portugal profile 4 - territorios

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DPP Portugal Profiles 4 TERRITÓRIO(S) (documento de trabalho) Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais MAOTDR (D)PP4 Território(s) Março 2008 DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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DPP Portugal Profiles

4 TERRITÓRIO(S)

(documento de trabalho)

Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais

MAOTDR

(D)PP4 Território(s)Março 2008

DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Os DPP Portugal Profiles constituem uma contribuição do DPP para o Grupo de Trabalho (GT) responsável por reflectir sobre as

possibilidades de evolução do Orçamento da UE após 2013 e consequentes implicações para Portugal. A Comissão Europeia

situou o debate sobre o futuro do Orçamento da UE no quadro mais lato dos desafios a enfrentar pela União num horizonte

mais longínquo, sendo os mesmos entendidos como forças dinâmicas, em transformação permanente, cuja natureza pode (e

deve) ser compreendida e investigada, mas relativamente às quais o patamar de informação e conhecimento disponíveis

não deverá ser considerado como adquirido e definitivo. A Comissão optou, assim, por ligar a discussão sobre o futuro do

Orçamento ao futuro das políticas europeias, colocando este processo de decisão política no plano da Estratégia. Estamos

pois perante um processo de reflexão estratégica. Este processo de reflexão estratégica, necessário à escala europeia, é

para Portugal do maior interesse e, particularmente, desafiante. Equacionar o(s) futuro(s) de Portugal no contexto europeu é

uma condição necessária para a fundamentação de escolhas na formulação de políticas nacionais ou na identificação dos

posicionamentos que melhor servem os interesses de Portugal na construção das políticas comunitárias. Partindo de um

enquadramento internacional de âmbito mais vasto, em que situamos o contexto europeu, é possível traçar incertezas

centrais e tendências marcantes que inevitavelmente terão impactos numa pequena economia plenamente integrada, a

par de países que se situam no topo dos níveis de desenvolvimento, numa união económica e monetária. O DPP tem

realizado um extenso trabalho de reflexão sobre a posição portuguesa face a um enquadramento externo marcado pelas

referidas tendências globais. No seu conjunto, estes trabalhos não devem ser assumidos como um exercício de “certificação”

(entendida esta como fornecimento de certezas), mas sim como uma abordagem que parte da necessidade de identificar e

aprofundar tanto quanto possível as incertezas cruciais face ao futuro para reunir uma base sólida de conhecimento que

possa contribuir para a respectiva “gestão”, isto é, para a maximização do aproveitamento das oportunidades que se abrem

e para evitar ou mitigar os riscos potenciais. Neste conjunto de documentos procura-se corresponder à solicitação do GT

coordenado pela DGAE, sistematizando e parcialmente actualizando num lote de seis “cadernos” temáticos uma selecção

de leituras técnicas extraídas dos trabalhos mais recentes do DPP. Esta selecção orientou-se para, sob diferentes ângulos,

identificar o posicionamento de Portugal:

(D)PP 1 – Enquadramento Externo e Desafios Estratégicos

(D)PP 2 – Convergência

(D)PP 3 – Crescimento Sustentado e Carteira de Actividades

(D)PP 4 – Território(s)

(D)PP 5 – Ambiente e Desenvolvimento

(D)PP6 – Qualificações, Trabalho e Coesão Social

O envolvimento da Administração portuguesa nesta reflexão constitui uma oportunidade para, num momento de viragem

para a economia portuguesa, revisitar elementos do nosso percurso recente, úteis para melhor podermos compreender de

onde partimos e nos prepararmos para melhor identificar e construir o(s) nosso(s) futuro(s).

Ficha Técnica

Título: (D)PP 4 - Território(s) (documento de trabalho; Março de 2008) Organização/Actualização: António Alvarenga - [email protected]

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Índice

Introdução 5

1 Competitividade e Coesão 6

2 Diversidade Regional 13

3 Atractividade e Prosperidade 17

4 Reflexão de Conjunto 18

Referências 22

(D)PP 4 - Território(s)

5

DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Introdução1

Nas últimas duas décadas três objectivos principais nortearam as políticas de desenvolvimento

regional, com consequentes impactos no ordenamento do território: (1) melhorar a infra-

estruturação e o equipamento do Interior, nomeadamente num conjunto de cidades médias,

visando aumentar a equidade no acesso a bens públicos; (2) modernizar as infra-estruturas

de transporte e energia na faixa litoral; e (3) facilitar a integração das economias ibéricas,

aumentando a fluidez do território.

Apesar dos investimentos feitos e dos progressos substanciais alcançados em termos de

acessibilidades e acesso aos bens públicos, que permitiram tornar o país territorialmente mais

coeso, não foi possível criar dinâmicas de competitividade próprias nas zonas menos

desenvolvidas do país, que se mantiveram assim reféns das medidas essencialmente

assistencialistas da política regional.

1 Para um diagnóstico pormenorizado do percurso recente de Portugal no que toca às assimetrias regionais ver DPP (2006), Evolução das Assimetrias Regionais, Prospectiva e Planeamento nº13, pp. 63-112, disponível em http://www.dpp.pt/pages/files/assimetrias_regionais.pdf. Nesse trabalho procura-se estabelecer uma caracterização da situação espacial da economia portuguesa actual, após cerca de 20 anos que se caracterizaram por um esforço acentuado em termos de políticas que, com largos apoios nos fundos comunitários, visavam promover a convergência real da economia nacional em relação ao conjunto da União Europeia, e promover uma maior coesão territorial interna. Não cabendo no âmbito do trabalho proceder à avaliação dos efeitos das políticas seguidas na prossecução de um e outro daqueles objectivos, procura-se determinar em que medida a situação actual representa algum progresso em termos de maior equilíbrio territorial adquirido nos dez últimos anos, seja no plano da equidade, seja também no plano da competitividade. O referido trabalho reporta-se a um período de referência que se situa entre 1995 e o ano mais recente que, em cada caso, as estatísticas permitiam utilizar.

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1. COMPETITIVIDADE E COESÃO

Quando comparamos os mapas que nos dão as imagens sintéticas da competitividade e da

coesão2, desde logo podemos ver como os contrastes territoriais que têm caracterizado o país

permanecem bem evidentes (e até se agravaram) no primeiro índice, aparecendo já mais

esbatidos no segundo (pese embora as diferenças que ainda persistem).

No plano da competitividade a análise do índice sintético (Figura 1) permite-nos retirar as

seguintes conclusões3: (1) as disparidades territoriais eram, em 2003, muito marcadas quer a

nível das NUT II, quer a nível das NUT III; (2) no caso das NUT II as incidências do azul em

todos as regiões excepto em Lisboa, mostram-nos níveis de competitividade abaixo de 74%4

do nível de competitividade de Lisboa (equivalente a 1), e em grande parte do território (que

está assinalado a azul mais escuro) estão mesmo abaixo dos 50% daquele valor; (3) no caso

das NUT III a situação é mais multifacetada, podendo verificar-se que apenas o Grande Porto,

Baixo Vouga e Península de Setúbal se situam acima do ponto intermédio de variação efectiva

do índice respectivo (0,64), e que em muitos casos do Interior e dos espaços de charneira os

respectivos níveis de competitividade se situam entre os 30 e os 40% do nível da Grande

Lisboa (as NUT III assinaladas a azul mais escuro); (4) é assim possível identificar dois

espaços onde se concentra a capacidade competitiva do país, a Área Metropolitana de Lisboa

(Grande Lisboa e Península de Setúbal), e em posição aproximada o Grande Porto, que

apresentam níveis de competitividade à volta dos 80% do nível da Grande Lisboa; (5) nas

NUT III envolventes daqueles espaços os níveis de competitividade são já bastante mais

baixos, situando-se na casa dos 50% do nível de Lisboa, ou mesmo menos; (6) as posições

competitivas dos territórios acima referidos mostram a fragilidade das grandes regiões

metropolitanas que se “desenham” para Lisboa e para o Porto, que se torna tanto mais

evidente quanto em termos internacionais o país tem vindo a perder competitividade à custa

desses mesmos territórios; (7) comparativamente a 1995, a situação observada corresponde

apenas a um ligeiro agravamento das disparidades5, o que significa que se tratou de um

fenómeno persistente, pese embora algumas melhorias; (8) todavia, importa assinalar alguns

casos paradigmáticos de perdas de competitividade, num contexto em que a Grande Lisboa

praticamente manteve o mesmo nível, a saber, o Baixo Mondego, o Douro e a Madeira, bem

2 Obtidos a partir dos índices cuja metodologia se apresenta de forma sumária na secção 6 de DPP (2006), Evolução das Assimetrias Regionais, Prospectiva e Planeamento nº13, pp. 63-112, disponível em http://www.dpp.pt/pages/files/assimetrias_regionais.pdf. 3 Que importa analisar face à análise realizada nas secções 1 a 3 de DPP (2006), Evolução das Assimetrias Regionais, Prospectiva e Planeamento nº13, pp. 63-112, disponível em http://www.dpp.pt/pages/files/assimetrias_regionais.pdf. 4 Ponto médio do intervalo de variação efectiva do índice.

5 Expressa no aumento do desvio padrão do índice relativo às NUT III de 0,159 para 0,164.

(D)PP 4 - Território(s)

7

DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

como alguns casos de ganhos de competitividade em que se destacam a Península de Setúbal

e o Alentejo Central.

No plano da coesão (Figura 2) importa salientar os seguintes aspectos principais: (1) em 2003

há claramente uma menor contrastação do território português, comparativamente ao mapa

da competitividade, embora se mantenha ainda uma bipolarização entre Lisboa e o resto do

país; (2) quando nos reportamos às NUT II, apenas Lisboa se coloca acima do ponto médio de

variação efectiva do índice sintético6, bipolarização que se torna menos evidente, mas ainda

assim significativa, quando nos reportamos à escala das NUT III, em que para além da

Grande Lisboa e da Península de Setúbal, também o Grande Porto e o Algarve se situam

acima do ponto médio de variação efectiva do índice7; (3) a assinalar a menor contrastação

está todavia o facto de o azul ser em ambos os casos mais claro no mapa da coesão do que o

era no mapa da competitividade, o que significa que as disparidades entre regiões e sub-

regiões no plano da coesão são inferiores às disparidades na competitividade, facto que se

exprime também no desvio padrão desta componente do índice assumir em 2003 um valor

igual a 0,094 comparativamente aos 0,164 relativos à componente da competitividade; (4)

há, no entanto ainda contrastes acentuados entre, por um lado, o Norte e os Açores, e por

outro lado, o resto do país, a nível de NUT II, e entre parte substancial do Norte e do Centro

Norte e Açores, a nível de NUT III, visível a partir da maior intensidade da cor azul, o que

aponta para que em termos da coesão as diferenças entre o Norte/Açores e o resto do país

sejam mais notórias do que entre o Litoral e o Interior; (5) comparativamente a 1995 os

resultados do índice da coesão em 2003 apontam para uma diminuição das disparidades pois

o respectivo desvio padrão assumia nesse ano o valor de 0,115 comparativamente aos 0,094

de 2003, acima referidos; (6) todavia tal diminuição de disparidades, resultando de ganhos de

coesão por parte de várias NUT II e NUT III, expressas no clareamento do azul observável na

figura 18, não deixou também de ser influenciado pela perda de coesão registada pela região

de Lisboa no seu todo e por ambas as NUT III que a compõem, especialmente a própria

Grande Lisboa.

Concluindo-se assim que o país está territorialmente menos heterogéneo do ponto de vista da

coesão do que do ponto de vista da competitividade, podemos estabelecer o confronto entre as duas perspectivas, ponderando cada região com a respectiva dimensão populacional, no

sentido de se procurar ter a noção sobre os espaços fulcrais do país em cada uma das

perspectivas. Desse modo, pela Figura 3 (que nos dá, para cada NUT III, em 2003, o índice que é dominante e a posição da NUT III em relação ao ponto médio de variação de cada

índice) podemos observar o seguinte: (1) a Grande Lisboa e o Grande Porto, que representam

cerca de 32% da população, destacam-se claramente pelos seus desempenhos acima da média, quer em termos de competitividade, quer em termos de coesão; (2) o Baixo Vouga e a

6 Os já referidos 0,74 do desempenho máximo do índice (o nível de competitividade de Lisboa).

7 Que neste caso, como vimos já é de 0,64.

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Península de Setúbal, que representam cerca de 11% da população, posicionam-se bem do

ponto de vista da competitividade mas apresentam défice de coesão; (3) o Algarve, que representa cerca de 4% da população, apresenta um índice de coesão elevado, mas revela

desempenho na competitividade inferior à média; (4) um conjunto de NUT III do Centro, do

Sul e a Madeira, representando cerca de 24% da população, apresenta níveis de competitividade e coesão próximos do ponto médio; (5) um conjunto de NUT III situadas a

norte do Grande Porto, com extensão para o Interior Norte e Centro, e que envolve os Açores,

que representa cerca de 30% da população8, apresenta fraquíssimos desempenhos, quer na competitividade, quer na coesão.

Juntando as variáveis de competitividade e de coesão num único índice, que se pode

interpretar como representativo dos graus de desenvolvimento global de cada uma das NUT II e NUT III, pôde-se apurar uma diminuição nos respectivos graus de assimetria entre 1995 e

20039, que se reflecte num país menos contrastado, sobretudo a nível de NUT II. Na origem

desta menor heterogeneidade está, no caso do Norte o seu nível de competitividade superior ao de coesão, enquanto no Centro e Alentejo sucede o inverso. Já no caso das NUT III a

diferenciação mantém-se evidente a norte do Grande Porto e em quase todo o Interior,

sobretudo devido à predominância dos fracos desempenhos a nível de competitividade. Veja-se a Figura 4 e note-se como o mapa das NUT II em 2003, embora menos contrastado,

se aproxima mais do mapa da coesão na Figura 2, enquanto o mapa das NUT III em 2003 se

aproxima mais do mapa da competitividade da Figura 1, embora também com menor contrastação.

8 Dos quais, 16% nas NUT III da envolvente norte do Grande Porto.

9 A nível de NUT II o coeficiente de localização passou de 0,147 para 0,141 e a nível de NUT III a diminuição foi de 0,142 para 0,122.

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Ponto intermédio = 0.74

Competitividade 2003

0.48 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.74

Competitividade 1995

0.48 1.00

0Km 35Km 70Km

1995 2003

Figura 1 − Índice Sintético de Competitividade em 1995 e 2003

Ponto intermédio = 0.64

Competitividade 1995

0.28 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.64

Competitividade 2003

0.28 1.00

0Km 35Km 70Km

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Ponto intermédio = 0.74

Coesão 1995

0.48 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.74

Coesão 2003

0.48 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.64

Coesão 1995

0.28 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.64

Coesão 2003

0.28 1.00

0Km 35Km 70Km

Figura 2 − Índice Sintético de Coesão em 1995 e 2003

Fonte: DPP

1995 2003

(D)PP 4 - Território(s)

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Figura 3 − Competitividade, Coesão e Dimensões Populacionais em 2003

Fonte: DPP Nota: A dimensão dos círculos representa a dimensão populacional das NUT III

ALGARVE

MINHO-LIMA

CÁVADO

ENTRE DOURO E VOUGA

ALENTEJO LITORAL

BAIXO ALENTEJO

PENÍNSULA DE SETÚBALGRANDE LISBOA

OESTE

LEZÍRIA DO TEJO

BEIRA INTERIORSUL

BEIRA INTERIORNORTE

SERRA DA ESTRELA

DÃO-LAFÕES

BAIXO VOUGA

PINHAL LITORAL

BAIXO MONDEGOCOVA DA

BEIRAPINHAL INTERIOR NORTE

AVE

GRANDE PORTOTÂMEGA

DOURO

ALTO TRÁS-OS-MONTES

MÉDIO TEJO

ALTO ALENTEJO

AÇORES

MADEIRA

PINHAL INTERIORSUL

ALENTEJO CENTRAL

Índices de Competitividade e de Coesãoabaixo do ponto intermédio

Índices de Competitividade e de Coesãoacima do ponto intermédio

Índice de Coesão acimado ponto intermédio

Índice de Competitividade acima do ponto intermédio

(D)PP 4 - Território(s)

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Ponto intermédio = 0.77

Global 1995

0.54 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.77

Global 2003

0.54 1.00

0Km 35Km 70Km

1995 2003

Figura 4 − Índice Sintético de Desenvolvimento Global

Fonte: DPP

Ponto intermédio = 0.68

Global 1995

0.37 1.00

0Km 35Km 70Km

Ponto intermédio = 0.68

Global 2003

0.37 1.00

0Km 35Km 70Km

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

2. DIVERSIDADE REGIONAL

Apesar de, em termos de tempos de acesso, o país se ter tornado “mais pequeno”, a diversidade, não apenas geográfica mas também urbana e socioeconómica, que o caracteriza,

tem vindo acentuar-se. Não são hoje tão claras as dicotomias Litoral/Interior e Sul/Norte que

tradicionalmente eram apontadas. No entanto, essas dicotomias permanecem, embora em dimensões e matizes diferentes das tradicionais.

Quando nos reportamos ao plano da coesão, pode-se efectivamente verificar que globalmente

a coesão territorial aumentou no país, na medida, em que diminuíram as assimetrias no

acesso aos bens públicos essenciais, e, nesse plano, foi evidente o surgimento de zonas

emergentes nos territórios do chamado Interior e nas Regiões Autónomas. Todavia há que

referir que esta emergência de novos pólos de dinamismo urbano não corresponde a uma

dinâmica de mercado sustentada, tendo sido em grande medida um produto das políticas de

disseminação territorial de equipamentos públicos de ensino e de saúde que criaram emprego

e rendimento nessas zonas, seja em termos directos, seja em termos indirectos através da

dinamização dos mercados locais.

Esta mudança da geografia económica do país tem, no entanto, duas fortes limitações: (1) é

muito localizada, não tendo dimensão para alterar qualitativamente as posições em termos de

potencial produtivo das sub-regiões em que se inserem, apesar de nalguns casos, sobretudo,

naqueles que se situam sobre os eixos de ligação viária a Espanha se terem registado

dinâmicas interessantes de implantação empresarial; e (2) é muito dependente do Orçamento

de Estado, o que se confirma pelo peso que as actividades de serviços prestados pelas

Administrações Públicas têm nessas zonas, que em média superam em 50% o mesmo peso a

nível nacional, pelo que não têm sustentabilidade futura.

Importa ainda assinalar dois aspectos: (1) o ganho de convergência processou-se num

processo de perda de coesão por parte da sub-região líder (a Grande Lisboa); (2) mesmo este

contexto de maior coesão do conjunto do território, há ainda uma diferença muito marcante

entre o Norte e o resto do país, na medida em que nessa região os graus de desenvolvimento

no acesso aos bens públicos permaneceram, salvo algumas excepções, muito abaixo dos

níveis médios do país (apesar da evolução positiva registada).

Quando entramos no plano da competitividade o país permanece ainda bastante dicotómico

no sentido tradicional, tendo-se agravado globalmente as assimetrias. Sendo certo que, a par

da Grande Lisboa e do Grande Porto, um conjunto de outras sub-regiões com pouca

expressão em termos de actividade produtiva industrial e terciária ganhou competitividade,

isso não foi suficiente para que o grupo de sub-regiões mais competitivas deixasse de

permanecer restrito à Grande Lisboa, ao Grande Porto, à Península de Setúbal e ao Baixo

Vouga. Simultaneamente, algumas das sub-regiões com peso industrial relevante como o

Cávado, o Ave, o Entre-Douro e Vouga, o Tâmega e o Baixo Mondego, perderam

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

produtividade e competitividade, o mesmo sucedendo a algumas sub-regiões com peso nos

serviços, como o Baixo Mondego, o Algarve e a Madeira.

No essencial o país continua assim a ser caracterizado por duas grandes regiões

metropolitanas, com fronteiras difusas no centro do país, que apresentam significativos pesos

industrial, terciário e exportador; duas outras regiões de alta densidade mas com

características mais específicas dado a sua grande orientação para o turismo (Algarve e

Madeira); e o restante território que se caracteriza pela sua baixa densidade, embora com

alguns pólos de média ou mesmo elevada densidade, neste último caso mais próximos do eixo

litoral entre as regiões metropolitanas.

Nas sub-regiões predominantemente de baixa densidade, que também são afectadas

pontualmente pelas deslocalizações de empresas nalguns locais de industrialização difusa, a

grande problemática resulta do esgotamento do modelo de crescimento baseado na expansão

do sector público e da escassez de escala (urbana, empresarial e de recursos) para o exercício

competitivo de actividades transaccionáveis, o que impõe um recurso intensivo às

cooperações a nível institucional e territorial.

Nas regiões de forte especialização turística as fragilidades da sua competitividade

internacional derivam, em grande medida, das alterações de preferências turísticas e do baixo

custo de acesso a destinos mais exóticos decorrente da expansão das companhias aéreas low

cost.

A Região Metropolitana do Norte é uma região mais caracterizada pela presença

predominante das Indústrias de baixa e média baixa tecnologia, e a presença importante,

embora inferior à de Lisboa, dos Serviços intensivos em conhecimento. Num outro plano de

caracterização da indústria, nesta região predominam actividades com competitividade

baseada na intensidade de trabalho e na intensidade de recursos. Trata-se, sobretudo no

primeiro caso, do Portugal dos “Distritos Industriais” e da industrialização difusa, mais

permeável aos novos contextos de globalização gerados pelo alargamento da UE a leste, a

OMC e a entrada no mercado mundial de países como a China, e que mais está a sofrer com a

deslocalização industrial, cujos efeitos não são ainda totalmente visíveis neste estudo, por se

ter intensificado nos últimos anos. Relativamente a esta região salienta-se, no entanto, os

sinais de crise que se manifestavam já no período de 1995-1999, traduzidos na antecipação

da desaceleração do crescimento do VAB (em especial no próprio Grande Porto), quando no

conjunto do país se estava ainda em aceleração desse crescimento.

A Grande Área Metropolitana de Lisboa (GAML)10 caracteriza-se por uma maior

incidência das Indústrias de alta e média alta tecnologia e dos Serviços intensivos em

10 Para uma análise mais aprofundada das possibilidades estratégicas da GAML ver DPP (2006), A “Grande Área Metropolitana de Lisboa” na Economia Global no Horizonte 2015, Prospectiva e Planeamento nº13, pp. 231-258, disponível em http://www.dpp.pt/pages/files/Area_Metropolitana_Lisboa.pdf. Este trabalho procura

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

conhecimento, com competitividade mais baseada nas economias de escala, mas também

com uma incidência da competitividade baseada na intensidade de recursos ao mesmo nível

da região anterior, mas superior no caso das actividades com competitividade baseada na

tecnologia e na diferenciação e no conhecimento. Esta região é, porventura, mais permeável

ao alargamento europeu a leste e ao recentramento em Espanha de actividades com

mercados à escala ibérica.

Na GAML, podemos identificar, nos últimos 20 anos, um conjunto de transformações na sua

dinâmica económica e na do seu espaço de influência: (1) um processo profundo de

desindustrialização, centrado nas indústrias pesadas – siderurgia, químicas e construção naval

e metalomecânicas pesadas; (2) um crescimento da ex-RLVT assente num forte crescimento

da construção civil e obras públicas, no sector de serviços virado para o mercado interno e na

exportação industrial realizada por empresas multinacionais; (3) um crescimento urbano

extensivo, realizado essencialmente fora do concelho de Lisboa, muito consumidor de espaço

e gerador de fortes movimentos pendulares de população entre Lisboa e os concelhos

vizinhos, envolvendo cada vez mais a motorização individual; (4) um forte investimento em

infra-estruturas de transportes – auto-estradas e vias rápidas; metro e caminho-de-ferro, sem

que este investimento tenha travado a quebra de quota de mercado do transporte colectivo;

(5) a realização de grandes infra-estruturas para acolhimento de eventos desportivos e

culturais e artísticos – estádios, Centro Cultural de Belém e o conjunto de infra-estruturas no

espaço que foi da EXPO 98; (6) uma revolução no sector de distribuição com o crescimento

das grandes superfícies e a construção de centros comerciais, os maiores dos quais na

periferia da cidade; (7) um recurso cada vez maior à imigração para suportar o crescimento

das actividades de construção e obras públicas e das actividades de distribuição em grandes

superfícies.

Apesar de um conjunto de condições especiais da GAML e regiões na sua mais directa

influência11, vários factores colocam em causa o prosseguimento do modelo de crescimento

atrás indicado: (1) o envelhecimento da população “endógena” com o que significa de maior

consumo de serviços públicos e de redução do dinamismo do consumo e investimento das

famílias; (2) o esgotamento de um crescimento de emprego movido pelo mercado interno de

integrar a GAML num espaço mais vasto, de que ela é o principal elemento polarizador e organizador e que abrange territórios actualmente integrados em distintas CCDR: a Orla Litoral Oeste, o Vale do Tejo, o Pinhal Litoral e o Alentejo Litoral. A prazo pode afirmar-se que esta área de influência da “Grande Área Metropolitana de Lisboa “ se estenderá ao Alentejo Central, nomeadamente o seu principal centro urbano – Évora.

11 (1) uma qualificação de recursos humanos bastante superior à média nacional, e uma população activa rejuvenescida pela imigração, em que se salientam uma vertente de imigrantes com qualificações superiores à média do país; (2) uma fortíssima orientação para os serviços, sem que a oferta internacional dos mesmos seja ainda expressiva; (3) uma forte presença em dois sectores industriais que apresentam limitações no seu crescimento futuro – indústria automóvel e agro indústrias – e alguma presença em duas outras indústrias – electrónica e aeronáutica – que podem ser desenvolvidas; (4) uma excepcional combinação de amenidades, património e cultura que apontam para um potencial por desenvolver na área das actividades de acolhimento e turismo.

(D)PP 4 - Território(s)

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DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTOE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

serviços; (3) a prolongada crise orçamental que limitará a capacidade de investimento público

e exercerá forte pressão sobre os mecanismos de transferências sociais; (4) a redução radical

de fundos estruturais a que a AML vai poder aceder no período 2007/13; (5) um novo e muito

mais elevado patamar de preços do petróleo que tornará muito pesada a factura da

mobilidade quotidiana na região, se se mantiverem as preferências actualmente dominantes

quanto à forma de encarar este vector; (6) a concorrência dos novos países membros da UE

na captação de IDE nos sectores industriais que permitiram reabsorver a crise dos anos 80 –

actividades ligadas ao sector automóvel; (7) a concorrência de Madrid e Barcelona na atracção

para a Península Ibérica de actividades de serviços internacionais e de actividades de maior

intensidade tecnológica.

Salienta-se todavia que nas grandes regiões metropolitanas, e mesmo nas zonas de menor

densidade, há “nichos” de competitividade em curso de desenvolvimento, ainda sem

expressão para terem visibilidade macroeconómica, mas que constituem sinais de mudanças

possíveis. Assim na grande região metropolitana do Norte, têm vindo a desenvolver-se

valências científicas e tecnológicas com destaque para as: Ciências biológicas, da saúde e

Engenharia biomédica; Ciências da computação, tecnologias da informação e comunicações;

Engenharia mecânica, tecnologias da produção e robótica; Biotecnologia e química fina; e,

Ciências e tecnologias dos materiais, em especial as tecnologias e engenharias dos polímeros.

Na região metropolitana de Lisboa, essas valências têm vindo a estruturar-se especialmente

nas: Ciências da saúde; Ciências biológicas, biotecnologia e química fina; Ciências da

computação, tecnologias da informação e comunicações; Engenharia mecânica, tecnologias da

produção e robótica; Ciências e tecnologias dos materiais; Engenharia civil; e, Ciências

agrárias e zoológicas. Em ambos os casos estão envolvidos nestes projectos não apenas

laboratórios associados a Universidades, mas também empresas nacionais e multinacionais,

com localizações em áreas urbanas como Braga, Porto, Aveiro, Leiria, Lisboa,

Almada/Caparica. A partir dos centros de excelência localizados naqueles dois grandes

agregados territoriais podem vir a estruturar-se importantes alterações nos perfis de

especialização produtiva daquelas regiões, com impactos globais no país e possíveis efeitos

difusores sobre os restantes espaços, nomeadamente os dotados de instituições de ensino

superior e de investigação, que podem servir de base para uma mudança qualitativa também

nas regiões de menor densidade.

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3. ATRACTIVIDADE E PROSPERIDADE

Mas quais poderão ser os factores fundamentais de Atractividade e Prosperidade das Cidades

e Metrópoles num contexto de Globalização? De seguida apresenta-se uma lista possível:

Ser Global: (1) desenvolver a prestação de serviços às empresas globais, explorando as

oportunidades abertas pelo “ciberespaço” (por exemplo “call centers”, e outras funções de

“backofice”); (2) privilegiar a inserção das empresas locais, das universidades e dos centros

de investigação em redes mundiais sólidas, e favorecer a atracção de investimentos,

empreendedores e talentos vindos do exterior; (3) privilegiar os investimentos

infra-estruturais que reforcem a ligação às rotas mundiais de comunicação, transporte aéreo e

transporte marítimo, procurando colocar-se mais próximo das regiões onde se gera a inovação

e/ou onde se realiza o crescimento mais rápido.

Ser Digital: (4) dispor das infra-estruturas fundamentais para o e-business – oferta de

electricidade segura e de qualidade e telecomunicações internacionais e locais em banda

larga; (5) organizar em profundidade o espaço de transacções de bens e serviços, com base

em tecnologias centradas da exploração das potencialidades do e-business”), nomeadamente

na área dos serviços; (6) organizar em larga escala a ligação à Internet das actividades e dos

residentes, generalizar a utilização da telemática para oferecer serviços de modo mais

“desterritorializado”; (7) reorganizar os sistemas de ensino e aprendizagem em torno das

tecnologias interactivas e de rede; (8) oferecer aos jovens amplas oportunidades de

reconversão para qualificações e carreiras centradas na informática, nas comunicações e no

audiovisual.

Ser Verde: (9) apostar na inovação tecnológica e societal que permita reduzir o consumo de

energias fosseis na mobilidade urbana, no habitat e no sector terciário (vd. através de novos

sistemas colectivos de transporte individual e da difusão, com carácter maciço, de novas

soluções de aproveitamento da energia solar) reduzindo a poluição atmosférica e a emissão

de gases com efeito de estufa; (10) promover a florestação e a criação de zonas verdes em

proporção da intensidade de emissão de gases com efeito de estufa com origem nas cidades;

(11) proteger os melhores terrenos agrícolas na proximidade das grandes cidades, mantendo

cinturas de abastecimento de alimentos; (12) atribuir prioridade à protecção dos recursos

hídricos que asseguram o abastecimento das cidades, impedindo a sua redução e

contaminação.

Ser Leve: (13) desenvolver as actividades sem peso, ou com peso medido em gramas, e com

fracos consumos directos de energias fósseis – serviços às empresas, produção de conteúdos,

indústrias de alta tecnologia; (14) reduzir ao máximo a intensidade de capital das soluções

que asseguram a mobilidade, a comunicação e o abastecimento energético das cidades, por

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forma a que o maior volume possível do investimento se dirija para aplicações que permitam

aumentar a produtividade e gerar emprego.

Ser Denso em Capital Simbólico e em Valor: (15) acumular um “capital simbólico”

distintivo no quadro da concorrência com outras Metrópoles quando se trata de atrair talentos,

visitantes e novos residentes; (16) fazer centrar mais pronunciadamente as funções das

cidades em sectores de serviços e em indústrias geradores de maior valor acrescentado; (17)

dispor de um sector dinâmico de serviços financeiros que pressione no sentido da maior

valorização do capital, facilitando a sua mobilidade e que saiba financiar a aquisição de

“capital imaterial”, cada vez mais necessário à criação de valor.

Ser Competente: (18) aumentar a participação nos processos de geração de conhecimento e

inovação, pela excelência e internacionalização das instituições de ensino superior e

investigação; (19) proporcionar uma vasta gama de entretenimento e gerar uma intensa

criação artística e cultural, atraindo talentos e novos utilizadores; (20) oferecer serviços de

saúde e de cuidados pessoais diversos e de elevada qualidade e desenvolver competências em

indústrias e serviços relacionados com a saúde e a reabilitação, transformando o

envelhecimento da Europa numa oportunidade de crescimento.

4. REFLEXÃO DE CONJUNTO

Encontrar um compromisso equilibrado entre os objectivos da coesão e da competitividade da

economia passa por uma evolução da organização do território e dos seus sistemas urbanos

no sentido da especialização funcional segundo as suas potencialidades e as novas exigências

dos mercados internacionais e do policentrismo, como forma de obtenção de massas críticas

face às imposições da competitividade.

O policentrismo e a procura de novas soluções produtivas pressupõem que se encarem as

áreas metropolitanas e comunidades urbanas como actores de desenvolvimento, com vista a

permitir a obtenção de escalas mais adequadas, não apenas para investimentos em

infra-estruturas ligadas a diferentes actividades – da energia aos resíduos, das

telecomunicações à política de transportes – mas também para a implementação de

estratégias de promoção territorial externa e de estímulo à reorientação produtiva, que

permitam um crescimento economicamente mais sustentado, territorialmente mais coeso,

menos destruidor de recursos naturais e menos poluente.

Olhando para o futuro, percebe-se que valorizar e proteger as dimensões estratégicas

dos territórios e das cidades, com a consciência de que a alteração do modelo económico

passa também pelo território, encontrando soluções inovadoras para as regiões menos

desenvolvidas, ordenando novas formas de urbanismos e novos modos de transportes

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urbanos mais eficientes em termos de energia e com menor impacto ambiental, promovendo

a acessibilidade dos espaços, edifícios e transportes, sendo capaz de “encontrar” a nova

cidade e as suas ligações aos espaços rurais e actuando de forma inteligente na protecção e

valorização dos recursos naturais e do património natural, cultural e artístico, comporta um

conjunto de exigências e desafios:

reduzir o impacto da condição periférica de Portugal no contexto europeu, por um lado,

através da valorização de actividades com elevado valor acrescentado para o mercado

internacional, para as quais a posição geográfica tem menos significado, e por outro lado,

através da melhoria ou criação de infra-estruturas que assegurem um maior acesso às

redes de comunicação e transportes mundiais – nomeadamente, as telecomunicações, o

transporte aéreo12, o transporte marítimo – e permitam melhor articulação com as Redes

Transeuropeias. Assegurar ao território uma forte conectividade digital e um acesso fácil a

rotas de transporte de mercadorias e passageiros que permitam contactos fáceis com as

regiões do mundo em que se vai concentrar o potencial de crescimento a nível mundial.

Reduzir o impacto da condição periférica de Portugal no contexto europeu, melhorando ou

criando infra-estruturas de acesso às redes de comunicação e transportes mundiais e

reforçando, assim, as condições de competitividade nacional e regional.

reforçar as condições de competitividade e internacionalização dos territórios que

constituem, actualmente, as principais alavancas de internacionalização da economia

portuguesa: a Região Metropolitana de Lisboa, a Região Metropolitana do Noroeste, o

Algarve e a Região Autónoma da Madeira.

12 De referir o papel crucial do sistema aeroportuário num país periférico como Portugal. De facto, a posição periférica de Portugal, relativamente ao centro demográfico e económico da Europa e a necessidade de maximizar os relacionamentos com regiões do mundo mais prósperas e inovadoras, que possam contribuir para a modernização da economia portuguesa torna o investimento nas infra-estruturas e serviços de transporte vital para o desenvolvimento do País. Não havendo alternativa ao modo aéreo, aceitável, para o transporte de pessoas em distâncias superiores a 600 km, a situação periférica de Portugal aconselha a que se dote o País com uma nova infra-estrutura aeroportuária, não só capaz de se constituir como plataforma adequada no contexto das redes globais da aviação civil, como, também, factor de desenvolvimento da economia nacional e, em particular, como pólo de atracção do turismo e do investimento estrangeiro (o que só é possível se Portugal estiver presente nas referidas redes globais). Os passageiros (Turismo, VFA, Negócios) e a carga aérea (frio positivo e negativo, perecíveis, expresso, Tc) constituem segmentos de negócio com exigências de qualidade de serviços e preços cada vez mais diferenciados e competitivos, o que determina a correspondente necessidade de diferenciação nas infra-estruturas aeroportuárias, tendo em comum o requisito da velocidade, que só o transporte aéreo pode oferecer; requerem-se, pois, infra-estruturas aeroportuárias que permitam e potenciem a fluidez de processamento, indispensável, quer aos tempos de conexão requeridos pelas redes globais, quer aos de rotação impostos pelas Low-Cost. A nova infra-estrutura aeroportuária deverá ser planeada e concebida por forma a responder aos requisitos de adequação à evolução da procura e da indústria, nomeadamente das New Large Aircraft (NLA´s), num horizonte mínimo de 30 anos, de flexibilidade de ajustamento aos ritmos de crescimento e, finalmente, de integração territorial, em particular nas áreas do ambiente, da intermodalidade e da logística. Poderá ser constituída, no médio prazo, por um só aeroporto ou por um sistema de aeroportos, dependendo tal decisão, fundamentalmente, da visão estratégica associada a possíveis opções de especialização e da capacidade de realização nacional. Atendendo a que o Aeroporto de Sá Carneiro tem um horizonte de vida útil confortável, o da Portela está no limite de capacidade e o de Faro tem uma vida útil razoável, mas de tráfego exclusivamente “inbound” e totalmente condicionada pela sua inserção na Ria Formosa, importa dar elevada prioridade ao planeamento aeroportuário.

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apostar na organização e no reforço da projecção europeia e ibérica – em termos de

funções económicas, culturais e do conhecimento – das duas grandes estruturas

metropolitanas de Portugal: a Região Metropolitana de Lisboa e a Região Metropolitana do

Noroeste, fazendo delas instrumentos indutores do crescimento do conjunto do País.

tornar as principais áreas urbanas fortemente atractivas pela disponibilidade de recursos

humanos qualificados, actividades sofisticadas, padrões de consumo exigente, excelente

qualidade de vida, consolidando e valorizando o papel das cidades como motores

fundamentais de desenvolvimento e internacionalização, tornando-as mais atractivas e

sustentáveis, e reforçando o papel do sistema urbano nacional como dinamizador do

progresso do conjunto do território, incluindo o das áreas rurais e de mais baixa

densidade.

estruturar uma Grande Região Metropolitana de Lisboa, com massa crítica e

interactividade para as suas funções indutoras de crescimento, o que pressupõe um

território amplo que se estende de Leiria a Sines e que, para Leste, penetra no Ribatejo e

Alentejo Central, apoiando-se no reforço da projecção internacional de Lisboa e na

transferência e consolidação de funções que permitam fortalecer outras centralidades no

interior dessa Região, contribuindo, assim, para um carácter mais policêntrico e

territorialmente coeso da mesma.

reforçar o policentrismo como factor organizador dos territórios da Região Metropolitana

do Noroeste, muito marcados actualmente pelo padrão de urbanização difusa, atribuindo à

Área Metropolitana do Porto um papel destacado, mas partilhado com as Áreas

Metropolitanas do Minho e Aveiro, no “upgrading” das funções nacionais e europeias

desempenhadas por essa Aglomeração; para além disso, aponta-se ainda para a extensão

para o Interior da dinâmica desta Aglomeração, nomeadamente pela integração do

Tâmega na dinâmica económica exportadora subjacente àquela Aglomeração.

valorizar o sistema urbano algarvio como factor de qualificação das actividades turísticas e

de diversificação para serviços mais diversificados na área do Acolhimento e para

Actividades mais intensivos em conhecimento; esta valorização exige um vasto

investimento de requalificação urbana dirigido à correcção dos excessos de edificação e ao

caos urbanístico, existente nalgumas zonas da região.

concentrar os esforços de combate à desertificação de vastas regiões do Interior do país

na consolidação da estrutura urbana, na melhor conectividade comunicacional e numa

mais equilibrada combinação de actividades de alto valor acrescentado e de actividades

baseadas no aproveitamento do potencial endógeno dessas regiões para reforçar a

capacidade de fixação e atracção de residentes e visitantes.

implementar uma estratégia de inclusão do Interior no desenvolvimento global do País,

podendo basear-se na estruturação de três eixos urbanos, visando uma maior articulação

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entre centros e sistemas urbanos na direcção norte/sul: o mais extenso, o eixo

Guarda/Covilhã/Castelo Branco/Portalegre13; o eixo Vila Real/Régua/Lamego14; o Eixo

Ponte de Sôr/Évora/ Beja15.

consolidar três Áreas ou Comunidades Urbanas – Coimbra, Viseu e Tomar/outras cidades

do Médio Tejo – como um polígono central de cidades que combinam, de modos

diferenciados, importantes funções nas áreas da saúde, do ensino, da investigação e da

logística interna, com funções agrícolas, silvícolas e industriais, nomeadamente as

correlacionadas com as actividades anteriores, servindo simultaneamente como “cidades

rótula”, pela sua posição de charneira entre as Regiões Metropolitanas e vastas regiões do

Interior, nomeadamente o Pinhal Interior e os três Eixos Urbanos anteriormente

considerados.

promover a cooperação territorial de base transnacional, designadamente a cooperação

com cidades e regiões inovadoras que se destaquem a nível europeu e global, visando a

troca de experiências e conhecimentos e a exploração de sinergias, através da inserção

das cidades e regiões urbanas portuguesas em “redes” internacionais.

conservar as áreas de maior valia ambiental e paisagística, de forma compatível com o

direito de propriedade sobre a terra.

ordenar os territórios tendo em conta os maiores riscos que podem advir das alterações

climáticas, particularmente para países, como Portugal, organizados em torno das suas

faixas litorais.

Estes desafios apontam necessariamente para uma harmonização e hierarquização dos

diversos instrumentos de planeamento com impacto directo na organização e utilização do

território, permitindo racionalizar a ocupação do espaço, valorizar os diferentes recursos

naturais e tirar partido da localização geográfica das diferentes actividades. Apontam

igualmente para a necessidade de haver uma cuidada coordenação dos investimentos na área

dos Transportes.

13 Aqui se localizam uma Universidade (UBI) e três Institutos Politécnicos, um recente Parque de Ciência e Tecnologia (Covilhã), vários Parques Industriais, uma futura Plataforma Logística dispondo de excelentes acessibilidades.

14 Onde existe uma Universidade (UTAD) e um Instituto Politécnico, o qual pode servir como elemento de charneira e de apoio a toda a região do Douro.

15 Onde existe uma Universidade e um Instituto Politécnico.

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REFERÊNCIAS

DPP (2006), Evolução das Assimetrias Regionais, Prospectiva e Planeamento nº13, pp. 63�112,

disponível em http://www.dpp.pt/pages/files/assimetrias_regionais.pdf.

DPP (2006), A “Grande Área Metropolitana de Lisboa” na Economia Global no Horizonte 2015,

Prospectiva e Planeamento nº13, pp. 231-258, disponível em

http://www.dpp.pt/pages/files/Area_Metropolitana_Lisboa.pdf.