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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP MORGANA MOREIRA MOURA ESTRATÉGIAS DE REGULAMENTAÇÃO DA MEDICAÇÃO: o caso da propaganda de aspirina MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

MORGANA MOREIRA MOURA

ESTRATÉGIAS DE REGULAMENTAÇÃO DA MEDICAÇÃO:

o caso da propaganda de aspirina

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

SÃO PAULO

2014

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MORGANA MOREIRA MOURA

ESTRATÉGIAS DE REGULAMENTAÇÃO DA MEDICAÇÃO:

o caso da propaganda de aspirina

Dissertação apresentada à banca examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial para a obtenção

de título de Mestre em Psicologia Social, sob a

orientação da Profª Drª Mary Jane Paris Spink.

SÃO PAULO

2014

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Banca Examinadora

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Dedico esse trabalho à:

Minha família, por acreditar;

Mary Jane, pela confiança e pelas orientações (extra) acadêmicas;

Dolores Galindo, por me apresentar a essa Psicologia Social num momento de

descontentamento acadêmico.

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AGRADECIMENTOS

À Luci (mãe), Ailon (pai), Mayara (irmã) pelo apoio a uma carreira acadêmica. Obrigada por

possibilitar a realização de um sonho.

À Jonathas, pelo amor, companheirismo, espera e dedicação.

À Juventude (Tude), Concheta e Valdelice por me acolherem e proporcionarem a alegria dos

almoços de domingo em família numa terra fria.

À Edistiane (Tininha), Pedro Lucas, Geovana, tia Ivone e tia Marilene, por serem a extensão

do meu lar.

À Profª Drª Mary Jane Spink, por me acolher e me dar o privilégio de ser sua orientanda.

Obrigada pelo carinho, apoio, dedicação, pelas orientações acadêmicas e principalmente as

orientações de vida.

Ao Núcleo de Práticas Discursivas e Produção de Sentidos, por compartilhar as experiências

que contribuíram para construção desse trabalho. E um carinho especial à Mariana Prioli

Cordeiro, Jacqueline Brigagão, Vanda Nascimento e Vera Menegon.

Aos professores do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social, pelas aulas que

tanto contribuíram para elaboração desse trabalho.

À Profª Drª Maria Cristina Vicentin (simplesmente Cris), pela simplicidade, pelas aulas

maravilhosas e por aceitar avaliar e contribuir com esse trabalho.

Ao Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado, do Programa de Comunicação e Semiótica, por me

receber em suas aulas e contribuir com novos olhares.

Aos discentes do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social, em especial

George Morais de Luiz, por compartilhar o amor pelo Mato; Jullyane Brasilino, pelas

conversas e caminhadas no parque; Ricardo Mello, pelos cafés e almoços no bandejão;

Samanta Cunha, pela acolhida; Pedro Figueiredo, Roberth Tavanti, Mário Martins, Miguel

Pereira, Eliete de Souza, Thiago Ribeiro, Camila Pereira, Renata Ishida, Luciana Ferreira,

Marta Lúcia, Adriano de Oliveira, Fábia Silva, Adriano Santos, Ivonete Gardini, Lívia dos

Santos, Vanessa Furtado, Raquel Franchito e Alyne Alvarez Silva.

À Marlene pela paciência e ajuda com a burocracia.

À Morais, que mesmo sem conhecer seu rosto, sou eternamente grata pela ajuda.

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À Cláudia Malinverni pelo cuidado com as palavras.

À Profª Drª Dolores Cristina Gomes Galindo, pelo carinho, preocupação, pelas orientações de

vida e por me incentivar a percorrer os caminhos acadêmicos.

Ao LabTecc – Grupo de Pesquisa em Tecnologia, Ciência e Contemporâneo, da Universidade

Federal de Mato Grosso. Em especial as discentes Renata Vilela, por compartilhar minhas

primeiras experiências em pesquisa, Vanessa Ferraz Leite, Cláudia Vanessa Poletto, Danielle

Milioli, Anny Rodrigues e Leihge Roselle.

Aos professores: Dr. Alcindo José Rosa, Dr. Leonardo Lemos de Souza, Drª Raquel Salgado,

Drª Laura Carvalho, Dr. Fausto Calaça, Drª Graciela Barbero, Dr. Luís Fernando Barth e,

novamente, Drª Dolores Dalindo, por minha formação em Psicologia pela Universidade

Federal de Mato Grosso, campus de Rondonópolis.

Às Faculdades Unidas do Vale do Araguaia por possibilitarem minhas primeiras experiências

docentes. Especialmente os professores Ms. Josiane Silva, Ms. Aline Murillo, Ms. Neilton

Gomes da Silva e Ms. Flávio Valentim.

À Prefeitura Municipal de Barra do Garças - MT, especialmente as parceiras de trabalho:

Dayanne Pimentel Soares, Cláudia Coutinho, Lusdalva Bueno, Admilce Campos, Zita Brand,

Kele Santana, Raphaela Mendes, Heloise Rezende e Emily Reolon.

Aos amigos: Day, Torrez, Leandro (Fubá), Frances, Caetano (Dino), Michael, Jeff, Kil,

Warlei, Roméria, Carol Stefan, Alessandra e Núbia, pela amizade que me fortalece todos os

dias. E um agradecimento especial ao Michael pelo sotaque Mato-britânico.

Ao Jiu-jitsu e a equipe Gracie Barra de Barra do Garças – MT por me proporcionarem os

momentos de serenidade com a arte suave, Oss.

Ao Conselho Nacional de - CNPq e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – CAPES, pelo apoio financeiro que possibilitou a realização dessa pesquisa.

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Esse remédio jamais vai curar

Esse remédio eu conheço, é aspirina

Isso só faz com que a cabeça descanse em paz

Enquanto a confusão contamina.

(Acústicos e Valvulados, Remédio, 2008)

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MOURA, M. M. Estratégias de Regulamentação da Medicação: o caso da propaganda de

aspirina. 2014. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social). Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo: São Paulo, 2014.

RESUMO

No cenário da automedicação, a propaganda de medicamentos possui papel significativo.

Assim, nessa pesquisa, buscamos entender as estratégias de regulamentação dos

medicamentos de venda livre, voltando-se mais especificamente às regulações das

propagandas endereçadas ao público em geral. Para isso, tem como estudo de caso as

propagandas de aspirina, do laboratório Bayer. Tendo por bases ontológicas, epistemológicas

e metodológicas as vertentes pós-construcionistas, o trabalho foi desenvolvida na confluência

dos estudos psicossociais de orientação construcionista e dos estudos tecnocientíficos da

Teoria ator-rede. Respaldados pelo conceito de medicalização e farmaceuticalização, bem

como a atuação da publicidade de medicamentos nesses processos, buscamos inicialmente

situar a propaganda de aspirina no Brasil. Em seguida, objetivou-se entender, por meio de

análise da regulamentação identificada, quando e como a propaganda de medicamentos

tornou-se objeto de regulação. Nessa etapa, identificamos os diferentes atores que fazem parte

desse processo e os diferentes períodos na linha de regulamentação. A partir da descrição

dessas fases, pudemos identificar o impacto dessa regulamentação na propaganda impressa de

aspirina, escolhendo propagandas publicadas após a legislação referente a ruptura de cada

fase. Por fim, descrevemos as controvérsias entre CONAR e Anvisa nesse processo de

regulamentação, bem como as articulações, os pontos de divergência e as fragilidades desse

debate. Com isso, podemos concluir que a regulamentação tem efeitos significativos na

propaganda, mas possui expressivas lacunas, que evidenciam o conflito de interesses entre a

autoridade sanitária, a indústria farmacêutica e as pessoas que consomem o medicamento,

problematizando assim a noção de automedicação e a forma como as pessoas se relacionam

com as substâncias e como as informações sobre essas.

Palavras-chave: propaganda de medicamentos; medicalização; farmaceuticalização;

Psicologia Social.

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MOURA, M. M. Regulatory Strategies of Medication: the case of aspirin advertising.

2014. Dissertation (Master in Social Psychology). Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo: São Paulo, 2014.

ABSTRACT

In a scenario of self-medication, drug advertising has a significant role. Thus, in this research,

we seek to understand the strategies used to regulate OTC (out-the-counter) medications,

focusing more specifically to the regulations of advertisements addressed to the general

public. For that, it has as a case study the advertisements of aspirin, Bayer lab. By having

ontological, epistemological and methodological bases strands post-constructionism, the work

was developed at the confluence of psychosocial studies of constructionism orientation and

techno-scientific studies of Actor-Network Theory. Backed by the concept of medicalization

and pharmaceuticalization, as well as the performance of the advertising of medicines in these

processes, initially sought to situate the advertising of aspirin in Brazil. Then it was aimed to

understand, using analysis of the identified regulations, when and how drug advertising

became the object of regulation. In this stage, the different actors who are part of this process

and the different periods in the regulatory line were identified. From the description of these

phases, we identified the impact of such regulation on the aspirin print advertising by

selecting advertisements published after the legislation change of each phase. Finally, the

controversies between CONAR and Anvisa in the regulatory process were described, as well

as the articulations, the divergence points and the weaknesses of this debate. Thus, we

conclude that the regulation has significant effect on advertising, but it has significant gaps

that show the conflict of interests among the sanitary authority, the pharmaceutical industry

and the people who consume these drugs, thus questioning the notion of self-medication and

the way people relate themselves to the substances and to the information about it.

Keywords: drug advertising; medicalization; pharmaceuticalization; Social Psychology.

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 - Capa de exemplar do Pharol da Medicina, de 1929 ...................................... 40

Figura 2 - Anúncio do xarope peitoral de alcatrão, de 1895 ........................................... 41

Figura 3 - Canesten: o fim da micose .............................................................................. 42

Figura 4 - Exemplo de página de medicamento em uma rede social .............................. 43

Figura 5 - Prédio administrativo da Bayer transformado em caixa de aspirina .............. 46

Figura 6 - primeira propaganda de aspirina no Brasil ..................................................... 48

Figura 7 - Anúncio com aspectos brasileiros .................................................................. 48

Figura 8 - Exemplos da série de anúncios publicados no Estado de S. Paulo em 1920 .. 49

Figura 9 - Concurso cultural aspirina .............................................................................. 50

Figura 10 - “Aspirina – um mundo com menos dor” ...................................................... 50

Figura 11 - “Bayer anuncia”, revista Cláudia, de 1974 ................................................... 68

Figura 12 - “Seguro enxaqueca” – revista Veja, 1993 ..................................................... 69

Figura 13 - “Aspirina C – antes da gripe bater, feche a porta” ........................................ 70

Figura 14 - “Apagão só traz dor de cabeça” .................................................................... 71

Figura 15 - Transição para a RDC 102 ............................................................................ 73

Figura 16 - Dia melhor sem gripe .................................................................................... 74

Figura 17 - Primeira advertência no caso de suspeita de dengue .................................... 76

Quadro 1 - Diferentes reguladores da propaganda de medicamentos ............................. 55

Quadro 2 - Fases e pontos nodais .................................................................................... 61

Quadro 3 - esquema de escolha das propagandas ........................................................... 67

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABA - Agência Brasileira de Anunciantes

ABAP - Associações Brasileiras de Agências de Publicidade

ABERT - Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão

ABTA - Associação Brasileira de TV por Assinatura

ANER - Associação Nacional de Editores de Revistas

ANJ - Associação Nacional de Jornais

Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CBARP – Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária

CF – Constituição Federal

CID – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a

Saúde

CONAR – Conselho de Autorregulamentação Publicitária

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

DNSP – Departamento Nacional de Saúde Pública

DSM – Diagnostic and Statitical Manual of Mental Disorders

FENAPRO - Federação Nacional das Agências de Propaganda

FENEEC - Federação Nacional de Empresas Exibidoras Cinematográficas

GPROP – Gerência de Monitoração e Fiscalização de Propaganda, Publicidade, Promoção e

Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária

MP – Medida Provisória

MS – Ministério da Saúde

NPDPS – Núcleo de Práticas Discursivas e Produção de Sentidos no Cotidiano

OMS – Organização Mundial de Saúde

RDC – Resolução de Diretoria Colegiada

SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas

SMRJ – Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro

TAR – Teoria Ator-rede

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 14

OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS ...................................................................... 18

CAPÍTULO 1. FARMACEUTICALIZAÇÃO NO PROCESSO DE

MEDICALIZAÇÃO DA VIDA ...............................................................................

24

1.1. ENTENDENDO MEDICAMENTOS COMO ACTANTES ........................... 28

1.2. A PROPAGANDA DE MEDICAMENTO COMO AGENTE NA

FARMACEUTICALIZAÇÃO DA VIDA .............................................................. 33

CAPÍTULO 2. BREVE NOTA SOBRE A PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS NO BRASIL .......................................................................

38

2.1. PROPAGANDA NO COMBATE À PROPAGANDA: AS

CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS COMO ESTRATÉGIA DE

SENSIBILIZAÇÃO PARA OS PERÍGOS DA PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS ....................................................................................

44

CAPÍTULO 3. “SE É BAYER É BOM”: O CASO DA PROPAGANDA DE

ASPIRINA .....................................................................................................................

45

3.1. RECLAMES DA BAYER E O DESTAQUE PARA OS ANÚNCIOS DE

ASPIRINA ...............................................................................................................

47

3.2. CONTROVÉRSIAS NO USO DE ASPIRINA NA PRÁTICA DE OFF

LABEL .....................................................................................................................

51

CAPÍTULO 4. A REGULAMENTAÇÃO DA PROPAGANDA DE

ASPIRINA ............................................................................................................

54

4.1. AS ESTRATÉGIAS DE REGULAÇÃO DA PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS EM DEFESA DA SAÚDE (DO CONSUMIDOR) ...............

55

4.2. OS DIFERENTES PERÍODOS NA LINHA DE REGULAMENTAÇÃO

DA PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS E SEUS PONTOS NODAIS ........

61

CAPÍTULO 5. IMPACTO DA REGULAMENTAÇÃO NA

PROPAGANDA IMPRESSA DE ASPIRINA .......................................................

67

5.1. CONTROLE DA PROPAGANDA COMO CONTROLE DE EPIDEMIAS .. 75

CAPÍTULO 6. CONTROVÉRSIA SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA

PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS ...............................................................

79

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 87

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 90

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REFERÊNCIAS DA REGULAMENTAÇÃO UTILIZADA ................................. 96

APÊNDICES ......................................................................................................... 100

APÊNDICE A ......................................................................................................... 101

APÊNDICE B .......................................................................................................... 111

ANEXOS ........................................................................................................................ 112

Anexo 1 ................................................................................................................... 113

Anexo 2 ................................................................................................................... 114

Anexo 3 ................................................................................................................... 116

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APRESENTAÇÃO

Construir uma pesquisa sobre medicamentos não foi uma escolha a esmo. Por dois

anos, durante minha graduação em Psicologia na Universidade Federal do Mato Grosso,

trabalhei a convite da Profª. Dr.ª Dolores Galindo em uma pesquisa sobre apropriação de

hormônio feminino pela população transgênero para construção de corpos. Após esse

trabalho de iniciação científica, encantei-me pela carreira acadêmica e as possibilidades em

pesquisa.

Nessa trajetória, aprendi que uma pesquisa nunca é finalizada por completo, pois o

trabalho investigativo é uma ação que se configura em desdobramentos repletos de

questionamentos que muitas vezes não são respondidos na finalização do projeto, mesmo

que o objetivo a priori tenha sido concretizado. Por exemplo, no trabalho junto às travestis

no interior do Mato Grosso (GALINDO; MOURA, 2010), muitas perguntas permaneceram

abertas no que diz respeito à rede de fabricação-comercialização-consumo de

medicamentos.

Um dos questionamentos relacionava-se ao controle do hormônio que, pelas normas

da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), precisava ser prescrito por uma

autoridade médica para ser consumido, mas era facilmente comprado nas farmácias após

ser “receitado” por amigas. Descrever a apropriação informal dos hormônios possibilitou o

seguinte questionamento: “se o medicamento tem uma agência que o fiscaliza em todos os

aspectos, como se dá essa regulamentação?”.

Na hormonoterapia transgênero, um dos aspectos dessa regulamentação que se

destacou diz respeito às especificidades da divulgação do medicamento. Por não ser um

medicamento de venda livre1, a publicidade dos hormônios está restrita ao público médico.

Entretanto, no meio transgênero pesquisado, sua divulgação dava-se por indicação de

conhecidas que já haviam consumido o hormônio por indicação de farmacêuticos

(GALINDO; MOURA, 2010) e até por meio de sítios virtuais de busca ou fóruns virtuais

de discussão sobre hormonoterapia transgênero (GALINDO; RODRIGUES, 2010). Assim,

lidar com apropriação de um medicamento cujo consumo está vinculado à prescrição

1 Medicamentos de venda livre ou medicamentos isentos de prescrição (MIP) são aqueles que não necessitam

da prescrição médica, “mas devem ser utilizados de acordo com a orientação de um profissional

farmacêutico” (BRASIL, 2010a, p. 8).

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médica, mostrou-nos que, mesmo com regulamentações específicas quanto a sua

publicidade (somente para os médicos), a divulgação se dá em diferentes desdobramentos.

Guiando-nos pelo questionamento inicial e pelas informações sobre divulgação e

consumo de hormônios, buscamos no mestrado ampliar essa indagação para a

regulamentação dos medicamentos isentos de prescrição (MIP). Se com o hormônio já

havia uma divulgação e apropriação sem receita médica, como se dava a regulamentação

dos medicamentos de venda livre, cuja apropriação é isenta de prescrição médica e seu

acesso está ao alcance das mãos nos gondolas das farmácias?

Atrelado a esse questionamento, informações do Sistema Nacional de Informações

Tóxico-farmacológicas (SINITOX) sobre automedicação contribuíram para que os MIP se

tornassem nosso foco de pesquisa. De acordo com o SINITOX (2012), os medicamentos

são os responsáveis por mais de 25% dos casos de intoxicação no Brasil, principalmente,

devido à prática de automedicação.

Esses dados são significativos pois, no país, vários medicamentos podem ser

comercializados sem prescrição médica, como, por exemplo, a aspirina, o que possibilita a

autoadministração de medicamentos facilitada pelo baixo custo do produto e por sua ampla

distribuição (NAVE; et. al., 2010). Assim, podemos observar que há uma erosão da

autoridade médica, aliada à propulsão das possibilidades de troca e acesso às informações

sobre medicamentos e tratamentos que criam condições para a emergência de apropriações

de medicamento sem a mediação de profissionais especializados (CONRAD, 2005;

VASCONCELLOS-SILVA; CASTIEL, 2009).

Nesse cenário da automedicação, a propaganda possui um papel significativo. De

acordo com a Anvisa, a propaganda de medicamentos (ou publicidade) é um “conjunto de

técnicas utilizadas com objetivo de divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a

princípios, ideias ou teorias, visando exercer influência sobre o público através de ações

que objetivem promover determinado medicamento com fins comerciais” (BRASIL, 2000,

p. 2).

Dessa forma, a propaganda é vista como uma estratégia para influenciar as pessoas

a se apropriarem do medicamento (NASCIMENTO; SAYD, 2005). Segundo análise

comparativa da legislação sobre propaganda de medicamentos no Brasil e 12 países

selecionados (Argentina, Chile, México EUA, Canadá, Alemanha, Espanha, França,

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Portugal, Reino Unido, Suíça e Austrália) e nas organizações supranacionais União

Europeia e OMS, a propaganda contribui de forma significativa para o fenômeno da

automedicação (BRASIL, 2005).

Assim, considerando que os medicamentos possuem significativo potencial de risco

e que as reações adversas multiplicam-se com o uso incorreto e/ou não racional2

(NASCIMENTO, SAYD, 2005), a finalidade desta investigação é contribuir para o

desenvolvimento de estratégias de governo, sobretudo no setor da saúde, que visam à

circulação, divulgação e aquisição de medicamentos.

Para realizar essa pesquisa, nos apoiamos nos pressupostos metodológicos,

ontológicos e epistemológicos do Núcleo de Práticas Discursivas e Produção de Sentidos

(NPDPS), cujo trabalho, desenvolvido no campo da saúde, é referência no cenário da

pesquisa psicossocial.

O NPDPS tem por bases ontológicas e epistemológicas as vertentes pós-

construcionistas. Assim, essa pesquisa foi desenvolvida na confluência dos estudos

psicossociais de orientação construcionista, incorporando à investigação o ponto de vista

performático da linguagem; e dos estudos tecnocientíficos da Teoria ator-rede (TAR),

ampliando a perspectiva sociotécnica para a pesquisa psicossocial.

Nessa confluência, a proposta é romper com as formas hegemônicas e reducionistas

de fazer pesquisa, ampliando assim a noção de pesquisa como um fazer múltiplo,

construído em tempo e espaço. Para isso, respaldamo-nos pelo conceito de “Política

Ontológica” de Annemarie Mol (1999), que desconstrói a realidade como algo dado a

priori. Ao combinar os termos política e ontologia, a filósofa sugere que a realidade não

precede as práticas, mas, pelo contrário, é modelada por essas. Para ela, o termo ontologia é

utilizado para se referir, na linguagem filosófica comum, àquilo que pertence ao real, “as

condições de possibilidade com que vivemos” (p. 2). E o termo política permite delinear a

realidade como ação, como processo de modelação. Assim, a realidade é nos apresentada

como localizada - histórica, cultural e materialmente.

Conceber a realidade dessa maneira é considerar que ela pode ser não somente

transformada, mas que podemos construir diferentes formas de “fazer realidade”, ou seja,

2 De acordo com a OMS (1985), entende-se que há uso racional de medicamentos quando pacientes recebem

medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades

individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade.

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produzir realidades, novas ontologias. Mol afirma que “se a realidade é feita, se é

localizada histórica, cultural e materialmente, também é múltipla. As realidades tornaram-

se múltiplas” (p. 3).

Para lidar com essa multiplicidade, concebemos a realidade como performada3. Ou

seja, a realidade é “manipulada por meio de vários instrumentos, no curso de uma série de

diferentes práticas” (p. 6). Esclarecemos que não se trata de utilizar diferentes instrumentos

pra visualizar diferentes aspectos de uma realidade única, como na metáfora da perspectiva.

As realidades performadas são efeitos de objetos e práticas em tempo e espaço. Nesse

cenário, práticas e objetos não são somente construções históricas independentes;

coexistem produzindo múltiplas realidades e essas produzindo múltiplas práticas e objetos.

Essa noção de ação como performatividade que possibilita realidades múltiplas

permite problematizar a atuação humana como “responsável” pela “construção” dessas

realidades. Buscando romper com as dicotomias entre humano e não-humano, a proposta da

TAR é que ambos atuam num conjunto de performances relacionadas, não havendo

fronteiras de delimitações fixas ou atributos que os distingam (LAW; SINGLETON, 2000;

GALINDO, et al., 2009). Ao propor essa atuação, TAR não afirma, contudo, que os não-

humanos fazem as coisas no lugar dos humanos. Mas indica que é preciso explorar a

questão de quem e o que participa da ação, ainda que isso signifique permitir que se

incorpore elementos não-humanos (TSALLIS, et. al, 2006; LATOUR, 2008).

Para a TAR, pessoas, máquinas, documentos, instituições, divindades e toda sorte

de materialidade somente existem interativamente. Ou seja, são efeitos e produtos

(LATOUR, 2008). Não existem além de sua interação. Nessa proposta, as materialidades e

práticas são actantes4 que performam e são performados. E tudo aquilo que tem agência,

que é actante, é heterogêneo, díspar, híbrido e se define pelos efeitos de suas ações.

3 Devido à polissemia do termo performance e sua extensiva aplicação nas ciências sociais no ultimo século,

alguns teóricos em ator-rede atualmente preferem o termo Enact ao invés de Perform para demarcar a

peculiariedade da proposta da TAR (MOL, 1999; LAW; URRY, 2003), contudo, devido à familiaridade com

o termo, optamos nessa pesquisa pelo uso do termo “performance”.

4 O termo actante passou a ser utilizado pelos autores da TAR para se referir a qualquer coisa/pessoa que atue

ou modifique a ação, em substituição ao termo “ator” por considerar que esse geralmente é utilizado para se

referir a humanos (CORDEIRO, M., 2012). Nessa pesquisa, os termos ator e actante serão utilizados como

sinônimos.

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Atrelado a esses conceitos da TAR, o NPDPS incorpora à investigação o ponto de

vista performático da linguagem. Ou seja, busca problematizar o contexto discursivo, com

foco na interação (SPINK; FREZZA, 1999; SPINK, 2010). O NPDS entende linguagem

como produção interacional em tempo e espaço. Por estar em ação, seu foco de análise é

nas práticas discursivas, ou seja, “as maneiras a partir das quais as pessoas [e coisas]

produzem sentidos e se posicionam em relações cotidianas” (SPINK; MEDRADO, 1999, p.

45).

Destacamos que por ser ação, a linguagem produz efeitos. Ao focarmos as análises

nas práticas discursivas, não buscamos delinear os discursos, mas os efeitos dessa

linguagem. O foco está na dimensão performática do uso da linguagem, bem como no jogo

de posicionamentos dos actantes que produzem essas práticas discursivas e são produzidos

por elas.

Assim, respaldamo-nos por esses conceitos, delinearemos no próximo tópico os

procedimentos utilizados para desenvolver essa pesquisa. Em seguida, descreveremos o

percurso de pesquisa que se estrutura em capítulos nessa dissertação. Esperando assim que

essa pesquisa opere como um mediador na produção de realidades, mais especificamente,

no que diz respeito à investigação situada na interface entre Psicologia Social e Saúde.

OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS

O objetivo desse trabalho é entender as estratégias de regulamentação dos

medicamentos de venda livre. Volta-se mais especificamente às regulações da propaganda

desses medicamentos endereçadas ao público em geral. Para isso, tem como estudo de caso

as propagandas de aspirina, do laboratório Bayer.

Esse objetivo principal desdobra-se nos seguintes objetivos específicos:

Situar numa perspectiva diacrônica, a propaganda de aspirina no Brasil.

Entender, por meio de análise da legislação, quando e como a propaganda de

medicamentos tornou-se objeto de regulação.

Identificar o impacto dessa regulamentação na propaganda impressa de aspirina.

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Descrever as controvérsias nesse processo de regulamentação da propaganda de

medicamentos.

Para lidar com esses objetivos, também respaldamo-nos pelas referências

metodológicas produzidas no NPDPS. Tomando por foco os usos que são feitos dos

diferentes métodos e dos resultados de pesquisa por eles norteados no campo da Psicologia

Social, Spink (2002) sugere um rearranjo no debate metodológico no qual o foco não seja

na diversidade (e duelos) de posicionamentos, propondo que os métodos de pesquisa são

“linguagens sociais”.

Norteada pelos conceitos de Bakhtin, Spink afirma que

Como toda linguagem social, “a linguagem dos métodos” tem funções

identitárias que geram jogos de posicionamentos e processos de defesa

identitária. E, como todo processo de defesa identitária, também os

métodos, vistos como linguagens sociais, têm funções estratégicas no jogo

concorrencial entre as diversas correntes da psicologia social, desta com

os demais domínios da psicologia e desta com o campo científico (p. 12).

Com essa postura, a autora sugere que não precisamos necessariamente estar

atrelados a um único procedimento de pesquisa. Para mostrar que não precisamos dessas

amarras, analogicamente, Spink propõe pensar em métodos como uma caixa de

ferramentas. Nem sempre a ferramenta que escolhemos consegue dar conta dos objetivos e

de sua reconfiguração ao longo do processo de pesquisa. Assim, é útil termos em mãos uma

caixa de ferramentas da qual podemos escolher e testar métodos que sejam mais adequadas

para nossos objetivos.

Testar? Sim, testar. Ao escrever o projeto escolhemos técnicas para lidar com

“nosso objeto”. Entretanto, devemos considerar que pesquisa é experimentação e, por ser

experimentação, não é algo estável, constante. Está sujeita a mudanças como resultado das

informações que chegam até nós ou daquela que buscamos. Modifica-se conforme é

performada e também performa os pesquisadores. Por se um processo de experimentação,

experimentamos técnicas, dados e nós mesmos.

Pensando nessas possibilidades de ação em pesquisa, Mol e colaboradoras (2011)

fazem uma analogia entre as metodologias de pesquisa e o processo de degustar. Utilizando

uma cozinha como laboratório e os dedos como instrumentos de pesquisa, comendo com as

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mãos, as pesquisadoras questionaram a “localização” do degustar, argumentando que essa

ação não é uma atividade confinada à língua.

Dessa forma, elas utilizaram os dedos como ferramentas para “esticar”, “dobrar”,

“torcer”, “girar”, “misturar” o termo degustação. Como estratégia metodológica dessa

pesquisa-experimentação empregaram uma “mistura” na qual lançaram mão dos métodos

experimentais laboratoriais (como medir as porções dos alimentos, controlar o tempo de

cozimento) e do trabalho de campo etnográfico (com registros da experiência em diários).

Na pesquisa de “degustação com os dedos”, ambos os métodos mudaram, assim como os

pesquisadores, misturando a organização de um evento científico e o rigor do trabalho de

campo.

Utilizar uma perspectiva metodológica performática, como no exemplo da pesquisa

sobre degustação, permite produções que visavam os lugares de ação em pesquisa como

produtos sociais. Ou seja, nessa perspectiva, ir a campo não implica necessariamente um

deslocamento a algum lugar específico, o campo passa a ser a justaposição de

materialidades e socialidades (LAW; MOL, 1995; SPINK, P., 2003).

Para Peter Spink (2003), nessa noção, o campo é um processo contínuo que começa

com a escolha do tema. “Campo, portanto, é o argumento no qual estamos inseridos;

argumento esse que tem múltiplas faces e materialidades” (p. 28) sejam elas conversas com

hora marcada, anotações em diário, análise de documentos ou jantares em cozinhas-

laboratório.

Dessa forma, como psicólogos sociais que lidam com essa noção de campo-tema e

com a performatividade dos métodos de pesquisa, não idealizamos estratégias

rígidas/imutáveis para construir nossa pesquisa. Entretanto, lançamos mãos de algumas

ferramentas para lidar para construir o trabalho de pesquisa.

Assim, iniciamos o trabalho construindo o referencial teórico sobre os processos de

medicalização e farmaceuticalização, bem como as imbricações da propaganda de

medicamentos nesse processo, conforme será descrito no Capítulo 1. Nesse capítulo

definiremos medicalização como um processo pelo qual condições “não médicas” são

vistas e vistas e tratadas como problemas médicos (CONRAD, 1992, 2005, 2007). Em

seguida, delinearemos a atuação dos medicamentos enquanto actantes, configurando-se

num desdobramento da medicalização denominado farmaceuticalização.

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Finalizamos esse capítulo apresentando aspectos que evidenciam a relevância de sua

propaganda de medicamentos no cenário da automedicação. A seguir, no Capítulo 2,

apresentamos como a propaganda de medicamentos foi se configurando no Brasil ao longo

dos anos. Já no Capítulo 3, para situar numa perspectiva diacrônica, a propaganda de

aspirina no Brasil, realizamos um levantamento de literatura sobre o medicamento e seus

diferentes tipos de divulgação no país.

No capítulo 4, para entender, quando e como a propaganda de medicamentos

tornou-se objeto de regulação, fizemos o levantamento da legislação que regulamenta a

produção, comercialização e divulgação de medicamentos. Tomando como ponto de partida

a Agência Nacional da Vigilância Sanitária, localizamos as portarias, leis e decretos que

regulamentam a propaganda de medicamentos. A partir dessas, também localizamos as

regulamentações anteriores na literatura sobre o tema assim como aquelas que não

pertenciam especificamente aos órgãos de saúde.

Em um primeiro momento foram localizadas três regulamentações específicas sobre

a propaganda de medicamentos. A partir da leitura dessas regulamentações, identificamos

mais 24 regulamentações relacionadas à regulação dos medicamentos de uma forma geral

(produção, armazenamento, venda, divulgação, etc). Cumpre destacar que esse total inclui

também as resoluções da Organização Mundial de Saúde pois, embora elas não constituem

uma obrigatoriedade legal para os Governos, o Brasil lança mão desses critérios na

elaboração da legislação nacional de saúde. A OMS afirma que esses documentos tratam de

subsídios para que os países possam adaptar sua legislação de acordo com parâmetros

internacionais (OMS, 1988).

Como o objetivo da pesquisa era entender a regulamentação publicitária, incluímos

em nosso acervo as regulações sobre publicidade que traziam em seu corpo especificações

sobre o controle da publicidade de medicamentos: O código nacional de

autorregulamentação publicitária, o Código do Consumidor e a Constituição Federal,

totalizando 30 estratégias.

Considerando que, conforme será explicado no próximo capítulo, utilizamos a

aspirina como estudo de caso, localizamos ainda duas regulamentações específicas sobre a

publicidade de medicamentos que contem ácido acetilsalicílico. Com isso, o acervo passou

a ter 32 regulamentações.

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Com esse material em mãos, fizemos uma leitura geral de cada documento para

identificar especificamente a regulamentação da publicidade de medicamentos. Em sete das

32 regulações não havia menção quanto ao controle de sua publicidade de forma que foram

excluídas, totalizando 25.

Algumas regulamentações têm mais de cem páginas, assim, para melhor

visualização das especificidades da legislação encontrada, para cada documento

construímos uma ficha descritiva com a data, nome do documento, órgão regulador e

descrição do que regulação (apêndice A). Essa estratégia possibilitou a identificação dos

principais aspectos que evidenciam como a propaganda de medicamentos tornou-se objeto

de regulamentação.

Após a construção das fichas, utilizamos a linha do tempo como estratégia

metodológica para esquematizar os conteúdos, situando-os cronologicamente para

apreender o objetivo específico desta pesquisa. Descrevemos assim os diferentes órgãos

que atuam no processo de regulamentação da propaganda de medicamentos e delineamos

os diferentes eventos que atuaram como pontos nodais para construção de fases na linha do

tempo construída, descrevendo as especificidades de cada uma delas.

Em seguida, no Capítulo 5, buscamos identificar o impacto dessa regulamentação

na propaganda impressa de aspirina. A partir dos pontos nodais apresentados no capítulo

anterior, pudemos identificar os efeitos na propaganda característicos de cada ponto. Desta

maneira, nesse capítulo descreveremos os efeitos da regulamentação na propaganda de

aspirina utilizando, para ilustrar tais efeitos, algumas peças publicitárias de aspirina de

acordo com cada período identificado. Por fim, concluímos esse capítulo apresentando as

regulamentações publicitárias que atuaram como estratégia de saúde no combate a

epidemias, especificamente nas propagandas de aspirina, nos casos de H1N1 e dengue.

A literatura sobre a propaganda de medicamentos no Brasil aponta para algumas

controvérsias no processo de regulamentação, sobretudo entre o CONAR e a Anvisa,

principalmente no que diz respeito as RDC nº 102/2000 e RDC nº 96/2008. Assim, no

Capítulo 6, descrevemos as controvérsias nesse processo de regulamentação da

propaganda de medicamentos, norteando-nos pelos conceitos metodológicos da TAR.

Para lidar com essas controvérsias, nos apoiamos na diretriz de Latour (2000a) de

“seguir os atores”, ou seja, acompanhar suas ações e práticas. No caso da controvérsia da

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regulamentação da propaganda de medicamentos, buscamos seguir os porta-vozes da rede

(CONAR e Anvisa). Nesse capítulo, buscamos descrever, a partir dos dispositivos de

inscrição (documentos emitidos por esses porta-vozes), as articulações, os pontos de

divergência e as fragilidades desse debate.

Por fim, corroborando com Nascimento (2005, 2007), delineamos as considerações

finais, argumentando que a regulamentação da propaganda de medicamentos possui

significativas lacunas que evidenciam o conflito de interesses entre os propósitos

comerciais das indústrias farmacêuticas e os objetivos da Agência reguladora. Mas, de

forma mais incisiva, observamos como as vozes da controvérsia desconsideram a forma

como pessoas se relacionam com os medicamentos num movimento para além da

automedicação.

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CAPÍTULO 1. FARMACEUTICALIZAÇÃO NO PROCESSO DE

MEDICALIZAÇÃO DA VIDA

Em que ficamos: e remédio gera a doença, ou a doença repele o remédio,

que é absorvido por artes do nosso fascínio pela droga, materialização do

sonho da saúde perfeita, que a publicidade nos impinge?

(Carlos Drummond de Andrade, O Homem e o Remédio: qual o

problema, Jornal do Brasil, 1980)

A expansão da jurisdição médica e do controle de nossas vidas em nome da saúde

favoreceu uma gama de estudos voltados ao processo de medicalização. Na década de

1970, Illich (1975) descreveu um movimento de “[...] colonização médica da vida, a qual

aliena os meios de tratamento e o monopólio profissional” (p. 6). Segundo o autor, essa

“invasão” consiste em uma medicalização da vida, com uma invasão do discurso da

medicina nos cuidados do cotidiano e, consequentemente, uma “desprofissionalização” dos

cuidados médicos, uma vez que as pessoas se apropriam desse discurso e passam à prática

do autocuidado, autodiagnóstico e automedicação.

Vista por Illich (1975) como malsã, a medicalização possui efeitos iatrogênicos,

como os efeitos clínicos secundários não desejados de uma terapêutica, ou os efeitos

danosos não desejados do impacto coletivo da medicina nas pessoas (impacto social), tais

como a medicalização do orçamento, invasão farmacêutica, medicalização das categorias

sociais, medicalização da prevenção, medicalização dos grandes rituais (cirurgias) e

eliminação do status de saúde. Assim, para o autor as pessoas enquanto pacientes perdem a

autonomia, deixando de ser autossuficientes à medida que se apoiam no discurso médico.

Ou seja, a tolerância do público com sintomas leves e problemas benignos passa a diminuir,

os estados corporais incomodam e sintomas isolados são reclassificados como doenças

(BARSKY, BORUS, 1995 apud CONRAD, LEITER, 2004).

Foucault (2009) também faz alusão ao processo de medicalização quando aponta

para a constituição de uma sociedade na qual a população é apreendida por meio do

discurso médico. Ao descrever o nascimento da medicina moderna, o filósofo argumenta

que ela se apresenta como uma prática social que, visando o controle da população,

transformou o corpo individual por intermédio da tecnologia disciplinar. Nesse argumento,

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Foucault descreve um poder sobre a vida, que ele nomeou biopoder.

Outros estudos sociológicos também passaram a focar o poder e a influência da

medicina na construção social da doença e nas decisões sobre seu tratamento (WILLIAMS

et al., 2008; CONRAD, 1992; 2005; 2007). Para Peter Conrad (1992) a medicalização “[...]

descreve um processo pelo qual os problemas não médicos são definidos e tratados como

problemas médicos, geralmente em termos de doenças e distúrbios” (p. 209, tradução

nossa). Por exemplo, o nascimento, a disfunção sexual ou o déficit de atenção e a

hiperatividade infantil.

Conrad (2005; 2007) também apresenta-nos os termos biomedicalização e

desmedicalização. Cunhada por Clarke et al. (2003 apud CONRAD, 2005), a

biomedicalização é utilizada para se referir a uma transformação na medicalização através

das práticas emergentes da biomedicina tecnocientífica. Esse termo está ancorado na noção

de reorganização dos saberes em torno da molecularização, em conceitos como risco e

susceptibilidade e na afirmação da saúde como uma obrigação e responsabilidade

individual (CONRAD, 2007). A biomedicalização permite entender as novas concepções

de saúde, cuidado, adoecimento e medicina, assim como os sistemas normativos e seus

regimes de verdade ou de prática (FILIPE, 2010).

Já a desmedicalização refere-se às mudanças no conhecimento médico que

possibilitaram que determinado fato deixasse de ser definido nos termos da medicina. Por

exemplo, antes considerada um distúrbio psiquiátrico, a homossexualidade é atualmente

reconhecida como uma orientação sexual, tendo sido excluída pela Organização Mundial da

Saúde (OMS) da classificação internacional de doenças (CID)5. Outro exemplo é o de

mulheres no Brasil que lutam pelo direito ao parto normal em casa, livres do excesso de

intervenção médica sobre o processo, que elas consideram “próprio da vida”

5 A sigla refere-se à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a

Saúde (ou ICD, do inglês International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems),

publicada pela OMS. Fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de

sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos, agravos

ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código, que

contém até seis caracteres, podendo incluir um conjunto de doenças semelhantes. É usada globalmente para

estatísticas de morbimortalidade, sistemas de reembolso e de decisões automáticas no campo da medicina. A

CID foi desenhada para permitir e promover a comparação internacional da coleção, processamento,

classificação e apresentação dessas estatísticas, e está baseada na Família Internacional de Classificações da

OMS. É revista periodicamente, estando desde 2006 em sua décima edição, por isso é conhecida como CID-

10. Disponível em: <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=040203>.

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(GAUDENZIN; ORTEGA, 2012). Para Illich (1975) é por meio da desmedicalização que a

pessoa pode resgatar sua autonomia, à medida que passa pelas dimensões do direito e da

liberdade em saúde.

No que tange ao processo de medicalização, em sua revisão sobre a sociologia dos

produtos farmacêuticos, Williams, Gabe e Davis (2008) afirmam que trabalhos posteriores

começaram a reavaliar esse processo à luz das mudanças na medicina. Para Conrad (2005;

2007), embora a definição de medicalização continue centrada nos médicos, três grandes

fatores na medicina provocaram uma importante mudança nos motores que movimentam a

medicalização: 1) a biotecnologia, principalmente a indústria farmacêutica, possibilitando

acesso a novas tecnologias de cuidado, e a genética, atuando principalmente na prevenção

de doenças por meio do mapeamento genético; 2) considerar os pacientes como

consumidores não somente no que tange à venda de fármacos, mas também na prática de

prevenção por intermédio de exames periódicos, muitas vezes considerados indispensáveis;

e 3) o gerenciamento dos cuidados médicos (managed care), no qual o domínio da

medicina cede lugar ao domínio do mercado dos cuidados em saúde, principalmente na

gestão dos planos de saúde.

Conrad (2005) sugere que essas mudanças possibilitaram a erosão da autoridade

médica, o deslocamento das políticas de saúde da preocupação de acesso para o controle de

custos e a possibilidade de acesso a seguros de saúde. Possibilitaram também que o

paciente fosse visto cada vez mais como consumidor. Para o autor, como destaca em seus

trabalhos (CONRAD, 2005, 2007; CONRAD; LEITER, 2004), essas mudanças indicam

que os “motores da medicalização” estão agora mais influenciados por interesses

comerciais e mercadológicos, tanto pela venda de fármacos quanto de cuidados

preventivos, tais como os check-ups.

Um dos exemplos para elucidar a nocividade desse processo é apresentado por

Aguiar (2004), que analisou a “epidemia da depressão”, considerada um dos problemas de

saúde mais graves da atualidade. O autor afirma que o crescente número de casos de

depressão está principalmente relacionado à socialização do discurso médico-psiquiátrico

produzido pelos manuais de diagnósticos de transtornos mentais (DSM, sigla do inglês

diagnostic and statistical manual of mental disorders).

Para ele, a padronização do discurso da psiquiatria em manuais e sua ampla

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divulgação fizeram com que “[...] dificuldades existenciais e sintomas que correspondem,

na verdade, a flutuações normais do humor passem a ser traduzidos como condições

clínicas a serem tratadas com psicotrópicos” (p. 93). Essas intervenções produzem uma

medicalização de situações que não são propriamente doenças, mas sim de vicissitudes da

vida cotidiana.

Entretanto, Conrad não apresenta a medicalização como algo essencialmente

negativo, ao qual temos de declarar guerra. O autor lança mão da noção de processualidade

para observar as complexidades das relações entre os atores envolvidos na questão da

saúde, seja a indústria médico-farmacêutica, sejam as pessoas em seu cotidiano. Camargo

Jr (2003) também destaca a implicação positiva da medicalização trazendo como exemplo o

advento dos antirretrovirais no tratamento de HIV/aids, que não era considerado um

problema médico até os anos 1980.

No que se refere às indústrias farmacêuticas, além da crescente divulgação ao

público, a invenção de novas drogas possibilitou um mercado de criação de novas doenças.

Williams, Gabe e Davis (2008) consideram essa invasão farmacêutica como um

desdobramento do processo de medicalização, denominando-o de farmaceuticalização ou

medicamentalização. Illich (1975) já apontava para esse movimento ao mostrar que a

apropriação dessas novas tecnologias medicamentosas resulta numa invasão farmacêutica,

num superconsumo de medicamentos que parte tanto do doente quanto do médico. Nesse

complexo médico-farmacêutico, o autor destaca que nos países pobres, “[...] que não

podem se dar ao luxo de uma dependência cara a cara com o profissional [...]” (p. 40), as

pessoas vão direto ao remédio ou medicamento6.

Em todo caso, criam-se duas categorias de relação na apropriação medicamentosa:

1) farmaceuticalização da assistência médica, na qual o cuidado médico está

prioritariamente associado ao uso de medicamentos e, consequentemente, propiciando que

as pessoas criem hábitos ocasionados por essa prescrição médica; 2) farmaceuticalização do

autocuidado, em que as pessoas se automedicam a partir de orientações em contatos

anteriores com médicos por outros motivos, por indicações de outros ou por informações

buscadas nos meios de comunicação.

6 Como definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2010), remédio e medicamento

não são sinônimos. Essa distinção será contemplada no próximo tópico.

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Essas relações evidenciam que uma das principais preocupações nesse movimento

de farmaceuticalização é a relação da mídia imprensa com os fármacos, atentando para a

divulgação de seu uso generalizado, que muitas vezes potencializa sua apropriação para

fins que vão além dos domínios da medicina, segundo Williams, Gabe e Davis (2008).

Esses autores apontam que as novas mediações dos produtos farmacêuticos, tais como a

internet, apresentam igualmente novas visibilidades (para melhor ou pior) no cuidado em

saúde que podem ignorar completamente a relação tradicional médico-paciente.

Corroborando esse pressuposto, Fox e Ward (2006) afirmam que há uma

“domesticação” do consumo de medicamentos por meio do computador, que media o

acesso à informação e à própria medicação nos sites-farmácias, facilitando o consumo em

casa. Para esses autores, ao serem tornados como um objeto de consumo, os medicamentos

são vistos como “balas mágicas” para uma série de problemas cotidianos. Assim, ao

adotarem um medicamento como uma solução para suas vidas, as pessoas legitimam um

problema ou distúrbio pela experimentação dos efeitos biológicos do fármaco em seu

corpo.

Nesse processo de farmaceuticalização a apropriação dos produtos medicamentosos,

além de forjar novas doenças e tratamentos a partir do próprio tecido da vida cotidiana,

possibilita novos reordenamentos de vida (WILLIAMS et al., 2008), à medida que cada um

torna-se expertise do seu autocuidado cotidiano. Assim, a apropriação de fármacos deixa de

ser vista como somente uma automedicação, conforme veremos no tópico a seguir.

1.1. ENTENDENDO MEDICAMENTO COMO ACTANTES

Buscando traçar uma definição de medicamento, a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa), órgão de regulamentação e fiscalização dos setores relacionados a

produtos que possam afetar a saúde da população brasileira, afirma que há de se considerar

que “[...] todo medicamento é um remédio, mas nem todo remédio é um medicamento”

(BRASIL, 2010). O órgão faz essa distinção destacando que a noção de remédio está

associada a cuidado ou alívio de doenças, sintomas ou mal-estar. Assim, tanto substâncias

químicas quanto massagens, chás caseiros, dietas ou práticas de atividade física, por

exemplo, são considerados remédios. Já os medicamentos,

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[...] são produtos elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir,

curar doenças ou aliviar seus sintomas, (...) [cujos efeitos se devem] a

uma ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas

reconhecidas cientificamente, que fazem parte da composição do produto,

denominadas fármacos, drogas ou princípios ativos (BRASIL, 2010).

Em princípio, o que nos chama atenção nessa definição da Anvisa é a questão das

“substâncias ativas com propriedades terapêuticas reconhecidas cientificamente”. Vemos

que o que legitima a substância como medicamento é o seu reconhecimento científico,

independentemente de seus princípios ativos serem sintéticos ou naturais.

Boa parte dos medicamentos sintéticos disponíveis foi produzida por meio de

apropriações dos princípios ativos de plantas medicinais (TAVARES DE SOUSA, 1996).

A reconstituição dessas substâncias naturais em laboratórios busca trazer maior

cientificidade a produtos que já eram usados há anos como remédio. Não se trata de um

abandono das substâncias in natura, visto que elas são usadas pela medicina atual na

produção de medicamentos fitoterápicos (muitas vezes seguida do slogan “se é natural não

faz mal”), mas de uma tentativa de controlar mais rigorosamente suas reações adversas.

Isso por que, como qualquer outro medicamento, os naturais também podem provocar

intoxicação, náusea, edema e até morte (BRASIL, 2010).

Com relação à história do medicamento, Tavares de Sousa (1996) afirma que é

facilmente reconhecível que as pessoas procuram, desde os tempos mais remotos, meios de

afugentarem as doenças. O autor, por meio de uma história linear, mostra as diferentes

estratégias medicinais ao longo do tempo, desde os povos primitivos – que lambiam suas

feridas, numa prática animal, e invocavam divindades em busca de cura para doenças

desconhecidas – até o uso terapêutico de células tronco, na atualidade. Tavares de Sousa

conclui sua linha do tempo afirmando que, apesar dessa linearidade na evolução dos

processos medicinais, as estratégias de cuidado não são cronologicamente separadas, nem

se sucedem regularmente. Podemos ver o uso de medicamentos modernos convivendo com

o que o autor denomina de “medicina religiosa”, caso de grupos religiosos que frequentam

centros de quimioterapia, por exemplo.

Até aqui pensamos o medicamento como um agente quimioterápico. Entretanto,

como nos alerta Lefèvre (1991), o seu sentido não se esgota na ação terapêutica. Ao tentar

entender como e por que o consumo de medicamentos é um problema de saúde pública, o

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autor propõe que, além de um agente quimioterápico, ele é também mercadoria e símbolo.

Enquanto símbolo o medicamento concentra a saúde, é a possibilidade de acesso material a

ela, seja em gotas ou em comprimido; enquanto mercadoria, é um bem de consumo

adquirível no mercado, nas farmácias. Dessa forma, Lefèvre caracteriza o medicamento

como uma mercadoria simbólica, já que “[...] faz a ‘economia simbólica’ dos tempos largos

da saúde [...], do largo tempo de espera das consultas nos serviços públicos; do largo tempo

necessário para que a criança nasça naturalmente; do largo tempo para se fazer uma boa

consulta médica etc.” (LEFÈVRE, 1991, p. 70).

O autor alerta para o perigo de uma leitura simplista atrelada ao uso do termo

“automedicação”. Para entender melhor esse alerta, concentremo-nos agora no fato de que

sua análise, de orientação marxista, está focada nas dimensões mercadológicas e

simbólicas, deixando as propriedades quimioterápicas do medicamento como uma “caixa

preta” que recebe sentidos e expõe contradições, mas cujo processo de constituição não é

tomado em consideração (GALINDO; MOURA, 2010).

Já Pignare (1999), tentando fazer uma cartografia dos medicamentos modernos

(medicamentos inventados no Ocidente), propõe que ele é um “objeto estranho” entre

ciência, mercado e sociedade. Partindo do laboratório contraplacebo7, o autor não busca

uma descrição química da molécula para chegar ao medicamento, mas procura partir de um

ponto de engate entre dois corpos: de um lado o corpo químico, não humano; de outro, o

corpo biológico, humano.

Seguindo os conceitos de Félix Guattari, Pignare entende esse laboratório de estudo

contraplacebo como uma axiomática, ou seja, um mecanismo que funciona independente

da subjetividade dos humanos. Nessa cartografia o autor considera os diferentes atores

(indústria farmacêutica, médicos, químicos, tubos de ensaio, ratos, pacientes/consumidores,

marketing farmacêutico etc.) que se relacionam com o medicamento, desde sua atuação

enquanto molécula à sua socialização por meio da comercialização e do controle de acesso.

Assim, o autor sugere que o que fará em sua análise não é uma economia, mas sim uma

econômica do medicamento.

7 O estudo contraplacebo é um teste realizado para demonstrar a eficácia do produto. Durante o experimento,

são utilizados medicamentos e placebos, mas nem o paciente nem o especialista sabem se o produto aplicado

é o produto em teste ou um placebo (PIGNARE, 1999).

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Retomando o debate entre Iscômaco, o proprietário rural ateniense, e Sócrates, a

respeito da boa administração da propriedade agrícola, Pignare caracteriza a econômica

como algo que não separa, mas unifica tudo o que diz respeito à oikos (“casa”), tal como a

gestão das relações entre as pessoas e a aquisição de riquezas pela exploração da natureza.

Diferentemente de Lefèvre, afirma que “[...] evita a distinção entre real-simbólico-

imaginário para levar a sério os objetos medicamentos em sua diversidade” (PIGNARE,

1999, p. 37). Entretanto, mesmo tentando seguir todos os atores desde o laboratório até a

aquisição do produto, uma das falácias dessa econômica é que ela acaba limitando-se a essa

passagem da molécula para a mercadoria, da substância química socializada por meio de

sua comercialização, fazendo com que esse objeto instável transite limitado em dois polos:

molécula e mercadoria.

Relevemos que em ambos os estudos os medicamentos não se limitam a uma única

definição. Mas como podemos trabalhar com um objeto que é ao mesmo tempo um e

vários, múltiplo?

Para tentar esclarecer (ou complexificar) esse questionamento trazemos para a

discussão um estudo de Gomart (2002), no qual a autora trabalha as performances da

heroína e de dois tipos de metadona. Ela sugere que tanto as análises das interpretações

socioculturais acerca das substâncias quanto os estudos das variações dos sentidos

construídos em torno de alguma substância ao longo do tempo são abordagens limitantes.

Nessas perspectivas, o objeto se mantém e suas descrições mudam, assim as substâncias

permanecem estáveis e dotadas de atributos inerentes.

Gomart problematiza a discussão observando que as diferenças entre os tipos de

drogas não é de substância ou de interpretação. Mas, sim, que as substâncias atuam como

actantes, cujos efeitos são imprevisíveis ou indedutíveis a partir de sua composição

química. Dessa forma, a autora questiona como as drogas agem, assim como seus usuários,

ampliando sua problematização para estudos de como atuam atores não humanos.

Nessa direção, Galindo e Moura (2010), em pesquisa sobre a apropriação do

hormônio feminino pela população transgênero, mostram que os hormônios atuam como

mediadores que transformam, traduzem, distorcem e modificam o significado dos

elementos que se supõe que devem carregar, ou seja, não se posicionam de maneira

estanque como meros intermediadores (LATOUR, 2008). Nessa relação entre humanos e

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não humanos, na qual os fármacos não se posicionam passivamente, as pesquisadoras

visualizam quatro atuações hormonais: hormônio como substância química, como objeto

de consumo, como produtor de estéticas e como dispositivo de governo de si.

Como substância química são as ações no corpo em sua dimensão molecular.

Quando os hormônios femininos são apropriados pela população transgênero, por não haver

protocolos específicos, cada um cria seu próprio regime de mensuração e regulação da

substância, sugerindo assim a produção de novas substâncias a partir das já existentes no

organismo. No processo de invasão farmacêutica os hormônios também estão vinculados à

manutenção do bem-estar e da saúde (ROHDEN, 2008), mas atuam ainda como objeto de

consumo que podem proporcionar à população transgênero a construção do corpo desejado

(GALINDO; MOURA, 2010). Esse bem de consumo, ao atuar na construção de corpos de

forma relacional junto com outros aparatos, como perucas, silicone e enchimentos,

performa o hormônio também como produtor da estética feminina.

Amparadas por Rose (2001), as autoras defendem que essa relação dos hormônios

com a população transgênero indica novas formas de relações entre pessoas e fármacos, nas

quais a união dos saberes anatômico, bioquímico e farmacêutico são postos em xeque ao

não serem mais destinados a uma entidade específica, como a médica. Assim, o hormônio

passa a atuar também como dispositivo de governo de si, uma vez que não está somente

atrelado a modificações corporais, mas também a dinâmicas vitais, que surgem a partir

dessas novas traduções empregadas aos hormônios.

Galindo e Moura concluem o trabalho considerando os hormônios como objetos

combinantes, à medida que, nas apropriações transgênero, eles atuam como objetos

suscetíveis de combinações, isto é, imprevisíveis e que variam de pessoa para pessoa

conforme as doses e os seus efeitos. Aqui hormônios são objetos cuja performatividade é

plurideterminada pela heterogeneidade da rede que os compõe, pois, além das combinações

entre si, os hormônios se combinam a outras estratégias, tais como apliques de cabelo,

depilações, silicone e as demais cirurgias estéticas, como forma de aperfeiçoar as formas

femininas pela população transgênero. Contudo, também são plurideterminante pelos

múltiplos efeitos possíveis.

Orientadas pela teoria ator-rede (TAR), tanto Gomart (2002) quanto Galindo e

Moura (2010) propõem que as substâncias não possuem propriedades inerentes, cujos

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efeitos são produzidos a partir de um conjunto coextensivo de práticas. Desse modo, as

substâncias, assim como os humanos, atuam como actantes. Retomando a perspectiva

latouriana, são objetos performáticos que transformam, traduzem, distorcem e modificam o

significado dos elementos que se supõem que devem carregar, ou seja, não se posicionam

de maneira estanque como intermediadores das ações humanas.

Pensando nas estratégias de controle da automedicação, em nossa pesquisa

consideramos os medicamentos como actantes que atuam com os humanos num conjunto

de performances relacionadas. Seguindo a proposta da TAR, não estamos propondo que os

não humanos façam as coisas no lugar dos humanos, mas sugerindo que é preciso explorar

a questão de quem e o que participa da ação, ainda que isso signifique permitir que se

incorpore elementos não humanos (TSALLIS, et al., 2006; LATOUR, 2008).

Nesse contexto, a porta de entrada da pesquisa em questão é o medicamento como

actante a ser regulado. E, para além de uma automedicação, as apropriações dos

medicamentos são estratégias indicadoras de mudanças significativas do modo como as

pessoas se relacionam com fármacos (CONRAD, 2005). Ao considerar o produto

farmacêutico como atuante há de se considerar suas diferentes ações dentro de sua rede de

apropriação, desde a produção até sua comercialização e seu consumo.

1.2. A PROPAGANDA DE MEDICAMENTO COMO AGENTE NA

FARMACEUTICALIZAÇÃO DA VIDA

Conrad (2005) observa que as indústrias biotecnológicas e farmacêuticas tornaram-

se peças fundamentais no processo de medicalização principalmente pelo fato de estarem

mais agressivas quanto à promoção de seus produtos aos médicos e, sobretudo, ao público

em geral. Ao examinar o impacto da medicalização na sociedade norte-americana, Conrad e

Leiter (2004) também destacam que os consumidores/pacientes tornaram-se mais instruídos

graças à gama de informações sobre medicamentos divulgadas, seja nas propagandas, seja

nas matérias jornalísticas.

No Brasil, até meados da década de 1980 as estratégias de marketing da indústria de

medicamentos ainda não haviam sido contempladas pelos estudos voltados ao complexo

médico-industrial. Um dos primeiros brasileiros a se dedicar à propaganda de

medicamentos como objeto de pesquisa científica foi José Gomes Temporão.

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Médico sanitarista, Temporão foi ministro da Saúde de março de 2007 a dezembro

de 2010. Durante sua gestão enfrentou crises epidêmicas como febre amarela e dengue,

tendo atuado na defesa da legalização do aborto (GALERIA DE MINISTROS, 2013). Um

dos primeiros trabalhos de pesquisa de sua carreira foram as estratégias comerciais da

indústria farmacêutica. Em seu mestrado em saúde pública, pela Fundação Oswaldo Cruz,

Temporão não estava interessado diretamente na relação das práticas comerciais e médicas

com o autoconsumo de produtos farmacêuticos, mas com as articulações entre estratégias

comerciais, saber médico e meios de comunicação de massa, no sentido de questionar,

como ele argumentava, “[...] a propaganda de medicamentos enquanto prática capaz de

permear instâncias da vida social, que vão desde sua influência sobre a educação médica à

estruturação de uma consciência política sobre saúde, no nível da população”

(TEMPORÃO, 1986, p. 15).

Em seu estudo ele defende que os elos existentes entre a indústria farmacêutica, as

práticas médicas, as agências de publicidade, o saber médico e os meios de comunicação de

massa possibilitam estratégias que ampliam o consumo de medicamentos e a medicalização

da sociedade. Para sustentar esse argumento, Temporão caracterizou a propaganda de

medicamentos em um contexto histórico no qual se interpenetram as questões econômicas

ligadas ao processo de acumulação da indústria, aprofundando a crise em que se

encontravam os serviços de saúde e as condições de vida e trabalho dos brasileiros. A

população era submetida a condições e acessos precários aos serviços de saúde, mas se

deparava com propagandas que, organizando sintomas vagos e comuns, ofereciam a

solução por meio do consumo de produtos farmacêuticos.

Nessa perspectiva, ele caracteriza as pessoas como sujeitadas a condições precárias

que as permeavam e a estratégias maléficas da indústria, ficando quase que impedidas de

questionarem as mensagens publicitárias (TEMPORÃO, 1986). Como Illich (1975), o ex-

ministro defende que todas as diferentes formas de propagação de informações sobre

medicamentos e terapêuticas levam as pessoas a construírem novas posturas frente ao corpo

e ao adoecer. Porém, esse excessivo acesso a informações apresenta-se como algo nocivo à

sociedade, tendo em vista que as pessoas nem sempre sabem lidar com o dado divulgado.

Partindo de um referencial oposto ao da propaganda-manipuladora apresentada por

Temporão, Rabello e Camargo Jr. (2012) defendem que a propaganda de medicamentos

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não possui somente a função de persuasão à compra. Ela também é um artefato cultural,

pois

(...) publicidade [de medicamentos] não cria valores, mas, sim, se utiliza

daqueles que já circulam na sociedade, e os reformula para apresentação

ao público através da propaganda. Por isso a mídia se torna um veículo

útil para compreensão do que a sociedade legitima como estilo de vida

desejável [ou saudável] (p. 359).

Para os autores as diferentes posturas frente ao corpo e o adoecer não estão

associadas somente ao acesso a informações propagadas, mas são respostas às condições de

saúde que vivenciam, tais como falta de médicos e o fácil acesso a medicamentos, muitas

vezes de uso controlado (RABELLO; CAMARGO JR., 2012). Estão também relacionadas

a questões histórico-culturais de “autotratamento”, seja pelo uso de chá caseiros da vovó ou

remédios “receitados” por amigos e familiares (JESUS, 2009).

Existem diferentes tipos de divulgação do medicamento, tanto em relação ao seu

endereçamento quanto à forma de veiculação da informação terapêutica. Para Temporão

(1986) as propagandas de medicamentos podem ser classificadas em três linhas distintas: 1)

aquelas dirigidas aos médicos; 2) as que são voltadas ao público; e 3) as propagandas

destinadas a todos os públicos por meio da “divulgação leiga”.

Aquelas dirigidas aos médicos e demais profissionais da saúde são propagandas de

medicamentos, livres ou não de prescrição médica, elaboradas pela indústria farmacêutica e

veiculadas por diversos meios, tais como revistas da classe profissional, distribuição de

folders em consultórios ou até mesmo distribuição de amostra grátis.

A segunda definição proposta por Temporão são as propagandas de medicamentos

de venda livre, elaboradas por publicitários para serem divulgadas nos meios de

comunicação de massa, dirigidas ao público em geral e divulgadas em veículo impresso,

rádio, televisão e, mais recentemente, pela internet. Já as destinadas a todos os públicos, de

“divulgação leiga”, em geral não são as elaboradas por publicitários, mas sim por

assessores de imprensa, que divulgam as informações como texto jornalístico, os chamados

releases. São os saberes sobre saúde, doença e terapêutica noticiados no gênero reportagem

por jornalistas nos mais diversos formatos e meios: revistas e jornais, programas de rádio e

televisão, de cunho científico ou não, como os programas matinais sobre saúde e bem-estar

ou as colunas de saúde em jornais

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Temporão não apresenta em sua tipologia uma definição específica de propaganda

no que diz respeito à divulgação boca a boca, ou seja, a “propaganda-não-propaganda”.

Uma modalidade de divulgação sem a intermediação de publicitários ou jornalistas, na qual

os medicamentos são recomendados por vizinhos, parentes, amigos, desconhecidos nos

pontos de ônibus, que frequentemente surgem com indicações de terapêuticas infalíveis

para qualquer tipo de moléstia que venha a infligir sofrimento à existência humana (como

se diz: “de médico, cada um tem um pouco”).

Nesse cenário, as ações de marketing passam a ser a “[...] atividade principal da

indústria farmacêutica” (RABELLO; CAMARGO JR., 2012, p. 360), seja por meio do

apelo emocional, no uso de slogans motivacionais principalmente atrelados à condição de

bem-estar e alegria – com imagens de pessoas sorrindo, por exemplo –, seja racional, no

uso de informações científicas baseadas em dados estatísticos de pesquisa.

Para identificar esses diferentes argumentos publicitários da indústria farmacêutica,

Huertas e Campomar (2008) realizaram um estudo sobre o estilo de propaganda e a atitude

do consumidor em relação a medicamentos para emagrecer. Segundo os autores,

atualmente alguns modelos de propaganda buscam equiparar os apelos emocional e

racional nos trabalhos publicitários, mas a atitude do consumidor sobre o produto é

predominantemente cognitiva. Ou seja, quando o apelo é mais racional, com descrições

científicas, dados estatísticos sobre efeitos do medicamento e mais informações técnicas, o

apelo publicitário possui maior efeito persuasivo do que se estivesse somente associado ao

bem-estar e à alegria do consumidor (HUERTAS; CAMPOMAR, 2008). Para que seja

vendável, o estilo de vida saudável e feliz conquistado por intermédio de “balas mágicas”

(FOX; WARD, 2006) precisa estar atrelado ao discurso médico-científico reconhecido pelo

público em geral como algo legítimo.

Essa afirmação levanta a querela a respeito da mensuração quantitativa das

informações técnicas sobre o medicamento na propaganda. A indústria farmacêutica

corrobora os argumentos dos órgãos de saúde quanto à divulgação das informações

científicas sobre os efeitos da medicação como uma estratégia para seu uso racional.

Porém, Huertas e Campomar (2008) argumentam que, ao contrário do que é proposto pela

agência brasileira de saúde, esse tipo de propaganda pode sugerir o que Nascimento (2007)

chama de supermedicalização. Ao atrelar saúde à ciência e à tecnologia, remetendo o uso

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de produtos farmacêuticos a uma noção de progresso e bem-estar, o apelo racional

publicitário não apresenta todos os aspectos da medicação (positivos e negativos), mas

seleciona aquilo que convêm para conseguir mais adeptos ao consumo (NASCIMENTO,

2007; MASTROIANNI, et. al., 2008; HUERTAS, CAMPOMAR, 2008; CAMARGO JR.,

2003).

Nesse processo de legitimidade terapêutica por meio do discurso científico,

Camargo Jr. (2003) lembra-nos que tais dados ditos “científicos” podem ser questionados,

mas essa seleção de informações da indústria farmacêutica muitas vezes subverte o que

apresenta como dado científico à população. E ela, assim como muitos médicos, não tem

mais ferramentas para criticar e filtrar essas informações.

Nessa perspectiva, a propaganda de medicamentos atua como um dos principais

agentes na farmaceuticalização da vida, à medida que a indústria farmacêutica tem como

uma de suas principais atividades o marketing.

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CAPÍTULO 2. BREVE NOTA SOBRE A PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS NO BRASIL

Luftal, contra gases, use o original ● Magnésia Leitosa, gostosa, fiel.

Magnésia Leitosa de Orlando Rangel ● Não basta ser pai, tem que

participar. Não basta ser remédio, tem que ser Gelol ● Bepantol, o

antiassaduras da nova geração ● Pense rápido, pense Pariet ● Não leve

dor de cabeça, leve Neosaldina ● Tosse? Bromil ● Legítima defesa com

Redoxon ● Anador: uma dor de cabeça pode estragar tudo ● Supradyn.

Você nova por dentro e por fora ● Tenso? Nervoso? Estressado?

Ritmoneuran ● Se você for assaltado por dor ou febre, tome Anador. É

tiro e queda ● Sedalmerck: derruba a dor, levanta você ● Gelatin. Feliz

corpo novo! ● Se você gosta muito de comer, mas gosta mesmo,

experimente Digeplus ● Transpulmin Bálsamo: o anjo da guarda dos seus

anjinhos ● Cafiaspirina, o remédio de confiança ● Pronto-socorro para os

olhos irritados: Lavolho ● Micostyl: não deixem que peguem no seu pé

(BUENO, 2008).

A história da propaganda e das práticas publicitárias no Brasil confunde-se com a da

propaganda de medicamentos, e até mesmo com o advento da indústria farmacêutica no

país, seu desenvolvimento técnico e científico e suas táticas comerciais. Dentre os

primeiros anúncios publicitários populares veiculados em território nacional destacavam-se

os das lojas, dos hotéis e dos fabricantes de remédios (TEMPORÃO, 1986).

Não há definição específica de quando e como surgiu a primeira peça publicitária

(JESUS, 2008), entretanto, de acordo com Bueno (2008), já na década de 1820 anúncios de

remédios eram veiculados em jornais, embora não nos moldes da propaganda que

conhecemos hoje, como podemos ver no exemplo a seguir, extraído de uma matéria

publicada no Diário do Rio de Janeiro, em 22 de agosto de 1825:

Tendo chegado ao conhecimento do público que certas Senhoras casadas,

como consta até por huns processos civis nos quaes as mesmas ditas

senhoras se querem intitular por virgens!!! (sem o já poderem ser, o que

he bem frequente nesta cidade do Rio de Janeiro), mas no caso de

quererem ainda parecer ou fingirem que o sejão para certas pessoas, não é

difícil de se capacitarem de tal cousa; e como para isso seja natural o

terem que passar por algum exame de Facultativos e de Parteiros, se lhes

aplica um novo remedio de cuja aplicação resulta hum novo Hímen, sendo

o seu preço medíocre e seu uso facílimo, o qual lhe é composto de um

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emoliente (no caso que ainda não tenhão aplicado outro remedio que faça

o mesmo effeito, dos quaes saberão muito bem os Senhores Facultativos e

mesmo alguns Parteiros). Este remédio se annucia em rasão de sua

finalidade e commodo preço: quem o quiser que procure por este diário

(BUENO, 2008, p. 18).

Em 1825 o anúncio de um remédio cujo resultado seria um novo hímen certamente

deve ter causado revolta, uma vez que a Promotoria exigiu que o jornal denunciasse o autor

do reclame8, “[...] não pelo evidente charlatanismo da peça publicitária, mas pela

dissolução dos costumes e a desmoralização do lar doméstico” (BUENO, 2008, p. 19).

Considerando que foi somente com criação da Junta de Higiene Pública que

surgiram as primeiras medidas concretas com vistas à fiscalização da propaganda de

medicamentos no Brasil (como veremos no capítulo 5), a partir de 1829 a Sociedade de

Medicina do Rio de Janeiro (SMRJ) era encarregada de regulamentar não somente o

exercício da medicina, mas a fabricação e comercialização de medicamentos em território

brasileiro, bem como os seus reclames. No que diz respeito aos anúncios, Bueno informa

que a principal atribuição da SMRJ era reprimir a divulgação de “remédios secretos”, cuja

fórmula não era divulgada pelo fabricante ou não tinha teor científico.

Até meados de 1850 o destaque nos anúncios de remédio que vinham sendo

publicados em larga escala no país estava na divulgação dos trabalhos de “terapeutas

tradicionais”, tais como curandeiros, sangradores, barbeiros, parteiras e boticários.

Rechaçados pela SMRJ e mesmo com regras cada vez mais rígidas impostas pela entidade,

esses terapeutas encontraram nos anúncios uma alternativa para divulgar o seu negócio,

como podemos ver no anúncio publicado no Jornal do Commercio, em 29 de janeiro de

1840:

Curam-se dores, zunidos e surdez antiga de ouvidos, ainda que tenha

anos, também asma, defluxo asmático, solitária, hemorroidas, erisipelas e

escravos viciosos de comer barro ou terra, ainda que já estejam opilados;

assim como os viciosos de bebida: quem quiser utilizar-se dos préstimos

acima dirija-se à Rua do Parto, 93 (...) (BUENO, 2008, p. 19).

8 Termo utilizado para se referir ao anúncio comercial; sinônimo de propaganda.

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A proposta de repelir os “remédios secretos” fez com que os fabricantes passassem

a utilizar novas estratégias para convencer os consumidores da seriedade do seu produto.

Centrada nos múltiplos efeitos da droga e na vinculação com farmacêuticos e médicos de

renome, a técnica de anúncio de desses produtos aperfeiçoava-se cada vez mais, como

podemos ver no anúncio do preparado Socorro da Mocidade – Precioso desinfetante,

indicado para o tratamento de sífilis, publicado no jornal Corsário, em 1882:

Preparado pelo distincto médico Dr. Lafayatte Bueno. Este adstringente

teve a propriedade de terminar com as vacinas syphyliticas, em

Montevideo há 4 anos. A esta parte, a todos os que fizeram uso deste

precioso desinfectante, que hoje ofereço ao povo do progresso e tenho

anunciado na Gazeta de Notícias e Jornal do Commercio (CADENA,

2001, p. 32, grifos nossos)

Já a primeira publicação

(revista/almanaque) voltada especificamente à

saúde é de 1887. Intitulada O Pharol da Medicina

(Figura 1), era produzida pela Granado, uma

indústria farmacêutica, que, além de seus

produtos, anunciava remédios e medicamentos de

outros fabricantes. Distribuído gratuitamente em

todo o país, o Pharol circulou até 1940,

veiculando pequenas peças literárias, calendário

com nomes de santos, cartas de leitores

declarando-se curados, informações sobre

doenças e atestados de médicos que haviam

curado seus pacientes com medicamentos da

Granado (BUENO, 2008).

Depois dos almanaques surgiu no mercado

brasileiro a estratégia publicitária “do antes e do depois”, utilizada até hoje. Um dos

pioneiros nesse estilo publicitário foi o anunciante do xarope peitoral de alcatrão (JESUS,

2008). Na Figura 2 (próxima página) podemos visualizar um exemplo desse tipo de

Figura 1 - Capa de exemplar do Pharol da

Medicina, de 1929.

Fonte: BUENO, 2008

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propaganda, que traz três imagens para mostrar os

bons efeitos do produto: “[...] eu era assim,

cheguei a ficar quase assim!!! Sofria

horrivelmente dos pulmões, mas graças ao

milagroso Xarope Peitoral de Alcatrão e jatahy,

preparado pelo farmacêutico Honório de Prado,

consegui ficar assim!! Completamente curado e

bonito” (JESUS, 2008, p. 22; BUENO, 2008, p.

21).

Na virada para o século 20, além dos

médicos, os porta-vozes dos anúncios passaram a

ser também os poetas e artistas, que atuavam

como legitimadores da qualidade do

medicamento. Segundo Bueno (2008), nesse

período era comum a vinculação da vida boêmia

dos poetas à tuberculose, de maneira que alguns deles foram contratados para divulgar um

dos produtos mais famosos na época para o tratamento contra esse tipo de patologia: o

xarope Bromil. Por exemplo, Olavo Bilac, em 1912, no Jornal do Brasil, afirmava: “Tenho

a maior satisfação em declarar que soffrendo de uma bronchite pertinaz, fiquei curado com

uso de Bromil” (BUENO, 2008, p. 31).

Com a inserção desses novos porta-vozes no contexto publicitário de produtos

farmacêuticos os anúncios passam a estabelecer uma relação cada vez mais estreita com a

linguagem poética e artística da época. Poetas, escritores e literatos elaboravam os textos

publicitários, sendo um dos principais exemplos dessa estratégia a paródia de Bastos Tigres

a Os Lusíadas, de Camões, intitulada Bromilíada. Para Bueno, “[...] a propaganda de

remédios cantava suas virtudes em versos, porque, além de curar, era preciso seduzir”

(2008, p. 37).

O trabalho desses artistas possibilitou o advento de técnicas publicitárias nas quais o

texto da propaganda se tornou mais dinâmico, principalmente com o uso de slogans e frases

curtas que remetiam aos benefícios do medicamento, como as apresentadas na introdução

deste capítulo. Jesus (2009) afirma que o slogan tem a função de ajudar na criação ou

Figura 2 - Anúncio do xarope peitoral de

alcatrão, de 1895.

Fonte: BUENO, 2008

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manutenção da lembrança de determinado produto. Ou seja, seu objetivo é reforçar a

imagem de uma marca por meio da associação a um nome ou valor. A imagem gerada por

frases como “Tomou Doril, a dor sumiu” ou “Pra você ficar legal, melhor é Melhoral”

envolve promessa e apelo, de maneira que o slogan não vende necessariamente o

medicamento, mas o alívio da dor (LEFÈVRE, 1991).

Nesse processo de sedução do consumidor, assim como as palavras agregavam

valor às marcas e aos medicamentos, as ilustrações também passaram a exercer papel

significativo (BUENO, 2008; JESUS, 2008). Conforme os textos foram se tornando mais

curtos e dinâmicos, as imagens

passaram a atuar como

mensageiras da promessa de

cura de fácil alcance, como

podemos ver no exemplo da

Figura 3. O curto slogan

“Canesten: o fim da micose”,

associado à imagem de um pé

saudável após a aplicação do

medicamento, remete à

promessa de alívio rápido para

o problema com o uso do produto.

Além da veiculação na mídia impressa, os anúncios também circulavam no rádio e

cinema. Porém, foi só a partir da década de 1950, com a popularização da televisão, que a

propaganda sofreu uma de suas transformações mais significativas. A exemplo de outros

setores, a indústria farmacêutica encontrou no novo veículo uma ferramenta primordial para

a divulgação de seus produtos (JESUS, 2009; BUENO, 2008), não só nos intervalos

comerciais, mas também por meio de merchandising, técnica de apresentar um produto sem

interrupção do programa, como, por exemplo, aqueles utilizados por uma personagem nas

telenovelas.

Atualmente, a internet apresenta-se como a principal ferramenta no cenário da

publicidade farmacêutica. Assim como qualquer outro produto, os medicamentos são

ofertados em sites, banners, pop-ups e emails. Frequentemente são produtos sem registro,

Figura 3 - Canesten: o fim da micose.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006

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oferecendo saúde ao alcance de um clique. Mas a internet não é somente alvo de produtos

falaciosos por meio de “panfletagem” de pop-ups; ela também é utilizada como veículo de

divulgação de produtos devidamente registrados, para tentar abarcar públicos mais amplos.

São exemplos desse tipo de estratégia os vídeos publicitários divulgados em redes

sociais, que diferem do perfil daqueles veiculados na televisão. No ambiente virtual alguns

vídeos chegam a ter mais de três minutos de duração, com textos que não poderiam passar

em qualquer horário na programação da TV. Outra proposta são as páginas de

medicamentos em redes sociais (Figura 4): as pessoas que as “curtem” passam a receber em

sua página pessoal diferentes tipos de informações, tais como orientações e dicas de saúde.

Bueno (2008) adverte que no contexto cibernético a principal preocupação é a

velocidade com que uma informação distorcida ou abusiva pode se espalhar. Para ele, “[...]

diferente da televisão, do rádio, do jornal, da revista e de tantos outros meios, [a internet]

ainda é praticamente um território sem lei e sem ordem. Qualquer um entra, qualquer um

expõe, qualquer um anuncia” (p. 152). Dessa forma, para o autor, a internet contribui para o

consumo abusivo de medicamentos sem nenhuma indicação profissional.

Com a formulação de novas estratégias publicitárias e o surgimento de novas

mídias, a Anvisa foi aperfeiçoando a regulamentação e a fiscalização no que diz respeito ao

controle da propaganda virtual, principalmente com a resolução RDC nº 102, de 2000, que

traz especificidades sobre esse meio de comunicação. Mas Bueno destaca que o principal

desafio dessa fiscalização é lidar com anúncios de outros países, já que na internet não há

fronteiras.

Figura 4 - Exemplo de página de medicamento em uma rede social

Fonte: www.facebook.com.br

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2.1. PROPAGANDA NO COMBATE À PROPAGANDA: AS CAMPANHAS

PUBLICITÁRIAS COMO ESTRATÉGIA DE SENSIBILIZAÇÃO PARA OS

PERÍGOS DA PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS

Como veremos neste trabalho, as estratégias de regulamentação da publicidade de

medicamentos intensificaram-se ao longo dos anos, de tal forma que a Anvisa,

considerando a importância desse campo, também passou a utilizar a propaganda como

estratégia para sensibilizar a população quanto aos malefícios do uso irracional de

medicamentos e da sua própria propaganda. Exemplo dessa estratégia é a campanha

“Informação é o melhor remédio”, que tinha cinco áudios para veiculação em rádio; cinco

vídeos em três versões (3 minutos, 60 segundos e 30 segundos) para circular na TV e serem

utilizados em atividades educativas em escolas; cinco cartazes; uma cartilha com

informações sobre propaganda de medicamentos; e um guia para auxiliar no uso desse

material (ANVISA, 2008).

No que diz respeito ao propósito de alertar quanto aos riscos da publicidade sobre

medicamento, nessa campanha há dois vídeos específicos intitulados “Quando a esmola é

demais” e “Propaganda não é remédio”. Assim como nas propagandas da indústria

farmacêutica, a campanha da Anvisa também lançou mão em sua estratégia de uma

personalidade que não apenas tinha conhecimento certificado pelo seu título de médico,

como era uma figura pública. Foi esse o critério que norteou a escolha de Dráuzio Varella,

um médico oncologista e escritor bastante conhecido, para divulgar de forma simples e

direta aspectos da medicina em programas de rádio e televisão, tornando-se assim o porta-

voz dessa ação publicitária.

A Anvisa (2008) afirma que as estratégias publicitárias de medicamentos estimulam

o uso indiscriminado, exageram as qualidades dos produtos e omitem os seus riscos. Para o

órgão a campanha “Informação é o melhor remédio” não pretende promulgar uma imagem

negativa das mídias e da publicidade, mas mostrar que os produtos de vantagens

terapêuticas discutíveis ou de menor qualidade precisam de melhor e maior divulgação das

informações terapêuticas nas campanhas publicitária para se manterem no mercado e que o

medicamento representa um, e não o único, dos recursos terapêuticos disponíveis, que

incluem exercícios físicos e hábitos alimentares saudáveis, entre outros aspectos.

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CAPÍTULO 3. “SE É BAYER, É BOM”: O CASO DA PROPAGANDA

DE ASPIRINA

Num monumento à aspirina

Claramente: o mais prático dos sóis,

O sol de um comprimido de aspirina:

Do emprego frágil, portátil e barato,

Compacto de sol na lápide sucinta.

Principalmente porque, sol artificial,

Que nada limita a funcionar de dia,

Que a noite não expulsa, cada noite,

Sol imune às leis de meteorologia,

A toda hora em que se necessita dele

Levanta e vem (sempre num claro dia):

Acende, para secar a aniagem da alma,

Quará-la, em linho de um meio-dia.

Convergem: a aparência e os efeitos

Da lente do comprimido de aspirina:

O acabamento esmerado desse cristal,

Polido a esmeril e repolido a lima,

Prefigura o clima onde ele faz viver

E o cartesiano de tudo nesse clima.

De outro lado, porque lente interna,

De uso interno, por detrás da retina,

Não serve exclusivamente para o olho

A lente, ou o comprimido de aspirina:

Ela reenfoca, para o corpo inteiro,

O borroso de ao redor, e o reafina.

(João Cabral de Melo Neto, A educação pela

pedra, 1966)

Em 1897, o químico alemão Felix Hoffmann sintetizou o ácido acetilsalicílico, que

seria utilizado para o alívio de dores de intensidade leve a moderada, tais como dor de

cabeça, de dente, de garganta, menstrual, muscular e no alívio sintomático da dor e da febre

provocadas por resfriados ou gripes.

Entretanto, os relatos sobre esse ácido não se iniciaram no século XIX. Em 1500

a.C. os papiros de Ebers recomendavam o uso de folhas de murta para o alívio de dores e,

um milênio mais tarde, Hipócrates indicava o suco da casca do salgueiro para alívio de

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dores e febres. A relação entre essas terapêuticas está no fato de que ambas as plantas

possuem a substância salicilato, a partir da qual o químico Hoffmann sintetizou o ácido

acetilsalicílico (LINHA DO TEMPO ASPIRINA, [200-?]).

Já em 1899 o laboratório Bayer passou a

comercializar esse ácido como um

medicamento, que se tornaria um dos mais

conhecidos mundialmente com o nome de

aspirina. Em 1999, em comemoração aos cem

anos de comercialização, o edifício

administrativo da multinacional, na Alemanha,

foi transformado na maior caixa de aspirina do

mundo (Figura 5), rendendo três registros no

livro dos recordes.

Atualmente, segundo dados da Bayer,

216 milhões de aspirinas são vendidas por dia

no mundo, em três apresentações: aspirina C,

aspirina efervescente e cafiaspirina (composto

de ácido acetilsalicílico e cafeína).

No Brasil, seu nome faz parte do dicionário da língua portuguesa como sinônimo de

analgésico (FERREIRA, 2001), estando presente também na literatura, na música e no

cinema.

Consumidor ávido dos comprimidos devido às constantes dores de cabeça sem

diagnóstico preciso, o brasileiro João Cabral de Melo Neto escreveu o poema Num

monumento à aspirina. O colombiano Gabriel Garcia Marquez também faz menção ao

medicamento em Crônica de uma morte anunciada. Há, ainda, quase uma centena de

citações literárias à aspirina feitas por autores espanhóis e latino-americanos de prestígio.

Na música brasileira, por exemplo, o cantor e compositor Zeca Baleiro menciona a

menciona nos primeiros versos da música Meu amor, minha flor, minha menina: “[...]

solidão não cura com aspirina [...]” (BUENO, 2008).

No cinema o medicamento foi destaque de Cinema, aspirinas e urubus, dirigido por

Marcelo Gomes. O filme, que se passa na década de 1940, no sertão do Nordeste, narra a

Figura 5 - Prédio administrativo da Bayer

transformado em caixa de aspirina.

Fonte: Bayer. Disponível em:

<www.bayer.com.br>

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história de um alemão que, para fugir da Segunda Guerra Mundial, vem ao Brasil trabalhar

como vendedor de aspirinas. Ele viaja em um caminhão estampado com o slogan do

medicamento, tendo como estratégia de venda a exibição de filmes publicitários em cada

povoado a que chega. Em seu percurso, conhece um nordestino que tenta chegar ao Rio de

Janeiro, juntando-se a ele nessa viagem.

No centenário do medicamento, a revista Newsweek publicou uma pesquisa em que

os norte-americanos elegeram a aspirina como uma das cinco principais invenções do

século, atrás somente da televisão, do telefone e do automóvel (JESUS, 2011).

3.1. RECLAMES DA BAYER E O DESTAQUE PARA OS ANÚNCIOS DE

ASPIRINA

Não é somente devido à sua onipresença que a aspirina foi escolhida para fazer parte

deste estudo. Outro aspecto significativo diz respeito às estratégias publicitárias para

divulgação do medicamento. Data de 1899 o primeiro anúncio alemão de lançamento da

aspirina (Figura 6). No Brasil, a sua comercialização teve início dois anos depois, em 1901.

Até 1910 o medicamento era divulgado esporadicamente em anúncios de jornais;

entretanto, a partir de 1911 a Bayer sistematizou a veiculação dos anúncios publicando-os

com regularidade e estilo próprio, em que se destacavam frases de efeito para chamar a

atenção do consumidor para a principal característica do medicamento: o alívio para dores

em geral (JESUS, 2011).

Para Temporão (1986), a qualidade dos anúncios devia-se ao fato da Bayer conduzir

seu trabalho promocional junto ao público consumidor com a mesma seriedade e

competência que dedicava aos médicos.

Todavia, o estilo germânico era predominante nos layouts, pouco adequado,

portanto, à realidade brasileira, conforme demonstrado no primeiro anúncio de aspirina

publicado no Brasil, em setembro de 1911, na revista carioca Careta (Figura 6, próxima

página). Nele há uma imagem de montanhas europeias com picos nevados, seguida de uma

extensa descrição dos motivos que colocaram a aspirina na frente dos demais analgésicos,

antirreumáticos e de combate a resfriados.

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Figura 6 – primeira propaganda de aspirina no

Brasil

Figura 7 - Anúncio com aspectos

brasileiros

Fonte: Figuras 6 e 7, PINTO, 1986

Diante do cenário de incompatibilidade das duas realidades, foram convidados

artistas e poetas brasileiros para produzir os anúncios do medicamento, que passaram a

enfatizar as festas populares, os hábitos, os costumes, as paisagens e as personagens que se

adequavam à cultura do país (BUENO, 2008; JESUS, 2011). Já na propaganda (Figura 7)

publicada na mesma revista e ano é possível constatar essa nova orientação para o mercado

nacional (BUENO, 2008; JESUS, 2011). Dois personagens tipicamente brasileiros ilustram

os benefícios da aspirina: um está vestido com avental e um pano tampando a boca,

segurando um lado do rosto, sugerindo dor de dente; o outro, negro, carrega uma bandeja

com um copo e um pano no antebraço. A imagem é seguida de um diálogo, com gírias da

época, no qual o personagem negro indica a aspirina como solução para a dor de dente do

companheiro.

Em 1922, na Semana de Arte Moderna, o poeta brasileiro Bastos Tigre criou um

slogan que se tornaria um dos mais conhecidos da publicidade brasileira e de países de

língua espanhola: “Se é Bayer, é bom” ou, no caso espanhol, “Si es Bayer, es bueno”

(BUENO, 2008; JESUS, 2011).

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A notoriedade das propagandas da Bayer no Brasil foi tão grande que em 1986, em

comemoração aos seus 90 anos no país, a multinacional farmacêutica organizou um volume

com as principais peças publicitárias veiculadas entre as décadas de 1910 e 1940, intitulado

Si é Bayer é Bom – reclames da Bayer – 1911 a 1942.

Posteriormente, reconhecendo o sucesso da

publicação, organizou um segundo volume com as

principais propagandas divulgadas entre 1943 e

2006. Os volumes mostram a trajetória não só do

medicamento, mas principalmente das

transformações da publicidade brasileira ao longo do

tempo. Os primeiros anúncios, como relata Pinto

(1986), usavam títulos mais próximos do gênero

literário. São exemplos dessa fase a série de

propagandas veiculadas no jornal O Estado de S.

Paulo, em 1920, com textos longos e desenhos

minuciosos (Figura 8).

Para Jesus (2011), as campanhas publicitárias

da Bayer tornaram-se peças fundamentais porque

contribuíram de forma decisiva para o sucesso da

marca no mercado brasileiro. Para a publicitária, as peças:

(...) conduziam o leitor a um texto recheado de promessas de cura.

Promessas de curas milagrosas. Certamente não havia controle sobre a

veiculação do conteúdo das mensagens nos anúncios, inclusive de

medicamentos, que eram veiculados e comercializados sem fiscalização

(p. 6).

Com o passar dos anos, as estratégias publicitárias voltadas à aspirina foram se

aperfeiçoando, principalmente com a regulamentação da profissão de publicitário no Brasil,

o desenvolvimento do discurso publicitário e o uso de fotografias. Entretanto, não só as

evoluções midiáticas transformaram as propagandas. A legislação sobre uso de

medicamentos também impôs estratégias de controle ao discurso da publicidade.

Figura 8 - Exemplos da série de

anúncios publicados no Estado de S.

Paulo em 1920.

Fonte: PINTO, 1986

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Em 2000, as

propagandas de aspirina

tiveram de incluir em suas

mensagens a advertência: “Ao

persistirem os sintomas, o

médico deverá ser

consultado”. Tal

obrigatoriedade se deu com uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) a partir da qual toda propaganda de medicamento passou a expor,

obrigatoriamente, essa advertência.

Em 2002, nova resolução aumentou o controle sobre a publicidade de

medicamentos cujo princípio ativo era o ácido acetilsalicílico. Tal medida foi adotada em

razão dos riscos que seu uso impunha a pacientes com dengue. Assim, propagandas de

aspirina passaram a trazer também a advertência: “Não use este medicamento em caso de

suspeita de dengue”.

Em 2009, como estratégia de marketing para a aspirina, a Bayer lançou um

concurso cultural intitulado Um mundo com menos dor (Figura 9). Os participantes tinham

de responder à pergunta: o que você faria para ter um

mundo com menos dor? As melhores respostas

seriam premiadas com dinheiro, equipamentos

eletrônicos e um carro. Contudo, a veiculação da

estratégia foi proibida, pois, segundo a Anvisa, a

propaganda estimulava o uso indiscriminado de um

medicamento, além de descumprir o decreto nº

70.951, de 1972, que determina que tais substâncias

não podem ser objetos de promoção que distribua

prêmios.

Entretanto, no mesmo ano, outra campanha

intitulada “Aspirina – um mundo com menos dor”

(Figura 10) recebeu destaque no Festival

Internacional de Publicidade de Cannes. As peças

Figura 9 - Concurso cultural aspirina.

Fonte: www.aspirina.com.br

Figura 10 - “Aspirina – um mundo com

menos dor”.

Fonte: www.aspirina.com.br

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publicitárias traziam a imagem de várias pessoas, em uma mandala, em diversas situações

de dor.

Para Jesus (2011), considerando todas as mudanças socioeconômicas, o avanço

tecnológico e as restrições éticas na propaganda de medicamentos, a aspirina continua

sendo um dos maiores anunciante na mídia de massa brasileira, mesmo após mais de um

século da divulgação de seu primeiro anúncio no Brasil.

3.2. CONTROVÉRSIAS DO USO DE ASPIRINA NA PRÁTICA DE OFF

LABEL

Não é somente em razão de sua onipresença no cotidiano das pessoas que a aspirina

foi escolhida integrar este estudo – mesmo porque, atualmente, ela não está nem entre os

vinte medicamentos mais vendidos no país (INTERFARMA, [200-?]). Também não se

deve exclusivamente ao papel significativo da aspirina na publicidade brasileira. Associada

a esses dois aspectos – a imponência da aspirina no mercado e o paradigma publicitário –, a

sua escolha como estudo de caso deu-se pelo fato de se tratar de um medicamento

controverso.

Como já mencionado, comumente a aspirina é indicada para o alívio de dores de

intensidade leve a moderada, tais como dor de cabeça, de dente, garganta, menstrual,

muscular e no alívio sintomático da dor e da febre nos resfriados ou gripes. Entretanto, seu

efeito colateral de anticoagulação passou a ser apropriado por meio da prática de off label9,

tanto com indicação médica quanto pela apropriação informal do medicamento na

prevenção de infartos do miocárdio em pessoas com ou sem histórico de doenças

cardiovasculares.

Os discursos em torno dessa prática são controversos. Enquanto alguns a descrevem

como “a cura para todos os males” (WEBSTER, [2013?]), outros evidenciam os efeitos

nocivos do seu uso constante, tais como complicações decorrentes de hemorragias. Dessa

forma, a aspirina emerge como um objeto controverso por figurar a querela de efeitos

negativos e positivos no uso de substâncias medicamentosas.

9 Em tradução literal off label significa “fora da indicação”. O termo é utilizado em referência à prática de

consumir um medicamento visando não os seus efeitos primários indicados na bula, mas os secundários.

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No âmbito da prática off label uma das principais controvérsias diz respeito ao uso

do medicamento na prevenção cardiovascular primária, ou seja, aquela realizada em

pessoas sem doença cardiovascular prevista. Ao analisar as pesquisas que visam tal prática,

Vianna (2002) aponta que esses estudos evidenciam que o uso contínuo de aspirina diminui

em 28% as chances de infarto não fatal, contribuindo significativamente para a redução de

morte por doença coronária.

Todavia, no mesmo estudo esse autor evidencia que o uso contínuo substanciado do

princípio ativo acetilsalicílico também aumenta o risco de acidente vascular cerebral e

hemorragia gastrointestinal. Além de tais efeitos, Vianna destaca que os benefícios do

emprego continuado da aspirina para a prevenção cardiovascular primária são evidentes

apenas para homens abaixo dos 70 anos, não havendo precisão em relação à dose ideal do

medicamento nesse tipo de procedimento.

Considerando tais controvérsias e visando o mercado da prevenção, a Bayer lançou

a aspirina prevent. Segundo a multinacional farmacêutica, trata-se de uma variação da

aspirina desenhada para o uso contínuo e vendida somente com receita médica. Portanto,

ambas apresentam o mesmo princípio ativo, diferenciando-se no que diz respeito à dose,

que é menor no primeiro caso.

De acordo com as bulas disponíveis nos sites da Bayer (www.bayerpharma.com.br e

www.aspirina.com.br), a aspirina contém ácido acetilsalicílico em 500 mg; por sua ação

analgésica, antitérmica e anti-inflamatória, ela é indicada para o alívio de dores de cabeça,

nas costas, musculares, na garganta, de dente e em caso de febre (bula no Anexo 1). Já a

aspirina prevent (Anexo 2) contém o ácido acetilsalicílico em 100mg e 300mg,

apresentando “[...] entre outras, a capacidade de evitar o agrupamento de plaquetas,

componentes do sangue que agem na formação dos coágulos sanguíneos. Ao inibir o

agrupamento de plaquetas, previne a formação de coágulos nos vasos sanguíneos evitando

assim certas doenças cardiovasculares” (BAYERPHARMA, [2013?], grifo nosso). Ambos

os medicamentos têm o mesmo componente, em quantidades e indicações distintas. Outro

aspecto que os diferencia: um (prevent) é vendido mediante receita médica e o outro

(aspirina) é de venda livre.

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Todavia, por que não lançar mão da aspirina por meio da compra sem receita

médica, já que se trata do mesmo componente do medicamento utilizado na prevenção de

doenças cardiovasculares?

Essa pergunta não visa questionar as indicações e os efeitos das diferentes

apresentações da aspirina, tampouco estimular sua autoadministração. Ela pretende apontar

mais um aspecto que a coloca como um medicamento controverso. Nessa perspectiva, a

aspirina foi escolhida como estudo de caso devido à sua forte presença no mercado nacional

e internacional, seu papel significativo na publicidade brasileira e por se tratar de um

medicamento controverso no que diz respeito a suas indicações e usos, seja por meio da

recomendação médica ou da autoadministração de substâncias.

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CAPÍTULO 4. A REGULAMENTAÇÃO DA PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS

As diretrizes que regulam as propagandas de medicamentos são documentos que,

mesmo não sendo produzidos regularmente e/ou de forma seriada, constituem um ótimo

caminho para entender a gradativa emergência, consolidação e reformulações dos saberes e

fazeres do controle publicitário desse setor. Certamente, a escolha de documentos que

permitem uma análise retrospectiva não tem o propósito de buscar uma origem do objeto

estudado, mas sim possibilitar a identificação de conflitos e diálogos distintos que refletem

a processualidade das práticas discursivas (SPINK, P., 2004).

Para entender quando e como a propaganda de medicamentos tornou-se objeto de

controle governamental é necessário adotar uma perspectiva diacrônica, sendo uma das

estratégias para lidar com análises retrospectivas a construção de linhas narrativas ou,

como denominaremos neste capítulo, linha do tempo. Esse recurso analítico possibilita

esquematizar os conteúdos, situando-os cronologicamente.

Embora esse tipo de ferramenta remeta à linearidade da perspectiva temporal – o

que geralmente não faz justiça à construção do argumento, pois nem sempre as histórias são

contadas de forma linear – ela permite ao pesquisador evidenciar os eventos marcadores de

uma história (SPINK; LIMA, 2004). À guisa de exemplo, a linha do tempo foi utilizada

para entender os paradoxos da internação psiquiátrica para usuários de serviços de saúde

mental (OLIVEIRA, 2007); os usos da nomeação mulher trabalhadora rural (CORDEIRO,

R., 2004); e a história da criação da Comissão Nacional da Aids, bem como suas formas de

atuação (SPINK, 2003).

Assim, nesta pesquisa, o uso dessa ferramenta permite dar visibilidade ao momento

e à maneira como surgiu o controle da publicidade de medicamento (conforme podemos

visualizar no Apêndice 2 da linha do tempo por nós construída). Foi dessa forma que

pudemos observar que vários eventos tiveram efeitos significativos sobre a regulamentação

e a fiscalização dessas propagandas, tais como a criação da Anvisa e as epidemias de

dengue e H1N1, que impactaram diretamente a publicidade do ácido acetilsalicílico.

Embora considerada uma questão de saúde pública, não somente os órgãos

específicos do setor saúde se apropriaram do controle da propaganda de medicamentos.

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Decretos do Ministério da Fazenda, o Código Nacional de Autorregulamentação

Publicitária e até mesmo a Constituição Federal integram a rede de controle desse tipo de

publicidade.

Esses eventos e os órgãos que regulamentam a propaganda esboçam uma trajetória

do controle de medicamentos marcada por pontos nodais que delineiam o percurso da

regulamentação em fases. Para demarcar esse trajeto, descrevemos os diferentes órgãos que

atuaram nesse processo e, em seguida, abordamos os diferentes eventos que atuaram como

pontos nodais para construção de fases dessa linha do tempo, descrevendo as

especificidades de cada uma delas.

4.1 AS ESTRATÉGIAS DE REGULAÇÃO DA PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS EM DEFESA DA SAÚDE (DO CONSUMIDOR)

1

8

5

1

1

9

3

1

1

9

5

4

1

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6

1

1

9

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2

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7

6

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7

7

1

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7

9

1

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0

1

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8

1

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8

8

1

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9

3

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9

6

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9

6

1

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9

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0

0

0

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0

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0

2

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0

1

2

0

0

1

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0

0

4

2

0

0

4

2

0

0

8

2

0

0

9

Ao construir a linha do tempo, observamos que a questão do controle da propaganda

de produtos farmacêuticos não se deu especificamente a partir dos órgãos vinculados à

saúde. O Quadro 1 mostra que ao longo dos anos de regulamentação foram esses órgãos

específicos que iniciaram os primeiros controles publicitários (em amarelo, laranja e

vermelho, no quadro), mas três legislações destacam-se na linha por não terem sido

elaboradas por instituições da saúde (em azul).

A primeira normal legal a tratar do tema é o Decreto nº 70.951, de 9 de agosto de

1972, que regulamenta a Lei nº 5.768, de 20 de dezembro de 1971. Ele dispõe sobre a

distribuição gratuita de prêmios, mediante sorteio, vale-brinde ou concurso, no âmbito das

propagandas, estabelecendo normas de proteção à poupança popular. Trata-se de uma

legislação do Ministério da Fazenda, expressada em somente um artigo, que evidencia a

proibição dos medicamentos como objeto de promoção mediante distribuição de prêmios.

Considerando que a proposta dessa norma estava voltada às formas de controle das

estratégias de divulgação comercial, a regulamentação da publicidade de produtos

Quadro 1 - Diferentes reguladores da propaganda de medicamentos.

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farmacêuticos não está voltada especificamente para a defesa da saúde pública, mas sim à

defesa do consumidor.

Marcada em azul, a segunda estratégia refere-se ao Código Brasileiro de

Autorregulamentação Publicitária (CBARP), do Conselho Nacional de

Autorregulamentação Publicitária (CONAR), instituição que regulamenta as atividades da

categoria no país. Destacamos que, embora o CONAR não seja um órgão legislador, sua

inserção na linha do tempo se deu por ser esse o organismo que realiza a fiscalização e o

controle da propaganda brasileira. Contudo, no caso específico da propaganda de

medicamentos, observamos que o conselho não é o único nem o principal responsável por

esse controle – descreveremos no capítulo seguinte as controvérsias que envolvem essa

questão.

Mesmo a profissão de publicitário tendo sido consolidada no país em 1965, apenas

em 1980 foi criado o CONAR e aprovado o código de autorregulamentação. Como

argumenta Botelho (2010), a consolidação do órgão e do CBARP apresentou-se como uma

resposta às tentativas de controle e censura do governo militar.

Assim, no que diz respeito aos medicamentos, o código de autorregulamentação traz

um capítulo específico sobre esse tipo de propaganda, com especificações tais como:

proibir afirmações quanto à ação do medicamento não baseada em evidências científicas;

não sugerir cura ou prevenção de qualquer doença que exija tratamento sob supervisão

médica; não induzir usos diferentes das ações terapêuticas preconizadas; não oferecer

prêmios ou participação em concursos; não encorajar uso excessivo ou consumo por

crianças sem supervisão dos responsáveis; não induzir a interpretações falsas, erros ou

confusão; e não oferecer diagnósticos à distância. Esse capítulo específico sobre a

propaganda de produtos farmacêuticos demonstra que, embora o CBARP seja basicamente

um documento de defesa do consumidor, ele apropria-se do discurso dos documentos da

autoridade sanitária federal. Ou seja, lança mão de proibições e advertências sobre os

malefícios de uma interpretação errônea da publicidade, já presentes nas legislações dos

órgãos da saúde.

Notamos que ao elaborar o código de autorregulamentação o CONAR não

desconsiderou as especificidades desse tipo de propaganda, uma vez que seu

endereçamento não é somente a um consumidor, mas um consumidor em perspectiva com a

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sua saúde. Dito de outro modo, o CBARP regulamenta as ações publicitárias em defesa do

consumidor e sua saúde.

A terceira legislação, identificada em azul na linha do tempo, foi a Constituição

Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988. O documento faz menção ao controle da

publicidade de medicamentos no capítulo referente à comunicação social, afirmando, nos

artigos 220 e 221, que as propagandas dessa natureza devem conter advertências sobre os

malefícios de seu uso. Destaca-se ainda que na “Seção II – da Saúde” não há menção ao

controle de qualquer tipo de divulgação de medicamentos.

Entretanto, à medida que impõe à propaganda a necessidade de mais informações

sobre o uso do produto, visando o controle de seus efeitos nocivos, visualizamos aqui a

apropriação do discurso da saúde, de maneira que essa regulamentação preconizada

constitucionalmente se dá em defesa da saúde do consumidor, mesmo que a seção citada

desconsidere esse aspecto.

As demais estratégias de controle da propaganda de medicamentos evidenciadas na

linha do tempo foram elaboradas por diferentes órgãos, todos do setor saúde. No Quadro 1

as estratégias marcadas em amarelo referem-se aos diversos órgãos federais de saúde

pública, exceto a Anvisa, que é sinalizada em vermelho. O destaque em cor laranja diz

respeito a uma resolução da Organização Mundial de Saúde que visa regulamentar critérios

éticos e científicos para a promoção10

de medicamentos.

Essa resolução foi sinalizada com cor diferente da dos demais órgãos da saúde por

ser uma norma internacional. Como regra, as resoluções da OMS não implicam

obrigatoriedade legal para os governos dos países signatários, como descrito no próprio

documento, porém oferecem subsídios para que eles possam adaptar suas legislações com

base nos critérios que delas constam. Assim, a inserimos na linha do tempo porque ela

contribuiu para a elaboração dos documentos nacionais posteriores, principalmente no que

tange às políticas de promoção do uso racional de medicamentos.

Dentre as sugestões da OMS que se destacam como diferentes das propostas já

elaboradas anteriormente pelo governo brasileiro estão as orientações sobre a legibilidade

10

Nessa resolução, WHA 41.17, a OMS define promoção de medicamentos como sendo todas as atividades

de informação desenvolvidas por fabricantes e distribuidores, cujo efeito seja induzir a prescrição, o

fornecimento, a compra e/ou a utilização desses produtos.

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do texto publicitário, bem como a necessidade de conter o nome do ingrediente ativo, o

nome comercial, os efeitos secundários, as reações adversas, as precauções,

contraindicações, advertências e interações medicamentosas.

Quanto às legislações nacionais elaboradas por órgãos da saúde, a primeira a ser

localizada foi um decreto da Junta de Higiene Pública, aprovado em 1851. O documento

regulamenta as ações desse órgão federal de saúde pública, que fora criado no ano anterior.

Dentre as atribuições que cabiam à Junta destacam-se a vigilância dos portos e o controle

de epidemias. No capítulo destinado ao controle de remédios e medicamentos, a

propaganda aparece em um curto artigo que estabelece a proibição do anúncio desses

produtos em jornais ou cartazes, quando a sua composição fosse desconhecida.

A legislação seguinte é um decreto que regulamenta o exercício da profissão

farmacêutica no Brasil, publicado em 1931. Naquele período a Junta de Higiene Pública já

havia sido extinta e o órgão de referência federal do setor era o Departamento Nacional de

Saúde Pública (DNSP), criado em 1919. No que diz respeito ao controle da propaganda de

medicamentos, o DNSP elaborou duas legislações referentes às normas gerais sobre a

defesa e proteção da saúde: o decreto de 1931 e uma lei, de 1954.

Ambas as legislações proibiam anúncios de anticoncepcionais, de remédios e

medicamentos cuja composição fosse desconhecida e/ou contivessem indicações

terapêuticas. O argumento dessas proibições era que as substâncias precisavam ser

reconhecidas cientificamente para que fosse assegurada a qualidade do produto,

justificando-se como uma estratégia de defesa da saúde. Todavia, não há argumentos em

relação à proibição de anúncios de anticoncepcionais. No que diz respeito a esse tipo de

medicamento, Rhoden (2008) descreve que somente no início dos anos 1960 as pílulas

contraceptivas foram legalizadas e passaram a ser comercializadas, sob influência de

políticas internacionais voltadas para o controle de natalidade. Antes disso, as influências

da formação ocidental baseada nos princípios judaico-cristãos baniam qualquer método

contraceptivo, e os médicos e boticários que auxiliassem nessa prática poderiam ter suas

licenças suspensas e receber multas.

Em 1956 foi criado o Ministério da Saúde, que passou então a elaborar as

legislações específicas sobre saúde no país. A primeira norma elaborada pelo órgão com

impacto sobre o controle da publicidade de medicamento foi um decreto de 1961 (Código

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Nacional de Saúde), que, além das propagandas em qualquer meio de divulgação, passou a

regular os dizeres de rótulos e bulas, reforçando as estratégias anteriores quanto à

necessidade de reconhecimento científico para que o produto farmacêutico pudesse ser

divulgado.

Em 23 de setembro de 1976, o ministério formulou a primeira lei sobre controle

sanitário específico de medicamentos voltados ao consumo humano, a Lei nº 6.360. Nesse

documento os aspectos associados à propaganda foram mais detalhados. Assim, as

propagandas de medicamentos sujeitos à prescrição médica, antes divulgada para o público

em geral, passaram a ser restritas às publicações médicas. Além disso, foi vetado o uso de

nomes geográficos, símbolos, desenhos ou indicações que possibilitassem interpretação

falsa, erro ou confusão quanto à origem, procedência, natureza, composição ou qualidade

do medicamento.

No ano seguinte foram feitas alterações nessa lei, por meio de um decreto que

estabelecia que nas propagandas de medicamentos fossem declaradas obrigatoriamente as

indicações, contraindicações e advertências sobre o uso desses produtos. Em 1979 outro

decreto alterou o documento anterior, reforçando a importância do respaldo científico para

a divulgação de produtos farmacêuticos para consumo humano.

Após mais de dez anos, em 1993 o Ministério da Saúde fez novas alterações ao

arcabouço legal, promulgando um decreto que intensificou o controle sobre as questões

gráficas da propaganda, tais como tamanho de letra e tipo de impressão. Essas alterações

foram justificadas como medidas que visavam inibir a indução a erro ou confusão. Vale

lembrar que nesse período já existia um órgão fiscalizador das questões publicitárias no

país, o CONAR.

Apesar dessas legislações traçarem modos de regulamentação da publicidade de

medicamentos, somente em 1996 o Ministério da Saúde lançou uma lei específica sobre a

sua propaganda e a dos demais produtos sujeitos à vigilância sanitária, nos termos da

Constituição Federal. Além de reforçar a necessidade de comprovações científicas e manter

as indicações anteriores, a nova legislação obrigava a submissão ao ministério de todas as

propagandas de medicamentos que contivessem advertência, indicando ainda que ao

persistirem os sintomas, o médico deveria ser consultado. Essa nova estratégia foi

justificada como medida para que não houvesse uso desnecessário e/ou abusivo desses

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produtos. Todavia, considerando as muitas divergências no que dizia respeito à autorização

prévia do Ministério da Saúde, no mesmo ano um novo decreto dispensou tal exigência.

Posteriormente, em 1998, duas portarias instituíram a necessidade das propagandas

se enquadrarem nos padrões éticos aceitos internacionalmente. E, assim, consolidou-se o

sistema de informações para o uso racional de medicamentos, seguindo os critérios

estabelecidos pela OMS.

Até então, no país, cabia ao Ministério da Saúde legislar a respeito das questões do

sistema de vigilância sanitária nacional, entre as quais a produção, a comercialização e a

divulgação de medicamentos. Porém, em 1999 o controle, a fiscalização e

acompanhamento da propaganda e a publicidade de medicamentos no país passou para a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária, criada naquele ano. A partir dessa data, as

legislações sobre o controle publicitário de medicamentos no Brasil passaram a ser

elaboradas pela Anvisa, sinalizadas em vermelho no Quadro 1.

A primeira legislação da agência sobre esse tipo de propaganda foi a Resolução

RDC nº 102, de 30 de novembro 2000. Ela regulamentou as propagandas, mensagens

publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto fosse a divulgação de

medicamentos, em quaisquer formas e meios de veiculação. Determinou, ainda, que os

anúncios fossem previamente registrados na Anvisa. A propaganda passou a ser vista,

então, como uma estratégia de influência sobre o público através de ações que objetivavam

promover determinado medicamento com fins comerciais. Assim, o órgão passou a regular

e proteger o público de ações publicitárias abusivas (BRASIL, 2000).

As resoluções e medidas protetivas seguintes permitiram a divulgação de preços nas

peças publicitárias, por considerarem que essa informação não induzia à prática da

automedicação (RDC nº 133, 2001), porém reforçando a necessidade de advertências

quanto aos malefícios do uso do medicamento (RDC nº 199, 2004) e autorizando a

propaganda de produtos genéricos em campanhas patrocinadas pelo Ministério da Saúde

(MP nº 2.190-34, 2001).

Em 2004 a Anvisa aprovou a Portaria nº 123, por meio da qual a Gerência de

Monitoração e Fiscalização de Propaganda, Publicidade, Promoção e Informação

de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GPROP) foi criada. Seguindo a proposta de

uso racional de medicamentos implantada pela OMS, a criação de uma gerência específica

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para fiscalizar a propaganda, mesmo havendo um órgão publicitário de

autorregulamentação no país (CONAR), mostra a importância da propaganda no processo

de autoadministração de medicamentos.

Em 2008 foi aprovada a RDC nº 96, específica para o controle da publicidade de

medicamentos, a partir dos estudos elaborados pela GPROP e pelos seus trabalhos de

fiscalização. Essa resolução apresenta uma gama de normatizações gráficas muito

específicas, seja na propaganda impressa (como regular o tamanho da letra ou o uso de

cores), seja na propaganda de rádio, no controle de dizeres e tempo de divulgação. Na RDC

96 há uma tabela (Anexo 3) que especifica a redação de cada princípio ativo. No caso do

ácido acetilsalicílico: “Não use esse medicamento em caso de gravidez, gastrite ou úlcera

do estômago e suspeita de dengue ou catapora”.

As RDC nº 83/2002, e nº 43/2009 foram inseridas na linha do tempo por legislarem

sobre a propaganda de medicamentos que tratam do princípio ativo estudado nesta

pesquisa: o ácido acetilsalicílico. A RDC 83 suspende temporariamente a propaganda de

medicamentos à base de acetilsalicílico que utilizem expressões em referência aos sintomas

de outras patologias semelhantes aos da dengue; já a RDC 43 mantém essa suspensão, mas

a justifica em razão do elevado número de casos de influenza A (H1N1) no Brasil.

4.2. OS DIFERENTES PERÍODOS NA LINHA DE REGULAMENTAÇÃO

DA PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS E SEUS PONTOS NODAIS

1

8

5

1

1

9

3

1

1

9

5

4

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1

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7

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2

0

0

4

2

0

0

8

2

0

0

9

Com as diferentes estratégias identificadas e descritas pudemos observar que a

trajetória da legislação sobre a propaganda de medicamentos é constituída por fases

estabelecidas a partir de rupturas que se dão por meio de pontos nodais. Esses pontos,

determinantes da transição de uma fase a outra, foram definidos a partir das alterações mais

Quadro 2 - Fases e pontos nodais.

1ª 2ª 3ª 4ª

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significativas nas legislações anteriores, ao longo do processo de regulamentação da

propaganda de produtos farmacêuticos.

Considerando que ao todo a linha do tempo contém 25 regulamentações, a fase 1

(Quadro 2) contempla a promulgação das seis primeiras normas legais. Trata-se de um

período em que os órgãos responsáveis pelas questões sanitárias ainda não haviam

elaborado propostas específicas para o controle de medicamentos, muito menos da sua

publicidade.

Esse período, que se estende de 1851 a 1976, pode ser descrito como um momento

de reformulação da gestão em saúde. Como dito anteriormente, o primeiro órgão regulador

na linha do tempo é a Junta de Higiene Pública, cuja principal atribuição era o controle de

portos e epidemias. O segundo é o Departamento Nacional de Saúde Pública, criado em

1919, que se firmou como a primeira referência estatal em saúde, dando maior amplitude

aos serviços sanitários federais. Até o primeiro semestre de 1953, o DNSP estava vinculado

ao Ministério da Educação e Saúde, que, em julho de 1953, se desdobrou em dois: o da

Saúde e o da Educação e Cultura, por meio da Lei 1.920 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [20--

?]). A partir desse momento, o DNSP foi extinto e suas ações foram distribuídas para outros

departamentos do Ministério da Saúde, que passou a ser responsável por legislar sobre as

ações sanitárias governamentais.

No Quadro 2 é possível observar, ainda, que a partir de 1961 as estratégias de

regulamentação passaram a ser estabelecidas pelo ministério, mas somente em 1976 foi

aprovada uma lei para o controle específico de medicamentos, drogas, insumos

farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos. Assim, por se tratar da

primeira lei de controle específico desses produtos, ela se apresenta como ponto nodal de

transição de fases na linha do tempo.

Tratou-se da Lei nº 6.360, de 6 de setembro de 1976, que dispõe sobre o controle

dessas substâncias desde sua fabricação até divulgação e venda. No que diz respeito ao seu

controle publicitário, o art. 58 da norma legal afirma que só poderá haver propaganda, sob

qualquer forma de divulgação e meio de comunicação, após autorização prévia do

Ministério da Saúde. O mesmo artigo afirma que, quando se tratar de medicamento ou

qualquer outro produto com a exigência de venda sujeita à prescrição médica ou

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odontológica, a propaganda ficará restrita a publicações que se destinem a médicos,

cirurgiões-dentistas e farmacêuticos.

Já a publicidade dos medicamentos de venda livre foi considerada objeto de normas

específicas, dispostas em regulamento. Segundo tais normas, não poderiam constar no

rótulo ou na propaganda nomes geográficos, símbolos, figuras, desenhos ou quaisquer

indicações que possibilitassem interpretação falsa, erro ou confusão quanto à origem,

procedência, natureza, composição ou qualidade que pudessem atribuir ao produto

finalidades ou características diferentes daquelas que realmente tivesse.

A segunda fase é caracterizada por significativas transformações na área de

publicidade brasileira como um todo e a da saúde, em particular, em razão da criação do

Sistema Único de Saúde pela Constituição Federal, em 1988. Houve algumas alterações na

regulamentação já existente (aprovadas em 1977, 1979 e 1993), mas que apenas

introduziram mudanças na lei de 1976.

O ponto nodal de transição dessa fase foi a Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996, que

dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas,

medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos constitucionais do § 4º do art.

220. A nosso ver, essa norma constitui um ponto nodal por se tratar da primeira legislação

de abrangência nacional a regulamentar o controle da publicidade de medicamentos,

fazendo alterações no arcabouço fundamental do país, qual seja, a Constituição Federal.

Dentre as principais alterações e acréscimos previstos nessa lei, os medicamentos de

venda livre passaram a só poder ser anunciados nos meios de comunicação social com as

advertências quanto ao seu abuso. Além disso, manteve a necessidade de comprovação

científica das indicações medicamentosas, proibindo, contudo, o uso de depoimentos de

profissionais que não fossem legalmente qualificados para tal. A característica principal de

alteração dessa legislação é que toda a propaganda de medicamentos passou a conter

obrigatoriamente advertência de que a persistirem os sintomas, o médico deveria ser

consultado.

A fase seguinte é caracterizada por mudanças ainda mais significativas no que tange

ao controle de produtos farmacêuticos para consumo humano e, consequentemente, sua

divulgação. Ainda em 1996 foi publicado o Decreto nº 2.018, de 15 de julho, que alterou a

Lei nº 9.294, dispensando a autorização prévia do MS para propaganda de medicamentos.

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Dessa forma, nesse período, o aumento do controle sanitário da produção e

comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária passou a exigir

maior regulamentação de tais atividades, fazendo com que o Ministério da Saúde criasse,

em 1999, a Anvisa, órgão regulador com independência administrativa e autonomia

financeira.

Desse modo, ainda em 2000, graças a essa autonomia e ao seu poder de legislar, a

agência lançou a primeira resolução sobre controle de propaganda de medicamentos, a

RDC nº 102. Essa resolução aprovou o regulamento sobre propagandas, mensagens

publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto fosse a divulgação, promoção ou

comercialização de medicamentos nacionais ou importados, em quaisquer formas e meios

de veiculação, incluindo aquelas transmitidas no decorrer da programação normal das

emissoras de rádio e televisão.

A partir desse ponto, a quarta fase pode ser descrita como de intensificação das

ações da Anvisa no controle da divulgação de medicamentos, desde as normas para a

fixação de preços como estratégia publicitária até as especificações relacionadas à

diagramação do texto e de imagens impressas, ao controle de cores e fontes nas

propagandas televisivas e às formas de locução no rádio. Esse controle intensificou-se de

tal forma que, em 2004, conforme informado na seção anterior, o órgão aprovou a Portaria

nº 123, criando a Gerência de Monitoração e Fiscalização de Propaganda, Publicidade,

Promoção e Informação de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária.

A criação da GPROP não visou simplesmente a fiscalização da propaganda de

produtos sujeitos à vigilância sanitária, incluídos os medicamentos. A proposta da gerência

é também desenvolver projetos nas áreas de educação e comunicação em saúde para os

mais diversos segmentos da sociedade. Para tanto foram implantados núcleos de pesquisas

que não apenas fiscalizam/acompanham as propagandas, como são responsáveis pela

elaboração de estratégias educacionais associadas ao uso racional de produtos

farmacêuticos.

Sob esse escopo, a GPROP foi estruturada em duas unidades: a de monitoramento e

fiscalização de propaganda, publicidade, promoção e informação de produtos; e a de

projetos estratégicos. Os serviços de vigilância dos níveis estaduais e municipais integram

tanto a área de monitoramento quanto a de elaboração de projetos. Universidades, a partir

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de grupos de pesquisas, também contribuem com as duas áreas, propondo novas estratégias

de regulamentação.

Com relação ao controle da propaganda, as peças publicitárias analisadas pela

gerência são oriundas da fiscalização realizada pela unidade de monitoramento ou de

denúncias a ela encaminhadas. Essa análise é realizada por uma junta de profissionais

(farmacêuticos, odontólogos, médicos, jornalistas e publicitários) que elabora pareceres

técnicos, identificando as irregularidades associadas ao risco à saúde coletiva que a peça

publicitária pode representar. Segundo as definições da GPROP, após a análise e o parecer,

a empresa responsável pelo produto recebe uma notificação de infração e tem até 15 dias

para apresentar sua defesa, que é analisada e julgada pela Procuradoria da Anvisa. Em caso

de condenação, as penalidades vão de advertência, proibição ou suspensão da propaganda,

suspensão de venda do produto, imposição de mensagem retificadora, multa e até o

cancelamento de seu registro.

A criação da GPROP apresenta-se como um dos marcos mais significativos na linha

do tempo do controle de propaganda de medicamentos, uma vez que sua criação implicou o

desenvolvimento do processo em rede. Ou seja, a partir dessa data outros atores passaram a

integrar o sistema de monitoramento dessas propagandas, atuando de forma articulada

como reguladores (Ministério da Saúde, universidades e grupos publicitários), em defesa da

saúde coletiva.

Desse modo, ao longo dessa trajetória podemos observar que essas quatro fases não

constituem rupturas no processo de controle, no qual cada etapa é dissociada da outra. Pela

descrição efetuada é possível notar que os pontos apresentam-se como nós à medida que

possibilitam amarrar um período ao outro, em que as transformações de cada fase

culminam nessas legislações nodais.

Assim, destacamos que o processo de controle da propaganda de medicamentos

deu-se como um movimento gradativo. Primeiramente com o controle do produto

farmacêutico em si, seguido do controle da publicidade daqueles produtos submetidos à

vigilância sanitária, passando para o controle específico da propaganda de medicamentos de

modo geral até chegar à atual configuração do processo de regulamentação publicitária: um

gerenciamento que atua em rede e por meio de ações ampliadas que, mesmo vinculadas a

um órgão da saúde, conta com a contribuição de diferentes atores.

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Essa trajetória apresentou mudanças significativas no que diz respeito às legislações

associadas ao controle da propaganda de medicamentos. Desse modo podemos ver o

impacto dessas estratégias nas próprias peças publicitárias, conforme descrevemos no

capítulo a seguir.

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CAPÍTULO 5. IMPACTO DA REGULAMENTAÇÃO NA

PROPAGANDA IMPRESSA DE ASPIRINA

Ainda buscando entender como a propaganda tornou-se objeto de controle,

notamos que cada uma das regulamentações acima descritas possibilitou não somente

estratégias de controle publicitário de medicamentos, mas principalmente transformações

no processo de divulgação desses produtos. Nesse capítulo, discutimos casos de alteração

na propaganda de aspirina a partir de legislações pontuais de cada fase, e delineamos a

noção de controle publicitário como estratégia de saúde no combate a epidemias.

A proposta aqui não era fazer uma análise da propaganda, mas sim descrever os

efeitos da legislação na propaganda. Para essa empreitada, escolhemos lidar com a mídia

impressa, focada principalmente em jornais e revistas, por possibilitar acompanhar a

dimensão cronológica da pesquisa, considerando que a divulgação em meio impresso trata-

se da primeira estratégia publicitária de medicamentos elaborada que ainda acompanha os

dias atuais (JESUS, 2009; BUENO, 2008).

Nessa etapa da pesquisa, as peças publicitárias de aspirina foram localizadas

basicamente em dois volumes organizados pela Bayer sobre as propagandas dos produtos

desse laboratório (PINTO, 1986; CYTRYNOWICZ, 2006) e também no site da aspirina no

Brasil.

Assim, a partir das fases identificadas na primeira parte (Parte I), para cada

legislação nodal, ou seja, de transição para fase seguinte, foram escolhidas as primeiras

propagandas de aspirina localizadas após a implantação da regulamentação, conforme

podemos ver pelo esquema a seguir (Quadro 3).

Quadro 3: esquema de escolha das propagandas

1976 1996 2000 2008

LEGENDA

= propaganda de aspirina

= legislação nodal

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Após essa identificação, cada imagem foi descrita destacando os impactos da

regulamentação.

Mais especificamente, os pontos nodais identificados nesse processo de

regulamentação publicitária apresentaram efeitos significativos na propaganda. Como

forma de ilustrar a atuação das legislações nodais na propaganda impressa de aspirina,

selecionamos algumas peças publicitárias. Assim, de acordo com o que já foi destacado no

capítulo sobre procedimentos, esse tópico não constitui uma análise da propaganda de

medicamentos em si, mas uma descrição dos efeitos da legislação sobre ela.

Cumpre lembrar que neste trabalho apreendemos a propaganda não apenas como

um meio de criar e fazer circular conteúdos simbólicos, mas como ator de papel

fundamental no processo de construção e circulação de repertórios e sentidos, tendo em

vista sua influência no cotidiano das pessoas. Dessa forma, ela é caracterizada como um

facilitador de visibilidade aos acontecimentos, informações e descobertas, ampliando a

comunicação para além da interação face a face (MEDRADO-DANTAS, 2004).

Assim, como já destacado, foram

identificados quatro pontos nodais na linha do

tempo de regulamentação da propaganda de

medicamentos (leis 6.360/76 e 9.294/96, e RDC

102/2000 e 96/2008). E para cada ponto

selecionamos a primeira propaganda a circular após

a legislação nodal.

Para visualização dos impactos da legislação

apresentaremos a propaganda impressa de aspirina

veiculada antes do primeiro ponto nodal, de 1976

(Figura 11), publicada em 1974, na revista

Cláudia11

. O que chama atenção nessa primeira

propaganda é o texto curto, significativamente

menor do que os publicados pela Bayer nos anos

anteriores – conforme apresentado no capítulo 4, as

11

Segundo a Editora Abril, é uma publicação endereçada a mulheres de classe média alta, entre 25 e 50 anos.

Figura 11 - “Bayer anuncia”, revista

Cláudia, de 1974.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006

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primeiras propagandas da multinacional farmacêutica utilizavam textos extensos;

posteriormente as fotos e ilustrações passaram a ter destaque na publicidade em geral.

Embora curto, o texto tem como principal finalidade apresentar as indicações da

aspirina (alívio de dores de cabeça, febre ou resfriado) e sua posologia (“tome um ou dois

comprimidos e pronto”). Observamos que nesse anúncio é dado mais destaque à companhia

do que ao medicamento em si, uma vez que a propaganda evidencia seu símbolo (a clássica

cruz com o seu nome) e slogan (“Se é Bayer é bom”) para legitimar a qualidade do produto,

reforçada ainda pela frase: “Aspirina é marca registrada da Bayer”.

A associação da “aspirina” com a marca “Bayer” era, e ainda é, uma das principais

características das propagandas da multinacional, pois o slogan criado por Bastos Tigre

legitima a suposta boa qualidade de seus produtos. Todavia, o que queremos destacar com

esse anúncio inicial é que, até o ano de sua veiculação, a publicidade de medicamentos não

era alvo específico das legislações. A principal característica de controle das propagandas

era o registro dos produtos junto ao órgão federal de saúde, no caso, o Ministério da Saúde.

Assim, a propaganda se adequava à única norma então vigente.

O primeiro anúncio impresso de aspirina

localizado posteriormente à Lei 6.360/76, também

o primeiro ponto nodal identificado, foi publicado

na revista Veja em 1993 (Figura 12). Nesse

anúncio o destaque é a imagem – a foto de um

casal sorrindo, em que ele está olhando para ela,

que segura um batom e um espelho de mão. Na

parte inferior da imagem, em letras grandes, está a

frase “seguro enxaqueca”, seguida de texto em

letras menores: “A sua enxaqueca agora vai ter

uma grande dor de cabeça. Chegou Aspirina Forte.

Muito mais eficiente e muito mais rápida. Aspirina

Forte deixa você sempre bem e sempre animada.

Isto sim é que é seguro”.

Poderíamos fazer a análise dessa peça partindo da associação que ela faz com um

discurso muito familiarizado socialmente, qual seja, a relação entre dores de cabeça na

Figura 12 - “Seguro enxaqueca” – revista

Veja, 1993.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006.

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mulher e o seu desânimo para se relacionar com um possível parceiro. Porém, não cabe

neste momento analisar a peça publicitária em si, mas identificar a atuação da primeira

legislação na propaganda.

Esse primeiro ponto nodal não apresenta mudanças significativas na elaboração de

propagandas, mas sim mais as restrições, tais como não conter nomes geográficos,

símbolos, figuras, desenhos ou quaisquer indicações que possibilitem interpretação falsa,

erro ou confusão quanto à origem, procedência, natureza, composição ou qualidade que

atribuam ao produto finalidades ou características diferentes daquelas que realmente possui.

Dessa forma, o anúncio segue as especificações legais ao não acrescentar os elementos não

autorizados descritos em lei.

O segundo ponto nodal é caracterizado pela

intensificação do controle de medicamentos.

Destaca-se aqui a regulamentação específica para o

controle dos produtos sujeitos à vigilância sanitária,

incluindo a publicidade de medicamentos, a Lei

9.294/96. A primeira propaganda identificada após

essa lei foi a da aspirina C, publicada em 1997 na

revista Cláudia. A imagem (Figura 13) é de uma

ovelha tosquiada, acima da qual há a seguinte frase:

“Contra as mudanças bruscas de temperatura, tenha

sempre Aspirina + C na sua farmácia”12

. Abaixo, a

imagem do medicamento, seguida da frase: “Antes

da gripe bater, feche a porta”; e ao lado dela, os

slogans da Bayer e do programa Empresa Amiga da

Criança da Fundabrinq.

12

A frase utilizada na campanha, sugerindo ao consumidor da propaganda (consequentemente, do

medicamento) que tenha sempre o produto em sua farmácia, possibilita duas leituras para o termo “farmácia”.

A primeira seria o estabelecimento comercial onde são preparados e/ou vendidos os medicamentos, de forma

que tal significado endereçaria a propaganda aos farmacêuticos. A segunda seria a coleção de medicamentos

(FERREIRA, 2001), tais como as caixas que temos em nossas residências. A publicidade em questão foi

veiculada em uma revista generalista, de maneira que o termo “farmácia” está endereçado aos consumidores

que possuem uma “farmácia”, seja ela um estabelecimento comercial, seja a “farmácia particular”, caixas de

remédio mantidos em casa.

Figura 13 - “Aspirina C – antes da gripe

bater, feche a porta”.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006.

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Como descrito no capítulo anterior, a legislação nodal em questão trouxe como

principais alterações à publicidade de produtos farmacêuticos, além das já destacadas nas

estratégias anteriores, a necessidade de alertar o consumidor quanto ao uso abusivo do

medicamento e a obrigatoriedade de adverti-lo para consultar um médico, caso os sintomas

persistissem. Assim, questionamos onde tais modificações estariam inseridas na Figura 9?

Ao observar detalhadamente a imagem, podemos constatar que há uma linha branca em sua

lateral direita com os seguintes dizeres: “Siga corretamente as instruções da embalagem.

Não desaparecendo os sintomas, consulte seu médico”. Nessas duas frases a lei passa a

atuar como elemento da peça publicitária, modificando, mesmo que minimamente, o

processo de construção da propaganda impressa. Nesse período, a legislação tem um papel

de orientação da propaganda, à medida que orienta a pessoa a procurar as informações

quanto à forma adequada de consumo e sugere auxílio de um especialista no caso de

persistência dos sintomas.

No terceiro ponto nodal a propaganda passa a receber controle mais incisivo por

parte de Anvisa. Lembremos que em 2000 o órgão

lançou a RDC 102, que, além dos vetos já

estipulados, acrescentava duas alterações ao texto da

propaganda impressa: 1) exigindo que constasse, em

português, de forma clara e precisa, as principais

contraindicações do medicamento, com número de

registro na Anvisa; 2) e inserindo a advertência “ao

persistire m os sintomas, o médico deverá ser

consultado”, em letras de cor preta, padrão de fonte

Univers 65 bold, impressa sobre retângulo branco

com um filete interno emoldurando a advertência,

com tamanho de fonte de acordo com o da

publicação (página inteira da revista corpo 12; ½

página corpo 8 e ¼ de página corpo 4).

Para ilustrar como a propaganda se adequou à nova legislação selecionamos um

anúncio de 2000, veiculado nas revistas Manchete, Amiga, Desfile, Ele & Ela e Pais &

Filhos (Figura 14).

Figura 14 - “Apagão só traz dor de

cabeça”.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006.

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Trata-se de peça publicitária de uma campanha em que foram veiculadas várias

frases sobre situações do cotidiano que, por serem problemáticas, remetem a algo que trará

“dor de cabeça”. A imagem, com fundo branco, traz os seguintes dizeres: “Apagão só traz

dor de cabeça. Se não é a conta de luz, é você trombando na parede”. A frase é seguida pela

imagem de um comprimido com a frase: “Contra dores de cabeça do apagão, tome

Aspirina”. No rodapé, da esquerda para a direita, o selo da Fundabrinq Empresa Amiga da

Criança, seguida de uma caixa de texto branca com os dizeres em preto: “Ao persistirem os

sintomas, o médico deverá ser consultado”; “Contraindicações: hipersensibilidade ao ácido

acetilsalicílico, a outros salicilatos ou qualquer componente da fórmula. Na presença de

diátese hemorrágica, de úlcera gastroduadenal, nos três últimos meses de gravidez. Registro

no MS: 1.0429.0002”; e a imagem frente e verso de um blister de aspirina com o nome do

princípio ativo (ácido acetilsalicílico) acima.

Nessa descrição da Figura10 podemos observar como a RDC 102 atua no corpo da

propaganda. Diferentemente da lei de 1996, ela se coloca não como orientadora, mas de

forma determinista, impondo o tamanho, a forma e a cor dos informes expostos no anúncio.

Antes da RDC 102, mesmo diante da obrigatoriedade ter no corpo da propaganda

orientações específicas, ficava a cargo da indústria farmacêutica e dos publicitários a

disposição dessas informações, lançando mão de estratégias tais como tamanhos mínimos

de fonte. Já com a resolução, estratégias publicitárias desse tipo passaram a ser vetadas,

uma vez que a Anvisa impôs padrões específicos para elas.

Além do mais, ao contrário da frase anterior, que orientava o consumidor a buscar

informações (“Siga corretamente as instruções da embalagem. Não desaparecendo os

sintomas, consulte seu médico”), as advertências da resolução passaram a impor uma

orientação (“Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”). Agora,

também, ele não é levado a buscar orientações na embalagem, pois as informações sobre a

nocividade do uso do medicamento já estão descritas no corpo da propaganda, incluindo

suas contraindicações.

Para visualizar melhor essas diferentes atuações da Lei 9.294/1996 e da RDC

102/2000, trazemos uma imagem, que apresenta duas peças da mesma série publicitária

mencionada anteriormente. A peça à esquerda enquadra-se na lei, enquanto a da direita foi

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produzida conforme as determinações da RDC. Em comparação com a primeira, é possível

notar que a segunda se impõe visualmente (Figura 15).

Em 2008, um quarto ponto nodal na linha de estratégias do controle publicitário

altera mais uma vez a publicidade de produtos farmacêuticos. A RDC 96, promulgada

naquele ano, traz como uma de suas principais alterações uma tabela com a advertência

relacionada à substância ativa, conforme preconizado em seu art. 23, que trata da

propaganda de medicamentos isentos de prescrição médica. Segundo essa resolução, caso

essa tabela não contemple alguma substância ativa, a propaganda deve veicular a seguinte

advertência, em letras maiúsculas: “(nome comercial do medicamento ou substância ativa

dos genéricos) É UM MEDICAMENTO. SEU USO PODE TRAZER RISCOS. PROCURE

O MÉDICO E O FARMACÊUTICO. LEIA A BULA”. No caso da aspirina, seu princípio

ativo (ácido acetilsalicílico) está contemplado na tabela associado à seguinte advertência:

“Não use este medicamento em caso de gravidez, gastrite ou úlcera do estômago e suspeita

de dengue ou catapora”.

Para ilustrar esse ponto promovido pela RDC 96, mostramos novamente uma das

peças da campanha “Aspirina: um mundo com menos dor”, apresentada no capítulo 4

Figura 15 - Transição para a RDC 102.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006

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(Figura 10), de forma a seguir os procedimentos adotados na pesquisa. Pensamos em

princípio em apresentar a segunda peça da campanha, que se diferencia da Figura 10 por

trazer a imagem de uma mulher ao invés da de um homem no centro de uma mandala,

cercada por várias situações do cotidiano que poderiam causar dor de cabeça. Mas para

mostrar a riqueza do material publicitário da aspirina, escolhemos a segunda campanha que

circulou após a RDC 96, em 2010.

A Figura 16 é uma das peças dessa ação

publicitária, que tinha o slogan “Seu dia fica melhor

sem as dores da gripe”. Nela temos a imagem do

perfil de uma mulher, cujo interior está composto de

várias coisas negativas, como objetos quebrados. No

meio, uma aspirina passa pelo seu esôfago, seguida

de vários objetos que representam coisas positivas,

como se junto com o comprimido fosse engolido

também tudo o que é bom. Acima desse perfil, o

nome do medicamento e o seu princípio ativo com

os dizeres: “Seu dia fica melhor sem as dores da

gripe. Com a gripe, você não aproveita tudo como

deveria. Aspirina age na febre, dor e inflamação de

garganta causadas por gripe e resfriados”.

Abaixo dessa imagem, uma tarja preta com o registro Anvisa: “Reg. no MS:

1.0429.0002. Contraindicações: hipersensibilidade ao ácido acetilsalicílico, a outros

salicilatos ou qualquer componente da fórmula. Na presença de diátese hemorrágica, de

úlcera gastroduadenal, no caso de gravidez. SAC: 0800 7231010”. Segue-se, então, a

advertência já preconizada na RDC 102: “Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser

consultado”; e a mensagem: “Não use este medicamento em caso de suspeita de dengue”.

Assim como a RDC 102, também a RDC 96 se impõe no corpo da propaganda, com

destaque para controles específicos de cada princípio ativo. Entretanto, mesmo assim,

podemos visualizar na Figura 16 que a mensagem obrigatória do princípio ativo da aspirina

não foi disposta na propaganda conforme determinação da resolução. No lugar da

mensagem “Não use este medicamento em caso de gravidez, gastrite ou úlcera do estômago

Figura 16 - Dia melhor sem gripe.

Fonte: www.aspirina.com.br

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e suspeita de dengue ou catapora”, está exposta somente a frase “Não use este medicamento

em caso de suspeita de dengue”, omitindo-se no anúncio, portando, as contraindicações nos

demais casos.

Destacamos que, além das alterações visíveis no corpo da propaganda impressa, as

regulamentações introduzem também “estratégias invisíveis”, que se configuram os vetos,

os conteúdos proibidos de veiculação ou associados à publicidade de medicamentos.

Acrescentamos ainda que tanto a RDC 102 quanto a RDC 96 trouxeram controles ainda

mais rigorosos para a veiculação de propaganda de produtos farmacêuticos em rádio e

televisão.

Assim, tanto essas obrigatoriedades quanto os vetos trouxeram controvérsias entre

os órgãos que representam a publicidade brasileira e a Anvisa, responsável pelo controle do

medicamento e o que está associado a ele. No que diz respeito à construção das peças

publicitárias, ela será tratada no capítulo 6.

A regulamentação publicitária como estratégia de controle do medicamento passou

a atuar de forma tão incisiva ao longo do tempo que, em determinados momentos e devido

a eventos pontuais no país, as propagandas chegaram a ser suspensas pela Anvisa. Essas

medidas justificavam-se como alternativas para amenizar efeitos nocivos do uso desses

produtos sem prescrição médica em situações de epidemia nacional, como descreveremos

no tópico a seguir.

5.1. CONTROLE DA PROPAGANDA COMO CONTROLE DE EPIDEMIAS

Ao traçar a linha do tempo da regulamentação da publicidade de medicamentos,

especificamente da aspirina, foi identificado que as estratégias não visam somente controlar

o uso desses produtos, mas também conter os impactos de epidemias nacionais.

Dentre as legislações nesse sentido destacam-se duas resoluções: a RDC nº 83, de

18 de março de 2002, que determina como medida de interesse sanitário a proibição da

veiculação de propaganda de produtos farmacêuticos que contenham o princípio ativo ácido

acetilsalicílico e utilizem expressões que façam referência aos sintomas de outras

patologias que se assemelham aos da dengue; e a RDC nº 43, de 13 de agosto de 2009, que

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dispõe sobre a suspensão temporária das propagandas de medicamentos isentos de

prescrição médica à base de ácido acetilsalicílico, bem como os analgésicos, antitérmicos e

os destinados ao alívio dos sintomas da gripe.

A primeira regulamentação apresenta-se como uma resposta ao aumento de casos de

dengue no Brasil, que de 2000 para 2001 registrou um aumento de mais de 200% no

número de casos, em todo território nacional, e, consequentemente, de dengue hemorrágica.

A Anvisa justificou essa restrição pelo fato de o princípio ativo potencialmente causar

hemorragias em pacientes com a doença e, no caso da patologia na forma hemorrágica,

poder levar à morte. O órgão, ao elaborar a RDC 83 (2002), defendeu que as campanhas

publicitárias dos medicamentos à base do ácido não estavam alertando a população sobre os

riscos à saúde provocados pelo uso da substância em pacientes com dengue. Cumpre

destacar que essa resolução não é um completo veto à propaganda de produtos cujo o

princípio ativo seja o ácido acetilsalicílico, pois em parágrafo único afirma que “[...]

excluem-se da proibição propagandas/publicidades/promoções que incluam mensagens

ressaltando que o medicamento é contraindicado em caso de suspeita de dengue”. Como

vimos no tópico anterior, a necessidade de conter no corpo da propaganda as advertências

dessa restrição só tornaram-se obrigatórias com a RDC 96/2008. Entretanto, para que as

propagandas de aspirina não fossem vetadas pela

RDC 83/2002, as peças produzidas após a instituição

dessa resolução já passaram a conter a advertência,

respaldada no parágrafo único citado acima, como

podemos visualizar no exemplo da Figura 17.

A peça veiculada na revista Por Você, em

2002, traz a imagem de uma homem sorrindo de

braços abertos, flutuando envolto por uma névoa

branca que sai de um comprimido de aspirina. Acima

está escrito: “Viva cada momento. Sem dor”. Abaixo

há uma caixa de aspirina e cartelas com a mensagem

“Especialista no combate à dor”, seguida dos

conteúdos previstos pela RDC 102/2000, tais como

número do registro, princípio ativo, contraindicações

Figura 17 - Primeira advertência no

caso de suspeita de dengue.

Fonte: CYTRYNOWICZ, 2006

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e a frase “ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. Por fim, a

advertência que até então não era obrigatória: “Este medicamento é contraindicado em caso

de suspeita de dengue”.

Diferentemente das imposições descritas no tópico anterior, em que os dizeres eram

uma obrigatoriedade, na RDC 83 essa advertência autoriza as propagandas caso ofereçam

informações sobre dengue aos pacientes. Ainda assim, de forma indireta, configura-se

como algo obrigatório, pois se as campanhas de medicamentos à base de ácido

acetilsalicílico não tivessem essa advertência eram vetadas.

A segunda resolução de suspensão de propaganda associada ao controle de epidemia

diz respeito ao H1N1, cujo surto ocorreu em 2009. Declarada pela OMS emergência de

saúde pública internacional, em abril daquele ano foi elevada a nível de pandemia.

Considerando esse evento, a RDC nº 43, de agosto de 2009, determinou como medida de

interesse sanitário e em caráter temporário a suspensão, em todo território nacional, das

propagandas veiculadas em todos os meios de comunicação de massa, inclusive na internet,

de produtos à base de ácido acetilsalicílico, bem como de outros medicamentos de venda

isenta de prescrição médica com propriedades analgésicas/antitérmicas e destinados ao

alívio dos sintomas da gripe, tais como os fabricados com paracetamol, dipirona sódica,

ibuprofeno e associações.

No Brasil, segundo informativo epidemiológico daquele ano do Ministério da Saúde

sobre a influenza pandêmica H1N1, a taxa de incidência da doença era de 14,5 casos para

cada 100 mil habitantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Seus sintomas são similares

aos de uma gripe comum: febre, tosse, dor de cabeça intensa, dores musculares e

nas articulações, irritação nos olhos e fluxo nasal. Mas se a pessoa demorar a identificar a

influenza, tratando-se com remédios caseiros ou medicamentos isentos de prescrição

médica, pode ir a óbito.

Assim, a RDC 43 justificou a suspensão das propagandas em razão de circunstância

especial de risco à saúde identificada pela elevação dos casos de influenza A (H1N1) no

Brasil, em razão da vulnerabilidade das pessoas supostamente acometidas pela doença e

daquelas já diagnosticadas, bem como pelo risco inerente do uso desses medicamentos por

elas, uma vez que são capazes de mascarar uma situação de risco à saúde. Posteriormente,

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em outubro de 2009, a Anvisa revogou essa resolução por meio da RDC nº 54, informando

a queda no número de portadores de síndrome respiratória aguda.

Essas duas resoluções apresentam-se como peças fundamentais para a definição de

como a publicidade de produtos farmacêuticos influencia a saúde das pessoas. À medida

que os órgãos reguladores restringem a circulação de propagandas que já estão dentro de

todas as normas previamente estabelecidas, com as informações necessárias de indicações e

contraindicações, esses órgãos evidenciam o risco sanitário associado a esse tipo de mídia.

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CAPÍTULO 6. CONTROVÉRSIA SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA

PROPAGANDA DE MEDICAMENTO

O processo de regulamentação da propaganda de medicamentos foi permeado por

divergências entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o Conselho Nacional de

Autorregulamentação Publicitária, especificamente no que diz respeito à RDC nº 102/2000.

Para analisar essa controvérsia, norteamo-nos pelos conceitos metodológicos da TAR que

rompem com os binarismos que constituem os modos de investigação das ciências.

Nessa ruptura, a proposta da TAR permite aos pesquisadores voltar o olhar para os

conflitos existentes nas pesquisas e não para a suposta harmonia conseguida pela

imparcialidade. Permite aos pesquisadores visualizarem a positividade das controvérsias.

Assim, a TAR defende as controvérsias como um espaço privilegiado de pesquisa, ao

possibilitar o rastreamento de diferentes fluxos, diferentes actantes, que muitas vezes não

seriam considerados em experimentos padronizados, permeados pela conjeturada certeza da

imparcialidade (LATOUR, 2000b).

Pedro (2010) define controvérsia como

(...) um debate (ou uma polêmica) que tem por “objeto” conhecimentos

científicos ou técnicos que ainda não estão totalmente consagrados. Isso

significa que os objetos privilegiados de tais análises são as chamadas

“caixas-cinza”, ou seja, questões de pesquisa que ainda portam em si

controvérsias, interrogações, que ainda não se constituíram em uma

“caixa-preta” (p. 87).

Diferente da caixa-cinza, não completamente estabelecida, o termo caixa-preta é

utilizado para se referir a um artefato técnico já completamente definido, fechado. Trata-se

de dado que não é mais objeto de controvérsia, de interrogação, nem de dúvida (LATOUR,

2000b; PEDRO, 2010). Dessa forma, a TAR defende a positividade de descrever as

controvérsias pois trata-se de uma estratégia de investigação que vai na contramão da

tradição científica por se voltar às situações de incerteza, conflito e risco e não para os

conhecimentos solidificados (PEDRO, 2010).

Para lidar com controvérsias, respaldamo-nos pela proposta de Latour (2000a) de

“seguir os atores” (actantes), ou seja, acompanhar suas ações e práticas. Para esse processo,

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a TAR sugere que alguns movimentos podem ser delineados (LATOUR, 2000b; PEDRO,

2010):

1) Buscar uma porta de entrada, ou seja, a controvérsia que permitira visualizar o

debate e começar a seguir os atores e, de algum modo, participar da dinâmica que seus

movimentos permitem traçar. No caso da controvérsia da regulamentação da propaganda de

medicamentos, buscamos como porta de entrada a RDC nº 102/2000.

2) Após essa etapa, precisamos identificar os porta-vozes. Considerando que há a

participação de múltiplos actantes, humanos e não-humanos, faz-se necessário identificar

aqueles que “acabam por sintetizar a expressão de outros actantes” (PEDRO, 2010, p. 90).

Nessa pesquisa, então, buscamos seguir os porta-vozes nessa controvérsia, identificados

como CONAR e Anvisa.

3) Em seguida, acessamos os dispositivos de inscrição, ou seja, aquilo que

possibilite uma exposição visual tal como os documentos que possibilitam “objetivar” a

controvérsia. Para isso, realizamos uma busca nos sítios eletrônicos da Anvisa e do Conar

no intuíto de localizar, relatórios, resoluções, entrevistas, manifestos e demais dispositivos

que possibilitassem uma exposição visual da controvérsia na regulamentação da

propaganda de medicamentos.

4) Após acessar os dispositivos, buscamos mapear as associações entre os actantes.

Esse movimento permite descrever as relações que se estabelecem entre eles. Pedro (2010)

afirma que esse ponto permite descrever os efeitos do debate, o jogo de interesses,

influências e resistências que envolve os atores.

Dessa forma, ao usar a RDC nº 102/2000 como porta de entrada, retomamos o fato

de que as ações da Anvisa no que diz respeito a esse tipo de regulação estão associadas aos

movimentos sanitaristas da década de 1990 que propiciaram “a reforma do Estado e o

resgate da própria vigilância sanitária” (BUENO, 2008, p.142).

A questão da regulamentação da propaganda apresenta-se de forma expressiva no

âmbito nacional como uma das questões de saúde pública no final de 1999. Após a

implantação da Anvisa, fatos como um cartel entre 21 laboratórios para impedir o

funcionamento da Política Nacional de Medicamentos Genéricos fizeram com que fosse

instaurada uma CPI dos medicamentos. Durante as investigações, umas das constatações

foi que as farmácias estimulavam a venda de produtos em conluio com os laboratórios e

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que em média 30% dos recursos do setor farmacêutico são gastos em publicidade. Assim,

uma das principais recomendações do relatório final da CPI foi a implantação de ações

visando a fiscalização da propaganda de medicamentos (NASCIMENTO, 2007; BUENO,

2008).

Dado esse ponta pé, a Anvisa iniciou um monitoramento baseado inicialmente na

Lei nº 6.360/1976. Entretanto, considerando que essa legislação abrangia a regulamentação

do medicamento como um todo, ela não contemplava ações tão específicas sobre sua

publicidade, conforme descrito no capítulo 5. A partir desse ponto, a agência passou a

elaborar as estratégias específicas para o controle da publicidade de medicamentos.

De acordo com Bueno (2008), as estratégias da Anvisa não estavam somente

associadas aos modelos internacionais de regulamentação publicitária, mas também

consideravam principalmente os interesses da população brasileira. A primeira proposta da

RDC 102/2000 deu-se na Consulta Pública13

nº 5, de 17 de janeiro de 2000, que tinha como

propósito consultar a população a respeito dessa primeira proposta específica de

regulamentação da propaganda de medicamentos.

A CP nº 05/2000 ficou aberta a críticas e sugestões por 60 dias e foram registradas

50 sugestões que contribuíram para formulação da resolução. Após a implantação da RDC

102/2000, o CONAR apresentou algumas manifestações públicas de desagrado à nova

resolução. Uma das principais manifestações consta de uma entrevista de 2002 do

presidente do conselho Gilberto Leifert na qual comenta alguns temas relevantes do âmbito

institucional e regulatório da publicidade tais como propaganda política, propaganda de

bebidas, mas sua fala teve por foco a publicidade de produtos farmacêuticos.

Nessa entrevista, direcionada ao setor de comunicação e também aos consumidores,

o presidente aponta que não basta implantar métodos rigorosos a respeito do controle

publicitário de medicamentos; é preciso também instituir fiscalização e controle nas

farmácias. Traçando um paralelo entre a prática norte-americana e a brasileira, ele afirma

que

13

A Consulta Pública é um instrumento que possibilita que a Anvisa consulte a população para saber sua

opinião sobre a questão, antes de implantar uma nova norma. As pessoas podem conhecer os assuntos que

estão sendo debatidos e expressar sua opinião por meio do site da Anvisa em um fórum virtual de discussão.

Findo o prazo da CP, a Agência se utiliza de outro instrumento, a Audiência Pública, com datas, locais e

horários divulgados no site da agência. Abertas a toda a população, nessas audiências todos podem

manifestar-se, possibilitando a troca de informações e argumentos (NASCIMENTO, 2007).

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(...) Existe uma corrente que defende o direito do paciente à informação

comercial a respeito dos avanços da medicina, inclusive pela mass media.

É uma aspiração legítima dos pacientes e dos anunciantes, e que encontra

adeptos principalmente nos Estados Unidos, onde os investimentos do

setor continuam crescendo.

Há, entretanto, uma diferença fundamental entre a prática norte-americana

e a brasileira. Nos Estados Unidos existe controle rigoroso e eficiente

sobre o ponto-de-venda; a publicidade comunica o lançamento do novo

medicamento, mas o consumidor não conseguirá comprá-lo nas farmácias,

a menos que tenha a receita. No Brasil, não se pode ignorar que por enquanto a fiscalização e controle

sobre as farmácias infelizmente deixa a desejar, a despeito dos esforços da

Anvisa (LEIFERT, 2002, s/p).

Sem considerar as questões de saúde pública, o CONAR acrescentava a seu

argumento que a restrição da Anvisa estaria indo além de sua competência como órgão

regulador, tornando-se inconstitucional, pois para o conselho caberia somente ao Congresso

Nacional legislar sobre propaganda. E como terceiro argumento, afirmava que essa

regulamentação também feria o direito do consumidor e a liberdade de expressão

comercial.

Até então, as manifestações do CONAR não eram tão intensas, de maneira que não

passaram de posicionamentos em entrevistas a respeito da nova resolução que determinava

alterações na propaganda.

Bueno (2008) destaca que, com a nova resolução, as peças publicitárias deixaram de

ser puramente comerciais e passaram a atender questões de saúde pública. Entretanto, em

2005, uma análise comparativa sobre legislação de medicamentos em 12 países

selecionados, incluindo o Brasil, e nas organizações supranacionais (União Europeia e

OMS), constatou que, do ponto de vista da informação sobre o medicamento, as

propagandas ainda precisavam melhorar, pois não havia eficiência nas informações

exibidas (BRASIL, 2005). A inserção de item obrigatórios como “Ao persistirem os

sintomas o médico deverá ser consultado”, cumpriam com a legislação, mas não

esclareciam de fato a população (NASCIMENTO, 2005, 2007).

A partir desse estudo comparado, surgiu a proposta de revisão da RDC 102/2000,

para aprimorar o que havia sido observado ao longo dos anos pela gerência de

monitoramento e fiscalização. Essa nova proposta foi apresentada na consulta pública nº

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84/2005 e buscava detalhar o regulamento anterior, com linguagem, tamanho de letra e

quantidade de informações julgadas apropriadas pela agência de saúde.

Bueno (2008) destaca que o diferencial dessa consulta pública foi a enorme

participação da sociedade em relação à CP nº 05/2000. Nessa nova CP, houve contribuições

expressivas das indústrias farmacêuticas, do setor acadêmico e, principalmente, dos

veículos de comunicação e algumas de suas representações. Além do CONAR, estavam

presentes as Associações Brasileiras de Agências de Publicidade (ABAP), Agência

Brasileira de Anunciantes (ABA), Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER),

Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (ABERT), Associação Nacional

de Jornais (ANJ), Federação Nacional de Empresas Exibidoras Cinematográficas

(FENEEC), Federação Nacional das Agências de Propaganda (FENAPRO) e Associação

Brasileira de TV por assinatura (ABTA).

As novas reformulações propostas pela Anvisa causaram muitas divergências entre

a agência e o setor de comunicação de maneira que em 2006 o CONAR apresentou um

ofício à Anvisa posicionando-se contra essa nova regulamentação. Nesse documento, o

Conselho defendeu que a RDC 102/2000 já constituía a mais abrangente intervenção

governamental sobre comunicação mercadológica de medicamentos, ultrapassando os

limites fixados pela Lei nº 6360/1976 (CONAR, 2006).

Nascimento (2007) aponta que o ofício do CONAR era ainda mais explícito no seu

objetivo de priorizar a liberdade de anunciar como direito do consumidor à informação

correta. Apresentando ainda a rejeição o uso das frases de advertência tais como “AO

PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICOS DEVERÁ SER CONSULTADO”

argumentando que elas inviabilizam os anúncios em mídia eletrônica tradicional ao

expropriarem 1/3 do tempo dos comerciais.

Em 2007 o CONAR e demais representantes da área de comunicação apresentaram

um manifesto titulado “A Anvisa não é competente para legislar sobre propaganda”

(CONAR, 2007). Nesse manifesto, o setor justifica seu posicionamento a partir da

Constituição Federal que

(...) determina, expressamente, que compete privativamente à União

legislar sobre propaganda comercial (Art. 22, inciso XXIX). Determina,

ainda, no capítulo Da Comunicação Social, que compete à lei federal

estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a

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possibilidade de se defenderem (...) da propaganda de produtos, práticas e

serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente (Art. 220, §

3º, inciso II) e também que a propaganda comercial de tabaco, bebidas

alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições

legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre

que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

(CONAR, 2007, p.1)

Finalizam o documento reforçando que, enquanto a Anvisa busca novas restrições à

liberdade de expressão comercial, “(...) as entidades signatárias reafirmam sua confiança no

estado de direito democrático, e esclarecem às autoridades, à opinião pública e ao mercado

publicitário que estão atentas e coesas na defesa das prerrogativas constitucionais

asseguradas à propaganda comercial” (Idem).

Apesar dos documentos apresentados pelo CONAR e demais representantes do

setor de comunicação serem respaldados nos direitos constitucionais, nenhum deles

apresentou argumentos substanciais para debater essa questão como uma questão de saúde.

Assim, em 2008, a Anvisa lança a RDC 96/2008 reforçando a RDC 102/2000, com

especificações ainda mais restritivas, de maneira a aperfeiçoar a forma de divulgação das

informações sobre medicamentos nas propagandas.

Com essa nova resolução, as discussões ficaram cada vez mais acirradas, com o

argumento de que do ponto de vista publicitário, veicular informações sobre riscos e

possíveis agravos é visto, pelo marketing medicamentoso, como uma contrapropaganda do

produto. Mas mesmo com as novas especificações, o foco do debate ainda estava nas

determinações da RDC nº 102/2000.

Analisando as propagandas de medicamentos reguladas pela RDC nº 102/2000,

Nascimento (2005) afirma que muitas peças deixam de expor contraindicações,

evidenciando o quanto as informações sobre riscos, efeitos adversos, advertências e

precauções são negadas ao consumidor. Para o pesquisador,

(...) os argumentos mais utilizados nas propagandas analisadas ressaltam,

principalmente, a eficácia, a segurança, o bem-estar, a comodidade na

administração, a rapidez da ação do medicamento, além do bom humor,

da energia, do prazer e felicidade que eles trazem, minimizando ao

máximo, ou simplesmente excluindo, qualquer referência a riscos,

possíveis interações medicamentosas ou contraindicações. Estas, quando

aparecem, em geral são exibidas em letras minúsculas, que surgem muito

rapidamente, na maioria das vezes frisando apenas que aquele

determinado medicamento é contraindicado para as pessoas com

hipersensibilidade aos componentes da fórmula, evitando-se determinar

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quais os grupos populacionais que não devem tomar o medicamento,

como idosos, crianças, diabéticos, hipertensos e outros (p. 78-79).

Considerando que as propagandas analisadas já estavam sob a regulação da RDC,

Nascimento questiona se uma boa legislação reguladora na área da propaganda de

medicamentos para o grande público é capaz de garantir os resultados esperados, no intuito

de proteger a saúde dos danos resultantes do uso incorreto, abusivo ou não racional do

medicamento.

O debate entre CONAR e Anvisa sobre restrições não impede que as propagandas

sejam veiculadas, pois as regulamentações são feitas a posteriore, quando o risco sanitário

já se estabeleceu. Além dessa fragilidade, Nascimento (2005, 2007) aponta que os

responsáveis pela veiculação das peças não se sensibilizam para a possibilidade de agravos

à saúde, visto que, das propagandas analisadas pela Anvisa (2005) após a RDC, no período

de 2001 a 2004, 90% delas desconsideravam o texto regulador, infringindo principalmente

o artigo que obriga a citação das contraindicações.

O autor acrescenta ainda que quando ocorrem irregularidades, as multas arrecadadas

têm valor irrisório frente às despesas com propaganda realizadas pelo setor, transformando

a ação punitiva em “mera formalidade”, na medida em que não há dispositivos que

impeçam que esses valores cobrados sejam transferidos pela indústria para o preço dos

medicamentos.

Para concluir, Nascimento aponta que o modelo regulador da Agência estimula o

consumo incorreto ou não racional de medicamentos ao determinar a inserção da frase e

“AO PERSISTIREM OS SINTOMAS O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”. Para

o autor, a frase sugere que “primeiro tente por si mesmo encontrar o medicamento que lhe

traga a cura, comprando o produto que julgar mais conveniente. Caso não obtenha sucesso,

procure o prescritor competente para ajuda-lo” (NASCIMENTO, 2005, p. 77), fortalecendo

assim a prática da automedicação.

Com a apresentação dessas fragilidades, podemos visualizar que no conflito entre

CONAR e Anvisa ambos buscam se responsabilizar por algo (ou saúde ou publicidade),

mas esses porta-vozes não se sensibilizaram para o fato de que a medida em que o CONAR

é responsável por regulamentar propaganda de medicamento, também é responsável pela

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saúde, assim como a Anvisa torna-se responsável pela publicidade no contexto da

medicação.

Ambos buscam se apresentar publicamente como se tivesses uma atuação única,

mas ambos possuem atuações múltiplas. Dessa forma, produzem fragilidades, seja na

produção das propagandas que desconsideram o risco sanitário, seja em sua regulação,

fazendo assim com que a controvérsia permaneça aberta e o debate se configure como uma

disputa que não altera de forma substancial o modelo regulador para superar suas

fragilidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das da regulamentação da propaganda de medicamentos como estratégia

de controle da automedicação apontou diferentes aspectos do processo de medicalização

descrito por Conrad (1992, 2005, 2007), mas também levantou muitos questionamentos a

respeito da proposta do modelo regulador no país.

Para realização dessa pesquisa, inicialmente respaldamo-nos na literatura dobre

medicalização e farmaceuticalização, buscando descrever a relevância das mensagens

publicitárias na apropriação de medicamentos. Assim, para a consecução dos objetivos

propostos, narramos os aspectos que pusessem em evidência a onipotência da aspirina,

escolhida como estudo de caso para elucidar os impactos da regulação na publicidade de

medicamentos.

Passamos então à identificação das leis, decretos e medidas voltadas à

regulamentação dos medicamentos no Brasil, com ênfase na veiculação de propagandas.

Organizadas de forma diacrônica, as legislações permitiram visualizar a diversidade de

regulações, evidenciando uma heterogeneidade até mesmo de órgãos regulatórios de um

mesmo setor, o da saúde. Também possibilitaram identificar que esse processo de regulação

é permeado por fases ou períodos definidos por pontos nodais, que configuram as

alterações mais significativas nas legislações anteriores.

Além do impacto no corpo da propaganda, observamos também que a regulação da

publicidade passou a atuar como controle de epidemia, mais especificamente nos casos de

H1N1 e dengue. Evidenciando de forma mais significativa a forma como as mensagens

publicitárias são consideradas um risco sanitário.

Considerando a diversidade de órgãos regulatórios, controvérsias são inevitáveis e,

demos destaque ao embate entre o CONAR e Anvisa sobre a forma de regular a

propaganda de medicamentos. Nesse debate identificamos as fragilidades nesses porta-

vozes na medida em que a Anvisa não apresenta rigor na fiscalização das peças

publicitárias, nem punição significativa, e também o CONAR não fiscaliza as propagandas

que são produzidas desconsiderando o texto regulador.

Nesse cenário da regulação, a pesquisa mostrou que as regulamentações tem efeito

nas propagandas, mas pela dificuldade de fiscalização, punição e restrição, a regulação da

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propaganda não parece influir de forma significativa no consumo do medicamento. Por

exemplo, ao longo dos anos a aspirina deixou de ser o analgésico mais vendido no país.

Porém, isso não se deve à regulamentação de sua propaganda, mas à introdução de novas

drogas no mercado (INTERFARMA, [200-?]).

A própria Anvisa considera que não as restrições às propagandas não são

suficientes para combater a automedicação e o uso excessivo de medicamentos sem

prescrição médica. Basta apontar que, no Brasil existem mais de 50 mil farmácias,

incluindo as hospitalares e homeopáticas, cujos produtos são comercializados não só a

partir das informações veiculadas pela mídia, dirigida ao público em geral, mas por

indicações dos profissionais de saúde (médicos e farmacêuticos) ou indicação de terceiros

(BRASIL, 2005).

Ao apontar as fragilidades da RDC nº 102/2000, Nascimento (2005) questiona

“Propaganda de medicamentos é possível regular?”. Particularmente, acreditamos que o

questionamento talvez não esteja na possibilidade de regulamentação, mas nos efeitos que

essa poderá ter ou não na automedicação.

Para melhor elucidar isso podemos retomar um caso de regulação do próprio

medicamento e não só de sua propaganda. Em 2010, considerando o alto consumo de

antibióticos, o Ministério da Saúde decretou que a venda do medicamento seria somente

mediante prescrição médica (BRASIL, 2010b, 2011,). Esperava-se que assim as vendas

diminuiriam. E de fato diminuíram em 2011, mas no ano seguinte, após avaliação,

constataram que as vendas retornaram para o mesmo patamar de 2010, mesmo com a

exigência da receita azul. Segundo a Associação Brasileira de Imunizações, o fato se deu

pois ou há fornecimento de antibióticos sem receita, ou o medicamento está sendo prescrito

em larga escala (NUBLAT; FALCÃO, 2012). Em ambos os casos, os profissionais da

saúde estão diretamente vinculados ao consumo do medicamento, apontando que o alto

consumo de uma substância não precisa ser em decorrência da “falta de racionalidade” de

quem se automedica.

Quando visualizamos as transformações na propaganda de aspirina ou os conflitos

na regulamentação, observamos que os atores em questão propõe regular a propaganda

como que essa tivesse somente um poder de influência sobre o consumidor, ditando o que

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comprar e não comprar. Desconsiderando assim a forma como as pessoas se relacionam

com a mídia.

Além do mais, a questão não seria somente a forma como as pessoas se relacionam

com as propagandas de medicamentos, mas considerar como as pessoas se relacionam com

o bem-estar, o adoecer, a Medicina, os medicamentos em si e com as informações sobre

esses, seja em propagandas, em consultas médicas, em vizinhos com uma ou outra

terapêutica nova. Por exemplo, em agosto de 2013, a revista Época publicou um exemplar

cuja capa tinha por título “Doutor Smartphone: os aplicativos de saúde deram aos pacientes

um poder nunca antes visto sobre os médicos e a medicina” (SEGATTO, 2013).

A matéria de capa apresenta os novos dispositivos, aplicativos e sites que oferece

saúde e bem-estar em um clique. Monitores cardíacos instalados em smtphones, monitores

de sono em formato de pulseira cujas informações são enviadas para o aparelho celular,

medidores de glicemia acoplados a iPhone e iPod. Aplicativos que sugerem a dieta a ser

seguida, exercício físico a ser praticado e medicação a ser consumida. E todas essas

informações podem ser compartilhadas em redes sociais, onde as pessoas podem receber

novas sugestões sobre pressão arterial, ingestão de açúcar e etc.

Assim, se formos pensar na automedicação, seu controle não se dá somente pela

regulamentação da propaganda, ou proibição de um medicamento. A automedicação está

para além de uma apropriação de substâncias químicas sem orientação de especialista

autorizado. Trata-se da forma como as pessoas se relacionam com essas substâncias e com

as informações sobre essas, produzindo assim novas práticas, novas realidades que, se não

forem vistas pelo viés da multiplicidade, acabam por continuar produzindo fragilidades no

que tange aos riscos sanitários sobre o uso medicamentos.

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vale-brinde ou concurso, a título de propaganda, e estabelece normas de proteção à

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que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos,

cosméticos, saneantes, e outros produtos. Brasília: Ministério da Saúde, 1976. Disponível

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BRASIL. Decreto nº 79.094, de 05 de janeiro de 1977. Regulamenta a Lei nº 6.360, de 23

de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os

medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes, e

outros produtos. Brasília: Ministério da Saúde, 1977. Disponível em:

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BRASIL. Decreto nº 83.239, de 06 de março de 1979. Altera o decreto número 79.094, de

05 de janeiro de 1977, que regulamenta a lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, que

submete a sistemas de vigilância sanitária os medicamentos, insumos farmacêuticos,

drogas, correlatos, cosméticos, produtos de higiene, saneantes e outros produtos. Brasília:

Ministério da Saúde, 1979. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D83239.htm. Acesso em 16 de

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junho de 1974, e nº 79.094, de 05 de janeiro de 1977, que regulamentam, respectivamente,

as leis nº 5.991, de 17 de janeiro de 1973, e nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, e dá

outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 1993. Disponível em:

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BRASIL. Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996. Dispõe sobre as restrições ao uso e a

propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcóolicas, medicamentos, terapias e defensivos

agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição Federal. Brasília: Ministério da

Saúde, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9294.htm. Acesso

em 16 de abr. 2012.

BRASIL. Decreto nº 2.018, de 01 de outubro de 1996. Regulamenta a lei nº 9.294, de 15 de

julho de 1996, que de 23 de setembro de 1976, que submete a sistemas de vigilância

sanitária os medicamentos, insumos farmacêuticos, drogas, correlatos, cosméticos,

produtos de higiene, saneantes e outros produtos. Brasília: Ministério da Saúde, 1996.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2018.htm. Acesso em 22 de

abr. 2012.

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BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 102, de 30 de novembro de 2000. Aprova o regulamento sobre propagandas, mensagens

publicitárias e promocionais e outras práticas cujo objeto seja a divulgação, promoção ou

comercialização de medicamentos de produção nacional ou importados, quaisquer que

sejam as formas e meios de sua veiculação, incluindo as transmitidas no decorrer da

programação normal das emissoras de rádio e televisão. Brasília: Ministério da Saúde,

Anvisa, 2000. Disponível em: http://e-

legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=11079. Acesso em 11 de abr. 2012

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 133, 12 de julho de 2001. Considera que a simples afixação do preço no medicamento

no estabelecimento, ou sua divulgação através de outros meios, necessariamente não induz

o consumidor a automedicação. Brasília: Ministério da Saúde, Anvisa, 2001. Disponível

em:

http://www.crfpa.org.br/sitesed/crfpa/?tipo=diversos&tipo_conteudo=sanitarias&id=66718

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BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medida

Provisória nº 2.190-34, de 23 de agosto de 2001. Altera os dispositivos da lei nº 9.782, de

26 de janeiro de 1999, que define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e cria a

Agência Nacional de Vigilância sanitária, e da lei nº6.437, de 20 de agosto de 1977, que

configura infrações à legislação sanitária federal e estabelece as sanções respectivas, e dá

outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, Anvisa, 2001. Disponível em:

http://www2.camara.gov.br/legin/fed/medpro/2001/medidaprovisoria-2190-34-23-agosto-

2001-389648-norma-pe.html. Acesso em 27 de jun. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 83, de 18 de março de 2002. Determina como medida de interesse sanitário, em

circunstância especial de risco à saúde, a proibição de veiculação de

propaganda/publicidade/promoção, em todo território nacional, de medicamentos que

contenham o princípio ativo Ácido Acetilsalicílico e utilizem expressões que façam

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referência aos sintomas de outras patologias que se assemelham aos sintomas da dengue.

Brasília: Ministério da Saúde, Anvisa, 2002. Disponível em: http://e-

legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=1221. Acesso em 18 de mai. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 123,

de 09 de fevereiro de 2004. Cria a gerência de monitoramento e fiscalização de

propaganda, publicidade e promoção e informação de produtos sujeitos à vigilância

sanitária (GPROP). Brasília: Ministério da Saúde, Anvisa, 2004. Disponível em:

https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=189047. Acesso em 11 de abr. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 199, de 17 de agosto de 2004. Dispõe sobre a afixação de preços dos medicamentos em

farmácias e drogarias. Brasília: Ministério da Saúde, Anvisa, 2004. Disponível em:

http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=16673&word. Acesso em 18 de

mai. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e

outras práticas cujo objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos.

Brasília: Ministério da Saúde, Anvisa, 2008. Disponível em:

http://www.anvisa.gov.br/propaganda/rdc/rdc_96_2008_consolidada.pdf. Acesso em 11 de

abr. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC

nº 43, de 13 de agosto de 2009. Dispõe sobre a suspensão temporária das propagandas de

medicamentos isentos de prescrição médica à base de Ácido Acetilsalicílico bem como os

analgésicos/antitérmicos e dos destinados ao alívio dos sintomas da gripe. Brasília:

Ministério da Saúde, Anvisa, 2009. Disponível em:

http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/pdf/180809_rdc43_gprop.pdf. Acesso em

18 de mai. 2012.

CONAR. Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Código Brasileiro de

Autorregulamentação Publicitária. 1980. Disponível em: http://www.conar.org.br/. Acesso

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APÊNCIDES

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APÊNDICE A

FICHAS DE DESCRIÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO DA PROPAGANDA DE

MEDICAMENTOS

01

Data: 20/09/1851

Tipo: Decreto nº 828, regulamenta a Junta de Hygiene Pública.

Regulador: Junta de Higiene Pública - Órgão Federal de Saúde

O que: anúncios em jornais, periódicos ou cartazes de remédios e medicamentos cuja composição for

desconhecida.

Argumento: as substâncias precisam ser reconhecidas cientificamente, para assegurar a qualidade do

produto. A estratégia é justificada como uma defesa à saúde.

02

Data: 08/09/1931

Tipo: Decreto nº 20.377, regulamenta o exercício da profissão farmacêutica no Brasil.

Regulador: Departamento Nacional de Saúde Pública - Órgão Federal de Saúde

O que: - anúncios de anticoncepcionais

- anúncios de remédios e medicamentos cuja composição for desconhecida

- anúncios de especialidades farmacêuticas por meio de indicações terapêuticas com insinuação

de respostas

Argumento: Não há justificativa dentro da lei sobre anticoncepcionais. As substâncias precisam ser

reconhecidas cientificamente, para assegurar a qualidade do produto. A estratégia é justificada como

uma defesa à saúde.

03

Data: 03/09/1954

Tipo: Lei nº 2.312, normas gerais sobre a defesa e proteção da saúde

Regulador: Departamento Nacional de Saúde Pública - Órgão Federal de Saúde

O que: - anúncios de anticoncepcionais

- anúncios de remédios e medicamentos cuja composição for desconhecida

- anúncios de especialidades farmacêuticas por meio de indicações terapêuticas com insinuação

de respostas

Argumento: Não há justificativa dentro da lei sobre anticoncepcionais. As substâncias precisam ser

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reconhecidas cientificamente, para assegurar a qualidade do produto. A estratégia é justificada como

uma defesa à saúde.

04

Data: 21/01/1961

Tipo: Decreto nº 49.974, Código Nacional de Saúde

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - dizeres de rótulos, bulas e prospectos

- propaganda em qualquer que seja o meio de divulgação

Argumento: o produto precisa ser reconhecido cientificamente para ser divulgado. . A estratégia é

justificada como uma defesa à saúde.

05

Data: 09/08/1972

Tipo: Decreto nº 70.951, dispõe sobre a distribuição gratuita de prêmios

Regulador: Ministério da Fazenda

O que: - proíbe a distribuição de brindes associada a medicamentos

Argumento: a estratégia é justificada como uma defesa do consumidor

06

Data: 06/09/1976

Tipo: Lei nº 6.360, dispõe sobre a vigilância sanitária, a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas,

os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - propaganda, sob qualquer forma de divulgação e em qualquer meio de divulgação

- as propagandas de medicamentos sujeitos a prescrição médica ficaram restritas a publicações

médicas

- propaganda de medicamentos de venda livre não podem conter nomes geográficos, símbolos,

figuras, desenhos ou quaisquer indicações que possibilitem interpretação falsa, erro ou confusão quanto à

origem, procedência, natureza, composição ou qualidade, que atribuam ao produto finalidades ou

características diferentes daquelas que realmente possuam.

Argumento: coagir a divulgação de produtos falsificados e produtos não reconhecidos cientificamente.

A estratégia é justificada como uma defesa à saúde.

07

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103

Data: 05/01/1977

Tipo: Decreto nº 79.094, regulamenta a lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, que submete a sistemas

de vigilância sanitária os medicamentos, insumos farmacêuticos, drogas, correlatos, cosméticos,

produtos de higiene, saneantes e outros produtos.

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - cancelar medicamentos cuja propaganda for alterada sem autorização do Ministério da Saúde

- complementando a normatização anterior, na propaganda de medicamentos de venda livre o

texto, figura, imagem, ou projeções não ensejem interpretação falsa, erro ou confusão quanto à

composição do produto, suas finalidades, modo de usar ou procedência, ou apregoem propriedades

terapêuticas não comprovadas por ocasião do registro a que se refere o item anterior.

- que sejam declaradas obrigatoriamente as contraindicações, indicações, cuidados e advertências

sobre o uso do produto.

Argumento: coagir a divulgação de produtos falsificados e produtos não reconhecidos cientificamente.

Oferecer mais informações sobre o produto, tais como efeitos colaterais, efeitos esperados e interações

medicamentosas. A estratégia é justificada como uma defesa à saúde.

08

Data: 06/03/1979

Tipo: Decreto nº 83.239, altera o decreto número 79.094, de 05 de janeiro de 1977, que regulamenta a

lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, que submete a sistemas de vigilância sanitária os medicamentos,

insumos farmacêuticos, drogas, correlatos, cosméticos, produtos de higiene, saneantes e outros produtos.

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - mantem as regulamentações sobre propaganda de medicamentos.

Argumento: coagir a divulgação de produtos falsificados e produtos não reconhecidos cientificamente.

Oferecer mais informações sobre o produto, tais como efeitos colaterais, efeitos esperados e interações

medicamentosas. A estratégia é justificada como uma defesa à saúde. Ministério da Saúde continua

sendo considerado única autoridade competente para regular propagandas de medicamentos, por meio de

regulamento que assegure a cientificidade/eficácia do produto

09

Data05/05/1980

Tipo: Código brasileiro de autorregulamentação publicitária

Regulador: Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária - CONAR

O que: - a propaganda de medicamentos não deverá conter nenhuma afirmação quanto à ação do

produto que não seja baseada em evidência clínica ou científica

- a propaganda de medicamentos não deverá ser feita de modo a sugerir cura ou prevenção de

qualquer doença que exija tratamento sob supervisão médica

- a propaganda de medicamentos não deverá ser feita de modo a resultar em uso diferente das

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ações terapêuticas constantes da documentação aprovada pela Autoridade Sanitária Federa

- não oferecerá ao consumidor prêmios, participação em concursos ou recursos semelhantes que

o induzam ao uso desnecessário de medicamentos

- deve evitar qualquer inferência associada ao uso excessivo do produto

- não deverá ser feita de modo a induzir ao uso de produtos por crianças, sem supervisão dos

pais ou responsáveis a quem, aliás, a mensagem se dirigirá com exclusividade

- não deverá encorajar o consumidor a cometer excessos físicos, gastronômicos ou etílicos

- não deverá mostrar personagem na dependência do uso contínuo de medicamentos como

solução simplista para problemas emocionais ou estados de humor

- não deverá levar o consumidor a erro quanto ao conteúdo, tamanho de embalagem, aparência,

usos, rapidez de alívio ou ações terapêuticas do produto e sua classificação (similar/genérico)

- deverá ser cuidadosa e verdadeira quanto ao uso da palavra escrita ou falada bem como de

efeitos visuais. A escolha de palavras deverá corresponder a seu significado como geralmente

compreendido pelo grande público

- não deverá conter afirmações ou dramatizações que provoquem medo ou apreensão no

consumidor, de que ele esteja, ou possa vir, sem tratamento, a sofrer de alguma doença séria

- deve enfatizar os usos e ações do produto em questão. Comparações injuriosas com concorrentes

não serão toleradas. Qualquer comparação somente será admitida quando facilmente perceptível pelo

consumidor ou baseada em evidência clínica ou científica. Não deverão ser usados jargões científicos

com dados irrelevantes ou estatísticas de validade duvidosa ou limitada, que possam sugerir uma base

científica que o produto não tenha

- não deverá conter qualquer oferta de devolução de dinheiro pago ou outro benefício, de qualquer

natureza, pela compra de um medicamento em função de uma possível ineficácia

- a referência a estudos, quer científicos ou de consumo, deverá sempre ser baseada em pesquisas

feitas e interpretadas corretamente.

- publicidade de medicamentos não oferecerá a obtenção de diagnóstico à distância

- não conterá afirmações injuriosas às atividades dos profissionais de saúde ou ao valor de

cuidados ou tratamentos destes.

Argumento: a pessoa que tem acesso a propaganda de medicamento é descrita como consumidora e não

como enferma. A regulamentação visa coagir o uso excessivo e/ou desnecessário do medicamento em

defesa de um consumidor. Entretanto, lança mão aspectos do discurso do Órgão Federal de Saúde,

respalda-se na saúde em defesa de um consumidor.

10

Data: 05/10/1988

Tipo: Constituição da República Federativa do Brasil

Regulador: Governo Federal

O que: - propagandas de medicamentos devem conter advertência sobre os malefícios de seu uso.

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Argumento: A estratégia é justificada como uma defesa à saúde.

11

Data: 13/05/1988

Tipo: Resolução WHA 41.17, regulamenta critérios éticos e científicos para a promoção de

medicamentos.

Regulador: Organização Mundial de Saúde - OMS

O que: - propaganda de medicamentos deve ter texto legível, conter nome do ingrediente ativo, nome

comercial, efeitos secundários, reações adversas, precauções, contraindicações, advertências, interações

importantes

- proibido conter informações enganosas, omissões ou induzir ao uso desnecessário

Argumento: A estratégia é justificada como uma defesa à saúde, visando o uso racional de

medicamentos. Entretanto, tais indicações podem ser adaptadas pelos governos.

12

Data: 05/04/1993

Tipo: Decreto nº 793, altera os decretos nº 74.170, de 10 de junho de 1974, e nº 79.094, de 05 de janeiro

de 1977, que regulamentam, respectivamente, as leis nº 5.991, de 17 de janeiro de 1973, e nº 6.360, de

23 de setembro de 1976, e dá outras providências

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - o tamanho das letras do nome e/ou marca não poderá exceder a 1/3 (um terço) do tamanho das

letras da denominação genérica

- o tipo de letra da impressão do nome e/ou marca será idêntico ao da denominação genérica

- o nome e/ou marca deverão estar situados no mesmo campo de impressão, com o mesmo fundo

gráfico e abaixo da denominação genérica do produto;

- as letras deverão guardar entre si as devidas proporções de distancias indispensáveis à sua fácil

leitura e destaque

Argumento: a estratégia é justificada como uma defesa à saúde, observa-se que a regulamentação fica

cada vez mais especificada, principalmente com relação a estrutura gráfica, mesmo já existindo um

órgão que visa fiscalizar os abusos publicitários – CONAR.

13

Data: 15/07/1996

Tipo: Lei nº 9.294, dispõe sobre as restrições ao uso e a propaganda de produtos fumígeros, bebidas

alcóolicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição

Federal.

Regulador: Ministério da Saúde

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O que: - os medicamentos poderão ser anunciados nos órgãos de comunicação social com as

advertências quanto ao seu abuso

- a propaganda dos medicamentos não poderá conter afirmações que não sejam passíveis de

comprovação científica, nem poderá utilizar depoimentos de profissionais que não sejam legalmente

qualificados para fazê-lo

- toda a propaganda de medicamentos conterá obrigatoriamente advertência indicando que, a

persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado.

Argumento: a estratégia é justificada como uma defesa à saúde por meio do controle do abuso de

medicamentos, se mantem a necessidade de um reconhecimento científico para divulgação do produto.

Como estratégia para controle do abuso de substância é obrigatório uma advertência quanto a

persistência dos sintomas para que não haja uso desnecessário e/ou abusivo de medicamentos.

14

Data: 01/10/1996

Tipo: Decreto nº 2.018, regulamenta a lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996, que de 23 de setembro de

1976, que submete a sistemas de vigilância sanitária os medicamentos, insumos farmacêuticos, drogas,

correlatos, cosméticos, produtos de higiene, saneantes e outros produtos.

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - as propagandas dispensam de autorização prévia do Ministério da Saúde

Argumento: a estratégia é justificada como uma defesa à saúde por meio do controle do abuso de

medicamentos, se mantem a necessidade de um reconhecimento científico para divulgação do produto e

as demais regulações anteriores.

15

Data: 12/05/1998

Tipo: Portaria nº 344, aprova o regulamento técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a

controle especial

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - as propagandas desse tipo de medicamento são permitidas somente em revistas específicas e

acompanhadas de embasamento tecno-científico apoiado em literatura Nacional ou Internacional

oficialmente reconhecida.

Argumento: a estratégia é justificada como uma defesa à saúde visando divulgação científica para os

profissionais.

16

Data: 30/10/1998

Tipo: Portaria nº 3916, aprova política nacional de medicamentos

Regulador: Ministério da Saúde

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O que: - as propagandas deverão se enquadrar nos padrões éticos aceitos internacionalmente

- A vigilância sanitária consolida o sistema de informações para uso racional de medicamentos

Argumento: promover uso racional de medicamentos

17

Data: 21/08/2000

Tipo: Decreto nº 3.571, aprova nova redação a dispositivos do regulamento da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária

Regulador: Ministério da Saúde

O que: - cabe a ANVISA controlar, fiscalizar e acompanhar, sob o prisma da legislação sanitária, a

propaganda e publicidade de medicamentos.

Argumento: ANVISA criada em 1999 é um órgão regulador e cabe a ela o controle publicitário de

medicamentos

18

Data: 30/11/2000

Tipo: Resolução RDC nº 102, aprova o regulamento sobre propagandas, mensagens publicitárias e

promocionais e outras práticas cujo objeto seja a divulgação, promoção ou comercialização de

medicamentos de produção nacional ou importados, quaisquer que sejam as formas e meios de sua

veiculação, incluindo as transmitidas no decorrer da programação normal das emissoras de rádio e

televisão.

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - os anúncios precisam ser registrados na ANVISA

- destaque para as anuências prévias da ANVISA

- regula propaganda num todo

Argumento: a propaganda visa exercer influência sobre o público através de ações que objetivem

promover determinado medicamento com fins comerciais e devido a essa influência, cabe a ANVISA

regular e proteger a saúde do público de ações publicitárias abusivas que aludem ao erro ou consumo

abusivo de medicamentos.

19

Data: 12/07/2001

Tipo: Resolução RDC nº 133, regula a afixação do preço no medicamento no estabelecimento, ou sua

divulgação através de outros meios

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - a divulgação de descontos de preços de medicamentos nas suas variadas formas (faixas, listas,

outdoors e outros), deverá conter o nome comercial ou marca do produto, DCB/DCI, concentração e o

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seu preço, podendo ser acrescentado o nome do fabricante.

Art. 3º Fica revogado o parágrafo único do art. 8º do Anexo I, da Resolução-RDC n.º 102, de 30 de

novembro de 2000

Argumento: considera que a simples afixação do preço no medicamento no estabelecimento, ou sua

divulgação através de outros meios, necessariamente não induz o consumidor a automedicação.

20

Data: 23/08/2001

Tipo: Medida provisória nº 2.190-34, altera os dispositivos da lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, que

define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e cria a Agência Nacional de Vigilância sanitária, e da

lei nº6.437, de 20 de agosto de 1977, que configura infrações à legislação sanitária federal e estabelece

as sanções respectivas, e dá outras providências

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - a propaganda conterá, nos meios de comunicação e em função de suas características,

advertência sobre os malefícios dos medicamentos segundo frases estabelecidas pelo Ministério da

Saúde.

- é permitida a propaganda de medicamentos genéricos em campanhas publicitárias patrocinadas

pelo Ministério da Saúde.

Argumento: fornecer mais informações sobre os malefícios da medicação.

21

Data: 18/03/2002

Tipo: Resolução RDC nº 83, determina como medida de interesse sanitário, em circunstância especial de

risco à saúde, a proibição de veiculação de propaganda/publicidade/promoção, em todo território

nacional, de medicamentos que contenham o princípio ativo Ácido Acetilsalicílico e utilizem expressões

que façam referência aos sintomas de outras patologias que se assemelham aos sintomas da dengue

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - proibir propagandas que contenham o princípio ativo ÁCIDO ACETILSALICÍLICO e utilizem

expressões que façam referência aos sintomas de outras patologias que se assemelhem aos sintomas da

dengue

- excluem-se da proibição de que trata este artigo, as propagandas/publicidades/promoções que

incluam mensagem ressaltando que o medicamento é contraindicado em caso de suspeita de dengue

Argumento: as campanhas publicitárias analisadas pela ANVISA não esclarecem o consumidor sobre

os riscos à saúde provocados pelo uso do Ácido Acetilsalicílico em pacientes com dengue e trata-se de

um medicamento amplamente consumido no país

22

Data: 09/02/2004

Tipo: Portaria nº 123, cria a gerência de monitoramento e fiscalização de propaganda, publicidade e

promoção e informação de produtos sujeitos à vigilância sanitária (GPROP)

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109

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - compete a essa gerência específica avaliar, fiscalizar, controlar e acompanhar, a propaganda, a

publicidade, a promoção e a informação de medicamentos

Argumento: intensificar a fiscalização da propaganda de medicamentos visando seu uso racional.

23

Data: 17/08/2004

Tipo: Resolução RDC nº 199, dispõe sobre a afixação de preços dos medicamentos em farmácias e

drogarias

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - sendo forma de divulgação do medicamento, a fixação de preços deve ter por objetivo único

garantir aos cidadãos acesso a informações de diferentes preços praticados

- fica proibida nesta divulgação a utilização de designações, nomes geográficos, símbolos,

figuras, desenhos, logomarcas, slogans, nomes dos fabricantes e quaisquer argumentos de cunho

publicitário dos produtos

Argumento: considera que a simples afixação do preço no medicamento no estabelecimento, ou sua

divulgação através de outros meios, necessariamente não induz o consumidor a automedicação

24

Data: 17/12/2008

Tipo: Resolução RDC nº 96, dispõe sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo

objetivo seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos

Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - além das indicações anteriores, normatiza especificações gráficas.

- Na propaganda ou publicidade de medicamentos isentos de prescrição é vedado usar

expressões tais como: "Demonstrado em ensaios clínicos", "Comprovado cientificamente”.

- Apresenta tabela de dizeres para cada tipo de medicamentos. No caso do ácido acetilsalicílico:

“Não use este medicamento em caso de gravidez, gastrite ou úlcera do estômago e suspeita de dengue ou

catapora”.

Argumento: nocividade da propaganda para uso abusivo de medicamentos.

25

Data: 13/08/2009

Tipo: Resolução RDC nº 43, dispõe sobre a suspensão temporária das propagandas de medicamentos

isentos de prescrição médica à base de Ácido Acetilsalicílico bem como os analgésicos/antitérmicos e

dos destinados ao alívio dos sintomas da gripe.

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Regulador: Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

O que: - suspensão, em todo território nacional, das propagandas veiculadas em todos os meios de

comunicação de massa, inclusive na internet, de produtos à base de ácido acetilsalicílico

- suspende a utilização de outras técnicas de comunicação, em especial a presença de

propagandistas em estabelecimentos de comércio varejista de produtos farmacêuticos, fazendo promoção

de tais medicamentos e estimulando a aquisição e uso não racional dos mesmos

Argumento: a suspensão é necessária em razão de circunstância especial de risco à saúde identificada

pela elevação dos casos da Influenza A (H1N1) no Brasil, juntamente com a vulnerabilidade das pessoas

que estão supostamente acometidas pela doença e daquelas já diagnosticadas, e ainda, pelo risco inerente

do uso desses medicamentos por essas pessoas, na medida em que os mesmos são capazes de mascarar

uma situação de risco à saúde.

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111

APÊNDICE B

LINHA DO TEMPO

ANO LEGISLAÇÃO ÓRGÃO

REGULADOR O QUE REGULAMENTA ARGUMENTO

1851

Decreto nº 828,

regulamenta a Junta

de Hygiene Pública

Junta de Higiene

Pública

Proíbe fazer propaganda de

produtos sem registro

Defesa da

saúde pública:

as substâncias

precisam ser

reconhecidas

cientificamente,

para assegurar a

qualidade do

produto.

1931

Decreto nº 20.377,

regulamenta o

exercício da

profissão

farmacêutica no

Brasil

Departamento Nacional

de Saúde Pública

Proíbe anúncios de

anticoncepcionais, fazer

propaganda de produtos

sem registro e anúncios por

meio de indicações

terapêuticas com

insinuações de respostas

Defesa da

saúde pública:

As substâncias

precisam ser

reconhecidas

cientificamente,

para assegurar a

qualidade do

produto

1954

Lei nº 2.312,

normas gerais sobre

a defesa e proteção

da saúde.

Departamento Nacional

de Saúde Pública

Proíbe anúncios de

anticoncepcionais, fazer

propaganda de produtos

sem registro e anúncios por

meio de indicações

terapêuticas com

insinuações de respostas

Defesa da

saúde pública:

As substâncias

precisam ser

reconhecidas

cientificamente,

para assegurar a

qualidade do

produto

1961

Decreto nº 49.974,

código nacional de

saúde.

Ministério da Saúde Proíbe fazer propaganda de

produtos sem registro

Defesa da

saúde pública: As substâncias

precisam ser

reconhecidas

cientificamente,

para assegurar a

qualidade do

produto

1972

Decreto nº 70.951,

Regulamenta a Lei

nº 5.768, de 20 de

dezembro de 1971,

que dispõe sobre a

distribuição gratuita

de prêmios,

mediante sorteio,

vale-brinde ou

concurso, a título de

propaganda, e

estabelece normas

de proteção à

poupança popular.

Ministério da Fazenda

Proíbe a distribuição de

brindes associada a

medicamentos

Defesa do

consumidor

1976

Lei nº 6.360, dispõe

sobre a vigilância

sanitária, a que

ficam sujeitos os

Ministério da Saúde

Proíbe fazer propaganda de

produtos sem registro e de

medicamentos de venda sob

prescrição médica

Defesa da

saúde pública:

coagir a

divulgação de

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medicamentos, as

drogas, os insumos

farmacêuticos e

correlatos,

cosméticos,

saneantes e outros

produtos

direcionada ao público;

proibido conter informações

que possibilitem

interpretação falsa, erro ou

confusão.

produtos

falsificados e

produtos não

reconhecidos

cientificamente

1977

Decreto nº 79.094,

regulamenta a lei nº

6.360, de 23 de

setembro de 1976,

que submete a

sistemas de

vigilância sanitária

os medicamentos,

insumos

farmacêuticos,

drogas, correlatos,

cosméticos,

produtos de higiene,

saneantes e outros

produtos.

Ministério da Saúde

Proibido conter informações

que possibilitem

interpretação falsa, erro ou

confusão; que sejam

declaradas obrigatoriamente

as contraindicações,

indicações, cuidados e

advertências sobre o uso do

produto.

Defesa da

saúde pública:

coagir a

divulgação de

produtos

falsificados e

produtos não

reconhecidos

cientificamente.

Oferecer mais

informações

sobre o produto

1979

Decreto nº 83.239,

altera o decreto

número 79.094, de

05 de janeiro de

1977, que

regulamenta a lei nº

6.360, de 23 de

setembro de 1976,

que submete a

sistemas de

vigilância sanitária

os medicamentos,

insumos

farmacêuticos,

drogas, correlatos,

cosméticos,

produtos de higiene,

saneantes e outros

produtos

Ministério da Saúde

Proibido conter informações

que possibilitem

interpretação falsa, erro ou

confusão; que sejam

declaradas obrigatoriamente

as contraindicações,

indicações, cuidados e

advertências sobre o uso do

produto.

Defesa da

saúde pública:

coagir a

divulgação de

produtos

falsificados e

produtos não

reconhecidos

cientificamente.

Oferecer mais

informações

sobre o produto

1980

Código brasileiro de

auto-

regulamentação

publicitária

CONAR

Proibido utilizar

informações não passíveis

de comprovação científica;

que sejam declaradas

obrigatoriamente as

contraindicações,

indicações, cuidados e

advertências sobre o uso do

produto; proibido conter

informações que

possibilitem interpretação

falsa, erro ou confusão;

Defesa da

saúde do

consumidor: visa coagir o uso

excessivo e/ou

desnecessário do

medicamento

em defesa de um

consumidor.

Entretanto,

lança mão do

discurso da

saúde pública

1988

Constituição da

República

Federativa do Brasil

Câmara dos Deputados Que sejam declarados

malefícios do uso

Defesa da

saúde pública:

Oferecer mais

informações

sobre o produto

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1988

Resolução WHA

41.17, regulamenta

critérios éticos e

científicos para a

promoção de

medicamentos

OMS

Proibido conter informações

que possibilitem

interpretação falsa, erro ou

confusão; que sejam

declaradas obrigatoriamente

as contraindicações,

indicações, cuidados e

advertências sobre o uso do

produto.

Defesa da

saúde pública:

Oferecer mais

informações

sobre o produto

e defende o uso

racional de

medicamentos

1993

Decreto nº 793,

altera os decretos nº

74.170, de 10 de

junho de 1974, e nº

79.094, de 05 de

janeiro de 1977, que

regulamentam,

respectivamente, as

leis nº 5.991, de 17

de janeiro de 1973,

e nº 6.360, de 23 de

setembro de 1976, e

dá outras

providências

Ministério da Saúde

Proibido conter informações

que possibilitem

interpretação falsa, erro ou

confusão; Tamanho da fonte

incorreto, tipo de letra e

fundo gráfico

Defesa da

saúde pública:

especificar cada

vez mais as

questões

gráficas para

que não induza a

erro ou confusão

1996

Lei nº 9.294, dispõe

sobre as restrições

ao uso e a

propaganda de

produtos fumígeros,

bebidas alcóolicas,

medicamentos,

terapias e

defensivos

agrícolas, nos

termos do § 4º do

art. 220 da

Constituição

Federal.

Ministério da Saúde

Enfocar as advertências

quanto ao uso de

medicamentos; Toda

propaganda conterá

obrigatoriamente

advertência indicando que,

ao persistirem os sintomas o

médico deverá ser

consultado

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

1996

Decreto nº 2.018,

regulamenta a lei nº

9.294, de 15 de

julho de 1996, que

de 23 de setembro

de 1976, que

submete a sistemas

de vigilância

sanitária os

medicamentos,

insumos

farmacêuticos,

drogas, correlatos,

cosméticos,

produtos de higiene,

saneantes e outros

produtos.

Ministério da Saúde Dispensa a autorização

prévia do MS

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

1998

Portaria nº 344,

aprova o

regulamento técnico

sobre substâncias e

medicamentos

sujeitos a controle

Ministério da Saúde

Proibido utilizar

informações sem

embasamento tecno-

científico

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

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especial

1998

Portaria nº 3916,

aprova política

nacional de

medicamentos

Ministério da Saúde

Obrigatório o uso dos

padrões da OMS; vigilância

sanitária consolida o

sistema de informações para

uso racional

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

2000

Decreto nº 3.571,

aprova nova

redação a

dispositivos do

regulamento da

Agência Nacional

de Vigilância

Sanitária

Ministério da Saúde Cabe à ANVISA controlar e

fiscalizar

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

2000

Resolução RDC nº

102, aprova o

regulamento sobre

propagandas,

mensagens

publicitárias e

promocionais e

outras práticas cujo

objeto seja a

divulgação,

promoção ou

comercialização de

medicamentos de

produção nacional

ou importados,

quaisquer que sejam

as formas e meios

de sua veiculação,

incluindo as

transmitidas no

decorrer da

programação

normal das

emissoras de rádio e

televisão.

ANVISA

Anúncios devem ser

previamente registrados na

ANVISA e seguir suas

normas gráficas estipuladas

pela ANVISA

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

2001

Resolução RDC nº

133, considera que a

simples afixação do

preço no

medicamento no

estabelecimento, ou

sua divulgação

através de outros

meios,

necessariamente não

induz o consumidor

a automedicação

ANVISA Controle da divulgação de

preços

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

2001

Medida provisória

nº 2.190-34, altera

os dispositivos da

lei nº 9.782, de 26

de janeiro de 1999,

que define o

Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária

ANVISA Maior divulgação dos

malefícios do uso excessivo

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

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e cria a Agência

Nacional de

Vigilância sanitária,

e da lei nº6.437, de

20 de agosto de

1977, que configura

infrações à

legislação sanitária

federal e estabelece

as sanções

respectivas, e dá

outras providências

2002

Resolução RDC nº

83, determina como

medida de interesse

sanitário, em

circunstância

especial de risco à

saúde, a proibição

de veiculação de

propaganda/publicid

ade/promoção, em

todo território

nacional, de

medicamentos que

contenham o

princípio ativo

Ácido

Acetilsalicílico e

utilizem expressões

que façam

referência aos

sintomas de outras

patologias que se

assemelham aos

sintomas da dengue

ANVISA

Proibido propaganda que

contenha ácido

acetilsalicílico

Defesa da

saúde pública:

controle do uso

da medicação na

epidemia de

dengue

2004

Portaria nº 123, cria

a gerência de

monitoramento e

fiscalização de

propaganda,

publicidade e

promoção e

informação de

produtos sujeitos à

vigilância sanitária

(GPROP)

ANVISA Cabe ao GPROP fiscalizar e

controlar

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

2004

Resolução RDC nº

199, dispõe sobre a

afixação de preços

dos medicamentos

em farmácias e

drogarias

ANVISA Controle da divulgação de

preços

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional de

medicamentos

2008

Resolução RDC nº

96, dispõe sobre a

propaganda,

publicidade,

informação e outras

práticas cujo

objetivo seja a

ANVISA

Cabe a ANVISA a definição

das normas gráficas;

Proibido o uso de

expressões sobre

comprovação científica;

Obrigatório uso de dizeres

especificados em tabela.

Defesa da

saúde pública:

promoção do

uso racional e

oferecer mais

informações

sobre o produto,

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divulgação ou

promoção comercial

de medicamentos

tais como

efeitos

colaterais,

efeitos

esperados e

interações

2009

Resolução RDC nº

43, dispõe sobre a

suspensão

temporária das

propagandas de

medicamentos

isentos de

prescrição médica à

base de Ácido

Acetilsalicílico bem

como os

analgésicos/antitérm

icos e dos

destinados ao alívio

dos sintomas da

gripe.

ANVISA

Suspende a propaganda que

contenha ácido

acetilsalicílico

Defesa da

saúde pública:

controle do uso

da medicação na

epidemia de

H1N1

LEGENDA

- Primeira fase

- Segunda fase

- Terceira fase

- Quarta fase

- Reguladores nacionais da saúde

- Outros reguladores nacionais

- OMS

- Anvisa

- Primeiro ponto nodal

- Segundo ponto nodal

- Terceiro ponto nodal

- Quarto ponto nodal

- Regulação para o controle de epidemia

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ANEXOS

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FORMAS FARMACÊUTICAS E APRESENTAÇÕESUSO ADULTO E PEDIÁTRICOUSO ORALAspirina® é apresentada na forma de comprimidos com 500 mg de ácido acetilsalicílico em embalagens de 20, 96 e 100 comprimidos.COMPOSIÇÃOCada comprimido contém 500 mg de ácido acetilsalicílico.Componentes inertes: amido e celulose.COMO ESTE MEDICAMENTO FUNCIONA?Aspirina® contém a substância ativa ácido acetilsalicílico, do grupo de substâncias antiinflamatórias não-esteróides, eficazes no alívio de dor, febre e inflamação.O ácido acetilsalicílico inibe a formação excessiva de substâncias mensageiras da dor, as prostaglandinas, reduzindo assim a sensibilidade à dor.POR QUE ESTE MEDICAMENTO FOI INDICADO?Aspirina® é indicada para: - o alívio de dores de intensidade leve a moderada como dor de cabeça, dor de dente, dor de garganta, dor menstrual, dor

muscular, dor nas articulações, dor nas costas, dor da artrite e- o alívio sintomático da dor e da febre nos resfriados ou gripes.QUANDO NÃO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?CONTRA-INDICAÇÕES Não tome Aspirina® se:• for alérgico ao ácido acetilsalicílico ou a salicilatos ou a qualquer dos ingredientes do medicamento. Se não tiver certeza de ser

alérgico ao ácido acetilsalicílico, consulte o seu médico;• tiver tendência para sangramentos;• tiver úlceras do estômago ou do intestino;• já tiver tido crise de asma induzida pela administração de salicilatos ou outras substâncias semelhantes;• estiver em tratamento com metotrexato em doses iguais ou superiores a 15 mg por semana;• estiver no último trimestre de gravidez. ADVERTÊNCIAS Nos casos seguintes, Aspirina® só deve ser usada em caso de absoluta necessidade e sob cuidados especiais. Consulte um médico se alguma das situações abaixo for seu caso ou já se aplicou no passado. O uso de Aspirina® requer cuidados especiais, por exemplo doses mais baixas ou intervalo maior entre as doses e controle médico, nas seguintes situações:• alérgico a outros analgésicos, antiinflamatórios e anti-reumáticos ou presença de outras alergias;• uso de medicamentos anticoagulantes, como heparina e derivados da cumarina;• asma brônquica;• distúrbios gástricos ou duodenais crônicos ou recorrentes e úlceras gastrintestinais;• mau funcionamento do fígado ou dos rins.Gravidez e amamentaçãoVocê deve informar a seu médico se engravidar durante tratamento prolongado com Aspirina®.Nos dois primeiros trimestres da gravidez, você só deverá usar Aspirina® por recomendação médica em casos de absoluta necessidade. Você não deve tomar Aspirina® nos últimos três meses de gravidez por risco de complicações para a mãe e o bebê durante o parto. Pequenas quantidades do ácido acetilsalicílico e de seus produtos de metabolismo passam para o leite materno. Como até o momento não se relatou nenhum efeito prejudicial para os bebês, você não precisa parar de amamentar se usar Aspirina® para tratar a dor ou a febre nas doses recomendadas e por períodos curtos. Se, em casos excepcionais, houver necessidade de tratamento prolongado ou doses maiores (mais de 6 comprimidos por dia), você deve considerar a possibilidade de suspender a amamentação.CriançasCRIANÇAS OU ADOLESCENTES NÃO DEVEM USAR ESTE MEDICAMENTO PARA CATAPORA OU SINTOMAS GRIPAIS ANTES QUE UM MÉDICO SEJA CONSULTADO SOBRE A SÍNDROME DE REYE, UMA DOENÇA RARA, MAS GRAVE, ASSOCIADA A ESTE MEDICAMENTO.Em caso de doença febril, o aparecimento de vômito prolongado pode ser sinal de síndrome de Reye, uma doença que pode ser fatal, exigindo assistência médica imediata.Este medicamento é indicado somente para crianças acima de 12 anos.PRECAUÇÕES Pacientes que sofrem de asma, de rinite alérgica sazonal, de pólipos nasais ou de doenças crônicas do trato respiratório, principalmente se acompanhadas de sintomas de rinite alérgica sazonal, ou pacientes que sejam alérgicos a qualquer tipo de analgésico/antiinflamatório ou anti-reumático, correm risco de sofrer crises de asma (asma por intolerância a analgésicos). O mesmo se aplica a pacientes que apresentam alergias a outras substâncias como reações de pele, coceira e urticária.Aspirina® não deve ser usada por muito tempo ou em doses altas sem aconselhamento de um médico ou dentista. Analgésicos usados por longos períodos e em doses altas não recomendadas podem provocar dor de cabeça, que não deve ser tratada aumentando-se a dose do medicamento. Em geral, o uso habitual de analgésicos, particularmente a combinação de vários ingredientes ativos analgésicos, pode causar dano permanente nos rins, com risco de causar insuficiência renal (nefropatia provocada por analgésicos). Condução de veículos e uso de máquinasAspirina® não afeta a capacidade de dirigir veículos ou operar máquinas.

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSASUso de Aspirina® com outros medicamentosAlgumas substâncias podem ter seu efeito alterado se tomadas com Aspirina® ou que podem influenciar seu efeito. Esses efeitos também podem ser relacionados com medicamentos tomados recentemente.Aspirina® aumenta:• o efeito de medicamentos anticoagulantes, como derivados de cumarina e heparina;• o risco de hemorragia gastrintestinal se for tomada com álcool ou medicamentos que contenham cortisona ou seus

derivados;• o efeito de certos medicamentos usados para baixar a taxa de açúcar no sangue (sulfoniluréias);• os efeitos desejados e indesejados do metotrexato;• os níveis sangüíneos de digoxina, barbitúricos e lítio;• os efeitos desejados e indesejados de um grupo particular de medicamentos analgésicos/antiinflamatórios e anti-reumáticos

(não-esteróides);• o efeito de sulfonamidas e suas associações;• o efeito do ácido valpróico, um medicamento usado no tratamento de epilepsia.Aspirina® diminui a ação de:• certos medicamentos que aumentam a excreção de urina (antagonistas de aldosterona e diuréticos de alça);• medicamentos para baixar a pressão arterial;• medicamentos para o tratamento da gota, que aumentam a excreção de ácido úrico (por ex. probenecida, sulfimpirazona).Portanto, Aspirina® não deverá ser usada sem orientação médica com uma das substâncias citadas acima.Você deve evitar tomar bebidas alcoólicas durante o uso de Aspirina®.INFORME AO MÉDICO OU CIRURGIÃO-DENTISTA O APARECIMENTO DE REAÇÕES INDESEJÁVEIS, SE VOCÊ ESTÁ FAZENDO USO DE ALGUM OUTRO MEDICAMENTO OU ESTIVER TOMANDO ASPIRINA® ANTES DE QUALQUER CIRURGIA.COMO DEVO USAR ESTE MEDICAMENTO?Aspecto físico: Aspirina® é um comprimido redondo e branco. Características organolépticas: Aspirina® é um comprimido com leve cheiro característico. DOSAGEM Adultos: recomendam-se 1 a 2 comprimidos, se necessário repetidos a cada 4 a 8 horas.Não se deve tomar mais de 8 comprimidos por dia. Crianças a partir de 12 anos: 1 comprimido, se necessário repetido a cada 4 a 8 horas. Não se deve administrar mais de 3 comprimidos por dia. Em pacientes com mau funcionamento do fígado ou dos rins, deve-se diminuir as doses ou aumentar o intervalo entre elas. Como usar: os comprimidos de Aspirina® devem ser tomados com líquido, se possível após a ingestão de alimentos. Não tome Aspirina® com o estômago vazio.Duração do tratamento: Aspirina® é indicado para o alívio de sintomas ocasionais. Não trate dor ou febre com Aspirina® por mais de 3 ou 4 dias sem consultar seu médico ou dentista. SIGA CORRETAMENTE O MODO DE USAR. NÃO DESAPARECENDO OS SINTOMAS, PROCURE ORIENTAÇÃO MÉDICA OU DE SEU CIRURGIÃO-DENTISTA.NÃO USE MEDICAMENTO COM PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. ANTES DE USAR, OBSERVE O ASPECTO DO MEDICAMENTO.QUAIS OS MALES QUE ESTE MEDICAMENTO PODE CAUSAR?Como qualquer medicamento, Aspirina® pode provocar os seguintes efeitos indesejáveis:Efeitos comuns: dor de estômago e sangramento gastrintestinal leve (micro-hemorragias).Efeitos ocasionais: náuseas, vômitos e diarréia.Casos raros: podem ocorrer sangramentos e úlceras do estômago, reações alérgicas em que aparece dificuldade para respirar e reações na pele, principalmente em pacientes asmáticos e anemia após uso prolongado, devida a sangramento oculto no estômago ou intestino.Casos isolados: podem ocorrer alterações da função do fígado e dos rins, queda do nível de açúcar no sangue e reações cutâneas graves. Doses baixas de ácido acetilsalicílico reduzem a excreção de ácido úrico e isso pode desencadear ataque de gota em pacientes susceptíveis.O uso prolongado pode causar distúrbios do sistema nervoso central, como dores de cabeça, tonturas, zumbidos, alterações da visão, sonolência ou anemia devida a deficiência de ferro.Se ocorrer qualquer uma dessas reações indesejáveis ou ao primeiro sinal de alergia, você deve parar de tomar Aspirina®. Informe o médico, que decidirá quais medidas devem ser adotadas.Se notar fezes pretas, informe o médico imediatamente, pois é sinal de séria hemorragia no estômago. O QUE FAZER SE ALGUÉM USAR UMA GRANDE QUANTIDADE DESTE MEDICAMENTO DE UMA SÓ VEZ?Se alguém tomar uma dose muito grande, poderão ocorrer efeitos indesejáveis, como tontura e zumbido, sobretudo em crianças e idosos. Esses sintomas podem indicar envenenamento grave.No caso de superdose, contate seu médico, que decidirá sobre as medidas necessárias de acordo com a gravidade da intoxicação. Se possível, leve a embalagem com os comprimidos. ONDE E COMO DEVO GUARDAR ESTE MEDICAMENTO?Os comprimidos devem ser guardados na embalagem original, em temperatura ambiente (15 - 30°C). Os comprimidos devem ser protegidos da umidade; portanto, só devem ser retirados da embalagem na hora de tomar.

TODO MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS.Registro M.S. 1.0429.0002 - Farm. Resp.: Braulio Lordêllo - CRF-SP 9496Fabricado en calle 8 e/ 3 y 5, Pque. Ind. Pilar por Bayer S.A., R. Gutiérrez 3652, (B1605EHD), Munro, Pcia. de Bs. As. Argentina. Importado e distribuído por Bayer S.A. - Rua Domingos Jorge, 1000São Paulo, SP - CNPJ 14.372.981/0001-02 VENDA SEM PRESCRIÇÃO MÉDICALote, datas de fabricação e validade: vide cartucho.

Bayer S.A. Diseño Material Envase EmpaqueProducto: Medidas: Pelíc. por juego:Código Material: Código Plano: Código de Barras:Código Visual:

Pro ASPIRINA 0.5 BR.130 x 220 mm.1 pelíc. = 1 color.nº: 80203021.nº: nº:

Farmacode:

Fecha Corrección: 16/02/07.

P. Green CVC

nº: nº: 43.

Disposición/OE:nº: ME 05/021.nº: CCDS 14.1.2002

C.C.M.E.:

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FORMA FARMACÊUTICA E APRESENTAÇÕESAspirina® Prevent é apresentada na forma de comprimidos de liberação entérica com revestimento resistente a ácido (comprimidos gastrorresistentes), nas dosagens de 100 e 300 mg de ácido acetilsalicílico, em embalagens com 30 comprimidos. USO ADULTOUSO ORALCOMPOSIÇÃO100 mg - cada comprimido contém 100 mg de ácido acetilsalicílico.300 mg - cada comprimido contém 300 mg de ácido acetilsalicílico.Excipientes: celulose, amido, ácido metacrílico, laurilsulfato de sódio, polissorbato, talco e citrato de trietila.

INFORMAÇÕES AO PACIENTE

1. Como este medicamento funciona?Aspirina® Prevent contém a substância ativa ácido acetilsalicílico. O ácido acetilsalicílico tem, entre outras, a capacidade de evitar o agrupamento das plaquetas, componentes do sangue que agem na formação dos coágulos sangüíneos.Ao inibir o agrupamento das plaquetas, o ácido acetilsalicílico previne a formação de coágulos (trombos) nos vasos sanguíneos, evitando assim certas doenças cardiovasculares.

2. Por que este medicamento foi indicado?Aspirina® Prevent é indicada para diminuir o agrupamento das plaquetas, principalmente:• na angina de peito instável (dor no peito causada pela má circulação do sangue

nas artérias coronárias);• no infarto agudo do miocárdio;• para redução do risco de novo infarto em doentes que já sofreram infarto

(prevenção de reinfarto);• após cirurgias ou outras intervenções nas artérias (por exemplo, cirurgia de ponte

de safena);• para evitar a ocorrência de distúrbios transitórios da circulação cerebral (ataque de

isquemia cerebral transitória) e de infarto cerebral após as primeiras manifestações (paralisia transitória da face ou dos músculos dos braços ou perda transitória da visão).

Nota: Este medicamento não é adequado para o tratamento da dor.

3. Quando não devo usar este medicamento?ContraindicaçõesNão tome Aspirina® Prevent se:• for alérgico ao ácido acetilsalicílico ou a salicilatos ou a qualquer dos ingredientes

do medicamento (se não tiver certeza se é alérgico ao ácido acetilsalicílico, consulte o seu médico);

• tiver tendência para sangramentos;• tiver úlceras do estômago ou do intestino (úlceras gastrintestinais agudas);• já teve crise de asma induzida pelo uso de salicilatos ou outras substâncias

semelhantes, especialmente antiinflamatórios não-esteroidais;• estiver em tratamento com metotrexato em doses iguais ou superiores a 15 mg

por semana;• tiver uma insuficiência grave do fígado;• tiver uma insuficiência grave dos rins;• tiver uma insuficiência grave do coração;• estiver no último trimestre de gravidez (veja item “Gravidez e amamentação”). AdvertênciasNos casos seguintes Aspirina® Prevent só deve ser usada em caso de absoluta necessidade e sob cuidados especiais. Consulte um médico se alguma das situações abaixo for o seu caso ou já se aplicou no passado. O uso de Aspirina® Prevent requer cuidados especiais nas seguintes condições:• alergia a outros medicamentos analgésicos, antiinflamatórios e anti-reumáticos ou

presença de outras alergias;• uso de medicamentos anticoagulantes; • úlceras gastrintestinais, incluindo crônicas ou recorrentes ou sangramento

gastrintestinal;• mau funcionamento do fígado;• em pacientes com problema nos rins ou pacientes com problema na circulação

cardiovascular (por exemplo, doença vascular renal, insuficiência cardíaca congestiva, diminuição do volume sanguíneo circulante, cirurgia importante, septicemia ou evento hemorrágico importante), uma vez que o ácido acetilsalicílico pode aumentar o risco de problema nos rins ou insuficiência renal aguda;

• em pacientes que sofrem de deficiência grave de uma enzima chamada glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), o ácido acetilsalicílico pode induzir a hemólise (ruptura dos glóbulos vermelhos) ou anemia hemolítica. Fatores que podem aumentar o risco de hemólise são, por exemplo, altas doses, febre ou infecções agudas;

O ibuprofeno pode interferir nos efeitos inibitórios do ácido acetilsalicílico sobre a agregação plaquetária. Informe seu médico caso você tome ibuprofeno para o alívio da dor (veja item “Interações medicamentosas”).

Gravidez e amamentaçãoGravidezA inibição da síntese de prostaglandinas pode afetar adversamente a gravidez e/ou o desenvolvimento embrio/fetal. Dados de estudos epidemiológicos consideram a

possibilidade de aumento do risco de aborto e de malformações após o uso de inibidores da síntese de prostaglandinas no início da gravidez. Acredita-se que o risco aumente com a dose e a duração do tratamento. Os dados disponíveis não revelam nenhuma associação entre o uso do ácido acetilsalicílico e o aumento do risco de aborto. Os dados epidemiológicos disponíveis para o ácido acetilsalicílico, sobre malformações, não são consistentes, mas não se pode excluir o aumento do risco de gastrosquise.Um estudo prospectivo com de cerca de 14.800 pares mãe-filho expostos precocemente durante a gestação (1° ao 4° mês) não demonstrou qualquer associação com um índice elevado de malformações.Estudos em animais demonstram toxicidade reprodutiva . Não se recomenda o uso de medicamentos que contenham ácido acetilsalicilico durante o primeiro e o segundo trimestres de gravidez, a menos que seja realmente necessário. Em caso de necessidade de uso destes medicamentos por mulheres que pretendam engravidar ou durante o primeiro e o segundo trimestres de gravidez, as doses e a duração do tratamento devem ser as menores possíveis.Durante o terceiro trimestre de gravidez, todos os inibidores da síntese de prostaglandinas podem expor: - o feto a:• toxicidade cardiopulmonar (com fechamento prematuro do ducto arterioso e

hipertensão pulmonar);• disfunção renal, que pode progredir para insuficiência renal, com oligohidroaminose.- a mãe e a criança no final da gestação a:• possível prolongamento do tempo de sangramento, um efeito antiagregante que

pode ocorrer mesmo após doses muito baixas;• inibição das contrações uterinas levando a atraso ou prolongamento do trabalho

de parto.Consequentemente, o ácido acetilsalicílico é contraindicado durante o terceiro trimestre de gestação.Amamentação:Os salicilatos e seus metabólitos passam para o leite materno em pequenas quantidades. Como não foram observados até o momento efeitos adversos no lactente após uso eventual, em geral é desnecessária a interrupção da amamentação. Entretanto, com o uso regular ou ingestão de altas doses, a amamentação deve ser descontinuada precocemente.Crianças e adolescentesCRIANÇAS OU ADOLESCENTES NÃO DEVEM USAR ESTE MEDICAMENTO PARA CATAPORA OU SINTOMAS GRIPAIS ANTES QUE UM MÉDICO SEJA CONSULTADO SOBRE A SÍNDROME DE REYE, UMA RARA, MAS GRAVE DOENÇA ASSOCIADA A ESTE MEDICAMENTO.

PrecauçõesO ácido acetilsalicílico pode desencadear broncoespasmo (crise de falta de ar) e induzir ataques de asma ou outras reações de hipersensibilidade. Os fatores de risco são: a presença de asma preexistente, febre do feno, pólipos nasais ou doença respiratória crônica. Esse conceito aplica-se também aos pacientes que apresentem reações alérgicas (por exemplo, reações cutâneas, prurido e urticária) a outras substâncias.O ácido acetilsalicílico pode aumentar o sangramento durante e após cirurgias (inclusive cirurgias de pequeno porte, como por exemplo, extração dentária).O ácido acetilsalicílico pode desencadear crises de gota em pacientes predispostos.Condução de veículos e utilização de máquinasAspirina® Prevent não afeta a capacidade de dirigir veículos ou operar máquinas.

Interações medicamentosasUso de Aspirina® Prevent com outros medicamentosAlgumas substâncias podem ter seu efeito alterado se tomadas com Aspirina® Prevent ou podem influenciar o seu efeito. Esses efeitos também podem estar relacionados com medicamentos tomados recentemente.Aspirina® Prevent aumenta:• o efeito de medicamentos anticoagulantes;• o risco de hemorragia gastrintestinal se for tomada com álcool ou outros

antiinflamatórios não-esteroidais e inibidores seletivos da recaptação de serotonina; • o efeito de certos medicamentos usados para baixar a taxa de açúcar no sangue

(como a insulina e as sulfonilureias);• os efeitos indesejados do metotrexato (aumento da toxicidade hematológica);• o nível sanguíneo de digoxina;• aumento da toxicidade do ácido valproico. Aspirina® Prevent diminui a ação de:• certos medicamentos que aumentam a excreção de urina;• alguns medicamentos para baixar a pressão arterial;• medicamentos para o tratamento da gota, que aumentam a excreção de ácido úrico.O ibuprofeno pode interferir nos efeitos benéficos de Aspirina® Prevent. Os pacientes que estiverem sob tratamento com ácido acetilsalicílico e tomarem ibuprofeno para o alívio de dor devem informar seus médicos. Portanto, Aspirina® Prevent não deverá ser usada sem orientação médica junto com uma das substâncias acima.Deve-se evitar tomar bebidas alcoólicas durante o uso de Aspirina® Prevent. Glicocorticoides sistêmicos, exceto hidrocortisona usada como terapia de reposição na doença de Addison: diminuição dos níveis de salicilato plasmático durante o tratamento com corticosteroides e risco de superdose de salicilato após interrupção do tratamento, por aumento da eliminação de salicilatos pelos corticosteroides.INFORME AO MÉDICO O APARECIMENTO DE REAÇÕES INDESEJÁVEIS.

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INFORME AO SEU MÉDICO SE VOCÊ ESTÁ FAZENDO USO DE ALGUM OUTRO MEDICAMENTO OU SE ESTIVER TOMANDO ASPIRINA® PREVENT ANTES DE QUALQUER CIRURGIA. NÃO USE MEDICAMENTO SEM O CONHECIMENTO DO SEU MÉDICO. PODE SER PERIGOSO PARA SUA SAÚDE.

4. Como devo usar este medicamento?Aspecto físico: Aspirina® Prevent é um comprimido redondo e branco.Características organolépticas: Aspirina® Prevent é um comprimido sem cheiro. DosagemDeve-se tomar a quantidade de comprimidos indicada pelo médico, nas seguintes situações:• Infarto agudo do miocárdio: uma dose inicial de 100 a 300 mg é administrada

assim que houver suspeita de infarto do miocárdio. A dose de manutenção é de 100 mg a 300 mg por dia por 30 dias após o infarto. Após 30 dias deve–se considerar terapia adicional para prevenção de novo infarto. Por serem comprimidos com revestimento gastrorresistente, para esta indicação a dose inicial deve ser mastigada para obter a absorção rápida.

• Antecedente de infarto do miocárdio: 100 a 300 mg por dia.• Prevenção secundária de derrame: 100 a 300 mg por dia. • Em pacientes com ataques isquêmicos transitórios (AIT): 100 a 300 mg por dia.• Em pacientes com angina de peito estável e instável: 100 a 300 mg por dia.• Prevenção do tromboembolismo após cirurgia vascular ou intervenções: 100 a

300 mg por dia.• Prevenção de trombose venosa profunda e embolia pulmonar: 100 a 200 mg por

dia ou 300 mg em dias alternados.• Redução do risco de primeiro infarto do miocárdio: 100 mg por dia ou 300 mg em

dias alternados.Como UsarTomar os comprimidos com bastante líquido, de preferência antes das refeições.SIGA A ORIENTAÇÃO DE SEU MÉDICO, RESPEITANDO SEMPRE OS HORÁRIOS, AS DOSES E A DURAÇÃO DO TRATAMENTO.Duração do tratamentoNÃO INTERROMPA O TRATAMENTO SEM O CONHECIMENTO DO SEU MÉDICO.NÃO USE MEDICAMENTO COM PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. ANTES DE USAR, OBSERVE O ASPECTO DO MEDICAMENTO.

5. Quais os males que este medicamento pode causar?As reações adversas listadas são baseadas em relatos espontâneos pós-comercialização com todas as formulações de aspirina, incluindo tratamento oral de curto e longo prazo, assim, a organização de acordo com as categorias de frequências CIOMS III não se aplica.Distúrbios do trato gastrintestinal superior e inferior, tais como sinais e sintomas comuns de indisposição estomacal, dor abdominal e gastrintestinal. Raramente inflamação e úlcera gastrintestinal, potencialmente, mas muito raramente levando a úlcera gastrintestinal com sangramento e perfuração, com os respectivos sinais e sintomas clínicos e laboratoriais.Devido ao seu efeito inibitório sobre as plaquetas, o ácido acetilsalicílico pode ser associado ao aumento do risco de sangramento. Observaram-se sangramentos tais como hemorragia perioperatória, hematomas, sangramento nasal, sangramento do aparelho urinário/genital e sangramento da gengiva. Foram raros a muito raros os relatos de sangramentos graves, como hemorragia do trato gastrintestinal, hemorragia cerebral (especialmente em pacientes com pressão alta não controlada e/ou em uso concomitante de anti-hemostáticos), que em casos isolados podem apresentar potencial risco para a vida do paciente.Hemorragia pode resultar em anemia pós-hemorrágica/ anemia por deficiência de ferro (devido a, por exemplo, micro sangramento oculto) aguda e crônica, com respectivos sinais e sintomas clínicos e laboratoriais, como fraqueza, palidez e hipoperfusão.Hemólise e anemia hemolítica foram relatadas em pacientes com forma grave de deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD).Foram relatados problemas nos rins e insuficiência renal aguda.Reações alérgicas com suas respectivas manifestações clínicas e laboratoriais inclusive síndrome asmática, reações leves a moderadas que potencialmente afetam a pele, trato respiratório, trato gastrintestinal e sistema cardiovascular, incluindo sintomas como eritema, urticária, inchaço, coceira, rinite, congestão nasal, dificuldade cardiorrespiratória e muito raramente, reações graves, incluindo choque anafilático.Relatou-se muito raramente mau funcionamento do fígado com aumento das transaminases hepáticas.Relataram-se tontura e zumbido, que podem ser indicativos de superdose.

6. O que fazer se alguém usar uma grande quantidade deste medicamento de uma só vez?

A toxicidade por salicilatos (>100 mg/kg/dia por mais de 2 dias pode provocar toxicidade) pode ser resultado de intoxicação crônica terapeuticamente adquirida e de intoxicações agudas (superdose) com potencial risco para a vida do paciente, variando de ingestão acidental em crianças a intoxicações eventuais. A intoxicação crônica por salicilatos pode ser insidiosa, visto que pode apresentar sinais e sintomas não específicos. A intoxicação crônica leve por salicilato, ou salicilismo, ocorre normalmente apenas após o uso repetido de doses elevadas. Os sintomas incluem tontura, vertigem, zumbido, surdez, transpiração excessiva, náusea, vômito, dor de cabeça e confusão, e podem ser controlados com a redução da dose. Zumbidos podem ocorrer em concentrações plasmáticas de 150 a 300 microgramas/ml. Reações adversas mais graves ocorrem nas concentrações acima de 300 microgramas/ml.A principal manifestação da intoxicação aguda é um distúrbio grave do equilíbrio ácido/base que pode variar de acordo com a idade e a gravidade da intoxicação. A acidose metabólica é a forma mais comum entre as crianças.A gravidade da intoxicação não pode ser estimada apenas pela concentração plasmática. A absorção do ácido acetilsalicílico pode ser retardada devido à redução do esvaziamento gástrico, formação de concreções no estômago, ou como resultado

da ingestão de preparações com revestimento gastrorresistentes. O tratamento da intoxicação por ácido acetilsalicílico é determinado pela sua extensão, estágio e sintomas clínicos e de acordo com as técnicas de tratamento padrão para intoxicação. Dentre as principais medidas deve–se acelerar a eliminação do medicamento bem como o restabelecimento do metabolismo ácido/base e eletrolítico.Devido aos complexos efeitos fisiopatológicos da intoxicação por salicilatos, sinais e sintomas / achados de investigações podem incluir:

Sinais e Sintomas Achados de investigações Medidas TerapêuticasIntoxicação leve a moderada

Lavagem gástrica, administração repetida de carvão ativado, diurese alcalina forçada

Respiração acelerada, hiperventilação, alcalose respiratória

Alcalose, alcalúria Monitoramento de fluidos e eletrólitos

TranspiraçãoNáusea e vômitoIntoxicação moderada a grave

Lavagem gástrica, administração repetida de carvão ativado, diurese alcalina forçada, hemodiálise em casos graves

alcalose respiratória com acidose metabólica compensatória

Alcalose, acidúria Monitoramento de fluidos e eletrólitos

Febre muito alta Monitoramento de fluidos e eletrólitos

Respiratórios: variando de hiperventilação, edema pulmonar não cardiogênico à parada respiratória, asfixiaCardiovasculares: variando de disritmia, pressão sanguínea baixa à parada cardíaca

Por exemplo: Pressão arterial, alteração do eletrocardiograma

Perdas de fluidos e eletrólitos: desidratação, baixo volume urinário

Por exemplo: Potássio sanguíneo baixo, sódio sanguíneo alto, sódio sanguíneo baixo, função renal alterada

Monitoramento de fluidos e eletrólitos

Alteração do metabolismo da glicose, cetose

Glicose sanguinea alta, Glicose sanguinea baixa (principalmente em crianças)Aumento dos níveis de cetona

Zumbidos, surdez Gastrintestinal: sangramentos gastrintestinaisHematológicos: variando de inibição plaquetária à alteração na coagulação sanguínea

Por exemplo: prolongamento do tempo de protrombina, hipoprotrombinemia

Neurológico: encefalopatia tóxica e depressão do Sistema Nervoso Central com manifestações que variam de letargia, confusão a coma e convulsões.

7. Onde e como devo guardar este medicamento?Os comprimidos devem ser guardados na embalagem original, em temperatura ambiente (entre 15°C e 30°C). Os comprimidos devem ser protegidos da umidade, portanto só devem ser retirados da embalagem na hora de tomar.TODO MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS.MS - 1.7056.0022Farm. Resp.: Dra. Dirce Eiko Mimura CRF-SP n° 16532Fabricado por: Bayer Schering Pharma AG Leverkusen - AlemanhaImportado por: Bayer S.A. Rua Domingos Jorge, 1.10004779-900 - Socorro - São Paulo - SPC.N.P.J. n° 18.459.628/0001-15www.bayerscheringpharma.com.brSAC 0800 [email protected] sob prescrição médicaLote, datas de fabricação e validade: vide cartucho. VE0311-CCDS5

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ANEXO 3

TABELA DE ALERTAS DA RDC Nº 96/2008