português - felizmente ha luar

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Luís de Sttau Monteiro Luís de Sttau Monteiro Sofia Diogo 12º2

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Luís de Sttau Monteiro

Luís de Sttau MonteiroSofia Diogo 12º2

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Felizmente há luar!, de Luís se Sttau Monteiro, é um drama narrativo, de carácter social, dentro dos princípios de teatro épico. Na linha do teatro de Bertolt Brecht, exprime a revolta contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o homem em constante devir.

Defende as capacidades do ser humano que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive. Faz então uma análise critica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar.

Existe um paralelismo entre a acção do presente e os contextos edeológicos de país. A obra Felizmente Há Luar!, é entendida como uma alegoria política, pois ´Luís de Sttau Monteiro evoca situações e personagens do passado, usando-as como pretexto para falar do presente, pois a obra funciona como mascara para que se possa tirar o exemplo de presente ditatorial (repressão salazarista).

Felizmente Há Luar!, é uma obra intemporal que nos remete para a luta do ser humano contra a tirania, a injustiça e todas as formas de perseguição.

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Espaço cénico O espaço cénico contribui para a construção de sentidos da obra, expondo a dimensão ideológica da mesma. Os sons, os jogos de luz/sombra, os objectos decorativos e a posição das personagens em palco são os elementos a destacar.

Espaço físico

Lisboa surge como um macro espaço, onde se inscrevem espaços de dimensão mais reduzida:· - Ruas – local onde os populares mendigam e comentam os acontecimentos, embora sempre intimidados pela presença da polícia · -Rossio – sede da Regência· -Rato – casa do general· -Sé – local onde Manuel costuma pedir esmola· -Campo de Sant’Ana – local das execuções (posteriormente será designado por Campo dos Mártires da Pátria)· -Serra de Santo António – local de onde Matilde assiste à execução do marido· -S. Julião da Barra – local onde Gomes Freire é preso e sentenciado

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Espaço social Classes sociais: Povo / Poderosos

-O povo é caracterizado pela sua pobreza, doença e miséria: o vestuário andrajoso, os sacos e caixotes que servem de acomodações, o contínuo mendigar.

-Os poderosos, pelo contrário, surgem representados na sua riqueza ostensiva e arrogante (guarda-roupa cuidado, cadeiras como «tronos»). Conflitos políticos / sociais

No período posterior às Invasões Francesas e à partida da corte para o Brasil, o reino vive uma conjuntura política e social marcada pela crise e pela luta entre um poder repressivo e a aspiração da liberdade que conduzirá à revolução liberal.

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Valores sociais em crise -A impotência do povo contra o despotismo -A recusa do progresso e da cultura-A corrupção, a imoralidade e a injustiça dos políticos-A ambição mesquinha e a conspiração -A traição, a conspiração generalizada-A condenação dos ideais maçónicos-Os caprichos pessoais dos poderosos contra a vontade do povo

Espaço psicológico -As recordações de Matilde de uma felicidade passada ao lado de Gomes Freire remetem para o carácter redentor e purificador do amor, em contraste com a violência e a hipocrisia da sociedade (90-92).

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Tempo histórico

-Século XIX – período posterior às Invasões Francesas, que antecede as primeiras manifestações de revolta popular, que conduzirá à Revolução Liberal.-Século XX – regime ditatorial do Estado Novo, representado por Oliveira Salazar. Tempo dramático-0s acontecimentos dramáticos remetem para a referência a factos ocorridos alguns anos antes.- As referências temporais situam em dois dias os acontecimentos mais dramáticos da obra, embora historicamente tudo se tenha passado em cinco meses (Maio/Outubro). A redução temporal traduz simbolicamente a parcialidade da justiça da época, que condena sem provas, e contribui para a intensidade trágica da morte do general. . O Acto I tem início de madrugada e prolonga-se por dois dias: . O Acto II começa na manhã do dia em que prenderam Gomes Freire e prolonga-se por seis dias. No Acto I, os acontecimentos precipitam-se até à prisão do general, embora no Acto II o tempo flua lentamente, o que intensifica o dramático sofrimento de Matilde.

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Luar - Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira atemorize todos os que querem lutar pela liberdade, confirmando assim o efeito dissuasor e exemplar das execuções perante aqueles que ousassem desafiar a autoridade dos Governadores (a noite é mais assustadora, as chamas poderiam ser vistas em toda a cidade, o luar convidaria toda a gente a assistir ao castigo).

- Para Matilde, o luar sublinhará a intensidade do fogo, que simboliza a coragem e a força de um homem que morreu pela liberdade e, por isso, se torna símbolo do esclarecimento e da revolta contra a tirania (anúncio da revolução liberal / 25 de Abril?). - A lua, porque privada de luz própria e sujeita a fases, representa a periodicidade e a renovação, a transformação. Ela é também o símbolo da passagem da morte para a vida (durante três noites em cada ciclo lunar desaparece, para voltar a surgir).

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Luz / noite - A luz traduz a caminhada da sociedade em direcção à liberdade, vencendo o medo e a insegurança da noite, recusando a violência e a repressão. - A luz é a metáfora do conhecimento que permite o progresso da sociedade e a construção do futuro, assente na defesa dos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade.- A noite (escuridão, trevas) representa a morte, a repressão, a violência, o castigo, o obscurantismo, a conspiração. - A noite simboliza ainda o poder maldito e as injustiças dos governadores

Fogo- A fogueira acaba por ter um carácter redentor, simbolizando a purificação, a morte da «velha ordem», a vida e o conhecimento. O fogo traduz a chama que se mantém viva e a fé na liberdade que há-se chegar («Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira, António, há-de incendiar esta terra!», 140).- Na perspectiva dos Governadores, o fogo traduz a destruição, o castigo de todas as tentativas de rebelião do povo em prol da liberdade.

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Saia verde- Símbolo de esperança na renovação, da superação da violência e da repressão, da defesa da liberdade (fora comprada em Paris, foco dos ideais revolucionários liberais).- Traduz o amor verdadeiro e redentor, capaz de conduzir a personagem a superar o seu estado de revolta e a comunicar aos outros, apáticos e indiferentes, o futuro, a esperança.

- Sugere a tranquilidade e a felicidade do reencontro, embora numa outra dimensão, ou num futuro diferente.-Pela cor, simboliza ainda a fertilidade, a vida e a renovação da Natureza, que conduzem à noção de imortalidade (a mensagem de liberdade do general poderá, afinal, tornar-se válida nos séculos vindouros).

Moeda - Simboliza a miséria, a pobreza de um povo que mendiga pela sobrevivência, pela dignidade, pelo direito à vida e à liberdade. - Traduz a traição, a corrupção, a submissão dos poderosos a interesses mesquinhos e materiais (Matilde, quando a atira ao Principal Sousa, lembra a bíblica traição de Judas).

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Tambores- Símbolos da repressão militar e policial que desagrega e aniquila, traduzem a morte, a violência e a intimidante perseguição a que o povo era sujeito para não pôr em causa a autoridade tirânica dos governadores, «sempre presente e sempre pronta a intervir». -Traduzem também a hipocrisia e a corrupção de todos os que traem para obter favores do regime.

Sinos- Traduzem o perverso envolvimento da Igreja nos assuntos do Estado, contribuindo para a repressão imposta sobre o povo (anunciam a morte de Gomes Freire).- Contribuem para a denúncia da deturpação da mensagem evangélica ao serviço de interesses mesquinhos e materiais.

Cadeiras- Descritas como «pesadas e ricas com aparência de tronos», simbolizam a opulência, o poder tirânico e absolutista dos governadores e a violência e caducidade do sistema monárquico.

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Oralidade / ironia crítica- A linguagem da obra é natural, viva, próxima do discurso oral (interrogações, exclamações, vocabulário familiar e popular, orações coordenadas, construção sintáctica simples, redundâncias e pleonasmos...) e tradutora das emoções das personagens (hesitação, interrupção...), mas surge também dominada pela ironia e pelo sarcasmo. Conflito poder / antipoder- A linguagem traduz assim o conflito entre o poder e o antipoder:. A linguagem dos representantes do poder evidencia um sentido prático, utilitário e material da vida. As falas são mais longas, excessivamente discursivas. . A voz do contrapoder (Matilde, povo) ganha frequentemente um sentido poético, expondo a afectividade e os dramas interiores das personagens. A ironia, porém, funciona como denúncia crítica da hipocrisia e da violência dos que representam o poder..O discurso do autor/encenador é essencialmente valorativo, uma vez que convida o espectador a assumir uma atitude crítica em relação aos factos apresentados.Nível lexical- O léxico remetendo para o domínio político: reino, nobreza, povo, pátria, patriotas, política, conspirações, revolta.- O léxico de carácter religioso: rebanho, ovelhas, salvador, Senhor, Cristo, Deus, Dia do Juízo, almas, condenação, divina.

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. A confirmar a intencionalidade crítica da obra, é de salientar a importância do discurso das personagens, que assume variadas funcionalidades:. O estilo «salazarista» utilizado por D. Miguel, cuja tónica essencial é a defesa da Pátria e dos ideais patrióticos. O tom didáctico empregue pela personagem confirma a demagogia política das suas intervenções (49,59).. A retórica jesuítica usada pelo Principal Sousa deixa escapar o abuso da Igreja, ao reivindicar como vontade divina aquilo que não passava de interesses de ordem política (37, 40, 59).. A ironia que marca o discurso mordaz de Beresford deixa perceber a diferença cultural entre Portugal e Inglaterra (56, 57).. O discurso dos populares é desolador e resignado, embora seja também irónico e acusador (16, 78, 106). . O tom de lamento usado por Matilde, perante a perda do seu «homem» e do seu amor (90), dá lugar à contestação, à acusação mordaz (128-129) e à profecia de um futuro regenerador (140). . O uso do latim, que ocorre no momento da sentença e da execução, funciona como denúncia de uma sociedade arcaica e regida por valores caducos e estritamente vinculados a uma hierarquia social (98, 134).

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O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de um dos elementos do poder - D. Miguel - ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade.

Página 131 - D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo;

Página 140 - Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania.

Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.

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Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D. Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do anti-poder. Porém o sentido veiculado pelas mesmas palavras altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica exclamação.Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que aquele é o fim último de quem afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor.

Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado reflectido, são a esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações.Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.