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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA - PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PMGPP POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: REALIDADE OU UTOPIA? JONATHAN CARDOSO RÉGIS Itajaí (SC) 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA - PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – PMGPP

POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESSO DE

RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI:

REALIDADE OU UTOPIA?

JONATHAN CARDOSO RÉGIS

Itajaí (SC) 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA - PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – PMGPP

POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESSO DE

RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI:

REALIDADE OU UTOPIA?

Jonathan Cardoso Régis

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas/Profissionalizante, no Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Stanziola

Vieira

Itajaí (SC)

2011

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JONATHAN CARDOSO RÉGIS

POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESSO DE

RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI:

REALIDADE OU UTOPIA?

Esta Dissertação foi julgada APTA para obtenção do Título de Mestre em Gestão de

Políticas Públicas/Profissionalizante e aprovada, em sua forma final, pela

coordenação do Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas

Públicas – PMGPP/UNIVALI.

__________________________________________

DRª. ADRIANA MARQUES ROSSETTO

COORDENADORA

__________________________________________________________

DR. RICARDO STANZIOLA VIEIRA (UNIVALI)

PRESIDENTE E ORIENTADOR

___________________________________________________________

DRª. MARIA JOSÉ REIS (UNIALI)

MEMBRO

__________________________________________________________

DR. JOSÉ LUIZ GONÇALVES DA SILVEIRA (CEUSCIPM)

MEMBRO EXTERNO

Itajaí (SC), 12 de maio de 2011.

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A minha esposa Vivia pela cumplicidade, amor, apoio, sensatez, paciência e compreensão pelos momentos de ausência e “exílio” durante o desenvolvimento desta pesquisa. A minha filha Amanda, pela paciência, compreensão, amor e preocupação com a conclusão deste trabalho, mas, principalmente, por ter-me como exemplo a ser seguido. Amo vocês!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom incomensurável da vida e por permitir que chegássemos ao fim de

mais uma etapa da vida acadêmica: “crescimento constante, aprendizagem diária!”

Ao meu orientador, Professor Dr. Ricardo Stanziola Vieira, pela amizade,

compreensão, orientação sensata, coerente e firme, não medindo esforços para que

pudéssemos alcançar os objetivos propostos para este trabalho.

Aos meus pais, Edson e Eliane, por terem me dado a vida, guiando-me pelo

caminho da verdade, e por terem me ensinando a sempre acreditar na realização

dos meus sonhos.

Ao Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação stricto senso em Gestão de

Políticas Públicas, pelos ensinamentos repassados, os quais proporcionaram a

ampliação de nossos conhecimentos.

A Professora Dra. Maria José, pelo auxílio com material que foi de fundamental

importância para o enriquecimento desta pesquisa.

Aos meus colegas de curso, pela amizade, cumplicidade, companheirismo, pelas

experiências vivenciadas e demonstradas ao longo dessa caminhada.

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“Que é utopia se não o fruto da percepção de dimensões secretas da realidade, um afloramento de energias contidas que antecipa a ampliação do horizonte de possibilidades abertas ao homem?" (Celso Furtado)

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo inicial contextualizar a evolução histórica da

normativa nacional e internacional quanto a proteção das pessoas em

desenvolvimento, ou seja, crianças e adolescentes, partindo-se do Brasil Imperial

aos dias de hoje. Posteriormente, considerações acerca do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), como as garantias Constitucionais e no ECA, especialmente, no

que tange a doutrina da proteção integral. Por fim, busca-se definir o ato infracional

praticado pelo adolescente, sua classificação, a aplicação das medidas

socioeducativas e o desenvolvimento de políticas públicas, através do planejamento

participativo com o envolvimento de órgãos públicos e privados, como atores sociais

diretamente responsáveis no processo educativo-pedagógico de (re) educação e de

(res) socialização do adolescente em conflito com a lei e, assim, proporcionar a

melhoria na relação existente entre o adolescente infrator com o convívio familiar e

com a sociedade. A metodologia a ser utilizada no presente trabalho baseia-se em

pesquisa bibliográfica, através da leitura de livros e periódicos científicos,

compreendidos em universos teóricos desenvolvidos nos campos de trabalho acerca

das ciências políticas e ciências sociais. O método de abordagem dedutivo será

adotado na presente pesquisa, identificando os mais diversos diplomas legais e

doutrinários. Quanto ao tipo de pesquisa, será básica, e quanto ao objeto, será

exploratória. Como técnica de pesquisa utilizar-se-á a pesquisa bibliográfica. Como

resultado, tem-se a participação popular na ressocialização e reeducação do

adolescente em conflito com a lei como sendo uma ferramenta essencial deste

processo.

Palavras-chave: Políticas Públicas. Adolescente Infrator. Ressocialização.

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ABSTRACT

The present study aims to contextualize the historical evolution of national and

international regulations regarding the protection of people in development, in other

words, children and teenagers, starting from Brazil Empire time to nowadays. Then,

some considerations of the Child and Teenagers Statute (CTS), as the Constitutional

guarantees and CTS, in particular the doctrine of full protection. Posteriorly, it tries to

define the infractions committed by teenagers, as well as the classification and

application of social and educational measures the development of public policy

through participatory planning with the involvement of public and private agencies, as

social actors directly responsible for the educational process and pedagogical (re)

education and (re) socialization of teenagers in conflict with the law and therefore,

provide the improvement in the relationship between the teenagers offender with

family life and society. The methodology to be used in this work is based on a

literature by reading books and journals, included in universes theory developed in

the fields of work on political science and social sciences. The method of deductive

approach will be adopted in this research, identifying the most diverse legal texts and

doctrines. Regarding the type of research will be basic, and how the object will be

exploratory. As a research technique used will be the literature search. As a result,

there is popular participation in the resocialization and rehabilitation of teenagers in

conflict with the law as an essential tool in this process.

Key words: Public Policy. Infractor Teenager. Resocialization.

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LISTA DE ABREVIATURAS

art.: Artigo

CEDEDICA: Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

CONANDA: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

COPOM: Centro de Operações da Polícia Militar

CRFB/1988: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CP: Código Penal

D.A.R.E.: Drug Abuse Resistance Education

ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente

EMAPE: Estação Multitarefa para Atendimento Policial e Emergência

FUNABEM: Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

n.: número

ONU: Organização das Nações Unidas

p.: página

PNABEM: Política do Bem-Estar do Menor

PROERD: Programa Educacional de Resistência às Drogas

PSB: Proteção Social Básica

PSE: Proteção Social Especial

SAM: Serviço de Assistência a Menores

SINASE: Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

STJ: Superior Tribunal de Justiça

SUAS: Sistema Único de Assistência Social

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SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................................. 6

ABSTRACT........................................................................................................... 7

ABREVIATURAS................................................................................................. 8

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO PROTETIVA A CRIANÇA E

AO ADOLESCENTE NO BRASIL.......................................................................

17

2.1 BRASIL IMPÉRIO........................................................................................... 17

2.2 REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL....................................................... 19

2.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TUTELA AS PESSOAS EM

DESENVOLVIMENTO NO SÉCULO XX: PERÍODO ANTERIOR AO

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE..............................................

19

2.3.1 Código de Menores Mello Matos................................................................. 21

2.3.2 As décadas de 1940 a 1960: Mudança Marcante na proteção ao

menor...................................................................................................................

23

2.3.3 O Código de Menores de 1979................................................................... 26

2.3.4 A reforma penal e o Código Penal de 1984................................................ 29

2.3.5 Normativa Internacional.............................................................................. 30

2.3.5.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos........................................... 30

2.3.5.2 Declaração dos Direitos da Criança......................................................... 31

2.3.5.3 Pacto internacional dos direitos civis e políticos e a Convenção

americana sobre direitos humanos......................................................................

32

2.3.5.4 Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça

Juvenil (Regras Mínimas de Beijing)....................................................................

33

2.3.5.5 Diretrizes de Riad e a Convenção sobre os direitos da criança.............. 34

2.3.5.6 Declaração mundial sobre a sobrevivência, a proteção e o

desenvolvimento das crianças nos anos 90........................................................

36

2.3.5.7 Declaração do Panamá............................................................................ 37

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3 NOÇÕES GERAIS ACERCA DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE..................................................................................................

39

3.1 A LEI Nº 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...... 39

3.2 CRIANÇA E ADOLESCENTE: CONCEITO E DISTINÇÃO........................... 42

3.3 A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL................................................... 44

3.3.1 Doutrina da situação irregular..................................................................... 45

3.3.2 Doutrina da proteção integral..................................................................... 47

3.4 INIMPUTABILIDADE PENAL......................................................................... 55

3.5 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE............. 55

4 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE

EM CONFLITO COM A LEI.................................................................................

58

4.1 ATO INFRACIONAL....................................................................................... 62

4.1.1 Apuração do ato infracional........................................................................ 63

4.2 O ECA E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.............................................. 67

4.2.1 Advertência................................................................................................. 69

4.2.2 Obrigação de reparar o dano...................................................................... 70

4.2.3 Prestação de serviço à comunidade........................................................... 72

4.2.4 Liberdade assistida..................................................................................... 74

4.2.5 Semiliberdade............................................................................................. 80

4.2.6 Internação................................................................................................... 81

4.3 A APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.................................. 83

4.4 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEPÇÃO......................................................... 85

4.5 O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO PÚBLICA ATRAVÉS DO

PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO NA BUSCA PELA RESSOCIALIZAÇÃO

DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: UMA

REALIDADE?........................................................................................................

90

4.5.1 A gestão participativa e a articulação social: base da

democracia...........................................................................................................

90

4.5.2 Compreendendo Governança..................................................................... 94

4.5.3 Conselhos gestores: o poder da participação social................................... 97

4.5.4 A participação popular na ressocialização do adolescente em conflito

com a lei...............................................................................................................

101

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11

4.5.4.1 A municipalização, descentralização política e participação social no

atendimento ao adolescente em conflito com a lei...............................................

102

4.5.4.2 A reinserção do adolescente em conflito com a lei através da

participação social: exemplos práticos.................................................................

105

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 120

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 125

APÊNDICE........................................................................................................... 136

APÊNDICE A....................................................................................................... 137

ANEXOS.............................................................................................................. 138

ANEXO A - Passos para implantação do Programa de Execução das

Medidas Sócio-Educativas em Meio Aberto - Liberdade Assistida &

Prestação de Serviços à

Comunidade........................................................................................................

139

ANEXO B - PROJETO: Ressocialização de Adolescentes em conflito com

a lei através de Medidas Socioeducativas (Prestação de

Serviços).............................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Definiu-se como tema a “Políticas Públicas e a Participação Popular no

Processo de Ressocialização do Adolescente em Conflito com a Lei: Realidade ou

Utopia?”, delimitando-se a pesquisa no sentido em que órgãos públicos quanto

particulares, possam servir como ferramentas alternativas em auxiliar o Poder

Público na ressocialização do adolescente infrator sob o prisma constitucional da

dignidade da pessoa humana.

O objetivo geral visa em analisar através da perspectiva constitucional o Ato

Infracional cometido pelo Adolescente e de que maneira a sociedade e órgãos

públicos poderão contribuir na ressocialização, como forma de medida

socioeducativa.

A partir do objetivo geral, destacam-se três objetivos específicos. O primeiro

está em identificar a evolução, bem como a influência histórica dos tratados e

convenções internacionais sobre a legislação brasileira, para maior compreensão

sobre a introdução da Doutrina da Proteção Integral, em especial ao Estatuto da

Criança e do Adolescente.

O segundo refere-se ao estabelecimento e especificação dos princípios

norteadores de proteção as pessoas em desenvolvimento existentes no

ordenamento jurídico.

Já o terceiro, objetiva destacar e esclarecer procedimentos que busquem a

ressocialização do adolescente infrator, em especial quanto o desenvolvimento da

gestão pública, através do planejamento participativo no processo de

ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

Definidos os objetivos, faz-se necessário formular o problema e as hipóteses

de pesquisa.

Diariamente inúmeras situações delituosas perpetradas por adolescentes,

constatando-se, muitas vezes, a dificuldade quanto a aplicação de medidas

previstas na legislação vigente em solucionar tal problema social.

Importa observar ainda o índice de ocorrências no município de Itajaí/SC

envolvendo adolescentes infratores entre 1º janeiro de 2007 a 30 de outubro de

2010.

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De acordo com informações extraídas da Polícia Militar de Santa Catarina,

através do Sistema EMAPE/COPOM, destacou-se 74.471 (setenta e quatro mil

quatrocentas e setenta e uma) ocorrências relacionadas a crimes e contravenções,

ocorrências diversas, dentre outras, identificando o envolvimento de adolescentes,

em aproximadamente 3.000 (três mil) na prática de ato infracional, correspondendo

a 11,5% (onze vírgula cinquenta por cento) do total.

Com base nas ocorrências envolvendo adolescentes infratores, muito embora

não represente um número expressivo, ações pró-ativas, bem como reativas, e no

caso em tela, a participação de órgãos públicos e privados no processo de

ressocialização, é identificado como de fundamentais na inserção de valores, de

responsabilidade e do exercício da cidadania para que ações dessa natureza não

voltem a acontecer.

Consequentemente, situações relacionadas à violência, descaso e abusos

nos Centros de Internamento Provisório (CIP), aliada a ambientes em total

desconformidade com os preceitos constitucionais de dignidade da pessoa humana,

dificulta sobremaneira a aplicação, de forma efetiva, de medidas em busca da

recuperação/ressocialização dessas pessoas.

Diante disso e para melhor compreensão do contexto existente, necessário se

faz traçar aspectos norteadores de proteção ao adolescente e da importância do

envolvimento da sociedade e dos demais órgãos públicos na busca pela

ressocialização do adolescente infrator, a fim de evitar ou minimizar a prática e/ou a

inclusão dessas pessoas em delitos de diversos.

Para que efetivamente ocorra a governança participativa, o envolvimento e a

interação entre sociedade civil na implementação de políticas públicas e Poder

Público na busca de soluções para as dificuldades é fundamental para o

crescimento do Estado e do exercício da cidadania.

O exercício do comprometimento, de responsabilidade, de cooperação e

confiança mútua entre os atores sociais (sociedade e órgãos públicos) envolvidos no

processo de ressocialização do adolescente em conflito com a lei é a garantia para o

estabelecimento e implantação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento

coletivo.

Delimitados os problemas, têm-se três hipóteses.

A primeira é apresentar os aspectos jurídicos e sociais referente à introdução

no sistema jurídico brasileiro, da Doutrina da Proteção Integral e da Absoluta

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Prioridade, consagrados constitucionalmente, reconhecendo-se as crianças e aos

adolescentes direitos específicos e especiais, contando neste processo com o

comprometimento e participação da família, do Estado e da sociedade.

A segunda, definir a Doutrina da Proteção Integral, bem como as garantias

processuais e as medidas adotadas em busca da ressocialização dos adolescentes

em conflito com a lei junto à sociedade.

Por último é fundamental identificar a necessidade e a efetividade da

participação popular, através da implementação de políticas públicas e da

governança, na aplicação de medidas socioeducativas aos adolescentes infratores,

por serem de fundamental importância para a reeducação e reintegração daqueles

junto à sua família e à sociedade.

Desse modo, a participação social na construção de políticas públicas, de

soluções às dificuldades vivenciadas e praticadas por adolescentes é de

fundamental importância para o crescimento do Estado, uma vez que há o

compartilhamento de idéias, envolvendo atores públicos e privados neste processo.

Ou seja, é a ocorrência da interação entre esses atores sociais que acaba

proporcionando e despertando senso de responsabildiade e de construção de

valores ao adolescente em conflito com a lei.

O estudo justifica-se como meio de identificar soluções mais céleres para os

problemas envolvendo Crianças e Adolescentes, a implementação de políticas

públicas fundada na gestão participativa, visando à redução de atos infracionais

praticados pelos adolescentes.

A participação da sociedade em conjunto com órgãos públicos e privados no

processo de ressocialização do adolescente em conflito com a lei passa a ser

instrumentos pela busca na redução da questão da violência e da “impunidade” das

infrações praticadas por adolescentes, como também uma alternativa na aplicação

das medidas pedagógicas visando a reeducação e a recuperação desses infratores

junto as suas famílias, a escola e a sociedade.

O envolvimento de adolescentes na prática de ato infracional decorre,

principalmente, da desigualdade social, das condições de vida precária de crianças

e adolescentes, desnutrição, êxodo escolar, trabalho infantil, baixa qualidade do

ensino, má distribuição de renda, famílias desestabilizadas, discriminação, por

exemplo, que muitas vezes levam os adolescentes a executarem ações negativas.

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Tal procedimento deve estar adequado às normas constitucionais e

infraconstitucionais onde, o aprimoramento está voltado à proteção das pessoas em

desenvolvimento.

A normativa brasileira traz a adoção de políticas de atendimento, exercida

através de ações articuladas entre poder público e sociedade, bem como com os

entes federados em seus três níveis (União, Estados, Municípios e Distrito Federal),

em especial, a municipalização do atendimento.

A presente pesquisa tem sua relevância, em face da integração de sua

temática com a realidade vivenciada na busca incessante de mecanismos para a

adequação aos preceitos constitucionais.

O tema proposto é atual, imprescindível e de interesse social, uma vez que

prima-se pelo cumprimento do disposto na legislação em vigor e no auxílio à

proteção das pessoas em desenvolvimento, resultando na ressocialização do

adolescente infrator.

Assim, o presente estudo procurou traçar linhas que primam, através do

envolvimento e participação da sociedade, em conjunto com órgãos públicos, na

reformulação de medidas, bem como de ações cuja finalidade está em agilizar e

otimizar a ressocialização do adolescente infrator, observados, os aspectos legais

vigentes e auxiliando na formação e reformulação na maneira de agir dessas

pessoas, com dignidade, ética e comprometimento por uma sociedade mais justa.

A pesquisa demonstra a imprescindibilidade em viabilizar a adequação à

realidade jurídica vigente, garantindo a proteção do interesse da sociedade em

reintegrar esses adolescentes ao convívio social, respeitando o princípio da proteção

integral das pessoas em desenvolvimento.

Para a elaboração deste trabalho foi adotado o método de abordagem

dedutivo, partindo-se da perspectiva geral para uma específica.

Convém ressaltar que a presente pesquisa gerou novos conhecimentos,

adotando-se a técnica de pesquisa bibliográfica e documental, com característica

exploratória, fazendo-se uso da legislação vigente, bem como a doutrinas e artigos

científicos atinentes ao tema, aliada as práticas pedagógicas desenvolvidas no

Programa de Pós-Graduação stricto senso em Gestão de Políticas Públicas.

Com isso, ao se utilizar o método dedutivo, buscou-se na legislação existente,

nas estruturas curriculares, bem como no referencial teórico de educadores o

regramento geral para se atingir os objetivos propostos.

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A presente dissertação consiste em três capítulos, sendo que no primeiro

enfatiza-se a evolução histórica da legislação nacional e internacional relativa a

tutela das pessoas em desenvolvimento, em especial no que diz respeito aos jovens

em conflito com a lei, com destaque a Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) e a aplicação das medidas socioeducativas.

O segundo capítulo destaca a compreensão acerca do conceito e distinção

entre Criança e Adolescente, a doutrina de Proteção Integral e os princípios e

garantias de proteção à Criança e ao Adolescente.

Por fim, o terceiro capítulo, cuida do Ato Infracional praticado pelo

adolescente, a classificação das medidas socioeducativas previstas no ECA e, em

especial, a participação da sociedade e de órgãos públicos, através de ações

articuladas, no processo de ressocialização do adolescente em conflito com a lei,

são imprescindíveis para o cumprimento do disposto na legislação vigente

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO PROTETIVA A CRIANÇA E AO

ADOLESCENTE NO BRASIL

Destaca-se aqui, a evolução histórica da legislação que trata sobre a Criança

e o Adolescente no Brasil, entre o período imperial brasileiro até os dias atuais,

abordando aspectos internacionais e a normativa nacional, demonstrando que, com

o passar do tempo, ações articuladas entre poder público e sociedade, são

fundamentais no desenvolvimento dessas pessoas, em especial no que se refere a

prática de ato infracional.

O crescimento assustador da violência e da delinqüência, que direta e

indiretamente afetam adultos, e principalmente Crianças e Adolescentes pode ser

decorrente da marginalização social.

Com o surgimento do Estado Contemporâneo, caracterizado pelo dever estatal de efetivar os direitos fundamentais, a idéia de proteção à infância vai, gradativamente, sendo consagrada como uma das funções estatais obrigatórias, seja no plano internacional, seja no nacional e paralelamente distanciando-se da seara criminal para se situar autonomamente como ramo próprio do Direito (SILVA, 2008, p. 25)

Sabe-se ainda que existem outros fatores, contudo, de acordo com Pereira

(2008), a maior parte dos atos ilícitos são originários de situações particularmente

difíceis em que se encontra boa parte da população, como a sub-moradia, o

subemprego, o subsalário, fatores pertencentes ao submundo, estes também de

responsabilidade do Estado, do poder público constituído, das políticas públicas,

como também é a segurança.

2.1 O BRASIL IMPÉRIO

De acordo com Paula (2002, p. 15) demonstra de que maneira as crianças e

adolescentes eram tratados:

No Código Criminal do Império, sancionado pelo Imperador D. Pedro I, em 16 de dezembro de 1830, não se julgavam criminosos os menores de 14

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18

anos (art. 10, § 1º), mas se houvessem com discernimento deveriam ser recolhidos às casas de detenção pelo tempo que o juiz entendesse conveniente (art. 13). Entre 14 e 21 anos de idade o infrator tinha sua pena atenuada, ficando facultado ao juiz, desde que o autor fosse menor de 17 anos, impor-lhe as penas da cumplicidade em substituição àquelas que seriam ordinariamente aplicadas aos maiores. Assim, a morte seria trocada pela pena de galés

1 perpétua, a de galés perpétua ou prisão perpétua por

galés por vinte anos ou prisão por vinte anos, banimento2 por desterro

3 por

vinte anos, degredo4 ou desterro perpétuo por degredo ou desterro por vinte

anos, consoante se verifica do art. 18, § 10, combinado com o art. 34, segunda parte, do mencionado Código.

Nota-se que não havia uma idade mínima estabelecida para responsabilizar

as Crianças naquela época.

A idéia era que até os 08 (oito) anos de idade, via-se a Criança como objeto

de preocupações dos adultos, sendo que a partir daquela idade, essas Crianças

passavam a sujeitos de obrigações e responsabilidades, reveladas não apenas pela

existência do trabalho em si, mas também pela incidência de normas repressivas.

(PAULA, 2002).

Destaque para duas classes de indivíduos, fundada na divisão de idades,

sendo a primeira os menores de 14 (quatorze) anos, presumidamente

irresponsáveis, e os maiores de 14 (quatorze) anos, onde provando-se que agiram

com discernimento, existindo desta forma a possibilidade de serem recolhidos pelos

juízes as casas de correção pelo tempo que fosse necessário, tendo como limite

máximo a idade de 17 (dezessete) anos. Vimos aqui, a aplicabilidade da “Teoria da

Ação com Discernimento”, responsabilizando-se o menor de 14 (quatorze) anos,

dando-se ao juiz o poder de, a juízo próprio, avaliar o grau de consciência da prática

criminosa. (KAMINSKI, 2002).

A idade penal ficou, portanto, definida como sendo aos 14 anos, conforme

previsto no art. 10 do Código do Império.

1 Galés - conforme se extrai do Código, em seu art. 44, esta pena era consistente em prisão com trabalhos forçados executados com “calceta no pé e correntes de ferro”.

2 Banimento – privava o réu para sempre de seus direitos de cidadão brasileiro, inibindo-o perpetuamente de habitar o território do império.

3 Desterro – é a saída dos lugares do delito. Da residência do réu e da vítima, proibindo-se o ingresso dos mesmos durante o período fixado na sentença.

4 Degredo – é aquela que obrigava o réu a residir em lugar destinado pela sentença, dela não podendo sair durante o tempo fixado na sentença.

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19

2.2 REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Após a Proclamação da República, em 1890, foi instituído o Código Penal da

República através do Decreto n 847, de 11 de outubro de 1890, e a

inimputabilidade penal passou aos menores de 09 (nove) anos de idade,

permanecendo a maioridade a partir dos 14 (quatorze) anos, como previsto no

Código do Império.

O Código Penal da República de 1890, não considerou os menores de 9 anos

de idade criminosos, declarando-os irresponsáveis de pleno direito, bem como os

maiores de 9 a menores 14 anos que agiam sem discernimento. Havendo a prática

de ato ilícito com discernimento, os menores entre 9 e 14 anos eram recolhidos a

estabelecimentos disciplinares, permanecendo de acordo com o tempo em que o

juiz achasse conveniente, não devendo exceder os 17 anos. (LIBERATI, 2003a).

Observa-se que num primeiro momento, a referência dos menores na

legislação brasileira, surgiu com o objetivo de inibir e responsabilizar penalmente

estes, em decorrência de seus atos de delinqüência e, em um segundo momento, a

idéia na legislação da introdução dos menores com o objetivo de resguardar a

ordem e o progresso social, em virtude do receio da sociedade e do Estado do

perigo em potencial que era uma infância pobre e moralmente abandonada

(KAMINSKI, 2002).

Assim como o Código Imperial, a nossa primeira Constituição Republicana, de

1891 – dos Estados Unidos do Brasil, também omitiu-se de qualquer citação a

respeito da Criança brasileira.

2.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE TUTELA AS PESSOAS EM

DESENVOLVIMENTO NO SÉCULO XX: PERÍODO ANTERIOR AO ESTATUTO DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Revoluções sociais ocorridas ao redor do mundo no início do século XX

também vieram a influenciar a legislação brasileira.

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20

De acordo com D‟agostini (2003) as transformações ocorridas na Europa em

relação à Criança e ao Adolescente, como por exemplo, a descoberta do sentimento

da infância, da disciplina e da educação como parte da vida infanto-juvenil, também

surtiram seus efeitos no Brasil.

O citado autor destaca ainda que com o passar de tempo, o país despertou

interesse quanto o ingresso na era industrial, importando tecnologias e abrindo

mercado para as indústrias estrangeiras o que, consequentemente, gerou a queda

do Império e o nascimento da República em 1889 (D‟AGOSTINI, 2003).

A reivindicação pelos direitos da criança decorrente de um movimento

internacional no início do século XX buscou o reconhecimento de sua condição

distinta do adulto.

No início do século XX, segundo a lição de Kaminski (2002), os interesses

relacionados a assistência, defesa e proteção do menor começam a crescer em

várias esferas em favor de uma legislação mais específica à Criança. Contudo, os

primeiros projetos de lei que surgiram a época, não lograram êxito, em decorrência

de persistirem com uma característica a “Teoria da Ação com Discernimento”, com o

objetivo de avaliar a responsabilidade dos agentes pela prática de ato criminal,

sendo que não eram considerados criminosos os menores entre 12 (doze) e 17

(dezessete) anos de idade que agissem sem compreenderem o ato praticado.

Em 1921, surge a Lei n. 4.242 de 05 de janeiro, a qual trouxe alterações no

Código Penal da República no que diz respeito ao critério do discernimento,

eliminando-o, passando-se a considerar inimputável o menor de quatorze anos.

(LIBERATI, 2003a).

A lei federal nº 4.242/21 trazia disposições típicas de um Código de Menores, como o conceito de abandono e os institutos de suspensão e da perda do pátrio poder através de processos especiais. Essa foi, sem dúvida alguma, uma das leis mais benéficas à criança e ao adolescente quando se referiu a responsabilidade dessas em relação a prática de um crime. Entre tantos avanços, a lei fixou a idade de imputabilidade penal aos 18 anos; garantiu aos menores dessa idade um processo especial. Previu o cumprimento da pena em separado dos adultos; além de ser eliminado a utilização do critério do discernimento para a aferição da responsabilidade criminal do menor de 14 anos, passando a considerá-lo totalmente improcessável e irresponsável. (KAMINSKI, 2002, p.23).

Em decorrência, Saraiva (2009) demonstra que em 1923 nasce o primeiro

Tribunal para Menores do país, construindo-se, assim, uma doutrina calcada nas

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dificuldades e carências dos menores daquela época, bem como no atendimento e

prevenção da delinqüência infanto-juvenil.

[...] o Decreto nº 16.272, de 20 de dezembro de 1923, que, entre outras disposições, criou o Juízo Privativo de Menores (art. 37), instalando-o na cidade do Rio de Janeiro. Esse decreto também aprovou o Regulamento da Assistência e proteção aos Menores Abandonados e Delinqüentes, sendo seu objeto e a finalidade da lei que: “o menor de qualquer sexo, abandonado ou delinqüente, (fosse) submetido pela autoridade competente ás medidas de assistência e proteção” (Art. 1º). Em relação à responsabilidade penal do menor, o decreto reproduziu a mesma essência da Lei nº 4.242/21. (KAMINSKI, 2002, p.23).

No ano de 1924 foi criado o primeiro Juízo Privativo de Menores, sendo que o

primeiro titular – Dr. José Cândido Albuquerque Mello Mattos – foi, além de criador

de vários estabelecimentos de assistência e proteção à infância abandonada e

delinqüente, o responsável pela organização do Código de Menores, que ficou

conhecido como o “Código Mello Mattos”. (LIBERATI, 2003a).

2.3.1 Código de Menores Mello Matos

Em 12 de outubro do ano de 1927, foi concluído e aprovado o Decreto n°

17.943-A, que estabeleceu o primeiro Código de Menores do Brasil, conhecido como

Código Mello Mattos, que consolidou as leis de assistência e proteção aos menores.

O código de Menores em seus artigos 1º, 68 e 69, destaca que o menor de 14

(quatorze) anos, apontado como autor ou cúmplice de crime ou contravenção, seria

submetido as medidas de assistência e proteção, bem como não seriam submetidos

a nenhuma espécie de processo penal.

Destaque aos artigos 1º, 68 e 69 do Código de Menores, que, em breve

palavras dispõem sobre a submissão pela autoridade competente dos menores de

18 (dezoito) anos, sendo estes garantido medidas de proteção e de assistência,

assim como também nas situações de prática de infrações penais por menores de

14 (quatorze) anos, não estavam sujeitos ao processo penal mas, efetuar o registro

do estado físico, mental e moral do menor, bem como da situação social e

econômica de seus pais ou responsáveis, nas situações dos menores com mais de

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14 (quatorze) anos e menores de 18 (dezoito) anos estariam sujeitos a um processo

especial, observados os registros especificados anteriormente.

Da mesma forma como disposto no Código Imperial, o Código de Menores

Mello Mattos estabeleceu duas classes de protegidos: o abandonado e o

delinqüente, em ambos, caracterizado menores de 18 anos de idade, ficando estes

submetidos ao regime estabelecido pelo Código, eximindo o menor de 14 anos de

qualquer processo penal, e submetendo o maior de 14 e menor de 18 anos ao

processo especial.

Surge a compreensão de que a recuperação do menor não passa pela repressão e punição, mas pela assistência e reeducação de comportamento, devendo ser utilizada através de uma pedagogia corretiva. (KAMINSKI, 2002, p.26).

No mesmo sentido (LIBERATI, 2003a, p.30):

A nova postura legislativa classificou os menores de 18 anos em abandonadas e delinqüentes; os delinqüentes, com idade superior a 14 anos, não eram submetidos a processo penal, mas a um processo especial de apuração de sua infração; a “Teoria do discernimento” foi abolida e a medida de internação ao delinqüente era imposta por todo o tempo necessário à sua educação entre 3 e 7 anos; os abandonados eram recolhidos e encaminhados a um lar, fosse dos pais, fosse de pessoa responsabilizada por sua guarda; aos menores de 2 anos, determinava sua entrega, para serem criados “fora da casa dos pais”. Previu, também, aquele Código o aconselhamento das mães, para evitar-se o abandono dos filhos; o sigilo dos atos processuais foi instituído nos casos de acolhimento do menor por outra família; o trabalho do menor foi limitado à idade de 12 anos e o trabalho noturno foi proibido aos menores de 18 anos.

Constata-se no Código de Menores o reflexo de um profundo teor

protecionista, cujo objetivo maior era o controle total das Crianças e jovens,

consagrando a aliança entre Justiça e Assistência, constituindo novo mecanismo de

intervenção sobre a população pobre.

O Código de Mello Mattos, conforme a lição de Veronese (1997), resumiu, de

forma ampla e perfeita leis e decretos que tinham como objetivo aprovar mecanismo

legal que viesse a dar uma especial atenção tanto à Criança quanto ao Adolescente,

vindo a assumir a assistência a estes menores sobre um aspecto pedagógico,

educacional.

Nota-se também, segundo Kaminski (2002, p. 26) que o Código de Menores

de 1927, institucionalizou, de forma definitiva, “o dever do Estado em assistir os

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menores que, devido à pobreza, ao abandono ou à morte dos pais, tornavam-se

dependentes da ajuda e da proteção pública como única forma de sobrevivência”.

Liberati (2003a) enfatiza ainda a criação de um esboço de Polícia Especial de

menores, dentro da competência dos comissários de vigilância, onde as questões

envolvendo menores abandonados, a intervenção para suspender, restringir ou inibir

o poder familiar, através da imposição de condições e normas aos responsáveis

pelos menores (pais ou tutores) de competência do juiz de menores, bem como a

proposta em criar-se um corpo de assistentes sociais, sendo designados como

delegados de assistência e proteção, tendo a possibilidade de participação popular

como comissários voluntários ou membros do Conselho de Assistência e Proteção

aos Menores, estruturando, desta forma, os internatos dos juizados de menores.

Aduz ainda o mencionado autor (2003a) que a ação social do Juízo de

Menores, entre os magistrados, foi considerada um diferencial, onde estes

desempenhavam preferencialmente uma função voltada mais para o social, tendo

essa prática permanecido em vigor até a promulgação da Lei nº 8.069/1990 –

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

2.3.2 As décadas de 1940 a 1960: Mudança Marcante na proteção ao menor

Antes de destacar o Código Penal de 1940, importante observar que as

Cartas Constituintes de 1824 e 1891 foram omissas em relação a tutela da Criança e

do Adolescente, sendo que apenas com a Constituição de 1934, observa-se a

referência a proteção das pessoas em desenvolvimento, proibindo o trabalho para

os menores de 14 (quatorze) anos, ampliando-se a tutela na Magna Carta de 1937,

em especial, de acordo com Veronese (1997), a responsabilidade do Estado a em

assisti-las nos casos de carência.

No mesmo sentido, Liberati (2003a, p.31) leciona:

O movimento constitucional pátrio registrou, pela primeira vez, em 1934, uma referência direta à proteção da criança, no que diz respeito à proibição do trabalho de menores de 14 anos, do trabalho noturno aos menores de 16 anos e, em indústrias insalubres, a menores de 18 anos. Previa, ainda, a proteção e amparo à maternidade e à infância, os direitos referentes ao lar e ao trabalho feminino. Em 1937, durante o Estado Novo, Getúlio Vargas

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outorgou a nova Constituição, que previa a assistência à infância e à juventude, assegurando-lhes condições físicas e morais para o desenvolvimento de suas faculdades. Penalizava os pais pelo abandono dos filhos e permitia que os pais carentes recorressem ao Estado, a fim de pedir um auxílio para a subsistência e educação dos filhos.

Ressalta-se ainda, que a Constituição de 1937, durante o período ditatorial,

Estado Novo, deu maior ênfase a proteção ao menor carente, garantindo condições

mínimas de desenvolvimento, competindo ao Estado o dever de provê-las.

Quanto ao Código Penal de 1940 (Dec.-Lei n. 2.848/1940), elevou-se a idade

de imputabilidade penal para 18 (dezoito) anos de idade:

Art. 23, do Código Penal de 1940: Os menores de dezoito anos são penalmente irresponsáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.

Liberati (2003a) demonstra que em 1941 criou-se o Serviço de Assistência a

Menores - SAM, através do Dec.-lei nº 3.799/41, objetivando corrigir, reprimir e

assistir os menores desvalidos e infratores, fundada em uma política corretiva,

repressiva e assistencial a nível nacional. Porém, por possuir estrutura inadequada e

não haver autonomia administrativa e financeira, não logrou êxito em alcançar seus

objetivos.

[...] a nova Constituição de 1946, que, sem trazer modificações de conteúdo às leis anteriores, só inovou ao impor o dever estatal de proteção e assistência à maternidade, á infância e à adolescência, além de estender a proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos (art. 157, IX) Consoante previa o decreto-lei em relação ao menor de 14 anos que cometia infração penal, afastada a teoria da ação com discernimento, ficavam elas sujeitos à aplicação das medidas judiciais de assistência e proteção, conforme indicadas pelos motivos e circunstâncias do fato, bem como pelas condições pessoais do menor (KAMINSKI, 2002, p. 27)

Criou-se em 1 de dezembro de 1964 a Fundação Nacional do Bem-Estar do

Menor - FUNABEM, através da Lei nº 4.513, em substituição ao SAM, que fracassou

em virtude de aplicar uma política inadequada quanto à prevenção.

Liberati (2003a) demonstra também o drama vivenciado pela criança

brasileira, vista àquela época, como sendo um problema social, integrado,

conseqüentemente, aos preceitos da segurança nacional, criando-se assim a

Política do Bem-Estar do Menor – PNABEM.

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A Lei 4.513/64 estabelecia a Política Nacional de Bem-Estar do Menor, criando uma gestão centralizadora e vertical, baseada em padrões uniformes de atenção direta implementados por órgãos executores inteiramente uniformes em termos de conteúdo, método e gestão. O órgão nacional gestor desta política passa a ser a FUNABEM (Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor), e os órgãos executores estaduais eram as FEBEMs (Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor). (SARAIVA, 2009, p. 43)

Conforme destaca Veronese (1997), o Estado não permitia a participação

popular, criando-se maneiras em impedir manifestações de resistência do povo,

como a centralização do poder, observando-se, como exemplo, a FUNABEM, que

passou a ser administrada pela Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PNBEM).

A PNBEM, como as outras políticas sociais definidas neste período do regime militar, revestiu-se com um manto extremamente reformista e modernizador, passando a colocar em relevo uma perfeição técnico-burocrática e metodológica. Dava-se ao problema do então "menor" soluções pragmáticas e imediatistas, que se propunham escamotear sua verdadeira natureza. (VERONESE, 1997, p.153-154).

A Política Nacional do bem-estar do Menor, assim como a FUNABEM foram

instrumentos de controle da sociedade civil, contudo, a política institucional adotada

em nosso país não atendia as necessidades dos menores marginalizados, que

crescia a cada dia, sendo que em 1967, a Constituição Federal, inovou com a

proibição do trabalho aos menores de 12 anos de idade e instituindo o ensino

obrigatório e gratuito nas escolas públicas para Crianças entre 7 e 14 anos.

Por sua vez a Constituição Federal de 1967, seguida pela Emenda Constitucional n. 1, de 1969, ao instituir a assistência ao universo infanto-juvenil, não seguiu no todo as constituições precedentes, determinando duas modificações específicas. A primeira, referente à idade mínima para a iniciação ao trabalho, que passa a ser de 12 anos, e a segunda, instituindo o ensino obrigatório e gratuito nos estabelecimentos oficiais para as crianças de 7 a 14 anos de idade. A postura assumida pelo Estado brasileiro de permitir o trabalho de crianças com 12 anos, a partir de 1967, significou um retrocesso com relação às legislações da maioria dos países. (VERONESE, 1997, p. 11)

Destacados aspectos entre as décadas de 1930 e 1960, compete enfatizar a

Doutrina de Situação Irregular instituída pelo Código de Menores de 1979.

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2.3.3 O Código de Menores de 1979

Em outubro de 1979, através da Lei nº 6.697 foi instituído o novo Código de

Menores, recepcionando o Sistema FUNABEM, trazendo uma inovação quanto ao

problema do menor: a “Situação Irregular”.

O artigo 2 do referido Código definia as hipóteses onde o menor encontrava-

se na Situação Irregular:

I – privado de condições essenciais à saúde e instrução obrigatória, ainda que, eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II – vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III – em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV – privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V – com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração penal

Em outras palavras, durante a vigência do Código de Menores, o Estado

focava em uma categoria específica de crianças e adolescentes, quais sejam:

aquelas que não se encontravam inseridas no contexto estabelecido à época,

restringindo assim a incidência das regras traçadas pelo citado dispositivo legal.

Kaminski (2002, p.31) destaca:

O 2º Código de Menores do Brasil, Lei federal nº 6.697, de 12 de outubro de 1979, acolheu a chamada Doutrina da Situação Irregular do Menor, em que situações irregulares vinham enumeradas exaustivamente no Art. 2º da lei. Da mesma forma que o código substituído, o código de 1979 não foi uma lei de proteção genérica, isto é, dirigida a todos os adolescentes e crianças brasileiros. Somando uma categoria às antes existentes, o novo código foi dirigido somente a três classes de menores: a) abandonados – material, intelectual e jurídico; b) vítimas – de maus-tratos, em perigo moral, desassistidos e explorados; c) infratores ou inadaptados, como bem descreve e faz a divisão a lei,

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No que diz respeito à Doutrina da Situação Irregular, Saraiva (2002, p.14)

aduz que:

[...] pode ser sucintamente definida como sendo aquela em que os menores passam a ser objeto da norma quando se encontrarem em estado de patologia social, assim definida legalmente (no revogado Código de Menores em seu artigo 2º). Esta doutrina, superada em nossos dias, mas que constituiu um avanço em face da Escola anterior (do Direito Penal do Menor) na medida em que: faz da criança e do adolescente o interesse da norma não apenas pela questão penal, parte do pressuposto que haveria uma situação regular, padrão, e que a criança e o adolescente tornam-se interesse do direito especial quando apresentam uma “patologia social", chamada situação irregular, ou seja, quando não ajusta ao padrão estabelecido.

Ainda em relação a doutrina da Situação Irregular, Kaminski (2002, p.32) diz

que:

Quanto à Doutrina da Situação irregular, tratou-se de uma formulação doutrinária reconhecidamente de origem brasileira. Dizia ela que o menor abandonado, vítima ou o infrator estavam em situação irregular e que assim eles mereciam ser tratados. Por sua visão o problema restava simplificado e estava centrado no menor [...] em sua concepção pensava-se que a sociedade vivia sob a civilidade, a harmonia e a ordem, isto é, a sociedade e o Estado estavam regulares, a situação irregular em que estava envolvido o menor era tão-só culpa dele, que não se adequou à vida em sociedade e ao seu convívio.

Cavalieri (1976 apud KAMINSKI, 2002) discorda do discorrido acima,

manifestando-se no sentido de que o menor em Situação Irregular é resultado,

sempre, de ação ou omissão de seu responsável, mesmo na hipótese de prática de

um crime.

Têm-se como características da Situação Irregular:

a) as crianças e os jovens aparecem como objetos de proteção, não são reconhecidos como sujeitos de direitos, e, sim, como incapazes. Por isso as leis não são para toda a infância e adolescência, mas, sim, para os “menores”; b) utilizam-se categorias vagas e ambíguas, figuras jurídicas de “tipo aberto”, de difícil apreensão desde a perspectiva do direito, tais como “menores em situação de risco ou perigo moral ou material”, ou em “situação de risco”, ou “em circunstâncias especialmente difíceis” , enfim estabelece-se o paradigma da ambigüidade; c) neste sistema é o menor que está em situação irregular; são suas condições pessoais, familiares e sociais que o convertem em um “menor em situação irregular” e, por isso, objeto de uma intervenção estatal coercitiva, tanto ele como sua família; d) estabelece-se uma distinção entre as crianças bem nascidas e aquelas em “situação irregular”, entre criança e menor, de sorte que as

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eventuais questões relativas àquelas serão objeto do Direito de Família e destes dos Juizados de Menores; e) surge a idéia de que a proteção da lei visa aos menores, consagrando o conceito de que estes são “objeto de proteção” da norma; f) esta “proteção” freqüentemente viola ou restringe direitos, porque não é concebida desde a perspectiva dos direitos fundamentais; g) aparece a idéia de incapacidade do menor; h) decorrente deste conceito de incapacidade, a opinião da criança faz-se irrelevante; i) nesta mesma lógica se afeta a função jurisdicional, já que o juiz de menores deve ocupar-se não somente de questões tipicamente judiciais, mas também de suprir as deficiências de falta de políticas públicas adequadas. Por isso se espera que o juiz atue como um “bom pai de família” em sua missão de encarregado do “patronato” do Estado sobre estes “menores em situação de risco ou perigo moral ou material”. Disso resulta que o juiz de menores não está limitado pela lei e tenha faculdades ilimitadas e onipotentes de disposição e intervenção sobre a família e a criança com amplo poder discricionário; j) há uma centralização do atendimento; k) estabelece-se uma indistinção entre crianças e adolescentes que cometem delito com questões relacionadas com as políticas sociais e de assistência, conhecido como “seqüestro e judicialização dos problemas sócias”; l) deste modo se instala uma nova categoria, de “menor abandonado – delinqüente”, esse “inventa” a delinqüência juvenil; m) com conseqüência deste conjunto, desconhecem-se todas as garantias reconhecidas pelos diferentes sistemas jurídicos de direito, garantias estas que não são somente para pessoas adultas; n) principalmente, a medida por excelência que é adotada pelos juizados de menores, tanto para os infratores da lei penal quanto para as “vitimas” ou “protegidos”, será a privação de liberdade. Todas essas medidas são impostas por tempo indeterminado; o) consideram-se as crianças e adolescentes como inimputáveis penalmente em face dos atos infracionais praticados. Essa ação “protetiva” resulta que não lhes será assegurado um processo com todas as garantias que têm os adultos e que a decisão de privá-los de liberdade ou de aplicação de qualquer outra medida não dependerá necessariamente do fato cometido, mas sim, precisamente, da circunstância de a criança ou adolescente encontrar-se em “situação de risco”.

Destaca Kaminski (2002, p.32) quanto a ação por parte dos juízes de

menores, os quais, agiam de acordo “com o que ele julgava benéfico para o menor,

sempre na perspectiva do seu melhor interesse, e não numa perspectiva de ser o

menor um indivíduo que, sendo sujeito, é credor de direitos”.

As medidas de caráter preventivo chamavam-se medidas de vigilância e eram

aplicadas aos menores de 18 anos de idade.

Assim, apenas aquelas crianças e adolescentes que encontravam-se

limitados, restritos, privados de condições essenciais e básicas de subsistência, em

situações de abandono, de perigo moral ou na prática de delitos, é que estariam

sujeitos à ação do Estado e as medidas postas pela lei.

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Nota-se então que o aspecto da situação irregular de crianças e adolescentes

estava relacionada a determinado contexto fático, limitando a proteção, tão somente,

àquelas pessoas em desenvolvimento que estivessem inseridas nas condições

previstas na legislação (Código de Menores) e, assim, não alcançava a todos.

2.3.4 A reforma penal e o Código Penal de 1984

Saraiva (2009, p.50), traz a exposição de motivos da Lei nº 7.209/84, que

alterou o Código Penal brasileiro, afirmando quanto à imputabilidade penal5 aos 18

(dezoito) anos de idade, fixada por um critério de política criminal6.

Dispõe a citada exposição de motivos quanto a manutenção da

inimputabilidade penal ao menor de 18 (dezoito) anos, estabelecendo ainda que

quando ao reajustamento do processo de formação do caráter, interligado à

educação e não à pena criminal, aliada a criação de mecanismos visando afastar os

menores infratores do convívio social, sem que fossem submetidos ao tratamento do

delinqüente adulto, ou seja, expô-lo à contaminação carcerária.

Sabe-se que legislador brasileiro trouxe com o Código Penal uma limitação de

idade quanto a responsabilização pelos delitos cometidos, sendo que ao menores

de 18 (dezoito) anos, são inimputáveis, ou seja, não são responsabilizados

criminalmente, ficando apenas sujeitos às normas estabelecidas pela legislação

especial, nos dias atuais, pelas regras contidas no ECA.

Importante frisar que a questão da responsabilidade não está na capacidade

de culpa, uma vez que crianças e adolescentes encontram-se fora do direito penal,

mas sujeitos a medidas de proteção, de assistência, vigilância e socioeducativas.

5 Capacidade de culpa. É a condição pessoal de maturidade e sanidade mental que confere ao agente a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar segundo esse entendimento.

6 É a ciência ou a arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente implica a crítica dos valores e caminhos já eleitos. (ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 132).

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2.3.5 Normas de origem internacional

Sabe-se que no plano internacional normas e orientações voltadas à tutela

das pessoas em desenvolvimento foram traçadas, bem como conclamou-se aos

Estados em adotarem e criarem um sistema normativo de tutela à infância e

juventude.

Assim, busca-se traçar mecanismos de proteção à Criança e ao Adolescente,

em sua amplitude, tendo, como exposto anteriormente, o alicerce em documentos

importantes e recentes da comunidade internacional, originando, de segundo

Liberati (2003a) os princípios fundamentais de proteção à Criança e ao Adolescente,

um novo paradigma garantista.

Têm-se como normas internacionais Tratados, Convenções, Declarações,

Carta, Acordos e Pactos.

Liberati (2003a) define que tratado vem a ser ajustes solenes de relevante

importância, tendo como objeto, finalidade, número e poder das partes envolvidas

criar situações jurídicas. A convenção seria um sinônimo de tratado, porém, é mais

utilizado para acordos que geram e estabelecem assuntos de interesse geral. A

declaração fixa regras, princípios jurídicos ou normas de direito internacional

indicando posição de política comum. A Carta estabelece instrumentos constitutivos

de organizações internacionais. O acordo destaca-se por assuntos de interesse

econômico, financeiro, comercial ou cultural. Por fim, o pacto, é a celebração de atos

solenes que restringem o objeto político de um tratado.

2.3.5.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos

Em 10 de dezembro de 1948, na Assembléia Geral das Nações Unidas, foi

adotada e proclamada Declaração Universal dos Direitos Humanos, considerado um

dos principais pontos de grande influência e garantia aos direitos de todos os

cidadãos, inclusive as Crianças e Adolescentes, tendo sido ratificado pelo nosso

país na mesma data.

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Liberati (2003a, p.8) ainda destaca das garantias expressas na Declaração,

demonstrando que a “Declaração Universal dos Direitos Humanos e, em suma, um

tratado de garantia e respeito à vida e à liberdade, que, atributos que são de todo

homem, constituem, também, fundamento do direito da criança”.

Na Declaração encontra-se todo um rol de direitos, liberdades e garantias,

como da nacionalidade, propriedade, trabalho, segurança social, repouso, lazer,

pensamento, consciência, religião, opinião, expressão, reunião, associação,

convivência comunitária e familiar, apoio à maternidade, saúde, alimentação

vestuário, habitação, educação, dentre outras garantias e direitos da pessoa

humana.

2.3.5.2 Declaração dos Direitos da Criança

Em 26 de setembro de 1924, em Genebra, a antiga Liga das Nações, hoje,

Organização das Nações Unidas (ONU), firmou a Declaração dos Direitos da

Criança, vindo a ser adotada em Assembléia Geral na data de 20 de novembro de

1959.

Destaque ao Preâmbulo da citada Declaração:

[...] VISTO que a criança, em decorrência de sua imaturidade física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, inclusive proteção legal apropriada, antes e depois do nascimento, VISTO que a necessidade de tal proteção foi enunciada na Declaração dos Direitos da Criança em Genebra, de 1924, e reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos estatutos das agências especializadas e organizações internacionais interessadas no bem-estar da criança, VISTO que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços.

Destarte, em virtude dos direitos estabelecidos na referida Declaração,

Liberati (2003a) leciona que a Criança necessita de cuidados e proteção especiais,

por ser uma pessoa em desenvolvimento, decorrente de sua imaturidade física e

mental, sendo a proteção assegurada tanto após como antes do nascimento.

A Declaração traz 10 (dez) princípios, como por exemplo, direito à igualdade,

sem distinção de qualquer natureza; a proteção especial, com vistas ao

desenvolvimento físico, moral, mental, espiritual e social, respeitando-se a liberdade,

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bem como a dignidade, garantia de uma nacionalidade e de um nome; proteção

contra atos que suscitem discriminações, assim como em situações de exploração,

crueldade ou negligência, aliada, ao direito a educação a garantia de um

desenvolvimento completo e harmonioso.

2.3.5.3 Pacto internacional dos direitos civis e políticos e a Convenção americana

sobre direitos humanos7

Liberati (2003a) traz que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

fora recepcionado pelo Brasil em 1992, reafirma o conteúdo existente na Declaração

Universal dos Direitos Humanos, reconhecendo a dignidade aos membros da

família, dos direitos iguais e inalienáveis, em virtude da situação política vivenciada

na época, em busca de defesa dos direitos civis e políticos, trazendo a família, como

sendo o “núcleo natural e fundamental da sociedade” e protegida pela sociedade e

pelo Estado.

Já no ano de 1969, os Estados americanos firmaram a Convenção americana

sobre direitos humanos, a qual fora ratificada pelo Brasil somente em data 6 de

novembro de 1992.

Destaca-se em seu artigo 9º a afirmação quanto aos direitos da Criança,

segundo a qual todas terão “[...] direito ás medidas de proteção que a sua condição

de menor requer, por parte de sua família, da sociedade e do estado”.

Diferentemente da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto de São José da Costa Rica não traz somente normas de caráter material, prevendo órgãos competentes, para conhecer os assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-Partes. Esses órgãos são a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. (MORAES, 2007, p.39).

Liberati (2003a) traz que tal normativa vem reforçar a defesa aos direitos

humanos, especialmente, no que diz respeito a garantia das instituições

democráticas, a liberdade individual e pessoal e a justiça social, respeitando-se os

direitos essenciais do homem.

7 Também conhecido como Pacto de San José da Costa Rica.

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2.3.5.4 Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil

(Regras Mínimas de Beijing)

As regras foram realizadas pelo Comitê Permanente da Assembléia das

Nações Unidas, que estuda, “o problema da prevenção do crime e tratamento dos

jovens infratores”.

No ano de 1985, foi aprovado as Regras Mínimas para a Administração da

Justiça da Infância e Juventude. Conhecidas como Regras de Beijing, durante a

Assembléia da ONU, através da Resolução nº 40/338 de 29 de novembro daquele

ano.

Tais regras norteavam os princípios fundamentais de proteção aos direitos

dos jovens em conflito com a lei, traçando as condições mínimas de tratamento de

adolescentes infratores e que os países signatários deveriam respeitar e agregar a

sua normativa interna.

Segundo Liberati (2003a), as regras basicamente quanto aos Direitos

Fundamentais do homem, em especial do jovem infrator, apresentado condições

mínimas para o tratamento destes em qualquer parte do mundo, a maior

preocupação era a proteção e a reinserção dos jovens na sociedade.

Garantia também no processamento judicial e, novas medidas de tratamento,

em substituição a privação de liberdade.

Dentre as regras especificadas, pode-se destacar a uniformização das regras

aplicadas aos jovens infratores de maneira imparcial e sem distinção de qualquer

natureza, bem como estabeleceu definições compatíveis aos sistemas e conceitos

jurídicos: jovem (criança/adolescente capaz de responder por uma infração),

infração (ação ou omissão penalizado pela lei) e jovem infrator (o qual fora imputado

a prática de uma infração), assim como também quanto a responsabilização penal

dos jovens, levando-se em consideração a maturidade mental, intelectual e

emocional.

8 Aprovou as Regras mínimas das Nações Unidas para a administração da justiça de jovens por

recomendação do Sétimo Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente

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Liberati (2003a) estabelece que estas regras não foram normatizadas em

nosso país, contudo, serviram de alicerce para a construção do ECA, especialmente

no que diz respeito a política criminal juvenil.

Destaca-se o respeito aos Direitos Fundamentais e a proteção dos

adolescentes, decorrente da necessidade de assistência no que se refere ao seu

desenvolvimento intelectual e físico, bem como de sua personalidade, integrando-os

à sociedade e à família.

2.3.5.5 Diretrizes de Riad e a Convenção sobre os direitos da criança

Ocorreu em 1990, o 8º Congresso das Nações Unidas referente a Prevenção

do Delito e Tratamento do Delinqüente, tendo como finalidade em verificar a

prevenção da delinqüência juvenil como parte essencial da prevenção do delito na

sociedade.

Neste Congresso foram estabelecidos alguns princípios fundamentais,

denominadas Diretrizes de Riad:

1 - A prevenção da delinqüência juvenil é parte essencial da prevenção do delito na sociedade. Dedicados a atividades lícitas e socialmente úteis, orientados rumo à sociedade e considerando a vida com critérios humanistas, os jovens podem desenvolver atitudes não criminais. 2 - Para ter êxito, a prevenção da delinqüência juvenil requer, por parte de toda a sociedade, esforços que garantam um desenvolvimento harmônico dos adolescentes e que respeitem e promovam a sua personalidade a partir da primeira infância. 3 - Na aplicação das presentes Diretrizes, os programas preventivos devem estar centralizados no bem-estar dos jovens desde sua primeira infância, de acordo com os ordenamentos jurídicos nacionais. 4 - É necessário que se reconheça a importância da aplicação de políticas e medidas progressistas de prevenção da delinqüência que evitem criminalizar e penalizar a criança por uma conduta que não cause grandes prejuízos ao seu desenvolvimento e que nem prejudique os demais. Essas políticas e medidas deverão conter o seguinte: a) criação de meios que permitam satisfazer às diversas necessidades dos jovens e que sirvam de marco de apoio para velar pelo desenvolvimento pessoal de todos os jovens, particularmente daqueles que estejam patentemente em perigo ou em situação de insegurança social e que necessitem um cuidado e uma proteção especiais. b) critérios e métodos especializados para a prevenção da delinqüência, baseados nas leis, nos processos, nas instituições, nas instalações e uma rede de prestação de serviços, cuja finalidade seja a de reduzir os motivos, a necessidade e as oportunidades de cometer infrações ou as condições que as propiciem.

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c) uma intervenção oficial cuja principal finalidade seja a de velar pelo interesse geral do jovem e que se inspire na justiça e na eqüidade. d) proteção do bem-estar, do desenvolvimento, dos direitos e dos interesses dos jovens. e) reconhecimento do fato de que o comportamento dos jovens que não se ajustam aos valores e normas gerais da sociedade são, com freqüência, parte do processo de amadurecimento e que tendem a desaparecer, espontaneamente, na maioria das pessoas, quando chegam à maturidade, e f) consciência de que, segundo a opinião dominante dos especialistas, classificar um jovem de "extraviado", "delinqüente" ou "pré-delinqüente" geralmente favorece o desenvolvimento de pautas permanentes de comportamento indesejado. 5- Devem ser desenvolvidos serviços e programas com base na comunidade para a prevenção da delinqüência juvenil. Só em último caso recorrer-se-á a organismos mais formais de controle social.

Muito embora não tenham sido normatizadas pelo ordenamento jurídico

brasileiro, assim como as Regras de Beijing, as Diretrizes de Riad também serviram

de base na construção do Estatuto da Criança e do Adolescente no que se refere a

política de atendimento ao adolescente em conflito com a lei, especialmente no que

se refere a política social e ao processos de socialização.

No que diz respeito a Convenção sobre os Direitos da Criança, foi aprovada

pela Assembléia Geral das Nações Unidas no dia 20 de novembro de 1989, sendo

ratificada pelo Brasil em 14 de setembro de 1990, tornando-se assim, uma norma

cogente.

Cumpre ressaltar que, conforme exposto por Liberati (2003a) tal normativa

internacional demonstrou um panorama legal internacional, um resumo e uma

conclusão da legislação referente a proteção à Criança e ao Adolescente.

[...] os direitos da criança reconhecidos na Convenção significam e representam o mínimo que toda a sociedade deve garantir às suas crianças, reconhecendo, em um único código, todas as normas e medidas de privilégio e de proteção em favor das crianças, que, nos países signatários, devem adotar e incorporar a suas leis. (PEREIRA, 2008, p. 68)

É de se verificar o disposto no artigo 19 e seguintes da citada Convenção os

quais obrigam os Estados-Membros em adaptarem suas legislações ao disposto na

Convenção, tornando as medidas de proteção mais eficazes, lembrando que a

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discussão constante nesse documento internacional transformou-se nos artigos 2049

e 227 da CRFB/1988.

O art. 19 da Convenção assim estabelece:

[...] 1- Os Estados Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus-tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela. 2- Essas medidas de proteção deveriam incluir, conforme apropriado, procedimentos eficazes para a elaboração de programas sociais capazes de proporcionar uma assistência adequada à criança e às pessoas encarregadas de seu cuidado, bem como para outras formas de prevenção, para a identificação, notificação, transferência a uma instituição, investigação, tratamento e acompanhamento posterior dos casos acima mencionados a maus-tratos à criança e, conforme o caso, para a intervenção judiciária.

Convém notar que tais regras foram incorporadas através de Emendas

Constitucionais e que contribuíram de maneira decisiva para a promulgação da Lei

n 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

2.3.5.6 Declaração mundial sobre a sobrevivência, a proteção e o desenvolvimento

das crianças nos anos 90

No Encontro Mundial de Cúpula pela Criança, realizado pela ONU em Nova

Iorque, entre os dias 28 e 29 de setembro de 1990, sendo firmada a “Declaração

9 Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do

orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados.

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Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento das Crianças nos

anos 90”, tendo como tema e objetivo “a criança une o mundo”.

Interessante se faz mencionar, de acordo com Liberati (2003a) tem a

Declaração o objetivo em estabelecer como prioridade o bem-estar de todas as

Crianças, assim como também a melhoria da sua saúde e também das mães,

combatendo à desnutrição, o analfabetismo.

O Encontro objetivou ações políticas e de comprometimento, priorizando o

bem-estar da criança e do adolescente, voltados a garantia de seus direitos,

sobrevivência, proteção e desenvolvimento, assegurando assim, o bem-estar do

Estado e da sociedade.

Os recentes avanços nas relações políticas internacionais poderão facilitar esta tarefa. A cooperação e a solidariedade internacionais devem possibilitar agora a obtenção de resultados concretos em muitos campos: revitalizar o crescimento e o desenvolvimento econômicos, proteger o meio ambiente, prevenir a disseminação de doenças que causam morte e incapacitação, e alcançar maior justiça social e econômica. (DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE A SOBREVIVÊNCIA, A PROTEÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS NOS ANOS 90)

As condições econômicas continuarão a exercer forte influência no destino da

criança, especialmente nas nações em desenvolvimento.

Em ação conjunta nacional e internacional, traçaram-se objetivos a serem

alcançados que foram estabelecidos pelo Plano de Ação para a implementação das

metas, dentre as quais destacam: a redução nas taxas de mortalidade, assim como

de desnutrição e o acesso a educação básica, a redução da taxa de analfabetismo e

a proteção das crianças que vivem, em especial, em circunstâncias extremas como

nas situações de conflitos armados.

2.3.5.7 Declaração do Panamá

Objetivando consolidar o que já fora previsto em outras Convenções, em

especial as Crianças e Adolescentes ibero-americanos, principalmente na

formulação de políticas e promovendo programas que visavam o respeito aos

direitos, ao bem-estar e ao desenvolvimento integral.

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A X Cúpula Ibero-americana de chefes de Estado e de Governo, ocorrida no

ano de 2000, denominada Declaração do Panamá: “Unidos pela infância e

adolescência, base da justiça e da eqüidade no novo milênio”, tem como finalidade o

desenvolvimento da educação, base na formação da personalidade, das relações

interpessoais, comunicação e o exercício da cidadania, exercida através de políticas

públicas amplas, envolvendo todos os setores e atores sociais (Estado, família,

sociedade e estabelecimentos de ensino)

Liberati (2003a) destaca compromissos firmados com o objetivo de promover

e defender o estado de direto, bem como a democracia, a diversidade política, a

identidade cultural, os direitos humanos visando o desenvolvimento político,

econômico, civil, social, cultural.

Aliado a isso, tem-se ainda a busca pelo respeito aos princípios da soberania

e da integridade territorial, soluções de forma coerentes e sensatas entre os povos,

realizada de forma pacífica, sem violência ou ameaça, bem como o direito de cada

povo construir de forma livre e da sua maneira, a paz, a estabilidade e justiça,

princípios estes que integram a herança que se está deixando as Crianças e aos

Adolescentes ibero-americanas.

Desta feita, demonstrada a evolução histórica da legislação referente a tutela

da criança e ao adolescente, serão tratados nos próximos capítulos aspectos

relacionados a Doutrina de Proteção Integral, bem como a participação popular

através da governança participativa, elementos essenciais no cumprimento de

medidas socioeducativas abertas e de ressocialização do adolescente em conflito

com a lei.

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3 NOÇÕES GERAIS ACERCA DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE

O presente capítulo versa especificamente sobre a definição, para melhor

compreensão do tema proposto, de Criança e Adolescente, assim como também os

princípios e garantias constantes na Carta Constituinte de 1988 e Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), como a Doutrina da Proteção Integral.

Tais conceitos são de fundamental importância no que se refere a articulação

de ações em conjunto entre poder público e sociedade na implementação de

políticas, com base na gestão participativa e de políticas de atendimento ao

adolescente em conflito com a lei, uma vez que busca-se a preservação da ordem

pública.

Como disposto no art. 86 do ECA, a política de atendimento é baseada na

articulação em conjunto de ações governamentais e não governamentais e para

tanto, necessário se faz traçar alguns aspectos relacionados a doutrina da proteção

integral e os princípios de proteção á criança e ao adolescente, para que se possa

demonstrar uma política pública através do planejamento participativo e voltada a

ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

3.1 A LEI Nº 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nasceu em virtude da

necessidade de regulamentar o art. 227 da CRFB/88, trazendo em seu bojo a

aspiração da comunidade internacional, baseada na Convenção sobre os Direitos da

Criança e, especialmente, no que diz respeito ao anseio da sociedade em ter

instrumentos capazes e eficazes quanto a proteção dos direitos da Criança e do

Adolescente, consagrando assim, a Doutrina de Proteção Integral.

O art. 227 da CRFB/88 assim estabelece:

Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

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dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

É sobremodo importante assinalar o disposto no art. 3º do ECA quanto a

preocupação do legislador no que diz respeito ao gozo de Direitos Fundamentais e a

Proteção Integral, assegurando a pessoas em desenvolvimento, ou seja, crianças e

adolescentes, seja através da legislação ou por outros meios, “todas as

oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental,

moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.

Vale lembrar também, segundo Veronese (1997), com fulcro no art. 227,

CRFB/1988, a proteção a Criança e ao Adolescente passa a ter um novo alicerce,

tornando-os sujeitos de direitos, ou seja, a dinâmica dos novos direitos surgindo a

partir do exercício dos direitos já conquistados.

A criança [...] passa a ser vista como absoluta prioridade, como sujeito portador de direitos e pessoa em estágio privilegiado de formação e desenvolvimento. Até a chegada do Estatuto, suas questões nunca haviam sido consideradas ou tratadas como prioridade nacional, sobretudo com a afirmação de garantias de primazia de proteção e socorro, de preferência de atendimento, de preferência nas políticas sociais, e de destinação privilegiada de recursos públicos. (KAMINSKI, 2002, p.10).

Ao adotar a política de Proteção Integral, Veronese (1997) demonstra que o

ECA significou em especial, para o direito infanto-juvenil, uma revolução.

O marco diferencial que consagrou o Estatuto da Criança e do Adolescente foi a mudança de paradigma: antes, considerava-se a criança como “objeto de medidas judiciais e assistenciais”; agora, a criança e o adolescente são considerados “sujeitos de direitos”, devem ser respeitados na sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento e gozam de prioridade absoluta no atendimento. [...] O Estatuto da Criança e do Adolescente ajudou a inaugurar, entre nós, uma nova forma de exercício da cidadania: a participação da comunidade em atos até então privativos dos dirigentes políticos. [...] com a intervenção dos tratados e convenções internacionais sobre o direito da criança, principalmente aqueles capitaneados pela Organização das Nações Unidas, que preconizava, há muito, a implantação de um direito especial para crianças e adolescentes. (LIBERATI, 2003a, p.35 - 37).

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Albergaria (1995 apud FIRMO, 2005, p.17-18) destaca o reconhecimento do

valor superior do interesse da coletividade ou do Estado na proteção de interesses:

A tutela da pessoa humana do menor ou de sua liberdade e personalidade derrogaria o princípio de coordenação do Direito Privado, para prevalecer o princípio da subordinação do Direito Público. Esse princípio da tutela da pessoa humana do menor informa as normas e instituições do Direito Tutelar. É a causa da unificação dos três complexos de normas jurídicas: dois do Direito Público (Direito Penal e Direito Administrativo) e um do Direito Civil. É o princípio de clemência e tutela do incapaz que sistematiza os três complexos de normas, dando uma fisionomia singular ao novo Direito.

Nesse passo, Paula (2002) expõe que as Crianças e Adolescentes passam a

ser identificadas como sujeitos de direitos e juridicamente protegidos, sendo

reconhecida a existência de relações subordinadas entre a família, a sociedade e o

Estado, de um lado e, Crianças e Adolescentes do outro, fundada no disposto na

Carta Constituinte de 1988, objetivando destacar a proteção através da prescrição

de suas respectivas órbitas de incidência, buscando a concretude de suas normas.

Essa nova lei não foi erigida sob forma de Código, mas sob o título de Estatuto, rompendo com o rigorismo terminológico, para dar um novo significado ao conjunto de regras a que se propunha: estabelecer o rol de garantias jurídicas de uma parcela especial da população – crianças e adolescentes. [...] crianças e adolescentes são considerados pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente uma nova categoria de sujeitos de direitos, cuja característica reside na sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. (LIBERATI, 2003a, p.5-6).

Dispõe o art. 1º do ECA quanto à Proteção Integral seja à criança, quanto ao

adolescente, sendo que Pereira (2008), ressalta que tal normativa, assim como

qualquer lei, estabelece parâmetros objetivando constituir o sujeito no interior da

sociedade, fazendo de uma forma em que esta constituição comporte a submissão

desse sujeito.

Pereira (2008) mostra também que o Estatuto da Criança e do Adolescente

além de estabelecer direitos, traz também um rol de deveres que serão objeto de

atenção tanto quanto os direitos previstos, acrescentando ainda que os deveres

determinados no Estatuto visam a aplicação de mecanismos sociais próprios ao

estabelecimento da ordem social e voltados a reprimirem comportamentos fora da

normalidade, objetivando a reeducação e ressocialização junto à sociedade e à

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família, sendo que de acordo com a infração cometida, responderá por seus atos

através da punição cabível definida em lei.

3.2 CRIANÇA E ADOLESCENTE: CONCEITO E DISTINÇÃO

Num primeiro momento importante se faz traçar a distinção existente entre

Criança e Adolescente, em especial, para a melhor compreensão no que diz respeito

as pessoas em desenvolvimento em conflito com a lei, uma vez que a legislação em

vigor estabelece procedimentos distintos de acordo com a idade do menor.

O ECA dispõe em seu art. 2 que Criança é aquela pessoa com até doze

anos de idade incompletos, e Adolescente a pessoa com idade entre doze e dezoito

anos.

De acordo com Ferreira (1986), Criança é o “ser humano de pouca idade” e

Adolescente, é aquele que encontra-se no começo, que ainda não atingiu todo o

vigor.

Ressalta-se ainda, que a Criança e o Adolescente são sujeitos de direito,

gozando de todos os direitos fundamentais, conforme pode ser observado o art. 3º

do ECA:

Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Firmo (2005), apresenta a distinção entre Criança e Adolescente infratores,

expondo que ao Adolescente são imputada Medidas Socioeducativas, previstas no

art. 112 e seguintes do ECA, sendo que em relação a Criança são aplicadas as

medidas de proteção estabelecidas no art. 101 do citado Estatuto.

Firmo (2005) traz ainda uma crítica no tocante a discriminação feita pelo ECA

no que diz respeito aos menores de 12 (doze) anos e aqueles entre 12 (doze) a 18

(dezoito) anos, os adolescentes, no que se refere a aplicação de medidas,

respectivamente, de proteção e socioeducativas, quando da prática de Ato

Infracional, vindo em desencontro ao disposto no art. 228 da Carta Constituinte,

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fundada no tratamento desigual, somado a isso, o art. 227, § 3º, IV da CRFB/88 traz

a “igualdade na relação processual” aos menores infratores.

Pereira (2008, p.103), procura esclarecer a distinção entre Criança e

Adolescente:

A distinção entre criança e adolescente prevista no art. 2º-ECA teve como único objetivo dar tratamento especial às pessoas em fase peculiar de desenvolvimento, em razão da maior ou menor maturidade, a exemplo das medidas sócio-educativas, atribuídas apenas aos maiores de 12 anos na prática do ato infracional, enquanto aos menores desta idade se aplicam as medidas específicas de proteção.

Segundo Kaminski (2002, p. 38), com base no que dispõe o art. 1º da

Convenção Internacional dos Direitos da Criança, a “criança é a categoria

internacionalmente tratada „como todo ser humano com menos de 18 anos de

idade‟”.

Kaminski (2002), ressalta ainda que a legislação brasileira inovou,

estabelecendo a distinção entre essas duas categorias, quais sejam: Criança e

Adolescente, uma vez que inexistia na legislação pátria até o advento do ECA e das

normativas internacionais.

Destaca-se também que no âmbito internacional, a expressão Adolescente

não é utilizada, porém, as medias e tratamentos aplicados são desiguais, em

conformidade com as diferentes faixas etárias estabelecidas.

Kaminski (2002) chama a atenção ainda pelo fato de somente que apenas

recentemente é que começou a ocorrer a definição dessas duas categorias jurídicas,

onde para muitos países, não ocorreu por não terem alcançado o estágio evolutivo

nosso Estatuto.

O Código Civil Brasileiro traz em seus artigos 3º a 5º quanto à menoridade:

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da

vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4

o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os

exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

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III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Art. 5

o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa

fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

O art. 27 do Código Penal Brasileiro define a responsabilidade do autor da

infração penal: “os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis,

ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”.

Outra distinção que merece destaque, conforme mostra Ishida (2010, p.26) é

a decisão proferida pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), em seu art. 2º, distingue a „criança” (menor de 12 anos) do „adolescente‟ (entre 12 e 18 anos). Somente para este último é que prevê „garantias processuais” (art. 110). Para a criança, só fala em „medidas de proteção‟ (arts. 99 a 102 e 105). (STJ – 6ª T, - RHC 3.541 – Rel. Adhemar Maciel – j. 9-5-1994).

Monteiro (2003) relata que, sendo a capacidade de gozo imanente do ser

humano, tanto a de exercício como de fato, podem ser reiteradas, sendo que o

exercício dos direitos depende da vontade e da consciência, acrescido da

capacidade de fato estar subordinada à existência no homem dessas duas

faculdades. A incapacidade de exercício ou de fato não suprime a capacidade de

gozo ou de direito, conatural, pertencente ao homem, existindo para tanto o instituto

da representação, ou seja, o incapaz exerce seus direitos através de seus

representantes legais.

Para Liberati (2003b, p.16), “a separação está fundada tão-somente no

aspecto da idade, não levando em consideração o psicológico e o social”.

3.3 A DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL

É de verificar inicialmente sobre um assunto essencial e intimamente

relacionado aos direitos previstos no ECA e na CRFB/88, ou seja, a Doutrina de

Proteção Integral, bem como o Princípio da Absoluta Prioridade, previsto na Carta

Constituinte de 1988.

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Em primeiro lugar, importante destacar o art. 2º da Convenção das Nações

Unidas de Direito da Criança, que estabeleceu o respeito às crianças e

adolescentes:

Os Estados partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de raça, cor, sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais.

Antes, porém de traçar algumas considerações acerca da Doutrina da

Proteção Integral propriamente dita, verifica-se que até o advento da CRFB/1988 o

ordenamento jurídico brasileiro tutelava a criança e o adolescente fundado sob outra

perspectiva: Doutrina da Situação Irregular que passa-se a realizar alguns

comentários.

3.3.1 Doutrina da situação irregular

Como já mencionada no capítulo anterior, a Doutrina da Situação Irregular,

segundo Saraiva (2002) surgiu com o advento do Código de Menores de 1979,

sendo que, conforme o artigo daquela legislação, os menores passaram a ser objeto

da norma quando se encontravam no estado de patologia social.

Veronese (1997, p.14) destaca que o Código de Menores de 1979, baseado

na Doutrina da Situação Irregular, continha um conjunto de regras jurídicas voltadas

especificamente as pessoas em desenvolvimento (crianças e adolescentes), em

especial aqueles que se encontravam em um “quadro de patologia social”, ou seja,

“abandonados, vítimas, maltratados e infratores. Causa perplexidade que se

considerasse em situação irregular o menino abandonado por incúria do Estado”.

Em relação à mencionada doutrina, Kaminski (2002) destaca que a mesma é

de origem brasileira, sendo que o Código de Menores estabelecia que o menor

infrator, vítima ou abandonado estava em Situação Irregular e que daquela forma

deveriam ser tratados.

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[...] Por sua visão o problema restava simplificado e estava centrado no menor. Ele (e a sua situação irregular) representava o problema, devendo as medidas serem sobre ele aplicadas. Em sua concepção pensava-se que a sociedade vivia sob a civilidade, a harmonia e a ordem, isto é, a sociedade e o Estado estavam regulares, e a situação irregular em que estava envolvido o menor era tão-só culpa dele, que não adequou à vida em sociedade e ao seu convívio. (KAMINSKI, 2002, p. 33)

Martins (1988 apud LIBERATI, 2003a) aduz que tal doutrina se baseava no

fato do menor encontrar-se em situação de desenvolvimento natural, apresentando

assim, uma deficiência etária, mental e jurídica, não possuindo capacidade para se

autodefender, de fato e de direito.

Saraiva (2002) mostra que a Doutrina da Situação Irregular serviu de marco e

caracterizando um avanço à época, fazendo da Criança e do Adolescente o alicerce

da norma e não só no que diz respeito ao direito penal, partindo-se da premissa da

existência de situação regular, sendo que a Criança e o Adolescente tornavam-se

interesse do direito especial quando apresentavam uma “patologia social” que fora

denominada Situação Irregular, isto é, quando o menor infrator não se ajustava ao

padrão estabelecido pela sociedade.

A Situação Irregular pode ser decorrente de uma conduta pessoal, ou seja, de

um desvio de conduta, como também de família, no caso de maus tratos, por

exemplo ou da própria sociedade, em situações de abandono.

O Código revogado não passava de um Código Penal do “Menor”, disfarçado em sistema tutelar, suas medidas não passavam de verdadeiras sanções, ou seja, penas, disfarçadas em medidas de proteção. Não relacionava nenhum direito, a não ser aquele sobre a assistência religiosa; não trazia nenhuma medida de apoio à família; tratava da situação irregular da criança e do jovem, que, na realidade, eram seres privados de seus direitos. (LIBERATI, 2003b, p. 15)

Kaminski (2002) mostra ainda que o Código de Menores de 1979 fazia com

que as Crianças em situação jurídica de incapacidade fossem vistas como objetos

de medidas, sem demonstrarem vontade ou direitos e o Estado permanecia inerte,

sem atuação na garantia dos direitos, agindo apenas para resgatá-los, vindo a

manter uma política compensatória.

Paula (1989 apud VERONESE, 1997, p.16), diz que:

[...] a lei anterior, ou seja, o Código de Menores de 1979, „a despeito de ser tratado, por alguns, como instrumento de proteção e tutela, olvidou que o Estado é o grande responsável por essa degradante situação na qual se

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encontra a maioria da população infanto-juvenil, isentando-o de qualquer responsabilidade. Considerando os pais ou responsável como exclusivos causadores da situação irregular, nenhuma menção existe em relação à omissa participação do Estado e, via de conseqüência, tão pouco competia ao Código de Menores mecanismos jurídicos visando compelir o Poder Público a cumprir suas funções. Assim, restringiu-se a justiça de Menores do julgamento de conflitos eminentemente individuais, jamais colocando a Administração no banco dos réus. O Estado nunca foi chamado perante o judiciário, sequer para justificar suas constantes omissões‟.

Por igual modo, Kaminski (2002) ressalta também que o Estado não protegia

todas as crianças brasileiras, vindo a conceder suas benesses apenas àquelas

crianças que encontravam-se em Situação Irregular, de carência, abandonadas e,

com isso, o Estado simulava a proteção a criança e o adolescente, deixando de

investir na conquista de direitos e no exercício da cidadania.

Em relação à autoridade competente para julgar as infrações praticadas pelos

menores, estava o juiz de menores, sendo que pela Doutrina da Situação Irregular,

independente da situação, social ou jurídica, o magistrado agia discricionariamente,

inclusive na tomada de decisões, tutelando assim toda a infância e juventude do

país.

O juiz de menores, de acordo com Kaminski (2002) agia conforme julgava

benéfico ao menor, sempre na perspectiva do seu melhor interesse e não em uma

perspectiva do menor ser um indivíduo, um sujeito de direitos e deveres.

3.3.2 Doutrina da proteção integral

O Estatuto da Criança e do Adolescente adotou a Doutrina da Proteção

Integral, tendo como base, segundo Ishida (2010) o reconhecimento de que Criança

e Adolescente são sujeitos de direitos especiais e específicos, conforme dispõe o

art. 3º do mencionado Estatuto.

Elias (2010, p. 2) ressalta que: “a proteção integral há de ser entendida como

aquela que abranja todas as necessidades de um ser humano para o pleno

desenvolvimento de sua personalidade.”

Liberati (2003b) destaca que o ECA revolucionou o Direito Infanto Juvenil,

vindo a inovar e adotar a Doutrina da Proteção Integral, onde a nova visão funda-se

nos direitos especiais e próprios das Crianças e Adolescentes, sendo que na

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condição que se encontram, ou seja, em desenvolvimento, necessitam de proteção

diferenciada, especializada e integral.

Paula (2002, p.23) destaca que “a proteção integral almeja, em síntese,

propiciar e garantir desenvolvimento saudável e integridade à criança e ao

adolescente”.

É integral, primeiro, porque assim diz a CF em seu art. 227, quando determina e assegura os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de qualquer tipo; segundo, porque se contrapõe à teoria do “Direito tutelar do menor”, adotada pelo Código de Menores revogado (Lei 6.697/79), que considerava as crianças e os adolescentes como objetos de medidas judiciais, quando evidenciada a situação irregular, disciplinada no art. 2º da antiga lei. (LIBERATI, 2003b, p. 15).

Ishida (2010) destaca que além de serem resguardados os direitos

fundamentais da pessoa humana à criança e ao adolescente, estes ainda gozam do

direito subjetivo de desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, vindo

desta forma preservar a liberdade e a dignidade dessa Criança e desse

Adolescente.

Dallari ([s.d.] apud CURY, 2010, p.40-41) ressalta que:

[...] o apoio e a proteção à infância e juventude devem figurar, obrigatoriamente, entre as prioridades dos governantes. Essa exigência constitucional demonstra o reconhecimento da necessidade de cuidar de modo especial das pessoas que, por sua fragilidade natural ou por estarem numa fase em que se completa a sua formação, correm maiores riscos. A par disso, é importante assinalar que não ficou por conta de cada governante decidir se dará ou não apoio prioritário às crianças e aos adolescentes.

A Doutrina de Proteção Integral originou-se na inspiração dos movimentos

internacionais de proteção a infância, materializando-se nos tratados e convenções,

dentre elas: a Convenção sobre Direitos da Criança, as Regras de Beijing, as

Diretrizes de Riad, entre outras (LIBERATI, 2003a).

Segundo Saraiva (2009), o novo texto constitucional, coerente com os

diversos documentos internacionais dos quais o Brasil é signatário, estabeleceu

como diretriz básica e única, no atendimento das Crianças e Adolescentes, a

doutrina da “proteção integral”. Assim, a Criança e o Adolescente passaram de

“objetos de proteção” à “sujeitos de direitos”.

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Como se observa no art. 1 do ECA: “Esta Lei dispõe sobre a proteção

integral à Criança e ao Adolescente” e, em decorrência da promulgação da Magna

Carta em 1988, revogou-se tacitamente a legislação até então em vigor, surgindo

então a Doutrina da Proteção Integral:

O dispositivo ora em exame é a síntese do pensamento do legislador constituinte, expresso na consagração do preceito de que os direitos de todas as crianças e adolescentes devem ser universalmente reconhecidos. São direitos especiais e específicos, pela condição de pessoas em desenvolvimento. Assim, as leis internas e do direito de cada sistema nacional devem garantir a satisfação de todas as necessidades das pessoas de até 18 anos, não incluindo apenas o aspecto penal do ato praticado pela ou contra a criança, mas o seu direito à vida, saúde, educação, convivência, lazer, profissionalização, liberdade e outros. (COELHO, [s.d.] apud CURY, 2010, p.15).

Kaminski (2002) também destaca que com o advento da Carta Magna de

1988no que diz respeito a tutela da Criança e ao Adolescente, pode ser considerada

a maior de todas as conquistas.

A CRFB/1988 traz no caput do art. 227 a prioridade, estabelecida pelo

legislador, às pessoas em desenvolvimento, crianças e adolescentes:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A Doutrina de Proteção Integral encontra-se também tal referência no

Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 4º:

Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância

pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas

com a proteção à infância e à juventude.

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Nesses dispositivos legais, podemos observar o envolvimento direito e

participativo da sociedade, juntamente com o poder público, na garantia do exercício

de direitos e na implementação de ações integradas na política de atendimento a

crianças e adolescentes.

Liberati (2003a, p.47) em relação ao disposto no parágrafo único do art. 4º,

aduz que “a enumeração de prioridades contida nesse parágrafo é apenas

exemplificativa e representa o mínimo exigível de situações em que deverá ser

assegurada a preferência á infância e à juventude”.

Dallari ([s.d.] apud CURY, 2010), ressalta que as garantias expostas no

parágrafo único do art. 4º do ECA, trazem a “primazia de receber proteção e socorro

em quaisquer circunstâncias”, onde Crianças e Adolescentes devem ser sempre

protegidos ou socorridos em primeiro lugar, com preterição aos adultos em situações

de perigo, acidentes ou calamidades.

O autor enfatiza ainda quanto a segunda garantia existente no mencionado

parágrafo, a “precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância

pública”, entendendo-se como aqueles prestados diretamente pelos órgãos públicos

ou por delegação destes, sendo que as Crianças e Adolescentes devem ser

atendidos em primeiro lugar, utilizando-se sempre o bom senso, tal regra tem como

base a menor resistência por parte da Criança e do Adolescente do que em relação

aos adultos.

Já a terceira garantia, a “preferência na formulação das políticas sociais

públicas”, deve ser atendida em primeiro lugar pelo legislador, seja no âmbito

federal, estadual ou municipal, onde cada esfera política deverá ter sua própria

legislação obedecendo-se, para tanto, as disposições constitucionais, visando a

precedência aos cuidados à infância e a juventude.

Por fim, a última das garantias, prevista no parágrafo único do art. 4º, trata da

“destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção

à infância e à juventude”, onde tal exigência deverá estar presente e ser cumprida a

partir da elaboração e votação dos projetos de lei orçamentária. (DALLARI, [s.d.]

apud CURY, 2010).

Saraiva (2002, p.14-15) aduz que:

A Doutrina da Proteção Integral, que tem por norte a Convenção das Nações Unidas para o Direito das Crianças, estabelece que estes direitos se constituem em direitos especiais e específicos, pela condição que

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ostentem de pessoas em desenvolvimento. Desta forma, as leis internas e o sistema jurídico dos países que a adotam devem garantir a satisfação de todas as necessidades das pessoas até dezoito anos, não incluindo apenas o aspecto penal do ato praticado pela ou contra a criança, mas o seu direito á vida, á saúde, à educação, à convivência familiar e comunitária, ao lazer, à profissionalização, à liberdade, entre outros.

Liberati (2003a) ressalta que por absoluta prioridade devemos entender que

deverão estar em primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes a

Criança e o Adolescente, devendo ser atendidas todas as suas necessidades, face o

povo ser o maior patrimônio de uma nação e as Crianças e os jovens são o maior

patrimônio de um povo.

Kaminski (2002) destaca que a Doutrina da Proteção Integral foi acolhida,

inicialmente, como um princípio da CRFB/1988, vindo a ser aclamada pela

Assembléia Geral da ONU em 20 de outubro de 1989, tendo o ECA surgido através

de Lei Complementar no ano de 1990 para regular os dispositivos constitucionais da

área de proteção à infância e à juventude, conforme previsto no art. 24, XV Carta

Constituinte Brasileira.

Paula (2002) traz que a Proteção Integral expressa a designação de um

sistema onde as Crianças e Adolescentes são sujeitos de direito e titulares de

interesses frente ao Estado, á sociedade e à família.

Liberati (2003a) diz que a Doutrina da Proteção Integral tem como base um

conjunto de instrumentos jurídicos de caráter internacional, vindo a representar um

salto de suma importância em consideração à infância.

Deve-se levar em consideração sobre o exposto acima dois pontos de

fundamental importância quanto a análise da absoluta prioridade, servindo de fontes

inspiradoras da legislação interna dos Estados: primeiro diz respeito a exigência de

igualdade absoluta no tratamento para todas as Crianças, sem distinção alguma,

aplicando-se tanto ao oferecimento de proteção e garantias quanto impondo

restrições e medidas disciplinares e, em segundo lugar, quanto a responsabilidade

de forma análoga entre o Estado, á família e à sociedade frente a Criança e ao

Adolescente, não devendo nenhuma dessas entidades assumir ou eximir-se desta

responsabilidade. (DALLARI, [s.d.] apud CURY, 2010).

[...] O Estatuto faz parte da normatização brasileira decorrente da Convenção Internacional da ONU, que entre nós estabeleceu as bases da Doutrina de Proteção Integral, na qual são reconhecidos com absoluta prioridade os direitos das crianças e adolescentes, com primazia de

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proteção, procedência de atendimento, preferência nas políticas públicas e privilegiada destinação de recursos. (KAMINSKI, 2002, p.34).

Em relação ainda à responsabilidade do Estado, da família e da sociedade

quanto a proteção à Criança e ao Adolescente, a participação de vários setores da

sociedade e de atores sociais na garantia dos direitos, objeto deste tema, tem como

ponto de origem o previsto no artigo 204 da CRFB/1988.

Para que isto seja possível, segundo Liberati (2003a) dois pontos importantes

devem ser considerados: o primeiro é a descentralização político-administrativa; o

segundo é a participação da população por meio de suas organizações

representativas.

A solidariedade humana é uma necessidade natural e um dever moral de

todos os seres humanos. No quarto século antes de Cristo o filósofo grego

Aristóteles escreveu que o homem é um “animal político”, querendo dizer, com isso,

que o ser humano, por sua natureza, não vive sozinho, tendo sempre a necessidade

da companhia dos semelhantes. (DALLARI, [s.d.] apud CURY, 2010).

A descentralização político-administrativa atribui à União a tarefa de emitir as

normas legais e a coordenação geral da política de proteção, ficando impedida, de

acordo com o ensinamento de Liberati (2003a), na execução de programas de

atendimento, sendo que aos Estados e Municípios, coube a coordenação local e a

execução direta das atividades de proteção.

Fortalecendo este sistema, Liberati (2003a, p. 37) demonstra ainda que a

sociedade civil, através de suas organizações representativas, “colaborando na

formulação das políticas e no controle das ações, em forma de conselhos paritários

e deliberativos em todos os níveis: municipal, estadual e federal”, devem ter

participação efetiva na tutela dessas pessoas.

Saraiva (2002) diz que a Doutrina da Proteção Integral foi adotada pela

CRFB/88, através de seu art. 227, antecipando-se à Convenção das Nações Unidas

dos Direitos da Criança, aprovada por sua Assembléia-Geral em 20 de outubro de

1989, ou seja, um ano após a promulgação da Carta Constituinte de

1988,constatando-se ainda que na aplicação da Doutrina da Proteção Integral no

Brasil, em verdade, quem se encontra em Situação Irregular é o País, o Estado e a

Sociedade.

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Paula (2002, p. 27) ressalta que a “proteção integral almeja, em síntese,

propiciar e garantir desenvolvimento saudável e integridade à criança e ao

adolescente”.

Liberati (2003a) mostra também que a prioridade determinada no atendimento

aos direitos da Criança e do Adolescente, aprovada na Convenção da ONU em

1989, vem a ser uma garantia e um vínculo normativo idôneo, assegurando assim, a

efetividade aos direitos subjetivos, sendo também um princípio jurídico-garantista10

por encontrar-se como um limite à discriminação das autoridades.

Dallari ([s.d.] apud CURY, 2010) destaca que o art. 4 do ECA cuida para que

se garanta a absoluta prioridade ora tratada, para tanto, a este artigo foi acrescido

um parágrafo único o qual enumera alguns dos procedimentos para a garantia do

princípio constitucional da absoluta prioridade, sendo que tais garantias não são

exaustivas, apresentando, tão-somente, o mínimo exigível de procedimentos

protetores práticos.

Liberati (2003b, p.19), em relação à absoluta prioridade, entende que:

[...] na área administrativa, enquanto não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deveriam asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos, etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes que as obras de concreto que ficam para demonstrar o poder do governante.

Ishida (2010) tece comentário quanto ao disposto no art. 4º do ECA, que trata

dos direitos básicos da Criança e do Adolescente, como à vida, à saúde, á

educação, à alimentação, ao esporte, à profissionalização, à cultura, á dignidade, ao

respeito, á liberdade e à convivência, destacando-se ainda o que dispõe em seu

parágrafo único, sendo que em relação ao exposto acima, o mencionado autor faz

referência ao Ministério Público do Estado de São Paulo, que ingressou com uma

Ação Civil Pública no ano de 1995, contra o Poder Público Municipal, objetivando

que fosse providenciado uma reserva voltada ao atendimento aos “meninos de rua”,

10

[...] esta teoria embasa-se no conceito de centralidade da pessoa, em nome de quem o poder deve constituir-se e a quem deve o mesmo servir. [...] Tem-se aqui então o aspecto propositivo da teoria, ao postular valores que necessariamente devem estar presentes enquanto finalidades a serem perseguidas pelo Estado de Direito, quais sejam a dignidade humana, a paz, a liberdade plena e a igualdade substancial. (Cademartori, 1999, p. 72)

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pois a previsão orçamentária e a destinação dessas verbas não são aplicadas de

forma efetiva pelos governantes.

Em relação à garantia de prioridade, Elias (2010, p. 4) destaca que “não basta

que seja apenas no papel. Não só é importante destinação dos recursos públicos

para as áreas relacionadas ao menor, como também o seu adequado emprego”.

Saraiva (2002) mostra que a CRFB/88 através de seu art. 227 trouxe o

Princípio da Absoluta Prioridade, tendo este princípio sido reafirmado no art. 4º do

ECA, lançando-se fundamentos do denominado Sistema Primário de Garantias e

estabelecer diretrizes ao Poder Público em priorizar as Crianças e os Adolescentes,

reconhecidos na condição de pessoas em desenvolvimento.

Liberati (2003a, p.47) destaca que:

Portanto, o tratamento jurídico diferenciado proposto pela Constituição, determinando que sejam atendidos, com absoluta prioridade, os direitos da criança e do adolescente, não fere o princípio da igualdade perante a lei, porque propõe uma nova condição especial (condição peculiar de desenvolvimento) daqueles sujeitos de direitos.

Saraiva (2002) demonstra ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente

encontra-se estruturado em três grandes sistemas de garantia, ou seja, o Sistema

Primário que trata das Políticas Públicas de Atendimento a Crianças e Adolescentes,

previstos nos artigos 4º e 87; o Sistema Secundário, previsto nos artigos 98 e 101,

que trata das medidas de proteção às Crianças e Adolescentes em situação de risco

pessoal e social e, o Sistema Terciário, que trata das Medidas Socioeducativas,

aplicáveis aos Adolescentes autores de atos infracionais, através do art. 112.

Paula (2002) ressalta que a Proteção Integral não deve ser concebida como

forma de garantir a maturidade, mas sim como sendo um dever de todos na busca

do direito das Crianças e Adolescentes viverem com dignidade e respeito, gozando

de seus direitos, expressos em interesses protegidos juridicamente, de forma que os

movimentos progressivos, movimentos estes mais perceptíveis na infância e na

adolescência, firmando-se como conseqüências naturais e não como fins em si

mesmos.

Destacando-se os conceitos de Criança e Adolescente, a Doutrina da

Proteção integral e o Princípio Constitucional da Absoluta Prioridade, passa-se a

tratar especificamente da inimputabilidade penal da Criança e do Adolescente.

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3.4 INIMPUTABILIDADE PENAL

Sabe-se que o Direito Penal Brasileiro, define a responsabilidade do autor da

infração penal no art. 27 do Código Penal, onde “os menores de 18 (dezoito) anos

são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na

legislação especial”.

[...] Dentro do conceito de “menor”, distingue a situação de “criança” e do “adolescente”, entendendo para os efeitos da lei, como criança a pessoa até 12 anos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. A decisão de incluir, na esfera de ação do Estatuto, o menor de 18 anos está de acordo com a Convenção sobre os Direitos da Criança, que, como se sabe, em seu primeiro dispositivo, estabelece que, para os efeitos da mesma “se entende por criança todo ser humano menor de 18 anos”. (SOLARI, [s.d.] apud CURY, 2010, p. 18).

Em consonância com o disposto no art. 27 do Código Penal, está o art. 228

da CRFB/88 que diz: “são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos,

sujeitos às normas da legislação especial”.

Relacionado também a inimputabilidade dos menores de dezoito anos, está o

art. 104 do ECA, que estabelece que “são penalmente inimputáveis os menores de

dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.”

Ocorre que a imputabilidade não exime o adolescente da responsabilidade

pessoal ou social pelo ato cometido, sendo imposto ao mesmo medidas sócio-

educativas, previstas no art. 112 e seguintes do ECA.

3.5 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

Com a promulgação da CRFB/88 e do ECA, surgiram as garantias e direitos

de proteção à Criança e ao Adolescente em termos processuais.

Dentre eles estão presentes os princípios do contraditório e da ampla defesa,

o acesso à justiça, o devido processo legal, a defesa técnica do advogado, entre

outros.

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Tais princípios encontram-se identificados nos artigos 110 e 111 do Estatuto

da Criança e do Adolescente, vejamos:

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal. Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias: I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; III - defesa técnica por advogado; IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.

Nota-se ainda dentro do ECA outros dispositivos que tratam justamente de

outras garantias, como por exemplo os arts. 141 ao 145:

Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado. § 2º. As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má fé. Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos asssistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou processual. Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou assistência legal ainda que eventual. Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco e residência. Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a finalidade. Art. 145. Os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

As referidas garantias têm por objetivo a plena defesa do Adolescente que se

encontra no pólo passivo da ação socioeducativa, cabendo ainda ressaltar que o

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Adolescente infrator não poderá, conforme preleciona Elias (2010), sofrer medidas

punitivas, mas tão somente pedagógicas, sendo que medidas como a internação,

deverão ser aplicadas somente em casos de necessidade.

Segundo Saraiva (2002) as garantias processuais elencadas no art. 111 do

ECA são de caráter exemplificativo e, sendo necessário, deve-se buscar

subsidiariamente a aplicação de outras garantias existentes em nosso ordenamento

jurídico ou contidas em declarações, convenções, pactos e devidamente aprovadas

internamente pelo Brasil.

Expostos quanto ao conceito e princípios que detêm o ECA serão tratados no

próximo capítulo o ato infracional praticado pelo adolescente em conflito com a lei,

bem como a classificação das medidas socioeducativas e, em especial, a

participação da sociedade e de instituições privadas e públicas na ressocialização

dos adolescentes em conflito com a lei.

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4 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA RESSOCIALIZAÇÃO DO ADOLESCENTE EM

CONFLITO COM A LEI

Busca-se evidenciar neste capítulo o conceito de Ato Infracional praticado

pelo Adolescente, a classificação das medidas socioeducativas presentes no ECA e,

em especial, a participação da popular e do Poder Público na ressocialização do

adolescente em conflito com a lei.

Pretende-se ainda demonstrar a possibilidade do envolvimento da sociedade

e de outros órgãos do Poder Público juntamente com os demais órgãos como o

Poder Judiciário, Ministério Público e Conselhos Tutelares, proporcionando uma

aproximação entre os atores sociais e o adolescente infrator e contribuir na

construção de valores, bem como por uma sociedade mais humana e justa.

Antes, porém, importante analisar, de forma breve, o motivo pelo qual,

crianças e adolescentes, praticam atos infracionais e, consequentemente, estão em

conflito com a lei.

De acordo com o disposto no Manual para a medição dos indicadores11 da

Justiça Juvenil (UNICEF, 2006), os principais fatores que proporcionam,

infelizmente, aos adolescentes e crianças estarem em conflito com a lei são: a

ausência de educação, uso de drogas que acaba por gerar dependência química, a

pobreza, falta de saneamento básico, desestruturação familiar, oportunidades de

emprego, exploração, abuso, violência e a carência de orientação dos

pais/responsáveis pelo desenvolvimento dessas pessoas, bem como a violência,

abuso e exploração.

A UNICEF (2006) estabeleceu 1512 (quinze) indicadores de justiça juvenil,

escolhidos pela viabilidade de mensuração, tendo como finalidade contribuir na

tutela de crianças e adolescentes em conflito com a lei, fundadas em ações a nível

central e, principalmente, local.

11

Um indicador oferece uma maneira compartilhada de medir e apresentar informações que revela se os padrões estão sendo cumpridos. (UNICEF, 2006)

12 1. Crianças em conflito com a lei; 2. Crianças em internação; 3. Crianças em internação provisória; 4. Duração da internação provisória; 5. Duração da internação pós-sentença; 6. Mortes de crianças em internação; 7. Separação de adultos; 8. Contato com pais e familiares; 9. Sentença de privação de liberdade; 10. Remissão pré-sentença; 11. Acompanhamento posterior; 12. Inspeções independentes regulars; 13. Mecanismos de denúncia 14. Sistema especializado de justiça juvenil; 15. Prevenção.

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O mencionado manual destaca ainda o tratamento isonômico de adolescentes

em conflito com a lei, da mesma maneira que os adultos, implementando como

opção primária de sanção punitiva, a privação de liberdade, devendo, em verdade,

adotar procedimentos adequados ao desenvolvimento e a reintegração daquelas

pessoas à sociedade.

Aliado a isso, tais indicadores contribuíram e contribuem no processo de

participação popular na ressocialização do adolescente em conflito com a lei, uma

vez que traz mecanismos viáveis de serem mensurados e que auxiliam

sobremaneira os atores sociais responsáveis pela implementação de políticas

públicas necessárias na garantia do desenvolvimento dessas pessoas.

[...] enquanto um país pode operar „procedimentos especializados‟ para crianças em conflito com a lei, um sistema efetivo de justiça juvenil exige que as diversas necessidades das crianças sejam avaliadas, que as crianças em conflito com a lei sejam encaminhadas aos serviços apropriados, e que lhes seja oferecida atenção e assistência, com reintegração à comunidade. Além disso, um sistema de justiça juvenil deveria operar um ambiente „adequado à criança‟, utilizando terminologia adequada e reduzindo ao mínimo possível o uso de restrições físicas. (Manual para a medição dos indicadores da Justiça Juvenil, UNICEF, 2006, p. 6)

Nota-se ainda que a origem da relação violência e juventude, decorre do

processo de exclusão social e de negação ao adolescente das condições mínimas

de desenvolvimento e inserção ao seio da sociedade.

Esse contexto de negação do acesso dos jovens às condições básicas de desenvolvimento e inserção social favorece o processo de vulnerabilização, limitando a sua capacidade de formação, uso e reprodução dos recursos materiais e simbólicos, contribuindo para a precária integração às estruturas de oportunidades, provenientes do Estado, do mercado ou da sociedade [...] que inclui a vulnerabilidade associada à desigualdade social e segregação dos jovens (PASSAMANI, 2006, p. 38)

Dessa forma, a caracterização de desigualdades sociais e de oportunidades,

seja na educação, cultura ou lazer, por exemplo, acaba por excluir o adolescente do

exercício da cidadania, prejudicando sobremaneira sua formação e,

consequentemente, acaba por contribuir que se tornem “alvos fáceis e vulneráveis” e

se envolverem com a violência e a prática de atos infracionais.

Para tanto, necessário se faz o engajamento, o comprometimento e a

responsabilidade de atores sociais na busca de informações, bem como de

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alternativas que poderão contribuir sobremaneira na proteção e na reinserção social

dos adolescentes em conflito com a lei, assim como a avaliação da existência de

políticas públicas relevantes que poderão ser reformuladas ou melhoradas.

Os indicadores para a medição da justiça Juvenil expostos pela UNICEF

(2006) importam em “um conjunto de dados básico e uma ferramenta comparativa

que oferece um ponto de partida para a avaliação e desenvolvimento de serviços e

políticas”.

Esses fatores, como destacados anteriormente, possibilitam que o poder

público, em parceria com a sociedade, busque alternativas a fim de minimizar as

desigualdades sociais como atividades escolares em tempo integral, formação

profissional, consciência ambiental, saneamento básico, sem esquecer a

participação da família, uma vez que a valorização dessas pessoas é fundamental

ao desenvolvimento dos jovens.

A justiça ambiental encontra-se baseada na distribuição equitativa de custos

ambientais e benefícios e a igualdade de acesso aos recursos ambientais, o que não

ocorre na realidade brasileira, por exemplo, proporcionando desigualdades sociais e

o a participação desordenada de adolescentes na prática de delitos.

A situação anteriormente descrita ocorre, segundo Cavedon e Vieira (2006, p.

3), especialmente em “grupos fragilizados por questões socioeconômicas, étnicas e

informacionais, que afetam a sua habilidade para o exercício da cidadania”, os

quais, desproporcionalmente, arcam com os custos e riscos ambientais, aliada a

desigualdade dos critérios para tal distribuição.

Ademais, a justiça ambiental prima pela construção de sujeitos coletivos de

direitos e organizações populares na construção alternativas de desenvolvimento,

garantindo-se assim, o exercício da democracia participativa e da cidadania.

No que se refere a consciência ambiental, Philippi Júnior, Roméro e Bruna

(2004, p. 15) destacam que a gestão ambiental visa cessar a desigualdade e a

injustiça social, criando critérios e fixando regras, a fim de que todos tenham acesso

a um meio ambiente ecologicamente comedido e a sadia qualidade de vida, sendo

que os custos pelos danos gerados sejam distribuídos de forma igualitária, sem

discriminação, a fim de viabilizar o equilíbrio econômico, ambiental e social, isto é,

buscar o desenvolvimento sustentável.

A justiça ambiental, de acordo com a lição de Cavedon e Vieira (2006, p. 5)

“preconiza o empoderamento das comunidades, pela possibilidade de participação

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direta e qualificada nos processos decisórios, o que pressupõe dispor do poder de

influenciar na conformação da decisão pública ambiental”, criar condições favoráveis

para que a sociedade se organize e, efetivamente participe do processo de gestão

pública.

São por meio da educação, da conscientização e do planejamento

participativo que serão estabelecidas ações distintas de articulação em parceria

entre os atores sociais, no que se refere ao restabelecimento e na ressocialização

do adolescente em conflito com a lei.

A governança participativa, “é aquela que liga e harmoniza políticas,

instituições, processos, ferramentas e informações de modo a capacitar todo um

conjunto de interessados”, sejam estes atores sociais órgãos públicos ou privados,

comunidade local e Organizações Não Governamentais (ONGs), por exemplo,

gerenciando conflitos, buscando consenso, efetuando escolhas abalizadas e

assumindo responsabilidades pelas próprias ações.

Esta é a definição de governança ambiental enfatizada pelo Bando

Interamericano de Desenvolvimento (BID, 2006).

Em outras palavras, a justiça ambiental caracteriza-se pelo equilíbrio, pela

distribuição equitativa de riscos, poder, benefícios e custos ambientais, “atrelado à

democratização dos processos decisórios”, onde as populações fragilizadas

econômica e socialmente, por exemplo, são excluídas do exercício da cidadania e

deficientes no que se refere a participação pública nas tomadas de decisões e

acesso á informação.

Nesse cenário, encontramos os adolescentes em plena formação física e

psicológica, na prática de delitos, ante a ausência de amparo social e familiar na

garantia do exercício dos direitos garantidos pela legislação.

Desta maneira, a participação de atores sociais de diversos setores,

juntamente com o poder público, no verdadeiro exercício de cidadania, proporciona

a redução da desigualdade social e, consequentemente, garante uma sociedade

mais desenvolvida, sem desigualdades sociais, justa e consciente para as presentes

e futuras gerações.

Assim, a ausência de mecanismos voltados a governança participativa

poderão impedir que a redução das desigualdades sociais, bem como de

adolescentes em conflito com a lei, não sejam alcançados efetivamente.

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4.1 ATO INFRACIONAL

Em primeiro lugar, importante destacar a previsão legal quanto ao ato

infracional, disposta no ECA em seu art.103, considerando como sendo “[...] a

conduta descrita como crime ou contravenção penal”.

Observa-se que o ECA, em resposta ao dispõe a Doutrina da Proteção

Integral à Criança e ao Adolescente e adotada pela CRFB/88, traz em seu art. 227,

bem como fundado na normativa internacional, em especial as “Regras de Beijing” e

as “Diretrizes de Riad”, uma nova forma de se ver, compreender e de atender o

Adolescente em conflito com a lei, ou seja, aquele acusado de prática de Ato

Infracional. (D‟AGOSTINI, 2003).

Em relação ao Ato Infracional e ao crime e seus processos, assim estabelece

o art 227, § 3º, IV e V da CRFB/88:

Art. 227- [...]

§3 - [...] IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa de liberdade;

Segundo D‟Agostini (2003, p.21): “A Constituição Federal, em seu art. 228, diz

que são penalmente inimputáveis (estado em que há ausência de culpa) os menores

de dezoito anos, sujeitando-se às normas da legislação especial”.

Saraiva (2003, p. 75) define o ato infracional como sendo uma “conduta típica,

antijurídica e culpável”.

Amarante ([s.d.] apud CURY, 2010) afirma que a conduta da Criança ou do

Adolescente, quando revestida de ato ilícito, reflete no contexto social em que vive.

O ECA construiu um novo modelo de responsabilização do Adolescente em conflito

com a lei.

Pela definição finalista, crime é dato típico e antijurídico. A criança e o adolescente podem vir a cometer crime, mas não preenchem o requisito da culpabilidade, pressuposto de aplicação da pena. Isso porque a imputabilidade penal inicia-se somente aos 18 (dezoito) anos, ficando o adolescente que cometa infração penal sujeito à aplicação de medida socioeducativa por meio de sindicância.Dessa forma, a conduta delituosa da

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criança e do adolescente é denominada tecnicamente de ato infracional, abrangendo tanto o crime como a contravenção. (ISHIDA, 2010, p.177).

Desta forma, a todo Ato Infracional praticado por Adolescente há a aplicação

de uma das Medidas Socioeducativas previstas no artigo 112 do ECA, cabendo a

imposição de advertência até o internamento em estabelecimento educacional,

conforme a Doutrina da Proteção Integral, previsto nos artigos 1º e 6º do Estatuto,

contudo, antes de realizar a exposição de cada uma dessas medidas, será

brevemente destacada a apuração do Ato Infracional.

4.1.1 Apuração do ato infracional

Após a prática do Ato Infracional, a apuração é iniciada através de uma

sindicância por representação do Ministério Público e, uma vez finalizado tal

procedimento, compete ao Juiz aplicar a Medida Socioeducativa pertinente ao caso.

(ISHIDA, 2010).

A apuração do Ato Infracional está prevista no Título VI, Capítulo III, Seção V,

arts. 171 ao 190 do ECA.

O Ato Infracional possui duas fases de apuração: policial e judicial. A primeira

inicia-se a partir da apreensão do adolescente infrator ou por força de ordem judicial

ou em flagrante de ato infracional.

Conforme estabelece o art. 114 do ECA, para haja a imposição das Medidas

Socioeducativas previstas nos incisos II ao VI do art. 112 do ECA, deve-se ter a

prova da autoria do Ato Infracional, bem como da sua materialidade. (ISHIDA, 2010).

É natural que, nos casos em que houver indícios de participação de adolescente na prática de ato infracional, se encaminhe ao representante do Ministério Público o relatório das investigações e demais documentos, uma vez que ele é o titular da ação sócio-educativa.[...] pois bem, para que possa cumprir adequadamente sua obrigação, o Curador da Infância e da Juventude certamente deverá convocar o adolescente e outras pessoas que constem do relatório ou dos documentos, a fim de que sejam ouvidas, na tentativa de se apurar a participação do menor em algum ato infracional. (ELIAS, 2010, p.155).

De acordo com Liberati (2003b), a apuração do Ato Infracional ocorre em três

momentos distintos, sendo num primeiro momento na realização das investigações,

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a fim de apurar os fatos, quando o Adolescente infrator é apreendido, juntamente

com o produto da infração, conforme dispõe os arts. 171 à 178 do ECA,

procedimento este realizado pela Polícia Judiciária. Em seguida, conforme

estabelece os arts. 179 à 182 do Estatuto, em audiência informal realizada pelo

Ministério Público, juntamente com os responsáveis do Adolescente infrator, vítima e

testemunhas e, num terceiro momento, com base nos arts. 183 à 190 do ECA,

ocorre a fase judicial, onde o Adolescente passa a ser ouvido pelo Magistrado,

acompanhado por seus pais e advogado.

No procedimento na fase policial, Ishida (2010) destaca que o Adolescente

apreendido em flagrante deverá ser encaminhado à autoridade policial, onde. a

prática do Ato Infracional estiver revestida de violência ou grave ameaça, o

procedimento adotado assemelha-se ao da prisão em flagrante, lavrando-se auto de

apreensão, oitiva de testemunhas, bem como do Adolescente infrator, a apreensão

do produto e dos instrumentos utilizados para a prática da infração, conforme

estabelecido no art. 172 e 173 do ECA.

Assim sendo, no caso de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça a pessoa (como, p.ex., o roubo, a extorsão, o seqüestro), este deve ser devidamente apurado, para que se possa aplicar a medida adequada. Daí a importância das medidas, que devem ser, logo de início, tomadas. Importa, portanto, ouvir testemunhas e vítimas, bem como apreender o produto e os instrumentos da infração. Por outro lado, a requisição dos exames e das perícias, como ocorre em qualquer inquérito policial, será de extrema utilidade, uma vez que, na ação sócio-educativa, o Juiz da Infância e da Juventude poderá, com supedâneo nos elementos dos autos, aplicar a pena de internação cabível, consoante determina o art. 122 do Estatuto. (ELIAS, 2010, p.151).

Uma vez apreendido o Adolescente, o responsável pela medida constritiva

deverá, de acordo com o art. 107 do ECA, providenciar a comunicação “à autoridade

judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada”.

Analisando o art. 174 do ECA, Elias (2010) leciona que não deve haver, para

o bem do Adolescente, o distanciamento com sua família, sendo que comparecendo

um dos pais ou responsável, a autoridade policial deverá liberar o Adolescente

infrator, com exceção dos casos de maior gravidade, além da repercussão do ato

praticado, que poderá colocar em risco a vida e a integridade física daquele

Adolescente.

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Com a liberação do Adolescente a um dos pais ou responsável, Liberati

(2003b) destaca o comprometimento destes em apresentarem o adolescente infrator

ao representante do Ministério Público no mesmo dia ou o mais rápido possível,

procedimento este realizado através da lavratura de termo de compromisso e

responsabilidade.

O ECA estipula dois procedimentos: (1) delitos de menor gravidade: a autoridade policial elabora o termo circunstanciado e, mediante o comparecimento do responsável legal, libera o menor com o compromisso de apresentação ao membro do MP para a oitiva informal; (2) delitos graves ou de grande repercussão: mantém o adolescente internado, desde que constatada a necessidade de segurança pessoal do menor ou manutenção da ordem pública. [...] No caso de não-liberação, deve a autoridade policial encaminhar o menor ao membro do MP. Havendo impossibilidade, deve enviá-lo à entidade de atendimento [...], que se incumbirá da apresentação. No caso de inexistência de entidade, a apresentação deverá ser feita pela própria autoridade policial, que deverá custodiar o menor em compartimento separado. (ISHIDA, 2010, p.308-309).

Marçura ([s.d.] apud CURY, 2010), destaca que a autoridade policial deverá

encaminhar de imediato, cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência ao

representante do Ministério Público e, caso não haja flagrante, mas indícios de

participação de Adolescente, deverá também ser encaminhado ao Ministério Público

o relatório policial ou boletim de ocorrência.

Com o recebimento do auto de apreensão, do relatório policial ou do boletim

de ocorrência, inicia-se o procedimento realizado pelo representante do Ministério

Público, conforme previsto nos artigos 179 à 182 do ECA.

Nesta fase, de acordo com Ishida (2010, p. 311) “Instituiu o legislador a

chamada oitiva informal do menor infrator, ocasião em que o Promotor formará sua

convicção”.

Segundo Elias (2010), será através desta oitiva informal, caracterizada como

o primeiro contato do representante do Ministério Público com o Adolescente, onde

aquele realizará preliminarmente uma avaliação do caso, bem como da

personalidade do Adolescente.

Nogueira (1998) expõe que sendo apresentado o Adolescente ao

representante do Ministério Público, será informado a este pelo cartório judicial

quanto aos antecedentes do Adolescente, sendo ouvido informalmente, bem como,

dentro das possibilidades seus pais ou responsável, testemunhas e vítima.

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Elias (2010) ressalta que a oitiva informal realizada pelo representante do

Ministério Público é extremamente adequada, pois evita constrangimentos que

possam vir a afetar psicologicamente um Adolescente que seja inocente ou que

praticou um Ato Infracional sem grande relevância.

Observa-se nesta fase a possibilidade de aproximação visando a

conscientização do adolescente infrator na correção de suas ações para que não

mais venham a se repetir.

Aliado ao acima exposto nota-se ainda a necessidade em identificar e

acompanhar o adolescente infrator, de forma pedagógica, através do emprego dos

meios fornecidos pelo Estado na relação e no tratamento das pessoas em

desenvolvimento e em conflito com a lei.

Demonstrar a estas pessoas a garantia constitucional da dignidade da pessoa

humana e da necessidade da aprendizagem, de conscientização, de uma profissão,

de capacidade de melhoria em sua vida pessoal e profissional

Conforme prevê o art. 180 do ECA, adotadas todas as providências previstas

no art. 179 do mencionado Estatuto, tendo o representante do Ministério Público

formado sua convicção a respeito dos fatos, poderá tomar uma dessas ações:

promover o arquivamento dos autos, conceder a Remissão ou representar à

autoridade judiciária para a aplicação da Medida Socioeducativa. (MARÇURA, [s.d.]

apud CURY, 2010).

O representante do Ministério público promoverá o arquivamento dos autos quando inexistir o fato, não constituir ele ato infracional ou não for o adolescente seu autor. [...] O arquivamento deverá ser homologado pela autoridade judiciária. Discordando da medida, o juiz fará remessa dos autos ap Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, e este tomará as seguintes providências: a) oferecerá representação; b) designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la; ou c) ratificará o arquivamento (art. 181, § 2º). No caso de o Procurador-Geral de Justiça ratificar o arquivamento, a autoridade judiciária estará obrigada a homologá-lo. [...] Poderá também o promotor de justiça conceder a remissão, que será, sempre, na forma de exclusão do processo (art. 126). [...] Do mesmo modo que o arquivamento, a remissão deverá ser homologada pela autoridade judiciária, que, discordando, remeterá os autos ao Procurador-Geral de Justiça, na forma do § 2º do art. 181.[...] Por outro lado, se o representante do Ministério Público não promover o arquivamento nem conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento para aplicação de medida sócio-educativa que se afigurar mais adequada ao caso (art. 182). (LIBERATI, 2003b, p.186-187).

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Elias (2010) traz que a representação judicial do adolescente infrator ocorre

quando o promotor de justiça verifica a necessidade de aplicação de Medida

Socioeducativa pelo Ato Infracional praticado por Adolescente.

Liberati (2003b) destaca que a representação assemelha-se com a denúncia

prevista no Código de Processo Penal.

Ofertada a representação, o ato seguinte é o da designação de audiência de apresentação. Na decisão interlocutória que designa a data dessa audiência, o magistrado decide pela mantença ou não da medida de internação. [...] Procedimento no caso de representação: (1) representação (art. 184); (2) oitiva pelo juiz dos pais ou responsável legal e do menor (art. 186, caput), hipótese em que analisará a hipótese de remissão ou de continuação do procedimento e se procederá à nomeação de defensor; (3) defesa prévia e rol de testemunhas (três dias) (art. 186, § 3º); (4) audiência de instrução (juntando-se relatório da equipe interprofissional); (5) debates (20 minutos prorrogáveis por mais 10); (6) sentença. (ISHIDA, 2010, p.321– 326).

Importante estabelecer que a finalidade da representação está na aplicação

de Medida Socioeducativa.

4.2 O ECA E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Têm-se como Medidas Socioeducativas aplicadas ao Adolescente infrator, as

estabelecidas no art. 112 do ECA, vejamos:

Art.112 – Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I – advertência; II – obrigação de reparar o dano; III – prestação de serviço à comunidade; IV – liberdade assistida; V – inserção em regime de semiliberdade; VI – internação em estabelecimento educacional; VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1 - A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2 - Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.

§ 3 - Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado em local adequado às suas condições.

Maior ([s.d.] apud CURY, 2010), demonstra quanto a aplicação ao

Adolescente das medidas de proteção previstas no art. 101, I a VI do ECA, possuem

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caráter pedagógico, tendo como finalidade o fortalecimento da relação entre a

família e a sociedade.

Liberati (2003b) destaca a possibilidade de aplicação de forma isolada ou

cumulativa, das medidas socioeducativas juntamente com as medidas de proteção

quando não atingirem o caráter de ressocialização, seguindo o previsto nos arts. 99

e 100 do ECA, lembrando ainda quanto ao caráter pedagógico da aplicação de tais

medidas.

Silva (2008, p. 47) apresenta que as medidas de proteção estabelecidas no

art. 101 do ECA aplicadas aquelas pessoas com idade inferior a doze anos e que

venham a praticar um ato infracional “necessita do desencadeamento de ações,

principalmente no âmbito familiar e social, que visem a sua inclusão, bem como a de

seus responsáveis, em programas oficiais, conforme a necessidade detectada”.

Por outro lado, aos adolescentes, além das medidas de proteção, podem ser aplicadas as medidas socioeducativas [...] Diferentemente daquelas, estas têm característica diversa por trazerem, em seu bojo, conseqüências mais gravosas, que vão da advertência à privação da liberdade. Grassa divergência, entretanto, no meio acadêmico e na práxis, acerca da caracterização dessas medidas, ou seja, se têm elas cunho punitivo, pedagógico, ou outro caráter que se atribua. (SILVA, 2008, p. 47)

Em verdade, as medidas socioeducativas decorrem de manifestação do

Poder Público (Estado) e detêm características: impositiva (aplicação,

independentemente da vontade do infrator), sancionatória (responsabilidade do

infrator pela quebra das regras de convivência voltada a todos) e retributiva

(resposta dada pelo Estado à pratica do infracional), tendo por finalidade o

desenvolvimento educativo e pedagógico do infrator.

Tratando-se de Adolescente infrator portador doença ou deficiência mental,

previsto no art. 112, § 3º do ECA, estes deverão receber tratamento diferenciado,

individual e especializado, em estabelecimento adequado, voltado para as condições

daquele Adolescente. (NOGUEIRA, 1998).

O disposto no § 3º do art. 112 do ECA veio a reforçar a previsão na CRFB/88,

em seu art. 227, § 1º, II e o art. 11, § 1º do ECA, sendo que não existindo o

tratamento individualizado e especializado poderá ser proposta Ação Civil Pública

objetivando a efetivação deste direito (MAIOR, [s.d.] apud CURY, 2010).

Em relação a natureza jurídica das Medidas Socioeducativas, Saraiva (2003),

destaca que esta é constituída de sanção imposta pelo Estado, sendo que a

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liberdade do indivíduo é limitada, onde, tão somente o Poder Judiciário poderá impor

esta sanção, mesmo existindo a figura da Remissão que encontra-se concentrada

nas mãos do Ministério Público.

A medida sócio-educativa é a manifestação do Estado, em resposta ao ato infracional, praticado por menores de 18 anos, de natureza jurídica impositiva, sancionatória e retributiva, cuja aplicação objetiva inibir a reincidência, desenvolvida com a finalidade pedagógica-educativa. Tem caráter impositivo, porque a medida é aplicada, independente da vontade do infrator – com exceção daquelas aplicadas em sede de remição, que tem a finalidade transacional. Além, da impositiva, as medidas sócio-educativas tem cunho sancionatório, porque, com sua ação ou omissão, o infrator quebrou a regra de convivência dirigida a todos. E, por fim, ela pode ser considerada uma medida de natureza retributiva, na medida em que é uma resposta do Estado à prática do ato infracional praticado. (LIBERATI, 2003b, p.101).

Desta forma, exposto sobre o ato infracional e sua natureza jurídica, trata-se a

seguir acerca das Medidas Socioeducativas, expondo, as particularidades de cada

uma delas para que possamos compreendê-las, a fim de verificar a possibilidade da

participação popular, juntamente com o poder público no processo de

ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

4.2.1 Advertência

A advertência nada mais é, segundo Saraiva (2002), do que uma medida

admoestatória, informativa e verbal realizada pelo Juiz ao Adolescente infrator em

uma audiência específica para tal finalidade.

Conforme nos ensina Nogueira (1998, p.169-170):

Qualquer medida a ser aplicada ao menor deve usar, antes de tudo, a sua integração na própria família. Por isso, qualquer ato por ele praticado ainda que configure infração penal deve merecer primeiramente uma advertência na presença do próprio responsável a quem o menor será entregue. Advertência é a primeira medida judicial, e consiste em admoestação verbal ao menor autor de ato infracional. Também aos pais ou responsáveis é aplicável a medida de advertência (art.129, VII) [...]. A advertência poderia dispensar perfeitamente o procedimento contraditório, pois trata-se de admoestação verbal, que deveria ser imposta de plano em face do boletim de ocorrência ou relatório policial. E sua

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imposição estender-se-ia aos pais ou responsáveis, o que tornaria a medida mais abrangente e eficaz sendo apenas reduzida a termo.

A advertência, segundo o art. 115 do ECA consiste “em admoestação verbal,

que será reduzida a termo e assinada”.

Ishida (2010), mostra que a Medida Socioeducativa da advertência consiste

na admoestação, isto é, nada mais do que a leitura do Ato Infracional praticado, bem

como o Adolescente infrator comprometendo-se em não mais praticá-la.

O ato de advertir constitui-se numa relação de poder e de autoridade porque há uma fala unilateral [...] decorrente de decisão de mérito sobre certo comportamento. Do conteúdo da fala não poderá esquivar-se o adolescente. Tampouco terá ambiente para desautorizar o teor da fala. (KONZEN, 2005, p. 45)

Elias (2010) destaca que para que a advertência surtir seus efeitos, deverá

ser realizada pelo Juiz, não podendo desta forma, delegar esta atribuição a

ninguém, devendo os pais ou responsáveis se fazerem presentes, revestindo-se de

formalidades, como ser reduzida a termo e assinada.

Liberati (2003b) expõe que a advertência será aplicada ao Adolescente

infrator, onde este será orientado pela autoridade competente, sendo que esta

admoestação deverá ser realizada perante os pais ou responsável.

O caráter aparentemente singelo da medida não lhe retira a importância, vez que, especialmente em adolescente sem histórico de atos infracionais graves, a censura pode vir a ser procedimento eficiente, caso atinja o objetivo de indicar ao adolescente um caminho, respeitando sua autonomia de ser em desenvolvimento. (SILVA, 2008, p. 51)

Saraiva (2002) aduz que a advertência é a Medida Socioeducativa mais leve,

mais branda especificada no art. 112 do ECA, resumindo-se na admoestação verbal

realizada pelo Magistrado em uma audiência específica para tal ato.

4.2.2 Obrigação de reparar o dano

De acordo com Liberati (2003b), o art. 116 do Estatuto da Criança e do

Adolescente que trata especificamente da Medida Socioeducativa da obrigação de

reparar o dano, mostra três hipóteses possíveis para satisfazer a obrigação, ou seja,

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a restituição do bem, o ressarcimento pelo prejuízo ou a compensação do prejuízo

da vítima, desde que exista a possibilidade para tal.

Convém destacar que a obrigação de reparar o dano deve ser interpretado

com base nos dispositivos do Código Civil Brasileiro, em especial, em seus artigos

3º, 4º, 180, 186 e 932, sendo que a responsabilidade na reparação do dano recai

aos pais ou responsáveis nos casos em que o adolescente infrator for menor de 16

(dezesseis anos de idade).

Deve-se observar que o ato ilícito praticado é aquele previsto no Direito Civil,

bem como o dano causado vem a ser o prejuízo ao patrimônio, sendo que nos atos

ilícitos civis, o Adolescente com idade de 16 anos ou mais é equiparado ao maior de

idade, vindo a responder por aquele dano com os seus bens, assim como os pais ou

responsável também serão responsabilizados pelo ato ilícito praticado pelo menor

de idade. (VERONESE, 2001).

Nogueira (1998), ressalta que a obrigação da reparação do dano praticado

por Adolescente exposta no ECA, não deixa de ser pertinente e reeducativo, ainda

mais se tivermos o conhecimento de diversos atos infracionais praticados por

Adolescentes, que são, na maioria dos casos, danosos ao patrimônio.

No caso do Estatuto, a obrigação de reparar o dano é medida sócio-educativa que pode ser aplicada ao adolescente autor de ato infracional e, por via de conseqüência, ao seu responsável legal (culpa in vigilando), inserida na alçada da mesma autoridade que examina o caso no âmbito do sistema de Justiça da Infância e da Juventude. [...] Com isso, aprimora-se a metodologia jurídico-processual adotada na lei anterior, favorecendo-se ainda mais a vítima na recuperação das perdas, e proporcionando-se que, de imediato, o adolescente perceba os efeitos sociais e econômicos dos seus atos, aguçando-lhe o sentido de seus direitos e deveres (LIMA, [s.d.] apud CURY, 2010, p.393).

Desta forma, Liberati (2003b) demonstra que o escopo desta medida é

meramente educativo, visando despertar no Adolescente infrator, seja pela

indenização ou pela reparação do dano, o senso de responsabilidade por aquilo que

não lhe pertence.

No mesmo sentido, Konzen (2005, p. 46) leciona que:

Independentemente dos eventuais reflexos cíveis dessa medida e de sua importância pedagógica, enquanto instrumento destinado à percepção pelo adolescente das conseqüências notadamente econômicas de seus atos, a imposição unilateral [...] significa, para o adolescente, o reconhecimento público da inadequação do ato praticado.

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Por fim, dispõe o parágrafo único do art. 116 do ECA que nos casos em que

não houver condições do Adolescente, seus pais ou responsável em reparar o dano,

poderá a medida ser substituída por outra adequada.

4.2.3 Prestação de serviço à comunidade

A Medida Socioeducativa de prestação de serviço à comunidade está

expressa no art. 112, III e art. 117 do ECA, na qual o Adolescente infrator realiza

tarefas de natureza gratuita de interesse da comunidade, junto a hospitais, entidades

assistenciais, estabelecimentos de ensino, bem como, em programas comunitários

ou governamentais, desde que não exceda o período de seis meses.

De acordo com Elias (2010), destaca que a Medida Socioeducativa de

prestação de serviço á comunidade possui conotação pedagógica, sendo uma

medida extremamente adequada, principalmente de ordem moral, levando ao

Adolescente infrator que praticou um Ato Infracional, tendo a oportunidade de se

redimir com seu trabalho.

Ressalta-se ainda que as tarefas realizadas são gratuitas e que não poderá,

ultrapassar o período estabelecido no caput do art. 117 do ECA, restringindo-se a

oito horas semanais, e que não venha a causar prejuízos na freqüência escolar ou

na jornada de trabalho, nos casos em que o adolescente exerce atividade laborativa.

Ishida (2010) ressalta que a medida de prestação de serviços à comunidade

veio a ser definida pelo legislador como a realização de tarefas gratuitas de

interesse geral, pelo Adolescente infrator.

Os serviços prestados devem ser nos locais indicados no artigo, evitando-se, toda via, lugares que, por qualquer razão, sejam maléficos ao adolescente, tanto do ponto de vista físico como moral. Se, por exemplo, num hospital, não poderá o menor trabalhar em local em que haja qualquer perigo de contaminação que afete sua saúde. (ELIAS, 2010, p.94).

Conforme Nogueira (1998), encontra-se a medida de prestação de serviço à

comunidade como pena restritiva de direito, expressa no art. art. 43, IV, CP, tendo

um alcance elevado na reeducação, desde que devidamente aplicado pelo Judiciário

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e fiscalizada pelos órgãos competentes, bem como assemelha-se com o art. 46

também do CP e nos arts. 146 a 150 da Lei de Execuções Penais.

No mesmo sentido, há que se entender que a medida sócio-educativa de prestação de serviços comunitários deverá ser fiscalizada pela comunidade, que, e conjunto com os educadores sociais, proporcionará ao adolescente infrator uma modalidade nova de cumprimento da medida em regime aberto. (LIBERATI, 2003b, p.107).

Segundo Saraiva (2002), as medidas de prestação de serviços à comunidade,

bem como a de liberdade assistida, vêm se revelando como as mais eficientes e

eficazes dentre as Medidas Socioeducativas estabelecidas pelo Estatuto, sendo que

a medida de prestação de serviços à comunidade recomenda-se o uso de

programas que estabeleçam parcerias entre o Judiciário com órgãos públicos e

organizações não-governamentais.

Tal medida estabelece ainda a inserção do Adolescente em programas que

prevejam a realização de tarefas adequadas às aptidões do infrator, formando-se, o

processo de execução da Medida Socioeducativa, através de relatórios

confeccionados pelo órgão ou entidade onde o Adolescente infrator presta o serviço.

A prestação de serviços pode se constituir alternativa para que não seja aplicada medida privativa de liberdade. Ao esmo tempo, a comunidade colhe os frutos do trabalho do adolescente, estendendo os efeitos da medida ao plano social. Tem a medida também caráter personalíssimo, porque não pode ser prestada por outra pessoa que não o adolescente. (SILVA, 2008, p. 53).

Nogueira (1998), aduz ainda que a Medida Socioeducativa de prestação de

serviços á comunidade, possui um significado, um sentido social de servir e ser útil à

sociedade, além de dignificar aquele que realiza o trabalho.

Bergalli ([s.d.] apud CURY, 2010), enfatiza que a Medida Socioeducativa de

prestação de serviço à comunidade é uma das ações que possui forte natureza

punitiva, porém, dotado de caráter educativo, em especial, na conscientização do

Adolescente infrator em relação aos valores sociais e de solidariedade.

A prestação de serviços á comunidade (art. 112, III, do ECA) é uma das medidas sócio-educativas que se reveste, hoje, de um grande e profundo significado pessoal e social para o(a) adolescente autor(a) de ato infracional. [...] Inegável, portanto, o caráter jurídico moderno, científico ainda mais por se tratar de adolescente, autor de ato infracional, da medida e seu imperativo significado socializante, que, revestida de uma aplicação

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correta, com a devida caracterização da natureza da infração e outros critérios de admissibilidade, notadamente a capacidade de cumpri-la, as

circunstâncias e a gravidade da infração (§ 1 do art.112), torna nuanças decisivas de progresso pessoal do adolescente que comete ato com características de contravalor pessoal e/ou social. [...] a medida possibilita o alargamento da própria visão do bem público e do valor da relação comunitária, cujo contexto deve estar inserido numa verdadeira práxis, onde os valores de dignidade, cidadania, trabalho, escola, relação comunitária e justiça social não para alguns, mas para todos, sejam cultivados durante sua aplicação. [...] (CAVALCANTE, [s.d.] apud CURY, 2010, p.400-401).

Assim, nota-se que tal medida socioeducativa e, através da paritipação dos

atores sociais, proporciona ao adolescente o senso de responsabilidade, de

comprometimento e de valores sociais, interagindo com a comunidade e exercendo

a cidadania.

4.2.4 Liberdade assistida

A medida socioeducativa em meio aberto, de liberdade assistida, contida nos

arts. 118 e 119 do ECA13, é aplicada ao adolescente infrator, visando orientá-lo,

acompanhá-lo e prestar assistência social através de associação ou por técnicos

especializados, buscando a ressocialização e integração deste Adolescente junto a

sua família e à sociedade, através de um processo de educação e de formação por

pessoa capacitada e designada, segundo a Superintendência da Criança e do

Adolescente, da Secretaria de Cidadania do Estado de Goiás (2010), pelo Juiz da

Vara da Infância e Juventude.

13

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 1º. A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. § 2º. A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros: I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; IV - apresentar relatório do caso.

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A liberdade assistida adveio da expressão probation, preconizada pela

Organização das Nações Unidas (ONU) e aceita pela legislação comparada,

inclusive pelo ECA, como pode ser observado em seu art. 118.

Também denominada de “medida de ouro”, a medida socioeducativa de

liberdade assistida, uma vez que esta é cumprida na própria comunidade do

adolescente infrator, o que facilita e garante sua integração com a família, bem como

com a sociedade. Cumpre-se a determinação judicial, contudo, em liberdade.

A expressão “medida de ouro” decorre dos resultados positivos e elevados

índices alcançados com a aplicação da medida socioeducativa de liberdade

assistida, de acordo com o disposto na legislação, possuindo singular efeito

ressocializador.

Dentre as medidas socioeducativas que poderão ser impostas ao adolescente

infrator, a liberdade assistida é vista como sendo aquela em que poderá ocorrer, no

todo ou em parte, a participação de atores sociais oriundos de diversos setores, uma

vez que, segundo Costa (2005, p. 84) “é considerada a medida socioeducativa que

alcança maior sucesso quando aplicada adequadamente”.

Ao que se refere da participação e do envolvimento de atores sociais no

processo de ressocialização do adolescente em conflito com a lei é importante frisar

que:

[...] situação ocorrida em diversos estados apontados pelo documento é a realização de convênio com ONG‟s para a execução dessas medidas. Estas parcerias do Poder Público com entidades da sociedade civil têm se apresentado como uma forma importante para demonstrar a viabilidade do sistema socioeducativo. (PASSAMANI, 2006, p.27)

Visa a liberdade assistida proporcionar ao adolescente infrator o

desenvolvimento psico-social e a sua (re) integração à sociedade, reconhecendo-os

como cidadãos de direitos e deveres.

O conceito de liberdade assistida não é totalmente novo. No entanto, os art.118 e 119 do Estatuto põem ênfase na palavra “assistida”, entendendo os adolescentes já não como objetos de vigilância e controle – caso da liberdade vigiada – se não como sujeitos livres e em desenvolvimento, que requerem apoio ou assistência no exercício de sua liberdade, para se desenvolverem à plenitude (CARRANZA, [s.d.] apud CURY, 2010, p.403).

Adota-se a Medida Socioeducativa da liberdade assistida sempre que seja a

forma mais conveniente e adequada, objetivando o acompanhamento, auxílio e

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orientação do Adolescente que praticou Ato Infracional, conforme aduz Nogueira

(1998), sendo que a participação popular neste processo é de fundamental

importância na formação e na ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

[...] Esse acompanhamento visa a inserção do adolescente nos programas sociais públicos, incluindo os comunitários, para o redimensionamento de sua atividade, valores, convivência familiar, social, escolar e profissional, de modo a levá-lo a ruptura com a conduta delituosa. (IEe, 2005, p. 58)

Nesse sentido, tem-se formas distintas quanto a execução da medida de

liberdade assistida, sendo a liberdade assistida comunitária, a mais recomendada e,

de acordo com Superintendência da Criança e do Adolescente, da Secretaria de

Cidadania do Estado de Goiás (2010).

Esta medida socioeducativa demonstra resultados positivos e favoráveis na

construção de valores, bem como na reflexão, de maneira crítica e construtiva,

acerca da realidade e das ações perpetradas pelo adolescente, visando a

construção de sua cidadania.

A participação e a integração da comunidade local na aplicação da medida

socioeducativa de liberdade assistida é essencial na ressocialização do adolescente

em conflito com a lei, uma vez que apresenta resultados positivos e favoráveis na

(re)inserção social e de valores, premitindo ainda uma reflexão acerca do ato

praticado, contando ainda com “atendimento sistemático e especializado, no

universo de suas relações cotidianas”, de acordo com IEe (2005, p. 60)

O componente comunitário na sua implantação parte do pressuposto da valorização do engajamento da comunidade no cuidado com seu adolescente que está, temporariamente, cumprindo decisão judicial. O programa deve contar em seus quadros com agentes comunitários 60

(educadores/orientadores comunitários), preferencialmente, moradores do mesmo bairro onde reside o adolescente. (IEe, 2005, p. 59)

Observa-se que a liberdade assistida visa em promover a educação voltada

ao convívio social do adolescente em conflito com a lei através da participação na

comunidade, para o exercício da cidadania.

A medida socioeducativa de liberdade assistida, por exemplo, proporciona ao

adolescente em conflito com a lei a garantia de seu direito de ir e vir, fundamental na

conscientização pela prática do ato infracional.

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A Liberdade Assistida Comunitária condiciona a participação decisiva da comunidade no atendimento ao adolescente que está em conflito com a Lei. Neste programa o adolescente será acompanhado, orientado e auxiliado por um Orientador, de preferência, morador do mesmo bairro onde reside o adolescente. O trabalho desenvolvido pelo Orientador de bairro é de caráter voluntário, por isso deverá ser considerado a sua ação como sendo um serviço de relevância social prestado a sociedade. É fundamental no programa, garantir a interação: adolescente orientador família, formando-o sujeito de direitos. (SUPERINTENDÊNCIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2010, p. 3)

Elias (2010) menciona que a liberdade assistida deve ser aplicada aos

reincidentes de Ato Infracional de natureza leve (pequenos furtos, porte de

entorpecentes para uso próprio, por exemplo).

Contudo, poderá também haver sua aplicação aos adolescentes que

praticaram infrações mais graves pelo fato de ser observado, após a realização de

um estudo social, que tal medida traria uma melhor reintegração junto à sociedade

deste adolescente, deixando-o próximo de seus familiares, podendo também ser

aplicada aos adolescentes que encontravam-se em regime de semiliberdade ou

internação, nos casos em que seja observado que estes estão, em parte,

recuperados e não apresentam mais riscos à sociedade.

A medida sócio-educativa de liberdade assistida é uma das alternativas que tem a autoridade à privação de liberdade e à institucionalização do infrator. É, no entanto, uma medida que impõe obrigações ao adolescente, de forma coercitiva, ou seja, o jovem está obrigado a se comportar de acordo com a ordem judicial. [...] A forma de execução da medida revela sua natureza: como a medida é imposta pelo juiz ao adolescente, que foi considerado autor de ato infracional, sua natureza é sancionatória-punitiva, complementada pelo seu inerente conteúdo pedagógico. (LIBERATI, 2003a, p.109-110).

Liberati (2003a) mostra que a Medida Socioeducativa da liberdade assistida

obterá resultados mais eficazes em virtude do valor social e especialização daquelas

pessoas ou das entidades que realizam o acompanhamento do Adolescente infrator.

A fixação da liberdade assistida, de acordo com Ishida (2010) será de no

mínimo seis meses, podendo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra

Medida Socioeducativa, a qualquer tempo, ouvindo-se para tanto o Ministério

Público, o defensor e o orientador do Adolescente, é o que dispõe o § 2º do art. 118,

ECA.

A aplicação da liberdade assistida, segundo Nogueira (1998), deverá ser

imposta aos Adolescentes infratores, reincidentes na prática de atos infracionais,

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sendo que estes devem demonstrar que não possuem tendência em reincidir, sendo

que também fixa-se um prazo mínimo de seis meses para sua aplicação, podendo

vir a ser revogada ou substituída por outra medida, a qualquer tempo, devendo para

tanto ser ouvido o orientador, o Ministério Público e seu defensor, conforme prevê o

art.118, § 2 , ECA.

A liberdade assistida constitui-se naquela que se poderia dizer “medida de ouro”. Assim dito, haja vista os extraordinariamente elevados índices de sucesso alcançados com esta medida, desde que, evidentemente, adequadamente executada. Impõe-se que a liberdade assistida realmente oportunize condições de acompanhamento, orientação e apoio ao adolescente inserido no programa, com designação de um orientador judiciário que não se limite a receber o jovem de vez em quando em um gabinete, mas que de fato participe de sua vida, com visitas domiciliares, verificação de sua condição de escolaridade e de trabalho, funcionando como uma espécie de “sombra”, de referencial positivo, capaz de lhe impor limite, noção de autoridade e afeto, oferecendo-lhe alternativas frente aos obstáculos próprios de sua realidade social, familiar e econômica. (SARAIVA, 2002, p.99).

Neste norte, Pereira (2008), defende a idéia que a aplicação das Medidas

Socioeducativas visam reinserir o Adolescente ou a Criança infratora a uma vida

normal, em locais que venham a respeitar a dignidade da pessoa humana, garantido

a estes Adolescentes a educação, a formação profissional e o trabalho, tendo-se

desta forma, a capacidade de restabelecer sua vida, com a participação efetiva da

sociedade neste processo.

É sobremodo importante assinalar que, de acordo com Souza (2010), a

essência da liberdade assistida está na “reeducação do adolescente e sua

reinserção social”, garantindo o bem-estar do adolescente, “como uma alternativa do

regime fechado, proteção da comunidade e contribuição para o aprimoramento da

administração de proteção integral consagrada pelo Estatuto”.

Entretanto, a fim de que o valor seja frutífero deve-se levar em conta o pessoal especializado, que seleciona e assiste o adolescente. A medida terá que ser precedida de observação. Para seu sucesso, dependerá de serviço especializado para o estudo do caso; metodologia de supervisão; organização técnica do mecanismo de aplicação; e designação do agente de prova devidamente qualificado. (SOUZA, 2010)

A autora enfatiza também outro aspecto de fundamental importância que é “a

prevenção especial”, que versa na eliminação ou na redução das “possibilidades da

reincidência, buscando impedir ou minimizar a repetição da conduta anti-social”.

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Destaca-se que a liberdade assistida tem por objetivo, de acordo com

Veronese (2001, p. 65), “dar um tratamento mais especializado ao infrator

adolescente, adequando-se à execução de cada medida ao perfil peculiar de cada

indivíduo”, reduzindo-se assim, o número de internações.

Ao fixar essa medida, o juiz também determinará o cumprimento de algumas regras compatíveis com o bom andamento social do jovem, tais como: não se envolver em novos atos infracionais, não andar armado, não andar em más companhias, não freqüentar certos locais, obedecer aos pais, recolher-se cedo à habitação, retornar aos estudos, assumir ocupação lícita, entre outros. (OLIVEIRA, 2003)

Saraiva (2002), ressalta ainda que na liberdade assistida, a figura do

orientador poderá ser tanto governamental como comunitário, onde os juizados

funcionam como órgãos de execução dessa medida, elaborando-se relatórios

mensais e avaliações que não poderão ser inferiores ao período de seis meses

relacionados a evolução do processo da aplicação da medida da liberdade assistida.

Tomando-se o ECA como paradigma da ação pedagógica, o programa socioeducativo de liberdade assistida tem como eixos de intervenção a família – escola (profissionalização) – comunidade. Estes eixos possibilitarão a construção dos conteúdos/metas/compromissos constantes do plano de atendimento personalizado ao adolescente, cujos momentos de elaboração devem contar com o envolvimento de educadores, adolescente e família. (IEe, 2005, p. 61)

Veronese (2001) destaca também a importância do orientador, considerado

como sendo um novo membro da família, exigindo-se deste, boa vontade,

dedicação, devendo demonstrar bom senso não tomando por flagrantes sinais de

indisciplina alguns comportamentos inadequados ou divergências naturais.

Assim, nota-se, de acordo com as razões acima expostas, que órgãos

públicos e privados encontram-se inseridos dentre as instituições que poderão

proporcionar e contribuir no processo de ressocialização dos adolescentes

infratores, quando da execução de medidas socioeducativas, em especial a

liberdade assistida.

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4.2.5 Semiliberdade

A medida socioeducativa de semiliberdade está contida no art. 120 do ECA,

como sendo uma forma de transição, de progressão da medida mais gravosa

(internação) para o meio aberto e que proporciona a realização de atividades

externas, mesmo sem autorização judicial.

Segundo a lição de Liberati (2003b), a semiliberdade é caracterizada pela

privação, parcial da liberdade do Adolescente infrator, sendo este recolhido no

período noturno em um estabelecimento especializado, sendo que durante o dia

possui a liberdade na realização de atividades externas, como a freqüência em

estabelecimentos de ensino e trabalho, por exemplo.

Importa observar que o descumprimento dessa(s) atividade(s), a finalidade da

presente medida socioeducativa perderá sua finalidade, como estabelece o art. 120,

§ 1 , ECA.

O regime de semiliberdade, conforme destaca Baratta ([s.d.] apud CURY,

2010) vem a ser, depois da internação, a medida mais restritiva de liberdade

pessoal, sendo ambas as medidas dentre aquelas previstas no art. 112 do ECA,

implicarem a privação da liberdade.

Sposato (2006) destaca que tal medida socioeducativa proporciona

conseqüências que levam ao afastamento do adolescente de seus familiares e da

sociedade, sem, contudo, privá-lo por inteiro, do direito constitucional de ir e vir.

Elias (2010) menciona também que as atividades externas independem de

autorização judicial pelo fato de serem inerentes ao regime de semiliberdade.

A aplicação da medida de regime de semiliberdade deve ser acompanhada da escolarização e profissionalização obrigatórias, embora se saiba também que não existem escolas suficientes e adequadas ao cumprimento dessa medida. A comunidade tem importante papel na aplicação não só do Estatuto, como de qualquer lei, que exige sua participação, mas não conseguirá êxito se não contar com verbas e recursos públicos, indispensáveis para o sucesso de qualquer programa educacional. (NOGUEIRA, 1998, p.186-187).

O caput do art. 120, ECA traz dois tipos de semiliberdade, o primeiro

determinado desde o início pela autoridade judiciária, mediante o devido processo

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legal e o segundo ocorre face a progressão de regime, de internação para

semiliberdade. (LIBERATI, 2003b).

Faz-se necessária a advertência imposta por lei de que é obrigatória a escolarização e a profissionalização, o que demonstra que a medida não é apenas um meio0termo utilizado como “progressão”, pelo contrário, obriga que o adolescente seja inserido em programas de educação e trabalho. (SILVA, 2008, p. 59)

Nota-se ainda que na ocorrência de atos infracionais de natureza grave, se o

adolescente não for considerado de alta periculosidade, a medida socioeducativa de

semiliberdade é considerada suficiente para alcançar a finalidade pretendida, qual

seja: a reintegração à família e à sociedade.

4.2.6 Internação

Considerada a medida socioeducativa mais gravosa a ser imposta ao

adolescente infrator, a internação, regulada pelos arts. 121 a 125 do ECA, versa

sobre a provação da liberdade e, de acordo com Silva (2008,p. 59) “sujeita aos

princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa

em desenvolvimento”.

A internação em estabelecimento educacional, segundo Liberati (2003a), é a

medida que priva a liberdade do Adolescente, decorrente da gravidade do Ato

Infracional praticado, considerando-se de aplicação excepcional e como forma de

retribuição do Estado pelo ato praticado.

Da Costa ([s.d.] apud CURY, 2010), destaca o avanço alcançado quando no

caput do art. 121, definiu-se a internação como medida privativa de liberdade, sendo

o Adolescente nesta hipótese privado do seu direito de ir e vir.

Três são os princípios que condicionam a aplicação da medida privativa de liberdade: o princípio da brevidade enquanto limite cronológico; o princípio da excepcionalidade, enquanto limite lógico no processo decisório acerca de sua aplicação; e o princípio do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, enquanto limite ontológico, a ser considerado na decisão e na implementação da medida. (DA COSTA, [s.d.] apud CURY, 2010, p.415).

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Neste sentido, Elias (2010) observa que a Medida Socioeducativa da

internação não poderá ser cumprida por um longo período de tempo, devendo-se

para tanto, reavaliar tal medida periodicamente, e dentro das possibilidades,

substituir esta medida por outra; é aplicada em casos excepcionais e específicos e,

a referida medida possui a finalidade pedagógica e não punitiva.

Não se encontra estipulado na legislação o seu prazo de duração, podendo

ser de no mínimo seis meses e no máximo de três anos, pelo fato da realização de

reavaliações periódicas, ou seja, a cada seis meses. (NOGUEIRA, 1998).

Conforme destaca Mendez ([s.d.] apud CURY, 2010), ao permitir que fossem

realizadas atividades externas, o § 1 do art.121 do Estatuto, deve ser compreendido

como uma forma de se preparar o Adolescente, desde o início de sua internação,

visando a sua reinserção junto à sociedade e sua família.

Mendez ([s.d.] apud CURY, 2010), destaca que de forma taxativa é fixado o

prazo máximo de internação, ou seja, três anos, sendo que o Adolescente poderá

ser liberado, devendo ser adotada alguma das Medidas Socioeducativas dispostas

no § 4º do art. 121.

Quanto às condições para a aplicação da internação, destaca-se o art. 122 do

ECA.

Art.122 – A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I – tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa; II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III – por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

§ 1 - O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a três meses.

§ 2 - Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.

De acordo com Liberati (2003b), as hipóteses para aplicação da medida de

internação, prevista no art. 122 do ECA é taxativo, ou seja, não existe outra

possibilidade de aplicação da medida a não ser nas situações expressas no

mencionado artigo.

Conforme Ishida (2010) são hipóteses de aplicação da internação, a prática

de Ato Infracional com grave ameaça ou violência, como, por exemplo, roubo,

latrocínio, homicídio, entre outros; a reincidência de infrações graves e a

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desobedecer outra medida aplicada, como recusar-se a realizar a prestação de

serviço, limitando-se neste caso a internação em três meses.

A Medida Socioeducativa de internação de acordo com o que dispõe o art.

123 do Estatuto deve ser cumprida em estabelecimento adequado, devendo ser

observados alguns critérios como idade, sexo, gravidade da infração, compleição

física, entidade exclusiva para adolescentes e a realização, obrigatória, de

atividades pedagógicas, visando a ressocialização junto à sociedade.

Elias (2010) enfatiza que pelo fato do Adolescente internado por encontrar-se

afastado de sua família e da sociedade, compete ao Estado zelar por sua

integridade tanto física como também mental, necessitando-se assim de pessoal

especializado para o exercício das funções.

4.3 APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Das Medidas Socioeducativas expressas no ECA e destacadas

individualmente no item 4.2 e seguintes, resta apenas expormos a aplicação das

Medidas Socioeducativas de forma geral, sem haver preocupação em pormenorizá-

las.

Nesse aspecto, buscar-se-á também demonstrar a participação da sociedade

e de órgãos públicos na ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

Sobre a aplicação das Medidas Socioeducativas, Maior ([s.d.] apud CURY,

2010) destaca que a aplicação de Medida Socioeducativa deve levar em

consideração se o Adolescente possui condições de exeqüibilidade, uma vez que,

caso a medida não seja aplicada, reforçaria o juízo negativo dos Adolescentes

incapazes para as coisas da vida, sendo que traria prejuízos para a formação do

Adolescente e não benefícios.

Aduz ainda o citado autor que a aplicação deve estar relacionada com o Ato

Infracional praticado, bem como deverá ser proporcional, objetivando que não seja

perdido contato com a reeducação e o desenvolvimento da personalidade, para que

injustiças não sejam cometidas.

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Nos termos do § 1º, há de se observar a capacidade do menor em cumprir a medida. Não se pode, por exemplo, exigir-lhe a prestação de um serviço que desconhece ou a reparação se não tiver condições para isso. No tocante à medida privativa de liberdade, não se deve aplicá-la àqueles adolescente que, por qualquer deficiência, necessita ficar com a família. (ELIAS, 2010, p.91).

Hoppe (et al, 1992) destaca o exposto no § 1º do art. 112 do ECA, no sentido

de que deve ser levada em consideração a capacidade de cumprimento do

adolescente infrator quanto a Medida Socioeducativa a ser aplicada, bem como a

gravidade do ato, aliada as circunstâncias da infração cometida e, assim, o Ato

Infracional ao ser apurado transforma-se em condição necessária para que se

vislumbre a aplicação de algumas das Medidas Socioeducativas previstas no art.

112 do Estatuto, dependendo não apenas da decisão proferida pela autoridade

judiciária, mas também da capacidade de cumprimento da mesma.

Não há dúvida, porém, de que os regimes sócio-educativos devem constituir-se em condição de garantia de acesso do adolescente às oportunidades de superação de sua condição de exclusão social, bem como de acesso á formação de valores positivos de participação na vida em sociedade. Mas, por outro lado, o adolescente infrator deve ajustar sua conduta, por meio de movimentos de coercibilidade e de punição, pelo ato ilícito praticado. A execução dessas medidas deve prever, obrigatoriamente, a participação da família e da comunidade, mesmo nos casos de privação de liberdade. (LIBERATI, 2003a, p.101).

Pereira (2008) defende a idéia que a aplicação das Medidas Socioeducativas

visa reinserir o Adolescente ou a Criança infratora a uma vida normal, em locais que

venham a respeitar a dignidade da pessoa humana, garantido a estes Adolescentes

a educação, a formação profissional e o trabalho, tendo-se desta forma, a

capacidade de restabelecer sua vida. Destaca-se que a autora baseia-se na

implantação das Regras Mínimas de Beijin.

Destaca-se ainda a lição de Oliveira (2000, p. 21) quanto a necessidade de

implementação de um programa socioeducativo e da responsabilidade do Estado, a

fim de que os “comportamentos transgressivos que se expressam em atitudes ilícitas

não venha a se tornar traços constitutivos da personalidade dos jovens que são

entregues temporariamente à tutela do Estado”, aliado ao caráter educativo-

pedagógico das medidas socioeducativas, segundo o entendimento de Ramidoff

(2006).

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Pereira (2008, p. 566) enfatiza ainda que a finalidade das medidas

socioeducativas está na proteção ao adolescente infrator, visando o seu

desenvolvimento sadio e pleno, sendo que, mesmo com a privação, parcial ou total

da liberdade do mesmo, tais “medidas são tomadas para que o adolescente seja

atendido, reeducando e reintegrando à sociedade”.

Por isso, considerando-se o caráter educativo-pedagógico, pode-se legitimamente afirmar que a medida socioeducativa não se constitui numa sanção, vale dizer, não possui caráter, essência ou mesmo conteúdo sancionatória, ainda, que, apenas declarativamente normativo – art 2, da proposta de lei e diretrizes socioeducativas – enquanto forma normativa que busque uma maior vinculação dos operadores jurídicos e mais construtores sociais [...] estimativa e limitativa da intervenção estatal diferenciada, em dimensão pragmática [...] (RAMIDOFF, 2006, p. 80)

Desta forma, nota-se que a aplicação das medidas socioeducativas visa, em

especial, a ressocialização do adolescente infrator, sendo que, através a

participação popular neste processo no que diz respeito a política de atendimento, é

imprescindível no que diz respeito ao aspecto pedagógico e educativo em

conscientizar e estimular as pessoas em desenvolvimento.

4.4 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEPÇÃO

Inicialmente, para compreendermos a finalidade das políticas públicas,

necessitamos conceituá-la.

As Políticas Públicas têm como objetivo deixar claro que o todo é fundamental

na integração de interesses de forma comprometida com a situação, estabelecendo

igualdade entre todos os atores sociais.

[...] política pública deveria ser concebida como um conjunto de subsistemas relativamente estáveis, que se articulam com os acontecimentos externos, os quais dão parâmetros para os constrangimentos e os recursos de cada política pública [...] crenças, valores e idéias são importantes dimensões do processo de formulação de políticas públicas (SOUZA, 2006, p. 31).

No que se refere as políticas públicas, Santin (2004, p.35) ensina que “são os

meios de planejamento para a execução dos serviços públicos”.

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Souza (2006, p. 37) destaca que políticas públicas são “em uma democracia,

questões de ação coletiva e de distribuição de bens coletivos e, na formulação da

escolha racional, requerem o desenho de incentivos seletivos [...]”.

Rua (1998) traz a distinção entre política e políticas públicas, a primeira

fundada em procedimentos formais e informais expressando as relações de poder,

voltadas para a resolução pacífica dos conflitos, já a segunda, “envolve mais do que

uma decisão e requer diversas ações estrategicamente selecionadas para

implementar as decisões tomadas”.

Lanzoni e Cruz (2007) destacam a importância acerca das políticas públicas,

na construção de espaço público objetivando a construção e a formulação de

políticas aptas em estruturarem a sociedade e o país de maneira democrática,

efetiva, socialmente justa e diversa.

Ademais, como exposto por Souza (2006, p. 24), não há uma definição

específica do que vem a ser Políticas Públicas, destacando os ensinamentos de

Mead e Lynn:

Mead (1995) define como um campo dentro do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas e Lynn (1980), como um conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Peters (1986) segue o mesmo veio: política pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que inflenciam a vida dos cidadãos [...]

Importante destacar também que o alicerce das políticas públicas, segundo

Grau (2008) funda-se em reconhecer os direitos sociais, os quais são concretizados

através da prestação positiva de ações por parte do Estado.

Como pode ser observado, as definições ora destacadas se complementam,

uma vez que as Políticas Públicas constituem-se em ações governamentais, seja de

nível local, estadual ou nacional, visando gerar resultados em prol do bem estar

social, sendo que deve haver um trabalho em conjunto, entre o Poder Público

constituído e à sociedade organizada (FREY, 2007; SOUZA, 2006).

[...] As novas redes de governança, nas quais as comunidades, as associações da sociedade e as empresas privadas desempenham papel cada vez mais decisivo, desafiam não apenas os governos e a maneira de governar, mas exigem também uma reorientação do pesquisador de políticas públicas. Visto que o processo de governança é multifacetado, a ciência deve levar em conta o concurso destas várias facetas que, por sua vez, são resultado de uma interação cada vez mais dinãmica entre elementos institucionais processuais e os conteúdos das políticas [...]

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(FREY, 2000, p. 252).

Hochman (2007) traz a participação de atores sociais no processo de

definição e formulação de políticas públicas, influenciando na definição da agenda

governamental, bem como definindo alternativas.

Souza (2006, p. 36 – 37) sintetiza os principais elementos constitutivos de

políticas públicas:

A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz.

A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes.

A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras.

A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados.

A política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo.

A política pública envolve processos subseqüentes após após sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação.

Diante disso, nota-se que a essência das Políticas Públicas está na busca

incessante pela melhoria das condições e qualidade de vida de toda a sociedade,

sendo que por meio da organização entre sociedade e Poder Público, analisando e

compreendendo as necessidades e a realidade das sociedades, através da

participação, do trabalho em conjunto é que os anseios serão alcançados (FREY,

2007; SOUZA, 2006).

Estes grupos de atores, segundo Hochman (2007), são compostos por

representantes dos poderes executivo e legislativo, partidos políticos, grupos de

interesse (público, indústria, negócios e categoria profissionais, por exemplo), bem

como a mídia, considerada um instrumento fundamental na formulação da agenda14.

Ocorre que, de acordo com Hochman (2007, p. 102) “a mídia pode destacar

alguns pontos de uma agenda já estabelecida, não tendo efeito direito sobre sua

formulação”, contudo, garante a circulação e a difusão das idéias dentro das

comunidades geradoras de alternativas (policy communities)., uma vez que

influencia, positiva ou negativamente, a opinião pública.

Santin (2004) observa que a Carta constituinte de 1988 é o alicerce na

14

No mesmo sentido: RUA, Maria das Graças.

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implementação de políticas públicas, decorrente da necessidade de atuação, por

parte do poder público, em diversos setores.

A fixação das políticas públicas, fundada da CRFB/1988 traça normativas e

princípios norteadores por parte do Estado no desenvolvimento das atividades

públicas, proporcionando que os atores sociais, dentre estes os agentes públicos e

legislador infraconstitucional sigam as regras estabelecidas.

Insta destacar que as Políticas Públicas devem ser reguladas pela moral e

pela ética, sendo esta compreendida como a ciência que estuda os princípios,

valores, idéias e hábitos que orientam racionalmente a conduta humana tendo em

vista a felicidade.

A fixação das políticas públicas ocorre por meio dos mecanismos estatais de planejamento das ações, estratégias e metas para atingir a finalidade pública de forma eficiente, na prestação de ações e serviços públicos. As políticas públicas correspondem ao planejamento e as obras e serviços públicos caracterizam a execução material da função. (SANTIN, 2004, p. 35)

Da mesma sorte, Souza (2006, p. 26), sintetiza Políticas Públicas como sendo

um “campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, „colocar o governo em

ação‟ e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor

mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente)”, necessitando de

constantes avaliações dos programas ou projetos desenvolvidos, a fim de garantir

sua finalidade.

Sabe-se ainda que os atores das Políticas Públicas tem um papel

fundamental na condução de atividades de suma importância para o

desenvolvimento da sociedade e a tomada de desiões são essenciais para tal.

Diante disso, cumpre definir o que vem a ser Decisão, e esta expressão vem

“derivado do latim decisio, de decidere (compor, harmonizar, arbitrar, resolver),

significando o ato de decidir, quer dizer a deliberação, que se toma a respeito de

certos fatos, ou a solução que se dá a respeito dos mesmos ou de certas coisas”

(DE PLÁCIDO E SILVA, 2002, p. 241).

Em outras palavras, decisão encontra-se profundamente relacionada ao fato

de assumirmos responsabilidades, deliberando ações, agindo de maneira adequada

diante das situações que a vida nos impõe para que o homem possa se realizar, ser

feliz e viver em desenvolvimento, crescer como pessoa e como cidadão.

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Neste sentido, pode-se dizer que as Políticas Públicas primam por ações

desenvolvidas pelo governo, agindo, influenciando e propondo mudanças, de forma

direta ou indireta, na vida da sociedade, necessitando de constantes avaliações dos

projetos desenvolvidos, a fim de garantir sua finalidade, ou seja, o bem comum.

Sendo assim, a multidisciplinaridade existente na Política Pública, visa

abreviar as hipóteses existentes na ciência política, na sociologia, na economia,

dentre outros ramos da ciência que objetivam o desenvolvimento social.

Vale então verificar o ensinamento de Souza (2006, p.25), quando diz que as

“políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades, daí por que qualquer

teoria política pública precisa também explicar as inter-relações entre Estado,

política, economia e sociedade”, dando conta que estudiosos compartilham seus

conhecimentos e contribuem sobremaneira para a evolução da sociedade, em busca

do bem comum.

[...] as políticas públicas são execuções das normas legais ou constitucionais, verdadeiros mecanismos de sua efetivação ou um “law enforcement” (reforço para execução da lei). Não são apenas atos meramente políticos ou de governo, os chamados atos de gestão. (SANTIN, 2004, p. 34-35)

Ademais,

[...] políticas públicas, após desenhadas e formuladas, desdobram-se em planos, programas, projetos, bases de dados ou sistema de informação e pesquisas. Quando postas em ação, são implementadas, ficando daí submetidas a sistemas de acompanhamento e avaliação. (SOUZA, 2006, p. 26)

Assim, nota-se que as políticas públicas decorrem da demanda de

necessidades existentes naquele contexto. Tais demandas, segundo Rua (1998) são

“reivindicações de bens e serviços, como saúde, educação, estradas, transportes,

segurança pública, normas de higiene e controle de produtos alimentícios,

previdência social, etc”, dentre outras.

Desta feita, é através da organização entre sociedade de Poder Público,

analisando e compreendendo as necessidades e a realidade das sociedades, por

meio da participação, do trabalho em conjunto é que os anseios serão galgados. E

no que diz respeito da participação da comunidade e órgãos públicos no processo

de ressocialização e reeducação dos adolescentes em conflito com a lei não é

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diferente.

4.5 O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO PÚBLICA ATRAVÉS DO

PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO NA BUSCA PELA RESSOCIALIZAÇÃO DO

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: UMA REALIDADE?

Frey (2007) entende que a democracia participativa é de suma importância

para que os objetivos existentes e firmados pelo Poder Público e a sociedade

alcancem seus resultados, através de um planejamento estratégico, elaborado,

consistente, isto é, uma “gestão em rede ou governança interativa”.

A democracia participativa no que se refere a políticas públicas reforça o que

já prevê a legislação quanto a política de atendimento, a criação de conselhos de

direitos da criança e adolescente, aliada a integração entre órgãos públicos e

privados, bem como a mobilização da opinião pública nas decisões voltadas a

reinserção social no processo de ressocilização do adolescente em conflito com a

lei.

4.5.1 A gestão participativa e a articulação social: base da democracia

Gohn (2003) demonstra que a compreensão da participação, decorre da

interpretação e de estratégias distintas como a liberal, a autoritária, a revolucionária

e a democrática, cada qual com características peculiares.

Na concepção liberal [...] busca sempre a constituição de uma ordem social que assegure a liberdade individual, – a partircipação objetiva o fortalecimewnto da sociedade civil, não para que esta participe da vida do Estado, mas para fortalecê-la e evitar as ingerências do Estado – seu controle, tirania e interferência na vida dos indivíduos [...] se baseia, portanto, em um princípio da democracia de que todos os membros da sociedade são iguais, e a participação seria o meio, o instrumento para a busca da satisfação dessas sociedades [...] A forma autoritária é aquela orientada para a integração e o controle social da sociedade e da política [...] a arena participativa são políticas públicas, qunado se estimula, de cima para baixo, a promoção de programas que visam apenas diluir os conflitos sociais [...] Nas formas revolucionárias, a participação estrutura-se em

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coletivos organizados para lutar contra as relações de dominação e pela divisão do poder político [...] A concepção democrático-radical sobre a participação objetiva fortalecer a sociedade civil para a construção de caminhos que apontem para uma nova realidade social, sem injutiças, exclusões, desigualdades, discriminações, etc. O pluralismo pe a marca dessa concepção [...](GOHN, 2003, p. 15 – 19) (grifo nosso)

Mister se faz ressaltar o que Cavalcante e Ferraro Júnior (2002), lecionam

quanto a sustentabilidade, primando não apenas pelo desenvolvimento sustentável

no âmbito do meio ambiente, como também nas dimensões sociais, econômicas,

políticas, culturais e históricas, por exemplo.

Gohn (2003, p. 13) destaca que “o entendimento dos processos de

participação da sociedade civil e sua presença nas políticas públicas nos conduz ao

entendimento do processo de democratização da sociedade brasileira”, primando,

em especial, pelo acesso a cidadania e aos direitos sociais.

Hochman (2007, p. 92) relata quanto a necessidade em sensibilizar e difundir

as idéias aos atores sociais, caso contrário, “não serão seriamente consideradas

quando apresentadas”, especialmente quando trata-se de mobilização e ações de

integração entre poder público e privado, bem como jutno à sociedade em

reintegrarem e ressocializarem os adolescentes em conflito com a lei ao seio da

família e da comuidade.

Através da divisão de responsabilidades, primando por parcerias e pelo

trabalho em conjunto entre sociedade civil, setor privado e Poder Público em todas

as esferas (municipal, estadual e federal), estes atores sociais encontram-se

focados, em especial, no desenvolvimento.

Frey (2007) ainda demonstra que a participação pública funda-se na

“organização em rede”, visando “consolidar novo modo de governança urbana,

alinhado com as potencialidades da emergente sociedade em rede e capaz de lidar

com as crescentes tensões e contradições que caracterizam as cidades

contenporâneas”.

Ao mesmo tempo os gestores urbanos sofrem pressões „de baixo‟, por parte da população e das comunidades locais, que são expostas aos chamados „efeitos colaterais‟ do progresso econômico e da globalização [...] e demonstram uma grande vulnerabilidade social por não dispor de meios adequados para se defenderem contra estas ameaças que comprometem não apenas a paz social nos centros urbanos, mas também a legitimidade democrática do poder local (FREY, 2007, p. 137)

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Outrossim, para que ocorra o real desenvolvimento e transformação na

gestão pública, deve haver um reconhecimento quanto ao crescimento participativo

da sociedade civil, ampliando-se o rol de atores sociais, comprometidos com a

gestão da coisa pública, agregando conhecimentos necessários em benefício do

sociedade e, consequentemente no processo de ressocialização do adolescente em

conflito com a lei.

[...] na melhoria da performance administrativa e da democratização dos processos decisórios locais. O reconhecimento da necessidade de ampliação do número de atores a serem envolvidos na gestão pública impulsionou novas formas de articulação político-administrativa, freqüentemente se aproximando da estrutura de rede como princípio básico de organização, fenômeno crescentemente assimilado pelo atual debate sobre governança [...] (FREY, 2007, p. 138)

A participação da sociedade em busca de soluções as dificuldades

encontradas é de importância ímpar para o crescimento do Estado, através do

compartilhamento de decisões e idéias, envolvendo atores públicos, privados e o

terceiro setor.

As comunidades geradoras de alternativas (policy commubities) são compostas por especialistas – pesquisadores, assessores, parlamentares, acadêmicos, funcionários públicos, analistas pertencentes a grupos de interesses, entre outros – que compartilham uma preocupação em relação a uma área (policy area). No processo de seleção descrito, quando uma proposta é percebida como viável, ela é rapidamente difundida, ampliando a consciência dos atores sobre uma eterminada idéia [...]. (HOCHMAN, 2007, p. 92)

Quanto ao planejamento participativo, também denominado participação

popular, busca a interação entre os atores sociais (setores da sociedade e o poder

Público), através do planejamento estratégico, do compartilhamento de idéias,

decisões e comprometimento na solução articulada das adversidades encontradas,

em favor do desenvolvimento e da transformação social (FREY, 2007; PAES DE

PAULA, 2005).

O planejamento participativo deve ser desenvolvido visando a articulação de

diversos setores da sociedade, através de ações realizadas por diferentes parceiros,

contudo, voltados ao enfrentamento de problemas específicos, transformando assim,

os processos decisórios e as peculiaridades de cada local.

A democracia participativa é de suma importância para que os objetivos

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existentes e firmados pelo Poder Público e a sociedade alcancem seus resultados,

através de um planejamento estratégico, elaborado, consistente, isto é, uma gestão

em rede ou governança interativa (FREY, 2007; PAES DE PAULA, 2005).

A par disso, sabe-se que o planejamento participativo deve ser visto como

sendo uma política de transformação e de compromisso da sociedade, primando

pelo desenvolvimento do Estado Democrático de Direito, traçando metas, ações e

regras que devem ser seguidas pelos atores sociais.

Dividir responsabilidades coma comunidade, segundo a lição de Gohn (2003),

é a essência da participação popular que detêm um caráter plural, ou seja, os

cidadãos não agem isoladamente, mas de forma articulada, em parceria com os

demais atores sociais. Em outras palavras, figuram como co-responsáveis

permanentes dos programas sociais implementados.

A realiação de audiências públicas são essenciais para o estabelecimento de

Políticas Públicas eficazes, deixando-se de lado as diferenças sociais, étnicas,

religiosas e/ou políticas, primando pela conscientização, o desenvolvimento e o

crescimento coletivo.

Partindo da idéia de Frey (2007) onde leciona que a gestão em rede depende,

necessariamente da cooperação, da solidariedade e da confiança mútua entre os

atores sociais:

A governança baseada em redes de atores pode ser vista como uma possibilidade de restaurar a legitimidade do sistema político pela criação de novos canais de participação e parcerias, contribuindo para novas formas democráticas de interação público-privada [...] necessidade de aumentar o graur de interação dos diversos atores sociais, o que se faz necessário “para enfrentar um ambiente de turbulências e incertezas” [...] (FREY, 2007, p. 139)

Isso demonstra a importância da interatividade que deve existir entre os

diversos atores sociais envolvidos na busca incessante pelo desenvolvimento e

transformação social.

Em virtude dessas considerações, importante assinalar os formatos que a

Política Pública poderá assumir, como leciona Souza (2006): políticas distributivas

(geram mais impactos individuais do que universais), políticas regulatórias (envolve

burocracia, políticos e grupos de interesse), políticas redistributias (universalidade) e

políticas constitutivas (procedimentos).

É de verificar que a Política Pública é constituída, segundo Souza (2006) de

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uma série de fases, ocorrendo desta forma a definição, a identificação, a avaliação a

seleção, a implementação e a avaliação da agenda política, primando pela

participação no processo decisório dos atores sociais.

Outro aspecto importante a ser considerado na questão da democracia

participativa está no estímulo da sociedade civil na promoção pela reestruturação de

mecanismos de decisão, com uma maior participaçao e envolvimento da população

no “controle social da administração pública e na definição e implementação de

políticas públicas”, como ensina Frey (2007, p. 141).

O planejamento participativo deve fundar-se na formação de sujeitos

coletivos, representando a força da comunidade pelo desenvolvimento social,

analisando, refletindo, discutindo, organizando, planejando, avaliando, construindo

constantemente, de forma comprometida, os interesses sociais

O modelo democrático-participativo, segundo Frey (2007, p. 141) “[...] requer

novas habilidades do gestor público, sobretudo em relação à articulação e à

cooperação com os mais variados atores políticos e sociais [...]”, bem como o gestor

público “[...] ganha relevância o próprio processo da gestão pública, particularmente

no que diz respeito ao seu caráter democrático [...]”.

Enfim, as Políticas Públicas encontram-se relacionadas a questão social,

despertando no administrador público e nos demais atores sociais, trabalhando em

parceria, através do planejamento participativo, a necessidade de uma ação

imediata.

Em outras palavras, analisar os indicadores que ensejaram aquele problema,

as crises/eventos relacionados ou que agravaram tal situação e a realização de

feedback constantes, para que sejam traçadas metas em busca de soluções

articuladas na correção do(s) problema(s) identificado(s).

4.5.2 Compreendendo Governança

De forma breve, passa-se a traçar uma compreensão acerca da definição de

governança, intimamente relacionada com a participação popular e com a

ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

Inicialmente, importante estabelecer a distinção entre governabilidade e

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governança, uma vez que possuem conceitos diferentes, vejamos a lição de

Gonçalves (2006, p. 4):

Governança e governabilidade são conceitos diferentes. Enquanto governabilidade diz respeito mais à dimensão estatal do exercício do poder, a governança tem um caráter mais amplo, envolvendo não apenas os aspectos gerenciais e administrativos do Estado, o funcionamento eficaz do aparelho estatal, ou as relações harmônicas entre os Poderes (cujo exemplo típico, nos sistemas presidencialistas, é a construção de maiorias estáveis no Congresso para apoiar as ações do Poder Executivo), mas engloba a sociedade como um todo.

Nota-se que a democracia encontra-se regulada pela soberania popular, nas

palavras de Gohn (2003, p. 17): “a participação é concebida como um fenômeno que

se desenvolve tanto na sociedade civil – em especial entre os movimentos sociais e

as organizações autônomas da sociedade. Quanto no plano institucional – nas

instituições formais políticas”.

Gonçalves (2006, p. 3) traz que a origem inicial da governança encontrava-se

interligada ao conceito de “governabilidade dos Estados nacionais e a políticas de

desenvolvimento”, em especial no período da crise dos Estados-Providência na

Europa, bem como do esgotamento do modelo do Estado desenvolvimentista na

América Latina, na década de 1980.

O conceito de governança alterou o padrão e o modo de pensar a gestão de bens públicos, antes restrita aos atores presentes na esfera pública estatal, A esfera pública não-estatal é incorporada via novos atores, que entram em cena nas décadas de 1970/1980 [...] esses novos atores “cada vez mais se tornaram parte de novas estruturas de governança política em nível regional e nacional, e mesmo em nível global [...] (GOHN, 2003, p. 38)

Diante disso, surge uma nova forma de articulação estatal, fundada no

pensamento liberal: a governança, proporcionando uma gestão “saudável de

desenvolvimento”, na visão do Banco Mundial.

Ocorre que, com a evolução da sociedade, a concepção inicial de governança

também evoluiu, onde segundo Camargo apud Gonçalves (2006, p. 3) “assumem

que o sistema internacional deveria ser entendido como uma combinação entre

Estado/sociedades complexas, isto é, como uma unidade articulada entre as

dimensões sistêmica, estatal e social”.

Nesse sentido, tem-se a governança, vista, por Gohn (2003) como a

capacidade de administrar, baseada nas coalizões entre atores sociais, ou seja, a

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interação entre diversas categorias de atores, recursos disponíveis e orientações

ideológicas, incorporando atores oriundos da esfera não-estatal, proporcionando

melhores condições de vida, cidadania, direitos sociais, dentre outras.

Observa-se que, no Relatório da Comissão referente a Governança Global

(1996), governança corresponde “a totalidade das diversas maneiras pelas quais os

indivíduos, as instituições, públicas e privadas, administram seus problemas

comuns”.

De acordo com o Banco Mundial, a governança é definida como sendo “o

exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo”.

Em outras palavras, o conceito de governança, segundo Santos (1997, p.

341), “não se restringe, contudo, aos aspectos gerenciais e administrativos do

Estado, tampouco ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado”, congregando

“padrões de articulação e cooperação entre atores sociais e políticos e arranjos

institucionais que coordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras

do sistema econômico”.

[...] o conceito de governança, se insere nos marcos referenciais de um novo paradigma da ação pública estatal, em que o foco central das ações não se restringem aos órgãos e aparatos estatais, mas incorpoa também, via interações múltiplas, a relação governo e sociedade (GOHN, 2003, p. 37 – 38) (grifo nosso)

Gonçalves (2006, p. 1) ensina que a governança é “entendida como os meios

e processos pelos quais uma organização ou sociedade se dirigem, é construída

simultaneamente pelo Estado e pelos atores não governamentais”, ou seja, consiste

na capacidade do desenvolvimento em parcerias, em planejar e executar políticas a

atender o interesse de todos.

Gohn (2003) demonstra ainda que a construção da governança funda-se com

as parcerias e o trabalho em conjunto entre atores sociais de diversos setores e

categorias, recursos disponíveis e orientações ideológicas, democratizando assim,

os espaços conquistados.

Quanto ao aspecto da governança local, Gohn (2003, p. 40) ensina:

[...] Está implícita na idéia de uma boa governança a dimensão da eficiência e da eficácia [...] O grande desafio é articular o maior nível de participação com os critérios da eficácia e da busca de resultados imediatos no plano local (grifo nosso)

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A definição de governança local, de acordo com Gohn (2003, p. 40) prima em

articular mecanismos e elementos existentes no governo local com os de poder

local, isto é, proporcionar a inclusão e a participação de novos atores sociais,

através do envolvimento de “um conjunto de organizações, públicas (estatais e não-

estatais) e privadas. Ou seja, trata-se de um sistema que poderá envolver, entre

outros, as ONGs, os movimentos sociais, o terceiro setor [...] entidades privadas e

órgãos públicos estatais”.

Os novos mecanismos participativos incluídos na governança local se baseiam no engajamento popular como um recurso produtivo central: a participação dos cidadãos provê informações e diagnósticos sobre os problemas públicos, gerando conhecimentos e subsídios à elaboração de estratégias para resolução dos problemas e conflitos envolvidos [...] (GOHN, 2003, p. 41) (grifo nosso)

Em resumo, a governança envolve a participação efetiva da sociedade,

agregando não somente órgãos do poder público constituído, mas também do setor

privado, proporcionando desta forma o desenvolvimento de políticas que visam o

bem comum.

Nesse sentido, encontra-se a participação efetiva, baseada nas parcerias e

gestão compartilhada em proporcionar a ressocialização e a reinserção do

adolescente em conflito com a lei ao seio da família e da sociedade.

4.5.3 Conselhos gestores: o poder da participação social

No que diz respeito aos conselhos gestores, estes surgiram, de acordo com

Tótora e Chaia (2002, p. 65), “como um novo espaço político de engajamento dos

cidadãos nas atividades de expressão, discussão e decisão das questões de caráter

político” e, consequentemente, de políticas públicas.

[...] Os conselhos não se organizam para legitimar uma autoridade central e, tampouco, para formular agendas ou estratégias a serem executadas pelas burocracias governamentais, constituíam, outrossim, espaço público de ação e discussão. O que os conselhos almejavam era a criação de um novo espaço público onde a liberdade podia se efetivar através da participação direta dos cidadãos nos assuntos públicos. (TÓTORA; CHAIA, 2002, p. 65-66) (grifo nosso)

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Gohn (2003) demonstra que os conselhos gestores se destacam pelas

inovações e pela reordenação das políticas públicas no Brasil, voltadas a

governança democrática, proporcionando uma maior interação entre governo e

sociedade, garantindo assim, a redemocratização do país através das demandas e

das lutas populares.

Liberati e Cyrino (2003, p. 37) destacam que a participação popular e da

democracia participativa ganharam força no cenário nacional na década de 1980,

caracterizada por “uma conjuntura política mais favorável às práticas sociais através

de Conselhos”.

[...] Os conselhos gestores são novos instrumentos de expressão, representação e participação; em teses, eles são dotados de potencial de transformação política. Se efetivamente representativos, poderão imprimir um novo formato às políticas sociais, pois se relacionam ao processo de formação das políticas e tomadas de decisões [...] (GOHN, 2003, p. 85)

Em decorrência disso, nasce a “nova institucionalidade pública”, um novo

padrão de relação entre sociedade e Estado, uma vez que viabiliza, segundo Gohn

(2003, p. 85), a “participação de segmentos sociais na formulação de políticas

sociais e possibilitam à população o acesso aos espaços nos quais se tomam as

decisões políticas”.

Os conselhos constituem-se normalmente em órgãos públicos de composição paritária entre a sociedade e o governo, criados por lei, regidos por regulamento aprovado por seu plenário, tendo caráter obrigatório uma vez que os repasses de recursos ficam condicionados à sua existência, e que assumem atribuições consultivas, deliberativas e/ou de controle. (GOMES, 2003, p. 39)

Gomes (2003, p. 40) demonstra ainda que o formato dos conselhos gestores

variam, de acordo com as ações implementadas: programas governamentais, de

elaboração, implantação e controle de políticas públicas e aqueles relacionados a

temas transversais que “permeiam os direitos e comportamentos dos indivíduos na

sociedade”.

Os Conselhos Municipais [...] caracterizam-se por serem canais institucionais de participação da sociedade; temáticos, ou seja, ligados a políticas sociais específicas; terem um caráter semi-representativo, com mandatos sociais não remunerados; são deliberativos, abrangentes e permanentes; e possuem uma composição paritária entre governo e

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sociedade; além de possuírem, em princípio, autonomia ou semi-autonomia em relação ao governo (TÓTORA; CHAIA, 2002, p. 70)

Importante frisar que os conselhos gestores visam a descentralização nos

municípios, ou seja, “regionalizar a administração das grandes cidades [...]

conjugada à democratização”, possibilitando uma maior participação da população

na gestão pública (TÓTORA; CHAIA, 2002, p. 68), uma vez que amplia a

participação, bem como o controle, por parte da sociedade, no exercício e na

implementação de políticas públicas.

Segundo Gohn (2003, p. 90) os conselhos geram “condições para um sistema

de vigilância sobre a gestão pública e implicam maior cobrança de prestação de

contas do poder executivo, principalmente no nível municipal”.

Dentre os conselhos gestores, encontramos os conselhos dos direitos da

criança e do adolescente, visando o bem-estar das pessoas em desenvolvimento,

como na década de 1940 o Serviço de Assistência ao Menor (SAM) em decorrência

da infração penal, a Fundação Nacional de Bem-Estar ao Menor (FUNABEM), na

década de 1970, o qual tratava da vigilância e da proteção aos menores em situação

irregular.

Em 13 de julho de 1990, entra em vigor da Lei nº 8.069 que instituiu o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelecendo a intervenção popular

nas políticas assistenciais, mais precisamente em seu art. 88, II que trata da criação

de conselhos dos direitos das crianças e adolescentes, fundados, segundo a lição

de Liberati e Cyrino (2003), na municipalização, na participação popular e na

descentralização.

A partir de todas as considerações abordadas sobre participação popular, podemos conceituar os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente como instrumentos de participação da sociedade civil na gestão política do poder, afetos à questão do atendimento de crianças e adolescentes, onde a representação da sociedade civil deverá buscar a hegemonia de suas posições frente aos representantes do Poder Público (LIBERATI; CYRINO, 2003, p. 92)

Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, segundo Gohn

(2003) integram os conselhos “focalistas”, ou seja, voltados em grupos etários da

população e os que detêm maior repercussão junto à sociedade, especialmente na

mídia, como também os mais frágeis no que se refere à infra-estrutura e recursos de

apoio.

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Em 1991 é sanciona-se a Lei nº 8.242 que instituiu o Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA.

Dentre as competências do CONANDA, têm-se, por exemplo, a elaboração

de normas gerais da política nacional de atendimento dos direitos da criança e do

adolescente, de fiscalização as ações de execução; a avaliação da política estadual

e municipal, bem como da atuação dos Conselhos Estaduais e Municipais da

Criança e do Adolescente; o acompanhamento do reordenamento institucional e

propor, sempre que necessário, as modificações nas estruturas públicas e privadas

destinadas ao atendimento da criança e do adolescente.

Art. 3º O Conanda é integrado por representantes do Poder Executivo, assegurada a participação dos órgãos executores das políticas sociais básicas na área de ação social, justiça, educação, saúde, economia, trabalho e previdência social e, em igual número, por representantes de entidades não-governamentais de âmbito nacional de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. (Lei nº 8.242/1991).

Cumpre destacar que só poderá existir um Conselho dos Direitos em cada

nível de governo (federal, estadual, municipal e do Distrito Federal), visando a

relação paritária entre sociedade de poder público, o caráter deliberativo, de decisão

dos Conselhos, de garantia da política de atendimento dos direitos à criança e ao

adolescente, dentre outros aspectos.

Importante trazer sucintamente a distinção e a função dos Conselhos de

Direitos da Criança e do Adolescente e os Conselhos de Assistência, na gestão,

formulação e implementação de política socioeducativa.

Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente – nacional, estadual e municipais – são órgãos controladores, deliberativos e formuladores de políticas no campo dos direitos da criança e do adolescente com a participação da sociedade civil. Já os Conselhos de Assistência Social são instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo de assistência social, de caráter permanente e composição paritária entre Governo e sociedade civil. Ou seja, um delibera sobre as principais diretrizes da política e outro sobre a operacionalização dos serviços, projetos, programas e demais ações dentre outras questões no âmbito da política de assistência social (SOUZA, 2008, p. 38-39).

Outro fator que consolidou ainda mais o envolvimento e a participação social

no processo de ressocialização do adolescente em conflito com a lei foi a Resolução

113 do Conanda, que trata da Institucionalização e Fortalecimento do Sistema de

Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, assegurando políticas públicas a

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crianças e adolescentes com seus direitos violados ou em conflito com a lei, assim

como programas de execução de medidas socioeducativas em seus arts. 19 e 20.

Enfim, os conselhos gestores e a participação geram uma mudança de

comportamento de educação política e social, de envolvimento, aproximação e

participação efetiva da sociedade nas políticas públicas.

4.5.4 A participação popular na ressocialização do adolescente em conflito

com a lei

Partindo da premissa que a criança e o adolescente sempre serão e deverão

ser tratados com prioridade, conforme estabelece a legislação vigente, importante

buscar alternativas que visem auxiliar no processo educativo-pedagógico da

ressocialização do adolescente em conflito com a lei.

Notoriamente, problemas e situações envolvendo crianças e, especialmente

adolescentes na prática de ações delituosas são decorrentes de uma sociedade,

muitas vezes desorganizada e desestruturada em determinados aspectos, sendo

fundamental sensibilizar atores sociais de diversos setores em participarem na

busca de soluções as dificuldades vivenciadas.

[...] as questões e problemas que envolvem a área da Infância e Juventude são de cunho evidentemente social, fruto de uma sociedade desorganizadas e egoísta politicamente, cabendo á comunidade, assim, conscientizar-se e participar dos problemas e soluções, quer por meio dos Conselhos Tutelares, órgão encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, bem como por meio de iniciativas de apoio às entidades assistenciais e ao próprio Conselho Tutelar, com a indispensável e direta participação da união, dos Estados, do Distrito federal e dos municípios, sendo estes últimos os primeiros interessados na solução das questões, em benefício da própria ordem pública (MILANO FILHO, 2002, p. 143).

O próprio ECA dispõe, em seu art. 86, a adoção de políticas de proteção, à

criança e ao adolescente, através da articulação de redes:

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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Cumpre destacar ainda que os artigos seguintes do ECA, mais precisamente

os arts. 87 e 88 versam a respeito da “Política de Atendimento” aos adolescentes e

crianças, traçando diretrizes e ações a fim de proporcionar e promover a prevenção,

a defesa e a proteção dos direitos estabelecidos às pessoas em desenvolvimento.

Ações estas voltadas em estabelecer a municipalização de atendimento e

assegurada a participação popular na criação e manutenção de programas

socioeducativos e de proteção.

Ademais, a Carta Constituinte de 1988 estabelece, dentre os entes da

Federação, os Municípios como sendo aqueles que mantêm uma proximidade da

população no que se refere ao atendimento e implementação de políticas públicas.

A Constituição amplia, portanto, a responsabilidade dos Governos municipais e das respectivas comunidades na gestão do desenvolvimento de seus equipamentos públicos (escolas, hospitais, centros de assistência social etc.) (SOUZA, 2008, p. 63)

Assim, a participação da sociedade na discussão, elaboração e execução de

tais políticas é de fundamental importância em um Estado democrático de direito e

do pleno exercício da cidadania.

4.5.4.1 A municipalização, descentralização política e participação social no

atendimento ao adolescente em conflito com a lei

Essas ações são implementadas através de programas dos governos

Federal, Estaduais e Municipais, juntamente com os demais atores sociais, destaque

para o disposto no art. 88, I e II, do ECA que trata das diretrizes da política de

atendimento, quanto a municipalização do atendimento e da criação de conselhos

dos direitos das crianças e adolescentes, garantido a “participação popular paritária

por meios de organizações representativas”.

Em consonância com a legislação brasileira (ECA e CF/1988), as organizações governamentais e não governamentais são responsáveis por disponibilizar os serviços na área das políticas sociais básicas, serviços de prevenção, assistência supletiva, proteção jurídico-social e defesa de direitos. A articulação interinstitucional das iniciativas dessas organizações é fundamental para implementação desses serviços, respeitando-se a

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natureza e especificidades diferentes e complementares de cada organização. (SENASP, 2011)

Nota-se ainda que a descentralização política, decorrente da mobilização da

sociedade e da participação social, proporcionou a redemocratização das

instituições políticas.

O ECA inaugura os princípios expressos na doutrina de proteção integral das Nações Unidas para garantir os direitos da criança e do adolescente e os valores fundamentais de uma sociedade que pretende ser justa. Para efetivar esses direitos, cria mecanismos para assegurar a participação da sociedade na gestão e controle das ações. A estrutura das políticas e programas dirigidos para a criança e o adolescente passa a ser fundamentado pelos princípios da descentralização políticoadministrativa e participação da população através de suas organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (PASSAMANI, 2006, p. 52) (grifo nosso)

Amin (2008) frisa que a municipalização na formulação de políticas locais foi

ampliada com o advento da Carta Constituinte de 1988, onde através da

descentralização administrativa, a gestão de política assistencial envolve

diretamente agentes diversos e, por serem partícipes, também são responsáveis

pela implementação e busca de resultados.

Municipalizar o atendimento às medidas socioeducativas em meio aberto significa dizer que o Município deve elaborar e implementar sua política de atendimento socioeducativo a adolescentes que cumprem medida de prestação de serviço à comunidade ou Liberdade Assistida, utilizando sua rede local de serviços públicos (estrutura material, órgãos, agentes e equipamentos públicos), e tendo os atores locais como protagonistas. (SOUZA, 2008, p. 65)

A municipalização do atendimento, de acordo com Sposato (2004) é a

primeira diretriz no campo das medidas socioeducativas, a qual proporciona

resultados diretos sobre os programas de liberdade assistida e prestação de

serviços à comunidade, ou seja, medidas em regime aberto, também denominadas

“medidas não-detentivas”, onde o comprometimento e a articulação entre os atores

sociais e poder público é de fundamental importância.

[...] a municipalização, enquanto princípio norteador da organização das políticas de atenção ao adolescente, exige que todas as ações, sem distinção, sejam elas de cunho social básico, de proteção especial ou mesmo de natureza socioeducativa, estejam articuladas no âmbito municipal. Esta articulação pressupõe a existência de uma rede de

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serviços, em que a responsabilidade é compartilhada pelos diferentes entes políticos. Há uma definição inicial de competências exclusivas, seguida de um rol de competências concorrentes que não só podem como devem ser compartilhadas pelos estados, municípios e a União. (SPOSATO, 2004, p. 16) (grifo nosso)

Outro fator importante a se destacado quanto a participação popular e,

consequentemente da municipalização de políticas de atendimento, regra permeada

com a doutrina de proteção integral, é a fiscalização do cumprimento e

implementação de programas decorrentes da aproximação do poder público com a

sociedade, tendo em vista proporcionar, de acordo com Amin (2008, p. 29),

“melhores condições de cuidar das adaptações necessárias à realidade local”.

Neste contexto, a municipalização da oferta de programas sociais, acompanhada de transferência de recursos para financiá-la e de autonomia para geri-la, foi então apontada como o caminho para a construção de um novo padrão de relação entre Estado e Sociedade Civil. (IEe, 2005, p. 19)

Tais alternativas devem envolver todos os atores sociais que detêm um

relacionamento direito ou indireto com as pessoas em desenvolvimento e que, por

algum motivo, ultrapassaram os limites traçados pelo legislador, vindo a praticar um

ato infracional.

A imposição da lei atual na garantia da Doutrina de Proteção Integral e o processo de municipalização das políticas vêm impulsionando a realização de programas socioeducativos, prioritariamente em meio aberto, mobilizando a participação de órgãos públicos municipais, organizações não-governamentais ou ainda pessoas da comunidade, com anuência da autoridade competente. (IEe, 2005, p. 12) (grifo nosso)

Dessa forma, cumpre assinalar que o aspecto da descentralização e,

consequentemente da municipalização e da participação popular no processo de

ressocialização do adolescente em conflito com a lei tem sido instrumento primordial

na busca da correção das desigualdades sociais, do acesso a serviços, bens e

garantias constitucionais proporcionadas pela participação social.

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4.5.4.2 A reinserção do adolescente em conflito com a lei através da participação

social: exemplos práticos

Souza (2008) demonstra que os atores sociais envolvidos no processo

socioeducativo possuem responsabilidades no sentido de conscientizar o

adolescente em conflito com a lei perceber e sentir-se como sendo sujeito de direitos

e deveres, com capacidade de ultrapassar as dificuldades impostas pela vida, de

avaliar suas ações e constituir e manter uma relação e aproximação sua família e

com a comunidade.

É buscar a reinserção social do adolescente infrator através de oportunidades

nos diferentes espaços de aprendizagem e integração social, através de ações

socioeducativas.

ter acesso à educação básica e à preparação intelectual, sendo recebido na escola como um adolescente e não como um autor de ato infracional;

receber informações necessárias para orientação e formação técnica a respeito do mundo do trabalho;

receber atendimento nos equipamentos e serviços públicos e privados, protegido contra qualquer atitude discriminatória;

participar de espaços onde se discuta acerca de temas transversais ao contexto da adolescência e da juventude (sexualidade, uso de drogas, cidadania, mundo do trabalho, violência...). (SOUZA, 2008, p. 69)

A participação e o envolvimento desses órgãos, não estão restritos, como

exposto anteriormente, aqueles diretamente relacionados ao procedimento

instaurado (Poder Judiciário, Ministério Público, Conselho Tutelar e Família), mas,

extensivo a outras instituições, que poderão auxiliar sobremaneira na

ressocialização daquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, vieram a infringir

as normas impostas pelo Estado.

As transformações político-institucionais e a ampliação de canais de representatividade dos setores organizados para atuarem junto aos órgãos públicos, como conquista dos movimentos organizados da sociedade civil, mostram a potencialidade de construção de sujeitos sociais identificados por objetivos comuns na transformação da gestão da coisa pública, associada à construção de uma nova institucionalidade. (JACOBI, 2002, p. 447)

É a caracterização de um novo contrato social onde, segundo Cavalcante e

Ferraro Júnior (2002, p. 188), constituído “por meio de processos educacionais e

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políticos que insiram todos na reflexão, ação e construção das bases sobre as quais

se assentarão a sociedade civil e o Estado”.

De acordo com Jacobi (2002, p. 447), a participação social está diretamente

relacionada ao processo de redefinição entre o público e o privado, proporcionando

um aprofundamento no processo democrático, ampliando a “capacidade de

influência sobre os diversos processos decisórios em todos os níveis da atividade

social e das instituições sociais”.

São muitos os agentes envolvidos neste processo: os Conselhos dos Direitos, os Conselhos Tutelares, as organizações da sociedade civil, as secretarias setoriais do Município e mesmo do Estado e respectivos conselhos, enfim, diversos integrantes do Sistema de Garantia dos Direitos de todos os níveis de Governo e poderes. (SOUZA, 2008, p. 66)

Ao longo da pesquisa, pode ser observada, a preocupação do legislador

pátrio no que diz respeito ao gozo de Direitos Fundamentais e da Proteção Integral

das pessoas em desenvolvimento e no processo protetivo, inclusive através de

normativas internacionais que acabaram por influenciar e traçar regras de tutela às

pessoas em desenvolvimento, aliado aos princípios constitucionais e de medidas

socioeducativas impostas àqueles que praticaram atos infracionais.

Nota-se que a sensibilização de outros atores sociais no processo de

(res)socialização e de (re)educação dos adolescentes em conflito com a lei é de

fundamental importância para o bem-estar dessas pessoas em desenvolvimento,

uma vez que, aliada a imposição de uma sanção (medida socioeducativa) por parte

do Estado, haverá o acompanhamento e a sensibilização dessas pessoas quanto

aos atos praticados, cuja finalidade está justamente em evitar a reincidência.

No oferecimento e execução de programas de atendimento sócio-educativo em meio aberto e no apoio aos serviços públicos governamentais de atendimento em privação de liberdade, as entidades da sociedade civil organizada devem ser chamadas a participar. Essa participação visa atender, de forma ampla e irrestrita, através de serviços e programas, os direitos básicos de educação escolar, saúde física e mental, cursos de preparação para o trabalho, atividades de lazer e culturais e tudo mais que os adolescentes têm direito, segundo o ECA. Não se pode esquecer, que a execução das medidas sócio-educativas inscrevem-se no campo da garantia (promoção e defesa) dos direitos da criança e do adolescente, como parte da política de direitos humanos. (KAYAYAN, 2010) (grifo nosso)

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Ocorre que, o desvio de conduta e a prática de atos infracionais por parte dos

adolescentes decorrem da ausência de infra-estrutura, não apenas familiar, mas

também social, a falência estatal em proporcionar e garantir os direitos sociais,

básicos, previstos na Carta Constituinte de 1988.

Importa observar ainda que a falência dos órgãos públicos em proporcionar e

minimizar o cenário vivenciado nos últimos anos não é total, mas tão somente

parcial, porém, essa parcialidade na maioria das vezes demonstra que a estrutura

estatal é sensível a realidade, necessitando de esforços e de integração entre poder

público e sociedade, a fim restabelecer a ordem e contribuir, através da

implementação de políticas públicas, construção de uma sociedade justa e sadia.

A finalidade das medidas socioeducativas não está apenas em conscientizar

o adolescente infrator quanto o ato por ele praticado e impor uma sanção prevista no

ECA, mas, principalmente proporcionar o fortalecimento do vínculo familiar e a

ressocialização à sociedade.

São ações interdependentes por parte do Poder Público em diversos setores

como habitação, educação, saúde, saneamento básico, trabalho, previdência social,

dentre outras garantias constitucionais que devem ser proporcionadas a toda

sociedade, a fim de que reduza os índices de infrações praticadas por adolescentes,

por exemplo.

Seriam ações pró-ativas, preventivas, evitando-se assim, a prática e o

envolvimento de adolescentes em conflito com a lei.

No que se refere a ações reativas, da implementação de políticas públicas

envolvendo a participação social no processo de ressocialização do adolescente

infrator, salutar destacar a importância e a necessidade de criar mecanismos no

sentido de atender os adolescentes em conflito com a lei.

Ainda quanto a caracterização da participação da sociedade na gestão

pública, mais especificamente relacionada ao processo de ressocialização do

adolescente em conflito com a lei e objetivando atender as demandas sociais

eficazmente, em dezembro de 2003, políticas sociais no Brasil foram

descentralizadas e estruturadas através do Sistema Único de Assistência Social

(SUAS), em todo território nacional, consolidando dessa forma, a assistência social

como efetiva política pública.

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108

Por tratar-se de um modelo de gestão participativa, articula recursos e

esforços oriundos dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal) para sua

execução.

[...] o Sistema é composto pelo poder público e sociedade civil, que participam diretamente do processo de gestão compartilhada. Em julho de 2010, 99,4% dos municípios brasileiros já estavam habilitados em um dos níveis de gestão do Suas. Do mesmo modo, todos os Estados, comprometidos com a implantação de sistemas locais e regionais de assistência social e com sua adequação aos modelos de gestão e cofinanciamento propostos [...] (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, 2011)

O SUAS é um programa desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS) e adota um modelo de gestão participativa sendo

ainda implementado em dois níveis de complexidade: de Proteção Social Básica

(PSB) e de Proteção Social Especial (PSE).

De acordo com a SENASP (2011), o nível básico de proteção social está

relacionado à população que “vive em situação de vulnerabilidade social decorrente

da pobreza, da privação, do acesso precário aos serviços públicos e/ou fragilização

de vínculos afetivos/relacionais e de pertencimento social”, ou seja, discriminados

em decorrência da faixa etária, etnia ou por deficiências.

O objetivo da proteção social especial consiste em atender as famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social em decorrência de abandono, maus-tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras situações de violação dos direitos. (SENASP, 2011) (grifo nosso)

Em 2006 é criado o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

(SINASE), decorrente da construção coletiva, envolvendo diversos atores sociais,

entre poder público e sociedade civil.

A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Persegue, ainda, a idéia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturado, principalmente, em bases éticas e pedagógicas. (SINASE, 2006, p. 15)

O SINASE originou da necessidade de um tema que mobilizava a mídia, a

opinião pública e outros setores da sociedade brasileira: os adolescentes em conflito

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com a lei ou que tenham seus direitos violados quando do cumprimento de medidas

socioeducativas.

O SINASE é o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução de medida socioeducativa. Este sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos as políticas, planos, e programas específicos de atenção a esse público. (SINASE, 2006, p. 23)

Trata o SINASE (2006, p. 24) de uma política pública cuja finalidade é a

inclusão do adolescente em conflito com a lei e que se correlaciona com os

diferentes campos das políticas públicas e sociais, necessitando de “atuação

diferenciada que coadune responsabilização (com a necessária limitação de direitos

determinada por lei e aplicada por sentença) e satisfação de direitos”.

Em decorrência da complexidade e da demanda contida no SINASE há a

necessidade de que os diferentes níveis de governo se articulem juntamente com a

sociedade e a família visando a tutela do adolescente.

[...] rede integrada de atendimento. Para tanto, as demais políticas, principalmente as de caráter universal, devem ser prestadas com eficiência e de forma integrada e indiscriminada às crianças e adolescentes que tenham praticado ato infracional da mesma forma com que se atende aquelas que não estão em conflito com a lei. (SOUZA, 2008, p. 36)

Dentro dessa articulação entre atores sociais há o projeto denominado

RENADE – Rede Nacional de Defesa do Adolescente em Conflito com a Lei, sob a

coordenação do Ilanud/Brasil (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para

Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), que tem por finalidade o

fortalecimento, de maneira ampla e qualificada, na defesa dos adolescentes em

conflito com a lei e o combate a violação de direitos, através do cumprimento e

respeito as regras estabelecidas pelo ECA no que se refere a doutrina de proteção

integral e a normativa internacional.

O RENADE é integrado por membros da sociedade na defesa das crianças e

adolescentes, em especial dos adolescentes em conflito com a lei.

Ademais, busca-se também proporcionar a estes adolescentes e

consequentemente a suas famílias, quando da aplicação de medidas

socioeducativas, a inserção de valores e contribuindo, de acordo com Moreira

(2010), “para a transformação em futuros homens de bem”.

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110

Tal hipótese poderá ocorrer através da instituição de um projeto, fundada em

parcerias junto ao Ministério Público e Poder Judiciário, projeto este inicialmente

piloto, a ser instalada pelo Poder Público Municipal e, envolvendo a sociedade e

instituições privadas, que acolhessem adolescentes infratores e auxiliá-los na

recuperação, como existe da Polícia Militar do Estado da Paraíba, por exemplo, mais

especificamente no município de Pinheiro.

Necessário para que tal projeto possa ser colocado em prática está no

comprometimento dos órgãos envolvidos, na seleção e capacitação dos policiais

militares envolvidos diretamente com o projeto, aliada a mudança de mentalidade de

todos os militares.

Ações desta natureza têm a finalidade de promover a aplicação das medidas

socioeducativas, de reeducação e reinserção social do adolescente infrator, para, de

acordo com Souza (2010), garantir os diretos e a dignidade da pessoa humana do

adolescente, da comunidade e de sua família.

Segundo Souza (2010), a objetivo principal está na “prevenção especial,

consiste em eliminar ou reduzir as possibilidades da reincidência, procurando-se

impedir a repetição da conduta anti-social.”

Mattos (2010) traz a idéia de que ao mesmo tempo em que o adolescente

infrator cumpre a medida estabelecida pelo Magistrado, proporcionar condições para

que seja “capaz de construir um projeto de vida que rompa com a prática do ato

infracional, desenvolvendo a confiança e a capacidade de reflexão sobre suas

vivências, dificuldades e ação no mundo [...]”.

Mobilizar lideranças e organizações não-governamentais para inserir esses jovens na comunidade, ao mesmo tempo em que vai se tornando uma experiência de referência no atendimento ao adolescente infrator, oferecendo um atendimento de qualidade que respeite sua cidadania e sua dignidade. Além disso, o Programa busca inserir e acompanhar o adolescente na vida escolar, viabilizando alternativas comunitárias para a profissionalização e geração de renda, avaliando periodicamente seu percurso [...] (MATTOS, 2010)

Além disso, de acordo com Ferreira (2010), traz a baila que “[...] o tratamento

dos menores é muito mais amplo que a simples repressão aos atos infracionais, mas

trata-se de uma política de caráter assistencial, que visa educá-lo e regenerá-lo, de

modo a torná-lo útil ao país e a si próprio”.

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Nesse sentido, no que se refere a reformulação de políticas públicas e do

redimensionamento quanto ao atendimento de adolescentes em conflito com a lei,

tem-se como exemplo o Programa de Medidas Socioeducativas coordenado pela

Fundação da Criança e do Adolescente do Amapá (FCRIA), visando, de forma

sitêmica, reformar a mencionada política de atendimento.

[...] A nova política representa uma quebra do modelo repressivo e autoritário anterior, sendo moldada pelo conceito da inclusão social dos adolescentes. O Programa de Medidas Socioeducativas enfatiza a democratização das relações entre a equipe de coordenação dos projetos e os adolescentes atendidos dentro das suas unidades, baseando-se na gestão compartilhada das atividades desenvolvidas [...] (GALLI; HINTON, 2001, p. 16)

Destaca ainda que o objetivo da legislação pátria não se limita, única e

exclusivamente na punição ao adolescente infrator, através das medidas

socioeducativas, mas, principalmente, resgatar essas pessoas que encontram-se em

processo de construção da personalidade e entregues “á delinqüência enquanto ele

ainda é passível de tratamento eficaz de revitalização”.

Cumpre-nos assinalar que vem sendo comprovado que os adolescentes, com

exceção nas ações de natureza grave, devem, em verdade, segundo Silva (2010, p.

2), serem “orientados, assistidos e auxiliados no seio sócio-familiar, pois torna-se

possível a intervenção educativa no seu próprio meio, o que sem dúvida alguma

facilita o seu processo sócio-pedagógico e conseqüentemente a sua mudança de

vida”, garantindo a “intervenção pedagógica do jovem na família e na sua

comunidade de origem possibilita, ainda, a interiorização das relações e a superação

das dificuldades sócio-familiares”.

[...] baseia no princípio da democratização das relações sociais e da gestão compartilhada [...] visa garantir o exercício dos direitos de cidadania dos adolescentes, por meio de sua participação na discussão das normas de convivência com a equipe de coordenação, dentro do processo educativo [...] buscam utilizar técnicas de gestão flexíveis e participativas. A participação dos adolescentes atendidos é incentivada, de forma a estimular o seu processo de ressocialização [...] (GALLI; HINTON, 2001, p. 19 e 21)

Sabe-se também que o desenvolvimento, o acesso á informação das crianças

e adolescentes nos dias atuais, ocorre de forma mais precoce do que antigamente,

fazendo com que atinjam um grau de maturidade antes daquele estabelecido em lei.

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112

Tal fato faz com que estas pessoas, de acordo com Ferreira (2010) gozem

“de uma situação relativamente privilegiada quando praticam um ato criminoso, visto

que o legislador o vê como vitima e não como o agressor” e, a prevenção, tendo em

vista estarmos em um Estado Democrático de Direito e alicerçado pelas normas

constitucionais através da implementação de políticas assistencias, são de

fundamental importância para o desenvolvimento dessas pessoas e do país.

A repressão, a segregação, a violência e a tenacidade com o jovem infrator estão longe de serem instrumentos eficazes de combate à marginalidade. O ECA é uma grande arma de defesa dos direitos da infância e da juventude [...] As medidas sócio-educativas aplicadas como reprimenda aos atos infracionais praticados por menores servem para alertar o infrator à conduta anti-social praticada e reeducá-lo para a vida em comunidade. Se o jovem deixa de ser causador de uma realidade alarmante para ser agente transformador dela, porque esteve em contato com situações que lhe proporcionaram cidadania, a finalidade da medida estará cumprida [...] (FERREIRA, 2010). (grifo nosso)

Nota-se que a execução de medidas socioeducativas a adolescente em

conflito com a lei, deve, de acordo com Sposato (2004), ocorrer a distribuição de

competências, aliada a observância de princípios norteadores que incidem sobre o

programa, dentre estes, a integração e o comprometimento entre os órgãos

envolvidos, com vistas a operacionalização das políticas socioeducativas.

Cumpre observar que a educação, em especial, bem como o tratamento e a

prevenção são essenciais na redução do envolvimento de adolescentes com a

prática de atos infracionais.

Só o tratamento, a educação, a prevenção são capazes de diminuir a delinqüência juvenil. Para combater a que já existe, o que se pode afirmar é que a segregação não recupera, ao contrário, degenera. Rigor não gera eficácia, mas desespero, revolta e reincidência. E isso é justamente o que não se espera para os nossos jovens. (FERREIRA, 2010)

Em resumo, nota-se que a represália ao adolescente infator, não

disponibilizando ao mesmo meios que possibilitem sua ressocailização, senso de

consciência, de responsabilidade e comprometimento para com seu futuro e da

sociedade, prejudica e não fomenta a essência pretendida com as medidas

socioeducativas que é o convívio em sociedade de maneira harmoniosa e

inexistente de ações negativas, infracionais.

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113

Sposato (2004, p. 11) destaca a peculiariedade existente na política

socioeducativa referente “ao conjunto de ações que são realizadas no âmbito do

poder público a partir da ocorrência de um acontecimento delituoso, que teve o

adolescente como seu protagonista”. Demonstrando ainda que as medidas

socioeducativas e sua execução possuem local, incidência e duração limitados

aquele adolescente infrator, não se estendendo por toda a fase da adolescência.

A participação efetiva do município na operacionalização de políticas

socioeducativas é de fundamental importância onde, através de parceria firmada

entre os atores sociais diretamente envolvidos como Ministério Público, Poder

Judiciário, Polícia Militar, Conselho Tutelar, Educadores e Colaboradores, a fim de

facilitar e proporcionar a implementação das medidas socioeducativas,

principalmente àquelas de meio aberto, isto é, no seio sócio-familiar, como por

exemplo a prestação de serviços à comunidade e a liberdade assistida.

No caso destas medidas, o estar em “meio aberto”, ou seja, estar na família, no trabalho, na escola, com grupos de vizinhança, com amigos, possibilita ao adolescente o estabelecimento de relações positivas – base de sustentação do processo de reeducação que se objetiva. (IEe, 2005, p. 11)

Sabe-se que um dos fatores que influenciam sobremaneira no envolvimento

de adolescentes com a prática de atos infracionais são as drogas, havendo a

necessidade dos atores sociais em traçarem ações que possam minimizar tal

situação.

Um exemplo prático que pode ser mencionado e que auxilia no processo de

(res)socialização, em especial, de maneira preventiva, é o Programa Educacional de

Resistência às Drogas – PROERD, desenvolvido pelas polícias militares brasileiras.

O PROERD vem sendo desenvolvido no Brasil há mais de 10 (dez) anos e

fundado nos critérios do Programa Norte-americano (D.A.R.E – Drug Abuse

Resistance Education).

O mencionado programa tem como objetivos, dentre outros: proporcionar

noções de cidadania, conscientizar e prevenir quanto ao abuso de drogas entre

alunos, auxiliar no desenvolvimento de técnicas de resistência à violência, bem

como no ampliar e sensibilizar os jovens a capacidade necessária no sentido de

proporcionar que tomem suas próprias decisões, em especial no que se refere ao

uso e abuso de substâncias.

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Importante destacar que o PROERD tem como objetivo traçar ações

conjuntas e envolvendo Polícia Militar (através de policial militar capacitado), pais,

educadores, estudantes e comunidade.

Tais ações em conjunto entre estes atores sociais visam reduzir e prevenir o

uso indevido de drogas, bem como do envolvimento de crianças e adolescentes com

a violência, aliado ao fato de auxiliar os estudantes a identificarem e combaterem às

influências e pressões para o uso das drogas, somado ao fortalecimento dos laços

de confiança entre todos os envolvidos, reduzindo-se assim, o risco de problemas de

comportamento e consequentemente, da prática de atos infracionais.

Por fim, no que diz respeito ao PROERD, interessante citar queexistem no

Brasil, 05 (quatro) Centros de Treinamento localizados nos Estados de São Paulo,

Rio de Janeiro, Paraná, Distrito Federal e Santa Catarina.

Além disso, deve ocorrer a sensibilização, a qualificação e o treinamento dos

atores que serão os responsáveis pela execução das medidas socioeducativas, a

exemplo do Estado de Goiás com a constituição do Núcleo de Desenvolvimento de

Pessoas para Ação Sócio Educativa (NPDAS) e do projeto desenvolvido no Estado

da Paraíba, no município de Pinheiro, coordenado pelo Tenente Coronel PM Carlos

Augusto Furtado Moreira.

A iniciativa da Polícia Militar da Paraíba, segundo Moreira (2010) surgiu da

“necessidade serem criados mecanismos para atender os jovens adolescentes em

conflito com a lei, oportunizando-lhes o cumprimento de medidas sócio-educativas e

passando a inserir valores, contribuindo para a transformação em futuro homens de

bem[...]”, ação esta corroborada pelo Poder Público Municipal, Poder Judiciário e

Ministério Público daquela Comarca.

De acordo com a Superintendência da Criança e do Adolescente, da

Secretaria de Cidadania do Estado de Goiás (2010, p. 2), as medidas

socioeducativas de prestação de serviço à comunidade, bem como de liberdade

assistida ” formam um composto de sanção e educação [...] ambas de alto poder de

(re)socialização e (re)educação dos adolescentes”.

[...] a municipalização das medidas de liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade é ainda mais premente, uma vez que elas têm como lócus privilegiado o espaço e os equipamentos sociais do Município. Nelas há maior efetividade de inserção social, na medida em que possibilitam uma maior participação do adolescente na comunidade, e, ao

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contrário das mais gravosas, não implicam em segregação. (SINASE, 2006, p. 32)

De acordo com o IEe (2005), a municipalização das medidas socioeducativas

em meio aberto no Estado de São Paulo, demonstra “resultados satisfatórios na

atenção aos adolescentes autores de ato infracional”, seja decorrente da presença e

comprometimento dos atores sociais envolvidos no atendimento (âmbito familiar e

vida social), quanto ao caráter pedagógico primando uma padronização de conduta,

a qual possibilite que o adolescente em conflito com a lei deixe de praticar delitos.

A estrutura para a implantação do “Programa de Execução das Medidas

Sócio-Educativas em Meio Aberto – Liberdade Assistida & Prestação de Serviços à

Comunidade” da Superintendência da Criança e do Adolescente, da Secretaria de

Cidadania do Estado de Goiás, pode ser melhor observado no Anexo A da presente

pesquisa, como forma de adaptar a realidade vivenciada e envolver atores sociais

de diversas áreas no processo de (res)socialização e na (re)educação do

adolescente infrator.

Assim, observa Silva (2010, p. 6), prima-se pela busca da relação integrada

entre o ator social diretamente envolvido no processo com a família do adolescente

e com a comunidade, promovendo “meios para que o adolescente sentenciado

desenvolva sua capacidade de reflexão sobre suas vivências, dificuldades, limites e

as relações sócio-familiar”, com vistas em “evidenciar e valorizar suas habilidades e

atitudes positivas, facilitando assim sua interação e integração com o mundo que o

cerca”.

Desta forma, Araújo (2010, p. 15) “verifica-se que o planejamento vinculado a

ações de participação e articulação entre os diversos atores se mostra eficaz, por

traçar metas mais realísticas e direcionadas às necessidades dos beneficiários”.

Outro exemplo que pode ser mencionado está na participação da Polícia

Militar no processo de ressocialização do adolescente em conflito com a lei,

conforme Moreira (2010), visa estabelecer a colaboração, bem como a integração de

entidades da comunidade local, visando apoiar, acompanhar e orientar, de forma

individual e juntamente com as famílias que encontram-se em situação de ameaça,

como pode ser observado no Anexo B.

Seguindo a lição de Matos (2010), “no atendimento dos adolescentes são

priorizadas atividades de educação, de lazer, culturais e de iniciação ou formação

profissional, que estimulem potencialidades e favoreçam a autonomia dos

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adolescentes”, ou seja, enfatizando o desenvolvimento dessas pessoas, através de

estímulos, exemplos e despertando o potencial de todos, com fulcro na reinserção

social.

Tais ações devem ser desenvolvidas e implementadas, segundo Moreira

(2010), na “perspectiva de oferecer proteção social especial a indivíduos e famílias

com seus direitos violados, sem rompimento de vínculos e adolescentes em

cumprimento de Medidas Socioeducativas (MSE) em meio aberto” de prestação de

serviços à comunidade e liberdade assistida.

Sposato (2004, p. 128-129), mostra que os programas socioeducativos

“devem estar articulados no que convencionou-se denominar rede de atendimento,

assegurando assim uma atenção integral aos adolescentes, sem perder de vista as

finalidades específicas das medidas socioeducativos”.

Trata-se de um processo moroso e que necessita do comprometimento de

todos os órgãos que direta ou indiretamente estão envolvidos para que alcance o

resultado almejado, qual seja: a reinserção, a reeducação e a ressocialização do

adolescente infrator no seio familiar e social.

[...] como uma verdadeira integrante do sistema de Defesa Social, a Polícia Militar, precisa efetivamente participar da vida social da comunidade onde está inserida, até porque em realidade estará contribuindo para uma diminuição de problemas geradores de insegurança. A Corporação no seu dia-a-dia, através de seus integrantes, desenvolve ações interpessoais rotineiras que fortalecem valores sociais importantíssimos como hierarquia, disciplina e respeito, desta sorte o adolescente ainda em processo de formação necessita da convivência onde esses valores são evidenciados, direitos e deveres vivenciados, a fim de que possa palmilhar na busca de um lugar “ao sol”. (MOREIRA, 2010)

15 (grifo nosso)

Moreira (2010) destaca ainda a necessidade quanto a aproximação e o bom

relacionamento entre Ministério Público, Poder Judiciário, bem como as Polícias,

Militar e Civil, os quais preenchem “as lacunas e as deficiências existentes, a fim de

que possa haver uma melhor prestação de serviço social pelas instituições”, aliada

ao comprometimento da sociedade nesse processo de (res)socialização e

(re)inserção do adolescente ao seio da família e da comunidade.

O trabalho socioeducativo não é somente de responsabilidade do programa que executa a medida ou do adolescente que a cumpre. A comunidade,

15

Informação coletada via webmail com o Sr. Ten Cel PMPA Furtado, em 26 de outubro de 2010.

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especialmente aqueles que convivem diretamente com o jovem, tem responsabilidade com relação ao sucesso ou não desta empreitada. (SPOSATO, 2004, p. 137)

Cumpre enfatizar também a aplicação de medidas socioeducativas em regime

aberto, executados outros estados brasileiros, onde há a participação popular na

implementação de políticas públicas de ressocialização e de reinserção de

adolescentes em conflito com a lei.

No Estado do Espírito Santo, por exemplo, há o Instituto de Atendimento

Socioeducativo do Espírito Santo – IASES, que tem como objetivo a formulação,

implementação e manutenção no que se refere ao atendimento das medidas

socioeducativas ao adolescente em conflito com a lei naquele Estado.

A execução desse programa no Espírito Santo há a participação popular no

processo de ressocialização do adolescente infrator, envolvendo Poder Judiciário,

Poder Público Municipal, assim como também ONG‟s em parceria com o Poder

Público.

Em Santo Ângelo - RS, o Juiz João Batista Costa Saraiva mobilizou um grupo de voluntários que, em parceria com o Juizado da Infância, realiza o acompanhamento dos adolescentes que cumprem liberdade assistida. A experiência resultou na criação do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cededica), organização não-governamental que atua na recuperação de jovens infratores. (KAYAYAN, 2010)

O projeto implementado no Município de Santo Ângelo/RS promove a

profissionalização e reinserção do adolescente em conflito com a lei ao seio familiar

e ao mercado de trabalho, através da parceria firmada entre Poder Judiciário,

Ministério Público (Infância e Juventude), CEDEDICA (Centro de Defesa dos Direitos

da Criança e do Adolescente) e diversos atores sociais da comunidade.

Da mesma forma, nos municípios de Recife (Pernambuco), Belo Horizonte

(Minas Gerais), o envolvimento e a participação da sociedade no processo de

ressocialização dos adolescentes em conflito com a lei são primordiais na

implementação de ações e orientações sociais e de cidadania, como visitas ao

estabelecimento de ensino do adolescente, atividades profissionalizantes, contato

com a família, tudo com uma única finalidade: a recuperação do adolescente infrator.

Kayayan (2010) reforça o aspecto da participação popular no processo de

ressocialização do adolescente em conflito com a lei, como pode ser observado o

projeto de liberdade assistida desenvolvido pela Promotora de Justiça Laíse Tarcila

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118

Rosa de Queiroz em recife (Pernambuco), projeto este que envolve a participação

de 56 entidades da sociedade civil e governamental (instituições militares,

conselhos, hospitais e escolas).

O projeto incentiva um processo de reflexão do adolescente quanto ao ato infracional por ele praticado e ao rumo que tem escolhido para sua vida. Além disso, incentiva a este adolescente a construção de um novo projeto de vida, no seio da comunidade, com a família dividindo a responsabilidade e a satisfação pelo crescimento desta pessoa. (KAYAYAN, 2010)

No município de Itajaí/SC, através da Secretaria da Criança e do Adolescente,

no desenvolvimento e garantia de direitos dessas pessoas, desenvolve programas,

dentre eles o Programa de Medidas Sócio-Educativas (PMSE), o qual foi

implementado em 1998, primando pela articulação entre os atores sociais do poder

público municipal e estadual, bem como a própria comunidade local.

O PMSE tem como objetivo primordial a execução de medidas

socioeducativas em regime aberto, liberdade assistida e prestação de serviços à

comunidade, aplicadas ao adolescente em conflito com a lei e, desenvolver a

conscientização do jovem, bem como de sua família na melhoria da qualidade de

vida.

O programa em questão conta com a participação efetiva da sociedade, bem

como da família do adolescente infrator, alicerce na formação do jovem, agindo de

forma decisiva na construção de valores e sendo de responsabilidade social.

Assim, o PMSE possui a finalidade de (re) integrar o adolescente em conflito

com a lei ao seio da família e da sociedade, orientando o mesmo na construção de

sua formação, desenvolvimento e profissionalização, por exemplo, despertando

ainda uma reflexão acerca dos atos praticados.

Dessa forma, o PMSE prima em reduzir a prática de atos infracionais por

adolescentes, buscando a conscientização e o comprometimento com atores sociais

de diversos segmentos no processo de (res) socialização daquele jovem ao convívio

familiar e da comunidade, aliada a permanência ou inserção ao ambiente escolar e o

desenvolvimento de ações de integração e inserção ao mercado de trabalho

Por isso, proporcionar a melhoria na relação existente do adolescente infrator

com o convívio familiar e com a sociedade, contribuindo, fundamentalmente na

construção de uma sociedade justa, fraterna e humana, fazendo com que a

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sociedade em parceria com o poder público possa participar de forma efetiva neste

processo de ressocialização de adolescentes em conflito com a lei.

Em razão disso, o projeto envolvendo órgãos públicos, setor privado, bem

como a sociedade civil organizada, na busca pela ressocialização do adolescente

em conflito com a lei, não pode ser visto tão somente como a solução de toda a

problemática envolvida nesse tema ou alternativa, mas também uma iniciativa social

e legal visando minimizar as carências e contribuir na reeducação e reinserção

social dessas pessoas em desenvolvimento.

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120

5 CONSIDERACOES FINAIS

Diariamente, a imprensa noticia o envolvimento de adolescentes em ações

delituosas e, em conjunto com agentes maiores de idade, gerando na sociedade o

crescimento na sensação de insegurança.

Não podemos negar, infelizmente, a participação e o crescimento da

delinqüência juvenil em nosso país, uma vez que adolescentes encontram-se

envolvidos na prática de delitos de naturezas diversas: pequeno furto, vias de fato,

tráfico de entorpecentes, roubos e homicídios, provocando assim, o aumento do

índice na criminalidade urbana.

Fatores como os maus tratos, o abandono, a violência, a miséria, o descaso,

de responsabilidade do Estado, pais ou responsáveis com a saúde, lazer e

educação, além de outros fatores, contribuem para o crescimento da delinqüência e

da criminalidade juvenil.

Oportuno se torna dizer da busca pelo Estado de mecanismos que tem por

objetivo minimizar esses índices e responderem à sociedade, de maneira positiva,

com alternativas quando se refere a prática de atos infracionais praticados,

especialmente, por adolescentes.

Consagrada pela Carta Constituinte de 1988, a tutela à criança e ao

adolescente ampliou a proteção a essas pessoas, onde, a responsabilidade não

encontra-se restrita apenas ao Estado, mas também à família e à sociedade,

fundada na garantia da prioridade absoluta às Crianças e Adolescentes, conforme

estabelece o art. 4º do ECA.

No que diz respeito a garantia dos direitos à criança e ao adolescente com

preferência, primazia e prioridade, tais aspectos acabam por gerar obrigações, como

mencionado anteriormente e no decorrer da pesquisa, não se restringe apenas ao

Poder Público mas envolvendo também diversos atores sociais.

A preferência ao atendimento às pessoas em desenvolvimento encontra-se

conectada a formulação de políticas públicas, na destinação de verbas públicas e da

prestação de socorro.

Não se pode olvidar que aliada a Carta Magna de 1988, convenções e

tratados internacionais influenciaram sobremaneira os direitos fundamentais de

crianças e adolescentes, traçando direitos, garantias, bem como regras visando a

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redução da criminalidade juvenil e, consequentemente, a (re) educação, a (res)

socialização e (re)inserção à sociedade.

No que diz respeito à evolução histórica e legislativa de proteção a criança e

ao adolescente, temos o Código Criminal do Império, estabelecendo a teoria do

discernimento, omitindo-se a tutela da Criança e do Adolescente, onde a

responsabilidade pela infração cometida era avaliada conforme a consciência da

prática delituosa.

Em 1927, o Código Mello Mattos, iniciou o aspecto assistencialista e de

proteção ao adolescente e à criança, especialmente ao que se refere ao processo

pedagógico de reeducação e ressocialização, onde, em 1940, a responsabilidade

penal passou para os 18 anos de idade, tornando-se, assim, os menores de 18 anos

inimputáveis.

Já em 1979, época caracterizada principalmente pelas situações de perigo

vivenciadas pelos menores, o que contribuiu para o acesso à marginalidade, surge o

Código de Menores com a doutrina da Situação Irregular, visando, principalmente, a

proteção e a submissão dos jovens as medidas judiciais quando encontrados nesta

situação.

Em meados do ano de 1990, a Lei nº 8.069 é promulgada e denominada

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), alicerçando no mencionado dispositivo

a doutrina da Proteção Integral, das garantias processuais, assim como também as

medidas de proteção e socioeducativas, cuja finalidade pedagógica e de

ressocialização aos adolescentes infratores e reinserção deve ocorrer junto à

sociedade e à família.

Pode ser observado que a doutrina da proteção integral é fundamentada no

conjunto de programas de proteção social, de desenvolvimento humano, social, de

geração de oportunidades e, implementadas de forma descentralizada e

participativa.

Destaca-se o caráter pedagógico e porque não dizer também repressivo, das

medidas socioeducativas, uma vez que podem e devem ser aplicadas de maneiras

diversas, caracterizada desde uma simples advertência a internação em

estabelecimento educacional.

Tais medidas socioeducativas têm como objetivo único e exclusivo garantir a

proteção e possibilitar o desenvolvimento e reintegração do adolescente infrator à

sociedade e ao seio da família.

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Cumpre destacar que as garantias constitucionais e presentes no ECA devem

ser observadas, independentemente da medida aplicada ao adolescente infrator

(direito à saúde, alimentação, educação, cultura e a convivência familiar), bem como

na capacidade do adolescente em conflito com a lei no cumprimento da medida

socioeducativa estabelecida.

Pode ser observado na pesquisa que a medida socioeducativa de prestação

de serviços à comunidade, bem como de liberdade assistida, trazem em seu bojo

maior eficiência, sendo de grande significado pessoal ao adolescente.

Observa-se que a prestação de serviços à comunidade proporciona ao

adolescente o exercício da cidadania, senso de responsabilidade, comprometimento,

de valores sociais, aliada a interação e a proximidade com a comunidade. É a

medida socioeducativa que traz em sua essência um sentido social de ser útil à

sociedade.

Quanto a medida socioeducativa de liberdade assistida, demonstra

resultados positivos na construção de valores e de reflexão ao adolescente infrator

no que se refere a realidade e os atos praticados pelo mesmo, visando ainda a

construção da cidadania. Proporciona a interação entre o adolescente, o

responsável pelo acompanhamento (orientador) e a família.

A medida socioeducativa de liberdade assistida proporciona maior efetividade

na (re)inserção social do adolescente em conflito com a lei, através de uma rede

integrada de atendimento e envolvendo atores sociais de diversos segmentos, bem

como o poder público.

É buscar a reinserção social do adolescente infrator através de oportunidades

nos diferentes espaços de aprendizagem e integração social, através de ações

socioeducativas

Desse modo, há a necessidade no que se refere à ampliação e execução de

tais medidas, a busca de parcerias visando à integração entre o Poder Judiciário,

Ministério Público, Poder Executivo (em seus três níveis), em especial no âmbito

Municipal, decorrente de estarem mais próximos da realidade de sua localidade,

assim como também organizações não-governamentais, uma vez que os

adolescentes estão resguardados pelo principio da Doutrina da Proteção Integral e

encontrarem-se em pleno desenvolvimento, necessitando da participação e

contribuição de diversos atores sociais nesse processo de (res) socialização.

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Assim, denota-se que a municipalização do atendimento às medidas

socioeducativas em meio aberto (prestação de serviço á comunidade e liberdade

assistida) são de responsabilidade do poder público e da comunidade local criando

uma teia ou rede de serviços entre os órgãos públicos, em especial o município e os

atores sociais (públicos, privados e não governamentais).

E nesta busca por parcerias e comprometimento no processo de (re)

educação e (res) socialização do adolescente infrator, a inserção de atores sociais

(públicos e privados) é de fundamental importância na redução ou eliminação de

reincidência de atos infracionais, através de um processo sócio-pedagógico, na

inserção de valores, contribuindo sobremaneira para a o crescimento e o

desenvolvimento dessas pessoas.

A aplicação de políticas públicas e recomendações visando à aplicação das

medidas socioeducativas bem como a prevenção da prática de atos infracionais são

de fundamental importância para evitar a reincidência ou a ocorrência de prática de

atos infracionais.

É inegável que as medidas socioeducativas, uma vez aplicadas de forma

adequada, trazem a resposta vislumbrada pela sociedade, ou seja, a

responsabilização do adolescente infrator e a sua ressocialização.

Contudo, para que este objetivo seja alcançado, há a necessidade da

integração, da articulação, do comprometimento e de cooperação entre os atores

políticos e sociais constituídos, na busca pela (re) educação e (res) socialização do

menor infrator, aliada a participação efetiva da família nesse processo.

Em outras palavras, o planejamento participativo encontra-se baseado na

formação de sujeitos coletivos, representando a força da comunidade em busca do

desenvolvimento social, através da reflexão, análise, discussão, organização,

planejamento e avaliação, construindo constantemente e de forma comprometida, os

interesses sociais.

No que se refere a governança, sabe-se que sua essência está relacionada

com a participação popular, uma vez que é alicerçada pela interação entre diversas

categorias de atores sociais públicos e incorporando atores da esfera não estatal,

objetivando administrar e solucionar as adversidades encontradas. Em outras

palavras, a governança consiste na capacidade do desenvolvimento em parcerias,

em planejar e executar políticas a atender o interesse de todos.

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Assim, nota-se que a governança, incorpora, através da interação, a relação

entre sociedade e governo na busca pelo bem comum.

Nesse sentido, têm-se os conselhos gestores, conselhos de direitos, os quais

visam o engajamento da sociedade nas atividades de expressão, discussão e

decisão na implementação de políticas públicas, da governança democrática,

proporcionando uma maior interação entre governo e sociedade.

Assim, a presente pesquisa fora de fundamental importância para aprimorar

os conhecimentos acerca da possibilidade da participação de instituições públicas e

privadas no processo de ressocialização de adolescentes em conflito com a lei, em

especial na aplicação de medidas socioeducativas de meio aberto como a prestação

de serviços à comunidade e a liberdade assistida, observadas as regras

estabelecidas pela Magna Carta de 1988, pelo ECA e normativa internacional.

Aliado ao ora exposto, tem-se ainda o comprometimento da sociedade, da

família e do Estado em busca da finalidade do princípio da Doutrina da Proteção

Integral: o reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos de direitos

especiais e específicos, proporcionando o pleno desenvolvimento.

Assim, a participação popular no processo de (res) socialização e (re)

educação dos adolescentes em conflito com a lei é uma realidade, restando apenas,

reiterar e demonstrar a sociedade brasileira e aos demais atores sociais envolvidos

quanto a possibilidade desse trabalho e cooperação.

Por tais razões, órgãos públicos e privados devem integrar o sistema de

defesa social, participando, de maneira efetiva, das ações desenvolvidas na

comunidade a qual se encontram inseridas.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – Doutrina da Situação Irregular e Doutrina de Proteção Integral: Mudança de Paradigma

ASPECTO ANTERIOR ATUAL

Doutrinário Situação Irregular Proteção Integral

Caráter Filantrópica Política Pública

Fundamento Assistencialista Direito Subjetivo

Centralidade Local Judiciário Município

Competência Executória União/Estados Município

Decisório Centralizador Participativo

Institucional Estatal Co-gestão Sociedade Civil

Organização Piramidal Hierárquica Rede

Gestão Monocrática Democrática

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ANEXOS

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ANEXO A – Passos para implantação do Programa de Execução das Medidas Sócio-Educativas em Meio Aberto - Liberdade Assistida & Prestação de

Serviços à Comunidade

SUPERINTENDÊNCIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Av. Universitária – nº 609 – Setor universitário – CEP. 74.605-010 – Goiânia - GO Telefone: (062) 201-8657 / fax: (062) 201-8558 – E-Mail: [email protected]

FUNDAMENTAÇÃO O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma Lei Federal, promulgada em 1990, que estabelece normas e procedimentos para o cumprimento de obrigações, de direitos e deveres, não só da sociedade, mas também dos adolescentes, que por circunstâncias adversas em suas vidas provocaram danos às pessoas e a si próprios, necessitando portanto de intervenção das autoridades e do apoio sócio-familiar. Em alguns casos necessitam até mesmo da privação de sua liberdade, porém de forma ética, educativa, respeitosa e garantidora de seus direitos como ser humano. Esta lei traz em seus preceitos um elenco de medidas, que as autoridades competentes podem e devem tomar para evitar que os jovens se ingressem ou permaneçam no mundo da violência ou do delito. Cada fato será analisado e julgado, recebendo da autoridade judiciária a sentença que melhor convir ao processo sócio-pedagógico do jovem autor de ato infracional. Podendo ser o adolescente apenas advertido, ou até mesmo ter sua liberdade privada ou restrita. Hoje vem sendo comprovado que, a não ser nos atos graves, os jovens devem ser orientados, assistidos e auxiliados no seio sócio-familiar, pois torna-se possível a intervenção educativa no seu próprio meio, o que sem dúvida alguma facilita o seu processo sócio-pedagógico e conseqüentemente a sua mudança de vida. Considerando, também, que a intervenção pedagógica do jovem na família e na sua comunidade de origem possibilita, ainda, a interiorização das relações e a superação das dificuldades sócio-familiares. Neste documento apresentamos alguns princípios e estratégias que podem ser adotados pela municipalidade, na busca de soluções para os problemas vivenciados com os adolescentes autores de ato infracional. As recomendações nacionais e as avaliações atuais comprovam que, salvo poucas exceções, os adolescentes envolvidos na prática de ato infracional devem ser responsabilizados pelos seus atos e orientados pedagogicamente em meio aberto, ou seja, no seio sócio-familiar. E para tanto temos duas medidas que, estabelecidas no Estatuto da Criança e do Adolescente e que quando postas em execução, formam um composto de sanção e educação: a Liberdade Assistida e a Prestação de Serviços à Comunidade, ambas de alto poder de (re)socialização e (re)educação dos adolescentes.

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I – Atribuições da Municipalidade 1. Sensibilização das autoridades locais; 2. Indicação pela Prefeitura Municipal, de um órgão local para a Gestão/Coordenação do Programa; 3. Indicação, pela Prefeitura através de Portaria, ao Juiz, Promotor local e Gestor Estadual de uma pessoa do quadro de servidores do órgão, preferencialmente uma assistente social para fazer a Gestão/Coordenação do Programa; 4. Identificação de um local para Gestão/Coordenação do programa; 5. Viabilizar em tempo hábil a documentação do Prefeito local, para formalização de convênio com o Estado/Governo Federal na aquisição de equipamentos para montagem da sala; 6. Envolvimento constante das autoridades locais para a implantação do programa e contribuição efetiva e contínua na implementação e fortalecimento das ações previstas no atendimento; 7. Fortalecimento e legitimação dos Conselhos Tutelares; estímulo a efetiva consolidação dos Conselhos de Direitos e a instalação e funcionamento do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente, regulamentados através de Leis Municipais específicas; 8. Disponibilidade para discussão das diretrizes para a instalação de uma rede pública de atendimento a criança e ao adolescente; 9. Facilitação de estratégias que possibilitem a instalação das políticas públicas que assegurem à infância e adolescência a prioridade absoluta estabelecida na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente; 10. Fomentar e estimular ações parceiras e integradas com agentes executores e operadores da justiça; 11. Incluir no orçamento municipal recursos para despesas com gastos em programas e ações destinadas a criança e adolescente. II – Atribuições do Estado (SEC/SUPCA)

1. Definir uma política pública que assegure os princípios e práticas da proteção integral e garantia de direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; 2. Estabelecer as diretrizes e procedimentos que norteiam a municipalização e descentralização do atendimento; 3. Fomentar discussões que propiciem o conhecimento dos preceitos legais (responsabilidades, atribuições e forma de gestão); 4. Sensibilizar as autoridades municipais e comunidade local para implantação da rede pública de proteção a criança e ao adolescente; 5. Estabelecer, conjuntamente com municipalidade, as normas e as metodologia operacionais que assegurem as ações parceiras e integradas; 6. Estimular a implantação e o fortalecimento dos Conselhos e do Fundo Municipal dos Direitos da Criança do Adolescente; 7. Indicar a infra-estrutura para implantação dos programas de atendimento; 8. Junto ao Município, definir a forma de execução do programa de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade; 9. Capacitar o Gestor Municipal e orientadores sociais para execução das ações de acompanhamento;

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10. Colaborar na definição de conteúdos para a capacitação dos orientadores sociais e órgãos executores, oferecendo orientação técnica e repasse de formulários para o acompanhamento sócio-pedagógico dos adolescentes; 11. Facilitar, apoiar e estimular as ações dos orientadores sociais que visem a integração sóciofamiliar, a escolarização e a profissionalização; 12. Monitorar e assessorar continuamente as ações, supervisionando o atendimento e a integração dos parceiros e entes envolvidos; 13. Facilitar a relação técnico/jurídica entre orientadores, justiça, família, escola e comunidade; 14. Assegurar junto aos gestores e executores, a efetiva execução da medida, buscando a harmonização do ato processual à ação sócio-pedagógica; 15. Indicar e facilitar ações que propiciem o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; 16. Propiciar condições técnicas aos gestores e orientadores sociais para superação de preconceitos, julgamentos precipitados, “pseudos medos” e situações de descaso junto a problemática dos adolescentes e familiares; 17. Estimular e capacitar os gestores e executores municipais para contribuição e fortalecimento do atendimento em rede; 18. Recomendar, estimular e capacitar gestores para a implantação dos programas de forma compartilhada preferencialmente com execução descentralizada na Comunidade; 19. Buscar parceria junto aos órgãos federais para repasse de recurso financeiro para implantação e fortalecimento das ações executadas e capacitação de gestores e orientadores; 20. Fomentar parcerias que visem a melhoria do atendimento no âmbito municipal. III – A Função da equipe de assessoria e supervisão do Estado junto aos municípios.

1. Capacitar permanentemente gestores, orientadores e órgãos integrados; 2. Contribuir para a elaboração do Projeto Municipal de Execução das Medidas Sócio-Educativas; 3. Orientar e auxiliar nos procedimentos técnicos e operacionais dos gestores e orientadores sociais; 4. Orientar gestores e autoridades locais sobre as políticas públicas de atendimento à criança e adolescentes, fomentando discussões locais sobre a Leis Orgânicas da Assistência Social – LOAS; Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; Sistema de Atendimento Sócio-Educativo – SINASE, Lei de Diretrizes da Educação – LDB; Fundo Municipal e Conselhos; 5. Fomentar e colaborar para realização de reuniões para sensibilização e divulgação dos programas da rede atendimento; 6. Estimular e orientar constantemente o Gestor Municipal para a busca de ações articuladas e parceiras, envolvendo a comunidade na efetivação de apoio ao atendimento; 7. Elaboração de formulários e treinamento de gestores e orientadores para o preenchimento de instrumental para acompanhamento dos adolescentes, bem como para o levantamento de dados e analise dos relatórios técnicos; 8. Orientar, facilitar e acompanhar as prefeituras quanto a normatização e execução da política pública de atendimento a infância e juventude;

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9. Facilitar a discussão com os Promotores e os Juizes, sensibilizando-os para a necessidade de implementação das medidas em meio aberto e seus benefícios sócio-pedagógicos; 10. Estimular e colaborar para a instalação de uma rede parceira entre as ações estaduais e municipais; 11. Facilitar no âmbito das políticas públicas estaduais a inclusão de ações municipais direcionadas a criança e adolescentes; IV - Requisitos para o Gestor / Coordenador Municipal 1. Residir no Município; 2. Reconhecida idoneidade e moral; 3. Interesse em trabalhar com jovens; 4. Crença nos princípios da proteção integral e no alcance sócio-pedagógico das medidas em meio aberto; 5. Abertura para reflexão/ação de princípios sócio-pedagógicos; 6. Capacitação para administração de conflitos técnico-operacionais; 7. Disposição para estimular e fomentar as constantes discussões técnico-operacionais com orientadores, Juízes, Promotores, familiares e comunidade; 8. Preferencialmente, formação técnico/superior na área de ciências humanas (assistência social, psicologia, pedagogia); 9. Idade entre 25 e 45 anos; V – Requisitos para orientadores

1. Reconhecida idoneidade moral; 2. Idade superior a 23 anos; 3. Residir no município, preferencialmente em bairros com indicadores de adolescentes sentenciados; 4. Interesse em trabalhar com jovens e disponibilidade para trabalhos voluntários e de promoção e inclusão social; 5. Crença nos princípios de solidariedade e de amor ao próximo; 6. Disposição para as práticas de articulação e sensibilização; 7. Demonstrada atitude de coerência e ética frente aos princípios técnicos/legais e operacionais do programa. VI – Atribuições do Gestor/Coordenador 1. Sensibilizar continuamente as autoridades e comunidades locais sobre a necessidade da efetivação das políticas públicas de atendimento a criança e adolescente, fortalecendo ou propiciando discussões para a instalação de uma rede municipal de atendimento participativo, integrado e solidário. 2. Estimular e facilitar a Implantação e Implementação da Execução das Medidas Sócio-Educativas em Meio aberto através de uma rede de parceiros voluntários da comunidade – LAC, sensibilizando órgãos públicos, entidades não governamentais, lojas maçônicas, clubes de serviços, profissionais liberais, empresários, igrejas e cidadãos comuns a conhecerem e a participarem dos atendimentos propostos pelo Programa; 3. Normatização técnico/operacional do Programa;

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4. Inscrever o programa de execução das medidas em meio aberto, no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente; 5. Manter cadastro atualizado de parceiros e orientadores sociais, bem como de colaboradores sociais (dentistas, médicos, grupos de apoio, empresários, laboratórios) para contribuição em dinheiro ou serviços para jovens e familiares do programa; 6. Buscar constantemente envolvimento da rede de ensino, sensibilizando as universidades para sua contribuição com oficinas de trabalhos com famílias e capacitação de orientadores e executores; 7. Buscar permanentemente a articulação com o sistema de Justiça, parceiros e comunidades locais; 8. Recepcionar o adolescente e o responsável, orientando-os sobre a execução da medida, apresentando-os as normas do programa, explicitando as obrigações do adolescente e seu responsável quanto ao cumprimento da medida; 9. Supervisionar e avaliar tecnicamente os orientadores e entidades executoras; 10. Contribuir com a elaboração de: relatórios de acompanhamentos dos adolescentes, fortalecendo o sistema de remessa justiça; 11. Facilitar a inserção do adolescente no trabalho, em programas públicos e particulares de atendimento; 12. Estar constantemente atento ao processo de acompanhamento do adolescente, a sua vida escolar, familiar e comunitária; 13. Emitir os relatórios de acompanhamento dos adolescentes ao Juíz, para subsidiar tecnicamente o processo de avaliação das medidas; 14. Participar de atividades de formação promovidas pela rede de atendimento e cursos de capacitação oferecidos pela Coordenação Estadual, solicitando monitoramento e assessoramento quando necessário; VII – Ações a serem desenvolvidas pelos orientadores sociais;

1. Promover meios para que o adolescente sentenciado desenvolva sua capacidade de reflexão sobre suas vivências, dificuldades, limites e as relações sócio-familiar, buscando evidenciar e valorizar suas habilidades e atitudes positivas, facilitando assim sua interação e integração com o mundo que o cerca; 2. Estabelecer parceria efetiva com a rede pública de ensino e sistema de saúde e demais políticas públicas para a inclusão do adolescente e familiares; 3. Buscar uma relação integrada com o gestor-família-comunidade; 4. Fortalecer continuamente o acompanhamento pedagógico, através de ações de intervenção sócio-familiar, acompanhamento a escola, trabalho e profissionalização; 5. Sensibilizar e envolver os entes familiares na ação pedagógica a ser desenvolvida com o adolescente, fortalecendo sempre a relação de autoridade exercida por algum membro da família, estimulando a relação de respeito mútuo e de aconselhamento ao jovem assistido; 6. Criar condições efetivas para o fortalecimento dos vínculos familiares, proporcionando o desenvolvimento de relações de aceitação e de colaboração entre os familiares. 7. Imbuir-se das atitudes de mediador entre adolescentes, familiares e comunidade na dissolução de problemas e conflitos; 8. Atrelar (normatizar) permanentemente o processo pedagógico com o ato processual do adolescente, sem evidenciar ações de preconceitos, penalização e descriminação, evidenciando a ação educativa seu alcance sócio-pedagógico;

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9. Respeito constante à função/atuação de cada órgão envolvido, buscando de forma correta, ética e discreta a solução dos problemas decorridos da execução das ações; 10. Aconselhar-se sempre que necessário com o Gestor, Juiz e Promotor de Justiça, guardando para si todos os sigilos necessários na execução do processo pedagógico, bem como das decisões processuais; 11. Estimular fortalecer as atitudes e práticas de atenção, cuidado e respeito às crianças e adolescentes; VIII – Atribuições dos operadores da justiça

1. Assegurar com absoluta prioridade, os direitos das crianças e adolescentes; 2. Acolher as recomendações e diretrizes propostas para a execução das Medidas Sócio-Educativas quando assegurados os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente ECA; 3. Contribuir para a discussão e o engajamento comunitário na implantação e fortalecimento das Medidas Sócio-Educativas; 4. Facilitar, no âmbito municipal, a instalação de políticas públicas articuladas em rede e consolidadas em ações parceiras e solidárias; 5. Em casos extremos, instaurar ação civil pública para proteção dos direitos das crianças e adolescentes; 6. Viabilizar ações de fiscalização no cumprimento dos direitos de crianças e adolescentes; 7. Fomentar e assegurar a implantação e funcionamento dos Conselhos e Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente; 8. Nortamização/recomendação de diretrizes que assegurem a implantação do Sistema de Execução das Medidas Sócio-Educativas no âmbito do Estado e Município. IX – Vantagens /Contribuições das Medidas Sócio-Educativas em Meio Aberto

1. Discussão ampliada dos preceitos do ECA e facilitação de ações que propiciem a sua implementação; 2. Maior visibilidade pela sociedade das ações de “re”-educação e responsabilização dos adolescentes, eliminando a cultura da impunidade e do descaso público; 3. Possibilitar que os municípios se constituam no espaço adequação para o enfrentamento de suas próprias questões, criando e mantendo uma rede de serviços de atenção a criança e adolescentes; 4. Implantação/fortalecimento no âmbito da municipalidade dos órgãos de defesa e garantia de direitos e de controle de Gestão; 5. Mudança da cultura da Internação como mero castigo e a punição para a cultura da sócioeducação e das práticas de atenção, cuidado e respeito ao adolescente; 6. Avanço e fomento das relações solidárias, parcerias e compartilhadas; 7. Possibilidade contínua de ampliação dos mecanismos de capacitação, para as práticas garantidoras de direitos; 8. Articulação entre a rede estadual e municipal de proteção, promoção e inclusão social; 9. Efetivação da política pública estadual de garantia de direitos.

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X – Sugestão para participantes da reunião ampliada para discussão e sensibilização para implantação das Medidas Sócio-Educativas.

1. Juízes 2. Promotores 3. Prefeitura Municipal (Prefeito e Primeira Dama) 4. Comando da Polícia Militar 5. Delegados de Polícia 6. Conselhos Municipais (Assistência Social, Criança e Adolescente e Saúde) 7. Conselhos Tutelares 8. Secretarias (Educação, Saúde e Promoção Social) 9. Subscretaria Ensino-Educação Estadual 10. Sociedade (lojas maçônicas, igrejas evangélicas, clubes de serviço, empresários...) 11. Autoridades e representantes do sistema de garantia de direitos dos municípios que compõem a comarca sede.

Luzia Dora Juliano Silva SUPERINTENDENTE

E-MAIL: [email protected]

Av. Universitária n.º 609, Setor Universitário, Goiânia-GO – Cep: 74.605-010 Fone:

(62) 3201-8657 / Fax: (62) 3201-8558

http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/8/docs/passos_para_implantacao_do_programa_de_execucao

_das_medias_socio-educativas.pdf

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ANEXO B – PROJETO: Ressocialização de Adolescentes em conflito com a lei

através de Medidas Socioeducativas (Prestação de Serviços)

Instigado pela Assistente Social CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Rosyléia Joana Melo Pacheco e referendado pelo Prefeito Municipal de Pinheiro, José Arlindo Silva Souza, em novembro do ano passado, em razão da necessidade de serem criados mecanismos para atender os jovens adolescentes em conflito com a lei, oportunizando-lhes o cumprimento de medidas sócios-educativas e passando a inserir valores, contribuindo para a transformação em futuro homens de bem, surgiu a idéia em instituir um Projeto a nível da Unidade Policial Militar que pudesse acolher adolescentes oriundos do Ministério Público e do Judiciário da Comarca de Pinheiro, em virtude das decisões processuais. Em sintonia, CREAS e 10º BPM, de acordo com a política federal e a legislação em vigor, passaria o 10º BPM "Guardião da Baixada" a receber jovens e ajudá-los em seus processos de recuperação. A experiência já colocada em prática quando este oficial comandava a ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR "GONÇALVES DIAS" - APMGD que naquela oportunidade recebeu na Unidade Escola, 04 (quatro) apenados da Penintenciária Agrícola de Pedrinhas para a Prestação de Serviços em diversas especialidades (pedreiros, carpinteiros, eletricistas e serviços gerais) para a cada dia trabalhado diminuirem em suas penas igual período, fazendo ainda jús a um quantitativo financeiro do Ministério da Justiça, serviu de estímulo, proporcionando contribuir decisivamente para a construção de uma sociedade mais humana e mais justa, principalmente levando em consideração o comportamento exemplar dos envolvidos no Projeto naquela oportunidade. Recebendo o apoio da sociedade pinheirense, das igrejas, das diversas instâncias do executivo e legislativo municipal, sacramentado pelo posicionamento das Promotorias de Justiça e do judiciário, com a formatação escrita do 1º Ten QOPM Wellington Rodrigues Veras e da Assistente Social Rosyléia Joana Melo Pacheco, instituimos o presente PROJETO. RESSOCIALIZAÇÃO DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI ATRAVÉS DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS (PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS). 1. APRESENTAÇÃO O 10º Batalhão de Polícia Militar, instituição responsável pela garantia da Ordem Pública na região da Baixada Ocidental Maranhense, vem pautando suas ações diante da Filosofia de Polícia Comunitária, baseando-se na premissa de que Polícia e Comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos, objetivando a melhoria da qualidade de vidas das pessoas. E diante da conseqüente aproximação entre a Instituição Policial Militar com outros segmentos da sociedade, o 10º Batalhão de Polícia Militar coloca-se como parceiro do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), em Pinheiro-MA, na realização do Projeto de Medidas Socioeducativas para o ano de 2010, que

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busca a colaboração de entidades, integrantes da comunidade local, no processo de ressocialização de adolescentes em conflito com a lei neste Município, visando dar apoio, orientação e acompanhamento individual a cidadãos e famílias em situação de ameaça ou violação de direitos. 2. JUSTIFICATIVA O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), através da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da Norma Operacional Básica (NOB), visa implementar ações respaldadas no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), na perspectiva de oferecer proteção social especial a indivíduos e famílias com seus direitos violados, sem rompimento de vínculos, e adolescentes em cumprimento de Medidas Socioeducativas (MSE) em meio aberto (Liberdade Assistida – LA – e Prestação de Serviços à Comunidade – PSC). Essas ações são desenvolvidas através do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que é o responsável pela oferta de serviço de média e alta complexidade, orientação e acompanhamento a indivíduos e famílias em situação de risco social por ocorrência de negligência, abandono, ameaças, maus tratos, violações físicas e psíquicas, discriminações sociais e infrigência aos direitos humanos e sociais. Conforme o Art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os menores de 18 anos que for realmente comprovada a prática de ato infracional, constatado através de provas e indícios devidamente apurados e investigados, devem ser aplicadas as medidas socioeducativas, determinadas de acordo com a gravidade da infração cometida. A expressão socioeducativa, e sua distinção das ações meramente punitivas, são conseqüências da diferenciação proposta pela doutrina de proteção integral. São cinco as medidas socioeducativas: advertência, liberdade assistida, semiliberdade, prestação de serviços à comunidade e internações. As medidas são aplicadas de acordo com o delito do adolescente. Encontramos no art. 117 do ECA a modalidade de medida socioeducativa que estabelece a Prestação de Serviços à Comunidade. Esta medida preserva o direito do adolescente à conivência familiar e comunitária, em consonância com as determinações do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que determina a municipalização do atendimento. A Prestação de Serviço à Comunidade tem caráter educativo, mas também de responsabilização do adolescente, podendo ser desenvolvida junto a organizações governamentais e não governamentais da rede socioassistencial, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. As tarefas devem ser cumpridas durante jornada máxima de 8 (oito) horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho. O local a ser realizada a prestação de serviços poderá ser estabelecido pelo juiz ou coordenadores dos programas de execução das medidas socioeducativas em meio aberto, em decorrência das parcerias e convênios fixados entre os órgãos competentes para a realização e aplicação de tal medida.

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3. OBJETIVO 3.1. OBJETIVO GERAL Realizar o acolhimento de adolescentes em conflito com a lei na execução de medidas socioeducativas (Prestação de Serviços à Comunidade), disponibilizando a execução de atividades de acordo com as suas habilidades físicas e intelectuais no 10º Batalhão de Polícia Militar. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a. inserir os adolescente em atividades de rotina do quartel (formatura geral, instrução de saúde física, práticas desportivas e campanhas educativas), observando as restrições referentes às áreas e seções de acesso exclusivo a Policiais Militares; b. fomentar nos adolescentes o interesse do mesmo pela atividade policial militar, como profissão a ser seguida no futuro; c. despertar nos adolescentes envolvidos no projeto valores sociais fundamentais, como hierarquia, disciplina e respeito, que permeiam as relações interpessoais na caserna; d. garantir aos adolescentes o acompanhamento por profissionais de segurança pública na realização de suas atividades; e. realizar o acompanhamento dos adolescentes junto às instituições de ensino freqüentadas por eles e junto a suas famílias; f. Inserir os adolescentes em atividades desenvolvidas pelo GEAPE, como palestras, seminários e visitações nas escolas; g. sensibilizar os policiais militares sobre a importância de se oferecer oportunidades a adolescentes em conflito com a lei, despertando o sentimento de responsabilidade social; h. acompanhar o cumprimento da medida de prestação de serviço; i. fiscalizar o cumprimento das condições impostas pela Justiça e/ou Ministério Público; j. elaborar relatórios de acompanhamento das atividades realizadas pelos adolescentes e encaminhá-los ao CREAS . 4. METODOLOGIA Como fase experimental do projeto, será feito o acolhimento e acompanhamento do adolescente ISF, que será envolvido em atividades no Quartel do 10º BPM duas vezes por semana (terça e quinta-feira), com uma carga horária de 04 (horas) por dia, divididas em duas etapas: prestação de serviços (lavagem de viaturas, serviços de limpeza das instalações) e inserção em atividades socioeducativas (prática de saúde física, formaturas gerais, palestras, atividades do GEAPE, etc). O adolescente desenvolverá atividades no período de 06 (seis) meses, com início previsto para o dia 13 de maio de 2010, e término em 11 de novembro de 2010.

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5. RECURSOS HUMANOS - Gerente do Projeto: Ten Cel QOPM Carlos Augusto FURTADO Moreira Fone: (98) 3381 1119 – 8174 0100 - E-mail: [email protected]. - Supervisor do Projeto o 1º. Ten QOPM WELLINGTON Rodrigues Veras Fone: (98) 3381 2905 – 8135 5314 – E-mail: [email protected]. 6. CUSTOS Não serão necessários Recursos Adicionais 7. RESULTADOS ESPERADOS - A colaboração no processo de ressocialização dos adolescentes em conflito com a lei; - A melhoria na relação dos adolescentes com suas famílias, sociedade e Instituição Policial Militar; - Adolescentes e suas famílias entendendo e assumindo o seu papel social, gozando direitos e cumprindo deveres; - Envolvimento do público interno no processo. 8. DADOS COMPLEMENTARES - Informações do Adolescente envolvido na primeira etapa do projeto: Nome: ISF Data de Nascimento: 02 de março de 1995 Filiação: CJF Grau de Instrução: Cursando o 2º ano do Ensino Médio na CEEFM Dom Ungarelli Endereço: Pinheiro-MA Delito Cometido: previsto no art. 155, § 4º, inciso II e V do CPB, por ter subtraído da Marcenaria “Casa do Marceneiro” 08 (oito) peças de madeira; Conduta: aparentemente tranqüilo; ajuda a mãe nos afazeres domésticos; pratica atividades desportivas (futebol); não e usuário de substância psicoativa; convive em sua residência com a mãe, o padrasto e mais três irmãos; trabalha desde os 14 nos de idade. Contatos Telefônicos: (98) ____ 2843 e ____ 1530 Pinheiro/MA, 01 de dezembro de 2009. Ten Cel QOPM Carlos Augusto Furtado Moreira Comandante do 10º. BPM "Guardião da Baixada" (98) 8174 0100 - 882 4528 - 3381 1119 [email protected] Disponível em: <http://celqopmfurtado.blogspot.com/2010/08/projeto-ressocializacao-de-adolescentes.html>. Acesso em: 30 ago. 2010