por uma arquitetura

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POR UMA ARQUITETURA (Le Corbusier) Le Corbusier lançou em seu livro Vers une architecture (Por uma arquitetura, na tradução em português), as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou (juntamente com a atuação da Bauhaus na Alemanha) a cultura arquitetônica do mundo inteiro. Sua obra, ao negar características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que mais tarde seria chamado de international style ou, estilo internacional, que teria representantes como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius, e Marcel Breuer. Foi um dos criadores dos CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne). A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentados sobre pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitetônicas de Le Corbusier foi adotada pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos da América. Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias. Depois da sua morte, os seus detratores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitetura contemporânea. Entre as contribuições de Le Corbusier à formulação de uma nova linguagem arquitetônica para o século XX se encontram estes cinco pontos, formalizados no projeto da Villa Savoye: Construção sobre pilotis Ao tornar todas as construções suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma inédita relação "interno-externo" criar-se-ia entre observador e morador. Terraço-jardim Não mais os telhados do passado. Com o avanço técnico do concreto-armado, seria possível aproveitar a última laje da edificação como espaço de lazer. Planta livre da estrutura A definição dos espaços internos não mais estaria atrelada à concepção estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessária para a melhor definição espacial interna possível. Fachada livre da estrutura Consequência do tópico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente às construções, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas o mais flexível. Deveriam ser abolidos quaisquer resquícios de ornamentação.

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Page 1: Por Uma Arquitetura

POR UMA ARQUITETURA (Le Corbusier)

Le Corbusier lançou em seu livro Vers une architecture (Por uma arquitetura, na tradução em português), as bases do movimento moderno de características funcionalistas. A pesquisa que realizou envolvendo uma nova forma de enxergar a forma arquitetônica baseado nas necessidades humanas revolucionou (juntamente com a atuação da Bauhaus na Alemanha) a cultura arquitetônica do mundo inteiro. Sua obra, ao negar características histórico-nacionalistas, abriu caminho para o que mais tarde seria chamado de international style ou, estilo internacional, que teria representantes como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius, e Marcel Breuer. Foi um dos criadores dos CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne). A sua influência estendeu-se principalmente ao urbanismo. Foi um dos primeiros a compreender as transformações que o automóvel exigiria no planejamento urbano. A cidade do futuro, na sua perspectiva, deveria consistir em grandes blocos de apartamentos assentados sobre pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção, o que formaria algo semelhante a parques de estacionamento. Grande parte das teorias arquitetônicas de Le Corbusier foi adotada pelos construtores de apartamentos nos Estados Unidos da América. Le Corbusier defendia, jocosamente, que, "por lei, todos os edifícios deviam ser brancos", criticando qualquer esforço artificial de ornamentação. As estruturas por ele idealizadas, de uma simplicidade e austeridade espartanas, nas cidades, foram largamente criticadas por serem monótonas e desagradáveis para os peões. A cidade de Brasília foi concebida segundo as suas teorias. Depois da sua morte, os seus detratores têm aumentado o tom das críticas, apelidando-o de inimigo das cidades. É, no entanto, absolutamente, um nome de referência na história da arquitetura contemporânea. Entre as contribuições de Le Corbusier à formulação de uma nova linguagem arquitetônica para o século XX se encontram estes cinco pontos, formalizados no projeto da Villa Savoye: Construção sobre pilotis Ao tornar todas as construções suspensas, cria-se no ambiente urbano uma perspectiva nova. Uma inédita relação "interno-externo" criar-se-ia entre observador e morador. Terraço-jardim Não mais os telhados do passado. Com o avanço técnico do concreto-armado, seria possível aproveitar a última laje da edificação como espaço de lazer. Planta livre da estrutura A definição dos espaços internos não mais estaria atrelada à concepção estrutural. O uso de sistemas viga-pilar em grelhas ortogonais geraria a flexibilidade necessária para a melhor definição espacial interna possível. Fachada livre da estrutura Consequência do tópico anterior. Os pilares devem ser projetados internamente às construções, criando recuos nas lajes de forma a tornar o projeto das aberturas o mais flexível. Deveriam ser abolidos quaisquer resquícios de ornamentação.

Page 2: Por Uma Arquitetura

Janela em fita Localizada a uma certa altura, de um ponto ao outro da fachada, de acordo com a melhor orientação solar. A ‘cidade-pilotis’ propunha a construção de um solo urbano artificial em uma plataforma a 4 ou 5 metros acima do terreno, sob a qual teríamos depositada toda a infra-estrutura urbana necessária, usualmente suspensa, os cabos riscando a paisagem urbana, e enterrada, o que nos dá um transtorno a cada serviço de reparo ou manutenção. Neste porão correriam também o transporte público, os automóveis, o barulho e a fumaça, sem molestar o passeio e a vida do pedestre. Jardins suspensos, ruas como pontes e passarelas interligando as torres arrematavam a ilustração de uma cidade futurista em funcionamento planificado. A idéia de Le Corbusier deve ter soado, em 1915, tão lógica quanto uma equação bem formulada, mas tão extravagante quanto uma obra dada. Com raciocínio prático, Le Corbusier soergueu primeiro a cidade, a edificação isolada sobre pilotis é um corolário dela. A casa Citrohan em segunda formulação, aquela com pilotis, foi apresentada no Salão de Outono de 1922 e teve uma versão dela construída em Stuttgart, 1927. Temos aí a ‘casa-pilotis’, tal como a cidade de 1915, de modo a liberar o terreno para a circulação e para o automóvel, o solo livre destinado ao movimento, ao tráfego e à vegetação inclusive, porquanto o jardim e o lazer teriam seu espaço principal reservado na cobertura da edificação. É o que se nota na Ville Savoye, a casa-caixa construída na paisagem campestre, elevada por pilotis, solário na cobertura, o pavimento térreo estritamente ocupado pelo hall, aposentos de empregados, lavanderia, garagem e depósito, numa conformação semicircular decorrente da manobra do automóvel (contornando a edificação para descobrir a entrada da casa no lado oposto a sua chegada e, na sequência do giro, atingir a garagem ou remeter-se ao caminho de volta) sob o abrigo da porte-cochère definida pela projeção do corpo do edifício.Cito o comentário de Corbusier sobre a paisagem natural e a solução formal dada ao programa residencial nesta obra: "El lugar: una extensión de césped abombada en dombo aplanado...La casa es una caja en el aire, agujereada en su alrededor, sin interrupción, por una ventana em longitud...La caja está en medio de unos prados, que dominan el vergel...Los habitantes, venidos aquí debido a que esta campiña agreste era hermosa com su vida de campo, la contemplarán, conservada intacta, desde lo alto de su jardín suspendido o de los quatro lados de sus ventanas alargadas. Su vida doméstica se verá introducida en un sueño virgiliano". Evidentemente, assim apoiadas as construções de Corbusier poderiam ser transpostas a qualquer sítio e esta mobilidade era enfaticamente anunciada em suas conferências, ilustrada pela idéia de a Ville Savoye ter sido pensada para o subúrbio parisiense embora pudesse estar também na Argentina entre outras tantas vilas idênticas ou na costa mediterrânea. Neste caso o pilotis garantia a independência da arquitetura concebida à parte das características particulares de cada terreno, porquanto permitia que ela se acomodasse às circunstâncias geográficas.