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A Geografia Revelada no Samba Práticas para a sala de aula Kelly Souza Costa

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A Geografia Revelada no Samba

Práticas para a sala de aula

Kelly Souza Costa

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Kelly Souza Costa

Representações Sociais e Ensino de Geografia:

A Geografia Revelada no Samba

Produto apresentado à Banca Examinadora do Programa de Pós-graduação de Ensino em Educação Básica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp-Uerj, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre no Curso de Mestrado Profissional. Área de Concentração: Cotidiano e currículo do Ensino Fundamental.

Orientador: Prof. Dr. Lincoln Tavares Silva

Rio de Janeiro

2018

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Caro(a) professor(a) A Geografia Revelada no Samba – Práticas para a sala de aula é um produto

gerado como requisito parcial para obtenção do título de Mestre no Curso de

Mestrado Profissional do Programa de Pós-graduação de Ensino em Educação

Básica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Aplicação

Fernando Rodrigues da Silveira – CAp-Uerj, na Área de Concentração: Cotidiano e

currículo do Ensino Fundamental.

Esse produto é fruto de uma pesquisa desenvolvida com professores, na qual

se destinava a identificar quais sentidos eram atribuídos pelos sujeitos sobre a

utilização de sambas nas aulas de Geografia. Desde já, quero demonstrar minha

imensa gratidão a todos os professores que colaboraram com minha pesquisa. Sua

respostas foram de grande contribuição, um verdadeiro combustível para o

desenvolvimento deste produto.

Meu interesse é apresentar como os saberes partilhados socialmente,

presentes em sambas, colaboram para o processo de descoberta e apreensão dos

conteúdos de Geografia na Educação Básica. Para isso, construí algumas atividades

com sambas que possam auxiliar na prática pedagógica. A proposta é trazer o

conhecimento elaborado e sistematizado para a sala de aula por meio da apreensão

dos saberes do senso comum, presentes nas representações sociais, como

ferramenta de troca de saberes. Nossa base conceitual é pautada na Teoria das

Representações Sociais (TRS), com base em Serge Moscovici (2003) e Denise

Jodelet (2009). A TRS, entre suas propostas, busca ser um campo de estudos sobre

os saberes sociais construídos na vida cotidiana, que se organizam a partir de

diferentes contextos sociais. As representações são formadas dentro de uma

perspectiva subjetiva, um processo individual no qual o sujeito se apropria e cria

suas próprias representações (mesmo que este sofra influências externas), além da

intersubjetiva, fruto das interações sociais, das comunicações verbais diretas entre

os sujeitos, e da transubjetiva, que é inerente à sociedade, ou seja, um conjunto de

valores, de costumes, de padrões morais e de permanências que moldam a

sociedade e que validam processos.

De acordo com Jovchelovitch (2008, p.85)

Moscovici lutou em todas as frentes, convencido de que (a) não existe algo como um conhecimento “liberto”, produzido por um sujeito “livre” do Outro, da história e da pertença; (b) que o sujeito comum pode ser sujeito do conhecimento e saber bem sobre o que fala; (c) que a história e suas estruturas não existem independentemente dos sujeitos que as produzem

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ou, como os humanistas certa vez expuseram, “a história tem sujeito”. Ele próprio sublinhou mais de uma vez, no contexto dos debates sobre subjetividade e o indivíduo na psicologia social, que a teoria das representações sociais surgiu em uma atmosfera intelectual em que era necessário reafirmar a importância do sujeito.

Sendo as representações sociais esse saber do senso comum, um

conhecimento sócio construído, justifico sua utilização como fundamento teórico

para o produto em questão, uma vez que o tal busca conseguir identificar que

sentidos socialmente construídos estão presentes no samba e que corroboram com

o ensino-aprendizagem da Geografia; que conhecimentos estão presentes nesse

gênero musical tão popular e como essa ferramenta pode auxiliar na partilha de

conhecimentos e conceitos inerentes à ciência geográfica. O samba aqui será

encarado como produto e produtor de práticas e condutas, como uma representação

social que retrata representações, como um veículo de disseminação de

conhecimento e conhecimento em si.

Afirmo então que o samba, neste cenário, se encaixa na descrição atribuída

anteriormente como representação social. Através dos sons, batuques e ritmos, o

samba reafirma uma memória ancestral e mantém a unidade do grupo. Através das

letras retrata uma experiência vivida, romantizada ou não, polida ou não, de uma

camada social que se enxerga nas situações cotidianas cantadas. Representa um

saber partilhado socialmente, fruto da experiência vivida de um grupo e transmite

esse saber popular que é fruto do senso comum.

Vemos a importância de elaborar esse produto pautado na forma com que

alguns conceitos são representados por Brandão (2005, p.91)

Sustentabilidade – o modo solidário de relações entre o homem, a vida e o mundo. Solidariedade – o modo sustentável, generoso e co-responsável de as pessoas e os grupos humanos interagirem entre eles. Complexidade – um modo novo criativo, solidário e sustentável de as pessoas se relacionarem como conhecimento, com a pesquisa, com a educação (no sentido de Edgar Morin do termo). Criatividade – modo inovador e integrativo dos três outros eixos de as pessoas se sentirem solidariamente co-responsáveis pela criação continua, cotidiana e históricas de suas vidas, de seus mundos sociais e de seus cenários naturais de vida e de trabalho.

Queremos aqui enfatizar a importância da troca dos saberes de forma

sustentável, solidária, no qual a relação com o conhecimento fomente criatividade e

reconhecimento de que se aprende em várias situações da vida cotidiana. O

aprender sendo visto como um processo desenvolvido em diferentes dimensões

experienciadas, o qual os saberes do cotidiano são partilhados, nos tornando

aprendentes em todos os momentos da nossa vida. De acordo com Brandão (2005,

p.86)

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Aprendemos não apenas os saberes do mundo natural, mas a complexa teia de símbolos, de sentidos e de significados que constituem o mundo da cultura. (...) cada reciprocidade de saberes e de serviços com uma outra pessoa costuma ser também um momento de aprendizagem.

A citação acima reforça o reconhecimento de expressões da cultura popular

para o desenvolvimento do ensino formal. O samba constitui um dos elementos do

patrimônio cultural brasileiro, repletos de sentidos, símbolos e significados. Através

do samba ocorre uma comunicação e interação entre os sujeitos. A linguagem, as

temáticas e os ritmos têm a força de retratar, seja de forma fiel ou idealizada, o

cotidiano de um determinado grupo, que consome o samba, que se identifica com

ele e o reproduz. O samba está na sociedade e a retrata. Exatamente por isso, a

utilização do samba nas aulas de Geografia se apresenta como uma boa

possibilidade exatamente pelo exposto.

A Geografia Crítica e a Geografia Humanística trazem uma perspectiva de

contestação, de politização, de dar voz aos sujeitos, o que torna propícia a utilização

de expressões culturais que retratam situações cotidianas. Neste sentido, as

correntes de renovação crítica e humanística, estabeleceram novos objetivos para o

estudo desta área de conhecimento, trazendo o cotidiano, os conhecimentos

partilhados e as subjetividades para a discussão da disciplina, promovendo o elo

entre cultura, representações sociais e análises geográficas.

O lecionar Geografia no Ensino Fundamental II no Brasil segue a um objetivo

expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs – MEC) (BRASIL, 1998.

p.26) ao afirmar que, de acordo com sua importância social,

A Geografia tem por objetivo estudar as relações entre o processo histórico na formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do lugar, do território, a partir de sua paisagem. Na busca dessa abordagem relacional, trabalha com diferentes noções espaciais e temporais, bem como com os fenômenos sociais, culturais e naturais característicos de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição, para identificar e relacionar aquilo que na paisagem representa as heranças das sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza em sua interação.

Seu papel de disciplina capaz de despertar nos sujeitos uma melhor

compreensão e reconhecimento dos lugares, destacando seu papel de formador dos

lugares ao mesmo tempo em que é formado por eles, traz para a disciplina um

caráter social e subjetivo. Pesquisar as interações socioculturais e seus reflexos nos

espaços vividos e experimentados, os lugares em si, torna a Geografia uma

disciplina por excelência de autognose e de engajamento. Os PCNs - MEC (BRASIL,

1998. p.27) destacam essa característica e importância da disciplina em valorizar e

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se debruçar sobre os estudos que considerem os sujeitos e a ação dos grupos

sociais e suas culturas sobre os espaços.

O espaço considerado como território e lugar é historicamente produzido pelo homem à medida que organiza econômica e socialmente sua sociedade. A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito produtor desse espaço, um homem social e cultural, situado além e mediante a perspectiva econômica e política, que imprime seus valores no processo de produção de seu espaço.

A visão de sujeitos que sejam consumidores e produtores do seu conhecimento

cotidiano, tornando-os agentes transformadores do espaço em que habitam e

transformando o conhecimento apreendido em algo familiar e palpável fica evidente

nas palavras de Moscovici (2003. P.43), corroborando com o anteriormente exposto,

quando afirma que

Nós estudamos o ser humano enquanto ele faz perguntas e procura respostas ou pensa, e não enquanto ele processa informações, ou se comporta.

O produto se propõe a demonstrar algumas possibilidades de aplicações de

atividades relacionadas a cultura, saberes partilhados, cotidiano e ensino de

Geografia. A partir das diversas temáticas presentes na Educação Básica, tanto

orientado pelos PCNs como determinado pela Base Nacional Comum Curricular

(BNCC1, mesmo que ainda venha sendo discutida) buscou-se elaborar um material

formado por seis atividades com sambas que auxiliem na prática de sala de aula,

visando sempre ao objetivo inicial: fomentar a discussão geográfica e dar novas

condições pedagógicas e metodológicas ao ensino de Geografia. A diversidade de

sambas e de temáticas trabalhadas pela Geografia possibilitaria elaborar uma lista

ainda maior de atividades, que pretendo continuar a produzir a seguir.

Cada proposta de atividade possui uma breve contextualização, que embasa e,

ao mesmo tempo, justifica as atividades propostas, o objetivo e a metodologia a ser

seguida para a elaboração de um produto construído com os alunos. Minha intensão

ao elaborar este material foi possibilitar que professores, e por que não os próprios

alunos, sejam consumidores dessas propostas. Espero que gostem tanto quanto eu.

1 “A BNCC foi elaborada à luz do que diz os PCN e as DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais). No entanto, a Base é mais específica, determinando com mais clareza os objetivos de aprendizagem de cada ano escolar. Ela será obrigatória em todos os currículos de todas as redes do país, públicas e particulares, ao contrário dos documentos anteriores, que devem continuar existindo, mas apenas como documentos orientadores não obrigatórios”. Fonte:(https://novaescola.org.br/conteudo/4784/32-respostas-sobre-a-base-nacional-comum-curricular), acessado em 01 de agosto de 2018.

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SUMÁRIO

1) Aquarela Brasileira e o estudo da regionalização do Brasil ................................... 7

2) O conceito de lugar e o samba de Arlindo Cruz ..................................................... 9

3) O ideário de mulher brasileira: de Amélia à mulher da Porto da Pedra .............. 11

4) A América Latina em verso e prosa: reconhecendo nossa latinidade ................. 13

5) Do Apartheid na África do Sul à realidade brasileira ........................................... 15

6) Reconhecendo o nosso Nordeste ....................................................................... 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 20

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As atividades 1 e 2 estão fundamentadas em dimensões básicas de análise do espaço geográfico para o estudo da Geografia: Região e Lugar. Nossa proposta é apresentar duas atividades para serem aplicadas no 6º ano do Ensino Fundamental I.

Contextualizando A atividade pretende discutir como se deu a evolução da regionalização brasileira, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – a partir de suas configurações ao longo do tempo e dos fatores que colaboram para essas mudanças. Utilizamos o samba e uma reportagem de jornal. Sugere-se também que o professor possa levar os mapas que mostram essa evolução histórica da regionalização.

Objetivo Além de identificar e reconhecer a categoria Região de acordo com a Geografia, mostrar que as características que as definem são dinâmicas e que, por isso, elas podem passar por transformações.

Vejam esta maravilha de cenário

é um episódio relicário que o artista num sonho genial

escolheu para este carnaval e o asfalto como passarela

será a tela do brasil em forma de aquarela.

Passeando pelas cercanias do amazonas conheci vastos seringais no Pará a ilha de Marajó

e a velha cabana do timbó.

Caminhando ainda um pouco mais deparei com lindos coqueirais

estava no Ceará, terra de irapuã de Iracema e tupã.

Fiquei radiante de alegria quando cheguei à Bahia

Bahia de castro Alves, do acarajé das noites de magia do candomblé

depois de atravessar as matas do Ipu assisti em Pernambuco

a festa do frevo e do maracatu.

Brasília tem o seu destaque na arte, na beleza e arquitetura

feitiço de garoa pela serra São Paulo engrandece a nossa terra

do leste por todo centro oeste tudo é belo e tem lindo matiz

o rio do samba e das batucadas dos malandros e mulatas

de requebros febris

Brasil, estas nossas verdes matas

cachoeiras e cascatas de colorido sutil

e este lindo céu azul de anil emolduram aquarela o meu Brasil

Fonte: https://www.letras.mus.br/silas-de-oliveira/762910/

1) Aquarela Brasileira e o estudo da regionalização do Brasil "Aquarela Brasileira" – Autor: Silas de Oliveira – G.R.E.S. Império Serrano (1964)

Mapa do Brasil muda e samba mais bonito de 2004 fica desatualizado

Aydano André Motta e Leticia Helena

Uma polêmica cartográfica espreita o desde já melhor

samba do carnaval de 2004. "Aquarela brasileira", composição de Silas de Oliveira que o Império Serrano traz à Sapucaí quatro décadas depois da primeira vez, narra o mágico passeio pelas belezas das regiões do país. Só que o tempo passou, o mapa mudou - e o Sul, como é delimitado hoje, não aparece no lindo hino verde-e-branco. Culpa da dinâmica dos mapas, que se mexem no vaivém da economia. Em 1964, quando Silas de Oliveira compôs sua obra-prima, São Paulo, com seu "feitiço de garoa pela serra" descrito no samba, formava na Região Sul. Numa mudança no fim dos anos 60, o estado mais rico da federação passou a integrar o Sudeste. No manual que a Liga das Escolas de Samba entrega aos jurados, na página do samba-enredo, está lá, claro como o dia: "Considerar a adequação do samba ao enredo". Nos tempos de Silas, divisão era bem diferente

Professor do Departamento de Geografia da Uerj, Alexander Costa explica que a desatualização do samba do Império Serrano se deve à mudança da situação econômica dos estados. Fazia mais sentido, dentro da lógica da regionalização brasileira, que São Paulo ficasse no Sudeste, com Rio, Minas e Espírito Santo.

- O país vai mudando ao longo do tempo, a regionalização se altera com o crescimento econômico. Como a economia é dinâmica, a divisão geográfica também precisa ser - ensina Costa.

Nos tempos de Silas de Oliveira, o Brasil era dividido de

maneira totalmente diferente. Havia até a Região Leste, com Bahia e Espírito Santo. Na sinopse de seu enredo, o Império se previne, citando textualmente os três estados do Sul, festejando a diferença climática em relação ao resto do país e o progresso trazido pelos imigrantes. "No Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, em certos momentos nos esquecemos de que vivemos nos trópicos. (...) No Sul do país é validado o desejo de ser esta uma terra fértil em que se plantando tudo dá, pois, a influência dos povos europeus é grande", descreve o texto, assinado pelo carnavalesco Ilvamar Magalhães.

- Desde o início, sabíamos que a questão da divisão geográfica poderia nos trazer problema - reconhece ele. - No caderno que entregaremos aos juízes, haverá uma explicação ainda mais detalhada, lembrando que, em 1964, São Paulo fazia parte da Região Sul. O fato é que o enredo propõe uma viagem por essa aquarela brasileira. Mas, evidentemente, no espaço de 80 minutos do desfile não dá para homenagear os 27 estados - acrescenta Ilvamar, prometendo um carnaval "absolutamente didático".

O Globo, Domingo, 11 de Janeiro de 2004.

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Proposta de Atividade

O samba Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira, foi apresentado pelo G.R.E.S Império Serrano em 1964 e, novamente, em 2004. Porém, o samba estava, em 2004, “desatualizado”. 1) Pesquise em Atlas e sites específicos os mapas que mostrem a evolução da regionalização do Brasil. Com base na observação dos mapas, responda ao que se pede abaixo. 2) Com base nas informações observadas nos mapas pesquisados, podemos afirmar que o samba está desatualizado? Justifique sua resposta. 3) Explique por que uma divisão regional pode sofrer alterações com o passar do tempo. 4) De acordo com o samba, quais regiões são contempladas, levando-se em consideração: - a regionalização de 1964? - a regionalização atual? 5) Quais foram as mudanças regionais que motivaram a elaboração da reportagem anterior? 6) Na sua opinião, é importante a divisão do espaço para a elaboração de um bom planejamento? Justifique. Mapas pesquisados

Possibilidades de respostas para questionamentos anteriores 1) Pois em 1964 o samba contemplava todas as regiões brasileiras, destacando pelo menos um estado de cada uma delas. Hoje, com a atual divisão regional, a Região Sul não é mencionada na música. 2) A regionalização pode passar por mudanças devido ao fato de o território também se modificar ao longo do tempo, em função de sua dinâmica socioeconômica. 3) 1964 – Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Leste e Sul. Dias atuais – Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. 4) A região Sul não foi contemplada no samba, pois o estado de São Paulo agora está situado na região Sudeste. 5) A resposta deve destacar que a divisão do espaço permite seu melhor conhecimento – tanto das características naturais como socioeconômicas – e, consequentemente, um melhor planejamento.

Importante mencionar que a divisão em 5 regiões data de 1970. Porém, até esta última

regionalização já sofreu mudanças em razão de alterações nos limites

estaduais.

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Contextualizando O termo lugar é amplamente utilizado pelas pessoas. Mas, estas pessoas o estão usando de forma adequada? Segundo Tuan (1983, p.151), “o espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significados”. A preocupação dos geógrafos humanísticos foi a de definir o lugar enquanto uma experiência que se refere essencialmente ao espaço como é vivenciado pelos seres humanos.

Quando se trabalha o conceito de lugar, de acordo com a Geografia, com alunos de 6º ano, algumas dificuldades aparecem em função da abstração do conceito. Tratar da familiaridade com o espaço, da afetividade e de vínculos com o espaço vivido são caminhos interessantes para que os alunos se apropriem do conceito. O samba “O meu lugar” retrata esse vínculo e a noção familiaridade com o espaço vivido, com o cotidiano do lugar e com as pessoas que nele se encontram. Objetivo Conseguir ensinar um conceito tão abstrato, marcado por subjetividades e intersubjetividades, para alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, ainda com o cognitivo marcadamente concreto. Materializar o lugar, tornando-o concreto e palpável para os alunos torna o conceito mais familiar, fazendo o aluno se apropriar do conhecimento.

2) O conceito de lugar e o samba de Arlindo Cruz "O meu lugar" – Autor: Arlindo Cruz – Álbum: Batuques do meu lugar (2012)

O meu lugar / É caminho de Ogum e Iansã Lá tem samba até de manhã / Uma ginga em cada andar

O meu lugar / É cercado de luta e suor

Esperança num mundo melhor / E cerveja pra comemorar

O meu lugar / Tem seus mitos e Seres de Luz É bem perto de Osvaldo Cruz / Cascadura, Vaz Lobo e Irajá

O meu lugar / É sorriso, é paz e prazer

O seu nome é doce dizer Madureira, iá laiá / Madureira, iá laiá

O meu lugar / É caminho de Ogum e Iansã

Lá tem samba até de manhã / Uma ginga em cada andar

O meu lugar / É cercado de luta e suor Esperança num mundo melhor / E cerveja pra comemorar

O meu lugar / Tem seus mitos e Seres de Luz

É bem perto de Osvaldo Cruz / Cascadura, Vaz Lobo e Irajá

O meu lugar / É sorriso, é paz e prazer O seu nome é doce dizer

Madureira, iá laiá / Madureira, iá laiá

Ai, meu lugar / A saudade me faz relembrar Os amores que eu tive por lá / É difícil esquecer

Doce lugar / Que é eterno no meu coração

E aos poetas traz inspiração / Pra cantar e escrever

Ai, meu lugar / Quem não viu Tia Eulália dançar? Vó Maria o terreiro benzer? / E ainda tem jongo à luz do luar

Ai, meu lugar / Tem mil coisas pra gente dizer

O difícil é saber terminar Madureira, iá laiá / Madureira, iá laiá

Madureira / Em cada esquina, um pagode, um bar

Em Madureira / Império e Portela também são de lá Em Madureira / E no Mercadão você pode comprar

Por uma pechincha, você vai levar Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar

Em Madureira

E quem se habilita, até pode chegar Tem jogo de ronda, caipira e bilhar Buraco, sueca pro tempo passar

Em Madureira

E uma fezinha até posso fazer No grupo dezena, centena e milhar

Pelos 7 lados eu vou te cercar Em Madureira / E lalalaia, lalaia, lalaia Em Madureira / E lalalaia, lalaia, lalaia Em Madureira / Iá, laiá, em Madureira

Fonte: https://www.letras.mus.br/arlindo-cruz/1131702/

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Proposta de Atividade

Metodologia

- Ouvir e ler o samba “O meu lugar” - Indagar os alunos quanto aos seguintes pontos:

• Ele conhece este espaço(sua dinâmica, seu cotidiano)?

• Ele conhece as pessoas que ocupam este espaço?

• Quais sentimentos ele possui com relação a este espaço? (se possível, sempre pedir que as respostas dos alunos sejam justificadas por frases/ expressões da própria canção)

- Apresentar o conceito de lugar aos alunos e, a partir daí:

• Estimular os alunos a pensarem por alguns minutos sobre experiencias e recordações que possuem;

• Pedir pare que listem, a partir dessas memórias que foram resgatadas, pelo menos 5 ambientes em que ocorreram essas lembranças;

• Solicitar que escrevam ao lado de cada espaço citado o porquê que este ambiente é um lugar para ele;

- A partir das anotações dos alunos, proporcionar a partilha com os colegas das experiências vividas; - Destacar que lugares estão relacionados às vivências de cada um e do grupo como um todo; - Mostrar, também, que nem todos partilham dos mesmos lugares. Produto Depois do conceito apresentado e das explicações partilhadas na sala, solicite que os alunos elabores um mini cartaz (em folha A4), com uma foto tamanho 15X21 de um lugar para ele. Solicite que ele elabore um título para a foto, juntamente com um texto explicando o porquê daquele espaço ser um lugar. Modelo

Sugestão Montagem de uma exposição de fotos, onde as mesmas seriam coladas em papel A4 preto, os nomes dos alunos, o título da foto e sua legenda poderiam estar em uma etiqueta e o texto explicativo digitado ao lado da foto.

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A atividade 3 foi pensada e aplicada a alunos do Ensino Médio, a partir do estudo de conteúdos relacionados à demografia. Acreditamos que a questão relativa a abordagem de gênero se faz presente e necessária dentro do contexto social em que vivemos. Discutir o papel da mulher na sociedade é de fundamental importância para compreender uma série de questões quanto ao mercado de trabalho, taxas de natalidade e fecundidade, renda familiar, entre outros.

Contextualizando Através das letras dos sambas, busca-se reconhecer como a sociedade se comportava e se comporta sobre o papel da mulher, seu lugar de fala e sua representatividade nos diferentes contextos históricos. Partindo do pressuposto que o samba é expressão da cultura popular, sendo fruto e espelho dessa sociedade em diferentes momentos temporais, analisá-los nos permite reconhecer melhor o passado e o contraponto com o presente. Os sambas abaixo são sugestões para o impulsionar a atividade.

Objetivo Conseguir fazer uma reflexão sobre as mulheres retratadas nos sambas e identificar quais são as várias formas de elas atuarem na sociedade em diferentes contextos históricos. É importante ver o ano de autoria de cada samba para trazer à análise o contexto social da época em que cada letra foi composta. Além de mostrar como o papel da mulher foi se transformando, é importante identificar quais conquistas ainda estão por ser atingidas, além de refletir sobre a mulher idealizada e a mulher real em cada momento nos sambas apresentados.

3) O ideário de mulher brasileira: de Amélia à mulher da Porto da Pedra

a)"Ai! Que saudade da Amélia" – Autores: Mário Lago (letra) e Ataulfo Alves (revisão e

música) – 1942

b) “Bendita és tu entre as mulheres” – Autores: Bento / Fernando Macaco / Vadinho –

G.R.E.S. Porto da Pedra (2006)

a) Nunca vi fazer tanta exigência Nem fazer o que você me faz Você não sabe o que é consciência Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza Tudo o que você vê, você quer

Ai, meu Deus, que saudade da Amélia Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado E achava bonito não ter o que comer

Quando me via contrariado Dizia: "Meu filho, o que se há de fazer!"

Amélia não tinha a menor vaidade Amélia é que era mulher de verdade

Fonte: https://www.letras.mus.br/mario-lago/377002/

b) Bendita mulher! Meu Porto da Pedra explode em prazer A essência do universo / É você

Semente lançada à natureza Fertilidade do ventre abriga

Alimentada na pureza Dá a luz que reflete em vida Aura de um espírito divino Concebida pelo Criador

Escolhida segue o seu destino Mãe protetora que nos banha em seu amor

O dom de encantar o mundo A história em outra direção

A força e a fé em tudo Índia, branca ou negra, é sedução

Mulher que fez brotar no meu Brasil a flor da liberdade Levou ao chão barreiras, construiu a igualdade

Artista, obra-prima, poesia Pintou o samba em cores tão bonitas

O Tigre, abraçando o seu talento Garra, luta e sentimento Conquistando a Avenida

Fonte: https://www.letras.mus.br/porto-da-pedra-rj/473315/

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Proposta de Atividade

Tema: A atuação da mulher na sociedade ontem e hoje

Metodologia

- Ouvir os sambas e refletir sobre de que mulheres eles retratam, em quais contextos elas vivem,

quais seus papéis na sociedade;

- Dividir a turma em grupos para que possam pesquisar outras letras de sambas que abordem

temáticas relativas a mulher no contexto social, que explicitem como elas são e como elas atuam;

- Mostrar ao professor os sambas escolhidos, com justificativas contextualizadas que reforcem suas

escolhas;

- A partir da seleção dos sambas com suas justificativas, conduzir os alunos a buscarem reportagens,

poesias e fotografias que possam ilustrar as situações retratadas nos sambas escolhidos;

- Apresentação do material selecionado, em dia previamente escolhido pelo professor, para o

desenvolvimento de um debate e para a analise do que foi pesquisado;

- Tendo como base todo o material pesquisado e o registro dos debates e conversas com a turma

sobre o tema, produzir uma exposição da evolução do papel da mulher na sociedade brasileira ao

longo do tempo.

Produto

- Montagem de uma linha do tempo com letras de sambas e os diversos materiais pesquisados que

contextualizem a atuação da mulher na sociedade em diferentes períodos.

Sugestão Seria interessante que, em cada ano/samba representado na linha do tempo, tivessem alunos caracterizados apresentando os diferentes contextos. Além de promover a participação mais ativa dos alunos durante a exposição, tornaria a apresentação mais lúdica para quem fosse apreciar seus trabalhos.

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A atividade 4 aborda uma temática recorrente no 8º e/ou 9º anos do Ensino Fundamental II: o mundo subdesenvolvido, mais especificamente, a América Latina. Geralmente, o foco está no processo histórico de formação desta porção da América, bem como nas suas implicações que marcam essa porção do continente até os dias de hoje.

Contextualizando Consideramos importante a apresentação e discussão de conceitos importantes como povo, nação, pátria e identidade. Para contextualizar essa atividade trago uma manchete de 2015 que aborda uma pesquisa feita sobre o reconhecimento do povo brasileiro com relação a sua identidade latino-americana.

Brasileiro despreza identidade latina, mas quer liderança regional, aponta pesquisa

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151217_brasil_latinos_tg

Objetivo A proposta da atividade é estimular a análise sobre o espaço e o povo latino-americano, reconhecendo suas diversas identidades. Além disso, o grande propósito é possibilitar a pesquisa e a descoberta de pontos de confluência entre os processos que desencadearam na formação do nosso país, bem como os processos que também formaram os países irmãos latino-americanos. Acreditamos que, desta forma, possamos estimular o reconhecimento da identidade latino-americana como parte da nossa identidade.

4) A América Latina em verso e prosa: reconhecendo nossa latinidade

“Soy loco por ti América: A Vila canta a latinidade” – Autores: André Diniz / Carlinhos do

Peixe / Carlinhos do Petisco / Serginho 20 – G.R.E.S Unidos de Vila Isabel (2006)

Sangue "caliente" corre na veia É noite no Império do Sol

A Vila Isabel semeia Sua poesia em "portunhol"

E vai...buscar num voo à imensidão Dourados frutos da ambição

Tropical por natureza Fez brotar a miscigenação

"Soy loco por tí América" Louco por teus sabores

Fartura que impera, mestiça Mãe Terra Da integração das cores

Nas densas "florestas de cultura"

Do "sombrero" ao chimarrão Sendo firme sem perder "la ternura"

E o amor por este chão Em límpidas águas, a clareza

Liberdade a construir Apagando fronteiras, desenhando

Igualdade por aqui "Arriba", Vila!!! Forte e unida

Feito o sonho do Libertador A essência latina é a luz de Bolívar Que brilha num mosaico multicor

Para bailar "La Bamba", cair no samba

Latino-americano som No compasso da felicidade

"Irá pulsar mi corazón"

Fonte: https://www.letras.mus.br/vila-isabel-rj/473966/

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Proposta de Atividade

Tema: Nossa identidade latina cantada em samba

Metodologia - Ouvir o samba com os alunos e pedir para que eles elaborem duas listas: a primeira com tópicos que, ao ouvir o samba, identificaram como comuns ao Brasil e, a segunda com o oposto, destacando os pontos que parecem não ter relação com nossa realidade; - Estabelecer conexões entre os processos históricos que a América Latina passou , mostrando como estamos inseridos neste contexto; - Dividir a turma em grupos de acordo com o que o professor achar ideal; - Sortear temas sobre a América Latina para serem pesquisados, sempre em paralelo em relação como a mesma questão se desenvolve no Brasil; - Na data estipulada, os alunos Terão que levar o material, fruto de sua pesquisa para a sala e, juntos, elencarão os conteúdos e fatos mais importantes sobre o tema pesquisado; - A partir desse material os alunos deverão elaborar uma letra de samba (uma poesia, com estrofes e rimas) com as informações por eles selecionadas; - Os alunos não precisarão inventar uma melodia. A proposta é que escolham um samba já existente e se apropriem dessa melodia para introduzir sua letra (fazendo uma espécie de paródia); - O grupo deverá fazer uma breve apresentação/síntese do tema pesquisado, um resumo como se fosse a “síntese de um enredo”; - A proposta é que eles gravem um áudio com a narração da explicação do seu “enredo” e, em seguida, o seu samba (gravação com a síntese apresentada em um tempo de 3 a 5 minutos, além do samba). Produto - Trazer a música e a apresentação gravada em algum dispositivo que seja possível reproduzir em sala, para que todos possam ouvir o samba produzido; - A letra do samba deverá ser impressa para todos os alunos da turma, bem como a síntese introdutória e explicativa.

Sugestões de Temas: - Simon Bolívar e o ideal latino-americano - América Latina e questões agrárias: situações antigas, problemas atuais - A influência norte americana na América Latina - Blocos econômicos e tentativa de integração regional - Problemas urbanos latino americanos - A América latina e a geopolítica atual

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A atividade 5, assim como a 4, também se refere à conteúdos trabalhados no 8º e/ou 9º anos do Ensino Fundamental II: o mundo subdesenvolvido, neste caso, o continente africano. Porém, falar do sistema de apartheid vai além da questão local vivida na África do Sul. O debate a respeito da intolerância e dominação de um povo por outro pode e deve se fazer presente em todas as fases do processo de aprendizagem, sempre considerando as formas de abordagem de cada série.

Contextualização Apartheid é uma palavra que em africânder significa separação. Essa palavra ficou mais conhecida mundialmente por ter batizado o sistema político que esteve em vigor na República da África do Sul (RAS) e que exigia a segregação racial, garantindo privilégios aos brancos. O Apartheid foi um sistema de segregação imposto pela minoria branca à população majoritária negra, que vigorou entre 1948 e 1994. Após a apresentação da temática e do destaque dado à figura de Nelson Mandela – como o grande nome da resistência – o samba em questão ajuda na fomentação do debate, onde se é possível reconhecer o terror do sistema implantado na RAS em paralelo com o nosso apartheid brasileiro, cotidiano.

Objetivo Acreditamos que reconhecer fatos passados é um importante recurso para não permitirmos, enquanto sociedade, que determinados equívocos históricos se repitam. Um dos grandes equívocos permitidos pela humanidade foi a aceitação de um sistema que subjugava uns a outros por sua cor de pele. Infelizmente, o fato passou enquanto processo legalizado, mas ainda se mantem presente, uma espécie de ranço social que devemos banir. O ensino tem um importante papel nesse processo.

5) Do Apartheid na África do Sul à realidade brasileira

“Preto e branco a cores” – Autores: David Souza/ Francisco/ William/ Wagner –

G.R.E.S. Porto da Pedra (2007)

Destino a minha vida Minha luta pela liberdade

A nove filhas de um só coração Ao Sul do berço da humanidade

O Anjo Invasor me deu a cor, mas cor não tenho Eu tenho raça e a cada farsa, a cada horror

O meu empenho, meu braço, meu valor Se ergueu contra o monstro da cobiça

Caveirão da injustiça, filho da segregação Liberto permanece o pensamento

Ele foi meu alento Quando o corpo foi prisão

O nosso herói Mandela é

Senhor da fé, clamou o povo E o Tigre encontra no Leão

A maior inspiração de um mundo novo

Do gueto, um palco de glória Corre em meu sangue a história

Num mundo misturado Matizado com as cores deste chão

Um canto a ser louvado, ser humano ante a fome e a privação

Museu da Favela Vermelha Minha alma se espelha na face do irmão

É hoje, vou cantar Minha gente é o lugar que eu sempre quis

Na Avenida, meu irmão, vou abraçar Viver a igualdade e ser feliz

Liberdade, pelo amor de Deus

Liberdade a este céu azul É minha terra, orgulho meu

Porto da Pedra canta a África do Sul

Fonte: https://www.letras.mus.br/porto-da-pedra-rj/835676/

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Proposta de Atividade

Tema: Nosso apartheid de cada dia Metodologia - Ouvir o samba e identificar as características do sistema de apartheid e os principais personagens que vivenciaram esse contexto; - Estimular o debate em sala, traçando paralelos entre o apartheid ocorrido na África do Sul com os tipos de segregação que estão presentes no samba e na realidade brasileira; - Possibilitar que o debate possa fomentar que outros tipos de segregação estão presentes no nosso dia a dia e quem são os mais afetados pelo nosso “apartheid”; - Propor aos alunos que, a partir das discussões e conclusões, pesquisem e tragam no próximo encontro reportagens que mostrem como as várias formas de segregação ainda estão enraizadas na nossa sociedade. Produto - Montagem de um mural com um título de impacto, como “Basta!” ou “Até quando?” (melhor seria se os alunos discutissem e opinassem sobre como denominar o mural), que possibilite que os alunos desenvolvam sua criticidade a respeito das diversas segregações que a sociedade brasileira está submetida em seu dia a dia, apontando suas origens e quais são os membros da sociedade mais atingidos. Sugestão - Além de apresentar os problemas derivados da segregação, um bom exercício seria o de buscar soluções para os fatos que eles expuserem nos murais. Por isso, propomos que este mural esteja exposto em um dos corredores da escola, onde a comunidade escolar pudesse interagir com suas informações; - A partir de então, uma mesa com papel e caneta e uma espécie de urna ao lado desse mural seria bastante interessante. A proposta é que as pessoas, voluntariamente, pudessem escrever sua opinião sobre como contribuir para minimizar ou, quem sabe, erradicar os problemas apresentados no mural; - Depois de um determinado período, acordado entre os alunos, professores e explicitado para a comunidade escolar, um complemento da exposição seria feito, agora com a presença de possíveis soluções sugeridas pelo grupo como um todo.

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O estudo das regiões brasileiras está presente tanto no Ensino Fundamental II, mais especificamente no 7º ano, como no Ensino Médio.

Contextualizando A região nordeste brasileira por muitas vezes ainda é estigmatizada pelas dificuldades enfrentadas por seu povo, pelas questões de ordem socioeconômica que, durante décadas, provocou um grande êxodo da região e pela “seca que castiga” o povo nordestino. Porém, grandes transformações ocorreram e continuam a ocorrer no nordeste brasileiro, o que nos proporciona ensinar sua diversidade e desenvolvimento dos últimos anos, quebrando estereótipos e reforçando sua importância e representatividade para o contexto nacional.

Objetivo Apresentar um nordeste além dos estereótipos, com toda a sua riqueza e diversidade de culturas, paisagens, condições sociais e econômicas, para que possa ser estimulado o debate sobre os avanços socioeconômicos da região nas últimas décadas. Além disso, essa atividade busca, em função de quem a utilize, por um lado, possibilitar a quebra de preconceitos e intolerâncias contra uma porção do território e contra um povo e, por outro, reforçar a altivez e a representatividade de personagens que foram e são fundamentais na dinâmica socioeconômica nacional.

6) Reconhecendo nosso Nordeste

"Os Sertões" – Autor: Edeor De Paula – G.R.E.S. Em Cima da Hora (1976)

Marcado pela própria natureza O Nordeste do meu Brasil

Oh! solitário sertão De sofrimento e solidão

A terra e seca Mal se pode cultivar

Morrem as plantas e foge o ar A vida e triste nesse lugar

Sertanejo e forte

Supera miséria sem fim Sertanejo homem forte

Dizia o Poeta assim

Foi no século passado No interior da Bahia

O Homem revoltado com a sorte do mundo em que vivia Ocultou-se no sertão

espalhando a rebeldia Se revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia

Os Jagunços lutaram

Até o final Defendendo canudos Naquela guerra fatal

Fonte: https://www.letras.mus.br/em-cima-da-hora/867181/

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Proposta de Atividade

Tema: O nordeste tal como ele é Metodologia - Iniciar uma dinâmica na qual os alunos devam escrever as primeiras 3 palavras que surjam em seu imaginário quando são estimulados a pensar na região Nordeste do Brasil; - Escutar e ler a letra do samba em questão e, em seguida, ver se as palavras selecionadas por eles se relacionam com o entendimento que tiveram do samba; - Apresentar o samba, o que ele retrata sobre a região nordeste e o fato histórico o qual se remete (Guerra de Canudos); - Em seguida, apresentar os dados abaixo:

Nordeste é região com maior retorno de migrantes, segundo

IBGE

Sudeste perdeu potencial atrativo e

Nordeste começou a reter população.

Instituto cruzou informações da PNAD e

dos Censos de 2000 e 2010.

Fonte:

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/07/n

ordeste-e-regiao-com-maior-retorno-de-

migrantes-segundo-ibge.html

- A reportagem contraria todo o imaginário construído pela dinâmica da aula até então, e essa é a proposta: desconstruir a visão do nordeste como região marcada exclusivamente pelo seu atraso; - Levar para a sala de aula imagens e reportagens que ajudem a explicar os avanços da região que auxiliem a explicar a recente migração de retorno; Produto - Propor que os alunos produzam cartazes com imagens e legendas que mostrem o nordeste “ tal como ele é”; - A partir da pretensão de se quebrar alguns preconceitos existentes contra a região nordeste e seu povo, propor que nos cartazes estejam presentes dados que comprovem e exemplifiquem os avanços socioeconômico que a região vem conquistando nos últimos anos; - Pesquisar algumas melhorias e conquistas em que o nordeste obteve destaque nacional; - Estimular que os alunos apresentem aos colegas o que pesquisaram. Sugestão de Vídeos - Reportagem Rede Record → https://www.youtube.com/watch?v=MimroxVLvfg

- Reportagem Rede Globo → https://www.youtube.com/watch?v=g2s9RWynsWA

IMPORTANTE: Deixar claro o contexto socioeconômico e político que possibilitou esse avanço. Mostrar como esse avanço, tanto nordestino como nacional, sofre comprometimento em função da crise econômica e política nacional que o país passa desde 2016.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS As atividades apresentadas são apenas alguns exemplos de

desdobramentos do uso do samba, que podem ser estendidas a outros gêneros

musicais, nas aulas de Geografia.

Considerando que este material é produto de um curso de mestrado

profissional na área de ensino e educação de uma universidade pública, nossa

proposta é de sua implementação de maneira concreta na Uerj, a partir da criação

e oferecimento de cursos e oficinas para professores, com a possibilidade de

inserção de alunos de graduação em licenciatura de Geografia e os professores de

prática de ensino. Outra vertente de atuação proposta é a criação de páginas na

internet para o diálogo com professores, que fomente a troca e a divulgação de

novas atividades, inclusive, com a possibilidade de publicação de e-books com o

conjunto do material produzido.

Todas as práticas sugeridas estarão ancoradas em um projeto de extensão

a ser elaborado com a participação de professores do Instituto de Aplicação

Fernando Rodrigues da Silveira – CAp-Uerj e do Instituto de Geografia, além de

outros docentes da própria Uerj e de instituições distintas que se unam a essa

perspectiva de trabalho.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, C. R. Comunidades aprendentes. In: FERRARO JÚNIOR, L. A. (Org.). Encontros e caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília, MMA/Diretoria de Educação Ambiental, p. 83-92, 2005.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998. 156 p. 1. Parâmetros curriculares nacionais. 2. Geografia: Ensino de quinta a oitava séries. I. Título.

JODELET, D. O movimento de retorno ao sujeito e a abordagem das representações sociais. Sociedade e Estado, v.24, n.3, p.679-712, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/se/v24n3/04.pdf>. Acesso em 07/09/2017.

JOVCHELOVITCH, S.. Os contextos do saber : representações, comunidade e cultura / Sandra Jovchelovitch: tradução de Pedriho Guareschi. Petrópolis, RJ : Vozes, 2008. MOSCOVICI, S.. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003.

TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.

REFERÊNCIA IMAGEM DE FUNDO Rafael Paschoal (trabalha com ilustração, criação de conteúdo e design de personagens, mas nas horas vagas também gosta de escrever livros infantis e contos sobre as idiossincrasias do subúrbio carioca), extraído de: https://desenhandocomlapis.blogspot.com/2017/02/desenhando-o-carnaval-emerson-fialho-e.html#.W7umCWhKiUk

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