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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Ana Valeria Barbosa da Silva Planejamento e execução de estratégias: um estudo sobre as divergências no processo Mestrado em Administração São Paulo 2016

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

Ana Valeria Barbosa da Silva

Planejamento e execução de estratégias: um estudo sobre as divergências no

processo

Mestrado em Administração

São Paulo 2016

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

Ana Valeria Barbosa da Silva

Planejamento e execução de estratégias: um estudo sobre as divergências no

processo

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Administração, sob a orientação do Professor Dr. Francisco Antonio Serralvo.

São Paulo

2016

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Banca Examinadora:

______________________________________

______________________________________

______________________________________

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A você, Paulo, meu eterno professor, orientador, amigo, companheiro,

cúmplice, crítico e coautor dos meus maiores feitos. Sem você, seu apoio e torcida

incondicionais, este momento não seria possível.

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AGRADECIMENTOS:

À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) pela concessão de

bolsa de estudos na modalidade bolsa-dissídio, sem a qual a realização desta

pesquisa não seria possível.

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AGRADECIMENTOS:

A Deus, primeiramente, por me manter firme em meus propósitos mesmo nos

momentos mais difíceis.

Ao Prof. Dr. Francisco Antonio Serralvo pela orientação, apoio, amizade,

imensa paciência e pelo estímulo.

Ao Prof. Dr. Belmiro do Nascimento João e Prof. Dr. Alexandre Luzzi Las

Casas, pelo apoio, estímulo, pelas aulas brilhantes e preciosas sugestões no exame

de qualificação.

À querida Rita Sorrentino que sempre nos apoiou e orientou acreditando mais

em nós do que nós mesmos, em muitos momentos.

Minha eterna gratidão à Caixa Econômica Federal, especialmente a Luciana

Freitas Eneias Oliveira, Andre Luiz de Azevedo Silva e Claudio Santoro Lanari que,

prontamente, permitiram e apoiaram a realização desta pesquisa.

Aos colegas da PUC pelas dicas valiosas, pela amizade e pelo apoio

incondicional.

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“A estratégia é a arte de utilizar as informações que aparecem nas ações, de integrá-las, [...] e de estar apto para reunir o máximo de certezas para enfrentar a incerteza.”

Edgar Morin (1998, p.149)

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RESUMO

Ana Valeria Barbosa da Silva. PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE ESTRATÉGIAS: UM ESTUDO SOBRE AS DIVERGÊNCIAS NO PROCESSO. Dissertação de Mestrado (Administração). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016, 133 fls..

Abordar o assunto estratégia remete a refletir inicialmente sobre planejar e pode induzir o gestor a se preocupar, quase que exclusivamente, com diagnósticos, análises, identificação de posicionamentos e a busca pela tão almejada vantagem competitiva sustentável. Porém, essa reflexão necessita também que se designe atenção de maneira simultânea à sua execução com todos os seus desdobramentos e obstáculos a serem superados. No presente estudo, o objetivo foi de identificar os obstáculos que levam estratégias com potencial de sucesso a não atingirem os resultados esperados. Para isso, foram identificados assuntos correlatos que merecem atenção para que essa formulação e execução aconteçam de modo eficaz. Aqui, destacam-se temas como complexidade, modos diversos de se pensar estratégia, ferramentas na gestão e papel dos gestores. Inicialmente foi pesquisada a literatura disponível sobre os temas citados que se entende como fundamental ao abordar o assunto estratégia. O assunto execução estratégica ainda não apresenta uma significativa literatura como ocorre com formulação estratégica. Mesmo assim, foi possível reunir pesquisas de autores que já demonstram foco no assunto. Com base na literatura encontrada e nessas pesquisas, foi elaborado um estudo de caso em uma representativa Instituição Financeira Brasileira que utiliza o Balanced Scorecard como ferramenta de apoio à Gestão Estratégica, na qual fora replicada a pesquisa de Hrebiniak (2006 e 2008) que aborda especificamente os obstáculos a serem superados na execução de planos organizacionais. Nesse estudo de caso foram enviados 1020 questionários com um retorno de 380 respondentes. A análise das respostas trouxe, em parte, a confirmação das conclusões de Hrebiniak (2006 e 2008), mas também acrescentou novos pontos de abordagem. O obstáculo referente à dificuldade em superar o desafio da comunicação apresentou grande destaque.

Palavras-Chave: Estratégia. Planejamento. Execução. Vantagem Competitiva. Resultados.

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ABSTRACT

Ana Valeria Barbosa da Silva. PLANNING AND EXECUTION OF STRATEGIES: A STUDY ABOUT THE DIVERGENCES IN THE PROCESS.

Approaching the topic strategy sends us to an initial reflection about planning, and it can induce the manager to worry almost solely about diagnosis, analysis, positioning identification and the so-desired search for sustainable competitive advantage. However, this reflection also requires that some attention be drawn simultaneously to its execution, taking into account all of its unfolding aspects and obstacles to be overcome. In this study, the main goal was to identify the obstacles that take strategies with high potential of success to not reach the desired outcome. For this purpose, correlated topics have been identified and they deserve full attention in order that formulation and execution take place effectively. It is also relevant to highlight complexity, different ways to approach strategy, tools for management and the role of managers. In the beginning, the available literature about the topics mentioned was screened and the findings only reinforce the idea that the topic strategy ought to be focused. Strategy execution is not as representative as strategy formulation. Even so, it was possible to put these studies together, showing clearly that authors focus on them. Based on the available literature and on these studies, a case study was elaborated. The case is one of a blue-chip Brazilian Financial Institution that uses the Balanced Scorecard as a tool to support the Strategic Management, in which a research by Hrebiniak (2006 and 2008) was replicated. In this study, 1020 questionnaires were sent, with a number of 380 respondents. The analysis of the replies has brought not only confirmation of Hrebiniak’s conclusions (2006 and 2008), but it has also added new approaching points. The obstacle concerning the difficulties in overcoming the challenge in communication presented a prominent position too.

Key-words: Strategy. Planning. Execution. Competitive Advantage. Results.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura Básica do Balanced Scorecard .................................................. 35

Figura 2 - Revisão Contínua – Balanced Scorecard ................................................. 56

Figura 3 - Organograma Caixa Econômica Federal .................................................. 94

Figura 4 - Modelo de Mapa Estratégico .................................................................... 95

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Seis Princípios do Posicionamento Estratégico ..................................... 29

Quadro 2 - Pontos de Atenção na Execução Estratégica ........................................ 39

Quadro 3 - Processos-Chave para a Execução Estratégica .................................... 42

Quadro 4 - Elementos da Execução – Comportamentos-Chave do Líder ................ 44

Quadro 5 - Obstáculos para a execução da estratégia ............................................ 46

Quadro 6 - “As dez armadilhas” ............................................................................... 69

Quadro 7 - Comparação – Obstáculos à Execução ............................................... 109

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição de Questionários .................................................................. 86

Tabela 2 - Cálculo da Amostra .................................................................................. 90

Tabela 3 - Resultado Análise KMO e Bartlett’s ......................................................... 98

Tabela 4 - Comunalidades ........................................................................................ 99

Tabela 5 - Eigenvalues – Autovalores ..................................................................... 100

Tabela 6 - Matriz Rotacionada ................................................................................ 102

Tabela 7 - Análise Fatorial e Análise de Confiabilidade .......................................... 104

Tabela 8 - Nomeação dos Fatores .......................................................................... 105

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Questionários finalizados por área .......................................................... 87

Gráfico 2 - Coleta inicial de respostas ....................................................................... 87

Gráfico 3 - Coleta final de respostas ......................................................................... 88

Gráfico 4 - Respondentes e concordância com TCLE .............................................. 88

Gráfico 5 - Diagrama de Declividade ....................................................................... 101

Gráfico 6 - Perfil dos Respondentes – Tempo de Atuação – Caixa ........................ 105

Gráfico 7 - Perfil dos Respondentes – Tempo de Atuação – Gestor Caixa ............. 106

Gráfico 8 - Executar vesus Formular ....................................................................... 107

Gráfico 9 - Obstáculos à Execução ......................................................................... 107

Gráfico 10 - Ranking Obstáculos à Execução ......................................................... 108

Gráfico 11 - Indicativos de que há problemas na execução .................................... 110

Gráfico 12 - Obstáculos à Execução na Caixa ........................................................ 111

Gráfico 13 - Comunicação – O maior obstáculo ...................................................... 112

Gráfico 14 - Comunicação – Soluções .................................................................... 113

Gráfico 15 - Conhecimento BSC e Mapa Estratégico na Caixa .............................. 114

Gráfico 16 - Aplicabilidade do BSC e Mapa Estratégico na Caixa .......................... 114

Gráfico 17 - Participação por Cargos ...................................................................... 115

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BSC = Balanced Scorecard (Indicadores balanceados)

CEO = Chief Executive Officer (Diretor executivo)

FAR = Fundo de Arrendamento Residencial

FCVS = Fundo de Compensação de Variações Salariais

FDS = Fundo de Desenvolvimento Social

FGHAB = Fundo Garantidor de Habitação Popular

FGTS = Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

KMO = Kaiser – Meyer – Olkim (Medida de adequação de amostras)

MSA = Measures of Sampling Adequacy (Medida de Adequação da Amostra)

PDCA = Plan, Do, Check, Act (Planejar, Fazer, Checar e Agir)

PIS = Programa de Integração Social

RBV = Resources Based View of the Firm: Visão Baseada em Recursos (VBR)

SPSS Statistics = Era considerado acrônimo de Statistical Package for the Social

Sciences (Software de análise estatística)

TCLE = Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 17

1.1 Objetivo ............................................................................................ 19

1.2 Justificativa ....................................................................................... 20

1.3 Estrutura da Pesquisa ...................................................................... 22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................. 23

2.1 Estudos sobre o tema estratégia ...................................................... 23

2.1.1 Planejamento – Posicionamento – Vantagem Competitiva .......... 25

2.1.2 Críticas ao modelo porteriano – modelos antagônicos ................. 29

2.1.3 Novos modos de se pensar estrategicamente ............................. 31

2.1.3.1 Oceano Azul .......................................................................... 32

2.1.3.2 Vantagem transiente .............................................................. 33

2.1.3.3 Balanced Scorecard ............................................................... 34

2.2 Estudos sobre execução estratégica ................................................ 36

2.3 Complexidade Organizacional .......................................................... 48

2.4 Pensar estrategicamente – trade offs ............................................... 53

2.5 Revisão estratégica – ferramentas na gestão .................................. 54

2.6 Papel do gestor ................................................................................ 59

2.6.1 Influência do Conselho de Administração .................................... 64

2.7 Problemas estratégicos .................................................................... 66

2.8 Execução.......................................................................................... 76

3 METODOLOGIA ..................................................................................... 82

3.1 Estudo de caso como estratégia de investigação ............................ 82

3.2 Limitações do método ...................................................................... 83

3.3 Protocolo da pesquisa ...................................................................... 83

3.3.1 Visão geral do estudo de caso ..................................................... 84

3.3.2 Perguntas da pesquisa ................................................................. 85

3.3.3 Procedimentos de campo ............................................................. 85

3.3.4 Procedimentos de análise ............................................................ 89

4 ESTUDO DE CASO ................................................................................ 91

4.1 Caixa Econômica Federal ................................................................ 91

4.2 Resultados ....................................................................................... 96

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 117

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REFERÊNCIAS ............................................................................................ 121

APÊNDICE 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(TCLE) .......................................................................................................... 127

APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO ................................................................. 129

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1 INTRODUÇÃO

O contexto do planejamento estratégico das organizações, que está inserido

em um escopo maior da Administração Estratégica, notadamente, as empresariais,

enfrenta dificuldades no que se refere ao momento da sua execução ou

implementação propriamente dita. Tais obstáculos resultam, quase sempre, em

divergências entre ações projetadas no processo de planejamento e o que

efetivamente foi realizado e consequentemente, refletem em divergências entre

resultados projetados e alcançados, tornando-se importante conhecer a origem

dessas divergências.

Vale frisar que neste estudo os termos “implementação”, considerado um

neologismo, e “execução” serão utilizados com igual significado. Tendo em vista que

na literatura ambos são utilizados dessa forma. Bossidy e Charan (2005), Kaplan e

Norton (2006), Bouer (2008), Hrebiniak (2006 e 2008), Neilson, Martin e Powers

(2008), e Esteves (2015), são exemplos de autores que optaram por utilizar em suas

obras o termo “execução”. Por outro aspecto Mintzberg (2004, 2006 e 2010), ao

longo de sua obra, usa com maior ênfase “implementação”, apesar de

eventualmente utilizar o termo “execução”. Exemplos de outros autores que utilizam

esse termo: Devlin (1989), Beer e Eisenstat (2000), Atkinson (2006), Crittenden e

Crittenden (2008), Cocks (2010), Slater, Olson e Hult (2010), Canhada e Rese

(2011), Baptista (2013), entre outros.

Seja a opção por um ou outro termo (execução ou implementação), destaca-

se o fato de que as organizações são orientadas por suas estratégias, o que

significa ter feito escolhas primordialmente racionais, com definições claras de

objetivos, por um projeto ou um plano para atingir esses propósitos, que é diferente

de apenas definir metas de crescimento e/ou financeiras. Tais organizações

esforçam-se para traduzir as orientações estratégicas na prática durante a execução

de seus planejamentos, utilizando diversas ferramentas de comunicação entre o

topo e a base, pois a execução do planejamento estratégico é tão importante quanto

desenvolver uma estratégia de qualidade.

No entanto, verifica-se divergência entre as estratégias formalmente

deliberadas e as executadas efetivamente (MINTZBERG, 2004), sendo uma das

razões fundamentais para essa dissociação a falta de uma coordenação eficaz. Por

esse motivo é exigida a organização de múltiplos atores e suas atividades (HEIDE;

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GRONHAUG; JOHANNESSEN, 2002). A questão é que essa coordenação eficaz

nem sempre ocorre gerando um processo, em sua forma e conteúdo, distanciando-

se daquele planejado, chegando a um resultado final não desejado.

As organizações se defrontam com novas naturezas de competitividade

enfrentando desafios de negócios cruciais como a globalização, a rentabilidade por

meio do crescimento, integração de tecnologia e gestão de capital intelectual. Nesse

contexto as tomadas de decisões estratégicas imprescindem de planejamento,

velocidade, efetividade e inovação.

Para que sobrevivam em ambientes turbulentos e desafiadores precisam

escolher direções estratégicas que sejam convertidas em realização dos objetivos

propostos, já que pensar estrategicamente é diferente de planejar estrategicamente

(MINTZBERG, 2004).

Trata-se aqui do planejamento formal que busca cercar as questões

relevantes na competitividade organizacional como posicionamento estratégico

desejado, análises do ambiente interno e externo, identificação de recursos

existentes e necessários, concorrência, demandas de seus consumidores,

comportamento e interação dos stakeholders 1 , entre outras que se mostrarão

relevantes de acordo com as particularidades de cada empresa.

O presente estudo parte da premissa que a elaboração estratégica nasce de

ações explícitas, proativas e racionais dentro de um processo coordenado e dirigido

para o atingimento dos objetivos organizacionais, conforme Ansoff e McDonnell

(1988), e que as mesmas, a despeito de sua clareza e qualidade estruturais, podem

não trazer os resultados esperados, ou seja, não atingirem, com sucesso, as

expectativas projetadas.

Identificar por que estratégias de qualidade, bem planejadas, nem sempre

alcançam os resultados esperados é uma questão que imprescinde da análise de

diversos aspectos dentro e fora da organização para que se possa identificar como e

por que isso ocorre.

Vale um “parênteses” aqui para esclarecer o que seria uma estratégia de

qualidade, que é aquela que leva em consideração as questões relevantes em sua

formulação e que terão relação direta com as chances de sucesso em sua

execução. Conforme Besanko; Dranove; Shanley; Schaefer (2007, p.31) as

1 Stakeholders = Parte interessada. (Tradução nossa.)

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organizações devem considerar quatro fatores de grande abrangência no processo

de formulação estratégica: 1) “fronteiras da empresa” que é a definição do que será

feito/produzido, em quais negócios a empresa irá se envolver e qual tamanho; 2)

“análise de mercado e concorrência” que trará o esclarecimento sobre o ambiente

em que se está inserido e as relações dos stakeholders; 3) “posicionamento e

dinâmica” que buscam a definição do como competir e qual será a vantagem

competitiva; e por fim, mas não menos importante, a quarta questão relevante versa

sobre a “organização interna” que necessita esclarecer em união às outras três

questões, como será a estrutura necessária para alcance dos objetivos.

Dito de outra forma, encontra-se na afirmação abaixo o que se entende como

estratégias com formulação e execução que apresentam maiores possibilidades de

alcance de resultados positivos:

O pensamento estratégico [...], tenta compreender a natureza das coisas, as raízes das mudanças e dos fenômenos. Ele cria a oportunidade de respostas para circunstâncias atuais e ações [...]. Para ser considerado efetivo, o Pensamento Estratégico deve ser compartilhado [...] vários fatores devem convergir simultaneamente, tais como: aprendizagem, visão sistêmica, sistemas complexos, cultura de inovação, respostas rápidas para o mercado, tomada de decisão estratégica e ênfase nos recursos, processos, competências e conhecimento. (JOÃO, 2001, p.294).

Com base nessas premissas, busca-se a formulação de estratégias de

qualidade, bem-estruturadas com possibilidades de sucesso, pois as estratégias

escolhidas poderão criar e aproveitar melhor as oportunidades, desde que tenha

havido uma compreensão da natureza dos mercados em que competem (BESANKO

et al., 2007).

Desta forma, o que se busca entender com esse trabalho será abordado por

meio da seguinte questão: Quais são os obstáculos para alinhar o que foi planejado

com o que será executado a fim de que os resultados projetados sejam atingidos ou

até superados e a estratégia não seja distorcida durante a execução?

1.1 Objetivo

A presente pesquisa busca abordar pontos de relevância nas organizações

que possam levar a uma divergência entre os seus resultados estratégicos

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esperados e os efetivamente alcançados, causados principalmente pela disparidade

entre o que foi planejado e o que é executado.

Especificamente, esta pesquisa visa atender aos seguintes objetivos:

Analisar no processo de gestão estratégica a possibilidade de relacionar os

fatores que interferem em uma execução efetiva das ações definidas.

Identificar os fatores de interferência no alinhamento estratégico entre

planejado e executado.

Replicar as questões levantadas nas pesquisas de Hrebiniak (2006 e 2008)

para identificar os obstáculos à execução em uma organização brasileira por

meio de um estudo de caso como estratégia de investigação, cujo propósito

será o de diagnosticar os fatores impactantes na execução estratégica.

1.2 Justificativa

O planejamento estratégico como integrante do processo de gestão

estratégica, mesmo que de maneira não estruturada, faz parte das rotinas das

organizações, independente de seus tamanhos e objetivos, com reflexos não

somente em seus próprios resultados, mas também para o ambiente nos quais

estão inseridas. Esse se mostra indispensável ao se buscar mitigar riscos, construir

e sustentar vantagens competitivas realizando as melhores escolhas.

A orientação para a escolha de projetos e investimentos é uma premissa do

planejamento que repercute, inclusive, na economia de um país e se reflete por meio

da geração de empregos, desenvolvimento tecnológico, infraestrutura, atração de

investimentos, entre outros.

Porém, mesmo em organizações com planos estratégicos bem elaborados,

identifica-se uma lacuna ao se estudar a execução desses planos, pois nem tudo

que é planejado e estruturado, chega a ser executado; ou ainda é executado de

maneira diversa às definições iniciais.

Ao estudar as realidades organizacionais é possível identificar relatos de

planejamentos elaborados ao longo de semanas ou meses com a utilização de uma

gama de recursos, ferramentas e informações; chegando a escolhas estratégicas

aparentemente bem estruturadas, mas que não chegaram a sua execução como

deveriam. E, aí, surge-nos a pergunta: O que aconteceu de errado?

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Reportando-nos a Estrin (2008), o qual afirma que admitir fracassos não é um

processo simples, já que é inerente às pessoas não renunciarem às suas ideias,

identifica-se que entre a formulação e a execução estratégica se faz necessária à

tentativa e, mais ainda, a capacidade de identificação e correção de equívocos para

o alcance final dos objetivos.

Mintzberg (2006, p.293) ao discorrer sobre a dicotomia entre formulação e

implementação estratégica afirma:

O problema essencial está em um dos princípios mais importantes da organização máquina, de que a formulação da estratégia deve ser nitidamente separada de implementação estratégica. Uma é considerada no topo da organização, a outra é executada bem mais abaixo. Para que isso funcione são necessárias duas condições: primeiro, que o formulador tenha informações suficientes e, segundo, que o mundo fique parado, ou pelo menos mude de maneiras previsíveis, durante a implementação, de forma que não haja necessidade de reformulação.

A afirmação de Mintzberg (2006), em aderência ao objeto da presente

pesquisa, demonstra que culturas organizacionais que separam formulação e

execução podem enveredar por caminhos incoerentes com o sucesso estratégico

desejado. Fica difícil acreditar em um sucesso empresarial sem uma clareza de

rumo, sem estratégias bem desenhadas e sem uma consequente e alinhada

execução. A habilidade para implementar escolhas estratégicas mostra-se uma

competência gerencial indispensável, porém, há uma percepção ao buscar estudos

sobre o assunto, de que um número significativo de empresas não chegam a termo

com suas execuções estratégicas. As pesquisas de Beer e Eisenstat (2000), Bossidy

e Charan (2005), Hrebiniak (2008), Crittenden e Crittenden (2008) e Cocks (2010);

auxiliam na presente afirmação conforme será detalhado no decorrer do presente

estudo.

Ao realizar o levantamento bibliográfico para a presente pesquisa, é

encontrada uma significativa literatura abordando o “como planejar” e pouco sobre o

“como implementar ou executar” em que Alexander (1985) se refere em sua

pesquisa como “esse outro lado da moeda” que também precisa ser identificado

para o sucesso estratégico.

Outro autor, Bouer (2008, p.86), faz uma declaração que tem relação com o

que é aqui afirmado, quando o autor discorre sobre o tema “disciplina da execução”:

“[...] tema relativamente contemporâneo e sem muitos precedentes históricos [...]”.

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Dentro das pesquisas identificadas sobre o tema, vale ressaltar os estudos

desenvolvidos pela Fundação Dom Cabral (FDC). Segundo Aldemir Drummond,

coordenador da FDC, todas as dificuldades encontradas pelos executivos estão

relacionadas à falta de planejamento da implementação e apoiadas na crença de

que a execução é apenas uma consequência de um plano bem estruturado. Tem-se,

com isso, a percepção de que os profissionais ligados à estratégia são preparados

para planejar e não necessariamente para executar eficazmente.

1.3 Estrutura da Pesquisa

O presente estudo foi dividido em cinco capítulos; no capítulo inicial tem-se a

Introdução ao tema e respectivos Objetivos. Em seguida, no capítulo dois, trazemos

a Fundamentação Teórica, a qual aborda os principais estudos e autores

relacionados ao tema, como vantagem competitiva, críticas a modelos

estabelecidos, novos modelos propostos na literatura, e temas ligados à execução

estratégica como: complexidade, escolhas estratégicas, ferramentas de gestão e o

papel do gestor.

No capítulo três é delimitada a Metodologia, esta utilizada com base em uma

análise qualitativa por meio de um estudo de caso com a aplicação de questionários

e avaliação dos resultados através do uso da análise fatorial exploratória.

A seguir, no capítulo quatro, é identificada a organização Objeto de Estudo,

relacionando suas principais características e apresentando os resultados coletados.

Por fim, no quinto capítulo, são apresentadas as Considerações Finais

extraídas a partir da relação entre os objetivos da pesquisa e os resultados

coletados e analisados.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta seção relaciona estudos e autores que abordaram o tema estratégia com

um enfoque maior nos desdobramentos e resultados estratégicos e não apenas no

como formular a estratégia, permitindo relacionar com o assunto execução

estratégica de modo direto ou indireto. Será possível aqui identificar maneiras de

pensar estratégia, por vezes similares, outras complementares e ainda pensamentos

antagônicos.

Após essa fundamentação, são colocadas as questões que interferem

diretamente na gestão estratégica das organizações e que auxiliam na compreensão

dos desafios da execução estratégica como a complexidade dos ambientes,

escolhas estratégicas (trade offs2), o papel dos gestores, uma abordagem sobre os

problemas estratégicos e, por fim, a execução propriamente dita e seu

acompanhamento.

2.1 Estudos sobre o tema estratégia

A existência e a necessidade da estratégia apresentam-se desde os

primórdios da humanidade, mesmo não recebendo desde o princípio essa

denominação (FREEDMAN, 2013). Com o avanço da evolução humana e a

consequente estruturação das organizações, o que antes apresentava um foco

predominantemente militar, mostrou-se como necessidade para o gerenciamento

dessas organizações. O aumento da complexidade e das exigências organizacionais

trouxe a percepção de que gerenciar era uma nova profissão de importância

crescente e fundamental, sendo reconhecida por meio da criação das escolas de

negócios, sendo a primeira, a Wharton School em 1881. Pode-se destacar também

a fundação, em 1900, da Darthmouth Business School e, em 1908, a criação da

Harvard Business School (FREEDMAN, 2013).

Com a escassez de recursos como consequência da segunda guerra mundial,

surge uma necessidade ainda maior do pensar estratégico (FREEDMAN, 2013). Isso

propiciou pesquisas como as dos professores de Harvard (SMITH; CHRISTENSEN,

2 Trade offs = Escolha dos gestores. (Tradução nossa.)

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1951) que propuseram aos alunos questionar a adequação da estratégia de uma

organização ao seu ambiente competitivo.

Com o surgimento de teóricos sobre o assunto com posicionamentos

convergentes e divergentes sobre o tema, destaca-se que o estudo da

Administração Estratégica teve sua forma definida, mais próxima do que é

conhecida hoje, após a Fundação Ford e a Carnegie Corporation patrocinarem, na

década de 50, a pesquisa no currículo das escolas de negócios (FREEDMAN,

2013). Um resumo dessa pesquisa, chamada de relatório Gordon-Howell,

recomendou que o ensino de negócios tivesse uma natureza mais ampla e incluísse

um curso de capacitação em uma área chamada de política de negócios (GORDON;

HOWELL, 1959).

Mesmo antes da publicação desse relatório e posterior ao mesmo, diversas

maneiras, às vezes antagônicas outras complementares, vêm sendo apresentadas

na busca de se pensar estratégia. Autores como Ansoff (1988), Porter (1996a,

1996b, 2002, 2009), Mintzberg (2004, 2006 e 2010), Steiner (2010), Hamel e

Prahalad (1990 e 1995), Drucker (2014), Whittington (1996 e 2007), Hrebiniak (2006

e 2008) Rumelt (2011), entre tantos outros não menos representativos têm, por meio

de seus estudos, buscado demonstrar o que é efetivo e o que não é em gestão

estratégica.

Desde a fundação da primeira escola de negócios, muito se avançou, porém,

autores como Bossidy e Charan (2005), Kaplan e Norton (2006), Hrebiniak (2006 e

2008), Esteves (2015), Mintzberg (2004, 2006 e 2010), Baptista (2013) identificam

que os estudos sobre estratégia dão mais atenção à formulação das estratégias,

deixando o estudo voltado à execução das mesmas sem a devida a prudência.

Segundo Canhada e Rese (2011) há evidências na literatura internacional

mostrando que a maioria das estratégias sucumbe na sua implementação, a

despeito da qualidade da sua formulação.

Da mesma forma que se destina grande esforço à formulação da estratégia,

deve-se dedicar atenção ao processo e aos obstáculos da sua execução, que

oferece seus próprios desafios, pois tão imprescindível quanto formular estratégias,

é colocá-las em prática para o alcance dos resultados esperados.

Embora em alguns casos o planejamento estratégico possa ser confundido

com a gestão estratégica, eles não correspondem à mesma coisa. Ao estudar as

Escolas do Pensamento Estratégico, identifica-se que a administração estratégica

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surgiu justamente para superar uma das principais fraquezas apresentadas pelo

planejamento estratégico: a dificuldade na implementação das estratégias ou ações

estabelecidas nesse planejamento, além de trazer uma visão sistêmica das

organizações como um todo (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010).

Através de uma visão sistêmica que não se baseia apenas em análises

quantitativas e deterministas, evolui-se do planejamento estratégico limitado para

uma gestão estratégica organizacional onde a formulação estratégica tem uma

abrangência maior (MINTZBERG, 2006). Coloca-se em questão se a prevalência de

modelos que defendem que a estratégia é primeiro formulada e depois

implementada em uma “esteira de produção” (MINTZBERG, 2006, p.17) ainda é

válida ou se na atualidade da gestão estratégica formular e implementar são

processos interligados e inseparáveis.

2.1.1 Planejamento – Posicionamento – Vantagem Competitiva

O ciclo típico do planejamento estratégico que tantas organizações seguem

religiosamente pode, na realidade, travar a agilidade das mesmas para reagir às

mudanças, ameaças e oportunidades. Formular o plano estratégico é um processo

exaustivo que normalmente os gestores não desejam alterar mais após a sua

“finalização”, mesmo que à frente de mudanças ambientais importantes.

Ilustrando o argumento anterior, trazem-se aqui algumas maneiras de se

pensar estratégia defendidas por diferentes autores ao longo do tempo. Essas

“maneiras” de se pensar estratégia, percorrem diversos caminhos. Alguns paralelos

e outros totalmente divergentes.

Abordar o assunto estratégia e não mencionar Igor Ansoff, autor reconhecido,

representante da escola do planejamento (MINTZBERG et al., 2010), torna a

argumentação incompleta. Ansoff (1988) trouxe contribuições para os estudos de

gestão estratégica, com um forte enfoque na formulação do planejamento. Suas

premissas são colocadas em questão na vida prática organizacional atual por toda a

complexidade, velocidade e imprevisibilidade inerentes aos mercados

contemporâneos. Identifica-se, na citação seguinte, a ratificação sobre o enfoque de

Ansoff (1988) na formulação estratégica, sem a mesma preocupação com o

desdobramento na execução.

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Há muito bom senso em todo o texto [...] e a análise do próprio “conceito de estratégia” [...], permanece entre as melhores da literatura de negócio [...]. A questão pendente é se isso já funcionou, se Ansoff resolveu mesmo algum “problema de estratégia, [...]”. Ele contribuiu com um modelo viável de formação de estratégia ou simplesmente [...] com várias ideias interessantes, bastante bom senso e um pouco de vocabulário útil? (MINTZBERG, 2004, p.51)

A crítica feita por Mintzberg (2004), que ao contrário de Ansoff (1988) enxerga

e critica as questões referentes à execução estratégica, demonstra as divergências

entre os dois autores. Em sua obra esse assunto é constantemente abordado e, na

visão do autor, muitos dos problemas de execução estratégica e resultados

insatisfatórios advêm dos problemas em sua formulação (MINTZBERG, 2004).

Discorrendo sobre outro modo de pensar estratégia, abordam-se os

pressupostos defendidos por Porter (1996a, 1996b, 2002, 2009). O autor traz em

duas das suas principais obras Estratégia Competitiva (1996a) e Vantagem

Competitiva (1996b), abordagens muito utilizadas em diversas organizações e no

meio acadêmico. Segundo Binder (2003), as duas obras criaram um paradigma de

análise estratégica com ampla dominância na literatura.

Porter (1996a) enfatiza o olhar para o ambiente externo para monitorar

importantes forças macroambientais e microambientais e transmite a ideia de que a

partir de uma análise cuidadosa e correta, o alcance dos objetivos torna-se bastante

factível, pois restará claro como a organização irá competir, formulando sua

estratégia e definindo seu posicionamento.

Porter (1996a) defende que sempre há uma estratégia, seja ela explícita ou

não. Porém, ainda segundo o autor, quando essa estratégia não parte de um

processo explícito de formulação, estruturado, raramente tem bons resultados. Essa

estruturação passa por analisar o histórico da organização, concorrentes, ameaças,

oportunidades, fatores internos e externos a organização, entre outros. A afirmação

de Porter mostra-se coerente na medida em que se torna difícil implementar algo

que não está explícito. Sob outro aspecto, a visão de Porter (1996a) é criticada, pois

transmite a ideia de que apenas seguindo uma metodologia básica e estruturada,

chega-se a um resultado certo e positivo, o que não é a realidade de inúmeras

organizações.

Por meio da definição da estratégia para superar os desafios do ambiente,

tem-se, assim, a vantagem competitiva, que está na essência da formulação

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estratégica, segundo Porter (1996b), e que seria a chave para o sucesso da

organização, pois é a escolha racional de um conjunto de ações que trariam uma

combinação única de valor e de posicionamento estratégico em relação aos

concorrentes sendo seu diferencial. Essa vantagem competitiva, que se pode

traduzir em criação de valor para o cliente, deve ser sustentável e de difícil

reprodução para que possa ser realmente reconhecida como um desempenho

superior (PORTER, 1996b).

A busca por esse diferencial é complexa e envolve toda a organização que

poderá obter sucesso a partir de ações conscientes na definição de quais caminhos

irá escolher, identificando a relação da organização com o seu meio ambiente,

orientando suas potencialidades para a superação das ameaças e aproveitamento

das oportunidades advindas desse ambiente. Porter (1996b, p.i.) em seu prefácio

caracteriza seu modo de pensar ao afirmar:

O livro reflete minha profunda convicção de que o fracasso das estratégias de muitas empresas deve-se à incapacidade de traduzir uma estratégia competitiva geral em etapas de ação específicas necessárias para se obter vantagem competitiva.

Com essa afirmação Porter (1996b) reforça uma preocupação maior com o

planejamento estruturado, formal, do que com a execução propriamente. Mesmo

assim, o autor deixa claro que para a obtenção de vantagem competitiva são

necessárias ações específicas. O que se aborda aqui é que essas ações precisam

ser executadas com foco e determinação, não sendo mero desdobramento do

planejamento estratégico.

Outro aspecto a destacar é a diferenciação entre eficácia operacional e

estratégia. Na primeira tem-se uma relação direta com a produtividade, com o uso

de ferramentas, melhores práticas e programas que auxiliam na redução de

ineficiências operacionais (PORTER, 2009). Ao abordar o tema estratégia, a

referência é às diretrizes organizacionais de modo abrangente, que incluem a

eficácia operacional, mas não se resumem a esta.

Porter (2009) e Mintzberg (2006) alertam sobre o aspecto de que eficácia

operacional não é estratégia, pois com base apenas na eficácia operacional, poucas

empresas prosperam durante longos períodos, visto que as melhores práticas se

proliferam rapidamente por conta do dinamismo dos mercados e tecnologias atuais

que transformam vantagens competitivas em situações temporárias.

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Porter (2009, p.38) declara: “Tanto a eficácia operacional como a estratégia

são essenciais para o desempenho superior, que, afinal, é o objetivo primordial de

todas as empresas. Mas uma e outra atuam de formas muito diferentes” .

Porter (2009) defende que os gestores têm dificuldade de distinguir eficácia

operacional de estratégia, como se somente pelo fato de utilizarem inúmeras

ferramentas – benchmarking, qualidade total, terceirização, reengenharia, entre

outras que podem trazer ganhos de custo e produtividade, mas não

necessariamente refletem rentabilidade – fosse suficiente para atingir os resultados

desejados. O autor afirma:

[...] aos poucos, de forma quase imperceptível, as ferramentas gerenciais tomaram o lugar da estratégia. À medida que se desdobram para melhorar em todas as frentes, os gestores se distanciam cada vez mais das posições competitivas viáveis. (PORTER, 2009, p.38)

Porter (2009, p.66) ainda traz que deficiências organizacionais, somadas a

uma visão distorcida de competição e um anseio desenfreado por crescimento, são

formas de “solapar” uma estratégia sensata e elenca fatores que nomeia como Seis

Princípios do Posicionamento Estratégico que auxiliariam para evitar as armadilhas

que podem distorcer a visão estratégica e, consequentemente, a sua execução. Tais

fatores estão relacionados no Quadro 1.

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Quadro 1 - Seis Princípios do Posicionamento Estratégico

Princípio Buscar O que evitar

Objetivo Certo Gerar lucratividade sustentável em longo prazo.

Não se deve definir objetivos apenas em volume de vendas ou de liderança na fatia do mercado ou ainda para atender apenas a percepções de investidores.

Proposta de Valor Conjunto de benefícios para os clientes, diferentemente do encontrado na concorrência, oferecendo um valor singular em determinado conjunto ou par determinado grupo de clientes.

Tentativa de encontrar uma maneira absoluta de competir ou de ser tudo para o cliente.

Cadeia de Valor Específica

A vantagem competitiva sustentável vem fazer diferente da concorrência ou por meio de atividades diferentes ou de maneiras diferentes fazendo o elo com a Proposta de Valor. Aqui estão as atividades de logística, recursos humanos, marketing, produção e outras.

Concentrar-se apenas na adoção das melhores práticas que levam apenas a desempenhar as atividades do mesmo modo da concorrência sem vantagem competitiva.

Opções Excludentes

Para ser inigualável deve-se abrir mão de algumas características de seus produtos, serviços e atividades.

A busca de ser tudo para todos os clientes aumenta a probabilidade de apenas se repetir as melhores práticas sem desenvolver qualquer vantagem competitiva.

Estratégia com Escolhas Interdependentes

Reforçar a interdependência das atividades ao longo de toda a cadeia de valor dificultando a imitação da estratégia.

Melhorias isoladas das atividades como fabricação, marketing e outras. Os concorrentes são normalmente capazes de imitar uma atividade isolada ou uma característica específica de produtos e serviços, mas não todo um conjunto de sistemas.

Continuidade de Direção

A proposta de valor deve ser sustentada em longo prazo, mesmo abrindo mão de determinadas oportunidades. Melhoria contínua sim, mas sempre norteada por uma direção estratégica estabelecida.

A descontinuidade de direção e a constante “reinvenção” da empresa, impossibilita desenvolver habilidades, ativos e reputação singulares. Isso indica um forte indício de pensamento estratégico precário.

Fonte: Adaptado de Porter (2009, p.115-116).

Para se abordar os assuntos inerentes à execução do plano estratégico neste

estudo, parte-se da premissa que os princípios elencados por Porter (2009) foram

atendidos e que as escolhas de posicionamento foram assertivas no planejamento e

formulação estratégica.

2.1.2 Críticas ao modelo porteriano – modelos antagônicos

Porter (1996a, 1996b, 2002, 2009) foi e é ao mesmo tempo aplaudido e

criticado. É questionado por outros autores de equitativo reconhecimento

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internacional como Mintzberg et al. (2010), Aktouf ( 2002), entre outros; por embasar

suas teorias em mercados perfeitos onde todos os membros estão atuando de

maneira quase uniforme, inclusive sem abordar as questões posteriores às escolhas

estratégicas e sem identificar as divergências entre formulação e execução

estratégica. Segundo Mintzberg et al. (2010, p.125), “[...] a escola do posicionamento

prestou um desserviço à administração estratégica […] focar a concorrência

restringe a visão e reduz a criatividade estratégica”.

Mintzberg et al. (2010) qualificam a visão de Porter como limitante com um

modelo embasado em previsibilidade e determinismo, com relações claras de causa

e efeito em uma visão reducionista. Acrescenta-se à crítica, o fato de Porter (1996a,

1996b) ter ações separadas do pensamento no qual o foco se baseia apenas nos

itens econômicos e quantificáveis, esquecendo os aspectos não quantificáveis em

um processo não interativo, reduzido a uma fórmula ou metodologia com uma lista

de condições que despreza o aprendizado estratégico e a estratégia emergente.

Visão similar a Mintzberg et al. (2010) é encontrada em Barney (1991) que já

classificava o modelo porteriano como simplificador. Pode-se concluir que a atenção

em demasia à concorrência, que não pode ser negligenciada e que deve receber

atenção na justa medida, na visão de Porter tem uma importância que acaba

sobrepondo outros fatores organizacionais. Sob outro aspecto o próprio Porter

(1996a) faz uma breve observação de que a atenção demasiada ao mercado pode

ser uma distração e que a ênfase está na competição.

Ao analisar o modelo de Porter e as críticas de outros autores, conclui-se que

o mesmo não dá a devida relevância aos aspectos internos da organização, e a

importância primordial fica centrada na estrutura da indústria.

Posteriormente, Porter (2002) demonstra assimilar algumas críticas, mas não

todas, e aponta falhas em outro modelo denominado Resources Based View of the

Firm (RBV) (WERNERFELT,1984), que de modo antagônico ao modelo porteriano,

mas sem o contestar diretamente, tem entre suas premissas a que indústrias são

heterôgeneas e mercados não são estáticos com características não definitivas,

trazendo, também, uma falta de uniformidade estratégica e que os recursos internos

organizacionais apresentam importância fundamental para a base da estratégia

Esse modo diferente de enxergar estratégia e vantagem competitiva tirou do

posicionamento de Porter o domínio dos debates, pois ao invés de iniciar a

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estratégia pelo mercado, propunha começar pelos recursos internos das

organizações com enfoque nas suas competências centrais

Outros autores desenvolveram maneiras diversas de pensar estratégia.

Relacionam-se aqui as teorias sobre coopetição (NALEBUFF; BRANDENBURGER,

1996) e concorrência complementar como formas de alcançar uma vantagem

competitiva (WINCKLER; MOLINARI, 2011). Esse tipo de estratégia agrega ainda

mais complexidade pelo envolvimento de outros atores no processo (stakeholders),

e, por consequência, sua execução tem um aumento de risco de insucesso.

Também vale destacar as contribuições de Hamel e Prahalad (1990 e 1995)

que agregam às discussões sobre estratégia e vantagem competitiva, o termo Core

Competence 3 que enfatiza como meio de se vencer os desafios do ambiente

organizacional, uma compreensão sobre o que a organização “faz de melhor”, o seu

“núcleo”.

2.1.3 Novos modos de se pensar estrategicamente

Estratégia não é um assunto que nasceu com as primeiras escolas de

negócios, sendo possível identificar sua existência desde os primórdios da

civilização. Contudo, no âmbito organizacional esse tema vem evoluindo, saindo de

um mero planejamento financeiro para uma abordagem sistêmica exigida na

atualidade.

Mintzberg et al. (2010) discorrem sobre essa evolução sob o tema “Escolas

do Pensamento Estratégico”, que não será detalhado no presente estudo, mas que

deixa claro o quanto as organizações sob a necessidade de superar desafios cada

vez mais complexos, precisaram e precisam evoluir.

Com base nessa realidade, modelos como o porteriano, entre outros,

receberam críticas e adaptações, possibilitando ainda o desenvolvimento de novos

modelos que se descolam em muito dos estratégicos tradicionais e que serão

abordados a seguir.

3 Core Competence = Competência Central. (Tradução nossa.)

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2.1.3.1 Oceano Azul

Saindo completamente do escopo de se posicionar e vencer a concorrência

em uma competição acirrada em determinado mercado, a estratégia do Oceano

Azul, defendida por Kim e Mauborgne (2005), traz uma proposta voltada para a

inovação, escapa do modelo porteriano a partir do momento que defende um

enfoque diferente na preocupação com a concorrência, colocando-a como algo a ser

superado por um modelo de negócio totalmente inovador aos existentes no mercado

e não apenas por uma vantagem competitiva localizada. Sem se ater aos detalhes

do modelo, vale ressaltar a linha de pensamento defendida pelos autores como a

“insatisfação com os modelos tradicionais de planejamento estratégico” (KIM;

MAUBORGNE, 2005, p.99).

Os autores defendem uma construção estratégica calcada em inovação de

valor, fugindo das bases iniciais orçamentárias que se tornam consequência e não

ponto de partida. Ainda colocam que grandes insucessos estratégicos se dão pela

não percepção das necessidades de mudança seja as demonstradas pelos números

ou pela própria experiência e vivência dos gestores. Trazem também ferramentas

buscando a derrubada de obstáculos advindos das pessoas, da escassez de

recursos e dos modelos mentais com o intuito de se desvincular do que os autores

denominam “sabedoria convencional”.

Kim e Mauborgne (2005) diferentemente da maioria dos autores que foram

destacados no presente estudo, defendem a interligação entre formulação da

estratégia e execução por meio do alinhamento de todos os membros da

organização e desenvolvimento de uma cultura de confiança e comprometimento

para a superação dos obstáculos. Os autores afirmam que três princípios podem

mitigar o insucesso da estratégia: envolvimento, explicação e clareza das

expectativas. Com isso, os membros da organização terão ciência dos porquês das

decisões, os mesmos também se envolverão nas decisões que os afetam e por fim

saberão quais os critérios pelos quais serão medidos e a quem pertence cada

atribuição com as respectivas consequências. Em suma, Kim e Mauborgne (2005)

afirmam que a compreensão clara pelas pessoas do que se espera delas é o que

auxilia na criação de condições para a execução da estratégia.

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O modelo proposto pelo Oceano Azul mostra-se inovador e desafiador a partir

do momento que aborda questões que levam os gestores a se questionarem sobre

como fazer diferente.

2.1.3.2 Vantagem transiente

Dentro dos diversos modos de se pensar estratégia, McGrath e MacMilla

(1995) agregam novas visões sobre o planejamento estratégico com uma proposta

que acrescenta ao termo tão difundido por Porter (1996a, 1996b): vantagem

competitiva, um novo termo para a gestão estratégica, com origem nos fenômenos

elétricos, a vantagem transiente. Isso trouxe para o campo dos estudos em

estratégia uma nova definição dos diferenciais das organizações.

Os autores constroem suas definições sobre o dinamismo do mercado,

desafios globais, consumidores com poder de exigência e sem nenhum

compromisso duradouro com produtos e marcas. Essa “não durabilidade” é

localizada em outra publicação posterior com a afirmação de que é raro para uma

empresa manter uma vantagem verdadeiramente duradoura com os modelos já tão

utilizados (MCGRATH, 2013a).

McGrath (2013a) demonstra ainda que o planejamento estratégico tradicional,

que projeta o futuro a partir do passado, funciona em um mundo estático e

convencional. Porém, o mundo não é assim, ao contrário, a realidade das

organizações é complexa e cheia de incertezas. Segundo a autora, o planejamento

convencional é elaborado com base em hipóteses não testadas e, a partir daí têm

gestores bem-intencionados que elaboraram planejamentos com as melhores

hipóteses disponíveis, mas sem a possibilidade de testá-las e, também, em muitos

casos, sem a possibilidade de realizar as ações corretivas necessárias mesmo

identificando que as projeções não têm coerência com as realizações.

Para McGrath (2013b), com as vantagens competitivas não tendo mais vida

longa, as organizações são obrigadas a ter suas elaborações estratégicas de

maneira muito mais rápida e diversificada em que se faz necessária a elaboração de

novas iniciativas estratégicas para se ter, simultaneamente, diversas vantagens

competitivas transitórias, formando uma carteira, um “gasoduto de vantagens

competitivas”. A autora vai além, afirmando: “A área de estratégia tem de reconhecer

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que um grande número de praticantes já sabem: vantagem competitiva sustentável é

agora a exceção, não a regra. Vantagem transitória é o novo normal” (MCGRATH,

2013b, p.2).

Nesse contexto, conceitos como ciclo de vida do produto, continuam com

grande importância, mas precisam ser tratados também de forma dinâmica. Temas

como inovações e a capacidade de gestão para tomar decisões de maneira ágil e

flexível, sem medo de reavaliar, às vezes de forma radical os modelos de negócios

pré-estabelecidos, ganham ainda mais relevância. Abandonam-se noções

tradicionais de estratégia competitiva e se foge das armadilhas de estabilidade e

superioridade (MCGRATH, 2013a).

Sendo apresentados como algo novo, os modelos descritos por McGrath

(2013a, 2013b), trazem características que acrescem e complementam os estudos

de gestão estratégica, principalmente os conceitos de vantagem competitiva

sustentável, porém, ainda sem abordar os temas de execução e implementação

estratégica.

2.1.3.3 Balanced Scorecard

Como uma ferramenta de alinhamento e controle, o Balanced Scorecard –

BSC (KAPLAN; NORTON, 2006) tem sido amplamente adotado e traz uma

preocupação com a interligação entre o desenvolvimento e formulação das

estratégias e sua efetiva execução com resultados.

Os autores afirmam que as divergências entre o que é planejado e o que é

implementado, são consequência de barreiras existentes nos modelos conhecidos e

tradicionais de planejamento estratégico (KAPLAN; NORTON, 2006). Essas

barreiras estão elencadas no Quadro 2 e versam principalmente sobre a

comunicação organizacional. Kaplan e Norton (2006), identificam como problemas

para o sucesso estratégico a não “tradução” da visão, a desvinculação de estratégia

e indivíduos, o desalinhamento das definições estratégicas e a alocação dos

recursos necessários e a falta de acompanhamento e feedback4 do processo de

execução e resultados.

4 Feedback = Informação que o emissor obtém da reação do receptor à sua mensagem, e que serve

para avaliar os resultados da transmissão. (Tradução nossa.)

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Nesse contexto, com o objetivo de superar as barreiras relacionadas é que o

BSC é construído como um modelo que viabilize e apoie o gerenciamento da

execução da estratégia e não apenas como um sistema de medição e controle. A

proposta dos autores é de que seja atingido o objetivo de integrar o que é planejado

com a execução de modo que as informações sejam de conhecimento de toda a

organização para que as decisões alcancem a eficácia.

O Balanced Scorecard busca a maximização dos resultados baseados em

quatro perspectivas que refletem a visão e estratégia empresariais: financeira,

clientes, processos internos, aprendizado e crescimento, conforme demonstrado na

Figura 1. São definidas e implementadas todas as variáveis identificadas para

controle com base nos objetivos e metas. O diferencial dessa ferramenta é não se

limitar ao enfoque econômico-financeiro, pois agrega indicadores para os ativos

intangíveis como desempenho de mercado junto a clientes, processos internos e

pessoas, inovação e tecnologia. O modelo tem como premissa a ideia de que o

conjunto dessas dimensões constrói o resultado organizacional global.

Figura 1 - Estrutura Básica do Balanced Scorecard

Fonte: Diponível em: http://www.jexperts.com.br/utilizando-o-balanced-scorecard/. Acesso em: 14 jul. 2016.

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Segundo Kaplan e Norton (2006), o Balanced Scorecard reflete o equilíbrio

entre objetivos de curto e longo prazo, entre medidas financeiras e não financeiras,

entre indicadores de tendências e ocorrências e, ainda, entre as perspectivas interna

e externa de desempenho. O conjunto de itens avaliados auxilia no

acompanhamento e medição do desempenho, sendo uma ferramenta que entre

seus objetivos macro, busca superar o desafio da comunicação estratégica eficaz

mostrando entre outros elementos, as relações de causa e efeito.

Ocorre que mesmo no modelo BSC, que demonstra uma preocupação no

processo estratégico em sua totalidade, críticas são apontadas como geradoras de

equívocos: como a falha no estabelecimento da relação causa-efeito estabelecida

por Kaplan e Norton, o pouco tempo que as organizações dedicam às estratégias

por estarem focadas no curto prazo, o desvio de uso da ferramenta pelas mesmas,

deixar de incluir atores significativos do ambiente e que o tratamento dado aos ativos

intangíveis é falho já que não constrói um sistema holístico de gestão do

desempenho (WARUHIU, 2014).

Por outro lado, Hrebiniak (2008, p.102) aponta como positivos o impacto do

uso do BSC sobre a execução da estratégia para “gerenciar a miopia” e integração

dos objetivos. O autor esclarece:

O Balanced Scorecard oferece uma visão clara da integração necessária dos objetivos de curto e longo prazo. [...] a necessidade de definir e transmitir os componentes operacionais da estratégia, caso se queira alcançar uma execução bem-sucedida (HREBINIAK, 2008, p.103).

Em suma, Kaplan e Norton (2006) defendem que o BSC fornece a

identificação necessária às organizações para que estas consigam otimizar os

recursos que são escassos, direcionando-os para os focos críticos da execução

estratégica.

2.2 Estudos sobre execução estratégica

Após essa revisão como pano de fundo, é possível demonstrar que a

diversidade de maneiras de se pensar estratégia reflete a complexidade do assunto

e que dos autores citados localiza-se em Mintzberg, Kaplan e Norton, Kim e

Mauborgne alguma abordagem sobre os desafios da execução estratégica.

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Identifica-se no presente estudo outras obras que efetivamente abordam o

assunto execução e/ou implementação estratégica com maior relevância, como as

obras de Beer e Eisenstat (2000), Bossidy e Charan (2005), Hrebiniak (2008),

Crittenden e Crittenden (2008) e Cocks (2010). Esses autores são destacados no

presente estudo por agregarem às pesquisas sobre execução uma maior ênfase em

diagnosticar os problemas relacionados ao desafio de se executar o que se planeja.

Ao analisar os trabalhos citados, é possível identificar que não é tarefa fácil

realizar pesquisas de campo para identificar na nascente quais são os problemas e

gaps entre a execução e o planejamento estratégico. Hrebiniak (2008), por exemplo,

enviou 1000 questionários com um retorno de 243 respostas que depois teve o

acréscimo de outras 200 respostas. Crittenden e Crittenden (2008) apresentam a

sua pesquisa com base em 124 organizações ao longo de duas décadas e Cocks

(2010) construiu uma base de 1000 executivos seniores pesquisados em 25 anos.

Beer e Eisenstat (2000) nomeiam o que seriam os “assassinos da estratégia

que reforçam as barreiras e bloqueiam a execução estratégica eficaz”. Os autores

reforçam o papel do líder, o que converge para as conclusões das demais

pesquisas, e em suas conclusões eles alertam sobre as dificuldades em superar os

“seis assassinos da estratégia”.

Na pesquisa de Crittenden e Crittenden (2008), os autores denominam a

implementação estratégica como “pedra angular” e destacam a necessidade de

preocupação com a mesma, pois por meio dela se tornaria possível construir um

futuro sustentável. Os autores também enfatizam que sem o alinhamento e devido

compartilhamento de informações com todos que compõem a organização, o

sucesso se torna improvável. Aliás, Mintzberg et al. (2010, p.86 p.119) corroboram

com esse pensamento quando afirmam que: “são as pessoas que fazem as

empresas ter sucesso ou fracassar”, e que “uma estratégia bem-sucedida é aquela

em que as pessoas comprometidas infundem energia: elas a tornam boa ao torná-la

real”.

Crittenden e Crittenden (2008, p.302) ainda afirmam: “[...] é difícil dizer se um

fraco desempenho é devido à boa implementação de uma estratégia ruim, ou o

resultado de má implementação de uma boa estratégia”. Os autores delimitam que

os problemas de execução estratégica giram em torno principalmente de estrutura e

habilidades gerenciais e sugerem a utilização de alavancas como ferramentas de

apoio. Essas alavancas seriam programas de aprendizagem e melhoria contínua,

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sistemas de apoio, monitoramento, alocação de recursos e interação por meio do

papel da liderança.

Em alinhamento às afirmações de Crittenden e Crittenden (2008), tem-se em

Hrebiniak (2008, p.68 p.167) um diagnóstico similar ao afirmar que: “A estrutura

empresarial deve refletir a natureza da estratégia de negócios e ser guiada

principalmente por ela. [...] a estratégia afeta a estrutura [...]”.

Cocks (2010), analisou empresas australianas de alta performance e concluiu

que nessas, a principal característica do sucesso eram a execução e a liderança

eficazes. A conclusão enfatiza a necessidade de equilibrar a formulação da

estratégia com a sua execução e destaca como dimensões críticas a liderança

focada, sistemas de gestão visíveis e uso de ferramentas de gerenciamento de

projetos e técnicas.

O autor aumenta o grupo de pesquisadores que afirmam que a

implementação estratégica recebe menos atenção do que a formulação do

planejamento, e também afirma com base nas pesquisas efetuadas, que planos

estratégicos se tornam “inúteis” se não puderem ser transformados em ação

(COCKS, 2010).

Na pesquisa de Cocks (2010), são nomeadas como causas das “avarias” na

implementação estratégica, os fatores ligados às competências, a processos e

atividades para efetivar a estratégia. “Trazê-la à vida”, nas palavras do autor que

também aborda as competências críticas, enfatizando a importância da atenção ao

detalhe como forma de enfrentar a complexidade, assim como a importância de

“digerir” as atividades, simplificando-as e comunicando-as de modo eficaz.

Na conclusão do seu trabalho, Cocks (2010), enfatiza a necessidade de foco

sem “modismos”, simplicidade e clareza na comunicação da estratégia, além de uma

atitude realista em relação aos objetivos propostos e os recursos disponíveis. O

autor ainda ressalta a importância do papel do líder para disseminar, com a clareza

necessária, a escolha das pessoas certas e para vencer os “bolsões de resistência”.

Por fim, o autor elenca cinco fatores que impactam sobre o sucesso da execução

estratégica e que podem significar a geração de vantagem competitiva que se

relaciona com as demais pesquisas citadas.

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No Quadro 2 tem-se um resumo dos pontos de atenção elencados por Beer e

Eisenstat (2000)5, Kaplan e Norton (2006), Crittenden e Crittenden (2008) e Cocks

(2010). O resumo de pontos focais identificados por Kaplan e Norton (2006) foi

integrado a esse quadro por ser a base da gestão estratégica da empresa, objeto do

estudo de caso.

Quadro 2 - Pontos de Atenção na Execução Estratégica

Fonte: Adaptado de Beer e Eisenstat (2000), Kaplan e Norton (2006), Crittenden e Crittenden (2008) e Cocks (2010).

5 Na coluna da esquerda cujos pontos de atenção são indicados pelos autores supracitados, é citada

a expressão francesa laissez-faire, que significa “deixar-fazer” (tradução nossa).

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A despeito da representatividade das pesquisas de Beer e Eisenstat (2000),

Crittenden e Crittenden (2008) e Cocks (2010), o presente estudo se aprofundará

nos trabalhos desenvolvidos por Larry Bossidy e Ram Charan (2005) e Lawrence

Hrebiniak (2008).

Sem qualquer demérito para as demais pesquisas, a escolha se dá pela

possibilidade de replicar a abordagem de Hrebiniak (2008) na realidade

organizacional de uma corporação representativa brasileira e também, como disse o

próprio Hrebiniak (2008), o trabalho resultante de sua pesquisa complementa a obra

de Bossidy e Charan (2005).

As vivências organizacionais descritas por Bossidy e Charan (2005) traduzem

diversas experiências estratégicas de sucesso e outras não. A obra dos autores traz

um enfoque ao papel do líder como ponto-base essencial na diferença entre se

executar ou não uma estratégia com eficácia.

Os autores defendem a capacidade de executar como vantagem competitiva

e são enfáticos na realidade sobre o mercado que não concede uma segunda

oportunidade para os líderes que não conseguem executar por meio do seu

envolvimento direto e de um conjunto de características e comportamentos.

Também discorrem em seu texto sobre a necessidade de realizar trade-offs e de ser

criado um modelo para mudanças culturais que, por sua vez, propiciarão os

“elementos da execução”.

Nessa mudança cultural insere-se, principalmente, a necessidade de se

compreender que execução estratégica não é uma tarefa secundária, decorrente do

planejamento e relegada ao nível tático, mas sim que ela deve ser uma prática

sistêmica, disciplinada e embutida na estratégia, em seus objetivos e na sua cultura

(BOSSIDY; CHARAN, 2005).

No presente estudo é reproduzido apenas um extrato do que os autores

trazem como quesitos essenciais para vencer os obstáculos para atingir a execução

estratégica eficaz. Vale frisar que o enfoque dado por Bossidy e Charan (2005) para

a importância do líder, apresenta-se parcialmente também nos trabalhos de Cocks

(2010), que enfatiza o papel do líder para buscar uma unificação de propósitos e

mitigar as lacunas de percepção que podem levar à execução ineficaz; assim como

também é possível localizar pontos de convergência nas pesquisas de Beer e

Eisenstat (2000) e Crittenden e Crittenden (2008) que atribuem entre as bases para

um sucesso estratégico, o papel da liderança.

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Bossidy e Charan (2005) estabelecem três pilares para a execução: pessoas,

estratégias e operações. Esses três pilares interligam-se e giram sempre em torno

da atuação do gestor gerando o que denominam “elementos da execução”, os quais,

segundo os autores, auxiliam na construção da disciplina para executar. Os três

pilares e seus componentes estão demonstrados, a seguir, no Quadro 3.

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Quadro 3 – Processos-Chave para a Execução Estratégica

PESSOAS Líder com "precisão mental", coragem e persistência (sem teimosia)

Líder sensível às pessoas e flexível ao momento de fazer mudanças

Pessoas certas nos lugares certos

Quebrar as resistências

Líder com capacidade para energizar as pessoas

Ligar as pessoas à estratégia e às operações

Desenvolver um pool6 de liderança

Lidar com os que têm mau desempenho/ coragem para tirar pessoas

Ligar recursos humanos aos resultados

Seleção tem que ser feita pelo líder

Conhecer as habilidades específicas necessárias para os cargos

Encontrar pessoas motivadas

ESTRATÉGIAS Definir quem vai fazer o negócio chegar aos objetivos

Atentar às questões cotidianas – fornecedores, por exemplo

Atentar aos cenários

Ter consistência e realismo nas premissas

Ter planos alternativos

Revisão e aperfeiçoamento sempre que as condições mudarem

Simplificar a estratégia

Considerar a evolução do ambiente

Adotar as medidas corretivas

Estratégia consistente sem fórmulas rígidas

Fazer as perguntas certas

Cumprir os marcos

Testar o plano regularmente

Implementar mudanças

Ser realista - Sair do campo de esperanças e sonhos

Visão abrangente com capacidade para prever obstáculos

Definir aonde o negócio quer chegar

OPERAÇÕES Planos operacionais flexíveis

Estratégia em constante análise e revisão

Identificar o nível de habilidade organizacional para executar

Saber das capacidades internas

Investigação persistente e criativa

Considerar a realidade operacional

Velocidade para alocar e realocar recursos

Prestar atenção aos detalhes

Traduzir o plano estratégico para o plano operacional

Lidar com o inesperado

Integrar decisões

Definir os "COMOS"

Fonte: Adaptado de Bossidy e Charan (2005).

6 Pool = Associação. (Tradução nossa.)

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Reproduzindo um importante destaque dado pelos autores:

O processo de pessoal é mais importante do que os processos de estratégia e operações. Afinal, são as pessoas de uma organização que fazem os julgamentos sobre como o mercado está mudando, criam estratégias com base nesses julgamentos e as traduzem em realidade operacional. Colocando de maneira simples e completa: se o processo de pessoal não funcionar perfeitamente, você nunca realizará o potencial de seu negócio (BOSSIDY; CHARAN, 2005, p.129).

A afirmação enfática dos autores apresenta alguma convergência com outras

pesquisas como relacionado anteriormente. A questão que se apresenta é: Se

tivermos uma liderança extremamente capacitada e com um enfoque voltado para a

Gestão de Pessoas, todos os problemas organizacionais estarão resolvidos? Essa

não é a pergunta do presente estudo, mas nos leva a refletir sobre a sua

importância.

Bossidy e Charan (2005) após a definição dos três pilares para a construção

da execução eficaz, demonstrados no Quadro 3 e seus componentes, vai além,

desdobrando os elementos de execução até chegar aos comportamentos essenciais

do líder para se conseguir a mudança cultural organizacional necessária para se

obter a disciplina da execução. Os Comportamentos-Chave do Líder conforme

Bossidy e Charan (2005), estão elencados de forma resumida no Quadro 4.

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Quadro 4 - Elementos da Execução – Comportamentos-Chave do Líder

Entender a empresa e as pessoas

Ser acessível/confiável/consistente e adaptativo.

Viver a empresa. Estar onde a ação acontece.

Envolvido diretamente com a execução. Sua principal tarefa.

Agir com decisão.

Trabalhar como equipe, compartilhando informações.

Promover o alinhamento, comprometimento e o senso comum.

Converter em ações específicas, a partir da visão estratégica.

Ter senso de urgência.

Ligar os três processos.

Insistir no realismo Ter pensamento crítico.

Estabelecer metas realistas.

Observar o ambiente sem se limitar a relatórios.

Detectar novas realidades.

Fazer perguntas incômodas e difíceis. As perguntas "certas".

Não atribuir os problemas a "outros" (mercado/cliente/pares/equipes).

Ser desapegado de velhas crenças.

Clareza para metas e prioridades

Saber estabelecer prioridades.

Simplificar ações e pensamentos.

Traduzir a estratégia.

Concluir o que foi planejado Executar e acompanhar. Ter marcos específicos para mensuração.

Definir responsabilidade na equipe com clareza de papeis.

Informar à equipe a evolução das estratégias e resultados.

Ter coragem para lidar com questões críticas.

Delegar atividades com acompanhamento.

Recompensar quem faz Buscar e identificar o comprometimento das pessoas.

Acompanhar os marcos críticos para o atingimento de metas.

Recompensar com base em métricas. Atrelar incentivos a resultados.

Cultura da execução voltada para resultados.

Praticar a responsabilização com acompanhamento e incentivos.

Ampliar as habilidades das pessoas

Conduzir o diálogo consistente, franco e aberto. Críticas construtivas.

Orientar e treinar.

Avaliar as pessoas de modo exato e transparente. Feedbacks.

Estimular nas pessoas a capacidade de adaptação.

Utilizar ferramentas para avaliação.

Conhecer a si próprio (líder) Refrear o ego. Ter consciência que não sabe tudo.

Ser capaz de ouvir encorajando o debate.

Perceber seus "pontos-cegos", suas fraquezas e limitações.

Ter firmeza emocional.

Ter disciplina, confiança, velocidade, flexibilidade e determinação.

Ter coragem para enfrentar situações difíceis.

Fonte: Adaptado de Execução - Bossidy e Charan (2005)

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Concluindo o que foi destacado da obra de Bossidy e Charan (2005), os

pilares da execução são sustentados pelo comportamento do líder que também deve

atentar para: evitar termos “vagos”, não se ater apenas a uma análise competitiva do

setor, agir considerando os interesses da organização em sua totalidade, conhecer

em profundidade os riscos do negócio, manter-se em constante aprendizado, fugir

da burocracia, buscar a eficácia em si e na equipe em sua totalidade, desviar-se dos

processos de planejamento como “rituais vazios” e principalmente superar a inércia

organizacional.

Em suma, conforme Bossidy e Charan (2005), execução não é somente tática

e se mostra uma atividade complexa repleta de fatores a observar; apresentando-se

como a principal tarefa do líder dentro de uma organização de modo indelegável.

Hrebiniak (2008) afirma que sua pesquisa complementa o trabalho de Bossidy

e Charan (2005) e afirma que a questão da implementação do plano ainda se mostra

confusa para muitos gerentes, que parecem focar apenas na formulação da

estratégia e se esquecem da implementação, o que acaba afetando diretamente o

bom desempenho das organizações (HREBINIAK, 2006).

O autor discorre em sua pesquisa que é preciso compreender que a

elaboração e a implementação da estratégia são interdependentes e que a

execução é essencial para o sucesso do plano estratégico, pois sem ela de nada

valerá todo o esforço da elaboração. Segundo Hrebiniak (2006), entender como a

criação da estratégia afeta sua execução é um dos principais obstáculos da

implementação do plano, porquanto ao passo que a estratégia define a “arena” na

qual o jogo da execução será realizado (HREBINIAK, 2006, p.6), uma estratégia

fraca resultará em uma execução fraca. O autor afirma: “Os planos ainda fracassam

ou se degeneram em seu início por causa de uma execução deficiente”

(HREBINIAK, 2008, p.24).

Para se aprofundar no tema em questão, (HREBINIAK, 2006 e 2008), realizou

uma pesquisa abordando doze itens específicos sobre os obstáculos à execução.

Esses itens são o resultado de pesquisas anteriores realizadas pelo autor ao longo

de vários anos junto a gerentes responsáveis por estratégia em suas respectivas

organizações e foram eleitos como os mais representativos.

Como dito, foram enviados 1000 questionários que resultaram em 443

respostas sobre essas doze questões indicadas como obstáculos à estratégia.

Importante esclarecer que essas respostas foram construídas com base em duas

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pesquisas, sendo, na primeira, obtidas 200 respostas e as demais, 243, na segunda

pesquisa. No Quadro 5 é apresentado um resumo das pesquisas de Hrebiniak

(2006).

Quadro 5 - Obstáculos para a execução da estratégia

12 Obstáculos Selecionados Os 8 Principais Obstáculos Indicados

Os 5 Principais Obstáculos

Pesquisa 1 Pesquisa 2

Incapacidade de gerenciar a mudança efetivamente ou superar a resistência interna à mudança

✔ 1 1

Tentar executar uma estratégia que entre em conflito com a estrutura existente de poder

✔ 5 2

Compartilhamento deficiente ou inadequado de informações entre as pessoas ou unidades de negócios responsáveis pela execução da estratégia

✔ 4 2

Comunicação confusa de responsabilidade e/ou obrigação para decisões ou ações de execução

✔ 5 4

Estratégia vaga ou deficiente ✔ 2 5

Falta de sentimentos de “pertença” de uma estratégia ou de planos de execução entre os principais funcionários

Não ter orientações ou um modelo para orientar os esforços de execução da estratégia

✔ 2

Falta de entendimento da função da estrutura e do projeto organizacional no processo de execução

Incapacidade de gerar “convicção” ou acordos sobre as etapas ou ações de execução

Falta de incentivos ou incentivos inadequados para dar suporte aos objetivos de execução

Recursos financeiros insuficientes para executar a estratégia

Falta de suporte para a execução da estratégia por parte da alta administração

Fontes: Adaptado de Hrebiniak, (2006) e (2008, p.36).

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As conclusões de Hrebiniak (2006 e 2008) indicam pontos de grande atenção

no objetivo de que sejam alcançados os propósitos estratégicos. O autor afirma:

Sem uma abordagem cuidadosa e planejada para a execução, as metas estratégicas não podem ser obtidas [...] [a meta] representa um desafio formidável para a gerência. [...] “Mesmo com o desenvolvimento mais cuidadoso de um plano de execução no nível corporativo, não e possível garantir o sucesso da execução (HREBINIAK , 2008 p.23).

Esses desafios apontados por Hrebiniak, (2006 e 2008), elencados no

Quadro 5, permeiam vários aspectos da gestão. São apontados problemas nas

questões estruturais, culturais, de comunicação, comportamentos, de modelos e

diretrizes. Alguns desses fatores indicados por Hrebiniak, (2006 e 2008) como

obstáculos à execução estratégica, convergem com os pontos de atenção

destacados nas demais pesquisas que foram relacionados no Quadro 2 e também

com alguns apontamentos de Bossidy e Charan (2005).

Destaca-se nas conclusões de Hrebiniak, (2008) que o sucesso da execução

aumenta as possibilidades de ocorrência em uma relação direta com a capacidade

gerencial de lidar ao longo de todo o processo de execução com as mudanças a ele

relacionadas, identificando as complexidades inerentes às organizações sem

dispensar o necessário compartilhamento de informações. O autor também sublinha

a capacidade gerencial em encontrar o caminho no “[...] labirinto dos obstáculos e

questões problemáticas identificadas” (HREBINIAK, 2008, p.44).

O autor classifica como “atordoante” (HREBINIAK, 2008, p.45), a quantidade

e a complexidade dos problemas estratégicos e operacionais que devem ser

tratados, a todo o momento, e que leva a uma necessidade imperativa de saber o

que priorizar. Não se mostra viável agir em todas as frentes ao mesmo tempo.

Inserida também na capacidade gerencial está a necessidade de saber

comunicar. As responsabilidades precisam ser claras, sob o risco da execução do

planejamento estratégico não ir a lugar algum. As atividades de execução

dificilmente serão bem-sucedidas se as responsabilidades de cada um estiverem

confusas. “A execução exige uma cultura de realização, disciplina e pertença”

(HREBINIAK, 2008, p.43). Pode-se destacar também a necessidade de um

sentimento de urgência.

Hrebiniak (2008) conclui que não há possibilidade de sucesso estratégico

sem a perspectiva na execução, mas que um dos grandes problemas é que os

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gestores sabem mais sobre como formular, deixando a execução em segundo plano.

Acrescenta ainda que executar a estratégia é difícil, mas exige atenção dos gestores

em todos os níveis organizacionais.

A literatura e os estudos aqui apresentados sobre as realidades

organizacionais apontam para a complexidade do processo de execução

estratégica, a dificuldade das escolhas – os trade-offs – e os pontos cegos

existentes e que ainda precisam ser preenchidos por novas pesquisas. Neste

sentido, abordam-se, a seguir, tópicos que podem auxiliar na construção de

hipóteses a serem verificadas sobre o tema.

2.3 Complexidade Organizacional

O que é complexidade? Segundo Morin (2007, p.5) “é complexo o que não

pode se resumir numa palavra-chave, o que não pode ser reduzido a uma lei nem a

uma ideia simples”. Essa definição traduz de modo direto a dificuldade do

pensamento humano que naturalmente busca a simplificação. A questão é que nem

tudo pode ser simplificado, sob pena de “mutilar” ou produzir uma cegueira ainda

maior na busca do esclarecimento (MORIN, 2007). O autor destaca: “[...] a

complexidade se apresenta com os traços inquietantes do emaranhado, do

inextricável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza [...]” (MORIN, 2007, p.13).

Ainda segundo o autor, nem sob uma hipótese teórica podemos nos achar

capazes de uma “onisciência”. Morin (2007) coloca essa afirmação como “axioma”

da complexidade, no qual há um reconhecimento da “incompletude”, da incerteza.

As afirmações de Edgar Morin relacionam-se, em grande extensão, com os

estudos de Ilya Prigogine sobre estruturas dissipativas, sistemas auto-organizadores

e as suas respectivas capacidades de manterem seus processos de vida em

condições de não equilíbrio. As estruturas dissipativas abordadas por Prigogine

quebram o paradigma da visão clássica da ciência que defendia que a dissipação de

energia era desperdício. Prigogine traz uma nova regra mostrando que essa mesma

dissipação de energia na realidade é uma “desordem” que se torna fonte de uma

nova ordem (BAUER, 1999).

Os conceitos abordados por Edgar Morin e Ilya Prigogine mostram aderência

aos desafios organizacionais, entre eles, a complexidade. Na realidade

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organizacional, pensar e repensar as maneiras tradicionais de elaborar estratégias

competitivas, torna-se uma condição básica. As questões culturais e do

comportamento humano devem ser consideradas como fatores preponderantes no

impacto das decisões e resultados, pois ao aplicar estratégias que tiveram sucesso

anteriormente em situações diferentes e sem se dar conta que o mercado que

operam hoje requer estratégias diversas, pode levar a resultados indesejados.

Visão sistêmica, globalização, multiplicidade de variáveis e critérios, falta de

informações, diversificação de objetivos, entre outros termos, levam os gestores de

maneira obrigatória a rever práticas gerenciais não sendo possível elaborar planos

baseados em um único ponto. Mesmo com a realização de escolhas com base em

cenários amplos e complexos que buscam diminuir a vulnerabilidade, a incerteza é

fato.

Tem-se em Mintzberg (2006) afirmações que auxiliam na compreensão dessa

realidade: “[...] não se pode decidir com certeza o que deve ser feito em um sistema

tão complicado como o de uma organização contemporânea [...]” (MINTZBERG,

2006, p.14) e também:

[...] as diferenças entre empresas são tão numerosas quanto as diferenças entre as pessoas. As combinações de oportunidades para as quais podemos aplicar competências diferenciadas, recursos e valores são igualmente numerosos (MINTZBERG, 2006, p.84).

Soma-se a essa complexidade ratificada por Mintzberg (2006), outro ponto

que é a necessidade de continuidade organizacional que impossibilita qualquer

suspensão de ações por mais que isso possa ser a vontade dos gestores em

determinadas situações. Mintzberg (2004, p.157) nos coloca que as organizações

precisam “funcionar” durante os períodos de elaboração da estratégia, enquanto o

“mundo está mudando de maneiras que ainda não foram entendidas.” Outra

perspectiva levantada pelo autor ao criticar a constante justificativa de que o tempo

que vivemos é turbulento (MINTZBERG, 2004, p.173) é a seguinte: “[...] os

ambientes estão sempre mudando em algumas dimensões e sempre permanecem

estáveis em outras: raramente eles mudam de uma vez, muito menos de forma

contínua [...]”.

Esse conceito guarda relação com a realidade das empresas que

constantemente desorganizam-se e se reorganizam em um processo entrópico

podendo trazer evolução e aprendizado (BAUER, 1999).

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Segundo Dutra e Erdmann (2007), as organizações e seus sistemas são

“sistemas complexos adaptativos” onde é inerente a capacidade de adaptação

reagindo às “alterações ambientais.” A linearidade estável, a total ordem sem

qualquer desordem, é uma utopia. Por outro lado, ser gestor somente na “ordem”,

limita a ação e a criatividade. E onde somente há desordem tem-se o caos

(BAUER,1999).

A questão a ser analisada é até que ponto o que as organizações

diagnosticam como complexidade e turbulência, realmente o são. Ou se trata de

mudanças naturais, até certo ponto previsíveis que apenas não foram possíveis de

manobrar por estarem além do escopo tradicional?

Tem-se na literatura atual algumas relações entre a complexidade

organizacional e a teoria do caos. Reportando aos estudos de Ilya Prigogine sobre

estruturas dissipativas, sistemas auto-organizadores e as suas respectivas

capacidades de manterem seus processos de vida em condições de não equilíbrio,

insere-se esse “caos” para os estudos organizacionais.

Pode-se relacionar o funcionamento dessas estruturas dissipativas nas quais

flutuações tornam o sistema instável chegando a um ponto crítico, quando há uma

ruptura nos sistemas, que depois se reorganizam e estabilizam; com o

comportamento das organizações frente às pressões do ambiente e das pessoas

(BAUER,1999). Vale destacar ainda a observação trazida por Bauer (1999), com

base nos estudos de Prigogine, de que essa nova reorganização mostra-se ainda

mais complexa do que a anterior.

Mintzberg et al. (2010, p.215) definem uma visão que vale destacar:

[...] desordem e caos são propriedades intrínsecas, e não estranhas, às organizações. As constantes perturbações que os gerentes combatem contam importantes oportunidades criativas... que transcende as maneiras estabelecidas de pensamento estratégico [...] as organizações devem ser vistas como sistemas dinâmicos em estado permanente de desequilíbrio.

Bauer (1999) e Mintzberg et al. (2010) trazem as relações para os estudos

organizacionais que vieram por meio dos estudos da física, mais especificamente da

Teoria do Caos. Esses estudos trouxeram-nos a analogia de que a noção de

estratégia (tida antes como ações pré-determinadas que têm sucesso em ambientes

ordenados) altera-se para a criação de ações onde há ordem, desordem e uma nova

organização. Ainda segundo Bauer (1999), se houver apenas ordem restringem-se

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as possibilidades de ação e se o que tivermos for apenas desordem, a ação não

passará de “acaso”.

Essa analogia vai além quando o autor afirma que a organização necessita de

“alguma desordem” para poder evoluir, aprender e, com isso, rumar para soluções

inovadoras em uma nova ordem.

Inclui-se nos grandes desafios para um gestor não somente a incerteza, a

imprevisibilidade, mas também o não domínio da “ferramenta” chamada tempo. Por

mais que alguns gestores executem suas atividades dentro de um “caos calculado”,

segundo Mintzberg (2004, p.200) o tempo para um planejamento reflexivo torna-se

exíguo. O tempo dos planejadores é limitado, como o é para qualquer um, assim

como a capacidade cognitiva para avaliar todas as possibilidades dentro do

dinamismo de múltiplos cenários possíveis.

Outro ponto a considerar é a capacidade dos gestores de se manterem

abertos às mudanças quando assim o é exigido pelo ambiente. Essa exigência se

torna cada vez mais inevitável com a evolução dos tempos, em que a velocidade de

mudança é cada vez maior. Conforme Mintzberg (2004), a resistência pode advir de

uma incompreensão das ocorrências ao seu redor ou até mesmo pelo apego às

suas estratégias, tornando-se um desafio romper barreiras e modos tradicionais que

já trouxeram bons resultados. Mintzberg (2004, p.233) afirma:

[...] a gerência precisa saber quando resistir a mudanças em nome da eficiência interna e quando promovê-las em nome da adaptação externa [...] precisa sentir quando explorar uma safra estabelecida de estratégias e quando encorajar novas variedades para deslocá-las. Os excessos de ambos – falhar em focalizar (correr às cegas) ou falhar em mudar (força burocrática) – são o que mais prejudica as organizações.

O diagnóstico trazido por Mintzberg (2004) é corroborado por Bernardi (2008)

ao enfatizar que não é mais possível ser gestor em uma linearidade, com uma

racionalidade determinista em que se busca segurança e previsibilidade, já que as

pressões virão de diversas fontes, inclusive de lugares não previstos. Dutra e

Erdmann (2007), já apresentavam essa linha de pensamento ao afirmar que

organizações “mecanicistas” presas a velhos paradigmas, não são capazes de

acompanhar as mudanças no ambiente.

Outros autores Wittmann, Lübeck, e De Mesquita Nelsis, (2013) acrescem

essas afirmações quando apontam como é conflitante a tradição de estratégias

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baseadas em dinâmicas passadas e a imprevisibilidade do ambiente organizacional.

Essa imprevisibilidade, ainda segundo os mesmos autores, impõe a necessidade de

adaptação aos novos paradigmas para se repensar estratégias e alcance de

objetivos de competitividade. Não se é mais possível basear-se em pressupostos

lineares do passado.

É indispensável fugir de qualquer paralisia nos processos decisórios por conta

da imprevisibilidade e complexidade do mercado. Nesse cenário, a atenção ao

ambiente ganha mais reforço, pois os gestores precisam levantar questionamentos

para perceber sinais internos e externos para identificar se as suas vantagens

competitivas ainda existem ou se estão definhando e ainda, dentro de toda a

complexidade se faz necessária a orientação estratégica para a superação de

variáveis e imprevistos evitando um esgotamento dos modelos organizacionais.

Alinhada com este pensamento, encontra-se em Ritson, Johansen e Osborne

(2012) a constatação de que esse ambiente confuso, complexo e multifacetado

produz uma necessidade de rearranjar continuamente. Dutra e Erdmann (2007)

demonstram a interligação dos problemas, afirmando que não há mais possibilidade

de soluções isoladas. A eficácia vem de “soluções sistêmicas” segundo os autores.

Conforme Bauer (1999), a complexidade se traduz como a impossibilidade de

se chegar a qualquer conhecimento completo, no qual não há certezas, mas apenas

o reconhecimento da incerteza. Exemplo disso é o desafio em como lidar com

stakeholders de maneira satisfatória e simultânea. Governos, concorrentes,

empregados, sindicatos, comunidade, clientes, mercado financeiro, todos trazem

contribuições para a complexidade organizacional. Carrega cada um seus interesses

e também as suas próprias complexidades e imprevisibilidades.

É um comportamento esperado que as empresas busquem se manter

estáveis mitigando as instabilidades provocadas por esses stakeholders. Ocorre que

quanto mais determinista e mecanicista uma organização for, maiores serão suas

dificuldades para se adaptar às mudanças (BAUER, 1999).

Guarda-se aqui a relação inclusive com as divergências entre o deliberado no

planejamento estratégico, e o que de fato é implementado e colhido como resultado.

Em situações nas quais esse cenário se identifica, pode-se encontrar como

justificativas o “caos” e a complexidade ambiental.

Segundo Bauer (1999), as empresas planejam e fazem escolhas, mas, assim

como no caos, não têm como controlar todos os desdobramentos decorrentes ao

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longo do tempo, já que as relações internas e externas às empresas podem produzir

uma infinita gama de variáveis não previstas. O autor enfatiza que o comportamento

organizacional não guarda uma relação direta entre estímulos e reação enquanto

intensidade, e que a previsibilidade se limita ao curto prazo.

Estabilidade e instabilidade fazem-se necessárias em uma convivência. A

primeira para que se tenha um ambiente que permita alguma ordem e base

confiável. A segunda para que permita desafios, criatividade, inovação e novas

soluções. A instabilidade pode trazer além do aprendizado, risco e oportunidade

(BAUER, 1999).

Aproveitar essas oportunidades e vivenciar o risco no equilíbrio tênue entre

aprender, mas não sucumbir; mostra-se como o desafio organizacional que

contradiz qualquer causalidade linear e que possa ser encontrada em planejamentos

estratégicos. A complexidade é fato, mas para mitigar a distância entre o que se

planeja e o que se executa, ela pode mudar de obstáculo para ferramenta.

Conforme Wittmann et al. (2013, p.9): “A estratégia, portanto, carrega consigo

a consciência da incerteza que irá enfrentar, ensejando uma aposta que requer

consciência plena da sua vulnerabilidade para que planos de ações não se

assentem em falsas certezas”.

Morin (2007, p.13) faz uma analogia: “[...] a complexidade é um tecido

(complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente

associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo”. Assim, o conhecimento

que o tecelão (o gestor) tem sobre cada fio (stakeholders) é insuficiente para se

conhecer a nova realidade que se busca: o tecido.

2.4 Pensar estrategicamente – trade offs

Não são as ferramentas e modelos estratégicos utilizados na formulação e

execução que irão construir “A Estratégia” da organização, pois estratégia

organizacional ou ainda, gestão estratégica, mostra-se como algo que vai além, que

precisa existir para escolher e conduzir pelos caminhos para se chegar ao destino

desejado. Segundo Bossidy e Charan (25), o sucesso dessas escolhas não vai

existir se não houver uma internalização na organização e, mais ainda, nas pessoas

que a compõem.

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Ao realizar o planejamento estratégico, escolhas são realizadas (trade-offs) e

são elas que vão determinar o curso da organização. A despeito de ser o tema

central dos dirigentes das organizações, pensar ou refletir estrategicamente mostra-

se uma tarefa que exige competências, às vezes, de difícil execução.

Estratégias deliberadas ou emergentes? Ou ambas? Genéricas, de custo ou

nicho? Ambiente externo ou interno? São inúmeras escolhas simultâneas,

complexas e normalmente urgentes. Porter (1996a) já apontava a dificuldade em

determinadas decisões sob o risco de não obter sucesso em alcançar ou sustentar a

estratégia.

Porter (1996 a) também realça o risco dessas escolhas realizadas com base

no pensamento do gestor, principalmente quando realizadas sobre impressões ou

conjecturas sem uma análise detalhada do ambiente que se torna uma premissa

para a definição das escolhas estratégicas.

A atenção aos “pontos cegos” abordados por Porter (1996a), liga-se ao que

mais adiante foi abordado como um novo modelo de pensamento estratégico em “ A

Estratégia do Oceano Azul”, quando, por meio de uma percepção mais aguçada e

aberta da concorrência, dá-se maior atenção a tais pontos e são realizadas escolhas

inovadoras que podem superar a concorrência.

Ao realizar esses trade-offs, o gestor busca se antecipar para mitigar

incertezas, que pela ausência de um quadro completo de informações, pode levar a

escolhas por tentativa e erro ou ainda por escolhas diversas e antagônicas. O

resultado pode ser positivo pela diversificação ou desastroso pelos múltiplos focos

(PORTER, 1996b).

2.5 Revisão estratégica – ferramentas na gestão

Desde que foram iniciados os estudos e aplicações envolvendo gestão

estratégica e seus desdobramentos, uma variedade de ferramentas foram

desenvolvidas com o objetivo de subsidiar e até mesmo tentar solucionar as

questões estratégias. Algumas são longevas, com décadas de existência, e ainda

muita aplicabilidade como a Matriz SWOT, de Ansoff, Matriz BCG, e outras mais

recentes que trazem novos enfoques como o BSC (Balanced Scorecard), Canvas,

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Six Sigma7 entre outras. Sejam mais simples ou complexas, recentes ou não esses

instrumentos convergem em seus princípios básicos de auxiliar na identificação e

desenvolvimento dos caminhos estratégicos. Importante frisar que essas

ferramentas apenas auxiliam, mas não será somente com a utilização dessas, que

os desafios estratégicos e organizacionais serão resolvidos.

O Boston Consulting Group Institute publicou uma pesquisa caracterizando 81

(oitenta e uma) ferramentas ligadas à gestão estratégica de 1958 a 2013 com as

mais diversas aplicabilidades. Essa publicação reforça a importância dessas

ferramentas como auxílio aos gestores em seus desafios organizacionais.

A despeito de não fazer parte da pesquisa elaborada pelo BCG e de não ter

sido uma ferramenta desenvolvida com propósitos estratégicos, aqui se destaca a

ferramenta desenvolvida por Walter Andrew Shewhart, em 1891, com o nome de

Roda de Shewhart, mas amplamente divulgada e adaptada por Edwards Deming,

por se tratar não de uma ferramenta específica de alguma etapa planejamento-

execução, mas de uma que envolve o processo como um todo, o Plan , Do, Check,

Act (PDCA).

Esse modelo aplicado em situações diversas, incluindo gestão de projetos,

mostra-se útil na gestão estratégica por direcionar para um contínuo

acompanhamento e correção dos desvios ocorridos ao longo da execução de um

plano. Pode ser aplicado tanto no nível corporativo quanto nos funcionais.

Nesse sentido, encontra-se a aplicabilidade da ferramenta também no modelo

BSC (Balanced Scorecard), proposto por Kaplan e Norton (2006) conforme Figura 2.

7 Six Sigma = Seis Sigma. (Tradução nossa.)

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Figura 2 - Revisão Contínua – Balanced Scorecard

Com isso, fica mais claro que o que foi pensado em 1891 por Shewhart,

evoluiu e tem total utilidade nos modelos atuais de gestão estratégica, podendo até

ser considerado como um dos pilares-mestre para a eficácia entre planejamento e

execução.

Nessa linha de pensamento tem-se em Mintzberg (2006, p.84) um alerta

quanto à validade de um processo de formulação estratégica que prescinde de

avaliação para os devidos ajustes dentro da complexidade e mutação do ambiente

organizacional: “a avaliação da estratégia constitui um passo essencial no processo

de orientação de uma empresa.” Ao formular um planejamento estratégico, parte-se

da premissa que se busca um alinhamento com missão e visão organizacional e de

que o mesmo está alinhado aos objetivos que daí derivam. Abordar a necessidade

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de avaliação e ajustes necessários remete-nos à utilização do PDCA (Plan, Do,

Check, Act), enquanto ferramenta de apoio.

Importante frisar que a verificação para a realização dos ajustes necessários,

deve ser maior do que simplesmente verificar se os indicadores econômico-

financeiros estão sendo alcançados, já que os fatores críticos de sucesso que

determinam a qualidade dos resultados, nem sempre são mensuráveis

(MINTZBERG, 2006). Um dos obstáculos a ser superado é o de que para se

executar, o tempo demandado é superior ao de se planejar, dificultando o controle e

aumentando a possibilidade de desvios de atenção (HREBINIAK, 2008).

No momento da avaliação perguntas devem ser retomadas para responder se

o resultado obtido até aquele momento confirma ou rebate as suposições iniciais

que embasaram a estratégia (MINTZBERG, 2006), afinal, gestão estratégica

organizacional se compreende como um processo contínuo, sem fim, enquanto a

organização existir.

Mankins e Steele (2005) afirmam que “menos de 15% das empresas

costumam monitorar o desempenho pretendido em relação ao desempenho

verificado”. Para os autores, essa falta de introspecção faz com que as empresas

ignorem mais facilmente os planos mal sucedidos. Ignorar os erros facilita ainda

mais o comportamento equivocado em relação à próxima estratégia a se seguir.

Nas pesquisas de Hrebiniak (2008) surge esse mesmo diagnóstico quando os

gerentes pesquisados afirmam sobre a importância do controle e das revisões da

estratégia para proporcionar a adaptação organizacional.

Raffoni (2003) também diagnosticou a necessidade de frequente

acompanhamento das condições e recursos necessários para a execução

estratégica e os consequentes ajustes e correções para a sustentabilidade dos

propósitos estratégicos. A autora atribui tamanha importância a esse

acompanhamento que o denomina como um dos “Três Fatores-Chave para uma

Execução Efetiva”. A questão aí suscitada está na qualidade e profundidade da

avaliação, além das suas consequências que podem ir muito mais longe do que

apenas ações corretivas.

Mintzberg (2006) também afirma que o processo de reavaliação não ocorre

com frequência, e isso pode colocar em risco todo o posicionamento estratégico. As

organizações precisam ter a capacidade de mudança sempre que for preciso,

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porém, o grande desafio está em diagnosticar este momento a tempo. Perguntas

são necessárias a todo o momento. Conforme Makridakis (1990, p.182):

[...] a estratégia pode não mudar ao primeiro sinal de dificuldade. Será necessária uma boa porção de persistência para superar dificuldades e problemas. Por outro lado se estiverem ocorrendo mudanças ambientais substanciais, se as reações dos concorrentes tiverem sido mal avaliadas, ou se o futuro estiver se revelando contra as expectativas, a estratégia deverá ser modificada para levar essas mudanças em conta [...] a estratégia deve se adaptar: é melhor uma viela secundária que leva a algum lugar do que acabar em um beco sem saída.

A questão que se mostra é a de tomar decisões efetivas perante um

diagnóstico. O desafio consiste, além dessa capacidade de decidir e mudar, na

capacidade de diagnosticar, já que nem tudo é mensurável, tampouco óbvio. O

controle é ilusório (MINTZBERG, 2004). O mesmo autor afirmou mais adiante em

2006:

[…] é possível, embora muito difícil para uma empresa conhecer suas próprias forças e limitações, assim como é manter uma vigilância viável de seu ambiente mutante [...].É essencial, embora difícil, que uma pessoa madura atinja uma auto consciência razoável, de forma que a organização possa identificar aproximadamente sua força central e sua vulnerabilidade crítica (MINTZBERG, 2006, p.82).

Os pontos críticos apontados por Mintzberg (2006) são também encontrados

nos estudos de Hrebiniak (2008) que em suas pesquisas dedicou atenção às

questões de execução do planejamento estratégico, e afirma a importância de se ter

um modelo capaz de identificar as variáveis críticas que definem aquilo que gestores

devem priorizar ao colocarem em ação um plano estratégico. A revisão periódica,

proposta em modelos como o do PDCA, auxilia na identificação dessas prioridades,

principalmente sob a ótica da identificação do que não está alinhado com os

propósitos planejados e necessitam de ações corretivas.

Cocks (2010) corrobora com essas afirmações ao alertar sobre a necessidade

organizacional em se adaptar com rapidez e flexibilidade; além de afirmar que o

sucesso organizacional requer revisão constante e inter-relação entre o formular e o

executar estratégia. O autor não cita o PDCA como ferramenta para esse trabalho

de revisão e adaptação, ele utiliza outro modelo denominado Roda Vencedora com

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elementos diversos do PDCA, mas com o qual é possível fazer uma analogia, já que

ambos propõem uma abordagem integrativa, sem começo e nem fim.

Bossidy e Charan (2005, p.189), alertam sobre a importância da revisão

estratégica, mas destacam para que a mesma não seja apenas uma etapa a ser

cumprida, uma “discussão estéril” com a produção de material que somente faz

volume, mas não agrega nenhuma decisão efetiva sobre os assuntos críticos. Os

autores vão além ao afirmar que a revisão estratégica “é o principal Mecanismo

Operacional Social do processo de estratégia. É o penúltimo campo para testar e

validar a estratégia – a última chance [...]” (BOSSIDY e CHARAN, 2005, p.189).

A despeito da importância da revisão estratégica, dos controles e dos

feedbacks afirmada pelos autores citados nesta seção percebe-se, com frequência,

que eles ou inexistem ou não funcionam. Hrebiniak (2008) detecta que esses

controles não identificam a real profundidade dos fatos que estão por trás de um

desempenho deficiente e consequentemente constroem uma adaptação incompleta.

Essas revisões, desde que estruturadas e praticadas, são essenciais para o

sucesso da execução estratégica, pois permitem o diagnóstico real da distância

entre o desejado e a realidade reforçando os métodos de execução e assegurando

um mecanismo de correção que permite a aprendizagem e a adaptação

organizacionais (HREBINIAK, 2008).

Ainda segundo Hrebiniak (2008, p.200) é primordial “dissecar” os problemas e

compreender as razões que trazem um desempenho indesejado. O autor utiliza o

termo “autópsias” (HREBINIAK, 2008 p.206) para enfatizar a importância de uma

revisão estratégica efetiva que classifica como inestimável e necessária, e não de

um “luxo” (HREBINIAK, 2008, p.215).

Conclui-se, assim, que mensurar é indispensável definindo uma abordagem

para a execução que foque o máximo possível os fatores mensuráveis em uma

relação direta com a ação dos gestores e seu processo de decisão e adaptação.

2.6 Papel do gestor

Abordar o planejamento e a execução estratégica implica identificar e

compreender o papel do líder enquanto stakeholder, determinante para o alcance,

ou não, dos resultados pretendidos na intenção estratégica.

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Mostra-se com uma das principais competências necessárias para o gestor

traduzir a estratégia por meio de uma linguagem que todos entendam com definição

de prioridades e delimitação de objetivos, envolvendo todas as áreas da

organização; cuidar para que não haja uma degradação do conteúdo ao longo da

cadeia e manter a continuidade dessa comunicação. Esse mesmo gestor deve ainda

possuir características como flexibilidade, capacidade de se antecipar, de estar

atento ao aprimoramento e à visão sistêmica, ser capaz de apoiar suas equipes na

superação de obstáculos, apresentando, assim, maiores chances de sucesso

(BOSSIDY; CHARAN, 2005).

Segundo Hrebiniak (2006), a liderança é um fator que afeta a execução de

uma maneira muito forte, pois é ela quem define a forma como as organizações

respondem a todos os desafios precedentes da execução.

As organizações dentro de suas estratégias escolhem, entre construir em

conjunto com as equipes, todo o processo ou estabelecer definições top-down8. Seja

qual for essa escolha, torna-se inevitável ficarem sob responsabilidade da alta

gerência as decisões estratégicas e organizacionais que afetam a todos.

A escolha entre uma construção em equipe ou top-down, pode impactar no

nível de coalizão, formação da visão e institucionalização das estratégias junto às

equipes. Conforme Hubbard; Taylor e Pocknee (1996), o problema de se realizar a

estruturação estratégica apenas por gestão de topo é que as equipes serão menos

entusiastas na execução de algo no qual não tiveram real participação.

Precisa ocorrer uma congruência de objetivos entre os indivíduos e

organização, de maneira que as pessoas assumam as metas (HREBINIAK, 2006).

Mais do que assumir metas, as equipes precisam comprometer-se e envolver-se

com estas de forma que se responsabilizem com elas, pois no “quebra-cabeças”

organizacional, há os componentes técnicos e os componentes humanos, de

natureza muito mais imprecisa. Dentre os componentes humanos, pode-se enfatizar

a necessidade de compartilhamento de objetivos e visão estratégica.

Buscar o compartilhamento da visão por toda a organização, uma

importantíssima etapa do processo de planejamento, é fundamental também no

momento da execução das estratégias, uma vez que todos estarão envolvidos em

8 Top down = De cima para baixo ou do topo à base. (Tradução nossa.)

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busca de um objetivo comum (KICH; PEREIRA; EMMENDOERFER; dos

SANTOS, 2008).

Hrebiniak (2008, p.70) reforça essa linha de pensamento ao afirmar: “A

execução não dará certo quando ninguém estiver realmente envolvido no jogo”. Para

Hrebiniak (2006, p.43), a liderança “deve motivar o sentimento de pertença em

relação ao processo de execução e firmar um compromisso com ele”.

Ao abordar o assunto compromisso, obrigatoriamente depara-se com a

necessidade do líder estabelecer e deixar claro se existem e quais serão os

sistemas de incentivos e recompensas, que não são obrigatoriamente financeiros.

Como foi citado anteriormente neste texto, o componente humano é de

natureza muito mais imprecisa e, por isso, demanda uma atenção ainda maior.

Hrebiniak (2008) apura em suas pesquisas que para que uma execução seja efetiva,

os objetivos estratégicos devem ser reforçados e recompensados de modo que os

incentivos apoiem os objetivos e consequentemente os comportamentos e

resultados relacionados à execução desejada. Em suma, se não se obtiver êxito no

objetivo de atingir um real alinhamento, o sucesso estratégico estará ameaçado.

Ao abordar o componente humano, Porter (2009, p.515) descreve outras

dificuldades que os CEO’s enfrentam para atingir os objetivos propostos, por serem

incapazes de controlar parte dos fatores que determinam o sucesso. O autor

destaca sete “surpresas” das quais ressalto a afirmação de que “dar ordens é muito

dispendioso”. O autor explica que atitudes e decisões do CEO podem gerar intrusão,

desconfiança e perda de autonomia da equipe. Ao mesmo tempo em que se busca

entrosamento e alinhamento, procura-se propiciar a autonomia, pois, sem ela, o

CEO vira um “gargalo”.

Outro aspecto importante a abordar no papel do gestor, são os lapsos de

percepção, ou seja, uma percepção tardia dos movimentos internos e externos da

organização. No caso dos movimentos externos, do ambiente, Porter (1996a) trata

sob o estrito foco dos movimentos da concorrência e defende a construção de

mecanismos para que o acompanhamento seja efetivo.

Outra afirmação de Porter (2009, p.515) ressalta que “é difícil saber o que

está realmente acontecendo”. Decisões estratégicas imprescindem de informação

que, em diversas situações, não chegam ou são distorcidas. Ainda pior, o

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conhecimento de fatos acontece depois de consumado. Makridakis (1990, p.38), por

outro lado, aborda a questão da informação sob outro ângulo:

[...] acreditamos que quanto mais informações tivermos, mais precisas serão as decisões [...] simplesmente parece aumentar nossa confiança de que estamos certos sem melhorar necessariamente a precisão de nossas decisões [...].

A questão a ser avaliada é qual o ponto “ótimo” de informações, já que são

necessárias, mas em quantidade insuficiente não subsidiam as decisões e, em

excesso, propiciam a confusão.

Das “surpresas” relacionadas por Porter (2009, p.525), pode-se destacar

também que “agradar os acionistas não é o objetivo”. O autor, com isso, demonstra

que as iniciativas e estratégias favorecidas pelos acionistas (e pelos analistas) nem

sempre beneficiam, em última instância, a posição competitiva da empresa em longo

prazo. Porter (2009, p.525) afirma que “apenas a lucratividade duradoura é

importante, não as expectativas de crescimento nem o preço das ações”. Acrescenta

também que o papel do CEO é de um “vendedor” da estratégia duradoura com base

em uma vantagem competitiva sólida, desafio para superar os desejos de curto

prazo, não se atendo apenas ao operacional, mas ao contexto organizacional. O

autor afirma: “O papel do líder é de definir e divulgar a estratégia, desenvolvendo e

implementando processos eficazes, selecionando e mentorizando as pessoas chave

para que as escolhas certas sejam feitas [...] (PORTER, 2009, p. 529)”.

Em uma linha de pensamento convergente, Porter (2009) e Hrebiniak (2006)

defendem que é muito mais fácil executar uma estratégia quando ela tem o apoio de

pessoas poderosas, do que quando ela cultiva e provoca a ira dos atores influentes,

pois o poder facilita tanto a formulação quanto a execução da estratégia. Porém,

deve-se ter cuidado com ele, pois o poder pode causar a inércia quando falta

liderança forte no topo. Hrebiniak (2006, p.42) afirma que “os programas de

execução que entram em contradição com a estrutura de poder, ou com a influência

de uma organização, estão condenados ao fracasso”, e acrescenta: “Se aqueles que

estão no poder resistirem ou não apoiarem um plano de execução, o sucesso do

plano ficará claramente prejudicado” (HREBINIAK, 2008, p.76).

Em outra abordagem, MINTZBERG et al. (2010) constatam que uma das

principais atitudes que podem levar a uma formulação e execução estratégica ruim,

é o fato de líderes ficarem estáticos em suas salas separando pensamento e ação,

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sem conhecerem a realidade de suas unidades produtivas e de seus clientes que

são verdadeiras fontes de informação. Pior ainda é a falta de autocrítica quando se

entende que o sucesso é consequência do seu esforço, mas o fracasso é atribuído a

fatores externos (MINTZBERG, 2004).

Seguindo essa linha de pensamento, Hamel e Prahalad (1990) e Mintzberg

(2006) enfatizam a necessidade de criar um senso de urgência, desenvolver um foco

competitivo em todos os níveis por meio da inteligência competitiva; fornecer às

equipes as ferramentas necessárias, respeitar o tempo que a organização necessita

para digerir um desafio antes de lançar um novo e estabelecer os marcos de

verificação. Mintzberg (2006, p.93), faz a seguinte afirmação: “Desenvolver a fé na

capacidade da organização de atingir suas metas, motivá-la a fazer isso, focar sua

atenção o suficiente para internalizar novas aptidões – esse é o real desafio par a

alta gerência”.

Atribui-se também ao gestor a capacidade dar às equipes voz ativa para

contribuir com mais do que se espera delas, em suas descrições de atividades, isso

se apresenta como importante fator de influência no sucesso da execução (COCKS,

2010).

Bossidy e Charan (2005) afirmam que o sucesso estratégico é consequência

da execução eficaz em todos os níveis dentro das organizações e que o papel do

líder é exercer a ligação entre o que se almeja e o que se atinge enquanto resultado.

Essa ligação, segundo os autores, traduz-se como execução e é a atividade

primordial do líder. Ocorre que ao abordar o papel do líder e de sua atuação perante

as equipes, tratamos de pessoas com modelos mentais e comportamentos

heterogêneos. Esses diferentes comportamentos e maneiras de pensar podem ter

uma influência direta nas questões de execução estratégica.

Nessa mesma perspectiva, os estudos de Håkonsson, Burton, Obel, e

Lauridsen (2012) identificaram por meio de suas pesquisas, com 407 empresas de

diferentes portes, que o estilo de liderança que abrange a capacidade de

processamento de informação, o nível de aversão ao risco, a atenção fornecida a

determinados assuntos e a disposição em delegar ou não atividades têm influência

direta na execução das estratégias e no consequente resultado obtido. O estudo

indica que esse perfil do líder determinará o seu apoio às pessoas e a

disponibilização dos recursos necessários.

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Håkonsson et al. (2012) demonstram em seus resultados a relação de

alinhamento necessária para um melhor desempenho entre o perfil do líder e as

escolhas estratégicas. Os autores, no entanto, deixam claro que essa relação e suas

consequências não são simétricas e que o gargalo que a atuação do executivo pode

causar em caso de desalinhamento é difícil de contornar, apresentando graves

consequências de desempenho.

Miller, Hickson, e Wilson (2008) reforçam as colocações aqui apresentadas ao

afirmar que um número significativo de iniciativas estratégicas falha, em boa parte,

como resultado de fatores sob controle do gestor executivo. Lembrando ainda que,

conforme Drucker (2014), resultados são consequência de liderança e não de

popularidade e que o líder é aquele que exerce influência sobre outros,

independente de sua posição hierárquica já que não será esta que fará do executivo

um líder.

2.6.1 Influência do Conselho de Administração

Com base no que foi elucidado no tópico anterior, a presente pesquisa se

encaminha para enfatizar o papel do gestor como um dos pilares fundamentais para

a execução estratégica eficaz.

Ao pensarmos na figura do gestor, normalmente nos vêm à mente os cargos

gerenciais, presidentes, diretores e CEO’s das organizações. Porém, existe outra

forma de liderança altamente influente nas diretrizes organizacionais: os Conselhos

de Administração.

Pode-se pensar a princípio na inexistência dessa influência pelo fato dos

conselheiros não estarem diretamente ligados às operações, ou por terem uma

atribuição maior de zelar pelos interesses dos acionistas, ou ainda por não

possuírem total autoridade sobre a gestão. Porém, o que alguns estudos

demonstram é justamente um viés contrário a esses pressupostos. A despeito de

não ser uma unanimidade o consenso da importância dos Conselhos de

Administração para a execução estratégica (BAPTISTA, 2013), há a indicação de

que a interferência do conselho, aprovando e rejeitando propostas estratégicas,

contribui para a monitoração eficaz da execução, identificando seus desvios e

promovendo alinhamento.

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Baptista (2013, p.28) traz em suas pesquisas a ideia de que aumenta a

certeza de o monitoramento da execução estratégica também ser um atributo do

Conselho de Administração, já que “[...] promover a implementação eficaz das

estratégias corporativas é uma questão central para as empresas porque, dentre

outras razões, as falhas de implementação estratégica destroem valor”.

O autor acrescenta que conselheiros eficazes operam de modo mais

abrangente e mais orientado para os conteúdos estratégicos e sucesso em longo

prazo, com uma postura de liderança corporativa auxiliando a criar valor por meio da

definição de objetivos estratégicos, praticando revisões de desempenho em uma

responsabilidade coletiva.

Com uma pesquisa embasada em 263 observações válidas em entrevistas

com membros de Conselhos de Administração, Baptista (2013) conclui sobre a

influência de tais conselhos na gestão estratégica, entre outras conclusões, que uma

parcela significativa da amostra é favorável à monitoração da execução estratégica

pelo Conselho de Administração, a despeito de também afirmar que nem todos

pensam dessa maneira, assim como não é uniforme um acompanhamento

sistemático dos pilares estratégicos por esses mesmos conselheiros. Baptista (2013)

também traz, por meio dos dados coletados, a ideia de que não há disponibilidade

de tempo e que nem sempre o debate sobre as questões estratégicas recebe o

devido aprofundamento.

Além dos fatores indicados ao longo desta seção, aqui é relacionado o

resumo das conclusões do autor sobre a influência dos Conselhos de Administração

para a execução estratégica (BAPTISTA, 2013, p.134-140):

1. A influência é dada de múltiplas formas: é direta, positiva e

significante sobre o acesso a informações, a dinâmica das

atividades e a atenção à monitoração da implementação.

2. Conselheiros que dispõem de melhores condições de acesso

às informações relevantes terão melhores conhecimentos dos

aspectos específicos das operações da empresa. Ao ter

acesso a múltiplas fontes de dados sobre a empresa, os

conselheiros poderão formar uma visão mais embasada das

barreiras à execução das estratégias.

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3. Conselheiros que disponham de um maior conhecimento

organizacional estarão mais bem preparados para intervir nas

questões estratégicas de maior complexidade.

4. A eficácia dos conselheiros é influenciada por fatores

comportamentais, contextuais e normativos.

Em suma, demonstra-se aqui mais um ponto importante para observar ao se

analisar os problemas no alcance do sucesso estratégico. Elencam-se aqui

referências sobre a importância do monitoramento, da revisão, do conhecimento,

das informações e do papel ativo da liderança.

Conforme Bossidy e Charan (2005) é primordial o questionamento advindo do

Conselho de Administração sobre o progresso da execução estratégica, assim como

a busca pela compreensão dos desvios entre o planejado e o efetivamente

realizado.

O alinhamento entre liderança e equipes, deve ter participação ativa também

do Conselho de Administração. Pela literatura consultada, mostra-se que quanto

mais estruturada e contínua for essa participação, aumenta-se o potencial de

sucesso no alcance dos objetivos.

2.7 Problemas estratégicos

Ao abordar o tema execução estratégica, obrigatoriamente é abordado o tema

planejamento e aí nos deparamos com diversos problemas ou situações que podem

se transformar em obstáculos ao sucesso de ambos.

Hrebiniak (2008), ao longo de sua pesquisa, elenca os problemas na

execução estratégica tendo como base a cultura organizacional, os programas de

incentivos, os silos funcionais, as condições competitivas em constante mudança, a

incapacidade de gerenciar alterações ou ainda superar a resistência interna a essas

transformações, a inércia e a incompetência corporativa, entre outros fatores.

Dos fatores elencados por Hrebiniak (2008), tem-se em Porter, Lorsch e

Nohria (2004) um destaque maior para a complexidade que, segundo os autores, é

sempre maior do que se espera, que a limitação do tempo é imperativa, que o

conhecimento é insuficiente, já que as informações são imperfeitas e que o gestor

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principal (CEO) nunca está totalmente preparado. Gerenciar a luz do incerto, do

incontrolável, é um desafio de elevada dimensão.

Já Mintzberg et al. (2010) vão além, apontando as falácias do planejamento

estratégico em que o processo domina e é priorizado em relação às ações iniciais e

também corretivas, assim como em prol de uma superação do ambiente externo, faz

isso à custa do ambiente interno, primordial na execução da estratégia. Todos esses

fatores e tantos outros podem ser apontados como problemas estratégicos que irão

desembocar em resultados e desempenhos organizacionais indesejados.

É possível afirmar que grandes insucessos foram consequência da certeza de

sucessos e que hoje empresas que buscam o aprendizado a partir dos erros,

aumentam suas chances de atingir objetivos, da mesma forma que subestimar a

incerteza com excesso de otimismo em uma necessidade de reduzir a ansiedade

pode ser identificado como parte das causas de vieses equivocados na tomada de

decisões que levam ao insucesso (MINTZBERG et al. 2010). Os autores apontam

outros vieses negativos como incoerência, conservadorismo, ancoragem,

correlações ilusórias e percepção seletiva.

Ao abordar sobre correlações ilusórias, pode-se citar a que é trazida pelos

números por meio de rentabilidades elevadas em determinadas situações, mas que

não necessariamente foram construídas pelo processo estratégico e, portanto,

correm o risco da insustentabilidade que fica caracterizada em períodos

subsequentes.

Tem-se em Rumelt (2011) uma definição clara de problemas estratégicos

comuns às organizações ao indicar que a estratégia ruim, que não tem o mesmo

significado de uma estratégia que fracassa, ignora os detalhes que incomodam ao

se tentar acomodar uma gama de demandas e interesses conflitantes em uma

perseguição por múltiplos focos. Ainda segundo o autor, dar uma resposta coesa a

um grande desafio seria, de fato, estratégia. O desafio da execução estratégica está

em transformar essa resposta coesa em ações efetivas e alinhadas.

Quando pensamos em estratégia normalmente iniciamos por um diagnóstico

de pontos fortes e fracos, identificação de oportunidades e ameaças, mapeamento

da concorrência, análises de cenários e afins. Porém, nem sempre ao utilizar esses

tradicionais caminhos os gestores conseguem ir além das suas próprias

compreensões e romper com as sabedorias convencionais para alcançar a tão

almejada vantagem competitiva.

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Mintzberg (2006) indica dois caminhos para se chegar ao resultado

estratégico positivo: um pela criação de uma forma inovadora em sua estrutura

convencional, possibilitando o surgimento das estratégias necessárias com um

processo mais lento de “revitalização”, outro quando a organização concentra em

um único líder o desenvolvimento da visão que, nesse caso, pode funcionar com

maior velocidade e, por isso, acaba sendo mais usado quando o desejo é por

mudanças mais drásticas. A questão é que nesse segundo caso pode-se não obter

situações sustentáveis que permitam à organização manter bons resultados

alcançados.

Escolhendo-se qualquer uma das situações na busca por soluções, elas

somente serão possibilitadas em organizações não burocráticas que se permitam

aprender (MINTZBERG, 2006), ou seja, a burocracia é uma das grandes

responsáveis pelo entrave estratégico. O autor se torna ainda mais contundente ao

reproduzir a fala de um oficial americano sobre a guerra do Vietnã: “Qualquer idiota

consegue escrever um plano. É a execução que o deixa todo atrapalhado”

(MINTZBERG, 2004 p.108).

Ao elaborar o presente estudo, partiu-se da premissa que as estratégias

foram bem desenvolvidas e estruturadas em seu processo de formulação e que as

organizações não estejam em processos de inércia e/ou entropia organizacional, e o

que se busca identificar são os problemas na execução e alcance dos objetivos pré-

determinados.

Contudo, estabelecer essa linha divisória entre formulação e execução não é

tarefa simples. Ao se buscar estudos para esse diagnóstico dos problemas na

execução, nós nos deparamos com algumas causas que se iniciam na formulação

estratégica.

Apesar de não ser objeto do presente estudo a identificação de problemas na

formulação do planejamento estratégico, mostra-se importante abordar alguns deles

pelo fato de gerarem desdobramentos na execução desses mesmos planos.

Mintzberg (2004) afirma que o planejamento estratégico tem sido rígido,

inflexível e um fim em si mesmo. O autor critica: o processo de planejamento,

baseando-se em estudos de outros autores e elenca armadilhas e falácias que

levam à “desintegração” do planejamento na sua formulação e implementação como

problemas humanos e administrativos; a ausência de apoio e compromisso da

própria gerência que delega as tarefas de planejamento às equipes de apoio; falta

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de compreensão das pessoas da “intensidade” do compromisso necessário e receio

da alta gerência pela incerteza (MINTZBERG, 2004, p.133). Nas palavras do autor:

“[...] as próprias armadilhas do planejamento servem inadvertidamente de contrastes

para nos ajudar a descobrir alguns dos sérios problemas do processo, permitindo

que investiguemos algumas de suas características básicas” (MINTZBERG, 2004, p.

137).

As armadilhas a que Mintzberg (2004) se refere foram relacionadas por G.

Steiner após pesquisas envolvendo centenas de empresas em 1979, e cujos

resultados podem ser observados no Quadro 6.

Quadro 6 - “As dez armadilhas”

A suposição da alta administração de que pode delegar a função do planejamento a um

planejador.

A alta administração fica tão absorvida nos problemas correntes que aplica tempo

insuficiente no planejamento em longo prazo, e o processo fica desacreditado entre os outros

gerentes e o pessoal.

Fracasso em desenvolver metas adequadas da empresa como base para formular planos

em longo prazo.

O pessoal de linha principal não assume o envolvimento necessário no processo de

planejamento.

Deixar de usar planos como padrões para medir o desempenho gerencial.

Deixar de criar um clima na empresa que seja apropriado e aberto ao planejamento.

Supor que planejamento corporativo abrangente é uma coisa separada de todo o processo

administrativo.

Injetar tanta formalidade no sistema que ele perde a flexibilidade, a folga e a simplicidade,

impedindo a criatividade.

A alta administração não revisa com os chefes departamentais e divisionais os planos que

eles desenvolveram em longo prazo.

A alta administração rejeita consistentemente o mecanismo de planejamento formal tomando

decisões intuitivas que conflitam com os planos formais.

Fonte: Extraída de Steiner (2010, p. 329)

Mintzberg et al. (2010), que a despeito de criticarem os procedimentos

mecânicos de formulação dos planejamentos estratégicos, afirmam que sendo a

estratégia realmente eficaz, tudo se interligará: ação, pensamento, formulação e

implementação. Por meio do aprendizado organizacional, as armadilhas poderão ser

mitigadas.

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Pode-se abordar aqui o problema da quantificação. Não é possível dispensá-

-la, mas se torna uma grande armadilha basear-se apenas em dados quantitativos,

orçamentos e projeções que são limitados e não possuem a capacidade de inserir

dados importantes como fatores não econômicos. “São os dados qualitativos que

constroem sabedoria” (MINTZBERG et al., 2010, p.81). Rumelt (2011) corrobora

essa afirmação quando aponta que os problemas estratégicos advêm do equívoco

de achar que metas financeiras são estratégias, e por estabelecer ações e políticas

conflitantes.

Alguns diagnósticos de Mintzberg (2004) apontam a resistência natural dos

planejadores aos gerentes de linha, a inflexibilidade, a obsessão dos planejadores

em prever o imprevisível e o excesso de confiança em dados que não refletem o

mundo exterior, podendo se tornar até um empecilho para a ação estratégica de

fato. Nessa mesma linha de pensamento, ainda aponta a formalização com base em

cálculos e orçamentos que impõem um comprometimento das pessoas que não

necessariamente vai existir. É inerente às pessoas a resistência a mudanças. Em

determinadas situações, além de aceitar fazer diferente, é necessário “desaprender”

o que se sabia fazer, pois já não serve mais. Esse é um processo que pode se

transformar em uma imensa barreira interna a mudanças fundamentais

(MINTZBERG et al. 2010, p.258).

A questão do alinhamento é apontada por Mintzberg et al. (2010), como um

dos pontos focais para o sucesso das estratégias, sejam elas deliberadas ou

emergentes, e também é abordado por Heide et al. (2002) que concluem em sua

pesquisa, como grande ponto de atenção, a comunicação eficiente entre os diversos

atores na complexidade organizacional para mitigar a falta de interação. Ritson et al.

(2012) corroboram essas conclusões ao afirmar que é um atributo essencial o

alinhamento contínuo para a “entrega” bem-sucedida. Chega-se, assim, a um dos

problemas estratégicos cruciais: a comunicação.

Hrebiniak (2008) detecta em suas pesquisas que compartilhamento deficiente

ou inadequado de informações, entre as pessoas ou unidades de negócios

responsáveis pela execução da estratégia, são um dos grandes pontos de atenção e

que as responsabilidades precisam ficar claras ao passo que as estratégias

necessitam de cooperação, coordenação e comunicação, já que percepções e/ou

pressupostos divergentes geram conflitos.

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O autor afirma ainda que: “[...] a execução envolve a participação e a

comunicação tanto vertical [...] quanto horizontal em termos de fluxo de informação e

coordenação entre as unidades operacionais” (HREBINIAK, 2008, p.54).

Acrescenta ainda que compartilhar conhecimento e informações para

conseguir coordenação entre as áreas organizacionais é vital para um possível

sucesso estratégico com o aumento de flexibilidade e da capacidade de reação aos

obstáculos da execução (HREBINIAK, 2008). Os problemas da ausência ou da má

comunicação tornam-se ainda mais significativos ao abordar a comunicação da

estratégia, já que uma estratégia vaga ou deficiente não tem como ser executada.

Hrebiniak (2008, p.41) destaca essa situação ao afirmar que:

Sem diretrizes, a execução torna-se uma questão confusa e atropelada. Sem uma orientação clara, as pessoas fazem as coisas que acreditam ser importantes, o que, em geral, resulta em decisões e ações descoordenadas, divergentes e até conflitantes [...]. Ter um modelo ou uma estratégia afeta positivamente o sucesso da execução [...]. É importante ter pessoas gabaritadas para que ocorra uma boa execução [...] e igualmente importante saber para onde o ônibus esta indo e por quê. A estratégia é essencial.

O autor continua o destaque sobre a importância de uma comunicação

consistente da estratégia, ressaltando que não há como transformar uma estratégia

vaga em objetivos reais e que a imprecisão dos planos torna a integração das

atividades e das estratégias algo difícil de alcançar. Não há como executar um plano

confuso e desfocado. Hrebiniak (2008, p.40) afirma: “Estratégias fracas resultam em

planos fracos de execução”.

Esse e outros pontos trazem uma questão importante: o aprendizado. Esse

tema aparece em diversas abordagens e nos faz concluir que não há um único

caminho, como algumas teorias administrativas tentam demonstrar, já que a vivência

e o aprendizado serão inerentes a cada organização, se essa assim o permitir.

Conforme Ritson et al. (2012, p.11): “[...] aprendizado e melhoria contínua é atribuído

como o mais alto nível de maturidade de gestão”. Hrebiniak (2008, p.72) reforça ao

afirmar que “a execução da estratégia é um processo adaptativo”.

Não se torna possível solucionar os problemas estratégicos, assim como

outros, com uma visão reducionista e uma lista de recomendações. O que se mostra

um pouco mais viável é tentar fugir do: “Se sempre funcionou assim, continuará

funcionando”. Considerando que a mudança ambiental é constante e inevitável e o

senso de urgência não pode ser ignorado.

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Mattos (2000, p.8) ao se reportar a Popper destaca que a pergunta de

interesse é: “Por que não funcionou?”. E ainda:

[...] empresários e executivos veem problemas onde não os há e não veem onde eles já estão em pleno desenvolvimento [...] a aprendizagem do conhecimento crítico e criterioso dará origem e ângulo adequado aos problemas, poupando-se talvez muito tempo e dinheiro (MATTOS, 2000, p.9).

Mostra-se, assim, fundamental manter conectados formulação e execução,

como enfatiza Mintzberg (2004) ao afirmar sobre a necessidade de que ação e

pensamento devem sempre interagir e que apenas planejar estratégia não é formar

estratégia. Mintzberg (2004) ainda finaliza uma de suas obras afirmando a

importância do papel do planejamento para a gestão estratégica, mas enfatiza a

justa medida ao indicar a necessidade de equilíbrio. O autor afirma que não se pode

apenas ficar planejando, mas que da mesma forma que o excesso é prejudicial, a

ausência de planejamento também o é. Nesse ponto encontra-se em Hrebiniak

(2008, p.25) um diagnóstico desafiador para as organizações: “[...] gestores são

treinados para planejar, não para executar. A ênfase, inclusive acadêmica, é no

planejamento e não na execução”.

O autor, diante dessa perspectiva, aborda o problema em se delegar a

execução, pois alguns gestores acreditam que “fazer envolve menos habilidade e

inteligência do que planejar” (HREBINIAK, 2008, p.27). Ou seja, a atividade de

executar é rebaixada. Destaca-se outra afirmação que subsidia esse argumento:

Quando a elite planeja e vê a execução como algo que está abaixo dela, diminuindo sua dignidade enquanto alta gerência, a implementação bem-sucedida da estratégia está obviamente comprometida [...] execução exige comprometimento e paixão pelos resultados, independentemente do nível da administração (HREBINIAK, 2008, p. 27).

Como então fazer funcionar? As pesquisas citadas neste estudo convergem a

alguns pontos, como a necessidade de alinhamento, a importância das pessoas, o

papel do gestor e a necessidade de estrutura.

Uma das conclusões a que se chega é a de que aumentar a inter-relação

entre planejadores e “fazedores” é fundamental para poder aumentar a possibilidade

de sucesso (HREBINIAK, 2008, p.28). A execução precisa ser pensada já no processo

de formulação em uma gestão integrada que possibilita superar os desafios.

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Kaplan e Norton (2006) já haviam enfatizado as necessidades apontadas

para justamente poder superar a divergência entre o que foi definido

estrategicamente e o que é implementado na prática por conta do conflito de

objetivos e “desconexão” gerencial que motivam a perda de oportunidades, o

desperdício de recursos e, por fim, o comprometimento do desempenho. Os autores

nomeiam cinco pontos-chave na busca da superação dessas situações indesejadas:

mobilização pela liderança, tradução da estratégia, alinhamento organizacional,

motivação para que a estratégia seja de todos e gerenciamento contínuo.

Ritson et al. (2012) afirmam que implementação estratégica em muitas

empresas é um “enigma” por meio de projetos desalinhados e uma falta de uma

abordagem sistêmica. Os autores ainda trazem em suas pesquisas a indicação de

que a estratégia é um fenômeno bastante ambíguo na prática, na qual seu meio de

criação fora visto como um processo mais fácil do que a implementação (RITSON et

al., 2012).

Devlin (1989) destaca os problemas detectados para a execução estratégica

que se relacionam com as demais pesquisas relacionadas no presente estudo como:

fragilidade na comunicação, falta de recursos, rotatividade elevada dos gestores

responsáveis pelo processo, tempo de execução elevado, falta de envolvimento das

equipes, inclusive de pessoas-chave para o processo de planejamento estratégico,

sistemas de informação inadequados, falta de previsibilidade nas mudanças do

ambiente externo, estrutura organizacional rígida e não adaptativa, conflitos

organizacionais e incapacitação dos líderes.

Zagotta e Robinson (2002) apresentam coerência com os apontamentos de

Devlin (1989) com acréscimo de fatores como: falta de proposta de valor na visão

estratégica, ausência de indicadores e monitoramento, ausência de desdobramento

dos objetivos por toda a organização, e por fim, um fator que merece destaque: o

tratamento das definições estratégicas como um “evento à parte” na vida

organizacional.

Outros dois autores, Mankins e Steele (2005), apontam razões similares para

o não sucesso de previsões estratégicas como: falta de recursos, má comunicação

estratégica, falta de clareza sobre ações e responsabilidades, falta de monitoração,

barreiras pela cultura organizacional e falhas na liderança. Essas razões foram

delimitadas pelos autores após uma pesquisa na qual os entrevistados disseram que

suas empresas haviam atingido apenas 63% dos resultados esperados de seus

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planos estratégicos, o que levou os estudiosos a concluírem que grande parte da

lacuna entre o que se espera como resultado e o desempenho real é consequência

da incapacidade de execução da estratégia da empresa (MANKINS; STEELE,

2005). Os problemas indicados por Mankins e Steele (2005) repetem-se nas

pesquisas de Pindelski e Mrówka (2011).

A partir dessas constatações Mankins e Steele (2005) indicam regras que

trazem a “missão” de solucionar os problemas: ter estratégias e planejamentos bem

definidos, unificar e distribuir a comunicação por toda a organização, disponibilizar

recursos, ter clareza das prioridades, monitorar em tempo integral, desenvolver

capacidades e reconhecer os bons trabalhos.

De modo mais pragmático, outros autores buscam a construção de modelos

que têm como objetivo trazer alguma estrutura prática na busca da solução dos

problemas estratégicos ligados à execução. Pode-se citar aqui Bourgeois e Brodwin

(1984) que desenvolveram cinco modelos enfatizando a cultura organizacional no

desenvolvimento de compromisso do grupo, na alocação de recursos e sistemas de

controle e benefícios. Sempre com o importante papel dos gestores de alto comando

organizacional e ainda atribuindo significado às estratégias emergentes. Tem-se

também em Esteves (2015) outra proposta de modelo operacional para auxiliar a

detectar as relações causa-efeito na execução estratégica, sendo tal modelo

composto por sete dimensões com 27 indicadores. O autor reforça a escassez de

abordagem sobre execução estratégica, conforme já destacado no presente estudo,

e inclui nessa escassez a propositura de modelos com indicadores capazes de

medir as dimensões da execução estratégica (ESTEVES, 2015).

Seja em modelos práticos ou análises mais teóricas, mostra-se mais evidente

que executar não é mais uma simples consequência do planejamento estratégico.

Lacerda (2009) relata haver uma lacuna entre a teoria e a necessidade de

pesquisa sobre as razões do sucesso ou fracasso da estratégia nas empresas. Isso

pode ensejar dúvida sobre a qualidade das estratégias formuladas e ou sua

execução. É a dicotomia entre a intenção e a ação. Ainda segundo o autor, não há

um mecanismo, uma abordagem ou ferramenta que possa permitir a organização

verificar a realização de um diagnóstico sobre sua disciplina estratégica. A falta de

mecanismos de verificação também é apontada por Pindelski e Mrówka (2011).

Identificam-se, assim, várias linhas de pensamento, em diferentes momentos, mas

que convergem para o diagnóstico dos problemas estratégicos.

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A busca pela eficácia, tanto no desenvolvimento quanto na execução

estratégica, pode configurar-se no maior desafio gerencial. Segundo Drucker (2014)

que elucidou a diferença entre eficiência e eficácia, esse desafio pode ficar claro no

tratamento aos planos de ação que necessitam de estrutura, mas também de

revisão e flexibilidade, não podendo jamais se transformar em uma “camisa de

força”. Drucker (2014) também enfatiza, além da revisão periódica, a necessidade

de qualidade na comunicação, a tomada de decisão e o aproveitamento de

oportunidades, tudo isso dentro da gestão, também eficaz, do tempo.

O que se percebe no presente estudo é a convergência de diferentes autores

para as causas dos problemas de execução estratégica. Isso fica perceptível ao

relacionar a sinergia defendida por Ansoff, nos anos 70, com a abordagem de

Kaplan e Norton que também ratificam a sua importância, entre outros autores,

quarenta anos depois: “As corporações devem empenhar-se na busca constante de

novas maneiras de tornar o todo mais valioso que a soma das partes” (KAPLAN;

NORTON, 2006, p.29).

Kaplan e Norton (2006) utilizam um exemplo simples, mas muito significativo

para ilustrar a busca pela sinergia e pelo alinhamento organizacional ao comparar

com a estratégia de atletas remadores, que independentes do talento individual

precisam ser conscientes e agir conforme as orientações do timoneiro que toma as

decisões avaliando as competências de cada um, bem como as condições do

ambiente.

Os autores ainda são categóricos ao atribuir a possibilidade de sucesso da

execução estratégica ao alinhamento eficaz da estratégia, da organização, das

equipes e dos sistemas de gestão coordenados pelo líder. Vale reproduzir a

afirmação dos autores:

A execução da estratégia não é questão de sorte. Mas sim o resultado de uma atenção consciente, combinada com liderança e processos de gestão para descrever e medir a estratégia, para alinhar unidades organizacionais internas e externas com a estratégia, para alinhar funcionários com a estratégia por meio de motivação intrínseca e extrínseca e de programas convergentes de desenvolvimento de competências (KAPLAN; NORTON, 2006, p.322).

Os problemas para a execução da estratégia abordados por Kaplan e Norton

(2006), principalmente ligados ao desafio de alinhar pessoas, encontra em Mintzberg

et al. (2010, p.32) o mesmo diagnóstico ao afirmarem que:

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[...] mudar as ferramentas é dispendioso, em especial quando elas são mentes humanas e não apenas máquinas que precisam ser reprogramadas. A estratégia como estado mental pode cegar a organização, levando-a a sua própria obsolescência.

Bossidy e Charan (2005) compõem essa mesma linha de pensamento ao

afirmar que as organizações ao não atingirem os resultados projetados em seus

planejamentos frequentemente justificam que a estratégia do gestor estava

equivocada e que essa justificativa é que está equivocada. Os autores defendem

que o problema das estratégias mal sucedidas é a sua execução e o que nela está

inserido como falta de capacidade da organização e avaliações mal conduzidas

sobre seus desafios e cenários. A estratégia e seu planejamento, incluindo a

execução eficaz, são indispensáveis. As organizações carecem disso para escolher

e trilhar os caminhos para resultados positivos.

Têm-se aqui alguns obstáculos à execução bem-sucedida, caso não recebam

o tratamento adequado. Também podem ser interpretados como oportunidades para

o alcance de uma vantagem competitiva se forem compreendidos, gerenciados e

superados (HREBINIAK, 2008). No entanto, a fórmula exata para a solução dos

problemas estratégicos ainda não se apresenta.

2.8 Execução

Tendo como premissa os problemas estratégicos como dificuldades à

execução dos planos, abordaremos nesta subseção este enfoque.

Conforme Vaara e Whittington (2012), as estratégias, por mais que sejam

bem escolhidas, tenderão ao fracasso por falta de uma boa execução e identificam

essa falta de execução como elemento fundamental para o insucesso prático da

estratégia, por isso, esta é uma área que merece atenção. Vaara e Whittington

(2012) afirmam que a má execução do planejamento estratégico pode ter entre suas

causas a atuação de líderes aparentemente incapazes de se adaptar às

circunstâncias novas e ameaçadoras. As organizações não podem dispensar uma

execução eficaz, dinâmica, suscetível à adaptação com capacidade para reagir aos

imprevistos, pois isso pode significar uma vantagem competitiva (HREBINIAK,

2008).

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Ao abordar a execução propriamente dita, começa-se a enveredar por

caminhos que não são absolutamente diretos, facilmente identificáveis e totalmente

mensuráveis. A maioria dos planejamentos estratégicos são complexos e longos,

aumentando as possibilidades de que os objetivos sejam perdidos ao longo do

percurso. Segundo Hrebiniak (2006), a tarefa de implementar as iniciativas

estratégicas é mais difícil que a de formulá-las, e ainda afirma que a execução não

recebe um bom tratamento na maioria das organizações (HREBINIAK, 2008).

Hrebiniak (2008) afirma que grande parte dos gerentes em organizações

complexas enfrenta e lida com problemas locais de curto prazo, e ainda pior, há

casos em que as atividades e os esforços diários são inconsistentes com a

estratégia corporativa, colocando em risco uma execução bem-sucedida.

Buscar o caminho nos processos de execução para que uma decisão

estratégica sólida não se transforme em resultados ineficazes ou discutíveis,

compreende uma série de avaliações para identificar as alternativas disponíveis à

mobilização de recursos para atingimento dos objetivos determinados (MINTZBERG,

2006).

Segundo Hrebiniak (2008), as causas de desempenhos insatisfatórios ou

“deficientes”, baseiam-se mais na realização do que no planejamento propriamente

dito. “Fazer a estratégia funcionar é mais difícil do que fazer a estratégia”

(HREBINIAK, 2008, p.17). Localiza-se reforço nessa afirmação com Drew e Kaye

apud Baptista (2013, p.28) quando afirma que “[...] os desvios de gestão estratégica

ocorrem mais frequentemente durante a implementação das estratégias do que em

qualquer outra fase”.

Kich et al. (2008, p.123) utilizam uma afirmação forte, mas infelizmente real

em algumas organizações: “O problema surge quando chega o momento de agir e

colocar as estratégias definidas em prática, ou seja, o momento de implementar o

plano estratégico, quando na maioria das vezes ele começa a morrer.”

Reforçando esse grupo de pensadores Slater, Olson e Hult (2010)

apresentam afirmações que atestam que pensar e atuar na execução estratégica,

pode ser tão ou mais importante do que a formulação isolada de uma estratégia

“brilhante”.

O impacto de uma má execução com decisões lentas para reagir às pressões

competitivas, à falta de integração, entre outros fatores aqui elencados, levará a uma

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não compreensão por parte das equipes de qual é o seu real papel, levará a perder

tempo e, por fim, os resultados financeiros refletirão negativamente.

A presente pesquisa, em alinhamento com o defendido por Cocks (2010),

trabalha com o pressuposto de que a execução não é apenas decorrência natural,

consequência ou simples operacionalização do planejamento estratégico. Trata-se

aqui de entender como uma etapa fundamental, que compõe a gestão estratégica,

sofre inúmeras influências ambientais e comportamentais.

A combinação de infraestrutura, recursos financeiros, tecnologia,

compartilhamento e nivelamento de pensamento e valores nas equipes, habilidades

pessoais, competências necessárias, alocação das pessoas certas nos lugares

certos, entre outros, torna a execução mais complexa do que simplesmente colocar

a si um plano em prática.

Nessa questão em especial Gluck, Kaufman e Walleck (1980), questionam o

quem vem primeiro: a estratégia ou a estrutura. Essa questão também embasa a

afirmação de (HEIDI et al., 2002) de que para se implementar é necessário dispor de

recursos. Porém, o que é encontrado na literatura sobre o assunto e no aprendizado

por meio de estudos de caso é a ideia de que o grande desafio é fazer a gestão

estratégica, apesar de não possuir os recursos ótimos. Aliás, esses estudos trazem

relatos de sucesso em situações completamente adversas. Slater et al. (2010, p.2)

afirmam que “sucesso do negócio requer um ajuste entre a estratégia e arquitetura

organizacional”, avaliando se a organização detém a capacidade de desenvolver e

comercializar aquilo que se propõe.

A busca por ter equipes integradas nas quais é estabelecido o elo entre o que

foi planejado e a operacionalização da estratégia, mostra-se como outro, se não o

maior, desafio para obter a consolidação desejada e necessária para que todos

concordem que há uma estratégia comum a ser seguida (HREBINIAK, 2008).

Executar a estratégia de forma eficaz faz-se uma questão essencial da gestão

(HREBINIAK, 2008).

Repetindo a afirmação de Heide et al. (2002) ao reforçar que a formulação da

estratégia e sua execução de forma eficaz exigem a coordenação de múltiplos

atores e suas atividades, depara-se aqui com a identificação de dois grupos de

atores que merecem atenção aprofundada: os gestores de alto escalão e os

gestores operacionais, ou de linha, que fazem a ponte com as equipes. Esses dois

tipos de gestores necessitam de uma coalizão indispensável, mas complexa.

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O grande desafio nessa interação, que deve ser contínua, entre gestores de

alto escalão e gestores operacionais, concentra-se na ideia de que compromissos

sejam gerados, que a estratégia seja assimilada com os seus porquês e objetivos e

que responsabilidades sejam compartilhadas para que realmente decorra de um

objetivo pretendido para a materialização dos resultados projetados por meio de

uma estratégia bem elaborada e executada. Saber comunicar é mais do que

transmitir a mensagem, é também saber ouvir (BOSSIDY; CHARAN, 2005).

Segundo Savaneviciene e Stankeviciute (2011), a ponte feita pelos gerentes

de linha entre as equipes e o alto escalão pode proporcionar aprendizado com a

construção de ideias e feedbacks, no entanto, os mesmos autores ressaltam que a

estrutura e cultura organizacionais podem ser o empecilho para essa interação.

Ainda ao delimitar os obstáculos provenientes da estrutura, tem-se em

Besanko (2007, p.520) a ênfase na importância que deve se dar ao tema quando o

autor afirma que: “Uma estrutura apropriada provê os trabalhadores com as

informações, a coordenação e os incentivos necessários para implementar a

estratégia apropriadamente. [...] a estrutura segue a estratégia”.

Ocorre que, ainda segundo o mesmo autor, as estruturas podem levar a uma

distorção das informações que são relevantes por meio de suas hierarquias, pois

dependendo de como for o fluxo da comunicação dos tomadores de decisão de nível

mais baixo até a alta gerência pode ocorrer uma sistemática distorção. A

complexidade hierárquica traz dois problemas de imediato: a departamentalização e

a dificuldade de coordenação e controle das atividades (BESANKO, 2007).

Aqui se aborda a colocação do que foi planejado em ação, a execução. E

essa execução remete à ideia do fazer, ou seja, à prática. Encontra-se essa

abordagem com profundidade em Whittington (1996 e 2007) que traz um ponto de

vista sociológico sobre os desafios de se executar uma estratégia eficaz.

Whittington (2007) traz a estratégia como qualquer outra prática da

sociedade, capaz de ser estudada a partir de ângulos diferentes. O foco não é em

relação ao processo, mas, em sua maior parte, com seus desdobramentos e os

caminhos para realizar as estratégias, já que é algo que as pessoas fazem nas

sociedades. O autor ressalta que a estratégia tem várias facetas e que estas podem

ser estudadas de muitas maneiras, preocupando-se mais com a compreensão de

como as estratégias organizacionais são formuladas e implementadas e com os

processos de mudança estratégica.

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Whittington (2007) busca enfatizar que não é possível separar o processo e o

“resto” e que é imprescindível enxergar e identificar as armadilhas, as formas

inesperadas como as situações se apresentam, as ideias “traiçoeiras” e os

significados ocultos. O autor reforça que todas as minúcias da estratégia são

susceptíveis de ter um significado inesperado e que a estratégia implica uma

perspectiva mais ampla do que simplesmente processual. Necessita de uma visão

completa do “olho sociológico” para compreender conexões de estratégia, a sua

inserção, suas ironias, os seus problemas e, por fim, as suas mudanças e suas

continuidades (WHITTINGTON, 2007).

Na linha de pensamento de que executar estratégias vai além de um simples

processo mecânico por meio do uso de ferramentas analíticas, que envolve uma

gama de fatores intangíveis, tem-se no Balanced Scorecard (BSC) uma tentativa de

se aproximar do objetivo de atingir as intenções estratégicas.

O uso de ferramentas como o BSC traz entre seus objetivos os de reduzir as

falhas na comunicação top-down por meio de uma proposta de mudança de

mentalidade para formar times. Para que isso realmente seja efetivado é necessário

se ater à hierarquia estratégica. Em muitas organizações o pensar estrategicamente

fica limitado ao alto escalão, enquanto a média gerência e a base operacional,

intermedia e executa. Isso traz uma dicotomia que é amplamente aceita

(MINTZBERG, 2006), mas que tira das equipes a capacidade de identificar e de se

envolver realmente com os objetivos corporativos. Nessa mesma linha de

pensamento Mintzberg (2004, p.36) afirma:

[...] não existe estratégia “ótima”, calculada por meio de algum processo formal. As estratégias pretendidas não têm valor em e por si mesmas; elas só passam a ter valor quando pessoas empenhadas as enchem de energia [...] todo problema de implementação também é problema de formulação.

Outro aspecto a abordar na execução estratégica é a convivência ou não das

estratégias deliberadas e das estratégias emergentes. Um caminho para o sucesso

estratégico é o de diminuir a dicotomia entre formulação e execução, assim como

propiciar a convivência entre ações deliberadas e ações emergentes. Em Mintzberg

(2004, p.35), encontra-se a declaração:

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[...] a realização perfeita significa previsão brilhante, para não mencionar inflexibilidade, ao passo que a não realização sugere negligência. O mundo real envolve inevitavelmente pensar a frente e também uma certa adaptação durante o percurso [...] poucas estratégias podem ser puramente deliberadas [...] e poucas, puramente emergentes. Uma sugere aprendizado zero, a outra controle zero. Todas as estratégias do mundo real precisam misturar as duas [...].

Nessa mesma perspectiva de pensamento defendida por Mintzberg (2004 e

2006), considera-se aqui que a implementação ou execução estratégica é a

interpretação, priorização, alinhamento, adaptação e monitoração das estratégias

pretendidas e emergentes. Neilson, Martin e Powers (2008, p.1) ao afirmarem que:

“A estratégia brilhante pode colocá-lo no mapa competitivo, mas só a sólida

execução mantê-lo lá” e a pergunta levantada por Slater et al. (2010, p.22): "Será

que temos a arquitetura certa para a implementação da estratégia eficaz?" é tão

importante quanto: "Qual é a estratégia certa?". Questionamentos que muito

acrescem à abordagem do presente estudo.

Segundo Hrebiniak (2008, p.45):

A execução não é algo com que os outros devam se preocupar mais tarde. O planejamento exige prever com antecedência o que deve ser feito para fazer a estratégia funcionar. [...] A execução é complexa demais para ser abordada sem diretrizes ou sem uma estratégia.

A afirmação de Hrebiniak (2008) somada às anteriores reforça a necessidade

de focar a execução estratégica como parte integrante fundamental do processo de

planejamento estratégico e não como uma etapa subsequente.

Como se pôde notar, nesta seção foram apresentados assuntos considerados

relevantes e que sinalizam a necessidade de aprofundamento sobre o tema

execução estratégica. Na próxima seção estão elencadas as ferramentas utilizadas

no presente estudo, sob o título Metodologia, com o objetivo de aumentar esse

aprofundamento necessário.

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3 METODOLOGIA

Nesta seção são apresentados os métodos e procedimentos utilizados neste

estudo para subsidiar e aprofundar o tema execução estratégica.

Ao estudar conteúdos ligados à estratégia das organizações, o pesquisador

depara-se com a dificuldade de realizar pesquisas de campo por estar em pauta

conteúdos ligados às informações operacionais, financeiras, do próprio

posicionamento estratégico em si, concorrência, entre outros tópicos de caráter

sigiloso.

Em uma primeira etapa, após a definição dos objetivos do projeto, foi

efetuado levantamento em bancos de dados acadêmicos utilizando como termos-

chave em português e inglês: implementação, implementação estratégica, execução

e execução estratégica. Foram consultados: Thesaurus of ERIC descriptors, Google

Acadêmico, biblioteca PUC/SP e periódicos CAPES. Esse levantamento trouxe os

subsídios bibliográficos para a fundamentação teórica neste estudo.

Com base no fundamento teórico construído, foi possível fazer uma revisão

da literatura relacionada com o propósito do presente estudo e identificar as relações

com a questão da pesquisa que será qualitativa e se baseará em um estudo de caso

para subsidiar a análise das questões aqui levantadas por meio dos dados coletados

das entrevistas, além da análise de relatórios anuais da organização objeto de

estudo. O conjunto de procedimentos foi pré-especificado conforme protocolo

elaborado para a efetivação da pesquisa, por se tratar de requisito essencial para a

condução da mesma.

3.1 Estudo de caso como estratégia de investigação

A escolha do uso do estudo de caso, um dos diversos modos de se fazer uma

investigação empírica em ciências sociais como estratégia de investigação e

modalidade de pesquisa, é amplamente utilizada com diferentes propósitos, entre

eles o de relacionar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações

muito complexas que não possibilitam a identificação direta.

Segundo Creswell (2010), a abordagem qualitativa exploratória aplica-se a

estudos nos quais foram realizadas poucas pesquisas, em se tratando de tópicos

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novos com baixa amostragem. Yin (2001, p.18) afirma que uma das situações

indicadas para o uso de estudos de caso é a de utilizar estudos organizacionais e

gerenciais, nos quais se busca responder a questões sobre “como” e “por quê” e se

“examinam acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular

comportamentos relevantes”. “[…] os limites entre o fenômeno e o contexto não

estão claramente definidos”.

Ainda conforme Yin (2001, p.24) a mais importante aplicação para os estudos

de caso “é explicar os vínculos causais em intervenções da vida real que são

complexas demais para as estratégias experimentais”.

3.2 Limitações do método

Questionamentos recaem sobre a pesquisa qualitativa e, em especial, sobre o

estudo de caso. As principais indagações relacionam-se à confiabilidade, validade e

generalidade.

Com procedimentos diversos da pesquisa quantitativa, tanto validade quanto

confiabilidade constituem objeto de atenção na pesquisa qualitativa, sendo

alcançadas por meio de alguns procedimentos do pesquisador que busca,

principalmente, consistência (CRESWELL, 2010). Ainda segundo este autor, o

estudo de caso traz em sua construção o registro das etapas de projeto, coleta e

verificação de dados como estratégias de validade dentro da estratégia de pesquisa.

Isso pode propiciar ao pesquisador condição adequada para ser convincente sobre a

sua precisão.

Já a generalização não se mostra como o objetivo desse tipo de pesquisa que

busca responder a questões sobre “como” e “por quê” em um determinado contexto

(YIN, 2001). Porém, isso não significa que não possa haver uma generalização para

uma teoria mais ampla, principalmente quando se tratar de estudos de casos

múltiplos com uma replicação (YIN, 2001 e CRESWELL, 2010).

3.3 Protocolo da pesquisa

Para mitigar os questionamentos sobre a pesquisa qualitativa, relacionados à

confiabilidade, validade e generalização, foi utilizado o protocolo de pesquisa que

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contém os procedimentos adotados contendo a visão geral do estudo de caso, os

procedimentos de campo e as questões abordadas.

Segundo Yin (2001), a importância do protocolo dá-se pelo fato de ser um

instrumento capaz de fazer o pesquisador retomar o tema e de auxiliá-lo na

antecipação de problemas, tais como o público a ser pesquisado. Esses

procedimentos ajudam a evitar obstáculos que possam tornar-se insuperáveis e que

coloquem em risco toda a pesquisa desenvolvida.

3.3.1 Visão geral do estudo de caso

Identificar os fatores na execução estratégica que podem impactar sobre os

resultados organizacionais e entender os desafios que os gestores enfrentam ao

executar os planos estratégicos de modo que um planejamento bem estruturado

também seja bem executado e alcance os resultados propostos. Conforme

especificado na introdução do presente estudo, busca-se identificar por que

estratégias de qualidade, bem planejadas, nem sempre alcançam os resultados

esperados, identificando como e por que isso ocorre.

Na presente pesquisa tem-se como premissa básica a ideia de que as

organizações partem de estratégias para atingir seus objetivos e que em

determinadas situações incorrem em fracasso, sendo a seguinte a unidade de

análise ou problema da pesquisa: o que leva às divergências entre o planejado

estrategicamente e a execução desse planejamento.

O objeto do estudo de caso é a empresa Caixa Econômica Federal, uma

organização do setor financeiro de significativa representatividade nacional. A

escolha da organização foi dada por fatores como acessibilidade e utilização clara

de definições estratégicas estruturadas para o atingimento de objetivos. A empresa

também se mostrou muito acessível ao objeto da pesquisa, fato que não é comum

às organizações, por se tratar de assuntos estratégicos com elevado grau de sigilo.

Além dos fatores relacionados, a representatividade da empresa, o seu

tamanho, sua diversidade de atuação e, por consequência, a sua grande

complexidade trouxeram à expectativa de atingimento das respostas, procuradas a

despeito de se tratar de um estudo de caso único.

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Foi utilizado o procedimento de resposta a questionários previamente

elaborados e relatórios públicos da empresa. As pessoas entrevistadas foram

aquelas diretamente ligadas à gestão estratégica da organização e por ela

indicadas.

3.3.2 Perguntas da pesquisa

Conforme esclarecido anteriormente, a principal pergunta desta pesquisa

busca identificar quais são os obstáculos para alinhar o que foi planejado com o que

será executado para que os resultados projetados sejam atingidos ou até superados

e a estratégia não seja distorcida durante a execução.

Somam-se a essa pergunta outras que o presente estudo busca identificar

por meio da abordagem de quais fatores possam levar a divergências entre

resultados projetados e alcançados analisando as causas que possam afetar o

sucesso da execução do plano estratégico e a interação entre todos os atores do

processo, colocando em questão o sucesso da estratégia na prática.

3.3.3 Procedimentos de campo

Antes de iniciar qualquer procedimento para a coleta de dados, o projeto foi

submetido com a documentação, atendendo aos quesitos necessários do Comitê de

Ética – PUC/SP, via Plataforma Brasil, conforme o preconizado por meio da

Resolução CNS 466/12.

Em seguida, foi estruturado um questionário com perguntas em múltiplas

alternativas e algumas questões abertas.

Elaborou-se um questionário composto inicialmente por oito perguntas,

replicando a pesquisa de Hrebiniak (2008), que relaciona-se ao presente estudo, e

acrescentando outras perguntas alinhadas aos objetivos específicos da pesquisa.

Para essa elaboração, e já visando à distribuição dos questionários e a

acessibilidade aos respondentes, foi utilizada a ferramenta eletrônica Survey

Monkey®.

Quanto à estrutura do questionário, inicia-se com um parágrafo explicando a

motivação para o estudo. Nesse parágrafo foi mencionado que a pesquisa tratava-se

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de uma replicação dos estudos conduzidos por Hrebiniak (2008). Em seguida, foram

fornecidas instruções para o respondente, incluindo o TCLE (Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido) que está no Apêndice 1. Após essas duas

etapas, foram apresentadas as perguntas, conforme constam no Apêndice 2.

Foi solicitada ao representante da Caixa Econômica Federal a indicação das

pessoas relacionadas às decisões estratégicas em diferentes níveis hierárquicos.

Também se requisitou a informação de contato dessas pessoas indicadas.

A instituição sugeriu uma amostra de 1.000 respondentes em um universo de

97.000 empregados, dos quais 8.639 são ocupantes de cargos em gestão, em

diferentes níveis hierárquicos em todo o território nacional, com uma distribuição de

100 respondentes na matriz, 250 nas filiais e 650 na rede (agências e

superintendências).

A Caixa autorizou o envio das mensagens eletrônicas às pessoas

selecionadas orientando-as sobre o recebimento da pesquisa e os procedimentos

para respondê-la. Adotou-se uma estratégia de distribuição em lotes do questionário

por meio eletrônico, com posterior reenvio.

O envio dos questionários e a coleta de respostas ocorreram de 31/03/2016 a

03/05/2016. Como foi identificado um número de dezesseis mensagens que

retornaram sem efetivação da entrega aos destinatários após duas tentativas, optou-

se por ampliar a quantidade de questionários enviada de 1.000 para 1.020. Foram

obtidos 380 questionários respondidos.

Os dados estão referenciados na Tabela 1.

Tabela 1 - Distribuição de Questionários

POPULAÇÃO AMOSTRA ENVIADAS DEVOLV. RESPOSTAS % RESPOSTAS

TOTAL 8639 1000 1020 16 380 37,25

MATRIZ 1219 100 103 4 42 40,78

FILIAIS 3351 250 251 1 108 43,03

REDE 4069 650 666 11 230 34,53

Fonte: Elaborado pela autora.

No questionário apresentado, a Questão 9, na qual os respondentes eram

convidados a se identificar, não foi respondida em sua totalidade pelos participantes.

Isso gerou divergência entre os dados apresentados na Tabela 1 e no Gráfico 1.

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Gráfico 1 - Questionários finalizados por área

Fonte: Elaborado pela autora.

Os questionários foram respondidos de acordo com o que está demonstrado

nos Gráficos 2, 3 e 4.

Gráfico 2 - Coleta inicial de respostas

Fonte: Survey Monkey®.

Matriz 15%

Filial 29%

Rede 56%

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Gráfico 3 - Coleta final de respostas

Fonte: Survey Monkey®

Os questionários conforme o Apêndice 2 iniciavam com o esclarecimento

sobre o TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) em que, caso o

respondente não concordasse, era automaticamente encerrado. Apenas 9

respondentes foram enquadrados nessa situação, a qual pode ser visualizada no

Gráfico 4.

Gráfico 4 - Respondentes e concordância com TCLE

Fonte: Survey Monkey®

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Dessa forma, os procedimentos de campo foram concluídos com êxito, no

objetivo de coletar uma amostra significativa para embasar a pesquisa. A seguir,

foram relacionados os procedimentos de análise no tratamento desses dados.

3.3.4 Procedimentos de análise

Para que o estudo de caso atenda aos critérios de confiabilidade e validade

foi utilizada a ferramenta cálculo de amostra mínima necessária disponível no

próprio Survey Monkey®, em que são premissas: a margem de erro e o nível de

confiança.

Tendo em vista não ser viável coletar informações de todos os gestores da

Caixa (8639) que é o tamanho da população para o presente estudo, calculou-se a

amostra representativa dentro desse público-alvo. Para isso, foi definida uma

margem de erro de 5 %. Importante frisar que quanto menor for essa margem, torna-

se mais próxima a validade e o nível de confiança das respostas coletadas perante

os resultados.

Também se faz necessário estabelecer o nível de confiança, que para o

presente estudo foi de 95%. Quanto maior for esse percentual, maior o grau de

certeza que as respostas refletem a população.

A ferramenta utilizada Survey Monkey®, utiliza a seguinte equação para o

cálculo da amostra, onde N = tamanho da população, e = margem de erro, p = valor

percentual e z = z-score:

Tamanho da Amostra = _________________________

O z-score é o número de desvios padrões que uma determinada proporção

está de distância da media. É fornecido na própria ferramenta (Survey Monkey®,)

conforme Tabela 2:

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Tabela 2 - Cálculo da Amostra

Cálculo da Amostra

Nível de confiança desejado z-score

80% 1,28

85% 1,44

90% 1,65

95% 1,96

99% 2,58

Fonte: Survey Monkey®. Disponível em: https://pt.surveymonkey.com. Acesso em: 16 jul. 2016.

Com isso, chegou-se a uma mostra mínima necessária de 368

respondentes.

Após a coleta de dados, os mesmos foram tabulados e analisados,

relacionando com pesquisas realizadas sobre o tema em outras organizações,

conforme levantamento bibliográfico. Essa etapa buscou principalmente trazer

validade e confiabilidade a nossa pesquisa.

Foi realizada a triangulação de dados por meio das fontes de evidências

utilizadas no presente estudo, a saber:

1. Entrevistas com aplicação dos questionários que foram autopreenchidos;

2. Análise documental com base nos relatórios públicos anuais da

organização objeto de estudo;

3. Observação participante.

A seguir serão detalhadas as características da instituição objeto do estudo

de caso que embasa a presente pesquisa.

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4 ESTUDO DE CASO

Nesta seção, serão detalhadas as características da instituição objeto do

presente estudo de caso, sendo delineado seu porte, atuação, aspectos financeiros,

ratings 9 entre outras informações identificadas como importantes para que seja

possível ratificar a relação com a presente pesquisa.

4.1 Caixa Econômica Federal

A empresa, objeto de estudo, atua no mercado financeiro com representação

em todo o território nacional e também internacionalmente. Foi criada em 1861 e de

lá para cá passou por diversas transformações, não somente de nome, mas também

estruturais e relacionadas a maneiras de atuação, sempre como instrumento do

Governo Federal para a realização de políticas públicas.

Hoje, a Caixa, como é mais conhecida, tem uma posição consolidada no

mercado como um banco de grande porte.

A Caixa desenvolve suas atividades bancárias por meio da captação e

aplicação de recursos em diversas operações nas carteiras comerciais: de câmbio,

de crédito ao consumidor, de crédito imobiliário e rural; da prestação de serviços

bancários, incluindo a administração de fundos e carteiras de investimento, e de

natureza social, além de atividades complementares relacionadas à intermediação

de títulos e valores mobiliários a negócios com cartões de débito e crédito.

Atua também nos segmentos de seguros, previdência privada, capitalização e

administração de consórcios por intermédio de participações societárias na Caixa

Seguros Holding S/A, na Pan Seguros S/A e na Panamericano Administração e

Corretagem de Seguros e de Previdência Privada Ltda.

A instituição exerce papel fundamental na promoção do desenvolvimento

urbano e da justiça social do país; é o principal parceiro do Governo Federal na

promoção de políticas públicas, na execução dos programas de transferência de

renda e na implantação da política nacional de habitação. Sua atuação se estende

por diversas áreas, como habitação de interesse social, saneamento básico,

9 Rating = Classificação. (Tradução nossa.)

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infraestrutura, gestão ambiental, geração de trabalho e renda, desenvolvimento rural

e outras vinculadas ao desenvolvimento sustentável e direcionadas à melhoria da

qualidade de vida dos brasileiros, principalmente os de baixa renda.

Delegada pelo Governo Federal, a instituição exerce o papel de agente

operador de fundos e de programas sociais, dentre os quais se destacam: o Fundo

de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o Fundo de Compensação de Variações

Salariais (FCVS), o Programa de Integração Social (PIS), o Fundo de

Desenvolvimento Social (FDS), o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), o

Fundo Garantidor de Habitação Popular (FGHAB), dentre outros, e administra, em

caráter de exclusividade, os serviços das loterias federais, bem como exerce o

monopólio das operações de penhor cível, em caráter permanente e contínuo.

Os fundos e programas administrados são entidades jurídicas

independentes, geridas por regulamentação e estrutura de governança específicas e

possuem contabilidade própria.

Tem também forte atuação institucional como patrocinadora de atividades

artístico-culturais, educacionais e desportivas em todo o Brasil, incluindo o

paradesporto.

Todos os números da empresa são grandes. Conforme o Relatório da

Administração e Balanço de 2015, ela está presente em todo o território nacional

com 63,6 mil pontos de atendimento, inclusive, as “agências-barco” e “agências-

caminhão”, e dos quais 4,2 mil são agências físicas, além dos escritórios de

representação nos Estados Unidos, Japão e Venezuela. Tem 82,9 milhões de

clientes, dos quais 80,7 milhões são pessoas físicas e 2,2 milhões são pessoas

jurídicas. Conta com 97,5 mil empregados concursados além de 15,0 mil estagiários

e aprendizes. Alguns outros números:

R$62,7 bilhões de patrimônio líquido;

R$1,2 trilhão em ativos-Caixa;

R$ 2,0 trilhões em ativos administrados;

R$454,7,9 bilhões em depósitos;

63,8 milhões de contas;

R$679,5 bilhões em operações de crédito;

R$384,2 bilhões em crédito habitacional (67,2 em participação no

mercado);

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93

Lucro líquido de R$ 7,2 bilhões.

A Caixa é uma empresa 100% pública com 155 anos de existência com

personalidade jurídica de direito privado, vinculada ao Ministério da Fazenda.

Prioriza setores como habitação, saneamento básico, infraestrutura e prestação de

serviços. Possui a oitava marca mais valiosa do mercado, R$7 bilhões, segundo

estudo da Brand Finance realizado em parceria com a revista The Brander/ IAM e

publicado na edição anual das 100 marcas mais valiosas presentes no Brasil em

2010. Nas publicações da Global 500 de 2014 e de 2015, saltou para a quinta marca

brasileira mais valiosa e na publicação específica Banking 500 2016, da Brand

Finance, a Caixa está classificada como a terceira marca mais valiosa na América

do Sul. Além disso, tem diversos prêmios na área de gestão de ativos de terceiros,

entre outros, incluindo prêmios ligados à sustentabilidade ambiental,

responsabilidade social e gestão.

Segundo informações extraídas do site da instituição, a Fitch Ratings, agência

internacional de classificação de riscos, anunciou em determinado momento, a

elevação das notas da Caixa de "AA(bra)" para "AA+(bra)". No mesmo local consta a

informação que o rating atual Fitch é BBB, que outro rating, o Moody’s, é Baa2 e que

o S&P é BBB-. O rating de uma instituição financeira é uma medida que dá

indicações para o mercado operar e reflete, entre outras questões, a qualidade e a

eficiência na gestão do crédito e as práticas de governança corporativa adotadas

pela empresa.

A Caixa se utiliza de diversas ferramentas estratégicas, entre elas o BSC –

Balanced Scorecard desde 2011, já tratado no presente estudo e ilustrado na Figura

1, e o Mapa Estratégico. A empresa apresentou em 2012 um horizonte estratégico

de planejamento baseado na visão de tornar a CAIXA, que já é uma das maiores

instituições financeiras públicas da América Latina, em um dos três maiores bancos

do país até 2022, mantendo a liderança como agente de políticas públicas.

A empresa tem em sua estrutura equipes focadas no planejamento e

execução estratégicas com a estruturação de uma área Matriz com esse objetivo

exclusivo.

Na Figura 3, demonstra-se o organograma atual da Caixa extraído do site da

organização.

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Figura 3 - Organograma Caixa Econômica Federal

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95

Por questões de sigilo de informações não é possível apresentar aqui o Mapa

Estratégico da Caixa. Porém, na Figura 4, traz-se o modelo utilizado com base na

metodologia desenvolvida por Kaplan e Norton (2004).

Figura 4 - Modelo de Mapa Estratégico

Fonte: Kaplan e Norton (Strategy Maps, Harvard Business Press, 2004).

A Caixa utiliza como ferramenta para alinhar a avaliação de desempenho de

todas as suas áreas às definições estratégicas inseridas em seu Mapa, um sistema

denominado realize.caixa.

Essa ferramenta tem atualização diária e avaliação semestral e traz em suas

cartilhas que o objetivo principal, além desse alinhamento, é o de buscar a

sustentabilidade dos resultados com a qualificação dos negócios.

O sistema apresenta três pilares principais: Produção, Sustentabilidade e

Resultado Financeiro. Encontra-se no pilar Produção a especificação de que o que

se busca é o alinhamento entre planejamento e execução diária dos negócios.

A seguir serão relacionados os resultados apurados com a pesquisa junto à

instituição.

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4.2 Resultados

A análise de dados tem como objetivo examinar, categorizar e relacionar as

evidências conforme a proposta inicial da pesquisa.

Segundo Yin (2001, p.117): “Explicar um fenômeno significa estipular um

conjunto de elos causais em relação a ele [...]. Na maioria dos estudos, os elos

podem ser complexos e difíceis de se avaliar de uma maneira precisa”.

As respostas aos questionários foram classificadas por frequência, buscando

estabelecer as variáveis dependentes e independentes e, assim, as inferências

causais. O padrão buscado é o padrão causa-efeito que conforme Yin (2001) é uma

estratégia útil para estudos de casos exploratórios.

Soma-se a isso a triangulação dos dados entre referência teórica de estudos

de casos anteriores e os dados coletados por meio desta pesquisa.

No presente estudo foram utilizados: dados públicos, extraídos de relatórios

da instituição objeto do estudo de caso, questionários com questões abertas e

fechadas, de modo que fosse possível identificar e tabular por meio da percepção e

vivência dos entrevistados há obstáculos a serem superados na execução

estratégica e quais seriam de maneira a confirmar ou refutar a pesquisa realizada

por Hrebiniak (2006 e 2008).

A tabulação das respostas ocorreu com o prévio estabelecimento de

palavras-chave nas questões abertas para estabelecer qual o padrão existente. A

título de esclarecimento, fora utilizado nesses casos o princípio de análise Dummy

quando os dados são classificados conforme características qualitativas padrão e

são definidas variáveis binárias para as respostas possibilitando que elas fossem

aproveitadas para a análise estatística. Nas questões fechadas e usando a escala

Likert, que é uma escala de resposta psicométrica, as respostas foram classificadas

conforme a frequência da sua ocorrência.

Para uma análise e melhor validação dos dados foi utilizada a técnica

estatística de análise fatorial que apresenta como modalidades a exploratória e a

confirmatória. A análise fatorial confirmatória é utilizada para testar hipóteses. No

presente estudo foi utilizada a análise fatorial exploratória.

Conforme Figueiredo Filho e Silva Júnior (2010), a análise fatorial exploratória

estabelece a relação entre um conjunto de variáveis identificando padrões de

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97

correlação. Essa técnica auxilia em muito nas pesquisas em ciências sociais ao

buscar identificar e medir variáveis que não podem ser medidas diretamente, mas

nas quais é possível identificar os componentes principais que podem ser agrupados

em fatores (FIELD, 2009).

Ainda segundo Figueiredo Filho e Silva Júnior (2010), quanto ao tamanho da

amostra, deve ser essa superior a cinquenta observações, sendo aconselhável uma

amostra de, pelo menos, cem observações para trazer maior confiabilidade, o que

foi atendido na presente pesquisa.

A ferramenta utilizada para as análises estatísticas foi o software10 SPSS

Statistics com validação de dados por meio do KMO e o teste de esfericidade de

Bartlett. Também foi utilizada a rotação varimax.

Nos resultados apresentados sobre as trinta e quatro variáveis elencadas em

uma primeira análise, obteve-se um KMO de 0,793 que sendo superior a 0,5 é

considerado bom segundo Field (2009), e nível de significância inferior a 0,05, o que

é adequado. Nessa primeira rodada foram identificados dez componentes ou fatores

com Eigenvalue11 > 1 que explicariam 67,096% dos dados.

Como a variável Executar x Formular apresentou um MSA inferior a 0,5, ela

foi excluída e foi feita uma nova análise, agora com 33 variáveis, que resultou em

um KMO de 0,8 que segundo Field (2009) é considerado ótimo, o que gerou 9

componentes com Eigenvalue > 1 que explicam 65,372% dos dados. O nível de

significância manteve-se inferior a 0,05.

Como a quantidade de dados sob análise é significativa, foi alterada a

quantidade padrão do SPSS de iterações máximas para convergência de vinte e

cinco para trinta (FIELD, 2009).

Uma nova análise com trinta e duas variáveis fez-se necessária ao identificar

que a variável Conhecimento Mapa Estratégico apresentou MSA inferior a 0,5. Essa

Terceira rodada manteve nove componentes ou fatores com Eigenvalue > 1 que

explicam 66,131% dos dados. O nível de significância se manteve inferior a 0,05 e o

KMO subiu para 0,808.

As trinta e duas variáveis apresentaram comunalidade que é: “A quantidade

de variância em cada variável que pode ser explicada pelos fatores retidos […]”

(FIELD, 2009 p.582) superior a 0,5, o que é considerado bom.

10

Software = Sistema de processamento de dados. (Tradução nossa.) 11

Eigenvalue = Autoavaliador. (Tradução nossa.)

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98

Em uma nova rodada de análise foram definidos para extração nove fatores e

foram suprimidas as cargas fatorias inferiores a 0,4 que, conforme Field (2009),

trazem maior confiabilidade à análise. Os resultados estão demonstrados nas

Tabelas 3, 4, 5 e Gráfico 5.

Tabela 3 - Resultado Análise KMO e Bartlett’s

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. ,808

Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square 1960,406

df 496

Sig. ,000

Fonte: SPSS

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99

Tabela 4 - Comunalidades

Initial Extraction

Vaga 1,000 ,752

Sem diretrizes 1,000 ,787

Sem recursos financeiros 1,000 ,600

Conflitos de poder 1,000 ,665

Sem aprovação 1,000 ,616

Sem suporte 1,000 ,598

Sem pertencimento 1,000 ,690

Sem incentivos 1,000 ,684

Sem compartilhamento 1,000 ,742

Sem comunicação 1,000 ,721

Sem compreensão 1,000 ,656

Incapacidade de gerenciar

mudanças

1,000 ,622

Equipes multifuncionais 1,000 ,613

Comunicação informal 1,000 ,697

Integradores formais 1,000 ,679

Estrutura matricial 1,000 ,609

Relutância da equipe 1,000 ,588

Informações não confiáveis 1,000 ,561

Relutância dos gerentes 1,000 ,677

Sem informações 1,000 ,773

Incompreensão da utilidade 1,000 ,642

Demora nas decisões 1,000 ,646

Incompreensão de contribuições 1,000 ,689

Demora a respostas e aos

problemas

1,000 ,625

Lentidão de reação 1,000 ,702

Burocracia 1,000 ,759

Fazer política 1,000 ,648

Desaparecimento de informações 1,000 ,588

Refazendo 1,000 ,636

Incerteza sobre a estratégia 1,000 ,699

Conhecimento BSC 1,000 ,641

Importância das ferramentas 1,000 ,556

Fonte: SPSS

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100

Tabela 5 - Eigenvalues – Autovalores

Fonte: SPSS

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101

Gráfico 5 - Diagrama de Declividade

Fonte: SPSS

Com a seleção de variáveis que apresentaram cargas fatoriais superiores a

0,4 e a delimitação dos nove fatores foi gerada a matriz rotacionada em que é

possível relacionar quais variáveis compõem cada fator, conforme demonstrado na

Tabela 6.

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102

Tabela 6 - Matriz Rotacionada

Fonte: SPSS

Após a realização da análise fatorial foram calculados os Alphas de

Cronbach, que variam de 0 a 1 para cada fator, de modo a verificar a confiabilidade

da escala que, segundo Field (2009), entende-se quando o resultado fica entre 0,7 a

0,8, sendo a confiabilidade considerada como razoável. Abaixo de 0,7 a 0,6 pode ser

considerada como baixa a consistência interna da escala ou fraca. Tem-se como

exceção estudos de Ciências Sociais, como é o caso da presente pesquisa, que

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podem ser aceitos Alphas próximos a 0,60. Field (2009) acrescenta que amostras

maiores aceitam coeficientes de correlação menores.

Resultados Alphas de Cronbach entre 0,8 e 0,9 são considerados bons,

porém, quando muito superiores a 0,9 devem ser analisados com maior atenção,

pois podem indicar que há redundâncias e assim variáveis devem ser excluídas por

estarem medindo os mesmos elementos (FIELD, 2009).

Embora seja padrão que cálculo do Alpha de Cronbach utilizem-se, no

máximo, dez variáveis, no caso do fator 1 foram feitos dois cálculos. O primeiro com

as onze variáveis relacionadas na matriz rotacionada, o que gerou um resultado de

0,918 e, em seguida, foi feito um novo cálculo com dez variáveis, excluindo a

questão “sem aprovação” que apresenta a menor carga fatorial, obtendo-se um

Alpha de Cronbach de 0,917.

Não foi possível determinar o Alpha de Cronbach para os fatores 6 e 9, pois

ambos são compostos por uma única variável cada. Todos os resultados obtidos

estão demonstrados na Tabela 7.

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Tabela 7 - Análise Fatorial e Análise de Confiabilidade

Fonte: Elaborado pela autora.

Com os resultados obtidos há sete fatores com análises completas: 1, 2, 3, 4,

5, 7 e 8. Contudo, pelo baixo índice de confiabilidade do fator 7 (0,387), e também

por tratar de questões que não são primordiais para o estudo, tal fator não será

abordado para as conclusões da presente pesquisa.

A partir deste ponto os seis fatores restantes foram nomeados pela sua

aderência às variáveis que os compõem, de modo que a compreensão dos

resultados da pesquisa seja mais efetiva. A nomeação dos fatores está demonstrada

conforme Tabela 8.

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Tabela 8 - Nomeação dos Fatores

Fonte: Elaborado pela autora.

Por fim, das trinta e quatro variáveis iniciais restaram vinte e oito com maior

significância e que serão abordadas em relação aos fatores que impactam no

presente estudo.

Dos dados coletados por meio da aplicação dos 1020 questionários, obteve-

se 380 que foram respondidos e apresentaram os perfis conforme dados

demográficos demonstrados nos Gráficos 6 e 7.

Gráfico 6 - Perfil dos Respondentes – Tempo de Atuação – Caixa

Fonte: Elaborado pela autora.

Acima 26 anos 41%

De 16 a 25 anos 4%

De 6 a 15 anos 49%

Até 5 anos 6%

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Por se tratar de uma Empresa Pública cuja admissão em seu quadro de

empregados é única e exclusivamente por concurso público, a Caixa apresenta

como característica um tempo de permanência longo, normalmente com os seus

empregados sendo admitidos ainda no início da vida profissional e permanecendo

até a aposentadoria, conforme é possível identificar no Gráfico 6.

A carreira dentro da Caixa também obedece a critérios específicos e a

progressão ocorre conforme o atingimento desses critérios e aprovação em

processos seletivos internos.

Gráfico 7 - Perfil dos Respondentes – Tempo de Atuação – Gestor Caixa

Fonte: Elaborado pela autora.

Os entrevistados responderam a seis questões que abordavam o tema

execução e seus obstáculos, sob a perspectiva de ser Gestor Caixa com as

particularidades que a instituição impõe sendo uma Empresa Pública com

dimensões elevadas em seus negócios e área de atuação.

Uma dessas questões perguntava se o respondente concordava ou não que

executar uma estratégia mostra-se algo mais desafiador do que formulá-la. Com a

aquiesciência de 85% dos respondentes indicou-se que há uma dificuldade maior

em colocar os planos em prática do que formulá-los. As respostas estão

apresentadas no Gráfico 8.

Acima 26 anos 7%

De 16 a 25 anos 19%

De 6 a 15 anos 30%

Até 5 anos 44%

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Gráfico 8 - Executar vesus Formular

Fonte: Elaborado pela autora.

Na Questão 2 foram relacionados os doze obstáculos para uma execução

bem-sucedida da estratégia, mencionados nas pesquisas de Hrebiniak (2006 e

2008). E foi solicitado aos respondentes que identificassem na Caixa a relevância

desses mesmos obstáculos variando a pontuação entre “não ser um problema” até a

“ser um grande problema”. As respostas obtidas estão apresentadas nos Gráficos 9

e 10.

Gráfico 9 - Obstáculos à Execução

Fonte: Survey Monkey®

Concordo 85%

Concordo Parcialmente

5%

Discordo 10%

Discordo Parcialmente

0%

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Gráfico 10 - Ranking Obstáculos à Execução

Fonte: Elaborado pela autora.

Ao comparar os dados obtidos por Hrebiniak (2006 e 2008) demonstrados no

Quadro 5 com o Gráfico 10, percebe-se que o nível de impacto dos itens

considerados como de maiores obstáculos nas pesquisas do autor não repercute da

mesma maneira no presente estudo de caso como relacionado no Quadro 7. Na

Caixa a falta de suporte ganha destaque na pesquisa estando entre os cinco

obstáculos mais significativos.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Estratégia vaga ou insatisfatória.

Não ter diretrizes ou um modelo para orientar…

Tentar executar uma estratégia que entra em…

Comunicação pouco clara da…

Falta de suporte da administração superior à…

Compartilhamento insatisfatório ou inapropriado.

Incapacidade de gerenciar mudanças de…

Falta de sentimentos de "pertença" de uma…

Recursos financeiros insuficientes para…

Falta de compreensão da função da estrutura…

Incapacidade de gerar "compras internas" ou…

Falta de incentivos ou incentivos…

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109

Quadro 7 – Comparação – Obstáculos à Execução

12 Obstáculos Selecionados Hrebiniak (2006 e 2008)

Os 8 Principais Obstáculos Indicados segundo Hrebiniak (2006 e 2008)

Os 8 Principais Obstáculos Indicados segundo Gestores Caixa

Os 5 Principais Obstáculos segundo Hrebiniak (2006 e 2008)

Os 5 Principais Obstáculos segundo Gestores Caixa

Pesquisa 1 Pesquisa 2

Incapacidade de gerenciar a mudança efetivamente ou superar a resistência interna à mudança

✔ ✔ 1 1

Tentar executar uma estratégia que entre em conflito com a estrutura existente de poder

✔ 5 2 3

Compartilhamento deficiente ou inadequado de informações entre as pessoas ou unidades de negócios responsáveis pela execução da estratégia

✔ ✔ 4 2

Comunicação confusa de responsabilidade e/ou obrigação para decisões ou ações de execução

✔ ✔ 5 4 4

Estratégia vaga ou deficiente

✔ ✔ 2 5 1

Falta de sentimentos de “pertença” de uma estratégia ou de planos de execução entre os principais funcionários

✔ ✔

Não ter orientações ou um modelo para orientar os esforços de execução da estratégia

✔ ✔ 2 2

Falta de entendimento da função da estrutura e do projeto organizacionais no processo de execução

Incapacidade de gerar “convicção” ou acordos sobre as etapas ou ações de execução

Falta de incentivos ou incentivos inadequados para dar suporte aos objetivos de execução

Recursos financeiros insuficientes para executar a estratégia

Falta de suporte para a execução da estratégia por parte da alta administração

✔ 5

Fonte: Elaborado pela autora.

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As conclusões extraídas e demonstradas no Gráfico 10 e Quadro 7 se

relacionam com o fator Obstáculos à Execução (fator 1) construído após as análises

das correlações das variáveis que compuseram o questionário. Vale destacar que

nesse fator a variável de maior destaque é a relacionada à falta de comunicação.

A divergência entre o que é apontado no Gráfico 10 como maior obstáculo,

estratégia vaga, e o apurado na análise de fatores, comunicação, deve-se ao fato de

serem construídos de modos diversos, porém, sem perder a confiabilidade dos

resultados. Nesse fator está inclusa a variável falta de suporte já apontada como

obstáculo importante.

Na Questão 5 foram replicados os fatores que levam a um diagnóstico de que

a execução está em um desvio estratégico. O item que obteve uma maior indicação

foi o de que “gasta-se muito tempo ou dinheiro devido à ineficiência ou burocracia no

processo de execução”, conforme Gráfico 11.

Gráfico 11 - Indicativos de que há problemas na execução

Fonte: Elaborado pela autora.

Esse resultado está relacionado ao fator 4, denominado Indicadores de

Problemas, que é composto por variáveis que ganham destaque na pesquisa como

o “fazer política” e o “refazendo”, ambos apontados pelos respondentes como

impactantes. Essa análise pode ser constada no Gráfico 12.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Gasta-se muito tempo ou dinheiro devido `a…

As decisões referentes `a execução…

A empresa reage com lentidão ou…

Os funcionários não entendem como o…

Gastamos muito tempo reorganizando ou…

As respostas aos problemas ou às…

"Fazer política é mais importante do que o…

Informações importantes "desaparecem"…

Não temos certezas se a estratégia que…

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111

Na Questão 8 buscou-se acrescer os obstáculos à execução, previamente

relacionados. Indicar quais deles seriam os existentes no ambiente Caixa por suas

peculiaridades de origem e tamanho. Os resultados estão demonstrados no Gráfico

12.

Gráfico 12 - Obstáculos à Execução na Caixa

Fonte: Elaborado pela autora.

Vale esclarecer que foram 209 respondentes com 245 indicações de

obstáculos, ou seja, mais de um por respondente. Indicações em que o fator

“comunicação” ganhou maior destaque, referendando o resultado já apontado como

grande obstáculo à execução estratégica na Caixa. Pode-se inferir que tanto o

obstáculo “comunicação” quanto o “falta ou multiplicidade de foco”, que também

apresenta quantidade significativa de apontamentos, tem relação com o porte da

instituição, sua imensa abrangência e a grande diversidade em seu portfólio.

A Questão 4 abordou como obstáculo de elevado impacto para a execução

estratégica os fatores ligados à comunicação. Essa indicação é apontada nas

pesquisas de Devlin (1989), Beer e Eisenstat (2000), Heide et al. (2002), Mankins e

Steele (2005), Kaplan e Norton (2006), Besanko (2007), Hrebiniak (2006 e 2008),

Cocks (2010) entre outros autores.

Comunicação 18% Cultura

Organizacional 4%

Descontinuidade 7%

Estrutura 13%

Falta ou Multiplicidade

de Foco 11%

Interferências Externas

9%

Pessoas 16%

Processos/Burocracia 10%

Reconhecimento 3%

Sistemas 9%

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112

Destacando Hrebiniak (2006, p.284 e 2008), que é categórico ao afirmar que

se mostra indispensável a uma execução eficaz o desenvolvimento de um “plano de

comunicação”, no qual a mesma pode ocorrer individualmente ou em grupos. O

autor enfatiza a necessidade de “silenciar rumores” sobre fontes de informações que

não condizem à realidade, sob pena de insucesso. Hrebiniak (2006, p.284) declara:

“Comunicação nunca é demais quando se administra a mudança de cultura”.

Na Caixa esse assunto ganha especial destaque, como apontado no Gráfico

12 e confirmado no Gráfico 13, além de ser mostrado no fator 2, denominado

Informação.

Gráfico 13 - Comunicação – O maior obstáculo

Fonte: Elaborado pela autora.

A instituição adota o BSC, que tem entre as suas premissas, mitigar os

problemas causados pela falta de comunicação e alinhamento. Contudo, pela

elevada quantidade de apontamentos que esse fator recebeu, pode-se concluir que

ainda há lacunas a resolver.

Os respondentes puderam identificar possíveis soluções para superar os

obstáculos da comunicação na execução estratégica conforme Gráfico 14 e que se

relacionam com o fator 3: Métodos de Compartilhamento.

0 10 20 30 40 50 60

As informações não conseguem chegarnas pessoas que precisam delas.

Algumas fontes de informações não sãoconfiáveis.

Os funcionários não conseguem entenderou avaliar a utilidade das informações

disponíveis.

Os gerentes estão relutantes em confiarem informações geradas de fontes

externas.

Os funcionários estão relutantes emcompartilhar informações importantesou conhecimento com outras pessoas.

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Gráfico 14 - Comunicação – Soluções

Fonte: Elaborado pela autora.

Não foi possível identificar se os respondentes detinham conhecimento

suficiente para diferenciar os conceitos de organização matricial, grade ou ainda o

funcionamento de equipes multifuncionais. Fica, portanto, como indicação para uma

pesquisa seguinte um maior detalhamento desses fatores. Mesmo assim, fica claro,

por meio dos dados extraídos e apontados nos Gráficos 12, 13 e 14 que a

comunicação é um obstáculo importante a ser superado e que o apontamento de

equipes multifuncionais como solução vem como consequência de que a instituição

objeto do estudo, por suas elevadas dimensões estruturais, encontra dificuldades

nesse quesito de modo destacado.

A Caixa utiliza como principal ferramenta para a execução, alinhamento e

acompanhamento estratégico, o BSC – Balanced Scorecard e o Mapa Estratégico.

O presente estudo buscou identificar se essas ferramentas são de domínio dos

gestores e o quanto elas auxiliam de modo eficaz na execução estratégica e na

superação dos obstáculos de comunicação. Os resultados são apontados nos

Gráficos 15 e 16.

0 20 40 60 80 100 120

Usar as equipes ou gruposmultifuncionais.

Usar integradores formais (por exemplo,uma organização de gerenciamento deprojetos ou de garantia de qualidade)

Usar comunicação informal.

Usar uma organização matricial ou umaestrutura de "grade" para compartilhar

recursos ou conhecimento.

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Gráfico 15 - Conhecimento BSC e Mapa Estratégico na Caixa

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 16 - Aplicabilidade do BSC e Mapa Estratégico na Caixa

Fonte: Elaborado pela autora.

As respostas apresentadas demonstram que as ferramentas BSC e Mapa

Estratégico são de conhecimento geral, mas não apresentam unanimidade em sua

utilização. A despeito de ampla divulgação, inclusive com a obrigatoriedade de

afixação do Mapa Estratégico em todas as unidades entre outras ações de

divulgação com o objetivo de que seja acessível a todos os colaboradores, percebe-

se que em alguns casos, na percepção extraída de algumas respostas, “não passam

de um quadro na parede”.

BSC - Balanced Scorecard

54%

Mapa Estratégico

46%

Auxiliam 76%

Não Auxiliam 16%

Desconhece 8%

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Por fim, vale identificar o perfil dos respondentes com o objetivo de trazer

confiabilidade ao presente estudo. O Gráfico 17 aborda essa segmentação,

lembrando que os dados apresentados se referem apenas aos respondentes que se

identificaram, o que não representa a totalidade da amostra.

Também é importante esclarecer que os grupos foram classificados por raiz

de cargo, mas apresentam uma abrangência maior. Exemplificando ao identificar um

gestor como Gerente, o mesmo pode ser desde um Gerente de Atendimento que

atua em agência dos mais diferentes portes, até um Gerente Regional, com atuação

em Superintendências, ou ainda um Gerente Nacional, que atua na Matriz. Da

mesma forma ao identificar um Superintendente, pode-se referir a um

Superintendente Regional ou Nacional.

Mesmo com tamanha diversidade, o grupo se mostra aderente à pesquisa por

se tratar de gestores que, com maior ou menor abrangência, tem como objetivo

executar as estratégias.

Gráfico 17 - Participação por Cargos

Fonte: Elaborado pela autora.

Com a análise dos resultados obtidos por meio da aplicação dos

questionários, identifica-se que a Caixa apresenta obstáculos à execução de sua

estratégia como tantas outras organizações em diferentes localidades, mas que, por

suas especificidades, enfrenta situações que ganham maior destaque.

Supervisores 23%

Superintendentes 14%

Coordenadores 10%

Gerentes 53%

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116

Para ilustrar, pode-se destacar igualmente os fatores 5 e 8 denominados,

respectivamente, como “Desvantagem Competitiva” e “Entraves”, que são

compostos por variáveis importantes, como lentidão e burocracia, também

destacadas no Gráfico 12.

Desta forma foram esmiuçadas as questões contidas na presente pesquisa

de modo a construir um diagnóstico sobre o tema aplicado à instituição objeto de

análise. A seguir serão traçadas as conclusões finais deste trabalho, mas que de

modo algum têm a condição de esgotar o assunto.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente dissertação teve como objetivo identificar por que estratégias de

qualidade, bem planejadas, nem sempre alcançam os resultados esperados

apresentando divergências entre o que foi planejado e o que foi executado. Buscou-

se identificar fatores que interferem na execução estratégica e no alinhamento

necessário entre o que se planeja e o que é executado. A relevância do tema, além

de contribuir para a construção do conhecimento, traz a abordagem de um assunto

essencial para as organizações, independente de tamanho e representatividade, a

fim de que perdurem suas existências.

Campbell e Alexander (1996) abordaram a relação entre estratégia e objetivos

ao ressaltar a importância de que os propósitos sejam claros, específicos e

detalhados para aumentar as chances de sucesso de uma estratégia, enfatizando

que tanto objetivos quanto estratégia são inter-relacionados de maneira

interdependente, sem necessariamente acontecerem de maneira sequenciada, mas

simultaneamente. Hrebiniak (2006, p.30) sustenta a importância da execução da

estratégia e essa interdependência ao afirmar que: “A execução é um processo, e

não uma ação ou uma etapa”.

A interdependência entre formular e executar foi bastante abordada no

presente estudo que traz a conclusão de que ambas têm o mesmo nível de

importância, possuem características específicas de nível de dificuldade e que

menosprezar uma ou outra aumenta a probabilidade de erro. Hrebiniak (2008, p.41)

afirma: “A execução não pode ocorrer até que alguém tenha algo para executar”.

Como método de investigação, foi utilizada a realização de um estudo de

caso junto a uma instituição financeira com grande representatividade nacional e

internacional. O estudo de caso, enquanto método de pesquisa, possibilitou replicar

as pesquisas de Hrebiniak (2006 e 2008) permitindo identificar, por meio dos

resultados das três pesquisas – duas de Hrebiniak (2006 e 2008) mais o estudo de

caso–, que os fatores de interferência eleitos pelos gestores na execução

estratégica são impactados pelas diferenças ambientais. Mesmo sendo uma

ferramenta questionável quanto à confiabilidade, validade e generalização, no

presente estudo atingiu-se uma representatividade significativa por meio da

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quantidade de respondentes que finalizaram os questionários trazendo-nos

informações substanciais.

Os estudos de Hrebiniak (2006 e 2008) que foram replicados no presente

estudo de caso identificaram que é necessário compreender como a criação da

estratégia afeta a execução e que esta envolve a necessidade de mudanças

culturais profundas, caso não exista uma disciplina para executar, e que essas

mudanças precisam ser apoiadas, desenvolvidas e gerenciadas para que propiciem

a adaptação das capacidades conforme mudam as estratégicas.

Além disso, Hrebiniak (2008) enfatizou, assim como outros autores presentes

neste texto, que é necessário às estruturas organizacionais apoiarem a execução,

estimulando o compartilhamento de informações, “levando” clareza de

responsabilidades e sentido de realização aos seus componentes, sob pena de

insucesso.

Vale destacar que ao comparar as pesquisas de Hrebiniak (2006 e 2008) e os

resultados obtidos no estudo de caso, os cinco fatores elencados como de maior

impacto na execução estratégica apresentam significativa diferença.

Nas duas pesquisas junto às organizações abordadas pelo autor, o maior

obstáculo apontado é a incapacidade de gerenciar mudança. Já na Caixa o grande

obstáculo apontado, dentre os relacionados por Hrebiniak (2006 e 2008), foi o

denominado estratégia vaga ou deficiente.

Esse fator tão significativo para os gestores Caixa mostrou-se menos

preocupante para os pesquisadores internacionais que apontaram esse obstáculo

como o quinto mais importante em uma das pesquisas. Outro fator, a falta de

suporte para a execução, foi fortemente apontado no estudo de caso e não mereceu

relevância nas pesquisas de Hrebiniak (2006 e 2008).

Pode-se concluir, como já dito, que fatores ambientais têm forte interferência.

A Caixa como empresa pública brasileira e agente de políticas públicas, sofre forte

impacto das questões político-econômicas nacionais. Esse fator foi

significativamente apontado na questão oito que abordava especificamente os

obstáculos à execução na Caixa.

Traz-se aqui, sob a fundamentação dos autores presentes neste estudo e por

meio dos resultados coletados junto à instituição objeto do estudo, a ideia de que

para que haja uma execução eficaz é necessário existir: estrutura adequada, apoio,

clareza de diretrizes e papéis, o desenvolvimento e manutenção de mecanismos

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efetivos de controle e feedback e que a cultura da execução passe obrigatoriamente

por uma liderança com viés para a execução.

A instituição, objeto do presente estudo de caso, utiliza como principais

ferramentas estratégicas o BSC (Balanced Scorecard) e o Mapa Estratégico, ambas

ferramentas que relacionam causa e efeito e que não focam apenas as dimensões

financeiras, já que não são somente estas as responsáveis por uma execução

estratégica eficaz.

Segundo Kaplan e Norton (2006) o uso do BSC possibilita a realização de

trade-offs mais efetivos ao administrar os recursos que sempre se mostram

escassos nas organizações, tais como os humanos, logísticos, financeiros, entre

outros, identificando quais são os reais pontos de atenção na execução estratégica.

Atkinson (2006) reforça os trabalhos dos pesquisadores que abordam a

importância da execução estratégica e a relação com o BSC para atingir esse

objetivo de modo eficaz, afirmando que o BSC possibilita auxiliar na superação de

obstáculos à execução como comunicação, papel dos gestores e integração. No

presente estudo identificou-se que a ferramenta BSC é de amplo conhecimento dos

gestores da instituição objeto da pesquisa, porém, ainda se mostra aquém de uma

ampla aderência e utilização em sua totalidade por eles.

Vale destacar que não se mostra possível ser totalmente categórico ao indicar

os fatores impactantes para que uma estratégia seja eficazmente executada e atinja

os resultados projetados, mas ao realizar as análises da presente pesquisa, é

possível afirmar que: Comunicação, Alinhamento, Cultura Organizacional,

Complexidade, Recursos e Revisão sobressaíram-se tanto na abordagem dos mais

de vinte e cinco autores que compuseram a fundamentação teórica, quanto nos

resultados extraídos por meio do estudo de caso. Destes fatores, a comunicação foi

a que mais se destacou, sendo a sua ausência ou existência confusa, uma das

grandes responsáveis pelos obstáculos a uma execução efetiva.

Especificamente na Caixa, ao identificar junto aos seus gestores o maior

obstáculo à execução na instituição, a comunicação ganhou o maior destaque. O

que traz alinhamento ao mencionado pelos mesmos gestores que apontaram

estratégia vaga ou deficiente como o maior obstáculo organizacional dentre os

relacionados por Hrebiniak (2006 e 2008), já que uma estratégia pode ser

considerada “vaga” como consequência de uma comunicação falha.

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Nenhuma pesquisa pode se dar como satisfeita e encerrada. Os estudos

geram outras pesquisas, e com estratégia não é diferente. Os obstáculos a uma

execução estratégica eficaz não estão totalmente delimitados e se mostram

interdependentes. Não há um modelo que garanta uma formulação e execução

infalíveis. Porém, é um bom indicativo o aumento de pesquisas nesse sentido, o que

denota uma compreensão de que apenas formular não é suficiente e que executar

não é uma simples consequência ou desdobramento, sendo a Gestão Estratégica

um processo contínuo com altas relações de interdependência.

Por fim, mostra-se claro que é necessário ter pensamento crítico e visão

sistêmica, sem os quais não se poderá formular e tampouco executar uma estratégia

que, por sua vez, não pode ser representada simplesmente por uma lista de

objetivos e metas ou ainda palavras de ordem motivacionais, principalmente porque

em concordância com Rumelt (2011), estratégia, como competência em concentrar

ações e recursos, significa fazer escolhas.

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APÊNDICE 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Sr(a). está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da

pesquisa “Planejamento e Execução de Estratégias: Um estudo sobre as

divergências no processo.” Neste estudo pretende-se identificar que fatores

influenciam em possíveis distorções entre as estratégias planejadas, as

implementadas e os resultados alcançados.

O motivo que nos leva a estudar é o fato do tema ainda apresentar pouca

abordagem, a despeito de ser relevante para as organizações.

Para este estudo adotaremos os seguintes procedimentos entrevista previa

por meio de formulário e posterior complementação com entrevista pessoal, se for o

caso. Tal procedimento não apresenta riscos.

Para participar deste estudo você não terá nenhum custo, nem receberá

qualquer vantagem financeira. Você será esclarecido (a) sobre o estudo em

qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-se a participar.

Poderá retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer

momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará

qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido pelo pesquisador.

O pesquisador irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo.

Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu

nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua

permissão.

O(A) Sr(a). não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar

deste estudo.

Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que

uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável, na PUC/SP e a outra será

fornecida a você.

Caso haja danos decorrentes dos riscos previstos, o pesquisador assumirá a

responsabilidade pelos mesmos.

Eu fui informado (a) dos objetivos do estudo “Planejamento e Execução de

Estratégias: Um estudo sobre as divergências no processo”, de maneira clara e

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detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar

novas informações e modificar minha decisão de participar se assim o desejar.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste

termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e

esclarecer as minhas dúvidas.

São Paulo, _________ de __________________________ de .

Nome Assinatura participante Nome Assinatura pesquisador

Nome Assinatura testemunha

Pesquisador Responsável: Ana Valeria Barbosa da Silva

Endereço: Rua Deputado Bady Bassit nr 456

CEP: 05517-050 – São Paulo – SP

Fone: (11) 981226283 E-mail: [email protected]

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APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO

Agradecemos por participar do nosso questionário. Seu feedback é muito

importante e será utilizado para elaboração de um estudo de caso integrante de uma

dissertação de mestrado.

As perguntas a seguir são compostas em parte por uma reprodução de

pesquisas realizadas junto a centenas de gestores americanos pela Wharton

School da Universidade da Pensilvânia que é uma escola de administração norte-

americana, conhecida tanto pelo seu rigor acadêmico quanto por ser a mais antiga

escola de administração do mundo; e também por perguntas elaboradas pela autora

da dissertação. A pesquisa nos E.U.A. foi conduzida pelo Profº Dr. Lawrence G.

Hrebiniak que é professor emérito na mesma universidade.

O objetivo da pesquisa é buscar entender os desafios que os gestores

enfrentam ao executar os planos estratégicos e melhorar a vantagem competitiva de

suas organizações. Como aqui trataremos especificamente da Caixa Econômica

Federal, as perguntas aqui se reportam aos objetivos Empresariais Caixa

representados no Mapa Estratégico da Caixa (caixas azuis), elaborado com

base na metodologia do Balanced Scorecard (BSC ).

A pesquisa levará alguns minutos para ser realizada. Você faz parte de um

grupo selecionado e suas respostas são confidenciais. Caso tenha qualquer

dificuldade para responder, por favor entre em contato no e-mail

[email protected] ou no telefone 011 981226283.

Muito obrigado pela sua participação.

Questão 1:

Está de acordo com os termos acima? Ao clicar em Sim, estará concordando

que está disposto a responder as perguntas deste questionário.

Sim.

Não.

Questão 2:

Identificamos doze obstáculos ou dificuldades para uma execução bem-

sucedida da estratégia. Na sua experiência, que proporção assume cada um dos

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problemas apresentados a seguir para a sua empresa? Use uma escala de sete

pontos, onde 1 indica de forma alguma um problema e 7 indica um grande problema.

1. Estratégia vaga ou insatisfatória.

2. Não ter diretrizes ou um modelo para orientar os esforços de execução da

estratégia.

3. Recursos financeiros insuficientes para executar a estratégia.

4. Tentar executar uma estratégia que entra em conflito com a atual estrutura de

poder.

5. Incapacidade de gerar "compras internas" ou consentimento sobre etapas ou

ações importantes para a execução.

6. Falta de suporte da administração superior à execução da estratégia.

7. Falta de sentimentos de "pertença" de uma estratégia ou de planos de

execução entre os principais funcionários.

8. Falta de incentivos ou incentivos inapropriados para apoiar os objetivos da

execução.

9. Compartilhamento insatisfatório ou inapropriado das informações entre os

indivíduos ou entre as unidades de negócios responsáveis para a execução

da estratégia.

10. Comunicação pouco clara da responsabilidade para as decisões ou ações da

execução.

11. Falta de compreensão da função da estrutura organizacional e do projeto no

processo de execução.

12. Incapacidade de gerenciar mudanças de forma eficaz ou superar resistência

interna à mudança.

Questão 3:

A execução da estratégia exige compartilhamento de informações e

coordenação.

Classifique a eficácia dos seguintes métodos de coordenação para a

execução da estratégia entre as funções, as unidades de negócios e a equipe

principal dentro da sua empresa. Use uma escala de sete pontos, onde 1 indica

totalmente ineficaz e 7 indica altamente eficaz.

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1. Usar as equipes ou grupos multifuncionais.

2. Usar comunicação informal (por exemplo, contato de pessoa para pessoa).

3. Usar integradores formais (por exemplo, uma organização de gerenciamento

de projetos ou de garantia de qualidade)

4. Usar uma organização matricial ou uma estrutura de "grade" para

compartilhar recursos ou conhecimento.

Questão 4:

Com base nas suas percepções de conhecimento e compartilhamento de

informações dentro da sua empresa durante a execução da estratégia, indique até

que ponto você concorda ou discorda das seguintes afirmações. Use uma escala de

sete pontos, onde 1 indica discordo totalmente e 7 indica concordo plenamente.

1. Os funcionários estão relutantes em compartilhar informações importantes ou

conhecimento com outras pessoas.

2. Algumas fontes de informações não são confiáveis.

3. Os gerentes estão relutantes em confiar em informações geradas de fontes

externas aos seus próprios departamentos.

4. As informações não conseguem chegar nas pessoas que precisam delas.

5. Os funcionários não conseguem entender ou avaliar a utilidade das

informações disponíveis.

Questão 5:

Sei que há problemas com a execução da estratégia na empresa em que

trabalho quando...

1. As decisões referentes à execução demoram muito tempo para serem

tomadas.

2. Os funcionários não entendem como o trabalho que fazem contribui para

resultados importantes da execução.

3. As respostas aos problemas ou às reclamações dos clientes demoram muito

para serem executadas.

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4. A empresa reage com lentidão ou inadequação às pressões competitivas

durante a execução da estratégia.

5. Gasta-se muito tempo ou dinheiro devido à ineficiência ou burocracia no

processo de execução

6. "Fazer política é mais importante do que o desempenho em relação às metas

de execução da estratégia para obter reconhecimento individual.”

7. Informações importantes "desaparecem" durante a execução e não recebem

a reação apropriada.

8. Gastamos muito tempo reorganizando ou reestruturando, mas parecemos

desconhecer por que isso é importante para a execução da estratégia.

9. Não temos certeza se a estratégia que estamos executando vale a pena, é

ineficaz ou lógica, dadas as forças competitivas que encaramos no nosso

setor.

Questão 6:

Os administradores nos disseram que executar a estratégia é algo que

apresenta mais desafios do que formular a estratégia. Informe abaixo se você

concorda com esse ponto de vista e, justifique rapidamente a sua resposta.

Questão 7:

Descreva aqui seu conhecimento sobre BSC – Balanced Scorecard e Mapa

Estratégico e o quanto essas ferramentas o auxiliam na execução estratégica.

1. BSC – Balanced Scorecard

2. Mapa Estratégico

3. O quanto auxiliam:

Questão 8

Por fim, quais são os outros fatores não mencionados nesta pesquisa que

tornam o processo de execução desafiador ou difícil na sua empresa?

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Questão 9

Solicito que informe seus dados abaixo para maior esclarecimento da

pesquisa. Os mesmos são confidenciais e a resposta é opcional. Se não desejar

informar todos os campos, solicito que pelo menos identifique se pertence a Matriz,

Filiais ou Rede.

Nome:

Cargo:

Matriz/ Filial/ Rede:

Empregado Caixa (em anos):

Gestor (em anos):

Endereço de e-mail:

Telefone: