português 11.º ano. temas / assunto poetização do real – poesia de carácter realista e...

11
Português 11.º ano Poesia de Cesário Verde

Upload: internet

Post on 21-Apr-2015

106 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º anoPoesia de Cesário Verde

Page 2: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

Temas / Assunto

Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista:

● atenção ao real e ao quotidiano

● captação das impressões causadas pela realidade

● transmissão de perceções sensoriais

● objetividade / subjetividade

Binómio cidade / campo:

● cidade: agitação e progresso; melancolia, aprisionamento, doença e morte

● campo: «o salutar refúgio», liberdade, saúde e vida

 

Imagética feminina:

● mulher fatal – associada à cidade e aos seus valores

● mulher regeneradora – associada ao campo e aos seus valores

Questão social:

● análise social

● intenção crítica

● anticlericalismo

Page 3: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

Estilo

Inovação poética:

● busca da perfeição formal

● linguagem plástica

● prosaísmo

 

Recursos estilísticos:

● adjetivação expressiva, comparação, metáfora, sinestesia

 

Estrutura formal:

● regularidade métrica (verso decassílabo e verso alexandrino), rimática e estrófica

 

Page 4: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

A poesia de Cesário pela voz de outros poetas

 

Leitura dos poemas:

▪ Seleção dos aspetos da poesia de Cesário valorizados

por cada um dos poetas.

▪ Identificação das relações intertextuais com os poemas de

Cesário estudados.

Page 5: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

O OLHAR E A LINGUAGEM

Cesário Verde

Quis dizer o mais claro e o mais correnteEm fala chã e em lúcida esquadriaSer e dizer na justa luz do diaFalar claro falar limpo falar rente

Porém nas roucas ruas da cidadeA nítida pupila se alucinaCães se miram no vidro da retinaE ele vai naufragando como um barco

Amou vinhas e searas e campinasHorizontes honestos e lavadosMas bebeu a cidade a longos tragosDeambulou por praças e esquinas

Fugiu da peste e da melancoliaLivre se quis e não servo dos fadosDiurno se quis – porém a luzidia Noite assombrou os olhos dilatados

Refletindo o tremor da luz nas margensEntre ruelas vê-se ao fundo o rioEle o viu com seus olhos de navioAtentos à surpresa das imagens

Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilhas, Lisboa, Caminho, 2004

Cesário, que conseguiuVer claro, ver simples, ver puro,Ver o mundo nas suas coisas,Ser um olhar com uma alma por trás, e que vida tão breve!Criança alfacinha do Universo,Bendita sejas com tudo quanto está à vista!Enfeito, no meu coração, a Praça da Figueira para tiE não há recanto que não veja por ti, nos recantos de seus recantos.

Álvaro de Campos , Poesia, edição de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002

| Carlos Botelho, Lisboa e Tejo; Domingo, 1935 (pormenor)

Page 6: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

O HOMEM DA CIDADE / O POETA DO CAMPO

Ao entardecer, debruçado pela janela,E sabendo de soslaio que há campos em frente,Leio até me arderem os olhosO livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponêsQue andava preso em liberdade pela cidade.Mas o modo como olhava para as casas,E o modo como reparava nas ruas,E a maneira como dava pelas pessoas,É o de quem olha para árvores,E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andandoE anda a reparar nas flores que há pelos campos…

Por isso ele tinha aquela grande tristezaQue ele nunca disse bem que tinha,Mas andava na cidade como quem não anda pelo campoE triste como esmagar flores em livrosE pôr plantas em jarros…

Alberto Caeiro , Poesia, edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001

| Abel Manta, Rua de São Bernardo, Lisboa, 1928

Page 7: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

O HOMEM DA CIDADE / O POETA DO CAMPO

Page 8: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

O POETA DO CAMPO

Piquenique sem Cesário VerdeCom o dia encoberto, de manhã, voupara o campo com o Cesário; e num pradode versos levantam-se rolas e perdizes,como imagens, batendo as asascom a música que espanta as ovelhas.E num canto mais verde, queas árvores protegem do céu, vejoa mulher que me espera, nessealmoço sobre a relva que nenhum pintorsonhou, e eu desenho com palavras.Seguro-lhe a cabeça nos meusbraços, e ela repousa num fragmentode amor, que as flores da primaveraenvolvem numa grinalda esculpida,enquanto Cesário se afasta e ficamos sós.

Nuno Júdice, Geometria Variável, Lisboa, Dom Quixote, 2005 | Édouard Manet, Almoço na Relva, 1863

Page 9: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

 O POETA DA CIDADE

Em Lisboa com Cesário VerdeNesta cidade, onde agora me sintomais estrangeiro que um gato persa;nesta Lisboa, onde mansos e lisosos dias passam a ver gaivotas,e a cor dos jacarandás floridosse mistura à do Tejo, em flor também;só o Cesário vem ao meu encontro,me faz companhia, quando de ruaem rua procuro um rumor distantede passos ou aves, nem eu já sei bem.Só ele ajusta a luz feliz dos seusversos aos olhos ardidos que sãoos meus agora; só ele traz a sombrade um verão muito antigo, com corvetaslentas ainda no rio, e a música, sumo do sol a escorrer da boca,ó minha infância, meu jardim fechado,ó meu poeta, talvez fosse contigoque aprendi a pesar sílaba a sílabacada palavra, essas que tu levastequase sempre, como poucos mais,à suprema perfeição da língua.

Eugénio de Andrade, Escrita da Terra, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 2000

| Jardim Cesário Verde, Lisboa.

Page 10: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

 O POETA DA CIDADE

Page 11: Português 11.º ano. Temas / Assunto Poetização do real – poesia de carácter realista e impressionista: ● atenção ao real e ao quotidiano ● captação das

Português 11.º ano

II Soneto para Cesário

II Soneto para Cesário(escrito aí há 40 anos)

Se te encontrasse, agora, na paisagemnoturna dos fantasmas da cidade,contava-te dos nossos pobres versosno teu rasto de sombra e claridade

Contava-te do frio que há em medira distância entre as mãos e as estrelas,com lágrimas de pedra nos sapatose um cansaço impossível de escondê-las

Contava-te - sei lá! - desta rotinade embalarmos a morte nas paredes,de tecermos o destino nas valetas

De uma história de luas e de esquinas,com retratos e flores da madrugadaa boiarem na água das sarjetas.

Dinis Machado 13 de fevereiro de 1994

Ler, novembro 2008

| Abel Manta, Barcos da Nazaré, não datado.