polegarzinha

89

Click here to load reader

Upload: ellen-alves

Post on 14-Dec-2015

77 views

Category:

Documents


16 download

DESCRIPTION

Livro polegarzinha completo (digitalizado)

TRANSCRIPT

Page 1: Polegarzinha
Page 2: Polegarzinha
Page 3: Polegarzinha

• BERTRAND BRASIL Rio dcjanciro I 2013

Tradu¢o Jorge Bastos

POLEGARZINHA

MIC~IEL $EH.RES DA ACADEMIA rRANCFSA

Page 4: Polegarzinha

. .. '•!l .............. . ... . . .. I I I l1\l ll \I!\

.11 ............... .. . . . .. .

•I ............... . . . . . . . . .. . VtNll \ 1'•·1••·"

Todos OS w~il0$ res.:rvados pcl~ EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA. Rua Argcncuu, 17 J - 2'1 andar - Sio Cnst6vio 20!12 I ·380 - R&0 de Janoro - ~ Tel.: (Oxx21) 2585-2070- Fax: (Oxx21) 2585-2087

Nao e penniuda a rcproduQio IOW OU pm:ial daa .... par quaisquer mesos, sem a privia a~ poracnio• U..... A1cndimemo e vmda dima ao lc:ilar: mdirc:[email protected] ou (Oxx2 l) 2585-~

con 3113 ~Ill cnu 31t1 f

Page 5: Polegarzinha

Para Helene, Jormadora dos formadores da RJLegan.inha,

ouinnie dos ouuintes dos PuLegarezi11/1os.

Para Jacques, poeta que os fa: cantar.

Page 6: Polegarzinha

1. POLEGARZI N HA

Page 7: Polegarzinha
Page 8: Polegarzinha

13

Esse oovo aluno, essa jovern estudante nunca viu um bezerro, uma vaca, um porco, uma niohada. Em 1900

' a xnaioria das pessoas no planeta trabalhava na Javoura 00 com gado; em 2011, a Franca, assim corno paises semelhantes, nao tern mais de 1 °10 de camponeses en- rre 05 seus habitantes. Deve-se ver nisso uma das mais fortes rupruras na hisroria, desde o neolitico. Nossas cultutaS, que anrigarnente se remetiam as praticas geor- gicas apenas, mudaram de f orrna repentina. Entretanto, em rodo 0 planeta, e ainda gracas a terra que comcmos.

Aqueles que aqui apresenro nao vivern mais na companhia de animais, nao habitarn mais a mesma Terra, nao t!m mais a mesrna relacao com o mundo. Ela ou ele admira apcnas a natureza arcadiana, aquela do Jazcr e do turismo.

I

NOVI DAD ES

Page 9: Polegarzinha

14

Agora. sua expectativa de ~,ida beira ~s BO <.inos. No dia enl que se casaram, scus bisavos hav1am prorncti<lo fidelidade por apenas urna decada. Ele e ela, entittauio

. . . - ' case pensen1 em viver 1untos. irao prorneter o mesmo por 65 anos? Os pais herdaram quando tin.ham cerca de 30 anos de idade, eles, porern, rerao que espera- a velhice para receber o /egado. Nao sao rnais as mesmas idades que eles con.hecem. nem o mesmo casarnento, nem a mesma rransrnissao de bens.

Ao partir para a gue1Ta, com urna Ror no f uzil, seus pais ofereciam a patria urna expectauva de vida breve; terao eles a mesma arirude. tendo pc/a frente urna expcctativa de seis decadas?

Elc 1110r.t nn cidadc. Sc.us antcr>a .. . . ssados I'

I lnt·t.idc dcles, VJ\ ra 110 can1po. th: < 11l'l<Js c .I , • f)Or('.11 111~1° . 'J)t'ilO!>O (.. Ul31S scnsivcl corn H:l,1~50 ao .1• I>r11t1l' I

1 cs , n1c10. ''ti.: >Jui n1e11os do quc nos, adultos inco11 . urr1IJit111 ' pt sc1c11lts t', e c1s1cos. ''ar - , .

A , jd,1 fis1ca nao e mars a mcsma nern . ···a~ 1 n1.hnero. ccndo a demogralia sahado b Pula~~o

en rusc"ni d id l "' er de ~orrer de rerupo e urna vi J 1umana cl . Ht, no L , c dors . bilhocs de seres humanos. Ele habita u P.ira sere rn mu d fl (J

muico po\'oado.

:\\ IC ti l L S ll{l{l ~

r

Page 10: Polegarzinha

15

Enquanto as geracoes anteriores assistiam as aulas em salas ou audircrios universitarios homogeneos cultu- ralmente, eles estudam em uma coletividade em que agora convivcm varias religioes, linguas, origens e costu- mes. Para eles e para os profcssores, o multiculturalismo

Enquanto os pais forarn concebidos as cegas, seus nascimentos foram prograrnados. Como a idade da mae avan~ou dez ou quinze anos para gerar o primeiro filho, os pais dos alunos mudaram de geracao. Mais da metade deles se divorciou. Acompanham menos os filhos?

Ele e ela nao tern mais a rnesma genealogia.

t-Ia sessenta anos, intervalo unico na hist6ria oci-

1 nao ha mais guerra. Em breve, nem seus gover- deoui,

S e prof es sores conhecerao essa experiencia.

11ante .. Beneficiarios de uma rnedicina finalmente eficaz e

de rnedicarnentos antalgicos e anestesicos, eles sofreram rnenos do que seus antepassados, do ponro de vista estadstico. Passaram fome? Para eles, toda moral, religiosa ou laica, se resumia a exerdcios destinados a suportar urna dor inevitavel e cotidiana: a doenca, a peouria, a crueld.ade do mundo.

Nao rem mais o mesmo corpo nern o mesmo com- portamento; adulto nenhum soube inspirar-Ihes uma

moral adequada.

POLEGARZI N HA

Page 11: Polegarzinha

"'Cionnl &and.. (N.T.)

H.tl.111~0 proviso: io. Q!.1al litcnnura qual 1 · • I USt6fia

<.:lck 11.10 comprecudcr, Iclizcs, scm tcr convivido com 1 usucidndc, corn os nnimais domcsticos, com as colhci~ cJo vcrflo, com divcrsos confliros, com cemitenos

I

um feridos, corn Iarniruos, com patria, com bandcira ensanguemada, corn monurnenros aos monos ... e sem ter expcrimcmado, no sofrimeruo, a urgencia vital de urna moral?

'"'•' HHt,1, 1'111 q11.11110 ll'lllJ)O,lind·i v·"' • ••U Cllt

I · I .. 11 C>at 11 • ..,, t1 111111\ ~· s,111gt1l' llUJH11 u Ul.' aliruin . . ' ""r'lrir.

o <:str ang . _ 1' C) n11111do gluh.11 n.io c inais

0 ciru?t

n1c:srno 1111111do 1111111:1110. Ao icdoi , lilhas c filhu. d . 1 1ic:rn ei

. s e uni , 111d11~ d~· p.lf!'lt'S mcuos ucos, Livcram ~,

<:xpc:ne · v11.1ik mvcrsns d.1s que elcs cunhcccram. •ica;q

M I l I I I I S I ll u f \

Page 12: Polegarzinha

17

Sio formatados pcla mfdia, propagada por adultos que meticulosamcntc dcstnifram a faculdadc de atcn~o deles, reduzindo a dun?<> das imagcns a 7 segundos e

Scus antepassados baseavam sua cultura em um hori- iontc temporal de alguns milhares de anos, assentada na Autiguidadc greco-larina, na Biblia judaica, em algumas tabuinhas cuneif ormes e em uma pre-historia curta. Mas a pcrspcctiva temporal passou a ser bilionaria e se remete a barrcira de Planck, passa pela acrecao do planeta, pela cvolu~ao das especies, por uma paleoantropologia milionaria.

Nao habitamos mais o mesmo tempo; cles vivem outra historia.

11

AQ1JILO PARA 0 CORPO. isso PARA 0 CONHECIMENTO

Page 13: Polegarzinha

11

• Rrl.tru ~ palavra corrente em Irances, mas anrigamence cram as ctapas cm quc o service de correio trocava cavalos cansados por cavalos descansados. Passou a ter arnplo leque de significados, como .. truca", "revezamemo", "hospedaria" etc. Relay, no caso, f uma cnonue rcdc, com mais de mil lojas, de venda de livros, jomaia e revistaa, capalhadas cm csta~Ocs de trem, de mctr6, lei•"P(lnOI etc. em "'"°8 paisea. (N.T.) ... , a • deG ... -a .... d • ,1 , . e CX>n'Rgma de pootos para obtcn~o ~ cg

1 •1 9'C, aliU, • SNCF (Socicdadc Nacional

- ••• ''"-)" ..... ~em maio de 2012, passando - J, UY p&6paio. (N.T.)

N6s, aduuos, rransf ormamos nossa sociedade do espeiaculo em socicdade pedagogics, cuja concorrcncia esmagadora, orgulhosamente inculta, ofusca a escola c a universidade. Pelo tempo de exposicao de que dispoe,

'.10 Iorm.uados pcla publicidade: coma . I I "rclai J)odc. mos cnsmnr a c cs quc a pa avra re ais", em lin

' 41 • II g\la f1 ,u1 csa, tcnruna cm ais , sc vcem, em todas as csta. oc, de trcm, ''ay''?• Como ensinar 0 sistema metrico

quando, <la mancira rnais idiota do mundo, a SNCF divul~a scus S'Mtlcs?•*

o lt'l\\j)O de rcsposia ~S pcr~lllllas a J 5 _ Sao •

otl<.i.11~. 1\ p.11.1 ru mars rcpcridn (:. 111nortc" e a'~ull\cr°' m.us 1c.·p1tsc11tad.1 c a de cadavcres. Com 12

11llasttti .ululrus j:\ os for.;aram a vcr mais de 20 mil ass ~Os.°'

ass~ .

\

Page 14: Polegarzinha

__J 19

Por celular, tern acesso a codas as pessoas; por GP , a rodos os lugares; pela internet, a iodo o saber: circulam, entao, por um espaco topol6gico de aproxima~oes. en- quanto n6s viviamos em um espaco metrico, referido

por distancias. Nao habuam rnais o mesmo espacc-

Essas criancas, entao, habitarn o virtual. As cien- cias cogniLivas mosrram que o uso da internet, a leitura ou a escrica de mensagens com o polegar, a consulca a Wikipedia ou ao Facebook nao arivam os mesmos neu- ronios nem as mesmas zonas corticais que o uso do livro, do quadro-negro ou do cademo. Essas criancas podem manipular varias informacoes ao mesmo tem- po. Nao conhecem, nao integralizam nem sintetizam da mes ma f orrna que n6s, seus antepassados.

Nao tern rnais a mesma cabeca.

pelo podcr d~ scdu~ao e pela ~port.ancia que tern. a nudin ba muHO tempo assurruu a funcao do ensino.

Cr1Licndos, menosprezados, vilipendiados, ja que pobrcs e discreL~s,. apesar de concentrarern o recorde mundinl dos Prernios Nobel recentes e das medalhas Fields, Lendo cm vista o nurnero da populacao, nossos professores se iornaram os menos ouvidos dentro desse sisteinn inscituidor dorninante, rico e ruidoso.

l'OLEGARZINHA

Page 15: Polegarzinha

Eles n5o falam mais /' · · a mesma 111g11:1. Desde R1chd1cu, a Academia Fr . . . de . . :111c<:sn publica, nw1s <JU inCll<J.S

c 'llllc em nme anos. con10 r ·fi .. ~ . . lingua franccsa N <.: Cl <:uua, o I Ju1011dno cla

. OS scculos antcri . . I . duas publica~6cs . . . ores .• 1 c J/crc11~·.1 c·1H1c

sc m:t1Hr11li:-i de cc:na [; . ' OJ ma COJJS(Jll((:,

20

. Eks n.io tern rnrus o mesmo co1po, a mcsm··

... C'XJ - . lCc tativa de vida, 11~10 se comunrcarn mars da llK"Sm:i ma

»cira, JlJO J)CtCCOClll 111:11s 0 nH.'SITIO TllUllc/o, nfio Vi\~11')

mais ua rncsrna naturcza. ndo llab1L:1111 rnais u nicsnio espaco.

Nascidos corn pcriduraJ c data progrJn1ada. 1150

ternern mais, sob cuidados paliati\'OS, a mesrna mone, I\ao rendo rnais a mesrna cabeca que os pais. (:de

outra Iorma que eles conhecern. E de outra Iorrna que escrevem. Foi por vi-Ios. ad·

mirado. enviar S1\t1S corn os polcgares. 1n.1is 1.ipidos do quc eu jarnais conseguina com todos os mcus

dedos emorpecidos, quc os baci1c1, com toe/a :1 ce1 • nura que um J\'O posse expnrrur, a J>o/egarziulia c o Polegarzinho. E o nomc certo, mclhor ell> quc o a1Higu. Ialsarneme eruduo, de '·dau16grafo ·:

Sein quc nos dC:ssc111us conra, urn uovo ser htnn

nnsccu. nu curto espaco de tempo que nos seJJa ai10 ra dr13 anus 1 Y70.

M I C H f L .S f IOU ~

Page 16: Polegarzinha

21

dl.S 4 mil, S mil palavras, Entre a ultirna publica- oJl L~-

~ ea proxirna, ell sera de cerca de 35 mil. • e e ricmo. pode·se irnaginar que nossos suces-

. l.31\'CZ se sintam, amanha, tao distantes de nossa sore lin~ quanro n6s. hoje, do frances anrigo usado por

• c;hduen de Troyes ou Joinville. Esse gradiente fornece uma Uldica~ao quase Iotografica das transf orrnacoes que dCSCfC\'O ·

.Essa imensa dif eren~, que afeta a maioria das Iin- ~- parcialmente se deve a ruprura entre as profissoes de oucrora e as de hoje. A Polegarzinha e seu compa· nh.eiro nao se dirigirao rnais aos mesmos rrabalhos.

A lingua mudou, o trabalho se transformou.

r o l f c.-; A R L I N 11 A

Page 17: Polegarzinha

22

• ]-liidn · ffln.-- V ' ' '-"HIVl1I e rucotcrnentc") ~ l •a •• 'Aahi +e, Procurou uma coJctAnea iljltr1 • '·- .-, -seJo' cntio, manier a ex·

""21:1 ao ngo d li o vro. (N.T.)

Mais ainda, des se rornaram indivfduos. Invcntado por Sao Paulo, no inicio da nossa era, o indivfduo acaba de nascer nos dias de hoje. De outrora are l'CCCQ- remente • viviamos de filia~oes e vfnculos: franc~- ' ~, carolicos, judeus, protestantes, muculmanos, ateus, gas- cOcs ou picardos, femeas ou machos, indigentes ou afortunados ... Pertendamos a regioes, a religi6es, a cultu- ras, ao mundo rural ou urbane, a times, a comunidades , a um sexo, um sotaque, um panido, uma Patria. PeJas viagms, pclas imagens, pela internet e por guerras abo- •0i04vm, quasc todas essas colecividades, explodiram.

As que 1csr:am se desintegram.

111 . 0 INDIVIDUO

Page 18: Polegarzinha

23

•Lc1oi••1'9'do6a900fraNll-Dio pelolit I +b- oa Copa do Mundo da A&ica do Sul, em 2010. (N.T.)

Dito isso, resta, entao, inventar novos lacos. Prova disso, a forca de atra~o do Facebook, quasc equipo- lente a populacao do rmmdo,

Como um atomo sem valencia, a Polegarzmha esta desprotegida N6s, adultos, nao inventamos nenhum novo la~ social A iniciativa gencralizada de suspcitar, de criticar e de iodignar-sc mais contribuiu para dcstrui-los.

Esse recem-nascido individuo acaba sendo, porem, uma boa noticia. Comparando os inconvenientes disso 41

que os velhos ranzinzas cl>amam de "egoismo" com os crimes cometidos por ou pela libido de pertencimento _ centenas de milh0es de monos-, amo de forma apai- xonada esses jovens.

0 individuo nao sabe mais viver em casal e se di- • n • nao sabe mais se manter em sala de aula e se ,-oro ....

01e.xe e conversa; nao reza rnais na igreja. No ano pas-

do 11ossos jogadores de futebol nao souberam cons- sa ' ticuir equipe;• e nossos politicos ainda sabem construir urn parrido plausivel ou f onnar um govemo estavel? Por todo lugar se diz sobre o fim das ideologias, mas sao as filia~Oes que as criavam que se desfizeram,

POLEGARZI NHA

p

Page 19: Polegarzinha

Entao, faco tres perguntas.

Rarfssimas na hist6ria, essas transfc d " I · Ofllb,.~ chamo e 1t0'1nuzescentes : • abrem no ~' ~ ...

, nosso ~ nos nossos g1upos, uma rachadura tao I ' arga e . t que poucos olhares a avaliararn devid~...... ' ....,uenre ravel aquelas, visf veis, do neolitico do ;n: . ' '

' uuQo da crista, do final da Idade Media e do Renascimen ~

to. Na extremid~de dessa fenda, ternos jovens aos ~

pretendemos ensuiar, em estrururas que datam de llJJJa epoca que eles nao reconhecem mais: predios, patios dr recreio, salas de aula, audit6rios universitarios, C3rDpus, bibliotecas, laboratorios, os pr6prios saberes ... &trub.lr3s que datarn, dizia eu, de uma epoca e adapradas a lllD

tempo em que os seres humanos e o mundo eram algo que nao 0 sao rnais.

MICHEL SERRES

Page 20: Polegarzinha

25

O 1111t1 1ru11s111itii! () saber! Outrora c rcccutcmcnre, o saber tinha come supone

o corpo do erudite, do acdo, do coniador de historias. DiulioLccns vivas: cssc era o corpo doccnte do pcdagogo.

Pouco a pouco, 0 saber SC objctivou: prirneiro em roles, ern vclinos ou pergarniuhos, suportcs da escrita. Dcpois, a partir do Rcnascimcnto, cm livros de papel, suportes <la imprcnsa. E hojc, concluindo, na internet, suporte de mensagcns c de inf orrnacao.

A evolucao historica da dupla ~cnsagem e urna boa variavel da Iuncao do ensino, Com ela, a pedagogic rnuda pelo rnenos trcs vezcs: com a escrita, os gregos invemaram a paideia; na sequencia da irnprensa, abundaram os tratados de pedagogia. E hoje?

IV o (llJI '11~/\N)MJ f I It?

/\ ( l lJ I: M ~I I\/\ N ~ M I r I J \'? C() MO r I\/\ N SM 111 ll'?

(

N

Page 21: Polegarzinha

c1 ttt111cu1c ubjetivaclo, mus, alen1 disso discrj. bufdo. N:io C()JlCCIJll dUO. \11viamos em um CSE_a 0 rnecri. co, como jri di c, quc c r:cfc:1 ia a ecntros, a concentraf0cs. - ma cola, uma sala de au/a, um campus! um audic6-

rio uni\c1sita1 iu rcpresenram ccnccntracoes de pessozs de e rucln1Hc:s c I" okssorcs, /j\ ros cm b1bliucccas. apJ· rdhagen1 no laborat6rio ... Totlo csse saber. essas reie- rEn 1 , cs cs iexros, e ses dic1011ano.;, sc enconrram agorJ d tnbuidus por todu lugLff, na sua pr6pria casa - ace ob er' ur6rios! -, elcs cs Lau por uxlos os e~paqos por onde voe e de loca. Alem disso, {: possivel con ca car cvJcg OU aJunos onde quer que CStcjam; eles vao

ponder faolmcnrc 0 anligo e paro de _ cm 1 concentra~oc:s - este, inclusive, que f alo e cm quc me OU\ . . ,

aqu1? - ~ drlu cm· 0 que, alias, fazemos '· se cspalha. \'iv .

cm um pa'o de . . ernos, acabe1 de duet, prox1m1dades irn d' e iatas, e, alem

H J""' 0 q11r 11r11. 111111110 11'10? l:."/c t!iM rtgora p,,,. !. r, 111 111/er11rl, 1/JJ/.1t111/l 't/, i1h1r.l1l!ru/o. 1;n11.J1n11l-lo a ~

0 1/lt'T 1111n111 J11w1111 a atar au·1rfvc/ 11 Iorio intaido. ~' n 11111 /~u11/o, I ausa /ala.

Olli o ,u.;CSSU a J)C oa pc:/() cc}uJar e com o acC'Sso ,0 lu 0 lug,ucs pclo (,}J.S, o ace o 10 saber se abriu

I) c1 r1 111. nci1 .1, pi csta o tempo todo e por codo Ju; n n rniudo.

.Ml"'' ,,,, '

Page 22: Polegarzinha

Scnrimos ser urgentementc ncccssw essa m~ decisiva do ensino - mudan~ que pouco a pouco

Mas nao venh~ dizer que faltam..ao..alUQo fun~s cogniuvas que penrutam a assimila~o do saber assim ~ uma_ VC2. que justamente essas fun~OcS SC ~ansformam co~ o,aparal! e por meio dele. Pela escrita e pela imprensa, ( mem6ri , por exemplo, sofreu uma muta<?o a ponto ontaigne pref erir uma cabeca bem-constituida a uma cabeca hem cheia. • Essa mesma g.be~ acaba de passar por ~utra mutacao.

Da mesma maneira que a pedagogia foi inventada pelos gregos (,paideia), no memento da invencao e da propaga~o da escrita, e assim como ela se transformou ao cmergir a imprensa, no Renascimento, a pcdagogia muda completamentc com as novas tecnologias, cujas novidades sao apenas uma variante qualquer, dentre as dee ou vinte quc ja citei ou poderia detalhar.

dissO, ele e distributivo. Eu poderia est fal " ar (llando de

casa ou de alhures e voces me ouviriam em outro lugar ou nas suas casas. 0 que, entao, fazemos aqui?

POLEGARZINHA

Page 23: Polegarzinha

28

De faro, h:i alg:umas d ~ d . . . eca as, ve10 que, vrvemos um penodo compar:iveJ ao d

. • n aurorn da /Jaut ia - depots que os gregos ·lJ)rendc1"1m ...

• .. escrc\'et e d s1.:rnelh:itHc a 1~. . . n cmonsrr:ir, <.:n:isc.c:n<;a, que viu ·

tcr i11kio o rt:1n.1<.Ju d 1· surg11 a rmprcnsn e . o 1vro 11...r.,5 . Ill . iv1.., U ata-s U ' conip.1ravcl, po.s . e e un1 per10Jo s, ao n1esn10 t empo e

rr- que essas

Professor durantc rneio seculo. em rnuiros luc;ares <lo mundo - nos quais essa fenda se abre tao 3.lllpla· mente quanro em rneu proprio pats -, rive de aceuar e auavessci tars rcformas, que parecern corn cur:iu,·os fcitos c1n urna pcrna de pau, apressados e malfeiros, So quc os n:1nc11dos acabam piorando o esrado da ubia, 111esn10 que artificial, e cnfraquecem o que se tentav a consol rdar,

tc 111 socic:d:rdc: mundia] e 110 co11iurit fl pl 11.11 c • · ;i ode . · r ···s u/ir:11>:1ss~1d:1s; mudanca que 1,a· u1su1u1.,o~. . • . • o aL

(J t'risiJ1o mas uunbcm, e muuo, o n .... b.,rL :ipc:11.1s · ' <-l ~10 • . 5. is ., saudc o dircilo c a pollrica, isro {:: 0 con · <tS

t• 1111 H <.: • • • • • • • ~unl(i de noss:is institui~·c)c:s - ' mas estarnos Ionge disso atl1cfa

J>1 ov:ivt·lnic.:nlc por n.io icrcrn ainda se aposentado os quc sc :11 t astum n.i u .111si~·~io eutre as tilti1nas etapas siiu quern decide in as rcfi» inns, scg11 indo n1odelos ha muito tcrnpo supcrados.

i\.1 I L I I I l s l It I{ I ~

Page 24: Polegarzinha

29

I

.... sc 11,111sl(11·1n un, o corpo se mctarnorfoseia 0 1tl.'llll .. •l'"' • • ·-- • ,.1110 c 1 moue mud im, n8R1111 como o sof rimcnco

t1l1Sl'll1I , . • is JJI u(asSOl."S, o c:.11p:1 o, os habicars, o ser no e :l ('Lii'·•·

111u1\do.

Page 25: Polegarzinha

30

Se nvesse de crarar al . .,.. um retrato geral dos adultos. no

qu n1e incluo. a descrir5o . . l' sena ainda menos elogiosa.

Por que cssos no\1dades n.io aconreceram? Eu ac11s.11i.1 os 516 .oios. enrre os quais me i.ncluo. geute que tern corno ''OC.1ffio ancecip:ir o saber e as prdticas liuur:ls e que. teullo a in1pre sao, [llhou nesse ponro.

Pie os cocidiai1an1ence j politica. cles 11ao perceberarn o coucc:ruporineo se JproxinlJ.J:

Di.uuc dc:ss.1. er .u1!>fonn.1<c·<>es. sern duvidJ c neccssano invenr.n no' 1d.1des ini1n.1gin.h·cis. fora do .i.n1b110

/J.1bicuJ/ que auidJ n1olda nossos con1port.11ne1uo . 11oss.1 n1idiJ. nosso · pro1eco originados na so<.:icdade do t~pc:c.iculo. \ ejo em nossns u1scicuic;6es o rncsmo brilllo dss couscel.lc;oes que os asrrdnornos nos dizcm rer

11101T1do ll.1 muiro teuux;

v / 1 \ OCA(.'1\0

Page 26: Polegarzinha

31

,,, I

11111111, l11d11 It l'1 d• (~n.,1•111.1 de· lt'I IM .11111'1, .1 111.1111 d.1 l'11lc jl,.11111111•1

l\ili.:g.uiinlio, poi·1 111dn 11•111 de· < 1

sc.·i 111, c.•1H.Hlo.

· l\.,ptt<> q111.· n vid.i ,u11d.1 111c dt le 111111, '"'''' llU,:

1 t.Ollti1111.11 ti .1h.dl1.111dc1 111'1'1<11 11:1 1 tJlllf1.111Ju.1 d p.11 . "''""'"' jovt'll'i .10s llllitis 1111.: dcd1quc 1 JI'" 11 lllfJH 1/ Jr, ,,,,1,.,J,,

• • dt.• f(H lll,I 11.'SJ)l'llON".

I' l 11 I 1 1 '41 It I I I~ II ft

Page 27: Polegarzinha

JS

\ '" i , r 1,/, • l11r n •• J.1l ljlll'" th \ 111 .1i.;111t l<>111a u111 nul.i ~\\ '\\\ \l\ \Ht\ ll ''"' l .11tl v m, 11C1 "l t lllo d.1•, pc1scgu1\i1cs

\\\ 1 l.\d,\-. \'l'ln in1pt.·1,\du1 l)on111.1.11H>. {) lXCtlito 10

1\\,\\\\\ pt '1\d '\I 1 )l'I \LS, his po l.'\i.·110 pl 101; pl llll(..'il OS Cl is·

t,\\\" ,l ... l\H1s l1:u1..,\l(.'1..'1,1do c dcpois lo11urado ua ilc de l.\ '1t . ln1 cund 'l\,\l.lo .\ d1..•t.1pit.1\.\o cm Sl'~11id.1 no alto \l,\ \\lh11.1 qut tk·po1s vcio ,\ sc Lh,1111,u Monuna11n:.

l'(n pi<.'~'" ,\, us ..,o\d.1dos nao quisc1 .1111 i1 .He o aho \\.\ \\hn,1 l xccui.u ,1n1 ,\ \ uuua 110 n1L·10 do ~.uninho. \\.,\h \•\ cJ,1h1spo1olou pl.'lo Lh.10. l (01101 ! Scrn c.1bc.: a,

I "'' l ~011 ,\ 1H1 ch.io c, cum cl.i nas 1n:1os. co1Hinuou ,, subu .1 l.idcu .i. ~I1l,1g1 <.:I Atc11 (>1 izada, a ltg1,10 Iugiu. \1.., '" ·111.1 o auu» quc Denis dcu um.i p.H-.1d.1 p.u ~ lava-la

"''1lti1nhlt1 scu c.uuiuho .nl· .. 1 .uu.il Saim Denis. Foi 1...H\oni .. hh>.

,\ Pok·µ..ll 111\h.t aln c scu comput.ulm. t\ lcsmo scm se 1 mbi .u d.i le uu.i, cl.1 t.onsidl.'1,1 tc1 .1 pt 6pt iu .1bc~.1 nas 1n:to~ c. .\ su.r la cntc, bcm chcia, h.11.1 \ isi.r a quautidudc

\, \l\l\ \I),\\'\)\ ltu\l~'INll1\

Page 28: Polegarzinha

\

enorme de infonn:1<;ucs dispouivc:is . 'd . • . mas t t1111. consut ui J,jJ quc os mo101 es de bus ' ue11J L

. . . • ca 1ra1.c:111 , <:Iii rextos e imagcns. Acn:.<:cc:111e se c ·ii "'cJrrt;i.r

d · ' /lie: dc.:z. Pro "t,

po cn1 11 a1ar 111un1<.TO.~ dados. rnu1tc . !,'tani . . ' n1a1s t ,1p1d .i;

do que cla s<.n,1 <..1p.17. A l'olc:g.111inlia L<.· . allJ"''lt . • . rn. <:x1c.:rua1

su.i cog111~,10. ;11111g;1111c111c Ulltroa. C<uno t. ll<:r11c, . ~() o. "'/ quc unlm ,1 cabcca for:i do ptsco~o. Podc-sc: rm3 • '111'

I · I d · I ) S · · ~'lllJr a Po C:!f.11 zrn 1,1 c:c.1p1tJ( a. l11,1 urn n11bgn. J

Con10 cla, uiumamcntc rodos nos 10111 . ". . 1 · • . . d rm<Js Sao Denis. 1 vossa uue 1gc:11c1,1 saiu a c.1bc<..a 0.,suda e neu. ronal. Entre nossas mdos, a caix.1·c:o1npu1,u.Ior corHcm e poe de faro c111 fuucionarncnto o quc aJHig·~\nc:nic cha- mdvarnos nossas •· Iaculdadcs '': u mn n1cmon.i mil vcus rnais poderosa do quc: a uoss.i: u ma i1nag111:1~io equrpada com mi/hoes de iconcs; uni racioclnio, rambcm, ;a que programas podem resolver cern problemas que nj0

resolvenamos sozinhos. Nossa cabcca foi bn~:ida a nossa frente, ncssa caixa cogniriva objctivada. - Passada a jcc.1pitar;ao, o quc resin acima dos nossos ombros? A IJ1cu1r;fio movadora e vivaz. De: dcniro da caixa, o aprcndizado ~os permitc a alegnn 111c.111dcscu11c de uivcuta. C9>)lbust5o: estarnos co11dc:11.l(los :i inte- lige11cia?

~rando surgiu a unprcnsa, Montaigne, como cu disse, prcfcnu urna cabeca bcmconsnruida a urn s:iber

Page 29: Polegarzinha

37

on-line cumpre essa carefa. Agora, a cabeca decapitada da Polegarz.inha se dif e-

rencia das antigas, rnais -consriruidas do que cheias. 'I Nao ten do mai.s que se esf or . cant~ para armaz~n~ o

saber, pois ele se enconrra estendido diante dela, objetivo, colecado, coled onectado, rotalmente acessivel. dez vezes re e conrro do; ela pode voltar sua acen- ~o para a ausencia se mantem acima do pescoco cortado. · cul r ali o ar, o vento ou, melhor ainda, aquela I~~ ~ca<Ja por Bonnaj, o pinter jJ<J111pk-r, ao desenhar o ¥Jagre de Sao Def nas paredes do

IP:inmeon de . E onde reside a: nova genialidade, inceli!¢ncia ntiva, a auce 1 ica subjetividade -

' •

acumulndo, pois a cumulacao, ja objetivada, se encon- trava nos livros, nas prateleiras de sua bibliorcca, Antes de Gucemberg, quern se dedicasse a Hisroria precisava saberqe cor Tucldides e Taciro; quern se interessasse por fuica, Arist6teles e os mecanicistas gregos; Dernostenes e Qyi.nciliano, quern almajasse $C sohressair na arte orat6ria... ou seja, ~1ham de ter a cabeca cheia. Econorrua: lernbrar-se do lugar do volume na estante da biblioceca custa rnenos, em rermos de mem6ria, do que ~lax:-.WJ::ia...~s~eu~conteudo. \~ova econornia, radical:

em recisa m · se lembrar do lugar, um buscador -

POL(G.llRZINHA

Page 30: Polegarzinha

38

• A oposi<sfiO duro/suavc deve ser entenc.lida como a que .up«~ • r. . •• <l . " ( . as ., [orrn ns) c .b l1e1ll.1.;;

pu1 excmplo, as c1c11u.1s uras cxat ._ '' • . .· )

0 n 3 \fC::ll(lJllZJ\JO dJ "n1ulcs" (hurn.u1.lS e soc1a1s ou corno, c • . " i11fo1 n1~\uc..a, cnten<lc1nos o hanl e o J'!fl. (N.T.)

Con1o essa transf ormacao human a tao d . • . • ' ecis1 va, • ocon·er? Com nosso espmto pratico e decisiv . P<ide o, lrres· . vclmcrue achamos que as revolucoe; se faz.cm e ISti·

. d . m Lorn das coisas uras: irnportarn, para n6s, as C· . 0 . . erramcrn·

mariclos e Ioiccs. Inclusive darnos nomcs assen aaJ as; d H . · · R l - 1 gum~

\

eras a isiona: cvo ucao ndustrial recen 1 Le, dadcs do Bronze e do Ferro, da Pedra Polida ou Talliad , a. 11lais ou menos cegos e surdos, damos menor ale • n~ao aos sinais, suaves, do que as maquinas tanrnveis d o· , uras e

I • praucas. EntretnnLo, as invencocs <la escrita e, mais tarde

' da imprcnsa revirararn as culturas e as coleuvidade, rnais intcnsamentc do que as Icrramemas. O duro mostra sua eficacia sobrc as coisas do mundo; o suave,

0 [)URO [ 0 SUAV[•

uv 1 orio inali<l~dc de nossa J. OV<:rn tOP,l \I • · e S<: l ucssc vazio tr nsh'.icido, sob a ar,ra<la vel brisa C t:fugi; tllClllO de: custo ~uasc zero e, no cruamo, dificil ~<: ::'."t'ti

A Polcgarz1nha cornernora o Iim <la t:ra d gariar 0 Sabc:1?

M I C II I l S l I~ IU! S

Page 31: Polegarzinha

39

De iJrm impc ssa, a cscrita se projeta ho_F por todo 0

..,.. 1 ponto de invadir e ocultar a paisagcm. Car- ... cle p,Njcjdade, simliza¢cs rodoviarias, indica- ;t.- • w caw 11id•s, borarios nas cs~, placares ~ •N.19W• na Opera, roJos dos profeeas nas ............... DIS igRjas, bibliotecas DOS

"' n'a• de aula. ft>wa Point

0 fSf>A<;O DA PAG I NA

as ji1scirui~S humanas. As [ttWC3S conduzcm OU ~ ·~- . d ' . upOeID as ao1aas uras: as recno ogras prcssup<km ~uieJD as cicncias humanas, as assembleias pU- '. a PoUtica ea sociednde. Porvenrur» terfamos san ~ra, 005 reunido em cidades esrabelecido o direito, a esa1 bid ' (uodado 0 &rado .. coo.cc 1 o o ~o~or~o e a his- ~ jovenrado as ciCnaas .~ras. ulS~twdo a pailkia. .. ? eriaJDOS garancido a conwiwdade dasso rudo? Son a ~' rerlaJDos, n/Renascimc~rcP/designa?o das

. ..-rradas -, mud.ado o conjumo daquelas insti- ioatS _...

;#5 e asscmbleias? 0 SW\'C organiza e federa qucm d ..... .___ nPr-- -- u.r]iP o duro. ,.

Netn sempre pcrcebemos, mas vivemos cm coleo- yjdade, hojc em dia, como filbos do Iivro e netos da

. escnia.

POlfCARZINHA

Page 32: Polegarzinha

38

•A~ dmolsuaw deve ser cntcndida como a quc opoe, ,.e•a•4*'1.as cibvia• "duras" (cxatas e forma.is) e as ciencias •x•I • {11""""1' e tociais) ou como, com a generalizacao da ' Ir Cm, ••••lrnm o ltarcl c o Mjl. (N.T.)

0 E o SUAVE• o ouR cransfonna~o humana, tao dccisiva, nA..1

OJIDO cssa Iri • . d . . r'V\lt ., r~- 00550 esp to prance e ccis1vo, irres· . uc:ua aer. vu-- 1 - f isu.

--"'·'"'" que as revo ucoes se azem em t ~~-~ orno . d ........ amporta.m. para nos, as fen-...-e .. coe·a• .,.._. ..<qu ntas

manclol e £oica.1nclu.sivc ~runos no~es assirn a algu~ eras da Hist6ria: Rcvolu~ao lndustnal recems, ldadcs do BronZC e do Ferro, da Pedra Polida ou Talhacia. Mais ou menos ccgos e surdos, dames menor aten~ao aos sinad, suaves, do que as maquinas tangiveis, duras e

pr'Dcas· . - d . EnlJ'CUDtO, as mvencoes a escnta e, mais tardc

I

da ~ rcviraram as culturas e as coletividadcs mais incmsamcntc do quc as ferramentas. O duro IDOIUI aua cfidcia sobre as coisas do mundo: o suave ) I

' ., 1-•i (le de nossa jovcrn sc I\ ongu·~ tcfu . ~"11'uu'-a. , u~Jo, ob a agradavel brisa. Conh &\~ _.,.L.,. ~~iero e, no entanto. dificil d ec,.

usto~ua.5C caga.rta_ 1ot1a&l•Jc .&. .. comcmora o fim da era dos b t.

A~u- a er?

\_......- tttl.S RC!>

Page 33: Polegarzinha

39

De fviuaa imprcssa, a escrita se projera hoje por codo o 1 fl?- a ponco de invadir e oculrar a paisagem. Car- n • de publi<:idadc, sinaliza~6es rodoviarias, indica- ptll de nm e aftllidas, horarios nas esracoes, placares _....._, ndu~ na Opera, rolos dos profecas nas

enngdiarioa nas igrcjas, bibliocecas nos ~qpos nas salas de aula, Power f\:>u1r

0 ESPA~O DA PAGINA

I' 0 l f GA R 1 I N t I A

!I insrirui~ocs humauas. As rcc11icas conclu1em OU svb•'t n. . . . .-...111 as c1cnc1t1s durns; as tccnologias pressupoem

rcs.~UP""' . . P1 duzelll as c1~11cias hurnauas, as assembleias pu- e eo11 • n0Uri·ca ea soc1edade. Porventura rerfarnos sem bli as. a r-- . '

c . nos reurtido em cidades, esrabclecido o direito a escnra. . '

d d 0 Esrado, conccbido o monorefsmo e a his- fuu n ° . ~ . · · ld ·.1 • . ulvenrado as cz~nczas exaras, uisutu o a pn1una ... ? t61'11' · ·d d d · d " S rfarnOS garru1tido a co11ru1u1 a e isso cu 01' em a 1t nsa r•rlamos, ncPRe11ascimenccf>hesigi1a~iio das itnpl't • .. .

. cert .. das - rnudado 0 conjunro daquelas insri- 111a&S ..... .. '

.,.,.,,.~ e :issembleias? 0 suave organiza e federa quern ,d-- nu.,.,-- - -- qgljr• o d~· .

Nem sempre percebemos, mas vivemos em colen- yjdade, hoje em dia, como tilhos do livro e netos da

Page 34: Polegarzinha

40

NOVAS TECNOLOGIAS I

Esse \ormato-pagi a nos dornina de tal forma, mesmo sem s~ermos, q(ie as novas tecnologias ain<la nao 0 abandonaram. A tela do computador - que se abre como um livro - o imita, e a Polegarz.inha ainda escreve nele com seus dez. dedos ou, no celular, com os dois polegares. Terminado o trabalho, ela corre para irnpri- mir. Os novidadeiros de iodo ripo procuram o novo livro eletronico e a eletronica ainda nao se via livre do

. , . tnU' e• sit~1rios. re" isms e jornais .... l\ I tll)' .1ud1u.>110!) . lr1~ri11,

. 105 conduz. A tela a rtprodui.. t nns donunu c: 1 .

J rural mapas <le cidades OU de ui 1. c.1 JSlfO I... • • • uan1smu I baixas dos arquucios. projetos de C<>t\ • as p 3ntas . Stru~a

I . . . hos de salas public.as e de quartos intimos o, c escn ··· ll.ld . . pelos cluadnculados suaves e paginados 0 uruta, • o />a dos 1105505 anccsrrais; terrenos quadrados se . ~"'11

rncatlos de f on·agcm ou tcrras lavradas, na durci.a das .

· qua1s 05 can1poneses deixavarn o nsco, a n\a.rca da l

- c~~a o sulco, desde entao, escreveu sua linha · , · . naqucle

espaco recortado. E a unidade especial da perce . . , r . . P~ao, da

acao do prOJCtO, e o iormato multunilena.r q "l' ' , • uase tao

Pregnante para nos homens, pelo menos os oc·d 1 cntais

quanto o hexagono para as abelhas. •

\\ILH[l (RRE'

Page 35: Polegarzinha

41

l\iwinmmte: as ferramentas usuais exreriorizararn oouu ~ - dura.s. Saindo do corpo, os musculos e

UMA HISTORJA BREVE

. embora impli(4ue algo bern diferente desse, bern bvfO· l . 6 . r

11e do formato trans· ust nco da pagina Falta di1cre• • . o- · ·

b..;,. esse algo. A Polegarzinha var nos ajudar

Jesco • .. . :1 • Pata rnirn f 01 urna surpresa ver se erguerem, ha nnOS no campus de Stanford - onde sou pro·

a.JbtUJlS ... • ' . . ha tr!s decndas -, nas proxirnidades do anrigo f essor . d I . . - L bi . adrangle e financ1a os pe os vizmnos ilionarios do ~e do Sillcio, arranha·cCUS destinados a inf orrnauca,

. 00

menos idencicos - exceto pelo ferro, pelo con· : e pelas vidra~as . - aos o~cros predios de tijolos em quc ha um seculo Ja se ensmavam engenharia me· cAn.ica e hist6ria medieval. Mesma disposicao no chao, ines1Jl3S salas e corredores: sempre o formaco inspirado na pagina. Como se a revolucao recenre, no mini.mo tio paderosa quanto a da imprensa e a da escrita, nada tiVCSSC mudado com rela~o ao saber, a pedagogia e ao pr6prio c:spa~ univers.itario, inventados no passado

pelo livro e para o livro. Nio. AJ novas recnologias nos obrigam a sair do

fowaro c:spacial inspirado pelo livro e peJa pagina,

Como?

l'OLEGAkZI N HA

Page 36: Polegarzinha

42

Cugilo: meu pensemetuo se discingue do saber, dos pro- cessos de conhecimenco - memoria, imJ!!iilJ -:lo, l"Jtio

deduciva, sutilezs e geometria ... exrernados, por ·in:ips · e neuronios, no computsdot. A!el11or dizendo: penso e

inveiuo quando me distsucio desse saber e desse conhe- cimemo, quando me shsto. Converro-me nesse ,-:izio.

nessa brisa, nessa alma. cuja e4"CJ)ressjo rraduz es e venro, ~nso de fonna ainda mais suave do que e e 'UJ\t

objetivado; invenro quando consigo chegnr ne ·e ' azio, Nao me reconh~ mais pela minha cab ·3, por seu

dcuso rtehcio ou por seu perlil cogniuvo sinoular. n1J' •

lllD por sua aus&Qa imaterial, pel3 luz o-:insp:1reure que .,.. da decapitapio. l\:>J· esse nada,

:iriiculafoes ap:u-el11::u:1111 m:iquina.s sirn 1 . . p ~. a.Q, c talllas que imnavnm o seu funcion3Jn ~

fc enco X cen1peracurn alca, once de e~em3nJdJ · • ~

. b ·a -- -~ .. \. Pclo Oho.. rusmo a astece em segw a as maquinas Ill -~"' ocoras_ .-. D0\'3S iecnologies, en.fun, exren1:.t.r.lQl men J~ns ·is

I r.JfOe~~e ~am no s~ce_rrr.rneuron~~ e c6digos - suave A cogtu~:io, em p:trte. ap~ Ncs

nova (iira.n"-Tenta. --......:..:

1 l/ O que resra, enrao, =: dos ~s Q\'OS orudos dt Jv" 1 S~o De;:lls ~e Puis e dos cnancas de hoje? ~.....J/V\ ~ ~ I /.-~,. ~· • 4' l ""'"..,...-l - cJu,. ~ POLEGARZINHA MEDITA .t:.i.f. .. ,.""

MICHfl ERRE

Page 37: Polegarzinha

43

·e ~fout.tig11c uvesse de exp/1(.11· :1:< 1tt.11tt•u .t, quc ihe~.1 1c111 de sc cousnruir pct fci1.1111c1nc. tk· 1h_.,c

111ll·l l• . • <l . 11 csp.1 ·o dchn11t.1 o a se p1-ec111 .. hc1 c ,1 l.th1.·1,.i

,1i.111.1 lll • • 1 .1 .: 1 esr.u1.1 de voha. Essa c.ibc \I ,-.111.1. dc~t:nh.id.1

t. •1ll l I( 1• u' l N· . . c iiJi 1 fora de novo no cornput,u 01: .10. ·~~o 11,10 IJ,~e. • • b . . • { . . .6. co11J.J.1 para su ruunr J)Or outra. .10 c pt'l' 1:-o

Sl~lll t.:J . • ·e:r·-11· corn o vazro. Vamos, co1~g-cn1 ... 0 s.ibcr c ·c utg'l• • • fc 111 nos. o conhccimento e reus 111ctodo~. dct.tlhc.• seus or •

6 · e suueses admiraveis que meus 3.Jttig(>S .tluno,.; 01 1uto -- . . 1 coruo cour:l~as em noras de pc de p.1g111.1 c cm

Jlllll.lU ' dens:ts bibliograEas de Iivros que eles me acus.nn de esquecer. sob o golpe de ~spada dos alsozes tie . .S.1o I)erus. c:U na caixa eletronica. Esa·3J1J10. qu.1 e .insco.

0 egn se reura de rudo. inclusive disso. e f og-e para o ,-azio. em sua branca e cindida nulidade. A uHelig-e11c.:i.1 ur\'t'rU:i\-a se mede pela discancia com relacdo ao saber,

O rema do pensarnenro acaba de mudar; 0 · neu- ronios anvados pela incandescencia branca do pesco .o cortado sao diferentes daqueles a que se remeriam 3

escrita ea Ieirura, na cabeca dos anrepassados, e emirern seu chiado no computador.

Donde a autonornia nova dos enrendin1entos. a que comspondem rnovimenros corporas descononidos e um tumulto de vozes,

I' o I I l• It l 1 N 11 A

Page 38: Polegarzinha

44

*N o caso, c sempre mais di . a iante no te t " no scm1do de "m-r. x o, porta-voz" apenas -" ... one". (N.T.)

. mais. Formruido-se bem cedo, na educa~o infanril, a onda

do que se chama tagarelice vira tsunami durance o ensino fundamental e acaba alcan~ai1do o ensino superior, com as salas de aula submergindo, se enchendo pela primeira vez na historia de um burburinho permanence que torna dificil ouvir o que quer que seja, ou que torna inaudfvel a antiga voz do livro. E um f enomeno tao generalizado que nao se presta aten~ao nele. A Polegarzinha nao le nern quer ouvir o escrito recitado. 0 cachorrinho dese- nhado daquela antiga publicidade nao da mais ouvidos a voz do ~ono. Deixados em silencio ha rres rnilenios, a Polegarzinha suas . - . ' irmas e seus irmaos passaram a

1 - de hoie indusive, um professor em al

Ate a a11ai1 ra 'J ' • • , • • .' s a de audic6rio un1vers1tano, transmrug um b

aub ou no ' . sa er -re J·a descansava nos livros. Ele verba1· que, e1n pa1 , . . izava

. a p::igina-matriz. Qya11do ele u1venta 0 0 escnro, um • . ' guc

SCJ·eve em seguida urna pag1na-compilarao Su

C raro, e . T ' a , dr r. ia com que se desse ouv1dos a esse porca-voz.

care 1 a 1az1, . fala pedia-se silencio. Mas ele nao o consem.

Para essa " ' e ... c

vozES

MICHEL SERRES

Page 39: Polegarzinha

45

A oFERTA E A DEMAN DA caos prim.itivo como toda balburdia, anuncia

Esse novo , . va rcviravolta, antes de rudo da pedagogia, mas

uma nov tambCm da politica em rodes os seus aspectos. Ou trora crccentemente, ensinar era uma oferta. Exclusiva, semi- condurora, elajamais se preocupou em ouvir a opiniao OU a voz da demanda. Dizia 0 porta-voz: este e 0 saber esux:ado nas paginas dos livros. Livros estes que ele moscrava, lia, recitava. Oucam e depois leiam, se assim q119'1em. Em todo caso, porern, silencio I

lW duas vczcs a of erta dizia: cale-se. •4'w. ~~ a sua onda, a tagarelice rejeita

'lnunaa, mventa, apresenta nova demanda ,

Coro uni barulho de fundo quc obaf

, ·1r cnt a o ch17 ·

1 1r1> lo cscr1to. vo1. ' · uftt'· la l:'lgnrcln tanto, cm rncio ao tumulto de

I' cc e · J\H' q .. ·t·is? 1=>orquc iodos tern o cal saber quc se tnSo' e ,

C(llcgas . 0 A disposis:ao. Na rnao. Acessivcl pcla

·a lntc1t . . , . 11111111ci. · Wikipedin, cclular, em 1numer~s sites. Expli- j11ternet, tado iluscrado, scm maior nurnero de

docll n1en '" ' . . . . cndo, s mclhores enc1clopcd1as. Ninguern mais do quc na e1·ros

5 orta-vozes de antigamente, a nao ser que

... dsa do p . P'" '«inal e raro. 1nvente. detes, or•t>

utTl 6 da era do saber. £0 rn

p() L,l,(JA U 'l IN 11 A

Page 40: Polegarzinha

46

De orclhas e f ocinho atcnios ao porta-voz, o cacher- rinho, scntado e Iascinado pelo sorn, nao se mexe.

CRIAN<;AS TRANSi DAS

scm dcmanda mon·cu nessa manha A enorrne oferta que vcm arras dela e toma se 1 u ugar

reflui diante da demanda. lsso e verdadc com I . , . , re a~ao a escola e, posso dizer, tarnbem com relarao a' pol' ·

~ 1t1ca. Sera o 6.m da era dos especialistas?

1. un1 110vo saber. l~c..:vn .lvoh,t! () ·I 11cllle ( c r tic pu.>~J'c' 05 profcssorcs .lhlnlc..:s -

0 ,i\

tan1bcn1 - n , tt1t11c n1os ~ , . dcssa dcn1anda laga1 cla, vine.la ,1 11

r: so e caonco ' uos ti .o i u u . ' , I ' Lt c .... mcnte n1nguc.:m cousu lava l)~,. · ue anttg..u•· ' 4, a sat nos q ' deroandavan1 tal of cria. )e:r se realmente . .

P ea Polegarz1nha se uucrcssa cada vc: or qu l n1c:11 diz 0 porta-voz? Perque, <liantc <la er <ls pelo que . t l<:scc:11

r de saber num imcnso lluxo, por toclo 1 le 01ena "' 1 • , ugar

Stantemente disponivcl, a ofcrta pontual . e con . . _ ~ c s111 lar se rorna c.lerns6na. A qucsiao se colocava d. gu.

· d c for nu cruel quando era precise sc csloca- para 0

. · , Uv1r u saber raro e secrete. Agora accssivcl, esse sabe lll

. . r sobc· Pr6ximo inclusive em ObJCLos de pcquenas d' ]a, , trnenso que a Polegarzinha carrega no bolso J·unto

1 cs,

, ao en o A onda de acesso aos sabercs sobc tao alto qua ~ ·

. nto a da tagarehce. A oferia

. I I I I 'i I lt ll l ~ MIL

Page 41: Polegarzinha

47

1 orcndus con10 figu1 inhas, de de a sn,11, ti nrn a.-111·cOll P I · v- er..i,.an1os urna 011g;1 c;u rcn :1 c1n.ul11i1111 . de. corn 'J~' ' • • , ,d;i ·.: ern silcncio c alinhados c111 f 1l.1s. N<, a de ,,, • 6\°t"I~· . • 1r11 c:lo era a sc:<aiuHe: crrancas o an 1d~1 J J1 ·o de en ~ n:t ·05 obcdecfarnus. n5o • <>111c:utc uhn11~ ,, I ().) ,-az1 , bO =- r. _ res mas sobrccudo ao saber; a quc tJ I'' 6 - rore_,~o . 3().) p r. sores humildcrncncc se submeriam. "Jvd'''

05 proies pn _ 'd 'vamos sober ano c magistra], int,riu:11

cou.!>• era 0 ia 3 escre,·cr urn u atado da olJcdicHcia 30e,en . . .

~e • · 30 saber. Muiros sc seuur ram inclusive au:1 ,·oluncai13 . r- . d _ impcdidos. corn rsso, de aprendcr, N:10 hur ronza os.

P:n·orados. E preciso pen cbc..1 csse paradoxo: ros mas a . rUO cornpreender 0 saber C TtCU:,J·Jo - elc que Sc

plf3 d'd . _ punha cransmfrjdo c cornprecn 1 o -. era p1<:c1so pre~ u que de :Herrorizasse.

Com Ierras maiusculas. a filosofia inclusive Ialava de Saber . Absoluro. Exigia inclinacao subrnissa, corno

3 dos ancesrrais. curvados diance do podcr L oluto dvS reis por direiro divine. Jamais existiu dernocracia do saber; ~·~o que alguns, derendo saber; dcrivesscm poder. lTLlS sim poi que o saber propr ramenre exigia corpos humilhados, inclusive dos que o detinharn. 0 mais apagado dos corpos, o corpo Ietivo, dava aula fazendo s~ais para aquele absolute ausenre, para aquela .tota.lidade macessivel. Fascinados, os corpos nern se mexiam.

l'OLfCARZINllA

Page 42: Polegarzinha

48

Novidade. A Iacilidade de acesso da a Polegarzin} co1110 a iodo rnundo, bolsos cheios de saber . la,

, JUnto aos lcncos. Os corpos podem sair da Caverna em ·1" . que a aieucao, o si e11c10 e o arqueamer1to das costas

. os pren- diam as cadciras como se fossem correntes F - . . Or\ados a voltar, nao pararn mais nos seus lugares Alg

· ai.arra co1110 dizcm. ' Nao. 0 espaco do audit6rio u1uversitario se esbo-

~ava, amigarnente, como um campo de for~as, cujo centro orqucsiral de gravidade se e11contrava no estra- do, 110 ponto focal da caicdra, um Power Point ao pe da

A LIHEl~TA~AO DO COl~PO

l , I ll H I S ,,, 111

Page 43: Polegarzinha

49

i\\OBILI DADE: MOTORISTA E PASSAGE I RO

0 e pJ~O ce1arado ou focado da sala de aula ou do au· diiorio podc 1an1bem se esbocar corno o de urn veiculo: rrern, Ju1om6vel, avido em que os passageiros, senrados ctn fileiras no vagao, no banco ou na f uselagem. se dci- xam dirigir por quern os pilota rumo no saber. Olhern para o corpo do passageiro: esparrarnado de qu:Uquer jeuo, de barriga para cirna e olhar vago e passive. Auvo e atento, pelo contrdrio, o rnotorista arqueia as cosras e cstica os braces no volanre.

Ii se situava a dcnsidade pesada do saber, quase I l1 •\ f\ . . b 'd cl c • ·

0 redor. Agorn d1stn ur o por to o Jugar, 0 saber

i1·1 3 I ... d 11t • _11 ein uni espaco iomogeneo, csccntrado, de ·p·u \-.I sc e ' .. io livre. A sala de anugarnente morrcu

,•itttClll~IS:• ' 111u , .11·11d::t a veiarnos ranto, mc:smo quc so sai-

0 c1uc • • ~ ie·111 . . . d 11 struir ouiros 1gua1s, mcsmo quc a socie adc

ios con b·111 ,( 110 aiJid::t procure se impor. d •spct-.1Ct

c> t:· . os cnc5o se mobilizarn, circulam, gesti- 0 · cot p ' ' . .

hanl::un, conversa1n, facilmence trocarn enrre sr ul.11ll· c i1... . d ,. ·unto aos lencos. Ao s encio se suce ea raga·

ue ten1 J . . . _ . 0 ~ • balburdia, a unobilidade? Nao, anngamenre

bee e a • re.. . ""S 05 Polegarezinhos se Iivrarn das correnres ns1011eu v • . . , .

P C , .1 ... muicimilenar que os prendiarn, unoveis e di ::i,,e11 .. • · 05 no Iu~r. bico calado, rabo sentado. silenc1os , o-- ·

I' 0 L l GA It ZIN HA

Page 44: Polegarzinha

so

• H.lJc1 cncia .. o livro de 1991 de Mic he\ Serres, u Titrl·lllJlrull.

:\3 edi :o po1tugut:s~, 0 Tt:rcctr<J lnstruul». Ltsboa.lruuruto l">t.1~-cL. u 9 L) ~.T.,

Polegarzinha procura e encontra o saber n . . , . a sua ma· quu1a. De acesso ranssirno, esse saber s6 se enconrrava,

A TERCElRA lNSTRuc;A.o•

l> lh: .• u zinh.l usa o c.onlpulad ) """} ,l ' :> l <>t () ~' ic,cin o coq>o c c. u rna ff\Ol()ris• .. u I>< •.

11\ "'"' c x • - • • "« t\<l ~ h . de c 1\.u> 0 de.. tun p.i. s.tg,cu 0 na . \<:1\~~ Lt n' id: ' I.;. l - l' P'-l'is. 4111 ' • • , , llO de.. mane ·' e nuo o c1 ta. f.t· 1Vt<.L l do 1 · • "· int: 1 • u a1 "l <: ' - l fic.1 dc. bari 1sa para cirna t. t\U<:i.t "(>"'' ·"' " u.1l d 1 rnpu <13

) l).U-:t uma sala e au a: habitu"'d l"tc: t: l ' (. \ \ \. - . ... (J • .. ii. . 1 orpo n.10 suporra por mu1to tc:m }')ttra ,,. ~ • '"':t '-" . . P<> a "'•ti J ,, , ...... rec iro p;lss1" o. A Polega.rz.uu1a en - ?ultr r, uO • - • ~ . . . • Lao Vl\4

in ~n10 c..n1 apareU10 para dtr1gu-. Algazarra. p se at1v- u ,._ maos urn cornpurador e ela rccuper onha ii,

~ ··- a <>s ~ ClH1~o puoto. . gc:stos ~

Tcn1os agora apenas motonstas . d ' apenas d.1de, n1o n13J.s especta ores, o espa~o do . fllot11 . . . . _ . . , teatro ct-

de nrorcs. n10-. eis; nao mars juizes no t ib sc:: tnci- . - . n unai ,•ie or.1do1·es, auv os ~ nao mars sacerclotes 1 al)(:,hc

d no san .. ·-.q lc.. mplo se enche e pre gad ores. nao rnaie tuaric} - ' ~ prof e · 0 qu.u.iro-negi-o. eles estao por toda a salad ssoresn<.J

d d . - . e aula t- vererno · c izer, nao mars poderosos n ··· e., ha. a arena U quc esr .. ua ocupada por quern recebia as decis' P<> t1ca,

Fu11 da era dos que decidiam. oes.

Page 45: Polegarzinha

51

•Ou seja, sem poesia. (N.T.)

11,H lll(lll<~. h.1~11ll'ltl.ulo 1c.:con.ido, dividid<> I \ l • II\ • I .,.

• 1JH'" p.1g111.1. l nssi ll.l~OlS l'.Sllld10.s.1s disu-i- J'.1~111.1 • ' , . , I

• 11 1l.ll n l·.1d.1 dl'•l lpl111.1, sua p.11 IL', su.r scc.io, scus

h1t1·" • , . I . us l.dH>l .tltll l<>~ • .SlJ,I prate err.i u.r b1bltt>ll'C'l I

... 'il • • • ,,,,.. . la(ll'i scus f>Ol (,\ \OIL'S c 'it'll C.01 J)Ol .tllVISlnO.

'l 11' l 1 l l ' . . () i 1<> pni e:xc1nplo. d~·.s.1p.t1<.:t1.1 po.r baixo das ba- rsp.tfh.ul.i~ d.1 µ_l'og1.tf1a. cla gt:olog1a. da gc:ofisica,

' 1·1" • l · t J •1 f' 1 cl l · - cl • 1 ltii'in11l.1. c .1 t11s .1 og .t 1.. os a uvioes a I h111<H • ' 1 •1 lt>s ptt,t'S, d.1 h.ihcuuc«. da clin1.uologia, sem llll 1h 1µ1.1 l , •

1,, 101101111.1 d.ix plaufcrcs por esse rncsmo no lo11t.ll .1 • n . .

i . ts cid.1dcs JJOt ele ahrnentadas, as rivalidades . I'' ll ,\S. • • 111 ,..,• · . :uc11 u1hos, sern passarelas. barcarolas e Pont t:llll C I I . .

, • 11 "' Jvlisturando, imcgrando, f usionando esses \ltfllllt a ...

• -nios tornando esses membros soltos o corpo f1 .1g111t: " , , . . .

11 corrcntcz:i.. o Iacil acesso ao saber podc perrrunr \ l\.'l) ( •

liirihneute e de rnodo pleno, se habite o rio. que. ~ . . _ . ~las con10 f usionar as classificacocs, f undir as Iron-

tt'ir::is. rcunir as p.igin:is ja rccorradas no Iormaio, su- pl'rpor os tra~ados da univcrsidade, unificar as salas de aula, c1npilhar vinte departameuros, Iazer com que setts cspecialist.1s de alto nivel - cada qual achando ter a dcfini~jo exclusiva da intcligc11ci:i - se cntcndarn? Como rranslormar o espaco do campus, que sc n101- da pelo do acampamento militar do exercito rornano,

I' I l I I l , \ It l I N I I \

Page 46: Polegarzinha

52

• N" ~~' so. subcnu.nde st a .. classe escolar", sala de aula. \~.T.)

•• Att b1111hn1r des dame» u~lf<lUU tlas wwuu) e um romance de l?.nule Zola e tarnberu o norne <la \oja de <lepall.untm1» Iiccioual. calcada na precursora \oja Au Bon i\forJu.·, na Pans tl-0

s~gun<lo Irnperio. ~N.T.)

rid \l l ~lt\G:s.,\\\\\C\\lC COl\\O tk.~ll\\ ' • \ l\ .. 1 • • . \'\1• ' .. • rnu · h'')""'·"'u ~ \ odcmos. pelo \'\\L\\os f ''l "''-'\l'' . ' •K1\1t;u

l '\\\ \ ~CH."\H.h\lll\.\C..h: \.\C.: l\1.>l\L\L,\\.ll a l.'\l ,\ l ,, • . . •

l'·''"'"\ hn11.\.1do1 d,\ h~\a th.. th:p,\rt,\rnenl<>

'I , le \ll uucu o classiiicou os 1>1 t>L\ulos ., s s bim • ,, d• • '" . u l:H;m hdi.\~ \l1..\\ pl-:\tc.:\c:ir:1s, em !\C'i(>cs ot g,anii.adas C vcn

" . ' · ada 1.Ht' bcrn tranl\tn\o no scu lug,~tr. t.\,tssif1ca<lo .,1 p:i.

'- . • • • , 01 uen:ido como ,\\un1..>~ nas hk:n as ou corno \c~1onanos .

. .. ., '<>ma1ios no .\~.u\\p.\ll\C.:l\lO. 0 ll:\ ll\U Ll.\SSC • S\l')l1fic.... . .

0 "· onrruia1- me l\ ic, ·'l\uc\c cxcrcuo cm fah.:1ras rc1•:u\ares C e

. o · umo~ pt imcuu vcz , sua br,\nt\c \o.\a. tao universal no scmido

l) . .1 \ •. "lo ,\\ .. nso uas l amas " quamo a uni\:t:rsidade

N \ \\'\ l l

'- l I I \ I I I I ,, ..

Page 47: Polegarzinha

53

.r da .tJ)l't'11c.li1age1n, ng1·u1)nva tudo 0 , 11 pt ,lZl . _ que .. t

it' i l' 11' t su11h.tr: aJ uncntacao, roupas cosme't·c I 1 pot • L ' 1 os. , li,·&1H • . i·t<) clcn1<>r<JU e Boucicau t ficou riquissimo

....... ..,(> I ' . ) ., \ I l l • • e; ·1 ' Zo l . . b l

( L' tjtlC E1111 c a csci cveu aseac o nesse in- uti.111l .

( > 1' 1 1 . sell c.lcscs1Jcro, nos dias cm que as vc11cJas

,,1.1.ttl• ' ' ·tll' . It ts 1Jcrn1a1lccc1n co11sta11tes.

tll'•l ,,, ,1111'1.1 q 1111lr1 iornado por subita llltuir5o eie , ll 11• .. , l" ' l ,t:I • J J . r: - . ciit..i.o. nque a c assuicacao racional, rrans- l ., II I tt 11 hi' . . . ',. • 1 • corrcclores da loj:l em um Iabirurto e as se-

1 111 till (.).S ll1111 • .. 105. Vindo cornprar alho-poro para a sopa , ean u111 c;

llc.::. > obrig·ac.la, pclo acaso prograrnado de forma . ~"·ndt - d d d Ii t • . 1 .itr=tvcssar a secao c se as e rcn as, a c ente, \ t~<lft)!\.l. • d fi . . ' 11 Poleg:trziul1a, acabou cornpran o rivolidades, \\ (.) l. d - 1 . ' 1 1 ·g11111es ... As ven as, enrao, vo rararn a subir

.1lc1n c os c . ;un<.ht n1:us. - , . -

A desorde1n Lem razoes que a propria razao desco- nhc.·le. J>r~hicn e rripida, a order~ acaba, frequcnremenre,

• •• >11111do Favorece o movimento, mas, no fim, o ,tpt !Sil • ' _ .

, ·I" Indis1)custlvel pai·a a acao, a check/1,Jt pode este- l'.Ollgl ·• ' rili1;1 ,l descobcrta criativa. A desordcrn, pelo contra- 110. JrCJ:l. corno cm um aparclho que apresenta folg·a. E CSSl folga possibilita a invencao, a mesma que apare- ceu eutre o pescoco e a cabeca cortada fora.

\ :11nos scguir a Polcgarzinha em suas folgas, ouvir .1 iiuuic.io "screndipiuna" de Boucicaur, que todas as loJ.IS lk dcp.ut.uncntos scguern desde eruao, revircrnos a

Page 48: Polegarzinha

54

• 1:. 1cias coloquemos, na univ" . - das cict ' -.rstd classifica~ao d filosofia, a linguistica com a acte,

· todo a 'lllat a fisica ao, . om a ecolog-la. E vamos detalL e~ .

. ca a quin1Jca c , ll\Q.r . 0 "' . do esses conteudos de f orma '.l; d %\ . .. ;c pican '4.ln ~ da mc.uv, · d · ~ tl\ · . que decermina o pesqu1sador Cl.ls miuda, pru a . enc:on

l . ve da sala, vindo de urna especialict tre oucro, dian a.de ct· ralando ourra lingua. Estariam bem lo 1fe. rente e nge urn

sern se incomodar. Ao castrum racional d do outro, o exe:r . mano esquartelado em perpendiculares e Cito ro , sepa.

m coortes quadradas, sucederia, entao u rado e , rn mo . · • · saic,, com as d1versas peens, em uma especie de cal .d v . e1 osco i

resulcado da arte da marchetana, um pot-pou . Po, O Tercero Instruido ji imaginava uma u ~· .

. lllvers1dad com seus espacos misturados, sarapintados . e

, matizado desarrumados, mesclados, constelados... real s,

. I E . . colll-0 uma paisagem. ra precise, ant1gamente ir 1 ' , onge Para chegar ate onde estava o ourro, ou ficar em casa ,

. P~a~0 ouvi-lo, mas agora tropecarnos nele o tempo rod

. . . o, sem que nern seJa precise se movunentar.

Aqueles cujas obras desafiarn as classifica~0es e

semeiam em todas as direcoes fecundam a inventividade- , ja OS metodos pseudorracionais nunca serviram para grandes coisas. Como redesenhar a p:igina?Esquecendo a ordem <las razoes - ordem, e verdade, mas desam zoada. E preciso mudar de razao. 0 unico ato intelecm~ autenrico e a invencao, Vamos dar preferencia, emao,ao

Page 49: Polegarzinha

SS

0 coNC(l ro ABSTRATO

e pcnsar dos conccitos, em geral tao dificil- E 0 q~ rrnulados? Diga-me o que foi feiro da Beleza. enie to rn 1 rzinJ1a respondc: uma bela rnulher, uma bela A Po ega .

urna bela aurora... Pode parar: estou pedindo cgua. " . mil J eito e voce cua exemp os, sempre mocas urn cone

.,35 e poirancasl bon1 . J • A ideia abstrata, com lSSO, vo ta a uma grand1osa ia de pensamenco: a Beleza tern na rnao 1.001

econorni .. bddades, corno o c£rculo do geornerra cornpreende mi- r{ades inJinitas de a~os. Nun~ poderiamos c:r escrito nem lido paginas e livros se rivessernos que citar essas beldades e esses aros, em enorme mimero, sem fun. Mais ainda: nao posso delirnitar a pagina sem apelar para a ideia que veda as saidas dessa enumeracao infinjca. A abstra~o serve de rolha.

Ainda precisamos dela? Nossas maquinas correm tio nipidas que podem contar inde.6.nidamente o par- ticular e parar na originalidade. Se a imagem da luz ser- vir ainda para ilustrar, por assim dizer, o conhecimento, DOSSOB antcpassados .ficavam com a claridade, enquanto optamos peJa vcJocidade. 0 motor de busca pode, even- hialmcntc, substituir a abstracao.

. . <>do chip cleu (}ni'o . "Viva Iloucicaut e vi biru1t rva a la v61" cx,la1na a Polcgar1inha. f11inha n ,

I' (JI I ( 1 A KI I N 11 A

Page 50: Polegarzinha

56

• ,l • la 1r.1<. rt de la '!Zrrt tCicnc1as da Vida e da Tern. !t"rl(( \ l ' ~

• .1 · d • de >oo~ sub.-.unnu dist.:iplina escolar do curse meuio, que, es - ..

• s '\.icnci.1s uattn"tus". tN.1~.)

Espaco de circulacao, oralidade dif usa, mo,imemos Iivrcs, fim das salas classificadas, distribui~i>es dispa·

\)l\\\) o tCI\\.\, nuns .u.irnn, 0 ohj<:l() <.\;, N . \ (.:1, •• ,.

·' aba de: anH~d.u. .io . icrnos o )11µ,.\l<'>l ia h<:cc.: . ''\~,1

de , th. iio .\s vczcs sirn , podc SL1, mas Heit 1'i11t,l(l

f I l'i(.:1 1 \ ,, le nh>s p.\s~.u o tempo quc 01 pt L<:.t"'<> • 11\>ri.: C<1111 •

, ·''· cxcrnplos c sing,·ul.tri<la<lcs, com as Pl Gt . "·111 itj . . id <l >ria\ t \ , ,\tt\.'..t c icorica. essa no 1 a c <lcvolv<.: di . 'J1 •11

l d . - <l . <l. . ig1ud,,d . s.ibc: cs l. ..i cscricao c a in 1v1dualrz.aca <.: tirj . . o. A()

tempo. o saber of crecc sua chgni<la<lc: as n1c111ni, . 1 l . ,. . lll()d<tl i(l· do po"~'' e . to couungcnie , <las suH.-u\· .: 1 •Ides

. . o a11c ~\de 'c...'i 111.us. t.tl hicrarquia <lcs,.\ba. A•r<.,1.,. p . s. Urn~ o .. <:nt "

• • \ • (J <.: fl') ncm o marcmauco poc c mars mcnospn:za . <.:ti1i\1

l l . . . . r as S\--.. quc, uesc c Ja. praucarn urna m1stura a la B . 11

, d . d . . ouc1ca tcn1 e ens1nar e n1ane1ra u1te6rrada p · . Ut e: . . • OlS. Se Tt

1110 ~ a realidade viva de maneira analiti COrtar. ca. ela rn

l • d d - <>rr C 111.\ vez mars, a or em as raz.oes - sem d. e. U\'tda aind util, mas as vezes obsolete - cede vez. a urna a nova raz.a

que acolhc o concrete si.ngular, naturalmcnt l b' .0• . e a lnn-

llCO ... acolhe a narranva. O arquueto revira as divisoes do campus.

M I ~ I I I l 'i l M. ll l s

Page 51: Polegarzinha

S'1

-ndipidode da invcncdo, vclocidadc <la 1 daS SC•.. . U1' rJ"'. • d dos ternas ranto quanto dos objeros. busca de 110vid3 e_ . a difus5o do saber nao pode rnais ocorrcr

raz30···· ()lllr3 ncnhurn do mundo, elcs pr6prios ordcna-

.-mpus "' . . . cfll "'6" dos pagina a pilgina, racionais A mancira foroiata doS1 . do os acampamentos do exercito rorna- . iJ1utan

iu1US31 esse 0

espa~o de pcnsamento em quc habita, 110· t alma, desde a rnanha de hoje, a juventude d corv<> e

c Polegart.in.ha. . . - da Sao Denis pac1fica a legiao.

rOL[GARllNHA

Page 52: Polegarzinha

3. SOCIEDADE

Page 53: Polegarzinha

61

•NaFn"9' e, mais ainda, na AJemanha, os alunos podem "dar nocas• IOI professores, as quais, eventualmente, o diretor de cada coMgic> ou liccu Jcva cm consideracao no momen co em q ue 'cM • nora~ em pnftica ainda recente, aos diferentes profes- atl ·&tr:rlopdttlioo o ensino, tais notas valern para evenruais •dews' 'p', bAm• e outras vantagens. (N.T.)

GJO DAS NOTAS RECiPROCAS

fLO A fo)egarzinha vai dar nota a seus professores~ Essa

_ boba reve, recentemenre, uma repercussao discussao

na Fran~a. De longe, eu me espantava: ha enorrne d- anos os estudantes me ao nora em outras uarenta , . q . 'dades e isso nao me abala muito. Por que? Por- univers1

independente da lei, quern assiste as aulas sempre que, . . al . valia

0 professor. HaVJa rnuita genre na s a e, hoje de

~a, so rres OU quatro estudantes? E a sancao pelo , ro Ou pela escuta: arenta ou rumulruosa. Causa nUJDe . .

JUi, a eioquencia rem sua fonte no silencio dos ouvintes, silencio este que nasce da eloquencia.

Page 54: Polegarzinha

62

Na vcrdadc, todo mundo sccstprc t~

namorado, da namorada calada; 0 [~r~. reclamacoes dos clientes; a midia pc.lo ~ # ."~

pcla quantidadc de pa~entcs; o clcito, "Pela ..- G tr' eleirores. lsso coloca sunplesTneruc a C\Uc:st.ao ~~ nanca. da ,,,

Estimulada pcla queixa das macs, e . a Iebre da aplicacao de notas ni() SC l~ pg~~ invadiu a sociedade civil, que adon hlicara. ~ melhores vendas, distn"bui Prenu05 N~ . lista: _'- de £also metal, classifica universidad <lscarC!,,~- cs ~--~ presas e ate Estados, antigamentc sohc ' -~ em.

,.I. • l . . , , 'anoa_ vb .. .s p(lgma, o euor Ja esta me avaliando. ~a Uma especie de demonio de dupla faQ

• \ ...i:r . tlO& T- JU gar as uu.erentes coisas como boas ou . ~a_

ou nocivas. A lucidez. discrimi:na sobreo ,=;1~at

do mundo antigo_ e o que emerge do novo. N():Sr::..~ de hoje, 1una reviravolta que favorece a cite ,tbc;a; .

1: • -.. trica entre quern apuca notas e quem as a:• 1 I1e..ttnt.

poderosos e os subordinados, uma co ip1cw; idadC 1iiio mundo, de fato, parecia achar que nido sc.passa,~ciml. para baixo, da cltedra aos bancos, dos elcirosamefem. res; quc, la ctn cima, a ofena se aprescru:a e, cmhaiv: 1

de•••anda engole tudo. G1andcs lojas. gxax.'..f"s-W.,.... d resarios ministtos boo- 16 de Enii ::.~:;.:,a inc.o~.i:,.P"'f"''" ¥"

MICHlL Sl9'1'lS

Page 55: Polegarzinha

63

ELOGIO DE H. POTTER

Siinples garoto de Birmingham,. ~ii.em que Humphrey }\>tter ligou, com o fio de um .paao, o bra~ da maqui- nn a vapor a va.Ivulas quc deviarn ser acionadas com a rnao. Escapando do trabalho aborrecido para ir brin- cnr. ele inventou - abolindo a escravidae - uma espe- cie de feedback. Invencao falsa ou verdadeira, 0 conto, em todo caso, faz o elogio da precocidade de um genio. Para mim, ele mosrra a frequente competencia, fina e bem·adaptada, do operario (mesmo menor} nos pontos em quc quern decide, a distancia, ordena a a~ao sem oada pcrguntar ao operario, visto como incompeteme, H. Potter ~ um dos nomes de guerra da Polegarzinha,

A palavra usada exprime essa presuncao de incom- petfrM:ia: trata-se, de fato, de dobra-la a vontade para melhor cxploni-la. Assim como o doente se reduz a um 6raioaae tratar, o estudante, a um ouvido a se preencher

)t's unlll chuvn hcnignn. It provavct lb•'f < ' quet de fato

~4 1 vid<) t.·ssc tempo, inns cle Lermina a JL • , uh ' hl . 0 1lOs vtstos 1c .. b ,1110, "" hospital, na cstrada, nos gru 1,t, u •' 1 post na pra- b l ... , em rodo ugnr.

I)\\ ) I\..'.• • (·' 11 . 'li'C dos scn1icondutor<:s - quero dizer d

~•' . . ' aquelas ""S nssi1ncu·1cas -, a nova c1rculac;ao deixa

rdll\'1" • • ' • • quc sc 08 uotns, quase musrcais, de sua voz.

ou~11m

Page 56: Polegarzinha

64

A Polegarzinha procura trabalho. E, quando en~ continua a procurar, de tanto que sabe poder, de

111 dia para outro, perder o que acaba de conseguir. AQ disso, no trabalho, ela responde a quem fala com da

nao de acordo com a pergunta feita, mas de manm que nao perca o cmprego. Tornando-se corrcntc, CSll

mentira prejudica a todos.

TUMULO DO TRABALHO

. cntupir, o opcrario se limila silcncaosa n . . a ou a uma boca d. . ....tda um pouco mass comp\j,..~<l ina a scr •no- • . ""' a. urna ro:iqu e clc trabalha. Anngamente aqucla cm qu • I\() do quc vi dos. embaixo, orelhas sern v0 .. aJ bocas sern ou • '·

to, . d controle TCCipTOCO. Devo\vendo r,.· EJogio o . - '"''iOes

I as duas condicoes, as melhoTes emprcs comp ecas . _ as C(). operario no centro da decisao pratica t:- locam o . . · ~rn v

d ~ni7~r de roaneira pirarnidal a logistica ,..,.. Ct e or o-- _ • '-"rn ent que nos ff uxos e na regulacao da complexidade _ o. a muJtiplica por camadas de regula~ao -, elas d ~ quc que a Polegarzinha controle, em tempo rea}

5 elJtatn

· · ' ua Pr6 · atividade - panes mais facilmente reconhecidas Pila radas, solucoes tecnicas mais rapidamente ou t'tJ>a.

encontr das produtividade melhorada -, mas tambem a , que exam:_ 05 mandatarios, que podem ser o patrao, 0

rn· ·~ politico. Cdico, o

... 8L aaaaaa MIC

Page 57: Polegarzinha

65

('oJcg.1rzi11h.1 se entl·di.1 no 11.ih.dhu S. j\ ... . . •l\l\11111h11

• ciro ,11111g.1111c1llt' tt'l't'lJ1.1 c.\h11•1., ba 111,1, 1 . !lrct:t I . i " SL 11 n

111• . •1d 15 crn 1nt·10 ;\ llo1l·s1.1. l)epo1s dl· tl\'t\ 1 1 .:o, s1tLI• • . , .is p111

~·1 11no sccnr. ell' 111.1,-.1 dt.·sst· t1.'MHt1o •It· 1 lJj(O [Cl r ' ' •II uu II 111 C l''(}11lC.:lld.tS, IJ,\lll'OS, lllt'S,IS 0\1 ll\H 1 I'' ·1·

111 ns I "" • •'. I 11 \11 I

co s ckpc>iS. ele p.issou .t lt'l.l'Ut'I dl' um., l.llu i1..1 l·llll'

0110 11•1s J).ll .l inst.rl .. tr cm g1 .111dl's ol>1.1s v1111 v 11 . · n p J'O I • • ' ' ' , IS Ins J' ~ ' 1 · P ·I I ) <Jos. ~ urn tt't 10. .11.1 c .1 1.1n1 > ·111 { 1t1trit·ss1.· for111ntn . . . • . • . . • . •

brtl se cnp11~d1z:1 JlOS CSU llOl IOS dt: pt Ojt'lOS, 1.1 110

d~o~ 0 c:ipit::tl 11:10 signilicn :1pcn:1s .1 tonrc.·1H1.1c;;io dt· ~ . . 11135 can1b(·n1 :ig11n 11:1s rt·pn:s.1s, 111i111:r.d 110 du1heu o,

I intelio·encia em urn banco de engeuh,» i.i, .d:is subso o, e . .

d quem execute. 0 iedio geral vem dess.i runccu tado e . - dessa capta~ao, dessc roubo do uueresse.

0-aqao, . A produtividnde - que aumenrou verllc.1l1nt·1Ht:

desde 1970 -, acrescenc:-idn no crescimemo den1ugrJlico

1dl'al _ ioualmenle vertical +. rorna c.ul.r vc1 mnis mur 0

raro 0 rrabalho. Sera que urna arisrocracia cm breve se beneficiara sozinha disso? Nascido corn n revolu\:lo in dustrial e copiado do offcio divine dos monastcrios, es rara 0 rrabalho, hoje em dia, pouco n pouco morrcndo? A Polegarziuha jci viu diminuir o nurncro de col.rriuhos- azuis, e as novas tecnologias vao Inzer diminuir o dt• colarinhos-brancos. Q trabalho 11UO acab.ir.i des.tpnre cendo, rambern, por seus produros, inundaudo o mcrcu do, por frequentemence prejudicarern o mcio ruubicnrc,

I'\) I I l, \ I~ I t N II

Page 58: Polegarzinha

66

la 3~ao das nlaqui1las, pcla r co ltaniinado pc: · ·'.\ Af t\br\

- 1

d 9 mcrcador1asr 111al, elc d ca~~ upurtc a Cpcl 'I() e trru d nergia cuja exploracao destr6i a.s \(i, d f orires e e rcs,ry ~ Polui. i\s ~

A Polcgarzinha sonha com uma obra cu. d . ~a ftl\~1· . na repara~ao esses preJuiz.os send "ltd!'l.1 estana . _ ' o hen ~\4~

a-0 em rerrnos de salario (senao teria d'it , ~Sc<\ n o 'sc ' Ciando") mas em terrnos tamb~m de feli .d bet\e~

' . Ct ad It· que a operam. E rraca, resunundo, a lista d e ...... aos ' 1 . as ar~ nao produzem essas ouas po u1~oes: do

1 't es q1.1

d p <tneta e humanos. Despreza os como sonhador e do es, os u s franceses do seculo XIX organizavarn toPistas

d. _ • . , as Pratic~~ guindo rre~oes contranas aque\as que "<.) sc- . nos lev esse duplo impasse. ~a

Havendo agora somente individuos . d e a socied se orgaruzan o apenas em torno do trabalh adc

· d · 1 · o, faicnd tudo grrar a seu re or, me us1ve os encontr . o . os, lnclu . as aventuras particulares que nada tem a v sivc

. - er corn cle a Polegarzinha, entao, espera se completar n 1

_ o trabalho. No entanto, nao o consegue; no entanto se . , entcdia

Procura tambern imaginar urna sociedade que nao ~ se estruture somente nele. Mas em que, entao?

E quando, afinal, lhe pedem a opiniao?

•• ll st"RlS ,_,_ I'-

Page 59: Polegarzinha

67

I I ) ~ I I , ,~I\ L )(..;I l) I

ll I.{ de •. , .• ina11ut:n1 e urna vez em que prec· ·t: 1<,·111 v • . 1sou se fl.• s l1111 01\u idc hospit a.I. En trando no q

I I• c.·itl o uarlo ·111· d 1·11 r, . j111t. . ,g11 Ido c erneas su orrussas, como mach ... sc.: ,, 0 I), I I(; I • I .

~l·111 . _ 0 iTiod<.:IO nrurna csco se irnpunha -, 0 chefe i1ru11t: t1ot1lJ · tquico coin palavras de alto nivel, de costas

· iut1 ° s · bt 1Jll . ·za'iih:i quc estava deitada e experimentou - :i pvlcgru , . .

p.1•·1 • de iucon1pcte11c1a. Como na laculdade, ·st111~no . . n pre a·abnllio. Conforme se diz mais popularmence:

1110 110 i1 co . corno imbec . do \flSlll . . , sen scenl:ll·, falta ao unbecil - fraco, em lingua j>:lr:i se su

· bnst5o, esse baa'llus de 011de vern os nossos . 3 - um

l:t11•.1• :i de pe, curada, a Polegarzinha anuncia uma baciJos. J. . d rdi . ' . eira do enigma e i: po: quanto rnais o

'on a man 11ou a rnenos o hominideo precisa dessa benga- 1ernPo avan~ ' . I ~Iance1n-se de pe sozinl-10. a. Ou~· Os hospicais publicos da~ cidades grandes

dis - de estacionamenco para cadeiras e camas com paern ,. . d . d ,. . rodas: nas emergencias; antes e epo1s a ressonancia magnecica e de ourras comogralias; antes da sala de ope- ra¢o. para a anesresia, ou depois, para a reanimacao ... Pode-sc esperar de 1 a 10 horas. Estudiosos, ricos e pode- rosos do mundo, nao evirern esses lugares em que se ouvem o sofrimento, a piedade, a raiva, a aili~ao, gritos e choro, as vezes oracoes, exasperacao, suplica de quern

l'l)l I 11\Ri'INllA

Page 60: Polegarzinha

68

Esse caos nao rumoreja apenas nas escolas e POs 1 . • 1osp1· tais, nao vem apenas dos Polegarezinhos em sala de aula e dos solucos em espera paciente. Os pr6prios profos· sores tagarelam quando o diretor Iala com cles. Os in· ternos conversam enquanto o medico-chef e perora Os soldados f alam enquanto o general cornanda. Na pra ca do mercado, os cidadaos Iazern balburdia cnquanic o pref eito, o deputado ou o ministro despeja scu fnla· t6rio vazio. Cite, diz a Polegarzinha com ironia, uma

ELOGIO DAS VOZES HUMANAS

t :ul1• <Ha l.1~1 in' 1 <t\l •n\ 1\1 on· 1, rem u;\o c 1' lll\<I, eharna o qt ., p'ivur de uut1 o .. , 1 ·~i111\ ' cJe un ... , • · n 1IL 1 sil~nc.:io tcnso , \, " 1 c\11

. . . 'd'\o 10n1b{:1n... '"<.!,•Cn\ 1\111\t:,\ IH • ma1011::i, S, au • 1· t: \ 1~\111

• voz n esse concerto l lhSOl\111\lc lh' rnisu1rnr sun · ' . , . . . 1 ~>vavi:I be que sofrc, 111ns vm sempre l~l\Oi ,11 0 < n1entc, sn . . . . llli: si

·r. "sofrcmos", var ignonu o lauhu, tc.: colc.:t' ~ runca o . . 1vq <Ill• du antecl\mara du rnoric e dn llH\lllct:wao i> c vcm ' ' ., ' ur~it\(

·0 iillcrmcdiario cm quc iodos lcn\<.:1n c a11 uai d·\ 1· n . . n • I\\ lll't)· decisao do destine. Sc vocc for al~1.lcrn quc sc () . , ,1

? . I ~\11\\•t · 0 que e 0 hornernr', voce dara, OUVtr\\ c UC:sc1 l .: I.

. ~> >t If~ UI' a resposta para isso, naquelc murmur inho. Anl.

1 1

cs t css escuta, ate um fil6sofo e leviano. '~ }! a esse barulho de Iundo - a voz humana _

nosso Ialatorio e tagarelice encobrem. quc 0

cl"lll' M I (" II I I " "

Page 61: Polegarzinha

69 •

de aduJtos em que nao se oura 0 rn ·-o ... ~ ~ esmo f(!Lllllll

,1iC:l cLJidado. . ~ ·iO des d rnL1siqu1nhas de f undo, a balburdia da 1'z'' . da e . ' Stttt.J•'1 _ comerc1aJ ensurdecem e anestesiam • ·ta'iao

,.1; ea nS" . corn sorn deploravel e drogas calcu- illv>n cs reaJS, . . . 0 e1as voz blog·s e das redes sociais CUJO numero,

aqL' , dos , · • I •· :iJefl'l otais cornparave1s a popu acao do 1 das. h ga a c 3 d ·p(o, c e . vez na hisc6ria, as vozes de todos

i)Jr1 rirneu·a !fl ta· pela P .d A palavra humana balburdia no

1:u1e vi as. P _.1ern ser 00 A calma dos vilarejos silenciosos, pov o cernpo. . .

3ro e n _ 1• equentemente, a sirene e o smo, o esP , arn uao r . de soa" : ·- filho e filha da escrita, bruscamente

on rehgiao, aliz dirtj10 e a _ das redes. Fenomeno gener ado

expansao b lh ucede a h"rne a aten\=ao, esse novo aru o s • ara que C GUU •

detnat5 P fu - de clamores e de vozes particulates, d con sao . . de fun o, res reais ou virruais, caos encoberto . pennanen ,

pubbcas, sintonizadores da sociedade do espeta- los rnotores e P' . d · lmente envelhecida, reproduz em grande culo irre unve

0 equeno tsunami das salas de aula e dos audi-

escala P d d ,1. , , . uru'versitarios. Nao, na ver a e, este u nmo e que 1onos

c 0 modelo reduzido daq uele. &ses falat6rios polegares, essa balburdia de gente,

elcs anunciam uma epoca em que serao misturados um segundo pcriodo oral aos tais escritos virtuais? Essa novidadc Cara submergir a idade da pagina que nos formatou? Ha muito tempo ouco esse novo periodo oral quc o virtual cmana.

roLEGARZINHA

Page 62: Polegarzinha

70

Nesse ponto precise, a Polegarzinha reclama dos pais: . . , cnncarn meu ego1smo, mas quern mostrou o caminho? Criticam meu individualismo, mas quern o ensinou? E voces mesmos, souberam estar juntos? Incapazes de viver como casal, divorciam-se. Sabem criar um partido

ELOGIO DAS REDES

le llll!\ uerul tic paluvra, an:iloga ad (.: lllll•l l (: 111.1 " . • Cll),a

• • • <>S 1>tJlcgarc1.111hos cxprtmcm nas flcla s1ng\alt11 quc ' <:scot . . . 1 •<.lcs c i11ual t\c1ucla da CSJ)Cra dos do as e unrver sic • • o Cntcs

I P ·t,..1·.., e dos en11>rcga<los no traball10. Tcod flo8 ll>S I •• "' 0 r,,.

I . ·•lll qucr falar, iodo rnunc o cornumca com todo rnund flcl0

rcdcs i11umer:ivcis. Esse tccido de vozcs se comb· o, Por 0 da internet: os dois soarn cm fase. A nova d lila coll)

• .l. l . ernocra . do saber, J•' prcscnic nos ocais em que se es c1a gota av

pedagogia c sc busca a nova, com tanta . tlna . since · quanta dificuldadc, corresponds, pcla p I! . tidade

. Out1ca urna dernocracia em f orrnacao que, amanh- h gerai,

a, ave , se impor. Concentrada na rnidia, a of crta oli . ra de

- ib P t1ca rn e, mesmo que nao sai a ncrn possa ainda 0rre se expr· .

demanda politica, enorrne, se ergue e pre . llttir, a ss1ona A

marcava seu vote em uma cedula escrita .' Voz , estre1ta e

cortada, local e sccrcta; com sua extensa . re. . . o ru1dosa I

ocupa hoje a totalidade do cspaco. A voz ' ea Vota ern manencia. per.

M I c. II I 1. S I It It I

Page 63: Polegarzinha

71

I l.0111 q11e d111ei> Vl·jan1 a rnancir·i ., f ,1, < • C<Jrnc>

• I ( (' . ,1i11l' itc:l.1111... ,011sutu11 L1111 ~' upo mi11ist. • t r~ 1 !>,u.11 . , cri" I , ,'.ll 1 l 0·'"'~11Hc: tempo 'ioltcla110:' l',trlic.ir>ur de l 1111<.'\·' (;

11\. 11\.1 II • >let iv<> l'rn quc, p..i1 a haver cspctacul-, CCJn q 111(.'l( , cl'

1 c~P' .. 11•1ric.:ns ern parses istantcs, nos CIUaio 11tl J)(.'I ~() ' ("'! I '' ct•" · · J

11,11tt ' 1 5 ibcm ag1r c viver em grupo. As ve- il· 1111<. ,l •

I , .,,<>·1' • . 1j7·in1 · i11naos cm armas, par6quias ,1' I <>cs ~1go1 • . S , 1 1 I' h i.l\ . f unJli,1;; rCCOfllJ)OSlaS. Ob ram apcnas

I· . h(.,llOS, ' {ni·''· ~111< .• ,..10 obsLdculos vcrgonhosos para a r· de P1 CS.:>• '

11 ttp<>~ ti' ~

·1 ic1.1. cl . . d c1cn101.. • ·I n das uossas re es sociais e o novo uso [) h<><. tJ.1 . ,, AJ

1.1 pttlavra "an11go . bruma vez conse-

r. 7cn1os rr: . , . id d 1111c ·1 . pos t:lo cons1dcravc1s, em quariti a e unt:-ir g• u

~,111.unJ .. 1

no numero total de seres hurnanos? . ,,.,7111 in (. quc .r • ·udentc se aproximar dos outros de

• ,1d1,1111 J)J • , • I

i\.lo . al para J.::i de 1111c10, machuca-Ios menos? 111 u1cir.1 vu·tu. c, ' . • d .

• 1

re temem que, a parnr essas tentanvas. 110' J'·e n1en , . .

-as forrnas polincas que afastcrn as anteriores, ~111pm nov; obsole1.1s.

Obsoletas, scrn duvida, e tao virtuais quanta as mi- nhas, in iste a Polegarzinha, se animando bruscamcnre: c\c1 iro, n=i\:iO, igreja, povo, classe, proletariado. Iami- ha, mercado ... sao abstracoes, pairando acima das ca- bc\Js como Ieriches dcscartaveis. Encaruadas, e 0 que d1zcm? Pode scr, ela responde exceto que essa carne hum:ma, cm vez de · viver, Leve que sofrcr e morrer.

I' o l I (•A It Z I N 11 A

Page 64: Polegarzinha

72

'\ u" cx.\·\,,n, 4uc c <l<\ l\Ua\

U \\I\:\,\ ' I \,U., • • \\ S,11\ •\1\11\\1 1 • • "U\>ht:\,\<lC.>'\, O\U \CT"C \.t\)

• • \ ,•i\\<I~ '''\I lll f ,. \• s \\I 1h1. ,I c •\t>'l V\V() • •• C.\l\(..C\fa.S \n\(.)\""U

. ) <.\\\'-'"''·" " ~ (\.1d,1l'\, \u; 1

\\1.\ C.\\IC ..,c.; \C\ClC a~ \C\\g\o S (!'a(),\• ' i \ \S 1-.\C. l \\() \l\•

t '" '''~'' \ • ,· \c-.l.c.>i\\\c<..1<l{>.., c1\n\e1ra<los aos mi\\v~ '- \l c.> c. > \i. • U. l> c. _ 04l'Cs

I , \\\\\\\,\\ c~. "\(.HH . .\C VaO as VC7CS Se deb'"'· \\C.)S 1...\.'l\\lll... l \(.)!', • • • "'~t\l'

,\lrl"''as .iuL01 \<lades, c \01\gas \\Stas de no ' \.lH\l\ \l,\'-, • n ll:\cs nc.>s ll\<.>t\UlllCl\lO!:) aos m.orLos - ~m l~ l \~l~l8 v\nharn

. l<.><.los <lo catl'\\'>C!:>H\ato -, isvo no que se r,.r t\\l,\~l: • . "'ere a P~\lt ia. :a'''l)OS <le cxicrrnuuo e gulag~, no que sere

. <l \\ ,, . d \ d \ f ere :l louca tcorva as racas c a uta e c asses. Ja a f . . d d . <\rt\i- lia, csia abriga a meta c os crunes, com uma mu\h

morre11do diariarncntc por causa das brutalidades : rnarido ou do amame. No que se refere ao 0

mercado· mais de urn icrco dos seres uumanos passa Io · me-u

Po\egarz.illl10 morre a cada minuto - enquan Ill f d. l \ . . to ou. tros azern iera. 11c uswe o ass1stencialismo .

S() Cteste nessa sociedade do espetaculo de voces com

0 •

• . . . , numero de cadaveres exibidos; suas narrauvas com

0 . , s cnmes

relarados, uma vet. que, para voces, uma noticia bo nao constitui boa noticia. Ha cern anos, contamos ess: monos de todo tipo por centenas de milhoes.

A essas filia~oes, designadas per virtualidades abs· tratas, das quais os livros de rustona feste)am a ~om sangrenta, a esses falsos deuses devoradores de vkim:lS

infinitas, prefiro nosso virtual imanerue que, como a

f<\ I l ' ' I I lli I M M I S

Page 65: Polegarzinha

7J

I ' I\~ L)I \I f )t..)\ 1\I R1..JP1..JltlO) ) I) \' fl\)\,·''\ . . -

I la cl.1. l n1110 ~u.1111 .ts nnillldol·s su·t· 1111 )l'lll. l •

11111• I ··· 1· l)tl\· ·iill l)c .h.tlll n c om .1 <..1\.1. os ILHo~ c ,1., p I':>· it' q11l . . I 111 ,/111110 ''·/"'·111 1n111c~1 parou de sc rnu-

11l'' dt> ~ II • . I ,.111.1 1 1111.11.1 1, lltlln>. to111.1111. o s<.· 1111111" uialoi li~i I 11111 .u ' il.tt 1

. l<. bcin rc.·cc111cn1c111c. qu.uido o plancL.l r 1,,ll .I Ill . • • 111111 • ~· • t'l l<.'I r.is dcsco11hccrd.1s. Dcsdt: o dc:st:n· k1,11111k11 t1<.1. 1·1· I . 1

1. dtt. 11pos 1. 1 cremes t c 111<.>Lor •• rs \'r~n·ens ih unc1trn t t • o 11

1. ·u 1111 .t pouro de 1 r:111sfonn:.ir a perccp<;:lo •t 11111l11p ll. •

· 1 .. 1 em quc ~<.' v rvc, Uni p.us corno ;i Fr.u1~3 1fl1 .1111 )ll It

.1 .111 se 1onHHI u111.1 so Cltl~H.lc quc o trem de rJptt .Ullt ,

~t.l' ·liil'id.td .1u.nc."s.1. romo o mcuo c corno as .lulo- Ni.iil.ts quc.• c1117.1111 runs Dcsdc ~006 .. is con1panhi,1s 3,1tas p.1s~.11.11n .1 unnspo: cu 1 /:~ da liurn.uudade. l.>.15

i.11:il nuss.i de guuc poi· .t<:n1po1 tos c C.Sl.tql->l'~ quc 111a1s 1-\lf(\ Ill hl>I( IS pto\ iM)I ios.

Page 66: Polegarzinha

74

, . e da Asia. As misturas humnnas corrcm corno nos aos quais se dao nomcs proprios, mas cujas nguas misturaro

'.tlLtila11do o Lt•n11>0 de suns v1111···11s ·1 p · ' • • o'" • ~ arttr l • • t , • , 1> I . l c e

L. s: · sera quc a <.> L'~arzu1 in sabc cm qual cidac.le el n101.1 L' rrabalha. ~\ qual comunidade pertcnce ' Vi a . . · 1ve eni um suburbio d.i capital, .1 urna dist.uicia cc1uiva.lc • me, do ceutro e d~ ~u.:ropo.1 to, ~111 tempo g.1sto, a tun dclimo do qut gasta11.1 p.1ra tr alcm <las Irontcuas. Reside, entao cm um.i conurbac.io que SL estcnde J).lra fora de ' . sua (.1<.L1dc e de sua na~5o Pergunra: oude cla morn? Redu, zido e expandido, ao mcsrno tempo, csse lugar coloca urna questao poll tica. pois a palavra politica Se refcre a cidade. De qual lug.tr ela pode se dizer cidadfi? Outra (ilia~ao flu iuruuc ! Q1en1 - c vuido de oncle? - a rcpre· scntara. urna vcz est.io colocadus cssas qucstoes quanta

ao local de rnoradia? Onde? Na escola, no hospital, com pcssoas de toda

pro,·e1ue11cia; no rrabalho. na estrada com esrranhos, em reuniao com rradutores: passando na rua em que rnora, onde se ouvern vririas llnguas, ela o Lempe todo esbarra com diversas mesucagens hurnanas que ma· ravilhosan1ente rcproduzen1 as misturas de culturas e de saberes encontradas no decorrer de sua Iormacio. Pois as reviravoltas descricas tern a ver tambern com a densidade demog1·nfica dos paises do mundo, em que o ,

Ocidente se retrai diante da enxurrada vinda da Africa

i\\ IC tt l l l I{ It l S

Page 67: Polegarzinha

75

ltt\'IRAVl)l IA l)A PllESUN<;AO DE INl l)tv\PI rt NC IA

Utilizando .1 '<.:Ilia pn . .:sun~ao de incornpctencia, grandes 111.iquinas pt.'1blic..as ou pnvadas, a burocracia, a midia, a public.idaclc, a iccnocracia, as ernpresas, a pollrica. as univcrsidades, as cstruturas admi.ilistrativas, as vezes •11c a ciencia ... impocm seu poderio gigantesco, se diri- gindo a suposios imbccis, denominados g1ande publico e dcsprezados pclos meios de cornunicacao de massa. Na con1panl1ia de scmclhantes que eles supoern compe- icutes. mas ncrn Lao scguros, Polegarezinhos, anonirnos, anunciarn, com sua voz difusa, que aqueles dinossauros, que crcsccm quando em vias de exrincao, ignoram a emergencia de novas cornpetencias. E as apresenram.

Se river consultado anteriormente um born site na internet, a Polegarzinha, nome c6digo para: a estudan- re, o pacicntc, o opcrario, a f uncionaria, o adrninisrra- do, o viajante, a clcitora, o senior ou o adolescence, o que <ligo?, <la crianca, do consumidor, resumindo,

I ns dl dc1>c11dc1ncs. A l'olcga1Ltnha habita I " t CZl 111 • rss. ~ .

I I I llll''iLl.Hl.t p.rvuncnta scu cspa~o com uma I I 111.1 I. 1111 . . ·11

I 111i1 disp.11-.11ada. Suu vista sc maravi ia com esse ,11.11< ll • • .

. 1 . <>i>io scus ouvidos rcpcrcutcrn o caos confuso · 1lcll O"iL • • l • . " c scntidos cue auunciam outras reviravohas. de \'O/l .~ .,

I' ti I I l 11\ ll Z I N II A

Page 68: Polegarzinha

76

A 'n10 da prnra publica, aquele que era chamado do n11v11L ~ T •

, . d- id ... dao pode saber tanco ou mais sobre de cida a OU Cl n , ., ' • •

do sobre a decisao a se tornar, sobre a m- o assunto tr:lla , . - rciada sobre o cuidado cons1go mesmo ... forma~:io anu1 , . . Pl.0ressor um direror, um 1omalista, um respon- que um 11 1 •

, 1 rn chefiio um eleito ou ate um presidenre, todos save , u ' conduzidos ao pinaculo do espetaculo e preocupados com a gl6ria. Qyantos oncologistas nao conf essam ter aprendido rnais em blogs de mulheres com cancer de mama do que nos anos de Iaculdade? Especialistas ern hist6iia natural nao podem mais ignorar o que dizern on-line fazendeiros ausrralianos sobre os habitos dos escorpioes; nem os guias de areas protegidas dos Montes Pireneus, sobre o que se diz da migra~o das camur~as. O compartilharnento simetriza o ensino, os cuidados, 0 trabalho; a escuta acompanha o discurso; o revira- mento do velho iceberg f acilita a circula~ao nas duas vias do enrendimento. 0 coletivo, cuja caracteristica vir- tual se escondia, arisco, sob a morte monumental, cede vez ao amean», realmente virtual.

No final da faculdade, aos 20 e poucos anos, me tomei epistem61ogo, palavra pomposa para dizer que estudava os metodos e os resuJtados da ciencia, ten- tando, as vezes, julga-Ios. Aquela epoca, eramos pou- cos no mundo inteiro e nos correspondiamos. Meio "oaio dcpo'

IS, quaJquer Polegarzinho da rua decide

MICHfl SERRES

Page 69: Polegarzinha

77

b -c energi:i nucie::u-, sobre barrigas de aluguel, sobre 50 J • b . . . . "·~uJCO· so 1 e quirruca, sobre ecofogia. Hojc, que 11'flJJSo . ' J di . I' 6Jio 1n<US aque a .iscrp ma, roclo mundo se cor-na

1u me H..! - .r - • N 11• blog·o. ;,i ptcs1111ft10 ae co111pete11aa. ao riam diz a • 1e11l . ' cpis .. i}J<l: quando a chamnda dernocracia deu di- leg111 zJJ d . t: . f'O ro a rodo mun o, precisou razer isso con-

· ode vo A dal aJ di . rt:'' ·rirava ser urn escan aro l ireuo ser dado ue1P g · · d d id tfll q . uivalente aos aJulZa os e aos 01 os, aos

ieira eq ,.,. de 111ai aos insrruidos. c o mesmo argumenlo . oran1es e 1g11

1or11ii. b d · · q11e re d · sciruiroes que aca o e citar, CUJO vo-

TaJl es in .,. As g . da todo o palco are a cortina do que ocupa ain d · d 111111e nossa sociedade, mesrno se re uzin o d1aJOarnos .

11inda . ·amente perde um pouco de densidade que diafl a ~go ~ sequer se dar ao rrabalho de renovar

. 1 se111 nei~· plausive' esmacrando de mediocridade a popula- [3culo e o . . _ .

o espe sas grandes instHUJ~oes, gos to de repenr, . esperta, es ~ao ..,.., as estrelas de que recebemos luz, mas

ecem corn 1e par id h , · [lsica calcula terem morn o a rnuito tempo. queaastro . hi , . , bli rrovave!rnente, pela primeira vez na stona,. 0 pu - co1

05 individuos, as pessoas, o passanre anugarnente

chamado vulgar, resumindo, a Polegarzinha, podern ~r a disposi~ao, no minimo, can ta sabedoria, cien in infonna~ao, capacidade de decisfio quru1co os dinosst u- rosemquestao, de cuja voracidade por energia e cobica ~rprodu~o ainda servimos como escravos submissos.

I' 0 I.£ CA R Z I N HA

Page 70: Polegarzinha

78

,\~i111 con10 a n1aionese se condcnsa sem desa11dar, essns 111011.tdas solit:irias se organizam lenramente, un1a de c.1d.l , ez, para Iorrnar um novo corpo, sem rela~ao Jlg11n)a coin aquelas u1sticui~oes solenes e perdidas. ~1ando essa leora constituiyao. de repente, se revirar, ig·uJ.l ao iceberg de ainda l1a pouco, ainda vao clizer que . nao virarn o acootecimento se anuncrar,

O cicado reviramenco aconrece tambero no que se refere aos sexos, pois as ultimas decadas assistiram a ,rit6ria das mL1ll1eres. mais esf orcadas e series na escola )

110 hospital. na empresa ... do que os machos dominan-

ces, an·ogantes e fracoLes. Por isso o titulo desse livro: RJ/c>~arui1llfl. Isso acontece rarnbem no que se refere as

.... culruras. pois a internet favorece a multiplicidade das ex'Pressoes e, em breve, a rraducao automatica para n6s que rnal sairnos da era em que a dorninacao giganres- ca de urna s6 lingua havia unificado na mediocridade dizeres e pensarnentos, esterilizando a inovacao. Em suma, o reviramento aconcece no que se ref ere a codas as

concenrra\6esJ inclusive produtoras e industriais, e mesrno linguageiras e culturais, para favorecer disrri- buicoes amplas rmiltiplas e singulares.

Temos, entao, a aplicacao de notas generalizada, temos o voto generalizado para uma democracia gene- ralizada. Reunem-se as condicoes para uma pri.mavera ocidenral ... so que os poderes que se opoern nao usam

1'11C11 l L S [ K « e s

Page 71: Polegarzinha

79

... nquclcs que, para couservar o amigo estado de coi- sus, urilizam o argumento da simplicidade: como adrni- nisu.n; pcla dcsordem, a complexidade que se anuncia pcb b.tlburdia de vozcs, disparaiada e heierogenea? Eis co1110. Prcso cm urna rede de pesca, um dourado tenta sc soltar, mas se prcndc cada vez rnais a medida que se agit,i: vibranies, as moscas se aprisionam nas teias de m.uilu: os cscaladorcs de monianha que se cruzam em urn parcdfio, diruue do perigc, confundem ainda rnais as suas coi das qunndo ten tam solta-las. Os adrninistradores ~s vczcs rcdigcm direiivas para reduzir a complexidade adnunislrativa c, corno os alpinistas, a multiplica1n. Sera

l 1 CJ 10 l)A MARCH ETAR.IA

. . . l forca mas sirn a droga. Exemplo tirade 11 ,s no c.1so, 'T •

11 • ' ' I . . .15 coisas perdcrn seus nomes comuns, pas-

k1 l Olll I.I 1\0. • . t • • h 11113Jas pelos nomes pr6pnos das marcas. s:111do .1 sc.:1 t • . - . .

. 1 ·01\lCCC COl11 ioda inforrnacao, inclusive po- () 111c:;n10 , c

. . en t'l·1 cm palcos ilurninados em que parecern 11uc.1. c.:nc. • '". . 1. l''' soinbras scrn rclacao aJguma com a realidade.

(lll \\U•I " '

A Sl>ticd.1dc Jo cspct~\culo transf orma, enuio, a luia -

I I . ulli11.1n1c.:nlc.: c ern outros lugares, com barricadas tlll·.. 0

c c.id.1, crcs - cm dc.:sintoxica~ao heroica que nos purga- 1 i.i dt>S sonilcros olcrecidos pclos muiios distribuidores de i1nbccilid.1dc ...

rotEGARZINHA

Page 72: Polegarzinha

I . ial ponto que qualqucr tentativa q11t' cl.1 j:i sc rec uz.111 a

·r· - con1plicn? dt: siinplt 1cn~no . , l ·s-<-Ja'.> Pelo crescunento do numero de 01110 ana I <..! •

I S Por sun diferencia~ao individual, pela multi·- e cn1c1Ho ,

I .... -10 das -elacoes entre eles e pclas interse~oes entre r 1c.1~.. .. 'J

essns possibilidades. A teoria dos grafos e a informatica trn tarn dessas figuras em rede cruzada que a topologia dcnomina simplexo. Na hisroria das ciencias, essa corn. plexidade aparece como sinal de que nao se utilizou urn born rnetodo e de que e precise mudar 0 paradig;ma.

Mulriplicidades conexas dessa ordern caracterizam nossas sociedades em que o individualismo, as exigen- cias das pessoas ou dos grupos ea mobilidade das paisa- gens se cruzam. Todo mundo, hoje, cruza seus pr6prios simplexes e se move por outros. Ainda ha pouco, a

Polegarzinha se movia por um espaco misturado, mati- zado ... , em um labirinto, diante de um mosaico de cores do caleidosc6pio. Como a liberdade se refere a todos e exige que cada um a aproveite de macs livres e com certo espaco vital, nao se ve por que simplificar essa exigencia da democracia. As sociedades simples nos remetem, de faro, a hierarquia animal, sob a lei do mais forte: uma organizacao pirarnidal.

Que a complexidade prolifere, tudo bem! Mas ela tern um custo: multiplicacao das filas e longas esperas,

MICtH!L SltUiES

Page 73: Polegarzinha

Repito, porem, que a historia das ciencias conhece o que sesegue a esse ripe de desenvolvimento. Qyando o antigo modelo de Ptolorneu acumulou dezenas de epiciclos que rornavam ilegivel e complicada a movimentacao dos astros, foi preciso mudar de figura: deslocou-se o sol para o centro do sisierna e tudo ficou mais nitido, Sem duvida, o c6digo escrito de Hamurabi acabou com as dificuldades sociojuridicas que vinharn do direito oral. Nossas complexidades vern de uma crise da escrita. As leis se multiplicam, inflam o Diorio Ofa:ial. A pagina esta em fim de linha, E preciso mudar. A informatica perntitc essa mudanca. As pessoas espcram e se irriwn ~ ~ d' . tcrnUD'vas. tante dos guiches; nos engarrafamcntos Ill

ELOGIO DO TERCEi RO SUPORTE

dminisrracivo, ruas cheias, dificuldade de inter- peso a . . . leis sofisocadas CUJa densidade, convcnhamos pre tar '

. · iui a liberdadc. Paga-se sempre na mesma moeda dUTlll

iT1 que sc ganha. e al I di Esse custo pass a, . cm isso, por uma das f ontes do poder. E, por isso, os cidadaos dcsconfiam dos seus represenLantes nao qucrerem reduzir a ref erida cornpli- ca~ao, acumulando as direrivas para darem a impressao de querer reduzi-la, mas muluplicando-a, como o dou- rado na rede.

rOLEGA RZ IN HA

Page 74: Polegarzinha

82

MICHEL SERRES

a geucc pode acabar rnatando o proprio pai em um cru. zarnenro, sern saber, por uma discussao sobre quern tinha a prioridade. No entanto, a velocidade da tecnoJo. gia evita a Ieutidao do transporte real e a transparencia do virtual anula os cheques nas inrersecoes, ou seja, as violencias que elas implicam,

Qye a complexidade nao desapareca I Ela cresce e continuara crescendo, pois todos se aproveiram do con- forto e da liberdade que vern ernbutida; ela caracteriza a democracia. Para reduzir os cusros, basta querer. Uns poucos engenheiros podem resolver o problerna, passan- do ao paradigms informatico, cuja capacidade conserva e ace mesmo deixa crescer o simplexo, embora percor- rendo-o rapido, suprima, repito, filas e engarrafamentos, apagando os cheques. 0 ajuste de um programa idoneo para um passaporte virtual e valido, com rodos os dados pessoais publicaveis, requer apenas uns meses, nao mais do que isso. Sera preciso, um dia, colocar em um novo e unico suporte o conjunto desses dados. Por enquanto, ele se divide em muitos canoes, cuja propriedade o indi- viduo divide com diversas insticui~oes, privadas ou publicas. A Polegarzinha - individuo, cliente, cidadio - dcixara, indefinidamente, que o Estado, os bancos, as ~ l~jas ... se apropriem de seus pr6prios dados? Ainda maia tendo em vista quc isso, hojc cm dia, se .. ,_ .... Conte de . "T!

nqucza. J.rata-sc de um problnn•

Page 75: Polegarzinha

[LOGIO 1)0 NCJM I I)/ < ,r JI llJ' A

de rniJJJia lic:i uf11~1 JJ;11 > 111dic::1 ";.Jg11(;111 <l<· sua 0 JIOITJC 1 I -

,, " n adolc.:14tCJJt<.: de: HJJ<.:', quc '>illJ c xprt.:"t'><Jt.:'i n~ao ur ge' ' zo Nau. Na" He.: t1:1t11 d"'· lii:u uni clcmcn- de menosprc ,. . . . , .

conit1nto A, C<JtrJ<J He: d17 <.111 tcor ra. Unica, to x de um .., . . , J "iJJlta cxistc como 111d1v1du<J, com'> fJC'>"CJa e afu~a~ .

. 0 abstracao. Isso rrrcrccc c.:xpJic..a~ao. nao com )' Q!iem se Jembra da antig~ divi~fi<) do cnsino sure·

rior, na Fran~a e cm outros parses, cntrc quatro f aculda- des: Jetras, ciencias, dircito e mc.:dicioa/farmac.ia? lctras celebrava o ego, o cu pcssoal, o humano de M ontaig- ne, assim como o n6.s dos historiadorc:s, dos Jinguistas edos soci6logos. Descrevcndo, expJicando, calcuJando 0

iuo, as faculdades de citncias enunciavam leis gerais oumes · · N

mo uruversais: cwton para a equa~ao dos as- tros, Lavoisier para b · d 0 atismo os corpos. Deixando

111,J(111..o. 111111 •11 J111 l•ll1 i1 '"I' 1111111,,,; 11,111 ~111111).11)1

11,,11~ '"'I' 1 f"' ''"•1"' '" 111111 ,, 1 • 11/1111.1114 /•, p11~lflv1 ''t'" I { 'lllJ/lt 11111 It ''HI llJJ.111i1 11111 ti'• d1~111l11111111 s l)t11..1<1 ( ,I I

III 1._ <. ",1dv uu» d1 11111 1111111111/'''"'1, '' 111ul1, dt1') 1111 H.•

I i11c/c.'J)C.Utf 111 """ l1l1l1t1J11 •/ll,/llt1 I/tit 1).111 IJ f<.:~/S d,1( (11!, I

<.XLllltlV11 (J 1111/111.11111 I ,, 1111d1.111( .. t> J 1t1VCl1 CJ ' wic llOllJC ,1 J111/cg.11111i/1.1 \1,11 llll/11111111 t.111 ';<.!IJ

'} P·''SllJ)Ul {(. l

I ' 11 I • " I• I I I 1 11 '4

Page 76: Polegarzinha

84

arnbas tie lado. a n1edicina c o direiro tinharn juntas ace 0, ralvez sern comprecnder, a urna maneira de co- nh er que cicncias e Ictras igt1oravam. Unindo o geral e 0 p.n ricular, nasceu, naquelas faculdades juridicas e mcdicas, um rercciro sujeito ... um dos anrepassados da Polegarzin11a.

Primeiro, seu corpo. Ate pouco tempo arras, urna t,11·avurn de anarornia indicava um esquema: da bacia, da aorta, da uretra ... , desenho abstrato, quase geome- rrico, geral. Agora, reproduz-se a ressonancia rnagnetica da bacia de decenninado velho de 80 anos, a aorta de urna adolescente de 16 anos ... Apesar de individuais, es- sas imagens tern alcance generico e qualitarivo. Casuis- tas, esrudando algum caso, os jurisconsultos romanos, da mesma maneira, tinham o costume de designar o su- jeito cirado em uma causa tratada pelo nome de Caius, ou Cassius: names a5digo, 1Z01nes de guerra ou luerdrio; pseudi>- nimos, unicos em duas pessoas: indiuiduais e genericos. Esses nomes se bancam, de maneira geral e particular. Duplos, se assim preferirmos, valem por um e pelo outro.

Entendam por Polegarzinha um nome c6digo para £k~ estudante, pacienre, operario, carnpones, eleitor, transeunte cidadao nni'-;....n rfltnt .,_,. . , ... .,,,...,,,,.,,w, IAJftt• cerK"' Tnas m- dividz. ,

wfiwdi>. Nem tanto um eleitor contando como um nas pcsq11isas nem ta t I '" o um te espectador contando

MICHEL SERRES

Page 77: Polegarzinha

85

ALGOl~iTMICO. PROCEDURAL

Observem, agora. a PoJegarzinha usando o telef one

I e controlando, com os poJegares. teclas, jogos

ctlu ar rores de busca: ela uriliza sem hesitacao um cam- ou rno,

cognicivo que urna parte da culrura anterior, das Po ·

5 e das Ierras, por rnuiro tempo deixou adorme-

ciEnoa 'do e que se pode denominar "procedural". Esse ma-

CJ • • ·0 esses gestos s6 nos serviarn, anngamente, no

oust! ' eosino fundamental, para colocar de maneira correta as opera~6es simples da aritmetica e, evenrualmente, organizar artificios retoricos ou gramaticais. Em vias de (XJIJC()tm' com o abstrato da geomerria, tanto quanro aMD o descririvc das ciencias nao matematicas esses pocedimentos invadem, hoje, o saber e as recnicas, For- lllllopen.camento a/gurihnico. Este comeca a compreen- ir a ordem das coisas e a servir as nossas praticas. •1'ipvcote fazia pane, mesmo que as cegas do

,0111,, urn uo Ibope, ncm t~ uro urna quanridade. mas

) un1:l 4u.d1d.1dc, urna exist~ncia. omo o soldndo 5111 Jr!tt.onh( ido de a11lig~1n1cnte, cujo corpo realrncrue jaz

I. e quc n n11:U1 c de DNA individualiza esse anonimo

'1 I

0 1ic:i 6i do nosso tempo.

t . I d .li . 0 p01cgnr11n 10 co 1 rca csse anorumaro.

rOLIGAkllHHA

Page 78: Polegarzinha

86

. d . -tc 111l·<licn. Arnbos erum cn~inu. · · ·ur{d1co e a .. u exercacio J d ~. " ::ir:.ldns dus de ciC11cias e de lctras

dos ern f::iculda. <.:S sep.. . . ucilizav;.ur1 f6r1nulas, sequ~nc1as <le: porque, Jusc::in1ence, .

.1... de [orinalidadcs, de 1na11eu·as tit: proc<:clcr· gescos, sci ies ' isso mesmo, procedime11tos. .

Acora. a aterrissagem de acronaves em pistas rnuito freque~1tadas; as liga~oes aereas, Icrroviarias, rodovia- rias, mariLiroas, em determi11ado continerue; urna longa Ulterve11~ao cirt'irg;ica do rim OU do coracao; a fusao de duas sociedades industriais; a solucao de um problem.a abstrato dentre os que pedem uma demonstra~ao de- senvolvida em ceritenas de paginas; o design de um chip, a progTama~ao; a utilizacao do GPS ... exigem do geometra maneiras diferentes de deducao ou de indu. ~ao experimental. 0 objetivo, o coletivo, o tl.cnol6gico, 0 organizacional ... se submetem, hoje em dia, mais a esse cognilivo algaritmico ou procedural do que as abstra~oes dedaratiuas que, alimentadas pelas ciencias e pelas lerras, a filosofia ha mais de dois milenios consagra. Simplesmente analitica, a filosofia nao v~ esse cognitivo se instaurar e falha no que se ref ere ao pensamemo, nao s6 por seus meios, mas por seus objetos ou ate por seu tema. Falha com relacao ao nosso tempo.

MICHfl llllllS

Page 79: Polegarzinha

87

v 1 O J>cu.san1cuto algorumico, { I l 1\11\) ~ llU ' . . .

l ,11\11'''1 • ('iclid, du gcc)n1etr1a, recn1erg1u \ 11\\ IH,,,Hl, 11.l , .

"''' l\l\1 • 1, . rl c 1,('il>iti1., quc u1vcntclram duns l•'\\\\\p \ 1,.(lll\ ,l"l• . h

111 I [ ii c l'<.>tJl<> a I)olcgarz111 a, usararn \ \ \S d\. l ,I l ll • ,

,,,,\ll' u ' 1. 11 iid- .. t vcl mas discrcia, tal revolucao

h\nn1h> .. <H ' . , l" \I\ t .; , ,1 l.'cl>id .. t 1)clos fil6sofos, alimentados a base

,,,,\ll' \. 1 lid d , . \ lcu ,1s. ~:11trc a f orrna 1 a c geometnca - as l'\"\\\ "'~'-

\' • 1

t'C die.lac.le pessoal - as lctras -, acontc- • 'I \s (: • ,

\\ \ h ' . . - d h I { ·~d ' ,1quc1.1 cpoca, urna nova cogrucao OS o- l \, \. \. . , . d di .

• ,s , <Lts t:Ot~~\S, j~t pre vista 110 exerc1c10 a me ictria \\h \ . l . . . di

1 1· ·itl> ~uub{>S prcc.Jcupac os em reurur JUI"lS <;ao e

\''<-') ull , . . . u t \11l'i~L dc>c11Lc e docnca, universal e particular.

\\\\1:-i\H l • . ,. ,1. 'l l ali a nossa uovidade t' 1\\ ~ ' '

lvlil n1clotlos cficazcs utilizarn agora, e verdade pro- (. ,,dun .ntos ou algoriLn1.os. Herdeira dire ta do Crescente

1 ~rlil. ,u1tcrior ~\ Grccia, de Al Kwarism.i, sabio persa que t'$ •1 ,,.\a cin .irabe, de Leibniz e de Pascal, essa cultura, ,\ttt~lhncnlc invade o campo da abstracao e do concrete. lclr:.ts c cicuc:i~s perdem a velha batalha que eu antes tinh.t dito tcr comecado em Menon, dialogo de Platao em que o geometra Socrates mer1ospreza um reles es- cnvo qoc, em vez de dernonstrar, usa procedimenros. E es ·e servical anonimo que charno hoje Polegarzinho: de dcrrota Socrates! Reviravolta mais do que milenar na pre uncao de cornpetencial

I \ tN l \ I l'

\ ll , I N 11 A l'ltl I ,

Page 80: Polegarzinha

ELOGIO DO CODIGO

A ui rernos, justamente, um tcrrno (codex) que sempre c ~ ao direito e a J'urisp1-udencia, a medicina e 101 comum • t: ' ia Hoie no entanto a bioquimica, a reoria da a 1armac1 . 'J , '

inforrnacao, as novas recnologias se apoderam dele e, com isso, 0 generalizam para o saber e para a acao, em geral. Ourrora e recenrerneiue, o leigo nao eruendia abso- lutamente nada dos codigos juridicos nem dos medi- camentosos; aberra e Iechada, suas escritas entretanto expostas, eram legiveis apenas aos especialistas. Um co- digo era como uma moeda de duas faces, cara e coroa, conrraditorias: acessivel e secreto. De pouco tempo para ca, vivemos na civilizacao do acesso. 0 correspondente linguistico e cognitive dessa cultura e o c6digo, que a abre ou nao. Mas como, justamente, o c6digo institui um conjunto de correspondencias entre dois sistcmas a serem traduzidos um no outro, ele possui as duas faces de. que precisamos para a livre circula~iio dos lluxos, CUJa novidade acabo d d

e escrever. Basta codificar para guardar o anonim d . ato, ando livre acesso.

. 6 .: clnquelcs velhos procedimentos aeon- A nova vu r ia • . al ·orllmico e 0 procedural sc apoiarn em iecc porque o g

odi . VolLamos nos nornes. c 1gos ...

MICHEL SERRIS

Page 81: Polegarzinha

89

Os egipcios antigos, pelo que se diz, discinguiam o corpo humano da alma, como n6s, mas acrescentavarn a essa dualidade um duplo, Ka. ~ verdade que sabernos reproduzir o corpo, por fora, pela ciencia, por telas, por

ELOGIO DO PASSAPORTE

O c6digo, eruao, e o ser vivo singular. 0 cbdiJ.!i'' (:, corno O horncm. Qyem SOU CU, entfio, unico, i11divfcl110 e Lainb~1n gcnerico? Um algarismo i11d~j;11idv, r/('( i/1 rltJt•J, iiidrcj/i-riuel, aberio e Icchado, social e pudico, ~1ccsslvd· innccsslvcl, publico e privado, intimo e secrete, ~s vczcs dcsconhcci<lo de mim mesmo e, ao rncsrno tempo, cxi bido. Exisio, logo sou urn c6digo, calculavcl, incalcula- vel como a agulha de ouro no palhciro ondc, escondidu, ela dissimula seu brilho. Meu DNA, por excmplo, simul- canearoente aberto e fechado, cujo c6digo carnaJmcntc me conscruiu, intimo e publico como as OJ1!fi1.1cie1 de Santo Agostinho: quantos caracteres? A Jocund.a, quaruos pixels? 0 Requiem de Faure, quantos bits?

Medicina e direito ha muito tempo ja alimentavam essa ideia do homem como c6digo. 0 saber e as praiicas hoje a confirmam, com rnetodos que utilizarn procedimen- tos e algon.bnos. 0 c6digo faz com que nasca um novo ego. Pessoal, Intimo, secrete? Sim. Cenerico, publico, publi- cavel? Sim. Melhor ainda, as duas coisas: duple, como ja disse do pseudonirno.

1'0LlC.AR21 N HA

Page 82: Polegarzinha

90

•No original, flllte V'llak, canio &anc& do scguro de saude, quc ~ p\btic:o. (N.T.)

formulas, e descrever a alma Intirna, como Rousseau em Corfissoes (quantos caracteres)? Sera que posso, da mesrna maneira, reproduzir rneu duplo, acessivel e publicavel, assim como indefinido e secrete? Basta codi. fica-lo, Generalizando todos os dados possfveis, intimos

I

pessoais e sociais, como no cartao do piano de saude,-. por exemplo, inventernos um Ka, um passaporte uni- versal codi.ficado: aberto e fechado, duplamenre publico e secrero sem contradicao. 0 que pode ser menos estra- nho? Apesar de tentar pensar por conta pr6pria, falo em uma lingua comum.

Esse egv pode, de corpo e alma, suavemente se con- fessar, mas igualmente ser guardado, em plastico duro, no bolso. Sujeito, sim; objeto, sim; duplo, enrao, uma vez mais. Duplo como um paciente, singularmente doente, mas aberto ao olhar medico como uma paisa- gem. Duplo, competenre, incornpetente ... duplo coma um cidadao, publico e privado ...

MICHEL SERRES

Page 83: Polegarzinha

91

Em tempos inesquecl veis, alguns herois quiseram jun- tos construir urna torre alta. Vindos de terras dtspares, falando idiornas intraduziveis, nao conseguiram. Sern compreensao, nfio ha equipe posslvel e, sern coletivi- dade, nao ha ediflcio. A Torre de Babel mal saiu do chao. Milhares de anos se passararn.

Assim que, em Israel, na Babilonia ou para os lados da Alexandria, prof etas ou escribas puderam escrever, equipes se tornaram possiveis e a pirarnide se ergueu, assim como o templo e o zigurate. Foram concluidos. Milhares de anos se passaram.

Uma bela rnanha, em Paris, uma movimenta~ao hu- mana chamada Exposicao Universal gerou uma tenrari- va parecida. Em uma pagina, uma cabeca especializada desenhou um projeto e, tendo escolhido os materiais, calculou a resistencia e entrelacou vigas de aco a ate 300 metros de altura. Desde entao, a Torre Eiffel domina a margem esquerda do Sena.

Das pirarnides do Egito ate ela, as primeiras em pe- dra e a ultima em ferro, a configuracao global se mante- ve estavel. Estavel em seu estado, estavel como o Estado - as duas palavras sao uma s6. 0 equillbrio estatico se junta ao modelo do poder, invariavel atraves de dez ~Oes aparentes: religiosas, militares, cconamicas

I MAG EM DA SOCIEDADE DE HOJE

1'0Ll10AR.ZINHA

Page 84: Polegarzinha

financeiras, espccializ:1das ... , podcr sempre ma11ticJo por alguns, no aho, cstrcitamcntc unidos pclo di11hciro, pelas for~ armadas ou por ouiros aparclhos pr6prios para 0 dorninio de urna base ampla e baixa. Entre 0

monsrro de roe ha e o dinossauro de f crro, nenhuma mudan~ notavel, a mesma forrna se mostrando mais arejada, rransparente e elegance em Paris, cornpacra e atarracada no deserto. Em todo caso, poruiaguda no aJ10 e larga na base.

A decisao democrarica nada altera nesse esquerna. Sentados em clrculo no chao, esramos todos em pe de igualdade, diziam os gregos antigos. Capciosa, cssa mencira finge nao ver, na parte de baixo da pirarnide ou da Torre, o nucleo da assembleia, marcando no chao a projc~o do copo pirarnidal, o local em que aterrissa o cimo sublime. Centralismo dernocrarico, como dizia o partido comunista de ancigamente, retomando essa velha ilusao cenica, tendo, no centro, ali perto, Stalin e faruiticos que deportavam, torturavarn, matavam. A Calta de reaJ mudanea, prefcrimos - n6s da periferia - um poder distante, bem no alto do eixo, em vez desse virinho assustador. Os antepassados franceses fizeram a ~ oem tanto contra o rei, que era ate popular, - para suprimir o bario cruel das proximidades.

~ ... Eift'd: o mcsmo Eseado.

MICH LL SlltltES

Page 85: Polegarzinha

93

I Audlier, genial criador, e eu , con1o ... ~ ifjchC . . JS&\SlCntc iv, ccnder um Ieixc ou uma nrvore de 1 ' · rnos a t u1. crn

pi'OJe1a. 'Torre Eiffel, na margcm dirciLa do Sena l· te a · .1n frc!l 1 res dispcrsos por outros lugaics ou . 11puLt:1' o , . . . . nqu1,

cO' vai poder uni oduzii scu p"1ssaponc, scu Ka dn urn . di . d 1 · cl ' co • c)nima c in 1v1 ua rza a, sua idcnLtd ,.1 . .ern all . ~ ut c.o

1111ag de formn quc um raio laser brotc colori<l d lilicnda, . , o o

c ., ·oduzindo a soma murneravel dcsscs can<' . 1 ao 1ep1 ics,

c 1' '.. lo a in1agc.:n1 ctn Iluxo <la colct1vicladc assim

111050'111<. r · • I· 1) r co ll'l ' • . I en Le iot n1.1( a. o ' " propna, cada um ,,111uarn . . , de c11trar nessa avcntura vu tual e auu!ntic.a quc

h:i\'CI a . , . , . . ·. ern urna 1n1agem umca e n1ulttpla rodes os v:u unu, . . '

. 1. 'duos penencentcs ao coletivo dLSseminatlo corn Ill{ t\11 • •

qu::ilidades concreias e codificadas, Nesse Icone suas • aJio, Liio alro quanto a Torre, as caracLeristicas comuns se junwrao ern urna cspccie de tronco e as mais rams nos galhos, corn as excepcionais nas folhagens ou bro- ws. Mas como esse sornaiorio nao vai parar de rnudai, pois cada um com cada um e cada um depois de cada um diariamcnlc St transf orrnarn, a tirvore assim erguida estara sempre vibrando intcnsameme, aguada poi cha- mas dancamcs.

Dianie da Toi re imovcl, fc:1 rosa e o tcruando. orgu lhosameutc, o norne <le seu autor (e quc endo- e do milhares que a ergucrarn. tcudo alguns morrido na sun exccu~5oJ. diante <la Toi rt que cai rega. no alro, urn <lo

l'OL(CARZINHA

Page 86: Polegarzinha

94

Janeito de 2012

Encantada, mas critica, diz a Polegarzinha: J)Cnna.

necendo apenas em Paris, acho voces dois hem anti gos. Facam tambem arder essa arvore volaril as margcns do Reno, para que igualmente dancem cm imagem minhas amigas alernas; no alto do colo dell'Agncllo,para cantar com minhas colegas italianas; ao longo do bclo Damibio azul, nas margens do Baltico.; Verdadcs para ca do Mediterraneo, do Atlantico e dos Pircneus; verdades para la, na direcao dos turcos, dos ibCric.os, dos magrebinos, dos congoleses, dos brasileiros ...

chamas, novidade vivaz.

pir~dcs a Arvorc em

ernissores da voz do dorio, estara dancaudo - nova, va. riavel, m6vel, Hucuante, colorida, rnutizada, turbulcnta, marcherada, mosaica, musical, calcidosc6pica - unia torre vohrvel, feira de pequenas chamas de luz cromati- ca, represenrando 0 coletivo conecrado, ainda mrus rca) pelos dados de cada um, ela se apresenta virtual e p· ./

dfu- cipativa - decisiva, quando assim se quiser. VolatiJ vi

, JVa e suave, a sociedade de hoje mostra mil linguas de fogo ao monstro de ontem e de antigamente, duro, piratniclaJ e gelado. Morto.

Babel, estagio oral, sem torre. Das Eiffel, estagio escrito, Estado estavel.

M I C H C l. S r, R I~ E l>

Page 87: Polegarzinha

lrnpresso no Brasil pelo Sistema Cameron da Divisao Grafica da

DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVICOS DE IMPRENSA S.A. Rua Argentina 17' - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000

Page 88: Polegarzinha

vida social a

Page 89: Polegarzinha

assistira