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36 Incêndio www.cipanet.com.br incêndio No Brasil, ainda há locais pú- blicos como teatros, cinemas, ca- sas noturnas e shoppings que não contemplam saídas de emergências suficientes com portas corta-fogo equipadas com barras antipânico. Segundo Antonio Fernando Berto, engenheiro e responsável pelo la- boratório de Segurança ao Fogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a segurança contra incêndio deve ser definida durante a fase de projeto das edificações. Apesar de muito importante, o conjunto de porta-corta fogo com barra antipâ- nico compõe uma medida de pro- teção dentro de um conceito mais amplo chamado de compartimenta- ção. “A ideia de compartimentar a edificação, do ponto de vista da se- gurança contra incêndio, tem como objetivo conter e limitar o incêndio, tentando garantir que os danos pro- vocados pelo fogo e fumaça fiquem Porta corta- fogo faz parte da compartimentação contra incêndio PARA IMPEDIR A PROPAGAÇÃO DAS CHAMAS, AS PORTAS COMBATE A INCÊNDIOS dispositivo POR EMILIA SOBRAL | [email protected] FOTOS DIVULGAÇÃO

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Page 1: Porta corta- fogo faz parte da compartimentação contra ... a norma NBR 11785 de barra anti-pânico está passando por revisão. “A ideia é dividir a barra em duas categorias,

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No Brasil, ainda há locais pú-blicos como teatros, cinemas, ca-sas noturnas e shoppings que não contemplam saídas de emergências suficientes com portas corta-fogo equipadas com barras antipânico. Segundo Antonio Fernando Berto, engenheiro e responsável pelo la-boratório de Segurança ao Fogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a segurança contra incêndio deve ser definida durante a fase de

projeto das edificações. Apesar de muito importante, o conjunto de porta-corta fogo com barra antipâ-nico compõe uma medida de pro-teção dentro de um conceito mais amplo chamado de compartimenta-ção. “A ideia de compartimentar a edificação, do ponto de vista da se-gurança contra incêndio, tem como objetivo conter e limitar o incêndio, tentando garantir que os danos pro-vocados pelo fogo e fumaça fiquem

Porta corta-fogo faz parte da compartimentação contra incêndioPARA IMPEDIR A PROPAGAÇÃO DAS CHAMAS, AS PORTAS

COMBATE A INCÊNDIOS

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POR EMILIA SOBRAL | [email protected]

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restritos às imediações do local onde o incêndio começou”, explica Berto.

A compartimentação é dividida em vertical e horizontal. Segundo explica, a compartimentação hori-zontal evita que o incêndio alcance maiores proporções dentro do pa-vimento. “Significa restringir o in-

cêndio às imediações da área onde ele começou”, esclarece. Já a com-partimentação vertical evita que o incêndio se propague entre andares. Para essas duas categorias de com-partimentação, o uso de porta corta-fogo é imprescindível.

Berto diz que a base da compar-timentação horizontal para conter o incêndio no pavimento próximo à sua região de origem são as pa-redes corta-fogo. E, para a com-partimentação vertical, são as lajes que compõem os entrepisos, que também devem ter características de resistência ao fogo. Ambos os elementos construtivos apresen-tam aberturas por onde circulam pessoas, materiais e equipamentos. Essas aberturas são pontos frágeis que devem ser protegidos com uso

de portas corta-fogo. Nesse cenário, as portas corta-

fogo precisam ter resistência com-patível com os elementos princi-pais de compartimentação, que são as paredes e lajes. As escadas são enclausuradas com paredes e por-tas corta-fogo. “As portas corta-fogo têm grande importância para a compartimentação vertical, caso contrário, o incêndio ou a fumaça podem se propagar. Assim, é fun-damental que as portas corta-fogo sejam bem dimensionadas e apro-priadas”, afirma. Segundo ele, além da porta corta-fogo para saída de emergência, há mais dois tipos de portas corta-fogo. “Temos também as portas corta-fogo para os riscos industriais e a porta corta-fogo para a entrada de unidades autônomas

Antonio Fernando Berto, do IPT

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e compartimentos específicos das edificações”, afirma.

Berto, que também é coorde-nador da comissão que revisa a norma da ABNT NBR sobre por-tas corta-fogo, barras antipânico e vedadores, explica que os três tipos de porta são especifica-dos em normas da ABNT: ABNT NBR 11711 – Portas e vedadores corta-fogo com núcleo de madeira para isolamento de riscos em am-bientes comerciais e industriais. Elas são destinadas à proteção de abertura para compartimentação de ambientes comerciais e indus-triais contra incêndio, em paredes ou pisos com até quatro horas de resistência ao fogo. Essa norma fixa os requisitos exigíveis para fabricação, instalação, funciona-mento e manutenção de portas e vedadores corta-fogo, de aciona-mento manual e com sistemas de fechamento automático em caso de incêndio, dos tipos: a) portas e vedadores com dobradiças de eixo vertical; b) portas e vedadores de correr; c) portas e vedadores tipo guilhotina de deslocamento verti-cal e horizontal; d) vedadores com dobradiças de eixo horizontal; e) vedadores fixos. A ABNT NBR 11742 – Porta corta-fogo para saída de emergência. Essa norma fixa as condições exigíveis de fa-bricação, construção, instalação e funcionamento de porta corta-fo-go do tipo de abrir com eixo verti-cal, para saída de emergência. As portas corta-fogo para saídas de emergência são classificadas em quatro classes, segundo seu tempo de resistência ao fogo, no ensaio a que são submetidas, de acordo com a norma ABNT NBR 6479, a saber: a) Classe P-30: tempo de

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resistência mínima ao fogo de 30 minutos; b) Classe P-60: tempo de resistência mínima ao fogo de 60 minutos; c) Classe P-90: tempo de resistência mínima ao fogo de 90 minutos; d) Classe P-120: tem-po de resistência mínima ao fogo de 120 minutos. E a ABNT NBR 15281 – Porta corta-fogo para entrada de unidades autônomas e de compartimentos específicos de edificações. Fixa os requisitos exigíveis para construção, ins-talação, funcionamento, desem-penho e manutenção de portas corta-fogo com dobradiça de eixo vertical, para entrada de unidades autônomas e de compartimentos específicos de edificações. As portas corta-fogo abrangidas por essa norma são classificadas em três classes, em função do tem-po de resistência que apresentam, no ensaio a que são submetidas de acordo com a norma ABNT NBR 6479, a saber: Classe PRF-30: tempo de resistência ao fogo mínina de 30 minutos; Classe PRF-60: tempo de resistência ao fogo mínina de 60 minutos; Clas-se PRF-90: tempo de resistência ao fogo mínina de 30 minutos. As portas para entrada de unidades autônomas apresentam aspecto visual convencional. “A preocu-pação é garantir que a porta tenha capacidade de conter o fogo por um determinado tempo requerido ao fogo”, explica.

“A norma ABNT NBR 11742 não foi a primeira que surgiu”,

conta. Segundo ele, por ocasião dos grandes incêndios no País, na década de 1970, já havia a Norma Brasileira NB 32, que fixava o pa-drão das portas industriais. “Essa é uma porta pesada, com núcleo de madeira que pode ser destinada à proteção de grandes vãos, poden-do funcionar de todas as maneiras, ou seja, de correr, com dobradiças, tipo guilhotina ou tipo alçapão”, explica.

Berto diz que esse tipo de por-ta tem fechamento automático. São portas que permanecem aber-tas e, quando ocorre um incêndio, fecham automaticamente devi-do à atuação de um componente chamado fusível bimetálico. Esse componente está interligado a um sistema de contrapesos que man-tém a porta em condições normais

de uso. A liberação dos contrape-sos determina o fechamento auto-mático da porta.

“Em ambiente de indústria, por exemplo, necessita-se compartimen-tar uma área de estocagem da área de produção. São áreas onde cir-culam mercadorias, equipamentos, empilhadeiras e pessoas. Em caso de um incêndio em uma indústria, essa porta não serve para sair, porque é de difícil abertura”, explica. Essa norma também abrange os vedado-res corta-fogo. A ideia dos vedado-res são elementos não destinados à saída de pessoas, para proteger as aberturas que não estão ao nível do piso, ou na própria laje, como aber-turas para passagem de esteiras, que não são portas e se denominam ve-dadores. “Nós estamos revisando essa norma”, afirma Berto.

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BARRA ANTIPÂNICO

A barra antipânico é parte inte-grante da porta corta-fogo e integra as ferragens obrigatórias, junta-mente com as dobradiças, conforme a NBR 11742. A barra antipânico é um dispositivo de segurança insta-lado em portas corta-fogo e portas de saída de emergência. “A função da barra é possibilitar o destrava-mento imediato da porta, mediante uma simples pressão exercida na barra instalada na face da porta. Os modelos mais comuns do mer-cado são a barra tipo push (radial) e tipo touch (retratora) de saída de emergência”, explica Fabiano Pires Morais, executivo da Disafe, distri-buidora de produtos de segurança.

Morais afirma que a barra é um equipamento fundamental na eva-cuação das pessoas em caso de in-

cêndio ou pânico, pois garante que a porta de saída de emergência nun-ca fique travada no sentido da fuga. “No Brasil, seu uso ainda é muito baixo, comparado com países mais maduros em prevenção, como EUA e Europa”, afirma. Ele considera que o País necessita de uma legis-lação que exija barra antipânico em locais de acúmulo de pessoas, como já está na Instrução Técnica de São

Fabiano Morais

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“A barra antipânico é um

equipamento fundamental na evacuação das

pessoas em caso de incêndio ou

pânico...”

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Paulo 11/4 no ponto 5.5.4 Portas de Saída de Emergência. Além disso, ele acha que falta informação da importância e da eficácia do produ-to em caso de pânico.

A barra antipânico é um produto certificado para ser usado em locais de grande e médio fluxo de pessoas. “No Brasil, ainda se usam as fechadu-ras porta corta-fogo comuns, que não suportam o uso comercial intenso, causando desgaste e perdendo a fun-ção de manter a porta fechada. Assim, é muito comum encontrarmos portas corta-fogo abertas”, explica Morais.

Sobre as características técnicas da barra antipânico, ele lembra que ela deve ser instalada no sentido da fuga, com portas com abertura obri-gatoriamente para fora. “A largura da barra deve ser, no máximo, 200 MM inferior à largura efetiva do vão livre da porta”, afirma. A barra deve ser posicionada entre 900 MM e 1100 MM acima do piso, nunca podendo ser travada no sentido da fuga. Por fim, a barra deve possuir certificado de qualidade.

O engenheiro Berto lembra que a norma NBR 11785 de barra anti-pânico está passando por revisão. “A ideia é dividir a barra em duas categorias, sendo uma específica para porta corta-fogo, que apresenta características que suportem o calor do incêndio, mantendo as portas tra-vadas contra o batente. O texto da revisão será colocado em consulta pública no ano que vem”, afirma, acrescentando que “é sempre impor-tante lembrar que segurança contra incêndio se resolve a partir de uma abordagem sistêmica, pois para um problema complexo não pode haver solução simples. Soluções simplis-tas jamais vão resultar em segurança contra incêndio”, concluiu.

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