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POLYANNA POSSANI DA COSTA UM ESTUDO SOBRE A TEORIA LOCAL DE CURVAS PLANAS: DIEDRO DE FRENET SINOP 2009

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POLYANNA POSSANI DA COSTA

UM ESTUDO SOBRE A TEORIA LOCAL DE CURVAS PLANAS:

DIEDRO DE FRENET

SINOP

2009

1

POLYANNA POSSANI DA COSTA

UM ESTUDO SOBRE A TEORIA LOCAL DE CURVAS PLANAS:

DIEDRO DE FRENET

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Departamento de Matemática – UNEMAT, Campus Universitário de Sinop como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Matemática.

Orientadora: Ms. Chiara Maria Seidel Luciano Dias

Co - orientador: Ms. Rogério dos Reis Gonçalves

SINOP

2009

2

POLYANNA POSSANI DA COSTA

UM ESTUDO SOBRE A TEORIA LOCAL DE CURVAS PLANAS:

DIEDRO DE FRENET

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Banca Examinadora do Departamento de

Matemática – UNEMAT, Campus Universitário de

Sinop como requisito parcial para a obtenção do

título de Licenciada em Matemática.

Banca Examinadora:

______________________________________________________________________ Ms. Chiara Maria Seidel Luciano Dias

Professora Orientadora UNEMAT- Campus Universitário de Sinop

______________________________________________________________________

Ms. Rogério dos Reis Gonçalves Professor Co-orientador

UNEMAT- Campus Universitário de Sinop

______________________________________________________________________ Ms. Rodrigo Bruno Zanin

Professor Avaliador UNEMAT- Campus Universitário de Sinop

______________________________________________________________________

Ms. Vera Lúcia Vieira de Camargo Professora Avaliadora

UNEMAT- Campus Universitário de Sinop

SINOP

___ de _______________ de 2009.

3

Aos meus pais e minha irmã,

pelo incentivo nas horas difíceis,

o carinho e as palavras de apoio

em todas as horas;

Ao meu namorado,

pela compreensão e companheirismo,

durante todos esses anos de graduação.

Polyanna

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por ter me dado forças e sabedoria para eu me

dedicar em meus estudos e poder desenvolver e concluir este trabalho.

A todos os meus professores, que estiveram ao meu lado durante os quatro anos de

graduação compartilhando seus conhecimentos comigo, em especial ao professor Rogério dos

Reis Gonçalves meu co-orientador que acreditou em mim e me auxiliou todo o tempo e a

professora Chiara Maria Seidel Luciano Dias pela paciência, dedicação em me orientar, por

ter sanado minhas dúvidas no desenvolvimento desta Monografia e que além de professora e

orientadora, é uma amiga. E aos dois pela sugestão do tema, me dando a oportunidade de

conhecer um pouco deste assunto.

Ao professor Ricardo Robinson Campomanes Santana, pela oportunidade de ser sua

aluna de iniciação científica, me proporcionando novos conhecimentos e trabalhos que

somaram e enriqueceram muito.

Aos meus amigos Irineu, Djeison, Silmara e Silvana pelos grupos de estudos

realizados todos esses anos e pelo companheirismo. Em especial ao Irineu, pelas palavras de

incentivo e de força e ao Djeison pela ajuda e sugestões quando precisei.

À banca examinadora do Projeto de Pesquisa e da Monografia, pela participação neste

importante e único momento de minha vida.

POLYANNA

5

Sempre me pareceu estranho que todos aqueles que

estudam seriamente esta ciência acabam tomados

de uma espécie de paixão pela mesma.

Em verdade, o que proporciona o máximo prazer

não é o conhecimento e sim a aprendizagem,

não é a posse mas a aquisição,

não é a presença, mas o ato de atingir a meta.

C. F. Gauss

6

RESUMO

COSTA, Polyanna Possani da. Um estudo sobre a Teoria Local de Curvas Planas: Diedro de Frenet.Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Matemática) – Faculdade de Ciências Exatas. Universidade do Estado de Mato Grosso / Campus Universitário de Sinop. Sinop, 2009.

Na presente pesquisa, estudamos alguns conceitos importantes na introdução à Geometria

Diferencial, a saber, os conceitos básicos que tratam da teoria local das curvas planas. Em

particular, estudamos a construção de um referencial móvel adaptado a cada curva, chamado

Diedro de Frenet. Por meio das Equações de Frenet, estudamos o conceito de curvatura, bem

como as principais propriedades que caracterizam as Curvas Planas Parametrizadas

Diferenciáveis. Inicialmente, fazemos uma abordagem histórica do estudo das curvas, bem

como do surgimento e história da pesquisa em Geometria Diferencial no Brasil. Em seguida,

apresentamos conceitos de Geometria Analítica, Álgebra Linear e Cálculo Diferencial e

Integral, considerados preliminares para tal abordagem. Por fim, apresentamos definições

importantes para entendermos a estrutura de um referencial móvel adaptado a curva até a

dedução das Equações de Frenet e o enunciamos do Teorema Local das Curvas Planas. Com

isso, encerramos com uma aplicação baseada na caracterização de uma curva cujo o traço

pertence a uma circunferência.

Palavras-chave: Geometria Diferencial. Curvas Planas Parametrizadas Diferenciáveis.

Diedro de Frenet. Curvatura. Equações de Frenet.

7

ABSTRACT

COSTA, Polyanna Possani da. A study about the Local Theory of Flat Curves: Diedro de Frenet. Course Conclusion Paper. (Graduation in Mathematics) – Faculty of Exact Science. University of Mato Grosso State / Campus Sinop. Sinop, 2009.

In the present research, we studied some important concepts in the introductions to

Differential Geometry, such as the basic concepts that deal with the local theory of flat curves.

We particularly studied the construction of a moving referential, adapted to each curve, called

Diedro de Frenet. Through Frenet Equations we studied the concept of curvature, as well as

the main properties that characterize the Distinguishable Parametric Flat Curves. Initially, we

make a historical approach of the study of curve, as well as the beginning and the history of

research in Differential Geometry in Brazil. Next, we present the concepts of Linear Algebra

and Differential and Pertaining Calculus, considered preliminary for this approach. Finally we

presented important definitions to understand the structure of a moving referential adapted to

a curve, to the deduction of Frenet Equations and we enounced the Local Theorem of Flat

Curves. Therewith, we conclude with an application based in the characterization of a curve

which trace belongs to a circumference.

Key words: Differential Geometry. Distinguishable Parametric Flat Curves. Diedro de

Frenet. Curvature. Frenet Equations.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA GEOMETRIA DIFERENCIAL 11

1.1 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA EM GEOMETRIA

DIFERENCIAL NO BRASIL 14

2. PRELIMINARES DE GEOMETRIA ANALÍTICA E ÁLGEBRA

LINEAR 18

3. O DIEDRO DE FRENET 23

3.1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 23

3.2 CURVAS PLANAS DIFERENCIÁVEIS 25

3.3 COMPRIMENTO DE ARCO 26

3.4 CAMPO DE VETORES AO LONGO DE UMA CURVA 28

4. CURVATURA E EQUAÇÕES DE FRENET 30

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA POR MEIO DA

CURVATURA E TORÇÃO 33

5. CONCLUSÃO 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39

9

INTRODUÇÃO

Pode-se referir a Geometria Diferencial como sendo uma junção da Geometria

Analítica com o Cálculo Diferencial e Integral, além de estudar propriedades de curvas e

superfícies também sob o ponto de vista da Topologia1.

Geometria Diferencial é a área da matemática que estuda as curvas e superfícies usando técnicas do cálculo diferencial e integral; esse é um vasto campo com importantes aplicações em diversas outras áreas da Matemática e também da Física, particularmente em Mecânica e especialmente em Teoria da Relatividade. (FASSARELLA, 2007, p.1, grifo do autor).

Apesar de a Geometria Diferencial ter como base estas duas disciplinas que estão

presentes nos cursos de Licenciatura Plena em Matemática, esta é uma área que não é

estudada em todas as Universidades do Brasil em Licenciatura de Matemática, e em especial

na Unemat.

Foi justamente por a Geometria Diferencial não estar presente no curso de

Licenciatura Plena em Matemática da Unemat, que surgiu o interesse de se desenvolver uma

pesquisa que envolvesse conteúdos introdutórios desta disciplina, tendo em vista que por

conhecer o Cálculo Diferencial e Integral e a Geometria Analítica, seria possível proporcionar

relações entre tais áreas.

Entende-se que a Geometria Diferencial é uma área muito ampla, que envolve

conteúdos que também não estão presentes em nossa Licenciatura, sendo necessário conhecer

e abranger outras disciplinas para o seu aprofundamento, e com isso deixa-se bem claro que a

intenção desde o início é de forma introdutória conhecer alguns conceitos básicos estudados

na Geometria Diferencial. Assim, busca-se basicamente estudar as propriedades de uma curva

plana através de um referencial adaptado à própria, em que, em caso particular das curvas

tratadas neste trabalho é chamado de Diedro de Frenet.

Para tal abordagem, inicia-se a pesquisa apresentando os aspectos históricos da

Geometria Diferencial, no qual é tratada desde os primórdios da Geometria, suas aplicações,

evoluções, contribuições e nomes de grandes matemáticos para tal desenvolvimento até

chegar-se à Geometria Diferencial, e a partir daí, apresenta-se ainda um pouco da história da

pesquisa em Geometria Diferencial no Brasil.

1 Ramo da Matemática que estuda as propriedades de figuras geométricas que não mudam quando a forma da figura é submetida a sucessivas deformações.

10

Em seguida, apresentam-se algumas idéias e conceitos que são utilizados como

“base”, para então, se estudar e entender o assunto principal do trabalho. Tais conceitos são

tratados em Geometria Analítica, Álgebra Linear e Cálculo Diferencial e Integral, sendo

apresentados alguns exemplos para melhor contextualização do assunto.

No último capítulo, aborda-se então, as principais propriedades das Curvas Planas

Parametrizadas Diferenciáveis para então apresentarmos as Equações de Frenet. Com isso,

surge um dos mais importantes conceitos para a Teoria Local das Curvas: a curvatura.

Ao final, munidos destes conceitos pode-se apresentar uma aplicação da

caracterização de uma curva por meio de sua curvatura e torção. Neste caso, é apresentada

uma caracterização para que o traço de uma curva esteja contido em uma circunferência.

11

1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA GEOMETRIA DIFERENCIAL

Neste capitulo, busca-se apresentar um resumo histórico do surgimento da Geometria

Diferencial e do desenvolvimento da pesquisa da mesma no Brasil, desta forma para tal, foi

consultada uma fonte de referências bastante ampla, sendo CARMO (2008), CARMO (1999),

COUTINHO (2001), FASSARELLA (2007), GORODSKI (2002), GORODSKI (2007),

ODON (2006), O’SHEA (2009), SÁNCHEZ (2007), SPIEGEL (2004).

A Geometria é considerada a atividade matemática mais antiga já conhecida devido às

necessidades de resolver problemas da agrimensura. Fortemente utilizada na construção de

pirâmides e templos, a Geometria estava presente na vida de civilizações como os babilônios,

hindus, chineses, japoneses e egípcios.

É notável que a Geometria era utilizada de forma empírica, ou seja, era algo que se

fundamentava apenas na experiência. No entanto, ao longo dos anos a visão de que se tinha

em relação à Geometria foi sofrendo modificações e transformou-se completamente com os

gregos. Um dos mais importantes precursores desta transformação foi Talles de Mileto

(624/625 a.C.-556/558 a.C.), que determinou o comprimento da superfície da terra utilizando

propriedades de figuras geométricas, sendo considerado o “pai da geometria grega”.

Mas quem fez contribuições não somente para a matemática de sua época, mas

também forneceu um modelo rigoroso para o desenvolvimento das idéias matemáticas

utilizadas até os dias atuais foi Euclides (360 a.C.-295 a.C.) com sua obra “Os Elementos”,

composto por 13 livros, a qual é considerada um dos tratados mais importantes já escritos em

toda a história ocidental. Nesta célebre obra são apresentados inicialmente definições e

axiomas e com isso, proposições são provadas a partir dessas premissas e de outras

proposições através de dedução lógica.

Os cinco Postulados de Euclides são:

I. Uma linha reta pode ser traçada de um ponto a outro distinto.

II. A partir de qualquer ponto de uma linha reta pode-se prolongá-la indefinidamente.

III. Pode-se traçar um círculo com centro e raio arbitrário.

IV. Todos os ângulos retos são iguais.

V. Se uma reta secante a duas outras, forma ângulos de um mesmo lado dessa secante,

cuja soma é menor que dois ângulos retos, então essas retas se prolongadas

suficientemente encontrar-se-ão em um ponto desse mesmo lado.

12

A partir do V postulado de Euclides questionamentos começaram a surgir sobre sua

afirmação como postulado, isto fez com que diversos matemáticos tentassem deduzi-lo a

partir dos quatro anteriores. Tais tentativas duraram até o século XVIII, aproximadamente

dois mil anos mais tarde.

Historicamente, o século XVIII ficou marcado pelo desenvolvimento do Iluminismo e

por volta de 1800 suas idéias já eram bem conhecidas. A confiança intelectual da razão

humana e da ciência estavam fortemente estabelecidas.

Segundo O’shea (2009, p.87) “À medida que o século XVIII chegava ao final, o

pensamento iluminista, a rápida mudança econômica e uma população cada vez mais instruída

passaram a contestar todas as idéias aceitas”.

No final do século XVIII, aos 12 anos Johann Friedrich Gauss (1777-1855), começou

a sua crítica a respeito dos Elementos de Euclides. Foi o primeiro matemático na história a

entender e aceitar a idéia de que existiria uma geometria em que o V postulado de Euclides

seria desnecessário.

Como nos diz Odon (2006, p.12) “No início do século XIX, entre 1813 e 1816, como

professor na Universidade de Göttingen, Gauss desenvolveu o que hoje é denominado

geometria hiperbólica”. Em 1824, Gauss escreveu uma carta a um amigo que estudava

matemática, supondo que a soma de três ângulos é menor que 180°, e ainda, que a forma

desenvolvida por ela era bem satisfatória, o que levaria a uma geometria bem diferente e

especial, mas Gauss não publicou sua descoberta e pediu para que seu amigo não a revelasse.

Mas outros matemáticos da época, como Lobachevsky (1792-1856) e Bolyai (1775-1856),

persistiram no desenvolvimento de geometrias não-euclidianas e publicaram suas obras.

Em 1826 Nikolai I. Lobachevsky marcava o nascimento oficial da geometria não-

euclidiana. Como escreve Odon (2006, p.12) “... tornou-se o primeiro matemático a publicar

uma geometria não-euclidiana baseada na quebra do quinto postulado, intitulada por ele de

"geometria imaginária"”.

Nikolai I. Lobachevsky [...] publica em 1829 o primeiro trabalho (Sobre os

princípios da geometria, em russo) construindo uma geometria baseada em um

postulado em conflito direto com o Postulado V:

Por um ponto fora de uma reta, é possível traçar-se mais de uma reta paralela à reta

dada. [...]. Termina assim uma época na história da matemática que fora inaugurada

dois mil anos antes, originando-se uma transformação profunda não apenas do

pensamento matemático, mas também de pensamento teórico em geral que

13

influenciará nossa concepção do universo e do mundo físico. (GORODSKI, 2007,

p.13, grifo do autor).

Outro matemático que persistiu na geometria não-euclidiana foi János Bolyai (1802-

1860), que em 1832 publicou seu trabalho sobre a geometria hiperbólica.

Assim, Gauss, Lobachevsky e Bolyai descobrem um espaço a partir do conflito com o

V postulado de Euclides, chamado espaço hiperbólico.

E ainda, partindo da quebra do V postulado de Euclides, Bernard Riemann (1826-

1866) descreveu outro tipo de espaço não-euclidiano, o espaço elíptico.

Como toda teoria que afeta discussões firmemente estabelecidas, a nova geometria não

foi muito bem recebida. Passando então a geometria não-euclidiana algumas décadas sem ser

completamente integrada à matemática. Ainda segundo Gorodski (2007, p.15) “Apesar disso

as geometrias não-Euclidianas permaneceram um tanto marginais por várias décadas antes de

serem completamente integradas”.

Paralelamente às idéias da geometria não-Euclidiana, começa surgir a história da

geometria diferencial, que tem início com o estudo das curvas e retas tangentes, as quais já

eram discutidas por Euclides, Arquimedes (287 a.C.-212 a.C.) e Apolônio (262 a.C.-190

a.C.).

O estudo teórico de curvas e superfícies começou há mais de 2 mil anos quando

matemáticos e filósofos gregos exploraram as propriedades de seções cônicas,

helicoidais, espirais e superfícies de revolução geradas por essas curvas. Apesar de

as aplicações não estarem em suas mentes, muitas conseqüências práticas surgiram.

Entre elas, a representação, em termos de elipses, das órbitas dos planetas em torno

do Sol, o emprego das propriedades do foco de parabolóides e o uso das

propriedades especiais de helicoidais para construir o modelo da dupla hélice do

DNA. (SPIEGEL, 2004, p.173).

No século XVII, Pierre de Fermat (1601–1665) e René Descartes (1596–1650) criam a

geometria analítica, enquanto Gottfried Von Leibniz (1646–1716) e Isaac Newton (1643 -

1727) descobrem o algoritmo do Cálculo infinitesimal na busca de uma representação da

velocidade instantânea de um objeto cujo movimento não era constante.

Ainda no séc. XVII são desenvolvidos os fundamentos da teoria das curvas e

superfícies no espaço tridimensional. Curvas espaciais são estudadas, e desde então grandes

contribuições foram feitas por matemáticos para a geometria diferencial, dentre eles Leonhard

14

Euler (1707-1783), Charles Dupin (1784-1873), Augustin Louis Cauchy (1789-1857), Gauss

e Riemann. Em particular Euler publica em 1760 o livro Theoria Motors Corporum Solidorus

sem Rigidorum (Teoria do Movimento dos Corpos Sólidos e Rígidos) no qual aborda o

conceito de linhas com curvatura, iniciando asssim o estudo da Geometria Diferencial.

A Geometria Diferencial se divide em dois aspectos, em que um é chamado de

geometria diferencial clássica, que teve início com os primórdios do Cálculo e estuda as

propriedades locais das curvas e superfícies, sendo o cálculo diferencial o método mais

apropriado para tal estudo, sendo as curvas e superfícies consideradas na geometria

diferencial definidas por funções que possam ser derivadas inúmeras vezes.

Já o outro aspecto, chamamos de geometria diferencial global, que estuda a influência

das propriedades locais sobre o comportamento da curva ou superfície como um todo.

Essencialmente, a Geometria Diferencial estuda as propriedades geométricas das

curvas e superfícies mediante conceitos analíticos tais como o de métrica,

curvatura e torção. Um dos belos resultados dessa teoria é o chamado Teorema

Fundamental das Curvas, que caracteriza completamente uma curva pelas funções

curvatura e torção: para curvas três vezes continuamente diferenciáveis em 3IR , a

curvatura e a torção são propriedades características no seguinte sentido: duas

curvas parametrizadas pelo comprimento de arco que possuem as mesmas funções

curvatura e torção diferem por uma isometria de 3IR . (FASSARELLA, 2007, p.1,

itálico do autor).

Além disso, os estudos desta área de pesquisa culminaram no conceito de variedade

diferenciável introduzido por Riemann. Tal objeto matemático generaliza a idéia de

superfície, pois não necessita em sua definição de um espaço circundante.

A noção de curvatura Riemanniana que generaliza a idéia de curvatura gaussiana, não

apenas unificou as geometrias Euclidianas e não-Euclidianas, como representou uma vasta

generalização destas duas.

1.1 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA EM GEOMETRIA DIFERENCIAL NO

BRASIL

15

Conforme Carmo (1999), a Geometria Diferencial no Brasil, no qual aqui significará

uma estrutura que se pode falar em curvatura, para delimitar o assunto, divide-se basicamente

em três períodos, sendo chamados pelo autor de Pré-história da Geometria que vai de 1800 a

1957, o Início da História que vai de 1957 a 1970 e o período de consolidação da Pesquisa

que vai de 1970 a 1983.

No período da Pré-história, muito pouco é apresentado em Geometria Diferencial,

destacando-se na Matemática entre vários nomes os mais conhecidos, Joaquim Gomes de

Souza (1829-1863), Otto de Alencar (1874-1912), Amoroso Costa (1885-1928), Lélio Gama

(1892-1981) e Teodoro Ramos (1896-1936), do que foi desenvolvido na matemática brasileira

neste período, Carmo menciona apenas os dois seguintes trabalhos em Geometria Diferencial:

1. de Alencar, Otto, A superfície de Riemann de geratriz circular, Revista da Escola

politécnica, 3 (1898), 137-144.

2. Gama, Lélio, Estudo sobre as linhas geodésicas, 2ª parte da Tese de Concurso à

cadeira de Astronomia e Geodesia da Escola politécnica, 1929.

Depois do trabalho de Lélio Gama, houve um longo intervalo na Geometria

Diferencial brasileira, pois eram grandes as dificuldades encontradas por quem optasse em

fazer pesquisas em Matemática naquela época, tais como falta de revistas, e do próprio

estímulo social, sendo difícil de acompanhar o que se passava no exterior.

O segundo período da Geometria Diferencial brasileira apenas em 1957 com um

trabalho de Alexandre M. Rodrigues, publicado em 1958. Neste mesmo ano houve um

movimento de ampliação da pesquisa em matemática no Brasil após o 1° Colóquio Brasileiro

de Matemática, que teve grande influência no futuro da matemática brasileira. Desde então

trabalhos em Geometria Diferencial por matemáticos brasileiros foram desenvolvidos. Sendo

algum deles:

1. Rodrigues, A. A. Martins, Characteristic classes of complex homogeneous spaces.

Bol. Soc. São Paulo 10 (1955), 67-86, published in 1958.

2. do Carmo, Manfredo P., The cohomology ring of certain kählerian manifolds. An.

Acad. Brasil. Ci. 35 (1963), 149-151.

3. Colares, A. G., On a prehilbert manifold of curves and minimal surfaces. Ph. D.

thesis, Boston University, Boston, USA (1967).

4. do Carmo, Manfredo P.; Wallach, Nolan R., Minimal immersions of sphere bundles

over spheres. An. Acad. Brasil. Ci. 42 (1970), 133-144.

No período compreendido entre 1957 e 1970, todos os trabalhos matemáticos

brasileiros em Geometria Diferencial eram feitos no exterior, sem exceção alguma. Todavia,

16

para que os matemáticos brasileiros tivessem uma pesquisa autônoma era necessário que seus

trabalhos fossem feitos no Brasil. Assim em 1970 inicia-se o período de Consolidação da

Pesquisa com a criação de Programas de Doutorado em Geometria Diferencial.

Em 1970, o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) inaugurou um Programa

de Doutorado que entre outras áreas, incluía a Geometria Diferencial. É interessante ressaltar

que hoje a ilustre matemática Keti Tenenblat, foi a primeira aluna de Manfredo Perdigão do

Carmo neste Programa de Doutorado. Em 1973, o matemático brasileiro Plínio Simões criou

um Programa de Doutorado em Geometria Diferencial na USP, e em 1976 a Universidade de

Campinas UNICAMP inicia também um Programa de Doutorado em Geometria Diferencial.

Deste modo, ao final do período de 1970 a 1983 já estava funcionando no Brasil

Programas de Doutorado em Geometria Diferencial no IMPA, na USP e na UNICAMP em

que as teses desenvolvidas eram publicadas em periódicos científicos de repercussão, com o

objetivo de estimular e formar matemáticos de boa qualidade no Brasil.

As Escolas de Geometria Diferencial, também tiveram importante participação na

consolidação da pesquisa na área. A primeira escola teve início no IMPA em 1974, a segunda

no ano de 1976 já fazendo parte de um encontro internacional, e a partir daí a Escola de

Geometria Diferencial foi e até hoje é realizada a cada dois anos com o objetivo de reunir não

só pesquisadores, mas também alunos de final de graduação, mestres e doutores, para divulgar

estudos recentes em Geometria Diferencial e promover estudos de tópicos atuais através de

conferências, mini cursos e palestras.

Desse período de Consolidação da Pesquisa, segue alguns dos trabalhos desenvolvidos

por matemáticos brasileiros em Geometria Diferencial.

1. Tenenblat, Kéti, On isometric immersions of Riemannian manifolds. Bol. Soc. Brasil.

Mat. 2 (1971), no. 2, 23-36.

2. do Carmo, Manfredo P.; Lawson, B., Spherical images of convex surfaces. Proc.

Amer. Math. Soc. 31 (1972), 635-636.

3. Barbosa, J. L., On minimal immersions of 2S in m2S . Bull. Amer. Math. Soc. 79

(1973), 110-114.

4. Barbosa, J. L.; Carmo, Manfredo P., Stable minimal surfaces. Bull. Amer. Math. Soc.

80 (1974), 581-583.

5. Barbosa, J. L., Remarks on stability of minimal hypersurfaces. Na. Acad. Brasil. Ci.

50 (1978), no. 3, 295-297.

6. Chen, Chi Cheng, Complete minimal surfaces with total curvature π2− . Bol. Soc.

Brasil. Mat. 10 (1979), no 1, 71-76.

17

7. Noronha, Maria Helena, Variedades com operador de curvatura puro. Doctor thesis,

UNICAMP (1983), Campinas.

Vale mencionar que os trabalhos desenvolvidos por matemáticos brasileiros em

Geometria Diferencial aqui citados, são alguns dos muitos realizados entre 1800 a 1983, para

verificar todos, ver CARMO, (1999, p. 1-27).

18

2. PRELIMINARES DE GEOMETRIA ANALÍTICA E ÁLGEBRA

LINEAR

Tendo em vista que para ser realizado o estudo proposto sejam necessários

conhecimentos básicos de Geometria Analítica e Álgebra Linear, tais como combinação

linear, base, produto vetorial, entre outras noções importantes para a apresentação das

Equações de Frenet, neste capítulo serão apresentados alguns conceitos básicos destas

disciplinas. As definições e resultados apresentados foram baseados nas referências [1], [5] e

[21].

Definição 1: Um conjunto não vazio V é um espaço vetorial sobre (um corpo) K se em seus

elementos denominados de vetores, estiverem definidas as seguintes duas operações:

(A) A cada par u, v de vetores de V corresponde um vetor vu + V∈ , chamado de soma de

u e v, de modo que:

(A1) uvvu +=+ , Vv,u ∈∀ (propriedade comutativa).

(A2) ( ) ( )wvuwvu ++=++ , Vw,v,u ∈∀ (propriedade associativa).

(A3) Exista em V um vetor, denominado de vetor nulo e denotado por 0, tal que v0v =+ ,

Vv ∈∀ .

(A4) A cada vetor Vv ∈ exista um vetor em V, denotado por v− , tal que ( ) .0vv =−+

(M) A cada par Κα ∈ e Vv ∈ , corresponde um vetor Vv ∈⋅α , denominado de produto

por escalar de α por v de modo que:

(M1) )v(v)( ⋅=⋅ βααβ , Κβα ∈∀ , e Vv ∈∀ (propriedade associativa).

(M2) 1 vv =⋅ , Vv ∈∀ (onde 1 é o elemento identidade de Κ ).

Além disso, vamos impor que as operações dadas em (A) e (M) se distribuam, isto é,

que valham as seguintes propriedades:

(D1) ( ) vuvu ⋅+⋅=+⋅ ααα , Κα ∈∀ e Vv,u ∈∀ .

(D2) ( ) vvv ⋅+⋅=⋅+ βαβα , Κβα ∈∀ , e Vv ∈∀

Em particular, para nosso estudo trabalharemos com os espaços euclidianos 2IR e

3IR . Em geral, ao considerarmos o conjunto das n-uplas ordenadas de números reais ( nIR ),

munido das duas seguintes operações, temos uma estrutura de IR- espaço vetorial.

19

Se ( )nxxxX ,...,, 21= e

( )nyyyY ,...,, 21= define-se ( )nn yxyxyxYX +++=+ ,...,, 2211 e para quaisquer

IR∈λ , definimos ( )nxxxX λλλλ ,...,, 21= .

Muitas vezes, é possível encontrar subconjuntos W que sejam eles próprios espaços

vetoriais em V, sendo estes chamados de subespaços vetoriais de V.

Definição 2: Seja V um espaço vetorial sobre um corpo Κ . Um subconjunto W de V é um

subespaço vetorial de V, se a restrição das operações de V a W torna esse conjunto um Κ -

espaço vetorial, sendo elas:

i) 0 W∈ ;

ii) Se Wv,v 21 ∈ então Wvv 21 ∈+ ; e

iii) Se Κλ ∈ e Wv ∈ então Wv ∈⋅λ .

Como exemplos de subespaços de 2IR podemos destacar: Espaço constituído pelo

vetor nulo { }0 , as retas que passam pela origem, e o próprio 2IR . Já, em 3IR , além dos

subespaços triviais { }( 0 e )3IR e das retas que passam pela origem, cada plano pela origem

em 3IR é também um subespaço vetorial.

Uma das características de um espaço vetorial é a obtenção de novos vetores a partir

de vetores dados, como nos mostra a seguinte definição.

Definição 3: Sejam V um espaço vetorial real, Vvvv r ∈,...,, 21 e raa ,...,1 números reais.

Então o vetor

rr vavavav +++= ...2211

é um elemento de V ao qual chamamos combinação linear de rvv ,...,1 .

Se rvvv ,...,, 21 são vetores em um espaço vetorial V, então geralmente alguns vetores

de V podem ser combinações lineares de rvvv ,...,, 21 enquanto outros vetores não. No entanto,

vale ressaltar que ao construirmos um conjunto W em V que consiste de todos os vetores que

são combinações lineares de rvvv ,...,, 21 , estaremos construindo um subespaço para V, ou

seja, o conjunto W é um subespaço de V.

20

Neste caso dizemos que os vetores rvvv ,...,, 21 geram W ou que o conjunto

{ }rvvv ,...,, 21 é gerador de W e podemos escrever [ ]rvvvW ,...,, 21= .

Em geral, um conjunto de vetores { }rvvvS ,...,, 21= é conjunto gerador de V se todo

Vv ∈ é combinação linear dos elementos de S.

Para sabermos se um vetor é combinação linear de outros definimos dependência e

independência linear.

Definição 4: Sejam V um espaço vetorial sobre um corpo Κ e Vv,...,v n1 ∈ . Dizemos que o

conjunto { }n1 v,...,v é linearmente independente (LI), ou que os vetores n1 v,...,v são LI, se a

equação

0va...va nn11 =++

Implica que 0a...aa n21 ==== . No caso em que exista algum 0ai ≠ dizemos que { }n1 v,...,v

é linearmente dependente (LD), ou que os vetores n1 v,...,v são LD.

Agora, se pudermos encontrar um conjunto finito de vetores que gere o espaço vetorial

V e tal que todos os elementos sejam realmente necessários para gerar V, teremos o alicerce de

nosso espaço, denominando um conjunto de vetores desse tipo de base.

Definição 5: Seja V um espaço vetorial sobre um corpo Κ . Dizemos que um subconjunto Β

de V é uma base de V se:

i) Β for um conjunto gerador de V; e

ii) Β for linearmente independente.

Observamos que por convenção torna-se o conjunto vazio como base do espaço

vetorial nulo.

Definição 6: Seja V um espaço vetorial sobre Κ . Se V admite uma base finita, então

chamamos de dimensão de V ao número de elementos de tal base. Caso contrário dizemos

que a dimensão de V é infinita. E denotamos a dimensão de V sobre Κ por Vdimk .

Definição 7: Seja V um Κ -espaço vetorial, onde IR=Κ ou . Um produto interno sobre

V é uma função Κ→×VV:, que satisfaz as seguintes quatro propriedades:

21

(P1) w,vu + = w,vw,u + , Vw,v,u ∈∀ ,

(P2) v,uλ = v,uλ , Κλ ∈∀ , Vv,u ∈∀ .

(P3) v,u = u,v , Vv,u ∈∀ .

(P4) u,u 0> , se 0u ≠ .

Definição 8: Seja V um espaço vetorial sobre Κ com produto interno , e sejam Vv,u ∈ .

Dizemos que u e v são ortogonais se 0v,u = . Um subconjunto Α de V é chamado de

ortogonal se os seus elementos são ortogonais dois a dois e dizemos que Α é um conjunto

ortonormal se for um conjunto ortogonal e se 1u = , Α∈∀u . Denotamos vu ⊥ para

indicar que os vetores u e v são ortogonais.

Seja V um espaço vetorial sobre Κ com produto interno , . Considere

{ } Vv,,v n1 ⊂⋅⋅⋅=Α um conjunto linearmente independente. Vamos construir um outro

conjunto { } Vw,,w n1 ⊂⋅⋅⋅=′Α que seja ortogonal e tal que os subespaços gerados por Α e por

Α′ sejam os mesmos. Esta construção é feita indutivamente como segue

11 vw =• .

12

1

1222 w

w

w,vvw −=• .

Observe que 0w2 ≠ (pois { }21 v,v é LI) e que 12 ww ⊥ . De fato,

=−= 112

1

12212 w,w

w

w,vvw,w

0w,ww

w,vw,v 112

1

1212 =⋅−= .

• Definidos k1 w,,w ⋅⋅⋅ , nk1 << , podemos definir 1kw + como sendo

=−⋅⋅⋅−−= ++++ k2

k

k1k12

1

11k1k1k w

w

w,vw

w

w,vvw

∑=

+

+ −=k

1jj2

j

j1k

1k ww

w,vv .

22

Não é difícil ver que o conjunto { }n1 w,,w ⋅⋅⋅ definido acima é ortogonal e em particular,

linearmente independente. Observe que, para cada [ ]n1i v,,vWw,n,,1i ⋅⋅⋅=∈⋅⋅⋅= . Como

nWdimk = , segue que { }n1 w,,w ⋅⋅⋅=′Α é uma base de W, o que mostra a igualdade dos

subespaços gerados por Α e por Α′ .

Teorema 1: Todo espaço vetorial não nulo de dimensão finita possui base ortonormal.

Definição 9: Dados dois vetores 1W e 2W de componentes ( )1111 ,, zyxW = e

( )2222 ,, zyxW = , o produto vetorial de 1W e 2W , denotado por 1W × 2W , é definido como

sendo o vetor de componentes

1W × 2W ( )122112211221 ,, yxyxzxzxzyzy −+−−= .

O produto vetorial satisfaz as seguintes propriedades:

a) 121 WWW =× 2W θsen , onde θ é o ângulo entre 1W e 2W ;

b) 0,, 221121 >=×>=<×< WWWWWW ;

c) 1W × 2W =0, se e só se, 1W e 2W são linearmente dependentes;

d) 1W × 2W = - ( )12 WW ×− ;

e) ( ) 3121321 WWWWWWW ×+×=+× ;

f) ( ) ( )2121 WWWW ×=× λλ ;

g) ( ) 321231321 ,, WWWWWWWWW ><−>=<×× , onde 1W , 2W e 3W são vetores e λ é um

número real.

De modo geral, o produto vetorial não é associativo, isto é, ( ) ( ) 321321 WWWWWW ××≠×× .

E assim, finaliza-se a introdução de alguns dos conceitos de Álgebra Linear e

Geometria Analítica, essenciais para obtenção dos seguintes resultados.

23

3. O DIEDRO DE FRENET

Como já se pode observar no capítulo 1, o estudo de curvas contribuiu de forma muito

relevante para o desenvolvimento da Geometria Diferencial.

Historicamente, o estudo teórico de curvas e superfícies teve início há mais de dois mil

anos, quando geômetras gregos exploraram algumas propriedades particulares de seções

cônicas e superfícies de revolução geradas por essas curvas.

Com o conceito de curvatura, observou-se que era possível estudar o comportamento

de uma curva em cada ponto p. Em particular, em uma vizinhança de p era possível observar a

variação dos campos de vetores definidos ao longo da curva.

No entanto isso só foi possível graças ao Cálculo Diferencial que oferecia

instrumentos para formalizar a chamada Teoria Local das Curvas.

Séculos mais tarde, associado ao Cálculo Diferencial e Integral, o conceito de curvas e

superfícies recebeu um novo tratamento: enquanto a geometria se interessava em propriedades

de figuras na sua totalidade, a inserção do Cálculo fez com que o estudo se concentrasse na

análise das propriedades de curvas e superfícies na vizinhança de um ponto pertencente a

estas curvas e superfícies.

Neste capítulo, será introduzido o conceito de Curva Plana Diferenciável e abordada a

construção de um referencial móvel para Curvas Planas Regulares Diferenciáveis, que

possibilita estudar as propriedades de uma curva através de um referencial adaptado à própria,

ao invés de utilizar um referencial fixo, ou seja, associam-se campos ao longo da curva e

estuda-se a variação destes campos ao longo da mesma. Tal referencial é usualmente chamado

de Diedro de Frenet.

Desta forma, para tal abordagem as principais referências consultadas e utilizadas

neste capítulo são [2], [3], [8], [19], [20] e [21].

3.1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Antes de se tratar das curvas diferenciáveis, é importante aqui ressaltar e relembrar

algumas definições consideradas preliminares.

24

Definição 9: Uma função f é diferenciável em a se )(af ′ existir. É diferenciável em um

intervalo aberto ),( ba [ou ),( ∞a ou )a,(−∞ ou ),( ∞−∞ ] se for diferenciável em cada

número do intervalo.

Para um melhor entendimento, pode-se observar três possibilidades de quando uma

função deixa de ser diferenciável.

a) Se o gráfico de uma função tiver uma quina, o gráfico de f não terá uma tangente neste

ponto, então f não será diferenciável.

b) Se f for descontínua2 em a, então f não será diferenciável em a.

c) Se uma curva tem uma reta tangente vertical em ax = . (Figura 1)

Figura 1: Funções não diferenciáveis.

Se uma partícula move-se ao longo de uma curva C, não há como descrever C por uma

equação do tipo )(xfy = , pois C falha no Teste da Reta Vertical. Mas, neste caso as

coordenadas x e y da partícula estão em função do tempo t e, assim, pode-se escrever )(tfx =

e )(tgy = . Esse par de equações é, muitas vezes, uma maneira conveniente de descrever uma

curva e faz surgir a definição a seguir.

Definição 10: Suponha que x e y sejam ambas dadas como funções de uma terceira variável t

(denominada parâmetro) pelas equações paramétricas.

)(tfx = e )t(gy =

2 Uma função é contínua em um número a se )()(lim afxf

ax=

→, ou seja, f é contínua em a se )(xf tender a

)(af quando x aproxima-se de a.

25

Cada valor de t determina um ponto )(tfx = e )(tgy = e quando t varia, os pontos

))t(g),t(f()y,x( = traçam a curva C, que chamamos curva paramétrica.

O parâmetro t não representa o tempo necessariamente e, de fato, pode-se usar outra

letra em vez de t para o parâmetro. Porém, em muitas aplicações das curvas paramétricas, t

denota tempo e, portanto, pode-se interpretar ))(),((),( tgtfyx = como a posição de uma

partícula no tempo t.

3.2 CURVAS PLANAS DIFERENCIÁVEIS

Pode-se definir uma curva parametrizada diferenciável, porém é interessante deixar

bem claro ao leitor a diferença dos conceitos de uma curva e uma curva parametrizada.

Curva é um conjunto de pontos e curva parametrizada é uma função, de forma mais

sistematizada, pode-se dizer que uma curva é localmente a imagem de uma curva

parametrizada. As parametrizações, em geral, servem para introduzir uma estrutura diferencial

sobre a curva, permitindo a definição de conceitos e o desenvolvimento de cálculos analíticos,

como velocidade, comprimento de arco, curvatura, torção e integrais curvilíneas.

Definição 11: Uma curva parametrizada diferençável do plano é uma aplicação

diferenciável α de Classe ∞C , de um intervalo aberto IRI ⊂ em 2IR . A variável It ∈ é

dita parâmetro da curva e o subconjunto de 2IR dos pontos ),(tα It ∈ é chamado traço da

curva.

Para visualizar as idéias, tome a título de exemplos as aplicações:

Exemplo 1: Seja ),,()( 00 btyatxt ++=α IRt ∈ , onde 022 ≠+ ba , é uma curva

parametrizada diferenciável cujo traço é uma linha reta passando pelo ponto ),( 00 yx paralela

ao vetor de coordenadas ),( ba . Figura 2

26

Figura 2: curva parametrizada diferenciável ),,()( 00 btyatxt ++=α

Exemplo 2: A curva parametrizada diferenciável

[ ])1)tcos(2(sent),1)tcos(2(tcos)t( −−=α , IRt ∈

tem o seguinte traço: Figura 3

Figura 3: curva parametrizada diferenciável

[ ])1)cos(2(),1)cos(2(cos)( −−= tsenttttα

3.3 COMPRIMENTO DE ARCO

Muitas vezes, definida uma curva, ela pode apresentar várias parametrizações. No

entanto, de todas estas parametrizações, existe uma que a expressa de forma mais simples em

função do comprimento de arco.

Definição 12: Uma curva parametrizada diferenciável 2IRI →:γ é dita regular se It ∈∀ ,

.0)( ≠′ tγ

27

Definição 13: Dizemos que uma função mn IRIRAF →⊂: é diferenciável de classe kC ,

1k ≥ ( ∞C ) se as derivadas parciais de F até ordem k (resp. de todas as ordens) existem e

são contínuas.

Seja 2IRI: →γ uma curva regular e fixemos 0t e 1t do intervalo I . Subdividindo o

intervalo ],[ 10 tt pelos pontos 1n100 taaat =<<<= ... e ligando retilineamente os pontos

),(),...,(),( n10 aaa γγγ obtemos uma linha poligonal chamada poligonal inscrita à curva entre

)( 0tγ e ).( 1tγ Figura 4

Figura 4: Curva regular 2IRI: →γ , subdividida no intervalo ],[ 10 tt .

Esta poligonal tem um comprimento determinado. Consideremos agora todas as

poligonais inscritas à curva entre )( 0tγ e ).( 1tγ Como γ é uma curva regular (na realidade é

suficiente que a derivada de 1ª ordem da função γ exista e seja contínua), existe o limite

superior do conjunto dos comprimentos dessas linhas poligonais, e é igual ∫ ′1

0

t

t

dtt)(γ que é

chamado comprimento de arco da curva γ de 0t a 1t .

A aplicação ∫ ′=t

t0

dttts )()( γ é denominada função comprimento de arco da curva γ a

partir de 0t . Esta função é diferenciável de classe ∞C , pois γ é uma curva regular.

Definição 14: Uma curva regular 2IRI: →γ é dita parametrizada pelo comprimento de

arco, se para cada It,t 10 ∈ , 10 tt ≤ o comprimento do arco da curva γ de 0t a 1t é igual a

.tt 01 − Isto é,

01

t

t

ttdt)t(1

0

−=′∫ γ .

28

Proposição 1: Uma curva regular 2IRI: →γ está parametrizada pelo comprimento de arco,

se e só se, ,It ∈∀ 1)t( =′γ .

3.4 CAMPOS DE VETORES AO LONGO DE UMA CURVA

Dada uma curva plana diferenciável regular, parametrizada por comprimento de arco,

2: IRI →γ , )(ss γ� , dada por ))s(y),s(x()s( =γ , defina ))s(y),s(x()s(t ′′= , para todo

Is ∈ . Observa-se que deste modo, esta sendo definido um campo de vetores tangente ao

longo da curva. Além disso, como γ é parametrizada por comprimento de arco, tem-se

( ) 1=st , ou seja, t é um campo tangente unitário.

A partir deste campo é interessante definir um campo de vetores que seja ortogonal a

ele. Sendo assim, defini-se o campo normal unitário como ))s(x),s(y()s(n ′′−= .

Quanto à definição de tais campos (tangente e normal) pode-se ressaltar que a opção

por um campo de vetores unitário se dá pelo motivo de que seu objetivo é unicamente

apontar, ou melhor, especificar uma direção e sentido. Mas ainda, vetores unitários são de

modo geral úteis para expressar outros vetores em função destes, por meio de equações

vetoriais.

Com isso, para todo Is ∈ , tem-se um referencial ortonormal3

→→

)s(n),s(t , o qual é

conhecido como referencial de Frenet da curva γ em s . No caso particular das curvas planas

tal referencial é conhecido como Diedro de Frenet. Figura 5

Figura 5: Diedro de Frenet

3 Referencial ortonormal: Uma base formada por vetores unitários, e dois a dois ortogonais.

29

Algumas propriedades geométricas interessantes são obtidas por meio da variação

destes campos ao longo da curva. Esta variação a qual se refere, é representada pela derivada

destes campos e o mais interessante é que estas derivadas são descritas em função do próprio

referencial

→→

nt , .

Estas relações são expressas pelas chamadas Equações de Frenet que serão

apresentadas no próximo capítulo.

30

4. CURVATURA E EQUAÇÕES DE FRENET

Com o referencial móvel adaptado à curva já definido no capítulo anterior, pode-se

agora, estudar sua variação ao longo da curva. Assim, neste capítulo serão definidos os

conceitos para tal estudo. As principais referências utilizadas foram [2], [3], [6] e [21].

A noção intuitiva de curvatura é a de uma medida que indique o quanto uma curva

deixa de ser uma reta. Nesse sentido, quanto mais fechada a curva, maior será a curvatura e

quando a curva for uma reta, sua curvatura será nula. Figura 6

Figura 6: Curvatura de uma curva

Para aqui definir a curvatura, considera-se que os campos de vetores definidos no

capítulo anterior são diferenciáveis a idéia agora é estudar as variações de →

t e →

n ao longo de

γ , isto é, ds

td→

e ds

nd→

. Por conta de não carregar a notação no texto, optou-se por representar

ds

td→

e ds

nd→

por )(st ′ e )(sn′ , respectivamente.

Decompondo )(st ′ e )(sn′ no referencial

→→

)s(n),s(t , visto que esse referencial é

uma base para o Espaço Vetorial 2IR , obtem-se:

+=′

+=′

→→

→→

),().()().()(

)().()().()(

2221

1211

snswstswsn

snswstswst

Onde definimos:

→→

′= ttw ,11 , →→

′= ntw ,12 , →→

′= tnw ,21 , →→

′= nnw ,22 .

Observemos que 1stst =→→

)(),( , pois 1t =→

, e consequentemente 0)(),( =→→

ststds

d.

( )1

31

Por outro lado, resulta da regra do produto (de derivação) que:

=→→

)(),( ststds

d

→→

′ tt , + →→

′tt ,

⇒ =0 →→

′ tt , + →→

′tt ,

⇒ = →→

′ tt , = - →→

′tt ,

⇒ = →→

′ tt , 0= ⇒ 0w 11 = .

De modo análogo, também conclui-se que 0w 22 = . Além disso, 0stsn =→→

)(),(

Is ∈∀ e assim,

0stsnds

d=

→→

)(),( ⇒→→

′ tn , = - →→

′ nt , , ou seja, ),()( swsw 1221 −= Is ∈∀ .

Observe que ( )1 pode ser escrito numa forma matricial, como segue:

=

)(

)(

)(

)(

21

11

sW

sW

sn

st

)(

)(

)(

)(

22

12

sn

st

sW

sW

−=

)(

0

)(

)(

12 sWsn

st

)(

)(

0

)(12

sn

stsW

⇒)()()(

)()()(

12

12

stsWsn

snsWst

−=′

=′

Definição 13: A curvatura (com sinal) de γ em s é dada por: )s(

)s(w)s(k 12

γ ′=

Geometricamente, a curvatura )(sk indica a taxa de variação instantânea da direção do

vetor tangente no ponto )(sγ .

Definição 14: Em particular, se γ é parametrizada por comprimento de arco, então temos:

−=′

=′

→→

→→

)().()(

)().()(

stsksn

snskst

Que são definidas como Equações de Frenet.

32

Observe que da primeira equação resulta que:

)()()( snskst ⋅=′

⇒ 1)()( ⋅=′′ sksα

⇒ )()( sks =′′α

A fim de empregar, bem como visualizar os resultados obtidos até este ponto desse

capítulo, segue o seguinte exemplo.

Exemplo 3: Considere a curva

bas += ()(α ,cosb

sbc + )

b

ssen , ,IRs ∈ 0b > ,

Cujo traço é uma circunferência de centro ),( ca e raio b . Figura 7

Neste caso:

)cos,()(b

s

b

ssenst −= ,

),cos()(b

ssen

b

ssn −−= . Segue-se que

b

1snstsk >=′=< )(),()( .

Figura 7: curva bas += ()(α ,cosb

sbc + )

b

ssen

A parir de agora, na busca de apresentar uma aplicação para as Equações de Frenet e

sendo isto possível devido todos os conceitos importantes para tal já terem sidos apresentados,

a seguir será iniciada a caracterização de uma curva por meio de sua curvatura e torção,

apresentando uma caracterização para que o traço de uma curva esteja contido em uma

circunferência.

33

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA CIRCUNFERÊNCIA POR MEIO DA

CURVATURA E TORÇÃO

Como aplicação das equações de Frenet, será apresentada como uma circunferência

pode ser caracterizada por meio destas equações.

Para caracterizar uma circunferência, é necessário de alguns conceitos que são tratados

em curvas espaciais e por isso, estes serão aqui definidos.

Definição: Seja 3: RI →α uma curva regular parametrizada pelo comprimento de arco tal

que 0)( >sk . O vetor binormal a α em s é

).()()( snstsb ×=

O referencial ortonormal t(s), n(s), b(s) é o triedro de frenet da curva α em s.

Definição: Cada par de vetores do triedro de frenet determina um plano. O plano de 3R que

contém )(sα e é normal ao vetor t(s) é o plano normal à curva α em s. O plano que contém

)(sα e é normal a )(sb é denominado plano osculador e o plano que contém )(sα e é

normal a n(s) é o plano retificante da curva α em s. Figura 8.

Figura 8: Plano Gerador do triedro de Frenet

Definição: O número real )(sτ definido por )()()( snssb τ=′ , é denominado torção da curva

em s.

Em particular, as Equações de Frenet para o Triedro são:

34

Teorema Fundamental das Curvas

a) Dadas duas funções diferenciáveis ( ) 0>sk e ( ) IRIss ⊂∈,τ , existe uma curva regular

)(sα parametrizada pelo comprimento de arco, tal que ( )sk é a curvatura e ( )sτ é a

torção de α em s.

b) A curva )(sα é única se fixarmos 300 )( IRps ∈=α

20010 )()(,)( vsksvs =′′=′ αα , onde 1v e 2v são ortornomais de 3IR .

c) Se duas curvas )(sα e )(sβ têm a mesma curvatura e torção (a menos de sinal) então

α e β são congruentes.

A grosso modo, esta afirmação (Teorema Fundamental das Curvas), mostra que o

comportamento local de uma curva pode ser descrito completamente por k e τ .

Lema: Seja 3: RI →α uma curva regular de curvatura não nula. Se α é uma curva plana,

então o plano osculador de α independe do parâmetro e é o plano que contém o traço de α .

Demonstração: Podemos supor )(sα parametrizada pelo comprimento de arco. Como α é

uma curva plana, existe um plano de 3R que contém )(Iα . Seja v um vetor não nulo

ortogonal a este plano. Provaremos que v é paralelo a )(sb , ∀ Is ∈ .

Fixando Is ∈0 , temos que 0),()( 0 >=−< vss αα ( )3 ,∀ Is ∈ .

Ao derivarmos ( )3 , obtemos:

( ) ( ) 0)()( 0 =′

⋅−′

⋅ vsvs αα

⇒ [ ] 0)()()()( 00 =′⋅+⋅′−′⋅+⋅′ vsvsvsvs αααα

⇒ 0)( =⋅′ vsα

⇒ 0),( >=< vst ∀ Is ∈ .

=′

−−=′

=′

)()()(

)()()()()(

)()()(

snssb

sbsstsksn

snskst

τ

τ )2(

35

Derivando ( )3 pela segunda vez, resulta que

0)()( =′⋅′+⋅′′ vsvs αα

⇒ 0),( >=′′< vsα

Como )()( sts ′=′′α , podemos escrever

0),( >=′< vst , ou seja

0),()( >=< vsnsk .

Por hipótese, 0)( ≠sk e assim 0),( >=< vsn . Deste modo, mostramos que v é ortogonal a t(s)

e n(s). Logo, v deve ser paralelo a b(s) ∀ Is ∈ e concluímos que o plano osculador de α

independe do parâmetro e é o plano que contém )(Iα .

Deste lema, temos como conseqüência a seguinte proposição.

Proposição: Seja 3: RI →α uma curva regular de curvatura não nula. Então α é uma

curva plana, se e somente se, 0≡τ .

Demonstração:

( )⇒ Consideremos α parametrizada pelo comprimento de arco. Se α é uma curva

plana, então pelo lema anterior b(s) é constante, portanto 0)( =′ sb ∀ Is ∈ . Donde

concluímos que 0)(),()( >=′=< snsbsτ , ∀ Is ∈ .

( )⇐ Reciprocamente se 0=τ , ∀ Is ∈ , então 0)( =′ sb , ou seja, )(sb é constante

∀ Is ∈ . Ao fixarmos Is ∈0 e denotarmos )(sb por b, definimos a seguinte função

>−=< bsssf ),()()( 0αα

Queremos mostrar que 0)( =sf ∀ Is ∈ , pois assim concluiremos que α é plana.

De fato, inicialmente temos que )(sf é constante, pois

( ) ( ) bssbsssf ′⋅−+⋅′

−=′ )()()()()( 00 αααα

⇒ ( ) ( ) bssbsssf ′⋅−+⋅′−′=′ )()()()()( 00 αααα

⇒ bsbsbsbssf ′⋅−′⋅+⋅′−⋅′=′ )()()()()( 00 αααα

⇒ bssf ⋅′=′ )()( α

⇒ 0),()( >==<′ bstsf .

Portanto )(sf é constante. Como 0)( 0 =sf , resulta que 0)( =sf , ∀ Is ∈ , como queríamos.

36

Proposição: Seja 3: RI →α uma curva regular. Então o traço de α está contido em uma

circunferência de raio 0>a , se e somente se, 0≡τ e a

k1

≡ .

Demonstração:

( )⇒ Podemos considerar )(sα parametrizada pelo comprimento de arco.

Suponhamos que α está contido em uma circunferência de raio a e centro c. Assim,

22)( acs =−α e pela proposição anterior, já temos que 0≡τ ∀ Is ∈ . Além disso,

0,)( >=−< bcsα , ∀ Is ∈ . Agora, derivando a expressão 22)( acs =−α , obtemos:

0)(,)( >=−−< cscsds

dαα

⇒ ( ) ( ) ( ) ( ) 0)()()()( =′

−⋅−+−⋅′

− cscscscs αααα

⇒ ( ) ( ) 0)()()()( =′⋅−+−⋅′ scscss αααα

⇒ ( ) 0)()(2 =−⋅′⋅ css αα

⇒ 0)(),( >=−′< css αα

Derivando mais uma vez, temos que:

( ) 0)()()()( =′⋅′+−⋅′′ sscss αααα

⇒ 01)(),( =+>−′′< css αα

⇒ 1)(),( −>=−′′< css αα ,

ou de modo equivalente,

1)()( =−⋅′′ css αα

Disso segue que:

1)( =⋅′′ asα

ask

1)( =

( )⇐ Consideremos a aplicação diferenciável 3: RIf → definida por:

)()()( snassf ⋅+= α

Observemos que

)()()( snassf ′⋅+′=′ α

Queremos provar que )(sf é constante. Da equação )2( , resulta que

( ))()()()()()( sbsstskassf τα −−⋅+′=′

37

Como 0=τ e a

sk1

)( = , ∀ Is ∈ , segue que

−⋅+′=′ )(

1)()( st

aassf α

⇒ )()()( stssf −′=′ α

⇒ 0)( =′ sf ,

Ou seja, f é constante e suponha csf =)( . Assim, pela definição de f, obtemos

csnas =⋅+ )()(α

⇒ )()( snacs ⋅−=−α

⇒ )()( snacs ⋅−=−α

⇒ acs =−)(α

Ou seja, o traço de α está contido em uma circunferência de centro c .

38

5. CONCLUSÃO

Mesmo abordando a disciplina que envolve o tema proposto de forma introdutória,

este trabalho está rico em conhecimentos, pois buscamos e o embasamos com conceitos

importantíssimos já vistos na graduação e a partir destes estruturamos um trabalho de forma

detalhada em outros conceitos, possibilitando assim, qualquer acadêmico de matemática que

nunca estudou a disciplina de Geometria Diferencial conhecer e entender sua idéia, pois além

de conceitos matemáticos, apresentamos ainda um resumo histórico contando desde seu

surgimento, as dificuldades encontradas e alguns dos matemáticos envolvidos para que a

mesma se desenvolvesse.

Por fim, concluímos que a partir de um referencial móvel adaptado a uma curva

parametrizada diferenciável é possível estudar suas propriedades geométricas. Em particular,

as Equações de Frenet nos permitem determinar a curvatura e a torção em todo ponto de uma

curva regular. Mais que isso, dadas as funções curvatura e torção é possível caracterizar a

curva relacionada a estas funções. Em nosso caso especificamente, obtemos a caracterização

da circunferência de raio a e centro c em função da curvatura e torção.

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