polÍticas de educaÇÃo do campo nos governos pÓs-neoliberais do brasil, argentina e paraguai e a...

Upload: felipecordeirodarocha

Post on 10-Jan-2016

7 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

TCC do curso de Ciência Política e Sociologia da Universidade federal da Integração Latino-AmericanaFelipe Cordeiro da Rocha

TRANSCRIPT

  • INSTITUTO LATINO-AMERICANO DEECONOMIA, SOCIEDADE E POLTICA

    (ILAESP)

    CINCIA POLTICA E SOCIOLOGIA SOCIEDADE, ESTADO E POLTICA NA

    AMRICA LATINA

    POLTICAS DE EDUCAO DO CAMPO NOS GOVERNOS PS-NEOLIBERAIS

    DO BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI E A SITUAO DA EDUCAO DO

    CAMPO NA TRPLICE

    FELIPE CORDEIRO DA ROCHA

    Foz do Iguau2014

  • INSTITUTO LATINO-AMERICANO DEECONOMIA, SOCIEDADE E POLTICA (ILAESP)

    CINCIA POLTICA E SOCIOLOGIA SOCIEDADE, ESTADO E POLTICA NA AMRICA

    LATINA

    POLTICAS DE EDUCAO DO CAMPO NOS GOVERNOS PS-NEOLIBERAIS DO

    BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI E A SITUAO DA EDUCAO DO CAMPO NA

    TRPLICE FRONTEIRA

    FELIPE CORDEIRO DA ROCHA

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado aoInstituto Latino-Americano de Economia,Sociedade e Poltica da Universidade Federal daIntegrao Latino-Americana, como requisitoparcial obteno do ttulo de Bacharel emCincia Poltica e Sociologia Sociedade, Estado e Poltica na Amrica Latina.

    Orientador: Prof. Dra. Renata Peixoto de Oliveira

    FOZ DO IGUAU2014

  • FELIPE CORDEIRO DA ROCHA

    POLTICAS DE EDUCAO DO CAMPO NOS GOVERNOS PS-NEOLIBERAIS

    DO BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI E A SITUAO DA EDUCAO DO

    CAMPO NA TRPLICE FRONTEIRA

    Trabalho de Concluso de Cursoapresentado ao Instituto Latino-Americanode Economia, Sociedade e Poltica daUniversidade Federal da Integrao Latino-Americana, como requisito parcial obteno do ttulo de Bacharel em CinciaPoltica e Sociologia Sociedade, Estado e Poltica na AmricaLatina.

    1 BANCA EXAMINADORA

    Foz do Iguau, 4 de dezembro de 2014.

  • Dedico com amor ao meu pai Odlio Cordeiro da Rocha (em memria) e

    minha me Luclia Constantino (em memria); minha madrasta, Neuci

    vila, a quem considero como minha segunda me; aos meus irmos e

    irms; minha companheira de todas as horas Deise Martins e ao meu filho

    Adrian Filipe.

  • Agradeo muito a minha esposa Deise Martins e ao meu filho Adrian Filipe pelo

    apoio nos momentos mais difceis e pela pacincia e pelo carinho dispensado em

    todo este perodo com certeza sem a ajuda da minha famlia no seria possvel

    avanar na construo deste trabalho, alm disso, agradeo aos professores e

    alunos da escola Augusto Roa Bastos de Minga Guaz Paraguai e da escola bsica

    393, assim como, aos meus amigos que fiz no assentamento do Movimento dos

    Trabalhadores Rurais Sem Terra de So Miguel do Iguau e da Escola Itinerante

    sementes do Amanh, sem esquecer-me de pessoas que muito contriburam na

    elaborao deste trabalho e dentre elas destaco a coordenadora de educao do

    campo do Ncleo Regional de Educao de Foz do Iguau Lda Maria de Souza, ao

    meu amigo do Grupo de Estudos e Pesquisas da Educao do Campo (GEPEC) da

    Universidade Federal de So Carlos Jos Leite Neto e ao professor da Universidade

    Catlica de Assuno Dominique Demelenne.

  • A liberdade, que uma conquista, e no uma

    doao exige uma permanente busca. Busca

    permanente que s existe no ato responsvel de

    quem a faz. Ningum tem liberdade para ser livre:

    pelo contrrio, luta por ela precisamente porque

    no a tem.

  • ROCHA, Felipe Cordeiro: Polticas de Educao do Campo nos Governos Ps-Neoliberais do Brasil,Argentina e Paraguai e a Situao da Educao do Campo na Trplice Fronteira. 2014. Nmero depginas: 70. Trabalho de Concluso de Curso de Bacharel em Cincia Poltica e Sociologia pelaUniversidade Federal da Integrao Latino-Americana, Foz do Iguau, 2014.

    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo analisar as polticas formuladas para a educao

    do campo nos ltimos dez anos, sob a gide dos governos chamados progressistas

    de Nestor e Cristina Kirchner na Argentina, Luiz Incio Lula da Silva e Dilma

    Rousseff no Brasil e Fernando Lugo que governou o Paraguai entre 2008 e 2011. O

    objetivo aqui perceber se estas polticas tm conseguido avanar rumo

    diminuio das assimetrias sociais entre o campo e a cidade atravs da educao.

    De uma maneira geral, pretendem-se analisar estas polticas e confront-las com a

    realidade das populaes do campo e a partir disto perceber quais so alguns dos

    seus principais desafios.

    importante ressaltar que o trabalho de campo foi realizado em trs escolas rurais,

    localizadas na cidade paraguaia de Minga Guaz no Alto Paran, Wanda na

    provncia argentina de Misiones e na cidade brasileira de Matelndia no estado do

    Paran e se deu atravs de entrevistas com pais, alunos e professores e da

    observao participante.

    A preocupao apresentada com os nveis de educao rural justifica-se pelos

    altos ndices de analfabetismo apresentados pelas regies rurais dos trs pases

    em comparao com os ndices apresentados nas regies urbanas.

    Evidencia-se, no entanto, que houvera avanos quanto a formulao e

    implementao de polticas educativas para os camponeses, porm cabe destacar

    que estas polticas no podem estar dissociadas de medidas sociais e econmicas

    que garanta sua permanncia no campo e respeite suas caractersticas e os

    governos chamados progressistas que se elegeram com o apoio dos movimentos

    sociais do campo com o compromisso de fazer reforma agrria acabaram por

    secularizar este compromisso.

    Palavras-chave: Educao Rural, Polticas Pblicas, Trplice Fronteira.

  • ABSTRACT

    This thesis aims to analyze the policies formulated in the last years under the aegis

    of the so-called progressive Governments of Nestor and Cristina Kirchner in

    Argentina, Luiz Incio Lula da Silva and Dilma Rousseff in Brazil and Fernando

    Lugo in Paraguay for the education of the people from the countryside and if these

    policies have achieved progress towards the reduction of social imbalances

    between the countryside and the city through education.

    In General, it intends to analyze these policies and confront them with the reality of

    countryside populations and from this, realize what some of their main challenges

    are. Besides, this paper is in quest of finding if there are any linkages between

    these policies formulated in the three countries within the framework of

    MERCOSUL.

    In methodological terms, it is important to note that the field work was conducted in

    three rural schools located in the Paraguayan city of Minga Guaz in Alto Paran,

    Wanda in the Argentine Province of Misiones and in the Brazilian city of Matelndia

    in Paran State, through interviews with parents, students, teachers and participant

    observation.

    The concern presented with the levels of rural education is justified by high rates of

    illiteracy presented by countryside regions from the three countries compared with

    the indexes presented in urban regions.

    Keywords: Rural Education, Public Policies, Triple border.

  • Lista de ilustraesIlustrao 1: Escola Bsica Augusto Roa Bastos ...................................................................58

    Ilustrao 2: Escola Bsica 393..............................................................................................60

    Ilustrao 3: Escola Estadual Itinerante Sementes do Amanh..............................................62

  • Lista de tabelasTabela 1: Estabelecimentos pblicos da educao mdia segundo nvel de governo 1977-

    1987........................................................................................................................................30

    Tabela 2: Porcentagem de assistncia a instituies educativas por faixa etria populao

    urbana e rural na argentina 2001..........................................................................................30

    Tabela 3: Mximo nvel de instruo alcanado. Composio percentual da populao maior

    de 15 anos 2001...................................................................................................................32

    Tabela 4: Indicadores demogrficos e econmicos e taxa de alfabetizao no Brasil 1900-

    1950........................................................................................................................................34

    Tabela 5: Contribuio dos principais setores na taxa de crescimento do PIB(Em

    porcentagem)..........................................................................................................................39

    Tabela 6: Mdia de anos de estudo da populao com 15 anos ou mais no Paraguai 2000

    e 2010......................................................................................................................................40

    Tabela 7: Anos de estudo de chefes de famlia populao de 20 anos ou mais no Paraguai

    2007........................................................................................................................................40

    Tabela 8: Proficincia dos alunos de portugus e matemtica na 4 e 5 ano do Ensino

    Fundamental...........................................................................................................................45

    Tabela 9: Porcentagem de pobreza da populao rural e total (1995-2009)...........................48

    Tabela 10: Nmero de Estabelecimentos Agropecurios (Milhares)......................................55

  • SUMRIO

    1 A FORMAO DO CAMPO NA AMRICA LATINA: ASPECTOS

    SOCIOLGICOS E POLTICOS..............................................................................15

    1.1 A ESPECIFICIDADE DO CAMPONS E DA EDUCAO DO CAMPO...........15

    1.2 IDENTIDADE CAMPONESA E EDUCAO DO CAMPO.................................17

    1.2.1 Histria e campesinato no Paraguai................................................................20

    1.2.2 Historia e Campesinato no Brasil ....................................................................23

    1.2.3 Histria e campesinato na Argentina...............................................................25

    2 EDUCAO DO CAMPO E POLTICAS PBLICAS........................................27

    2.1 ASPECTOS HISTRICOS NA CONSTRUO DE POLTICAS PBLICAS

    EDUCACIONAIS EM REAS RURAIS NA ARGENTINA.........................................27

    2.2 ASPECTOS HISTRICOS NA CONSTRUO DE POLTICAS PBLICAS

    EDUCACIONAIS EM REAS RURAIS NO BRASIL................................................33

    2.3 ASPECTOS HISTRICOS NA CONSTRUO DE POLTICAS PBLICAS

    EDUCACIONAIS EM REAS RURAIS O PARAGUAI.............................................35

    3 ASCENSO POLTICA DA ESQUERDA NO CONE SUL E POLTICAS DE

    EDUCAO NO CAMPO EM PERSPECTIVA COMPARADA...............................38

    3.1 O CASO PARAGUAIO........................................................................................38

    3.2 O CASO BRASILEIRO........................................................................................44

    3.3 O CASO ARGENTINO........................................................................................53

    4 EDUCAO DO CAMPO NA TRIPLCE FRONTEIRA.......................................55

    4.1 ESCOLA BSICA AUGUSTO ROA BASTOS.....................................................58

    4.2 ESCOLA BSICA 393.........................................................................................60

    4.3 ESCOLA ESTADUAL ITINERANTE SEMENTES DO AMANH........................62

    CONSIDERAES FINAIS......................................................................................65

    REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS........................................................................66

  • INTRODUO

    No Paraguai, na Argentina e no Brasil falar sobre o campons, em especial o

    pequeno produtor ou do trabalhador sem-terra falar de povos que,

    historicamente, no foram pensados como sujeitos, uma vez que o modelo de

    produo agrcola foi e ainda baseado na grande propriedade, nas monoculturas

    e na produo voltada prioritariamente para o mercado externo. Se analisarmos,

    atualmente, os casos de Brasil, Argentina e Paraguai, trs dos maiores produtores

    de soja do mundo, percebe-se que esta realidade nunca permitiu que se

    valorizasse o campons lhe dando autonomia e melhores condies de vida.

    Tanto no imaginrio social quanto ao que se refere ao acesso s polticas pblicas,

    a situao do campons sempre foi assimtrica se comparada a populao urbana.

    E, mesmo antes, do avano no processo de urbanizao, a situao de

    desigualdade estava presente, j que no havia um espao para que pequenos

    produtores livres pudessem coexistir, dignamente, junto ao poderio poltico e

    econmico das oligarquias rurais em nosso continente. Em termos educacionais,

    isso tambm se refletiu, pois enquanto os filhos dos grandes produtores, muitas

    vezes estudavam nas cidades, e, at, no exterior, as condies das escolas da

    zona rural, onde estudavam os filhos dos camponeses, eram muito precrias. Isso

    acarretou ndices superiores de analfabetismo no meio rural, alm de prejudicar a

    permanncia do campons na escola (inferior aos das reas urbanas). J em

    termos pedaggicos, no se primava por um modelo pautado nas necessidades e

    na realidade do campo, j que os camponeses sempre tiveram como modelo a vida

    urbana, sendo assim criada uma condio de no valorizao dos saberes dos

    povos camponeses.

    O perodo marcado pelo avano neoliberal na Amrica Latina nas dcadas de 1980

    e 1990 representou para as polticas pblicas um grande retrocesso, incluindo as

    polticas educacionais e de incluso social. A reao a este modelo e ao prprio

    retorno da democracia na regio foi sentida na ampliao da luta dos movimentos

    sociais. No campo, podemos citar o Movimento Campesino do Paraguai (MOAPA),

    o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) e o Movimento Agrrio de

    Misiones (MAM). Analisando o contexto poltico Latino-americano na ltima dcada,

  • percebemos estar diante do avano de governos progressistas e da ascenso de

    partidos de esquerda que receberam amplo apoio dos Movimentos Sociais. Tanto

    no Brasil, quanto na Argentina e no Paraguai, os movimentos sociais e os

    movimentos relacionados luta pela terra, apoiaram as candidaturas e os governos

    que se colocaram contrrios ao neoliberalismo na regio, em uma era, tambm

    conhecida como ps-neoliberalismo. Resta-nos compreender, de fato, em que

    medida estes governos foram responsivos s demandas dos camponeses e, em

    especial, se sua chegada ao poder representou conquistas significativas para a

    educao no campo.

    Para atingir aos objetivos propostos, este trabalho ser organizado da seguinte

    maneira, o primeiro captulo, A FORMAO DO CAMPO NA AMRICA LATINA:

    ASPECTOS SOCIOLGICOS E POLTICOS pretende discorrer sobre algumas

    caractersticas gerais da educao do campo, inclusive na busca de elementos

    histricos que explicam a construo social do imaginrio campons, com especial

    interesse nos trs pases analisados. Alm disso, pretende-se analisar a relao

    histrica do campons como demandante de polticas pblicas com o Estado.

    No segundo captulo, EDUCAO DO CAMPO E POLTICAS PBLICAS,

    pretende recontar a histria da formulao de polticas pblicas para a populao

    do campo nos trs pases analisados desde sua formao como Estados Nacionais

    at a contemporaneidade.

    O Terceiro captulo, ASCENSO POLTICA DA ESQUERDA NO CONE SUL E

    POLTICAS DE EDUCAO NO CAMPO EM PERSPECTIVA COMPARADA, ser

    discutida a situao contempornea do campons e nesta perspectiva quais so os

    avanos e desafios das polticas de educao do campo nos governos chamados

    progressistas, em especial, com foco na trplice fronteira entre Argentina, Brasil e

    Paraguai.

    O quarto captulo EDUCAO DO CAMPO NA TRIPLCE FRONTEIRA parte das

    visitas de campo que foram realizadas no ms de outubro de 2014 em trs escolas

    de assentamentos rurais na Argentina, Brasil e Paraguai, ambas localizadas

    conhecida regio de fronteira como Trplice Fronteira. Durante 15 dias foram

  • realizadas entrevistas com pas, alunos e professores com o objetivo de perceber

    como as polticas pblicas pensadas para a educao do campo so

    operacionadas, isso , a partir de uma pesquisa etnogrfica perceber aspectos da

    realidade objetiva destas trs escolas, assim como os problemas, as vantagens em

    se estudar numa escola rural, os sonhos e especialmente aquilo justifica se pensar

    numa educao do campo.

  • 15

    1 A FORMAO DO CAMPO NA AMRICA LATINA: ASPECTOS SOCIOLGICOS E

    POLTICOS

    1.1 A ESPECIFICIDADE DO CAMPONS E DA EDUCAO DO CAMPO

    Para falar sobre educao do campo e identidade camponesa preciso definir quem

    este campons que ao mesmo tempo objeto e demandante de uma poltica especifica

    para o campo. O recorte que se faz aqui de campons o de povos do campo, que

    amplo e pode abarcar categorias diversas como indgenas, quilombolas, sem-terra,

    pequenos proprietrios, agricultores familiares e boias-frias, todos tendo em comum o

    espao rural e o fato serem trabalhadores. Aqui o objetivo abarcar uma populao

    considervel que demanda um modelo de educao que respeite estas mltiplas

    identidades.

    (...) quando discutimos a educao do campo estamos tratando da educao quese volta ao conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam oscamponeses, incluindo os quilombolas, sejam as naes indgenas, sejam osdiversos tipos de assalariados vinculados vida e ao trabalho no meio rural(FERNANDES, CERIOLI & CALDART1 Apud ANTONIO e LUCINI 2007, p. 183).

    A justificativa para o uso da terminologia educao do campo e no educao rural que

    aqui se defende est relacionada condio dos povos do campo primando pelo direito

    diversidade e a identidade, alm de reconhecer as necessidades destes povos que

    derivam de sua situao poltica e de sua insero cidad.

    O campo da Educao do Campo analisado a partir do conceito de territrio,aqui definido como espao poltico por excelncia, campo de ao e de poder,onde se realizam determinadas relaes sociais. O conceito de territrio fundamental para compreender os enfrentamentos entre a agricultura camponesae o agronegcio, j que ambos projetam distintos territrios (FERNANDES eMOLINA, 2004 p.32).

    1 FERNANDES, CERIOLI & CALDART. A escola do campo em movimento. IN: ARROYO, CALDART eMOLINA (Org.) Por uma educao do campo. Petrpolis: Vozes, 2004.

  • 16

    As diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo, institudas

    pela resoluo de nmero 36/2001 CNE/CEB ao falar das escolas do campo destaca no

    quarto paragrafo a expresso do trabalho compartilhado entre todos os setores

    comprometidos com a universalizao e qualidade de uma educao para o espao rural,

    assim como o quinto artigo fala que os aspectos poltico-pedaggico das escolas do

    campo devem contemplar a diversidade e os aspectos sociais, culturais, polticos,

    econmicos, de gnero, gerao e etnia.

    Falar sobre territrio aqui falar sobre um construto social e do qual no se pode

    dissociar de seus atores inseridos em um determinado contexto sociopoltico na maioria

    das vezes conflitantes aos interesses das elites rurais.

    Aparentemente irrelevante, mas essencialmente importante ressaltar neste trabalho, a

    noo de polticas pblicas para ento se pensar a educao do campo. O prprio termo

    poltica pblica, que segundo Alves e Santos (2012) se refere, em primeiro lugar, ao

    surgimento do Estado Moderno Capitalista em sua perspectiva histrica de transformao

    posto que o surgimento do Estado visasse, justamente, garantir a propriedade da terra

    das classes dominantes. Pensar em polticas pblicas tambm pensar, de um lado, na

    necessidade do Estado em conter as crises dentro do modelo de produo capitalista,

    mas, por outro lado, perceber a influncia da luta empreendida pela classe trabalhadora

    em suas demandas.

    Pensar as polticas pblicas especficas para o campo, no Brasil e na Argentina, nos leva

    a perceber que esta necessidade no foi estabelecida durante muito tempo. O Paraguai

    em certa medida teve uma relao diferente com o campesinato ao menos no perodo

    anterior a guerra da trplice aliana como veremos no subcaptulo histria e aspectos

    polticos e sociais na construo da identidade camponesa no Cone Sul. A prpria

    ampliao das polticas pblicas, de maneira geral, foi percebida enquanto ligada, de

    alguma forma, incluso de todas as classes no jogo poltico. Mas quanto aos

    camponeses mesmo durante os perodos marcados por profundas transformaes que

    levaram a ampliao da participao poltica e insero social de segmentos da classe

    trabalhadora nestes pases, durante os governos de Getlio Vargas (1930 1945/ 1951

    1954) no Brasil e de Juan Domingo Pern (1946 1955/1973 1974) na Argentina os

    trabalhadores do campo no encontraram polticas pblicas destinadas a eles. Questes

  • 17

    como a reforma agrria ou o acesso educao para os camponeses pobres, mesmo

    que contendo um carter burgus no entravam em pauta poltica de nossos pases e no

    Paraguai embora tenha havido uma reforma agrria impulsionada pela ditadura de Alfredo

    Stroessner com a criao em 1963 do Instituto de Bem Estar Rural (IBR) rgo

    responsvel por seu programa nacional de reforma agrria, reforma agrria esta que

    serve aos interesses de Stroessner ao invs de ao distribuir terras aos trabalhadores

    promovendo assim desconcentrao fundiria ao distribuir grandes pores de terra aos

    seus aliados polticos acaba por ampliar a concentrao de terras e por perseguir os

    pequenos camponeses.

    Mesmo quando percebemos avanos quanto questo da terra, devemos considerar

    outro ponto que STDILE (2014) salienta o fato de que em muitos pases houve a

    necessidade de se fazer uma aliana tcita entre a burguesia e os campesinato sem-

    terra, pois se de um lado os camponeses queriam terra, de outro a burguesia queria

    ampliar o mercado interno constitudo tambm pelos trabalhadores do campo. dessa

    forma, que no centro do capitalismo, a educao voltada para o campons nasceu

    orientada pelo liberalismo econmico, nascendo pela necessidade de se aumentar a

    produo agrcola, pois nestes pases a produo estava ligada a pequena propriedade.

    Fazia-se ento necessrio aumentar a produo otimizando o espao, diante da pequena

    disponibilidade de terras cultivveis nestes pases.

    1.2 IDENTIDADE CAMPONESA E EDUCAO DO CAMPO

    Como contextualizado na seo anterior, para se entender as razes pelas quais no

    houve em nossos pases a necessidade da incorporao do campons na economia

    preciso repensar sua histrica insero na economia mundial, relacionada desde a

    colonizao uma economia agrcola e exportadora de matrias primas com a base no

    latifndio e na monocultura. Naquele contexto, o papel do campons se construiu como

    subalterno.

    Para Maritegui (2007), antes da chegada do colonizador havia um modelo de

    organizao e de produo coletiva que no foi levado em conta. J para Ribeiro (2000),

    a noo de coletivismo e a relao da natureza com o indgena no foi respeitada nem

  • 18

    pelo colonizador espanhol quanto pelo portugus, que tinham como sentido para a

    ocupao do territrio o esprito aventureiro, mas tambm, a esperana no lucro rpido

    que lhe serviu como justificativa de escolha pelo modelo da grande propriedade, cuja

    agricultura seria voltada para a exportao. No que se refere a outros produtos primrios,

    como os recursos minerais, a lgica tambm era mesma. dentro das condies dadas

    por esta herana colonial que se moldaram as identidades camponesas em nossa regio.

    Hoje no Brasil, na Argentina e no Paraguai falar do espao rural nos remete a uma luta

    poltico-ideolgica, colocando em lados opostos, os interesses dos que representam a

    agricultura agroexportadora e o grande latifndio, importante para a balana comercial, e

    os interesses do pequeno produtor, do indgena, do quilombola e do sem-terra que lutam

    pela sobrevivncia e por melhores condies de vida, acesso terra e uma poltica que

    garanta seu pleno desenvolvimento enquanto cidado. Tambm cabe destacar que

    quanto a construo do imaginrio coletivo sobre o campons, temos a imagem de um

    segmento considerado pobre, caipira e desvalorizado se comparado ao citadino, habitante

    dos grandes centros. Da surge uma hierarquizao das polticas pblicas e da prpria

    noo de cidadania, ao passo que campons no enxergado como sujeito de polticas

    pblicas do mesmo modo que a populao urbana.

    Dessa forma, na Argentina, Paraguai e Brasil embora tenham presenciado a luta para o

    direito de acesso educao por parte das populaes do campo; estas enfrentam

    desafios para implementao de uma poltica educacional especfica para o campons.

    Numa entrevista feita por Rafael Portillo com Isidro Espnola, dirigente do Movimento

    Agrrio do Paraguai (MOAPA) ficou demostrado que em sua opinio os interesses dos

    movimentos sociais do campo no Paraguai remetem a sua realidade objetiva

    Entonces nosotros planteamos la reforma agraria desde cuatro puntos de vistafundamentalmente: econmico, poltico, social y cultural. Para hablar de reformaagraria al menos tendramos que analizar la estructura agraria del pas para sabercules son los aspectos que se beben cambiar, reforma o debe eliminadoradefinitivamente. Y desde un punto de econmico tenemos aqu unos cuarentamillones de hectreas que son frtiles para la agricultura y ganadera enParaguay, ese que posee el pas. De eso treinta y seis millones y cuatrocientoshectreas se encuentran en manos de menos de mil personas, en realidad soncuarenta y cinco familias. En cuanto la produccin, en el pago final que cada unorecibe es menos del costo de produccin, entonces cada da se va perdiendo y

  • 19

    perdiendo. Hay muchos casos que los propios campesinos que tienen unas cincoo seis hectreas y se van a las ciudades, fundamentalmente porque no tienencomo solventar los otros gastos (ESPINOLA, Isidro, 2013)2

    Falar destas mltiplas identidades e falar de uma singularidade do campons algo

    bastante complexo, mas a premissa justamente o que eles tm em comum e fazer isso

    se torna muito mais difcil quando se relaciona trs pases to prximos geograficamente

    mais com uma histria e realidade diversa e talvez esse seja o primeiro passo, refazer a

    histria poltica da insero do campons nesta realidade.

    Pensar num projeto educacional para o campo pode partir de dois vieses distintos e o

    pensado para modernizao do espao rural convergente para o modelo do agronegcio

    que no questiona a concentrao de terra e o outro oposto a este precisa pensar alm

    do espao da escola, pois compreende que para o desenvolvimento pleno do campons

    preciso lhe dar autonomia e acesso cidadania. Assim pensar em educao para o

    campons primeiro pensar numa educao que respeite sua subjetividade e seus

    interesses como classe, j que a educao no pode ser transformadora por si mesmo se

    no serve para transformar a realidade do campons.

    El concepto de que el problema del indio es un problema de educacin, noaparece sufragado ni aun por un criterio estricta y autnomamente pedaggico. Lapedagoga tiene hoy ms en cuenta que nunca los factores sociales y econmicos.El pedagogo moderno sabe perfectamente que la educacin no es una meracuestin de escuela y mtodos didcticos. El medio econmico social condicionainexorablemente la labor del maestro El gamonalismo es fundamentalmenteadverso a la educacin del indio: su subsistencia tiene en el mantenimiento de laignorancia del indio el mismo inters que en el cultivo de su alcoholismo. Laescuela moderna en el supuesto de que, dentro de las circunstancias vigentes,fuera posible multiplicarla en proporcin a la poblacin escolar campesina, esincompatible con el latifundio feudal (MARITEGUI, 2007, p.33)

    Este processo de transformar a realidade para Freire (1987) s se d quando atravs do

    oprimido ao reconhecer sua prpria condio como oprimido e comear sua busca pela

    liberdade e aqui liberdade significa lutar inclusive contra uma conscincia servil que

    internaliza.

    2 Entrevista realizada com Isidro Espnola fundador do MOAPA realizada em 28 de maro de 2013 nacidade de Minga Guaz, Paraguai.

  • 20

    1.1 HISTRIA E ASPECTOS POLTICOS E SOCIAIS NA CONSTRUO DA IDENTIDADE CAMPONESA NO CONE SUL

    Este captulo tem como objetivo repensar alguns aspectos da construo do campesinato

    no Paraguai, Brasil e Argentina o que se justifica por aqui ser um pr-requisito para

    pensar as polticas pblicas voltadas para educao do campo, uma vez o primeiro passo

    para entender a formulao de polticas pblicas para a educao do campo

    compreender aspectos de sua construo histrico-social.

    1.2.1 Histria e campesinato no Paraguai

    Para pensar sobre a situao do campons na regio preciso recorrer construo de

    sua identidade que por sua vez est ligada a aspectos de sua construo poltica e social

    e por esta razo o que aqui se analisados algumas caractersticas desta construo

    histrica e o primeiro pas a ser analisado o Paraguai que apresentou uma relao

    conflituosa, mas talvez muito mais inter-relacionada entre o colonizador e a populao

    originria, pois no perodo jesutico como Maritegui (2007) destacou o potencial do ndio

    de trabalho coletivo foi aproveitado pelos jesutas. Tambm Odriozola (2004) destaca que

    devido ao tipo de organizao da propriedade estabelecida neste perodo pelos jesutas

    fez que mesmo depois de sua expulso e mesmo quando se deu a independncia poltica

    do pas a grande propriedade no tivesse a mesma fora que em outros pases da regio.

    Quando o pas se torna independente, seu primeiro mandatrio, o presidente Jos Gaspar

    de Francia e Velasco3 se preocupou com a educao bsica e a torna obrigatria, mas

    no s isso, ele a interiorizou e para isso teve que enfrentar diversos desafios como falta

    de docentes qualificados, porm o mais importante destacar sua relao com o

    campesino. Segundo (VILABOY, 1981) o governo de Francia proclamado ditador perpetuo

    da nao paraguaia foi baseado no campesinato paraguaio e buscou defender aos seus

    interesses, inclusive contra os interesses dos latifundirios o que lhe tornou popular entre

    as classes mais populares e fez que conseguisse o apoio poltico que necessitava para

    chegar ao poder, inclusive contra o grupo poltico que apoiou a aproximao poltica com

    3Eleito Consul juntamente com Fulgencio Yegros de 1812-1814 e programado ditador temporal de 1814-1816 e Ditador Perpetuo 1816-1840.

  • 21

    Buenos Aires que era um grupo ligado aos grandes proprietrios de terra que dependiam

    de exportar seus produtos e defendiam maior abertura comercial e um projeto distinto

    projeto defendido por Francia que buscou a autonomia do pas.

    Segundo Odriozola (2004) em 1810, o que hoje o territrio Paraguaio era uma regio

    isolada, onde no havia muitos nobres da pennsula ibrica interessados em viver na

    colnia, em parte tambm pela falta de recursos naturais e no havia uma proteo militar

    o que fez criar a necessidade de um exercito local, e que nascesse um sentimento de

    independncia.

    O momento que marcou uma mudana na correlao de foras entre campesinos e

    latifundirios foi a guerra da trplice aliana (1864-1870). Um perodo marcante pela

    transformao da situao do campesino no Paraguai, que era um pas que at ento

    mantinha espaos para o cultivo coletivo em terras pblicas. Cabe destacar que at ento

    as terras em sua maioria estavam nas mos do Estado Em 1870 o Estado era

    proprietrio de quase todo o territrio do pas. De toda a superfcie nacional somente 1,6

    era de propriedade privada (PASTORE apud VZQUEZ, 2008, p. 48). No entanto com a

    promulgao da lei de terras de 1883 quando as terras pblicas que eram usadas na

    produo coletiva foram postas a venda4 momento aproveitando pelo capital estrangeiro

    que entra em grande escala no pas por conta baixo valor destas terras, cabe destacar

    que tambm a elite nacional tambm se apropriou deste momento para se fortalecer e

    aumentar seu poderio.

    Segundo Vilaboy, (1981) a lei de terras foi um golpe para a populao campesina do

    Paraguai posto que antes o latifndio no tivesse no pas o mesmo poder que em outros

    pases da regio e o pas desde ento se converte no pas com a maior terra do mundo

    segundo ndice de Gini de concentrao de terra de 2001 que era de 0, 93 (FAO, 2001) e

    importante lembrar que nesta escala enquanto mais prximo a um maior o nvel de

    desigualdade.

    4A razo para a venda de terras pblicas neste momento era levantar fundos para a recuperao do Estadoaps a guerra.

  • 22

    La prdida del controlador de las fuentes de produccin de riquezas; para laspoblaciones de la campaa, la perdida de los campos comunales y de los bosquesreservados para uso comn por la ley del 1de julio de 1880 [] para lospequeos y medianos productores de ganado, no ligados con lazos polticos,amistosos o familiares con los miembros de los crculos gobernantes de entonces,la falta de praderas para sus ganados (PASTORE, 1972 p. 245).

    O perodo da ditadura de Alfredo Stroessner (19541989) iniciou um processo de reforma

    agrria no pas, contudo seus resultados indicam que ao invs de democratizar o acesso

    terra, estas polticas, pelo contrrio aumentaram a concentrao fundiria. Segundo

    Sasiain & Pozzo (2008) o fato de Strossner ter utilizado a terra como moeda de troca, ou

    seja, em troca de apoio poltico. Na pratica, ocorria o seguinte, o governo concedia aos

    seus aliados grandes extenses de terras ao mesmo tempo em que perseguia o

    movimento campesino aumentando assim o poder dos grandes proprietrios, inclusive na

    poltica nacional o que ainda ecoa, tendo em vista que os conflitos em Curuguaty so um

    reflexo de uma poltica que criminaliza os movimentos sociais, em especial o campesino,

    e fortalece a concentrao de terra.

    Quanto aos antecedentes que levaram ao incidente de Curuguaty, destacasse a

    ocupao de terras pblicas doadas pelo Estado Empresa La Industrial Paraguaya S.A

    (Lipsa), em 1967, por camponeses. Neste episdio, as terras em questo aps terem sido

    abandonadas pela empresa acima citada acabaram sendo, indevidamente, ocupadas pela

    empresa do poltico colorado Brs Riquelme e posteriormente sendo requeridas pelo

    Movimento pela Recuperao Campesina de Canindey (MRCC) para fins de reforma

    agrria. Em 2004, o Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (INDERT)

    iniciou os trmites legais para sua desapropriao e posteriormente, atravs de decreto

    presidencial, as mesmas foram finalmente desapropriadas para fins de reforma agrria.

    Porm, em 2005, a empresa de Riquelme entra com um processo requerendo a

    propriedade das terras, e em que pese s irregularidades processuais, a empresa

    Campus do Morumbi vence em primeira e segunda estncia.

    Em 15 de Junho de 2012, ocorreria a reintegrao de posse da Empresa Campos do

    Morumbi, na ocasio existia um grupo de aproximadamente 70 campesinos, dentre eles

    homens, mulheres e crianas que entraram em choque com o efetivo policial causando o

    conflito armado que ficou conhecido como conflito de Curuguaty. Deste conflito resultaram

    as mortes de onze camponeses e seis policiais que tiveram grande impacto poltico,

  • 23

    diante do fato de o prprio presidente Lugo ter sido acusado pelo massacre. No dia 22 de

    Junho, o presidente sofreu um processo de impeachment motivado pelos resultados

    daquele conflito agrrio.

    1.2.2 Historia e Campesinato no Brasil

    No Brasil o processo de ocupao do territrio, desde o tempo da colnia teve base no

    latifndio, na grande propriedade agroexportadora que tem origem no modelo de

    colonizao e ocupao da terra utilizado por Portugal com a doao de grandes

    extenses de terra sistema no sistema de sesmarias que teve como consequncia desde

    a colonizao um modelo de distribuio de terra baseado na grande propriedade.

    Para FRANCO (1997) o espao que cabia ao homem livre no proprietrio no perodo

    entre o Brasil colnia e o perodo quando alcanamos a independncia poltica de

    Portugal era o espao que no foi ocupado pelo grande latifundirio e este campons

    livre, mas pobre vivia sem a sem posse da terra numa relao que no de escravo, mas

    tambm no de trabalhador assalariado e sim de num sistema de apadrinhamento. Pela

    sua condio esta populao no tem acesso aos servios pblicos e nem a cidadania.

    A elite rural brasileira estava atrelada aos interesses do mercado externo e segundo

    FERNANDES (2006) no se gestou uma burguesia nacional, por que o papel da

    burguesia brasileira era de dependente. Nosso mercado dependia do mercado externo,

    pela sua condio produtor de produtos primrios e baseados num modelo de

    monoculturas, e toda vez que um produto perdia valor no mercado internacional isso

    impactava sobre as taxas de lucro das elites rurais o que fazia com que os trabalhadores

    fossem cada vez mais explorados.

    A elite rural brasileira resistia a mudanas especialmente aquelas ocorridas na dcada de

    30 com as transformaes que ocorreram com a chegada de Vargas ao poder e que

    modificaram as relaes de trabalho dos trabalhadores urbanos que conquistam neste

    momento direitos trabalhistas direitos esses que no chegam ao campo e nesse

    contexto que um pequeno grupo de intelectuais do movimento conhecido como ruralismo

  • 24

    pedaggico que pelo acelerado processo de urbanizao pelo qual passava o pas se

    preocupa com a fixao do homem no campo.

    Essa preocupao por parte dos ruralistas pedaggicos se d em relao s mudanas

    que vinham ocorrendo deste de a introduo da mo de obra do imigrante com o fim da

    escravido e pela opo dos grandes produtores agrcolas, por exemplo, os cafeicultores

    paulistas pela mo de obra estrangeira. Estas mudanas vinham ocorrendo por diversas

    razes das quais podemos citar a necessidade de fixao do homem no campo, j que

    neste momento se intensifica o xodo rural devido a um processo de industrializao que

    demanda mo de obra e pelas influncias nacionalistas que afloram com a revoluo de

    30 e o advento de Vargas ao poder. Outro aspecto a destacar e a necessidade de uma

    poltica de higienizao, necessidade esta relacionada com as ideias do sanitarista

    Osvaldo Cruz (1872- 1917) que em 1918 fez uma expedio pelo interior do pas e com

    seus estudos comeou a desconstruir as explicaes ligadas cincia racista

    frequentemente usadas no Brasil ao relacionar um suposto atraso do pas ao fato de este

    ser um pas mestio e a figura do campons era o smbolo destas ideias. O campons

    ficou estigmatizado como jeca, caipira, insolente e preguioso e Cruz rejeitou estas ideias

    e relacionou o marasmo muitas vezes atribudo ao homem do campo no a uma questo

    de raa, mas sim a doenas relacionadas falta de saneamento bsico e as condies

    que este vivia e pela necessidade de novos hbitos e a escola era o caminho para levar

    ao campo polticas higienizas que tambm eram defendidas pelos ruralistas pedaggicos.

    A personagem do Jeca Tatu de Monteiro Lobato que num primeiro momento depreciava

    da figura do campons considerando-o preguioso, porm aps o contato de Lobato com

    as ideias dos sanitaristas ele reconstri sua personagem na busca de se retratar com o

    campons.

    Cumpre-me, todavia, implorar perdo ao pobre Jeca. Eu ignorava que era assim,

    meu caro Tatu, por motivo de doenas tremendas. Ests provado que tem no

    sangue e nas tripas um jardim zoolgico da pior espcie. essa bicharia cruel que

    te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que no. Assim,

    com piedade infinita que te encara hoje o ignoranto que outrora s via em ti

    mamparra e ruindade. Perdoa-me, pois, pobre opilado. (LOBATO, apud Leite,

    1996, p. 82).

  • 25

    Embora o papel dos intelectuais do ruralismo pedaggico tenha sido muito importante

    para repensar o campo e preconizar a necessidade de uma poltica educacional rural,

    estas ideias no questionavam a concentrao da terra e nem mesmo assim elas

    conseguiram romper o conservadorismo das elites rurais que resistiam a quaisquer

    mudanas e especialmente aquelas que pudessem expandir os direitos sociais e

    trabalhistas para os camponeses.

    1.2.3 Histria e campesinato na Argentina

    No caso argentino ao pensar na ocupao do territrio e na agricultura primeiramente

    remete a pensar na situao dos povos originrios, que desde a independncia poltica do

    pas no foram vistos como importantes para a formao da nacionalidade argentina, uma

    vez que o pensamento positivistas e as ideias relacionadas eugenesia que chegaram ao

    pas atravs de autores como Gustave Le Bom (1841-1931) e William Morton Wheeler

    (1865-1937), ideias estas geralmente baseadas num cientificismo e numa viso distorcida

    da teoria da evoluo que continuou a intelectuais argentinos, especialmente Carlos

    Octavio Bunge (1875 1918) e Jos Ingenieros (1877-1925) como destaca Grejo (2009).

    Pensar no desenvolvimento argentino era tambm pensar na necessidade de mo de

    obra, uma vez que o pas que dependia de braos para a lavoura e quando se pensou em

    suprir esta necessidade a soluo apontada foi trazer mo de obra estrangeira, opo

    est em parte ligada a um pensamento racista que relacionava a vinda destes

    trabalhadores a um processo de civilizatrio e a ideia de progresso, j que os povos

    originrios eram vistos como Brbaros e subdesenvolvidos. Assim compreendemos o

    racismo enquanto elemento central do iderio social desta poca que influenciou as elites

    polticas que construram o projeto poltico de nao.

    Domingos Faustino Sarmiento presidente da Argentina entre 1868 e 1874 foi um dos

    principais defensores da vinda de europeus para povoar o vasto territrio argentino, j que

  • 26

    em sua concepo o advento de europeus estava ligado a vinda de um povo cristo e

    civilizado e mais que isso, representava a possibilidade de avano tcnico.

    Hemos de cerrar voluntariamente la puerta a la inmigracin europea que llamacon golpes repetidos para poblar nuestros desiertos, y hacernos, a la sombra denuestro pabelln, pueblo innumerable como las arenas del mar? Hemos de dejar,ilusorios y vanos, los sueos de desenvolvimiento, de poder y de gloria, con quenos han mecido desde la infancia, los pronsticos que con envidia nos dirigen losque en Europa estudian las necesidades de la humanidad? Despus de la Europa,hay otro mundo cristiano civilizable y desierto que la Amrica? Hay en laAmrica muchos pueblos que estn, como el argentino, llamados, por lo pronto, arecibir la poblacin europea que desborda como el lquido en un vaso? Noqueris, en fin, que vayamos a invocar la ciencia y la industria en nuestro auxilio.(SARMIENTO, 1990, P. 30).

    Porm, num pas primrio exportador, aonde os estrangeiros que vinham em sua maioria

    com escasso capital necessitavam trabalhar na perspectiva de melhorar sua vida e que

    lhe restava era a condio de trabalhadores, por outro lado, e o capital empregado na

    expanso agrcola tambm era de origem europeia, especialmente o capital britnico.

    A Inglaterra j havia passado pelo processo de industrializao e tinha cada vez maior

    necessidade de matria prima para suas indstrias e a Argentina tinha os campos

    necessrios para desenvolver uma pecuria de ovinos voltada para a as demandas da

    indstria txtil inglesa, alm disso, o pas contava com grande extenso de terras frteis.

    No momento em que a Argentina conquista sua independncia poltica, tambm um

    momento marcado pela expanso do capitalismo e os pases industrializados no s

    demandavam matria primas para sua indstria como alimentos mais baratos para sua

    populao, soluo esta apontada por Ricardo (1982) para evitar o aumento do custo de

    vida nos pases industrializados e evitar uma necessidade cclica em que o aumento dos

    alimentos influenciasse os salrios e por sua vez o lucro dos capitalistas industriais.

    O modelo de desenvolvimento agrcola argentino como j destacado se produz sobre a

    base da mo de obra estrangeira, com um modelo agrcola voltado para o mercado

    externo e as necessidades dos pases europeus em franca expanso, mas sobre tudo

    com um modelo que concentra a posse da terra e hoje o pas tem menos que 10% de sua

  • 27

    populao vivendo no campo e que ao mesmo tempo tem um imenso territrio de 2 766

    890 km o que representa ser o oitavo maior pas com maior territrio no mundo, porm

    com uma baixa densidade democrtica 15 habitantes por km que segundo dados de

    2010 do Instituto Nacional de Estatsticas e Censos (INDEC) que est concentrada,

    sobretudo na regio de Buenos Aires.

    2 EDUCAO DO CAMPO E POLTICAS PBLICAS

    Este captulo pretende abordar alguns aspectos da construo de uma poltica

    educacional voltada para o campons e quais foram as condies em que se fez

    necessrio que os governos nacionais da Argentina, Brasil e Paraguai se preocupassem

    em construir uma poltica preocupada em levar a escola ao campo.

    2.1 ASPECTOS HISTRICOS NA CONSTRUO DE POLTICAS PBLICAS

    EDUCACIONAIS EM REAS RURAIS NA ARGENTINA

    Em 1872 foi criada a Escola Agronmica Superior por Domingo Fagundes Sarmiento

    presidente Argentino (1868- 1874), porm embora Sarmiento tenha se destacado como

    pai da educao na Argentina com um projeto educacional que pretendia superar o que

    ele mesmo considerava a barbrie dos pampas argentinos projeto este que estava

    voltado para um ideal de uma Europa civilizada ao qual Sarmiento tomava como modelo

    ou mesmo o modelo de educao dos Estados Unidos, pas que visitou e de onde trouxe

    65 professores. Seu projeto de educao se irradiava a partir de Buenos Aires e no

    valorizava os saberes dos povos indgenas, negros ou dos homens dos campos povos

    aos quais ele considerava incivilizados e diferentemente dos ideais dos ruralistas

    pedaggicos no Brasil que cerca de 60 anos depois pregavam a educao como um

    elemento de conservao da lngua e da nacionalidade brasileira frente ao perigo da

    chegada da migrao europeia Sarmiento aplaudia a chegada do europeu que deveria

    sim para ele ter um papel civilizador.

  • 28

    Foi somente em 1884 que a Lei Orgnica de Instruo Pblica estabeleceu a

    obrigatoriedade e a universalizao da educao bsica, porm embora nesta poca a

    populao argentina fosse predominantemente rural como destaca ASCOLANI (2012) a

    escola no chegava ao campo e foram diversas tentativas de levar a escola ao meio rural,

    dentre algumas destas tentativas podemos destacar a lei 4874/1905 proposta pelo

    educador Manuel Linez que criou escolas mantidas pelo governo nacional com um

    currculo reduzido, escolas estas que aram voltadas especialmente para as reas rurais e

    perifricas, pois at ento as provncias que eram responsveis pela educao bsica

    no haviam conseguido alcanar estas reas de forma significativa, porm apesar da

    expanso que houve com a implantao das escolas linaz ampliando o nmero de

    escolas rurais nas provncias com apoio do governo nacional, um dos problemas destas

    escolas foi seu currculo reduzido, pois elas no habilitavam para a se prosseguir os

    estudos em nvel secundrio.

    Outro momento importante foi a criao durante o governo de Hiplito Yrigoyen (1928-

    1930) da Unio Cvica Radical da criao de escolas rurais nas provncias, escolas estas

    chamadas Escolas de Novo Tipo.

    Las escuelas de Nuevo Tipo rurales, abiertas en provincias y en territorios, tenanpor meta contribuir al desarrollo de la granja, inspirada en las de Estados Unidos yCanad. Aseguraba el subinspector Segundo Moreno que la escuela educara alnio en el amor al trabajo, en los hbitos de orden y ahorro, y dara conocimientospara que el hogar se transformara en una granja, con lo cual adems de suprimirla pobreza, el sentimiento de independencia econmica reportara amor a lalibertad y afianzamiento de la democracia. Los principios de la escuela activapropugnados por John Dewey se hacan aqu presentes, siendo una tendenciaemergente en esos aos en otros pases latinoamericanos, como Mxico y Chile(ASCOLANI, 2012 p. 316).

    Estas escolas estabeleciam o ensino de seis anos na capital federal e nas provncias o

    ensino de quatro anos e tinham o currculo padronizado em todo o pas, exceto nas

    disciplinas de histria, geografia e instruo cvica que contavam com maior aporte local,

    porm com a ditadura de 1930 estas escolas tiveram fim juntamente com o governo de

    Yrigoyen.

  • 29

    O sistema educativo argentino desenhou-se como um sistema de educao provincial,

    mas que manteve um relativo grau de centralizao tanto no Ensino Primrio5 como no

    Secundrio6, modelo que se configurou pela necessidade de uma poltica de apoio do

    governo central s provncias com a inteno de diminuir as disparidades regionais,

    polticas estas que ampliaram e garantiram melhorias no acesso a educao.

    A primeira tentativa de descentralizar passando parte do papel assumido pelo governo

    central para as provncias foi no governo de Arturo Frondizi (1958 1962), porm foi no

    perodo da ditadura militar de 1976-1983 que a tendncia descentralizao se ampliou,

    especialmente com referncia educao bsica. Segundo o Centro de Estudos para o

    Desenvolvimento Institucional (2001) de 1970-1977 o governo nacional investia 5% do

    PIB o que equivale a 36,4% dos gastos em educao primria ao passo que as provncias

    investiam 8% do PIB o que equivale a 63,6% dos gastos j no perodo de 1978-1985

    somente 0,1 do PIB nacional era investido em educao primria o que correspondia a

    6,7% dos gastos enquanto as provncias passaram a investir 10,2% do PIB o que equivale

    a 93,3% porm quanto ao ensino secundrio no aconteceu o mesmo, j que antes de

    1976 o Estado Nacional cobria 50% dos gastos com ensino secundrio e no final do

    perodo militar em 1983 este gasto era de 47% dos gastos.

    A dcada de 90 foi um perodo marcado pelos avanos de polticas neoliberais com a

    diminuio dos gastos pblicos em polticas sociais o que tambm ocorreu com a

    educao. A Lei Federal de Educao de 1993 trouxe graves consequncias e

    disparidades regionais, inclusive afetando o meio rural, j que em 1977 49% das escolas

    de Ensino Secundrio (Ensino Mdio) estavam sobre a responsabilidade do Estado

    Nacional ao passo que em 1987 apenas 0,8% estavam sobre sua responsabilidade (ver

    tabela 1).

    5O que no Brasil equivale ao Ensino Bsico.

    6O que no Brasil equivale ao Ensino Mdio.

  • 30

    Tabela 1: Estabelecimentos pblicos da educao mdia segundo nvel de governo 1977-1987

    Nvel de Governo 1977 1987 1997Nacional 1.354

    49%1.64746,5%

    650,8%

    Provincial 1.37549,8%

    1.89153,4%

    7.83299,1%

    Municipal 331,2%

    60,1%

    60,1%

    Total 2.762100%

    3.544100%

    7.903100%

    Fonte: Ministrio de Educao da Nao, Direo Geral Rede Federal de Informaoapud CENTRO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL (2001,p.17)

    A transferncia da responsabilidade das provncias teve ao menos duas consequncias,

    primeiramente junto a transferncia da responsabilidade da educao no veio na mesma

    proporo os recursos e a segunda consequncia que nas provncias com menos

    recursos no tiveram condies de manter boa qualidade de ensino, problema que se

    acentua na rea rural (ver tabela 4).

    Tabela 2: Porcentagem de assistncia a instituies educativas por faixa etria populao

    urbana e rural na argentina 2001

    Provncia Tipo de Assistncia ao Servio Educativo por Faixa Etria

    populao

    por 3 a 4 5 6 a 1112 a14 15 a 17 18 a 24

    provncia anos anos anos anos anos anosBuenos Aires Urbano 67,3 93,1 99,1 97,9 85,5 41,27 Rural 57,8 85,6 98,5 96,4 750 22,88Catamarca Urbano 25,8 73,6 98,8 97,1 85,4 39,77 Rural 9,2 57,4 97,6 94,8 73,0 20,59Chaco Urbano 16,1 66,5 96,6 91,7 73,1 34,41

    Rural 10,6 44,6 92,3 81,0 40,2 10,91

    Chubut Urbano 32,9 78,5 99,3 97,8 87,0 33,42

    Rural 23,6 70,8 97,8 95.0 69,5 16,75

    Crdoba Urbano 40,3 86,4 99,2 94,7 78,6 42,86 Rural 30,4 82,7 98,6 86,6 59,5 19,34Corrientes Urbano 22,1 72,9 97,5 93,2 77,6 37,78 Rural 13,5 64,2 94,9 83,9 46,6 11,98

  • 31

    Entre Rios Urbano 33,1 78,3 98,9 955

    ,1 77,9 36,41 Rural 19,6 72,4 98,0 89,7 59,9 17,98Formosa Urbano 15,6 69,0 98,0 94,8 78,4 33,26 Rural 8,2 54,4 95,2 85,6 50,6 12,24Jujuy Urbano 21,6 71,5 98,9 96,6 86,5 42,86 Rural 15,3 67,0 97,3 88,4 88,4 16,53La Pampa Urbano 20,3 69,1 99,6 97,2 81,6 33,40 Rural 14,4 64,2 95,9 92,9 70,8 17,91La Rioja Urbano 36,2 81,8 98,3 94,9 79,5 39,64 Rural 20,5 74,0 98,0 94,6 73,1 25,42Mendonza Urbano 24,3 72,5 99,1 96,5 81,1 40,00 Rural 9,4 62,4 98,0 91,1 58,9 17,21Misiones Urbano 5,9 65,9 96,3 91,6 75,5 34,11 Rural 6,5 50,6 91,6 74,3 41,3 11,74Neuqun Urbano 34,6 81,1 99,3 97,3 83,6 38,13 Rural 24,7 74,5 97,9 90,4 59,0 15,29Rio Negro Urbano 35,9 82,0 99,4 97,5 84,3 37,89 Rural 23,3 74,3 98,3 91,9 64,6 21,17Salta Urbano 17,7 67,9 98,5 95,7 82,2 36,39 Rural 13,2 62,3 95,1 89,8 62,0 16,62San Juan Urbano 20,4 71,8 98,5 95,3 80,3 38,18 Rural 13,2 65,3 96,6 89,5 60,6 16,48San Luis Urbano 32,3 82,6 98,3 95,6 81,0 34,53 Rural 24,8 71,4 97,0 89,7 60,1 17,43Santa Cruz Urbano 42,5 93,6 99,5 98,8 91,5 34,56 Rural 45,1 93,1 98,7 97,6 79,5 17,96Santa F Urbano 47,8 87,4 98,9 96,6 81,1 38,50 Rural 36,0 84,9 98,7 94,6 67,7 21,27San T. del Estero Urbano 36,1 83,2 96,9 91,2 72,3 31,92 Rural 12,3 44,7 94,8 78,6 35,2 8,52Tierra del Fuego Urbano 56,4 96,6 99,8 99,1 93,3 37,77 Rural 55,0 92,7 100,0 99,0 90,4 15,77Tucumn Urbano 23,0 72,4 97,7 90,8 70,2 36,62 Rural 13,7 68,4 97,3 81,6 44,2 13,43

    Fonte: Censo 2001 (INDEC) apud Ruralidad y Educacin en Argentina: Instituciones, Polticas y Programas(2010, p.9).

    Estas polticas de transferncia para as provncias da responsabilidade da educao

    bsica aumentaram as assimetrias regionais e podemos observar que em quanto mais

    pobre a provncia mais pobres mais dificuldades ela tem, especialmente se

    compararmos o nvel de instruo alcanado por rea. Um exemplo disso a provncia do

    Chaco, uma das mais pobres do pas na comparao com a provncia de Buenos Aires.

    Ao observar o nvel de instruo por provncia de pessoas com mais de 15 anos por rea

    veremos que enquanto na provncia de Buenos Aires na rea urbana 24,1% das pessoas

    acima de 15 anos haviam concludo o ensino mdio, na rea rural este nmero cai para

    13,7, enquanto na provncia do Chaco 19,0% nas reas urbanas e nas reas rurais este

    nmero cai para 3,5%.

  • 32

    Tabela 3: Mximo nvel de instruo alcanado. Composio percentual da populao maior de 15

    anos 2001

    Mximo nvel de instruo alcanado por (em %) Sem Instruo/ Primrio Secundrio Tercirio Tipo de primrio completo/ Completo/ ou Provncia populao incompleto Secundrio Tercirio ou universitrio Incompleto universitrio completo incompleto

    Buenos airesUrbano 15,3 53 24,1 7,6Rural 24,6 56,6 13,7 5,2

    CatamarcaUrbano 14,1 48,7 27,9 9,3Rural 31,7 54,5 10,2 3,6

    ChacoUrbano 27,7 46,2 19 7,1Rural 59,2 35,9 3,5 1,4

    ChabutUrbano 16,1 52,3 24,3 7,3Rural 41,6 43,3 10,5 4,6

    CrdobaUrbano 16,1 45,5 28,2 10,3Rural 32,0 51,4 12,5 4,0

    CorrientesUrbano 23,4 44,2 24,5 7,9Rural 53,6 39,4 5,3 1,7

    Entre RiosUrbano 19,6 48,0 23,7 8,8Rural 36,2 51,1 9,3 3,4

    FormosaUrbano 22,6 48,8 21,1 7,4Rural 52,0 41,1 4,8 2,0

    JujuyUrbano 19,0 50,0 24,2 6,9Rural 43,8 46,6 8,0 1,7

    La PampaUrbano 17,7 53,0 21,1 8,2Rural 30,2 54,2 11,2 4,3

    La RiojaUrbano 13,7 49,0 28,7 8,6Rural 28,6 54,8 12,5 4,1

    MendonzaUrbano 16,3 49,0 25,7 9,0Rural 37,5 51,1 9,0 2,4

    MisionesUrbano 25,6 47,1 19,9 7,4Rural 55,0 39,7 3,9 1,5

    NeuqunUrbano 16,6 51,1 23,8 8,6Rural 40,9 45,2 9,8 4,1

    Rio NegroUrbano 20,1 50,5 21,1 8,3Rural 39,3 46,7 10,3 3,7

    SaltaUrbano 18,1 49,3 25,2 7,5Rural 46,8 43,7 6,9 2,6

    San JuanUrbano 15,4 51,6 24,3 8,7Rural 35,5 54,1 8,4 1,9

    San LuisUrbano 16,9 49,3 26,0 7,8Rural 37,9 49,1 9,6 3,5

    Santa CruzUrbano 14,1 52,6 25,0 8,3Rural 30,0 39,8 22,0 8,2

    Santa FeUrbano 16,2 47,7 26,9 9,2Rural 29,1 53,9 13,0 4,0

    Santiago del Estero

    Urbano 21,0 47,4 24,3 7,3Rural 51,4 43,3 3,8 1,6

    Tierra del FuegoUrbano 8,6 51,7 29,7 10,0Rural 16,7 50,1 23,9 9,3

    TucumnUrbano 15,8 49,0 26,5 8,8Rural 35,7 55,3 7,3 1,7

    Fonte: Censo 2001 (INDEC) apud Ruralidad y Educacin en Argentina: Instituciones,polticasrogramas (2010, p.10)

  • 33

    2.2 ASPECTOS HISTRICOS NA CONSTRUO DE POLTICAS PBLICAS

    EDUCACIONAIS EM REAS RURAIS NO BRASIL

    Na dcada de 1930 existia, no Brasil, um movimento que tomou fora entre um grupo de

    intelectuais que ficou conhecido como ruralismo pedaggico, mesmo assim, naquele

    perodo a escola ainda no conseguia alcanar as reas rurais. Foi apenas com a

    chamada reforma Capanema de 1934 que o pas apresenta uma legislao preocupada

    com a universalizao do ensino. Este ao qual estava ligado Sud Mennucci (1892-1948),

    Carneiro Leo (1887-1966) e Manoel Bergstrom Loureno Filho (1897-1970) educadores

    e intelectuais que defendiam a importncia da educao rural no Brasil para fixar o

    homem no campo, j que neste momento h um acelerado processo de urbanizao no

    Brasil alm da chegada de um grande nmero de estrangeiros no pas.

    O movimento do ruralismo pedaggico que surgiu como forte corrente terica, poisfazia meno e at mesmo, corroborava para um ideal de educao nacionalistaque s seria possvel numa volta s razes agrrias do Brasil, o campo. Oruralismo pedaggico surge como uma tentativa de resgatar a educao do campoque representava o Brasil de uma maneira genuna e por isso, a justificativa de selevar para o campo uma educao especfica apoiada em materiais e recursoshumanos prprios para esta realidade. Os ideais educacionais do movimento doruralismo pedaggico preconizavam uma mudana na educao principalmenteem temas que abrangiam a questo curricular, o calendrio escolar e a formaode professores em contraposio aos padres de ensino urbano. (Ramal, 2011p.1).

    Desde o perodo colonial a educao no foi uma preocupao do Estado Colonial

    Portugus e nem mesmo com o advento da repblica em 1889, j que foi a Igreja Catlica

    atravs da Companhia de Jesus que trouxe as primeiras experincias educacionais,

    porm se de um lado a educao tinha o papel de catequizao voltado para os ndios de

    outro seu papel era cuidar da educao dos filhos das elites agrrias do pas, embora

    nesta poca a educao mesmo entre as elites no fosse muito valorizada. Segundo

    Ribeiro (1993) o modelo rudimentar de economia agrcola no necessitava de muitas

    pessoas letradas e nem muitos para governar o que juntamente com a falta de incentivo

    atravs de polticas pblicas que incentivassem a educao pblica fez que a taxa de

    analfabetismo at 1950 fosse de 50% como veremos na tabela 4.

  • 34

    Tabela 4: Indicadores demogrficos e econmicos e taxa de alfabetizao no Brasil 1900-1950

    Indicadores 1900 1920 1940

    1950

    Populao total 17.438.434 30.635.605 41.236.315

    51.944.397

    Densidade demogrfica 2,06 3,62 4,88

    6,14

    Renda per capita em dlares 55 90 180 -

    % populao urbana 10 16 31 36

    % de analfabetos (15 anos e mais) 65,3 69,9 56,2

    50,0

    Fonte: Loureno Filho, M. B. Reduo das taxas de analfabetismo no Brasil entre 1900 e1960: descrio e anlise Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Rio de Janeiro, v. 44,n. 100, p. 250-272, out./dez. 1965; Fundao IBGE, Sries Estatsticas Retrospectivas,1970.

    Quanto aos filhos dos escravos e aqueles que no pertenciam s elites, para estes no se

    pensava numa escola, uma das razes para isso porque simplesmente no havia esta

    necessidade devido imensido das terras disponveis e pelo modelo de produo

    rudimentar que no prescindia um conhecimento tcnico. Foi somente no inicio do sculo

    XX, especialmente depois da dcada de 30 que surge uma preocupao com a educao

    no meio rural, preocupao esta que no consegue se impor frente ao conservadorismo

    das elites agrrias, com exceo de algumas polticas pblicas para a educao rural que

    so aquelas impulsionadas pelos Estados.

    A falta de escolas na rea rural foi um dos elementos que impediu que a lei 5.692/71

    alcanasse seu objetivo dos educadores que pretendiam universalizar o ensino segundo

    destaca SHIROMA (2011) e foi somente com a constituio de 1988 que com a

    obrigatoriedade do ensino bsico, inclusive nas reas rurais que est realidade comea

    mudar, mas at nossos dias existe uma disparidade muito grande entre as taxas de

    analfabetismo urbano e rural, especialmente na regio nordeste onde segundo dados da

    do Censo 2010 do IBGE a taxa de analfabetismo rural de 29, 78% contra 13, 34% na

    rea urbana enquanto a taxa nacional de analfabetismo rural de 21,25% contra 6,84%

    na rea urbana.

  • 35

    2.3 ASPECTOS HISTRICOS NA CONSTRUO DE POLTICAS PBLICAS

    EDUCACIONAIS EM REAS RURAIS O PARAGUAI

    A educao pblica surge no Paraguai em 1828, perodo que o pas foi governado por Dr.

    Jos Gaspar Rodrguez Francia, quando a escola primria era obrigatria at 14 anos e

    embora haja controvrsias dos diferentes autores sobre a importncia da lei que a

    educao pblica no pas e mesmo de seu papel no se pode deixar de primeiramente de

    observar que numa poca onde educao primria extensiva a toda a populao era algo

    raro, inclusive nos pases europeus e pensar em uma educao com professores pagos

    pelo Estado e uma poltica educacional que extensiva inclusive s reas rurais

    representou uma revoluo para sua poca, pois incluiu a classe trabalhadora nos bancos

    escolares.

    Uma das criticas centrais ao seu projeto educativo foi o fechamento do Colgio Carolino

    conhecido como Colgio So Carlos, a nica escola secundria do pas, um colgio

    privado, ligado Igreja que era responsvel pela formao da elite, inclusive onde se

    formou o prprio Dr. Francia. Porm embora alguns autores considerem este feito um ato

    de prepotncia de seu governo e considerem que a educao primria at os catorze

    anos era insuficiente e que tinha um papel militar e doutrinrio enquanto outros destacam

    que o Colgio havia perdido muito do seu pblico-alvo com o enfraquecimento da elite e

    com o isolamento do pas que veio juntamente com a luta pela independncia, j que este

    era o nico colgio que preparava para seguir os estudos a nvel superior e j no fazia

    sentido que as elites mandassem seus filhos para l estudarem dentro do novo contexto

    poltico, assim sendo, quando o Dr. Francia fechou o colgio este j se mantinha com

    poucos alunos.

  • 36

    La caracterstica central de la accin educativa en la poca del Dr. Francia estabadada por la existencia de un sistema campesino de educacin. Si bien cierto quehaba desaparecido el Colegio Carolino, no puede juzgarse toda accinpedaggica por este hecho, ms an teniendo el carcter elitista del Colegio.En cambio, la existencia de escuelas, que cubra casi todo el territorio habitado delpas representaba por 140 escuelas y 140 maestros, uno por escuela, como erala modalidad en la poca y con 5.000 alumnos-, haba criado la base del sistemaeducativo nacional. (VZQUEZ, 2008. P. 40)

    Durante o governo do presidente Carlos Antnio Lpez (1844-1962) e Marechal Solano

    Lopz (1862-1870) houve um avano quanto s polticas educacionais e a constituio de

    1944 refora a obrigatoriedade e a gratuidade da educao que teve como efeito que em

    1857 o pas tinha 406 escolas pblicas, e o total de 16.755 alunos7.

    Durante o governo de Antonio Carlos Lpez foram criadas diversas escolas

    especializadas, dentre elas a Academia Literria (1842), a Escola de Direito Civil (1850), a

    Escola Preparatria de Aritmtica (1852) que um ano depois se converte na escola de

    matemtica, a Escola de Artes e Ofcios (1854), Escola Normal (1858), o Seminrio

    Nacional do Clero (1859) e a Escola Nacional de Medicina (1861) escolas estas que

    contavam com um corpo docente composto de alguns professores atrados da Europa.

    Outra poltica pblica implementada neste perodo foi o envio de jovens bolsistas para

    estudar em escolas europeias que retornavam ao seu pas e ingressavam no magistrio.

    A guerra da Trplice Aliana (1864-1870) que por aqui ficou conhecida como guerra do

    Paraguai teve imenso impacto sobre o pas, que perdeu entre 50% e 85% de sua

    populao total e 90% da sua populao masculina e destruiu a economia do pas tento

    impacto tambm sobre a capacidade do pas em manter uma poltica educacional em

    muitos aspectos. Segundo Vzquez (2008) antes da guerra em 1970 somente 1,6% das

    terras estavam sobre a posse da propriedade privada, inclusive as terras pblicas eram

    de uso coletivo para a produo dos camponeses, porm aps a guerra pela necessidade

    de soldar dividas de guerra, de atrair populao fez que criasse uma poltica de vendas de

    terras especialmente para o capital estrangeiro e tem um impacto sobre a vida dos

    camponeses com a lei de terras de 1883.

    7 Fonte: Artigo a Poltica Educacional no Governo de Dom Antonio Lopz publicado no Jornal ABC Collor edio digitalde 15 de outubro de 2004. Disponvel em: . Acessado em 14 de setembro de 2014.

  • 37

    Ao falar das dificuldades registradas no perodo do ps-guerra a respeito de polticas

    educacionais percebemos que estas dificuldades esto relacionadas primeiramente a falta

    de recursos, alm disso, constitusse uma nova poltica de cunho liberal que tambm teve

    efeito sobre as polticas pblicas educacionais e o avano de uma nova elite no campo e

    a deteriorao da situao dos camponeses e dos povos originrios que perdem o acesso

    terra o que acaba por impactar a qualidade e o acesso a educao para os povos do

    campo como veremos mais a frente, porm e importante destacar que apesar das

    dificuldades houve uma preocupao com a educao como um elemento de

    reconstruo nacional, mas que est preocupao devido a uma nova relao de poder,

    onde o campons perde espao na poltica nacional e paulatinamente perde o acesso

    terra no representa para o campons o que representava antes pela situao de pobreza

    e abandono que vive.

    O processo de desvalorizao do elemento campons est relacionado ao indgena, povo

    que perde o acesso terra e aps a guerra da trplice fronteira dentro da nova

    configurao poltica do pas vive a margem mesmo num pas que se orgulha de se

    intitular uma nao guarani, mas que na verdade lanou esta parte da populao a uma

    condio de prias sociais e no difcil hoje ver indgenas apartados de suas terras em

    frente ao terminal rodovirio de Cidade do Leste ou nas periferias de Assuno.

    Em setembro de 1957, 4020 anos depois da Bula do papa Paulo III, a supremacorte da justia do Paraguai emitiu uma circular comunicando a todos os juzesque os ndios so to humanos quanto os outros habitantes da repblica (...) E oCentro de Estudos Antropolgicos da Universidade Catlica de Assuno, maistarde realizou uma pesquisa reveladora na capital e no interior: de cada dezparaguaios acreditavam que os ndios so como animais. Em Caaguaz, no AltoParan os ndios so caados como feras, vendidos a preos vis e explorados emregime virtual de escravido. No entanto, quase todos os paraguaios tem sangueindgena, e o Paraguai no cansa de compor canes, poemas e discursos emhomenagem a alma guarani. (GALEANO. 2013. P. 69).

    Demelenne (2008) no seu trabalho sobre educao rural no Paraguai com dados do

    censo de 2002 enfatizou algumas caractersticas do pas, dentre elas que o Paraguai era

    o pas com a maior taxa de fecundidade da Amrica Latina com 4,2 filhos por habitantes,

    uma populao jovem, onde 26% da populao tinha menos de 10 anos de idade e onde

    quase que a metade da populao ainda vivia no campo.

  • 38

    O trabalho destaca que os jovens que viviam na zona rural em 2001 recebiam uma

    remunerao mdia equivalente a 64% dos jovens que viviam na rea urbana, alm

    disso, que o nvel de instruo entre os jovens que viviam na rea rural no influa em sua

    remunerao diferentemente do que acontecia com os jovens que viviam nas reas

    rurais.

    3 ASCENSO POLTICA DA ESQUERDA NO CONE SUL E POLTICAS DE

    EDUCAO NO CAMPO EM PERSPECTIVA COMPARADA

    Este tem como objetivo perceber quais so os principais avanos assim como desafios

    enfrentados pelos governos de Fernando Lugo no Paraguai, Nestor e Cristina Kirchner na

    Argentina e Luiz Incio Lula da Silva e Dilma Rousseff no Brasil quanto as polticas

    implementadas para a melhoria da educao do campo e sua relao com o campesinato

    atravs da contextualizao de alguns fatores dos quais podemos destacar o momento

    poltico, a correlao de foras entre os interesses do campesinato e do agronegcio,

    inclusive dentro dos partidos que compe a base governista nos pases analisados.

    3.1 O CASO PARAGUAIO

    O mundo agrrio ainda est bastante presente na realidade paraguaia, pois o pas tem

    percentualmente a maior populao rural dentre os pases do MERCOSUL e segundo

    dados da Pesquisa Permanente de Lares de 2011 da Direo Geral de Estadstica,

    Pesquisa e Censos (DGEEC) 40,7% da populao paraguaia vive no campo contra 10%

    na Argentina e 15% no Brasil.

  • 39

    En cuanto a la significacin de lo agrario, debe tenerse en cuenta que enParaguay, a diferencia de pases vecinos, el campesino tiene igual o ms pesoque otros actores subalternos, de cara a un proceso de autotransformacin de lasociedad, caracterizada por la debilidad de su estructura de clases. En efecto, enParaguay, tanto la economa como la estructura social, continan siendopredominantemente agrarias; ms de la mitad de la poblacin vive en reasrurales y se dedica a tareas agroindustriales o agropecuarias, y la agriculturaprovee ms del 80 por ciento de nuestras exportaciones (FOGEL 1988).

    O crescimento do PIB paraguaio tem sido influenciado pelo crescimento das exportaes

    agrcolas e do setor primrio em geral (ver Tabela 6)

    Tabela 5: Contribuio dos principais setores na taxa de crescimento do PIB(Em porcentagem)

    Setores 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013Primrio 3,2 2,2 -4,2 7,2 0,9 -4,9 7,4Agricultura 3,5 1,8 -4,4 6,9 1,3 -5,3 6,9Pecuria -0,4 0,3 0,2 0,5 -0,4 0,3 0,5Outros primrios 0,0 0,1 -0,1 -0,1 0,0 0,0 0,0Sector Secundrio -1,2 2,0 -0,8 6,3 -1,6 4,6 7,9Sector Tercirio 5,3 4,8 2,2 9,0 5,8 6,1 9,5Fonte: Informe Econmico Preliminar8 2013 do Banco Central do Paraguai

    A importncia da agricultura para o crescimento do pas no se reflete da mesma

    forma na melhoria das condies de vida do campons, o que podemos perceber

    se observarmos a porcentagem de pessoas que tem acesso a um seguro mdico9

    na rea urbana 37,6% contra 10,4% na rea rural e quanto nos voltamos para o

    acesso aos servios bsicos enquanto nas reas urbanas 73,2% das famlias

    utilizam gs de cozinha na rea rural este nmero cai para 24% e na educao a

    mdia de anos de estudo para pessoas com 15 anos ou mais em 2010 nas reas

    urbanas de 9,4 enquanto nas reas rurais cai para 6,3 (ver tabela 7).

    8Disponvel em:

    9No Paraguai o sistema de sade no universal, sendo assim, para ter acesso sade ainda que pblica preciso ter um seguro mdico. No caso dos trabalhadores a condio de trabalhador formal por si s lhe garante um seguro do Instituto de Previdncia social(IPS).

  • 40

    Fonte: Programa de Promoo da Reforma Educativa na Amrica Latina e Caribecom dados da pesquisa permanente de domiclios (DGEEC 2011).

    Quando trabalhamos no s com a diferena entre educao urbana e rural, mas

    tomamos tambm em conta disparidades sociais percebemos que estas disparidades so

    por sua vez um reflexo das diferenas econmicas com contornos de gnero, raa e

    etnia.

    Fonte: (PNUD 2008) Dados da pesquisa de permanente de domiclios 2007.

    Tabela 7: Anos de estudo de chefes de famlia populao de 20 anos ou mais no

    Paraguai 2007

    Tabela 6: Mdia de anos de estudo da populao com 15 anos oumais no Paraguai - 2000 e 2010

  • 41

    Na rea rural o nmero de anos estudados est relacionado com o perfil socioeconmico,

    pois enquanto patres e grandes proprietrios agrcolas no ano de 2011 tinham em mdia

    15 anos de estudo, os agricultores e trabalhadores rurais tinham seis anos e se

    comparamos estes dados com os de 2000 veremos que enquanto os patres e grandes

    proprietrios agrcolas tinham em mdia 12 anos de estudo os agricultores e

    trabalhadores rurais tinham em mdia cinco anos de estudo segundo dados da Pesquisa

    Permanente de Lares de 2000 e 2011 da Direo Geral de Estatstica, Pesquisa e

    Censos.

    Ao observar estes dados veremos que embora no mesmo perodo o nmero de anos

    estudados tenha aumentado tambm a distncia em anos de estudo entre patres e

    grandes proprietrios trabalhadores rurais tambm cresceu em dois pontos.

    O governo de Fernando Lugo chega ao poder em 15 de agosto de 2008, aps 61 anos

    ininterruptos de governos ligados Associao Nacional Republicana (ANR) que mais

    conhecido como Partido Colorado que depois do PRI (Partido Revolucionrio Institucional

    do Mxico) que permaneceu 71 anos no poder o partido que por mais tempo se

    manteve no poder na Amrica Latina. A eleio de Lugo, um ex-bispo catlico ligado a

    causas sociais representou uma mudana de paradigma, pois desde 1947 o partido

    colorado se mantinha no poder.

    A questo da terra foi uma das principais promessas de Lugo, pois desde a

    democratizao do pas embora houvesse alguns avanos sociais a terra continuou com

    tendncia a maior concentrao.

    En algunos casos, existe evidencia de un empeoramiento, por ejemplo en laconcentracin de la tierra. El Censo Agropecuario Nacional de 1991 dio cuenta dela fuerte desigualdad de la tierra dejada por el gobierno derrocado. El 90,2% de latierra eran medianas y grandes propiedades; es decir, ms de 21 millones dehectreas eran ocupadas por apenas 20.124 fincas. En el otro extremo, 9,8%restante de las tierras estaba distribuido en ms de 287 mil fincas. El ltimo censoagropecuario realizado en 2008 muestra que esta situacin se ha polarizado anms (GEOGHEGAN, 2014 p. 25)

  • 42

    No inicio de seu governo, como destaca Molinier (2010) para enfrentar os problemas

    sociais Lugo props um plano estratgico que dentre outras coisas propunha: prosseguir

    com o crescimento econmico, mas aumentando as taxas de emprego e com melhor

    distribuio de renda; melhorar os investimentos nas reas sociais, fundamentalmente

    nas reas de educao e sade, focalizando o gasto pblico no combate extrema

    pobreza; aumentar a diversificao produtiva, preservando o meio ambiente e

    conseguindo melhor o aproveitamento dos recursos energticos; impulsionar a

    participao da sociedade civil e do setor privado na economia para fortalecer micro e

    pequenas empresas, em especial em pequenas propriedades agrcolas, aumentando sua

    capacidade produtiva.

    Uma das razes para se compreender quais foram as dificuldades encontradas por Lugo

    em levar a frente seus projetos perpassa pela organizao poltica do Estado Paraguaio,

    um Estado que durante 61 anos permaneceu nas mos do Partido Colorado, inclusive no

    perodo da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), perodo este em que o partido

    conseguiu controlar a mquina de Estado, inclusive dentro do poder judicirio. Cabe aqui

    destacar que Lugo eleito foi eleito pela Aliana Patritica para a Mudana, coligao

    compostas dentre outros partidos pelo Partido Democrata Cristo, partido de Lugo; pelo

    Partido Revolucionrio Febrerista; pelo Partido Social-democrata. importante destacar

    que na chapa de Lugo como vice-presidente foi eleito Lus Federico Franco Gmez do

    Partido Radical Liberal Autntico (PLRA), partido que tem suas origens no antigo Partido

    Liberal fundado em 1887 e historicamente o partido de oposio ao Partido Colorado.

    O apoio do PLRA a Lugo foi importante por este partido ser a segunda fora poltica

    dentro do pas e ter a segunda maior bancada dentro do parlamento, mas importante

    destacar o carter bipartidrio da poltica paraguaia. A aliana entre o PLRA e Lugo no

    foi bem-vista pelas foras polticas mais esquerda, uma vez que o PLRA historicamente

    presentava as foras mais conservadoras do pas.

    A composio do parlamento foi uma das dificuldades enfrentadas por Lugo para

    conseguir avanar com suas polticas sociais.

  • 43

    Dentre aqueles que simpatizaram com a vitria de Lugo, h dvidas em relao vontade poltica que o governo demonstrou para transformar a realidade, mas hconsenso sobre os obstculos que enfrentou. Eleito com 40,9% dos votos em umaaliana com os liberais, que indicaram o vice-presidente, as agremiaes nocampo da esquerda que integraram a coligao elegeram 3 dentre os 80deputados, e um igual nmero de senadores de um total de 45. Para constituirmaioria nas cmaras, o executivo precisaria compor no somente com os liberais,que elegeram 29 deputados e 14 senadores, mas tambm com a dissidnciacolorada comandada por Lino Oviedo sob a sigla UNACE (Unin Nacional deCiudadanos ticos). A frgil autonomia do presidente realada pela constituioem vigor, oriunda da transio, e que acentua a dependncia do executivo emrelao ao parlamento (SANTOS, 2012).

    Outro problema que Lugo enfrentou para no conseguir avanar na rea social foi por ele

    no conseguir romper com a falta de recursos que enfrenta o Estado paraguaio para

    investir em polticas pblicas, especialmente polticas sociais devido a forma em que o

    Estado cobrava seus impostos, um exemplo disso, o imposto de renda da pessoa fsica,

    imposto que quando Lugo esteve no poder ainda no existia e s veio a ser aprovado

    aps a sua sada do poder10, ainda assim com uma alquota mxima de 10%, valor

    considerado baixo se comparado aos 27,5% do Brasil, 35% da Argentina e aos 40% do

    Mxico. Com poucos recursos e apoio poltico, inclusive do PLRA, que embora tenha sido

    o maior partido da base governista se volta contra Lugo e apoia sua destituio em 2012

    quando o vice-presidente Federico Franco assume o poder at as eleies do mesmo

    ano, onde eleito Horcio Cartes do Partido Colorado.

    Alberto Alderete num artigo publicado no website Paraguay que Resiste11 destaca que

    embora Lugo tenha criado Coordenao Executiva Para a Reforma Agraria (CEPRA) no

    inicio de seu governo para impulsionar polticas de reforma agrria, ele no conseguiu

    avanar neste tema e destaca alguns dos principais entraves para que isso acontecesse,

    dentre eles destacasse: a hostilidade do parlamento, que composto em grande parte por

    grandes proprietrios de terra, assim tambm como as dificuldades enfrentadas nas

    tentativas de desapropriar terras, pois dos 100 processos abertos por Lugo, apenas um

    deles culminou em desapropriao por causa da resistncia da justia paraguaia. A

    maioria das terras destinadas a assentamentos de reforma agrria durante seu governo

    foi comprada e pela pouca disponibilidade de recursos no se pode avanar nesta rea e

    10 Em 2012 no inicio do governo do presidente Horcio Cartes do partido colorado que e foi sucessor dogoverno do presidente Lugo.

    11 Acesse em: < http://paraguayresiste.com/avances-mas-importantes-de-la-reforma-agraria-durente-el-gobierno-de-fernando-lugo>

  • 44

    as aes da CEPRA ficaram focalizadas na distribuio de kits escolares para alunos das

    escolas dos assentamentos de reforma agrria e a uma poltica de apoio tcnico para

    assentamentos que embora tenha sido a primeira experincia do gnero por no ter

    conseguido avanar na distribuio de terras aos trabalhadores e nem combatido a

    concentrao da terra no tiveram o efeito esperados na diminuio da desigualdade e da

    pobreza rural.

    Uma poltica pblica que cabe destacar o Programa Tekopor, um programa de

    transferncia de renda criado como um programa piloto ainda no governo de Nicanor

    Duarte Frutos (2003-2008) do Partido Colorado, mas que durante o governo de Lugo foi

    ampliado passando a atender 100 mil famlias.

    O Tekopor um programa de transferncia de renda voltado para famlias das zonas

    rurais com filhos at 14 anos com um valor que equivale de U$ 14 a U$ 36.

    3.2 O CASO BRASILEIRO

    O perodo posterior ditadura militar devido represso imposta durante a mesma

    representou um momento de ascenso de novos atores sociais. Cabe destacar a

    importncia da luta pela terra e o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Sem-terra

    (MST), movimento que representou a voz do campo. Na rea da educao o ndice de

    analfabetismo no campo em 1991 era de 40,1% para pessoas de 15 anos ou mais,

    nmero bem superior aos 29,8% de analfabetismo nas reas urbanas segundo dados do

    censo IBGE 2001. Enquanto a mdia de anos de estudo para a populao de 15 anos ou

    mais nas reas rurais era de 3,5%, nas reas urbanas este valor chega a 7,0%, e se

    tomarmos como parmetro a avaliao do rendimento escolar levando em conta a

    diferena do nvel de proficincia entre os alunos da zona rural e urbana com base nos

    dados do Sistema de Avaliao da Educao Bsica de 2001, veremos que a mdia

    menor nas reas rurais (ver tabela 9).

  • 45

    Tabela 8: Proficincia dos alunos de portugus e matemtica na 4 e 5 ano do Ensino

    Fundamental

    Proficincia em Lngua Portuguesa e Matemtica, na 4 e 8 srie do

    Ensino Fundamental - Brasil - SAEB/2001

    Ensino Fundamental

    Local Lngua Portuguesa Matemtica

    4 srie 8 srie 4 srie 8 srie

    Urbano 168,3 235,2 179 243,4

    Rural 134 198,9 149,9 202,5

    Variao 25,60% 18,30% 19,40% 20,20%Fonte: MEC/INEP SAEB/2001 apud Furtado (2004)

    Os problemas do campesinato no se resumem precariedade da educao, para, alm

    disso, a agricultura familiar sofria com problemas, dos quais podemos destacar: a falta de

    acesso ao crdito, o alto nvel de pobreza no campo, a falta de assistncia tcnica, e o

    baixo nvel de mecanizao. Estas condies sociais impulsionaram a luta dos

    movimentos sociais do campo por melhores condies de vida para os trabalhadores da

    agricultura familiar e camponesa.

    Na dcada de 90 o avano das polticas neoliberais no Brasil no conseguiram superar os

    problemas sociais no campo nem as altas taxas de desemprego nas cidades ou o alto

    percentual de informalidade laboral assim como os baixos salrios.

    Como resposta a estas condies, durante o governo de Fernando Henrique (1995-2003)

    segundo dados de 2011 do Banco de Dados da Luta pela Terra12 (DATALUTA) houve

    4.376 ocupaes de terra.

    Ao falar da luta por uma educao do campo importante ressaltar o papel dos

    movimentos sociais, em especial do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra que

    em 1998 juntamente com outros movimentos fundou a Articulao Nacional Por Uma

    Educao no Campo e no mesmo ano com apoio da Conferncia Nacional dos Bispos do

    Brasil (CNBB), e do Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), da Organizao

    das Naes Unidas para Educao e Cultura (UNESCO) e da Universidade de Braslia

    (UnB) organizou a I Conferncia Nacional por uma Educao Bsica no Campo na cidade

    de Luzinia em Gois, j no Estado do Paran cabe destacar a carta de Porto Barreiro

    12Disponvel em: < http://www2.fct.unesp.br/nera/>.

  • 46

    que foi resultado de um encontro com 450 educadores do campo realizado no ano de

    2000.

    A presso feita pelos movimentos sociais que inclua as ocupaes de terra, a I Marcha

    Nacional Pela Reforma Agrria em 1997, um ano aps o massacre de Eldorado dos

    Carajs, incidente onde foram mortos em um conflito agrrio 19 trabalhadores rurais sem-

    terra pela poltica militar do Par e como resultado das lutas travadas pelo MST e por

    outros movimentos sociais houve a conquista das primeiras polticas pblicas formuladas

    para educao do campo, ainda na gesto de Fernando Henrique Cardoso e dentre estas

    polticas se destaca a criao em 1998 do Programa Nacional de Educao na Reforma

    Agrria (PRONERA) e das Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas

    do Campo de 2002.

    Apesar das poucas conquistas deste perodo ainda se faziam necessrias mudanas

    mais profundas, uma vez que no governo de Fernando Henrique houve um esforo por

    desqualificar a luta pela terra e o campesinato ao classific-lo como o smbolo do atraso

    frente ao agronegcio.

    Nos governos neoliberais, principalmente na segunda gesto de FernandoHenrique Cardoso, o campesinato foi desqualificado como um sujeito atrasado,que no consegue se desenvolver e cuja nica alternativa se transformar numagricultor familiar integrado ao capital, considerado como moderno. Ocampesinato , por natureza, constitudo por agricultores familiares, mas a intensadiferenciao econmica entre os pequenos agricultores foi usada como causa doproblema, criando-se a ideia de que existe um campesinato atrasado e umagricultor familiar moderno (FERNANDES, 2013, p. 129).

    Ao fim do governo de Fernando Henrique Cardoso o ento candidato Luiz Incio Lula da

    Silva do Partido dos Trabalhados que em sua campanha prometeu assentar 1 milho de

    famlias e demostrava ter um plano de governo preocup