Estados, Municípios, Distrito Federal e Autarquias ou Fundações de direito público que não explorem atividade econômica. Diário Ofi­cial da União, Brasília, 25 ago. 1969.

16 Brasil, artigo 267, Lei n fl 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diá­rio Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

17 Idem, 301.18 Idem, 219.19 Idem, 295.20 Idem, 269.21 Brasil, artigo 11, Decreto-Lei n fi 5.452, de Ia de

maio de 1943. Consolidação das Leis do Tra­balho. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943.

22 Brasil, súmula 362 de 20 de novembro de 2000, Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, 18 dez. 2000.

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RECURSO

Conceito e objetivoMuitos e variados são os conceitos de recurso. Em suma, recurso é um meio de im pugna­

ção dentro do m esm o processo em que surgiu a decisão impugnada. É a maneira de ten tar reverter uma decisão desfavorável aos interesses do recorrente.

Motivos da existência de recursosBasicamente, três são os motivos que justificam a existência dos recursos:1. Aspecto psicológico: é típico do ser h u m a n o não se conform ar com um a só deci­

são desfavorável a seus interesses, de m odo que ele, intuitivamente, tenta reverter algo que lhe incomoda. Apenas como exemplo, quando um a criança de tenra idade e posta dc castigo pelo pai, norm alm ente procura a m ãe para que ela a livre daquela condenação. Intu itivam ente ela está recorrendo daquela decisão que contraria seu desejo de brincar.

2. Falibilidade humana: o juiz, antes de tudo, é u m ser h u m a n o capaz de errar. O recurso viria como forma de retificar tais equívocos, mercê da apreciação da decisão atacada por outro órgão, geralm ente integrado por pessoas mais experientes.

3. Esmero na decisão: sabedor o juiz de que qualquer decisão sua potencialmente pode ser apreciada por um tribunal (2U grau ou instância especial), ao qual ele geralmente almeja integrar, provavelmente ele se aprofundará em uma substancial fundamentação dos julgados, para assim arregimentar bom conceito perante seus pares.

Requisitos dos recursosOs requisitos mais importantes para a interposição dos recursos são:SUCUMBÊNCIA

Só pode recorrer a parte vencida ou quem está legitimado por lei a fazê-lo.Também detém legitimidade para recorrer o Ministério Público, quer cm processo que

tenha a tuado como parte, quer naquele cm que tenha oficiado como custos lecjis.

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C a p ít u l o 12 — Recurso 1 0 5

O terceiro prejudicado tam bém tem legitimidade para recorrer. Terceiro prejudicado e todo aquele que poderia ter intervindo na lide como terceiro e não o fez.

O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.

§ 1". Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre seu interesse de in­tervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.

§ 2U. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.1

O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte.2

O Ministério Público tem legitimidade para recorrer na ação de acidente do trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por advogado.’

T e m p e s t i v i d a d e

Todo recurso deve ser interposto dentro de um prazo previam ente fixado em lei. A inter- posição do recurso antes ou depois do prazo aberto aos possíveis recorrentes esvazia um dos pressupostos de conhecim ento, tornando-o intempestivo.

Cada recurso tem um prazo próprio para interposição.Nos quadros 12.1 c 12.2, podem os verificar o prazo para os recursos mais utilizados nas

áreas cível e trabalhista:

Q u a d r o 1 2 .1 . Prazos para os recursos na área cível

Recurso PrazoAgravo de instrumento 10 dias

Embargos de declaração 5 dias

Apelação 15 dias

Recurso ordinário 15 dias

Recurso extraordinário 15 dias

Q u a d r o 1 2 .2 . Prazos para os recursos na área trabalhista

Recurso Prazo

Embargos de declaração 5 dias

Recurso ordinário 8 dias

Recurso de revista 8 dias

Agravo de instrumento 8 dias

Agravo de petição 8 dias

Recurso extraordinário 15 dias

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1 0 6 Pa r t e III — Peças processuais

P r e p a r o

Consiste no pagam ento das despesas processuais correspondentes ao processo.A falta do preparo, quando exigido, gera a deserção, exceto quando a parte estiver sob os

auspícios da gratuidade dc justiça.

Realidade dos recursosSe a parte necessita valcr-sc dc algum recurso c porque sucumbiu cm algum tema ou decisão.

Logo, sua situação não é das mais favoráveis, pois já tem contra si uma manifestação judicial.Em razão disso, avulta de importância que o recurso seja um a peça ex trem am ente técni­

ca, verdadeiro instrum ento de persuasão e de expressividade do pensam ento, que deve fazer no plano argum entativo comparações e contrastes.

Ataque e repila as decisões e os pensamentos, nunca a figura do juiz. Lembre-se que a maioria dos integrantes dos tribunais são magistrados de carreira, que tam bém já exerceram suas funções no primeiro grau e, naquela época, certam ente não gostariam de ser criticados pessoalmente ou achincalhados por conta de um a manifestação legítima de pensam ento materializada em alguma decisão.

Portanto, seja respeitoso e moderado, procurando mostrar que a decisão <e não o prola- tor dela) possui erro dc perspectiva jurídica, motivo pelo qual o recorrente, respeitosamente, dela discorda e perseguirá sua reforma.

Tema bastante discutido nas rodas jurídicas é a utilização protelalória dos recursos. La­m entavelm ente , por conta da falta de efetividade do Poder Judiciário em geral, que tarda (e muito) a apreciar os recursos que lhe são apresentados, muitos deles se valem disso com o intuito exclusivamcntc procrastinatório.

Nessas situações, não há a m enor chance de que a decisão seja modificada, dc modo que a insurreição é materializada tão som ente para postergar a solução final, o que é algo bastante reprovável.

Tomara que a implantação da súm ula vinculante e da súm ula impeditiva de recurso venha a mitigar tal situação, pois a indefinição de u m a situação jurídica por tem po superior àquilo que seja socialmente accitávcl dcsacrcdita o Poder Judiciário perante a população, além dc se constituir em fator dc verdadeira injustiça.

Se formos analisar friamente, em qualquer processo, pelo m enos uma das partes não quer que ele termine logo, seja rápido e eficaz, porquan to a morosidade da justiça dá lucros diretos e indiretos a alguns, ainda que puna um a enorm e fatia da população.

Mas, como o objetivo dessa obra não é filosófico e certam ente os chicaneiros não m odi­ficarão seus com portam entos com essas breves linhas dc digressão, en tão passemos à es tru ­tura dos recursos. Como foco para regrar o raciocínio, tom arem os como exemplo o recurso de apelação, tão m anuseado na justiça com um , e seu correspondente na Justiça do Trabalho— o recurso ordinário.

Estrutura do recursoExcepcionando os embargos declaratórios, o recurso possui duas peças. Uma delas dirigi­

da ao órgão prolator da decisão; a outra, ao órgão que apreciará o rccurso.

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C a p ít u l o 12 — Recurso 1 0 7

No caso que será utilizado, tanto a apelação quan to o recurso ordinário terão a primeira peça dirigida ao juiz na vara. É uma peça simples, de poucas linhas, sem qualquer intenção senão informar ao magistrado que a parte não se conforma com o conteúdo da sentença e que dela está recorrendo. Poderá informar que está cum prindo os requisitos objetivos de preparo e tempestividade, requerendo ao final que lhe seja dado prosseguimento regular.

Uma vez prestada a jurisdição, a atuação do juiz de primeiro grau, na seara dos recursos, c praticam ente administrativa, sem n e n h u m cunho decisório, limitando-se a velar pela re ­gularidade da jun tada da peça, conferir vista ao adversário e enviar para o Tribunal de Justi­ça (TJ), Tribunal Regional Federal (TRF) ou Tribunal Regional do Trabalho (TRT), conforme a situação concreta.

E tal se justifica porque a análise do conhecim ento do recurso não pertence ao juiz, mas sim ao tribunal, ainda que seja com um (e p lenam ente justificável) que a maioria dos magis­trados in terrom pa na origem recursos que sejam intempestivos ou desertos.

Q uando o fazem, prestam favor ao judiciário, pois certam ente o tribunal chegaria à m es­ma conclusão — ainda que, por vezes, som ente alguns anos depois, por conta da avalanche de recursos que existem nos tribunais.

Então, a primeira peça é de simplicidade franciscana e manifesta apenas a intenção de recorrer.

A segunda peça, apresentada na mesma oportunidade, c dirigida ao tribunal (TRT, TJ ou TRF), e nela (aí sim) o recorrente apresenta uma análise de toda a matéria de fato, direito e prova que o leva a acreditar que a sentença merece total ou parcial modificação.

É nela que o advogado deve focar seu talento e técnica redacional, pois, repisamos, terá a árdua tarefa de modificar uma decisão em anada dc juiz que não lhe foi favorável.

Realizar um breve histórico da dem anda não é obrigatório, ficando por conta do estilo e opinião de cada profissional. Se desejar fazê-lo, que seja breve e conciso; se não o fizer, não haverá m aior prejuízo, m esm o porque a sentença já deve conter um relatório dos principais eventos ocorridos no processo. Ademais, certam ente o magistrado a quem couber o ju lga­m en to inicial do recurso analisará na inteireza os autos do processo (ou, ao menos, é isso que se espera).

De igual forma, declarar que os requisitos para interposição do recurso estão presentes (sucumbência, tempestividade e preparo) é faculdade que deve ser usada se o advogado en ten d er adequado. E assim é porque, declarando ou não sua presença, certam ente o órgão responsável pelo ju lgam ento do recurso fará um a varredura para verificar se todos se fazem presentes.

Já a fundamentação, evidentem ente, é imprescindível. Não basta análise fria c distante da decisão. Há que se demonstrar, especificamente, onde se encontra o erro ou a má ap re ­ciação da prova ou do direito no caso concreto. Onde está a incorreção ou m esm o a injustiça do julgado. E aí, cremos, tudo vale e é possível, contanto que dentro dos limites técnicos, legítimos e de respeito que devem perm ear a relação entre as partes e o magistrado.

Não se limite a transcrever a defesa ou repetir a inicial, pois o processo está bem mais avançado que isso. Tais peças já foram analisadas, e é essa análise que, cm tese, não fez

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1 0 8 ■ Pa r t e III — Peças processuais

justiça às partes e está a m erecer revisão, pelos motivos fáticos e de direito que serão con­templados no recurso.

Ao final, deverá vir o requerim ento para que o recurso seja conhecido e, no mérito, que lhe seja dado provim ento para julgar procedente ou improcedente o pedido da petição inicial.

Então, o foco é a petição inicial — e não serve para que a defesa seja aceita ou outra for­ma qualquer de ilação. É a inicial que fixa os contornos da lide, e sobre ela se debruçam os operadores do direito, inclusive julgadores.

Tecnicamente analisado, se houver error in judicando ( 'erro de ju lgam ento ') , a sentença será reformada ou modificada; se ocorrer error in procedendo ( 'erro de procedimento '), a sen­tença será anulada.

Erro dc procedimento se relaciona com a condução do processo, por exemplo, quando o juiz indefere a oitiva de tes tem unha ou nega a realização dc perícia e, por conta da ausência desses elementos, julga de forma desfavorável àquele que pretendia produzi-la.

Nesse caso, a sentença deve ser anulada, de term inando o retorno dos autos à primeira instância para realização da prova negada, e, em seguida, nova sentença deve ser prolatada, à luz dos novos elementos probatórios produzidos, ainda que nada obste que o juiz conclua exatam ente o mesmo do que foi estampado na sentença original (a que foi anulada).

Notas1 Brasil, artigo 499, Lei ne 5.869, de 11 de janeiro

de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Di­ário Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973.

2 Brasil, súmula 99 de 14 de abril de 1994, Diário da Justiça, Brasília, 25 abr. 1994.

3 Brasil, súmula 226 de 2 de agosto de 1999, Diá­rio da Justiça, Brasília, 30 set. 1999.

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PARECER0 3

U

O que é e sua importânciaA advocacia pode scr facilmente dividida em duas atuações distintas: a contenciosa e a

consultiva.Normalmente, o profissional dedica-se a ambas, pois, às vezes, c convocado por seus

clientes a emitir parecer sobre determ inada matéria e, outras vezes, é cham ado para resolver um conflito real que já se materializou em um a ação judicial.

Na advocacia de consultoria não existe uma situação concreta sendo julgada pelo poder judiciário, mas o cliente deseja inteirar-se acerca dc determ inada situação, antecipando-se a tal ocorrência.

Com a consulta, a parte busca saber que cam inho seguir para adequar sua postura à nor­ma, evitando a criação de um passivo ou dívida que, potencialmente, podem ensejar efeitos nefastos no futuro.

Uma vez que a parte é je juna de conhecim ento jurídico, procura u m profissional habili­tado a tanto — o advogado.

Na advocacia preventiva, que basicamente envolve consultas e pareceres, o profissional não precisa defender seu cliente, pois, repise-se, não existe ação em curso contra ele.

Em razão disso, o advogado deve ter (ou exigir, se for o caso) a maior liberdade possível, inclusive para concluir que a postura adotada pelo consulente está errada e merece ser revis­ta, tudo com vistas a evitar um com portam ento divorciado da lei e, com isso, o ajuizamento de alguma ação.

Então , nada im pede que, no parecer, o advogado ratifique a conduta do consu len te ou a critique ab e r tam en te . 0 objetivo não é agradar o consu len te , m esm o p o rque a felicidade de um a chancela do advogado 110 p resen te , a inda que a conduta seja errada, pode custa r m u i to em d em an d as fu tu ras , com inevitável repercussão negativa para 0 profissional.

Sendo assim, segue a primeira dica: honestidade total nas conclusões, pois a parte precisa saber a verdade. Fazendo uma analogia, de que adiantaria um médico dizer que 0 paciente está bem e saudável, quando na verdade padece de grave mal incurável?

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1 1 0 Pa r t e III — Peças processuais

Com a pcrspcctiva corrcta, inclusive jurídica, caberá à parte, sc tiver sabedoria, seguir os bons conselhos de seu advogado ou arcar com as conseqüências de assim não proceder. Mas, qualquer que seja a opção, o fará com consciência.

É possível que um parecer seja usado como peça de convencim ento em um a ação. Gran­des empresas chegam a contratar pareceres dc figuras jurídicas exponenciais, pagando às vezes grandes somas por isso, para corroborar sua tese.

Finalmente, muitos advogados procuram se esmerar cm seus pareceres porque, pela ex ­periência, sabem que o consulente seguirá seu conselho e, se ele for 110 sentido de debater a causa em juízo, 0 parecer já é u m facilitador na confecção da petição inicial, pois 0 estudo necessário e am iúde já foi realizado, de m odo que os argum entos ali vertidos podem ser aproveitados para a peça dc gênese.

Partes do parecerO parecer possui três partes: relatório, fundam entação e conclusão.Como sc vc, c m uito parecido com um a sentença, mas com a diferença dc não julgar

coisa alguma, senão apreciar uma determ inada situação c aconselhar.O 'relatório ' é um a breve síntese da consulta que está sendo elaborada, de forma que um

terceiro desavisado, ao lê-lo, terá um a idéia mínima do objeto da consulta.Não há necessidade de em enta, porque não se trata de acórdão. Verdade é que muitas

empresas, que solicitam regularm ente pareceres, acabam por sugerir u m pequeno texto re ­ferencial para facilitar 0 a rquivam ento c futuro resgate do material, classificando-o, mas isso não é obrigatório.

A 'fundam entação ' é um a parle m uito relevante do parecer, pois nela 0 advogado d e ­monstra toda sua habilidade de raciocínio, destreza, conhecim ento jurídico e capacidade de transmitir informação, trazendo 0 que de necessário e relevante existe para 0 deslinde da questão examinada.

Ela não deve ser direta n em telegráfica; ao revés, 0 profissional deve dcdicar-sc a uma texiualização dos conceitos teóricos envolvidos, valendo-se de doutrina e jurisprudência, ou até m esm o dem onstrando que a matéria controvertida é de alta indagação jurídica.

Na fundam entação, coteja-se a norm a com 0 fato concreto, se existir, visando dem ons­trar a vontade da lei.

Isso na tu ra lm en te exige estudo e pesquisa, pois é impossível c h u m a n am en te inconcebí­vel que u m profissional, dc qualquer área do saber, inclusive jurídica, possa estar inteirado sobre rigorosamente todas as matérias possíveis.

O advogado deve abusar da citação de norm as e textos legais, pois esses provavelm ente são desconhecidos do cliente, destinatário final do parecer, sendo louvável até m esm o a transcrição deles.

Finalmente a 'conclusão', na qual 0 advogado dirá 0 que deve (ou não) ser feito. Se há ou não razão na postura do cliente. Se é recomendável (ou não) 0 a juizamento dc ação.

Claro que isso é u m conselho, pois a parte não é obrigada a seguir 0 parecer técnico, mas, sem dúvida, ele tem peso e respeitabilidade porque em ana da pena de profissional qualifica­do para dizer 0 que 0 direito reserva para aquela situação.

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INI EXERCÍCIOS

1. Não é modalidade de resposta:a) exceção.b) embargo.c) reconvenção.d) contestação.

2. A matéria que deve ser apresentada no início da contestação denomina-se:a) mérito.b) prejudicial.c) preliminar.d) revelia.

3. Na ação rescisória, o prazo para contestar é:a) de 15 dias.b) fixado pelo relator.c) de 10 dias.d) de 30 dias.

4. O princípio que determina ao réu trazer toda a matéria de defesa por ocasião da con­testação, sob pena de ocorrer preclusão, denomina-se:a) concentração.b) especialização.c) livre defesa.d) eventualidade.

5. A Fazenda Pública e o Ministério Público têm, para contestar, prazo em:a) dobro.b) quádruplo.c) triplo.d) décuplo.

6. Sc o réu não contestar, ocorrerá:a) extinção do feito sem ju lgam ento do mérito.b) a nulidade dos atos processuais.c) a revelia.d) a decisão dc saneam ento.

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1 1 2 Pa r t e III — Peças processuais

7. As espécies dc exccção previstas no CPC são:a) de incompetência absoluta e relativa.b) de im pedim ento e incompetência absoluta.c) de suspeição, im pedim ento e incompetência absoluta.d) de incompetência relativa, im pedim ento e suspeição.

8. A competência em razão da matéria é:a) relativa.b) absoluta.c) concorrente.d) exclusiva.

9. Se a petição estiver em ordem, o juiz determ inará a:a) contestação.b) citação.c) réplica.d) em enda.

10. O ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado, a fim de se defender, d e n o ­mina-se:a) intimação.b) citação.c) exceção.d) notificação.

1 1 . 0 processo pode ser definido como:a) atos encadeados em uma seqüência ilógica.b) meio pelo qual sc busca a jurisdição.c) ato formulado pelo réu da ação.d) o meio de defesa do réu.

12. O au tor deverá, em regra, formular pedido:a) genérico.b) indeterminado.c) certo e determinado.d) implícito.

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PARTE IVlllll III

INFORMAÇÕESGRAMATICAIS

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1 IIM LATINISMOS E SEUS 8 SIGNIFICADOS

As expressões latinas são m uito usadas 110 português jurídico. Elas serão úteis quando utilizadas corre tam ente , pois têm a capacidade de transmitir com felicidade um a idéia que necessitaria de muitas palavras.

Entretanto, não recom endam os seu uso abusivo, pois hoje em dia muitos leitores, mes­mo dentro do cam po do direito, desconhecem seus significados, 0 que implica desperdício de tem po e obscuridade na interpretação das idéias.

Procure usá-las com moderação dc forma a garantir u m texto claro c, ao m esm o tempo, culto. Na dúvida, privilegie a clareza.

A seguir, veja uma listagem com algumas dessas expressões.

AAberratio delicti Erro na execução.

Aberratio ictus Ato dirigido contra alguém que atinge a terceiro.

Ab initio Desde 0 início.

Ab intestato Sem testamento.

Ab irato Num impulso de cólera.

Aboíitio criminis Extinção do crime.

Absente reo Na ausência do réu.

Accessorium sequitur suum principale

0 acessório segue 0 principal.

Acidente in itinere Acidente ocorrido no trajeto do trabalhador.

A contrario sensu Pela razão contrária, em sentido contrário.

Actio Ação.

Actio ad exhibendum Ação de exibição.

Actio de damno infecto Ação de dano temido ou infeto.

Actio de in rem verso Ação de repetição de indébito.

Actio de negottis gestis Ação de prestação de conta do gestor de negócios.

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1 1 6 Pa r t e I V — Informações gramaticais

Actio ex empto Ação de reivindicação de entrega da coisa vendida.

Actio in personam Ação pessoal.

Actio in rem Ação sobre coisa.

Actio iudicati Ação de coisa julgada.

Actio libera in causa Ação livre na causa do crime.

Actio negotiorum gestorum Ação de gestão de negócios.

Actio quanti minoris Ação de redução de preço.

Ad absurdum Por absurdo.

Ad arbitrium Com arbítrio.

Ad argumentandum tantum Só para argumentar.

Ad causam Para a causa.

Ad cautelam Por cautela.

Ad corpum Para o corpo (usa-se na venda de um imóvel sem especificação de área).

Ad diem Dia final.

Ad effectum Para efeito.

Ad exemplum Por exemplo.

Ad hoc Substituição temporária, eventual.

Ad honorem Por honra.

Ad interdicta Posse por interditos possessórios.

Ad interim Provisoriamente.

Ad iudicia Para o foro em geral.

Ad libitum À vontade.

Ad fitem Para o processo.

Ad litteram Literalmente.

Ad locum Sem demora, de imediato.

Ad mesuram Por medida.

Ad nauseum Algo pormenorizado em demasia, exaustivo.

Ad necessitatem Por necessidade.

Ad negotia Para negócios.

Ad nutum Pela vontade de.

Ad probationem Para a prova.

Ad processum Para o processo.

Ad quem Juiz ou tribunal de instância superior para o qual se remete o processo.

Ad quo Juiz de primeira instância, para a apreciação.

Ad referendum Sujeito à aprovação.

Ad rem Para a coisa.

Ad usucapionem Posse que se exerce por usucapião.

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C a p ít u l o 14 — Latinismos e seus significados G 1 1 7

Ad valorem Pelo valor.

Ad voluntatem Segundo a vontade.

Affectio maritalis Ânimo de permanecer como marido e mulher.

Affectio societatis Ânimo de constituir sociedade.

Affectio tenendi Ânimo de possuir.

Affirmans probat Aquele que afirma algo deve provar.

A fortiori Com maior razão.

Aliena gratia Mandato outorgado no interesse de terceiro.

Alieno nomine Em nome alheio.

Alieno tempore Intempestivamente.

Animus abutendi Intenção de abusar.

Animus adiuvandi Intenção de ajudar.

Animus aemulandi Intenção de imitar.

Animus apropriandi Intenção de apropriar-se.

Animus calumiandi Intenção de caluniar.

Animus corrigendi Intenção de corrigir.

Animus decipiendi Intenção de enganar.

Animus defendendi Intenção de defender.

Animus difamandi Intenção de difamar.

Animus dolandi Intenção de prejudicar.

Animus dominii Intenção de domínio ou posse.

Animus donandi Intenção de doar.

Animus falsandi Intenção de falsear a verdade.

Animus falsificandi Intenção de falsificar.

Animus fraudandi Intenção de fraudar.

Animus infringendi Intenção de infringir.

Animus iniuriandi Intenção de injuriar.

Animus insaeviendi Intenção de ser cruel.

Animus jocandi Intenção de brincar.

Animus lucrandi Intenção de lucrar.

Animus necandi Intenção de matar.

Animus offendendi Intenção de ofender.

Animus possidendi Intenção de possuir.

Animus prevaricandi Intenção de prevaricar.

Animus recipiendi Intenção de receber.

Animus renunciandi Intenção de renunciar.

Animus rerinendi Intenção de reter a posse.

Animus simulandi Intenção de simular.

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1 1 8 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Animus solvend Intenção de solver.

Animus violandi Intenção de violar.

Ante acta Antes do ato.

A posteriori Pelo que segue.

A priori Segundo um princípio anterior.

Apud Junto de.

Apud acta Junto aos autos.

A quo Juiz ou tribunal de instância inferior.

Auctori incumbir provario Ao autor da alegação incumbe o ônus da prova.

BBenigna interpretario Interpretação de acordo com a igualdade.

Bens pro diviso Bens divisíveis.

Bens pro indiviso Bens indivisíveis.

Bis Duas vezes.

Bis in idem Duas vezes sobre a mesma coisa.

Bona fide Boa-fé.

CCapita Cabeça.

Capitis deminutio Diminuição da capacidade.

Caput Cabeça.

Casamento in extremis Casamento celebrado nos últimos momentos de vida.

Caso sub judice Caso sob julgamento.

Causa debendi Causa da dívida.

Causa mortis Causa da morte.

Causa petendi Causa de pedir.

Cautio de rato Garantia de mandato.

Citra petita Abaixo ou aquém do pedido.

Communi consensu De comum acordo.

Communi opinio Opinião comum.

Concessa venia Com o devido consentimento.

Conditio sine qua non Condição sem a qual não.

Conscientia aceleris Consciência criminosa.

Consilium fraudis Plano de fraude.

Consuetudo Costume.

Contradictio in adiecto Contradição na afirmação.

Contradictio in terminis Contradição nos termos.

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C a p ítu lo 14 — Latinismos e seus significados Li 119

Contra legem Contra a lei.

Contrarius consensus Consenso contrário.

Corpus delicti Corpo de delito.

Currente calamo Elaborado às pressas.

Curriculum vitae Currículo profissional.

DData permissa Com a devida permissão.

Data venia Com o devido consentimento.

De auditu Por ouvir dizer.

Debitum coniugale Débito conjugal.

Decisum Decisão.

De cujus Falecido.

De facto De fato.

Defensor ex officio Defensor público.

De iure De direito.

De iure condito Do direito vigente.

De iure constituto Do direito constituído.

De lege condenda Da lei vigente.

De lege ferenda Da lei a se criar.

De lege lata Da lei criada.

De meritis Do mérito.

Dies ad quem Último dia na contagem de um prazo, termo final.

Dies a quo Primeiro dia na contagem de um prazo, dia de início.

Dies interpellat pro homine 0 termo interpela pelo homem.

Doius reipsa Dolo presumido.

Dominus Senhor, proprietário.

Dominus iitis Quem tem comando sobre os atos judiciais.

Dominus negotii Dono ou senhor do negócio jurídico.

Dura lex sed lex A lei é dura, mas é lei.

EEadem causa Mesma causa.

Eadem personae Mesmas pessoas.

Eadem rem Mesma coisa.

Eiecta una via non datur regressus ai aiterum

Eleita uma via judicial não se pode substituí-la por outra.

Elegantia iuris Elegância na expressão do direito ou da lei.

Erg omnes Para com todos.

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1 2 0 í Pa r t e IV — Informações gramaticais

Error facti Erro de fato.

Error in iudicando Erro de julgamento.

Error in objecto Erro de objeto.

Error in persona Erro sobre a pessoa.

Error in procedendo Erro no procedimento.

Est modus in rebus Há um limite em todas as coisas.

Et alii E outros.

Ex abrupto De súbito.

Ex aequo Igualdade de mérito ou de título.

Ex ante De antemão.

Ex autoritate própria Por própria autoridade.

Ex bonafide De boa-fé.

Ex cathedra De cátedra, em função do próprio cargo.

Ex causa Custas na justiça gratuita.

Exceptio Exceção.

Exceptio non adimpleti contractus

Exceção de contrato não cumprido.

Exceptio proprietatis Exceção de domínio.

Exceptio stricti iuris Exceção substancial.

Exceptio veritatis Exceção da verdade.

Ex confensu Com o consentimento.

Ex confesso Em resultado de confissão.

Ex delicto Dano causado por ilícito penal com repercussão na área cível.

Exempli gratia Por exemplo.

Exequatur Execute-se.

Ex facto ius oritur 0 direito é gerado dos fatos.

Ex integro Na íntegra.

Ex iure Conforme o direito.

Ex lege De acordo.

Ex locato Relação locatícia.

Ex mandato Em razão de mandato.

Ex nihilo De nada.

Ex nunc Sem retroatividade.

Ex officio Por dever do cargo, por ofício.

Ex positis Do que ficou exposto, isto posto.

Ex post facto Depois de fato.

Expressis verbis De maneira expressa.

Ex professo De forma magistral, como professor.

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C a p ít u l o 14 — Latinismos e seus significados ■ 1 2 1

Ex proprio iure Por direito próprio.

Ex radice Desde a raiz, pela raiz.

Ex rerum natura Não só o direito nasce do fato.

Extra commercium Fora do comércio.

Extra matrimonium Fora do casamento.

Extra muros Fora dos limites.

Extra petitum Sentença além do pedido.

Extrema ratio Extrema razão.

Ex tunc Desde então, com efeito retroativo.

Ex uno íatere De um lado.

Ex vi legis Por força da lei.

FFacta concludentia Fatos concludentes.

Facta praeterita Fatos passados.

Facultas agendi Faculdade de agir.

Fallitui fraudator Falido fraudador.

Ficta confessio Confissão fictícia.

Fraus legis Fraude à lei.

Furtum improprium Furto impróprio.

Furtum proprium Furto próprio.

GGratia argumentandi Apenas pelo favor de argumentar.

Grosso modo Por alto, resumidamente.

HHabeas corpus Recurso jurídico para assegurar liberdade de ir e vir.

Habeas data Recurso para obter informações relativas à pessoa.

Hercto non sito Herança não permitida.

Homo medius Homem comum.

Honoris causa Título honorífico universitário conferido a título de homenagem.

IIbidem No mesmo lugar.

Idem 0 mesmo.

Idem per idem 0 mesmo pelo mesmo.

Impotentia concipiendi Impotência de conceber.

Impotentia generandi Impotência de fecundar.

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1 2 2 ■ Pa r t e IV — Informações gramaticais

Improbus Desonesto.

Improbus administrator Administrador desonesto.

Improbus litigator Litigante desonesto.

In Em.

In absentia Na ausência.

In abstracto Em abstrato.

In actu No ato.

In albis Em branco.

In articulo mortis No momento da morte.

Inania verba Palavras vazias.

Inaudita altera pars Sem ouvir a outra parte.

In bonam partem Quando benéficas.

In capita Por cabeça.

In casu No caso.

In commitendo Em cometer.

In concreto Em concreto.

In continenti Imediatamente.

In custodiendo Em guardar.

In dubio contra fiscum Em dúvida, contra o fisco.

In dubio pro libertate Em dúvida, pela liberdade.

In dubio pro misero Em dúvida, a favor do miserável.

In dubio pro reo Em dúvida, a favor do réu.

In extenso Na íntegra.

In extremis Nos últimos momentos da vida.

In fadendo Culpa decorrente da ação.

Infiatio Denegação, recusa.

Infieri prester A nascer.

Infine No fim.

Informatio delicti Informação do delito.

In fraudem legis Em fraude à lei.

In futurum No futuro.

In genere Em gênero.

In initio litis No início da lide.

In integrum Por inteiro.

In itinere Ocorrido no trajeto de ida e volta ao local de trabalho.

In limine Preliminarmente.

In limine litis No início da lide.

In loco No local.

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C a p ít u l o 14 — Latinismos e seus significados E 1 2 3

In mellius Lei melhor.

In memoriam Em memória.

In natura Ao natural.

In nomine Em nome.

In omittendo Em omitir.

In opportuno tempore Em tempo oportuno.

In pari causa Em caso semelhante.

In perpetuum Para sempre.

In rem propriam No interesse próprio.

In rem verso No interesse de outrem.

In rerum natura Coisas da natureza.

In situ No local.

In solidum Por inteiro.

In specie Em espécie.

In statu quo ante No mesmo estado anterior.

Intentio íegiis Vontade da lei.

Intentio litis Finalidade da lei.

Intercessio Poder de veto.

Interdictum Decisão provisória.

Inter invitos Entre obrigados.

Interlocutio Decisão interlocutória.

In terminis No término.

Interna corporis No âmbito interno.

Inter nolentes Entre litigantes.

Inter partes Entre partes.

Interposita persona Por interposta pessoa.

Interpretatio cessat in Claris A interpretação cessa quando a lei é clara.

Inter vivos Entre vivos.

In thesi Em tese.

In totum Na totalidade.

Intra muros Dentro dos limites.

Intra vires hereditatis Obrigação de herdeiro dentro dos limites da herança.

Ipsis literis Textualmente.

In verbis Textualmente.

Ipsis verbis Com as mesmas palavras.

Ipso facto Por isso mesmo.

Ipso iure Pelo mesmo direito.

Iter criminis Atos necessários à realização do crime.

Page 142: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

1 2 4 | Pa r t e IV — Informações gramaticais

JJura novit cura 0 juiz conhece o direito.

Jure et facto Por direito e de fato.

Jure proprio Razão do próprio direito.

Juris et de jure De direito e por direito.

Juris praecepta Normas jurídicas.

Juris tantum Apenas de direito.

Jus Direito.

Jus abstendi Faculdade do herdeiro de renunciar à herança.

Jus ad rem Direito sobre a coisa.

Jus agendi Direito de agir.

Jus conditum Direito já constituído.

Jus connatus Direito natural.

Jus ex facto oritur 0 direito nasce do fato.

Jus in re aliena Direito real sobre coisa alheia.

Jus non scriptum Direito não escrito.

Jus possessionis Direito de posse.

Jus possidendi Direito de possuir.

Jus postulandi Direito de postular.

Jus privatum Direito privado.

Jus protectionis Direito de estado de proteger seus cidadãos.

Jus publicum Direito púbico.

Jus puniendi Direito de punir.

Jus quaestium Direito adquirido.

Jus retentionis Direito de retenção.

Jus sanguinis Direito do sangue.

Jus scriptum Direito escrito.

Jus singulare Direito singular.

Jus soli Direito do solo.

Jus sufragii Direito de sufrágio.

Jus vicinitatis Direito de vizinhança.

LLato sensu Sentido geral.

Legitimatio ad causam Qualidade para agir.

Legitimatio ad processum Capacidade para agir em juízo.

Lex Lei.

Lex domicilii Lei do domicílio.

Lex fori Lei do foro.

Lex fundamentalis Lei fundamental.

Page 143: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

C a p ít u l o 14 — Latinismos e seus significados E 1 2 5

Lex loci Lei do lugar.

Lex loci celebratinis Lei do lugar da celebração.

Lex loci contractus Lei do lugar do contrato.

Lex loci delicti Lei do lugar do direito.

Lex loci solutions Lei do lugar da solução.

Lex loci rei sitae Lei da situação da coisa.

Lex mitior Lei mais benigna.

Lex patriae Lei da pátria.

Lex posterior derogat priori A lei posterior derroga a anterior.

Lex privata Lei privada.

Litis contestatio Contestação da lide.

Loco citato No lugar citado.

Locus regit actum A lei do lugar é que rege o ato.

MMandatum Mandato.

Manu militari Agir com violência para obter algo.

Manus injectio Ação executiva, apreensão.

Mens legis Espírito da lei.

Mens legistations Vontade do legislador.

Meo judicio A meu juízo.

Meritum casuae Mérito da causa.

Meta optata Fim desejado.

Modus Modo.

Modus adquirendi Modo de adquirir.

Modus faciendi Modo de fazer.

Modus in rebus Medidas das coisas e idéias.

Modus operandi Modo de trabalhar.

Modus vivendi Modo de viver.

Mora accipiendi Mora do credor.

Mora debitoris Mora do devedor.

Mora ex persona Mora fixada por interpelação judicial.

Mora ex re Mora por inadimplemento da obrigação.

Mora solvendi Mora do devedor.

More uxorio Viver como se fosse casado.

Mortis causa Por causa da morte.

Motu proprio Por iniciativa própria.

Munus publicum De interesse público.

Mutatis mutandis Mudando-se o que se deve mudar.

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1 2 6 Pa r t e IV — Informações gramaticais

NNegotiorum gestio Gestão de negócios.

Negotium iuris Negócio jurídico.

Nemo iudex sine lege Não há juiz sem lei.

Nihil obstat Nada obsta.

Nomem iuris Denominação legal.

Non aedificandi Proibida a edificação.

Non bis in idem Não incidirá duas vezes.

Non liquet Não é claro.

Non plus ultra Não mais além.

Novatio legis Renovação da lei.

Nulla poena sine lege Não há pena sem lei.

Nullum crimen sine lege Não há crime sem lei.

OObligatio dandi Obrigação de dar.

Obligatio faciendi Obrigação de fazer.

Occasio legis Ocasião da lei.

Onus probandi Ônus da prova.

Ope contractus Por força do contrato.

Ope iuris Por força do direito.

Ope legis Por força da lei.

Ope sententia Por força da sentença.

Opportuno tempore Em tempo oportuno.

PPacta sunt servanda Cumpram-se os contratos.

Pactum de non cedendo Pacto de proibição da cessão de créditos ou direito.

Pactum praelations Pacto de preferência.

Pactum sceleris Pacto criminoso.

Par in parem non habet imperium

Entre os iguais não há império.

Pari passu No mesmo passo.

Passim Freqüentemente.

Pater familias Pai ou responsável pela família.

Pendens causa Causa pendente.

Per capita Por cabeça.

Permissa venia Com o devido consentimento.

Persona Pessoa.

Page 145: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

C a p ít u l o 14 — Latinismos e seus significados Fj 1 2 7

Persona allieni iuris Pessoa juridicamente capaz.

Persona grata Pessoa bem-vinda.

Persona non grata Pessoa não grata.

Pleno iure Pelo direito, de pleno direito.

Portable Pagamento a ser efetuado no domicílio do credor.

Post factum Depois do fato.

Post mortem Depois da morte.

Post scriptum Depois de escrito.

Post tempus Fora do prazo.

Praecepta iuris Preceitos de direito.

Praescripto Prescrição.

Praeter fegem Além da lei.

Prima facie À primeira vista.

Primus inter pares 0 primeiro entre os iguais.

Privilegium Privilégio.

Pro deserto Abandonado.

Pro diviso Divisível.

Pro forma Por formalidade.

Pro indiviso Bens que não estão divididos.

Pro labore Pelo trabalho.

Propter nuptias Doação condicional feita no pacto antenupcial.

Propter rem Obrigação acessória real.

Pro rata A parte proporcional em um rateio.

Punctum saliens Ponto principal.

QQuaestio facti Questão de fato.

Quaestio iuris Questão de direito.

Quantum debeatur Quantia devida.

Quantum satis Quanto basta.

Querela proprietatis Pendência em razão da propriedade.

Quid Que.

Quid iuris? Qual o direito? Que de direito?

Quid sit iuris? 0 que é direito?

Qui pro quo Confusão.

Quota litis Cota parte.

RRatio agendi Razão de agir.

Ratio iuris Razão jurídica.

Page 146: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

1 2 8 Pa r t e I V — Informações gramaticais

Ratio legis Razão legal.

Ratione auctoritas Em razão da autoridade.

Ratione contractus Em razão do contrato.

Ratione loco Em razão do lugar.

Ratione materiae Em razão da matéria.

Ratione personae Em razão da pessoa.

Ratione valori Em razão do valor.

Rebus sic stantibus Mesmo estado das coisas, se as coisas assim permanecerem.

Reductio ad aequitatem Diligência para restabelecer a eqüidade.

Referendum Referendo, plebiscito.

Reformatio in melius Reforma da sentença para melhor.

Reformatio in pejus Reforma da sentença para pior.

Rei sitae Situação da coisa.

Rem Bens.

Res Coisa.

Res aliena Coisa alheia.

Res communis ominium Coisa comum de todos.

Res furtiva Coisa furtada.

Res humanis iuris Coisa de direito humano.

Res in commercium Coisa que está no comércio.

Res in judicio deducta est Questão debatida em juízo.

Res inter alios acta Coisa feita entre outros.

Res ipsa Dolo presumido.

Res judicata Coisa julgada.

Res litigiosae Coisa litigiosa.

Res mobilis, res vilis Coisa móvel, coisa sem valor.

Res non verba Coisa e não palavras.

Res nullius Coisa de ninguém.

Res privatae Coisa privada.

Restitutio in integrum Restituição integral.

Retro Que já foi mencionado.

sSanction iuris Sanção jurídica.

Secundum ius Segundo o direito.

Secundum legem Segundo a lei.

Secundum verba Segundo as palavras.

Secundum voluntatem Segundo a vontade.

Sensu lato Sentido amplo.

Sententia judieis Decisão judicial final.

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C a p ítu lo 14 — Latinismos e seus significados ■ 129

Sic Assim, deste modo.

Sic et simpliciter Pura e simplesmente.

Sine cura Descuidado.

Sine die Sem data.

Sine jure Sem direito.

Sine qua non Indispensável.

Speculum juris Espelho do direito.

Sponte sua Por vontade própria, espontaneamente.

Status libertatis Estado de liberdade.

Status quo Estado em que se encontra.

Stricto iure Direito estrito.

Stricto sensu Entendimento estrito.

Sub censura Sob censura.

Sub conditione Sob condição.

Sub examine Sob exame.

Sub judice Sob julgamento.

Sui generis Especial.

Sui iures Direito próprio.

Summum ius, summa injuria 0 excessivo apego à lei gera injustiça.

Supra Já mencionado acima.

Sursis Suspensão condicional da pena.

Suum cuique tribuere Dar a cada um o que é seu.

TTabula rasa Falta de experiência (tábua rasa).

Tacitum pactum pacto Acordo de consentimento.

Tantundem Outro tanto.

Tempus lugendi Tempo de luto.

Tempus regit actum 0 tempo rege o ato.

Tertius Terceiro.

Tertium genus Nova classificação.

Testes unus testes nullus Uma só testemunha é o mesmo que nenhuma.

Thema probandum Tema a se provar.

Tollitur quaestio Fim da questão.

Tradens Quem transfere uma coisa a outrem.

Turpis causa Causa torpe.

UUbi societas, ibi ius Onde há sociedade estável, há direito.

Ultima ratio Última razão.

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1 3 0 ■ Pa r t e IV — Informações gramaticais

Ultimatum Ultimato.

Ultra Além.

Ultra partes Além das partes.

Ultra petitum Sentença que concede além do pedido do autor.

Ultra vires hereditatis Além do conteúdo da herança.

Ultra vires societatis Além do conteúdo da sociedade.

Una voce Uma voz.

Usque Até.

U sus fori Praxe forense.

Ut infra Como abaixo.

Uti possidetis Posse na forma em que a coisa se encontra.

Uti universi De forma conjunta.

Ut quid? Por que razão?

Ut retro Como atrás mencionado.

Ut singuli De forma singular.

Ut supra Como citado acima.

VVacatio legis Vacância da lei.

Vanum argumentandum Argumento vazio.

Venia permissa Permissão concedida.

Verba iuris Palavras de direito.

Verba legis Palavra da lei.

Verba volant As palavras voam.

Verbi gratia Por exemplo.

Verbo ad verbum Palavra por palavra.

Veredictum Veredicto.

Versus Contra.

Vexata quaestio Questão em debate.

Vinculum iuris Vínculo jurídico.

Vis atractiva Força atrativa.

Vis compulsiva Coação moral.

Vis corporalis Violência física.

Vis maior Força maior.

Vocatio in ius Chamamento a juízo.

Voces inanes Palavras sem sentido.

Volenti non fit injuria A quem consente não se comete injúria.

Vox populi, vox dei A voz do povo é a voz de Deus.

Page 149: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

i n

I INI O EMPREGO DE LETRAS\| CU0 3

u

Os porquês: Por que usamos esses por quês? Ou por que usamos estes porquês?

]. Por que: em frases interrogativas diretas e indiretas ou quando equivalente a 'pelo(s) qual(is)'. Por exemplo:

Por que ele saiu?

Ela quer saber por que ele saiu.A razão por que saímos será esclarecida.

2. Por quê: em final de frase. Por exemplo:Você fez isto por quê?

3. Porque: em frases afirmativas. Por exemplo:Só porque o repreenderam, chorou.

4. Porquê: é substantivo e vem antecedido por artigo. Por exemplo:Você sabe os porquês daquele fato?

Este/esse1. Este: aqui. Por exemplo:

Durante esta semana, quase não dormi.

2. Esse: aí. Por exemplo:Esse ano não me sai da cabeça.

Veja, nos quadros 15.1 e 15.2, o uso dos p ronom es e suas variações para algumas situa­ções mais complexas.

Page 150: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

1 3 2 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Q u a d ro 1 5 .1 Uso do pronome 'este'

'Este' refere-se: ao último elemento citado. Por exemplo: Consultado o diretor, este não aprovou a medida.

ao que se vai anunciar. Por exemplo:A decisão dependerá destes dados que se seguem.

a tempo futuro próximo do momento presente. Por exemplo: A lei deverá ser votada este mês.

Q u a d r o 1 5 .2 Uso do pronome 'esse'

'Esse' refere-se: ao que já se mencionou. Por exemplo: Um dia desses esteve aqui o presidente.

a tempo passado, mas próximo do presente. Por exemplo: Nesse tempo eu era jovem e irresponsável.

a tempo passado distante.Esses argumentos comprovam a tese apresentada.

àquilo de que desejamos distância. Não quero mais pensar nisso!

Uso de -ssãoUsa-se -ssão em todos os substantivos derivados de verbos terminados em -gredir, -mitir

c -ceder.Agredir AgressãoRegredir RegressãoProgredir ProgressãoTransgredir TransgressãoOmitir OmissãoAdmitir AdmissãoPermitir PermissãoTransmitir TransmissãoCeder CessãoSuceder SucessãoConceder Concessão

Uso de -sãoUsa-se -são em todos os substantivos derivados de verbos terminados em -ender, -verter

c -pclir.Tender TensãoCompreender -» CompreensãoApreender Apreensão

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C a p ít u l o 1 5 — O emprego de letras 1 3 3

Pretender PretensãoAscender -* AscensãoVerter VersãoConverter ConversãoSubverter SubversãoExpelir ExpulsãoRepelir Repulsão

Uso de -çãoUsa-se -ção em todos os substantivos derivados dos verbos 'ter', 'torcer' e seus derivados.

Reter RetençãoAter AtençãoAbster AbstençãoObter ObtençãoTorcer TorçãoDistorcer DistorçãoContorcer Contorção

Uso de -isarUsa-sc -isar nos verbos derivados dc palavras que já ten h am a letra 'esse'.

AnáliseAvisoParalisiaPesquisa

AnalisarAvisarParalisarPesquisar

Uso de -izarUsa-sc -izar nos verbos derivados dc palavras que não ten h am a letra 'esse'.

Ameno AmenizarCivil CivilizarLegal LegalizarNormal NormalizarReal RealizarSuave Suavizar

Uso de -sinhoUsa-sc -sinho em todos os diminutivos derivados de palavras que já ten ham a letra 'esse'

em sua sílaba final.LápisMesaPaísTênis

LapisinhoMesinhaPaisinhoTenisinho

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1 3 4 ■ Pa r t e IV — Informações gramaticais

Uso de -zinhoUsa-se -zinho em todos os diminutivos derivados de palavras que não tenham a letra

'esse' em sua sílaba final.Animal CaféFlor 4Pai Papel Pão

Verbos 'usar', 'pôr' e 'querer'Esses verbos não têm formas com a letra 'zê': usei, pusem os, quisemos.

Verbos terminados em -uirEsses verbos geralmente são grafados com a letra 'i': contribuir/contribui, possuir/possui.

Verbos terminados em -uar e -oarEsses verbos são norm alm ente grafados com 'e ': co n t inu a r /co n tinu e , e fe tuar/efe tue .

Verbos terminados em -earPara esses verbos, acrescenta-se 1 ' após a vogal 'e ' tônica: eu passeio (vogal tônica)/nós

passeamos (vogal átona).

Verbos terminados em -iarEsses verbos, quando regulares, são conjugados da seguinte forma: copiar/copio. São

exceções aqueles que pertencem ao cham ado 'g rupo do Mário': mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar. Nestes casos, acrescenta-se 'e ' antes do 'i' que seria tônico. Por exemplo: eu odeio (sc fosse regular, seria 'eu od io ') /nós odiamos (vogal tônica).

Verbos 'ter' e 'vir'Esses verbos são conjugados da seguinte forma: ele tem/eles têm, ele vem/eles vêm.

Verbos 'crer', 'dar', 'ler' e 'ver'São conjugados assim: ele crê/eles crêem, que ele dê /que eles dêem, ele lê/eles lêem, ele

vê/eles vêem.

Verbos 'obter', 'conter' e 'deter'Sua conjugação acontece da seguinte maneira: ele obtém/eles obtêm, ele contém/eles

contêm, ele detém /eles detêm.

AnimalzinhoCafezinhoFlorzinhaPaizinhoPapelzinhoPãozinho

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C a p ít u l o 15 — O emprego de letras 1 3 5

Uso das iniciais maiúsculas1. No início do período.2. Nas datas oficiais e nom es de fatos históricos, atos solenes e grandes em preend im en­

tos públicos, como Sete de Setembro, Revolução Francesa, Acordo Luso-Brasileiro, Plano Diretor etc.

3. Nos títulos de livros, artigos, jornais, peças teatrais etc., como Os sertões, Jorn al da Tar­de, Guernica etc.

4. Nas leis ou norm as econômicas e políticas consagradas por sua importância, como Imposto de Renda, Decreto-Lei n2 56 etc.

5. Nos nom es de vias ou logradouros públicos, estabelecimentos, igrejas, m onum en tos etc., como Rua do Ouvidor, Torre Eiffel, Shopping Ccntcr Iguatemi etc.

6. Nos nomes que designam altos cargos, como Governador do Estado, Ministro da Edu­cação etc.

7. Nos títulos e p ronom es de tra tam ento e suas abreviaturas, como Vossa Senhoria, V. Sâ etc.

8. Nos nom es dc instituições c repartições, como Ministério da Educação, Diretoria- Gcral etc.

Uso da inicial minúscula1. Depois da vírgula, do ponto-e-vírgula e dos dois pontos. Por exemplo:

Ele fez uma paródia: vim, vi e venci; ela riu.

Observação: na correspondência empresarial, os critérios são diferentes. Numa car­ta, por exemplo, o vocativo vem seguido de vírgula e o parágrafo inicial começa por letra maiúscula. No correio eletrônico, o uso da maiúscula ou da minúscula no início do texto, após o vocativo, seguirá o critério de m aior ou m enor formalidade da cor­respondência.

2. Na designação das profissões c dos ocupantes dc cargos, seguidos de especificação ou nom e próprio, como o presidente Luís Inácio Lula da Silva, o prefeito César Maia, o diretor da Receita Federal etc.

Siglas: uso e pluralAs siglas até quatro letras devem vir obrigatoriamente em maiúsculas.As siglas formadas pelas letras iniciais das palavras que a compõem são chamadas de

'siglas próprias', enquan to as demais são denom inadas dc 'siglas impróprias'. Por exemplo: UFRJ/Universidade Federal do Rio de Janeiro (sigla própria), Petrobrás/Petróleo BrasileiroS. A. (sigla imprópria).

No texto, as siglas já conhecidas do leitor dispensam explicitação. As que não são co­nhecidas devem vir por extenso, seguidas da sigla. Na referência posterior, no m esm o texto, deve aparecer som ente a sigla.

O plural das siglas faz-se acrescentando-se um 'esse', sem colocação de apóstrofo, por exemplo: UFIRs, NFs.

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1 3 6 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Unidades de medida e hora1. Símbolos de unidade de medida: escrevem-se sem ponto, com letra minúscula,

sem 'esse' para indicar o plural e, de preferência, im ediatam ente após o núm ero . Por exemplo: lOcm, lOOkg, 2 h l5 m in .

2. Hora: há duas possibilidades dc escrita:a) Seguindo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Por exemplo:

14h30min.b) Seguindo o padrão norte-americano. Por exemplo: 14:30hObservação 1: não há ponto final depois da letra 'agá', pois ela é u m símbolo. Observação 2: quando nos referimos a um tem po determ inado de duração, devemos escrever a palavra 'horas ' e não usar o símbolo. Por exemplo:

A duração da reunião é de duas horas.

Formas de tratamentoVeja os quadros 15.3, 15.4 c 15.5 para verificar as formas dc tra tam entos a autoridades

de Estado, judiciárias e militares rcspcctivamcnte.

Q u a d ro 1 5 ,3 Formas de tratamento para autoridades de Estado

Autoridades de Estado Por escrito Pessoalmente Abreviatura

Presidente da República, senadores, ministros, governadores, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos, embaixadores, vereadores

ExcelentíssimoSenhor

Vossa Excelência V. Exa.

Cônsules Senhor Cônsul Vossa Excelência V. Exa.

Reitores de universidade MagníficoReitor

VossaMagnificência

V. M.

Chefes das Casas Civis e Casas Militares ExcelentíssimoSenhor

Vossa Excelência V. Exa.

Diretores de autarquias federais, estaduais e municipais

Senhor Diretor Vossa Senhoria V. S*

Q u a d ro 1 5 .4 Formas de tratamento para autoridades judiciárias

Autoridades judiciárias Por escrito Pessoalmente Abreviatura

Desembargador da justiça Excelentíssimo Senhor Desembargador

Vossa Excelência V. Exa.

Juizes de direito Excelentíssimo Senhor Juiz

Meritíssimo Juiz M. Juiz

Curador Excelentíssimo Senhor Curador

Vossa Excelência V. Exa.

Promotor Excelentíssimo Senhor Promotor

Vossa Excelência V. Exa.

Page 155: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

Capítulo 15 — O emprego de letras D 1 3 7

Q u a d ro 1 5 .5 Formas de tratamento para autoridades militares

Autoridades militares Por escrito Pessoalmente AbreviaturaOficiais de coronéis até generais Excelentíssimo Senhor Vossa Excelência V. Exa.

Outras patentes Senhor Vossa Senhoria V. Sa

Page 156: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

O3vtJacaU

GRAFIA E SIGNIFICADO

Há expressões que tradicionalm ente m u d a m dc significado sc escritas dc m aneira d i­ferente. Por exemplo: o significado de 'a baixo' (assim m esm o, escrito separadam ente) implica idéia de m ovim ento , e n q u an to 'abaixo ' (escrito jun to ) traz idéia de posição fixa. Por exemplo:

Ele a oliiou de alto a baixo.

Ele ficou abaixo de mim na classificação.

Apresentaremos a seguir um a lista de palavras e expressões, por ordem alfabética, a fim de dim inuir as incertezas que reinam nesse terreno tão delicado.

A/há1. A: não pode ser substituído por tem. Por exemplo:

Daqui a pouco serão três horas.

2. Há: terceira pessoa do singular do verbo 'haver'; pode ser substituído por 'tem '. Por exemplo:

Há (tem) três anos que não o vejo.

Abaixo/a baixo1. Abaixo: um lugar de m en o r importância. Por exemplo:

Ele está abaixo de mim.2. A baixo: substitui-se por "até em baixo". Por exemplo:

Olhou-me de alto a baixo.

À beça/à bessa1. À beça: expressão popular dc intensidade. Por exemplo:

Ela está feliz à beça.

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C a p í t u l o 16 — Grafia e significado 1 3 9

2. À bessa: expressão errada.

Acerca de/a cerca de/há cerca de1. Acerca de: pode ser substituído por 'sobre'. Por exemplo:

Ele falou acerca do filme.

2. A cerca de: pode ser substituído por 'aprox im adam ente '. Por exemplo:0 sítio fica a cerca de dez quilômetros.

3. Há cerca de: pode ser substituído por ' tem aproxim adam ente '. Por exemplo:Estive lá há cerca de dez dias.

Observação 1: Cuidado. Usa-se "cerca de 90 pessoas", mas não se usa "cerca de 93 pes­soas". Como a expressão envolve a idéia de núm ero aproximado, não se deve defini-lo com precisão.Observação 2: Faça a concordância correta. Por exemplo:

Cerca de 50 pessoas compareceram.Acima/a cima

1. Acima: um lugar de importância. Por exemplo:Ele está acima de mim.

2. A cima: substitui-se por "até em cima". Por exemplo:Eles correram rua a cima.

A fim de/afim1. A fim de: idéia de finalidade. Por exemplo:

Ele adotou a medida afim de ser popular.Ele está a fim dela.

2. Afim: idéia de afinidade. Por exemplo:Nossa idéia de gestão é afim.

A folha/a folhas/às folhas/à folhas1. A folha/à folha/a folhas: expressões indicadoras de página única. Por exemplo:

O despacho está a folha 21.O despacho está à folha 21.O despacho está a folhas 32.

2. Às folhas: expressão indicadora de páginas múltiplas. Por exemplo:As declarações estão às folhas 21 a 32.

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1 4 0 Pa r t e IV — Informações gramaticais

3. À fo lh as : expressão errada.

À medida que/à medida em que/na medida em que1. À medida que: relação de proporção. Por exemplo:

Ele cresce profissionalmente a medida que amadurece.

2. À medida em que: expressão errada.3. Na medida em que: muitos gramáticos não aceitam essa expressão; alguns a acei­

tam na relação de causa. Por exemplo:Ele será promovido na medida em que saiba comportar-se.

A meu ver/em meu ver/ao meu ver1. A meu ver: corresponde a "na m inha opinião". Por exemplo:

A meu ver, a crise acabará logo.

2. Em meu ver: tam bém corresponde a "na m inha opinião".Em meu ver, a crise acabará logo.

3. Ao m eu ver: expressão errada.

A nível de/em nível de1. A nível de: expressão errada.2. Em nível de: refere-se a níveis hierárquicos. Por exemplo:

A decisão fo i tomada em nível de diretoria.

Portanto, não esqueça: jamais íale ou escreva 'a nível de'. Q uando se tratar de hierar­quia, você deve usar 'em nível de ' e, em outros contextos, substitua por outras expressões, como:

Em termos de Brasil, podemos afirmar que o projeto é inovador.No âmbito empresarial, podemos concluir que as medidas foram irrelevantes.

Aonde/ondeAmbos referem-se a lu g a r ' , mas se distinguem pela regência verbal. Por exemplo:

Ele procurou o livro onde o guardou. (Significa "procurar em algum lugar".)Ele iria aonde o amigo fosse. (Significa "ir a algum lugar".)

A par/ao par1. A par: estar ciente. Por exemplo:

Todos estavam a par do que acontecia.

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C a p í t u l o 16 — Grafia e significado 1 4 1

2. Ao par: relação dc rcciprocidadc relativa a câmbio c a ações. Por exemplo:Houve época em que o câmbio da moeda brasileira com o dólar esteve ao par.

A ponto de/ao ponto de1. A ponto de: significa 'prestes a '. Por exemplo:

O lucro da empresa a posiciona a ponto de ocupar os primeiros lugares.

2. Ao ponto de: expressão errada.

A rigor/em rigorAs duas formas estão corretas. Por exemplo:

A rigor, as medidas não estão corretas.Em rigor, as medidas não estão corretas.

A todo momento/a todo o momento]. A todo o momento: igual a 'sempre '. Por exemplo:

As crianças querem presentes a todo o momento.

2. A todo momento: expressão errada.

Muito cuidado com as expressões que contem a palavra 'todo': sempre há o artigo. Observe:

Elas comem a todo o instante.Os garotos correm a toda a velocidade.Ele transmite confiança a toda a hora.Em todo o caso, optamos pela segunda opção.Todo o mundo aprovou a decisão.

Alerta: Se a palavra 'todo' não constituir expressão, não é obrigatório o uso do artigo: Todo presidente deve ser honesto.

Bem-vindo/Benvindo1. Bem-vindo: reccpção dc boas vindas.

Todos são bem-vindos.

2. Benvindo: nom e de pessoa. Por exemplo:Benvindo Siqueira é ótimo ator.

De férias/em fériasTanto faz usar a preposição 'dc ' ou a preposição 'cm ':

Ele saiu de férias.Ele saiu em férias.

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1 4 2 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Em face de/face a1. Em face de: em decorrência de algo. Por exemplo:

Em face do exposto, solicitamos sua aprovação.

2. Face a: expressão errada.

Em mão/em mãos1. Em mão: m aneira de entregar ou receber algo. Por exemplo:

0 convite fo i entregue em mão.

2. Em mãos: expressão errada.

Em todo o caso/em todo caso1. Em todo o caso: expressão que designa concessão. Por exemplo:

Em todo o caso, solicitaremos o reembolso.

2. Em todo caso: expressão errada.

Grosso modo/a grosso modo1. Grosso modo: expressão latina de modo. Por exemplo:

Grosso modo, podemos dizer que a inflação voltou.

2. A grosso modo: expressão errada.

No meu ponto de vista/sob meu ponto de vista1. No (em) meu ponto de vista: expressão que designa opinião pessoal. Por exemplo:

No (Em) meu ponto de vista, a decisão da diretoria fo i equivocada.

2. Sob meu ponto de vista: expressão errada.

Pagamento a maior/pagamento a menor1. Pagamento a maior: não existe.2. Pagamento a menor: não existe.Observação: As maneiras corretas são "pagamento m aior do que o devido" ou "paga­m ento m enor do que o devido".

Percentagem/porcentagemAs duas formas são corretas. Por exemplo:

A percentagem de faltas fo i de 10%.

A porcentagem de faltas fo i de 10%.

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C a p í t u l o 16 — Grafia e significado 1 4 3

Por toda a parte/por toda parte1. Por toda a parte: expressão de lugar. Por exemplo:

Os documentos estão por toda a parte.

2. Por toda parte: expressão errada.

Ter de/ter queAs duas formas são corretas. Por exemplo:

Eles têm de analisar o processo.

Eles têm que analisar o processo.

Toda ou todo/toda a ou todo o] . Toda ou todo: corresponde a 'qualquer '. Por exemplo:

Toda documentação deve estar assinada pelo responsável.

2. Toda a ou todo o: corresponde a 'inteira(o)'. Por exemplo: Toda a documentação deve constar do processo.

Toda vez que/toda vez em que1. Toda vez que: igual a 'sempre '. Por exemplo:

Toda vez que ele saif chove.

2. Toda vez em que: expressão errada.

Ver/vir1. Ver: o futuro do subjuntivo é 'vir'. Por exemplo:

Quando eu vir seu marido, lhe telefono.

Quando você vir meu marido, me telefone.

2. Vir: o futuro do subjuntivo é 'vier'. Por exemplo:Quando eu vier de Paris, lhe telefono.Quando você vier de Paris, me telefone.

Viger/vigir1. Viger: estar em vigência. Por exemplo:

0 contrato deverá viger até dezembro de 2002.

2. Vigir: expressão errada.

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Capít

ulo lllll REGRAS BÁSICAS DE ACENTUAÇÃO

Regras de acentuação1. As 'oxítonas ' terminadas em -a(s), -e(s), -o(s), -em e -ens são acentuadas. Por ex em ­

plo: cajá, cajás, café, cafés, c ipó, c ipós, ta m b é m , pa rabéns . Atenção a casos como: am á-lo , vendê-lo , com pô-lo , parti-lo. Lembre-se dc que oxítonas são aquelas pala­vras cuja a sílaba tônica é a última. Veja, a seguir, algumas oxítonas interessantes.

Balcãs cateter condor Eifel hangar harémNobel recém refém ruim transistor Timor

2. As 'paroxítonas ' terminadas cm -a(s), -e(s), -o(s), -em e -ens não são acentuadas (todas as outras terminações são acentuadas). Por exemplo: casa, casas, pele, peles, copo, copos, item, itens, fácil, éter, abdômen, tórax, bílis, ônus, bíceps, álbum, sótão, túneis. Lembre-se de que paroxítonas são aquelas palavras cuja sílaba tônica é a penúltima. Algumas paroxítonas interessantes podem ser vistas a seguir.âmbar avaro aziago boêmia cateteres circuitodecano dúplex estratégia filantropo fluido fortuitogratuito ibero látex libido pudico rubricaruína safári sótão transistores tulipa xérox

3. Todas as 'proparoxítonas' são acentuadas. Por exemplo: cédula, êxtase, ídolo, í n te ­rim. Lembre-se de que proparoxítonas são as palavras cuja sílaba tônica é a an tepe ­núltima. Veja, a seguir, algumas proparoxítonas interessantes:elétrodo alíquota aríete biótipo habita ínterimmonólito pântano pátena pólipo protótipo réquiem

Atenção: as palavras de origem latina não são acentuadas. Por exemplo: habitat. Hoje em dia, en tre tanto, já encontram os legitimados pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa alguns termos, como 'superávit ' e 'déficit', ambas com acento.

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C a p í t u l o 17 — Regras básicas de acentuação | 1 4 5

4. Os 'monossílabos tônicos' terminados em -a(s), -c(s), -o(s), -em c -ens são acen tua­dos. Por exemplo: má, más, pé, pés, pó, pós.

5. Os 'ditongos abertos ' são acentuados. Por exemplo: jóia, idéia, chapéu .6. A 'segunda vogal do hiato', se for 'Y ou 'u ' , será acentuada se vier sozinha na sílaba ou

se for seguida de 'esse'. Por exemplo: sa ída , ju ízo , je su í ta , saú d e , r e ú n e m , egoísm o, saístes, constru í-lo . Se a letra 'i ' ou 'u ' for seguida de 'n h ' , a palavra não é acentuada. Por exemplo: rainha.

Acento diferencialNa língua portuguesa, algumas palavras não seguem as tradicionais regras de acen tua­

ção, mas m esm o assim são acentuadas. Isto se justifica pelo fato de o acento servir para estabelecer diferenças importantes para o en tend im ento daquilo que escrevemos.

Antes dc 1971, havia sempre o acento para diferenciar palavras como 'eu acordo' (do verbo 'acordar') e o 'acôrdo' (substantivo). Por isso é que antes se escrevia 'êle', com acen­to, para diferenciar da letra 'ele'.

Mas esses acentos caíram. Veja, no Quadro 17.1., os únicos acentos diferenciais que ainda são utilizados:

Q u a d r o 1 7 .1 Acentos diferenciais da língua portuguesa

Pôde (verbo no pretérito) Pode (verbo no presente)

Pôr(verbo) Por (preposição)

Pára (verbo) Para (preposição)

(ele) côa, (tu) côas coa, coas (preposição 'com' + artigo 'a': arcaico)

Pêlo, pêlos (substantivo), pélo (verbo) Pelos, pelos (preposição 'per' + artigo 'o')

Péla, pélas (substantivo) Pela, pelas (preposição 'per' + artigo 'a')

Pôla, pôlas, póla, pólas (substantivo) Pola, polas (preposição 'por' + artigo 'a': arcaico)

Pólo, pólos (substantivo) Polo, polos (preposição 'por' + 'o': arcaico)

Pêra (substantivo) Pera (igual à preposição 'para': arcaico)

Uso do tremaAtenção: o trema ainda não caiu! Ele só é usado nas seqüências 'gue', 'gui', 'que ' e 'qui'

quando o 'u ' é pronunciado. Veja, no Quadro 17.2, as orientações às quais o trema obedece.

Q u a d r o 1 7 .2 Orientações para o uso do trema

V pronunciado = 'ü' agüenta, lingüiça, cinqüenta

'u' tônico = 'ú' (ele) argúi, (tu) averigúes

'ü' + vogal = sem acento (eu) argüi, argüido

Page 164: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

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PALAVRAS HOMONIMAS E PARÔNIMAS

Outro perigo na comunicação c o equívoco provocado por palavras semelhantes, como é o caso dos parônimos (palavras parecidas, mas com sentidos diferentes) e dos h om ô n i­mos (iguais na grafia ou na pronúncia, mas com significados diferentes). Atualmente, por exemplo, estamos tão acostumados com várias formas erradas que há o risco de se corrigir a correta, quando ela é empregada. Por exemplo:

Dirigiu-se ao bebedor para matar a sede. (Não é 'bebedor', é 'bebedouro'.)Eles tiveram uma ótima estadia em Recife. (Não é 'estadia', é 'estada'.)

Convém destacar alguns parônimos e hom ônim os, como os que estão no Quadro 18.1.

Q u a d ro 18.1 Homônimos e parônimos

Acedente 0 que acede, que concorda.

Acidente Choque, colisão; forma geográfica.

Incidente Desavença, desentendimento; o que incide.

Acender Ligar, inflamar, acionar.

Ascender Subir, elevar-se.

Acento Inflexão de voz; sinal gráfico.

Assento Lugar ou móvel onde sentamos.

Acerto Combinação, ajuste; forma correta.

Asserto Afirmação, assertiva.

Acessório Dispensável, secundário.

Assessor Que assessora.

Apreçar Avaliar, dar preço.

Apressar Apurar, acelerar.

Arrear Colocar os arreios no animal.

Arriar Baixar, descer.

Atuar Agir, representar.

Page 165: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

C a p í t u l o 18 — Palavras homônimas e parônimas | 1 4 7

Autuar Processar, lavrar os autos.

Boça Cabo de atracação (náutica).

Bossa Aptidão, jeito.

Boçal Rude, grosseiro, mal-educado.

Buçal Focinheira.

Bucho Estômago dos mamíferos e dos peixes; mulher muito feia.

Buxo Arbusto ornamental.

Caçar Perseguir, capturar animais.

Cassar Anular, tornar sem efeito.

Cadafalso Patíbulo, lugar de execução.

Catafalco Estrado metálico que sustenta o caixão fúnebre.

Censo Levantamento estatístico; recenseamento.

Senso Juízo, razão.

Cessão Doação, ato de ceder, entregar.

Sessão Reunião; tempo de duração da atividade pública.

Seção Parte, repartição, divisão; forma antiga; seção.

Chá Planta, bebida, infusão.

Xá Título hierárquico, soberano do Irã.

Chácara Sítio, granja.

Xácara Forma narrativa em verso (popular).

Cheque Ordem bancária de pagamento.

Xeque Seqüência no jogo de xadrez; chefe árabe.

Comprimento Extensão em linha, distância.

Cumprimento Saudação, aceno; ato de cumprir.

Concertar Combinar, harmonizar (música).

Consertar Reparar, emendar.

Conjetura Suposição, hipótese.

Conjuntura Situação, conjunto de circunstâncias.

Coser Costurar.

Cozer Cozinhar.

Costear Navegar próximo ao litoral.

Custear Arcar com as despesas.

Deferir Conceder, aprovar.

Diferir Adiar, transferir; diferenciar.

Degradar Aviltar, rebaixar, humilhar.

Degredar Banir, exilar.

Descrição Ato de descrever.

Discrição Qualidade do que é discreto; reserva.

Page 166: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

1 4 8 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Descriminar Absolver, inocentar, tirara culpa.

Discriminar Separar, discernir, distinguir.

Despensa Lugar onde se guardam as provisões.

Dispensa Ato de dispensar, isenção.

Dessecar Enxugar completamente.

Dissecar Cortar, dividir em partes, examinar.

Emergir Vir à tona, elevar-se.

Imergir Afundar, submergir.

Emigrar Sair de, abandonar um país ou região.

Imigrar Entrar em, ingressar em um país ou região.

Eminente Elevado; importante, destacado.

Iminente Prestes a ocorrer, próximo, imediato.

Esperto Astucioso, vivo, sagaz.

Experto Experiente, perito.

Estático Firme, imóvel, parado.

Extático Deslumbrado, em êxtase.

Flagrante Evidente, manifesto; no ato.

Fragrante Aromático, perfumado.

Incerto Vago, impreciso, duvidoso.

Inserto Inserido, introduzido.

Incipiente Iniciante, principiante.

Insipiente Ignorante, insensato.

Indefeso Sem defesa, vulnerável.

Indefesso Infatigável, laborioso.

Infligir Aplicar (pena, castigo); submeter.

Infringir Transgredir, violar, desrespeitar.

Inerme Desprotegido, sem defesa.

Inerte Imóvel, desacordado.

Intercessão Ato de interceder, intervir.

Interseção Corte, ponto de cruzamento.

Mandado Ordem judicial; ato de mandar.

Mandato Autorização ou procuração; delegação.

Óptico Relativo à visão.

Ótico Relativo ao ouvido (relativo a otite).

Pleito Competição, disputa.

Preito Homenagem, louvor.

Prescrever Determinar, fixar; reafirmar.

Proscrever Proibir, condenar, banir.

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C a p í t u l o 18 — Palavras homônimas e parônimas | 1 4 9

Prescrito Determinado, fixado.

Proscrito Banido, fora-da-lei.

Ratificar Confirmar, manter, reafirmar.

Retificar Corrigir, emendar, alterar.

Sortir Abastecer, fazer sortimento.

Surtir Resultar, fazer efeito.

Tachar Censurar, notar defeito.

Taxar Estabelecer taxas.

Tráfico Comércio ilícito, contrabando.

Tráfego Trânsito, circulação, movimento.

Vadear Passar a vau, cruzar o rio.

Vadiar Vagabundear.

Vultoso Volumoso, importante.

Vultuoso Inchado, dilatado.

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I III USO DO HÍFEN\ r - H&(uU

As regras do uso do hífen são bem variadas e m uito difíceis de serem memorizadas. Deve sempre prevalecer a consulta a um bom dicionário ou gramática se houver dúvida, pois há m uitas exceções, m esm o nas regras.

Regra geralO hífen só será usado antes de vogal, 'agá', 'e rre ' e 'esse', a depender do prefixo que

antecede o radical. Veja, 110 Quadro 19.1, os prefixos que exigem hífen antes das letras marcadas.

Q u a d ro 19.1 Esquema do uso do hífen

Prefixos Vogal H R sAb- X

Ad- X

Ante- X X X

Anti- X X X

Arqui- x X X X

Auto- x X X X

Circum- X X

Contra- x X X X

Extra-* X X X X

Hiper- X X

Infra- X X X X

Inter-* X X

Intra- X X X X

Mal- X X

Neo- X X X X

Nuper- X X X X

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C a p í t u l o 19 — Uso do h íf e n 1 1 5 1

Prefixos Vogal H R sOb- X

Pan-* x X

Proto- X X X X

Pseudo- X X X X

Semi- X X X X

Sob- X

Sobre-* X X X

Sub-* X X

Super- X X

Supra- X X X X

Ultra- X X X X

* Exceções: extraordinário, interregno, sobressair ou sobre-sair, sobressalente, sobressaltar ou sobre-sal- tar, sobressalto ou sobre-salto, sub-base, sub-bibliotecário, sub-b.

Prefixos que exigem hífen antes de qualquer letraOs prefixos que exigem hífen antes dc qualquer letra são: além-, aquém -, bem-, co-**,

ex-, pára-, pós-, pré-, pró-, recém-, sem-** e vice-.** Exceções: coabitar, coadquirir, coatividade, coeficiente, coessência, coestado, coexis­

tir, coirmão, colateral, comutar, coobrigar, cooperar, coordenar, correlato, correligionário, sensabor.

Observação: Um dos aspectos mais im portantes com relação ao hífen diz respeito a palavras que são formadas sem os prefixos acima. São palavras compostas, hom ônim as a expressões. Por exemplo:

O sem-terra ocupou a fazenda.Ele está sem terra fértil.

Regra para diferenciar palavras compostasSe cada palavra m antiver seu significado individual, não há hífen; se as palavras se u n i ­

rem para criar u m outro significado, há hífen. Por exemplo:A comida estava sem sal.Ela conheceu um rapaz rico, porém sem-sal.

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GENERO DAS PALAVRAS

Regra geral de formação do femininoPara formar o feminino, em geral, acrescenta-se -a, -isa ou -esa à palavra que está no

masculino. Por exemplo: pin tor/p in tora, poeta /poetisa , príncipe/princesa.

Tipos especiais1. Comum de dois: os dois gêneros (masculino e feminino) são definidos apenas pelo

artigo. Por exemplo: o artista/a artista, o agen te /a agente, o am an te /a am ante , o burocra ta /a burocrata, o cliente/a cliente, o doen te /a doente, o geren te /a gerente, o hóspcdc/a hóspede, o im igrante/a imigrante, o in térpre te /a intérprete, o persona­gem /a personagem, o presidente/a presidente.

2. Sobrecomum: forma igual para os dois gêneros (masculino e feminino). Por e x e m ­plo: a criança.

3. Epiceno: as palavras 'm acho ' ou 'fêm ea ' definem o sexo do animal. Por exemplo: cobra macho/cobra fêmea.

4. Heterônimo: formas diferentes para o feminino c o masculino. Por exemplo: hom em /m ulher .

Significados diferentes e forma igualAlguns substantivos são iguais, mas a colocação do artigo (feminino ou masculino) d e ­

termina significados diferentes. Por exemplo: o cabeça (o líder)/a cabeça (parte do corpo), o cólera (doença infecciosa)/a cólera (a raiva).

Palavras usadas só no masculinoAlgumas palavras só têm o gênero masculino. Por exemplo: o amálgama, o estigma, o

quilograma, o apêndice, o êxtase, o saca-rolha, o cham panha, o grama (peso), o cônjuge, o guaraná, o suéter, o contralto, o hem atom a, o telefonema, o dó, o herpes, o trema, o eclip­se, o plasma, o vernissage, o eczema, o proclama.

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C a p í t u l o 2 0 — Gênero das palavras ] 1 5 3

Palavras usadas só no femininoOutras palavras, por sua vez, só possuem gênero feminino. Por exemplo: a acne, a cal, a

libido, a agravante, a dinamite, a mascote, a aguardente, a echarpe, a matinê, a alcunha, a ênfase, a omelete, a alface, a entorse, a omoplata, a análise, a ferrugem, a pane, a apend i­cite, a gênese, a sentinela, a avelã, a grama (mato).

O gênero e as siglasAs siglas que se usam como nom e próprio tem o gênero da primeira palavra que as com ­

põe. Por exemplo:O BNDES tem financiado bons projetos. (Banco Nacional de Desenvolvimento Social.)A CEG aumentou novamente o preço do gás. (Companhia Estadual de Gás.)

Concordância com a palavra 'milhão'Como a palavra milhão é masculina, os num erais e p ronom es que a acom panham vêm

sempre no masculino. Por exemplo:Dois milhões de cartas foram respondidas.Muitos milhões de pessoas foram surpreendidas com o ataque.

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| III PLURAL DOS NOMES È COMPOSTOS

Substantivos1. Variam os dois e lementos quando o substantivo é composto de:

a) substantivo + substantivo. Por exemplo: couve-flor/couves-flores.b) substantivo + adjetivo. Por exemplo: amor-perfeito/amores-perfeitos.c) adjetivo + substantivo. Por exemplo: boa-vida/boas-vidas.

2. Varia apenas o segundo e lem ento quando:a) o primeiro e lem ento é um a palavra invariável ou um verbo. Por exemplo: abai-

xo-assinado/abaixo-assinados, vira-lata/vira-latas.b) o substantivo é composto de palavras repetidas ou onomatopaicas. Por exemplo:

tico-tico/tico-ticos.3. Varia apenas o primeiro e lem ento quando os elementos estão ligados por preposição.

Por exemplo: água-de-colônia/águas-de-colônia, pé-de-galinha/pés-de-galinha.

Adjetivos1. Como regra geral, ocorre variação apenas no segundo elemento. Por exemplo: ques­

tão luso-brasileira/questões luso-brasileiras.2. Atenção, porem, para alguns casos cm que não ocorre variação dc n úm ero nem de

gênero, como:a) o dos adjetivos compostos de u m nom e de cor + substantivo. Por exemplo: olho

verde-m ar/o lhos verde-mar, chapéu am arelo-ouro/chapéus am arelo-ouro.b) o dos adjetivos 'azu l-m arinho ' e 'azul-celeste'. Por exemplo: terno azul-m arinho/

ternos azuis-marinhos.c) o das locuções adjetivas formadas pela expressão "cor + de + substantivo". Por

exemplo: blusa cor-de-rosa/blusas cor-de-rosa.

Observação 1: Os substantivos que se referem a cores, quando empregados em função adjetiva, perm anecem invariáveis. Por exemplo: meia cinza/meias cinza, blusa gelo/blu­sas gelo, chapéu pérola/chapéus pérola.

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C a p í t u l o 21 — Plural d o s n o m e s c o m p o s t o s ■ 1 5 5

Observação 2: O adjetivo 'su rdo-m udo ' foge à regra: variam os dois elementos. Por exemplo: garoto surdo-m udo/garotos surdos-mudos.Observação 3: Verbos repetidos: ambos variam ou só o segundo. Por exemplo: o corre- corre/os corre(s)-corres.Observação 4: Verbos antônimos: n e n h u m varia. Por exemplo: o leva-e-traz/os leva- e-traz.

Page 174: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

1 llll VARIAÇÕES DO ADJETIVOE t

Vimos an terio rm ente que a escrita formal tem a preocupação dc seguir a norma culta vigente. Além disso, tam bém enfatizamos a relação proporcional en tre o vocabulário de uma pessoa e sua capacidade de expressão.

Assim, apresentam os a seguir um a listagem que poderá auxiliá-lo na produção de uma linguagem elegante. Não se esqueça, en tre tanto , de que a clareza é tam bém uma qualidade nas peças jurídicas.

Adjetivos superlativos AÁgil agílimo.

Agradável agradabilíssimo.

Agudo acutíssimo.

Amargo amaríssimo.

Amável amabilíssimo.Amigo amicíssimo.

Antigo antiqüíssimo.Áspero aspérrimo.Atroz atrocíssimo.

Audaz audacíssimo.

BBenéfico beneficentíssimo.

Benévolo benevolentíssimo.

CCapaz capacíssimo.

Célebre celebérrimo.

Cristão cristianíssimo.

Cruel crudelíssimo.

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C a p í t u l o 2 2 — Variações do adjetivo ■ 1 5 7

DDifícil dificílimo.

Doce dulcíssimo.

EEficaz eficacíssimo.

FFácil facílimo.

Feroz ferocíssimo.

Fiel fidelíssimo.

Frágil fragílimo.

Frio frigidíssimo.

GGeral generalíssimo.

HHumilde humílimo.

IIncrível incredibilíssimo.

Inimigo inimicíssimo.

íntegro integérrimo.

JJovem juveníssimo.

LLivre libérrimo.

MMagnífico magnificentíssimo.

Magro macérrimOé

Manso mansuetíssimo.

Miserável miserabilíssimo.

Miúdo minutíssimo.

NNegro nigérrimo.

Nobre nobilíssimo.

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P

1 5 8 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Pessoal personalíssimo.

Pobre paupérrimo.

Preguiçoso pigérrimo.

Pródigo prodigalíssimo.

Próspero prospérrimo.

Provável probabilíssimo.

Público publicíssimo.

RRústico rusticíssimo.

SSábio sapientíssimo.

Sagrado sacratíssimo.

Salubre salubérrimo.

Semelhante simílimo.

Sensível sensibilíssimo.

Simpático simpaticíssimo.

Simples simplicíssimo.

Soberbo superbíssimo.

TTenaz tenacíssimo.

Terrível terribilíssimo.

Tétrico tetérrimo.

VVeloz velocíssimo.

Visível visibilíssimo.

Voraz voracíssimo.

Vulnerável vulnerabilíssimo.

Locuções adjetivas ADistância de abism o distância abissal.Sentença de absolvição sentença absolutória.Voracidade de abutre voracidade vulturina .Teor de açúcar teor sacarino.

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C a p í t u l o 2 2 — Variações do adjetivo 1 5 9

Tempos de adão tempos adâmicos.Honorários de advogado honorários advocatícios.Planta da água planta aquática.Olhos de águia olhos aquilinos.Estados da alma estados anímicos.Reivindicação de aluno reivindicação discente.Cenas de a m o r cenas eróticas.Plantações sem elhantes a anel plantações anelares.Doçura de anjo doçura angelical.Poder de aquisição poder aquisitivo.Poder de arcebispo poder arquiepiscopal.Soldados sem arm as soldados inerm es.Praga de árvore praga arbórea.Animal de asas animal alado.

Teimosia de asno teimosia asinina.Brilho dos astros brilho sideral.Hábitos de ave de rapina hábitos acipitrinos.

BHomem sem barba homem im berbe.Mal da bexiga mal vesical.Paço do bispo paço episcopal.Papel de bobo papel truanesco.Força de boi força bovina.Asas de borboleta asas papilionáceas.Osso do braço osso braquial.

CMassa da cabeça massa cefálica.Tônico do cabelo tônico capilar.Leite de cabra leite caprino.Apetrechos de caça apetrechos venatórios.Vida no cam po vida agreste ou cam pestre.Plantação de cana plantação arundinácea.Época de Carlos Magno época carolíngia.Pele de carneiro pele arietina.Prisão em casa prisão dom iciliar.Festas de casam ento festas conjugais.Estátua de cavalo estátua eqüestre.Gripe de cavalo gripe eqüina.

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1 6 0 Pa r t e IV — Informações gramaticais

Corpo em cham as: corpo flam ejante.Líquido sem cheiro líquido inodoro.Vontade de chum bo: vontade plúm bea.Águas da chuva: águas pluviais.Perímetro da cidade: perímetro urbano.Material de cobre material cúprico.Nuvem sem elhante a cogum elo nuvem fungiform e.Paz de convento paz m onástica ou monacal.Ataque do coração ataque cardíaco.Amigo do coração amigo cordial.Região da costa região costeira.Dores nas costas dores lom bares.Arte de cozinha arte culinária.Homem sem crença homem incrédulo.Atitudes de criança atitudes infantis ou pueris.Terra sem cultura terra árida, inculta ou estéril.

DEspetáculo de dança espetáculo coreográfico.Impressões de dedo impressões digitais.Teorema de descartes teorema cartesiano.Atitudes do diabo atitudes diabólicas.Brilho de diam ante brilho adam antino.Bens em dinheiro bens pecuniários.Obra de direito obra juríd ica.

ETrabalho de escravo trabalho servil.Ruptura do eixo ruptura axial.Ácido de enxofre ácido sulfúrico.Água de enxofre água sulfurosa.Espasmos do esôfago espasmos esofágicos.Fragmento de espelho fragmento especular.Planta de m uitos espinhos planta poliacanta.Responsabilidade de esposa responsabilidade uxoriana.Responsabilidade de esposo responsabilidade esponsal.Suco do estôm ago suco gástrico ou estom acal.Brilho das estrelas brilho estelar.

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C a p í t u l o 2 2 — Variações do adjetivo | 1 6 1

FZona de fábrica zona fabril.Região da face região facial ou genal.Direito de falência direito falim entar.Aspecto de fantasm a aspecto espectral.Massa de farinha massa farinácea.Homem sem fé homem incrédulo ou descrente.Fratura do fê m u r fratura fem oral.Língua de fera língua ferina.Vontade de ferro vontade férrea ou ferrenha.Mal do fígado mal hepático.Inimigo do fígado inimigo figadal.Amor de filho amor filial.Pedra de fogo pedra ígnea.Instrumento sem elhante a foice instrumento falciforme.Paixão sem freio paixão desenfreada.

GNuvem de gafanhotos nuvem acrídia.Som da garganta som gutural.Veia da garganta veia ju g u la r.Agilidade de gato agilidade felina.Zona de gelo zona glacial.Alimento sem gosto alimento insípido.Marcha de guerra marcha m arcial.Zona de guerra zona bélica.

IFaixa de idade faixa etária.Castelos da Id a d e Média castelos m edievais.Tribunal da igreja tribunal eclesiástico.Pássaros de ilha pássaros insulares.Ventos de inverno ventos hibernais.Atitude de irm ão atitude fraternal.

LEntrada do lado entrada lateral.Porto de lago porto lacustre.Vontade de leão vontade leonina.Rapidez de lebre rapidez leporina.

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1 6 2 Pa r t e I V — Informações gramaticais

Produtos de leite produtos lácteos.Gosto de limão gosto cítrico.Nota de lo u vor nota laudatória.Fase da lua fase lunar.

MExpressão de m acaco expressão simiesca.Atitude de m acho atitude máscula.Dureza de m adeira dureza lígnea ou lenhosa.Atitude de m adrasta atitude novercal.Atitude de mãe atitude m aterna ou m aternal.Partido da maioria partido m ajoritário .Ar da m anhã ar m atinal ou m atutino.Animais do m a r animais m arinhos.Navegação por m a r navegação m arítim a.População das m a rge n s dos rios população ribeirinha.Dentes do m axilar inferior dentes m andibulares.Golpe de m estre golpe m agistral.Partido da m inoria partido m inoritário.Política da m oeda política m onetária.Leis de Moisés leis mosaicas.Hábitos de m on ge hábitos m onacais.Hora da m orte hora fúnebre.Injeção da m orte injeção letal.

NRegião das nádegas região glútea.Fossa do nariz fossa nasal.Região do norte região boreal ou setentrional.Região da nuca região occipital.

OGlobo do olho globo ocular.Bebida sem odor bebida inodora.Pavilhão da orelha pavilhão auricular.Fratura do osso do braço fratura um eral.Época de ouro época áurea.Nervo do ouvido nervo auditivo.

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C a p í t u l o 2 2 — Variações do adjetivo 1 6 3

PAmor de pai amor paterno ou paternal.Bula do papa bula papal.Ilha do Paraíso ilha paradisíaca.Festa da páscoa festa pascal.Sindicato dos patrões sindicato patronal.Gente sem pavor gente im pávida.Manchas da pele manchas epidérm icas.Tecido da pele tecido epitelial.Ave sem penas ave im pene.Veias do pênis veias penianas.Região do pescoço região cervical.Atos de pirata atos predatórios.Filosofia de Platão filosofia platônica.Arrulhos de pom bo arrulhos colum binos.Carne de porco carne suína.Voz de prata voz argentina.Pessoa sem probidade pessoa ím proba.Grupo de professores grupo docente.Carga de proteína carga protéica.Mal do pulm ão mal pulm onar.Ruptura do pulso ruptura cárpica.Ferida com pus ferida purulenta.

QNervo dos quadris nervo ciático.Consistência de queijo consistência caseosa.

REsperteza de raposa esperteza vulpina.Coroa de rei coroa real.Brilho de raio ou de relâm pago brilho fulgural.Cólica de rim cólica renal.Navegação por rio navegação fluvial.Plantas de rocha plantas rupestres.

S

Depósito de sal depósito salino.Comida sem sal comida insossa.

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1 6 4 | Pa r t e I V — Informações gramaticais

Exposição de selos exposição filatélica.Mudança de sentido mudança sem ântica.Região da sobrancelha região superciliar.Característica do som característica fonética.Lembranças de sonhos lembranças oníricas.Noites sem sono noites insones.Região do sul região austral ou m eridional.

TPrazeres da terra prazeres terrestres ou terrenos.Seres da Te rra seres terráqueos.Força da terra força telúrica.

|osso da testa osso frontal.Caixa do tórax caixa torácica.Força de touro força taurina.

UCordão do um bigo cordão umbilical.Manchas da unha manchas ungueais.

VSangue da veia sangue venoso.Força do vento força eólia.Ventos de verão ventos estivais.Língua de víbora língua viperina.Brilho de vidro brilho vítreo.Dor na virilha dor inguinal.Anomalia da visão anomalia óptica.Cordas da vo z cordas vocais.

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| IIM COLOCAÇAO DOS 3 PRONOMES OBLÍQUOS

ÁTONOS

Os pronom es oblíquos átonos são colocados antes do verbo (próelise), depois do verbo (ênclise) ou no meio do verbo (mesóclise).

PrócliseOcorre sempre que há palavras que atraem o pronom e para antes do verbo, como:1. Advcrbios de maneira geral. Por exemplo:

Aqui se trabalha muito.

Talvez o encontre ainda hoje.

2. Pronom es relativos. Por exemplo:Fiquei observando a mulher que se dirigia ao portão.

Foi Pedro quem te contou tamanho absurdo?Os alunos que me ouvirem, sairão mais cedo.

3. Palavras ou expressões negativas. Por exemplo:Jamais te exponhas ao inimigo.Ninguém lhe falou a novidade?

4. Pronomes indefinidos. Por exemplo:Todos te ajudarão nessa hora difícil.Tudo se transforma.

5. Conjunções subordinativas. Por exemplo:Comprarei este livro se m efor útil.Quando me procurares, estarei a quilômetros daqui.

ÊncliseAs formas verbais do infinitivo impessoal, do imperativo afirmativo e do gerúndio exi­

gem a ênclise, isto é, o p ronom e á tono após o verbo. Por exemplo:

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1 6 6 ■ Pa r t e IV — Informações gramaticais

É difícil contar-lhe a verdade.Estes são os ladrões: prenda-os.Os alunos saíram queixando-se do professor.

Observação: como nunca se inicia um período com pronom e átono, não se deve tam ­bém usá-lo logo após vírgula ou ponlo-e-vírgula. Por exemplo:

Aqui, estuda-se muito.Aventurou-se por aí, afastando-se do grupo.

MesócliseUsada som ente com verbos no futuro do presente e no futuro do pretérito, desde que

antes do verbo não haja n en h u m a palavra atrativa. Por exemplo:Contar-lhe-ei tudo que sei.

O pronome átono nas locuções verbaisNas locuções verbais, em que se utiliza verbo auxiliar + infinitivo ou gerúndio, se não

houver palavras atrativas, é indiferente a colocação do p ronom e átono, isto é, podemos co­locá-lo depois do auxiliar ou do verbo principal. Por exemplo:

Devemos lhe contar a novidade.,/Devemos contar-lhe a novidade.

Você está me aborrecendo./Você está aborrecendo-me.Sc houver palavras que exijam a próelise, só duas posições serão aceitas: antes do auxiliar

ou depois do infinitivo. Por exemplo:Não lhe devemos contar a novidade./Não devemos contar-lhe a novidade.

Observação: o pronom e á tono não poderá ser usado depois do particípio em locuções verbais; nesse caso, só é admitida a próelise ou a mesóclise. Por exemplo:

Ele se tinha esquecido do teste./Ele tinha se esquecido do teste.

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INI FORMAS VERBAIS QUE SUSCITAM DÚVIDAS

Com relação à nossa língua, podemos parodiar William Shakespearc na peça Hamlet e afirmar que ela tem mais mistérios do que sonha a nossa vã filosofia. Veja o caso dos verbos,por exemplo. Há vários que são irregulares, e outros tantos que só são conjugados em poucas

Não possui a primeira pessoa do singular do presente do indicativo e não é conjugado no presente do subjuntivo. Uma opção dc substituição c o verbo 'retirar'. Por exemplo:

Ele quer que eu retire aquela citação.

AdequarSó tem a primeira e a segunda pessoas do plural no presente: nós adequam os c vós ade-

quais. Também não tem o presente do subjuntivo. Nessas situações, um a opção é substituir o verbo 'adequar ' por 'corrigir'. Por exemplo:

0 juiz solicitou que eu corrija os termos da petição.

No presente ele fica assim: eu adiro, tu aderes, ele adere, nós aderimos etc. No presente do subjuntivo, fica: que eu adira, que tu adiras, que ele adira, que nós adiramos, que vós adirais, que eles adiram. Por exemplo:

0 diretor quer que nós adiramos ao plano.

O verbo 'colorir' não possui a primeira pessoa do singular do presente do indicativo e não é conjugado no presente do subjuntivo. Nesses casos, ele pode ser substituído por 'p intar ' ou "usar as cores", por exemplo.

Eu pinto/uso as cores muito bem.

Abolir

Aderir

Colorir

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1 6 8 Pa r t e IV — Informações gramaticais

DeterO verbo é derivado de 'ter'; por isso segue sua conjugação: se eu tivesse/se eu detivesse

etc. Por exemplo:Eles detiveram a subida dos preços.

DizerNo futuro do subjuntivo, o certo é 'disser': se eu disser, se tu disseres, se ele disser, se nós

dissermos, se vós disserdes, se eles disserem. Por exemplo:Quando ele disser que sim, sairemos.

EstarNo presente do subjuntivo, o certo é usar a forma 'esteja'. A outra forma, que ouvimos

às vezes por aí, é erradíssima! Veja u m exemplo:Eles querem que você esteja pronta às seis horas.

EntupirOs verbos 'en tup ir ' e 'desen tupir ' têm duas formas correias de conjugação: tu en topes/

tu entupes, ele en tope/ele entupe.

IntervirNo pretério perfeito do indicativo, a conjugação correta deste verbo é 'ele interveio',

porque 'intervir ' é derivado de 'vir'. Por exemplo:Ele interveio na discussão.

1. Vir: hoje eu venho, ele vem, eles vêm, on tem eu vim, ele veio, eles vieram, se eu viesse, quando eles vierem.

2. Intervir: hoje eu intervenho, ele intervém, eles intervém, on tem ele interveio, eles intervieram, sc eu intervicsse, quando eles intervicrem.

ManterO verbo 'm an te r ' é derivado dc 'ter'; por isso segue o modelo do verbo primitivo: sc cu ti­

vesse, se eu mantivesse, on tem eles tiveram, on tem eles m antiveram , quando nós tivermos, quando nós mantivermos. Por exemplo:

Se ela mantivesse a palavra, tudo teria dado certo.

MobiliarO verbo 'mobiliar' só é irregular quan to à sílaba tônica. No presente do indicativo é

conjugado da seguinte forma: eu mobílio, tu mobílias, ele mobília, nós mobiliamos, vós mobiliais, eles mobíliam. No presente do subjuntivo, por sua vez, ocorre desta maneira: que cu mobílie, tu mobílies, ele mobílie, nós mobiliemos, vós mobilieis, eles mobíliem.

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C a p í t u l o 2 4 — Formas verbais que suscitam dúvidas ■ 1 6 9

PôrTodas as formas do verbo 'pôr ' com som da letra 'zê' são escritas com a letra 'esse': pus,

puseste, pôs, pusemos, pusera, puserdes, puserem.

PossuirA conjugação ccrta na tcrccira pessoa do singular do presente do indicativo é 'possui'. Os

verbos terminados em -uir fazem a terceira pessoa com 'i': ele influi, ele atribui.

Precaver-seEle não se deriva de 'ver ' nem de 'vir'. No presente do indicativo só possui as formas

'precavemos' c 'precaveis'. No pretérito e futuro, o verbo é regular: eu me precavi, tu tc pre- cavestc, ele sc prccavcu, nós nos precavemos, eles se precaveram, eu m e prccavcrci ctc. Já no presente do subjuntivo, não é conjugado. No pretérito imperfeito, por sua vez, fica desta forma: se eu m e precavesse, precavesses etc.

As formas inexistentes desse verbo são substituídas pelas correspondentes dos verbos 'prevenir ' ou 'acautelar'.

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ulo 2

5

llll EMPREGO DO INFINITIVO FLEXIONADO

Uso do infinitivo impessoal1. Nas locuções verbais. Por exemplo:

Vocês não podem reagir assim.

2. Q uando o sujeito do infinitivo for um pronom e oblíquo átono (usados com os verbos 'm andar ', 'fazer', 'deixar', 'ver', 'ouvir ', 'sentir'). Por exemplo:

Deixe-os falar.3. Q uando o infinitivo não se refere a sujeito algum. Por exemplo:

Viver é preciso.

4. Q uando o infinitivo funciona como com plem ento dc adjetivos. Por exemplo:São casos possíveis de contornar.

5. Q uando assum e valor de imperativo. Por exemplo:Veio a ordem decisiva: avançar!

Uso do infinitivo pessoal1. Quando o infinitivo tem sujeito diferente do sujeito da oração principal. Por exemplo:

Eu te censuro por te queixares sem razão.

2. Para indeterm inar o sujeito. Por exemplo:Ouvi dizerem asneiras por aí.

3. Q uando vem no início da frase, para esclarecer a pessoa do sujeito. Por exemplo:Para encontrarmos um amigo, devemos procurar bem.

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I INI CONCORDÂNCIA VERBAL\» O, U

Regra geralO verbo concorda com seu sujeito em n úm ero e pessoa. Por exemplo:

Uma séria conseqüência decorreu da situação.

Duas conseqüências decorreram da situação.Os passageiros e o motorista saíram ilesos.

Casos especiaisV e r b o ' h a v e r '

No sentido de 'existir', é impessoal. Por exemplo:Há (Existem) momentos bons na vida.

Pode existir (Podem haver) momentos bons na vida.

V e r b o ' f a z e r '

Q uando esse verbo indica tem po decorrido e condição meteorológica e impessoal. Por exemplo:

Já faz três meses que o novo planejamento fo i aprovado.

Faz invernos terríveis na Europa.

V e r b o s r e l a t i v o s a f e n ô m e n o s d a n a t u r e z a

São impessoais. Por exemplo:Ventava muito ontem.

Durante dias choveu forte.

V e r b o ' s e r '

1. Com idéia de quantidade: verbo no singular. Por exemplo:Dois meses é muito tempo.

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1 7 2 Parte IV — Informações gramaticais

2. Em referência a tempo: o verbo concorda com o num eral ou com a palavra 'dia'. Por exemplo:

Hoje são dezesseis de março.Hoje é dia dezesseis de março.

' Q u e ' e ' q u e m '

Q uando aparece o p ronom e 'que ', o verbo concorda com o antecedente. Por exemplo: Somos nós que iremos ao evento.

Q uando aparece o p ronom e 'quem ', o verbo pode concordar com o antecedente ou ficar na terceira pessoa do singular. Por exemplo:

Somos nós quem iremos ao evento./Somos nós quem irá ao evento.

P r o n o m e s i n d e f i n i d o s

Q uando aparecem pronom es indefinidos, como 'algum de', 'n e n h u m de' etc., o verbo concorda com o pronome. Se o p ronom e estiver no singular, o verbo ficará no singular; se o pronom e estiver no plural, o pronom e irá para o plural. Por exemplo:

Qual de nós usou aquela estratégia?!Quais de nós usaram aquela estratégia?

' U m dos que'

Q uando aparece essa expressão, o verbo fica no plural. Por exemplo:Ele é um dos que participaram da reunião.

E x p r e s s õ e s c o l e t i v a s

Nesse caso, o verbo fica no singular. Por exemplo:A gente vai trabalhar até tarde hoje.

A multidão assustou o grupo de rock.

E x p r e s s õ e s c o l e t i v a s p a r t i t i v a s

Com expressões como 'a maioria de' etc., o verbo pode ficar tanto no singular quanto no plural. Por exemplo:

A maior parte das pessoas protestou./A maior parte das pessoas protestaram.

U m MILHÃO, UM BILHÃO ETC.

Q uando aparecem essas expressões, o verbo fica no singular. Por exemplo:Um milhão de reais foi gasto à toa.

Observação:Um milhão e meio de reais foi gasto à toa.

Um milhão e quinhentos mil reais foram gastos à toa.

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C a p í t u l o 2 6 — Concordância verbal | 1 7 3

P e r c e n t u a i s e f r a c i o n á r i o s

Nesse caso, o verbo concorda com o núm ero da percentagem ou com o n um erado r da fração. Por exemplo:

De acordo com as pesquisas, só trinta por cento já definiram seu voto.

V e r b o s c o m a p a r t í c u l a ' s e '

). Verbo transitivo direto + se: concordância norm al com o sujeito. Por exemplo:Vende-se esta casa.

Vendem-se estas casas.

Observação 1: o 'verbo transitivo direto + se' caracteriza a frase como 'voz passiva sintética'. Portanto, a expressão que se segue ao verbo é seu sujeito, conforme a No­menclatura Gramatical Brasileira (NGB). Por exemplo:

Vende-se esta casa./Esta casa é vendida.

Vendem-se estas casas./Estas casas são vendidas.

Observação 2: caso haja um verbo auxiliar ('ter', 'haver ', 'poder', 'dever', 'começar', 'costum ar ' etc.), será este que se flexionará, regido pelo principal. Por exemplo:

Não se devem infringir as leis.

O réu achava que se podiam cometer crimes impunemente.

2. Verbo + se + preposição: verbo no singular. Por exemplo:Precisa-se de empregados.Não se trata de benfeitorias realizadas no imóvel.

Observação 1: a frase está na voz ativa, c o sujeito c classificado como 'in de te rm i­nado '.Observação 2: isso tam bém ocorre com os verbos intransitivos. Por exemplo:

Viajou-se tarde.

O pagamento importou extinção da obrigação.

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h»(NO

3xttQ*03U

C0NC0RDANCIA NOMINAL

Concordância gramaticalO adjetivo concorda em gênero e núm ero . Por exemplo: a carta anexa, as cartas anexas,

o docum ento anexo, os docum entos anexos.Observação: se houver vários substantivos c um, pelo menos, for masculino, o adjetivo

irá para o masculino plural. Por exemplo: o docum ento e a carta anexos.

Concordância atrativaO adjetivo concorda com o substantivo mais próximo. Por exemplo:

Enviamos o documento e a carta anexa.

Casos especiais' A n e x o ' e ' i n c l u s o '

Essas palavras concordam com o substantivo, seguindo a regra geral. Por exemplo:Encaminhamos anexas as cartas.Encaminhamos anexos os relatórios.

Observação: a expressão 'em anexo ' não varia. Por exemplo:Seguem anexas as fotos./Seguem em anexo as fotos.

' M e s m o ' , ' p r ó p r i o ' , ' s ó ' , ' e x t r a ' , ' l e s o ' , ' o b r i g a d o ' , ' q u i t e ' , ' n e n h u m ' , ' j u n t o '

Concordam com o substantivo ou pronome a que se referem, seguindo a regra geral. Por exemplo:

Elas chegaram juntas.Elas não eram nenhumas bobas.

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C a p í t u l o 2 7 — Concordância nominal ] 1 7 5

Elas próprias copiaram a resposta.Elas vivem às expensas delas mesmas.

Observação:1. Q uando 'm esm o ' eqüivale a 'de fato', não varia. Por exemplo:

Elas mesmas vieram.Elas vieram mesmo.

2. Q uando 'só ' eqüivale a 'som ente ', não varia. Por exemplo:As mulheres se sentiam sós.As mulheres trouxeram só medalhas.

3. Q uando ' jun to ' fizer parte de locução, ficará invariável. Por exemplo:Elas estão junto dos filhos, (junto de.)

*'E p r e c is o ' , ' é n e c e s s á r io ', ' é b o m '

Q uando se suben tende u m verbo no infinitivo, não variam. Por exemplo:É preciso (ter) muita paciência.

r

'E p r o i b i d o '

Q uando o substantivo não está determinado, o adjetivo fica invariável. Por exemplo:É proibido entrada de estranhos.

Observação 1: caso ocorra a determ inação do substantivo, haverá concordância do a d ­jetivo. Por exemplo:

É proibida a entrada de estranhos.

Observação 2: no caso dc pronom es indefinidos, a indeterminação do substantivo co n ­tinua. Por exemplo:

É preciso muita paciência.

' C a r o ' , ' b a r a t o ' , ' b a s t a n t e '

Se forem adjetivos, variam norm alm ente . Por exemplo:Comprei bastantes coisas.

Observação: se forem advérbios, não variam. Por exemplo:As coisas estavam bastante caras.

'A o l h o s v i s t o s ' , ' a l e r t a ' , ' h a j a v i s t a ' , ' m e n o s ' , ' d e m o d o q u e '

Não variam em hipótese n enhum a .

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1 7 6 Parte IV — Informações gramaticais

' E x c e t o ' , p s e u d o - , ' t i r a n t e ' , ' s a l v o '

Não variam em hipótese n enhum a .

' M e i o '

Só varia quando eqüivale a 'm etade '. Por exemplo:Ela estava meio camada.Ela comeu meia laranja.

' P o s s í v e l '

Acompanha a variação do artigo que o antecede. Por exemplo:Mantenha-os o mais distante possível.Queremos os menores rádios possíveis.

A d j e t i v o s a d v e r b i a l i z a d o s

Não variam os adjetivos usados no lugar de advérbios. Por exemplo:Escrevi errado a mensagem.

Observação: o adjetivo estará adverbializado quando se puder usar a terminação -mente. Por exemplo:

Escrevi erradamente a mensagem.

' T o d o '

Só sofre concordância atrativa na linguagem informal, quando o advérbio é confundido com u m adjetivo. Por exemplo:

Elas estão todas molhadas, (linguagem informal)Elas estão todo molhadas, (linguagem formal)

N u m e r a l o r d i n a l + s u b s t a n t i v o

Se houver repetição do determ inante, qualquer concordância é possível; caso não, o plural é obrigatório. Por exemplo:

Ele cursou a primeira e a segunda série./Ele cursou a primeira e a segunda séries.Ele cursou a primeira e segunda séries.

D ois a d je t iv o s + um s u b s t a n t iv o

Se o substantivo estiver no singular, deverá haver repetição do determ inante; caso o substantivo esteja no plural, não haverá repetição do determ inante . Por exemplo:

A equipe inglesa e a francesa.

As equipes inglesa e francesa.

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C a p í t u l o 2 7 — Concordância nominal _] 1 7 7

' N em u m n e m o u t r o '

A expressão exige o substantivo no singular e o adjetivo no plural. Por exemplo:Não conheço nem um nem outro advogado recém-formados.

Observação: a mesma concordância ocorre com a expressão 'u m c outro'. Por exemplo: Conheço um e outro advogado recém-formados.

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Capít

ulo 2

8

llll REGÊNCIA

Regcncia c a relação que o verbo cstabclccc com seu complemento.

Tipos de verbos1. De ligação: liga o sujeito a uma qualidade. Por exemplo:

Você é esforçado, (sujeito: você/predicativo: esforçado.)2. Intransitivo (INT): não pede complemento. Por exemplo:

0 avião caiu.

3. Transitivo (T): pede complemento.a) Direto (D): não exige preposição. Por exemplo:Joana comprou algum as flores, (objeto direto: algumas flores.)

b) Indireto (I): exige preposição. Por exemplo:Joana precisa d e algum as flores, (objeto indireto: de algumas flores.)

c) Direto e indireto: pede dois complementos. Por exemplo:João entregou as flo res a Jo an a , (objeto direto: as flores/objeto indireto: a Joana.)

Observação: as preposições são 'a ', 'an te ', 'após', 'a té ', 'com', 'contra ', 'de', 'desde', 'em ', 'entre ', 'para ', 'per ', 'peran te ', 'por', 'sem', 'sob', 'sobre ' e 'trás'.

Pronomes pessoais como objetos1. Objeto direto (OD) ou objeto indireto (OI): mc, te, sc, nos, vos. Por exemplo:

A diretoria m e convidou. (OD: me.)As ações me pertencem. (OI: mc.)

2. Só OD: o(s), a(s). Por exemplo:Eles o expulsaram. (OD: o.)

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C a p í t u l o 2 8 — Regência 1 7 9

3. Só OI: lhe(s). Por exemplo:Aquilo lhe pertencia. (OI: lhe.)

Principais regências1. Regência verbal: veja, no Quadro 28.1, uma lista de verbos, suas classificações

quan to ao com plem ento e exemplos de seu uso.

Q u a d r o 2 8 .1 R egência verbalVerbo Classificação quanto ao complemento ExemploAb-rogar TD Eles ab-rogaram a lei.Adir TD 0 herdeiro adiu a herança.Ajudar TD ou TI (preposição 'a') Ajudei o (ao) inválido.Anuir TI (preposições 'a ' e 'em') Anuiu a (em) tais propostas.Atermar TD Atermou-se a diligência.Aspirar TD (no sentido de respirar) Aspiro o ar da montanha.

TI (preposição 'a '; no sentido de desejar) Aspiro a esse cargo.Assistir TD (no sentido de prestar assistência) 0 médico assistiu o paciente.

TI (preposição 'a '; no sentido de ver) Assistimos ao filme.TI (preposição 'a 7; no sentido de caber) Assiste a você esse direito.

Atender TD (quando o complemento é pessoa)Obs.: como complemento nominal, só aceita 'o' e variações

Atenderam os requerentes. Eles a atenderam.

TI (preposição 'a '; coisa) Atenderam a teu pedido.Atingir TD 0 atleta atingiu o limite.Avisar,certificar,cientificar,informar

TDI (com dupla regência: 'algo a alguém7 ou 'alguém de algo')

Avisei a José o perigo./Avisei José do perigo.

Chamar TD (no sentido de 'm andar vir7) Chamei um médico.TD ou TI (preposição 'a ' + predicativo com ou sem 'de'; no sentido de denominar)

Chamei (a) José (de) ingrato.

Chegar, ir, sair, vir

INT (seguido de lugar com a preposição 'a'; e não 'em')

Chegou a São Paulo./Fui ao Japão.

Comunicar TDI (preposição 'a '; 'algo a alguém') Comuniquei o fato ao chefe.Consentir TI (preposição 'em'; no sentido de

concordar)Consentiu na decisão.

TDI (preposição 'a '; no sentido de permitir) Consenti o aumento a todos.Consistir TI (preposição 'em'; e não 'de') A prova consiste em dez itens.Convolar TI (preposições 'a', 'para', 'em') 0 viúvo convolou a novas núpcias.Custar TI (preposição 'a '; no sentido de ser difícil) Custou-me dormir.

TDI (preposição 'a '; no sentido de causar) Isso custou dissabores a todos.

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1 8 0 Parte I V — Informações gramaticais

Verbo Classificação quanto ao complemento Exemplo

Deferir TD 0 juiz deferiu o pedido.Desobedecer TI (preposição 'a') Desobedeci a essas ordens.Despejar TD Deve-se despejar o imóvel.Diferir TD 0 juiz diferiu o exame da preliminar.Distratar TD Eles distrataram a locação.Dignar-se TI (preposição 'de') Dignou-se de responder-me.Elidir TD Foi elidida aquela cláusula.Esquecer TD Ivo esqueceu os livros.

TI (preposição 'a '; o sujeito é a coisa esquecida)

Esqueceram a Ivo os livros.

Esquecer-se TI (preposição 'de') Ivo esqueceu-se dos livros.Faltar TI (preposição 'a '; no sentido de ausentar-

se, inexistir)Faltou a esse encontro./Faltam a ele qualidades.

Ilidir TD 0 advogado ilidiu os argumentos.Imitir-se TDI 0 juiz imitiu o requerente na posse do

imóvel.Impedir TDI (com dupla regência: algo a alguém, ou

alguém de algo)Impediu o gesto a José./Impediu José do gesto.

Implicar TD (não admite a preposição 'em'; no sentido de acarretar)

Isso implica nossa renúncia.

TI (preposição 'com'; no sentido de antipatizar-se)

Sempre implica com colegas.

Importar TD 0 conhecimento importa responsabilidade.

Indenizar TDI (alguém de algo) 0 inquilino deve indenizar o locatário dos estragos.

Lembrar TD João lembrou o presente.TD (no sentido de fazer recordar) Seus olhos lembram meu pai.TDI (no sentido de recordar, advertir) Lembrei a Paulo a viagem.TI (preposição 'a '; o sujeito é a coisa lembrada)

Lembrou a João o presente.

Lembrar-se TI (preposição 'de') João se lembrou do presente.Obedecer TI (preposição 'a') Obedeceu a seu instinto.Pagar TDI (preposição 'a ') Pagou as dívidas a todos./Paguei ao

médico.Perdoar TDI (preposição 'a ') Perdoou o erro ao infrator./Perdoou ao

pai.Perpetrar TD 0 réu perpetrou um homicídio culposo.Precisar TD (no sentido de determinar com exatidão) Precisei a hora da chegada.

TI (preposição 'de'; no sentido de necessitar) Preciso de seus conselhos.Se for acompanhado de verbo no infinitivo, a preposição é facultativa

Precisamos (de) sair logo.

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C a p í t u l o 2 8 — Regência L 1 8 1

Verbo Classificação quanto ao complemento Exemplo

Preferir TDI (preposição 'a '; rejeita palavras de intensidade — 'mais', 'mil vezes7 —, 'que7 ou 'do que7)

Prefiro você a ele./A defesa preferiu alegar legítima defesa a negar a autoria do crime.

Presidir TD ou TI (preposição 'a') Presidiu (a) muitas reuniões.Prevenir TD (no sentido de evitar) A medida preveniu o caos.

TDI (preposição 'de7, no sentido de avisar) Preveni o operário do perigo.Proceder TI (preposição 'a 7; no sentido de realizar) Procedeu ao início da festa.Procrastinar TD 0 juiz está procrastinando a sentença.Proibir TDI (com dupla regência: algo a alguém ou

alguém de algo)Proibi a José o comentário./Proibi José do comentário.

Querer TD (no sentido de desejar) Queremos o teu sucesso.TI (preposição 'a 7; no sentido de 'estim ar7) 0 bom filho quer a seus pais.

Reiterar TD Ele reiterou sua defesa.Reivindicar TD Eles reivindicaram seus direitos.Renunciar TD ou TI (preposição 'a') Renuncio (a) este cargo.Reparar TD (no sentido de consertar) 0 mecânico reparou o carro.

TI (preposição 'e m 7 e 'para7; no sentido de observar)

Reparei em (para) seu gesto.

Responder TDI (preposição ' a 7) Respondeu a verdade a todas as perguntas./Respondeu ao questionário.

Satisfazer TD ou TI (preposição ' a 7) A resposta satisfez (a) todos.Solicitar TDI (preposição 'd e7 e 'a 7) Solicitamos de (a) todos ajuda.Substabelecer TDI (alguém em alguma coisa) Ele substabeleceu o advogado nos

poderes a ele outorgados.Suceder TI (preposição 'a 7; no sentido de substituir) 0 rei sucedeu ao tirano.Visar TD (no sentido de pôr o visto) Visou o cheque.

TI (preposição 'a 7; no sentido de objetivar) Visava ao cargo de chefe.Se for acompanhado de infinitivo, a preposição é facultativa

A lei visa (a) resolver isso.

2. Regência nominal: veja, no Quadro 28.2, alguns nom es em que ocorre u m uso bastante equivocado com relação as suas preposições:

Q u a d ro 2 8 .2 R egência nom inal

Nome Preposição ExemploAnsioso De, por, para Está ansioso de (por, para) ir.Assíduo Em (e não ' a 7) É assíduo em solenidades.Residente, situado, sito, domiciliado

Aceita a preposição 'em 7 (e não ' a 7) Residente na Rua Uruguai e domiciliado neste estado.

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o(NO

3xtíacsU

CRASE

Regra geralUsa-se o sinal indicativo da crase quando h o u v e r fusão de dois 'as': a + a = à. Por

exemplo:Entreguei o documento à professora.

O b se rv a ç ã o : antes de nom e próprio feminino e de p ronom e possessivo feminino é fa­cultativo o uso da crase. Por exemplo:

Entreguei o documento à (a) Maria.

Entreguei o documento à (a) minha secretária.

S e m p r e o c o r r e c r a s e

1. Nas expressões adverbiais femininas. Por exemplo:Falou à vontade. (Modo.)Cheguei à tarde. (Tempo.)Feriu-o à faca . ( In s tru m en to .)

O b se rv a ç ã o : a única locução que não leva o sinal de crase é 'a distância', a menos que esta venha determinada. Por exemplo:

Eles mantiveram as crianças a distânciaJEles mantiveram, as crianças à distância de cinco metros.2. Nas locuções formadas por palavras femininas. Por exemplo:

À m edida qu e o tempo passava, ia escurecendo.

3. Nos pronom es demonstrativos 'aquele(s) ', 'aquela(s) ' e 'aquilo(s)' que v en h am an te ­cedidos pela preposição 'a'. Por exemplo:

Refiro-me àqu ele processo.

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C a p í t u l o 2 9 — Crase ■ 1 8 3

4. Na expressão "à moda de", m esm o que ela esteja oculta. Por exemplo:Ele escreve à Rui Barbosa.

5. Na indicação do núm ero de horas, desde que não venha antecedida por preposição. Por exemplo:

A reunião será às 14 horas.1A reunião está marcada para as 14 horas.

6. Antes de nom es de cidades e estados que exijam a preposição 'a'. Por exemplo:Vou à Bahia. (Volto da Bahia.)Vou a Salvador. (Volto de Salvador.)

Vou à bela Salvador. (Volto da bela Salvador.)

N u n c a o c o r r e c r a s e

1. Antes de nom e masculino e de verbo. Por exemplo:Entreguei o documento ao professor.

Ele estava a procurar sua identidade.

2. Antes de pronomes, em geral, com exceção das palavras 'senhora ', 'senhorita ' e 'dona '. Por exemplo:

Entreguei o documento a esta juíza.

Solicito a V. S‘? o relatório.

Solicito à senhora a observação das regras.

3. Nas expressões formadas de palavras femininas repetidas. Por exemplo:Eles estavam frente a frente.

Observação 1: a palavra 'casa' (no sentido de lar) e a palavra ' te rra ' (no sentido de chão firme) não recebem crase, a m enos que venham determinadas. Por exemplo:

Ainda não fu i a casa, hoje./Ainda não fu i à casa dela, hoje.Os marujos foram a terra./Os marujos foram à terra descoberta.

Observação 2: é facultativo o uso da crase na expressão 'até a'. Por exemplo:Vou até a cidade./Vou até à cidade.

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o

| IIII PONTUAÇÃO3<caCJ

PontoAssinala a pausa máxima da voz depois de um grupo fônico de final descendente e de

sentido completo. Emprega-se, pois, fundam entalm ente , para indicar o térm ino de uma frase ou período. Por exemplo:

Escrever bem não é fácil mesmo. Mas também não é nenhum bicho de sete cabeças. Escrever bem

é disciplinar a mente para apresentar as informações em uma seqüência coerente, com início, meio e fim , sem saltos mirabolantes de uma informação para outra.

VírgulaMarca um a pausa de pequena duração. Indica que a idéia fica cm suspenso, à espera dc

que o período se complete. Por exemplo:Eu vou sair; mas volto logo.

Não se usa vírgula para separar palavras ou idéias que se completam, a não ser que seja para intercalar elementos. É usada para:

1. Isolar vocativo. Por exemplo:Não demores, meu filho.

2. Isolar aposto. Por exemplo:Nós, professores, contamos com o apoio de vocês.

3. Marcar a supressão dc uma palavra (geralmente verbo) ou de u m grupo dc palavras. Por exemplo:

Nós trabalhamos com fatos e vocês, com hipóteses.4. Seqüências, constituídas de palavras ou de orações. Por exemplo:

0 livro estava sujo, rasgado, imprestável.Pegou o recado, leu-o, disparou para a rua.

Page 203: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

C a p í t u l o 3 0 — Pontuação flj 1 8 5

5. Inversões (lembrar que a o rdem direta e sujeito + verbo + com plem ento). Por exemplo:

Este nosso antigo, você conhece.

Cumprindo recomendações, ele saiu.

6. Orações intercaladas ou expressões explicativas. Por exemplo:0 Programa de Qualidade deverá ser implantado, conforme estipulado em reunião de

23/3/95, gradativamente.

7. Datas, para separar o nom e do lugar. Por exemplo:Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1996.

8. Separar orações coordenadas sindéticas (menos as iniciadas pela conjunção V ) . Por exemplo:

Estudou bastante, mas não conseguiu aprovação.Observação: separam-se por vírgula as orações iniciadas por 'e ' em dois casos:1. Q uando elas tiverem sujeitos diferentes. Por exemplo:

Eles entraram na sala, e o interrogatório começou logo em seguida.

2. Q uando a conjunção 'e ' vier repetida. Por exemplo:E as crianças gritavam, e choravam, e reclamavam...

Podemos, então, concluir que nunca usamos vírgula para separar:1. o sujeito do predicado;2. o núcleo do predicado de seus complementos.

Ponto-e-vírgulaServe para separar estruturas ou elementos elencados e para separar orações que têm

relação de sentido sem segmentá-las em outro período. Por exemplo:"O processo legislativo compreende a elaboração de:1 - emendas à Constituição;II - leis complementa res;III - leis delegadas; eIV - resoluções."1Ela iria sair; ele, ficar.

Dois pontosOs dois pontos marcam, na escrita, uma generalização, enfatizando o que vem depois.

Usa-se antes de:

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1 8 6 Pa r t e IV — Informações gramaticais

1. Citação, geralm ente depois de verbo ou expressão que signifique 'dizer', 'responder ' e sinônimos. Por exemplo:

O juiz declarou:"O réu fo i absolvido por unanimidade".

2. Enum eração explicativa. Por exemplo:Uma boa comunicação por escrito depende de três técnicas: separar as idéias principais das secun­

dárias, estabelecer uma seqüência lógica das informações e conhecer regras gramaticais que confiram o

necessário grau de correção ao texto.

3. Explicação, síntese ou conseqüência do que foi dito. Por exemplo:Tenho dois caminhos apenas: defendê-lo ou partir.

TravessãoO travessão tem duas aplicações distintas:1. Usa-se para separar u m grupo de palavras — norm alm ente um a idéia secundária

— que sc queira destacar na frase sem prejudicar a seqüência natural do texto. Por exemplo:

Depois que ele falou no tribunal, todos elogiaram — e muito! — aquele advogado.

2. Marca as falas de u m diálogo. Por exemplo:Então ele falou:

— Deixe-me sair, por favor!

Nota1 Brasil, artigo 59, Constituição da República Federa­

tiva do Brasil. Brasília: Senado, 1988.

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INI EXERCÍCIOS

1. Indique o significado de cada expressão latina.a) Ad argumentandum n) Ex officio ca) Modus vivendi

tantum o) Eacta concludentia da) Mutatis mutandis

b) Ad nauseum P) Grosso modo ea) Nullum crimen sine

c) Ad probationem q) Habeas corpus lege

d) Animus difamandi r) Habeas data fa) Post scriptum

e) Animus lucrandi s) Honoris causa ga) Pro form a

f) Apud acta t) lbidem ha) Res privatae

8) Caso sub judice u) Idem ia) Sine qua non

h) Contradictio in v) In absentia ja) Sub examine

terminis w) In dubio pro reo ka) Sub judice

i) Data permissa X) Interdictum la) Sui ejeneris

j) Data venia y) Ipsis verbis ma) Tabula rasa

k) Dura lex sed lex Z) Jus sanguinis na) Vis compulsiva

D Ex nihilo aa) Lato sensu

m) Ex nunc ba) Modus operandi

2. Q uanto ao emprego da forma em negrito, está correta a frase:a) A razão porque ele se absteve compete a ele esclarecer.b) Sem mais n em porque, ele resolveu nos deixar.c) Recusou-se a nos esclarecer o por quê da sua decisão.d) Que ele renunciou, todo m undo , sabe, mas n inguém sabe por quê.e) Ele se limita a responder apenas: Por que sim...

3. Assinale a alternativa que preenche adequadam ente as lacunas das frases.

I) Ele não o p ro c u ro u ,______________?II) Ninguém explicou o ______________da sua desistência.

III) Desejo sab e r______________não compareceste à assembléia.IV ) _______________ é sonhador, o jovem cultiva ideais.

a) por quê, porque, por que, porqueb) por que, porque, porque, por quec) por quê, porquê, porque, por que

Page 206: Portugues instrumental para cursos de direito   miriam gold e marcelo segal - 1a ed. 2008

1 8 8 | Pa r t e I V — Informações gramaticais

d) porque, por que, por que, porquee) por que, porquê, porque, porque

4. Observe as palavras seguintes e assinale a alternativa em que as duas palavras estão corre tam ente grafadas.a) Anal r/ar, heureca.b) Batizar, hindu.c) Catálize, herbívoro.d) Atrasar, pedra-hum e.e) Framboesa, herva.

5. Assinale a alternativa em que todas as palavras estejam corretam ente grafadas.a) Realizar, ironizar, bizar.b) Analisar, simpatizar, batizar.c) Hospitalizar, atrazar, antipatizar.d) Improvizar, privatizar, minimizar.e) Alisar, catequisar, catalizar.

6. Assinale a opção que apresenta erro de grafia.a) Ele vêm.b) Eles vêm.c) Isto convém.d) Estes convêm.

7. Assinale a opção que apresenia erro de grafia.a) Eles têm.b) Eles retêm.c) Eles provêm.d) Ele provem.

8. Assinale a opção que apresenta erro dc grafia.a) Ele vê.b) Eles vêem.c) Eles detêm.d) E lesdetêem .

9. Assinale a alternativa que completa corre tam ente as frases:

I) Cada qual faz como m elhor l h e _______________II) O q u e ______________esles frascos?

III) Neste m om ento os teóricos______________ os conceitos.IV) E le s_________ a casa do necessário.