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Especialização em “Polícia e Segurança Pública” Estudos Sociais de Polícia

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Page 1: “Polícia e Segurança Pública” · A Política como Vocação. Introdução Max Weber subscrevia à afirmação de Trostski: “TodoEstado é ... Weber e Michels ensina, implicam

Especialização em

“Polícia e Segurança Pública”

Estudos Sociais de Polícia

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Corpo Docente:

Leon Denis da Costa

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As dimensões

da polícia

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Pós-graduação em “Polícia e Segurança Pública”

Objetivos:

Apresentar a concepção de polícia ou as dimensões

indissociáveis da polícia do sociólogo Dominique Monjardet;

Apresentar o significado da metáfora “A polícia é um martelo”

utilizada para resumir a concepção de Egon Bittner;

Apresentar a crítica de Dominique Monjardet a concepção de

Bittner ( a qual tem uma origem weberiana).

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Pós-graduação em “Polícia e Segurança Pública”

Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estadocontemporâneo como uma comunidade humana que,dentro dos limites de determinado território - a noção deterritório corresponde a um dos elementos essenciais do Estado- reivindica o monopólio do uso legítimo da violênciafísica. É, com efeito, próprio de nossa época o não reconhecer,em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direitode fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estadoa tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do“direito” à violência. (Max WEBER, 2011, p. 67).

A Política como Vocação

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Introdução

Max Weber subscrevia à afirmação de Trostski: “Todo Estado ébaseado na força”, e desenvolvia, mais sociologicamente: Essareivindicação se sustenta de várias maneiras, ideológicas, jurídicas,mas antes de tudo pragmáticas: pela criação, manutenção ecomando de uma força física suscetível, por sua superioridade, deimpedir, a qualquer outra pessoa o recurso à violência, ou de contê-los nos quadros que o próprio Estado autoriza. Essa força pública émais comumente denominada de polícia. (MONJARDET, 2003, p. 13).

“[...] não existe uma sociologia da polícia, mas uma sociologia dosusos sociais da força e da legitimação do recurso à força nas relaçõespolíticas (isto é, mas relações sociais em que uma instância política éprotagonista). Quando se trata de saber “o que se faz a polícia”, issoo é no sentido da expressão: empírico (descritivo) e teórico(funcional). ”(MONJARDET, 2003, p. 14).

Pós-graduação em “Polícia e Segurança Pública”

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Assim, a análise empírica do trabalho policial mostraimediatamente que a ação policial é posta em movimento,cotidianamente, numa delegacia, por três fontes. Certas tarefassão prescritas de maneira imperativa pela hierarquia superior: oserviço deve fornecer no dia tal, à hora tal, tantos agentes parauma transferência de detentos, a guarda do departamento ou umaexpulsão de vagabundos. Outras são respostas mais ou menosobrigatórias às solicitações do público [...] Outras, enfim, são deiniciativa policial: tal observação (informação, acontecimento)suscitou o interesse de um policial, ou da patrulha, e ele ou elaacompanha o caso. (MONJARDET, 2003, p. 15).

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Esta simples observação permite inferir que oaparelho policial é indissociavelmente:

-um instrumento do poder, que lhe dá ordens;

-um serviço público, suscetível de ser requisitado portodos;

-uma profissão, que desenvolve seus própriosinteresses. (MONJARDET, 2003, p. 15).

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Tripla determinação que não tem razão alguma para fundir-se emperfeita harmonia. Ao contrário, essas três dimensões podem seconfrontar como lógicas de ação distintas e concorrentes. Ofuncionamento policial cotidiano é resultante de tensões perpétuas(conflitos, compromissos) entre essas três lógicas, e em todateoria da polícia (coisa que não falta) que lhe serve de função ourazão, é inválido haver um só desses três termos, pelaincapacidade de [sozinho] dar conta do conjunto de práticasobservadas. (MONJARDET, 2003, p. 15).

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É a mesma polícia, são os mesmos policiais, que ao final de umaoperação particularmente truculenta de manutenção da ordem,acabam com um engarrafamento, salvam os feridos de umacidente, acolhem e tranquilizam uma mulher agredida, põemfim a um caso com refém, dominam um demente ameaçador,ficham os supostos opositores do poder, e de dia, fazemfuncionar um circuito de motos para os jovens de uma cidadeque, à noite, eles perseguirão. Nada é mais enganador do que adistinção de uma “boa” polícia, que protege, em oposição à “má”polícia, que reprime. (MONJARDET, 2003, p. 15).

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Se a análise das práticas policiais é o ponto departida obrigatório, ela não revela, por si só, a“verdade” da polícia. [...] isso significaria que sobreas práticas não tem nenhum poder as normasjurídicas e as estruturas organizacionais? As políticasdefinidas na cúpula? Os modos de recrutamento, deformação e de enquadramento, sensivelmente noscasos evocados? [...] A resposta só pode seroferecida, e fundada pela consideração do conjuntodas dimensões de um sistema policial.

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Toda polícia é um instrumento de produção caracterizado por umadivisão de tarefas, das técnicas, dos procedimentos, dos saberes,uma estrutura hierárquica, normas informais, e etc. Essa dimensãoorganizacional é essencial para se prevenir contra as divagaçõesda teorização gratuita. Toda polícia, é em segundo lugar, umainstituição, um instrumento criado pela autoridade política parapromover, realizar ou salvaguardar os interesses coletivosidentificáveis. Por essa razão, incorpora valores sociais centrais, esupõe os controles sociais necessários ao respeito desses valores.Enfim, toda política é mobilizada por um grupo profissionalespecializado, “os policiais”, que, como todo grupo profissional,caracteriza-se por interesses e cultura próprios, princípios deidentidade frente ao não-profissional, critérios de identificaçãointernos.( MONJARDET, 2003, p. 16).

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[...] verificar-se-á, no trajeto, que o essencial das lacunas ou dos errosa respeito da polícia veiculados no discurso comum, e em muitosdiscursos eruditos, explicam-se por não serem consideradassimultaneamente essas três dimensões. (MONJARDET, 2003, p.16)

Este livro pretende apreender o objeto policial nessas três dimensões,isolá-las para poder analisá-las enquanto tais, mas também desvendarsuas inter-relações, a dinâmica ou as dinâmicas que animam suainteração permanente. (MONJARDET, 2003, p. 17).

O raciocínio de Egon Bittner é exato, contanto que não se desvie dele.Produz assim, uma definição tão econômica quanto rigorosa da polícia: apolícia é um martelo. Ao contrário da ideia de que muitos policiais temde seu papel – eles se veem de bom grado “entre o martelo e a bigorna”(Desaunay, 1989, p. 7) – eles são o martelo entre o ferreiro e a bigorna.(MONJARDET, 2012, p.21-22)

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Comumente se admite que um martelo serve principalmente para bater pregos,

mas sabe-se que, abrigado numa caixinha vermelha fixada na parede de um

vagão ou de um ônibus, ele serve para “quebrar o vidro” e libertar-se, em caso de

acidente que torne as portas inacessíveis. Como picareta, ele ajuda a escalar as

montanhas. Sabe-se também que pode permitir rachar uma cabeça.

Seguramente não é a soma das possíveis utilidades do martelo que pode defini-

lo, mas a dimensão comum a todos os seus usos, que é aplicar a força sobre um

objeto. Enquanto instrumento, o martelo não tem finalidades próprias, ele serve

(mais ou menos eficazmente, segundo suas características técnicas) às

finalidades daquele que o maneja. Acontece exatamente o mesmo em relação à

polícia: um instrumento de aplicação de uma força (a força física em primeira

análise) sobre o objeto que lhe é designado por quem o comanda. Por este

motivo, a polícia não poderia ter finalidade própria, não há transcendência da

coerção física (mesmo para o sádico, ela é apenas um meio). A polícia é

totalmente para servir [ancillaire], e recebe sua definição – no sentido de seu

papel nas relações sociais – daquele que a instrumentaliza. Por isso, pode servir

a objetivos os mais diversos, à opressão num regime totalitário ou ditatorial, à

proteção das liberdades num regime democrático. (MONJARDET, 2003, p. 22).

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A polícia é portanto, nos termos de E. Bittner, um“instrumento de distribuição da força nãonegociável”. Mas E. Bittner se confunde e confunde-nos quando acrescenta, no mesmo fôlego, que apolícia é o que intervém “no lugar e no momento emque alguma coisa deve ser feita agora”, ou quando“a força pode ter de ser posta em ação.”. Com issoele introduz ideias de necessidade e legitimidade,que nada tem a ver com o instrumento, mas sãomatéria de julgamento em relação ao uso social feitodesse instrumento. (MONJARDET, 2003, p. 22).

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Em resumo, a dimensão institucional de toda polícia,se analisa como a reunião de dois elementosanaliticamente distintos. Um elemento universal,comum a toda polícia, sua instituição (no sentidodinâmico do termo) como instrumento dedistribuição de força num conjunto socialmentedefinido... [...] e um elemento específico que, emcontrapartida diferencia as polícias: as finalidadesque são socialmente atribuídas ao uso da força numadeterminada sociedade e que se identificam aomesmo tempo por prescrições particulares (o direito,se é que ele existe, que enquadra os recursos àforça) e pelas práticas observáveis do instrumento.(MONJARDET, 2003, p. 23).

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A metáfora do martelo para neste ponto... Os processos detrabalhos coletivos como toda sociologia das organizações desdeWeber e Michels ensina, implicam mecanismos propriamenteorganizacionais, que não se reduzem apenas à racionalidade dequem os comanda: não há organização formal sem organizaçãoinformal e, portanto, sem opacidade nem inércia. Do mesmomodo, todo grupo profissional, uma vez definido por ser detentorde competências exclusivas (seja em termos de atribuições oude saberes) desenvolve interesses e cultura profissionalpróprios, que constituem outros tantos princípios e capacidadesde resistência à instrumentalização por terceiros. Não háprofissão sem um quantum de autonomia. (MONJARDET, 2003,p. 23).

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Bibliografia

MONJARDET, Dominique. O que faz a Polícia: Sociologia da Força Pública;

tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. 1.ed. São Paulo: EDUSP, 2003.

Introdução, p. 13-17; Profissão Policial, Cap 3, p. 151-201.

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