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POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS
NOS MUNICÍPIOS: UMA ANÁLISE DE
AGRUPAMENTOS NOS MUNICIPIOS DE
MATO GROSSO DO SUL
THIAGO ROCHA DE CAMARGO (ufms)
Leonardo Francisco Figueiredo Neto (ufms)
WLADIMIR MACHADO TEIXEIRA (ufms)
Eduardo Morais de Oliveira (ufscar)
O objetivo deste trabalho é analisar se a existência ou não de órgão
ambiental nos municípios de Mato Grosso do Sul e através de um
método quantitativo apontar quais características poderiam explicar
essa situação levantada bem como obter iinformações úteis aos
gestores públicos para a tomada de decisões atentando às
necessidades ambientais, cumprindo as regulamentações vigentes e
promovendo sustentabilidade aos municípios. Diante deste
questionamento esses municípios foram separados em grupos através
de uma ferramenta estatística chamada Análise de Agrupamentos, em
que são analisadas as características individuais de cada grupo
testando a hipótese em que a escolaridade dos gestores públicos
influencie na existência ou não de um órgão gestor de meio ambiente
nos municípios. Ao longo da presente pesquisa foram feitas análises de
agrupamentos buscando confirmar se: o grau de escolaridade
influencia na decisão de se ter ou não um órgão gestor de meio
ambiente. À hipótese nula concluiria que não há correlação entre
escolaridade dos gestores. Os resultados mostraram que, nos
municípios do estado de Mato Grosso do Sul, a escolaridade não é o
fator de maior influência na decisão do gestor de implantar uma
secretaria de gestão pública ambiental. Analisando os gestores dos 78
municípios individualmente foi constatado que 50 deles ou 64%, da
população pesquisada, já possui graduação, pós-graduação ou está
cursando enquanto que, 68 municípios, ou seja, 87%, da população
pesquisada, possui algum órgão, setor ou secretaria de meio ambiente
implantado.
Palavras-chaves: Gestão publica ambiental, sustentabilidade, análise
de agrupamento
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
Com a revolução industrial seguida da revolução agrícola o homem vem percebendo que a
necessidade da produção de bens de consumo motivada pelo crescimento populacional vem
gerando conflitos entre ele e a natureza. Dessa forma há alguns anos vem crescendo uma
corrente de preocupação com o desmatamento das florestas e as consequências desse processo
desenfreado.
Alguns eventos marcam a história na questão ambiental e norteiam as próximas ações dos
governos. Como exemplo, a Conferência de Estocolmo em 1972, que insere gestão ambiental
nas discussões empresariais e públicas entre os países que se preocupam com o
desenvolvimento, de forma a atender uma responsabilidade ambiental. Nas décadas de 70 e
80, governos e ativistas sociais foram historicamente os mais proeminentes elementos a
dirigirem as práticas ambientais corporativas. O ambientalismo agiu como uma restrição
regulatória imposta pelo governo e as empresas tiveram de atender a essa regulação com o
intuito de fugir tanto a sanções legais (penalidades civil, administrativas e criminais) quanto
sociais (protestos, pressões negativas, redução na reputação e na imagem da empresa)
(HOFFMAN, 2000 apud SOUZA, 2002).
Vinte anos depois foi realizada no Brasil a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como “Rio 92”. Nessa conferência 179 países
assinaram um documento chamado “Agenda 21 Global” um programa de ação de um novo
tipo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável. No Brasil a Agenda 21 ganhou
modelos a nível nacional, estadual e municipal passando a ser chamada de “Agenda 21
Local”. Pelo fato de ser um programa é uma tarefa conjunta do Governo e da Sociedade Civil.
Para se fazer cumprir cada passo deste se faz necessário que o agente coordenador seja o
governo que, neste trabalho, será chamado de poder público.
A necessidade de cumprir a Agenda 21 e a preocupação com o meio ambiente, independente
dos acordos assinados, gera alguns questionamentos: Os municípios desenvolvem alguma
política pública ambiental? Possuem ou não algum órgão ambiental diretamente ligado ao
poder público? Quais características dos municípios são limitantes ou fomentadoras à política
pública ambiental?
O objetivo deste trabalho é analisar se a existência ou não de órgão ambiental nos municípios
de Mato Grosso do Sul e através de um método quantitativo apontar quais características
poderiam explicar essa situação levantada bem como obter informações úteis aos gestores
públicos para a tomada de decisões atentando às necessidades ambientais, cumprindo as
regulamentações vigentes e promovendo sustentabilidade aos municípios.
Diante deste questionamento esses municípios serão separados em grupos através de uma
ferramenta chamada Análise de Agrupamentos, e serão analisadas as características
individuais de cada grupo testando a hipótese em que a escolaridade dos gestores públicos
influencie na existência ou não de um órgão gestor de meio ambiente nos municípios.
2. O estado de Mato Grosso do Sul – algumas considerações
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O estado de Mato Grosso do Sul, de acordo com o censo de 2010 do IBGE, possui 78
municípios, conforme figura 1, uma área total de 357.145,84 Km² de extensão, alcançou a
quantidade de, aproximadamente, 2,5 milhões de habitantes.
O Índice de Desenvolvimento do Estado, em 2000, foi de 0,778, tendo posição de 7º melhor
desenvolvimento por estado brasileiro de acordo com o Programa das Nações Unidas pra o
Desenvolvimento - PNUD, na publicação do Atlas de Desenvolvimento Humano onde esse
índice é classificado como IDH - MÉDIO. Entre os municípios do estado, Chapadão do Sul,
São Gabriel do Oeste e Campo Grande se posicionam entre os 500 de melhor
desenvolvimento no Brasil.
Um estudo feito por Sobel et al (2009), mostrou o estado é dividido em dois grupos com base
nas informações do PNUD: grupo de MÉDIO desenvolvimento humano; grupo de ALTO
desenvolvimento humano e nesse último estão apenas Costa Rica, São Gabriel do Oeste e
Campo Grande, conforme figura 1.
.
Fonte: Sobel et al (2009)
Figura 1. Desenvolvimento Humano no Mato Grosso do Sul segundo classificação do PNUD
Em relação à capacidade econômica, enquanto o Brasil foi, até 2011, o maior exportador e o
segundo maior produtor mundial de carne bovina, de acordo com a Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carnes - ABIEC, nesse cenário, em 2010, o Mato Grosso do Sul
foi o terceiro maior produtor no Brasil, atrás de Mato Grosso e São Paulo. (MAPA, 2011).
Outra questão de relevância, o estado possui diversos rios afluentes do rio Paraguai e
inclusive o rio Taquari um dos principais formadores do Pantanal, de acordo com
(COLLISCHONN; TUCCI, 2012).
3. Políticas Públicas
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De acordo com Souza (2006) é necessário um estudo antológico é necessário para entender
desdobramentos, trajetórias e perspectivas de uma determinada área do conhecimento.
Buscando conceituar “políticas publicas”, ainda não se alcançou até o presente nem a única ou
a melhor definição, mas cada linha de pesquisa utiliza do conceito que melhor define o
fenômeno estudado. Alguns pesquisadores trouxeram alguns conceitos, como Mead (1995)
diz ser um campo dentro da política que analisa o governo frente às grandes questões
públicas. Lynn (1980) define como um conjunto de ações que irão produzir algun efeito
específico. Peters (1986) da mesma forma: a política pública é o produto de todas as
atividades do governo agindo de forma direta ou terceirizada influenciando diretamente a vida
dos cidadãos. Mas a definição mais conhecida é a de Laswell (1936) “decisões e análises
sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e
que diferença faz”.
Políticas públicas, como disciplina, surgiu na Europa, buscando explicar o papel do estado,
sendo o governo o produtor, por excelência, de políticas públicas. Enquanto nos EUA a
disciplina surge voltada, diretamente, às ações dos governos, não se atendo aos conceitos do
papel do estado (SOUZA, 2006).
No estudo sobre políticas públicas, Souza (2006) afirma que “em democracias estáveis, aquilo
que o governo faz ou deixa de fazer é passível de ser (a) formulado cientificamente e (b)
analisado por pesquisadores independentes”. Frey (2000) fazendo jus a posição de
pesquisador sobre as políticas do governo elabora três questionamentos: o primeiro,
questionamento clássico, parte da classificação do certo e verdadeiro, quando se questiona o
que é um bom governo capaz de suprir as aspirações da sociedade. O segundo,
questionamento político, trata da análise das forças e tendências políticas que influenciam
diretamente nas decisões, bem como a análise dos resultados. O terceiro ponto,
questionamento da análise de campos específicos, discute cada ramificação política seja
econômica, financeira, tecnológica, social ou ambiental.
Dessa forma, e mesmo com questionamentos de leque tão amplo, a disciplina políticas
públicas, tratada como uma subárea das ciências políticas foi introduzida nos EUA de forma
prática em 1948, quando Robert Namara estimulou a criação da RAND Corporation, empresa
não-governamental, que com recursos públicos reunia pesquisadores das mais diversas áreas
científicas para planejar quais atitudes o governo deveria tomar de uma forma racional
durante a guerra. Empresa considerada a precursora dos think tanks (SOUZA, 2006).
A formulação científica e a análise por pesquisadores independentes e os questionamentos
apresentados por Frey (2000) instigam duas linhas de raciocínio formuladas por Souza
(2006): as definições de políticas públicas devem ser minimalistas ou holísticas. Ou seja,
nessa dualidade analisa-se apenas o local (os participantes do fenômeno) ou levanta-se uma
visão do todo, somando as partes: indivíduos, instituições, interações, ideologias.
4. Gestão publica ambiental
Quando de trata em meio ambiente, desenvolvimento sustentável, há anos discute-se quem é o
responsável e pelo que. Os interessados nos problemas de gestão ambiental: os poluidores; os
interesses locais (comunidade afetada, ONGs e outros grupos civis); e os governos deveriam
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agir de forma organizada. Os poluidores se interessariam em agir de forma sustentavelmente
responsável desde que fossem esclarecidos das vantagens econômicas, legais e fiscais. Os
interessados locais ora se organizam para pressionar o poder público para a tomada de
decisões favoráveis ao meio ambiente, ora se posicionam de maneira inerte, sem se quer
tomar conhecimento dos acontecimentos ou das consequências futuras. Por sua vez, o
governo, pouco atende as necessidades ambientais, ensejos dos interessados locais; a
necessidade econômica e fiscal das empresas que estão se instalando em áreas de risco
ambiental ou que em áreas de pouco risco, embora o impacto seja relevante da mesma forma
(MARGULIS, 1996).
Esses interessados de acordo com um estudo do World Bank (1995) devem estar realmente
familiarizados com os instrumentos disponíveis para refrear e mitigar a poluição e a
degradação dos recursos naturais; e a disponibilidade financeira para formular e atingir as
metas em termos de qualidade e controle do meio ambiente.
Margulis (1996) ainda defende que há a necessidade regulamentação de ambiental e trouxe
exemplos de países que elaboraram plano de ação ambiental e afirmou que só desenvolveram
esse plano para cumprir as exigências formais do Banco Mundial. O autor ainda afirmou que
é necessário que haja ações de planejamento, mitigação dos impactos ambientais e contenção
da sedimentação dos rios como forma preventiva e não corretiva.
Os responsáveis pela regulamentação ambiental, ou da produção agropecuária que afeta
diretamente o meio ambiente, são as instituições, no caso governamental, que são as regras do
jogo, de acordo com North (1993).
Andres (2005) pesquisou municípios da bacia do Taquari no Rio Grande do Sul e constatou
uma dificuldade econômica e de recursos humanos. Ainda mais, comprovou que dos dez
municípios pesquisados, e que possuíam os maiores PIB naquela região, somente dois deles
possuíam secretaria de meio ambiente e condições financeiras favoráveis para
desenvolvimento dos trabalhos. Os outros oito municípios possuíam departamentos de meio
ambiente, mas vinculados a outras secretarias e dessa forma pouca e limitada condição
financeira e recursos humanos.
Esta pesquisa tomará por princípio a necessidade de regulamentação, fiscalização e atuação
por parte do poder público conforme a Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu art. 225,
afirma que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. No art.
23, incisos VI e VII a Constituição (BRASIL, 1988) aponta competência comum entre a
União, estado, distrito federal e municípios como sendo: “proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas”; e “preservar as florestas, a fauna e a flora”.
5. Metodologia
Com objetivo de analisar a gestão municipal dos municípios do estado de Mato Grosso do Sul
quanto a existência de política pública ambiental, especificamente se possui ou não um órgão
gestor de meio ambiente no município quais as características poderiam explicar essa situação
levantada bem como obter informações úteis aos gestores públicos para a tomada de decisões
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será utilizado o método de Análise de agrupamento ou de clusters. Esse tipo de analise busca
organizar um conjunto de casos em grupos homogéneos, de maneira que os indivíduos
pertencentes a um grupo são o mais semelhante possível entre si e diferenciados dos
restantes (MALHOTRA, 2001).
Considerando que o objetivo deste trabalho é analisar os grupos formados pelos municípios de
Mato Grosso do Sul, testando a hipótese de a escolaridade dos gestores públicos pode ser
fator de influência na existência ou não de órgão gestor de meio ambiente nos municípios,
foram escolhidas 06 (seis) variáveis na base de dados MUNIC-IBGE (2009) as quais são:
Geográficas e comportamentais: (1) População (por município); (2) Sexo do gestor;
Institucionais: (3) Existência de Conselho Municipal de Meio Ambiente; (4) a existência de
trabalhos concernentes ao cumprimento das exigências da agenda 21;
Variável que se quer explicar: (5) Órgão Gestor (existência);
Variável que se testa hipótese de Influência: (6) Escolaridade do gestor (Prefeito);
A base de dados utilizada para essa pesquisa possui inúmeras outras variáveis que configuram
objeto alvo para posteriores análises e não foram consideradas de maior relevância para este
estudo.
Primeiramente foi selecionada a variável: grau de escolaridade do gestor (6) como fator
decisivo ou de maior influência na implantação do órgão gestor de meio ambiente no
município, dentro da mesma análise buscou argumentos para explicar a relevância da
quantidade de habitantes de um município no aporte incentivador à essa implantação.
Com o universo pesquisado, constante dos 78 municípios que compõem o estado de Mato
Grosso do Sul no centro oeste brasileiro. Foram utilizados dados da Pesquisa de Informações
Básicas Municipais – MUNIC Meio Ambiente 2009, pesquisa realizada pelo IBGE. Para
chegar a uma possível explicação do motivo de alguns municípios possuírem órgão de gestão
ambiental municipal ou não, após o teste com a variável “escolaridade do gestor”, foi
realizado o teste com outra variável - Tamanho da população (1). Após os testes foi
necessário fazer a padronização dos dados e excluir os outliers..
6. Análise de agrupamento
A análise de agrupamento é utilizada toda vez que se estiver interessado em agrupar sujeitos
com determinadas características ou juntar características: considerando os sujeitos. Diante de
um conjunto de variáveis que se quer agrupá-los mediante características semelhantes, onde
dentro dos grupos as variáveis devem ficar de forma mais homogênea possível e fora deles o
mais heterogênea possível (CORRAR; PAULO; DIAS FILHO, 2007).
Diante das observações, os 78 municípios do estado de Mato Grosso do Sul, este trabalho
buscou separá-los em grupos que possuam alta similaridade intergrupo, e possuam alta
dissimilaridade entre grupos com o objetivo de encontrar uma ou mais características que
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difiram esses grupos e justifiquem o fato de uns municípios possuírem órgão de gestão
pública ambiental e outros não possuírem.
Essa ferramenta quantitativa é conhecida por diversas nomenclaturas: Q analysis, typology,
classification analysis, numerical taxonomy; análise de agrupamento, análise de
conglomerados (CORRAR; PAULO; DIAS FILHO, 2007). Neste artigo será usado apenas o
termo: análise de agrupamento.
A analise de agrupamento deve ser realizada através de etapas, de acordo com Corrar et al.
(2007) e define-as nos seis estágios: (1) definição dos objetivos; (2) delineamento da
pesquisa; (3) presunções; (4) determinação e avaliação dos grupos; (5) interpretação dos
grupos; (6) validação e definição dos perfis dos grupos.
Enquanto Vicini (2005) apresenta cinco etapas da estrutura básica da aplicação da Análise de
agrupamento: (1) formulação do problema; (2) tratamento dos dados; (3) Escolha de um
coeficiente de semelhança; (4) escolha de um processo de aglomeração ; e, (5) avaliação e
interpretação dos resultados.
Quanto aos estágios, foram seguidos os de Vicini (2005): a formulação do problema foi feita
ao apresentar a justificativa deste artigo que é apontar possíveis semelhanças entre municípios
que possuam ou não algum órgão de gestão pública ambiental e se o grau de escolaridade do
gestor executivo (prefeito) influencia ou não na criação desta pasta na prefeitura. Diante disso
a hipótese nula (H0) = escolaridade do prefeito não influencia na decisão. Já a Hipótese
alternativa (H1) = escolaridade do prefeito influencia.
O tratamento dos dados se dá por medida de distância euclidiana, os dados foram tratados e
padronizados. Muitas informações apareciam de forma qualitativa com respostas elaboradas.
Os dados foram padronizados todos numericamente.
O método aglomerativo escolhido foi o “encadeamento único (Single Linkage), que se baseia
na distância mínima, regra do vizinho mais próximo” (VICINI, 2005).
Inicialmente é feita a análise utilizando apenas duas variáveis buscando alguma significância.
Foram selecionadas as variáveis Órgão Gestor (existe ou não órgão gestor no município) e
Escolaridade (apresenta a escolaridade do gestor, chefe do executivo).
Para a análise de agrupamento foi utilizado a base de dados do MUNIC – Pesquisa de
Informações Básicas Municipais - IBGE (2009), conforme anexo 1.
De acordo com o dendograma, que segue, os municípios aparecem separados em dois grandes
grupos, essa visualização deve, e só aí pode ser feita antes de se fazer uma linha de corte
horizontal para separar em outros grupos.
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Fonte: dados da pesquisa
Figura 2 - Dendograma
Ao fazermos um corte no dendograma de forma que a similaridade alcance aproximadamente
87%, representado por uma linha horizontal, é visível a formação de 3 (três) grupos.
Algumas características dos grupos são observadas;
Grupo 1 – Todos os gestores deste grupo possuem pós-graduação, apenas uma
prefeitura não possui órgão gestor (nove possuem), a população desses municípios varia entre
5 mil e 50 mil habitantes, neste grupo apenas Campo Grande faz parte com mais de 500 mil
habitantes. Este grupo é composto por 09 (nove) prefeituras.
Grupo 2 – Esse é o maior grupo com 47 municípios e nenhum gestor possui pós-
graduação, apenas 4 gestores possuem graduação, todas as prefeituras possuem órgão gestor,
apenas 5 das 47 prefeituras não possui trabalhos da agenda 21.
Grupo 3 – Todos os gestores deste grupo possuem Ensino superior completo,
nenhuma prefeitura conta com órgão gestor, cidades médias entre 20 mil e 100 mil habitantes.
Este grupo possui 3 (três) prefeituras.
Comparando os grupos 3 e 2 vemos que no grupo 2 todas as prefeituras deste possuem
órgão gestor e apenas 4 dos 47 gestores (prefeitos) possuem escolaridade de nível superior e
nenhum deles possui pós-graduação. Pode-se perceber que a escolaridade do gestor não
influencia a criação de um órgão responsável pelo meio ambiente na prefeitura, ou mantê-la,
haja vista que não necessariamente foi criada por este. Já no grupo 3 todos os prefeitos
possuem curso superior e nenhuma prefeitura possui o órgão gestor de meio ambiente. O grau
de escolaridade não foi relevante para leva-lo a implantar a pasta em sua prefeitura.
Numa outra possibilidade de a quantidade de habitantes ser fator de influência, pode-se
observar os grupos 1 e 3. No grupo 1 todos os gestores possuem pós-graduação e o grupo
conta com municípios entre 5 e 20 mil habitantes e apenas uma prefeitura não conta com
órgão gestor. De outro lado, no grupo 3, todos os prefeitos possuem grau de escolaridade com
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nível superior, nenhum possui pós-graduação, conta com cidades médias entre 20 e 100 mil
habitantes e nenhuma delas possui órgão gestor.
De acordo à visualização do dendograma apresentado, algumas observações (municípios) não
foram enquadradas em nenhum dos 03 grupos até aqui descritos. Destes foram 18 municípios
que ficaram fora dos grupos ao se traçar um corte com alcance de 87% de similaridade entre
os grupos.
Esses 18 municípios que possuem características relevantes e em relação ao universo
pesquisado representam 23% do total. O mapa na figura 3 apresenta os municípios do estado
de Mato Grosso do Sul separados em seus respectivos grupos:
- tratando-os como um grupo, embora a análise estatística não os tenha disposto como um,
neste grupo todos os gestores possuem ou estão completando graduação, apenas 1 município
desenvolve trabalhos da agenda 21 sendo o menor município deste grupo (em habitantes)
possuindo, inclusive, secretaria exclusiva de meio ambiente, o único; os outros 11 municípios
possuem algum órgão, setor ou secretaria de meio ambiente.
Fonte: Adaptado de < cidades.com.br>, acessado em 25/04/2012
Figura 3. Divisão geográfica dos municípios de Mato Grosso do Sul
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Também foram feitos testes, na análise de agrupamentos, para confirmar se a quantidade de
habitantes em uma cidade influencia na decisão de se ter ou não um órgão gestor na prefeitura
em determinado município. O objetivo era encontrar algum outro fator, dentre os selecionados
na base de dados que responderiam ao fenômeno pesquisado.
Assim como o “grau de escolaridade os resultados encontrados não mostraram associação
entre os fatores. Nesta segunda análise visualizando os resultados e comparando-os ao
tamanho dos municípios, em quantidade de habitantes, verificou-se a alta aleatoriedade entre
os municípios. Não foi possível identificar o separá-los em grupos, por quantidade. Como no
caso do último grupo apresentado, com os 18 municípios que não se enquadrava, o menor
deles possuía secretaria própria de meio ambiente e ações da agenda 21.
7. Considerações Finais
Ao longo da presente pesquisa foram feitas análises de agrupamentos buscando confirmar se:
o grau de escolaridade influencia na decisão de se ter ou não um órgão gestor de meio
ambiente. À hipótese nula concluiria que não há correlação entre escolaridade dos gestores.
Os resultados mostraram que, nos municípios do estado de Mato Grosso do Sul, a
escolaridade não é o fator de maior influência na decisão do gestor de implantar uma
secretaria de gestão pública ambiental. Analisando os gestores dos 78 municípios
individualmente foi constatado que 50 deles ou 64%, da população pesquisada, já possui
graduação, pós-graduação ou está cursando enquanto que, 68 municípios, ou seja, 87%, da
população pesquisada, possui algum órgão, setor ou secretaria de meio ambiente implantado.
Buscou também encontrar outras variáveis que para confirmar algumas associações. Por
exemplo, se quantidade de habitantes em uma cidade influencia na decisão de se ter ou não
um órgão gestor na prefeitura em determinado município. O objetivo era encontrar algum
outro fator, dentre os selecionados na base de dados que poderiam mostrar alguma relação
com fenômeno pesquisado.
Assim como o “grau de escolaridade os resultados encontrados não mostraram associação
entre os fatores. Nesta segunda análise visualizando os resultados e comparando-os ao
tamanho dos municípios, em quantidade de habitantes, verificou-se a alta aleatoriedade entre
os municípios. Não foi possível identificar o separá-los em grupos, por quantidade. Como no
caso do último grupo apresentado, com os 18 municípios que não se enquadrava, o menor
deles possuía secretaria própria de meio ambiente e ações da agenda 21.
Estes resultados fazem oportuno outras análises com outras variáveis, talvez buscando outras
bases de dados dos municípios. Neste trabalho não foi testado se as obrigações institucionais,
defendidas por North (1993), onde as instituições precisam cumprir as regras do jogo e criam
ações apenas com o objetivo de às cumprir. Mas esta outra análise fica proposta para outras
pesquisas.
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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
12
ANEXO I
Tabela com a base de dados MUNIC-IBGE (2009)
MS
Po
pu
laçã
o
Ó.
Ge
sto
r
Esco
lari
da
de
Se
xo
C.
Mu
nic
ipa
l
Ag
en
da
21
MS
Po
pu
laçã
o
Ó.
Ge
sto
r
Esco
lari
da
de
Se
xo
C.
Mu
nic
ipa
l
Ag
en
da
21
1 103 3 15 34 42 2 1 37 103 3 20 30 42 2 1
2 103 1 17 31 42 1 1 38 103 3 17 34 42 1 1
3 103 4 18 37 42 2 1 39 103 2 18 32 42 2 1
4 103 4 19 37 42 1 1 40 103 3 15 35 42 2 1
5 103 2 17 34 42 2 1 41 103 3 17 37 43 2 0
6 103 2 17 35 42 1 2 42 103 4 16 37 42 1 1
7 103 2 19 32 42 2 1 43 103 2 17 32 42 1 1
8 103 4 19 34 42 2 1 44 103 2 17 32 42 2 1
9 103 4 17 35 42 2 1 45 103 4 20 32 42 2 0
10 103 2 19 34 42 2 2 46 103 1 18 37 42 2 0
11 103 2 17 34 43 2 1 47 103 2 20 32 42 2 1
12 103 3 19 34 42 2 1 48 103 3 15 34 42 2 1
13 103 3 17 34 42 2 1 49 103 2 18 35 42 2 1
14 103 4 17 32 42 2 1 50 103 4 17 35 42 2 1
15 103 2 17 34 42 2 1 51 103 4 17 34 42 2 1
16 103 3 18 34 42 1 1 52 103 3 17 32 42 2 0
17 103 3 19 34 42 2 1 53 103 4 17 32 42 1 1
18 103 4 17 32 42 1 1 54 103 3 15 35 43 2 1
19 103 3 19 34 42 2 1 55 103 3 17 32 42 2 2
20 103 7 17 37 42 1 0 56 103 4 17 34 42 1 1
21 103 2 17 34 43 1 1 57 103 1 19 30 42 2 2
22 103 4 17 34 42 2 1 58 103 4 18 33 42 2 0
23 103 3 19 32 42 1 1 59 103 3 18 30 42 1 1
24 103 1 17 32 42 2 1 60 103 2 15 34 43 2 1
25 103 3 19 31 42 1 1 61 103 5 19 34 42 2 1
26 103 5 17 37 42 2 1 62 103 3 18 30 42 1 0
27 103 3 17 34 42 1 1 63 103 4 19 34 42 2 0
28 103 4 15 34 43 2 1 64 103 4 17 32 42 2 2
29 103 3 15 34 42 2 1 65 103 2 17 34 42 2 1
30 103 2 17 37 42 1 1 66 103 3 15 34 42 2 1
31 103 2 17 30 42 2 1 67 103 1 19 30 42 2 1
32 103 6 16 32 42 2 1 68 103 2 15 37 43 2 1
33 103 3 17 34 43 2 1 69 103 4 17 34 42 2 1
34 103 3 19 34 43 2 1 70 103 3 19 34 42 1 1
35 103 1 17 32 42 2 1 71 103 2 20 34 42 2 1
36 103 2 17 37 42 2 1 72 103 4 17 32 42 2 1