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POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA REFORMA LEGISLATIVA E DO SETOR DA JUSTIÇA EM TIMOR-LESTE PROPOSTA CRL Timor-Leste

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POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA REFORMA LEGISLATIVA

E DO SETOR DA JUSTIÇA EM TIMOR-LESTE

PROPOSTA

CRLTimor-Les te

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POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA REFORMA LEGISLATIVA

E DO SETOR DA JUSTIÇA EM TIMOR-LESTE

PROPOSTA

Díli, agosto de 2017

Comissão para a Reforma Legislativa e do Sector da Justiça (CRL)

CoordenaçãoJorge Graça

ElaboraçãoJorge Graça

ColaboraçãoGeorgie McArthurJosé Soares

Edição e RevisãoJosé SoaresMelisa Caldas

Design gráficoNuno Costa

Assistência AdministrativaAuxiliadora Oliveira

Palácio do Governo, Edifício 2, 1º andar, Av. Marginal, Díli, Timor-Leste+670 735 52 849 | [email protected] www.crl.gov.tl

© Comissão para a Reforma Legislativa e do Sector da Justiça

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ÍNDICE1. Introdução ..................................................................................................... 2

2. Contexto ........................................................................................................ 3

3. Constatações e desafios ................................................................................. 6

3.1. No âmbito da análise legislativa ............................................................... 6

3.1.1. Legislação penal substantiva ............................................................. 6

3.1.2. Legislação comercial .......................................................................... 6

3.1.3. Código Civil - Casamento .................................................................... 7

3.1.4. Legislação setorial ............................................................................. 8

3.2. No âmbito da avaliação da implementação das leis .................................. 9

3.2.1. Quadro Legal das Terras e Propriedades ............................................. 9

3.2.2. Lei contra a Violência Doméstica ........................................................ 9

3.2.3. Código do Processo Penal ................................................................ 11

3.2.4. Processo Legislativo......................................................................... 12

3.3. No âmbito de uma política de resolução de conflitos centrada na sociedade . 13

3.3.1. Justiça formal ................................................................................... 13

3.3.2. Justiça informal ................................................................................ 16

4. Princípios ..................................................................................................... 19

5. Pilares ......................................................................................................... 20

5.1. Acesso ao direito ................................................................................... 20

5.2. Acesso à justiça ..................................................................................... 21

6. Objetivos ..................................................................................................... 22

APRESENTAÇÃO DA COMISSÃO PARA A REFORMA LEGISLATIVA E DO SECTOR DA JUSTIÇA (CRL)

Criação......................................................................................................... I Mandato.............................................................................................................. I Missão............................................................................................................................ II Composição..................................................................................................................... II Métodos........................................................................................................................... II

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I

7. Resultados esperados .................................................................................. 25

8. Implementação ............................................................................................ 27

8.1. Áreas de programa ................................................................................. 27

8.2. Critérios de avaliação da Política e Estratégia da Reforma........................ 29

8.3. Faseamento da execução, avaliação e revisão ......................................... 31

8.3.1. Preparação e organização ................................................................ 31

8.3.2. Execução ......................................................................................... 31

8.3.4. Avaliação da execução ..................................................................... 32

8.3.5. Revisão ........................................................................................... 32

9. Quadro institucional da Política e Estratégia da Reforma ............................... 33

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕESFigura 1: Pilares da Política e Estratégia da Reforma .......................................... 20

Figura 2: Áreas de programa (quadrantes de ação) ............................................ 22

Figura 3: Resumo dos critérios de avalição da Política e Estratégia da Reforma por área de programa ............................................................................................. 27

Figura 4: Faseamento da Implementação da Política e Estratégia da Reforma (Diagrama de Gantt) ......................................................................................... 32

Figura 5: Sistema de relações funcionais da Política e Estratégia da Reforma ..... 36

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II Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

APRESENTAÇÃO DA COMISSÃO PARA A REFORMA LEGISLATIVA E DO SECTORi DA JUSTIÇA (CRL)

CRIAÇÃO

A Comissão para a Reforma Legislativa e do Sector da Justiça, adiante designada por Comissão ou CRL, foi estabelecida nos termos da Resolução do Governo n° 30/2015, de 26 de agostoii.

MANDATO

A Comissão iniciou as suas funções a 16 de dezembro de 2015, com a atribuição pelo Primeiro-Ministro da posse a quatro Comissários, de entre os quais o Presidente.

O mandato da Comissão compreende a análise legislativa e a avaliação da implementa-ção de leis.

A análise legislativa abrange as leis, decretos-lei e decretos que integram o sistema nor-mativo nacional em vigor, bem como a identificação dos vazios de legislação, com o duplo sentido da reforma: a revisão de normas em vigor e a criação de novas normas jurídicas tendo em vista o desenvolvimento do sistema legislativo nacional.

A avaliação das leis incide sobre as normas legais vigentes previamente selecionadas para o efeito, tendo em consideração critérios de seleção e a iniciativa das instituições competentes que queiram introduzir melhorias nas disposições legais que lhes são apli-cáveis ou na efetividade da sua implementação.

No exercício do seu mandato, a Comissão goza de ampla autonomia técnica e responde perante o Ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros e, através dele, o Primeiro-Ministro e o Conselho de Ministros. O mandato da Comissão cessa juntamente com o do VI Governo Constitucional, o que se verificará em resultado das eleições legis-lativas de 2017.

i Usodoantigoacordoortográfico,porserdenominaçãodoorganismo.Odocumentoestáredigidopelonovoacordoortográfico,ratificadoemTimor-Lesteem2009(ResoluçãodoParlamentoNacionalnº14/2009,de6demaio)

ii ResoluçãodoGovernonº30/2015,de26deagosto,queestabeleceaComissãoparaaReformaLegislativaedoSectordaJustiça.Disponívelemhttp://www.mj.gov.tl/jornal/public/docs/2015/serie_1/SERIE_I_NO_32.pdf

Apresentação da CRLI

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MISSÃO

A missão da Comissão é catalisar, dinamizar, promover e monitorizar a reforma legislati-va e do setor da justiça, no âmbito do seu mandato, segundo metodologias conducentes à modernização, simplificação, harmonização, adequação e eficácia das leis e ao desen-volvimento do quadro normativo nacional.

COMPOSIÇÃO

Tendo uma composição legalmente prevista de seis membros, a Comissão foi consti-tuída a 16 de dezembro de 2015 por quatro Comissários, dos quais três permanentes, incluindo o Presidente, e um não permanente. Cada Comissário responde diretamente por áreas e atividades definidas pela Comissão.

A Comissão é assistida por sete profissionais distribuídos por três unidades funcionais - política e pesquisa legislativa, comunicação e imagem, e secretariado e gestão.

MÉTODOS

A Comissão segue métodos de pesquisa e análise legislativa documental e de campo, dando preferência a uma ampla participação e inclusão na recolha primária de dados bem como na discussão de temáticas, estudos, opções, propostas e recomendações para a reforma legislativa e do setor da justiça.

A consulta pública é contínua e ampla, tanto da iniciativa da CRL como de terceiros.

As relações de informação e coordenação entre a Comissão, o PN, o Governo, o Minis-tério da Justiça e cada uma das instituições independentes ou autónomas do setor da justiça - tribunais judiciais, ministério público, defensoria pública e entidade de gestão e disciplina do exercício da advocacia privada – são essenciais para uma adequada pre-paração para a reforma legislativa e do setor da justiça.

São estabelecidas formas de cooperação e assistência técnica com peritos, instituições e organizações nacionais e internacionais em razão das especializações requeridas pela análise legislativa e monitoria da implementação das leis definidas pela Comissão.

IIApresentação da CRL

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2 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

1. INTRODUÇÃOO VI Governo Constitucional de Timor-Leste analisou, em 2015, o quadro normativo na-cional em vigor e o sistema de justiça atual, tendo concluído ser necessário dar início à preparação de um processo nacional de reforma legislativa e do setor da justiça.

Para o efeito, desencadeou ações preparatórias, em 2015, que levaram à criação da Co-missão para a Reforma Legislativa e do Sector da Justiça (CRL), por Resolução do Governo nº 30/2015, de 26 de agosto, definindo como suas competências principais a análise legislativa e a avaliação da implementação das leis.

A CRL, cuja tomada de posse teve lugar a 16 de dezembro de 2015, iniciou de imediato as suas atividades, tendo, mediante amplas auscultações, consultas, entrevistas e pes-quisas empíricas e documentais, chegado à elaboração de relatórios de especialidade, notas concetuais, termos de referência e de uma proposta de política e estratégia nacio-nal de reforma legislativa e do setor da justiça, com a natureza de uma política pública.

Dos trabalhos realizados, resultaram conclusões e recomendações específicas que cons-tam dos estudos temáticos publicados no portal da CRL, com o endereço www.crl.gov.tl. Tornou-se evidente que havia necessidade de continuar o processo de reforma legislati-va e do setor da justiça, passando da fase da preparação à fase da execução.

Assim, cabe ao Governo aprovar a política pública necessária à implementação da re-forma. O presente documento dá corpo a essa política, cuja denominação é Política e Estratégia do Governo para a Reforma Legislativa e do Setor da Justiça (abreviadamente Política e Estratégia da Reforma).

A Política e Estratégia da Reforma destina-se a orientar o processo de implementação da reforma legislativa e do setor da justiça, no período da legislatura de 2017 a 2022.

O documento da Política e Estratégia da Reforma enuncia o contexto da reforma, apre-senta resumidamente as constatações dos estudos1 realizados na sua preparação e os desafios por eles identificados, indica os princípios e pilares que orientam e em que se baseia a reforma, bem como define os objetivos e fixa as áreas programa da reforma le-gislativa e do setor da justiça. Na Política e Estratégia da Reforma são também definidos os critérios para a sua avaliação periódica, assim como os meios e mecanismos para a sua execução e revisão.

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2. CONTEXTO2.1. A Constituição da República Democrática de Timor-Leste aprovada com a restau-

ração da independência nacional, a 20 de maio de 2002, estabeleceu um novo paradigma de valores e princípios, de direitos, liberdades e garantias pessoais, de direitos e deveres sociais, de organização do poder político – legislativo, executi-vo, judicial – e de organização económica e financeira. Estando consagrados na lei suprema, esses valores e princípios orientam a sociedade timorense e tendem a ser por ela vivenciados acima de quaisquer outros.

O ordenamento jurídico nacional, em fase de construção, está a ser modelado se-gundo os princípios da constitucionalidade e da supremacia constitucional, que parametrizam as deliberações e medidas de política legislativa, os atos dos órgãos estaduais, as condutas sociais e as ações dos cidadãos.

A Constituição da República é a fonte de direito primária na construção do ordena-mento jurídico, dos sistemas político-institucional, social e económico que o Esta-do e a sociedade timorense têm vindo a empreender.

2.2. A “lei anterior” foi mantida em vigor no território timorense, nos limites da Cons-tituição da República, cujo artigo 165º dispõe que “são aplicáveis, enquanto não forem alterados ou revogados, as leis e os regulamentos vigentes em Timor-Leste em tudo o que não se mostrar contrário à Constituição e aos princípios nela consig-nados.”

Nestes termos, o direito de origem indonésia ainda em vigor em Timor-Leste com-preende os domínios normativos ainda não abrangidos pelos regulamentos do pe-ríodo da Administração Transitória das Nações Unidas (UNTAET), nem pela legis-lação que, a partir da restauração da independência, foi aprovada e promulgada pelos órgãos competentes do Estado.

Mantêm-se também em vigor as normas do período entre 25 de outubro de 1999 e 20 de maio de 2012, aprovadas e colocadas em vigor por meio dos regulamentos da UNTAET, não revogados por lei posterior, os quais também são parte significati-va do direito ainda em vigor em Timor-Leste.

As normas que integram a legislação aprovada e promulgada ou posta em vigor pe-los órgãos constitucionalmente dotados de competência legislativa, a partir de 20 de maio de 2002, passam a coexistir com as normas em vigor de fontes do direito anterior, o direito indonésio e os regulamentos da UNTAET – as quais integram no seu conjunto o ordenamento jurídico timorense.

A construção do sistema judicial também reflete as circunstâncias da restauração e consolidação da independência nacional, bem como as culturas jurídicas que es-tiveram e ainda estão presentes nesse processo em diferentes graus de influência, de referir as culturas jurídicas do período colonial português, da ocupação indo-nésia, a da UNTAET, da globalização do direito e justiça, dos quadrantes de prove-

Contexto

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4 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

niência das assessorias externas envolvidas na cooperação e assistência jurídica e judiciária e da própria sociedade timorense, de raiz costumeira e comunitária.

2.3. A partir da restauração da independência nacional e tendo a Constituição como lei fundamental habilitadora, os órgãos de soberania com competência legislativa têm vindo a colocar em vigor no País diplomas legais estruturantes do ordenamen-to jurídico de Timor-Leste, dos quais se referem os seguintes: o Código de Processo Penal, em 2005 (Decreto-Lei n.º 13/2005, de 1 de dezembro, que revoga o Regula-mento n.º 2000/30 da UNTAET, sobre as Normas Provisórias do Processo Penal); o Código de Processo Civil, em 2006 (Decreto-Lei n.º 1/2006, de 21 de fevereiro); o Código Penal, aprovado em 2009 (Decreto-Lei n.º 19/2009, de 8 de abril), alterado pelas Leis nº 06/2009, de 15 de julho, 17/2011, de 28 de dezembro, 05/2013, de 14 de agosto, 03/2017, de 25 de janeiro e 05/2017, de 19 de abril; o Código Civil, em 2011 (Lei n.º 10/2011, de 14 de setembro); a Lei das Sociedades Comerciais (Lei n.º 04/2011, de 21 de abril, alterada pela Lei n.º 10/2007, de 14 de setem-bro), que revoga nas matérias do seu âmbito a legislação anterior (indonésia); o Estatuto dos Magistrados Judiciais (Lei n.º 08/2002, de 20 de setembro, alterada pela Lei n.º 11/2004, de 29 de dezembro), que juntamente com o Regulamento n.º 2001/25 da UNTAET e, na parte que este não tenha alterado, o Regulamento n.º 2001/11, e a Lei n.º 09/2011, de 17 de agosto, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 03/2013, de 11 de setembro, regulam a Organização dos Tribunais em Timor-Leste; o Estatuto do Ministério Público (Lei n.º 11/2008, de 30 de julho); o Estatuto da Defensoria Pública (Decreto-Lei n.º 38/2008, de 29 de outubro); o Regi-me Jurídico da Advocacia Privada e da Formação dos Advogados (Lei n.º 11/2008, de 30 de julho, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 39/2012, de 01 de agosto e subsequentemente pela Lei n.º 01/2013, de 13 de fevereiro e Lei n.º 04/2015, de 30 de dezembro).

Há assim nos últimos anos, um esforço significativo de criação e ampliação de um sistema jurídico de matriz civilista, através da aprovação de leis estruturantes e da regulação, ainda que parcial, do sistema judicial e sua orgânica.

Os setores da atividade económica, social, cultural e política têm sido também ob-jeto de regulação, através de diplomas legais da iniciativa ou aprovação do Go-verno, embora a sua regulação e regulamentação ainda precisem de ampliação a áreas importantes de atividade.

2.4. Ainda que se compreenda a transposição e aceitação de quadros normativos exter-nos como política legislativa de certas fases, devido à necessidade de introdução em muito curto espaço de tempo de sistemas normativos estruturantes novos, tem sido assim a construção dos sistemas jurídicos modernos e contemporâneos, tanto de matriz civilista como anglo-saxónico e híbridos, incluindo no caso das indepen-dências nacionais que se afirmaram nas últimas décadas. Torna-se cada vez mais claro e premente que é fundamental que se inicie a reforma dos regimes colocados em vigor na ordem jurídica interna timorense, em face da realidade timorense, re-veladora da necessidade de adequação, modernização, simplificação, desenvolvi-mento e efetividade das leis.

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São 15 anos de edificação da nação soberana e independente, do Estado de Direito democrático e do ordenamento jurídico timorenses. É hoje claro que há legislação e disposições legais a rever, umas porque contrárias à Constituição da República ou a diplomas superiores na hierarquia das leis, outras, porque desajustadas da realidade nacional ou de complexidade evitável, ou porque estabelecem forma-lidades excessivas e desnecessárias, ou ainda porque usam uma linguagem de difícil compreensão, não foram implementadas e precisam de meios que as tornem efetivas ou ainda porque perderam atualidade, caíram em desuso e não devem ser tornadas efetivas.

A adequação dos regimes e sistemas jurídico-institucionais transpostos, mas tam-bém a geração de novos ou o desenvolvimento de uns e outros são cada vez mais fortemente uma necessidade expressa pela Sociedade e Estado timorenses, que deve efetivar-se a partir das realidades sociais, económicas, institucionais e políti-cas nacionais. A adequação, criação ou desenvolvimento de regimes e sistemas em novas bases jurídico-institucionais, em que se tenha os cidadãos timorenses como ponto de partida, atores participantes do processo legislativo e destino das leis, é hoje de um imperativo da política legislativa nacional, tanto mais que o direito e a justiça devem ser fatores essenciais de transformação democrática, de identidade e modernização, de coesão social e paz, de soberania, de segurança e de desen-volvimento e bem-estar da sociedade timorense.

Contexto

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6 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

3. CONSTATAÇÕES E DESAFIOSOs estudos preparatórios da reforma legislativa e do setor da justiça, efetuados em 2016 e 2017, nos âmbitos da análise normativa, da avaliação da aplicação das leis e sua efe-tividade, da organização e funcionamento dos tribunais judiciais, do mapeamento das instâncias de resolução de conflitos pelas comunidades e suas interações e articula-ções, entre si e com o Estado, focaram temáticas selecionadas em resultado de ausculta-ções e consultas extensivas, públicas e com profissionais e apresentaram constatações, conclusões e recomendações relevantes com relação ao quadro legislativo e aos meios de resolução de conflitos, conforme a seguir se especifica.

3.1 NO ÂMBITO DA ANÁLISE LEGISLATIVA

3.1.1. Legislação penal substantiva

Sobre a legislação penal substantiva em vigor (CP e leis criminais especiais), constatou--se que já se encontra em vigor legislação estruturante em proteção da nossa sociedade e dos direitos e liberdades individuais dos cidadãos, incluindo relativamente a direitos humanos, sendo, no entanto, de referir que precisa de atualizações e ajustamentos em domínios identificados, existindo como desafios, nomeadamente:

• Uma mais efetiva proteção da vítima e testemunhas em tipos de crime como de vio-lação, abuso sexual, exploração sexual de terceiro, por falta de inclusão na tipologia legal desses crimes de elementos relevantes tais como violação na relação matrimo-nial, violação na relação de facto, abuso de poder sobre a vítima nos crimes de abuso sexual e agravação dos crimes de exploração sexual com uso de engano ou manobra fraudulenta ou aproveitamento de incapacidade física ou psíquica da vítima ou ainda perigo de saúde ou de vida para a vítima;

• O estudo de uma adequação geral das molduras penais através de estudos próprios sobre a aplicação e execução das penas em concreto e seu impacto quanto aos efei-tos efetivos em face das finalidades da pena;

• A introdução no nosso ordenamento jurídico de leis criminais especiais em certos do-mínios de maior perigosidade social ainda por legislar ou cujas leis em vigor não são suficientemente abrangentes, como sejam sobre corrupção, tráfico de seres humanos e de seus órgãos e partes, pirataria, proteção de cabos de telecomunicações subma-rinos, crimes praticados com uso de meios informáticos (crimes cibernéticos).

3.1.2. Legislação comercial

Sobre a lei reguladora da atividade comercial ou lei comercial em sentido amplo consta-tou-se que têm sido adotadas reformas legislativas para melhorar o ambiente regulador

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dos negócios no País, como parte da reforma económica em curso, como sejam a nova Lei das Sociedades Comerciais e o Regime Jurídico do Licenciamento da Atividade Co-mercial e do Registo Comercial e outra legislação económica recente, sendo no entanto de referir que persistem desafios, nomeadamente:

• A introdução de uma lei base que regule a empresa comercial e o estabelecimento comercial, bem como as obrigações gerais dos comerciantes, de modo a abranger o conjunto da atividade económica, ampliar a participação dos agentes económicos no mercado nacional, tornar a lei comercial mais acessível e inclusiva e incrementar o investimento nacional e estrangeiro;

• A regulação dos contratos comerciais por lei própria, dado que os contratos estão regidos de uma forma dispersa, insuficiente e de difícil acesso, sobretudo através de legislação anterior à restauração da independência, precisando de uma regulação moderna e desenvolvida sobre os contratos comuns, incluindo áreas tais como as transações e contratos eletrónicos, bem como por legislação específica sobre contra-tos cujas especificidades requeira diploma próprio;

• A regulação das garantias de créditos provenientes de mútuos bancários de modo a assegurar um quadro legal seguro e atrativo ao aumento do financiamento das empre-sas e da economia em geral;

• A simplificação da regulação das sociedades comerciais, considerando que a lei vi-gente ainda é complexa, apesar da sua alteração recente, de modo a que a maioria das empresas no mercado nacional - de micro, pequena e média escala - e as formas societárias de realização do investimento nacional e estrangeiro possam mais ampla-mente conformar-se com a lei;

• A regulação dos títulos de crédito, tendo em consideração as regras uniformes sobre o cheque, as letras e livranças provenientes das Convenções de Genebra;

• A regulação da insolvência;

• A regulação da arbitragem, conciliação e mediação comercial, tendo em atenção as melhores práticas universais e as recomendações sobre a Lei Modelo provenientes da Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional.

3.1.3. Código Civil - Casamento

Sobre a aplicação das normas reguladoras do casamento constantes do Código Civil (em vigor desde 2012) constatou-se que, à exceção do casamento católico, não têm sido celebrados casamentos civis nem casamentos barlaqueados monogâmicos em território nacional por falta de aprovação por lei de normas sobre o registo civil (processo prelimi-nar do casamento em especial), nem mesmo existe a possibilidade legal de admissão de celebração ou reconhecimento de outras formas de casamento religioso ou de uniões conjugais estáveis por não estarem previstos em lei substantiva civil ou com efeitos na lei civil, mantendo-se como desafios, nomeadamente:

Constatações e desafios

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8 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

• A regulamentação urgente do registo civil do casamento celebrado em Timor-Leste;

• O estudo das modalidades de casamento e das relações conjugais prevalecentes na sociedade timorense, bem como a sua relevância no que se refere à proteção legal, enquanto formas constitutivas da família, em face dos princípios constitucionais da liberdade religiosa e de culto e da igualdade perante a lei, que guiam no sentido de um futuro reconhecimento pela lei civil do casamento religioso não católico e da união conjugal estável.

3.1.4. Legislação setorial

Sobre a legislação setorial, dos dados facultados pelos diversos setores da atividade do Governo, em resultado do levantamento efetuado no período de novembro 2016 a maio de 2017, constatou-se que existe um deficit sério de capacidade por parte das unidades jurídicas que se refletiu na insuficiência da informação e análise da maioria dos setores com relação aos objetivos pretendidos, sendo de referir como desafios o seguinte:

• A regulamentação ainda em falta de muitas das leis setoriais e a adequação de leis e regulamentos, nomeadamente (de acordo com indicação do levantamento junto dos setores): trabalho – a passagem da definição da idade mínima laboral para os 18 anos; segurança social – regulamentação da recentemente aprovada lei de segurança social e sua aplicação; educação – regulamentação dos critérios de acesso ao ensino superior e de efetiva aplicação das leis de aplicação no setor, que requer recursos e capacidades muitas vezes aquém do exigido legalmente; tráfego rodoviário – adequa-ção e maior detalhe e abrangências das regras do Código da Estrada (2003) em vigor; planeamento e ordenamento do território - regulamentação da Lei de Bases do Orde-namento do Território em vigor recentemente aprovada (2017) e definição do Regime Jurídico da urbanização e edificação; habitação - regulamentação da política nacional da habitação aprovada em 2007; saneamento básico - regulamentação da política nacional de saneamento básico aprovada em 2012; telecomunicações – definição de um regime sancionatório; proteção civil – regulação da proteção civil; administra-ção estatal – regulamentação que garanta adequação, consistência, abrangência e harmonização das carreiras profissionais nos vários níveis e âmbitos da atividade do setor;

• A monitorização e acompanhamento da aplicação das leis e regulamentos setoriais;

• O estabelecimento de sistemas de informação legislativa e normativa dos setores;

• A formação de juristas timorenses em pesquisa e redação legislativa, bem como em língua portuguesa e tétum jurídico;

• A execução de levantamentos legislativos setoriais anuais de atualização com base em metodologia uniforme, tendo em consideração a experiência do primeiro levanta-mento efetuado (2017).

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3.2. NO ÂMBITO DA AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DAS LEIS

3.2.1. Quadro Legal das Terras e Propriedades

A análise preliminar da situação da legislação de terras e propriedades, com vista à con-ceção do que seria a avaliação da sua implementação futura, decorreu enquanto as leis estruturantes do Regime Jurídico das terras e propriedades se encontravam em processo legislativo para a sua aprovação, o que veio a verificar-se com a subsequente promulga-ção e publicação no primeiro semestre de 2017 (Lei n.º 6/2017, de 19 de abril – Lei de Bases do Ordenamento do Território Lei n.º 8/2017, de 26 de abril – Lei da Expropriação por Utilidade Pública – e Lei n.º 13/2017, de 05 de junho – Regime Especial para a De-finição da Titularidade dos Bens Imóveis). Cada uma destas Leis prevê a sua entrada em vigor 90 dias após a respetiva publicação e determina a revogação tácita da legislação anterior, e colocam desafios exigentes à sua implementação, nomeadamente:

• Início imediato do planeamento legislativo e regulamentar da implementação desse pacote legislativo, enquanto elaboração e harmonização de diplomas legais e avalia-ção do seu impacto prospetivo, bem como disseminação e divulgação pelos imple-mentadores e do público em geral, incluindo em especial membros das comunidades e dos grupos sociais envolvidos em matéria de acesso e resolução de litígios sobre terras;

• Formação profissional e formação universitária dos muitos e diversificados interve-nientes, tanto judiciais como sociais e administrativos.

• A capacitação para a observação e avaliação da implementação das leis de terras e propriedades e seus impactos, de modo a que possam iniciar-se no segundo ano da sua implementação, como parte da Política e Estratégia do Governo para a Reforma Legislativa e do Setor da Justiça.

3.2.2. Lei contra a Violência Doméstica

A avaliação preliminar da implementação da Lei Contra a Violência Doméstica em vigor (LCVD), realizada em 2016 - 2017, no âmbito do diagnóstico de preparação para a refor-ma legislativa e do setor da justiça, levou a constatações tais como:

• O combate à violência doméstica e a sua prevenção são parte da agenda política, judi-ciária e da sociedade civil, com a adoção da Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW, sigla inglesa) e a entrada em vi-gor da Lei Contra a Violência Doméstica – Lei n.º7/2010, de 7 de julho (LCVD), objeto de disseminação e sensibilização muito ampla, embora se verifique ainda existirem muitas mulheres vítimas de violência doméstica sem consciência dessa sua situação e violência contra as crianças sem que seja compreendida como tal, ainda que se per-cecione uma atitude social tendencialmente mais reprovadora da violência contra as crianças do que da violência conjugal;

Constatações e desafios

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10 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

• A prevalência da violência doméstica contra a mulher permanece elevada e a preven-ção e combate deste tipo de violência requer uma política e ação pública, bem como um envolvimento da sociedade civil e das comunidades e famílias que tenha uma maior e melhor articulação, mais consistência, mais apoio, mais recursos e investi-mento e maior inclusão a todos os níveis;

• As vítimas de violência doméstica recorrem aos tribunais judiciais como último reduto de proteção e justiça, atendendo aos constrangimentos do acesso à justiça, de vária ordem, que afetam as vítimas, na sua esmagadora maioria mulheres; têm em mui-tos casos a polícia (PNTL) como primeiro ponto de contato, seguindo-se o Ministério Público para o inquérito e acusação, sendo o caso, em face da natureza pública do crime; a vulnerabilidade das vítimas leva a que na sua maioria só apresentam quei-xa quando têm apoio familiar; a assistência e apoio das ONGs dedicadas a serviços de assistência incluindo abrigo, tem sido fundamental na prevenção e combate da violência doméstica e mitigação da situação de vulnerabilidade da mulher vítima; o melhor atendimento às vítimas requer sensibilização e formação mais adequada e contínua dos intervenientes nas várias fases do seu processo, como sejam a polícia, Ministério Público, tribunais, hospitais, instituições públicas e sociais, bem como li-deranças comunitárias e tradicionais.

• A maioria dos processos judiciais de crime de violência doméstica tem resultado na aplicação de pena suspensa, o que, se por um lado, parece revelar uma certa sensi-bilidade para aspetos sociais e de regeneração envolventes desses tipos de crime, por outro lado, parece poder gerar um sentimento de impunidade e descredibilizar a justiça formal pelo que as vítimas e os cidadãos em geral possam esperar como atua-ção mais afirmativa de quem recorreram como última proteção. Dessas constatações decorrem desafios de entre os quais se realçam os seguintes:

▸ Prosseguir de forma mais efetiva, ampla, persuasiva e convincente a disseminação e divulgação das leis de prevenção e luta contra a violência doméstica e de género e pelos direitos da criança, bem como dos resultados da sua aplicação, incluindo exemplos encorajadores do prosseguimento desses processos;

▸ Regulamentar e tornar mais efetivas as articulações entre instituições, tais como polícia, Ministério Público, tribunais, defensoria pública, advogados e ONGs, para que melhorem a assistência às vítimas de violência doméstica e de género e a sua prevenção, incluindo prosseguir e apoiar os programas mais efetivos ou capazes de alcançar impactos significativos no curto e médio prazos, com o sentido de con-tribuir significativamente para reduzir, mitigar e eventualmente superar as vulnera-bilidades prevalecentes relativamente à mulher e à criança.

▸ Avaliar a situação de aplicação de pena suspensa à maioria dos processos judiciais de crime de violência doméstica na perspetiva da sua caraterização e impacto com relação à vítima, à criança, ao agressor, às famílias e comunidades;

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3.2.3. Código de Processo Penal

O estudo de avaliação exploratória da aplicação da lei processual penal em vigor (Código de Processo Penal – CPP), realizada em 2016 - 2017, no âmbito do diagnóstico de pre-paração para a reforma legislativa e do setor da justiça, que incluiu trabalho de campo e análise de dados estatísticos, levou a constatações tais como:

• Necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o processo penal em vigor e suas fontes normativas, de matriz civilista, com o sentido de os atores judiciais participa-rem de forma devidamente informada na busca de soluções normativas para o proces-so penal, que melhorem a resposta às novas dinâmicas da criminalidade, no contex-to social e político do País, salvaguardando as garantias dos direitos e liberdades e transparência e eficiência da ação penal constitucional e legalmente consagrados;

• A lei processual penal em vigor admite que o juiz que intervém na fase de inquérito possa também vir a ser o juiz do julgamento, o que enfraquece o princípio da impar-cialidade do julgador e as garantias fundamentais dos arguidos, que, por sua vez, geram incoerência no próprio modelo processual adotado;

• A não consagração legal do juiz de instrução ou juiz de garantias pode estar a criar ineficiências e insuficiências na investigação criminal e ação penal, associada à ca-rência de recursos humanos em termos de magistrados e de atores judiciais relevan-tes na investigação e inquérito; sendo esta carência, para além da necessidade de maior consolidação do processo penal, razões para considerar que ainda não estão criadas condições para a criação de uma fase de instrução no processo penal;

• O modelo de processo e as regras processuais penais em vigor não parece induzirem morosidade ou ineficiência processual, a qual se situa na fragilidade dos instrumen-tos e condições da sua aplicação, nomeadamente em gestão mais eficaz e eficiente de recursos humanos, materiais e financeiros num contexto de escassez, que assegu-re a marcação e realização efetiva de audiências de julgamento, sem sobreposições nem longas esperas;

• Possibilidade de obtenção de melhorias na ação penal e garantia processual dos direi-tos e garantias fundamentais com os recursos atuais, através de gestão mais eficiente dos casos em processo-crime, desde a investigação ao julgamento; a verificação de detenções para além do prazo e arbitrárias;

• Uma investigação criminal ineficiente e dispersa pelos vários órgãos com competên-cia investigativa, que tornam mais complexa e difícil a direção e investigação criminal geral pelo Ministério Público, naturalmente dotado do corpo mais qualificado de in-vestigadores e garante da formação de procuradores e investigadores e da sua afeta-ção.

Constatações e desafios

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12 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

Dessas constatações decorrem desafios de entre os quais se realçam os seguintes:

• Prosseguir os estudos e debates informados, com formação associada de magistra-dos e atores judiciais em geral com o sentido de adotar soluções normativas e de gestão mais eficiente para uma mais eficiente e garantística investigação e inquérito, bem como acusação penais, em que também se atenda a mediação judicial nos cri-mes em que seja admissível;

• Estudar também o sistema institucional-legislativo da investigação criminal em vigor e suas práticas, de modo a assegurar a sua melhor direção, capacitação e desenvol-vimento com base nos poderes do Ministério Público de garante da investigação e titular da ação penal.

3.2.4. Processo Legislativo

No processo legislativo a nível do Governo, a avaliação da legislação em vigor em con-fronto com a prática relativa ao processo legislativo, conduziu às seguintes constatações principais:

• A lei constitucional e a lei ordinária em vigor não são suficientemente clarificadoras em matéria de noção de lei e suas formas de expressão assim como hierarquia e graus de normatividade, incluindo no que se refere à posição e função do costume interno;

• A não aplicação generalizada das regras em vigor que regulam a iniciativa e tramitação dos projetos e propostas legislativas ao nível do Governo, em especial na governação do processo, programação legislativa, coordenação, tramitação e prazos dos atos nor-mativos nos procedimentos recíprocos entre as unidades jurídicas nos ministérios e a unidade de apoio jurídico do Conselho de Ministros e o processamento desses atos em preparação das reuniões do Conselho de Ministros e definição da sua agenda, prevalecendo práticas que resultam de situações de contingência e processamento urgente dos atos normativos;

• A preparação de atos legislativos na maioria das vezes sem que sejam precedidos da definição da política pública que deva guiar o conteúdo da sua elaboração, assim como a falta de estimativa prévia das implicações e impactos previsíveis dos atos legislativos, como informação necessária à tomada de decisão pelo Conselho de Mi-nistros quanto às opções a seguir;

• Muito pouca capacidade institucional e profissional, tanto em número como qualifica-ção de recursos humanos timorenses e outros, em matéria de elaboração legislativa e análise jurídica, de que se destacam, por um lado, a muito pouca capacidade de redação em língua portuguesa, e por outro, a de adequação à realidade nacional;

• Falta de sistemas de informação e gestão informática e documental das unidades com intervenção no processo legislativo, inclusivamente em matéria de legislação de refe-

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rência e monitorização da tramitação dos projetos e propostas, bem como do equipa-mento e software correspondentes.

Das constatações decorrem desafios com relação à melhoria do sistema legislativo a nível do Governo, nomeadamente:

• A regulação da hierarquia dos atos normativos através de lei específica e reapreciação das normas sobre a publicação dos atos normativos;

• A revisão das normas do regimento do Conselho de Ministros sobre órgãos, mecanis-mos e procedimentos do processo legislativo;

• A organização e capacitação institucional, incluindo a formação contínua em elabora-ção legislativa, das unidades de assessoria envolvidas no processo legislativo, com enfoque prioritário na unidade do Conselho de Ministros.

3.3 NO ÂMBITO DE UMA POLÍTICA DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS CENTRADA NA SOCIEDADE

A pluralidade normativa reflete-se na pluralidade de meios de resolução de conflitos na sociedade timorense. Esta heterogeneidade, tanto no panorama normativo como no da resolução de conflitos remete a heranças jurídico-institucionais do passado e práticas sociais mais recentes que se afirmam e adquirem formas de articulação e simbiose com os sistemas estatais em edificação e desenvolvimento.

A complexa realidade do sistema normativo-legislativo e dos meios de resolução de con-flitos na sociedade timorense requerem uma particular consideração das suas diversi-dades e articulações, bem como desenvolvimentos que atendam às funções de cada um e às complementaridades de conjunto que garantam coerências e consistências entre si e internas a cada sistema ou modos institucionais, assim como maior compreensão das leis e recurso às instituições da justiça pelos cidadãos.

3.3.1. Justiça formal

Os resultados do diagnóstico sobre os tribunais judiciais, levado a cabo no período de dezembro de 2017 a abril de 2017, cujas conclusões e recomendações foram objeto de ciclos de análise e debate alargadas aos envolvidos no sistema judicial e sociedade civil, permitem chegar a constatações tais como:

Dependência

Ainda é muito significativa a dependência do aconselhamento, assessoria, assistência e formação jurídicas por profissionais do direito de nacionalidade estrangeira, relativa-

Constatações e desafios

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14 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

mente à interpretação e aplicação do direito nacional timorense por parte dos atores judiciais timorenses (juízes, procuradores, advogados, juristas e profissionais no setor da justiça);

Distanciamento do cidadão

• O mapa judiciário (quatro tribunais distritais) e a organização judiciária (modelo em que assenta) mantêm-se os mesmos desde o período da transição para a restauração da independência, estando presentemente desajustados em relação às necessidades sociais;

• Esse desajustamento é agravado pela escassez de recursos humanos qualificados, mesmo em funções jurisdicionais soberanas e de gestão, indispensável à boa gestão dos serviços judiciais, instrumentais e técnicos dos tribunais; a língua de referência do direito aplicável e as sentenças dos tribunais em português são fator da distancia-ção institucional, pelo que precisa de utilização, explanação e divulgação particular-mente cuidadas;

• O alargamento da rede de tribunais distritais e dos julgamentos móveis é necessário, para aproximar a justiça dos cidadãos e vencer os constrangimentos do acesso à jus-tiça (distância geográfica, dificuldades viárias e de transporte, custos de deslocação elevados para as populações); a considerar o alargamento recente dos serviços do Ministério Público a novos distritos;

• As condições de coordenação, logísticas, orçamentais e de infraestruturas ainda são insuficientes e precisam de melhorias e ampliação, de modo a que sejam assegura-das marcações e espaços convenientes de julgamento, presença das testemunhas, evitar contato entre vítima e autor em caso de audiência de julgamento crime;

• A interdependência funcional entre os tribunais, o Ministério Público, a polícia e as instâncias sociais de resolução de conflitos no plano das comunidades, é relevante para a nossa sociedade juridicamente plural, pela sua frequência, divisão e partilha social de responsabilidades e significado legitimante.

Insuficiências na formação em direito

• Licenciaturas em direito em que os planos curriculares não correspondem a uma ma-triz definida a nível nacional, incluindo casos em que se têm por base fontes que não o direito nacional timorense ou apenas contemplem parcialmente o direito em vigor, em que a língua de ensino tanto pode ser a portuguesa como o tétum e mesmo o in-donésio;

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• Falta da devida acreditação e avaliação oficial dos planos curriculares da licenciatura em direito;

• Formação complementar inconsequente e pouco ajustada às necessidades profissio-nais das instituições do setor da justiça;

• O ensino do direito é excessivamente teórico e com recurso sobretudo a métodos ex-positivos, descurando a formação mais de carater prático e reflexiva própria de um direito em construção; concentração sobretudo em disciplinas do âmbito penal e dei-xando em descoberto ou secundarizados domínios tais como o civil, o comercial, o administrativo, o constitucional e os direitos humanos, assim como áreas auxiliares como a gestão, a contabilidade, a sociologia e a informática;

• Falta de um corpo docente nacional suficiente e dificuldade no recrutamento de do-centes, mesmo expatriados, com capacidade para o ensino do direito com dedicação académica plena e domínio de estratégias pedagógicas e metodológicas de ensino do direito em Timor-Leste;

• Insuficiência de recursos financeiros para contratação de docentes de direito;

• Escassez de bibliografia atualizada.

Das constatações decorrem desafios fundamentais necessários à construção e desen-volvimento do sistema judicial, sendo de destacar:

• A reforma do sistema judicial a partir de dentro, com a participação ampla e ativa dos atores judicias, bem como em conjunto dos atores políticos e sociais, em que os ato-res externos, de assistência técnica e cooperação, sejam enquadrados num programa nacional de reforma do sistema de justiça fundamentado numa agenda e em métodos e processos efetivamente orientados, geridos e tecnicamente participados por profis-sionais timorenses, ainda que em processo de capacitação, formação e aperfeiçoa-mento profissional;

• A reforma sustentada e gradual do mapa judiciário e da organização judiciária nas suas várias componentes, assegurando a concomitante capacitação e desenvolvi-mento institucionais, bem como a ponderação dos aspetos estruturais e de contin-gência, incluindo de curto, médio e longo prazos; habilitar a reforma com a legislação e regulamentação, designadamente a lei da organização judiciária;

• Aplicar o método das experiências piloto na implementação da reforma judicial de modo a que o direito e a justiça sejam mais acessíveis aos cidadãos, mais democráti-cos, igualitários, efetivos e socialmente inclusivos e justos;

• Estudar e propor a reforma do ensino do direito nas suas várias vertentes e níveis;

Constatações e desafios

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16 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

• Criar capacidade e sustentabilidade nacional para as diferentes reformas no âmbito do direito e do sistema judicial, em que a prioridade seja a formação de técnicos, pla-nificadores, docentes e gestores nacionais, no que é fundamental o estabelecimento de uma assistência e cooperação internacional adequada e consistente de médio e longo prazos.

3.3.2. Justiça informal

Os resultados do diagnóstico sobre a pluralidade de instâncias de resolução de conflitos ao nível das comunidades e as suas articulações entre os meios utilizados diretamente pelas comunidades em que avulta o recurso às regras costumeiras, por um lado, e os tri-bunais judiciais, Ministério Público, polícia, por outro, e ainda as organizações da socie-dade civil, realizado no período de dezembro de 2017 a abril de 2017, cujas conclusões e recomendações foram objeto de ciclos de análise e debate alargadas aos envolvidos no sistema judicial e sociedade civil, permitem constatar a existência dos seguintes ele-mentos característicos da resolução de disputas, de que decorrem desafios essenciais a uma contínua, assumida e ampla colaboração de complementaridade entre a pluralida-de de tipos e de meios de resolução de conflitos, nomeadamente:

• As contradições e tensões sociojurídicas entre os princípios e valores do sistema uní-voco de justiça do estado-nação, com a abordagem dicotómica (“dualismo jurídico”) que transporta, e o forte pluralismo jurídico da sociedade timorense, que influencia a heterogeneidade do próprio Estado timorense, colocam como desafio a efetivação de políticas públicas centradas na realidade plural de modo a que se ajustem em com-plementaridades, articulações e evoluções que assegurem o progresso nacional, das comunidades, das famílias e dos indivíduos, tendo por base um direito democrático, mais justo e mais participado na sua formação, avaliação, revisão e implementação, bem como meios de resolução de conflitos voltados para a real resolução dos proble-mas e não a mera punição da ofensa à lei;

• As instâncias de resolução de conflitos nos planos do sistema formal e dos meios informais, comunitários, costumeiros ou locais tendem a atuar em relação de com-plementaridade, continuidade e porosidade, numa como que rede ampla e pouco articulada de justiças orientadas para satisfazer a procura do cidadão, em vez de se oporem;

• O pluralismo de instituições está associado ao pluralismo normativo, os quais refle-tem a matriz comum formada pela imensa diversidade ou pluralidade sociojurídica, essência da identidade timorense, da qual resulta a constatada heterogeneidade do próprio Estado de Timor-Leste;

• As instâncias informais baseadas no uso de normas com referência cultural no costu-me, apesar do seu maior uso, confiança, compreensão e proximidade dos cidadãos têm uma atuação de pouca visibilidade pública e aparecem secundarizadas;

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• Os mecanismos das justiças comunitárias ou costumeiras têm dificuldade de diálogo com o sistema de justiça estatal, embora existam articulações emergentes que são ex-pressão da colaboração e do continuum em construção entre esses dois tipos de jus-tiça, sendo que aquelas são ancestrais e intensamente utilizadas pelas populações, uma vez que esta justiça é-lhes recente e ainda distante, considerando o recurso por esta à lei escrita em língua portuguesa, que não é conhecida pela maioria dos timo-renses, bem como a sua ainda pouca implantação geográfica enquanto os primeiros tribunais em regime democrático;

• As aldeias e os sucos, elementos estruturantes da sociedade timorense, que têm vin-do a ser formados com base nas condições históricas, culturais e tradicionais, têm sido nas últimas décadas objeto de decisões de política estatal no sentido da criação de “novos” sucos, compostos por grupos mais heterogéneos de famílias; em que a própria estrutura administrativa urbana também passou a subdividir-se em sucos e aldeias, que acabaram por ter de acomodar migrações voluntárias e de deslocados geradoras de novas sociabilidades, pela coabitação de diferentes grupos etnolinguís-ticos;

• A nível comunitário a procura de solução para um conflito segue uma hierarquia lo-calmente bem definida (“escada”), que parte da família (Uma Fukun ou Uma Lisan), seguindo para as estruturas da aldeia e/ou do suco (chefe de aldeia; lia n’ain; liurai; chefes de suco, de entre outros), incluindo em alguns locais a participação da policia;

• O papel das lideranças comunitárias locais, estruturas eleitas pela população e a quem o Estado atribui funções de mediação e resolução de conflitos – chefes de al-deia, chefes de suco e estrutura de suco (incluindo um lia na’in eleito pelo conselho de suco, que é quem lidera a mediação, coadjuvado pelo chefe de suco) – é central como primeiro ponto de acesso a serviços de mediação e resolução de conflitos, acesso a informação sobre a lei do Estado e mecanismos do setor judicial, reencaminhamento de casos para diversos serviços de ação social, reintegração das partes na comunida-de, identificação das causas e prevenção de conflitos, entre outras funções; diversos outros atores participam nestas mediações ao nível do suco, incluindo os delegados e delegadas do suco, os chefes de aldeia; oficiais da polícia de suco (OPS); lia na’in kultura das duas ou mais famílias (Uma Fukun) envolvidas na disputa; pessoas com legitimidade na comunidade como anciãos/anciãs, liurai, veteranos, lideranças reli-giosas, de entre outros;

• Os tipos de conflitos mais comuns são os conflitos em torno da propriedade e direitos de uso da terra, a violência doméstica (incluindo a violência sexual) e agressões físi-cas, muitas vezes atribuídos a jovens e membros de grupos de artes marciais, em que as agressões físicas, simples e graves, homicídios, violência doméstica, destruição de bens e de colheitas, aparecem frequentemente relacionados com os conflitos de terra e conflitos de natureza social e política; sendo que o incesto, a gravidez na ado-lescência, a disputa de paternidade, as queixas de adultério e “abandono” da mulher e filhos, são também conflitos frequentemente referidos;

Constatações e desafios

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18 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

• São frequentes as situações de reprodução de violência e opressão pelas justiças lo-cais, sendo necessário assegurar instrumentos de acesso à justiça que protejam a integridade física e a dignidade de mulheres, homens e crianças, num quadro em que se combinam elementos formais e informais, internos e externos, a harmoniza-ção da legislação com a cultura local, as necessidades dos cidadãos e das cidadãs, bem como do próprio Estado e a interiorização pelas comunidades dos princípios e elementos fundamentais do direito democrático do Estado;

• Desde a crise de 2006 que as instituições do Estado e organizações internacionais se têm desdobrado em programas e atividades de “construção da paz”, “resolução de conflitos” e “diálogos com a comunidade”, de forma a colmatar a distância existente entre instituições do setor judicial do Estado e as comunidades e desenvolver meca-nismos de resolução de conflitos de maior proximidade cultural e geográfica, de que é exemplo os tara bandu;

• A recente transformação pelo Governo dos tara bandu em instrumentos de política pública local e de reprodução de normas provenientes das leis do Estado, com o sen-tido de regular condutas sociais e sancionar, com recursos a multas, as violações aos padrões normativos definidos nos tara bandu, afirmando assim o poder das autorida-des locais e comunitárias nomeadas e eleitas sobre a população, tem tido uma reação de sentido duplo por parte das comunidades: algumas aceitam mas há bastantes que resistem;

• A importância que adquiriu o tara bandu revela que há necessidade de melhor de-finir o seu fim, de regular e tornar efetivas as competências normativas dos órgãos locais do Estado e das lideranças comunitárias, nomeadamente em matéria de deter-minação do tipo e medida de sanções, a quem compete a sua aplicação, o destino e controlo dos fundos provenientes das multas aplicadas, bem como a avaliação dos impactos da aplicação das medidas de tara bandu no dia-a-dia das comunidades.

No seu conjunto, são desafios prioritários:

• Concretizar o princípio constitucional do costume como fonte de direito, no plano da política legislativa e normativa nacional, atendendo aos parâmetros do seu reconhe-cimento e valorização constitucional, bem como à admissão constitucional da reso-lução de conflitos por meios não jurisdicionais ou sociais (CRDTL, artigos 4º, n.º 4 e 123º, n.º 3), através de um quadro normativo formal em que se estabeleça o quadro habilitador, as inter-relações e articulações com as formas estatais, em bases não intrusivas, para uma maior articulação e reforço das legitimidades estatal e comuni-tárias na construção do ordenamento normativo e da justiça em sentido amplo, para uma maior efetividade das políticas públicas, da coesão e da tranquilidade no seio das famílias e comunidades;

• A regulação da mediação e conciliação enquanto meio de resolução de conflitos de natureza civil e contraordenacional, nos parâmetros da lei formal.

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4. PRINCÍPIOS4.1. A reforma legislativa e do setor da justiça assume como seus os princípios consti-

tucionais do Estado de direito democrático, de entre os quais se destacam:

• A primazia da lei;

• A garantia dos direitos e liberdades individuais assente na dignidade humana e nos direitos humanos;

• A garantia dos direitos económicos, sociais e culturais;

• A igualdade perante a lei;

• A separação e interdependência de poderes e demais próprios da organização do poder político;

• A independência dos tribunais e a autonomia do Ministério Público;

• A exclusividade do exercício da função jurisdicional por juízes;

• A admissibilidade da resolução de conflitos por meios não-jurisdicionais;

• A ordenação das fontes do direito estadual e o reconhecimento e valorização dos usos e práticas costumeiras não contrárias à lei.

4.2. A reforma é um meio de concretização dos princípios constitucionais e dos prin-cípios decorrentes das leis ordinárias que os aplicam, no contexto da legislatura de 2017-2022. Essa concretização deve ser contínua, consistente, transversal e abrangente, participada e inclusiva, assente em estudos empíricos e documentais aprofundados e pertinentes, bem como na definição de políticas e estratégias go-vernamentais cujos resultados devem ser monitorizados e servir de base para a revisão cíclica das políticas e estratégias aplicadas.

Princípios

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20 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

5. PILARESSão pilares da reforma legislativa e do setor da justiça o acesso democrático à lei (direi-to) e o acesso democrático à justiça.

Figura 1: Pilares da Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

Acesso democrático

à lei

Acesso democrático

à justiça

Assente nestes pilares, a reforma prioriza padrões normativos, processos, metodologias e práticas que promovam um acesso cada vez maior e de mais elevada qualidade dos cidadãos a uma ordem jurídica dotada de normas justas e a um sistema judicial pautado pela independência, imparcialidade, responsabilidade, qualidade, proximidade, con-fiança, modernidade e eficácia.

5.1. ACESSO AO DIREITO

No quadro do acesso ao direito, a reforma promove uma adequação e desenvolvimen-to das leis estruturantes estudadas na fase preparatória da política legislativa expressa neste documento, de dezembro de 2015 a agosto de 2017, para que a sua moderniza-ção, simplificação, consistência, justeza e efetividade permitam uma sua melhor com-preensão e aceitação pelos cidadãos, bem como um ambiente legal melhor para a segu-rança e o progresso económico e social do País.

No acesso ao direito a reforma promoverá ainda maior informação dos cidadãos sobre a lei e elevação da sua consciência jurídica, bem como a simplificação, consistência e disponibilização dos textos que expressam as normas jurídicas e as divulgam, criando condições para o seu tratamento informático na forma de banco de dados com acesso universal.

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5.2. ACESSO À JUSTIÇA

No quadro do acesso dos cidadãos à justiça, a reforma prioriza o desenvolvimento da função jurisdicional independente dos tribunais judiciais, apoio efetivo à melhoria da sua governação e administração autónomas, à elevação da prestação e qualidade dos seus serviços, judiciais e administrativos, e incentiva uma maior acessibilidade e pro-ximidade aos cidadãos dos serviços judiciais e do Ministério Público. No que, a assis-tência jurídica, na forma da defensoria pública e da advocacia privada, deverá também ser ampliada, de melhor qualidade e mais próxima das necessidades de proteção dos direitos dos cidadãos, em especial os mais carenciados, e organizações.

A capacitação e desenvolvimento institucional dos tribunais judiciais, com a assistência de uma equipa multidisciplinar de especialistas e técnicos de consulta, formação con-tínua e investigação a prestar serviços inseridos no Tribunal de Recurso é um elemento crucial no apoio à reforma do sistema dos tribunais.

A reforma também promove a valorização da resolução de conflitos no seio das comuni-dades mediante recurso ao costume e a outras formas sociais, segundo meios de conci-liação e mediação, cuja regulação quadro não intrusiva é necessária, desde que no âm-bito dos parâmetros definidos pela Constituição da República, dos direitos e obrigações internacionais estabelecidos pelo Estado e pela lei ordinária.

As articulações existentes entre os órgãos do sistema judiciário e os mecanismos e ins-tituições sociais de resolução de conflitos, incluindo a mediação e conciliação enquanto formas de resolução social de conflitos e diferenças, a que os estudos empíricos fazem referência, são realidades cujas tendências no sentido de se complementarem é de va-lorizar, através da sua explicitação, divulgação e enquadramento político, normativo e metodológico.

A função educativa e transformadora iniciada com a atuação dos tribunais judiciais e a função das instituições comunitárias enquadradora de comportamentos regeneradores no sentido de os tornar mais conformes com as normatividades vigentes ou prevalecen-tes precisam de ser equacionadas no plano normativo e da prática processual. Importa que essa equação seja no sentido de operarem conjugadamente, cada uma no seu domí-nio, mas em complementaridade e participações recíprocas (comunidades e instituições da justiça), para que seja radicalmente reduzida a criminalidade violenta, em especial a violadora dos direitos humanos e sociais, e seja fortalecida a paz e coesão social e a tranquilidade no seio das famílias e comunidades, bem como se alcancem níveis ele-vados de prevenção da criminalidade e de respeito pela lei e decisões judicias e pelas normas ou padrões sociais vinculativos das condutas dos cidadãos e comunidades.

A reforma prioriza e promove o estabelecimento por lei da arbitragem comercial, modo de resolução de conflitos emergentes das relações de comércio, segundo os padrões normativos e melhores práticas internacionais recomendados pela Comissão das Na-ções Unidas para o Direito do Comércio Internacional.

Pilares

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22 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

6. OBJETIVOSSão objetivos da reforma legislativa e do setor da justiça, no período da legislatura cor-respondente a 2017-2022:

6.1. Adequar e desenvolver a lei penal substantiva, de modo a que mais ajustadamente corresponda às necessidades e expetativas nacionais bem como aos compromis-sos internacionais e regionais assumidos pelo Estado, através de iniciativas legis-lativas e estudos tais como:

6.1.1. A revisão do Código Penal em vigor no que se refere a um maior rigor na descrição dos tipos legais de crime e à inclusão de outros tipos legais de crime no domínio da criminalidade sexual;

6.1.2. O desenvolvimento da regulação de crimes de maior gravidade e perigosi-dade social e contra a segurança nacional, nomeadamente de corrupção, tráfico de pessoas e de seus órgãos, tráfico de estupefacientes e substân-cias psicotrópicas, pirataria, danificação de cabos submarinos e crimes in-formáticos (cibernéticos), de entre outras;

6.2. Avaliar, através de uma monitoria e observação consequentes, a implementação de leis priorizadas para o efeito, com o sentido de aperfeiçoá-las normativamente ou melhorar a sua execução, incluindo no que se refere às condições e recursos para a efetividade da lei e aferição dos seus efeitos ou impactos, nomeadamente:

6.2.1. Leis sobre terras e propriedades;

6.2.2. Lei Contra a Violência Doméstica;

6.2.3. Lei Processual Penal;

6.2.4. Aplicação e execução das penas pelos tribunais em tipos legais de crimes selecionados e realização dos fins das penas;

6.2.5. Regulação das contraordenações e incidência das condutas contraordena-cionais.

6.3. Adequar e desenvolver a legislação comercial necessária à criação e consolidação de um ambiente de negócios necessários ao investimento e ao progresso econó-mico nacional, nomeadamente assegurar a aprovação e entrada em vigor de leis fundamentais de regulação da atividade comercial em sentido amplo, nomeada-mente:

6.3.1. A lei-quadro da empresa comercial e obrigações do empresário comercial.;

6.3.2. A lei sobre os contratos comerciais, incluindo contratos e transações ele-trónicas;

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6.3.3. A lei sobre garantias creditícias, em especial com relação aos mútuos ban-cários;

6.3.4. A lei sobre o investimento privado;

6.3.5. A lei da insolvência;

6.3.6. A lei de simplificação e modernização da Lei das Sociedades Comerciais e responsabilidade dos seus administradores;

6.3.7. A lei de arbitragem, conciliação e mediação comercial;

6.3.8. A lei de ajustamento da Lei do Trabalho e a sua regulamentação, designa-damente em matéria de processo disciplinar laboral e mediação laboral;

6.3.9. A regulamentação da segurança social, com fundamento na Lei da Segu-rança Social.

6.4. Aprovar o programa legislativo da iniciativa dos setores de atividade do Governo para o período da legislatura e assegurar a sua execução, nomeadamente através da monitorização da sua implementação numa base anual.

6.5. Promover a adoção e a implementação de políticas legislativas e de desenvolvi-mento institucional da justiça centrada na sociedade, de modo a:

6.5.1. Fortalecer a construção do sistema judicial, com enfoque na reforma dos tribunais judiciais e assegurar o seu desenvolvimento institucional a partir de dentro do próprio sistema, com respeito pela sua independência e au-tonomia administrativa e financeira;

6.5.2. Tomar iniciativas legislativas e regulamentares sobre o quadro legal re-gulador da governação, organização, administração e funcionamento das instituições do setor da justiça, com o sentido de o melhorar e completar para maiores ganhos em legitimidade, articulação, eficiência e eficácia;

6.5.3. Promover a aprovação da lei sobre arbitragem comercial, tendo por base as recomendações da Comissão das Nações Unidas para o Direito do Co-mércio Internacional, bem como a sua implementação subsequente;

6.5.4. Promover com relação aos meios sociais de resolução de conflitos basea-dos em regras costumeiras e comunitárias:

6.5.4.1. A concretização da regulação do quadro da conciliação e me-diação envolvendo os meios de resolução assentes no costume e nas comunidades, através da elaboração e submissão à apro-vação e promulgação de lei própria;

Objetivos

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24 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

6.5.4.2. A monitoria e observação das relações entre os meios sociais ou extrajurisdicionais e os meios jurisdicionais de resolução de conflitos, em especial os tribunais, tanto em matérias criminais como patrimoniais e civis (terras, família e sucessões).

6.5.5. Assegurar a criação e funcionamento do fórum Diálogos de Direito e Justi-ça, bem como promover a regularidade das suas reuniões, com base em temáticas da reforma legislativa e do setor da justiça, para um debate na-cional informado, motivado, participado, sequencial, consequente e efeti-vo.

6.6. Assegurar que a formação jurídica inicial, complementar e contínua através das fa-culdades de direito e institutos públicos, como seja o Centro de Formação Jurídica e Judiciária, bem como a formação ou aperfeiçoamento contínuos em direito e sua aplicação diretamente pelas instituições do setor da justiça expressem os conteú-dos introduzidos pelas alterações e mudanças legislativas decorrentes da reforma.

6.7. Organizar e assegurar serviços de comunicação, disseminação e informação sobre as leis principais e que sejam objeto da reforma, com suportes informáticos de acesso universal e ações de sensibilização, como forma de elevar a informação e consciência jurídica nacional e de grupos específicos relevantes e de interesse, em função das temáticas da reforma legislativa e do setor da justiça e da Política e Estratégia da Reforma.

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7. RESULTADOS ESPERADOSSão esperados os seguintes resultados da Política e Estratégia da Reforma, no período da legislatura de 2017-2022:

7.1. A legislação penal substantiva (Código Penal e leis criminais especiais) adequa-da e desenvolvida, conforme as especificações decorrentes dos objetivos da Po-lítica e Estratégia da Reforma.

7.2. Um quadro legal regulador da atividade comercial suficientemente desenvolvi-do e moderno, favorável ao investimento e apto a promover o desenvolvimento empresarial, o emprego e o progresso económico, em que tenham sido concre-tizadas as iniciativas legislativas decorrentes dos objetivos da Política e Estraté-gia da Reforma.

7.3. Um quadro legal atualizado e regulamentado das relações laborais, favorável ao emprego, produtividade do trabalho e melhoria da segurança social do trabalha-dor.

7.4. Um processo de registo civil dos casamentos em funcionamento, em que todos os casamentos admitidos por lei possam ser efetivamente registados e reco-nhecidos, bem como tenham sido ponderadas as modalidades de casamento e aprovadas as adotadas em proposta ou projeto de lei civil própria, conforme enunciado nos objetivos e constatações indicadas na Política e Estratégia da Reforma.

7.5. As leis e regulamentos setoriais propostos pelos setores de atividade do Go-verno devidamente aprovados e em vigor, conforme programa legislativo dos setores aprovado pelo Conselho de Ministros.

7.6. Ter aprovado e em execução o planeamento legislativo e regulamentar da imple-mentação do pacote legislativo sobre terras e propriedades, bem como aprova-dos e em execução e os regulamentos necessários, conforme programado.

7.7. Ter em funcionamento e devidamente avaliado o desempenho da mediação de terras e propriedade, bem como avaliado o impacto na população dos pontos principais do pacote da legislação sobre terras e propriedades e adotadas as medidas que entenda apropriadas em face dos relatórios de avaliação submeti-dos ao Conselho de Ministros.

7.8. Ter a aplicação da Lei Contra a Violência Doméstica monitorizada e observada, bem como as iniciativas legislativas e decisões sobre os resultados da sua ava-liação tomadas e em execução, em face dos relatórios de avaliação submetidos ao Conselho de Ministros.

Resultados esperados

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26 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

7.9. Ter a aplicação do Código de Processo Penal monitorizado e observado, bem como as iniciativas legislativas e decisões sobre os resultados da sua avalia-ção tomadas e em execução, em face dos relatórios de avaliação submetidos ao Conselho de Ministros.

7.10. Ter adotado as medidas legislativas e de governação, capacitação e organização do processo legislativo a nível do Governo, incluindo formados juristas timo-renses em matéria de elaboração legislativa e língua portuguesa como núcleo capaz de assistir às funções técnicas básicas de pesquisa e redação, em face das propostas decorrentes dos estudos e análises, bem como das constatações e objetivos da Política e Estratégia da Reforma.

7.11. Ter promovido a aprovação e assegurada a entrada em vigor das bases da re-gulação da hierarquia das leis, em face das propostas decorrentes dos estudos e análises, bem como das constatações e objetivos da Política e Estratégia da Reforma.

7.12. Ter o sistema judicial e o setor da justiça significativamente regulado e forta-lecido institucionalmente, com um quadro de magistrados e oficiais de justiça não só formados inicial e complementarmente, mas também continuamente no processo de trabalho, com o sentido de que as decisões jurisdicionais sejam de maior qualidade, mais céleres na sua tomada e divulgadas publicamente, bem como de que os serviços respetivos operem com uma prestação mais próxima dos cidadãos e em que a assistência técnica e cooperação internacionais sirvam à criação de maior capacidade interna, sejam complementares desta e tenham continuidade.

7.13. Ter a lei de arbitragem comercial aprovada e em vigor, com os recursos humanos em árbitros e gestão formados e a operar, enquanto núcleo interno da execu-ção da referida lei, bem como a assistência técnica e cooperação internacionais complementares estabelecida e em satisfatória operação, contribuindo positi-vamente para a implementação da arbitragem nacional e internacional no país.

7.14. Ter o quadro legal base da conciliação e mediação envolvendo os meios de re-solução assentes no costume e nas comunidades aprovado e em vigor, com a assistência multilateral no sentido da difusão, monitorização e observação em apoio à aplicação da lei em operação.

7.15. Ter o fórum Diálogos de Direito e Justiça criado e em funcionamento, através de encontros regulares e pertinentes, que contribuam para um melhor entendimen-to, articulação processual e harmonização de atendimentos quanto à resolução de problemas a que o direito e as instituições do setor de justiça dotada de meios estatais e / ou de meios sociais deva dar resposta.

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7.16. Ter contribuído efetivamente para que as instituições de ensino jurídico e do setor da justiça no País tenham refletidos nos seus programas de docência os conteúdos jurídicos decorrentes das alterações e mudanças legislativas trazidas pela reforma legislativa.

7.17. Ter em execução programas de comunicação, disseminação e informação sobre as leis principais e que sejam objeto da reforma, com suportes informáticos de acesso universal e outras ações apropriadas a promover maior informação e ele-vação da consciência jurídica nacional e relação a temáticas da reforma legisla-tiva e do setor da justiça e da Política e Estratégia da Reforma.

Resultados esperados

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28 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

8. IMPLEMENTAÇÃO8.1 ÁREAS DE PROGRAMA

8.1.1. Os estudos realizados na preparação da reforma legislativa e do setor da justiça conduziram a constatações, objetivos e resultados esperados cuja satisfação implica que se definam como áreas programa da Política e Estratégia da Reforma as seguintes:

• Análise e elaboração legislativa.

• Avaliação da implementação das leis em vigor (observação jurídico-institu-cional).

• Desenvolvimento legislativo-institucional do sistema judicial e dos meios so-ciais de resolução de conflitos.

• Formação e comunicação jurídica.

Figura 2: Áreas de programa (quadrantes de ação)

Análise e elaboração legislativa

Desenvolvimento legislativo-

institucional

Observação jurídico-

institucional

Formação e comunicação

jurídica

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Cada uma destas áreas é objeto de programa específico, conforme se enuncia de segui-da.

8.1.2. São parte do programa específico de análise e elaboração legislativa:

• O direito penal substantivo.

• O quadro legal regulador do comércio e da resolução de conflitos por via da arbitragem comercial.

• O registo das modalidades de casamento e a regulação do casamento.

• O processo legislativo a nível do Governo.

8.1.3. São parte do programa específico de avaliação da implementação das leis em vigor (observação jurídico-institucional):

• A aplicação das normas que criminalizam a violência doméstica.

• A aplicação do Código de Processo Penal pelos tribunais judiciais e demais instâncias com poderes jurisdicionais e outras relevantes.

• A implementação das leis de terras e propriedades e a mediação e recursos a meios jurisdicionais na resolução de conflitos do seu âmbito.

8.1.4. São parte do programa específico de desenvolvimento legislativo-institucional dos sistemas judiciais e dos meios sociais de resolução de conflitos:

• O sistema judicial.

• A conciliação e mediação com recurso a regras de base costumeira e comuni-tária.

• A arbitragem comercial.

• O fórum Diálogos de Direito e Justiça.

8.1.5. São parte do programa específico de formação e comunicação jurídica.

• Os conteúdos para a formação jurídica decorrentes da reforma legislativa.

• A disseminação e divulgação de informação jurídica.

• O banco de dados da legislação em vigor.

Implementação

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30 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

8.2 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA REFORMA

A Política e Estratégia da Reforma será avaliada ao longo da sua implementação, de modo a que seja possível determinar o grau de cumprimento dos seus objetivos e al-cance dos resultados pretendidos, bem como, sendo possível, do próprio impacto nas instituições e na sociedade.

A avaliação da implementação da Política e Estratégia da Reforma será efetuada com base nos seguintes critérios gerais:

8.2.1. Análise e elaboração legislativa

• As previstas revisões de leis, decretos-lei e decretos submetidas para deliberação pelo Parlamento Nacional ou deliberadas pelo Governo e em vigor, conforme as com-petências respetivas e as especificações da Política e Estratégia da Reforma.

• As novas leis, decretos-lei e decretos previstos submetidos para deliberação pelo Par-lamento Nacional ou deliberadas pelo Governo e em vigor, conforme as competências respetivas e as especificações da Política e Estratégia da Reforma.

Figura 3: Resumo dos critérios de avalição da Política e Estratégia da Reforma por área de programa

Análise e elaboração legislativa

• As previstas revisões de leis, decretos-lei e decretos submetidas para deliberação pelo Parlamento Nacional ou deliberadas pelo Governo e em vigor, conforme as competências respetivas e as especificações da Política e Estratégia da Reforma.

• As novas leis, decretos-lei e decretos previstos submetidos para deliberação pelo Parlamento Nacional ou deliberadas pelo Governo e em vigor, conforme as competências respetivas e as especificações da Política e Estratégia da Reforma.

Avaliação da implementação

de leis

• Tomadas decisões de política, legislativas, regulamentares, institucionais, técnicas e sobre recursos necessários à boa execução ou alteração das leis avaliadas

• Ter as decisões tomadas em devida execução, controle e divulgação, bem como articulação e participação inclusivas, em função da necessidade da sua efetividade e impacto social positivo.

Sistema judicial e setor da

justiça

• O sistema judicial e o setor da justiça significativamente regulados, fortalecidos institucionalmente• A proposta de lei de arbitragem aprovada pelo Governo e submetida para deliberação pelo

Parlamento Nacional. • A proposta de lei base da conciliação e mediação social aprovada pelo Governo e submetida para

deliberação pelo Parlamento Nacional, • O fórum Diálogos de Direito e Justiça criado e em funcionamento regular

Formação e comunicação

jurídica

• O ensino do direito devidamente acreditado e avaliado• Em boa execução sistema de comunicação com base em meios eletrónicos (banco de dados)

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31Implementação

8.2.2. Avaliação da implementação de leis

• Tomadas decisões de política, legislativas, regulamentares, institucionais, técnicas e sobre recursos necessários à boa execução ou alteração das leis avaliadas, tendo em consideração os resultados das avaliações e as especificações da Política e Estratégia da Reforma.

• Ter as decisões tomadas em devida execução, controle e divulgação, bem como ar-ticulação e participação inclusivas, em função da necessidade da sua efetividade e impacto social positivo.

8.2.3. Sistema judicial e setor da justiça

• O sistema judicial e o setor da justiça significativamente regulados, fortalecidos ins-titucionalmente e com o mapa judiciário, organização e funcionamento adequados, bem como serviços prestados com maior proximidade do cidadão, conforme as espe-cificações definidas na Política e Estratégia da Reforma.

• A proposta de lei de arbitragem aprovada pelo Governo e submetida para deliberação pelo Parlamento Nacional, e em vigor, com execução em curso conforme as especifi-cações da Política e Estratégia da Reforma.

• A proposta de lei base da conciliação e mediação social aprovada pelo Governo e submetida para deliberação pelo Parlamento Nacional, e em vigor, com a devida as-sistência multilateral em curso conforme as especificações da Política e Estratégia da Reforma.

• O fórum Diálogos de Direito e Justiça criado e em funcionamento regular, com sessões baseadas em estudos, participação representativa e ampla divulgação das suas con-clusões.

8.2.4. Formação e comunicação jurídica

• O ensino do direito devidamente acreditado e avaliado e os seus conteúdos revistos, bem como significativamente reforçado o corpo docente e de pesquisa nacional, as-sim como assegurada a continuidade e adequação da assistência e cooperação inter-nacional nesse âmbito.

• Em boa execução, um sistema de comunicação com base em meios eletrónicos (ban-co de dados) sobre as leis em vigor permitindo a universalidade de acesso a esse tipo de informação.

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32 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

8.3. FASEAMENTO DA EXECUÇÃO, AVALIAÇÃO E REVISÃO

A experiência recente de preparação da reforma legislativa já indica que a implementa-ção da reforma legislativa e do setor da justiça só será viável se for um processo contí-nuo, transversal e abrangente, de médio e longo prazos, sentido para que já aponta a Política e Estratégia da Reforma. Esta será complementada por um programa geral e um programa por cada uma das quatro áreas de programa acima previstos, que executam, monitorizam, observam e avaliam a referida Política.

O período de dezembro de 2015 a agosto de 2017 foi dedicado à preparação da reforma legislativa e do setor da justiça, através de levantamentos, diagnósticos, relatórios e propostas, alguns ainda preliminares, o que permitiu também a elaboração da Política e Estratégia da Reforma. Agora é altura de passar à sua implementação.

Assim, é definido o seguinte faseamento de implementação da Política e Estratégia da Reforma:

8.3.1. Preparação e organização

A preparação e organização da execução será dividida em quatro etapas, nomeadamen-te:

8.3.1.1. Aprovação da Política e Estratégia da Reforma;

8.3.1.2. Criação das condições legais e institucionais (Comissão da Reforma Legislati-va e do Setor da Justiça);

8.3.1.3. Programação da execução da Política e Estratégia da Reforma para o período da legislatura (2017 – 2022);

8.3.1.4. Elaboração e aprovação de Programa Geral da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça para o Período 2017 – 2022, bem como de proposta de orçamento estimado para a sua execução.

Período: setembro – dezembro 2017.

8.3.2. Execução

A execução de cada um dos quadrantes de atuação irá efetuar-se nos períodos infra re-feridos:

Elaboração e desenvolvimento legislativo.

Período 1: outubro 2017 – junho 2019

Período 2: janeiro 2020 – dezembro 2021.

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Figura 4: Faseamento da Implementação da Política e Estratégia da Reforma (Diagrama de Gantt)

Avaliação da implementação das leis em vigor (observação jurídico-institucional).

Período: janeiro 2020 – dezembro 2021

Desenvolvimento legislativo-institucional dos sistemas jurisdicionais e dos meios so-ciais de resolução de conflitos.

Período: janeiro 2018 – agosto 2022

Formação e comunicação jurídica.

Período: janeiro 2018 – agosto 2022

8.3.3. Avaliação da execução

Serão consideradas duas fases de avaliação da Política e Estratégia da Reforma, em con-creto:

Avaliação 1. Período: julho – dezembro 2019.

Avaliação 2. Período: janeiro junho 2021.

8.3.4. Revisão

A Política e Estratégia da Reforma poderá ser revista em função da ponderação pelo Go-verno sobre a sua execução e impactos, tendo em especial atenção os resultados das avaliações efetuadas.

2017

2018 2019 2020 2021 2022

Dur.(em

dias)

Sem

Sem

Sem

Sem

Sem

Sem

Sem

Sem

Sem

Preparação e Organização 86

Execução -

1.ª Fase

Elaboração e desenvolvimento legislativo - 1.º Período

455

Desenvolvimento legislativo-institucional

1218

Formação e comunicação jurídica

1218

1.ª Avaliação 132

Execução -

2ª Fase

Elaboração e desenvolvimento legislativo - 2.º Período

523

Observação jurídico-institucional

523

2.ª Avaliação 129

Revisão

Quadro institucional da Política e Estratégia da Reforma

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34 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

9. QUADRO INSTITUCIONAL DA POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA REFORMAA reforma legislativa e do setor da justiça é uma reforma cuja realização implica o envol-vimento do conjunto das instituições do Estado de Timor-Leste, da sociedade civil e do setor privado.

9.1. Função decisiva dos órgãos de soberania

Os órgãos de soberania – Parlamento Nacional, Presidente da República, Governo, Tri-bunais – têm funções decisivas como garantes do sucesso da reforma legislativa e do setor da justiça, no âmbito das competências constitucionais que a cada um compete, nomeadamente através de deliberações oportunas sobre propostas ou projetos de leis, decretos-lei ou decretos que lhes sejam submetidos.

9.2. Função orientadora do Governo

O Governo tem a responsabilidade de conduzir a Política e Estratégia da Reforma, tanto na sua preparação, implementação e avaliação como na revisão, se vier a ser necessária. A orientação do processo da reforma cabe ao Primeiro-Ministro, que submeterá à aprova-ção do Governo a proposta de Política e Estratégia da Reforma e do Programa Geral para o período dos 5 anos do seu mandato, bem como outros atos do programa de reforma que considere. A definição das prioridades da execução do Programa da Reforma com-pete ao Primeiro-Ministro.

Por solicitação do Parlamento Nacional ou iniciativa do Governo (Primeiro-Ministro), a CRL pode apresentar relatórios ou propostas legislativas diretamente àquele órgão de soberania.

A CRL responde diretamente perante o Primeiro-Ministro, estando inserida ao mais alto nível institucional na administração pública. A Comissão mantém uma interação opera-cional nas suas atividades com a Presidência do Conselho de Ministros e o Gabinete do Primeiro-Ministro, nos domínios da informação sobre as políticas, programas, agenda e decisões legislativas do Governo, bem como de coordenação, planeamento, orçamen-tação e prioridades que possam ter um impacto na reforma ou serem orientadoras da política, agenda e programas de reforma.

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9.3. A articulação entre a CRL e as instituições intervenientes na Reforma Legislativa e do Setor da Justiça

O Governo aprovará por ato normativo próprio ou submeterá a deliberação do Parlamen-to Nacional o restabelecimento ou criação da Comissão para a Reforma Legislativa e do Setor da Justiça, atribuindo-lhe competências de entidade reitora da reforma.

O Ministério da Justiça e os Ministérios exercerão as competências de elaboração legisla-tiva e monitorização das leis que lhes são atribuídas pela Orgânica do Governo.

O Ministério da Justiça e a CRL articularão entre si as atividades que, sendo do âmbito da reforma legislativa e do setor da justiça, requerem uma intervenção conjunta ou con-jugada de ambos.

O Conselho de Coordenação para a Justiça deverá também tratar temas da reforma que envolvam a articulação ou participação das instituições do setor da justiça no seu con-junto, tendo nomeadamente por base propostas ou iniciativas da CRL.

A CRL manterá programas específicos de reforma com cada instituição do setor da justiça e as linhas ministeriais (por exemplo relativamente ao processo legislativo e à legislação setorial), em função do previsto na Política e Estratégia da Reforma e programas de refor-ma relevantes, estabelecendo relacionamentos institucionais diretos de aconselhamen-to, programação, assistência técnica e consulta e informação recíprocas.

Serão criados grupos de trabalho para as atividades de elaboração legislativa, monito-rização, observação das leis e desenvolvimento institucional-legislativo que requeiram uma atuação transversal, multidisciplinar e multissetorial. Para o efeito a CRL proporá ao Primeiro-Ministro grupos de trabalho a serem constituídos, com os seus termos de referência e metodologia, após consulta aos ministros das áreas envolvidas.

No plano da reforma da formação jurídica, a Comissão desenvolverá relações institu-cionais de colaboração preferenciais com as instituições de ensino e investigação na-cionais, como sejam a Faculdade de Direito da UNTL e o Centro de Formação Jurídica e Judiciária, de entre outras, bem como com instituições internacionais em função do interesse das suas especialidades e experiências para a reforma em Timor-Leste.

A CRL organizará e manterá em funcionamento, com a colaboração das entidades rele-vantes, um fórum denominado “Diálogos de Direito e Justiça” para consultas e debates informados sobre temáticas de reforma legislativa e do setor da justiça, envolvendo ato-res judiciais e da sociedade em função das temáticas agendadas. No geral, a Comissão desenvolverá uma rede de colaboração institucional e de assistência técnica interna e internacional adequada aos trabalhos da reforma.

O processo da reforma legislativa e do setor da justiça aplicará métodos democráticos, de responsabilização e prestação de contas, de transparência, de participação e inclu-são.

Quadro institucional da Política e Estratégia da Reforma

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36 Proposta de Política e Estratégia da Reforma Legislativa e do Setor da Justiça em Timor-Leste

Figura 5: Sistema de relações funcionais da Política e Estratégia do Governo para a Reforma Legislativa e do Setor da Justiça

Presidente da República

ParlamentoNacional

Governo(PM)

Ministério da JustiçaCRL

Orientação/Reporte

Articulaçãoe colaboração

Assistência, programação e

colaboração

PCM MinistériosProcuradoria DefensoriaTribunais Advogados

9.4. Restabelecimento ou criação da CRL

A CRL será oportunamente reestabelecida ou criada por ato legislativo da iniciativa do Governo, como entidade de direito público, dotada de autonomia técnica, administrativa e financeira, sujeita a auditorias administrativas e financeiras, nos termos legalmente prescritos.

A CRL terá natureza coordenadora, consultiva, de monitorização, observação e investiga-tiva, assim como de assistência técnica legislativa-institucional no domínio da reforma legislativa e do sistema judicial, enquanto entidade reitora das atividades do seu âmbito de competências.

São previstas como competências da Comissão:

• Análise e avaliação contínuas do ordenamento jurídico nacional, bem como recomen-dação ao Governo das reformas legais a serem adotadas;

• Identificação das necessidades de reforma mais urgentes e a médio e longo prazos;

• Proposição ao Governo de políticas e programas de reforma;

• Monitorização e observação da implementação de recomendações, políticas, estraté-gias e programas de reforma legislativa e de leis ou suas disposições;

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• Observação e monitorização da implementação das leis e recomendações de reforma legislativa e institucional nos tribunais, bem como apoio na assistência técnica neces-sária à reforma nesse âmbito;

• Promoção ou realização, nas circunstâncias adequadas, de debates de temas e rela-tórios de reforma legislativa, com o público, académicos, profissionais e magistrados e oficiais do setor da justiça, incluindo tribunais, bem como outros relevantes em função das temáticas a debater;

• Promoção ou realização de ações e programas de divulgação, disseminação, informa-ção, educação e formação sobre a reforma legislativa e do setor da justiça, em apoio a programas de reforma do seu âmbito de responsabilidade;

• Excecionalmente, elaborar minutas de propostas de legislação em áreas estruturantes do ordenamento jurídico nacional, mediante orientação geral do Primeiro-Ministro;

• Programação de ações de sensibilização e educação relativos ao sistema legal em todo o território nacional;

• Promoção da uniformização e harmonização de leis em vigor, designadamente com relação às leis anteriores à restauração da independência;

• Coordenação de programas de reforma legislativa transversais que se encontrem no âmbito do seu mandato;

• Definição de termos de referência para a elaboração, monitorização, observação e avaliação dos diplomas legais do âmbito da reforma legislativa e do setor da justiça.

Prevê-se que os comissários, incluindo o presidente, sejam profissionais das áreas de atuação da CRL, designadamente direito, análise de política pública, sociologia ou an-tropologia e desenvolvimento institucional.

Os serviços de apoio técnico e administrativo devem ter um pequeno número de profis-sionais, de elevada capacidade técnica, compreendendo as várias áreas prioritárias de programação, monitorização e observação da CRL, bem como de pesquisa e gestão inter-nas. A CRL poderá contratar serviços a instituições especializadas com as quais coopere na pesquisa e produção dos estudos, relatórios e produtos em geral do âmbito da CRL.

A CRL deve na sua composição e na contratação de serviços internos e externos assegu-rar a sua autonomia institucional e independência de juízo e opinião, baseada em crité-rios técnicos e de ética profissional, e em regras que assegurem a ausência de conflitos de interesses e de impedimentos.

A Comissão pode decidir sobre a aceitação de sugestões ou submissões, fundamen-tando a sua decisão, bem como sobre os projetos de reforma legislativa a incluir no seu âmbito de atividade. A seleção independente de projetos seria regulada por critérios próprios de seleção de projetos de reforma legislativa, de acordo com prioridades esta-belecidas nos programas da reforma, segundo decisão do Primeiro-Ministro.

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1 Estudos e Propostas da CRL:

• Processo Legislativo a nível do Governo

• A Lei Penal Substantiva: Recomendações para a sua Reforma

• Os Tribunais em Timor-Leste – Desafios a um sistema judicial em construção

• Para uma Justiça de Matriz Timorense: o contributo das justiças comunitárias

• Quadro Legal da Legislação Comercial

• Nota Concetual da Pesquisa sobre a Reforma do Quadro Legal do Casamento

• Avaliação da Implementação das Leis de Terras e Propriedades

• Opções Legais e Institucionais da Comissão para a Reforma Legislativa

• Levantamento da Legislação Setorial

• Termos de referência da Análise da Legislação de Timor-Leste

FIM

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