política social - fundamentos e história

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POLÍTICA SOCIAL: FUNDAMENTOS E HISTÓRIA CAPÍTULO 3 : KEYNESIANISMO - FORDISMO E A GENERALIZAÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL IESB-UNIESP Relações Internacionais Políticas Sociais no Âmbito Internacional Rafael Dionisio elaine rossetti ivanete boschetti

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Page 1: política social - fundamentos e história

POLÍTICA SOCIAL: FUNDAMENTOS E HISTÓRIA

CAPÍTULO 3: KEYNESIANISMO-FORDISMO E A GENERALIZAÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL

IESB-UNIESP

Relações InternacionaisPolíticas Sociais no Âmbito Internacional

Rafael Dionisio

elaine rossettiivanete boschetti

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1. FUNDAMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DOS “ANOS DE OURO”

John Maynard Keynes (economista britânico) preocupou-se em compreender eencontrar respostas para a crise de 1929 (livro teoria geral do emprego, do juro eda moeda - 1936). Defendeu a intervenção estatal com vistas a reativar aprodução. Keynes propunha a mudança da relação do Estado com o sistemaprodutivo e rompia parcialmente com os princípios do liberalismo. A proposta erauma saída democrática para a crise.O Estado com o keynesianismo tornou-se produtor e regulador, o que nãosignificava o abandono do capitalismo ou a defesa da socialização dos meios deprodução.Sendo esse Estado um agente externo em nome do bem comum (supondo queseja um Estado neutro) tem legitimidade para intervir por meio de um conjunto demedidas econômicas e sociais.

Cabe ao Estado o papel de restabelecer o equilíbrio econômico por meio de uma política fiscal e de

gastos.

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O Estado na perspectiva keynesiana, passa a ter um papel ativo naadministração macroeconômica, ou seja, na produção e regulação das relaçõeseconômicas e sociais. O bem-estar ainda deve ser buscado individualmente nomercado, mas se aceitam intervenções do Estado em áreas econômicas, paragarantir a produção, e na área social, sobretudo para as pessoas consideradasincapazes para o trabalho: idosos, deficientes e crianças. Nessa intervençãoglobal, cabe, portanto, o incremento das políticas sociais.

Ao keynesianismo agregou-se o fordismo que foi bem mais que uma mudançatécnica com a introdução da linha de montagem e da eletricidade, foi tambémuma forma de regulação das relações sociais, em condições políticasdeterminadas.

A introdução em 1914 da jornada de oito horas a cinco dólares para ostrabalhadores da linha mecânica de montagem nas fábricas de Henry Fordfoi uma novidade.Após 1945, tecnologias incrementadas no esforço de guerra transformaram-se em meios de produção na indústria civil (ocorre o boom de produção debens de consumo duráveis - carros, geladeiras, televisores, rádios e outros- combinado a urbanização e suburbanização nas cidades)

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O keynesianismo e o fordismo associados, constituem os pilares do processo de

acumulação acelerada de capital no pós-1945, com forte expansão da demanda

efetiva, altas taxas de lucros, elevação do padrão de vida das massas no capitalismo

central e um alto grau de internacionalização do capital, sob o comando da economia norte-americana, que sai da guerra sem

grades perdas físicas e com imensa capacidade de investimento e compra de

matérias-primas, bem como de dominação militar.

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2. AS POLÍTICAS SOCIAIS E A EXPERIÊNCIA DO WELFARE STATE

A primeira grande crise do capital, com a depressão de

1929-1932, seguida dos efeitos da Segunda Guerra Mundial,

consolidou a convicção sobre a necessidade de regulação

estatal para seu enfrentamento. Para enfrentar a crise foi

necessário a união de alguns fatores.

a) Políticas keynesianas com vistas

a gerar pleno emprego e

crescimento econômico num

mercado capitalista liberal

b) Instituição de serviços e políticas

sociais com vistas a criar

demanda e ampliar o mercado de

consumo

c) Um amplo acordo entre esquerda

e direita, entre capital e trabalho

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ELEMENTOS QUE MARCARAM A IDADE DE OURO DAS POLÍTICAS SOCIAIS:

O primeiro é o crescimento do orçamento social em todos os países da Europa queintegravam a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico),havia passado de 3% em 1914 para 25% em 1970.

O segundo foi o crescimento demográfico expresso pelo aumento da população idosanos países capitalistas centrais, que ampliou os gastos com aposentadorias e saúde.

O terceiro é o crescimento sequencial de programas sociais do período - a expansão deprogramas sociais foi bastante similar em quase todos os países: primeiro a coberturade acidentes de trabalho, seguida pelo seguro-doença e invalidez, pensões a idosos,seguro-desemprego e por último, auxílio-maternidade.

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Essas iniciativas começaram com as reivindicações da classe trabalhadora durante

o século XIX, tendo sido ampliadas no consenso pós-guerra, sobretudo com a

influência do Plano Beveridge de 1942, que propunha uma nova lógica para a

organização das políticas sociais a partir da crítica aos seguros sociais

bismarckianos (tais seguros eram destinados a reduzidas categorias profissionais

no final do século XIX e se espalharam no início do século XX, mas não tinham

caráter universal nem recebiam a designação de Welfare State).

PRINCÍPIOS ESTRUTURAIS DO WELFARE STATE

1. Responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio de um conjunto de ações em três direções:

regulação da economia de mercado a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública de serviços sociais universais, como

educação, segurança social, assistência médica e habitação; e um conjunto de serviços sociais pessoais

2. Universalidade dos serviços sociais e implantação de uma "rede de segurança" de serviços de assistência social.

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Importante reconhecer que o termo Welfare State tem origem na Inglaterra, mas há outras designações que nem sempre se referem ao mesmo fenômeno e não podem ser tratadas como sinônimo de Welfare State. É o caso do termo Etat-Providence (Estado providência) que tem origem no Estado social na França e o designa, enquanto na Alemanha o termo utilizado é Sozialstaat, cuja tradução literal é Estado social;

Os seguros sociais (a garantia compulsória de prestações de substituição de renda em momentos de riscos derivados da perda do trabalho assalariado pelo Estado, foi uma inovação da Alemanha na era bismarckiana). O modelo inglês de Beveridge tem como principal objetivo a luta contra a pobreza. Os princípios fundamentais do sistema beveridgiano são a unificação institucional e a uniformização dos benefícios.

As políticas sociais vivenciaram forte expansão após a Segunda Guerra Mundial, tendo como fator decisivo a intervenção do Estado na regulação das relações sociais e econômicas.

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Dois modelos predominantes para os estudiosos:

Quando ocorre predomínio da lógica do seguro, é identificado o sistema como sendode seguros ou bismarckianos.

Quando predominam amplos serviços não contributivos, tendem a identificá-lo comosistema beveridgiano ou de seguridade social.

Os "anos de ouro" do capitalismo "regulado" começam a se exaurir no final dos anos 1960. HOBSBAWM

As taxas de crescimento, a capacidade do Estado de exercer suas funções"mediadoras civilizadoras" cada vez mais amplas, a absorção das novas gerações nomercado de trabalho, restrito já naquele momento pelas tecnologias poupadoras demão-de-obra, não são as mesmas, contrariando as expectativas de pleno emprego,base fundamental daquela experiência. As dívidas públicas e privadas crescemperigosamente. A explosão da juventude em 1968, em todo o mundo, e a primeiragrande recessão - catalisada pela alta dos preços do petróleo em 1973-1974 - foramos sinais contundentes de que o sonho do pleno emprego e da cidadania relacionadaà política social havia terminado no capitalismo central e estava comprometido naperiferia do capital, onde nunca se realizou efetivamente.

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3. O BRASIL APÓS A GRANDE DEPRESSÃO E AS CARACTERÍSTICAS

DA POLÍTICA SOCIAL

O advento da crise internacional de 1929-1932 teve como principal repercussão

no Brasil, uma mudança da correlação de forças no interior das classes

dominantes, mas também trouxe consequências significativas para os

trabalhadores. Com a paralisia do mercado mundial em função da crise de 1929-

1932, as oligarquias agroexportadoras cafeeiras ficaram externamente

vulneráveis econômica e politicamente. As oligarquias do gado, do açúcar e

outras, que estavam fora do núcleo do poder político, aproveitaram as

circunstâncias para alterar a correlação de forças e diversificar a economia

brasileira.

Assim, chegam ao poder político, as outras oligarquias agrárias e também um

setor industrialista, quebrando a hegemonia do café, e com uma agenda

modernizadora.

O esforço regulatório inicial no período Vargas se deu entre os anos de 1930 e1943, que podem ser caracterizados como os anos de introdução da política social

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Principais medidas do período:

Em relação ao trabalho, o Brasil seguiu a referência de cobertura de riscos ocorridanos países desenvolvidos, numa sequência que parte da regulação dos acidentes detrabalho, passa pelas aposentadorias e pensões e segue com auxílios doença,maternidade, família e seguro-desemprego. Em 1930, foi criado o Ministério doTrabalho, e em 1932, a Carteira de Trabalho, a qual passa a ser o documento dacidadania no Brasil: eram portadores de alguns direitos aqueles que dispunham deemprego registrado em carteira.

O período de introdução da política social brasileira teve seu desfecho com aConstituição de 1937 - a qual ratificava a necessidade de reconhecimento dascategorias de trabalhadores pelo Estado - e finalmente com a Consolidação das LeisTrabalhistas, a CLT, promulgada em 1943. O Brasil acompanha as tendênciasinternacionais de incremento da intervenção do Estado diante das expressões daquestão social, mas com características muito particulares

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Em 1946, após 150 anos no poder, Vargas caiu, e abriu-se um novo

período no país, de intensas turbulências econômicas, políticas e

sociais. O Brasil tornou-se um país mais urbanizado, com uma

indústria de base já significativa e com um movimento operário e

popular mais maduro e concentrado, com uma agenda de

reivindicações extensa. A constituição de 1946 foi uma das mais

democráticas do país, chegando até a retirar o Parido Comunista da

ilegalidade. O período de 1946-1964 foi marcado por uma forte

disputa de projetos e pela intensificação da luta de classes.

Pode-se concluir que de 1946 até 1964 o país foi marcado pela

expansão lenta dos direitos, que se mantiveram ainda no formato

fragmentado da era Vargas.