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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC-SP
Michele Picano do Carmo
A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na
ateno concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.
DOUTORADO EM FONOAUDIOLOGIA
SO PAULO
2016
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC-SP
Michele Picano do Carmo
A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na
ateno concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.
DOUTORADO EM FONOAUDIOLOGIA
Tese apresentada Banca Examinadora da
Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo, como exigncia parcial para
obteno do ttulo de Doutor em
Fonoaudiologia sob a orientao da Prof
Dr Teresa Maria Momensohn- Santos
SO PAULO
2016
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A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na ateno
concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.
PRESIDENTE DA BANCA
_______________________________________________
Prof. Dr Teresa Maria Momensohn- Santos
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof. Dr.
_______________________________________________
Prof. Dr
_______________________________________________
Prof. Dr
_______________________________________________
Prof. Dr
_______________________________________________
Prof. Dr
Aprovada em: ____/___/___
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"O valor das coisas no est no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecveis,
coisas inexplicveis e pessoas incomparveis".
(Fernando Pessoa)
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus pais,
Ana Maria e Ubiraci do Carmo, que nunca mediram
esforos para que eu pudesse alcanar meus objetivos,
e que mesmo distncia, sempre estiveram ao meu lado e apesar da saudade sempre
me incentivaram a voar longe.
minha av Joaquina Corra Picano (in memoriam),
que em sua simplicidade sempre tinha um sbio conselho.
Aos meus irmos, especialmente Bruno, pela pacincia e
compreenso nos dias difceis dessa trajetria e a toda famlia por acreditar em mim.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a Prof Dr Teresa Maria Momensohn- Santos, de quem sou f desde
minha chegada a So Paulo e com quem tive a honra conviver, a quem tanta admiro
pelo enorme conhecimento e contribuio para a Fonoaudiologia no Brasil, e que a cada
dia, a cada paciente atendido, transmitiu conhecimentos que me ajudaram a crescer no
s profissionalmente, mas como ser humano. Agradeo aos ensinamentos constantes e
pelo desprendimento de compartilhar todo seu conhecimento aos alunos e no alunos
que a procuram.
Aos Profs Drs Elizeu Coutinho de Macedo, Lucia Kazuko Nishino, Maria
Regina Maluf, Edilene Marchini Boechat, Ana Luiza Navas e Yara Aparecida Bohsen
pela leitura e por toda a contribuio para a finalizao deste trabalho desde a
qualificao.
Prof Dr Leslie Picollotto-Ferreira e a toda a equipe editorial da Revista
Distrbios da Comunicao pelo conhecimento partilhado e os avanos conquistados
enquanto fiz parte da equipe editorial.
Aos mestrandos e doutorandos da PUC-SP, em especial da Linha de Pesquisa
Procedimentos e Implicaes Psicossociais dos Distrbios da Audio pela convivncia
e crescimento em cada atividade realizada. Cada um contribuiu de maneira especial para
a realizao deste trabalho.
Aos professores do PEPG em Fonoaudiologia da PUC-SP pelo ensino, pela
torcida e incentivo nesta jornada.
Virgnia Pini, assistente de coordenao do PEPG em Fonoaudiologia da
PUC-SP, pela ateno, empenho e palavras de acolhimento.
Aos professores, funcionrios e alunos da Escola Estadual Pedro Voss.
Ao bibliotecrio da Derdic, Joo Matias sempre paciente e pronto a ajudar.
Denise Botter, pelo trabalho estatstico precioso antes, durante e aps a coleta
dos dados.
CAPES pela bolsa de estudos
empresa Contronic pelo emprstimo do equipamento para coleta dos dados.
todos os pais que permitiram a participao de seus filhos nesta pesquisa.
todas as pessoas que contriburam direta ou indiretamente para a realizao
deste estudo. Agradeo a todos que acreditaram em mim. Com certeza todas as pessoas
que passaram pela minha vida e as que fazem parte dela, tm grande contribuio.
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LISTA DE ABREVIATURAS
dB NPS decibel nvel de presso sonora
dB (A) decibel
dB NA decibel nvel de audio
LAeq nvel de presso sonora equivalente
Hz Hertz
ppm palavras por minuto
Michele Picano do Carmo
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A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na ateno
concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.
Resumo
Introduo: O rudo pode afetar negativamente o desempenho cognitivo,
interferindo na cognio, na memria de curto prazo, na ateno, nas funes
executivas, na leitura e na escrita, prejudicando o desempenho cognitivo e a
aprendizagem de crianas em idade escolar. Escolas brasileiras apresentam nveis de
rudo acima do recomendado para conforto acstico, o que pode interferir no processo
de aprendizado. Objetivo: Investigar o efeito do rudo ambiental nos movimentos
sacdicos, na ateno concentrada e na leitura em um grupo de crianas sem alteraes
de leitura e escrita. Mtodos: Foram avaliadas 42 crianas com idades entre 9 e 10
anos, sem alteraes auditivas, visuais ou de leitura e escrita. Os movimentos sacdicos
foram avaliados atravs da Eletronistagmografia; a ateno foi pelo Teste de Ateno
por Cancelamento e a leitura foi avaliada atravs de um texto da Prova Brasil. Os testes
foram realizados na situao de silncio e com rudo de fundo de 76 dB (A) e 95 dB
(A), previamente medidos na sala de aula. Resultados: O rudo no causou efeitos
significantes na velocidade, na preciso e na latncia dos movimentos sacdicos, bem
como no nmero de erros, acertos, omisses e ausncias no teste de ateno. Na prova
de leitura foram encontradas diferenas na velocidade na presena de rudo. Quando
expostas a rudos de 76 dB (A) e 95 dB (A) as crianas leram menos palavras por
minuto do que no silncio. Concluso: O efeito no significativo do rudo nos testes
realizados, pode ser decorrente da exposio precoce ao rudo, causando um efeito de
habituao ao rudo e pode-se pensar tambm que o tipo de distrador usado, rudo de
cafeteria, no foi suficiente para provocar os efeitos esperados.
Palavras chave: movimentos sacdicos, leitura, ateno, eletronistagmografia, audio,
Fonoaudiologia.
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Abstract
Introduction: Noise can adversely affect cognitive performance, influencing in
cognition, short-term memory, attention, executive functions, reading and writing,
impairing cognitive performance and learning in children school age. Brazilian schools
have noise levels above the recommended for acoustic comfort, which can interfere
with the learning process. Objective: To investigate the effect of environmental noise in
saccades, in concentrated and reading in a group of children with reading and writing
alterations attention. Methods: We evaluated 42 children aged 9 to 10 years no hearing
impairment, visual or reading and writing. Saccades were evaluated by
Electronystagmography; attention was measured by Attention Test for Cancellation and
the reading was assessed using Prova Brasil text. The tests were performed in the
situation of silence and background noise of 76 dB (A) and 95 dB (A), previously
measured in the classroom. Results: Noise caused no significant effect on speed,
accuracy and latency of saccadic movements as well as the number of errors, successes,
omissions and absences in attention test. In reading test were found differences in speed
in the presence of noise. When exposed to 76 dB (A) and 95 dB (A) children read fewer
words per minute than in silence. Conclusion: No significant noise effect in the tests,
may be due to early exposure to noise, causing a habituation to noise. One can also
think that the type of distractor used, cafeteria noise, was not enough to bring about the
expected effects.
Keywords: saccades, reading, attention, electronystagmography, hearing, Speech,
Language and Hearing Sciences
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APRESENTAO DA TESE
Atendendo solicitao do Programa de Estudos Ps-Graduados em
Fonoaudiologia da PUC-SP, a apresentao da tese deve ser em formato de estudos.
Sendo assim, esta tese composta por trs estudos que sero apresentados
individualmente no decorrer da tese.
A poluio sonora, em termos de gravidade apenas perde para a poluio do ar e
da gua e vem se agravando ao longo do tempo, reduzindo a qualidade de vida
especialmente nas grandes cidades.
O rudo tem impacto nos aspectos fsicos e psquicos do homem. Dentre os
diversos efeitos causa distrbios de sono, efeitos cardiovasculares, perda auditiva,
zumbido e tem impacto negativo no desempenho cognitivo. Crianas expostas ao rudo
so mais propensas a apresentar deficincias na ateno, na memria, na habilidade para
resolver problemas e no aprendizado da leitura. Esses impactos adversos do rudo sobre
o desempenho cognitivo podem levar a uma reduo do desempenho na aprendizagem
escolar (Organizao Mundial de Sade- OMS, 1999; Boman, Enmarker, Hygee, 2005).
As escolas brasileiras apresentam elevados nveis de rudo, especialmente nas
primeiras sries escolares, valores muito alm dos nveis recomendados para que haja
conforto acstico, boa inteligibilidade de fala e desempenho adequado no processo de
aprendizagem (Dreossi, 2000; Martins, 2005; Clark et al., 2006).
Sabe-se que o ambiente acstico em uma sala de aula ou outro ambiente
educacional uma varivel crtica para o desenvolvimento acadmico, psicoeducacional
e psicossocial de crianas com audio normal, assim como de crianas com perda
auditiva e / ou outras deficincias (por exemplo, transtornos do processamento auditivo,
dificuldades de aprendizagem, distrbios de dficit de ateno). Nveis inadequados de
reverberao e / ou rudo podem prejudicar a percepo de fala, a leitura, o desempenho
escolar, o comportamento em sala de aula, a ateno e a concentrao. Alm de
comprometer o desempenho do aluno, a acstica da sala de aula tambm pode afetar
negativamente o desempenho dos professores e aumentar patologias vocais e
absentesmo (American Speech-Language-Hearing Association- ASHA, 2005).
Os efeitos negativos do rudo podem ter maior impacto nas crianas,
principalmente em fase de alfabetizao, j que estas ao lerem em ambiente ruidoso,
apresentam maior dificuldade para a concentrao e por isso cometem mais erros
relacionados, por exemplo, entonao, pontuao e autocorreo, diferentemente do
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que ocorre na leitura realizada em ambiente silencioso. Diferentemente do que ocorre na
leitura realizada em ambiente silencioso (Dreossi, 2000; Clark et al., 2006).
A leitura uma atividade multissensorial, que envolve diversos processos, entre
eles ateno e percepo visual, movimento ocular, associao visuo-auditiva e
memria visual e auditiva. Tambm uma atividade dinmica na qual os olhos realizam
movimentos de fixao e movimentos rpidos (sacdicos ou sacadas) para extrair
informao (Rayner et al., 1996; Starr e Rayner, 2001; Etchepareborda, 2003).
Considerando os efeitos adversos do rudo no processo de leitura, ateno e
movimentos oculares, esta pesquisa teve trs objetivos e foi dividida em trs estudos:
Estudo 1- Influencia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos;
Estudo 2- Influencia do rudo ambiental na ateno concentrada;
Estudo 3: Influncia do rudo ambiental na leitura
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SUMRIO
1.Estudo 1: INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NOS MOVIMENTOS
SACDICOS....................................................................................................................1
Objetivo.............................................................................................................................2
Mtodo...............................................................................................................................2
Resultados..........................................................................................................................6
Discusso.........................................................................................................................18
Concluso........................................................................................................................22
Referncias Bibliogrficas...............................................................................................22
2.ESTUDO 2- INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NA ATENO
CONCENTRADA..........................................................................................................25
Objetivo...........................................................................................................................27
Mtodo.............................................................................................................................27
Resultados........................................................................................................................30
Discusso.........................................................................................................................33
Concluso........................................................................................................................35
Referncias Bibliogrficas...............................................................................................35
3.ESTUDO 3- INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NA
LEITURA.......................................................................................................................39
Objetivo...........................................................................................................................43
Mtodo.............................................................................................................................43
Resultados........................................................................................................................46
Discusso.........................................................................................................................55
Concluso........................................................................................................................57
Referncias Bibliogrficas...............................................................................................58
4.CONCLUSO GERAL.............................................................................................60
5.ANEXOS......................................................................................................................61
Anexo 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................................61
Anexo 2. Triagem visual- Escala de Sinais de Snellen....................................................63
Anexo 3. Eletronistagmografia........................................................................................64
Anexo 4. Texto utilizado para a prova de leitura............................................................65
Anexo 5. Teste de Ateno por Cancelamento................................................................67
Anexo 6. Autorizao da escola para realizao da pesquisa..........................................70
Anexo 7. Parecer Consubstanciado do Comit de tica em Pesquisa.............................71
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Estudo 1: INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NOS
MOVIMENTOS SACDICOS
A leitura uma atividade multissensorial e durante sua realizao diversos
processos esto envolvidos, entre eles: ateno e percepo visual, movimento ocular,
associao visuo-auditiva, reconhecimento auditivo, processamento fonolgico,
memria visual e auditiva, expresso oral, reconhecimento auditivo e processos verbais
superiores (Etchepareborda, 2003).
Embora a leitura parea ser um processo fluido e contnuo, na realidade no o .
um processo mental complicado e dinmico no qual o leitor move ativamente seus
olhos para extrair informaes para a compreenso. Nesse processo, os olhos realizam
movimentos de fixaes, breves perodos de tempo durante os quais os olhos
permanecem estveis, examinando uma pequena rea do estmulo. Os olhos realizam
tambm movimentos sacdicos ou sacadas, que so movimentos oculares rpidos dos
quais os olhos saltam de um local para outro e que tem a finalidade de posicionar a
imagem sobre a fvea, ou seja, so os movimentos que os olhos executam para a rea de
fixao. Durante cada fixao, decises tm que ser tomadas sobre quando mover os
olhos e para onde os direcionar (Rayner et al., 1996; Starr e Rayner, 2001).
Esses movimentos dos olhos mudam em leitores mais ou menos eficientes e a
anlise do padro do movimento ocular ajuda a diferenciar leitores competentes
daqueles com dificuldades de leitura (Rayner et al., 1996; Rayner, 1998; Starr e Rayner,
2001; Macedo et al., 2007).
A Eletronistagmografia (ENG) um mtodo empregado para o registro dos
movimentos oculares. Utiliza o princpio da variao de potencial crneo-retinal durante
a movimentao dos olhos para gravar e analisar caractersticas do comportamento
funcional do reflexo vestbulo-ocular e dos sistemas visuais sacdico, de perseguio,
optocintico e de fixao. Dentre as provas da ENG fazem parte a pesquisa dos
movimentos sacdicos, a pesquisa de nistagmo espontneo, semi-espontneo e
optocintico e o rastreio pendular (Ganana, Caovilla, Ganana, 2010).
O movimento sacdico pode ser apresentado de forma fixa, com o alvo com
movimentao de mesma amplitude e intervalo de tempo e de forma randomizada, com
alvo com movimentao aleatria quanto amplitude e intervalo de tempo. Alm da
anlise qualitativa dos traados obtidos nas provas, os equipamentos digitais permitem a
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2
anlise da latncia, preciso ou acurcia e velocidade dos movimentos oculares,
ampliando os parmetros de avaliao (Zeigelboim, 2011; Mor, Fragoso, 2012; Nishino,
2013).
O rudo tem impactos negativos no processo de leitura e esses podem ter maiores
nas crianas, principalmente em fase de alfabetizao. Isso porque as crianas ao lerem
em ambiente ruidoso, apresentam maior dificuldade para manter sua concentrao e
cometem mais erros relacionados, por exemplo, entonao, pontuao e auto-correo,
diferentemente do que ocorre na leitura realizada em ambiente silencioso. No Brasil, as
escolas apresentam elevados nveis de rudo, especialmente nas primeiras sries
escolares, valores estes muito alm dos nveis recomendados para que haja conforto
acstico e adequado desempenho durante as atividades escolares (Dreossi, 2000;
Martins, 2005; Clark et al., 2006, American Speech-Language-Hearing Association-
ASHA, 2005; Associao Brasileira de Normas Tcnicas- ABNT, 1987).
Os estudos mostram que: o nvel de rudo presente nas salas de aula est acima
do recomendado pelas normas de conforto acstico da ABNT; que o rudo interfere no
desempenho da leitura da criana; que a leitura est diretamente relacionada aos
movimentos sacdicos do olho, nossa hiptese nesse estudo de que o rudo presente na
sala de aula interfere na medida do movimento sacdico da criana. O objetivo deste
estudo foi avaliar os efeitos do rudo ambiental nos movimentos sacdicos de um grupo
de crianas por meio das medidas eletronistagmogrficas.
MTODO
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa sob
nmero 22163714.0.0000.5482. A pesquisa foi do tipo prospectiva, descritiva,
exploratria e quantitativa, realizada em uma sala silenciosa de uma escola estadual da
cidade de So Paulo. Os responsveis pelos sujeitos do estudo assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e as crianas assinaram o Termo de Assentimento
para participao no estudo.
Participaram da pesquisa 42 alunos, do sexo masculino e feminino, com nove e
dez anos de idade cursando o 4 ano do ensino fundamental. Foram includos na
pesquisa alunos sem dificuldades escolares, de leitura ou escrita e excludas crianas
com alteraes visuais e auditivas e aquelas cujos responsveis no permitiram a
participao das mesmas no estudo.
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Para seleo da amostra os sujeitos foram avaliados atravs de triagem da
acuidade visual realizada atravs da Escala de Sinais de Snellen. Foi considerada normal
a acuidade maior do que 0,7 em cada olho.
Para excluir quaisquer alteraes auditivas e sua influncia no desempenho
escolar, os sujeitos foram avaliados por meio da audiometria tonal e vocal e
imitanciometria. Os resultados foram classificados segundo os critrios de Northern;
Downs (2005) para classificao de grau de perda auditiva na audiometria tonal e Jerger
(1970) para classificao das curvas timpanomtricas. Foram considerados limiares
audiomtricos dentro dos padres de normalidade (para a mdia de 500 Hz a 4000 Hz)
at 15 dB NA, timpanometria tipo A e presena de reflexos acsticos na via aferente
contralateral para as frequncias de 500 Hz,1000 Hz e 2000 Hz, em ambas as orelhas.
Antes do registro dos movimentos sacdicos, foram registrados os nveis de
presso sonora em salas de aula do 4 ano do ensino fundamental da Escola Estadual
Pedro Voss, localizada na cidade de So Paulo. A medio foi realizada nos perodos da
manh e da tarde, em diferentes pontos (frente, meio e fundo da sala), durante as aulas e
o intervalo por meio de um equipamento medidor de presso sonora (Decibelmetro),
calibrado de acordo com as normas nacionais NBR 10.151 e NBR 10.152 (ABNT,
1987).
As respostas foram registradas com a curva de ponderao A, por apresentar
resposta mais prxima do ouvido humano e leitura lenta (slow), pela ocorrncia de
situaes de grande flutuao de intensidade sonora presentes em sala de aula. Os nveis
de presso sonora foram medidos e analisados automaticamente pelo equipamento. O
nvel de presso sonora equivalente (LAeq) do rudo obtido em sala de aula foi utilizado
nas etapas seguintes da pesquisa.
Cada sala de aula continha entre 25 e 30 alunos e todos permanecem na escola
em tempo integral. Foram encontrados valores mnimos de 70 dB (A), mediana de 76dB
(A) e mximo de 95 dB (A) e no houve diferena nos nveis de rudo quando medidos
no perodo da manh e da tarde.
A pesquisa dos movimentos sacdicos foi utilizado o equipamento
vectonistagmgrafo digital computadorizado (SCE Nistagmus) e estimulador visual
SCE, ambos da marca Contronic. As crianas foram avaliadas sentadas
confortavelmente em uma cadeira em uma sala silenciosa da escola com iluminao
controlada. A barra luminosa foi posicionada a um metro de distncia e sua altura foi
regulada na altura dos olhos de cada criana (Figura 1). A colocao dos eletrodos se
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deu com a limpeza da pele com gaze embebida em lcool e fixao dos mesmos pele
com fita micro porosa, sendo dois eletrodos em posio frontal mediana (um deles
sendo o eletrodo terra) e dois eletrodos em regio temporal dos olhos (um direita e
outro esquerda) (Figura 2). Em seguida, foi medida a impedncia em cada interface
eletrodo-pele.
Foram realizadas as seguintes provas da vectoeletronistagmografia
computadorizada:
_Movimentos sacdicos fixos: a criana foi orientada a olhar, alternadamente,
para dois pontos luminosos que se moviam a uma velocidade de 0,5 Hz, 10 direita e
esquerda da barra de led posicionada sua frente. Esta prova foi utilizada como
calibrao para os movimentos sacdicos aleatrios;
_Movimentos sacdicos aleatrios: a criana foi orientada a olhar para um ponto
luminoso, que se movia a uma velocidade de 0,5 Hz de forma randomizada na barra de
led.
Foi solicitado criana que no mexesse a cabea e tentasse piscar o mnimo
possvel. As provas incompletas e com traados de difcil anlise foram excludas. As
provas foram realizadas em ordem aleatria nas situaes de silncio, com rudo
ambiental mximo de 45 dB (A) e com rudo do tipo cafeteria apresentado com fones de
ouvido do tipo TDH39 com intensidades de 76 dB (A) e 95 dB (A), medidos
anteriormente na sala de aula.
Os tipos de movimentos sacdicos analisados em todos os indivduos foram os
horizontais randomizados. A anlise dos sacdicos verticais no foi includa no presente
estudo, j que este estudo pretende fazer um paralelo entre os movimentos sacdicos e a
movimentao ocular realizada durante a leitura. Para cada prova foi selecionado o
trecho com o melhor traado e foram realizadas anlises manuais de: nmero de sacadas
(diferena entre as sacadas realizadas pela criana e as fornecidas pelo equipamento);
latncia (mensurada em milissegundos- ms); velocidade de pico (em graus por segundo-
/s) e acurcia (ou preciso em porcentagem-%) com movimentao ocular em 10.
Os dados foram analisados considerando as trs condies de realizao do teste
(Fase 1- silncio, 76 dB (A) e 95 dB (A)) e apenas a primeira condio de realizao
(Fase 2- silncio ou 76 dB (A) ou 95 dB (A)).
1 Fase do Estudo - Anlise Descritiva das Condies de Silncio e Rudo
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Foram analisados os valores de velocidade, latncia e a relao entre o nmero
de sacadas detectadas pela criana e o nmero de sacadas apresentadas pelo
equipamento na prova de movimento sacdico aleatrio nas condies de silncio e
rudo. As crianas foram avaliadas trs vezes (momentos 1, 2 e 3) em cada condio do
teste (silncio, rudo em 76 dB (A) e 95 dB (A)) para descartar o efeito do cansao ou
aprendizado durante a tarefa.
A anlise dos dados foi realizada em duas etapas: descritiva e inferencial.
Na anlise descritiva foram construdas tabelas e grficos com o objetivo de
explorar o comportamento das variveis nmero de sacadas (Bussab e Morettin, 2013).
Na anlise inferencial, foi ajustado um modelo normal com medidas repetidas e
dois fatores fixos (Condio e Momento). Os efeitos dos indivduos foram considerados
aleatrios e os fatores fixos como fatores de medidas repetidas. O uso de um modelo de
medidas repetidas para a anlise dos dados pode ser justificado ao notarmos que todos
os indivduos foram avaliados nas trs condies e em trs momentos (Kutner et al.,
2004; Winer et al., 1991).
A verificao da adequao do ajuste do modelo foi realizada por meio da
construo do grfico de probabilidades para os resduos condicionais, conforme
sugerido em Kutner et al. (2004). O modelo mostrou-se bem ajustado.
O nvel de significncia adotado para todos os testes de hipteses realizados foi
igual a 5%.
2 Fase do Estudo 1- Anlise Descritiva somente primeira condio
Nesta etapa do estudo foi analisada apenas a primeira condio de realizao do
teste. Sendo assim, as crianas foram divididas em grupos de acordo com a condio do
teste (silncio, rudo em 76 dB (A) e 95 dB (A)).
A anlise dos dados foi realizada em duas etapas: descritiva e inferencial.
Na anlise descritiva foi construda uma tabela e um grfico com o objetivo de
explorar o comportamento da varivel Nmero de sacadas (Bussab e Morettin, 2013).
Na anlise inferencial, foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis para comparar a
mediana da varivel Nmero de sacadas sob as trs condies. O uso do teste de
Kruskal-Wallis pode ser justificado ao notarmos que a varivel Nmero de sacadas no
segue uma distribuio normal sob as trs condies (Kutner et al., 2004).
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O nvel de significncia adotado para todos os testes de hipteses realizados foi
igual a 5%.
RESULTADOS
1 Fase do Estudo - Anlise Descritiva das Condies de Silncio e Rudo
Nmero de sacadas
A Tabela 1 mostra que as medidas descritivas do nmero de sacadas so
prximas, quando comparamos as trs condies em cada perodo. J a mdia e a
mediana do nmero de sacadas no momento 1 so, em geral, maiores do que nos demais
momentos, para as trs condies.
Tabela 1. Estatsticas descritivas para o nmero de sacadas.
Condio Momento n Mdia DP* Moda n Moda Mnimo Mediana Mximo
1 42 23,17 11,78 19 4 7 19 49
Silncio 2 42 19,71 11,53 12 3 2 18 51
3 42 22,57 13,70 18; 22 3 1 20 58
1 42 24,36 13,51 19; 39 3 1 24 57
76 dB(A) 2 42 22,14 13,09 8; 19; 32 3 3 19 65
3 42 22,93 11,18 18; 23; 29 4 0 23 52
1 42 23,07 11,76 28 4 3 24 52
95 dB(A) 2 42 22,14 13,07 19; 23; 32 3 3 19 66
3 42 22,57 13,62 20; 30 3 2 20 63
n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da Moda.
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Condio
Momento
321
321321321
70
60
50
40
30
20
10
0
N
mero
de s
acad
as
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 1. Boxplot para o Nmero de sacadas por momento e condio.
Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia (valor-p =
0,499) de efeito de Condio. O comportamento da mdia do nmero de sacadas sob as
trs condies pode ser considerado o mesmo, mas h evidncia de efeito de momento
(valor-p = 0,016). Pela Tabela 2, observa-se que a diferena de mdia das sacadas foram
encontradas apenas entre os momentos 1 e 2. Neste caso, a mdia de sacadas no
momento 1 (23,53) maior do que no momento 2 (21,33).
Tabela 2. Valores-p dos testes t- Student para a diferena de mdias do nmero de
sacadas sob os diferentes momentos.
Diferena
de mdias
Valor-p
MdiaMomento 1 Mdia Momento 2 0,042
Mdia Momento 1 Mdia Momento 3 0,625
Mdia Momento 3 Mdia Momento 2 0,295
Velocidade das Sacadas (/s)
A Tabela 1 e a Figura 1 mostram que as medidas da Velocidade (/s) so
prximas.
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Tabela 1. Estatsticas descritivas para a Velocidade (/s).
Condio Olho Momento n
Mdia
DP Moda N
Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio
1 42 267,02 30,78 290 9 200 275 310
D 2 42 268,57 32,65 290 12 200 285 300
3 42 270,48 34,50 300 12 200 290 310
1 42 265,48 35,35 300 9 200 280 310
E 2 42 269,76 29,34 290 11 200 280 300
3 42 266,67 31,21 290 9 200 280 310
76 dB(A)
1 42 267,38 41,32 290 9 120 280 370
D 2 42 268,10 33,15 300 9 210 280 320
3 42 267,62 38,24 300 13 170 285 300
1 42 253,33 40,22 200 7 140 265 300
E 2 42 260,48 37,67 290 8 160 270 310
3 42 259,52 33,56 270;
280; 300
6 200 270 320
95 dB(A)
1 42 260,71 37,51 290; 300 7 190 270 310
D 2 42 265,95 35,41 290; 300 7 190 270 320
3 42 267,62 37,53 300 10 190 280 310
1 42 264,17 32,94 300 7 200 270 310
E 2 42 261,67 37,86 290 7 180 270 350
3 42 259,76 40,86 280; 290 7 150 265 370
D: direita; E: esquerda; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da
Moda.
Figura 1. Boxplot para a Velocidade (/s) por Condio, Olho e Momento.
Condio
Orelha
Momento
321
EsquerdaDireitaEsquerdaDireitaEsquerdaDireita
321321321321321321
400
350
300
250
200
150
100
Velo
cid
ad
e (
o/s
)
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
-
9
Pelos resultados da anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia
(valor-p = 0,353) de efeito de condio. O comportamento da mdia do nmero de
sacadas sob as trs condies pode ser considerado o mesmo. Nem de efeito de
momento (valor-p = 0,596). No entanto, h evidncia de efeito de olho (valor-p =
0,013). Sendo que a mdia da velocidade no olho direito (267,05) maior do que no
esquerdo (262,31).
Latncia (ms)
A Tabela 2 e a Figura 2 mostram que as medidas descritivas da Latncia (ms)
so prximas. Como os valores-p de todas as comparaes foram superiores ou iguais a
0,159, podemos concluir que no h efeito de momento, olho ou condio sobre a
mediana populacional da latncia.
Tabela 2. Estatsticas descritivas para a Latncia (ms).
Condio Olho Momento n Mdia DP Moda n Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio
1 42 164,76 27,43 150 18 120 150 250
D 2 42 169,36 26,10 150 10 130 160 250
3 42 165,95 35,27 150 14 100 150 290
1 42 168,33 35,95 150 15 100 150 250
E 2 42 166,67 33,62 150 18 100 150 260
3 42 170,95 31,22 150 13 140 160 270
76 dB(A)
1 42 166,90 35,16 150 23 130 150 290
D 2 42 164,76 29,73 150 15 140 150 250
3 42 153,40 25,11 140 14 90 150 210
1 42 169,29 33,96 150 16 120 150 290
E 2 42 161,19 28,98 150 20 120 150 260
3 42 162,86 27,87 150 19 110 150 240
95 dB(A)
1 42 164,29 36,30 150 14 110 150 280
D 2 42 163,64 34,67 150 16 110 150 310
3 42 163,81 28,71 150 16 130 150 270
1 42 166,55 29,19 150 11 130 160 270
E 2 42 160,24 27,00 150 14 100 150 240
3 42 161,79 27,76 150 14 110 150 250
D: direito; E: esquerdo; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da
Moda.
-
10
Condio
Orelha
Momento
321
EsquerdaDireitaEsquerdaDireitaEsquerdaDireita
321321321321321321
300
250
200
150
100
Lat
ncia
(m
s)
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 2. Boxplot para a Latncia (ms) por Condio, Olho e Momento.
Teste no paramtrico de Friedman
Acurcia (%)
A Tabela 3 e a Figura 3 mostram que as medidas descritivas da Acurcia (%) so
prximas. Podemos concluir que no h efeito de momento, olho ou condio sobre a
mediana populacional da acurcia.
Tabela 3. Estatsticas descritivas para a Acurcia (%).
Condio Olho Momento n
Mdia
DP Moda n
Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio
1 42 90,24 25,13 80 12 40 85 140
D 2 42 89,05 23,25 80 12 30 80 140
3 42 92,86 25,81 120 9 50 90 140
1 42 94,52 23,58 80 11 50 90 150
E 2 42 94.64 23,59 80 11 60 93 140
3 42 91,55 23,59 80;120 8 30 90 130
76 dB(A)
1 42 90,24 20,66 80 10 50 90 140
D 2 42 96,31 24,37 80 8 50 95 160
3 42 96,19 25,66 100 9 40 100 150
1 42 94,29 27,86 80 10 40 95 150
E 2 42 89,76 29,75 80 13 40 80 160
-
11
3 42 95,83 25,28 100 9 40 100 140
95 dB(A)
1 42 96,79 20,48 90 10 60 95 150
D 2 42 94,17 26,69 70; 80;
100; 120
6 50 90 160
3 42 95,60 23,12 80 12 60 90 150
1 42 95,95 27,77 90; 100;
110
6 40 100 150
E 2 42 90,60 25,43 80 11 40 90 140
3 42 92,62 22,75 80 15 40 90 140
D: direito; E: esquerdo; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da
Moda.
Condio
Orelha
Momento
321
EsquerdaDireitaEsquerdaDireitaEsquerdaDireita
321321321321321321
160
140
120
100
80
60
40
20
Acu
rcia
(%
)
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 3. Boxplot para a Acurcia (%) por Condio, Olho e Momento.
Teste no paramtrico de Friedman
2 Fase do Estudo 1- Anlise Descritiva somente primeira condio
-
12
Nesta etapa do estudo foi analisada apenas a primeira condio de realizao do
teste. Sendo assim, as crianas foram divididas em grupos de acordo com a condio do
teste (silncio e rudo em 76 dB (A) e 95 dB (A).
Nmero de sacadas
A Tabela 1 mostra que as medidas descritivas do nmero de sacadas so
prximas, quando comparamos as trs condies, em cada perodo. J a mdia e a
mediana do nmero de sacadas no momento 1 so, em geral, maiores do que nos demais
momentos, para as trs condies.
Tabela 1. Estatsticas descritivas para o Nmero de sacadas.
Condio n Mdia DP* Moda n Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio 15 23,80 13,28 7; 22 2 7 22,0 45
76 dB(A) 14 26,93 8,79 19 3 19 23,5 47
95 dB(A) 13 20,31 9,91 10; 12 2 9 18,0 39
n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da Moda.
Teste no paramtrico de Kruskal-Wallis valor-p = 0,228
c95dBb76dBaSilncio
50
40
30
20
10
Condio
N
mero
de s
acad
as
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 1. Boxplot para o Nmero de sacadas por condio.
-
13
Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia de efeito de
condio. A mediana do nmero de sacadas sob as trs condies pode ser considerada
a mesma.
Velocidade (/s)
A Tabela 1 e a Figura 1 mostram medidas descritivas da Velocidade (/s).
Tabela 1. Estatsticas descritivas para a Velocidade (o/s).
Condio Orelha n Mdia DP Moda N Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio D 15 274,33 28,84 290 4 200 285 300
E 15 269,33 26,85 280 5 200 280 300
76 dB(A) D 14 275,71 28,75 290; 300 4 220 290 300
E 14 265,00 33,22 300 4 200 270 300
95 dB(A) D 13 270,77 34,99 290 3 210 280 310
E 13 258,08 29,97 250 4 210 250 300
D: direita; E: esquerda; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da
Moda.
Condio
Orelha
95dB76dBSilncio
OEODOEODOEOD
320
300
280
260
240
220
200
Velo
cid
ad
e (
o/s
)
Figura 1. Boxplot para a Velocidade (/s) por condio e olho.
-
14
Pelos resultados da anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia
(valor-p = 0,774) de efeito de condio. A mdia da velocidade sob as trs condies
pode ser considerada a mesma, mas h evidncia de efeito de olho (valor-p = 0,007).
Sendo que a mdia da velocidade no olho direito (273,69/s) maior do que no
esquerdo (264,40/s).
Latncia (ms)
A Tabela 2 e a Figura 2 mostram medidas descritivas da varivel latncia. Pela
Tabela 3, podemos concluir que no h evidncia de diferena entre as medianas
populacionais da varivel latncia para os olhos direito e esquerdo, para as trs
condies (valores-p 0,285). Observando ainda a Tabela 3, comparando as medianas
populacionais da varivel latncia sob as diferentes condies, duas a duas, observamos
que h evidncia de que as medianas populacionais da varivel latncia sob as trs
condies no so iguais (valor-p = 0,023). H evidncia de que as medianas
populacionais da varivel latncia nas condies Silncio e 95 dB (A) no diferem
(valor-p = 0,675) mas ambas so maiores do que a mediana populacional sob a condio
76 dB (A) (valores-p 0,030).
Tabela 2. Estatsticas descritivas para a Latncia (ms).
Condio Olho n Mdia DP Moda N Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio D 15 169,33 22,19 150 6 150 160 220
E 15 164,67 33,35 150 6 140 150 260
76 dB(A) D 14 149,29 6,16 150 9 140 150 160
E 14 150,00 12,40 150 10 120 150 180
95 dB(A) D 13 165,38 34,55 150 6 140 150 270
E 13 165,00 29,58 150 5 140 150 250
D: direita; E: esquerda; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da
Moda.
Teste no paramtrico de Friedman
-
15
Condio
Orelha
95dB76dBSilncio
OEODOEODOEOD
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100
Lat
ncia
(m
s)
Figura 2. Boxplot para a Latncia (ms) por Condio e Olho.
Teste no paramtrico de Friedman
Tabela 3. Valores-p dos testes para a comparao das medianas populacionais da
varivel Latncia (ms).
Comparao Valor-p
OD x OE Silncio 0,285
OD x OE 76 dB(A) 0,655
OD x OE 95 dB(A) 0,763
Silncio x 76 dB(A) x 95 dB(A) 0,023
Silncio x 76 dB(A) 0,012
Silncio x 95 dB(A) 0,675
76 dB x 95 dB(A) 0,030
Teste no paramtrico de Kruskal-Wallis
-
16
95dB76dBSilncio
275
250
225
200
175
150
Lat
ncia
(m
s)
Figura 3. Boxplot para a latncia (em milissegundos) por condio.
Acurcia (%)
A Tabela 4 e a Figura 4 mostram medidas descritivas da varivel acurcia. Pela
Tabela 5 e da Figura 5, podemos concluir que no h evidncia de diferena entre as
medianas populacionais da varivel acurcia sob os olhos direito e esquerdo, para as trs
condies (valores-p 0,480).
Tabela 4. Estatsticas descritivas para a acurcia (%).
Condio Olho n Mdia DP Moda N Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio D 15 93,67 20,74 80 6 70 85 140
E 15 94,00 19,48 80 4 60 90 130
76 dB(A) D 14 96,07 19,82 80; 100; 120 3 60 100 120
E 14 95,00 27,67 80 5 40 90 140
95 dB(A) D 13 86,54 17,00 90; 100 3 60 90 120
E 13 83,46 20,95 80 4 50 80 120
D: olho direito; E: olho esquerdo; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda:
frequncia da Moda.
-
17
Grupo
Orelha
95dB76dBSilncio
OEODOEODOEOD
150
125
100
75
50
Acu
rcia
(%
)
Figura 4. Boxplot para a Acurcia (%) por condio e olho.
Tabela 5. Valores-p dos testes para a comparao das medianas populacionais da
varivel Acurcia (%).
Comparao Valor-p
OD x OE Silncio 0,480
OD x OE 76dB(A) 0,527
OD x OE 95dB(A) 0,527
Silncio x 76dB(A) x 95dB(A) 0,352
Teste no paramtrico de Kruskal-Wallis
95dB76dBSilncio
150
125
100
75
50
Acu
rcia
(%
)
Figura 5. Boxplot para a Acurcia (%) por Condio.
-
18
DISCUSSO
O objetivo deste estudo foi analisar os movimentos sacdicos de crianas no
silencio e na presena de rudo ambiental.
Pesquisas brasileiras realizadas com crianas atravs da eletronistagmografia
encontraram diferenas na movimentao ocular entre crianas com e sem dificuldade
de leitura e escrita. No que se refere aos testes de oculomotricidade, houve diferena
estatisticamente significante entre os grupos, com piora de desempenho das crianas
com distrbios de aprendizagem. Os resultados demonstraram que alteraes na
oculomotricidade, assim como mau desempenho do reflexo vestbulo-ocular, podem
interferir na dificuldade do desenvolvimento da leitura e da escrita
(Santos, Behlau, Caovilla, 1995; Ventura et al., 2009; Sales, Colafmina, 2014).
Entretanto, no se podem comparar os valores obtidos nos estudos citados (realizados
apenas no silencio) com a presente pesquisa, que foi realizada na presena de rudo.
Para os leitores qualificados, a mdia do comprimento da sacada 7 a 9 espaos
de letra e a durao mdia de cada fixao 200 a 250 ms (Rayner, 1998). Nesta
pesquisa os valores para latncia no silncio variou entre 140-260; entre 120 e 180ms
com 76 dB (A) e entre 140- 270ms com 95 dB (A).
Durante a leitura fluente, scadas movem os olhos para que uma palavra possa
ser centrada na retina de modo que ele pode ser mais eficazmente processada. No
entanto, tanto o comprimento quanto a durao da fixao da scada, variam
consideravelmente de palavra a palavra. A localizao das fixaes dos olhos dentro das
palavras no aleatria, h um local de observao preferido. Os olhos dos leitores
tendem a pousar em algum lugar entre o meio e o incio da palavra. Alm disso, para
longas palavras, os leitores inicialmente fixam perto do incio da palavra ou em algum
lugar entre o meio e o incio das palavras. Alm disso, para longas palavras, os leitores
inicialmente ficam perto do incio da palavra e, em seguida, fazem um refixao perto
do fim da palavra (Starr e Rayner, 2001).
A anlise do padro do movimento ocular ajuda a discriminar leitores
competentes daqueles com dificuldades de leitura. O padro de leitura dos movimentos
oculares afetado por propriedades psicolingusticas da palavra, tais como:
comprimento, regularidade, frequncia e lexicalidade (Macedo et al., 2007).
Macedo et al., (2007) analisaram os movimentos oculares durante a leitura de
palavras e pseudopalavras em universitrios com idade mdia de 20 anos. Os autores
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Santos,%20Maria%20Thereza%20Mazorra%20dos%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Behlau,%20Mara%20Suzana%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Caovilla,%20Helo%C3%ADsa%20Helena%22
-
19
observaram influncia da frequncia e do tamanho das palavras nos movimentos
oculares. O tempo da primeira fixao e da fixao total aumentou de acordo com a
familiaridade do leitor com a palavra, sendo este mais curto nas palavras de alta
frequncia e mais longo nas pseudopalavras. O nmero de fixaes tambm aumentou
de acordo com o comprimento da palavra, semelhante ao que ocorre em outras lnguas.
Com isso, os autores supem que na ausncia de um contexto, o tempo de fixao total
reflete o processamento lexical e semntico.
A literatura demonstra que a fixao melhora com a idade, uma vez que o
nmero de sacadas durante a fixao significativamente reduzida no grupo de sujeitos
mais velhos (14-17 anos), quando comparados aos mais jovens (6-10 anos de idade)
(Ajrezo, Wiener-Vacher, Bucci, 2013). A acurcia da latncia em crianas atinge
valores similares aos de adultos por volta dos 8 anos de idade (Munoz et al., 1998).
O comprimento da palavra determina a localizao da primeira fixao. Assim
como a maior familiaridade com a palavra e a maior previsibilidade contextual, levam
diminuio na durao e no nmero de fixaes. H influncia das palavras nos
movimentos oculares. O tempo da primeira fixao e da fixao total e tambm o
nmero de fixaes dentro da palavra variam de acordo com a frequncia, o tamanho e a
familiaridade do leitor com a palavra, sendo esse tempo menor nas palavras de alta
frequncia e mais longo nas pseudopalavras e nas palavras maiores (Macedo et al.,
2007; Monaghan, Ellis, 2002).
Embora os valores para o nmero de sacadas, velocidade das sacadas, acurcia e
latncia no sejam estatisticamente significantes entre as condies de silencio e rudo,
observou-se que no silncio o nmero de sacadas apresentou valores de desvio-padro e
mediana menores do que na presena de rudo. J a mdia e a mediana do nmero de
sacadas no momento 1 so, em geral, maiores do que nos demais momentos, para as trs
condies. Outra pequena diferena encontrada diz respeito ao efeito de olho para a
velocidade, sendo que a mdia da velocidade no olho direito foi maior do que no
esquerdo. Diferentemente do encontrado por outros pesquisadores brasileiros, cujos
resultados foram maiores para o olho esquerdo (Franco, Panhoca, 2008).
As pequenas diferenas obtidas no presente estudo podem ser explicadas pelo
fato de a criana na primeira prova no ter entendido completamente a realizao do
teste ou estar distrada, uma vez que a ateno est envolvida na execuo dos
movimentos oculares sacdicos (Deubel, Schneider, 1996). Pode-se considerar que estas
pequenas diferenas encontradas no presente estudo, deve-se a falta de ateno ou
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Ajrezo%20L%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24278379http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Wiener-Vacher%20S%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24278379http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Bucci%20MP%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24278379http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4879146/#B42
-
20
distrao por parte da criana durante a realizao do teste. Quanto aos valores de
latncia, os valores encontrados foram abaixo dos obtidos por outros pesquisadores
brasileiros em crianas (Bohlsen, 2002; Sales, Colafmina, 2014), mas prximos aos
obtidos em adultos (Mezzalira et al., 2005).
Outra pesquisa registrou a movimentao ocular na presena de rudo babble
apresentado em 50 dB NPS (nvel de presso sonora) e 70 dB NPS e no silncio durante
uma tarefa de leitura de textos. Os resultados obtidos, no mostraram efeito negativo do
rudo sobre a durao de fixao, a amplitude sacdica e as regresses realizadas
durante a leitura. Entretanto, houve um efeito significativo sobre o tamanho da pupila e
a frequncia de piscadas, alm de maior estresse relatado pelos participantes na
presena de rudo de 70 dB NPS (Strukelj et al., 2012).
As recomendaes nacionais (ABNT,1987) para conforto acstico em sala de
aula determinam nveis de rudo inferiores a 35 dB (A), enquanto a ASHA (2005)
preconiza valores de relao sinal/rudo de pelo menos +15 dB nas orelhas das crianas
para que a aprendizagem possa ser mais eficiente. Isso porque pode haver piora na
compreenso de fala com uma pequena diferena na relao sinal/rudo de apenas 5 dB
(A). O processo de ensino e aprendizagem sofre interferncia, uma vez que no h um
ambiente favorvel para a concentrao e entendimento da fala (Martins, 2005). Por
outro lado, a melhora de 5 dB (A) na relao sinal/rudo favorece o reconhecimento de
fala e o desempenho de crianas na tarefa de escrita de sentenas (Silva, 2011). Para a
memria e leitura, uma reduo do nvel de rudo em 5 dB NA dentro da gama de 65-80
dB NA melhora o desempenho em quase 10%. Esses impactos adversos do rudo sobre
o desempenho cognitivo podem levar a uma reduo da produtividade no trabalho e do
desempenho na aprendizagem escolar (OMS, 1999).
A OMS recomendou em 2011, atravs do Community Noise Guidelines, que o
rudo interno de uma sala de aula no ultrapassasse valores de LAeq35 dB. Entretanto,
observa-se elevados nveis de rudos em escolas brasileiras, especialmente nas salas de
aula das primeiras sries escolares. Os valores variaram entre 53,5 dB (A) e 103 dB (A)
durante as atividades escolares e entre 41,9 dB (A) e 67,3 dB (A) durante o recesso
escolar (Dreossi, Momensohn-Santos, 2004; Eniz, 2004; Martins, 2005; Libarti et al.,
2006; Jaroszewski et al., 2007; Silva, 2011; Almeida Filho et al., 2012). No presente
estudo foi utilizado o rudo de cafeteria com LAeq76 dB e LAeq95 dB, pois estes foram os
valores medidos nas salas de aula do 4 ano na escola avaliada.
-
21
Outra possibilidade para a no diferena estatstica das sacadas na presena de
rudo pode estar relacionada ao tipo de distrator utilizado. Estudos demonstraram que a
a fonte de rudo mais perturbadora fala. Isso porque o efeito perturbador de um som
determinado pela semelhana fonolgica entre o material a ser ensaiado e o material
perturbador irrelevante. Sendo assim, pode-se supor que sons de fala causariam piores
efeitos do que outros tipos de rudos, como o ruido de cafeteria, utilizado nesta
pesquisa. Tarefas desempenhadas em ambientes ruidosos na presena de rudo de fala
sofreram efeitos negativos, o que no aconteceu quando foi usado o rudo de banda
larga (Salame, Baddeley, 1982; Haapakangas et al., 2008; Szalma, Hancock, 2011).
Os efeitos dos sons de fala e outros que no de fala pode ser entendida em
termos de um filtro e o sistema detector que seletivamente passa para memria sons que
se assemelham a fala. Foi sugerido um mecanismo em que o grau de interrupo
proporcional similaridade fonolgica entre o material escrito e material que ouvido.
Assim, apenas a fala, pode mostrar um efeito irrelevante na fala (Salame, Baddeley
1982).
Acredita-se ainda que a maneira como o teste nesta foi realizado tambm possa
ter interferido nas respostas das crianas - durante o teste a criana precisa seguir luzes
de led que so apresentadas em uma barra de forma fixa e randomizada. Porm essas
luzes no ser consideradas estmulos significativos pelas crianas, diferentes de
estmulos como palavras ou imagens e por isso podem no so ser atraentes e no ter
despertado sua ateno como o esperado. Talvez se fosse usado outro tipo de material,
como por exemplo, imagens ou mesmo palavras em invs de luz, teriam mais
significado e chamariam mais a ateno da criana.
CONCLUSO
No foram encontradas diferenas estatisticamente significantes para o nmero
de sacadas, velocidade, latncia e acurcia e dos movimentos sacdicos quando
avaliados no silncio e na presena de rudo ambiental. Observou-se apenas diferena
estatstica para velocidade, cujos valores foram maiores para o olho direito.
-
22
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ESTUDO 2 INTERFERNCIA DO RUDO NA ATENO CONCENTRADA
A poluio sonora, em termos de gravidade apenas perde para a poluio do ar e
da gua e vem se agravando ao longo do tempo, reduzindo a qualidade de vida
especialmente nas grandes cidades. O rudo causa distrbios de sono, efeitos
cardiovasculares, perda auditiva, zumbido e tem impacto negativo no desempenho
cognitivo. Crianas expostas ao rudo podem ter deficincias na ateno, na memria,
na habilidade de resolver problemas e no aprendizado da leitura. Para a memria e a
leitura, uma reduo do nvel de rudo em 5 dB (A) dentro da faixa de 65 dB (A) a 80
dB (A) melhora o desempenho em quase 10%. Esses impactos adversos do rudo sobre
o desempenho cognitivo podem levar a uma reduo da produtividade no trabalho e do
desempenho na aprendizagem escolar (Organizao Mundial da Sade, OMS, 1999;
American Speech-Language-Hearing Association- ASHA, 2005).
O ruido pode afetar negativamente o desempenho cognitivo, influenciando na
cognio, na memria de curto prazo, ateno, nas funes executivas, na compreenso
de leitura, na escrita e na auto-correo, prejudicando o desempenho cognitivo e a
aprendizagem em crianas em idade escolar. Essas dificuldades, mesmo aps o fim da
exposio ao rudo, podem persistir por algum tempo (OMS, 2011; Basner et al., 2014;
Srqvist, 2015).
Sabe-se que o ambiente acstico em uma sala de aula ou outro ambiente
educacional uma varivel crtica para o desenvolvimento acadmico, psicoeducacional
e psicossocial de crianas com audio normal, assim como de crianas com perda
auditiva e / ou outras deficincias (por exemplo, transtornos do processamento auditivo,
dificuldades de aprendizagem, distrbios de dficit de ateno). Nveis inadequados de
reverberao e / ou rudo podem prejudicar a percepo de fala, a leitura, o desempenho
escolar, o comportamento em sala de aula, a ateno e a concentrao. Alm de
comprometer o desempenho do aluno, a acstica da sala de aula tambm pode afetar
negativamente o desempenho dos professores e aumentar patologias vocais e
absentesmo (ASHA, 2005). Pensando na necessidade do silncio e do conforto acstico
me sala de aula para que as crianas possam aprender de forma adequada a Organizao
Mundial da Sade (OMS, 2011) recomendou que o rudo de fundo de uma sala de aula
no excedesse a LAeq35 dB. A realidade, no entanto, bastante diferente, tanto no Brasil
como em outros pases do mundo (Dreossi, Momensohn-Santos, 2004; Eniz, 2004;
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26
Martins, 2005; Libarti et al., 2006; Jaroszewski et al., 2007; Silva, 2011; Almeida Filho
et al., 2012).
A questo da ateno tem sido bastante pontuada em todos os momentos que se
discute o impacto do rudo sobre a aprendizagem e sobre a vida escolar da criana. A
ateno seletiva responsvel por facilitar a entrada de informaes relevantes e inibir
estmulos no relevantes. O rudo acstico ambiental, mesmo de baixa ou moderada
intensidade, afeta de forma adversa o processamento da informao em animais e
humanos atravs do mecanismo da ateno (Trimmel, Schtzer, Trimmel, 2014). Este
processamento da informao, atravs das funes de facilitao ou inibio ocorre no
sistema nervoso central, que por sua vez, afetado por todo o processo de
desenvolvimento da criana. No processo da ateno, a facilitao da informao
relevante e a inibio da informao no relevante so vistas como mecanismos bsicos
subjacentes da ateno seletiva (Milliken, Tipper, 1998).
Existem dois sistemas de ateno que facilitam o processamento e selecionam
informaes: o sistema "endgeno" (tambm conhecido como ateno sustentada) um
sistema voluntrio que corresponde nossa capacidade de monitorar voluntariamente
informaes em um determinado local; e, o sistema "exgeno" (conhecido como
ateno transitria) um sistema involuntrio que corresponde a uma resposta de
orientao automtica para um local onde ocorreu a estimulao sbita (Carrasco,
2011).
Sabe-se que as crianas so mais afetadas em tarefas auditivas e no auditivas
(pois tm menor habilidade em ignorar sons irrelevantes) do que adultos por causa da
imaturidade de sua habilidade de controle atencional. Dependendo da natureza da tarefa
e/ou do som, esse comprometimento pode ser resultar em uma interferncia especfica
em processos perceptivos e cognitivos envolvidos em uma tarefa focal e / ou em um
processo mais geral de captura de ateno (Elliot, 2002; Klate et al., 2013). Os estudos
mostram que o nvel de ateno concentrada tende a aumentar progressivamente
conforme o aluno tambm progride em sua srie escolar (Carreiro et al, 2015; Benczik,
Leal, Cardoso, 2016).
O processo de ensino e aprendizagem sofre interferncia na presena de rudo,
uma vez que no h um ambiente favorvel para a concentrao e entendimento da fala
(Martins, 2005). Por outro lado, a melhora de 5 dB (A) na relao sinal/rudo favorece
o reconhecimento de fala e o desempenho de crianas na tarefa de escrita de sentenas
(Silva, 2011).
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Carreiro,%20Luiz%20Renato%20Rodrigues%22
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27
Considerando os efeitos adversos do rudo sobre a ateno, o objetivo desta
pesquisa foi investigar o efeito do rudo ambiental na ateno seletiva em um grupo de
crianas.
MTODO
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa sob
nmero 22163714.0.0000.5482. A pesquisa foi do tipo prospectiva, descritiva,
exploratria e quantitativa, realizada na Escola Estadual Pedro Voss, em uma sala
silenciosa. Os responsveis pelos sujeitos do estudo assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e as crianas assinaram o Termo de Assentimento
para participao no estudo.
Fizeram parta da amostra 42 crianas com idades entre 9 e 10 anos e que
preencheram os seguintes critrios de incluso: apresentarem acuidade auditiva e visual
normal, no apresentarem alteraes de desenvolvimento cognitivo aparentes, e
dificuldades de leitura e escrita segundo critrio do professor da sala de aula. Foram
includos na pesquisa alunos sem dificuldades escolares, de leitura ou escrita e excludas
crianas com alteraes visuais e auditivas e aquelas cujos responsveis no permitirem
a participao das mesmas no estudo.
Para seleo da amostra os sujeitos foram avaliados atravs de triagem da
acuidade visual realizada atravs da Escala de Sinais de Snellen. Foi considerada normal
a acuidade maior do que 0,7 em cada olho.
Para excluir quaisquer alteraes auditivas e sua influncia no desempenho
escolar, os sujeitos foram avaliados por meio da audiometria tonal e vocal e
imitanciometria. Os resultados foram classificados segundo os critrios de Northern,
Downs (2005) para classificao de grau de perda auditiva na audiometria tonal e Jerger
(1970) para classificao das curvas timpanomtricas. Foram considerados limiares
audiomtricos dentro dos padres de normalidade (para a mdia de 500 Hz a 4000 Hz)
at 15 dB NA, timpanometria tipo A e presena de reflexos acsticos na via aferente
contralateral para as frequncias de 500 Hz,1000 Hz e 2000 Hz, em ambas as orelhas.
Foram registrados os nveis de presso sonora em uma sala de aula do 4 ano do
ensino fundamental da Escola Estadual Pedro Voss, localizada na cidade de So Paulo.
A medio foi realizada nos perodos da manh e da tarde, em diferentes pontos (frente,
-
28
meio e fundo da sala), durante as aulas e o intervalo por meio de um equipamento
medidor de presso sonora (Decibelmetro), calibrado de acordo com as normas
nacionais NBR 10.151 e NBR 10.152 (ABNT, 1987).
As respostas foram registradas com a curva de ponderao A, por apresentar
resposta mais prxima do ouvido humano e leitura lenta (slow), pela ocorrncia de
situaes de grande flutuao de intensidade sonora presentes em sala de aula. Os nveis
de presso sonora foram medidos e analisados automaticamente pelo equipamento. O
nvel de presso sonora equivalente (LAeq) do rudo obtido em sala de aula foi utilizado
nas etapas seguintes da pesquisa.
Cada sala de aula continha entre 25 e 30 alunos e todos permanecem na escola
em tempo integral. Foram encontrados valores mnimos de 70 dB (A), mediana de 76
dB (A) e mximo de 95 dB (A) e no houve diferena nos nveis de rudo quando
medidos no perodo da manh e da tarde.
O Teste de Ateno por Cancelamento (Montiel, Seabra, 2012, 2012) foi
aplicado individualmente, em ordem aleatria de condio. Isto significa que a cada
criana que chegava o procedimento era aplicado em uma condio diferente, ora no
silncio, ora na condio de rudo a 76 dB (A), ora no rudo a 95 dB (A).
O Teste de Ateno por Cancelamento consiste em trs matrizes impressas com
diferentes tipos de estmulos. A tarefa assinalar todos os estmulos iguais ao estmulo-
alvo previamente determinado. A primeira parte avalia a ateno seletiva e consiste em
uma prova de cancelamento de figuras numa matriz impressa com seis tipos de
estmulos (crculo, quadrado, tringulo, cruz, estrela, trao), num total de 300 figuras,
aleatoriamente dispostas, sendo que a figura alvo indicada na parte superior da folha.
A segunda parte avalia a ateno seletiva numa prova com maior grau de dificuldade,
sendo que a tarefa semelhante da primeira parte, porm o estmulo alvo composto
por figuras duplas. Na terceira diviso, o teste avalia a ateno alternada, ou a
capacidade de mudar o foco de ateno. Nessa terceira parte, o estmulo-alvo muda a
cada linha, sendo que a figura inicial de cada linha deve ser considerada o alvo. O
nmero de vezes que o estmulo-alvo aparece dentre as alternativas muda a cada linha,
variando de duas a seis vezes. O tempo mximo para execuo em cada parte da tarefa
de um minuto.
Cada parte que compe o teste foi dividida em trs blocos (que ficaram com 100
figuras cada) e cada bloco foi realizado em uma das trs diferentes condies - silncio,
-
29
rudo em 76 e 95 dB A, restando 100 figuras para cada condio do teste. O tempo para
realizao do teste em cada condio foi de 20 segundos.
Os dados foram analisados considerando as trs condies de realizao do teste
(Fase 1- silncio, 76 dB (A) e 95 dB (A)) e apenas a primeira condio de realizao
(Fase 2- silncio ou 76 dB (A) ou 95 dB (A)).
Anlise dos Dados
Em cada uma das trs partes do Teste de Ateno por Cancelamento so
computados trs diferentes escores, a saber, o nmero total de acertos, i.e., nmero de
estmulos-alvo adequadamente cancelados; nmero de erros, i.e., o nmero de estmulos
no alvo incorretamente cancelados; e o nmero de ausncias, i.e., o nmero de
estmulos alvo que no foram cancelados. Neste estudo foi tambm utilizado um escore
total para acertos, erros e ausncias referente soma dos respectivos escores nas trs
partes constituintes do instrumento.
A anlise estatstica dados foi realizada em duas etapas: descritiva e inferencial.
Na anlise descritiva foram construdas tabelas e grficos com o objetivo de
explorar o comportamento das variveis analisadas.
Na anlise inferencial, para as variveis nmero de acertos e Nmero de
ausncias no teste de ateno concentrada, foram ajustados modelos normais com
medidas repetidas e um fator fixo (Condio). Os efeitos dos indivduos foram
considerados aleatrios e o fator fixo como um fator de medidas repetidas. O uso de um
modelo de medidas repetidas para a anlise dos dados pode ser justificado ao notarmos
que todos os indivduos foram avaliados nas trs condies (Winer et al., 1991; Kutner
et al., 2004).
A verificao da adequao do ajuste do modelo foi realizada por meio da
construo do grfico de probabilidades para os resduos condicionais, conforme
sugerido por Kutner et al. (2004). Os modelos mostraram-se bem ajustados.
A varivel nmero de erros no teste de ateno concentrada mostrou no ter
distribuio normal (valor-p
-
30
RESULTADOS
Nmero de acertos no Teste de Ateno Concentrada
A Tabela 1 mostra que as medidas descritivas do nmero de acertos no Teste de
Ateno Concentrada so prximas, quando comparamos as trs condies.
Tabela 1. Estatsticas descritivas para o Nmero de acertos no Teste de Ateno
Concentrada.
Condio n* Mdia DP
* Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio 42 25,45 4,96 24; 28 14 26,5 33
76dB(A) 42 24,74 5,78 21; 28 11 25,5 34
95dB(A) 42 25,00 6,76 26 10 26,0 36
*n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; cada valor da Moda apareceu 5
vezes.
95dB76dBSilncio
35
30
25
20
15
10
Condio
N
mero
de a
cert
os
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 1. Boxplot para o Nmero de acertos no Teste de Ateno Concentrada por
condio.
Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia (valor-p =
0,653) de efeito de Condio (o comportamento da mdia do nmero de acertos sob as
trs condies pode ser considerado o mesmo).
-
31
Nmero de erros no Teste de Ateno Concentrada
A Tabela 2 mostra que as medidas descritivas do nmero de erros no Teste de
Ateno Concentrada so prximas, quando comparamos as trs condies.
Tabela 2. Estatsticas descritivas para o Nmero de erros no Teste de Ateno
Concentrada.
Condio n* Mdia DP
* Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio 42 3,09 5,07 0 0 1,0 19
76
dB(A)
42 3,50 4,84 0 0 1,0 17
95dB(A) 42 4,02 6,27 0 0 0,5 25
*n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; cada valor da Moda apareceu 20, 15 e
21 vezes, respectivamente.
aSilncio95dB76dB
25
20
15
10
5
0
Condio
N
mero
de e
rro
s
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 2. Boxplot para o Nmero de erros no Teste de Ateno Concentrada por
condio.
Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia (valor-p =
0,641) de efeito de Condio. O comportamento da mediana do nmero de acertos sob
as trs condies pode ser considerado o mesmo.
-
32
Nmero de ausncias no Teste de Ateno Concentrada
A Tabela 3 mostra que a mdia e a mediana do nmero de ausncias no Teste de
Ateno Concentrada so maiores na condio Silncio do que nas demais condies.
Tabela 3. Estatsticas descritivas para o Nmero de ausncias no Teste de Ateno
Concentrada.
Condio n* Mdia DP
* Moda Mnimo Mediana Mximo
Silncio 42 12,69 6,06 14 2 13 26
76dB(A) 42 10,91 6,11 10 2 10 24
95dB(A) 42 10,45 6,15 3 3 10 23
*n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; cada valor da Moda apareceu 5, 5 e 6 vezes,
respectivamente.
.
95dB76dBSilncio
25
20
15
10
5
0
Condio
N
mero
de
au
sn
cia
s
Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia
Figura 2. Boxplot para o Nmero de ausncias no Teste de Ateno Concentrada por
condio.
Pela anlise inferencial, podemos concluir que h evidncia (valor-p = 0,028) de
efeito Condio (o comportamento da mdia do nmero de ausncias sob as trs
condies no pode ser considerado o mesmo). Pela Tabela 4, observa-se que as
diferenas de mdias de ausncias foram encontradas apenas entre as condies Silncio
e 95 dB (A). Neste caso, a mdia de ausncias no Silncio maior do que em 95 dB
(A).
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Tabela 4. Valores-p dos testes t- Student para a diferena de mdias do nmero de
ausncias no Teste de Ateno Concentrada sob as diferentes condies.
Diferena
de mdias
Valor-p
MdiaSilncio Mdia76dB(A) 0,104
MdiaSilncio Mdia95dB(A) 0,031
Mdia95 dB(A) Mdia76dB(A) 0,861
DISCUSSO
A pesquisa teve como objetivo investigar os efeitos do rudo na ateno atravs
do Teste de Ateno por Cancelamento. Os resultados no demonstraram diferena
estatisticamente significativa para o nmero de acertos, erros ou ausncias quando
pesquisados com silencio ou na presena de rudo. A pequena diferena observada se
refere ao desvio-padro, que foi maior com o uso de rudo em 95 dB (A), assim como
menor nmero de acertos mnimos. Para o nmero de erros, houve pequeno efeito do
rudo. O desvio-padro e o nmero de erros aumentaram nas condies de rudo. Por
outro lado, a condio de silncio apresentou maiores valores de mdia e mediana para
o nmero de ausncias do que nas demais condies e no foi possvel encontrar
explicao para este pior desempenho no silencio.
O fato de as crianas no demonstrarem piora do desempenho no teste de
ateno nas situaes de rudo pode ser explicado pelo fato de que estas j esto
habituadas ao rudo, j que as crianas esto expostas a brinquedos ruidosos, msica,
ambientes recreativos desde o nascimento e depois ao entrar na escola, onde passam a
maior parte do tempo. Elevados nveis de rudos foram medidos em escolas brasileiras,
especialmente nas salas de aula das primeiras sries escolares. Os nveis de rudo
medidos variaram entre 53,5 dB (A) e 103 dB (A) durante as atividades escolares e
entre 41,9 dB (A) e 67,3 dB(A) durante o recesso escolar (Dreossi, Momensohn-Santos,
2004; Eniz, 2004; Martins, 2005; Libarti et al., 2006; Jaroszewski et al., 2007; Silva,
2011; Almeida Filho et al., 2012).
As recomendaes nacionais (ABNT, 1987) para conforto acstico em sala de
aula determinam nveis de rudo inferiores a 35 dB (A), enquanto a ASHA (2005)
preconiza valores de relao sinal/rudo de pelo menos +15 dB nas orelhas das crianas
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para que a aprendizagem possa ser mais eficiente (ASHA, 2005). Em 2011 a OMS,
atravs do Community Noise Guidelines recomendou que o rudo interno de uma sala
de aula no ultrapassasse valores de LAeq35 dB.
Nesta pesquisa foi utilizado o rudo de cafeteria com LAeq76 dB, pois este foi o
valor medido nas salas de aula do 4 ano na escola avaliada.
Foi comprovado que o indivduo pode estar habituado ao rudo, tanto para sons
de fala quanto para outros sons (como ruidos de escritrio- sons de telefone, impressora,
etc) depois de um perodo de 20 minutos de exposio (Banburry, Berry, 1997).
Entretanto, outros pesquisadores ressaltam que na medida em que a exposio crnica
ao rudo tem o efeito de diminuir o nvel de excitao das crianas em resposta a
agentes estressores, esta habituao poderia prejudicar as respostas comportamentais de
enfrentamento e outros processos biolgicos relevantes para os processos de sade e
doena (McEwen, Lasley, 2003). Um padro de habituao ou dessensibilizao ao
rudo e a outros estressores que no sejam rudo pode ser um indicativo de que o
sistema de resposta ao estresse est desregulado (Lepore et al., 2010).
Outra possibilidade pode estar relacionada ao tipo de distrator utilizado. Estudos
demonstraram que a fonte de rudo mais perturbadora a fala. Isso porque o efeito
perturbador de um som determinado pela semelhana fonolgica entre o sinal a ser
ouvido e o rudo perturbador. Pesquisas anteriores verificaram que tarefas
desempenhadas em ambientes ruidosos na presena de rudo de fala sofreram efeitos
negativos, o que no aconteceu quando foi usado o rudo de banda larga (Salame,
Baddeley, 1982; Haapakangas et al, 2008; Szalma, Hancock, 2011). Tambm foi
observado que crianas foram mais hbeis em ignorar o ruido quando este teve
frequencia similar ao estmulo-alvo (Jones, Moore, Amitay, 2015). Sendo assim, pode-
se considerar que sons de fala causam piores efeitos do que outros tipos de rudos e por
isso, o rudo usado neste estudo pode ter sido o fator que no produziu o efeito de
inibio na ateno concentrada que estvamos esperando.
Os efeitos dos sons de fala e outros sons que no sejam de fala pode ser
entendida em termos de um filtro de o sistema detector que seletivamente passa para
memria sons que se assemelham a fala. Foi sugerido um mecanismo em que o grau de
interrupo proporcional similaridade fonolgica entre o material escrito e material
que ouvido. Assim, pode-se entender que apenas a fala, pode mostrar um efeito
irrelevante na fala (Salame, Baddeley 1982).
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Lepore%20SJ%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Jones%20PR%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Moore%20DR%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Amitay%20S%5Bauth%5D
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A capacidade de filtrar distratores est amadurecida de forma semelhante ao
padro adulto por volta dos 9 a 11 anos de idade. Esta mudana se deve por melhorias
na ateno seletiva (Jones, Moore, Amitay, 2015). Eventos auditivos inesperados tem
forte poder de capturar a ateno (Klatte, Bergstrom, Lachmann, 2013). Isto foi
demonstrado em estudo realizado em tarefas de leitura com crianas expostas a ao ruido
de trnsito e de trfego areo. Os achados do estudo mostraram que nveis de rudo
elevados, mas de curta durao (trfego areo) tinham maior poder de perturbar a
concentrao das crianas e de distra-las em tarefas de aprendizagem, do que o rudo
constante (trfego rodovirio) (Clark et al., 2006).
Em termos de acurcia e velocidade em tarefas que avaliam a seletividade e
alternncia, constatou-se aumento significativo no desempenho dos estudantes nas trs
primeiras sries do ensino fundamental e estabilizao dos resultados nos trs ltimos
anos, o que aponta para estabelecimento de plat no desenvolvimento atencional. O
TAC apresentou sensibilidade para a deteco de aspectos neurodesenvolvimentais e
caractersticas socioculturais do funcionamento cognitivo humano. Tais dados so de
grande relevncia e apontam para a necessidade de uma maior compreenso dos efeitos
dessas variveis sobre as habilidades de ateno, uma vez que a ateno sustentada e a
vigilncia, quando alteradas, costumam traduzir-se em dificuldades de concentrao,
ocasionando prejuzos para o desenvolvimento e a aprendizagem (Hazin et al., 2012)
CONCLUSO
Os resultados obtidos em crianas com nove e dez anos de idade no mostraram
efeitos significativos do rudo no Teste de Ateno por Cancelamento. O nmero de
erros e acertos no foi influenciado pela presena de rudo. Os resultados podem ser
justificados pela presena de habituao ao rudo ou o tipo de distrator utilizado ser
pouco eficiente para afetar a ateno.
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