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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
ELIANA CRISTINA ZANETTE CIPRIANO
Movimentos Identitários Docentes: “ecos” de um projeto pedagógico na
constituição profissional de professores de uma escola da rede municipal de
ensino
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
SÃO PAULO
2013
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Movimentos Identitários Docentes: “ecos” de um projeto pedagógico na
constituição profissional de professores de uma escola da rede municipal de
ensino
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção para o título de Mestre
em Educação do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Educação: Psicologia da
Educação, sob orientação da Profª. Drª. Vera
Maria Nigro de Souza Placco.
São Paulo
2013
Cipriano, Eliana Cristina Zanette.
Movimentos Identitários Docentes: “ecos” de um projeto pedagógico na constituição profissional de professores de uma escola da rede municipal de ensino/ Eliana Cristina Zanette Cipriano – 2013, 98 f.: il.
Dissertação (Mestrado em Educação) –
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Educação: Psicologia da Educação, 2013
Orientador: Profª Drª Vera Maria Nigro de Souza Placco
1.Movimento Identitário Docente 2. Formação Continuada 3. Relações Interpessoais - Dissertação. Profª Drª Vera Maria Nigro de Souza Placco (Orient.). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Programa de Pós Graduação em Educação. Título.
CDD: __________
ELIANA CRISTINA ZANETTE CIPRIANO
Movimentos Identitários Docentes: “ecos” de um projeto pedagógico na constituição
profissional de professores de uma escola da rede municipal de ensino
Banca Examinadora
_________________________________________________________
Orientadora Profª. Drª. Vera Maria Nigro de Souza Placco
________________________________________________________
Profª. Drª.Laurinda Ramalho de Almeida – PUC-SP
_______________________________________________________
Profª. Drª.Marili Moreira da Silva Vieira – Mackenzie/SP
Agradecimentos
Tantas foram as pessoas que direta ou indiretamente participaram da elaboração
deste trabalho que espero não esquecer de ninguém.
Antes de tudo, agradeço pela oportunidade de ter como orientadora uma pessoa
maravilhosa, paciente, pontual, amiga, compreensiva, carinhosa e indescritivelmente
sábia. Obrigada à Dra. Vera Placco, se não fosse pela insistência e compreensão
dela, talvez não tivesse chegado até aqui. O aprendizado que levo e o modelo de
professora comprometida me fazem uma pessoa e uma profissional melhor.
Aos meus pais fantásticos. Que mesmo depois de adulta ainda me ajudam, olhando
meus filhos enquanto estudava ou escrevia. Obrigada pela vida e pelo amor que me
proporcionam sempre.
Ao meu marido, Renato e meus filhos, Bárbara e Gabriel. Que compreenderam
minha necessidade de reclusão nos vários momentos dessa trajetória.
Às amigas, Rosangela Leite Domingues, Flávia Liba, Sandra Smaniotto, pelo
incentivo a buscar o mestrado e realizar um sonho. Aos amigos e amigas do
mestrado, que juntos trilhamos um caminho de conhecimento e amizade.
À Helena Lima e em especial a Rafael Conde pelos conselhos, dicas, revisões e
trocas literárias maravilhosas.
Às professoras Dras. Laurinda Almeida e Marili Vieira pelo carinho e aprendizado
permitidos em suas aulas e na banca de qualificação.
Agradeço ao CNPQ pelo apoio financeiro, que facilitou a conclusão deste trabalho.
CIPRIANO, E.C.Z. Movimentos Identitários Docentes: “ecos” de um projeto
pedagógico na constituição profissional de professores de uma escola da rede
municipal de ensino. Dissertação (Mestrado). Educação: Psicologia da Educação.
Pontifícia Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013. p.98
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo identificar aspectos presentes no movimento de constituição identitária de professoras, partindo da perspectiva das compreensões destas quanto às atribuições e pertenças emergentes das situações vividas na formação e das possíveis crises ocorridas diante das circunstâncias de mudança. Para tanto, questionou-se em que medida um trabalho importante para uma escola, num determinado período de gestão pedagógica, permanece na prática das professoras, refletindo-se em comportamentos que revelem a adesão e ressignificação das práticas em sua constituição identitária, mesmo após mudanças ocorridas no sistema de ensino e na gestão da escola. Foram utilizados como referencial teórico os estudos sobre constituição identitária de Dubar (1998, 2005, 2009 e 2011). No campo da formação continuada docente, fundamentou-se em Placco (2001, 2002, 2006, 2008 e 2010), Imbernón (2010), Tardif (2000 e 2011), Almeida (2002 e 2003), entre outros. Utilizou-se como instrumentos de pesquisa entrevistas semi-estruturadas, realizadas com três professoras do ensino fundamental das séries iniciais de uma escola da rede municipal de uma cidade do interior de São Paulo e que participaram das mudanças ocorridas na estrutura pedagógica dessa unidade no período de 2005 a 2012. A análise dos dados possibilitou constatar o quanto um trabalho de formação continuada pode permanecer na prática das professoras, conferindo a estas elementos importantes que ecoam em suas constituições identitárias, mesmo após mudanças ocorridas na gestão da escola e na implementação de um material didático. Defende-se que um trabalho de formação intencionado e levado a sério pelos professores e equipe gestora gera processos identitários marcantes.
PALAVRAS-CHAVE: Movimento Identitário Docente; Formação Continuada; Relações Interpessoais
CIPRIANO, E.C.Z. Movimentos Identitários Docentes: “ecos” de um projeto
pedagógico na constituição profissional de professores de uma escola da rede
municipal de ensino. Dissertação (Mestrado). Educação: Psicologia da Educação.
Pontifícia Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013. p.98
Abstract
This research aimed to identify the present features in the movement of identity
formation of elementary school teachers, starting from the perspective of their
comprehension in respect of the attributions and belongings emerging from the
situations lived in their training process and from possible crisis which happened in
circumstances of change. For this aim, we questioned in what measure an important
project for a school, in a specific time of the educational management, remained in
the practices of the teachers reflecting themselves in behaviors that show accession
and reframing of these practices in the constitution of their identities, even after
changes occurred in the educational system and in the school management. There
has been used as theoretical reference the studies regarding the identity constitution
in Dubar (1998, 2005, 2009 and 2011). The realm of continued teacher training is
fundamented in Placco (2001, 2002, 2008 and 2010), Imbernón (2010), Tardif (2000
and 2011), Almeida (2002 and 2003) and others. The research instruments were
semi-structured interviews performed with 3 teachers from the first cycles of an
elementary municipal school in the interior of Sao Paulo state. These teachers took
part in educational structure changes of this unity from 2005 to 2012. The analysis of
the data enabled to find out how a continued training project can remain in the
practices of the teachers. They can give them important elements that echo in their
identity constitution even after changes in the school management and in the
implementation of didactic material. It is defended that a purposed training project
which is taken seriously by the teachers and the training management team
generates outstanding identitary processes.
Key-words: Teacher Identity Movement; Continued Training; Interpersonal Relations.
SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................... 01
Capítulo 1– Marco Teórico ................................................................................. 10
1.1 - Levantamento Bibliográfico ......................................................................... 10
1.2.- Formação Continuada ................................................................................. 13
1.3.- O Trabalho Coletivo na Formação Continuada: identidades que se constituem pela via comunicacional .......................................................... 19
1.4.- Constituição da identidade docente na e pelas relações interpessoais ....... 26
Capítulo 2 – Metodologia .................................................................................... 31
2.1. - Contexto em que se desenvolve a pesquisa .............................................. 31
2.2. - Historicidade de um trabalho diferenciado ................................................. 34
2.3. - Instrumentos .............................................................................................. 47
2.4.- Perfil dos sujeitos e roteiro de entrevista ..................................................... 50
Capítulo 3 – Análise dos dados .......................................................................... 53
3.1 - Objetivos das categorias e subcategorias ................................................... 53
3.2 - Conhecendo as protagonistas da escola .................................................... 54
3.3 - O processo biográfico: a escolha, o início de carreira e as pessoas
significativas ............................................................................................. 57
3.4 O processo relacional: formação continuada, ser professor, atribuições e pertenças profissionais ........................................................ 63
3.5 - Movimento identitário docente: circunstâncias, crises e negociações identitárias ................................................................................................ 76
Capítulo 4 – Considerações Finais ..................................................................... 86
Bibliografia ......................................................................................................... 90
Apêndices .......................................................................................................... 93
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista piloto ......................................................... 93
APÊNDICE B - Roteiro final de entrevista semi-estruturada ............................... 95
APÊNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido .............................. 96
Anexos ............................................................................................................... 97
ANEXO A - PROJETO “Respeito de todo jeito” .................................................. 97
1
INTRODUÇÃO
Salvador Dali (1945)
COMEÇO A CONHECER-ME
Não existo.
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim.
Álvaro de Campos
2
O poema da Álvaro de Campos leva à reflexão sobre nosso ser, sobre como
chegamos até aqui/hoje e de que maneira nos constituímos. Há uma trajetória à qual
não se pode negar. Constituímo-nos desde embriões com os cuidados ou não de
cada mãe e passamos por inúmeros momentos de aprendizagens com outras
pessoas. Nossa existência é, como poetiza Álvaro de Campos, um intervalo entre o
que desejo ser e o que os outros me fizeram. Intervalo aqui utilizado não como um
espaço, mas como na definição musical, ou seja, é a relação entre a frequência de
duas notas. Os intervalos são classificados quanto à simultaneidade ou não dos
sons e à altura entre eles. Intervalo, pensando na constituição social do indivíduo, é
encarado como um limite (entre eu e o outro) e, ao mesmo tempo, uma relação
tênue entre dois elementos, neste caso, pessoas. Como na composição musical,
para ocorrer harmonia há que se ter intervalo entre as frequências das notas; assim
também na composição/constituição dos seres humanos enquanto sociais, há que
se ter o intervalo entre o que eu sou e o que eu quero ser, ser este compartilhado na
relação com vários outros indivíduos para poder me constituir socialmente.
Marcel Mauss, citado por Dubar (2009, p. 44), caracteriza a palavra latina
persona, que vem do grego (prosopon) e que significa “personagem que cada um é
e quer ser, seu caráter, sua verdadeira face”. O que sou e o desejo de querer ou não
ser alguém está vinculado aos locais por onde passamos, às pessoas com as quais
convivemos e às situações e relações com elas vividas. Compartilhamos destes
elementos e aprendemos com eles em nosso dia a dia e são eles que nos
constituem enquanto seres em constante construção.
A intenção de trazer este poema é a sincronia dele com as colocações de Rui
Canário, que, por sua vez, remete a outros autores para elaborar e abordar o
assunto sobre a constituição identitária, neste caso, a do professor. Num dos
trabalhos de Canário, coloca a escola como lugar onde os professores aprendem.
Corresponde essa aprendizagem a um percurso pessoal e profissional de cada professor, no qual se articulam, de maneira indissociável, dimensões pessoais, profissionais e organizacionais, o que supõe a combinação permanente de muitas e diversificadas formas de aprender. (CANÁRIO, 1998)
O autor coloca a importância da reinvenção de novos modos de socialização
profissional na formação docente de qualidade. Sinaliza a necessidade de se
priorizar a organização e a intenção no processo de formação de professores.
3
Retomo aqui o trecho do poema de Álvaro de Campos: “Sou o intervalo entre o que
desejo ser e o que os outros me fizeram” – nos tornamos professores na relação
entre profissionais da educação e se esta relação não estiver pautada numa
intenção e organização, a formação deste professor se perde no tempo e espaço,
resultando apenas no desejo de ser professor. Mesmo que este processo se dê de
forma não sistematizada, organizada pelos gestores de uma escola ou secretaria de
educação, ele pode ocorrer na relação com os pares, no entanto, a intenção e a
reflexão sobre sua prática devem ser levadas em conta.
Dialogando com o poema, o professor só passa a existir como profissional
docente quando inicia suas atividades numa instituição educacional e muitas vezes
se dá conta de que é esse profissional quando, de alguma forma, articula sua
trajetória de vida às suas aprendizagens com seus alunos, pares e superiores. Foi
assim que ocorreu com esta pesquisadora.
Minha trajetória pessoal e profissional passou por várias fases e
transformações. As relações estabelecidas na infância escolar e na adolescência me
estimularam a pensar na possibilidade de uma educação mais humana. Os
professores que admirava construíram boas relações comigo e com o propósito de
ensinar. Tinham paixão pelo que faziam e levavam seus alunos ao verdadeiro sabor
do conhecimento. A relação com a profissionalidade docente teve início em 1987, ao
término do magistério, como estagiária numa escola estadual. De bibliotecária a
merendeira, fazia tudo o que era possível, dentro da instituição escolar, para que
professores e alunos pudessem seguir suas rotinas. Logo em seguida, passei no
concurso para lecionar na rede estadual. Naquela época, não tinha orientação sobre
os caminhos que poderia trilhar para meu crescimento profissional. Tudo era
construído primeiro no individual, depois no coletivo. As diretrizes eram aquelas e
não se falava em mudá-las; apenas segui-las importava. Como sempre fui
questionadora, não aceitava que tínhamos de seguir todo ano a mesma
programação, com as mesmas estratégias, pois a cada ano os alunos eram outros,
com outras necessidades. Não fiquei muito tempo. Pedi exoneração no ano em que
houve a reforma da municipalização na Educação Básica.
Fui trilhar outros caminhos. Da turma do Magistério, fui a única que não
escolheu a Pedagogia como formação superior. Pensava em fazer diferença com
4
uma formação que pudesse complementar o Magistério, por isso optei pela
Psicologia. Amei o curso e fui para área clínica, orientada pelos professores da
faculdade. Segundo estes e naquela época, disseram-me que não era interessante
optar por Psicologia Educacional, pois esta área estaria nas mãos dos orientadores
educacionais e dos pedagogos.
Já formada em psicologia, trabalhei em clínica como psicoterapeuta infantil
por pouco tempo. Sinceramente, não me sentia realizada, exceto quando surgia
paciente com dificuldades de aprendizagem. Sentia que o trabalho era excludente,
não gostava de atender uma pequena parcela da população. O que me move é
trabalhar com o grupo, o coletivo, o social. Inquieta, fechei a clínica e fui buscar um
lugar ao sol na instituição particular como psicóloga educacional. Eram
pouquíssimas escolas (três) de minha cidade que ofereciam este trabalho, por isso
minha caminhada não foi nada fácil. Porém, um pouco de coragem me fez aceitar
uma vaga como professora na Educação Infantil. Quase desisti na primeira semana.
No entanto, além de ser questionadora, adorava e adoro desafios; assim o aceitei.
Não demorou pra surgir uma oportunidade de implementar o setor de Psicologia
Educacional neste colégio.
O desafio foi grande, pois a instituição não conhecia a atuação do psicólogo
educacional e a confiança foi a dimensão mais trabalhada por mim para que fossem
aceitos os propósitos do trabalho. Conquistei um respeito muito grande através das
relações interpessoais estabelecidas e cultivadas, principalmente com os
professores e realizei ótimos projetos com alunos, professores e pais. Permaneci e
pertenci a esta instituição por dez anos. Foi um grande aprendizado em minha vida
profissional e pessoal.
Após este período, além de esposa e mãe de duas crianças maravilhosas, fui
coordenadora pedagógica de um projeto em tecnologia educacional em oitenta
escolas da prefeitura de minha cidade. Este foi outro momento de grande desafio e
novas aprendizagens em minha vida. Tive uma tutora que me orientava e cobrava
muito. Ela foi fundamental no meu processo de formação e constituição desse novo
papel, o de coordenadora pedagógica. Dois fatores determinaram mudanças em
minha constituição como pessoa e como profissional: o desafio em lidar com a
tecnologia e o aprendizado de gerir pessoas. Passava mais de doze horas diárias
5
trabalhando para dar conta das novas demandas profissionais. Nunca cresci tanto
em tão pouco tempo. Penso que as relações que estabeleci com gestores e
professores nessas escolas foi o pilar de sustentação para meu desenvolvimento
profissional.
Nesta fase, meus filhos eram pequenos (1 e 3 anos) e estar presente mais
tempo do dia na vida deles passou a ser uma meta que queria cumprir a qualquer
custo. Aprendi muito nesta fase, mas aprendi também que não posso ser tudo ao
mesmo tempo e, antes que os problemas de saúde piorassem, pedi demissão. Data
difícil de esquecer, pois, neste mesmo dia, meu marido recebeu uma proposta de
trabalho desafiadora: implementar um projeto de qualidade na filial da empresa que
trabalha, porém na França.
Mudar de país era algo que nunca havia pensado. Foram dois anos de
grandioso aprendizado: idioma, cultura e convívio social. Foi uma reconstrução
diária de nós mesmos. Tudo era muito novo e diferente. Era a oportunidade de estar
mais tempo com meus filhos pequenos, se não fosse o fato deles estudarem o dia
todo.
Resolvi desenvolver então meu lado profissional o mais que podia. Busquei
explorar mais a cidade em que habitava e, através das relações interpessoais lá
construídas, fui convidada a trabalhar em um Centro Social para desenvolver um
trabalho social com mulheres e crianças. Foi uma experiência indescritível.
Paralelo a esse trabalho, lecionei português para diretor e gerentes
empresariais em uma escola de línguas de uma cidade vizinha. Mesmo aprendendo
muito com estas experiências, queria desfrutar do que aquele país poderia me
oferecer em termos de formação na área da Psicologia Educacional. Busquei uma
universidade e fui aluna ouvinte do curso de Educação da Faculdade de Saint-
Étienne, por alguns meses. Não fosse pela greve, que durou meses, teria
continuado. Não desisti, aguardei o término do ano letivo e me candidatei ao
mestrado em Educação, na Université Lumière II, em Lyon. Estava orgulhosa de
mim, pois fui uma das vinte e duas selecionadas dentre 180 candidatos (179
franceses) ao Master en Education.
6
Para alguém que não imaginava nem sair de sua cidade, percebo o quanto
conquistei e o quanto as relações interpessoais que se construíram ao meu redor
me levaram a estas experiências.
Em 2009, com a crise mundial, tive que lidar com uma grande decepção. Não
conclui o mestrado, pois tivemos que voltar para o Brasil, devido ao fechamento da
empresa em que meu marido trabalhava. Fato este que até hoje lamento muito. O
retorno às minhas raízes, à reconstrução de minha identidade profissional, fez-me
refletir sobre a vida, a profissional principalmente.
Faço aqui um empréstimo da leitura de Dubar (2005), o qual postula que é na
e pelas atividades com os outros que se revela um sentido no qual somos
identificados, e parte de cada um de nós aceitar ou recusar as identificações que
recebemos dos outros ou das instituições. Aceitei ao ser identificada pelos franceses
e pelas instituições pelas quais participei como “a brasileira comunicativa na
França”. Agora, como a vida é um recomeço constante, reinicio alguns caminhos
deixados no Brasil e inicio outros, nos quais me atribuem a identificação de “a
brasileira que morou na França”. Dessa identidade também me apropriei, pois as
trajetórias vividas por mim no e fora de meu país foram mais positivas do que
negativas.
Nesta reflexão, retomo o poema de Álvaro de Campos. A percepção que
tenho é que me construo a partir dos meus desejos e do que encontro no percurso,
ao buscar o que desejo. Como é bom conhecer-me.
Por falar em desejo, o maior deles, desde meu retorno ao Brasil, é ser mestre
em Educação, na área de Psicologia da Educação. Agora, mais madura e segura de
mim, escolho de acordo com meu desejo e intenção. Neste percurso, além do
conhecimento apropriado em cada aula, há o aprendizado dos saberes que vão
além-classe, saberes estes explicados por Tardif.
É necessário especificar também que atribuímos à noção de ‘saber’ um sentido amplo que engloba os conhecimentos, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes dos docentes, ou seja, aquilo que muitas vezes chamamos de saber, saber-fazer e de saber ser. (TARDIF, 2011, p 60)
Identifico estes saberes e percebo de que maneira eles se constroem em
mim, desde que iniciei minha vida profissional. Aprendo pelo processo de
observação, reflexão e ação. Este aspecto identifico também em vários de meus
7
alunos de pós-graduação, os quais afirmam que aprendem muito mais quando estão
atuando com seus alunos e nas oportunidades de trocas com seus pares e
superiores do que na fase em que cursavam Pedagogia.
Relaciono a trajetória de minha vida profissional, aludindo aos postulados de
Dubar (2005), o qual identifica como ponto de intersecção da constituição identitária,
a relação entre identidade biográfica - formada pelas relações que temos ao longo
de nossas vidas, nossa trajetória pessoal - e a identidade relacional - formada pela
interação com outros grupos (escola, trabalho...), aspecto formal, normatizado.
A relação entre estes dois processos de identificação, biográfico e relacional,
remete-me a reflexões sobre as dimensões circunstanciais e experienciais ocorridas
em minha vida, às construções e reconstruções do meu ser e, principalmente, como
nos constituímos nas e pelas relações que se estabelecem em nossas experiências
pessoais e profissionais.
Destas vivências, reflexões e inquietações nasceu o interesse em estudar a
influência das relações interpessoais no processo identitário docente, relações estas
estabelecidas entre gestores pedagógicos - diretor e coordenador - e professores no
ambiente escolar.
O interesse acima intensificou-se por ocasião de uma entrevista realizada em
2011 numa Escola de Educação Básica a respeito dos Movimentos Identitários de
Professores Iniciantes. Era uma pesquisa apoiada pela FAPESP e fazia parte de um
estudo de nosso grupo de pesquisa da disciplina da Profa. Dra. Vera Maria Nigro de
Souza Placco.
Nas entrevistas, observei que esta escola apresentava diferenciais
pedagógicos que despertaram curiosidade e uma possibilidade de pesquisa.
Considerei positivos estes aspectos e, portanto, favoráveis à realização de um
estudo sobre a dimensão biográfica e relacional no processo de formação contínua
em serviço.
Desta forma, o presente estudo teve seu início em novembro/dezembro de
2011, com o levantamento bibliográfico e a produção da fundamentação teórica.
Realizei duas entrevistas com professoras, nove observações de H.E. (Hora de
Estudo) e conversas com a coordenadora e diretor da escola municipal escolhida
8
para este estudo. Contudo, em novembro de 2012, na qualificação deste trabalho,
discutiu-se entre outros fatores, o tempo para realização deste estudo (possível para
um doutorado e não recomendado para o mestrado) e o direcionamento que a
entrevista trouxe em relação ao conteúdo a ser pesquisado. Assim, decidimos
reformular e redirecionar este estudo.
Mudar a rota do estudo, naquele momento da investigação, pareceu-me
assustador. No entanto, percebi que assim como minha trajetória profissional, as
mudanças são necessárias e benéficas e, as circunstâncias em que elas ocorrem
também o são e precisam ser repensadas e entendidas.
Compreendida a mudança na direção e aceita a nova atribuição, o propósito
da pesquisa passou a ser investigar como uma formação continuada pode
permanecer e influenciar a constituição identitária docente e os movimentos
identitários ocorridos nas diversas circunstâncias que envolvem o trabalho docente.
Diante desta proposta, coloco a questão que problematiza o estudo: “De que
maneira um trabalho realizado em uma escola municipal por uma gestão1
permanece na prática dos professores, traduzida em sua constituição identitária,
mesmo após mudança na gestão, nos processos de formação e a implementação de
um sistema didático pedagógico unificado na rede de ensino?”
Assim, traço os objetivos deste estudo:
Compreender a constituição do clima institucional da escola, por meio do
estudo do movimento de formação continuada, ocorrido no período de 2005 a
2012.
Identificar aspectos da constituição identitária de professores, da perspectiva
das compreensões destes quanto aos processos biográfico e relacional e aos
movimentos de atribuições e pertenças emergentes das situações vividas na
formação e das possíveis crises ocorridas diante das circunstâncias de
mudança.
1 Gestão ocorrida durante os anos de 2005 a 2009. A elaboração do projeto político pedagógico e o trabalho de formação de professores deste período está descrita em Metodologia.
9
Caracterizar as reações das professoras a respeito do material didático
implementado em 2010 na escola estudada – inserido em toda rede
municipal.
Para melhor organizar e estruturar este trabalho, inicio com a fundamentação
teórica escolhida e disposta em quatro eixos, a fim de sustentar este estudo. Em
seguida, apresento a metodologia que utilizo, assim como os sujeitos a serem
investigados. Por fim, realizo a análise dos dados que possibilitam estabelecer
relações entre a formação continuada e o que esta projeta (o direcionamento, as
circunstâncias, as crises, as mudanças no sistema pedagógico) e a constituição da
identidade docente.
10
CAPÍTULO 1
MARCO TEÓRICO
Este capítulo comporta quatro eixos, nos quais, a cada um, dedico um estudo
investigativo específico. Em Levantamento Bibliográfico, trago pesquisas realizadas
em teses e dissertações relacionadas ao problema aqui proposto. No entanto, as
contribuições destas pesquisas são abordadas no decorrer desta dissertação. Nos
eixos Formação Continuada e Trabalho Coletivo, Constituição da Identidade
Docente e, por fim, Movimentos Identitários, trago a fundamentação amparada em
autores como Imbernón, Tardif, Placco, Almeida e Dubar, indispensáveis para dar
sustentação a esta pesquisa.
1.1 - LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Inicio o estudo, partindo da busca sobre os temas inseridos na problemática
de pesquisa, à qual retomo: Em que medida um trabalho importante para uma
escola, num determinado período de gestão2, permanece na prática dos professores,
traduzida em sua constituição identitária, mesmo após mudanças radicais
acontecidas na escola e na rede de ensino?
Desta forma, fiz um levantamento bibliográfico sobre os temas: formação
continuada docente, constituição identitária do professor, identidade docente e
movimentos identitários docentes. Além do banco de dados digitais - Scielo e Capes
- estes quatro descritores foram pesquisados em literatura da área da psicologia
social e sociologia, com as quais me identifico.
O levantamento bibliográfico completo limitou-se ao período entre os anos de
2006 a 2012. No cruzamento das palavras-chaves mencionadas acima, encontrei 50
títulos entre dissertações e teses que apresentavam alguns destes descritores em
seus títulos. Do levantamento completo, selecionei dez trabalhos que continham em
seus descritores o conceito de identidade docente em consonância com a formação
continuada de professores.
2Período de 2005 a 2009 da gestão da diretora que implementou os projetos pedagógicos que foram diferenciais na rede de ensino municipal.
11
Na tabela 1, estão elencados os títulos, autores, ano de publicação e
referencial teórico do levantamento realizado. Após leitura dos resumos destas dez
pesquisas, selecionei cinco, identificadas em realce no quadro, das quais fiz uma
leitura mais apurada para verificar a possibilidade de contribuição para a pesquisa
em questão.
Tabela 1 - Levantamento Bibliográfico
Descritores: formação continuada docente; constituição identitária do
professor; identidade docente e movimentos identitários docentes
2006 a 2012
Titulo Pesquisador Publicação/
Instituição
Referencial
teórico
A construção da identidade
profissional docente: análise do
processo formativo de
professores dos anos iniciais do
ensino fundamental.
Viviane Ottonelli Costa 2009
Universidade do
Estado do Pará
Giddens,
Bauman, Ciampa
e Dubar
O processo de invenção de si: um
estudo sobre a construção
identitária de pedagogas em
formação.
Ana Maria Pereira
Aires
2009
Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte
Charlot,
Kaufmann,
Ferreira, Barbier
Tornar-se professor em uma
escola confessional: um estudo
sobre a constituição identitária
do professor na perspectiva da
dimensão da espiritualidade
Marili M. S. Vieira 2009
Pontifícia
Universidade
Católica de São
Paulo
Claude Dubar,
Zygmunt
Bauman, Berger
e Luckmann e
Placco
12
Dentre as pesquisas acima selecionadas, Ferreira (2006) investigou
professores a fim de analisar a construção identitária, a partir de seus relatos auto-
formativos e se fundamentou em teóricos (citados no quadro acima) que lhe deram
suporte para concluir que o professor se constitui como tal em meio a conflitos e
desafios. E essa construção identitária se dá no processo de movimento que cada
professor exerce no âmbito pessoal e profissional, sendo impossível separar o
pessoal do profissional. Os teóricos estudados por Ferreira diferem daqueles nos
A formação continuada na
construção da identidade
docente
Maria José Candido
Barbosa
2009
Universidade
Federal da Paraíba
Dubar,
Bourdoncle,
Fanfani, Ludke,
Mellouki e
Gauthier
Do ser professor das séries
iniciais: marcas identitárias na
atuação profissional
Ana Paula Alves
Marinho
2008
Universidade
Federal do Rio de
Janeiro
Claude Dubar,
Stuart Hall,
Kathryn
Woodward e
Tomaz Tadeu da
Silva
No fio da história: uma análise da
(re) construção identitária dos
professores, entrecruzando
tempos, memórias e espaços.
Gilson de Almeida
Pereira
2007
Pontifícia
Universidade
Católica do Rio
Grande do Sul
Erikson,
Bronfenbrenner,
Nóvoa e Damásio
O processo de constituição da
identidade docente: vozes de
professoras alfabetizadoras
Teresinha Gomes da
Silva
2007
Fundação
Universidade
Federal do Piauí
Vygotsky,
Leontiev, Wallon,
Ciampa, Nóvoa,
Gatti e Pimenta
Ser-professor: construção de
identidade em processo auto-
formativo.
Marília de Abreu
Ferreira
2006
Universidade
metodista de São
Paulo
Pimenta,
Brzezinski, Freire,
Vianna, Lane,
Sung, Nóvoa e
Ciampa
Trajetória de vida e docência:
construindo identidades
Vania Timotheo
Nogueira
2006
Universidade de
São Paulo
Vygotsky
Vivência docente na escola
pública: trajetória de uma
identidade profissional
Rosiane Maria Barros
Santos
2006
Universidade
Federal de Alagoas
Hall
13
quais me fundamento. No entanto, há um sincronismo nas concepções teóricas
sobre constituição da identidade docente estudadas por ambas as pesquisadoras.
O estudo de Barbosa (2009) abre uma discussão sobre formação continuada
para além da prática reflexiva. A investigação deu-se em torno da problemática da
formação continuada a distância e teve como protagonista o curso Educação-
Africanidades-Brasil. Este estudo leva à seguinte conclusão: para que uma formação
continuada se efetive para além de uma prática reflexiva, ela “precisa ser um foro
privilegiado da discussão da identidade do professor por ele mesmo, como sujeito
historicamente situado. É importante repensar a formação continuada a partir das
questões suscitadas sob a ótica do professor participante dessa própria formação,
ainda que nem sempre de forma sistemática ou sistematizada” (BARBOSA, 2009,
p.72).
As pesquisas de Marinho (2008), Vieira (2009) e Costa (2009) remetem ao
estudo da identidade docente focando a trajetória pessoal e profissional, porém cada
uma delas problematiza uma dimensão diferente desta trajetória. Vieira abordou a
dimensão da espiritualidade na constituição identitária docente; Marinho fez um
estudo comparativo sobre as marcas identitárias em professores de séries iniciais e
finais e Costa investigou o pensamento de professores sobre sua historia de vida
para compreender a constituição da identidade docente.
A fim de melhor organizar os dados investigados e as informações
encontradas nessas teses e na literatura, a priori apresento fundamentos sobre a
formação continuada docente e o trabalho coletivo, por considerá-los o ponto de
partida para compreender como se dá o processo de constituição identitária
docente. Na sequência, estabeleço o diálogo com pesquisadores e autores que
contribuem sobre os relacionamentos interpessoais dentro deste processo de
formação continuada, chegando na análise da influência destas relações para
constituição identitária do professor e seus movimentos identitários.
1.2.-FORMAÇÃO CONTINUADA
14
“A formação continuada de professores passa pela condição de que estes
vão assumindo uma identidade docente, o que supõe a assunção de serem
sujeitos da formação, e não objetos dela, como meros
instrumentos maleáveis e manipuláveis nas mãos de outros.”
Imbernón (2010, p.11)
No Brasil, a partir da década de 1990, as pesquisas sobre a formação
docente aumentaram em número de produções científicas e este assunto tem sido
explorado em suas diferentes dimensões. Uma destas dimensões é passível de se
verificar no trabalho de Nunes (2001), o qual ressalta a importância de resgatar o
papel do professor, destacando a preocupação sobre a formação docente em não se
restringir apenas ao aspecto acadêmico – formação inicial – mas envolvendo
também o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional da profissão
docente.
Um estudo realizado por André e colaboradores (1999) faz um levantamento
sobre o estado da arte da formação de professores no Brasil. Os pesquisadores
identificaram que, nas produções de dissertações e teses, uma maior ênfase é dada
à questão da formação inicial, em seguida à importância do tema da formação
continuada e, por último, às questões relacionadas à identidade e profissionalização
docente.
Em pesquisa mais recente sobre Políticas Docentes no Brasil, Gatti, Barreto e
André (2011) apontam o crescimento do interesse dos pesquisadores pelo assunto –
formação docente – e trazem dados sobre funcionamento, políticas públicas e
profissionais envolvidos na formação de professores, em diferentes estados e
cidades brasileiras.
Um dado que merece atenção é o fato de o Ministério da Educação(MEC), há
pouco mais de cinco anos, delinear programas nacionais de formação docente e,
principalmente, considerar a formação docente um processo de construção
contínua, na qual as dimensões como: qualidade na prática docente, identidade e
profissionalização do professor ganham valia. Não explicitarei aqui estes programas,
pois não é o objetivo desta pesquisa. No entanto, este estudo ressalta que os
programas de formação continuada promovem a formação, objetivando dar base ao
trabalho do professor.
15
Imbernón (2010) traz a necessidade de outro olhar a respeito do
desenvolvimento pessoal, profissional e institucional do professor. Segundo este
autor, na realidade espanhola, os professores ainda são tradicionalmente
preparados para lecionar e os planos de formação consistem em atualizar os
professores no que se refere ao conhecimento teórico.
A formação continuada dos professores, mais do que atualizá-los, deve ser capaz de criar espaço de formação, de pesquisa, de inovação, de imaginação, etc., e os formadores de professores devem saber criar tais espaços para passarem do ensinar ao aprender. (IMBERNÓN, 2010, p.11.)
A realidade brasileira não está tão distante da espanhola, pois Grigoli et al
(2010) apresentam dados de uma pesquisa que reafirmam este fato:
Em relação à formação contínua, os programas têm-se revelado ineficientes para promover a mudança da prática docente, uma vez que desconsideram as práticas construídas pelos professores e não possibilitam a produção de novos saberes e práticas. (GRIGOLI et al, 2010, p. 239)
O estudo realizado por Barbosa (2009) confirma o postulado por Grigoli. Ao
analisar a legislação e os referenciais da formação continuada no Brasil, constatou-
se a evidência que é dada àquilo que falta ao professor em termos de habilidades e
competências para o enfrentamento das novas exigências da sociedade pós-
moderna. No entanto, não lhe é oferecido suporte para suprir essa ausência. E, nos
diferentes objetivos observados por ela, no que diz respeito à formação docente em
serviço, fica evidente a “centralidade do conhecimento como fator decisivo da
distinção profissional e como forma de enfrentamento das exigências impostas pelas
reformas educacionais e sociais” (Barbosa, 2009, p.70). O conhecimento é levado
aos professores em suas formações continuadas, mas nem sempre é repensado em
suas práticas, nem refletido em sua aprendizagem enquanto profissional.
Ainda no âmbito da formação docente, outra discussão pertinente é relativa
ao local em que se realiza a formação continuada dos professores. Dados
registrados em pesquisas científicas (CAPES e SCIELO), realizadas a partir de
2006, revelam o que José Cerchi Fusari (in BRUNO; ALMEIDA; CHRISTOV, 2000),
havia constatado em seu estudo sobre a formação contínua de educadores dentro
da instituição escolar. A formação docente realizada apenas fora do contexto escolar
passou a ser questionada e o professor está mais reflexivo e consciente de sua
necessidade formativa, tanto que passou a solicitar a realização deste processo in
loco. Segundo este autor,
16
O ideal é que a formação contínua ocorra num processo articulado fora e dentro da escola [...] a prática da formação contínua no cotidiano da escola apresenta muitos pontos positivos. (FUSARI In BRUNO; ALMEIDA; CHRISTOV, 2000, p.19)
Um dos pontos favoráveis é o fato de que toda a escola pode se envolver
num projeto coletivo de formação contínua, partindo do princípio de que, quando a
formação ocorre na escola, podem-se diagnosticar as reais necessidades do corpo
docente, para se compor um programa adequado de formação contínua.
Para o professor, a escola pode ser um espaço, um lugar ou um território de
formação contínua. Essas denominações dependem da relação que cada professor
estabelecer com as pessoas, a cultura, os valores e o conhecimento que a escola
oferecer. O espaço de atividade do professor passará a ser referenciado como lugar
de formação quando, de acordo com Cunha, um
[...] lugar representa a ocupação do espaço pelas pessoas que lhe atribuem significado e legitimam sua condição. (CUNHA, M.I. 2008, p.184)
No levantamento bibliográfico realizado, identifico que ainda há escolas que
se consideram como um espaço de formação. Há escolas nas quais os professores
cumprem suas horas de estudo ou de capacitação e não se sentem em formação,
apenas no dever da profissão. A escola só se tornará lugar de formação quando os
professores atribuírem um significado, um valor ou um sentido à sua formação.
Talvez por isso nem todo professor que participe da formação contínua em serviço
percebe alguma transformação ou mudança em sua prática pedagógica e em sua
atitude enquanto docente, pois, muitas vezes permanece como participante
(passivo) nos processos formativos em serviço. Ele necessita perceber e
compreender um significado naquilo que está vivenciando durante e depois destes
processos formativos. Caso contrário, a escola será apenas um espaço de
formação.
No entanto, se o professor reconhecer a escola como lugar de formação,
valorizando-a e incorporando as experiências nela vividas em sua biografia pessoal
e profissional, teremos, segundo afirma Cunha,
[...] uma teia de relações que torna possível a produção de sentidos, perpassados pelas relações de poder que se estabelecem na relação espaço-lugar da formação.[...] O espaço se transforma em lugar quando os sujeitos que nele transitam lhe atribuem significados. O lugar se torna território quando se explicitam os valores e dispositivos de poder de quem atribui os significados. (CUNHA, M.I. 2008, p.185)
17
Essa rede de relações dentro do ambiente educacional possibilita muitas
trocas, vivências, experiências e consequentemente, auxilia no processo de
constituição da identidade docente. A importância de um bom clima dentro do
ambiente de trabalho é investigado e relatado na pesquisa de Marinho (2008), cujo
título é “Do ser professor das séries iniciais: marcas identitárias na atuação
profissional”. A pesquisadora investigou a influência do clima institucional na
constituição da identidade de professores das séries iniciais, comparando-os com
professores das séries finais do Ensino Fundamental I, buscando identificar
semelhanças e/ou diferenças no que diz respeito às marcas identitárias desses dois
grupos profissionais e relata a importância de se conhecer a percepção que os
professores têm sobre seu local de trabalho, pois esse aspecto tem influência
significante sobre sua atuação profissional.
Nesta perspectiva e aludindo a Dubar (2005, p.XVII), o professor deve
aprender a ser ator de seu próprio processo de construção e desconstrução de sua
identidade. O papel de ator possibilita vivenciar e compreender o significado da
formação na qual está inserido, valorizar seus atos e ressignificá-los para si e para
seus pares e superiores, para, assim, gradativamente, se sentir pertencente ao
território escolar e, consequentemente, tornar-se consciente de suas necessidades e
possibilidades de mudança.
Certamente que, alicerçada na ação/atuação do professor, a escola deve
contribuir com sua parte. A oportunidade e intencionalidade de se realizar um
trabalho formativo dentro do ambiente escolar possibilita investigar e contextualizar
com maior fidedignidade a necessidade dos professores de uma determinada
instituição escolar. Estudar a comunidade e os alunos que fazem parte deste
processo, a cultura organizacional e as relações que ocorrem neste ambiente são
fundamentais para planejar e estruturar a realização da formação contínua de
qualidade. Para tanto, o papel da escola, ao trabalhar com o professor em formação,
deve focar não apenas no professor, mas no processo de movimento identitário da
instituição, nas circunstâncias pelas quais os professores passam dentro da mesma
instituição, no momento e na situação em que a instituição se encontra, pois,
dependendo da configuração em que se realiza este trabalho, outras dimensões do
professor podem ser influenciadas.
18
Segundo Placco e Silva (2011), a formação continuada é um processo
complexo e multideterminado e não deve se restringir à realização de cursos,
treinamentos, palestras ou leituras e suas reflexões. Para a autora, a formação
continuada deve favorecer
a apropriação de conhecimentos, estimular a busca de outros saberes e introduzir uma fecunda inquietação contínua com o já conhecido, motivando viver a docência em toda a sua imponderabilidade, surpresa, criação e dialética com o novo. (PLACCO e SILVA, 2011, p. 27).
Conhecer o novo é cada vez mais exigido em nossa sociedade, a da
informação e do conhecimento. Por isso, o fato dos profissionais da educação
saberem como seus alunos aprendem ganha força no lócus educacional, como
forma de assegurar uma aprendizagem significativa. Assim, espera-se que o
professor deixe de ser um transmissor de saberes e passe a formular problemas,
provocar questões, sistematizar experiências, valorizando o diálogo e a colaboração.
Nesse processo, muda-se o foco do “como ensinar” para o “como se aprende”,
“questionando paradigmas educativos tradicionais e provocando uma série de
mudanças nos enfoques, processos e práticas educativas, e trazendo para a
contemporaneidade a discussão e reflexão sobre os pressupostos teóricos
recorrentes sobre aprendizagem, cognição e processos de construção de
conhecimento no âmbito educacional.” Barbosa (2009, p 65) fez um estudo sobre as
ações e políticas de formação continuada de professores no Brasil e relata que
“aprender e ensinar na sociedade do conhecimento passa a exigir novas
competências dos professores, que não haviam sido previstas nas políticas e
legislações anteriores, marcadas pelo racionalismo técnico e pelo paradigma
reprodutivista. Nesse cenário, as políticas e práticas de formação continuada
ganham força, numa clara evidência de enfrentamento às mudanças que ocorriam
no aspecto infra estrutural da instituição educacional e às alterações de objetivos e
práticas educacionais pretendidos.”
Retomando a questão da intencionalidade de se realizar um trabalho
formativo dentro do ambiente escolar, Placco e Souza (2008) elucidam que a
intencionalidade de uma formação continuada (principalmente por parte da escola -
grifo meu) deve ser o ponto crucial para que um profissional docente possa se
formar. E enfatizam que o desenvolvimento profissional e a formação de professores
19
ocorrem em múltiplas dimensões e que estas estão engendradas sincronicamente
no próprio sujeito em formação.
Para que ocorram transformações na prática docente, é fundamental a participação do professor e a intencionalidade de sua ação pedagógica. [... se] essa intencionalidade for engendrada junto às intencionalidades de outros educadores [...] Isso implica que a reflexão de cada professor sobre sua prática docente está na base das transformações dessas relações entre as dimensões integrantes da docência e na base da definição coletiva de um projeto de escola. (PLACCO e SOUZA, 2008, p.27)
Dentre estas dimensões, encontram-se: a técnico-científica, a formação
continuada, o trabalho coletivo, os saberes para viver em sociedade, a crítico-
reflexiva, a avaliativa, a estética e cultural, a humano-interacional, a comunicacional,
a transcendentalidade e a política e ética.
Consciente da importância e da sinergia entre todas as dimensões para a
constituição da identidade profissional docente, neste estudo, abordo algumas das
dimensões como forma de análise deste trabalho, lembrando que as demais estão
subsumidas no processo. Assim, exploro a dimensão da formação continuada,
dimensão do trabalho coletivo, dimensão comunicacional e a dimensão humano-
interacional. Justifico esta escolha pela coerência e alinhamento entre elas,
fundamentando o estudo pretendido aqui, que é compreender de que maneira um
trabalho realizado em uma escola por uma gestão permanece na constituição
identitária dos professores mesmo após mudança na gestão, nos processos de
formação e a implementação de um sistema didático-pedagógico unificado na rede.
Por isso, em cada capítulo deste estudo essas dimensões são discutidas.
1.3.- O TRABALHO COLETIVO NA FORMAÇÃO CONTINUADA: IDENTIDADES
QUE SE CONSTITUEM PELA VIA COMUNICACIONAL
“Não são as semelhanças que promovem o crescimento do
grupo, mas as diferenças que põem em xeque nossas
certezas, nos levam a fazer novas perguntas e nos fazem
aprender em situações de formação.”
Placco e Souza (2006, p.42)
20
A dimensão da formação continuada foi abordada por vários teóricos e, no
momento, vejo a necessidade de integrá-la à dimensão do trabalho coletivo. Para
tanto, invoco Placco, a qual afirma que:
Fica cada dia mais evidente a dificuldade e a ineficácia do trabalho isolado. [...] trabalhar em cooperação, integradamente, considerando as possibilidades e necessidades da transdisciplinaridade, não é uma ação espontânea, mas nasce de processos de formação intencionalmente desenvolvidos. (PLACCO e SILVA, 2011, p. 27)
As questões colocadas por Placco (2011) acerca das dimensões e dos
modos/meios de como a formação continuada tem sido trabalhada em nosso país
são causadoras de inquietação e reflexão. A análise que culmina do resultado de
uma pesquisa realizada por Placco, Almeida e Souza, além de outros experientes
pesquisadores, sobre o perfil do coordenador pedagógico brasileiro, revela o quanto
ainda há de se investigar sobre o porquê os diferentes meios de se trabalhar a
formação continuada ainda não se traduzem em ações diferenciadas ou
transformadoras para os docentes e, consequentemente, para seus alunos.
Pensando neste movimento de mudança e diante de algumas reflexões sobre
a dimensão do coletivo na formação continuada docente, sinalizo a importância do
papel e do trabalho do coordenador pedagógico alinhado ao do diretor de escola, a
fim de que a formação continuada docente possa apresentar resultados de mudança
na prática e no processo de constituição da identidade do professor. Se esta
formação não for estruturada no coletivo, o trabalho se fragmenta e efetivamente
não gera resultados para a instituição, nem para os professores e nem para os
alunos.
Desta forma, a singularidade de cada profissional é elemento determinante
para compor o coletivo e, da funcionalidade deste coletivo, as possibilidades de
transformações no/do individual. Cada profissional traz consigo um histórico
singular, único e subjetivo, de sua formação profissional e, quando expõe suas
experiências no trabalho coletivo na escola, ele não só partilha experiências, mas
constrói uma nova rede de aprendizado para si, para os colegas profissionais e para
a cultura da escola que atua.
Imbernón (2010) complementa sobre o exposto acima,
A formação continuada de professores pode ajudar a romper com a cultura individualista, já que a formação coletiva supõe uma atitude constante de
21
diálogo, de debate, de consenso e a metodologia de trabalho e o clima afetivo são os pilares do trabalho colaborativo. (IMBERNÓN, 2010, p.64)
Essa cultura individualista exposta pelo autor é um paradigma difícil de
romper, pois ela é transmitida ao professor antes mesmo dele se tornar profissional,
vivenciando esse tipo de exemplo desde a infância, enquanto aluno. Ao iniciar sua
vida profissional docente, dependendo da instituição em que atua, acaba
vivenciando esse isolamento na sala de aula, tornando-se individualista,
diferenciando-se de seus colegas e desenvolvendo a cultura da competividade. Essa
cultura faz com que o professor separe o compromisso do trabalho, beneficiando
aqueles que se comprometem pouco.
Romper com a cultura do individualismo implica sistematizar uma formação
continuada utilizando uma metodologia de modalidades e estratégias de formação
organizadas com base no trabalho coletivo.
Imbernón (2010) nomeia este tipo de trabalho de colaborativo e o define como
o processo de auxiliar o entendimento da complexidade do trabalho educativo e
também de responder melhor às situações problemáticas da prática. O trabalho
colaborativo depende do compromisso e da responsabilidade coletiva dos
profissionais envolvidos para transformar a escola num lugar de formação
continuada.
Diante disso, Vieira (2012), durante a qualificação desta pesquisa, contribuiu
sobre o trabalho coletivo e incitou a seguinte reflexão
O processo de formação continuada nas escolas deveria primar pelo trabalho coletivo intencional e sistematizado, deveria dar espaço para que os professores pudessem fazer generalizações nos processos identitários deles, pois até hoje se faz muitas diferenciações (entre os professores). O que queremos nos processos de formação continuada?
Esse questionamento me fez refletir e buscar respostas. Algumas já foram
dadas por autores da área educacional, como o próprio Imbernón (2010, p. 69),
quando coloca que, para que se desenvolva uma cultura colaborativa na escola, é
preciso primeiro romper com o individualismo pedagógico de cada profissional
docente e reforçar alguns fatores na cultura dos professores, mediante uma
formação continuada que valorize:
22
1) O processo do desenvolvimento coletivo, que precisa ser entendido como um
compartilhar das autonomias e não como uma soma das individualidades.
2) Uma cultura institucional que se constitui da contribuição de todos sobre os
métodos pedagógicos e de gestão utilizados naquele ambiente profissional.
3) Aceitar que as técnicas pedagógicas não são eficientes para todo aluno. Isso
evita a angústia dos professores e facilita o diálogo sobre situações
problemáticas.
4) O desenvolvimento profissional, que depende do pessoal e favorecer que
atitudes e emoções possam ser compartilhadas no coletivo, o que possibilita
o seu desenvolvimento.
5) Potencializar a autoestima coletiva, para que, mediante os problemas sociais
e de ensino, o professor consiga se fortalecer no grupo.
6) Criar novas estruturas na organização institucional, para que haja a
colaboração do coletivo nos processos educacionais e de gestão.
Almeida elucida a questão do trabalho coletivo, complementando as
colocações de Imbernón:
[...] é no cruzamento dos projetos individuais com o coletivo, nas negociações aí implicadas, que a vida da escola se faz e que, quanto mais os projetos individuais estão contemplados no coletivo, maior a possibilidade de sucesso destes. (ALMEIDA, 2003, p. 87)
Vários são os fatores que podem influenciar as ações formadoras no território
escolar. Dentre eles, destacam-se: a motivação e interesse dos colegas de trabalho,
as condições físicas, materiais e organizacionais da escola, os modos de
comunicação, a disponibilidade (temporal e atitudinal) dos gestores – diretor e
coordenador pedagógico – para realizar as ações formadoras.
Bruno (2009, p. 17), em seu estudo sobre o trabalho coletivo como espaço de
formação, declara que o trabalho coletivo é uma conquista árdua de ser realizada
por todos os envolvidos com a educação, pois há entraves pessoais e institucionais.
Várias são as dificuldades do trabalho coletivo, mas um dos maiores está “no
confronto de expectativas e desejos dos sujeitos envolvidos”. Para superar esta
dificuldade, há necessidade da ocorrência de algumas condições que dizem respeito
ao individual e ao social.
23
Profissionais que trabalham com a formação docente parecem saber o que os
professores necessitam, quais são seus desejos, mas nem sempre o que eles
oferecem a esses professores correspondem às expectativas docentes. Muitas
vezes, isso ocorre devido a falhas na comunicação.
Para Bruno (2009, p.16), um desejo pode vir a ser uma necessidade, no
entanto, quem o possui poderá ou não revelá-lo ao grupo, no coletivo. Revelar este
desejo implica torná-lo público, comunicado. Ao publicar, o desejo não é mais
pertencente àquele indivíduo apenas, pode vir a ser de outros, do coletivo e poderá
ser transformado, pois no coletivo há um peso maior, uma força que, no individual,
fica isolada.
Recorro a Meunier e Peraya (2008) para elucidar as colocações de Bruno
sobre comunicar e/ou publicar desejos. Para estes autores, a comunicação é um ato
social que se origina na relação social, a qual pode formar, manter ou transformar
qualquer relação social. A comunicação insere-se numa interação que pertence a
um sistema mais vasto de relações sociais. No caso da instituição escolar, há um
“conjunto de posições e papéis bem definidos (diretor, professores, alunos, etc), implicando relações e modos de comunicação - alguns tipos de atos de discurso como a ordem, o conselho, a recomendação, as congratulações, etc - facilmente identificáveis.” (MEUNIER e PERAYA 2008, p.204)
Para estes autores, as interações que ocorrem dentro da organização de
ensino, seja na formação continuada ou na rotina educacional, formam um sistema e
podem gerar mudanças duradouras e, quando isso ocorrer, será em cadeia. Assim,
a “importância de um ato de comunicação mede-se por seus efeitos relacionais
imediatos e a longo prazo”.(Idem, ibidem, p.204)
Compreender os efeitos de uma comunicação requer antes entender em que
contexto social ela ocorre, qual a relação do locutor com o receptor e destes com o
contexto. Para tanto, neste momento explicito o funcionamento do ato de comunicar
nas relações sociais.
Meunier e Peraya (2008) recorrem à psicologia do desenvolvimento (Wallon,
Freud e Lacan) para explicar nossa constituição na relação social através da e pela
linguagem verbal. Para os autores, os modos de comunicação originam-se de
movimentos antagonistas que, num primeiro momento, é a fusão-diferenciação.
24
Desde que nascemos, fazemos parte de um ambiente social do qual não
conseguimos diferenciar (fusão) o “eu” do “não-eu”, expressa nos comportamentos
primitivos de mimetismo afetivo (Wallon) que incluem, entre outros, a identificação
com os pais e os congêneres (Freud, Lacan) [...] esse mimetismo é coextensivo à
relação social, que constitui uma forma primitiva de comunicação e uma base
permanente para esta em todos os níveis do desenvolvimento humano”.(Meunier e
Peraya, 2008, 205)
Outro movimento importante na constituição do ser humano é a diferenciação.
Na mesma intensidade que desejamos a unidade, a coesão, desejamos nos
diferenciar. Só existirá coesão se houver oposição ao diferente.
Cada indivíduo constrói seu próprio eu - essa imagem com a qual se identifica - por uma ruptura de vínculos miméticos com o outro, por retorno sobre si mesmo e distinção. Cada grupo social constrói sua própria coesão, excluindo outros considerados diferentes. [...] A comunicação participa necessariamente de tais movimentos. (MEUNIER e PERAYA 2008, p.205 e 206)
O profissional professor foi e é ainda hoje o resultado de suas próprias
diferenciações e generalizações, fruto de suas próprias escolhas..
O professor após cursar a graduação e iniciar sua atuação - que muitas vezes
se insere no âmbito do isolamento ou individualismo em sala de aula, fazendo sua
própria prática sem compartilhar ou socializar com seus pares - se diferencia do
outro professor, colega ou não. O mesmo ocorre em relação a outros profissionais, o
professor compara sua profissão com outras carreiras e discursa sobre o quanto a
área da educação é diferente das demais. Depois, conforme sua trajetória
profissional poderá passar por formações continuadas ou não e, novamente se
diferencia, só que agora de seus pares, pois cada professor realiza uma trajetória de
formação diferenciada ou, se participa da mesma trajetória de formação, esta não
terá o mesmo impacto para um do que para outro professor. Este fato é passível de
ser observado nas análises das entrevistas realizadas para este estudo.
Esses movimentos (fusão/diferenciação) estão intimamente ligados às
circunstâncias que ocorrem na escola, às pessoas que participam do processo de
formação, à intensidade ou não da identificação de cada professor com seus
colegas de trabalho, à relação/vínculo estabelecido com seus pares e superiores, à
comunicação presente na rotina profissional. Estes fatores acompanham o sujeito e
25
contribuem para o processo de constituição de sua identidade profissional no qual
estão inseridas diferenciações e generalizações.
Retomando a fala de Bruno (2009, p16 e 17) sobre o trabalho coletivo, o
desejo publicável e as falhas que podem ocorrer na comunicação, recorro neste
momento a alguns teóricos da comunicação indicados por Meunier e Peraya (2008)
para explicitar a questão do implícito nos atos comunicativos.
Ducrot (apud Meunier e Peraya,2008) tem uma concepção formulada sobre o
papel do implícito num discurso. Segundo ele, o sentido de uma mensagem
comunicada verbalmente vai além do que está literalmente expresso, dado que há
necessidade de alguma inferência para que a mensagem seja compreendida no seu
sentido real.
Grice (apud Meunier e Peraya, 2008), subscreve a teoria de Ducrot ao
postular que
A determinação do sentido de uma sentença surge da capacidade do destinatário em deduzir a intenção do locutor, a encontrar o que está implícito no enunciado. (MEUNIER e PERAYA 2008, p.84)
Compreender o implícito depende de várias vias: do contexto, da necessidade
de se fazer compreender (do locutor) quanto de querer ou poder compreender (do
receptor), dos “ruídos” internos (interpretações subjetivas) de cada participante da
comunicação, entre outros. Compreender como se dá a constituição da identidade
do professor através do discurso narrado por ele mesmo, requer levar em
consideração todos estes pontos.
Na busca pela compreensão da identidade social e profissional que Dubar
(2005) realiza em seus estudos, o autor recorre a Habermas como um dos teóricos
que contribui com o tema abordado neste momento, a comunicação na constituição
da identidade do indivíduo. Para ele, a identidade se estrutura em dois sistemas de
atividades: atividade instrumental e atividade comunicativa. A primeira relacionada
às estratégias de trabalho utilizadas para se atingir um determinado objetivo. E a
atividade comunicativa é aquela que estrutura a interação entre as pessoas por
“meio de práticas linguísticas”, conferindo assim, sua identidade. Habermas defende
26
que é na dinâmica entre as atividades instrumental e comunicativa que se dá o
processo da construção da identidade do indivíduo (Dubar, 2005 p. 102).
Essa interação entre estes dois sistemas, defendida por Habermas, é contra
argumentada por Mead (apud Dubar, 2005). Para ele, a construção da identidade
social se dá na e pela interação entre os indivíduos, colocando a comunicação no
centro deste processo. O resultado da socialização como construção da identidade
social dependerá das formas institucionais da construção do Si-mesmo e, sobretudo,
das relações comunitárias (e não somente societárias) que se instauram entre
socializadores e socializados. (DUBAR, 2005, p 115)
Neste ponto, tomo a dimensão humano-interacional, trazida por Placco
(2009), para reafirmar a importância da comunicação no processo de constituição
identitária docente
[...] sem a intermediação do afetivo em relação ao cognitivo, ancorado no ético-político, esse desenvolvimento será fragmentado e não satisfatório. Só quando há uma real comunicação e integração afetivo-cognitiva entre os atores do processo educativo na escola, há possibilidade de emergência da formação de um novo homem [...] (PLACCO,2009, p.13)
A constituição do profissional docente não se dá na formação universitária,
nem na entrada deste profissional nas escolas (salas de aula), nem nas formações
que ocorrem durante sua permanência na profissão e nem da sua intenção, na
aprendizagem e prática pedagógica. Na verdade, é na congruência destas
dimensões e das pontuadas por Placco que se engendra a constituição do
professor.
A concepção da constituição da identidade fez-se presente neste capítulo,
perpassando pela formação continuada, pelo trabalho coletivo e pela comunicação,
mas, para melhor abordar esse assunto, especificando a concepção da constituição
da identidade docente e as condicionantes que a ela pertencem, organizo-o no
próximo item.
1.4.- CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE NA E PELAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Não podemos viver só para nós mesmos.
27
Há uma rede de milhares e milhares de fios, que nos liga a todos os homens.
E em meio a todos esses fios, feito fios humanos e solidários,
nossos atos agem como causas, e a nós retornam como efeitos.
Herman Melville
Identidade docente - para definir este conceito faço alusão a alguns autores
que pesquisam o tema e trazem os elementos essenciais que a constituem.
Inicio mencionando Dubar, sociólogo que estuda a identidade no trabalho e
que conceitua a identidade como sendo um
“resultado, a um só tempo estável e provisório, individual e coletivo, subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural, dos diversos processos de socialização que, conjuntamente, constroem os indivíduos e definem as instituições”. (DUBAR, 2005, p. 136)
Para Dubar, o sujeito se constitui nas e pelas interações sociais, na relação
com o outro, num processo de dualidade permanente. Considera que o sujeito
assume várias formas identitárias durante sua vida, de acordo com as identificações
que ele faz com as categorias advindas das interações ocorridas nas relações e na
experiência individual. Afirma que o sujeito se constitui como tal a partir a interação
entre dois processos de socialização: o biográfico e o relacional.
O primeiro se dá quando o sujeito se reconhece a partir do olhar do outro e
que a busca de si mesmo, no olhar do outro, provoca uma diferenciação entre quem
eu sou para mim por meio do meu discurso– identidade para si, que corresponde às
pertenças subjetivas– e quem eu sou aos olhos do outro. As categorias pelas quais
o sujeito se identifica no interior de uma instituição (família, escola, empresa...) são
identificações possíveis e valorizadas por ele e pelo outro (transação subjetiva). No
entanto, a maneira como o sujeito se vê/reconhece nem sempre aparece para o
outro, nem sempre o sujeito consegue perceber como o outro está enxergando
aquilo que ele quer mostrar dele mesmo.
O processo relacional envolve o reconhecimento que ocorre em um dado
momento, “no interior de um espaço determinado de legitimação, das identidades
associadas aos saberes, competências e imagens de si, propostos e expressos
pelos indivíduos” nos contextos de ação. As atribuições dirigidas ao sujeito são
28
investidas de transações objetivas e leva o sujeito a indagar: Quem eu sou para o
outro?, sendo que este outro me revela, por meio do meu discurso de quem eu sou -
identidade para o outro. Por meio deste processo os sujeitos/atores se mostram para
o outro. E o que aparece para o outro nem sempre é o desejado, ou aparece mais
do que desejamos que apareça. (DUBAR, 2005, p156)
Nessa perspectiva, a identidade não permanece estática nem idêntica ao
longo da vida, pois é constituída pelo sujeito em cada relação estabelecida. Assim,
para Dubar, a identidade é o produto dialético de diferenciação (o meu “eu” singular,
subjetivo) e generalização (o meu “eu” pertencente a um grupo comum). Nos
processos de constituição identitária, há uma articulação na maneira de se identificar
(consigo ou com o outro), que o autor denomina de atos de atribuição e atos de
pertença. Nessa articulação, o sujeito aceita as atribuições ou não e interioriza ou
não as que lhe são feitas pelo outro.
Da relação entre as dimensões relatadas acima, Dubar (2009) traz
concepções de Max Weber para explicitar como elas se configuram em formas
identitárias, caracterizando-as como comunitária e societária. A primeira está
associada ao eixo essencial, a tudo que é confiante, real, familiar, íntimo, em que os
vínculos são intensos e transmitidos pela filiação, desenvolvendo sentimentos de
pertencimento, no qual, através da convivência exclusiva se defini o “eu” por meio do
outro. A segunda forma é apresentada como vida virtual e mecânica, passageira e
aparente, o que é público; implica escolha; pode-se assumir ou rejeitar uma
pertença.
Apresento nas palavras de Almeida, Placco e Souza, uma síntese da
definição de identidade centrada em Dubar,
A identidade é definida, então, como processo de construção, imbricado com o contexto, com a história individual e social do sujeito, em que se articulam atos de atribuição (do outro para si) e de pertença (de si para o outro), em um movimento tensionado, contínuo e permanente. (ALMEIDA, PLACCO e SOUZA, 2011, p.242)
De fato, a constituição identitária se compõe de um complexo processo, o
qual depende do cenário, das circunstâncias, das linguagens explícitas e implícitas e
da atualização do vínculo social entre outros elementos já abordados.
29
Retomo a importância da comunicação, que se dá na articulação entre os
atos de atribuição e pertença, ocorrida na relação com o outro. Essa comunicação é
marcada pela incerteza, pois é pelo discurso do outro, pelo que este me atribui que
tento me conhecer. Assim, a identidade nunca será dada, mas constituída, muitas
vezes, nessa dualidade e nessa incerteza.
O processo identitário se concretiza por meio dos processos comunicacionais
e esses podem gerar incompreensões que poderão ocasionar processos identitários
nem sempre intencionados por ambos os interlocutores. A subjetividade contida na
comunicação é que dará significado àquilo que o sujeito internaliza ou se apropria
em seu processo de constituição de si.
Cunha (in REY, 2005) traz apontamentos de Vygotsky para compreender a
importância da significação no jogo das relações sociais. Para esta autora, a posição
que cada sujeito ocupa numa relação depende da significação que cada um tem
sobre a posição do outro. A posição social é o signo (negociação de novos
significados, ressignificação, subjetividade) do que ela representa para um grupo
cultural. Assim, o processo de significação, apropriação/internalização dos signos é
realizado pela consciência, pelas funções psicológicas superiores, e se dá pela e na
relação com o outro, através da linguagem.
Dubar (2009) discorre sobre essa questão ao postular que
Identificar-se ou ser identificado não é somente “projetar-se sobre” ou “identificar-se com”: é antes de tudo, colocar-se em palavras. [...] A linguagem não é uma “superestrutura”, é uma componente maior da subjetividade (DUBAR, 2009 p. 237)
Transpondo estes apontamentos para a constituição do profissional docente,
é pela e na linguagem comunicada na formação continuada realizada no coletivo
que o professor define a significação e a produção de sentidos como operações que
embasam as experiências educacionais do docente. Quando em processo de
formação, o professor produz seu trabalho ou fala sobre si mesmo, enfatiza
questões que são consideradas por ele como significativas. O que ele produz
sintetiza o processo social de constituição deste profissional.
É na fundamentação de Dubar (2005) que encontro suporte para explicar a
importância dos mecanismos de identificação ocorridos no processo de constituição
profissional docente no ambiente escolar. A atribuição de uma determinada
30
característica, função ou atributo dado por um professor, coordenador pedagógico
ou diretor a um outro professor é carregada de subjetividade, de interpretações, de
significados e sentidos; e este professor pode negociá-la ou não. Esse movimento
de atribuição e pertença ocorre em meio a desequilíbrios e tensões das formas
identitárias do professor. As transações ocorridas entre as expectativas que os
profissionais da escola apresentam em relação a esse docente, as expectativas de
seus alunos e de seus pais muitas vezes se confrontam com as expectativas que
aquele professor tem dele mesmo. Esse confronto se dá a partir do momento que
são atribuídas características, atributos, funções a esse professor e ele faz a sua
própria leitura destas atribuições, leitura que lhe é subjetiva, que ele interpreta da
maneira que lhe é possível naquele momento da sua vida. As interpretações feitas
por ele destas expectativas lhe são próprias e subjetivas. Necessita negociar estas
atribuições consigo mesmo, a fim de ponderá-las, compreendê-las, aceitá-las ou não
e, ele lida talvez de maneira diferente de todos os que esperam algo desse
profissional. Para Dubar, este é um movimento de negociação identitária, o qual
[...]constitui um processo comunicativo complexo, irredutível a uma “rotulagem” autoritária de identidades predefinidas com base nas trajetórias individuais. Ela implica fazer da qualidade das relações com o outro um critério e um elemento importante da dinâmica das identidades. (Dubar, 2005, p.141)
Para complementar os postulados de Dubar, as contribuições de Almeida e
Placco (2002. p. 21-33) são indispensáveis quanto à importância das relações
interpessoais e a comunicação que as mediam. As autoras colocam que as relações
interpessoais entre os profissionais da escola são permeadas pela linguagem e que
a comunicação é a mediadora de significações e sentidos nesse processo de
constituição recíproca dos sujeitos nela envolvidos.
Diante dessa trajetória conceitual que dará sustentação às análises das
entrevistas das professoras investigadas, apresento, no capítulo a seguir, os
procedimentos metodológicos utilizados para que fosse possível a realização deste
estudo.
31
CAPÍTULO 2
METODOLOGIA
Explicito, neste capítulo, os procedimentos metodológicos escolhidos para
investigar este estudo: a escolha da escola, dos sujeitos, do método investigativo,
dos instrumentos para coleta de dados e análise posterior.
2.1. - CONTEXTO EM QUE SE DESENVOLVE A PESQUISA
Para realização desta pesquisa, parto da hipótese de que um trabalho de
formação intencionado e levado a sério pelos professores gera processos
identitários marcantes. Assim, identifico como problema deste estudo o seguinte
questionamento:
Em que medida um trabalho importante para uma escola, num determinado
período de gestão pedagógica, permanece na prática dos professores, traduzido em
sua constituição identitária, mesmo após mudanças radicais3 acontecidas no sistema
de ensino e na gestão da escola?
Para atingir o objetivo acima, optei por realizar uma pesquisa qualitativa, em
que os docentes da escola estudada, envolvidos com o projeto pedagógico
diferenciado acima citado, revelam (ou expõem) os significados e sentimentos
gerados naquele período, explicitam as atribuições e pertenças vividas e as
mudanças pedagógicas e pessoais por eles vivenciadas. Esses processos são
constituintes da sua identidade profissional e sua análise nos possibilitará um
conhecimento importante a respeito da formação identitária profissional docente.
A instituição escolhida para ser investigada é uma escola da rede municipal
de uma cidade do interior de São Paulo. Os nomes da cidade e da escola serão
preservados por questões éticas.
3Período de 2005 a 2009 da gestão de uma diretora que implementou os projetos pedagógicos que foram diferenciais para esta escola. A partir de 2010, houve a introdução de material apostilado da Fundação Bradesco em todo o sistema municipal de ensino, acarretando a suspensão dos projetos pedagógicos nessa escola.
32
O interesse por essa escola parte de três fatores fundamentais:
Ao trabalhar como coordenadora pedagógica, num projeto de Tecnologia
Educacional, nessa rede municipal de ensino, em 2006/2007,conheci esta Escola
Municipal de Educação Básica (EMEB) e presenciei três diferenciais no trabalho
pedagógico que despertaram-me interesse.
1. Um deles era o trabalho por área de conhecimento, ou seja, os professores
trabalhavam uma ou duas disciplinas, em mais de uma classe.
2. Eram previstas Oficinas de Aprendizagem, realizadas em cada classe, pelos
professores da área do conhecimento, em linguagem escrita e raciocínio
lógico, cuja proposta era o trabalho de intervenção mais pontual e de acordo
com as dificuldades individuais dos alunos. Essas duas metodologias
pedagógicas não ocorriam em outras escolas da rede, segundo informações
do diretor dessa escola.
3. A equipe de trabalho – diretor, coordenadora pedagógica e professores –
pareciam manter um bom clima de relacionamento interpessoal, fato
evidenciado em falas de diretores de outras escolas, de uma supervisora de
ensino e de estagiários que procuravam essa escola para observar
exatamente esse clima institucional.
Constatei também estes fatores nas entrevistas sobre constituição identitária
docente, quando da realização de uma outra pesquisa “Movimentos Identitários
Docentes de Professores Iniciantes”, apoiado pela FAPESP, que fez parte de um
estudo de nosso grupo de pesquisa, em 2011.
Nas entrevistas, as professoras colocaram os diferenciais pedagógicos que
observavam desta unidade, o que despertou curiosidade e uma possibilidade de
pesquisa. Considerei positivos estes aspectos e, portanto, favoráveis à realização de
um estudo sobre a dimensão biográfica e relacional no processo de formação
contínua em serviço.
O campo de pesquisa, assim, foi essa EMEB, que está localizada numa
cidade a 50km da capital de São Paulo e que foi inaugurada em fevereiro de 2001. A
escola contempla o Ensino Fundamental I, do 1° ao 5° ano, no período matutino, das
33
7h30 às 12h30, e vespertino, das 13h00 às 18h00, de segunda a sexta-feira. Atende
alunos na faixa etária de 6 a 10 anos. A escola consegue suprir a demanda de
alunos desta faixa etária e as salas de aula têm aproximadamente 28 alunos cada
uma. As crianças matriculadas advêm de cinco bairros próximos, além das que
residem no bairro de localização dessa unidade. Em 2012 totalizava 469 alunos
matriculados.
O corpo docente é composto por dezessete professores de educação básica
(17), dois (2) professores de Educação Física, duas (2) professoras de Inglês. Todos
são concursados e ocupam cargos efetivos na rede municipal. Do total destes
professores, cinco deles têm menos que três anos de atuação nessa escola. Neste
ano, dois estudantes do terceiro ano de Pedagogia da UNICAMP realizam suas
observações para efetivação de suas horas de estágio nesta unidade. A formação
inicial do corpo docente é nas áreas da Pedagogia, Educação Física, Inglês,
Biologia, Matemática e Letras. Os professores que cursaram pós-graduação na área
da educação perfazem um total de treze.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação, os professores
participam de várias formações durante o ano letivo, no Centro Municipal de
Capacitação e Formação. O objetivo destes cursos de formação é auxiliar na
preparação e formação de professores, coordenadores, diretores, monitores de
creche e auxiliares de serviços educacionais, visando à melhoria da qualidade da
educação do município. Segundo a gestão (de 2012) da unidade, os professores
participam também de formação constante no local de serviço, durante todo o ano
letivo, além da H.E. (Hora de Estudo), que ocorre duas horas na semana, toda
quarta-feira, em horário oposto ao período de trabalho do professor. A equipe
gestora planeja também cursos e/ou palestras a partir das necessidades relatadas
pelos professores. No entanto, o que a equipe considera como fundamental é a
formação diária, que é estabelecida através do contato direto com cada professor,
de acordo com as necessidades pedagógicas sentidas pela equipe gestora e/ou pelo
professor.
Os pais dos alunos desta EMEB são participativos e conscientes da função da
escola e do serviço que ela deve oferecer. Esses pais, segundo dados do Projeto
Pedagógico da Unidade (PPU), possuem bom vocabulário e habilidade para se
34
expressarem por meio da escrita coerente e consistente Além disso, quando
procuram a escola para tirar dúvidas e/ou em outros momentos, apresentam boa
linguagem oral, sabendo se posicionar frente à exposição e busca de resolução de
problemas. Estes dados foram obtidos na leitura do Projeto Pedagógico da Unidade.
Apresentado o contexto da pesquisa, especifico quais serão os sujeitos a
serem estudados:
Três professoras que lecionam no Ensino Fundamental I e que participaram
das mudanças ocorridas na estrutura pedagógica da unidade de 2005 a 2012.
A escolha dos sujeitos foi estabelecida após a realização da qualificação
desta pesquisa, na qual discutiu-se a possibilidade de estudar a constituição
identitária de professores após mudanças ocorridas no trabalho pedagógico desta
escola.
Vale lembrar que, para compreender em que medida um trabalho importante
para a escola permanece na prática dos professores, traduzida em sua constituição
identitária, mesmo após mudanças radicais acontecidas, é necessário ouvir o que
ocorreu nos anos em que este trabalho foi implementado/desenvolvido; que trabalho
foi este; quem foram os protagonistas; quem os reconheceu ou reconhece até hoje
como verdadeiramente importantes; quem não o reconhece; quais as consequências
para o professor e para seu trabalho pedagógico.
Para compreender que trabalho foi este e que mudanças o permearam,
apresento sua historicidade.
2.2. - HISTORICIDADE DE UM TRABALHO DIFERENCIADO
Estudar o que foi vivido, sentido, significado e ressignificado pela escola,
principalmente para os professores, gestores e funcionários, é uma tarefa que
requer cuidado. Eximir-se de empatia e de sentimentos advindos da escuta das
professoras pesquisadas foram características do papel de pesquisadora que
assumi durante a investigação e que demandou muita equidade.
Para compreender a formação docente ocorrida, as mudanças no sistema
educacional e os movimentos identitários aí configurados, apresento a historicização
35
do período em que estes fatos ocorreram. Para tanto recorro, além das entrevistas,
aos PPUs - Planos Pedagógicos da Unidade - para contextualizar este estudo.
Os PPUs são impressos, encadernados e tem tamanhos bem diferentes
conforme o ano. Todos eles foram estudados, refletidos, elaborados e escritos pelo
corpo docente (atuante nos anos em que os documentos foram produzidos), a
coordenadora pedagógica e a diretora Vilma, que foi a gestora desta escola entre os
anos de 2001 a 2009. De todos estes anos de gestão, foram encontrados apenas
três PPUs, o dos anos 2006 (145 páginas), 2008(300 páginas) e 2009 (222 páginas).
Como descrito acima, esta escola foi inaugurada em 2001. De 2001 a 2009, a
diretora Vilma foi a gestora que implementou um “novo olhar para educação”,
segundo as entrevistadas, nesta unidade de ensino. Segundo falas das três
professoras entrevistadas, esta diretora queria mudar a maneira de os professores
ensinarem e a maneira de os alunos aprenderem. Queria uma escola nova e para
isso iniciou, em 2003, nas horas de estudo (H.E.) - realizadas uma vez por semana
por duas horas - pesquisas e estudos de vários temas que, num primeiro momento,
foram escolhidos por Vilma e, durante estes estudos, não perdiam o foco sobre
questionamentos do tipo:
Quem somos?
O que esperamos com o nosso trabalho?
Para que serve a escola em nossa sociedade?
O que é a nossa escola?
Como tem sido o trabalho de ensino e aprendizagem que realizamos em
nossa escola?
Que mudanças se fazem necessárias?
Estes questionamentos foram realizados em 2003, segundo informações das
professoras entrevistadas e, no planejamento de 2005, foram refeitas questões
semelhantes para cada grupo de professores, juntamente com os funcionários da
escola. Ainda em 2005, no mês outubro, iniciou-se um processo de avaliação do
PPU do ano anterior(2004), porém não há relato sobre o PPU de 2004 no PPU de
36
2006. Professores e gestores perceberam lacunas e o não cumprimento de alguns
objetivos, devido ao fato de não terem vivenciado o que haviam proposto.
Com o fato da não vivência das propostas de 2004 e 2005, a diretora propôs
novos questionamentos em 2006:
O que mais nos incomoda na escola, em termos de vivências?
Resposta dos professores: O respeito.
E respeito de que jeito?
Resposta dos professores: De todos os jeitos.
A partir dessas respostas é que surgiu o tema para o projeto institucional:
RESPEITO DE TODO JEITO4, que foi trabalhado durante o ano de 2006. A diretora
solicitou que os professores sugerissem o tipo de respeito que gostariam de
trabalhar e as estratégias que utilizariam para vivenciar este projeto. Além deste
projeto, outros foram desenvolvidos neste ano e nos posteriores: Arte na Educação;
A Família Vai à Escola; Feira de Ciências; Semana de Vivências de Arte e
Exposição de Arte. E mais dois projetos propostos pela Secretaria de Educação:
Projeto horta e Projeto Saúde no Prato (fundamentada nos Códigos da Modernidade
do filósofo José Bernardo Toro - o qual postula sobre as capacidades e
competências mínimas do aluno para sua participação produtiva no Séc. XXI).
A partir destes questionamentos, Vilma preparava junto aos professores
reflexões, sentidos e significados sobre o ensinar e o aprender. A intenção também
destes projetos era trazer a comunidade para dentro da escola, proporcionando
cultura e entretenimento.
Em 2007, Vilma propôs que os professores pensassem uma escola diferente,
com uma metodologia diferente, em que o professor se visse diferente. Propôs que
cada um pensasse numa coisa que gostassem muito de fazer. Após uma semana de
reflexão sobre o que seria esse novo fazer, cada professor expôs o que mais atraia
e o que lhe dava prazer em realizar. Compartilhado os gostos de cada professor,
Vilma expôs sua intenção: cada professor montaria uma oficina de cinco dias com
aquilo que lhe dava prazer, com os alunos. Explicou como seria cada aula/oficina: 4Descrição detalhada do projeto em anexo III.
37
“se um professor gosta de cozinhar, ele vai pensar em como vai trabalhar culinária
em cinco aulas de 2h30, de segunda à sexta e, depois da realização da oficina,
retornava ao trabalho normal de sala de aula”. No início Vilma deu outro nome às
Oficinas: “Qual é a sua?”
Para explicar o projeto aos alunos, os professores usavam de suas aulas e
posteriormente, faziam propagandas chamativas, por escrito espalhando pela escola
cartazes com os dizeres: Você gosta de cozinhar? Você gosta de ler? etc.
As crianças se inscreviam na oficina que se interessavam e cada professor
ficava responsável de fazer a sua chamada.
Do nome “Qual é a sua?”, os professores sugeriram que fosse utilizada a
terminologia Oficinas de Aprendizagem. A base do trabalho se concentrava em
atividades diferenciadas preparadas por cada professor da escola; as crianças se
inscreviam em uma oficina; recebiam um papel discriminando o material que eles
deveriam providenciar (duas semanas antes de acontecerem as oficinas) e, no dia e
horário em que ocorriam, as crianças trocavam de sala para participarem das
oficinas.
Num primeiro momento, as Oficinas não tinham a intenção de ser vinculada a
alguma disciplina ou conteúdo programático, apenas uma vivência de metodologia
diferente para cada professor refletir sobre essa nova prática. Esse projeto piloto das
Oficinas ocorreu durante o segundo semestre de 2008 (4 a 5 meses), na frequência
de uma semana por mês.
A cada ciclo de oficinas, Vilma reunia-se com os professores para avaliar a
execução de cada oficina. Houve vários encontros e discussões sobre tudo o que
envolveu este projeto piloto: o pensar num tema, a preparação e a execução das
oficinas, assim como as reações dos alunos e pais. O semestre fechou com muita
reflexão sobre essa nova maneira de trabalhar a aprendizagem dos alunos e dos
professores.
Em 2008, o momento foi de muita reflexão, fato observado no PPU e nas
entrevistas. O documento inicia com um trecho da música “Drão”, de Gilberto Gil.
Fazem uma analogia da música ao processo coletivo de produção do documento, o
qual traduz a prática docente, as vivências com a comunidade escolar, a realidade
38
do cotidiano escolar. Referencia o tempo de preparar a terra para o plantio ao tempo
de planejar o ano, remetendo inicialmente a uma avaliação ao que foi o ano anterior.
São relatados os desafios da escola, comparando aos desafios do crescimento de
uma planta, as condições, o clima, as pragas etc. As observações e estratégias para
que a planta (aluno) cresça e se desenvolva remetem à pesquisa, análise, reflexão e
estudo.
As reflexões durante o planejamento para 2008 traduzem novamente a
preocupação com a comunidade, as relações que estimam permanecer com os pais
de alunos, principalmente, ao liberarem a entrada deles para levarem seus filhos até
a sala de aula, passando pelos murais da escola e observando as produções de
seus filhos.
O documento registra a importância que atribuem ao relacionamento
interpessoal, aos modelos e exemplos a serem seguidos. “Queremos mostrar que
esta escola se evidencia pelos detalhes. Se queremos que nossos alunos sejam
bem recebidos pelos seus professores, é preciso oferecer bons modelos e vivências
para os adultos.” (PPU, 2008, p.16)
O Projeto da Escola “Respeito de Todo Jeito”, que antes fazia parte de
projetos menores, em 2008 tomou outra dimensão e fez parte do coletivo da escola.
No PPU de 2008, observa-se a apresentação de ações que foram
implantadas em 2007 e que foram positivas e bem acolhidas por professores, alunos
e comunidade. E em 2008 permaneceram nas rotinas de cada professor, além das
Oficinas de Aprendizagem, realizadas uma semana por mês:
Roda Filosófica: momento pensado na rotina semanal de cada professor,
garantindo um espaço de reflexão sobre os acontecimentos na sociedade e
os posicionamentos dos alunos e professores como cidadãos frente às
situações trazidas.
Assembleias de pais e Oficinas da Família: momentos de conversas e
vivências com os pais, com a intenção de aproximá-los da escola, com o
objetivo de auxiliar as famílias no desenvolvimento global das crianças. As
oficinas trabalhadas foram: Biscuit, Découpage em caixa, Ikebana,
Cozinhando com talos e folhas.
39
Semana do Meio ambiente: atividades vivenciais, integrando professores,
alunos e comunidade numa proposta de conscientização sobre o tema.
Assembleias de alunos e representantes de classe: momentos de discussão
sobre conflitos internos e problemáticas surgidas em sala de aula. As
reuniões eram registradas em livro ata e assinadas por todos, a fim de
assumirem as responsabilidades sobre o que foi acordado.
Equipes de responsabilidade: cada classe é responsável em organizar seu
próprio espaço, sala de aula e demais dependências de usufruto comum. O
objetivo principal é a aprendizagem do trabalho coletivo para o bem comum.
Um momento interessante de reflexão sobre o processo de ensino-
aprendizagem ocorre após as primeiras semanas de aula de cada ano letivo, nas
quais os professores observam seus alunos em vários momentos diferentes.
Descrevem, em uma Carta de Intenções sobre cada aluno, seus aprendizados e
possíveis trabalhos individualizados. Relatam sobre o perfil da turma, o
planejamento para o ano letivo e os projetos que fazem parte do programa. Cada
professor tem um estilo próprio de elaborar sua Carta e em média cada um utiliza de
4 a 19 páginas para escrever suas intenções. Nos PPUs estudados, todos
apresentaram essa seção da Carta de Intenções.
Ainda em 2008, no segundo semestre ocorreu a preparação, durante os H.Es,
para elaboração do PPU de 2009 Vilma, a coordenadora e o corpo docente
reuniram-se toda semana com o propósito de alinharem os detalhes de fechamento
do projeto Oficinas de Aprendizagem. Um fato que retomou nessas reuniões foram
os questionamentos aos professores.
Que tipo de escola a gente tem?
Que tipo de escola a gente quer?
Que tipo de aluno a gente quer?
Que tipo de metodologia os professores usam?
Está faltando algo pra se chegar a isso que a gente quer?
A imagem abaixo retrata o processo de elaboração do documento de 2009.
40
Fonte: PPU de 2009, p.10
Os questionamentos e reflexões foram expostos em cada encontro. Os
professores repensavam suas práticas e refletiam o porquê reclamam tanto que os
alunos eram indisciplinados, que não prestavam atenção, que eles só queriam
brincar.
Na tentativa de buscar um diagnóstico, mais questões foram levantadas por
Vilma aos professores: “Mas será que tem a ver com nossa prática também? Que
dia da sua aula ele presta mais atenção? Essa semana, a tarefa de vocês é
41
perceber em que dia ele prestou mais atenção na sua aula? Foi na hora que você
brincou? Foi na hora que você sorriu?” Ela fazia refletir sobre a prática, mas alguns
(professores) diziam: “Eu não posso fazer isso todo dia né!” Todo dia eu vou dar
essa aula (Oficina)?” Vilma questionava: “Porque que a gente não pode fazer isso
todo dia? Por quê? Será que eu não posso ensinar uma conta de outra forma?” Daí,
ela trazia pra estudar alguns conceitos: o que é o conceito de conta. A gente ia
fazendo esse estudo.”(fala da professora Pilar)
A realização das Oficinas de Aprendizagem como projeto piloto possibilitou
muita reflexão e mudanças em seu formato. Assim, em 2009, as Oficinas mudaram
de nome e de propósito: passaram a ser chamadas de Oficinas de Linguagem, de
Raciocínio Lógico, de Experimentação e Criação (Ciências), Conhecimento de
Mundo (História e Geografia), Língua Inglesa e Corpo em Movimento. Cada
professor ficou responsável por uma Oficina, especializando-se naquela
disciplina/oficina. Assim, o professor de uma oficina dava aulas para mais de uma
sala, do mesmo ano, mas agora trabalhando com os conteúdos programáticos de
cada ano e não mais com aquilo que lhe dava prazer, sem se preocupar com o
conteúdo.
Para o trabalho pontual com alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem, a rede municipal de educação utiliza aulas de reforço chamadas
Oficina de Aprendizagem e que para esta escola foi proposto o nome de Oficina de
Aprendizagem Fios do Saber. O diferencial desta para as outras da rede é que Vilma
solicitou da secretaria duas professoras para trabalharem especificamente com
estas Oficinas, que se encontram descritas abaixo.
42
43
Fonte: PPU de 2009, p.79 e 80
O ano de 2009 estava pronto para ser realizado, porém, como dito acima, no
início do ano, a diretora Vilma recebeu um convite para assumir a direção do Ensino
Fundamental na Secretaria de Educação. Este fato foi sentido por todos da escola,
pois foram vários projetos pilotos, estudos e reflexões para que se concretizasse
uma nova escola e a notícia preocupou a todos da escola. O ano transcorreu como
planejado e Vilma assistiu a tudo, porém mais de longe. Deu assessoria, ia à escola
com frequência e amparou as duas coordenadoras que ficaram na escola, as quais
assumiram várias funções, pois Vilma solicitou que não enviassem nenhum diretor
para a escola naquele ano, se prontificou a dar essa assistência.
44
Os professores realizaram tudo o que planejaram para 2009. No entanto, no
final desse ano, receberam a notícia de que iriam trabalhar no próximo ano (2010)
com um material apostilado, eles e todas as escolas da rede municipal.
Em 2010, houve a implantação do material didático da Fundação Bradesco, o
Educa+Ação. Os professores tiveram formação para trabalharem com o novo
material e a escola recebeu uma nova diretora substituta, pois Vilma não conseguia
mais disponibilizar seu tempo entre secretaria e a escola. Essa diretora já havia
trabalhado nesta escola como coordenadora com Vilma, mas não conhecia o
trabalho que estavam realizando com as Oficinas. Assim, alguns fatos foram
complicadores na relação entre ela e alguns professores mais resistentes.
Os professores solicitaram à Vilma que postergasse o início da utilização do
material da Fundação Bradesco, para que pudessem trabalhar com as Oficinas com
maior preparo do todos, mas, devido aos índices do IDEB de 2009 (como mostra a
imagem abaixo) – o qual apresentou uma pequena queda – Vilma não teve
argumentos para defender o projeto na Secretaria de Educação.
45
Fonte: PPU de 2012
Segundo as professoras entrevistadas, a entrada do material engessou o
trabalho das oficinas em 2010, que foi agravado por outros fatores: diretora nova,
professores novos que não conheciam nem haviam estudado o que se realizava nas
Oficinas e a dificuldade de alguns professores de alinharem o material didático às
Oficinas.
46
Em 2011, um novo diretor assumiu a direção da escola, agora com o cargo de
efetivo; e trouxe consigo uma coordenadora que juntos pensam e entendem a
escola como um espaço de aprendizagem, assim como Vilma. Este diretor tentou
retomar as oficinas, mas, com o material didático obrigatório, tornou-se inviável. No
entanto, a preocupação com os estudos e reflexão quanto a prática pedagógica foi
restabelecida, não como nas gestões de Vilma, mas houve, de outra forma, um
resgate quanto aos estudos.
Desta forma, em 2011 e 2012, a nova gestão ouvia os professores, trabalhava
a formação de maneira reflexiva sobre as práticas efetuadas pelos professores. Os
projetos que ocorriam na gestão da Vilma, nem todos tiveram continuidade: as
Oficinas foram diluídas em disciplinas, os nomes continuaram, mas o “fazer”
modificou-se. Seguiu-se o esquema de troca dos alunos de sala e os professores se
especializando nos conteúdos específicos, porém com o formato de aula expositiva,
menos interativa.
As Oficinas de Aprendizagem Fios do Saber mudaram de propósito e
passaram a serem “Oficinas de Aprendizagem”. Os alunos que apresentavam
dificuldades pedagógicas (leitura, escrita e raciocínio) eram atendidos fora do horário
regular de aula, quando necessário, pelo próprio professor, para realização de uma
aula de reforço pedagógico. Quando os professores observavam dificuldades na
aprendizagem dos alunos, solicitavam aos gestores a realização das oficinas de
aprendizagem, que eram utilizadas como método de intervenção imediato, nas quais
os professores se organizavam em áreas do conhecimento (Linguagem e
Raciocínio) e, uma vez por semana, realizavam atividades pontuais com as crianças
com dificuldades nestas áreas, até que obtivessem melhora no desempenho.
As Oficinas de Aprendizagem e seus resultados foram registrados no PPU de
2011:
“Esta questão sinalizou-nos uma falha importante na comunicação escola/família. O resultado mostra claramente que um grande número de famílias não conhece o trabalho de oficinas de aprendizagem realizado pela escola. Além disso, uma análise inicial mostra que o trabalho realizado, segundo os pais, não apresenta boa qualidade. Em reflexão realizada a partir deste resultado, traçamos algumas metas para este ano letivo, como a realização de reuniões periódicas com os pais dos alunos que apresentam mais dificuldades e que necessitam destas oficinas, apresentação da evolução das crianças aos pais, realização de oficinas com os pais, etc. Assim, nosso objetivo é que as famílias estejam sempre inteiradas deste
47
importante trabalho realizado pela escola e possam participar ativamente deste processo.” (PPU de 2011, p.71)
Em 2012, as Oficinas de Aprendizagem passaram por uma reorganização.
Os professores trabalharam de forma mais pontual, dando um apoio incondicional às
crianças com maiores dificuldades e apoiando o trabalho realizado em sala pelos
professores. Isto foi comprovado pelos resultados obtidos, ao final do ano letivo,
quando praticamente todos os alunos de 3°s, 4°s e 5°s anos já tem a base
alfabética, exceto alguns casos de crianças que estão encaminhadas para análise
de especialistas ou já apresentam diagnósticos de ocorrências que dificultam a
aprendizagem. As Oficinas ocorreram no horário contrário ao horário de aulas dos
alunos, o que garantiu uma resposta muito positiva tanto dos alunos quanto dos
pais.
Neste ano de 2013, o diretor e a coordenadora assumiram cargos na
Secretaria de Educação e uma nova diretora substituta veio à escola, esta, porém,
com muita dificuldade de se adaptar ao novo ambiente de trabalho. As professoras
entrevistadas e a nova coordenadora da escola indicam as impossibilidades de
diálogo com essa gestora. O que foi comprovado por mim, ao tentar dar
continuidade ao processo de pesquisa na escola; a diretora não permitiu minha
entrada e permanência por muito tempo, evitando telefonemas e solicitando que
terminasse rapidamente as entrevistas que faltavam.
2.3.- INSTRUMENTOS
Intencionada a compreender todas as questões propostas para este estudo,
optei por ser esta uma pesquisa qualitativa e, como instrumentos de coleta de
dados, a entrevista semi-estruturada. Partindo do pressuposto da importância do
caráter de interação que permeia a entrevista, descrito por Lüdke (1986), e sabendo
o quanto seria importante uma maior aproximação à história profissional das
entrevistadas, adotei como instrumento investigativo as entrevistas recorrentes, pois,
a cada momento de narração, percebia possibilidades de maiores avanços e
aprofundamentos.
Assim, os instrumentos investigativos metodológicos desta pesquisa são:
48
1. Entrevistas recorrentes com três professoras que atuam na escola estudada e
que participaram das mudanças na estrutura pedagógico desta unidade;
2. Análise dos Projetos Pedagógicos da Unidade, a fim de identificar as
mudanças ocorridas no trabalho pedagógico da unidade desde 2005.
Os PPUs de 2006 a 2009 foram analisados no início de 2013, e a busca por
eles foi demorada, pois, devido às mudanças de gestão e do corpo docente da
escola, não se encontravam as cópias destes documentos. A escola me
disponibilizou apenas três PPUs (2006, 2008 e 2009), pois os outros solicitados por
mim não foram encontrados na unidade. Os PPUs de 2011 e 2012 foram-me
concedidos no decorrer de 2012, durante as idas à escola.
Os roteiros para realização das entrevistas foram constituídos a partir da
compreensão sobre os aspectos dos processos relacional e biográfico, dos
movimentos de atribuições e pertenças e das crises existentes e operantes no
constructo da identidade docente, postulados por Dubar (2005). Assim, parto das
dimensões relacionadas na imagem abaixo, com as quais espero levar uma maior
compreensão quanto ao movimento identitário docente investigado nesta escola em
particular.
Com o propósito de se verificar as possíveis mudanças que possam ocorrer
em decorrência de uma formação continuada em ambiente de trabalho, selecionei
os eixos que são referenciais para a compreensão desta pesquisa: trajetória de
vida pessoal e profissional; formação continuada; trabalho coletivo;
constituição da identidade docente; movimentos identitários e as relações
interpessoais, perpassando, envolvendo e movimentando cada dimensão conforme
as situações e circunstâncias ocorridas no campo profissional do professor.
O esclarecimento das dimensões expostas na imagem encontra-se na
fundamentação teórica.
49
Imagem 1: Catavento - o movimento que constitui a identidade
A verificação das facilidades ou dificuldades do roteiro elaborado foi feita por
meio da aplicação de uma entrevista preliminar a uma professora de educação
básica da escola pública estudada. A seleção desta professora deveu-se às
condicionantes: disponibilidade de tempo e de vontade de participar desta pesquisa.
Esta entrevista preliminar (anexo I) foi realizada em 12 de setembro de 2012.
A professora Susi se dispôs a ser entrevistada logo após sua Hora de Estudo.
Fomos a uma sala ao lado da sala dos professores, na qual as professoras
permanecem para realização de suas tarefas pedagógicas (elaboração da rotina da
semana). A duração da gravação foi de 81 minutos e houve ruídos externos
(conversas paralelas das professoras e barulho de carros passando pela rua) que
interferiram na audição da gravação.
A entrevista preliminar (piloto) acabou se tornando parte do processo de
pesquisa e o tipo de questionamento trazido por ela redirecionou o projeto todo, o
que levou a novas questões, resultando assim num roteiro final (anexo II). E em
entrevista recorrente, estas questões foram apresentadas também à professora.
50
2.4.-PERFIL DOS SUJEITOS E ROTEIRO DE ENTREVISTA
Os sujeitos foram questionados a respeito de dados básicos para o
delineamento do perfil de cada entrevistado.
Dados Objetivos
1. Nome: (iniciais) _____________
2. Idade: ____________________
3. Formação acadêmica:
__________________________
4. Ano de conclusão: ___________
5. Cargo:_____________________
Identificar as professoras e caracterizá-las.
Roteiro de entrevista individual
No roteiro final (anexo II), objetivando investigar em que medida um trabalho
pedagógico importante para uma escola, num determinado período de gestão
pedagógica, permanece na prática dos professores e traduzida em sua constituição
identitária, mesmo após mudanças radicais acontecidas, optei por elaborar questões
que nortearam as entrevistas recorrentes (gravadas em áudio).
Após análise da entrevista piloto, observou-se que a realidade encontrada na
unidade e na trajetória de vida profissional dessa professora entrevistada fez com
que o foco da investigação mudasse. Chegou-se a conclusão de que a trajetória de
vida pessoal e profissional desta professora pode revelar dimensões relacionadas ao
construto identitário profissional, a partir das circunstâncias vivenciadas na formação
continuada dentro e fora do ambiente de trabalho e das mudanças no trabalho
pedagógico desta unidade em particular, gerando uma nova problemática em torno
do mesmo tema.
Assim, decidiu-se verificar estas dimensões em mais duas professoras da
unidade, que tenham passado pelas mesmas condições de formação continuada e
mudanças na estrutura pedagógica nesta escola por meio dos questionamentos
descritos no roteiro abaixo:
51
QUESTÕES
1. Gostaria que me contasse sobre sua formação acadêmica, desde quando foi aluno (a): que
professor(a) o(a) marcou; teve algum professor(a) que, refletindo hoje, foi importante pra você; em
que sentido?
2. O que a levou a escolher esta profissão?
3. Há quanto tempo é professora?
4. Como foi sua trajetória profissional até chegar a esta escola?
6. Você participa de cursos de formação na sua área? São oferecidos pela rede ou os faz
particularmente? Como os avalia?
7. Conte-me como foi a experiência de formação vivenciada por você nesta escola?
8. Que consequências esta formação trouxe a você? Verificar:
Em que isso te afetou?
Quais os aspectos positivos e negativos?
Como afetou seu trabalho, a educação, a escola, o PPU da escola?
9. Após a implementação do material didático, aconteceram mudanças? Que mudanças foram
estas? Em que medida interferiram ou não, atrapalharam ou não a manutenção de certos aspectos
do trabalho pedagógico ou que aspectos foram mantidos, quais foram mudados? Como isso afetou
você pessoalmente e a vida da escola coletivamente?
10. Como sente a permanência desse trabalho atualmente?
11. Em que isso te afeta hoje?
12. Que elementos acredita serem essenciais para exercer o papel de um professor?
13. Qual foi seu maior desafio como professor?
Quadro: Roteiro de entrevista individual
Os dados obtidos nas entrevistas e a análise dos PPUs foram organizados
nas seguintes categorias: processo biográfico; processo relacional e movimento
identitário docente e, inserida em cada categoria, as sub categorias abaixo
organizadas:
52
53
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DOS DADOS
Para realização deste estudo, foram entrevistadas três professoras e
analisados os Projetos Pedagógicos da Unidade (PPU), de 2005 a 2012, da escola
investigada. Com o propósito de organizar e sistematizar as informações coletadas e
identificar pré-categorias, as entrevistas foram transcritas e seus conteúdos
analisados.
A partir destas análises, busquei compreender: a) quais aspectos identificam
os processos relacional e biográfico; b) os movimentos de atribuição e pertenças e
as crises existentes e operantes no constructo da identidade docente; c) e como
estes aspectos são negociados pelos professores em sua trajetória relacional, nos
momentos de formação continuada e nas circunstâncias de ruptura de um trabalho
pedagógico ocorrido no sistema de ensino e na gestão da escola.
3.1 –OBJETIVOS DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS
Para análise dos dados, busquei identificar as características percebidas
como mais significativas, nas falas das docentes, e que estão relacionadas aos
objetivos desta pesquisa.
A tabela 2 apresenta três categorias em que se entrecruzam os aspectos
acima mencionados, os eixos citados na p. 48 e as dimensões apresentadas na
imagem1 da p. 49.
Tabela 2: categorias das falas dos professores
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS OBJETIVOS
Processo biográfico
Escolha
Início de carreira
Pessoas significativas
Identificar elementos que influenciam
o processo de constituição do
profissional docente
Processo relacional Formação continuada
Ser professor
Conhecer a história auxilia na
compreensão do profissional que é
atualmente, considerando as
54
Atribuições profissionais
Pertenças profissionais
questões da formação continuada
Compreender o movimento identitário
imbricado na articulação entre
atribuições e pertenças relacionadas à
profissionalização docente
Movimento identitário
docente
Circunstâncias
Crises
Negociações Identitárias
Compreender o movimento identitário
das três professoras nos momentos
de formação continuada e nas crises,
investigando quais as estratégias que
mobilizam para negociarem consigo
mesmas, com seus pares e gestores
em suas relações.
Observar as transações objetivas e
subjetivas que se imbricam nos
movimentos identitários.
Fonte: entrevistas com as três professoras
3.2 - CONHECENDO AS PROTAGONISTAS DA ESCOLA
Dedico este capítulo às três professoras que me encantaram com suas
trajetórias de vida, com suas escolhas, seus desafios e suas conquistas. E, é por
meio destas histórias que se torna possível conhecer as razões que as fizeram
serem protagonistas desta investigação.
Quando cheguei à escola Georgia para a primeira entrevista, não sabia quem
seriam as entrevistadas. O diretor questionou se teria algum requisito especifico
para a escolha das professoras. Diante da negação, ele indicou quem estaria livre
naquele dia para realizar uma entrevista. Susi se prontificou. Em outro momento,
Ana disponibilizou seu tempo para contar sua trajetória e Pilar foi o contato que me
passaram, pois, devido à dificuldade de entrar na escola em 2013, com a nova
gestão, o antigo diretor me concedeu o contato desta professora, pois seria mais
fácil contatá-la diretamente, já que não era mais professora desta escola e sim
supervisora de ensino.
Sem saber o que iria encontrar e sem a intencionalidade de selecionar
professoras que tivessem vivenciado a mesma formação continuada na gestão aqui
investigada, me foi disponibilizado pelas protagonistas um enredo instigante sobre
como é possível operar mudanças na educação através de uma formação
55
continuada e de um trabalho coletivo intencional e comprometido, imbricado nas
questões que envolvem a constituição identitária dos professores.
A seguir, apresento as profissionais que concederam suas histórias, alegrias,
conflitos e horas de relatos interessantes e apaixonantes.
Susi tem 43 anos, é formada em Magistério e Pedagogia com especialização
em Educação Especial e pós-graduação em Metodologia Educacional. Iniciou sua
trajetória profissional aos 18 anos, trabalhando com crianças com necessidades
especiais.
Foi numa das escolas de Educação Especial que Susi conheceu Vilma. A
identificação com o trabalho e com as ideias dessa educadora foi imediata, tanto
que, quando Vilma saiu da Educação Especial para trabalhar na Educação Infantil
da rede municipal, Susi também o fez. Descreve a ligação com esta diretora como
uma “grande sorte na vida” dela.
Quando Vilma saiu da Educação Infantil para assumir a direção da escola
Georgia, em 2001 (escola estudada), Susi solicitou remoção para mesma escola.
Sua atuação, nesses anos todos, foi em sala de alfabetização. Em 2013, foi
convidada pela Pilar e indicada por Vilma, para ser capacitadora de professores
alfabetizadores na rede. Começou a fazer um curso preparatório para trabalhar com
os 25 professores que teria sob sua responsabilidade, porém um mês depois de ter
aceito o convite, decidiu permanecer na escola e exercer sua função de professora.
Sua história é comovente, pois a dedicação com que realiza seu trabalho de
alfabetizadora reflete a sua identidade e a sua necessidade do contato e do trabalho
com crianças.
A próxima entrevistada é Ana, tem 42 anos, é formada no Magistério, fez três
anos de Psicologia, mas não concluiu o curso e formou-se em Pedagogia. Sua
primeira experiência na Educação foi em uma escola de Educação Infantil particular,
na qual exerceu o cargo de professora do berçário. Ana apresenta uma fala doce,
porém preocupada em responder da forma adequada e correta as questões
elaboradas pela pesquisadora.
56
Ela prestou concurso na rede municipal e, desde que assumiu, em 2004, está
na mesma escola, trabalhando com Susi, sua parceira na alfabetização.
Ana, ao entrar na escola Georgia, atuou primeiramente na 4ª série, o que,
segundo ela,
foi um desafio muito grande, sofri bastante, porque é difícil. As crianças nessa idade são difíceis. O conteúdo pra dominar, pra passar pra eles, mas, apesar disso, eu tive o apoio de todo mundo. (Ana)
Depois desta experiência com a 4ª série, passou a trabalhar com salas de
alfabetização e o faz até hoje. Atualmente, sente que domina com propriedade o
conteúdo e as estratégias de trabalho com essa faixa etária, sente-se mais segura.
Pilar, 42 anos, é formada no Magistério e na Pedagogia. Adora contar sua
trajetória. Começou como professora substituta, em escolas da cidade vizinha à que
morava, quando cursava o Magistério, trabalhando com classe multisseriada
(crianças de quatro anos e meio e seis anos). Ficou cinco anos nessa condição até
prestar concurso e se efetivar na rede estadual, permanecendo aí por seis anos.
Solicitou exoneração da rede estadual para ingressar na rede municipal.
Logo nos dois primeiros anos de rede municipal, devido à sua experiência de
11 anos com alfabetização, Pilar foi convidada a assumir o cargo de “Capacitadora
de Professores” junto a outras professoras e trabalhar com a formação dos
professores da rede.
Durante o período em que ocupou a função de Capacitadora, participou de
vários cursos de formação com professores da USP e UNICAMP, o que, segundo
ela, ajudou muito em sua formação pessoal e profissional. Desenvolvia sua função
como coordenadora de grupos de estudo, como professora mediadora. Mas, depois
de dois anos, pediu para voltar para sala de aula, pois a Secretaria de Educação
decidiu chamar especialistas de Universidades para realizar as capacitações.
Pilar relata que percebeu não exercer mais sua função nos grupos de estudo,
quando a Secretaria de Educação chamou, segundo ela, “um doutor pra dar aula”.
Ela conta que “decidiu sair, porque (se) sentia extremamente mal.” A perda de
sentido de sua atuação nos grupos de formação evidencia-se quando ela afirma que
“ficava no grupo sem ter o que fazer”. De formadora, ela passa a se sentir cuidadora,
57
fato que se revela quando expressa ter a impressão que [...] “estava ali pra tomar
conta.”
Depois disso, voltou para sala de aula na escola Georgia, na qual a diretora
Vilma realizava um trabalho diferenciado5, com o qual Pilar se identificou.
Permaneceu na escola Georgia por cinco anos e novamente foi chamada para
assumir outra função, agora o de coordenadora pedagógica, em outra escola do
município. Após um ano como coordenadora, retornou para escola Georgia e a
direção havia mudado. O trabalho não estava mais transcorrendo como antes. Pilar
ficou um ano e novamente foi chamada pela Secretaria de Educação para assumir
outro cargo, agora (2013), o de Supervisora de Ensino.
Esta breve apresentação é um convite àqueles que desejam conhecer os
movimentos que se processam nas trajetórias identitárias de professoras que são
comprometidas, primeiro consigo mesmas, com seus alunos, com a comunidade e
principalmente, com a educação.
3.3 - O PROCESSO BIOGRÁFICO: A ESCOLHA, O INÍCIO DE CARREIRA E AS
PESSOAS SIGNIFICATIVAS
Conhecer a trajetória de vida das personagens da escola apresenta o clima
existente entre os profissionais, alunos, pais e comunidade. E este clima
influencia/interfere no movimento de constituição da identidade das professoras
pesquisadas que atuam na escola em questão.
As três trajetórias das professoras investigadas nos oferecem pistas sobre o
ser professor e o ser profissional, que é único e rico de elementos constituintes do
ser humano.
Com essa intenção, inicio trazendo as falas sobre o motivo da escolha pela
profissão das professoras investigadas. Duas delas não tinham certeza do que
queriam, mas sabiam o que não queriam como profissão.
5 Este trabalho está descrito na seção Metodologia – Historicidade de um trabalho diferenciado
58
[...] caí no magistério por conta de fugir de química e física. Eu odiava, não queria. (Susi)
Na verdade eu não me identificava muito no colegial normal. [...] e fui para o magistério. Eu gostei muito. Identifiquei-me com o estudo, com o conteúdo e os professores também foram importantes.(Ana)
Susi e Ana chegaram ao Magistério pelo caminho da fuga de outras
possibilidades e, ao conhecer e entender do que se tratava, identificaram-se com o
curso, com o conteúdo e com alguns professores.
Para Pilar, ocorreu o inverso. Ela conta que, desde pequena, já se encantava
com o atuar do professor, por meio de uma tia, e que sabia o que queria ser desde o
Ensino Fundamental.
[...] minha grande influência foi uma tia minha, irmã da minha mãe, Tia Laura. Ela era professora e minha madrinha de batismo. [...] E ela me levava na escola com ela, desde criança, 5, 6 anos e eu achava lindo... ela colava enfeitinho no caderno, levava caderno pra casa pra corrigir. Ela me levava de final de semana pra casa dela e me deixava corrigir o que dava pra corrigir. Ela foi a grande e talvez a única que me influenciou a ser professora. Então eu não pensava em mais nada. (Pilar)
A escolha de uma profissão se dá por várias vias e aqui visualizamos duas
delas. Há a escolha pela identificação com um modelo, sendo este constituído na
relação de respeito e estima pelo ser humano e pelo ser profissional, relação esta
definida por Ronca (2007) em seu estudo sobre a admiração na docência.
Admiração para ela tem o sentido de mergulhar no sujeito admirado, percebê-lo e
atingir sua inteligibilidade, conseguindo assim uma comunicação única com estes
modelos.
A estima/admiração sentida por Pilar em relação à tia não era só pela
profissional, da qual observava as funções, mas também pela pessoa que ajudava a
família de Pilar em várias situações de dificuldades. A relação que Pilar estabeleceu
de identificação com sua tia foi significativa e carregada de afetividade e admiração.
Ao se identificar com esta pessoa (e outras que veremos no processo relacional) e
sua atividade profissional, Pilar foi construindo e desenvolvendo o que Dubar (2005)
chama de “identidade para si”. Essas identidades foram incorporadas
progressivamente das experiências vividas em seus grupos de origem e culturais.
Antes de iniciar a atividade profissional, cada professora pertenceu a um
grupo ou mais, interiorizando categorias sociais (filha, neta, aluna, mãe etc), e estas
categorias possibilitaram que cada uma, pelas e nas relações que estabeleceram
59
com outras pessoas em seus respectivos grupos, fossem se constituindo
singularmente.
As categorias sociais, interiorizadas no decorrer do ciclo de vida (níveis escolares, categorias profissionais, posições culturais...), constituem o material a partir do qual os indivíduos inventam para si identidades singulares, para unificar suas existências e tentar fazer valer sua pretensão em um ou outro campo da prática social e profissional (DUBAR,1998, p.15).
Inicio com Pilar para análise desse processo, definindo, desta forma, seu
pertencimento social e profissional. O relato de Pilar, do tipo biográfico, demonstra
as diversas maneiras como ela tenta dar conta de sua trajetória (familiar, escolar e
profissional) e, por meio desta história, ela justifica as posições que ocupou nos
vários momentos/fases de sua vida. Ao narrar-se, é possível que antecipe seu futuro
possível, elaborando assim, uma reconstrução subjetiva de si. Dubar chama este
processo, condensado em poucas fórmulas, de "identidade biográfica" ou, ainda, de
"identidade para si". (DUBAR, 1998, p.14).
Ela era professora e minha madrinha de batismo, ela era uma pessoa muito presente na minha vida, em termos emocionais, de ajuda financeira, sempre levando comida. [...] Ela sempre estava com a gente, ia passear com ela. [...] Ela foi a grande e talvez a única que me influenciou a ser professora. [...] Quando comecei o magistério, comecei a trabalhar e me apaixonei, vi que eu gostava mesmo disso. (Pilar)
Susi, em seu relato, indica a importância de alguns professores na sua
escolha e formação profissional, porém não deixa claro quem foram essas pessoas
significativas. Faz referência apenas à Vilma, diretora que teve grande influência em
sua vida profissional. Assim, de alguma maneira, a categoria social a respeito do
profissional de educação foi interiorizada. Ela revela uma identificação mais ligada
ao objeto de trabalho, criança/aluno, do que com o atuar pedagógico.
[...] vou entrar um pouco na minha vivência, na minha vida. Eu não fui uma criança a quem era permitido brincar. Minha família é uma família de português, então eu não podia brincar. E eles (os alunos) me possibilitam isso. E com eles eu consegui agir assim, não da mesma maneira, obvio, mas assim, eu posso entrar no mundo deles e ai é muito bom. Eles me veem de igual pra igual. Tem vezes que eles não me chamam de “prô” quando estou na fantasia, eu sou a personagem. Isso é muito gostoso. (Susi)
Os estudos de Dubar possibilitam analisar a fala de Susi, referindo-se à
construção da identidade para si a partir das transações objetivas e subjetivas
ocorridas em suas relações, no decorrer de sua história. Em sua infância, Susi foi
tolhida do contato com outras crianças e o brincar não lhe era permitido. Enquanto
60
pequena, necessitava sentir que pertencia a um grupo (sua família), por isso Susi se
absteve de seus desejos para se sentir parte da família. (DUBAR, 2005, p.50.)
Diante do poder de seus pais, que como ela afirma, eram rígidos, Susi teve
que negociar seu desejo de brincar (transação subjetiva) com o que os pais
realmente queriam dela (transação objetiva), o não brincar – “visando acomodar
para si a identidade para o outro”. (DUBAR, 2005, p.140). A articulação entre essas
duas transações configura uma negociação entre identidade “virtual” – aquilo que foi
atribuído no passado pelos pais e a identidade “virtual” para si, que Susi construiu a
partir de suas pertenças, ao longo de sua história.
Veremos mais adiante que as circunstâncias ocorridas na infância de Susi e
as negociações que utilizou, sugerem à constituição de uma identidade insegura,
observável no seu processo relacional.
Ainda de acordo com Ronca, pensando na questão da admiração, que é um
dos fatores que leva à escolha da docência como profissão: esta tem que ser
encarada pelas questões que geram incertezas ou como uma tentativa, que pode
ser bem sucedida ou não, pois pode não acontecer a identificação com a profissão.
Uma vez que, exercendo a docência, a admiração por si só não garante a
permanência na profissão. Esta escolha pode se dar muitas vezes pela necessidade
financeira ou intenção de fuga de outras opções profissionais, como relata Ana.
[...] Fui trabalhar em comércio. Depois sai e levei meu currículo de magistério para as escolas particulares. Numa tentativa, não como uma opção que era aquilo que eu queria, mas de ver como era trabalhar com o magistério e não mais com comércio. (Ana)
O fato de conhecer (cursar magistério) a profissão sem vivenciá-la não
garante que será uma escolha acertada. Os estágios durante o curso não foram
suficientes para que Ana se decidisse pela profissão. Apenas quando passou a
exercer a docência é que percebeu o quanto se identificava com a mesma.
Entre você estudar e depois trabalhar é diferente de estudar e trabalhar ao mesmo tempo na sua área. Você compreende mais as coisas passadas na faculdade, você vivencia, tem uma relação melhor de quando você está só estudando. [...] Pra ser uma boa professora, você precisa ter base, estudo, atualização e gostar sim de criança. (Ana)
61
Realizadas as escolhas, nem sempre a entrada no mercado de trabalho é
satisfatória. Diferente da Ana e da Susi, Pilar não queria trabalhar com crianças
pequenas, apesar de gostar delas, mas foi por ai que começou.
[...] apesar de eu amar criança, não era muito. [...] não foi onde eu me identifiquei. Identifiquei-me mesmo quando sai do infantil, fiquei dois anos só no infantil e vim pro fundamental, pegando substituições. [...] adoro criança pra brincar, mas pra trabalhar era o fundamental mesmo que eu vi que eu queira. (Pilar)
As professoras Susi e Ana, apesar de gostarem de crianças, não sabiam
profissionalmente o que queriam e “acabaram” no magistério. Esse início para elas
não foi tão fácil assim, como explicitam em suas falas:
[...] com 18 (anos), nessa sala de deficiente mental profundo, desesperada e sem saber nada. Ai fui né. A gente corre atrás e vai caminhando. Eu fiz a Educação Especial com o interesse de trabalhar unicamente com Educação Especial. Trabalhei 10 anos. (Susi)
[...] minha experiência, [...] foi boa na escola particular, porém não me deu base pra que eu conseguisse começar na rede municipal. [...] foi um desafio, porque do berçário ia passar pro Jardim e nem tive a experiência dele e já vim direto pro 4º ano [...] foi um desafio muito grande, sofri bastante, porque é difícil, as crianças nessa idade são difíceis. (Ana)
As condições de trabalho que deram início à vida profissional destas
professoras foram marcadas por momentos de transformação de mundo e de
desestruturação/reestruturação de identidade. Mesmo a formação no Magistério e
depois em Pedagogia não as impediram de passar por um choque, ao lidar com as
novas situações de demanda profissional. Era uma situação muito nova e real,
diferente da conhecida academicamente ou em sua própria história pessoal de vida.
Segundo Dubar (2005, p.123), para que os dois processos “transformação de
mundo” e “desestruturação/reestruturação de identidade” possam ter êxito,
necessitam das seguintes condições:
1. Tomada de “distância de papéis”;
2. Técnicas especiais que assegurem um forte engajamento pessoal;
3. Um processo institucional de iniciação que permita uma transformação real da
pessoa;
4. A ação contínua de um “aparelho de conservação”, que permita conservar,
modificar e reconstruir a realidade subjetiva, com a inclusão de uma contra definição
da realidade;
62
5. A existência de uma instituição mediadora que permita essa conservação de
uma parte da identidade antiga à medida que ocorre a identificação aos novos
significados percebidos como legítimos.
A trajetória das três professoras, em momentos diferentes, cada uma em seu
tempo e espaço, demonstraram as dificuldades, momentos de desestruturação e
reestruturação de suas identidades como pessoas e professoras e, cada uma a seu
modo, indicaram seus êxitos.
Um fator que contribuiu na questão da aprendizagem da profissão, além do
magistério que as três realizaram e da faculdade de Pedagogia, foram as pessoas
(formadoras) que as auxiliaram no início de carreira e que, para elas, foram
significativas. Como afirmam Placco e Souza (2006, p.17), a “aprendizagem do
adulto resulta da interação entre adultos, quando experiências são interpretadas,
habilidades e conhecimentos são adquiridos e ações são desencadeadas”.
A professora Pilar apresenta, além da tia que teve grande influência em sua
vida, duas pessoas significativas no início de sua carreira. A primeira foi uma amiga
da faculdade que a auxiliou quanto aos saberes de conteúdo e das práticas
pedagógicas:
[...] primeiro o que me ajudou muito, muito, muito foi uma colega da faculdade, Ela tinha uma escolinha de Educação Infantil [...] a gente conversava, eu contava do meu trabalho com 1º ano, alfabetização e ela dizia pra mim se eu não tinha curiosidade, vontade de saber da proposta... [...] ela nunca disse “isso aqui não presta, aquilo não presta, ela falava: “Pensa sobre isso, sobre aquilo.”...aquilo foi me encantando. (Pilar)
e a segunda foi a diretora Vilma, que também teve sua participação na trajetória
profissional de Susi e Ana.
A Vilma é uma pessoa muito, muito, muito parceira do professor. É uma pessoa muito organizada. É uma pessoa muito comprometida com a equipe. Então ela não deixa a gente sozinha. Eu já trabalhei com outras, tantos outros diretores organizados, mas a gente, assim... (outros diretores diziam:) “vai lá, você tem que fazer, você tem que resolver”. Os diretores eram muito mais... assim, numa emergência, você pedia..., ela (Vilma)não. (Pilar)
Susi se identifica e estabelece uma relação para além do âmbito profissional
com a diretora Vilma e sinaliza a importância que ela teve em seu processo de
formação como docente.
[...] vivi muita coisa com ela (Vilma)... aqui. Lá na Educação Infantil, a gente já vivia, porque ela é uma pessoa assim... muito idealizadora, ela busca muitas coisas diferentes, outros meios pra se conseguir [...] eu gostava
63
muito das ideias... e batia com as minhas [...] ela como é uma pessoa que gosta muito de desafios[...] então ela quis ir pro Fundamental. E ai a gente veio atrás.[...] comecei... a ter um olhar pra alfabetização.(Susi)
O início da carreira docente requer a apropriação e articulação de vários
saberes, requer do professor lidar com fatores internos e externos que envolvam o
processo de aprendizagem. As pessoas trazidas nas falas destas professoras
contribuíram para que esse processo se efetuasse.
O saber trabalhar se modifica com a experiência, com o tempo e com as
relações que estabelecemos no ambiente profissional. A coerência que há entre os
estudiosos (Tardif, Raymond e Dubar) proporciona uma confirmação sobre a
importância do trabalho e da formação continuada na constituição identitária.
[...] se o trabalho modifica o trabalhador e sua identidade, modifica também, sempre com o passar do tempo, o seu “saber trabalhar”. De fato, em toda ocupação, o tempo surge como um fator importante para compreendermos saberes dos trabalhadores, na medida em que trabalhar remete a aprender a trabalhar, ou seja, a dominar progressivamente os saberes necessários à realização do trabalho. (TARDIF e RAIMOND, 2000, p. 210)
Para Dubar (2005, p.151), “realizar a construção biográfica de uma identidade
profissional e, portanto, social” implica que a pessoa entre em “relações de trabalho,
participe de alguma das atividades coletivas em organizações”. Somente nesse
ambiente poderá também o professor construir sua própria identidade docente.
3.4 – O PROCESSO RELACIONAL: FORMAÇAO CONTINUADA, SER
PROFESSOR, ATRIBUIÇOES E PERTENÇAS PROFISSIONAIS
Não é nada simples articular estes tópicos com todo o material pesquisado,
mas também me rendo a dizer que é fascinante observar como se processa a
constituição identitária engendrada à formação continuada, ao trabalho coletivo, às
diferentes formas comunicacionais, ao reconhecer-se professor nas e pelas relações
interpessoais nas quais as atribuições e pertenças permeiam a trajetória profissional
de nossas protagonistas.
O processo biográfico e o relacional, segundo Dubar (2005, p.143) são
dialéticos, “coexistem e nenhum mecanismo macrossocial pode garantir, por
exemplo, que as trajetórias sócio escolares produzirão indivíduos providos de
atitudes relacionais pré-adaptadas ao funcionamento [...] dos sistemas sociais de
64
amanhã”. Partindo desta premissa, indago qual o papel dos cursos de formação
inicial ou continuada no processo formativo docente, considerando que estes
espaços não garantem que a trajetória vivida pelo sujeito, enquanto estudante, seja
ressignificada automaticamente e sem nenhuma reflexão quando ele for exercer o
papel de professor.
Com isso, chamo a atenção para o imbricamento destes processos na
constituição identitária docente, relacionando-o à questão da formação. A proposta é
mostrar como a identidade para si (biográfica) aparece nas interações relacionais no
ambiente profissional e como a identidade para o outro (relacional) se constrói nesse
meio por intermédio das tipificações. A fala de Susi exemplifica esse processo.
[...] o que sempre pesou mais foi a minha insegurança, entendeu, de lidar com o adulto. De ter que falar com o adulto, porque tudo aquilo que eu faço não foi nada daquilo que eu vivi. Então por mais que eu tenha essa compreensão, eu não consigo... fica na gente a educação que a gente teve. Por exemplo, eu hoje trabalho de uma maneira pra que as crianças falem, se coloquem, argumentem aquilo que elas pensam... e eu fui educada, na escola e na família, totalmente ao contrário, então isso pra mim é um bloqueio. É um bloqueio muito grande, porque eu não fui educada pra isso. Meus pais são portugueses, super rígidos, assim, então eu não podia abrir minha boca pra nada, então é difícil pra mim, muito difícil. E na escola também, totalmente tradicional, totalmente naquela condição de ficar sentado quieto e não abrir a boca, isso tá certo, isso tá errado. E o medo do erro pra mim é uma coisa que ficou muito forte. (Susi)
Para Susi, a escolha por trabalhar com criança está imbricada com o fato de
não se sentir bem nas interações com o adulto devido à educação rígida que
recebeu, a qual gerou alguns medos nesse sentido. Nas relações ocorridas nas
atividades de trabalho, Susi assume sua insegurança em relação ao adulto, por isso
prefere atuar com crianças, para poder firmar-se como pessoa, o que diminui sua
insegurança e, desta forma, posicionar-se como profissional.
É na atividade profissional, na interação com seus pares que o professor se
identifica, ou não, com os diversos papéis que experiencia, com os profissionais com
os quais lida, com os alunos com os quais interage.
Pilar é um exemplo do que pretendo explicar. Apesar de ter aprendido, na
graduação os conteúdos de que iria precisar para trabalhar em sala de aula quando
professora, talvez não tenha se apropriado deles como gostaria. Segundo Placco e
Souza (2006), as condições que favorecem o aprendizado decorrem não só do
desejo, do interesse, da necessidade, do compromisso etc (fatores internos), mas da
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interação destes com os fatores externos: a ajuda mútua, a diversidade encontrada
nas escolas e nas salas de aula, a natureza do conhecimento, o contexto político
educacional, o desafio permanente, entre outros.
Ao atuar na Educação Infantil, talvez Pilar não tivesse sentido tanta
necessidade de adequar seus saberes apropriados durante o curso superior. Mas
quando se deparou com a alfabetização, ainda em início de carreira, percebeu o
desafio que tinha pela frente. Pilar se viu numa situação desestruturante e, numa
tentativa de reestruturar sua identidade de professora (identidade visada – a
professora que deseja ser, que idealizava), procurou ajuda da amiga (com a qual se
identificava) e, hoje consegue, ao narrar sua história, definir seu próprio método de
aprendizado - mostrando o quanto foi transformador em seu processo constitutivo.
[...] ela (amiga de faculdade de Pilar) me fazia pensar sobre a prática, tanto que no ano seguinte, eu disse pra ela assim: Eu vou fazer isso. Você me ajuda? Então ela preparava aula comigo. E eu fazia tal e qual ela fazia. Uma criança fazia uma pergunta, eu não sabia nunca responder. Chegava à noite eu falava: Ai ele falou isso.... Ela dava risada e: “O que você perguntou? O que você falou?” Nada, porque eu não sabia o que falar! Porque eu desconhecia qualquer coisa da evolução da escrita... eu desconhecia isso. Então ela que foi estudando, me dando livro pra eu estudar. Ai eu fui estudando... [...] eu estava muito feliz de eu estar pensando e estar entendendo as coisas que, ao longo dos outros anos, eu tinha trabalhado e não tinha entendido. [...] eu não entendia, eu achava que era dificuldade do aluno. E entender que na verdade era dificuldade minha entender a evolução dele... eu estava tão feliz de estar tentando fazer uma coisa... que... que... fui aprendendo sobre isso. (Pilar)
Ana, no entanto é mais reservada ao falar de pessoas específicas que
contribuíram para seu aprendizado em início de carreira. Ela coloca o grupo, a
gestão, tudo no coletivo, fala da diretora Vilma, mas não se expressa enfatizando a
importância de Vilma.
[...] ela sempre buscava trazer temas pertinentes e sempre pensava na gente. Ela sempre pensou na gente que deveria continuar estudando.... [...] Eu contava com o apoio dos outros professores do 4º ano, das professoras do 3º, da própria gestão, da coordenadora, da diretora, tive o respaldo de todo mundo. (Ana)
As três professoras, mesmo trabalhando na mesma instituição, tiveram
pessoas significativas diferentes que as auxiliaram nesse processo de início de
carreira, inicio do trabalho em sala de aula.
[...] antes minha visão de escola era chegar e dar aula. Era coisa de deter o saber. Foi isso que na época que eu fiz faculdade que tinha que ser ali a coisa pronta, eu tinha que chegar com tudo pronto. Então na minha época da faculdade ainda foi assim. Ai aqui foi a descoberta de novos caminhos,
66
uma reflexão muito grande sobre aquilo que eu tinha estudado, sobre a minha prática anterior, né, aquilo que eu tinha estudado. (Susi)
Ela (amiga da faculdade) foi uma, na verdade ela foi o que me fez mudar em termos de concepção e estudar mais ainda. Porque até então eu escutava falar, na faculdade ninguém falou nada disso. Se falou foi tão passado que eu nem tenho essa lembrança...[...] ela estudava comigo em termos... qualquer coisa de capacitação ou formação ela foi o que me marcou...(Pilar)
Na fala das professoras, foi possível verificar lacunas na articulação entre
teoria e prática na função docente e, quando iniciaram seu trabalho como
protagonistas do processo, o outro significativo (seus pares ou superiores)
representou um suporte, um porto seguro, um modelo significativo para lidar com as
necessidades, frustrações, incertezas, desejos etc quanto às articulações entre o
que aprenderam na teoria (no curso superior) e a execução na prática (atuação em
início de carreira). A relação estabelecida com seu trabalho e as pessoas nele
envolvidas constituiu um processo relacional da identidade.
As professoras, ao se narrarem, contam sobre as passagens pela infância,
pela escola, entrada no magistério, contam sobre sua identidade biográfica. Para
Dubar (2005), estes processos - biográfico e relacional - são dialéticos e, apesar de
serem heterogêneos, utilizam de um mesmo mecanismo para se desenvolverem o
que este autor chama de esquema de tipificação, o qual implica na
[...]existência de tipos identitários, ou seja, “de um número limitado de modelos socialmente significativos para realizar combinações coerentes de identificações fragmentárias” [...] essas categorias particulares que servem para identificar os outros e para se auto identificar são variáveis tanto de acordo com os espaços sociais onde se exercem as interações como de acordo com as temporalidades biográficas e históricas em que se desenrolam as trajetórias. (DUBAR, 2005, p. 143)
Ao exporem suas trajetórias (experiências e dinâmicas relacionais), as
professoras deixam transparecer algumas identificações com o outro significativo, no
decorrer de suas vidas, como também fraquezas, inseguranças e desejos, em que
ora se percebe quem realmente são, ora não se colocam como gostariam e sim
como os outros gostariam de vê-las.
Dubar (2005) preconiza a existência da dialética entre a identidade que eu
apresento para o outro e a identidade que construo para mim. Nem sempre o que
demostro para o outro é aquilo que realmente sou. De acordo com as identificações
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que vou estabelecendo no decorrer da vida, desenvolvo estratégias identitárias das
quais utilizo as tipificações – tipos identitários possíveis e pertinentes - para
constituir a identidade para mim. Destes tipos, identifico-me com algumas categorias
relacionadas a eles, de forma fragmentada e vou tecendo, através das negociações
internas e subjetivas, a identidade que me é possível, dependendo das situações ou
circunstâncias pelas quais vivencio bem como do momento histórico-social.
Desta forma, transpondo ao universo da educação, constituir-se docente
requer rever, reelaborar e ressignificar os saberes que implicam articular entre o que
Dubar chama de “transação interna” (negociação de crenças, valores, aspectos
subjetivos do indivíduo com ele mesmo) e “transação externa” (negociação de
crenças, valores, aspectos subjetivos e objetivos do indivíduo com outros e/ou com
as instituições).
A saída da faculdade e a entrada no mercado de trabalho configuram-se em
um momento de confrontação com os elementos da identidade biográfica e da
identidade relacional, partindo para o que Dubar (2005) chama de “identidade
autônoma”, pois é neste momento que o resultado desta confrontação dependerá da
identificação por outrem de suas competências, de seu status e de sua carreira
possível. É possível visualizar traços deste tipo identitário na fala de Ana.
[...] eu acho que trabalhar com criança, não é que é difícil, mas é muito envolvente, tem muitas responsabilidades, tem uma série de questões ai e que não imaginava que eu ia chegar nesse ponto. [...] é trabalhar e me enxergar o quanto sou capaz. [...] esse ano eu me senti assim... eu enxerguei assim, acho que eu confiei um pouquinho mais e enxerguei que aquilo que eles estavam falando era verdade..., não verdade, mas justo[...] esse aprendizado que veio todos esses anos e que de repente me despertou o quanto que eu sou capaz. Eu tenho muito esse lado meu pessoal, de insegurança, de segurança e vi que realmente eu sou capaz mesmo de transformar, de mudar alguma coisa ai. (Ana)
A busca de saberes, conhecimento, estratégias, práticas e o que envolve a
função docente que estas professoras fizeram ao entrar nas escolas para atuarem
como docentes são carregados de confrontação. O confronto se dá entre o que é
biográfico, que faz parte da história de cada professora (valores, crenças, moral,
ética etc) e que se apropriou desde sua infância, e de como elas se veem, e do que
é relacional, a identidade que se reestrutura a partir das relações de trabalho
estabelecidas por cada uma delas, como os outros as veem.
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A condição de ter sido um bom aluno no passado não implica ser um bom
professor no amanhã, pois as atribuições e pertenças ocorridas enquanto aluno não
são as mesmas enquanto professor. Ao iniciar sua atuação em sala de aula, nossas
protagonistas têm outra visão do que é ser professor. Para Susi e Ana, ser professor
tem sentido de desafio,
Compartilhar vivências. É também mostrar, não mostrar... é possibilitar que o conhecimento aconteça em sala de aula [...] você tem que ter uma visão muito ampla...você ter que saber lidar com determinadas questões...é muito difícil. (Susi)
Acho que você precisa ter conhecimento, precisa ter estudo e este estudo precisa sempre ser renovado, complementado, atualizado. [...] e gostar sim de criança.[...] você vai estudar pra estar se aperfeiçoando, você vai tá trazendo coisas novas pra que ela tenha motivação, que hoje não é fácil cativar as crianças com tantas coisas que tem ai influenciando. (Ana)
Já para Pilar significa:
Primeiro de tudo, estar disposto a aprender. Segundo, saber que a gente nunca sabe tudo. Penso que a gente tem que estar... minimamente... a gente tem que dominar o currículo comum. (Pilar)
A preocupação com o conhecimento, atrelada à concepção do que é ser
professor, advém de sua experiência não só de professora, mas como formadora e
coordenadora. Ana e Susi também consideram imprescindível a questão do
conhecimento para ensinar.
A respeito dessa dimensão, conhecimento para ensinar, Placco (2006)
esclarece que são vários os conhecimentos que os professores precisam dominar: o
conhecer o aluno, sua cultura, suas experiências prévias, sua capacidade para
aprender, suas expectativas e necessidades, além das estratégias relacionadas às
práticas pedagógicas, aos aspectos afetivo-emocionais e cognitivos. Susi explicita
esta percepção desde o início de sua atuação docente e relata que ser professora é
[...] conquistar esse aluno para o aprendizado... é encantá-lo... porque eu posso fazer o que for, se ele não quiser, se ele não tiver interesse, não há quem faça acontecer. Então assim, a construção do vínculo tem que ser muito bem trabalhada. (Susi)
O alinhamento entre o que Susi acredita e o que o documento da escola
(PPU) registra, mostra a importância que esta instituição, em particular, concede ao
relacionamento interpessoal, aos modelos e exemplos a serem seguidos.
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“Queremos mostrar que esta escola se evidencia pelos detalhes. Se queremos que nossos alunos sejam bem recebidos pelos seus professores, é preciso oferecer bons modelos e vivências para os adultos.” (PPU de 2008. p.16)
Dominar a dimensão do conhecimento para ensinar, para as três professoras,
foi um grande desafio nos primeiros anos de atuação como docentes. As formações
continuadas ocorridas no ambiente escolar e fora dele revelam o quanto essa
perspectiva foi importante na trajetória profissional delas, elevando a percepção e
provocando mudanças de padrões (referindo-se ao atuar pedagógico) que antes
tinham outra conotação.
Ao passar pela formação na gestão da diretora Vilma, Susi relata sua
percepção quanto à qualidade da formação dos professores novos que chegam a
cada ano na escola em que atua.
[...] uma grande diferença que eu sinto de uns anos pra cá... [...] o profissional hoje não tem essa formação que a escola precisa. [...] hoje [...], tem professor novo que chega aqui que a gente vê que é muito cru. [..] é vivência sabe... vida... é... sentar e conversar. Tem professor que a gente chega, fala bom dia e ele nem responde. [...] (Susi)
O professor recém-saído da graduação e que vai atuar em uma escola na
qual há realmente um processo sistematizado, intencionado e comprometido de
formação continuada, talvez gozará de maiores “possibilidades” de contribuir para a
educação de seus alunos e vir a ser um “professor qualificado”. No entanto, isso
dependerá de como ele reconhecerá essa formação para si e em que, realmente,
deseja se constituir.
A preocupação com a formação docente também esteve presente na questão
da entrada dos professores novos na escola, nos Projetos da escola. A cada ano,
novos profissionais chegavam para atuarem na unidade. No PPU de 2006, há uma
observação quanto à previsão de formação continuada para os novos professores
que não tem experiência anterior na rede municipal.
Calendário de formação continuada interna e externa à unidade: [...] “este ano mudamos a organização das horas de estudos com os professores, pensando mais individualmente na formação dos profissionais.” Esta hora é reservada com a diretora da unidade e um professor por vez. (PPU, 2006, 36).
A formação continuada defendida por Placco (2006, p. 256 e 257) deve primar
pelo estudo, pesquisa, questionamento da área de conhecimento, inovações e
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atualizações, pois, de outra maneira, o professor não atingirá seus objetivos
enquanto profissional da educação.
Uma das propostas planejadas junto ao corpo docente, estudada e preparada
anos antes se refere às Oficinas de Aprendizagens (descritas na Metodologia) e que
preconiza os elementos defendidos acima por Placco.
As modalidades organizativas são a proposta para as Oficinas de Aprendizagem com ênfase nos projetos. O fio condutor que dá rumo aos projetos tem três palavras fundamentais para o sucesso das aprendizagens: pesquisa, experiência e vivências. (PPU 2009, p.21)
“No caminho percorrido até aqui, foi possível observar de cada pessoa da equipe que a provisoriedade do conhecimento têm-se apresentado a todo instante nas reflexões surgidas. A cada momento, sentimos a necessidade de sermos resilientes e superarmo-nos. O exercício do trabalho coletivo está ocorrendo, desse modo, acreditamos na possibilidade de efetuar mudanças nas práticas cotidianas.” (PPU, 2009, p. 22)
Nesta perspectiva, a formação continuada, deve contemplar a “flexibilidade, a
habilidade de busca, o interesse e motivação” (Placco, 2006, p 257). O processo da
formação continuada deve ser um movimento contínuo de articulação entre teoria e
prática, possibilitando que o professor possa ser ator de seu próprio processo de
construção e reconstrução.
O projeto é voltado a uma renovação na maneira de aprender e ensinar. Há muita reflexão, estudo e reorganização das tentativas anteriores de trabalho com as Oficinas de Aprendizagem e, principalmente, no olhar que cada um reelabora em relação ao aluno e à educação. (PPU de 2009, p. 23)
Neste sentido, o trabalho realizado pela gestão de Vilma na escola
investigada pode ser um destes processos de formação que atinge não só a
objetividade do trabalho docente, mas principalmente, que tem a intenção de
ressignificar subjetivamente o papel do professor.
Através das falas das três professoras foi possível depreender o quanto esse
processo de formação tocou cada uma delas. E, o quanto é possível notar o
movimento de construção e reconstrução de si como profissional com um trabalho
sistematizado e intencionado realizado no coletivo e também no individual. Pilar
expressa a influência da formação no individual.
Então a gente tinha os combinados do painel. Então você foi lá e arrumou o painel muito... uma palavra forte que eu vou falar...porcamente. Ela nunca chegou e disse: “Pô, mas o que que é isso?” Então ela dizia assim: “Viu, eu estava dando uma andada pelo corredor. Eu andei vendo cada painel bonito que tem, né. Aqueles que tem mais facilidade... [...] que bonita a cor que
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você escolheu, né! Ficou tão bonita aquela cor.”...você entendia que era só a cor que estava bonita...então era o teu que estava muito ruim... Então ela nunca, nunca, nunca, nesses cinco anos que eu fiquei com ela na escola, nunca ela disse: “Sabe, o que você está fazendo?” Ela nunca disse isso, sempre estava chamando pra conversar no particular, pra resolver qualquer coisa, tanto no pedagógico quanto no pessoal –(grifo meu). (Pilar)
O Projeto Pedagógico da Unidade prevê a formação continuada desde 2006,
mas, segundo uma das professoras, o início desse processo na escola com a Vilma
foi em 2002. Os PPUs dos anos anteriores a 2006 não foram encontrados pela atual
gestão (2013), assim como os dos anos 2007 e 2010.
A descrição abaixo sobre como pensam e a intencionalidade da formação
continuada do professor encontra-se no PPU de 2009, p. 23.
Hoje o grupo sente-se mais forte, capaz de repensar a própria escola, de formar e formar-se, reiniciar o caminho daqui a pouco. (sic)
Assim, vemos que a escola deve ser inclusiva também para os professores; todos têm direito a aprender.
Portanto, a garantia da educação de qualidade para todos deve fazer parte de todo currículo escolar, incluindo-se neste, a formação continuada de todos os educadores da escola. No processo de formação, é imprescindível buscar alternativas para garantir ensino de qualidade para todos, que possam colocar em jogo suas potencialidades e desenvolvê-las sempre mais.
O processo de formação dos professores deve ir além das questões pedagógicas e didáticas, deve-se investir na formação para a ética, para o bem viver, para a amorosidade nas relações interpessoais.
Em nossa concepção, o formador deve saber como o aluno e a aluna constroem conhecimento, como estabelecem relações entre o saber construído e o que necessitam construir. Ainda é preciso buscar alternativas de mediação entre si e o professor e entre este e o aluno, validar boas práticas, oferecer possibilidades de reflexão sobre a prática e ser o elemento articulador, que garanta que, de fato, a educação inclusiva seja um direito para todos, para que a cidadania seja exercida sempre e por todos.
As falas das três professoras confirmam a importância de se trabalhar a
formação continuada, prevista no PPU, de maneira reflexiva, com estudo, vivência,
troca e respeito ao que o professor traz de sua trajetória.
Nossa [...] assim no geral, não só pedagógico, mas um respeito pelo outro, enxergar no outro aquilo que você quer pra você. Muito estudo, leitura, discussões, juntos trilhar caminhos. Então era sempre assim, a gente era sempre... ouvir. A gente sempre foi muito ouvido enquanto professor. Enquanto me acontece na sala de aula. Isso sempre aconteceu. [...] Aprendi muito, não era o modelo de atividade, mas era como fazer tal coisa, como chegar com seu aluno e conseguir. Então foram uns oito anos pelo menos isso aconteceu. (Susi)
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[...] E aqui a gente tinha muita leitura, muita reflexão, o que era interessante era essa abertura que tínhamos para poder expor nossos pensamentos, nossas vivências. Porque não adianta somente fazer as leituras, tem que fazer a reflexão e a ponte com nossas vivências, porque ai, com certeza, tinha muita bagagem... (Ana)
Isso a Vilma sempre mostrou pra gente de que a gente pode mudar pra melhor e de que a gente tem como reverter o quadro que a gente chama de indisciplina e de que está em nossas mãos fazer essa mudança, eu acho que isso foi o ganho maior. E de que dá pra gente dar aula diferente. (Pilar)
É possível observar o significado e valor do vínculo formado pela professora
Susi com a antiga diretora e com o aprendizado profissional que esta pôde lhe
oferecer.
Ai aqui nesta escola, foi a descoberta de novos caminhos, uma reflexão muito grande sobre aquilo que eu tinha estudado, sobre a minha prática anterior [...]. Ai eu falei: “Opa!” Não é isso que eu quero, eu não sou detentora de saber algum, eu sou um meio, sou um meio pra que os saberes aconteçam, né. Então foi a descoberta disso. E hoje... nossa... porque uma vez que você descobre tudo isso, você não consegue ser de outro jeito. [...] Com aquilo que eu acredito. Com aquilo que hoje eu enxergo que é o certo [...]. É o caminho que vai levar as crianças a serem pessoas mais conscientes, mais respeitosas. (Susi)
Susi percebe o quanto as novas aprendizagens modificaram seu
saber/comportamento e sua consciência sobre o processo ensino-aprendizagem; um
saber que antes era o possível e depois da formação continuada em que participou
durante anos, se deparou com um saber no qual confiava, acreditava e aplicava;
isso impactou na sua constituição como professora. Pois o fato de se incomodar
com o saber/fazer anterior e perceber o quanto não a satisfazia mais, a fez negociar
consigo mesma, subjetivamente, uma mudança em sua prática.
Imbernón (2010) discorre sobre a importância de desenvolver e administrar as
atitudes e emoções nos processos formativos docentes. Para ele,
A formação não teria que realizar a tarefa tradicional de transmitir o “conhecimento objetivo”, mas deveria dar mais importância ao “conhecimento subjetivo” ou, em outras palavras, às atitudes. [...] é necessário assumir um compromisso que vai além do meramente técnico e que compreenda os âmbitos pessoal, colaborativo e social. (IMBERNÓN, 2010, p. 110 e 111).
A formação continuada na escola investigada sugere esse tipo de layout
formativo, pois, como enfatiza o autor, a diretora da escola também trabalhou os
elementos indispensáveis propostos por ele como: as atitudes, a deliberação, o
trabalho em grupo, a comunicação, a análise dos problemas e dos conflitos e a
73
colegialidade e, todos estes articulados com os aspectos pedagógicos, didáticos e
técnicos.
[...] ela colocava duas professoras aqui nessa salinha, lá na própria sala dos professores, não tinha aquela mesa tão grande, então ela começava... começou a arrumar cantinhos para os professores pudessem estar juntos ai na mesma área e estar discutindo um tema sobre a nossa área e trocar ideias com o professor, informação ideias, refletir...então essa foi uma maneira. (Ana)
O processo de formação continuada nessa unidade era reconhecido tanto
pelos professores que lá atuavam como pelos professores que eram da Rede
Municipal de Educação. Sua repercussão foi positiva dentro da unidade e era
reconhecida pela comunidade, mas percebe-se na fala das protagonistas que um
trabalho mais comprometido causava um incômodo e fazia com que alguns
professores se afastassem.
Porque aqui era tida como uma escola em que se tinha que estudar, que tinha que trabalhar muito, que o envolvimento era muito grande, você entendeu [...] Tanto é que tem gente que passou por aqui que não conseguia ficar aqui. [...] Tinha gente também, que ...nossa...essa escola era disputadíssima! Conseguir uma vaga aqui assim, era coisa ferrenha. (Susi)
Ela sempre foi tida como uma escola... não sei se posso chamar de modelo, mas uma escola de que as pessoas têm uma referência muito boa. Porque tinha um comprometimento muito grande com a educação, com a criança, com as ideias das inovações. Tudo o que era feito era feito... tem coisas que eu nem conheci,... os projetos, as atividades, as apresentações das crianças, tudo era muito empenho. Então quando eu vim, tinha aquela coisa: ninguém queria trabalhar na escola da Vilma, não, porque lá se trabalha muito. Então a gente trabalhava, mas trabalhava com prazer. Porque era prazeroso você entrar de cabeça naquela ideia, naquele projeto, naquelas ideias diferentes, né. E fazer acontecer. Então talvez tenha sido isso que marcou bastante. Não seguir aquela coisa tão padrão... só aquilo, sempre fez algo mais no trabalho, em feiras científico- culturais, apresentações de final de ano. As ideias daqui eram diferentes e, começando isso com a Vilma. (Ana)
[...] a escola Georgia é bem renomada no sistema municipal, a nossa escola. Todo mundo fala muito bem. Falam: “É a escola da Vilma”. (Pilar)
A intenção de explicitar o processo de formação continuada realizado na
escola estudada tem como finalidade detalhar o que foi vivido, experienciado e
transformado no processo identitário relacional de nossas protagonistas abrindo
caminho para a compreensão dos movimentos ocorridos na constituição identitária
das professoras pesquisadas.
A constituição identitária docente não se dá apenas pela via da formação
continuada, mas principalmente pelas relações vivenciadas na atuação profissional.
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Dubar reforça que as experiências vividas nas relações com os pares, chefes e
outros profissionais “faz das relações de trabalho o ‘lugar’ em que se experimenta ‘o
enfrentamento dos desejos de reconhecimento em um contexto de acesso desigual,
movediço e complexo ao poder’”. (Dubar, 2005, p.151).
Cabe apontar, fundamentada em Dubar, como se processam algumas
atribuições e pertenças que emergem das relações de trabalho e que integram o
processo identitário. No fazer pedagógico das professoras e nas relações que
estabelecem com seus pares, superiores, alunos e pais emergem “um sentido, um
objetivo e/ou uma justificativa, uma necessidade que um indivíduo é identificado e
levado a endossar ou recusar as identificações que recebe dos outros e das
instituições” (2005, p.138). As atribuições que lhe são feitas são em decorrência de
sua transação objetiva com a atividade que exerce e as relações que estabelece
(reconhecimento ou não do trabalho efetuado). Esta transação pode gerar no
professor uma forma de “rotulagem”, produzindo uma identidade social virtual e o
professor precisa se sentir seguro e confiante de que faz um trabalho pedagógico
coerente e adequado, caso contrário, ele pode aceitar as rotulagens que lhe são
atribuídas e não desenvolver aquilo que acredita devido ao que o outro lhe confere.
A fala de Pilar exemplifica esse movimento:
[...] era desgastante sempre ter que estar provando de que eu não estava fazendo uma experimentação, que não era uma coisa só da minha cabeça; quando na escola ninguém fazia isso ainda. Era desgastante, mas assim... eu não ligo muito não... acho que é meu jeito assim, eu estava tão feliz de fazer as coisas e descobrindo...[...] eu tinha vários problemas, porque assim...era comparação de cada uso do caderno, das provas, das atividades, os pais vinham comparar...então assim, as vezes eu tinha que conversar com o diretor, tinha que fazer reunião com os pais pra dizer que era um trabalho diferenciado... ao longo desses anos eu encontrei um monte de barreira porque as pessoas achavam que o que eu estava fazendo era meio que bagunça, achavam...porque assim, as atividades não eram todas do mesmo jeito...tinha três primeiros anos, os outros dois primeiros anos faziam aquilo e eu não... então se eu era diferente, eu que estava errada, [...] mas a alfabetização era a que aparecia mais né, por conta mesmo das atividades, das propostas, então assim...eu sempre era tida como diferente mesmo.(Pilar)
As atribuições que Pilar acredita serem conferidas à sua ação em seu
trabalho pedagógico diferenciado em sala de aula não foram aceitas por ela. A
defesa daquilo que acreditava ser o ideal para a aprendizagem de seus alunos só foi
possível pelo apoio que teve, anteriormente, da amiga que lhe apresentou um novo
olhar e ao apoio/adesão/suporte pedagógico e administrativo da diretora Vilma.
75
Diferente das trajetórias de Ana e Susi, Pilar traz uma história de busca,
descobertas, provações e superação. O fato de se incomodar com as dificuldades
de seus alunos mobilizou-a a procurar, no início de sua carreira, ajuda de alguém
mais experiente (a amiga da faculdade). Passou alguns anos experimentando essas
descobertas, até confiar em seu próprio atuar pedagógico. Segura de sua prática e
com experiência para poder comprovar o que defendia, Pilar acredita que lhe foram
atribuídas pelos pais, diretor e colegas de trabalho características que mobilizaram
ações objetivas. O rótulo veio como “a professora da aula bagunçada”, sendo
atribuída a ela essa identidade social virtual. Pilar não se identificou com essa
identidade/atribuição: sua recusa é clara quando relata o quanto foi desgastante ter
que provar a veracidade e a eficácia de seu atuar pedagógico (identidade real). Para
tanto, utilizou-se das transações objetivas (conversas com diretor, reuniões com
pais), para comprovar o que a fazia diferente e o quanto seu trabalho era coerente e
de qualidade. Essa confiança em sua competência pedagógica só foi possível
porque Pilar incorporou, anos antes, uma identidade para si, definida por Dubar
como identidade social real.
Eu acho que eu só teria acesso a toda essa mudança de pensar sobre a minha prática e ter mudado porque eu acreditei mesmo que eu precisava mudar, porque o que eu acreditava de fato, não dava conta das coisas, dessa ansiedade que eu tinha, talvez só quando eu tivesse começado aqui, [...] a trabalhar na capacitação, [...] não sei nem se teriam me chamado pra ir pro PROFA. Porque me chamaram pra ir pro PROFA porque viram uma prática diferente de sala de aula.(Pilar)
Como afirma Dubar (2005, p.100). “a identidade do eu só é possível graças à
identidade do outro que me reconhece, identidade essa que depende de meu
próprio conhecimento”. E a identidade real só foi fortalecida porque Pilar também foi
identificada antes, na época em que foi chamada a ser formadora (capacitadora),
como uma professora diferenciada. Esse reconhecimento de seu trabalho fez com
que ela o tomasse como pertença, fortalecendo sua crença em si e no seu atuar,
construindo assim uma identidade virtual e que foi aceita por ela e aos poucos se
transformou em real. Por isso, depois de alguns anos atuando em outra escola,
sentia-se segura e confiante o suficiente para defender o trabalho pedagógico que
realizava, não aceitando a identidade social virtual que lhe atribuíam. Os pais que a
rotulavam, o faziam pela via do não reconhecimento, pois não acreditavam em seu
trabalho, pois ia contra o que os outros professores faziam; não tinham ainda
76
confiança. Rotulavam, pois sentiam-se inseguros e desconfiados dos resultados de
seu trabalho que, para eles, era desconhecido.
Segundo Dubar (2005, p.140 a 141), essa construção da identidade social
real foi possível devido à negociação que Pilar fez consigo mesma (transação
subjetiva), acreditando e confiando em seu trabalho, que lhe foi comprovado como
eficaz. Negociou também com as pessoas com as quais se relacionava,
comprovando a eficácia de seu atuar pedagógico, mostrando resultados anteriores e
defendendo-os através de sua comunicação – argumentação (transação objetiva).
As trajetórias de Ana e Susi apresentam certo grau de similaridade quanto ao
fato das duas relatarem ser inseguras. Essa característica produzida em suas
histórias se firmou em suas identidades biográficas e intensificou-se quando em
processo relacional, no ambiente de trabalho. Apesar de passarem por alguns
processos de formação continuada igual ao de Pilar, Ana e Susi responderam de
maneira diferente às atribuições que lhes foram feitas durante suas trajetórias de
atuação na escola investigada.
Analisar a trajetória destas professoras implica articular dois aspectos do
processo biográfico defendido por Dubar (1998). Um vinculado à "trajetória objetiva"
que se refere à “sequência das posições sociais ocupadas durante a vida” em
contraste com o outro que é a "trajetória subjetiva", que é expressa em diversos
relatos biográficos, por meio de categorias inerentes, remetendo ao “mundo social” e
condensável em formas identitárias heterogêneas.
As características biográficas de Ana e Susi, as circunstâncias de mudanças
pelas quais passaram no sistema pedagógico da escola e, principalmente, as
negociações que tiveram que realizar entre as transações objetivas e subjetivas
daquilo que elas acreditam que lhes foi atribuído contribuíram para que elas
construíssem sua trajetória identitária na mesma escola, por anos de parceria entre
elas.
3.5 – MOVIMENTO IDENTITÁRIO DOCENTE: CIRCUNSTÂNCIAS, CRISES E
NEGOCIAÇÕES IDENTITÁRIAS
77
Baseada no que defende Dubar sobre transação objetiva e subjetiva, faço
uma analogia entre os percursos relatados dos processos identitários das três
professoras para tentar elucidar as circunstâncias que ocasionaram as crises, as
diferentes direções que cada uma se propôs enquanto profissional docente e os
movimentos identitários daí decorrentes.
A fala de Ana revela a articulação entre as transações relatadas no sub item
anterior.
Sempre me viam com a capacidade, porém com insegurança. Talvez eu esteja adquirindo mais segurança. [...] Nas minhas avaliações, todo ano eu passo pela avaliação da equipe gestora e eu sempre escuto isso... (sobre a insegurança). Mudou o diretor e a fala é a mesma.[...] esse ano eu me senti assim... que eu enxerguei assim, acho que eu confiei um pouquinho mais e enxerguei que aquilo que eles estavam falando era verdade...[...] Eu tenho muito esse lado meu pessoal, de insegurança.[...] “Pro, eu consegui ler!”...ai você começa a adquirir um pouco mais de confiança e ai você fala... então estou no caminho certo. [...] e vi que realmente eu sou capaz mesmo de transformar, de mudar alguma coisa. Eu acho que é isso, foi mais uma coisa que me marcou pessoal, que envolveu o profissional. (Ana)
A questão da insegurança trazida por Ana nas entrevistas, e em vários
momentos, explicita a ocorrência contínua das transações (objetivas e subjetivas) no
espaço-tempo de sua constituição identitária docente. Para entender sua
complexidade, teria que investigar mais sobre sua socialização comunitária, como foi
sua infância e adolescência, para analisar, com mais dados, essa característica,
porém, como não era esse o foco desta pesquisa, trabalho com os dados que
levantei.
O fato de Ana considerar-se insegura como pessoa interfere em sua
valorização profissional. Mesmo realizando um trabalho eficiente e de qualidade
(reconhecido e valorizado pela instituição), ela não reconhece em si essa qualidade.
Sua identidade biográfica sugere que Ana, em seu processo de constituição como
pessoa, apresentava dificuldade em suas transações subjetivas. Em seu processo
relacional, seus pares e superiores, em sua fala, Ana percebe que lhe atribuem valor
e qualidade ao seu atuar, no entanto, sua transação subjetiva parece estar
impregnada de incertezas e medos de errar e estes elementos interferem na
aceitação dessas atribuições, não permitindo ver o quanto é capaz, mesmo depois
de nove anos de profissão e com experiência suficiente para afirmar essa
capacidade.
78
Parecia que eu estava num processo que eu estava aprendendo. Parecia... acho que eu já estava.... resolvido, mas pra mim sempre faltou, sempre faltou pra mim, aprender, aprender, aprender, que eu não dava.... ainda não sei nada... ainda não sei isso... eu tenho que melhorar nisso. Então, nessa transição que foi passando de uma gestão pra outra até chegar no Dirceu (diretor em 2011 e 2012) e que eu..., então eu vi,... não, eu já sabia! Não é que eu não sei o que faço, eu sei porque, olha aqui... [...] É, com a ausência, acho que eu pude perceber que com a ausência... (de suporte/assistência da diretora Vilma) eu dou conta.(Ana)
Essa ausência relatada por Ana refere-se ao tempo em que a escola e ela
ficaram sem a gestão e a formação da diretora Vilma, a partir de 2010. A fala revela
que, na ausência de Vilma, ela (Ana) se viu sozinha e teve que lidar com sua própria
insegurança, seus medos e foi nesse momento que percebeu o quanto cresceu.
Teve que lidar com suas inquietações/inseguranças subjetivamente, tendo que
negociar consigo mesma frente aos novos desafios para poder superá-los.
Eu senti a mudança quando a Vilma saiu, eu senti alguma coisa que mudou em mim. Quando ela saiu, passou por algumas mudanças a escola,... ai veio o Dirceu. Entre um diretor e outro, teve um tempo que ficou só a vice. Então nesse tempo, o que eu pude perceber, parece que eu tive que crescer sem a Vilma, sem a equipe, sem aquela estrutura que eu tinha... eu tive que crescer... e eu fui me dar conta de que eu realmente era mais capaz, mais segura. [...] Que dai eu vi que parece assim: “Nossa! olha o quanto você já aprendeu!” Ai parece que eu me enxerguei. (Ana)
A circunstância pela qual Ana passou, o momento de ruptura, de ausência de
um suporte, de crise, a impulsionou ao movimento, a um fazer sozinha, ao
crescimento e consequentemente ao reconhecimento de seu próprio trabalho, de
sua auto valorização. Foi um período que Ana teve que lidar com seus próprios
medos, inseguranças e ao mesmo tempo necessidade de superar-se. Colocou em
prática aquilo que aprendeu pedagogicamente (transação objetiva), com o auxílio de
sua parceira Susi e lidou com essas inseguranças e necessidades (transação
subjetiva) consigo mesma.
Não sei se é a palavra mais certa, mas fiquei ressentida de, de repente, a Vilma sair daqui num momento em que ela começou o projeto daqui na escola que tanto a gente veio ao longo do tempo estudando, planejando... e quando isso ia se tornar real... as coisas mudaram muito. Então eu fiquei um pouco ressentida porque eu... não sei se as pessoas não se envolvem, eu me envolvo, me envolvo com emoção, com sentimento. [...] Depois eu fiquei pensando assim... fiquei um pouco perdida, porque naquele material, como é que eu vou fazer. [...] E depois veio ai minha adaptação com o material, então o que é que eu posso fazer para melhorar, o que que eu posso criar... e ai depois passou... ai eu comecei a criar. (Ana)
Para Dubar (2009, p. 235), esse movimento se dá por ocasião do
distanciamento ou ruptura daquilo que era familiar, conhecido, apropriado. “O
79
distanciamento torna-se um recurso importante, que permite reconstruir novos
projetos, reinterpretar [...] empenhar-se subjetivamente [...] reinventar-se”. Ao se
distanciar daquilo que lhe dava suporte e segurança, Ana viu-se sozinha e com uma
grande responsabilidade em mãos. Sem mais o apoio da gestora e da equipe e em
crise de identidade pessoal e profissional, Ana teve que tomar uma decisão, fazer da
melhor maneira possível tudo o que tinha aprendido durante os anos de formação,
enfrentando sua insegurança em prol da educação de seus alunos.
[...] não é porque ela vai embora então a gente vai mudar tudo, vai fazer tudo diferente, não vai fazer mais... não, ficou na gente isso, eu acho. Sabe ficou na escola, a gente ficou com essa coisa pra gente. Então a gente queria que continuasse acontecendo, porque a gente via que era legal, que tinha resultado... é lógico que tem sempre alguma coisa que a gente não concorda, não gosta, não foi bom, mas a gente se envolveu, é nosso isso. (Ana)
O fato de Ana afirmar que é “nosso isso”, essa pertença que levou alguns
anos para se constituir, indica o quanto essas situações foram importantes para ela
e que no momento de crise, de ruptura com o acomodado, com o conhecido, ela fez
uso dessa pertença para diminuir a distância do que ocorria entre sua identidade
virtual (os outros a viam com capacidade) e real (sabia que tinha essa capacidade,
mas não era segura o suficiente para reconhecê-la).
Susi passou também por momentos desestruturantes, assim como Ana,
porém em períodos e situações diferentes. Toda vez que Vilma mudava de escola,
Susi solicitava transferência para garantir a continuidade deste vínculo e deste
aprendizado. No entanto, quando isso não lhe foi mais possível, ocorreu o que
Dubar (2009) indica como “crise do vínculo social”.
[...] cada período de equilíbrio relativo, de crescimento contínuo e de regras claras, de política estável e de instituições legítimas é acompanhado de um conjunto de categorias partilhadas em sua maioria de um sistema simbólico de designação e de classificação fortemente interiorizado, então a ruptura desse equilíbrio deve constituir uma dimensão importante e específica da crise. (DUBAR, 2009, p. 22)
Faço uma analogia entre esse período de equilíbrio relativo proposto por
Dubar com o período em que uma gestão permanece na mesma escola, no caso da
escola aqui investigada. Houve todo um trabalho, uma aproximação, uma formação
de vínculo entre professores e gestores, um estabelecimento da confiança e da
credibilidade no trabalho de ambos e que, a cada quebra, a cada troca de gestores e
também de professores, isso se desestrutura, provocando uma crise que pode ser
80
tanto individual quanto coletiva ou, como define Dubar (2009, p.151), “qualquer
ruptura ou transformação ocorrida no seio das relações interpessoais pode gerar
uma crise do vínculo social.”
O movimento inicial ocorrido entre a identificação da professora Susi com sua
gestora implica uma forma de “nós” que se sobrepõe ao “eu”. Esta fusão identitária
por afinidade à pessoa e ao lado profissional de Vilma gerou em Susi uma “certa
dependência afetiva e profissional”. Para Susi, permanecer vinculada à diretora era
uma questão de necessidade não só afetiva, mas profissional, um recurso para
proteger-se profissionalmente, já que estava em início de carreira e se identificava
com a maneira de pensar e trabalhar da gestora.
Desta maneira, a cada ruptura ocorrida no gerenciamento de Vilma em uma
escola, implicava o não enfrentamento de Susi do conflito de permanecer na escola
sem a presença de Vilma, solicitando transferência (utilizando da estratégia da
transação objetiva) para a mesma escola da gestora. O fato de Susi confiar no
trabalho e compartilhar das ideias da gestora a fez proceder desta forma, pois ainda
não sentia confiança suficiente em si mesma (assumir para si mesma que ainda
precisava desse apoio – transação subjetiva), em seu atuar pedagógico, para seguir
seu caminho sem Vilma.
O aprendizado, o tempo de convivência com o trabalho formativo da gestora e
a prática pedagógica em sala de alfabetização mobilizaram em Susi recursos
objetivos e subjetivos que implicaram algumas mudanças, Susi começou a enfrentar
a ruptura utilizando da melhor maneira possível todo aprendizado que obteve com
Vilma.
Quando, em 2010, Vilma assume o cargo de diretora da Secretaria de
Educação e sai da gestão do Georgia, há uma crise na escola, que foi sentida por
todos (segundo fala das professoras), mas a confiança na proposta estudada e
iniciada das Oficinas de Aprendizagem fez com que as professoras tentassem
trabalhar de forma autônoma, tanto é que Susi se associa a outros professores, para
garantir a realização deste trabalho.
Foi um choque muito grande porque ela era um porto seguro, era a cabeça, a mentora daquilo. Nos primeiros meses ela tentou desenvolver uma ligação com a gente, um elo. E todo mundo conseguiu, ai chegou um momento que ela também percebeu que ou ela fazia uma coisa ou fazia outra. Que não
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adiantava ela ter proposto a vir uma vez por mês fazer reunião com a gente pra ver como tava indo o projeto, né. Mas ela viu que isso não ia, porque ela não tava aqui, vivenciado... embora ela tivesse sido a grande mentora de tudo isso, ela... o dia a dia na instituição escolar pra quem não está ali presente, não consegue visualizar, embora a gente falasse das nossas dificuldades, do que estava dando certo o que não dava certo, não foi... foi se perdendo. Mas ai a gente tocou, fez. E também não só pela saída dela, mas pela, digamos assim... “pressão” do município, da Secretaria, eles diziam: “Por quê só essa escola é diferente?” Tanto é que quando veio o material da Fundação Bradesco, nós pedimos um tempo pra esta escola não adotar. Porque não tinha nada a ver com aquele projeto. Mas ela (Vilma) falou que ai... pegou os índices do IDEB. Porque se esse projeto tivesse tido aumento, dado bons resultados, ela até poderia votar pra que aquele material não viesse, mas não. Acho que naquele ano (2009) o IDEB da escola baixou até. Mas era o primeiro ano de projeto. Ela falava que ela já esperava por isso. Era o primeiro ano de projeto, a gente tava começando, estudávamos quais os melhores caminhos... e ai... se perdeu. Ai veio a Fundação Bradesco. Ai veio o Dirceu (diretor de 2011 a 2012). Ele tentou manter um pouco da... do coração do projeto, mas também não conseguiu, pelas avaliações exteriores, né.
Uma das dificuldades enfrentadas pela profissão docente está relacionada às
questões de políticas públicas: por exemplo, quando ocorre de uma gestão realizar
formações em que os professores realmente se desenvolvem profissionalmente e,
após o período de gestão tudo muda e os professores ficam à mercê de uma nova
direção. Mate (2011) lança luz sobre a questão, ao retratar o que ocorre também em
relação aos coordenadores pedagógicos:
[...] as reformas, ao mesmo tempo que lançam e/ou reformulam programas e métodos de ensino, também alteram modos de organizar o tempo, o espaço e o saber escolar, sugerem modos de pensar/fazer educação, estabelecem outros padrões de comportamento.(MATE ,In BRUNO, ALMEIDA, e CHRISTOV, 2011, p. 73)
Reformas são inevitáveis no sistema público de ensino, porém algumas
geram desestruturas/desequilíbrios no processo de constituição identitária docente,
que os professores carregam para além de sua vida profissional. Susi e Ana deixam
isso claro, ao colocarem suas frustrações/indignações quanto à introdução do
material didático e o quanto isso modificou a prática e a postura profissional das
duas professoras
“Ele [o material didático] fechou, ele fechou. A gente ainda consegue realizar muita coisa [...], mas dentro daquele projeto que a gente estudou com ela (diretora Vilma), que a gente idealizou durante uns três anos, não permite, então foi uma briga muito grande... até de a gente aceitar mesmo esse material didático, principalmente pra mim, dentro da alfabetização, porque o material do primeiro ano é horrível. Ele não... eu sempre trabalhei na educação infantil com atividades diversificadas e ele não permite isso.” (Susi)
82
[...] ela sempre procurou realmente coisas diferentes, então assim... eu me lembro que a ideia dela era realmente das oficinas e ai, dentro das oficinas a gente trabalhava montando aulas através de sequências de atividades e projetos. Quando ela mudou pra Secretaria, que ela deixou a gestão aqui, ai que veio um trabalho com todo o material didático do Educa. Ai foi um pouco de... de... como dizer.... quebrar as pernas. (Ana)
As formas como Ana e Susi comunicam suas decepções quanto à entrada do
material e quanto às mudanças na gestão são parecidas, são narrativas
semelhantes. Porém, as transações que realizaram para modificar seus hábitos
foram refletidas com a subjetividade de cada uma. Esta identificação conjunta a um
modelo de identificação (diretora) é o que as liga e possibilita que elas se
identifiquem entre si. Por isso, acabam vivenciando juntas muita afetividade, respeito
e dedicação recíprocos. Ambas se dedicam aos estudos e aos projetos idealizados
por Vilma, e, no momento que este apoio afetivo e profissional lhes falta e que há
uma transformação na maneira de trabalhar, com a entrada do material didático,
elas são capazes de se reorganizarem juntas para enfrentarem o momento
conflituoso que estão vivenciando, pois tem o apoio e identificação mútua, gerada na
origem pela identificação com a Vilma. Configura-se, desta forma, um modelo
identitário baseado em regras e diretrizes de comportamento comuns, segundo um
modelo societário, no qual as professoras buscam referências coletivas e pessoais
para assegurarem e legitimarem suas identidades profissionais.
Para Pilar, a entrada de um novo sistema didático de ensino também foi uma
ruptura no trabalho pedagógico, mas aponta um benefício para os alunos da rede.
Com o material didático, o conteúdo trabalhado em cada escola se equipara para
toda a rede municipal. Desta forma, o aluno e também o professor não sintam tanta
mudança quando necessitam de transferência de uma escola para outra do sistema.
Só o que aconteceu, toda beleza desse projeto das oficinas de aprendizagem teve um complicador: em 2010 veio o material da Fundação Bradesco. Esse é um complicador porque como você trabalha as oficinas de aprendizagem com o material apostilado. Ele meio que engessou o trabalho de oficina, não que ele acabou com o trabalho da oficina, você podia, você tinha que então dar conta...a prefeitura comprou o material... você não precisava ficar só no material, mas é dinheiro público. [...] Isso complicou porque quando eu voltei agora em 2012 as oficinas que eram uma forma gostosa de botar a mão na massa, elas não existiam mais. [...] Até então, dentro dos PCNs, se a gente quisesse estudar nosso município no 3º ano na tua escola e na minha no 2º, a gente tinha essa mobilidade, essa liberdade. Com a chegada do material, foi mesmo pra evitar isso. Porque meu aluno saia da minha escola e ia transferido pra sua, ele ficava perdido. [...] Então tinha escola que desenvolvia uma habilidade “x” com o projeto tal. Outra escola desenvolvia a habilidade “x” com outro projeto e quando o
83
aluninho chegava lá, ele não tinha visto nada daquilo. Ele ficava perdido. [...] (Pilar)
“Toda mudança é geradora de pequenas crises”, segundo Dubar (2009, p196)
e, para cada uma das protagonistas deste estudo a crise teve um peso e cada uma
delas reagiu e negociou consigo mesmo, utilizando das transações objetivas e
subjetivas. Como resolver suas perturbações em relação a cada momento de
ruptura e mudança? As três modificaram seus hábitos, tiveram que aprender com o
novo material didático e tentar não abandonar o projeto das Oficinas (transação
objetiva), mas para tanto, o esforço foi individual (transação subjetiva), mesmo com
o apoio de outras professoras.
[...] até 2010 [...] foi muita prática e reflexão. Com a entrada do material, foi resignação. Fiquei ali presa, fiquei muito presa. E depois... é a descoberta de novos caminhos, porque eu tive que olhar para aquilo, dar conta daquilo, mas tentar colocar aquilo que eu fazia, né... não ficar uma coisa fechada. (Susi)
No final de 2013, o contrato se findará e, para 2014, a incerteza de o que o
sistema usará como material didático pedagógico deixa Pilar preocupada, pois,
como trabalha atualmente como supervisora, na formação de professores acredita
que mais uma mudança moverá os professores e os tirará da zona de conforto, o
que significará para muitos ter que partir do zero e para ela aprender de novo.
Este ano, mudou o governo. Nós temos este ano que ficar com a Fundação Bradesco porque o contrato vai até o final de 2013. E já sabemos que o ano que vem ele não ficará. O que vai ser eu não sei com essa nova gestão, estamos estudando. Nem sei se vai ter material, se não vai ter. (Pilar)
A compreensão e a reação quanto às mudanças ocorridas são subjetivas a
cada professora. Pilar, devido a sua trajetória de várias mudanças, tem uma visão
amplificada. Já Ana e Susi, que permaneceram na mesma escola por vários anos,
enxergam e vivenciam as mudanças com atitudes voltadas para si e para o que se
passa na escola em que trabalham, observável nessa fala,
[...] a justificativa desse material didático era que eles (Secretaria da Educação) precisavam garantir... [...] que quando um aluno sai de uma escola e vai pra outra, ele tenha uma continuidade...tudo bem, a gente entende isso, só que antes isso não acontecia porque ficava muito livre, você entendeu, cada escola decidia o que ia fazer, decidia o que ia trabalhar [...] Então infelizmente a gente acaba meio que trabalhando em função disso. E isso desencanta. Desencanta. (Susi)
84
As duas professoras, Ana e Susi, mesmo narrando que se sentem mais
seguras hoje, indicam a importância do coletivo para realizarem seu trabalho. Veem
o papel da gestão como sustentação deste trabalho. Porém, nesse ano de 2013, há
uma nova diretora na escola Georgia e, desde o início do ano, houve mudanças
radicais, tanto no setor administrativo quanto no da gestão humana. Pilar saiu da
escola e assumiu o cargo de Supervisora de Ensino e Ana e Susi permaneceram. O
quadro de professores também sofreu várias alterações; há mais professores novos
na unidade do que antigos. E, mais uma vez, estas professoras passam por
momentos de conflito pessoal e profissional. Narram o que sentem em relação à
nova gestora.
Eu acho que até o ano passado a gente conseguiu manter, talvez um pouco diferente, mas a gente sempre se comprometeu. Então a gente sempre teve uma equipe que sempre se comprometeu, sempre abraçou e foi atrás, então acho que isso que faz a diferença. A equipe abraça e faz. [...] Não dá pra ser realmente como era antes, não dá mais. Não existe mais, não é que não dá mais, não existe mais. Teve muita quebra, muita mudança. Muito ruim... [quase inaudível, falou sussurrando] É a primeira vez desde que eu estou aqui, fez nove anos, são nove anos nesta escola e é a primeira vez que me sinto num ambiente mais confuso, não me sinto com um norte. Eu estou fazendo o que eu aprendi. O que eu construí nesses nove anos de casa, eu estou dando continuidade ao trabalho por isso, por essa bagagem que eu adquiri por todos esses nove anos. E por eu estar me sentindo mais segura e, acreditando no que eu faço, no que eu sou, como respeitar, como você enxerga a criança, mas... muito confuso (Ana)
A interferência de uma nova postura na gestão está movimentando as
estruturas identitárias de Ana e Susi de tal forma que, neste momento, não estão
conseguindo recursos internos para negociarem com a nova diretora a respeito de
suas práticas (transação objetiva), adotadas com Vilma e posteriormente com
Dirceu.
Terrível! Muito sofrido. De perder o sono, de não parar de chorar...você vê tanta coisa indo pro ralo... e uma pessoa tão jovem ser desse jeito. E vai além das questões pedagógicas, vai além. Porque eu, graças! Só tive bons gestores. Eu não enxergava isso... um estrago só (fez gestos apontando pra sala da diretora)... muito grande. Muita coisa se perde no meio. Muita coisa... e assim, por mais que você tenha consciência do seu trabalho, tudo, ele interfere lá dentro (fala com o queixo trêmulo) sabe... em todos os aspectos. A equipe está muito desestruturada, mas o gestor é o que trilha e, ...muita coisa se perdeu (voz trêmula e olhos marejados)... eu sinto assim uma... eu estou aqui há doze anos... eu sinto...nossa... deixa pra lá.[...] Interfere. Muito, muito, muito. Eu não queria que interferisse tanto. Eu queria ter mais... não é postura profissional. Eu não sei nem como... uma palavra que eu achasse... ter mais força pra não deixar que isso me envolva emocionalmente, entendeu? Não consigo...não consigo...e a Ana também está sofrendo por demais.[...] (fala mais baixo) Porque eu não quero mais ficar nessa escola aqui. Não é essa escola que eu acredito, você entendeu. Não consigo trabalhar num lugar assim.
85
Ana e Susi não reconhecem mais seu território de identificação; o pouco que
existia com a gestão de Dirceu, agora parece ter sido extinguido. É um novo
processo de reconfiguração identitária, é um movimento que mobiliza dimensões
subjetivas e requer que elas saibam utilizar de suas estratégias de negociação para
assegurarem aquilo que já está imbricado em suas identidades como docentes para
poderem se reestruturar.
86
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Norteada pela hipótese de que um trabalho de formação - intencionado e
levado a sério por gestores e professores - gera processos identitários que
impactam positivamente a vida e o modo como os sujeitos ressignificam suas
experiências e práticas foi o que viabilizou o objetivo desse estudo.
A intenção desta pesquisa foi identificar e compreender em que medida um
trabalho formativo docente, num determinado período de gestão pedagógica,
permanece na prática dos professores, traduzido em sua constituição identitária,
mesmo após mudanças ocorridas no sistema de ensino e na gestão da escola.
As protagonistas que tornaram possível este estudo foram Susi, Ana e Pilar,
que se mostraram dispostas e francas em seus relatos sobre si e sobre suas
trajetórias profissionais como docentes na rede municipal.
A contribuição dos autores utilizados como referencial teórico e,
principalmente os relatos das docentes entrevistadas permitiu realizar uma análise
na qual suas falas revelaram que o ocorrido, no período específico de trabalho
formativo, pode permanecer - a despeito das mudanças na gestão da escola e na
implementação do material didático pedagógico – nas práticas pedagógicas e em
suas identidades profissionais.
A pluralidade das transformações ocorridas com as três professoras foi de
ordem instigante para a análise. Ao ingressarem nas escolas, cada uma a seu modo
(ou pedindo ajuda para compreender melhor seus alunos e sua didática na sala de
aula, refletindo sobre sua prática e transformando-a, no caso de Pilar ou amparando-
se em algumas pessoas significativas, como Ana e Susi) vivenciaram movimentos
de reflexão e ressignificação de suas identidades.
O processo de formação continuada da qual participaram foi imbuído de
aspectos significativos. Inseridas nos estudos, nas trocas entre seus pares ou com
a gestora, nas experiências que passaram com os projetos dos quais também foram
autoras e executoras e nos resultados que conquistaram por meio de suas práticas
pedagógicas, estas professoras demonstraram os vários movimentos ocorridos em
87
suas trajetórias profissionais, que hoje relatam serem fundamentais na constituição
de si mesmas.
Ana não relata tanto sobre as pessoas significativas para seu aprendizado
profissional, expressa que alguns profissionais lhes foram importantes para seu
crescimento profissional. Reconhece-se como insegura pessoalmente e que esse foi
um elemento que a impedia de se valorizar e assim reconhecer a si mesma como
uma boa profissional.
Susi vivenciou, por alguns anos, uma trajetória profissional parecida e em
comum com Ana. Pessoalmente também reconhece sua insegurança e a projeta
para seu campo profissional, porém não expõe explicitamente essa característica.
Acredita em sua atuação e isso a torna reconhecida, tanto que foi convidada por
duas vezes para ser capacitadora de professores da rede municipal. No entanto, sua
identificação com o trabalho com crianças não permitiu que mudasse de função e
aceitasse esse desafio.
Ana e Susi vivenciaram uma formação que para elas foi especial, pois
mudaram sua postura, suas reflexões sobre ser professor e sobre a educação.
Vivenciaram juntas algumas rupturas de vínculo - da gestora e do sistema didático
que elaboravam no coletivo - que as levaram a um tipo de crise na qual resolveram
de forma semelhante e em conjunto.
Já Pilar, que vivenciou várias mudanças de cargos, de funções, de escola e
de desafios, procede, pelo menos em sua comunicação, de maneira diferente. Pilar
apresenta-se mais segura em sua fala, em suas atitudes, assim, mesmo não tendo
vínculos mais duradouros com colegas devido suas mudanças de cargo constantes,
passou sozinha por vários processos de ruptura. Suas crises foram vivenciadas e
reelaboradas consigo mesma, subjetivamente, tendo que comprovar, objetivamente,
por muitas vezes, que sabia o que estava fazendo. Isso lhe rendeu reconhecimento
no meio educacional, o que a possibilitou ocupar vários cargos na secretaria da
educação.
Dubar (2009, p.239) reitera que, a cada mudança de cenário, ocorrem novas
identificações e que estas implicam atribuições e pertenças que podemos aceitá-las
88
ou não e que “são, ao mesmo tempo, jogos de linguagem e atualizações do vínculo
social”.
As trajetórias das protagonistas deste estudo foram ressignificadas, mesmo
tendo vivenciado a mesma formação ou a mesma gestão, alguns aspectos da
identidade coletiva acabaram assemelhando-se. Cada professora vivenciou
conquistas, crises, frustrações, superações. Várias foram as identificações
estabelecidas durante a trajetória profissional e cada uma tomou seu caminho em
decorrência de escolhas e ressignificações sobre o que queriam da vida e sobre
como se viam como profissionais da educação.
O tipo de professora que cada uma destas protagonistas se tornou, está
relacionado com as identificações significativas ocorridas em cada trajetória,
considerando que as tipificações de cada uma foram produzidas mediante
negociações complexas consigo mesmas, com seus pares e superiores e com as
instituições nas quais participaram.
Por meio da análise das falas das professoras foi possível identificar a
influência da gestora e compreender que o clima institucional e o trabalho -
intencionado e coletivo - de formação continuada realizado nessa escola impactou a
constituição identitária destas professoras. Os movimentos de atribuições e
pertenças que emergiram das situações vividas na formação e nas crises é que
mediaram seus processos constituivos identitários. É identificável que sim, uma
gestão comprometida, intencionada e sistematizada tem seu trabalho perpetuado
nas identidades dos professores.
O trabalho coletivo realizado na escola em decorrência do processo de
formação manteve-se após a saída da gestora que idealizou todo um projeto
diferenciado da prática pedagógica. O gestor que a substituiu deu continuidade, e
sustentou com comprometimento o trabalho iniciado, foi motivado, foi envolvido pelo
coletivo, no entanto, permaneceu pouco tempo na unidade. Houve a implantação do
material didático que suprimiu, em parte, a prática reflexiva adotada. A atual gestora
adota uma politica impositiva, o corpo docente não é o mesmo que até o ano
passado, muitos professores não compreendem o que se passou na escola em
termos de processo reflexivo formativo, não há mais um trabalho coletivo, pois as
equipes - gestora e docente - estão desestruturadas. Estes aspectos enfraquecem o
89
trabalho dos professores e, um trabalho sem sustentação, apoio e comprometimento
pode chegar a sua dissolução.
Com este estudo, confirma-se que é possível operar mudanças na educação
através de uma formação inicial ou continuada e de um trabalho coletivo intencional
e comprometido, imbricado nas questões que envolvem a constituição identitária dos
professores. No entanto, se esta formação não for permanente e não abordar
elementos subjetivos - passíveis de reflexão e ressignificação pelos professores - e
não trabalhar de modo intencionado, comprometido e envolvendo o coletivo,
continuaremos a passar pelas mudanças frequentes de gestão, de material e
qualquer outra transformação pertinente ao setor educacional com desequilíbrios
danosos para os professores e principalmente para os alunos.
A proposta desta pesquisa não se finda na análise dos dados. As questões
pertinentes ao processo de reflexão que leva a ressignificação do ser professor
podem ser melhor explorado numa pesquisa futura. Pois é no reconhecimento e
valorização do professor reflexivo e comprometido com a educação que possibilitará
legimitar a profissionalidade docente.
90
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Os
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ia
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Na
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ucaç
ão,
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sse
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e a
A
na já
sab
e, e
ntão
a g
ente
pas
sa. E
ntão
é
assi
m,
acon
tece
ass
im,
mas
não
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faze
r, nã
o te
m.
colo
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num
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cola
pr
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sse
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egou
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eu
pass
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tem
po fo
ra e
u pr
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o vo
ltar
com
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cria
nças
por
que
eu
sint
o fa
lta
mui
to
gran
de...
prec
iso
volta
r, nã
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ero
ir pr
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naçã
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ntão
vol
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[...]
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es c
inco
ano
s qu
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fiqu
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ela
(Vilm
a) n
a es
cola
nun
ca e
la d
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o q
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ocê
está
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la
nunc
a di
sse
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e es
tava
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aman
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ra c
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no
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r, pr
a re
solv
er q
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uer
cois
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la n
unca
jo
gou
na m
esa
ques
tões
que
fos
sem
pe
ssoa
is.
Se
tinha
pr
oble
ma
com
pr
ofes
sor,
às v
ezes
a g
ente
nem
fic
ava
sabe
ndo,
só
se
depo
is
o pr
ofes
sor
cont
ava
pra
gent
e Is
so a
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e m
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u pr
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nte
de q
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gen
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mud
ar p
ra m
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r e
de q
ue a
gen
te t
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omo
reve
rter
o qu
adro
qu
e a
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e ch
ama
de
indi
scip
lina
e de
que
est
á na
s no
ssas
m
ãos
faze
r es
sa m
udan
ça, e
u ac
ho q
ue
isso
foi o
gan
ho m
aior
. E d
e qu
e dá
pra
ge
nte
dar a
ula
dife
rent
e.
[...]
ela
não
era
uma
capa
cita
ção
em
term
os
de
ofic
ialm
ente
, m
as
ela
prep
arav
a at
ivid
ades
e q
uand
o eu
fal
ei:
“R.,
mas
que
coi
sa li
nda
isso
! Nos
sa!”
E el
a ia
m
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ntan
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”olh
a,
esse
qu
e vo
cê
troux
e de
sse
alun
o,
pega
ai
a
E f
azer
aco
ntec
er.
Ent
ão t
alve
z te
nha
sido
is
so
que
mar
cou
bast
ante
. N
ão
segu
ir aq
uela
co
isa
tão
padr
ão...
só
aq
uilo
, se
mpr
e fe
z al
go
mai
s no
tra
balh
o,
em
feira
s ci
entíf
ico
cultu
ral,
apre
sent
açõe
s de
fina
l de
ano.
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idei
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am
dife
rent
es,
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meç
ando
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so c
om a
Vilm
a.
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ita d
ele.
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or c
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so”
ela
ia
me
fala
ndo
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ase
da e
scrit
a. E
la f
oi
me
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ntan
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ando
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cois
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e um
jeito
...
[...]
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cont
ro c
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al
gum
as c
oisa
s da
esc
rita
das
cria
nças
qu
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je h
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uito
tem
po e
u co
nseg
ui
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nder
que
tem
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crita
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nseg
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nder
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ita, e
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dific
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nça,
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mo
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ela
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sso
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ança
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obre
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pr
átic
a e
ter m
udad
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rque
eu
acre
dite
i m
esm
o qu
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pre
cisa
va m
udar
, por
que
o qu
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acr
edita
va d
e fa
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nta
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as,
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a an
sied
ade
que
eu t
inha
, ta
lvez
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quan
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esse
co
meç
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e co
meç
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capa
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ção,
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i se
nem
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me
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ado
pra
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r P
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que
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e de
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ela
me
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sob
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prá
tica,
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que
no a
no s
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diss
e pr
a
ela
assi
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“Eu
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so.
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eu
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nça
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ta e
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der.
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falo
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so...
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dav
a ris
ada
e: “O
que
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ê pe
rgun
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O q
ue
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fa
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” “N
ada,
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heci
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er c
oisa
da
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ução
da
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rita.
..eu
desc
onhe
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el
a qu
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i es
tuda
ndo,
me
dand
o liv
ro
pra
eu e
stud
ar. A
i eu
fui e
stud
ando
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e al
gum
alu
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e re
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tal
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ocê
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gunt
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sso,
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ê po
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gen
te
tives
se u
ma
lista
só
das
perg
unta
s qu
e re
solv
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udo,
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as q
ue
vão
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er c
om o
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ino.
..iss
o qu
e eu
te
nho
de le
mbr
ança
. O
trat
ar b
em n
ão p
ode
ser e
xceç
ão”.
Ela
fa
lava
ass
im,
ela
não
leva
ntav
a a
voz
com
a g
ente
. E
u já
pas
sei
por
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las
que
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ra e
ra d
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itar,
de b
ater
na
mes
a e
dize
r: “S
e eu
sou
pal
mei
rens
e vc
s te
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ue s
er t
b, a
qui
dent
ro q
uem
m
anda
so
u eu
”. A
quel
es
que
não
sabi
am
ser
líder
, tin
ha
que
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o.
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Vilm
a na
tura
lmen
te é
líde
r, el
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o é.
..ela
não
pr
ecis
a us
ar
de
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ritar
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o pr
a co
nseg
uir
as c
oisa
s da
gen
te.
Eu
não
sei
nem
se
el
a te
m
noçã
o qu
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a
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egue
ser
tão
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er n
atur
alm
ente
. É
um
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isa
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dela
qu
e el
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redi
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sim
, qu
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el
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ixou
a e
scol
a po
rque
foi
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vida
da
pra
ser
dire
tora
de
ed
ucaç
ão,
todo
m
undo
sen
tiu m
uito
lá n
a es
cola
, por
que
está
vam
os
bem
nu
ma
mud
ança
de
qu
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a g
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foi
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balh
ar c
om a
s O
ficin
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diza
gem
. Fo
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sse
mom
ento
. [..
.] a
Vilm
a pr
ioriz
ava
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.E.
a ge
nte
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se e
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o, a
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te e
stud
ava
pelo
men
os u
ma
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ma
outra
hor
a tin
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eixa
do p
ra c
ombi
nado
s,
reca
dos,
mon
tar p
roje
tos,
seq
uênc
ias.
E
a ge
nte
tinha
um
a ho
ra,
daqu
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hora
, pr
a ge
nte
prep
arar
aul
a...m
as u
ma
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no
mín
imo
tinha
que
ser
de
estu
do.
Ser
pro
fess
or
O
que
me
enca
nta?
É
a
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ntan
eida
de,
a si
ncer
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e, v
ocê
vê
o cr
esci
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to
prin
cipa
lmen
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betiz
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mos
tra is
so. A
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ianç
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ostra
isso
S
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je
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ias.
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não
mos
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sal
a de
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ntig
amen
te a
gen
te e
ra o
tuto
r né
, das
info
rmaç
ões
e ho
je n
é, g
raça
s a
Deu
s há
al
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an
os
se
tem
m
ais
noçã
o.
É re
alm
ente
m
edia
r es
se
Prim
eiro
de
tu
do,
esta
r di
spos
to
a ap
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er.
Seg
undo
, sa
ber
que
a ge
nte
nunc
a sa
be t
udo.
Pen
so q
ue a
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te
tem
que
tá.
.. m
inim
amen
te a
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te t
em
que
dom
inar
o
curr
ícul
o co
mum
. M
inim
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te
[...]
não
bast
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ter
von
tade
de
quer
er
estu
dar..
.tem
qu
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ber
escr
ever
, le
r di
reito
, gos
tar d
e le
r [..
.] O
pro
fess
or p
reci
sa e
star
dis
post
o a
apre
nder
, sa
ber
que
a ge
nte
não
sabe
tu
do.
E
tem
qu
e co
nhec
er,
tem
qu
e sa
ber p
ortu
guês
, mat
emát
ica.
Ach
o qu
e vo
cê
prec
isa
ter
conh
ecim
ento
, pre
cisa
ter
estu
do e
est
e es
tudo
pr
ecis
a se
mpr
e se
r re
nova
do,
com
plem
enta
do, a
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izad
o.
[...]
se v
ocê
gost
a de
cria
nça,
voc
ê va
i es
tuda
r pr
a es
tar
se
aper
feiç
oand
o,
você
vai
tá
traze
ndo
cois
as n
ovas
pra
qu
e el
a te
nha
mot
ivaç
ão q
ue h
oje
não
é fá
cil
cativ
ar
as
cria
nças
co
m
tant
as
cois
as q
ue te
m a
i inf
luen
cian
do
Pra
se
r um
a bo
a pr
ofes
sora
, vo
cê
prec
isa
ter
base
, es
tudo
atu
aliz
ação
e
gost
ar s
im d
e cr
ianç
a. P
orqu
e a
parti
r
conh
ecer
, m
as
tam
bém
um
a gr
ande
di
fere
nça
que
eu s
into
de
uns
anos
pra
cá
... g
raça
s a
Deu
s ho
je a
esc
ola
é pa
ra
todo
s, m
as o
pro
fissi
onal
hoj
e nã
o te
m
essa
for
maç
ão q
ue a
esc
ola
prec
isa.
Tu
do i
nclu
i um
a in
clus
ão,
não
só u
ma
incl
usão
por
pat
olog
ia,
mas
tam
bém
a
incl
usão
soc
ial.
Ent
ão te
m s
ituaç
ões
que
é m
uito
di
fícil
do
prof
esso
r en
trar,
porq
ue f
oge
do p
edag
ógic
o. E
ntão
ser
pr
ofes
sor
hoje
, é
uma
ampl
itude
, é
mui
ta c
oisa
. [..
.] ho
je [
...],
tem
pro
fess
or n
ovo
que
cheg
a aq
ui q
ue a
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te v
ê qu
e é
mui
to
cru.
[..]
é v
ivên
cia,
sab
e...
vida
... é
...
sent
ar e
con
vers
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em p
rofe
ssor
que
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gent
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ega
fala
bom
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e e
le n
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resp
onde
. [..
.] É
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a qu
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ais.
.. co
mpl
icad
a m
esm
o de
re
laçã
o de
fa
míli
a.
A
dese
stru
tura
ção
fam
iliar
at
rapa
lha.
[..
.] se
r pr
ofes
sor
hoje
é m
uito
... v
ocê
tem
qu
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r um
a vi
são
mui
to
ampl
a...v
ocê
ter
que
sabe
r lid
ar
com
de
term
inad
as q
uest
ões.
..é m
uito
difí
cil.
É
conq
uist
ar
esse
al
uno
para
o
apre
ndiz
ado.
.. é
enca
ntar
el
e...p
orqu
e eu
pos
so f
azer
o q
ue f
or,
se e
le n
ão
quis
er, s
e el
e nã
o tiv
er in
tere
sse,
não
há
quem
faç
a ac
onte
cer.
Ent
ão a
ssim
, a
cons
truçã
o do
vín
culo
tem
que
ser
mui
to
bem
trab
alha
da.
Eu
não
fui
uma
cria
nça
a qu
em e
ra
Mas
exi
stem
alg
umas
coi
sas
que
não
dá
pra
gent
e ac
eita
r qu
e um
pr
ofes
sor
deix
e de
ter
. E
le n
ão s
abe
faze
r um
a di
visã
o,
não
sabe
m
ultip
licaç
ão,
não
sabe
ta
buad
a...e
ntão
as
sim
, te
m
que
dom
inar
isso
dai
. Eu
pens
o qu
e é
isso
, e
gost
ar d
o qu
e fa
z e
essa
s qu
estõ
es d
o co
nhec
imen
to.
Eu
pens
o qu
e is
so
é...p
rimei
ro a
inda
do
que
esta
r di
spos
to
a ap
rend
er.
Se
a ge
nte
não
sabe
nem
es
se m
ínim
o a
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e nã
o co
nseg
ue n
em
entra
r na
clas
se p
ra c
omeç
ar d
ar a
ula.
dai..
. um
a co
isa
puxa
a o
utra
, se
vc
gost
a de
cria
nça,
voc
ê va
i es
tuda
r pr
a es
tar
se
aper
feiç
oand
o,
você
va
i tá
tra
zend
o co
isas
nov
as p
ra q
ue e
la te
nha
mot
ivaç
ão q
ue h
oje
não
é fá
cil c
ativ
ar a
s cr
ianç
as c
om t
anta
s co
isas
que
tem
ai
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enci
ando
...
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eu a
cho
assi
m,
mui
tas
prof
issõ
es,
acho
que
toda
s m
as a
gen
te te
m q
ue...
a
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e nã
o va
i pa
rar
nunc
a de
ap
rend
er,
porq
ue
vem
vi
ndo
mui
tas
cois
as n
ovas
. A
gen
te v
ai d
esco
brin
do
que
a cr
ianç
a va
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cisa
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de o
utro
s no
rtes
e ai
a g
ente
pre
cisa
est
udar
de
novo
pra
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sar m
elho
r.
perm
itido
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car.
Min
ha f
amíli
a é
uma
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ília
de
portu
guês
, en
tão
eu
não
podi
a br
inca
r. E
ele
s (o
s al
unos
) m
e po
ssib
ilita
m i
sso,
né.
E c
om e
les
eu
cons
egui
ag
ir as
sim
, nã
o da
m
esm
a m
anei
ra,
obvi
o, m
as a
ssim
, eu
pos
so
entra
r no
mun
do d
eles
e a
i é m
uito
bom
. E
les
me
veem
de
igua
l pr
a ig
ual.
Tem
ve
zes
que
eles
não
me
cham
am d
e pr
ô qu
ando
es
tou
na
fant
asia
, eu
so
u a
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onag
em. I
sso
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uito
gos
toso
.
Atri
buiç
ões
prof
issi
onai
s [..
.] tin
ha u
m t
raba
lho
gran
de d
e um
a se
quên
cia
de c
onto
s de
fada
s né
, ent
ão
eu ta
mbé
m m
e ve
stia
, eu
fazi
a to
ca d
os
anõe
s pr
a el
es
tam
bém
se
rem
os
an
ões,
ent
ão e
sse
tipo
de c
oisa
voc
ê tra
z a
cria
nça
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vc.
Ago
ra e
u te
nho
que
faze
r el
es s
e en
cant
arem
com
um
a co
isa
que
eu t
ambé
m n
ão m
e en
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o m
uito
. E
ntão
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ais
difíc
il.
Mas
a
gent
e te
m c
onse
guid
o bo
ns r
esul
tado
s.
A g
ente
tem
con
segu
ido
dar
uma
volta
, né
. M
as e
u si
nto
mui
ta f
alta
dis
so.
Eu
sint
o m
uita
falta
dis
so. M
e tru
ncou
mui
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O p
rofe
ssor
hoj
e va
i di
sso
ao o
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...
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mui
to
dist
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e
no
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sse
cam
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ente
tem
que
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iar
o co
nhec
imen
to
Ai
niss
o tu
do,
eu
fui
conv
idad
a pr
a
Eu
acho
que
eu
só te
ria a
cess
o a
toda
es
sa m
udan
ça d
e pe
nsar
sob
re a
min
ha
prát
ica
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r mud
ado
porq
ue e
u ac
redi
tei
mes
mo
que
eu p
reci
sava
mud
ar, p
orqu
e o
que
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cred
itava
de
fato
, nã
o da
va
cont
a da
s co
isas
, de
ssa
ansi
edad
e qu
e eu
tin
ha,
talv
ez s
ó qu
ando
eu
tives
se
com
eçad
o aq
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quan
do
a ge
nte
com
eçou
a
traba
lhar
na
ca
paci
taçã
o,
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que
ai
não
sei
se n
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m m
e ch
amad
o pr
a ir
por
PR
OFA
. Por
que
me
cham
aram
pra
ir p
ro P
RO
FA p
orqu
e m
e vi
ram
um
a pr
átic
a di
fere
nte
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ala
de
aula
.
Sem
pre
me
viam
com
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apac
idad
e,
poré
m
com
in
segu
ranç
a.
Talv
ez
eu
este
ja a
dqui
rindo
mai
s se
gura
nça.
E a
i is
so f
ez c
om q
ue e
u en
xerg
asse
ess
as
cois
as.
Ent
ão
sem
pre
as
pess
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dizi
am e
diz
em a
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. [..
.] “o
lha,
voc
ê fa
z es
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raba
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você
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cisa
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isa
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vc.
” [..
.] po
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isso
não
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ba d
e um
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tão
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inse
gura
nça.
.. eu
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de
mim
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ve
zes
uma
post
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, eu
tô
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o se
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[...]
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tros
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mas
eu
não
acei
tei.
Por
que
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qui,
eu n
ão q
ueria
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a m
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o m
e ch
amou
dua
s ve
zes
pra
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r out
ras
cois
as, m
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e ch
amou
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bund
ona.
(ris
os) A
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Sus
i não
vai
, el
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E n
ão f
ui
mes
mo.
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ma
vez
foi
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paci
taçõ
es
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prof
esso
res
tam
bém
, m
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ssim
sem
ter
um
cur
so,
nada
né.
D
a ou
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um
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de le
itura
, né
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as e
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u. (
duas
sem
anas
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dest
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trevi
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Sus
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iste
de
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.
Pro
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oras
que
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m c
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a pr
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co
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nado
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óprio
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r. N
as
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es,
todo
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ipe
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ora
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ança
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form
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ele
me
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ais
conf
ianç
a as
sim
, nã
o, v
ocê
sabe
, vo
cê
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cont
a,
olha
ai
. N
ão
sei,
essa
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impr
essã
o qu
e eu
tin
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Não
pre
ciso
u fic
ar f
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aria
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isso
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ostro
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e e
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real
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te, o
lha,
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não
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pr
ofis
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ais
[...]
infe
lizm
ente
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eio
que
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lhan
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funç
ão
diss
o.
E is
so
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ncan
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esen
cant
a.
[...]
eu
jam
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quer
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balh
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ção
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Por
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tam
bém
né
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que
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ais
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ue a
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a ge
nte
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ece.
Voc
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lá e
m c
asa,
tá fa
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o ou
tra c
oisa
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voc
ê le
mbr
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um
al
uno,
voc
ê fic
a pe
nsan
do c
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faze
r E
mbo
ra e
u nã
o te
nha
mui
ta e
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tia
com
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ele,
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eu
prec
iso
trazê
-lo, n
é.
Ent
ão
a ge
nte
tem
es
se
outro
la
do
tam
bém
né.
P
assa
r po
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ma
diss
o e
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[...]
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pens
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endo
as
cois
as
que
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ngo
dos
outro
s an
os e
u tin
ha
traba
lhad
o e
não
tinha
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do,
[...]
fazi
a 5/
6 an
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ue e
u es
tava
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ula
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que
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ente
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rdad
e er
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dade
min
ha e
nten
der
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oluç
ão
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...eu
es
tava
tã
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liz
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cois
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que.
.. qu
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uma
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ão
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cois
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inha
ca
beça
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na
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la n
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me
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que
eu
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i qu
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uilo
qu
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es
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fa
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a ve
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e...,
não
ver
dade
, mas
just
o.
[...]
entre
o a
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assa
do e
ess
e, e
u vi
um
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oluç
ão d
as c
rianç
as,
mud
aram
de
fas
e da
esc
rita,
est
ão e
scre
vend
o,
lend
o e
isso
me
troux
e um
a sa
tisfa
ção,
um
a se
gura
nça
mai
or.
[...]
tem
alg
uma
cois
a m
inha
ali
no m
eio
de c
ontri
buiç
ão...
ent
ão v
er i
sso,
ess
a m
udan
ça, e
sse
reto
rno,
a c
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a le
ndo
[...]
“Pro
eu
co
nseg
ui
ler!”
...ai
vo
cê
com
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a ad
quiri
r um
pou
co m
ais
de
conf
ianç
a e
ai v
c fa
la...
ent
ão tô
indo
no
cam
inho
cer
to.
[...]
é um
cam
inho
que
tem
me
trazi
do
bons
re
sulta
dos.
A
ge
nte
que
tem
co
mpr
omis
so
com
aq
uilo
qu
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z,
sem
pre
proc
ura
faze
r o
mel
hor.
Ent
ão
isso
me
traz
bons
res
ulta
dos.
Ent
ão e
u ac
redi
to q
ue n
esse
cam
inho
eu
este
ja
send
o bo
a.
[...]
(o
elog
io)
é au
tênt
ico,
é
um
reco
nhec
imen
to m
esm
o da
quilo
que
a
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e fa
z.
Ai
quan
do
você
se
se
nte
reco
nhec
ido
você
que
r sem
pre
faze
r. [..
.] eu
tiv
e bo
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gest
ores
, eu
tiv
e ge
nte.
.. tra
balh
ei
com
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ssoa
s qu
e se
mpr
e tiv
eram
pr
eocu
pada
s co
m
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ucaç
ão.
Em
fa
zer
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ucaç
ão
acon
tece
r co
mo
um
todo
, um
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mai
or d
o qu
e só
da
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aula
, [..
.] e
hoje
eu
sei o
que
sei
, eu
faço
o q
ue e
u fa
ço p
or c
onta
dis
so.
[...]
eu m
e es
peci
fique
i naq
uilo
, no
caso
a
alfa
betiz
ação
. Ent
ão e
u es
tude
i mui
to,
me
empe
nhei
mui
to.
É o
foc
o, o
foc
o fic
a ce
ntra
do.
Fica
fec
hadi
nho,
ent
ão é
aq
uilo
, aq
uilo
qu
e vo
cê
tem
qu
e de
senv
olve
r, en
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você
va
i es
tuda
r. E
ntão
is
so
gara
ntiu
pr
a m
im
uma
segu
ranç
a gr
ande
no
meu
trab
alho
, mas
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é qu
e po
nto
esse
meu
tra
balh
o te
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envo
lvim
ento
nos
out
ros.
..
E h
oje.
.. no
ssa.
.. po
rque
um
a ve
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cê
desc
obre
tu
do
isso
, vo
cê
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cons
egue
se
r de
ou
tro
jeito
, en
tão
hoje
... é
voc
ê...
é...
porq
ue c
omo
é um
a
aind
a. E
ra d
esga
stan
te,
mas
ass
im...
eu
não
ligo
mui
to n
ão...
ach
o qu
e é
meu
je
ito a
ssim
, eu
est
ava
tão
feliz
de
faze
r as
coi
sas
e de
scob
rindo
...
[..]
eu t
inha
vár
ios
prob
lem
as,
porq
ue
assi
m...
era
com
para
ção
de c
ada
uso
do
cade
rno,
das
pro
vas,
das
ativ
idad
es, o
s pa
is v
inha
m c
ompa
rar..
.ent
ão a
ssim
, as
veze
s eu
tin
ha q
ue c
onve
rsar
com
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dire
tor,
tinha
que
faz
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euni
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om o
s pa
is
pra
dize
r qu
e er
a um
tra
balh
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fere
ncia
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o as
sim
, ao
lo
ngo
dess
es a
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eu e
ncon
trei u
m m
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barr
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po
rque
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ssoa
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que
o qu
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faze
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o qu
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gunç
a,
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vam
...po
rque
as
sim
, as
at
ivid
ades
não
era
m t
odas
do
mes
mo
jeito
...tin
ha 3
prim
eiro
s an
os, o
s ou
tros
2 pr
imei
ros
anos
fazi
am a
quilo
e e
u nã
o...
entã
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era
dife
rent
e, e
u qu
e ta
va
erra
da,
entã
o as
sim
...co
m
todo
s os
ou
tros
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, m
as a
alfa
betiz
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era
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que
apar
ecia
mai
s né
, por
con
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s at
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, da
s pr
opos
tas,
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tão
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m...
eu
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era
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fere
nte
mes
mo.
Eu
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nte
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né.
Eu
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eu p
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ma
cois
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nseq
uent
emen
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pras
cr
ianç
as
e co
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uent
emen
te p
ra e
scol
a.
Par
ecia
que
eu
esta
va n
um p
roce
sso
que
eu e
stav
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rend
endo
. P
arec
ia...
ac
ho q
ue e
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est
ava.
... r
esol
vido
, mas
pr
a m
im s
empr
e fa
ltou,
sem
pre
falto
u pr
a m
im a
pren
der,
apre
nder
, ap
rend
er,
que
eu
não
dava
....
aind
a nã
o se
i na
da...
ain
da n
ão s
ei i
sso.
.. eu
ten
ho
que
mel
hora
r ni
sso.
E
ntão
, ne
ssa
trans
ição
qu
e fo
i pa
ssan
do
de
uma
gest
ão p
ra o
utra
até
che
gar
no D
irceu
e
que
eu...
, ent
ão e
u vi
, nã
o, e
u já
sab
ia.
Não
é q
ue e
u nã
o se
i o q
ue fa
ço, e
u se
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rque
ol
ha
aqui
...
[...]
É,
com
a
ausê
ncia
, ac
ho q
ue e
u pu
der
perc
eber
qu
e co
m a
aus
ênci
a...
eu d
ou c
onta
. M
uito
ru
im
[qua
se
inau
díve
l, fa
lou
suss
urra
ndo]
É a
prim
eira
vez
des
de
que
eu e
stou
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i, fe
z no
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nos,
são
no
ve a
nos
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a es
cola
e é
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rimei
ra
vez
que
me
sint
o nu
m a
mbi
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mai
s
cois
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post
a, é
ten
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sso
uma
cois
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elho
r. Tr
ansf
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esse
m
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ial,
essa
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toda
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alg
uma
cois
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elho
r. É
mod
ifica
r, é
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Com
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rto.
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me
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eu a
pren
di. O
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e an
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sa,
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esto
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dade
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balh
o po
r is
so,
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uiri
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todo
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E p
or e
u es
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mai
s se
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ndo
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ue e
u fa
ço,
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u so
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resp
eita
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você
enx
erga
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uito
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te
nta.
A
ge
nte
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nã
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rque
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bora
ent
ão a
gen
te v
ai m
udar
tud
o,
vai
faze
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ifere
nte,
não
vai
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mai
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não,
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so,
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acho
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ficou
na
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nte
ficou
com
ess
a co
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pra
gent
e. E
ntão
a
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e qu
eria
qu
e co
ntin
uass
e ac
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cend
o, p
orqu
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gal,
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tinha
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ulta
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gico
qu
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empr
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nte
não
conc
orda
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sta,
não
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bo
m, m
as a
gen
te s
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eu, é
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isso
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.] e
u ac
ho q
ue tr
abal
har
com
cria
nça,
nã
o é
que
é di
fícil,
m
as
é m
uito
en
volv
ente
, te
m
mui
tas
resp
onsa
bilid
ades
, te
m
uma
série
de
qu
estõ
es a
i e q
ue n
ão im
agin
ava
que
eu
ia c
hega
r ne
sse
pont
o. E
ntão
o q
ue m
e m
arco
u é
traba
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... e
me
enxe
rgar
o
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se
eu p
osso
di
zer
isso
pra
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per
gunt
a. O
u al
gum
ac
onte
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ento
esp
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qui?
Eu
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qu
e o
que
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cou
mui
to a
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que
eu
tinha
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lá tr
ás, e
sse
apre
ndiz
ado
que
veio
todo
s es
ses
anos
e q
ue d
e re
pent
e m
e de
sper
tou
o qu
anto
qu
e eu
so
u ca
paz.
Eu
tenh
o m
uito
ess
e la
do m
eu
pess
oal,
de in
segu
ranç
a, d
e se
gura
nça
e vi
que
real
men
te e
u so
u ca
paz
mes
mo
de t
rans
form
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de m
udar
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uma
cois
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ho q
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o, f
oi m
ais
uma
cois
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e m
e m
arco
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ssoa
l, qu
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volv
eu o
pro
fissi
onal
.
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OR
IA
SUB
C
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GO
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Pr
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i Pr
ofes
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Pila
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ofes
sora
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C
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s-
tânc
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ro a
no d
e ap
licaç
ão d
aque
le
proj
eto.
N
aque
le
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ficou
ou
tras
pess
oas
na
dire
ção
da
esco
la
que
tam
bém
es
tava
m
mui
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ligad
as
com
tu
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sso.
...m
as .
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o m
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ial
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tico
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a m
uito
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ande
isso
... e
por
que
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el,
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nte
quer
ia o
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co
isa.
[..
.] tin
ha m
uita
coi
sa in
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ssan
te n
esta
es
cola
, m
uito
mes
mo
sabe
... u
m o
lhar
pe
dagó
gico
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uito
di
fere
nte,
m
uito
É
foi
assi
m,
não
foi
uma
cois
a au
tom
átic
a nã
o. E
u tiv
e 9
anos
de
sala
qu
ando
eu
vim
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i pr
a J.
(cid
ade)
eu
tive
uma
série
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prob
lem
as p
orqu
e a
com
para
ção
entre
um
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asse
e a
min
ha
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de 1
º a
no e
as
outra
s er
a en
orm
e e
as p
rofe
ssor
as n
ão q
ueria
m m
e ou
vir
fala
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sso,
eu
cont
ava
pra
eles
: “D
eixa
eu
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tar
pra
você
s as
coi
sas
que
é lin
do,
com
o qu
e é.
..dei
xa e
u co
ntar
pra
vo
cês,
voc
ês n
ão p
reci
sam
faz
er.”,
ela
s nã
o qu
eria
m m
e ou
vir.
Dep
ois
quan
do a
Na
verd
ade
a ge
nte
sem
pre
solic
itou,
de
sde
o co
meç
o a
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e fa
lava
...er
a in
tere
ssan
te t
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ma
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esso
ra s
ó pr
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so.
Por
que
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amen
te
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um
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sora
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ha u
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só d
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oio,
mas
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ois
com
tod
as a
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ças
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estã
o, b
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as,
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eitu
ra q
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a te
r, nã
o é
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l co
nseg
uir,
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tada
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mpo
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ia,
mas
nã
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ha
essa
po
ssib
ilida
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e qu
ando
te
ve,
cheg
ou
no
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dife
rent
e...
e qu
e ho
je n
ão p
erm
ite q
ue
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teça
...é
mui
to d
ifíci
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s co
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qu
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e vi
veu,
não
dá
mai
s de
ntro
de
sse,
de
sse,
de
ssa
esco
la
você
en
tend
eu,
com
o m
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ial
didá
tico,
não
pe
rmite
. E
le
(o
mat
eria
l di
dátic
o)
fech
ou,
ele
fech
ou. A
gen
te a
inda
con
segu
e re
aliz
ar
mui
ta c
oisa
que
nem
a e
xpos
ição
que
a
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e fe
z. M
as d
entro
daq
uele
pro
jeto
qu
e a
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e es
tudo
u co
m e
la,
que
a ge
nte
idea
lizou
dur
ante
uns
trê
s an
os,
dois
ano
s, n
ão p
erm
ite,
entã
o fo
i um
a br
iga
mui
to
gran
de...
at
é da
ge
nte
acei
tar
mes
mo
esse
mat
eria
l di
dátic
o,
prin
cipa
lmen
te
pra
mim
, de
ntro
da
al
fabe
tizaç
ão,
porq
ue
o m
ater
ial
do
prim
eiro
ano
é h
orrív
el.
Ele
não
... e
u se
mpr
e tra
balh
ei n
a ed
ucaç
ão i
nfan
til
com
ativ
idad
es d
iver
sific
adas
e e
le n
ão
perm
ite is
so.
Mes
mo
que
dent
ro d
o m
ater
ial
didá
tico
eu c
onsi
ga d
iver
sific
ar e
ssas
aul
as, n
ão
é m
ais
a m
esm
a co
isa,
voc
ê en
tend
eu.
E a
Vilm
a se
mpr
e pa
ssav
a pr
a ge
nte,
se
mpr
e tra
balh
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uito
, a
vivê
ncia
, né
. O
viv
er...
entã
o...e
u ad
oro
me
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asia
r, en
tão
eu
me
vist
o de
br
uxa,
tra
go
fant
oche
s de
bru
xa,
entã
o as
cria
nças
fa
lam
: “H
oje
é di
a da
aul
a da
bru
xa!
Voc
ê va
i se
vest
ir?”
[...]
você
não
con
segu
e 10
0% d
e tu
do
né,
mas
a
gent
e vi
u qu
e te
m
pref
eitu
ra,
quan
do m
unic
ipal
izou
e a
i a
pref
eitu
ra...
era
a lin
ha
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traba
lho
e qu
em n
ão q
ueria
tinh
a qu
e se
cap
acita
r ni
sso.
A
ca
paci
taçã
o er
a pr
a di
zer:
“Voc
ê te
m q
ue p
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a,
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ar.
Por
que
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nte
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dita
ndo
niss
o, e
ntão
voc
ê te
m q
ue
se
capa
cita
r ni
sso.
” Q
uand
o a
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e...e
las
dizi
am a
ssim
: “A
i, po
r qu
e a
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e nã
o ou
viu
você
ant
es, j
á po
dia
ter
com
eçad
o a
apre
nder
sob
re is
so a
ntes
, né
, as
qu
e er
am
de
1º
ano
prin
cipa
lmen
te.
Ent
ão a
ssim
, eu
tin
ha
vário
s pr
oble
mas
, po
rque
as
sim
...er
a co
mpa
raçã
o de
cad
a us
o do
cad
erno
, da
s pr
ovas
, da
s at
ivid
ades
, os
pa
is
vinh
am
com
para
r...e
ntão
as
sim
, as
ve
zes
eu t
inha
que
con
vers
ar c
om o
di
reto
r, tin
ha q
ue f
azer
reu
nião
com
os
pais
pr
a di
zer
que
era
um
traba
lho
dife
renc
iado
...en
tão
assi
m,
ao
long
o de
sses
ano
s eu
enc
ontre
i um
mon
te d
e ba
rrei
ra
porq
ue
as
pess
oas
acha
vam
qu
e o
que
eu ta
va fa
zend
o er
a m
eio
que
bagu
nça,
ac
hava
m...
porq
ue
assi
m,
as
ativ
idad
es n
ão e
ram
tod
as d
o m
esm
o je
ito...
tinha
3 p
rimei
ros
anos
, os
outro
s 2
prim
eiro
s an
os fa
ziam
aqu
ilo e
eu
não.
.. en
tão
se e
u er
a di
fere
nte,
eu
que
tava
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rada
, en
tão
assi
m...
com
to
dos
os
outro
s an
os,
mas
a a
lfabe
tizaç
ão e
ra a
qu
e ap
arec
ia m
ais
né, p
or c
onta
mes
mo
das
ativ
idad
es,
das
prop
osta
s,
entã
o
traba
lho.
Ai
fic
ou
conf
uso
porq
ue
a ge
nte
teve
que
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balh
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rta f
orm
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m f
oi b
om,
a ge
nte
cont
inuo
u o
traba
lho
com
o c
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údo
do
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estre
sem
pre
cisa
r par
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quel
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a ,
aque
la h
ora
com
tud
o pr
a se
ded
icar
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uela
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ha p
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epoi
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ltar
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to
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tinua
r con
teúd
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ipe
gest
ora
com
que
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balh
ei e
u tin
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m p
ouco
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e, m
as s
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e pr
ocur
ei n
ão
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isso
. Sem
pre
resp
eite
i N
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rdad
e a
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e te
m q
ue fa
zer e
ssas
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icin
as,
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mo
faze
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Era
um
a si
tuaç
ão d
ifíci
l de
dec
idir
porq
ue,
opta
r po
r a
cria
nça
vir
num
hor
ário
opo
sto
ao
estu
do
pra
gent
e fa
zer
a of
icin
a é
com
plic
ado
porq
ue a
mãe
não
traz
. (s
obre
as
of
icin
as
de
apre
ndiz
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) C
onfu
so,
porq
ue o
ra f
oi a
ssim
, de
pois
m
udou
, pr
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assi
m t
em q
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azer
um
pla
ninh
o de
aul
a, e
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a g
ente
teve
qu
e pe
nsar
pr
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balh
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com
es
sas
cria
nças
e a
gen
te fe
z is
so e
de
repe
nte
paro
u.
Eu
sent
i a
mud
ança
qu
ando
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asti
saiu
, eu
sen
ti al
gum
a co
isa
que
mud
ou
em m
im.
Qua
ndo
ela
saiu
, pa
ssou
por
al
gum
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udan
ças
a es
cola
, ai
vei
o o
Dja
lma.
P
arec
e qu
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sse
tem
po...
po
rque
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im, l
ogo
que
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asti
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, não
ve
io lo
go o
Dja
lma,
tev
e um
tem
po q
ue
ficou
... s
ó a
vice
, de
pois
vei
o a
Nor
ma
poss
ibili
dade
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ssas
co
isas
ac
onte
cere
m,
né.
Ai
no a
no s
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nte
cheg
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uilo
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hega
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e m
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ial.
[...]
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stifi
cativ
a de
sse
mat
eria
l did
átic
o er
a qu
e el
es p
reci
sava
m g
aran
tir u
ma.
..
mai
s, e
les
prec
isam
gar
antir
que
qua
ndo
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luno
sai
de
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vai
pra
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nha
uma
cont
inui
dade
...tu
do
bem
, a g
ente
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ende
isso
, só
que
ante
s is
so n
ão a
cont
ecia
por
que
ficav
a m
uito
liv
re,
você
en
tend
eu,
cada
es
cola
de
cidi
a o
que
ia f
azer
, de
cidi
a o
que
ia
traba
lhar
. [..
.] a
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e fa
z um
a se
quên
cia,
ago
ra tá
ac
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do u
ma
sequ
ênci
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m t
raba
lho
de h
istó
rias
com
bru
xas
né.
E a
gen
te
pens
a pr
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vez
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so.
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ndeu
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nte
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o ga
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e,
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amen
te, e
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cava
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lá
em 2
002,
200
3, m
eia
hora
todo
dia
, né.
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to is
so
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mo.
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sim
, só
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assi
m...
sem
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de
que
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não
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faze
ndo
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o, q
ue n
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ra u
ma
cois
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min
ha c
abeç
a; q
uand
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esc
ola
ning
uém
fazi
a is
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inda
P
orqu
e m
e ch
amar
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ra ir
pro
PR
OFA
po
rque
me
vira
m u
ma
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ica
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rent
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la
de
aula
...fu
i co
nvid
ada
pela
di
reto
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e ed
ucaç
ão p
ra i
sso,
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ão
tam
bém
não
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que
mom
ento
eu
teria
tid
o o
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ntro
co
m
essa
co
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ção
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isso
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mas
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gum
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cois
as
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escr
ita
das
cria
nças
que
hoj
e, h
á m
uito
tem
po e
u co
nseg
ui e
nten
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er c
om a
fa
se d
a es
crita
del
a, e
u nã
o co
nseg
uia
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nder
co
mo
fase
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crita
, eu
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tend
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dific
ulda
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que
eu
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cebe
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qu
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esce
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eu ti
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eu
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eu
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paz,
m
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ra,
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: “N
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eu.
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sim
... e
u m
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o qu
e a
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la e
ra r
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inas
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ntro
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ndo
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i nu
m m
omen
to e
m q
ue e
la
com
eçou
o p
roje
to d
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da
esco
la q
ue
tant
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tuda
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neja
ndo.
.. e
quan
do is
so
ia s
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rea
l...
as c
oisa
s m
udar
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mui
to.
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ão
eu
fique
i um
po
uco
ress
entid
a po
rque
eu.
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o se
i se
as
pess
oas
não
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m
e
Só
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bons
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stor
es.
Eu
não
enxe
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so,
você
ent
ende
u....
um
es
trago
só
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gest
os a
pont
ando
pra
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. m
uito
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Mui
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eio.
Mui
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...e
assi
m,
por
mai
s qu
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cê
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ênci
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seu
tra
balh
o, t
udo,
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terfe
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ntro
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tor
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mui
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cois
a se
per
deu
(voz
trêm
ula)
... e
u si
nto
assi
m u
ma.
.. eu
tô a
qui h
á 12
ano
s...
eu
sint
o...n
ossa
...
deix
a pr
a lá
. A
i ni
sso
tudo
...ah
eu
fala
ndo
sem
sab
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que
vo
cê q
uer p
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ntar
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i ni
sso
tudo
, eu
fu
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ada
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PA
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. [..
.] o
meu
bur
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min
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ica.
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tão
agor
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que
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m
uito
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e as
sim
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omo
se f
az,
mas
teo
rizar
m
e ap
ropr
iar
pra
fala
r pr
o ou
tro...
hu
mm
m n
ão tô
nem
com
frio
na
barr
iga,
es
tou
com
um
free
zer.
(ris
os)
[...]
eu
sou
mui
to
inse
gura
, eu
já
m
elho
rei
mui
to n
a m
inha
vid
a, m
inha
tra
jetó
ria, m
as a
inda
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u m
ais
pens
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ntin
uar.
Mas
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Eu
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lvo
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. [..
.] D
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nós
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ater
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com
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que
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ou fa
zer.
[...]
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epoi
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i m
inha
ada
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om o
mat
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l, en
tão
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e qu
e eu
pos
so fa
zer
pra
mel
hora
r, o
que
que
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r...
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cria
r. A
cho
que
pra
mim
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por
mai
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mud
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s qu
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a te
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icin
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sso,
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mo
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ue s
e vo
cê c
omeç
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lhar
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pou
quin
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per
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dica
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mai
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uela
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uer
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r, “a
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não
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raba
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as
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se
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car
mai
s aq
uela
áre
a, p
or e
xem
plo
a lin
guag
em
ou s
ó a
mat
emát
ica.
Ent
ão a
cho
que
eu
dou
cont
inui
dade
por
isso
. E
u e
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acre
dita
m n
o qu
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...
mui
tos
valo
res,
mui
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spei
to, t
udo
isso
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pess
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e qu
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rdi.
Não
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A e
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ssim
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que
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Não
dá
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rand
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esaf
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pra
venc
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[...]
o qu
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mpr
e pe
sou
mai
s fo
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nseg
uran
ça,
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com
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vi.
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fic
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ge
nte
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ucaç
ão q
ue a
gen
te te
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or
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plo,
eu
ho
je
traba
lho
de
uma
man
eira
pra
que
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cria
nças
fal
em,
se
colo
quem
, ar
gum
ente
m a
quilo
que
ela
s pe
nsam
... e
eu
fui e
duca
da, n
a es
cola
e
na
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ília,
to
talm
ente
ao
co
ntrá
rio,
entã
o is
so p
ra m
im é
um
blo
quei
o. É
um
bl
oque
io m
uito
gra
nde,
por
que
eu n
ão
fui
educ
ada
pra
isso
. M
eus
pais
são
po
rtugu
eses
, sup
er rí
gido
s, a
ssim
, ent
ão
eu n
ão p
odia
abr
ir m
inha
boc
a pr
a na
da,
entã
o é
difíc
il pr
a m
im, m
uito
difí
cil.
E n
a es
cola
tam
bém
, to
talm
ente
tra
dici
onal
, to
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ente
na
quel
a co
ndiç
ão
de
ficar
se
ntad
o qu
ieto
e n
ão a
brir
a bo
ca,
isso
tá
cer
to,
isso
tá
erra
do.
E o
med
o do
er
ro p
ra m
im é
um
a co
isa
que
ficou
m
uito
forte
. Te
rrív
el!
Mui
to
sofri
do.
De
perd
er
o
ante
s, n
ão d
á m
ais.
Não
exi
ste
mai
s,
não
é qu
e nã
o dá
mai
s, n
ão e
xist
e m
ais
Teve
m
uita
qu
ebra
, m
uita
m
udan
ça.
Ent
ão a
ssim
, às
vez
es e
u m
e pe
rgun
to
se
aind
a va
i co
ntin
uar
assi
m,
ness
e pe
rfil d
e of
icin
as, à
s ve
zes
eu a
inda
me
perg
unto
, po
r m
im,
com
o pe
ssoa
e
prof
esso
ra,
eu d
ou c
ontin
uida
de,
mas
eu
não
sei
... m
uita
coi
sa fo
i mor
rend
o...
mui
tos
idea
is fo
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des
feito
s...
Ent
ão a
ssim
, no
com
eço,
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es d
e vi
r pr
a cá
, eu
tinha
idei
a ai
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bebê
s e
nem
im
agin
ava
onde
eu
ia p
a....
ond
e eu
ia
cheg
ar. D
uran
te, n
aque
la g
estã
o eu
me
sent
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ssim
, nu
m a
pren
diza
do m
uito
gr
ande
, um
des
afio
mui
to g
rand
e, a
o m
esm
o te
mpo
qu
e eu
es
tava
ap
rend
endo
eu
tinha
que
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balh
ar.
O
que
que
eu fa
ço c
om a
min
ha c
lass
e at
é eu
apr
ende
r tu
do, n
ão d
ava.
Ent
ão
era
assi
m,
era
na r
aça
né.
Não
só
ali
na
teor
ia, n
o qu
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gent
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tuda
va, a
gen
te
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que
pôr
em
prá
tica
aqui
lo,
tinha
qu
e fa
zer
acon
tece
r. E
hoj
e eu
me
sint
o as
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mai
s tra
nqui
la,
um p
ouco
mai
s se
gura
. E
u ac
ho
que
eu
apre
ndi
bast
ante
co
isa,
si
nto
que
prec
iso
apre
nder
mai
s se
m d
úvid
a, m
as h
oje
acho
qu
e eu
m
e si
nto
mel
hor
com
o pr
ofes
sora
aqu
i. M
uito
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im...
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uase
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audí
vel,
falo
u su
ssur
rand
o] É
a p
rimei
ra v
ez d
esde
qu
e eu
est
ou a
qui,
fez
nove
ano
s, s
ão
sono
, de
não
par
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e ch
orar
...vo
cê v
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nta
cois
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lo...
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esse
jei
to.
E v
ai a
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s qu
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ógic
as,
vai a
lém
. É
o
trata
men
to d
o se
r hum
ano
para
com
o
ser h
uman
o.
Ass
im,
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ssoa
l da
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b tá
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mai
s te
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mui
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nã
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nta.
.. ta
nto
sofri
men
to.
Ele
s ta
mbé
m
fala
m
(da
dire
tora
nov
a) q
ue n
ão tá
lega
l, qu
e nã
o co
ncor
dam
, qu
e nã
o go
stam
, m
as
assi
m...
ele
s to
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, el
es d
ão a
ula,
ele
s vã
o, p
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ser
que
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m j
eito
ass
im
mas
ele
s vã
o. M
as e
u nã
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que
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...
essa
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raba
lho
e no
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Ana
ain
da m
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ue e
u,
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a m
ais.
Eu
falo
: “A
na, p
orqu
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gent
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assi
m?
A
gent
e po
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reso
lvid
a né
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ixa
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vai
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te n
ão c
onse
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gent
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nseg
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sso
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gra
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traba
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, ent
ão é
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to s
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o,
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uito
sof
rido.
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ia
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reto
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volta
né. [...]
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[..
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balh
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so,
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essa
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qu
e eu
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uiri
por
todo
s es
ses
nove
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os.
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or e
u es
tar
me
sent
indo
mai
s se
gura
e,
acre
dita
ndo
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u fa
ço,
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omo
resp
eita
r, co
mo
você
enx
erga
a c
rianç
a, m
as...
m
uito
co
nfus
o. N
ão v
ejo
que
tem
um
a...
com
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vou
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licar
... a
cho
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tem
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ta,
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Junt
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do...
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ão a
gen
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cou
bem
...
é co
mo
se e
u tiv
esse
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o pr
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cola
no
va,
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ndeu
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i es
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já
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ianç
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s cr
ianç
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ue e
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e um
mod
o ge
ral,
não
só a
s da
m
inha
turm
a, d
aqui
do
bairr
o, d
a es
cola
, te
m
outra
s pe
ssoa
s qu
e a
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e já
co
nhec
e. Is
so a
inda
me
deix
a um
pou
co
mai
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nfor
táve
l, m
as d
o re
sto
mud
ou
tudo
. [...
] No
mom
ento
foi u
m s
usto
, um
so
frim
ento
. E
u ac
ho q
ue a
té o
ano
pas
sado
a g
ente
co
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uiu
man
ter,
talv
ez
um
pouc
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fere
nte,
m
as
a ge
nte
sem
pre
se
com
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eteu
. E
ntão
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e se
mpr
e
fora
m
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na
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cret
aria
(E
duca
ção)
, já
fora
m p
edir.
..(a
saíd
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di
reto
ra)
[...]S
ão
extre
mos
. A
co
mun
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e es
tava
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mad
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la a
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e, e
la c
ham
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so d
e de
sorg
aniz
ação
. De
bagu
nça.
[..
.].
Mas
ai
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fe
z,
né.
Alg
umas
coi
sas
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roje
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entra
l eu
ac
hei
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ela
(ant
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dire
tora
, V
.). E
ssa
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lava
tant
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esc
ola
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onte
, por
que
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a qu
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era
“aq
uela
” fo
rmaç
ão,
né.
E t
ambé
m n
ão s
ó pe
la s
aída
del
a,
mas
pel
a, d
igam
os a
ssim
... “p
ress
ão” d
o m
unic
ípio
, da
Sec
reta
ria,
porq
ue...
“só
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scol
a é
dife
rent
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Tant
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que
quan
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eio
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ater
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unda
ção
Bra
desc
o, n
ós p
edim
os u
m te
mpo
. Não
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ra e
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la n
ão a
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r. P
orqu
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o.
Mas
ela
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... p
egou
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ces
do ID
EB
. Por
que
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sse
proj
eto
tives
se
tido
aum
ento
, da
ndo
bons
res
ulta
dos,
el
a nã
o...
até
pode
ria
vota
r pr
a qu
e aq
uele
mat
eria
l nã
o vi
esse
, m
as n
ão.
Ach
o qu
e na
quel
e an
o (2
009)
o ID
EB
da
esco
la b
aixo
u at
é. M
as e
ra o
prim
eiro
an
o de
pro
jeto
. E
la f
alav
a qu
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or is
so. E
ra o
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eiro
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eto,
a
gent
e es
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meç
ando
, es
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es
tudo
qu
ais
os
mel
hore
s ca
min
hos.
.. ta
l e a
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per
deu.
Ai v
eio
a Fu
ndaç
ão B
rade
sco.
Ai v
eio
o D
irceu
. O
teve
um
a eq
uipe
qu
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mpr
e se
co
mpr
omet
eu,
sem
pre
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rás,
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ão a
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isso
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93
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista piloto
QUESTOES OBJETIVOS
1. Gostaria que me contasse sobre sua formação
acadêmica, desde quando foi aluno (a): que
professor(a) o(a) marcou; teve algum professor(a)
que, refletindo hoje, foi importante pra você; em que
sentido?
2. Há quanto tempo exerce esta função? E nesta
escola?
3. O que o(a) levou a escolher esta profissão?
4. Atuou em outra área antes de exercer a função de
professor?
5. Como foi sua trajetória profissional até chegar a esta
escola?
6. Você participa de cursos de formação na sua área?
Como os classifica?
Referenciar a formação acadêmica e sua
trajetória de vida profissional.
Investigar sobre a formação e o tempo de
formado.
Observar as influências importantes em na
constituição como profissional
Compreender sobre a influência da
temporalidade na função dos gestores.
Investigar a intenção e concepção da
escolha pela educação, atribuições ao longo
da escolarização e formação.
Saber sobre sua história auxilia no
conhecimento das competências/saberes
profissionais para lidar com questões da
formação contínua.
94
7. Que elementos acredita ser essencial para exercer o
papel de um professor?
8. Qual foi seu maior desafio como professor?
Caracterizar o perfil do professor para
investigar as diretrizes que referenciam seu
trabalho.
Identificar as dificuldades ou desafios
encontrados como formador.
9. O que é “Ser professor”?
10. O que é para você “Ser um Bom professor”?
11. Descreva o papel de um coordenador pedagógico. E
um bom coordenador pedagógico/diretor?
12. O que você acha que o coordenador/diretor espera
de você?
13. O que você espera do coordenador/diretor?
14. O que você acha que o coordenador/diretor pensa
que você espera dele?
15. De que maneira ocorre a comunicação entre você e
os gestores desta unidade? E entre você e os outros
professores?
16. Tente descrever como se dão as relações
interpessoais entre a gestão e o corpo docente.
17. Descreva uma situação na qual o bom
relacionamento interpessoal contribuiu para o
desenvolvimento/crescimento profissional dos
professores.
Investigar sobre a concepção do “Ser
professor” e do “Ser um bom professor”.
Investigar a articulação entre atribuições e
pertenças relacionadas à profissionalização.
Investigar a qualidade da comunicação nas
relações interpessoais.
Investigar como o relacionamento entre o
gestor e o coordenador pedagógico com os
professores influencia o processo de
constituição da identidade do professor.
95
APÊNDICE B - Roteiro final de entrevista semi-estruturada
QUESTÕES
1. Gostaria que me contasse sobre sua formação acadêmica, desde quando foi aluno (a): que
professor(a) o(a) marcou; teve algum professor(a) que, refletindo hoje, foi importante pra
você; em que sentido?
2. O que a levou a escolher esta profissão?
3. Há quanto tempo é professora?
4. Como foi sua trajetória profissional até chegar a esta escola?
5. Você participa de cursos de formação na sua área? São oferecidos pela rede ou os faz
particularmente? Como os avalia?
6. Conte-me como foi a experiência de formação vivenciada por você nesta escola?
7. Que consequências esta formação trouxe a você? Verificar:
Em que isso te afetou?
Quais os aspectos positivos e negativos?
Como afetou seu trabalho, a educação, a escola ,o PPU da escola?
8. Após a implementação do material didático, aconteceram mudanças. Que mudanças foram
estas, e em que medidas, interferiram ou não, ou atrapalharam ou não a manutenção de
certos aspectos ou que aspectos foram mantidos, quais foram mudados, como isso afetou
você pessoalmente e a vida da escola coletivamente?
9. Como sente a permanência desse trabalho atualmente?
10. Em que isso te afeta hoje?
11. Que elementos acredita serem essenciais para exercer o papel de um professor?
12. Qual foi seu maior desafio como professor?
96
APÊNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação:
Psicologia da Educação
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esta pesquisa refere-se ao mestrado de Eliana Cristina Zanette Cipriano e tem como orientadora a
Profa. Dra. Vera Maria Nigro de Souza Placco. O objetivo é estudar sobre as formas de
relacionamento do gestor e do coordenador pedagógico e de que maneira elas influenciam na
constituição da identidade docente num processo de formação contínua de professores.
Um dos elementos fundamentais deste estudo será a observação da rotina escolar e das Horas de
Estudo (H.E.) entre os professores e seus gestores em situações de serviço, portanto, você está
sendo convidado(a) a participar desta pesquisa.
A participação neste estudo não acarretará qualquer risco, prejuízo ou maleficência pessoal ao
envolvido na pesquisa. Ao permitir a observação, a gravação em áudio e a utilização dos dados aqui
obtidos, você possibilitará a ampliação e socialização do conhecimento daí decorrente. Você tem a
liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando, em qualquer fase da
pesquisa. Estes dados serão utilizados tanto na minha dissertação de Mestrado quanto em eventuais
publicações em periódicos ou eventos científicos. Em todos estes veículos, seu anonimato será
garantido desde a transcrição até a publicação. As gravações serão guardadas em local seguro pelo
tempo de cinco anos.
Tendo em vista o esclarecimento acima descrito, eu manifesto livremente meu consentimento em participar da pesquisa aqui apresentada.
Nome do participante RG CPF
Assinatura
Jundiaí, _____de_______________de 2012.
Em caso de dúvida ou esclarecimento adicional, você poderá solicitar esclarecimentos ao pesquisador ou à orientadora quando sentir necessidade, por telefone ou e-mail.
Pesquisadora: Eliana Cristina Zanette Cipriano – (11) 97255-6684 – [email protected] Orientadora: Profa. Dra. Vera Maria Nigro de Souza Placco – (11) 3670-8527
Nome da pesquisadora RG CPF
Eliana Cristina Zanette Cipriano 18131335 117748678-42
Assinatura
97
ANEXO A – PROJETO “Respeito de todo jeito” JUSTIFICATIVA: Um clamor por respeito e valores está, atualmente, ecoando por toda a Terra à medida que educadores, pais e crianças estão cada vez mais preocupados e afetados pela violência, por problemas sociais, falta de respeito mútuo em todo o mundo. Os educadores estão, portanto, cada vez mais sendo solicitados a abordar problemas que surgem dentro de suas comunidades. Conforme relata a Comissão da Unesco, ao confrontar-se com os muitos desafios que o futuro reserva, a humanidade vê na educação um auxiliar indispensável em sua tentativa de atingir os ideais de paz, liberdade, respeito e justiça social. A comissão não vê a educação como uma cura milagrosa ou uma fórmula mágica abrindo as portas para um mundo no qual ideais serão atingidos, mas como um dos principais meios disponíveis para promover uma forma mais profunda e mais harmoniosa de desenvolvimento humano e assim reduzir a discriminação, a ignorância, a opressão e a guerra. O projeto Roda Filosófica foi pensado em resposta a esse clamor por valores, que foram perdidos ao longo do tempo, mas que são intrínsecos ao ser humano. OBJETIVO GERAL: O objetivo principal da roda filosófica é suprir princípios diretores e ferramentas para o desenvolvimento integral dos alunos, reconhecendo que o indivíduo é composto pelas dimensões física, intelectual, emocional e espiritual. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Ajudar as crianças a refletir sobre diferentes valores e suas implicações práticas, como expressá-los em relação a sim mesmo, aos outros, à comunidade e ao mundo em geral; - Aprofundar entendimento, motivação e responsabilidade com relação a fazer escolhas pessoais e sociais positivas; - Inspirar indivíduos a escolher seus próprios valores pessoais, sociais, morais e espirituais, e estarem cientes de métodos práticos para desenvolvê-los e aprofundá-los; - Encorajar educadores a verem na educação o meio de prover aos estudantes uma filosofia de vida, e, a partir daí, facilitar seu crescimento geral, desenvolvimento e escolhas para que eles possam integrar-se na comunidade com respeito, segurança e objetivos. AÇÕES: Durante todo o desenvolvimento do projeto serão propostas ações que priorizem:
Respeito a si próprio;
Respeito pelo próximo;
Respeito pela família;
Respeito pelo patrimônio escolar;
98
Respeito pelo meio ambiente METODOLOGIA:
Rodas de conversa;
Organização de panfletos, maquetes, cartazes, cartas individuais ou em grupos;
Campanhas de solidariedade;
Rodas Filosóficas;
Semana do Meio Ambiente;
Assembleia geral de alunos;
Campanhas dentro da escola (com as próprias crianças e com pessoas de fora);
Organização de textos escritos pelos alunos aos pais;
Semana Cultural;
Oficinas para mães;
Manual de orientação aos pais (orientações específicas para horas de estudo e tarefas de casa) por ocasião das oficinas para as famílias;
PRODUTO FINAL:
Com a realização deste projeto, esperamos que transformações realmente aconteçam. É preciso que nossa sociedade reveja suas práticas cotidianas e melhore as suas relações. Deste modo, conseguiremos uma vivencia com menos violência e mais solidariedade. Um projeto como este procura este objetivo: transformar as pessoas para que estas possam agir de forma diferenciada com seus pares. AVALIAÇÃO:
Ocorrerá durante todo o processo, com momentos de intensa reflexão sobre as atividades realizadas. Como buscamos uma mudança nas práticas dos alunos, é preciso avaliar constantemente os seus atos para verificar se os resultados esperados estão sendo alcançados. Isto demanda a organização de momentos onde os protagonistas do processo possam refletir, analisar, organizar e retomar caminhos, buscando sempre intensificar o trabalho realizado. REFERÊNCIAS
- DELORS, Jacques. Relatório para Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 9ª Edição, São Paulo: Editora Cortez, 2004.
- TILLMAN, Diane. Atividades com valores para estudantes de 7 a 14 anos. São Paulo: Editora Brahma Kumari, 2001.