politicas publicas e educaçao física realto de experiência

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Politicas Publicas e Educaçao Física Realto de Experiência

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  • Politicas pfiblicas em Educaco Fisica eesportes:

    um relato de experiencia em awes de umapolitica educacional*

    Marcilio Souza Anior**

    ResumoAs Politicas PUblicas na area daEducacao Fisica/Esporte/Lazer

    \rem, ao longo de sua histOria noBrasil, no que se refere as awes,

    geralmente, apresentando-secomo prestacOes de servicos aopt iblico, voltadas para o ofereci-

    mento de atividades esporadicascorn o intuito de preenchimento

    do tempo ocioso, em que oseventos esportivos sao os mais

    explorados/utilizados. 0 presentetrabalho objetiva descrever e

    analisar algumas awes do Progra-ma de Educacao Fisica, Esporte e

    AbstractThe public policies in the PhysicalEducation/Sports/Leisure area aregenerally presented, throughouttheir history, in what refers toactions, as rendering services tothe public, geared towards theoffering of sporadic activities inorder to fulfill idle time, in whichsports events are the mostexplored/used. The present workaims to describe and analyze someactions of the Progran of PhysicalEducation, Sports and Leisure. Toexpose and debate limits andpossibilities between what was

    * Este texto foi elaborado a partir do RelatOrio de atividades de 1997, entregue pelo autor, a Diretoriade Esportes da Secretaria de Educagao e Esportes de Pernambuco.

    ** Professor de Pratica de ensino ESEF-UPE; Membro do Centro de Estudos em Educaco Fisica eEsportes da ESEF-UPE; Mestrando em Educacao pela UFPE, bolsista da CAPES.

  • 96 MotriviVinciaLazer. Expor e debater limites e

    possibilidades entre o que foiformulado numa Politica PUblica eo que foi desenvolvido em um deseus programas a uma estrategia

    para analisar momentos de suamaterializacdo.

    formulated in a Public Policy andwhat was developed in one of itsprograms is a strategy to analyzemoments of its materalization.

    Introducfio0 presente trabalho se caracteri-

    za como urn relato de experiencia apartir de minhas atividades comoprofessor convidado a compor aRede de Capacitadores de Per-nambuco' da Diretoria de Esportesda Secretaria de Educacdo e Espor-tes de Pernambuco, participando dealgumas Ns:5es de Capacitacdo Con-tinuada, especificamente do Progra-ma de Oficinas PedagOgicas. 2 As ofi-cinas da experiencia em destaque ti-veram como tema "abordagem pe-dagOgica do jogo na escola" e fo-ram ministradas em quatro diferen-tes DERE's3 (Metropolitano-Norte,Serto do Medic) So Francisco, Ser-tic> do Sub-medio Sao Francisco eSertdo MoxotO Ipanema).

    Expor e debater os limites e aspossibilidades entre o que foi formu-lado na referida politica educacionale o que foi desenvolvido nos progra-mas de capacitacdo continuadauma das formas de evidenciar a

    implementacdo de urn setor das Po-liticas Publican. Assim, tal experien-cia descreve o desenvolvimento dasawes de materializaco da propostade programa oficial para o ensino daEducaco Fisica na escola pUblicaestadual.4

    Programa de oficinaspedageogicas: descricfioe anfilise dos limites epossibilidades

    Esta experincia levou ao reco-nhecimento de alguns avancos con-quistados e materializados numaaco de operacionalizaco de umapolitica educacional. Estes avancosso apresentados aqui como ele-mentos de possibilidades para qua-lificar cada vez mais a implemen-tacdo, neste caso, de uma propostacurricular para o ensino de urn corn-ponente curricular na escola, poisapresentar diretrizes e principioscurriculares para o ensino da Edu-

  • Ano XI, n2 12, maio/1999 97

    cacao Fisica escolar nao simples-mente publicar uma proposta eentrega-la aos professores, para queestes busquem implements-lacomo se fosse uma cartilha, urnmanual. A implementaco de umaproposta curricular envolve muitomais que sua publicacao e o ofere-cimento de urn processo de estudocontinuado. E uma acao que vem asomar para compreender, analisarcriticamente e buscar a materia-lizaco desta no cotidiano de salade aula.

    Inicialmente, importante des-tacar que tal experiencia traz urn in-vestimento, na area de Politicasblicas em Educacao Fisica/Esporte/Lazer, voltado para o setor da Politi-ca Educacional, fato que ja apresen-ta urn avanco, pois numa rapida re-trospectiva histOrica de investimen-tos nesta area, possivel reconhe-cer a proliferacao de programas eprojetos esportivos no Brasil, sejacorn a pretensao de complementarou substituir a educacao formal,principalmente para a classe demenor poder aquisitivo, em que ojovem busca o sonho de ascensaosocial atraves do esporte (Zaluar,1991), ou seja, como o oferecimen-to de atividades esporadicas e iso-ladas, que possam render dividen-dos politicos e que, na maioria dasvezes, restringem-se a realizacao de

    atividades em dia de inauguracao deuma rua, de uma praca, ou no for-necimento de materiais esportivose ate no pagamento de arbitros du-rante a realizacao de campeonatosde bairro (Silva, 1996 e 1997). Ain-da neste aspecto importante re-conhecer o carater de continuidadedado no oferecimento de oportuni-dades de estudos acerca da propos-ta curricular oficial para o ensino daEducacao Fisica.

    A composicao de uma Rede deCapacitadores urn outro ponto dequalificacao de urn trabalho destanatureza, pois tal estrategia possibi-lita a estruturacao de uma sisterna-tica de estudos que supera o ofere-cimento de cursos isolados, ja queos professores capacitadores encon-traram-se para discutir aspectos re-ferentes ao gerenciamento deste tra-balho (cronograma, local de reali-zacao, nrnero de professores a par-ticipar, recursos etc.) e a aspectosteOrico-metodolOgicos (eixo nortea-dor, procedimentos metodolOgicos,contaidos unificadores etc.). Aquipode-se destacar o estabelecimen-to de uma unidade metodolOgica,em que cada professor capacitador,mesmo tratando de contetidos es-pecfficos, portanto diferentes, dian-te de cada oficina, procurou: a) es-tabelecer urn ambiente de estudosdurante os cursos e n caracteri-

  • 98

    zar-se como local de receber recei-tas ou ainda de fugir do sol ardenteque incide durante as aulas de Edu-cacao Fisica; b) oportunizar mo-mentos de trocar experiencias en-tre o professor capacitador e os pro-fessores em capacitaco, assimcomo entre os prOprios professoresem capacitacdo; c) e realizar os cur-sos dentro das prOprias escolas darede publics, favorecendo uma pro-ximidade com a clientela que deveser a maior beneficiada deste pro-cesso, ou seja, os alunos da educa-cdo bsica, inclusive, promovendomomentos de regencias de aulascom estes alunos acerca do conteti-do especffico do curso, para que pu-dessem servir como material de es-tudos do prOprio curso.

    No que diz respeito a este ponto,pode-se tambem identificar comopossibilidade de qualificaco do pro-cesso, o fato da Rede deCapacitadores ter sido formada pordiferentes pessoas, levando aos pro-fessores em capacitaco conte6dosdiferentes e especfficos diante da es-pecialidade de cada capacitador. 0professor em capacitaco acessouuma diversidade de conhecimentos,corn isso n recaia sobre amesmice. No entanto, a diversidadese qualifica ainda mais quando doestabelecimento do que se chamou,anteriormente, de unidade metodo-

    lOgica, pois esta possibilitou o trata-mento de conteUdos referentes aoensino da Educaco Fisica na esco-la, de forma significativa.

    Urn outro avanco que precisa serexplicitado e o estabelecimento dedois grupos de conteGdos que de-veriam ser tratados em todos oscursos do Programa de OficinasPedagOgicas: relatos de experienciae grupos de estudos. Estes elemen-tos no so apareceram enquantorecursos metodolOgicos nas ofici-nas, mas tambern como urn con-tell& a ser discutido junto aos pro-fessores em capacitaco. Foramento estabelecidos momentos deestudos sobre o que 6 urn relato deexperincia e urn grupo de estudo,assim como os procedimentos tec-nicos ou providenciais para se con-cretizar tais atividades. Especifica-mente em relaco aos relatos, foipossivel diagnosticar que o ato derelatar as experiencias possibilitapensar a prOpria pratica pedag6gi-ca do professor, seja a dele prOpria,ou a do outro. Ern relacdo ao ele-mento grupo de estudo, foi possi-vel levantar elementos objetivos quepossibilitariam o surgimento de urngrupo, tal como a necessidade derealizacdo de estudos corn uma sis-tematizaco mais coesa e corn mai-or periodicidade.

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    Porem, neste ponto dos gru-pos de estudos que se evidencia urnprimeiro problema. "Discutir, iden-tificando os limites e possibilidades,sobre a formacao de grupos de es-tudos" (Proposta de Trabalho daOficina) era o objetivo delimitadopara este grupo de contetidos. As-sim, seria possivel afirmar que foicumprido. Porem, urn ponto seapresentou fragilizado mesmo naosendo essa a meta especffica dessegrupo de conteCidos. Este ponto foia nao efetivacao, pelo menos quese tenha noticias, do funcionamen-to de grupos de estudos. Reconhe-ce-se como urn ponto fragil, pois,ja apOs a P experincia na oficinacorn uma DERE, foi diagnosticadoque era possivel viabilizar osurgimento de grupos de estudosno intuito desses funcionarem au-tonomamente apOs as orientagOestrazidas e discutidas na oficina. Osprofessores ern capacitaco desta-cavam esse ponto como urn doselementos diferenciadores de outrascapacitacOes. Essa oficina, alem dascontribuicOes de referncias teOricasestudadas durante a oficina, alemdas reflexiies e experimentacOes re-alizadas a partir do cotidiano da pra-tica pedagOgica, pensou em geraruma continuidade de trabalho paraalem dos dias da oficina.

    A partir de entao, apresentar osproblemas uma forma de reco-

    nhecer os limites desta acao deoperacionalizacao de uma politicaeducacional. Tal como o problemaapresentado anteriormente, surgeuma questa() polmica e delicada,que possui urn percurso de dois ex-tremos: de urn lado a prestacao deurn servico desqualificado e, de ou-tro, o corporativismo. A questa emfoco e o fato dos chamados "leigos"que atuam regendo aulas de Edu-cacao Fisica nas escolas, pois du-rante os cursos realizados no Pro-grama de Oficinas PedagOgicas istoera comum.

    Durante as oficinas foi entregueaos professores em capacitacao umaficha de cadastro, para que os mes-mos a preenchessem e devolvessemao ministrante. A partir desta fichade cadastro foi possivel realizar urnlevantamento acerca da formacaodos professores que regem aulas deEducacao Fisica na rede pUblica es-tadual. Este levantamento permitiu,atraves de dados numericos, diag-nosticar alguns pontos interessantesde reflexao a serem considerados naimplementacao de Politicas Riblicaseducacionais, especialmente as vol-tadas para a formacao profissionalern servico e, mais especificamente,para a area de Educacao Fisica emPernambuco.

    O que se pode observar duran-te essa experiencia que esse fato

  • 1 00 Motrivirencia

    uma realidade preocupante e queprecisa ser tratada corn urgencia.Preocupante pela inconstancia e ins-tabilidade gerada diante da altarotatividade dessas pessoas que, porvarios motivos, vao parar na regen-cia de aulas de Educacao Fisica eque, mesmo passando por intensascapacitacOes, n garante umamelhoria das aulas, ja que, no futu-ro prOximo, talvez nao sejam maisos mesmos professores "leigos"ministrando as aulas. Preocupanteporque, muitas vezes, os argumen-tos e experincias apresentados pe-los professores corn titulos univer-sitarios ern Educacao Fisica nao sediferenciavam muito dos "leigos". Ecerto que esse fato nao era generi-co, mas acontecia comumente di-ante daqueles professores que eramprodutos de uma determinado mo-mento histOrico da formacao univer-sitaria ern Educacao Fisica, especi-ficamente quando os cursos deEducacao Fisica caracterizavam-sequase como clubes esportivos.

    Nesse levantamento, verificou-se que apenas 33,71% dos profes-sores cadastrados possuiam algumtipo de formacao na area de Edu-cacao Fisica, 59,32 % possuiam for-maga() em outras areas de atuacaoprofissional e 6,97% n deram essainformacao em seu cadastro. Den-tre esses, 33,71% apresentaram-se

    diferentes tipos e niveis de forma-cao, indo desde alunos de curso tec-nico em Educacao Fisica, a nivel doensino medio (3,48%), ate profes-sores licenciados em graduacaouniversitaria superior (18,60%). J ,entre os 59,32%, urn destaque ogrande rillmero de professores cornformacao universitaria superior emLetras (18,60%) e outro a quanti-dade de professores que possuemformacao de magisterio a nivel doensino medio (11,62%).

    Corn esses dados aliados ao fatoda atuacao dos "leigos", relatadoanteriormente, ve-se que as aulas deEducacao Fisica na rede plIblica es-tadual, pelo menos neste campo deamostragem, na sua maioria, naoestao sendo ministradas por quernlegalmente tern a competancia. E seforem considerados os cursos uni-versitarios superiores, mesmo cornos problemas existentes (como localmais adequado, do ponto de vistaestrutural, histOrica e teoricamente,para a formacao de competnciasespecfficas5) pode-se identificar quea grande maioria desses professo-res (81,40%) possui grandes dificul-dades para ministrar aulas de quali-dade.

    Dentro dos elementos que sur-gem como limites para qualificar arealizacao do Programa de Capaci-tacao Continuada, a comunicacao

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    caracteriza-se como urn problemade fundo, poise diante de uma co-municacao eficiente, clara e entre-gue em tempo habil que leva os pro-fessores a tal Programa, portanto,ha urn espaco onde se vai estudar aproposta oficial, oportunizando aeste uma major compreensao des-ta, para que venha a implements-lano cotidiano escolar. A comunica-cao acerca da realizacao de cursos,oficinas ou ate outras atividades es-barra, muitas vezes, corn o "esque-cimento" por parte da direco dasescolas, nao comunicando ao pro-fessor esses acontecimentos.

    Outro ponto surge como proble-ma. Este, agora,como limite dianteda implementacao de uma propos-ta curricular para o ensino da Edu-cacao Fisica na escola. Tal proble-ma e compreendido como a contra-dicao existente entre as referencias,conceitos e recomendacOes contidasna proposta oficial e a compreensaopor parte destes professores.

    Num primeiro momento, evi-denciou-se que a referencia que fun-damenta a proposta oficial era pou-co compreendida pela maioria dosprofessores em capacitacao, princi-palmente se for considerada umacompreensao mais aprofundadados conceitos. Pode-se dizer quegrande parte dos professores daDERE Metropolitano Norte, por se

    localizar em Recife, possuia urnacesso mais facilitado a proposta deColetivo de Autores (Perspectiva pe-dagOgica que traz referencia base aproposta adotada para a EducacaoFisica em Pernambuco), no entan-to, apresentava alguns equivocos edistorcOes da proposicao em ques-tao, demonstrando urn conheci-mento superficial, sem, na maioriados casos, ter sequer lido o referidolivro. E em relacao as demaisDERE's visitadas, alguns poucosprofessores (casos isolados) conhe-ciam a proposta de Coletivo de Au-tores. Foi verificado que o acessodos professores a perspectiva crib-co-superadora da Educacao Fisicase estabelecia atraves das publicacOesem formato de politica de ensino, oque gerava urn entendimento limita-do dos conceitos que fundamentamessa proposicao, pois essas publica-cOes nao aprofundam esses concei-tos o quanto o livro consegue fazer,e isso se agrava na publicacao dos"subsidios para organizacao da pr-tica pedagOgica nas escolas Edu-cacao Fisica", na qual a enfasedada a listagem de contealos pos-siveis de serem selecionados paratrabalhar durante as aulas.

    Num segundo momento, verifi-cou-se que, enquanto a propostaapresentava conceitos e principioscurriculares para tratar o conteiido

  • 102 MotrivivVncia

    durante as aulas de Educacao Fisi-ca, os professores utilizavam-se orade aspectos aleatbrios para selecio-nar e organizar os conteCidos, acon-tecendo aulas sem seqUencia, orde-nacao, pedagogizacao, e ora de as-pectos deterministas, acontecendoaulas a partir da opcao/especializa-cab esportiva do professor em ques-tao. Quando o professor, por exem-plo, tinha experiencias acumuladasem futsal, os alunos teriam que46aprender", quase que exclusiva-

    mente, esta modalidade esportiva.Por fim, outro momento que evi-

    dencia contradicties o descom-passo entre as instincias adminis-trativas e a realidade de cada unida-de escolar. Urn exemplo disso noentendimento e conceitos que ver-sam acerca do que Educacdo Fi-sica na proposta e suas condicOesobjetivas para por em pratica essascompreensOes. Vejamos: se a Edu-cacao Fisica urn componentecurricular igual aos demais, o quejustifica sua colocaco fora da gra-de horaria do turno regular do alu-no? Isso, inclusive, contradiz a prO-pria Instruco Normativa em vigor6,que afirma que as aulas de Educa-co Fisica devem acontecerprioritariamente no turno regular doaluno e o que acontece realmente a prioridade inversa.

    Consideraciies finais

    Este texto se propOs a apresen-tar uma dimensao de Politica Pithli-ca na area de Educacao Fisica/Es-porte/Lazer que n se apresentas-se como urn setor especffico7 dapolitica de lazer, mas que se vincu-lasse a politica educacional, tratan-do a Educacao Fisica enquanto urncomponente curricular na escola, enao se detendo especificamente aoesporte.

    Refletir acerca de Politicasli-cas a partir de uma experienciaacontecida dentro de uma N deoperacionalizacao de uma dimen-sao setorial de educagdo uma ta-refa dificil. Inicialmente, pela prOpriacomplexidade de entendimento dotermo Politica Palica e, posterior-mente, pelo distanciamento existen-te entre o que esta elaborado e pro-jetado e o que vem a ser efetivamen-te operacionalizado.

    No que se refere ao entendimen-to, constata-se que, no campo teO-rico, as discuss6es nao se tornammenos complexas, pois "a literatu-ra pertinente enfatica ao reconhe-cer o modo heterogeneo e ambiguocomo se classificam os varios auto-res na pluralidade de abordagensteOrico-metodolOgicas existentessobre as politicas (Azeve-

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    do, 1997, p. 7). Em se tratando deuma conceituacao, a importanteconsiderar dois pianos: urn, maisabstrato e outro mais concreto. Noprimeiro, o Estado se apresentacomo o locus da condensacao dotecido social, tendo presente as es-truturas de poder, de dominacao eos conflitos; no segundo a maqui-na governamental e o seu principalreferente, em que se considera osrecursos de poder que operam nasua definicao (Azevedo, 1997, p. 5).Sendo assim, sac) as Politicas PUbli-cas que materializam o Estado, ouseja, estas Sao "o Estado em acao".(Jobert e Muller apud Azevedo,1997, p. 60). Investigando como sede o surgimento de uma PolfticaPCtblica, a autora afirma que estadeve ter origem numa questo quese toma socialmente problematizadae que exige atuacao do Estado.

    Diante dessas refer8ncias, con-frontando corn dados da experien-cia descrita, evidencia-se que o de-senvolvimento da Educaco Fisicano estado de Pernambuco vem, mes-mo corn urn movimento contraditO-rio nas awes pedagOgicas dos pro-fessores, se dando corn urndirecionamento de Politicas PUblicas,principalmente de politicas educaci-onais assumidas, ate mesmo, porpianos de acOes governamentais degestOes e gestores distintos, ou seja,

    ao longo dos anos, orientacOes acer-ca da Educacao Fisica como com-ponente curricular, mesmo corn di-vergencias e diferencas, vem sendoestabelecidas enquanto uma politi-ca de ensino que procura preservaruma matriz teOrica: Educacao Fisicanuma perspectiva critico-superadora.No entanto, a possivel reconhecer,tambern, que a construcao de umateoria acerca da Educacao Fisica naperspectiva critico-superadora fazparte de urn movimento mais am-plo da producao do conhecimentona area a nivel nacional, portanto, in-fluenciando tambern as Politicasblicas, inclusive, alem das divisas doestado de Pernambuco8. Enfim, ve-rifica-se que em Pemambuco, pelomenos desde 1987, o desenvolvi-mento da Educacao Fisica enquan-to urn componente curricular na es-cola se da ern duas vias: tanto a pro-ducao da area, em ambito nacionale especificamente a producao loca-lizada em acOes/elaboracOes de es-tudiosos do prOprio Estado, influen-ciando a politica educacional, quan-to a politica educacional fornecendoorientacoes para a Ka docente napratica pedag6gica da Educacao Fi-sica.

    Ja, no que se refere ao distan-ciamento entre o que a projetado eo que a realizado, verifica-se que, napolitica educacional, "nao se pode

  • 104 MotriviVincia

    esquecer que a escola e principal-mente a sala de aula sao espacos emque se concretizam as definicOessobre a politica e o planejamento queas sociedades estabelecem para siprOprias, como projeto ou modeloeducativo que se tents por em Ka.0 cotidiano escolar, portanto, repre-senta o elo final de uma complexacadeia que se monta para darconcretude a uma politica, entendi-da aqui como urn programa de acao"(Azevedo, 1997, p. 59).

    Partindo desse pressuposto, veri-fica-se que o movimento contradit6-rio existente na implementacao des-sa perspectiva de Educacao Fisica nasescolas da rede pUblica estadual, prin-cipalmente no sertao de Pemambuco,n se apresenta simplesmente comoincoerencia, mas sim resultante doprOprio processo histOrico e contra-ditOrio da construcao/elaboracao doconhecimento em uma determinadaarea das praticas sociais.

    No estudo de Santos e Silva (1996)reconhece-se que as Ns:5es de umapratica social, e neste caso da praticapedagOgica da Educacao Fisica naescola, n acontecem de forma iso-lada. Estas sao frutos das relacOes so-dais dos homens entre si e deles corna natureza. A Educacao Fisica, naperspectiva ditico-superadora, portan-to, uma pratica pedagOgica resultan-te da prOpria histOria de construcao/

    elaboracao do conhecimento na area,tanto no que conceme a producao te-Orica quanto a implementacao de Po-liticas

    Referncias bibliografi-cas:

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    PERNAMBUCO, Secretaria de Educa-c'do e Esportes de. Colegdo Profes-sor Paulo Freire - politica de ensi-

  • Ano XI, ng I2, maio/1999 105

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    Notas1 "Integrada por quadros docentes

    considerados refer8ncias nas suasareas de conhecimento e do sabere destinada a contribuir para aatualizacao periOdica do professo-rado" (PEE 1996-1999, p. 44).

    2 0 Programa de Oficinas Pedag6gi-cas a uma das awes do Programade Educacao Fisica, Esporte e Lazer,contido no Plano Estadual de Edu-cacao 1996-1999 de Pemambuco e

    voltado para a formaco continu-ada em servico, priorizando "a re-flexao sisternatica sobre a praticapedagOgica do professor em sala deaula" (PEE 1996-1999, p. 44). Noano de 1997, o referido Programaapresentou-se com um formato decursos corn 40 horas-aula aconte-cidos geralmente nas sedes das pro-prias Diretorias Executivas Regionaisde Educacao (DERE's), num regi-me de trabalho intensivo de uma se-mana. 0 Programa, buscando oaprofundamento das discussOes vei-culadas corn a Politica Educacionalem Pernambuco, tratou de temasespecfficos da area, tais como: "0esporte ldico-solidario", "Avaliacaoem Educacao Fisica","Planejamentoparticipativo", "Abordagem pedagO-gica do jogo na escola", "Aborda-gem pedagOgica da ginastica naescola" e "Aprendizagem em Edu-cacao Fisica e Esportes".

    3 Diretorias Executivas Regionais deEducacao: o estado de Pernam-buco, frente a estruturaco geogra-fica de seu sistema educacional,dividido em 17 micro-regi6es. Cadauma dessas a responsavel pelogerenciamento das escolas

    estaduais localizadas em mu-nicipios diferentes, mas que ficamjuridicionadas a uma DERE.

    4 A Proposta Oficial da Rede Estadu-al de Pernambuco para o ensino daEducacao Fisica tern sua fundamen-tacao-base na perspectiva critico-superadora e possui, em format() depolitica educacional, o seguinte per-

  • 106 Motrivilkinc ia

    curso: desde 1987 vem acontecen-do, na rede de ensino pUblico esta-dual, urn processo de discussesacerca da pratica pedagOgica emdiferentes areas do conhecimentopresentes no curriculo do ensino fun-damental e medio. A Educacao Fi-sica, por muitas vezes pioneira nes-se percurso, fez parte desse proces-so e publicou, em 1989, durante ogoverno de Miguel Arraes, o livro"Contribuiceies ao debate do curri-culo em Educacao Fisica: uma pro-posta para a escola pliblica", carac-terizando-se como Proposta de Pro-grama Oficial da Rede para essecomponente curricular. Em 1992 foipublicado o livro "Metodologia doensino de Educacao Fisica", produ-co de urn coletivo de autores queapresenta a Proposta de Programapara a Educacao Fisica dePernambuco, ampliando discussOeste6rico-metodolOgicas e aprofun-dando conceitos acerca do ensinodesse componente curricular na es-cola. Tambem em 1992, agora nogovern de Joaquim Francisco, foieditada a Colecao Professor CarlosMaciel "Subsidios para a organi-zacao da pratica pedag6gica nas es-colas", a qual tratava, no seu volu-me 14, acerca da Educacao Fisica,colocando-se como Proposta deprograma para seu ensino nas es-colas ptiblicas estaduais. Na atualgestao do governo de Miguel Arraes,permanece como proposta curri-cular vigente em Pernambuco, aColecao Professor Carlos Maciel. No

    entanto, esta passou por uma revi-se e segue agora uma orientacao,contida na Colege Professor PauloFreire "Politica de ensino eescolarizacao basica", publicada em1998, que busca urea reorganiza-ceo da dinamica da escola, tendocomo referencia conceitos comotransposicao didatica, camposconceituais, situagOes didaticas, in-dicadores de desempenho, etc.

    5 Compreendendo competncias es-pecificas como o conhecimento dasteorias acerca dos conteildos de en-sino da Educacao Fisica na escola(logo, esporte, luta, danca, ginesti-ca...), assim como o conhecimentodas teorias didatico-pedagOgicas.

    6 Encontra-se em vigor a InstrucaoNormativa n2 01/96 DES/SEE,que "orienta a dinamica e funcio-namento da Educacao Fisica e Es-porte Escolar nas escolas da redepublica estadual de ensino (...), con-siderando a Educacao Fisica comodisciplina curricular obrigatOria".

    7 Mesmo em meio a diferentes abor-dagens e compreens6es de Politi-cas Pablicas, podem ser identifi-cados setores especificos desta,tais como: saiide, educacao, trans-portes, seguranca e ate o lazer.

    8 A esse respeito podem ser citadas,como exemplo, as proposicOescurriculares para o ensino da Edu-cacao Fisica nas redes municipaisde Florian6polis/SC e Cuiaba/MT,as quais possuem referencias be-sicas na perspectiva critico-superadora.