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PORTARIA Nº 083/2015 - PmJNatal CONSIDERANDO que, nos termos do artigo 129, incisos III e VI, da Constitiução Federal, do artigo 25, IV, “a” e “b”, da Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), e do art. 62, I , da Lei Complementar Estadual n. 141/96 (Lei Orgânica Estadual do Ministério Público), são funções institucionais do Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e da moralidade administrativa, como também expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los; CONSIDERANDO que a Administração Pública Direta e Indireta dos Poderes do Estado obedecerá aos princípios da legalidade, moralidade e eficiência, de acordo com o artigo 37, caput, da Constituição Federal; CONSIDERANDO que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios zelar pela guarda da Constituição, das leis e conservar o patrimônio público, segundo o artigo 23, I, da Constituição Federal; CONSIDERANDO que os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso, devendo ter lotações compatíveis com a suas estruturas e finalidades, nos termos dos artigos 82 e 85, caput, da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal - LEP); CONSIDERANDO que atualmente a população carcerária no Rio Grande do Norte é de aproximadamente 7.650 (sete mil, seiscentas e cinquenta) pessoas e o Estado disponibiliza por volta apenas 4.000 (quatro mil) vagas; CONSIDERANDO que são recorrentes as notícias veiculadas nas mídias locais acerca do agravamento dos problemas estruturais do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte em decorrência da superpopulação carcerária, sobretudo pelos graves danos provocados nos estabelecimentos penais em virtude de recorrentes fugas e rebeliões; CONSIDERANDO que nas datas de 11, 12 e 13/03/2015, ocorreram rebeliões em estabelecimentos penais da Região Metropolitana de Natal, causando um prejuízo estimado superior a R$ 1.000.000 (um milhão de reais); CONSIDERANDO também que a superpopulação carcerária cria um ambiente propício para a expansão e aperfeiçoamento de organizações criminosas no interior dos estabelecimentos penais, em que são constituídos poderes paralelos ao das instituições públicas; CONSIDERANDO que a atual gestão do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, por meio de diversas declarações na imprensa local do Governador Robinson Faria e do Secretário de Estado da Justiça e da Cidadania Zaidem Heronildes, comprometeu-se a construir mais vagas no sistema penintenciário estadual; CONSIDERANDO que as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC não indicam que o problema da superpopulação carcerária seja resolvido dentro de um prazo razoável, não havendo expectativa de quando serão construídas as vagas necessárias, o que contribui para multiplicar a gravidade da situação caótica e calamitosa já instalada no sistema penitenciário potiguar; CONSIDERANDO que a má gestão pública, revestida de grave ineficiência funcional, cometida por meio de ações e/ou omissões, dolosas ou culposas, por parte de agentes públicos no exercício de suas funções, pode configurar a prática de ato de improbidade administrativa; CONSIDERANDO que constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres da Administração Pública, segundo o artigo 10, caput, da Lei nº 8.429/92; CONSIDRANDO que constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, de acordo com o artigo 11, caput, da Lei nº 8.429/92; CONSIDERANDO que a grave ineficiência funcional de agentes públicos responsáveis pela gestão

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PORTARIA Nº 083/2015 - PmJNatalCONSIDERANDO que, nos termos do artigo 129, incisos III e VI, da Constitiução Federal, do artigo 25, IV, “a” e “b”, da Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), e do art. 62, I , da Lei Complementar Estadual n. 141/96 (Lei Orgânica Estadual do Ministério Público), são funções institucionais do Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e da moralidade administrativa, como também expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los;CONSIDERANDO que a Administração Pública Direta e Indireta dos Poderes do Estado obedecerá aos princípios da legalidade, moralidade e eficiência, de acordo com o artigo 37, caput, da Constituição Federal;CONSIDERANDO que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios zelar pela guarda da Constituição, das leis e conservar o patrimônio público, segundo o artigo 23, I, da Constituição Federal;CONSIDERANDO que os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso, devendo ter lotações compatíveis com a suas estruturas e finalidades, nos termos dos artigos 82 e 85, caput, da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal - LEP);CONSIDERANDO que atualmente a população carcerária no Rio Grande do Norte é de aproximadamente 7.650 (sete mil, seiscentas e cinquenta) pessoas e o Estado disponibiliza por volta apenas 4.000 (quatro mil) vagas;CONSIDERANDO que são recorrentes as notícias veiculadas nas mídias locais acerca do agravamento dos problemas estruturais do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte em decorrência da superpopulação carcerária, sobretudo pelos graves danos provocados nos estabelecimentos penais em virtude de recorrentes fugas e rebeliões;CONSIDERANDO que nas datas de 11, 12 e 13/03/2015, ocorreram rebeliões em estabelecimentos penais da Região Metropolitana de Natal, causando um prejuízo estimado superior a R$ 1.000.000 (um milhão de reais);CONSIDERANDO também que a superpopulação carcerária cria um ambiente propício para a expansão e aperfeiçoamento de organizações criminosas no interior dos estabelecimentos penais, em que são constituídos poderes paralelos ao das instituições públicas;CONSIDERANDO que a atual gestão do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, por meio de diversas declarações na imprensa local do Governador Robinson Faria e do Secretário de Estado da Justiça e da Cidadania Zaidem Heronildes, comprometeu-se a construir mais vagas no sistema penintenciário estadual;CONSIDERANDO que as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC não indicam que o problema da superpopulação carcerária seja resolvido dentro de um prazo razoável, não havendo expectativa de quando serão construídas as vagas necessárias, o que contribui para multiplicar a gravidade da situação caótica e calamitosa já instalada no sistema penitenciário potiguar;CONSIDERANDO que a má gestão pública, revestida de grave ineficiência funcional, cometida por meio de ações e/ou omissões, dolosas ou culposas, por parte de agentes públicos no exercício de suas funções, pode configurar a prática de ato de improbidade administrativa;CONSIDERANDO que constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres da Administração Pública, segundo o artigo 10, caput, da Lei nº 8.429/92;CONSIDRANDO que constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, de acordo com o artigo 11, caput, da Lei nº 8.429/92;CONSIDERANDO que a grave ineficiência funcional de agentes públicos responsáveis pela gestão

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do sistema penitenciário, provocando o aumento da população carcerária do Rio Grande do Norte, pode gerar em consequência lesões a valores coletivos da sociedade potiguar ligados à tutela do patrimônio público e da moralidade administrativa – tais como o descrédito das instituições públicas e a intensificação do sentimento de impunidade –, o que caracterizaria, portanto, a ocorrência de dano moral coletivo, passível de reparação em sede de ação coletiva;Os 60º Promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Natal RESOLVE instaurar o presente INQUÉRITO CIVIL, nos seguintes termos:FATO: Apurar possível ineficiência funcional de agentes públicos responsáveis pela gestão do sistema penitenciário estadual na não construção de estabelecimentos penais suficientes para sanar o problema da superpopulação carcerária no Rio Grande do NorteFUNDAMENTO LEGAL: Constituição Federal, arts. 23, I, 37, caput, e 129, incisos III e VI, da Constituição Federal; artigo 25, IV, “a” e “b”, da Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); Lei nº 8.429/92, art. 10 e 11.PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA A QUEM O FATO É ATRIBUÍDO: Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania - SEJUCREPRESENTANTE: De ofícioDILIGÊNCIAS INICIAIS:1) Requisitar à Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania - SEJUC, concedendo o prazo de 20 (vinte) dias úteis para o seu atendimento, informações:a) sobre o número atualizado da população carcerária (incluindo condenados, submetidos à medida de segurança, presos provisórios e egressos) no Estado do Rio Grande, bem como o número atualizado de vagas disponíveis no sistema penitenciário estadual;b) de quantas novas vagas em estabelecimentos penais o Estado do Rio Grande do Norte planeja criar até o final do ano de 2015;c) se há procedimentos administrativos em curso para ampliação e/ou construção de estabelecimentos penais, discriminando em qual fase se encontram e da perspectiva deles serem concluídos;d) acerca da avaliação dos danos estruturais provocados nos estabelecimentos penais do Estado do Rio Grande do Norte em virtude das rebeliões ocorridas no ano de 2015.2) Solicitar a 12ª Vara Criminal da Comarca de Natal/RN (Execução Penal) informações por escrito:a) sobre o número atualizado da população carcerária (incluindo condenados, submetidos à medida de segurança, presos provisórios e egressos) no Estado do Rio Grande, bem como o número atualizado de vagas disponíveis no sistema penintenciário estadual;b) de quantas novas vagas são necessárias para resolver o problema da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;c) se as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC indicam que o problema da superpopulação carcerária será resolvido dentro de um prazo razoável;d) se a superpopulação carcerária no Rio Grande do Norte prejudica de alguma forma os trabalhos desenvolvidos pela 12ª Vara Criminal;3) Solicitar a 17ª Promotoria de Justiça de Natal/RN (Execução Penal) informações por escrito:a) sobre o número atualizado da população carcerária (incluindo condenados, submetidos à medida de segurança, presos provisórios e egressos) no Estado do Rio Grande, bem como o número atualizado de vagas disponíveis no sistema penintenciário estadual;b) de quantas novas vagas são necessárias para resolver o problema da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;c) se as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC indicam que o problema da superpopulação carcerária será resolvido dentro de um prazo razoável;d) se a superpopulação carcerária no Rio Grande do Norte prejudica de alguma forma os trabalhos desenvolvidos pela 17ª Vara Criminal;4) Solicitar ao Conselho Penitenciário do Estado do Rio Grande do Norte, vinculado ao Gabinete

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Civil do Estado do Rio Grande do Norte – GAC, informações por escrito:a) sobre o número atualizado da população carcerária (incluindo condenados, submetidos à medida de segurança, presos provisórios e egressos) no Estado do Rio Grande, bem como o número atualizado de vagas disponíveis no sistema penintenciário estadual;b) de quantas novas vagas são necessárias para resolver o problema da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;c) se as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC indicam que o problema da superpopulação carcerária será resolvido dentro de um prazo razoável;5) Solicitar ao Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania, vinculado ao Gabinete Civil do Estado do Rio Grande do Norte – GAC, informações por escrito:a) de quantas novas vagas são necessárias para resolver o problema da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;b) se as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC indicam que o problema da superpopulação carcerária será resolvido dentro de um prazo razoável;6) Solicitar à Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte informações por escrito:a) de quais são as principais demandas levadas pela sociedade à Defensoria Pública em razão da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;b) de quantas novas vagas são necessárias para resolver o problema da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;c) se as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC indicam que o problema da superpopulação carcerária será resolvido dentro de um prazo razoável;d) se a superpopulação carcerária no Rio Grande do Norte prejudica de alguma forma os trabalhos desenvolvidos pela Defensoria Pública;7) Solicitar à Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Rio Grande do Norte – OAB/RN informações por escrito:a) de quais são as principais demandas levadas pela sociedade à OAB/RN em razão da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;b) de quantas novas vagas são necessárias para resolver o problema da superpopulação carcerária no Estado do Rio Grande do Norte;c) se as medidas administrativas tomadas até o presente momento pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC indicam que o problema da superpopulação carcerária será resolvido dentro de um prazo razoável;d) se a superpopulação carcerária no Rio Grande do Norte prejudica de alguma forma os trabalhos desenvolvidos pela OAB/RN e pelos Advogados;Natal (RN), 13 de março de 2015.Emanuel Dhayan Bezerra de AlmeidaPromotor de Justiça