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SumárioJornalistas da imprensa, críticos da mídia e visionários digitais discutem as atuais transformações e o aparente declínio dos jornais norte-americanos. Tópicos a serem abordados: o envelhecimento do leitor de jornal, o surgimento da mídia cidadã e a da blogosfera, o destino do noticiário local e do jornal local, notícias e informações em um futuro em rede. Este debate é o terceiro de uma série de fóruns abordando a questão Os jornais sobreviverão? Também fazem parte desta série: A emergência da mídia cidadã (19/9), Notícias, informações e a riqueza das redes Co-patrocinador da série: Ethics and Excellence in Journalism Foundation OradoresJerome Armstrong é fundador da Netroots.com, criador do blog político MyDD.com e autor, juntamente com Markos Zúniga, de Crashing the Gate: Netroots, Grassroots, and the Rise of People-Powered Politics.Pablo Boczkowski é professor adjunto no Departamento de Estudos de Comunicação da Northwestern University e autor de Digitizing the News: Innovation in Online Newspapers [Digitalizando as Notícias: Inovação em Jornais Online].Dante Chinni é pesquisador associado sênior do Excellence in Journalism Project e colunista de mídia da publicação Christian Science Monitor.David Thornburn é professor de literatura e diretor do Fórum de Comunicação no MIT. É autor do livro Conrad’s Romanticism e, mais recentemente, co-editor de Rethinking Media Change: The Aesthetics of Transition [Repensando a Mudança das Mídias: A Estética da Transição].do mit communications forum http://web.mit.edu/comm-forum/

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Porquê jornais são importantes

Quinta-feira, 5/10/0617-19:00 horasBartos Theater

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Sumário

Jornalistas da imprensa, críticos da mídia e visionários digitais discutem as atuais transformações e o aparente declínio dos jornais norte-americanos. Tópicos a serem abordados: o envelhecimento do leitor de jornal, o surgimento da mídia cidadã e a da blogosfera, o destino do noticiário local e do jornal local, notí-cias e informações em um futuro em rede.

Este debate é o terceiro de uma série de fóruns abordando a questão Os jornais sobreviverão? Também fazem parte desta série: A emergência da mídia cidadã (19/9), Notícias, informações e a riqueza das re-des

(21/9).

Co-patrocinador da série: Ethics and Excellence in Journalism Foundation

Oradores

Jerome Armstrong é fundador da Netroots.com, criador do blog político MyDD.com e autor, juntamente com Markos Zúniga, de Crashing the Gate: Netroots, Grassroots, and the Rise of People-Powered Poli-tics.

Pablo Boczkowski é professor adjunto no Departamento de Estudos de Comunicação da Northwestern University e autor de Digitizing the News: Innovation in Online Newspapers [Digitalizando as Notícias: Inovação em Jornais Online].

Dante Chinni é pesquisador associado sênior do Excellence in Journalism Project e colunista de mídia da publicação Christian Science Monitor.

David Thornburn é professor de literatura e diretor do Fórum de Comunicação no MIT. É autor do livro Conrad’s Romanticism e, mais recentemente, co-editor de Rethinking Media Change: The Aesthetics of Transition [Repensando a Mudança das Mídias: A Estética da Transição].

Resumo

Marie Thibault

[Este é um resumo editado, e não uma transcrição textual. Um resumo do debate Why Newspapers Matter também pode ser encontrado no blog Over the River, escrito por Greg Peverill-Conti.]

David Thorburn: Talvez o nome desse debate deveria ter sido “Os jornais são importantes?” invés de “Porquê os jornais são importantes”. Não apenas por nostalgia, espero, eu prefiro o segundo nome. Aparentemente, os jornalistas ainda chegam à sua profissão com um senso de missão e amor pelo tra-balho. E o que dizer de seus sucessores no ciberespaço?

Acredito que nosso debate, até o momento, vem sendo excessivamente positivo ou não qualificado em seu entusiasmo pelo noticiário e blogs online. Os visionários ou utopistas de nossos painéis foram mais convincentes que os céticos. Mas precisamos de uma dose de ceticismo. Precisamos maior vigilância, es-pecialmente com relação ao vocabulário, à forma em que palavras consideradas meras descrições de uma

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tecnologia ou uma mídia também podem representar endossos implícitos. Por exemplo, termos como “participativo”, “interativo” ou “democrático” vêm sendo usados para descrever tecnologias digitais. Pode-se concluir, então, que tecnologias menos “participativas”, tais como um jornal, podem ser inerente-mente inferiores? Nem todas as experiências ficam melhores com um aumento na “participação” de seu público ou seus usuários.

Jornais oferecem mais que informações. A cada dia, organizam o mundo de forma coerente. Mesmo quando optamos por não ler um determinado artigo, fazemos contato com ele e tomamos conhecimento de outro ângulo ou ponto de vista sobre o mundo. É importante considerar estes aspectos dos jornais ao debater o que pode representar a sua perda.

Finalmente, existe uma dimensão claramente política no papel dos jornais. Nos EUA, eles funcionam sob proteção da liberdade de expressão prevista na Primeira Emenda Constitucional, diferentemente de outras formas de comunicação. Além disso, os jornais tradicionalmente são obser-vadores políticos independentes. Sua perda pode prejudicar a função de um governo democrático. Precisamos nos fazer estas perguntas ao adentrarmos e sermos levados para o nosso futuro digitalizado e em rede

Jerome Armstrong: Não passo muito tempo assistindo televisão ou lendo jornais. Eu costumava esmiuçar os jornais na época das eleições, em busca de notícias políticas, mas hoje volto minhas atenções à blogosfera, para achar opiniões e informações sobre pesquisas antes das eleições. Os blogs foram uma resposta à ausência de vozes progressivas na imprensa estabele-cida.

Aconteceram alguns eventos que levaram à ascensão da blogosfera progressiva democrática: houve o de-sastre das eleições na Flórida em 2000, o voto dos Democratas para permitir que Bush ocupasse o Iraque, o fenômeno Howard Dean [um dos primeiros políticos a angariar amplo apoio e um grande número de contribuições de campanha via internet], o surgimento do movimento Netroots [apoio das bases via inter-net] e, mais recentemente, os esforços mais descentralizados da blogosfera local. Leitores da rede de blogs liberais são muito envolvidos com política. A relação entre os blogs e a mídia tradicional é sim-biótica. Os bloggers alimentam-se da mídia tradicional e escrevem suas opiniões. Os jornalistas estão começando a buscar os blogs para ler as mais recentes notícias, porque os blogs são um local onde as pes-soas podem testar suas opiniões. Às vezes, os blogs chegam a ser distribuídos por jornais.

Os blogs não trarão o colapso dos jornais, e as pessoas não buscarão os blogs para obter suas notícias. Mas a principal questão é se os jornais conseguirão personalizar seu conteúdo de forma tão atraente quanto a mídia online.

Pablo Boczkowski: When More Media Equals Less News (Quando Mais Mídia Equivale a Menos Notícias) é a primeira publicação que surgiu a partir do meu atual projeto de pesquisa. Estudei os dois maiores jornais de Buenos Aires, Argentina: Clarin e La Nacion. Um determinado dia, observando a primeira página de ambos, vi que cada um tinha matérias nas seguintes categorias: governo nacional, internacional, local e saúde/ciência. Algumas das matérias tinham até a mesma posição na primeira página do jornal. Isto faz parte de uma tendência maior. Atualmente, existe uma grande sobreposição de conteúdo na mídia. Minha pesquisa mostrou que, pelo menos na Argentina, o uso da internet levou a uma crescente

convergência de conteúdo. Minha pesquisa visa medir o papel que determinadas práticas tecnológicas desempenha nessa convergência.

Uma possível conclusão do meu trabalho é a seguinte: Os jornais são menos importantes porque, cada vez mais, transformam as notícias sérias em uma commodity. Estão perdendo a sua capacidade de estabelecer a agenda e a habilidade de contribuir para uma esfera pública diversa.

Na Argentina, cerca de 25% da população adulta têm internet. O setor de jornais naquele país conta com uma fatia larga e relativamente estável da publicidade. O Clarin tem 36% do mercado nacional, sendo o

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maior jornal online. O Clarin tem 36% do mercado nacional, sendo o maior jornal online. O Infobae tem apenas 1% do mercado nacional, mas vem se tornando um forte participante online nos últimos anos.

Para o meu projeto de pesquisa, analisei as primeiras páginas dos dois jornais impressos ao longo de dez anos e as nove maiores matérias de três jornais online durante 24 horas. Durante os primeiros cinco anos, os jornais online apenas reproduziam na internet o seu conteúdo habitual, mas a partir de 2001 passaram a publicar mais últimas notícias. Em 2004, passaram a fazer isto de forma mais agressiva. Isso fez diferença para os jornais impressos. Uma em três matérias de notícias sérias era compartilhada por esses jornais impressos antes de 2004 e 2005, mas a partir daquele ano, uma em duas matérias de notícias sérias passou a ser compartilhada.

As matérias de assuntos corporativos foram as mais afetadas por essa convergência. Existe uma rede muito densa de conteúdo compartilhado entre esses dois grandes jornais. Isso mostra que o que realmente interessa é o que as pessoas fazem com tecnologia. Os primeiros cinco anos de coexistência com noticiário online não afetou a mídia impressa, mas assim que as últimas notícias passaram a ser publicadas online, a conteúdo impresso foi afetado. Antes de realizar este estudo, passei nove meses dentro de uma redação online. Descobri que o monitoramento da concorrência aumentou e passou a ser obsessivo. Cada um dos jornais acha que deve cobrir as notícias que o outro cobre; assim, no transcorrer do dia, as notícias de cada um ficam cada vez mais parecidas. Alguns jornalistas e editores descrevem esse monitoramento com “inevitável”.

Para concluir, minha pesquisa me leva a pensar se não é o caso de os jornais serem menos importantes porque transformaram as notícias em commodities e assim reduziram sua diversidade e individualidade. Mas isto não acontece apenas na Argentina. O State of the News Media 2006 descreve uma situação similar nos EUA, observando que o novo paradoxo do jornalismo americano é mais pontos de saída cobrindo menos matérias.”

Dante Chinni: Nosso consumo de mídia está cada vez mais complicado, e nós nos tornamos onívoros. Buscamos nossas notícias em todos os lugares. Este é o melhor momento para ser um consumidor de notícias, porque pode-se fazer o que bem entender. Por outro lado, também é difícil, porque precisamos nos vigiar para não tenhamos uma overdose de comida ou notícias de má qualidade.

Acredito que o formato de redações, repórteres e editores sobreviverá, mas coexistirá com outras formas de mídia. Acredito que os jornais sobreviverão, mas não sei qual será a cara deles, se serão publicados em papel, o que eles cobrirão ou como pagarão pela cobertura. Jornais são caros, e sua forma de entrega não é muito eficiente. Outro desafio são as grandes manchas urbanas, que dificultam a cobertura de notícias locais nos bairros mais remotos das cidades. Embora os jornais tenham tido um leve aumento de receita nos últimos tempos, no longo prazo tiveram queda de receita. Isto se deve à queda no número de leitores. O máximo que podemos esperar é uma queda constante de 1% ao ano no número de leitores. Sendo realistas, não podemos esperar por nada melhor.

Embora o jornal online permita que mais pessoas tenham acesso ao seu conteúdo, está acabando com o jornal impresso em termos de anúncios classificados. Receitas de assinaturas também desaparecem quando as pessoas passam a ler jornais online sem pagar. Será extremamente difícil compensar a perda de receita já sofrida pelos jornais, de forma que os tempos atuais estão sendo difíceis para todos do setor de jornais.

Por que devemos nos importar com isto? Jornais são essenciais pelos seguintes motivos:

1: Jornais contam com a maioria dos repórteres de rua. Esses repórteres têm muita experiência.

2: Os blogs sabem lidar com as grandes notícias, mas não conseguem dar furos de reportagem nessas matérias. Os bloggers não têm acesso a algumas das informações necessárias e também não têm o tempo para ficar esperando essas informações a cada dia. Na maioria dos casos, escrever um blog não é a principal ocupação profissional de um blogger.

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3: Os repórteres tradicionais tentam buscar a precisão da notícia; normalmente, não tentam dar um ou outro viés à matéria. Por outro lado, os bloggers muitas vezes desejam um resultado em especial. Os blogs podem representar uma versão eletrônica do The Nation [de esquerda] ou do The National Review [de direita], mas esta não pode ser a única forma de obtermos nossas notícias.

4: A verdadeira força de um jornal é seu conhecimento coletivo. Um blogger individual provavelmente sabe mais que um jornal a respeito de um determinado assunto, mas esse mesmo blogger pouco sabe a respeito de muitos outros assuntos que esse jornal cobre.

Lembrem-se, o sistema de entrega não é a coisa mais importante. Precisamos achar um modelo econômico para viabilizar toda essa coleta de informações.

Boczkowski: Os sites de notícias estão ganhando bem, mas seu tamanho e volume não é ideal para grandes empresas acostumadas a altas receitas.

Armstrong: Acredito que as notícias modificadas são um ótimo exemplo para os críticos que pensam que seus pontos de vista e interesses não são representados. Existem dois tipos de figuras de autoridade: Aquelas que concordam com seu ponto de vista e compartilham suas experiências, e aquelas consideradas pela sociedade como sendo parte do fluxo de informações. Os jornais fazem parte do segundo grupo, e as pessoas estão voltando-se ao primeiro grupo cada vez mais. Assim, os jornais estão sendo mais desconstruídos.

Chinni: Para obter todas as informações que um jornal tem, seria necessário visitar um blog político, outro sobre a Ásia, outro sobre saúde, etc. Obviamente, para interesses específicos, os blogs servem como suplemento. Tomaria tempo demais achar todas as notícias via blogs.

Pergunta: Evidentemente, nenhum blog consegue substituir o Wall Street Journal, mas sua versão online está substituindo a versão impressa. Aparentemente, os jornais online substituirão os jornais impressos.

Chinni: De fato acredito que é para lá que os jornais estão indo, e é apenas uma questão de encontrar uma forma de pagar por isso. Haverá uma grande convergência de vídeo, jornais e conteúdo online mais para frente.

Armstrong: O que irá desaparecer, caso os jornais impressos deixem de existir, é o formato estruturado de apresentação das notícias. O noticiário online cada vez mais será personalizado em conteúdo, com anúncios voltados a leitores específicos. O formato do jornal impresso, do tipo tamanho único para todos os públicos, irá desaparecer, e não vejo uma forma de isso ser evitado.

Boczkowski: Quando os jornais fazem a transição online, o conteúdo deixa de ser o mesmo. A maioria das notícias online são consumidas durante o horário de expediente. Os leitores têm pouco tempo e sua atenção está dividida, de forma que querem notícias curtas e rápidas. Isto significa que uma empresa de notícias precisa produzi-las rapidamente. Conseqüentemente, como o tempo de produção é muito breve, quais matérias são cobertas e as maneiras que elas são reunidas diferem.

Pergunta: O feed de notícias do Google parece-se com o passar de olhos no jornal. Ainda escolhemos as matérias que nos atraem e interessam, de maneira semelhante que acontece com o jornal. Portando, o que, exatamente, é um jornal?

Chinni: Um jornal é uma organização repleta de pessoas que criam um produto lido todos os dias. O feed de notícias do Google depende da tecnologia antiga dos jornais, porque pega as mesmas matérias e as apresenta em um formato diferente.

Armstrong: É verdade, o feed de notícias do Google não existiria sem os jornalistas tradicionais. Contudo, o Google e outros agregadores de notícias não estão apoiando esses jornalistas tradicionais financeiramente. Portanto, o que manterá os jornais rentáveis?

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Boczkowski: Além de ser uma organização, um jornal também se especializa em critério editorial. Por outro lado, o Google se vale de um algoritmo para selecionar quais notícias distribuir. Essa atividade é uma combinação em alguns jornais. O Le Monde utiliza um software que ajuda os editores a decidir quando as matérias online devem ser alternadas. Essa parceria entre critério humano e análise por software é parte da transformação que integra a transição da matéria impressa para online.

Pergunta: Como seriam afetadas as pressões enfrentadas pelos jornais se estes ficassem sob controle de empresas privadas ou investidores locais? Uma situação como essa daria um alívio aos jornais?

Boczkowski: Essa é uma questão complicada, mas a função essencial dos mercados de capitais nos EUA implica que existe uma visão de extremo curto prazo do desempenho. A mídia tradicional já não é dona da maior parte do ambiente de informações; além disso, os jornais recederam de suas posições no mercado: hoje tem um controle muito menor do ambiente de informações.

Pergunta: Minha preocupação é com a interface. Ao ler um jornal, apesar de eu não ter um grande interesse em ópera, tomo conhecimento dessa arte, porque minha atenção é atraída por uma ótima chamada ou belas fotografias. Isto não acontece com jornais online. Fico preocupado que o mundo está tornando-se um lugar menor, com a perda dessa possibilidade de acidentalmente descobrir coisas novas e surpreendentes.

Chinni: Acredito que isto se aplica diretamente às notícias, porque as notícias moldam nossas realidades. Se cada um de nós receber notícias diferentes, isto afetará consideravelmente nossa democracia. Passamos a debater coisas que deveriam ser fatos, e isso é um problema. Existe a perda da possibilidade de acidentalmente descobrir coisas novas e surpreendentes com o noticiário online, porque buscamos apenas aquilo que desejamos saber.

Armstrong: Na política, não há dúvida que são criadas diferentes realidades, mas isto pelo menos significa que mais pessoas estão participando do processo político.

Boczkowski: Sua preocupação com a possibilidade de acidentalmente descobrir coisas novas e surpreendentes é legítima, porque 50% a 60% de todos os cliques são na primeira página.

Alex Beam: Jerome, você poderia falar um pouco sobre Netroots, políticas progressivas e a internet? Estou especialmente interessado na situação de Ned Lamont em Connecticut, nos EUA, que venceu as eleições primárias democráticas graças à blogosfera, mas pode perder as eleições gerais apesar (ou talvez em parte devido a) o apoio que recebe dos bloggers liberais.

Armstrong: A vitória de Ned Lamont mostrou que o movimento progressivo online está conquistando o poder de afetar as eleições primárias, mas isto provavelmente não é forte suficiente para afetar as eleições gerais, que incluem eleitores de outros partidos. Ultimamente, mais blogs locais surgiram e estão ajudando as pessoas a participarem mais do processo político local.

Pergunta: Eu costumava pesquisar notícias personalizadas e ainda me pergunto como é possível definir um público. Cada pessoa tem uma história e interesses diferentes. Portanto, como é possível de fato ter um público alvo?

Armstrong: Como já dissemos, parte do problema da mídia tradicional é que ela não deu às pessoas aquilo que as interessava. Defenderam o que chamo de propaganda de direita, devido a pressões externas, e tornaram-se uma commodity.

Chinni: Não creio que ponham matérias na primeira página em busca de audiência. Editores valem-se de sua experiência para determinar a importância de cada matéria. A primeira página é uma coleção de notícias que os editores consideram mais importantes.

Boczkowski: Quando editores pensam em seu público, projetam seus próprios desejos e crenças nesse público. Os jornais não existem para nos dizer o que queremos saber, mas sim o que devemos saber. Já online, o monitoramento apura a percepção do editor sobre o que o público está interessado. Mas ver isso no dia-a-dia cria um conflito real entre valores profissionais, serviço público e aquilo que o público quer.

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Pergunta: Os editores param de exercer critérios quando passam a homogeneizar? Outra dúvida é como determinamos quem são os especialistas na blogosfera?

Armstrong: Os especialistas são conhecidos, essencialmente, pela sua credibilidade, mas atualmente existe muito ceticismo online. Creio que embora os blogs tenham substituído os jornais, ainda são os guardadores das notícias.

Chinni: Sempre haverá esses guardadores de notícias. O estudo argentino pode ser melhor comparado, nos EUA, à televisão local. Aqueles que trabalham em estações locais assistem outros canais com cuidado, analisam as pesquisas de opinião e com isso o conteúdo fica cada vez mais parecido. Este é um péssimo critério para escolher notícias, e será complicado se o noticiário online ficar assim também.

Armstrong: Se os jornais argentinos tiveram maior concorrência da mídia online, isso não seria motivo para eles não reproduzirem esse conteúdo? Se continuaram a homogeneizar seu conteúdo, haverá muito espaço para a mídia online tirar proveito.

Boczkowski: Critérios editoriais são sempre critérios coletivos. O que acontece agora é que os critérios coletivos também incluem os concorrentes. É mais fácil acessar informações de outros serviços de notícias e, à medida que os ciclos de produção ficam menores, esses serviços de notícias passaram a ser úteis e importantes. Não sei se o número de recursos irá crescer com a diversidade da população e o número de pessoas online, mas os poucos dados que tenho apontam o contrário.

Chinni: Claro, espero e penso que o Jerome está certo, mas são os dólares da publicidade que, em última análise, determinarão tudo isto, porque os anunciantes buscam um determinado público.

Pergunta: Qual o grau de liberdade que a mídia online tem em regiões nas quais a mídia principal está sujeita à censura?

Chinni: Recentemente, escrevi uma coluna no The Christian Science Monitor sobre um blogger chinês que escrevia para o China Daily. São usadas câmeras de celulares para tirar fotos, que são postadas no site. Escolhiam o que ia para a primeira página. No tocante a assuntos controversos, o governo não havia emitido regras, mas avisou que o blogger deveria ser cuidadoso. Fotos de atividades ilegais não podem ser postadas na primeira página, mas podem ser incluídas em páginas pessoais na internet. O número de fotos enviadas ao China Daily aumentou consideravelmente.

Quando minha coluna foi publicada, o site já havia sido retirado do ar, por ordem do governo. Contudo, já que permitiram câmeras de celulares, algumas dessas fotos acabam vazando. O controle governamental não consegue impedir tudo, e essa é a melhor parte da mídia cidadã.

Thorburn: Existem algumas características particulares do jornalismo norte-americano ou democrático que absolutamente devem ser protegidas e continuadas?

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Armstrong: Penso que seja importante lembrar que as pessoas estão expostas a um número muito maior de pontos de vista ao ler conteúdo online que ao ler jornais. Por exemplo, em algumas regiões ou culturas o criacionismo pode ser aceito como um fato, e os jornais dessas regiões podem refletir esse ponto de vista. Contudo, se os leitores desses jornais visitarem sites online sobre criacionismo, serão expostos a conteúdo que se opõe ao criacionismo, e portanto serão expostos desta forma a outros fatos ou opiniões.

Boczkowski: Existem diferentes relações entre o jornalismo e o estado. Existem diferentes tipos de democracia e governos e grandes empresas normalmente tentam controlar a imprensa. Uma imprensa autônoma tenta monitorar essa situação oferecendo um produto diferente e aprofundando investigações. Portanto, conteúdo homogeneizado não oferece um produto diferente, e então a imprensa começa a abrir mão de seu papel na sociedade democrática.

Armstrong: No início deste ano, houve um projeto de lei apresentado à Comissão Eleitoral Federal, tentando rotular todos os blogs político-partidários como sendo contribuições em espécie, mas acabou sendo posto de lado. Isso foi uma decisão correta, porque bloggers não são diferentes de outras pessoas que expressam suas opiniões. Não deve haver limites em sua atividade.

Uma pergunta para Dante: A imprensa conquistou seu acesso graças a suas posições, seus direitos e sua objetividade ou pelo público e poder que tem?

Chinni: Em última análise, esse acesso é concedido pelo direito que imprensa tem sob a Primeira Emenda dos EUA, e porque acredita-se que alguém precisa contar ao país o que está acontecendo no governo. As pessoas são pagas para fazer esse trabalho e nem todos podem ter esse tipo de acesso. Não penso que seja pela sua imparcialidade, até porque jornalistas da The Nation e outras publicações semelhantes também obtêm credenciais de imprensa.

Armstrong: Mas eu não acredito que esse acesso possa ser separado do poder e do público que uma revista ou jornal têm.

Chinni: Sim, acredito que isto seja justo, existe um grupo de simpatizantes da mídia que lhe concede uma medida de poder.