poetas populares cbeja + separata albernoa - 2012 - 294p

Upload: jose-rabaca-gaspar

Post on 17-Jul-2015

270 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Poetas Populares do Concelho de Beja (1987 - 1989) - + Separata com Poetas de Albernoa inseridos num trabalho de Afonso de Barros, de 1986, sobre a Reforma Agrária... finalmente, a OBRA completa... com o LIVRO CIRCULAR dos POETAS Populares do Concelho de Beja com 294 páginas...

TRANSCRIPT

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

2

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

POETAS POPULARES CONCELHO DE BEJA

BEJA 1987 (1989)

3

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Titulo Poetas Populares do Concelho de Beja Coordenao, apoio e colaborao Concelhia DGAEE (Direco-Geral de Apoio e Exteno Educativa) ADPCRB (Associao para a Defesa do Patrimnio Cultural da Regio de Beja) Cmara Municipal de Beja / Diviso Scio-Cultural da Cmara Municipal de Beja Coordenao da recolha Ablio Teixeira, da Concelhia da DGAEE Arranjo grfico, paginao, trahalho em processador de texto e revises do original J. R. Gaspar, M. P. Salgado e F. Fanhais Introduo, seleco e intr. Anexos e Estudo final (Dcimas) Jos Rabaa Gaspar Processamento de texto e impresso do original Amstrad PCV82S6 JORAGA Penedo Gordo Beja Direitos de Autor Cmara Municipal de Beja e Coordenao Concelhia da D.G.A.E.E. Autor da Capa e arranio grfico Antonio Carrilho Tipoprafia Associao de Municpios do Distrito de Beja Editora Cmara Municipal de Beja

4

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

POETAS POPULARES CONCELHO DE BEJA

BEJA 1987 /1989CONCELHIA DGAEE (DIRECO-GERAL DE APOIO E EXTENSO EDUCATIVA) - REJA/1987

5

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

6

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo .......................................................................................... 7 FREGUESIA DE ALBERNOA ............................................................2I Lus Correia ...............................................................................23 Perptua das Dores Mateus .................................................................. 27 Isabel Guerreiro .....................................................................3I Bartolomeu Arsnio ............................................................................ 35 Ana Rita da Graa .....................................................................39 BEJA - SEDE DOCONCELHO (com 4 freguesias) ..................................... .....43 Maria Guiomar Rodeia Peneque............................................................. 45 Florival Peleja .................................................................................... 55 Carlota Ramos Caixinha ...........................................................61 Ana Maria das Neves .................................................................................................................. 71 Iolanda Guerreiro ............................................................................... 77 FREGUESIA DE BERINGEL ...........................................................81 Rosa Helena Moita Rodrigues .................................................83 FREGUESIA DA CABEA GORDA .............................................................. 91 Alfredo Sebastio Jos ....................................................................... 93 PENEDO GORDO (Freguesia de Santiago Maior- Beja) ............................... 111 Joaquim Silva ................................................................................. 111 FREGUESIA DE QUINTOS .................................................................... .117 Francisco Manuel Luis ...................................................................... 119 Jos Mestre .................................................................................... 123 FREGUESIA DE SANTA CLARA DE LOUREDO (BOAVISTA) .......................... 129 Maria Helena Severino ..................................................................... 131 Mrio da Conceio .......................................................................... 133 Jose Joaquim Incio ......................................................................... 139 Brbara dos Santos Madeira .............................................................. 145 Jos Jacinto .............................................................................. 151 FREGUESIA DE S. MATIAS .......................................................... .... 155 Joaquim Antnio Piriquito Junior. ............................................... ....... 157 Joaquim Antnio Ruaz ................................................................ 163 FREGUESIA DE SANTA VlTRIA ............................................................ .167 Francisco de Encarnao .................................................................. 167 CONCURSO 85 - OBRAS OBRIGADAS A UM MOTE "Que importa perder a vida ................................................173 Joo Batista Cavaco (Beringel) .......................................................... 175 Alfredo Sebastio Jos (Cabea Gorda) ............................................... 179 Jos Jacinto (Santa Clara de Louredo / Bosvista) ................................... 180 Maria Guiomar Rodeia Peneque (Beja. Freg. de Santiago Maior) .............. 181 Ana Rita da Graa (Albemoa) ............................................................. 182 ANEXOS - (Nota explicativa) ........... ........................................................183 Quadras do Cancioneiro PopularPortugus ............................................185 Poesia "0 PRETO", recolha de M. Joaquim Delgado ................................ 187 Lista de Poetas Populares de Albemoa, recolha de A. Barros .................... 188 BREVE ESTUDO SOBRE A ORIGINALIDADE E VALOR DAS DCIMAS ............. 189 ndice dos Poetas por ordem alfabtica ................................................... 195 NDICE GERAL DOS POETAS E POEMAS ................................................... 197

NDICE

7

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

8

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

INTRODUOJos Rabaa Gaspar

A poesia inspirada Tem atraente beleza; Inspiraes cativames Encerras tu, Natureza. Francisco da Encarnao Santa Vitria

Em tudo sinto poesia Desde o insecto planta... Tudo me diz sinfonia E tudo me prende e encanta. Manuel de Castro Cuba

Alguns POETAS POPULARES do CONCELHO DE BEJA procuram uma forma de se fazer OUVIR. Este LIVRO, portanto para OUVIR, caro leitor. No, no procure o disco no final, nem a cassete inccluda, porque no tem. isso mesmo. Isto um LIVRO que voc vai OUVIR se voc do Alemejo ou est no Alentejo e/ou capaz de se deixar penetrar pelo "halo mgico" que envolve o Alentejo e produziu e produz: estes CANTADORES do CANTE alentejano que cantam com o ventre como que sugando a vida do seio da terra, como o trigo e as flores; estes CONTADORES de HISTRIAS que captam da Terra e da Vida e do Espao a sua arte de encantar; e os DEZEDORES de quadras, de dcimas, de poesia, que como os outros cantarn e encantam porque as criam, encarnam e/ou DlZEM como artistas e, com os outros, so expresso da CULTURA POPULAR do ALENTEJO. Os poetas populares, como, alis, a cultura oral e tradicional, so como a terra, ou a gua, ou o sol... Ou se ignoram e desprezam, embora toda a gente saiba que existem e se conte com eles como indispensveis vida da comunidade; ou so objecto de investigao e anlise, at de estudiosos ou investigadores srios, mas que depois usam a sua arte, depois de convenientememe "expurgada"-"seleccionada", para promoo, exibio ou proveito pessoal. H tentativas no sentido de fazer mudar as coisas. Os artistas populares tomam conscincia do seu valor e querem ser reconhecidos e respeitados, ouvidos e vistos como tal; O Patrimnio cultural duma determinada Regio no tesouro perdido disposio de qualquer explorador com esprito patemalista ou intenes mais ao menos colonizadoras que do bolinhas de vidro e panos coloridos em troca do ouro e das fabulosas riquezas indgenas. Estes parecem-me ser os pontos base, para alicerar a introduoque me pediram. Tratase pois de uma introduo/prefcio para uma recolha de POET AS POPULARES do CONCELHO DE BEJA que foi e est a ser realizada por um grupo de professores encarregados-eempenhados na ALFABETlZAO, neste concelho, desde 1979. So analfabetos esles poetas? Pode ser analfabeto quem sabe, assim, ler a realidade e quem sabe usar com esta arte a linguagem que tm sua disposio? O que ser analfabeto? Mais grave. O que ento alfabetizar? Se for para matar essa cultura e essa arte, ento, podemos chamar-lhe - urn crime. Com esta inlroduo, a mim, compete-me abrir pistas ou sugerir linhas de leitura que possam ajudar os interessados a tomar parte nesta festa de poesia. No aceitei propriameme o papel de juiz. No tinha que ser rigoroso e exigente na seleco, armado de erudio e de saber dogmtico. um mundo especial esle o da poesia popular para nos atrevermos a ser juzes implacveis que decidem com segurana o que bom e o que no presta. Como diz a poeta Carlota Caixinha, de Beja: "Eu no quero ser poeta / No tenho tal pretenso. / Apenas quero exprimir / A minha imaginao". E, como diz Francisco da Encamao, de Santa Vitria, que anda agora pelos 65 anos, em poema desta antologia e o poeta Manuel de Castro da Cuba que morreu por volta de 1973 com uns 81 ou 82 anos, estes poetas populares, como, alis, os poetas, sentem, bebem, vem a poesia nas "inspiraes cativantes" que "encerras tu, Natureza", ou para melhor dizer: em tudo, "Desde o insecto planta / Tudo me diz sinfonia / E tudo me prende e encanta".

9

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012Introduo - Jos Rabaa Gaspar

este afinal, mais ou menos, o pensamento de todos eles. Cantam como as fontes; do cor como as flares do campo; fazem poesia para dizer o que vivem... para dizer que vivem. A CULTURA E 0 ANALFABETISMO Estamos na regio do pas com a mais elevada taxa de analfabetismo, e num pas em que o ndice de analfabetismo ronda ainda mmeros escandalosos, para um pass que, na era de quinhentos, foi "cabea da Europa" e que em finais do sculo XX se empenha para entrar na Comunidade Econmica Europeia! (Econmica?!) Que vai ser deste pas e desta regio, se no souber, se no puder afirmar os seus valores e a sua cultura? Que problemas e que esta pergunta levanta? O ndice de analfabetismo oficial , de facto, indicador da falta de Cultura? Indica, de facto, falta de capacidade para saber ler a realidade e intervir decisivameme no desenvolvimento? e de o fazer de um modo correcto sem agredir o mundo-universo que nos "foi dado de emprstimo" e vamos ter de iegar aos nossos filhos? E, no meio da complexidade deste problema, quem e que afinal tem autoridade e poder para dizer o qu? O que e o que no Cultura? O que tem e no tem valor? Normalmeme, como e verificvel pela Histria, a cultura dominante, so os que detm o poder e por conseguinte dominam a cconomia (ou vice-versa), que dominam por sua vez a Cultura. Mesmo em regimes democrticos, em que receberam o mandato de a pr ao servio da comunidade, so eles que tm os instrumentos de recolha, de seleco, de estudo e de divulgao. Os instrumentos e os meios... A CULTURA POPULAR / SUAS LEIS E MECANISMOS Ora apesar de tudo isto, a CULTURA POPULAR TRADICIONAL, existiu, sobreviveu, manteve-se e reproduziu-se pelas suas prprias leis at que o ritmo do progresso e a ruptura da cullura erudita a ameaou, como se pudesse prescindir dela, como se a Cullura pudesse sobreviver, se dividida! Aparece ento com os romnticos o grande grito de alerta para "salvar o grande livro nacional que o povo e as suas tradies" no dizer do genial Almeida Garrett, esse mesmo que dizia: "Romntico?! Deus me livre de o ser!" e nos legou o Romanceiro e aquela "ingnua menina dos rouxinis" incrustada nas "Viagens da minha Terra" que do Vale de Santarm e do pinhal da Azambuja espera a hora de tomar "outra vez o bordo de romeiro, e v peregrinando por esse Portugal fora, em busca de histrias para te contar.... No ser Garrett a continuar a Viagem. J o fizeram muitos e muitos outros esto a fazlo. Citamos Tefilo Braga e Jos Leite de Vasconcellos para citarmos s os que nos deixaram essa milagrosa panormica do grande Livro Nacional que est a ser organizada pelos seus continuadores e vo desde o Dr. Orlando Ribeiro, ao Dr. M. Viegas Guerreiro, ao Dr. A. Machado Guerreiro, aos Drs. AIda e Paulo Soromenho e Dr M. A. Zaluar Nunes. Quantos, na linha destes, esto a dar conta que nos est a faltar o ar e a gua, e a terra!? Muitos j deram conta, e h muito tempo, que o Desenvolvimemo no se pode fazer sem a Cultura e que o Desenvolvimento e a Cultura no podem continuar numa corrida desenfreada sem darem conta que nao se pode progredir perdendo as razes ou destruindo as fontes! O ALENTEJO E OS SEUS VALORES CULTURAIS Situando-nos aqui e agora, no Alentejo, em vez de palavras minhas, passo a citar Manuel Joaquim Delgado in "Subsdio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo" II vol. que na introduo p. 8 diz: " a nossa provncia uma das mais ricas e caractersticas por sua fonte inesgotvel de materiais folclricos". To rica que podem ainda ser observveis / audveis no seu ambiente.

10

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012Introduo - Jos Rabaa Gaspar

Sublinha depois, esse autor, como a poesia e o cante esto ligados vida "que no seno manifestao externa da prpria vida, forma de expresso dos sentimentos e pensamentos do povo que a cria, reflexos da alma que sente, pensa e quer". E no s a poesia e o cante que reflectem a alma deste povo. So os provrbios, anexins, contos, lendas, adivinhas, romances, oraes... a pronncia especial de certos vocbulos, as expresses prprias... os nomes locais, os nomes de famlia, as alcunhas perpetuadas j oficialmente em muitos apelidos de registo... que revelam as caraclersticas e as maneiras de ser de um povo e nos do as bases para sabermos como se situam na realidade, como pensam e a analisam e como podem caminhar para o dcsenvolvimento. Vale a pena citar ainda mais urn pargrafo de M. Joaquim Delgado que nos alerta para o "misterioso" processo que o registo das manifestaes da Cultura Popular-oral. O QUE SELECCIONADO, COMO E PORQU? " possvel, em dado momento, inquirir do ror de produes que o povo h criado. Criaes que sero recentes, umas; outras antigas, e que pela fora da tradio chegaram at nossos dias por via oral, transmitidas de pais para filhos, de avs a netos, de gerao em gerao no decurso dos tempos. Passado, porm, esse momento, surgem novas criaes, outras se perdem, (outras "esquecidas" se recuperam) tudo isto numa evoluo contnua, que no cessa, e de que no se pode precisar bem nem o comeo nem o fim. Eetee poder de criao contnuo, to ligado est vida que, integrando-se em si prprio, outra coisa no seno aquilo que Bergson chamaria com justificada razo "L'evolution cratrice". Parece-me que no demais citar M. Joaquim Delgado, quando se trata de uma colectnea de Poetas Populares do Concelho de Beja, pois, a meu ver, no Ihe tem sido dada a importncia a que tem jus. No possvel medir por enquanto, o valor da obra que tem levado a cabo, em recolhas, estudos, comentrios e notas que este amante das tradies do seu povo tem feito sobre esta regio. Ser fundamental recorrer a ele quando se quiser ter uma viso completa deste fenmeno da manuteno ou desaparecimento das manifestaes da Cultura Tradicional. Porque aparecem e desaparecem estas manifestaes? Quem as regista e porqu? Quais as consequncias destes registos e recolhas actuais? Ever como o poeta Joaquim Silva, do Penedo Gordo, em quatro dcimas, prefere dizer duas do conhecido poeta Manuel de Castro, da Cuba, que ele aprendeu de cor e reproduz com fidelidade espantosa como se estivssemos a ouvir o prprio autor! A que leis obedece este lipo de gravao, como o de Joaquim Cabaa, da Cuba que, em 80/81, 7 anos depois da morte do saudoso poeta da Cuba, diz as suas dcimas de cor como se o estivesse ainda a ouvir: "Em todo o momento a gente o gostava de ouvir, fosse de noite, fosse de dia, fosse na taberna, fosse na rua, a gente "entretia-se" com esse homem aqueles "cadinhos" que no dvamos por mal empregados". Foi atravs dele que nos chegou a dcima cujo mote escolhemos para abrir esta introduo. Urn pouco, como isto, aconlece com Alfredo Sebastio Jos, da Cabea Gorda, que, para alm de inmeros poemas seus, repele, inventa, reproduz outros do Cancioneiro Popular ou de outros poetas, sem que seja muito possvel discernir onde comea a originalidade ou a criatividade... e, sem nos podermos atrever a falar de plgio porque se trata de difundir e perpetuar a poesia popular que patrimnio comum e no costuma ter honras de publicao... Podemos dizer que se trata do fenmeno da interlextualidade e/ou da divulgao acessvel e possvel aos que no tm acesso aos meios de comunicao, cujos mecanismos no dominam. A ALFABETIZAO / INSTRUO ou A ALFABETlZAO / CONSCIENTlZAO J houve algum - um ilustre alfabetizado que tinha muito para dizer e para escrever que afirmou no se atrever a escrever e a publicar, enquanto a percentagem de anaJfabetos fosse to grande no seu pas. Para que publicar, se a grande maioria no o podia ler?!

11

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

Perante esta colectnea de Poetas Populares do Concelho de Beja, feita a partir de um aturado trabalho de alfabetizao, podemos talvez afirmar que estamos a tocar o cerne do problema. Nao se trata de dar voz a uns quantos Poetas Populares que, "coitadinhos" no tm acesso aos meios de difuso. Nao se trata de substituir o trabalho de abnegados carolas, aventureiros ou especialistas que esforadamente recolheram e publicaram Poetas Populares. Quem somos ns para criticar o seu meritrio trabalho? Trala-se da publicao de poemas de 24 poetas de 8/9 localidades / freguesias do Concelho de Beja: Albernoa, Beja (Santiago Maior e S. Joo Batista), Beringel, Cabea Gorda, (Penedo Gordo), Quintos, Santa Clara do Louredo, S. Matias, Santa Vitria. Alm das freguesias da cidade, Santa Maria da Feira e Salvador, faltam aqui ainda representantes de Baleizo, Mombeja, Neves, Salvada, S. Brissos, Trigaches e Trindade. Porque citamos os que fatam? Por causa do ttulo desta colectnea e porque os poetas ora publicados no se consideram nicos nem suficientes. Porque preciso e urgente que cada povo / regio tome conscincia dos seus valores culturais, as assuma e divulgue e, a partir da, crie incentivos para um progresso / desenvolvimento devidamenle enraizado. Estes poetas que constam desta publicao, situam-se entre os 48 e os 86 anos. Cantam-nos histrias que vm desde a prirneira Grande Guerra. A maioria so ja reformados, como que considerados j fora da vida activa e interventora, mas que so parte integranle e vlida da Comunidade como reservas da memria e da sabedoria acumuladas ao longo dos tempos. So uma amostra das Bibliotecas vivas que andam espalhadas no s pelo concelho de Beja, como por todo o Alentejo e pelo pas e pelo Mundo e imperioso que essas Bibliotecas no ardam devoradas par incndios que cada vero destriem milhares de hectares de florestaa, ou so destrudas par buldozeres que desastradamente pretendem abrir caminhos de inviesado progresso. ESTE LIVRO - UMA HOMENAGEM AOS POETAS QUE SOMOS Desde os primrdios da nossa lngua como nao que somos um pas de poetas que vo de reis a campaneses abrangendo todas as classes sociais e temos a rara felicidade de ver isto incarnado no rei-poeta-lavrador dos cantares de amigo e que sabia sermos melhores que os poetas provenais. Perante esta mostra de 24 poetas com uma centena de poemas, em que predominam as dcimas (52 dcimas em 107 - vide estudo final) considerada a arte maior, pelo menos para os poetas populares situados mais ao Sul do pas, no sei, sinceramente, o que mais devo salientar. Primeiro evidentemenle, a arte espontaneameme encantatria a atingir muitas vezes o gnio/ingnuo da performance que muilos apelidaro de palavrrio sem sentido, de gente do povo que se atreve a artes que no domina, e que muitas vezes tem de interromper o discurso e meter uma qualquer palavra s porque rima para obedecer mais cada do que ao consoante. ver quantas insinuaes esto, por vezes, escondidas nessa aparente falta de destreza, onde afinal a vida se cruza na sua inextrincvel e indizvel complexidade. E que dizer da arte do povo que sabe como ningum dizer o que Ihe convm e sabe o que os outros gostam/querem ouvir, sobretudo quando se sentem deles dependentes! E so eles, na sua grande maioria, considerados anaIfabetoos! Permito-me citar aqui a ttulo de exemplo "o gravador" de Lus Correia, de Albernoa "onde eu gravo as propagandas / sejam feitas por quem for.... e a liberdade potica de Ana Maria Neves, de Beja, que no obedece a estruturas formais, com mtricas caticas e rimas espordicas, mas que, por exemplo em "O Jardim de Beja" desenha magistravelmente a variedade de canteiros, de flores... com arte semelhante do jardineiro que sabe que a beleza no pode ficar encerrada oa monotonia de formas esteriotipadas...

12

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

Podamos citar exemplos de todos, como por exemplo, Guiomar Peneque, de Beja, que vai desde a histria da sua vida e da sua poesia, sua viuvez e profisso, at passar pela cidade e pelas festas populares e chegar emigrao e reforma agrria num mpeto desesperadamente pico. Nem sequer nos atrevemos a excluir (no somos os donos dos poetas) o nico pequeno poema de Maria Helena Severino, da Boavista "Eu quero quando morrer" em que se despede da vida, no temendo a morte "pois s morrendo se pode / viver o eterno sonho". E isto aos 22 anos!... Tern-me impressionado sempre a segura autoridade dos mestres que trn feito recolhas e afirmam ter excludo poemas, por falta de qualidade, ou por serem demasiado autobiogrficos! Juzo de quem? Cedencias a quem? alias esse o segredo de todos. Cantando a sua autobiografia, a sua vida, sabem que cantam a vida dos que os ouvem. a arte do imortal autor / artista / actor de "o poeta e um fingidor" - finge dor - que leva os leitores / ouvintes / espectadores a ler "no as duas que ele teve / mas s a que eles no tm"... a poesia que "Assim, nas calhas da roda/gira a entreter a razo... Se homenagear estes poetas importante, conhec-Ios e d-Ios a conhecer com certeza obra meritria, um servio prestado Comunidade. Esta introduo tem de sublinhar, por isso, o trabalho desinteressado dos professores / animadores empenhados na alfabetizao que, ao descobrirem o Tesouro de Poesia, leitura, escrita, anlise da sociedade e da vida que anda na boca do povo-poeta, no tem descansado at o dar a conhecer. Fica por isso, aqui, em segundo lugar, a homenagem a estes POETAS, em que a cultura dita erudita no matou a capacidade de ver, de olhos e ouvidos bem abertos, esse manancial de clareza, pureza, verdade e revolta com que os olhos desses poetas populares olham o mundo e a realidade que os rodeia, e o modo como exercem esta arte cada vez mais difcil de comunicar, encantando. Neste grupo de POETAS, alm dos j citados, cabe evidentemente voc, caro leitor, que, mesmo que viva na cidade e absorvido pela engrenagem trepidante da vida, ainda sente, de vez em quando, ao menos em frias, o desejo irreprimvel de regressar um pouco sua terra e s suas razes, para que, ao regressar, Iimpo e desintoxicado, a vida tenha outro sabor e outro sentido. Aqui fica, por tudo isto, a minha homenagem a TODOS OS POETAS que podem fazer esta terra mais humana e, de mos dadas, construir o progrcsso urgente e gratificante sem ter de eliminar minorias e destruir os poetas. A HISTRIA DESTA COLECTNEA Como foram recolhidos e escritos estes poemas uma histria que compete aos professores que nela estiveram empenhados com a coordenao do professor Ablio Teixeira. uma histria bem simples e normal - dizem eles. Ser importante cont-Ia porque a sua normal simplicidade talvez contenha o segredo que nos d a conhecer a fronteira entre o paternalismo do instrudo que d uma ajuda qual os analfabetos ficam veneradamente gratos e obrigados e o gesto libertador do animador que, comprometendo-se, "ensina a pescar" mesmo que tenha dado o peixe pescado, uma vez. a diferena / tnue / infinita, entre o ensino instruo instrumentalizao domesticao, que cria dependncias e a educao - tomada de conscincia - Ieitura crtica da realidade que, dando origem expresso-palavra, vai levar o seu autor/poeta a agir e intervir na sociedade e no seu meio, transformando-o e, por vezes, subvenendo-o. A mim, que no estive directamente empenhado neste trabalho e sou oriundo doutras serras e doutros montes, mas como professor de portugus aqui no Alentejo, cumpre-me to s sentir o peso e tentar medir o valor e a dimenso deste trabalho a que muitos outros tero de se seguir, neste e noutros campos da Literatura Oral Tradicional. Cumpre-me dar conta da vacuidade e hipocrisia do ensino da Lngua Materna armado de Gramticas e Literaturas, sem ter em conta, como base fundamental, indiscutivel, as bases e

13

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

os fundamentos da Lngua Materna profundamente enraizados porque bebidoscom o leite materno. Durante quanto tempo ainda ser possvel ouvir, no ensino oficial, alunos responderem, quando se lhes pergunta pelas modas, pelo cante, pelas dcimas, contos e lendas traclicionais... "Ah isso so coisas de analfabetos incultos que no tm nada a ver com a Escola"! Permito-me lembrar aqui a histria / smbolo / figura que tem servido como base de discusso em vrios encontros com professores com a misso de "ensinar" a Lngua Materna e at serve para "chumbar" e marginalizar. Do-nos uma flor, uma roseira; confiam-nos uma pequena rvore silvestre para que a tornemos mais bela e produtiva. Que fazemos? Que temos feito? Que tem feito a Escola, o Ensino Orieial? Corta-a. Desenraiza-a. Metemo-la talvez num belo vaso... "Isso no se diz! Isso no vale nada! Vocs so uns burros! Aqui s se fala mal!"... e depois... tentamos colar belos ramos preciosos da nossa mais hela literatura em hastes desenraizadas e mortas! Resultado? Embutidos preciosos numa estrutra que j no existe. s vezes prolas autnticas em armaes de plstico ou de barro mal amassado que se esboroa. No simples o problema. No basta armarmo-nos em cultores ou defensores do popular, como se a estivesse a soluo mgica dos problemas. No h solues mgicas, sobretudo nesta poca em que os desafios do desenvolvimento so urgentes e as sedues de facilidades so tremedamente ilusrias e enganadoras. Mais complexo ainda o problema, quando cada um, na sua especialidade, se d conta dos limites e incapacidade de, sozinho, encontrar solues vlidas e eficazes. At para a Teoria Literria, dizem os entendidos, preciso recorrer a especialidades que vo da epistemologia, filosofia e psicologia e s cincias sociais, para eitar s os principais campos de inter-relao. por isso que a hislria desla recolha, no um princpio, porque muitos desde a Tradio ao Arquivo de Beja ja desbravaram muito terreno, mas no pode ser urn fim porque h um imenso trabalho a realizar e podia tomar forma no que chammos o INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLYIMENTO (IACD) e no pode nascer por decreto dos deuses, sob pena de ser mais um agente de colonizao ou decorao do que de valorizao e afirmao dos nossos valores culturais. Em que consistiria afinal um IACD? Encontrar, organizar e coordenar um grupo que abranja as vrias especialidades do saber humano que, num trabalho cclico, coordenado com associaes, escolas, animadores locais, organize por sua vez um trabalho sistemtico, cientificamente seguro, de recolha, estudo, divulgao, recolha, estudo... para que atravs dos elementos coligidos se possam ler correctamente as caractersticas reais duma regio e de um povo e, a apartir da, se abram caminhos para um acertado e global descnvolvimento sem ter de parar a vida que no pra, mas devidamente enquadrado ao ritmo do progresso que a Humanidade de Hoje precisa. Material de estudo para ponto de partida? S o lavantamento do que h publicado desde a Tradio, de Serpa, ao Arquivo de Beja com os legados de Abel Viana e das recolhas e estudos de M. Joaquim Delgado, ao Cancioneiro Alentejano de Vtor Santos e diversas Monografias como a de V. V. Ficalho, de Francisco M. Machado que guarda nos seus arquivos ainda rnuitas preciosidades, e a "Literatura Popular do Distrito de Beja" da DGEA, como tantos e tantos... outros. 0 material de base para o arranque espera s por uma correcta metodologia... urgente este trabalho no Alentejo para no se correr o risco de um genocdio cultural. Para no ser preciso fazer cedncias humilhantes a povos e culturas ditas mais dcsenvolvidas. Sem ter de obrigar "povos" e "regies" ditas "em desenvolvimento" (quais que no esto?) a perder a sua identidade. O importante, como j disse, que as populaes tomem conscincia dos seus valores e da sua cullura, at dos seus defeitos; se exprimam e progridam, reforando e valorizando a sua identidade. Da variedade polcroma de cada regio e de cada povo, A CULTURA UNIVERSAL, em vez de um padro nico, homogeneizante, montono, aparecer, nesta Era do Espao, como um mosaico de espantosa beleza. Compete Comunidade defender estes valores. preciso que haja pessoas que o faam.

14

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

H trabalhos de tal envergadura que no basta boa vontade ou mesmo s a vontade para os fazer. No podemos viver eternamente dependentes, espera de milagres como os do Prof. J. Leite de Vasconcellos, Giacometti, ou entre ns, como os do Prof. Abel Viana, M. J. Delgado, etc. Cabe s Autarquias, Escolas, e Autoridades por imposio e misso; e s Associaes, Grupos Corais e outros por vocao, uma responsabilidade inalienvel. JUZO DE VALOR SOBRE ESTA COLECTANEA? ALGUMAS CARACTERSTICAS GERAIS E TEMAS PRINCIPAlS Tentar urn juzo de valor sobre esta colectnea arriscado, embora, como evidente no tenha feito outra coisa. arriscado porque, quer se queira quer no, est-se constantemente a jogar com uma ambgua escala de valores, como gostos e sensibilidades diferentes... com o popular e o erudito como se fossem opostos... com o peso maior da oralidade que uma publicao partida no contempla e por isso se apela para a criatividade e imaginao do leitor/ouvinte... Tentarei deixar aqui no final urn resumo das caractersticas gerais e uma espcie de ndice dos principais temas e deixar o juzo de valor a cada um. Tada a colectnea foi gravada em diskette num processador de textos para arquivo, possveis emendas que os autores reclamem, para futuros estudos que se julguem oportunos... ou modificao de paginao ou outros trabalhos que a leitura em visor permite e as possibilidades da mquina facilita. DADOS GERAIS 1. A colectnea est servida com trs ndices: Freguesias e poetas, p. 5; poetas por ordem alfabtica, p. 195; ndice geral com todos os poemas, p. 197. As freguesias do concelho que no esto representadas esto indicadas atrs, p. 11. 2. Esto aqui poemas de 24 Poetas, sendo 14 Homens e 10 Mulheres. A diferena no significativa e no de arriscar comparaes sendo ntido que os despiques e rambias so mais dos homens e o encanto perante a Natureza e o sofrimento tem nas mulheres mais sensibilidade, embora no exclusiva. 3. Os poetas tm idades compreendidas entre os 48 e 86 anos. Na sua maioria so reformados, alguns a viver em lares da 3 ldade. Do significado disto e da importncia das "velhas amas", dos avs, dos velhos contadores de histrias, que so referidas por grande nmero de grandes escritores como tendo exercido influncia decisiva na sua arte podemos avaliar o poder e importncia destes "avs" na formao da Lngua dos "netos". CARACTERISTICAS GERAIS DOS POEMAS Total de poemas podemos considerar: 107, embora alguns sejam por exemplo quadras soltaS, ou conjuntos de estrofes no subordinados ao mesmo tema. I - ESTRUTURA FORMAL Desses 107 poemas: - 52 DCIMAS (Mote + 4 dcimas - versos de 40/44 pontos; Ver Estudo final). - 34 poemas de QUADRAS (uns constitudos por quadras soltas: 20/25 sendo a maioria do Canc. Popular; e outras subordinadas a um tema que variam entre 3/4 e 10/11 quadras). - 4 poemas so de QUINTILHAS (dois so de 8 quintilhas; "0 Preto em regalia" tem 5 quintilhas e 4 quadras (?); e um de 4 quintilhas;

15

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

- 3 poemas so de SEXTINAS (SEXTILHAS) (poemas com 6, 6, 7 estrofes, todas de Rosa Helena de Beringel); - 2 poemas so em OITAVADAS (OITAVAS) (um de 3 outro de 2 oitavas); - 12 so poemas de construo estrfica irregular, com estrofes que vo dos dsticos, tercetos, quintilhas, sextinas, oitavas, dcimas, aparecendo mesmo urn monstico, e stimas e nonas e, estncias que chegarn a 14 versos. Ver especialmente os poemas de Ana Maria Neves de Beja que, em todos os poemas usa o mais variado leque de estrofes com mtrica e rima irregulares, liberdade potica pouco comum em poelas populares. 2 - ASPECTOS FNICOS (mtrica e rima) MTRICA - A grande maioria dos versos das Quadras como das Dcimas, so, como TRADICIONAL, "O portuguesssimo verso de sete slabas" a redondilha maior. E uma caracterstica digna de nota a ter em conta como fenmeno lingustico, a "forte maneira como se encontra arreigada a REDONDILHA MAIOR na expresso popular" que alm da poesia usada quase na maneira comum de falar, verificvel em muitos provrbios, expresses e at anncios e reclames. Citando Afonso Lopes Vieira, isto j sublinhado pela Dr M. A. Zaluar Nunes nas notas ao Cancioneiro Popular em Portugal. Acontece que em muitas quadras, e sobreludo nas dcimas, aparecem versos hiprmetros (com slabas a mais) e alguns, menos, com falha de slabas. Este fenmeno de somenos importncia para os poetas populares, que suprem esta falha na musicalidade, com elipses ou prolongamento da entoao medida que as vo declamando. Os que no obedecem a esta regra geral so dois poemas de Florival Peleja que utiliza quadras com versos de dez slabas e outro poema com versos que vo de 9 a 13 slabas, como acontece com Alfredo Sebastio Jos em "O Antnio que marchara para a Guerra". O que acontece nas quadras e dcimas acontece nas quintilhas e sextinas. Das sextilhas, s "O vagabundo" de Rosa Helena, de Beringel de Redondilha Menor (cinco slabas). As oitavas de Maria Guiomar Peneque em "Lusadas do Alentejo" tentam evidentemente a cadncia dos versos hericos de dez slabas, com o acento rtmico na 6 e 10, mas vai frequentemente, como e natural, at s doze slaabas. A RIMA - Como diz o Prof. Joo Correia "a rima domina o poeta, o popular como o culto, obrigando-o a criar palavras, a adulterar construes, a torcer sentidos". A rima mais frequente das QUADRAS a popular cruzada no 2 e 4 versos, com o 1 e 3 beancos: ABCB. S cinco poetas conseguem a chamada QUADRA QUADRADA de rima ABAB em diversos poemas, e mesmo nos MOTES das dcimas, s as do Aleixo e Manuel de Castro so Quadras de rima ABAB. Nas QUINTILHAS, a rima normal e ABAAB, mas notam-se falhas. S no poema dedicado a Beringel que Rosa Helena consegue a rima perfeita desde o princpio ao fim. Nas trs SEXTILHAS, que so tambm de Rosa Helena, ela consegue o jogo mais melodioso que consisle em ABBAAB. Nas OITAVAS, poucas e dispersas, no vale a pena assinalar as irregularidades. Nenhuma segue a escolha de Cames dos seis primeiros versos cruzados com as dois ltimos emparelhados: ABABABCC. As DCIMAS, como consta do Estudo final, seguem a regra geral: ABBAACCDDC, havendo s a assinalar o caso de Ana Rita da Graa, de Albernoa que nas suas duas Dcimas, usa o esquema rimtico ABABBCCDDC. As consideraes que se poderiam fazer a partir destes dados sobre a estrutura formal e fnica, s teriarn significado a respeilo de cada poema. Duma maneira geral, verifica-se que os poetas populares se exprimem preponderantemente atravs de quadras e dcimas e com versos de Redondilha Maior, com a cadncia mais ao gosto da musicalidade da nossa lngua. Apesar de tudo, apesar do perigo da monotonia que se pode tomar cansativa, h uma razovel variedade. Podemos recorrer afinal imagem sugestiva da plancie alentejana: uns raros campos ou tufos de papoilas, azedas ou margaridas, a pincelar os extensos e ondulantes campos de imensas searas.

16

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Os TEMAS / algumas expresses e smbolos

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

Tentar abordar os temas desta centena de poemas e um atrevimento, pois precisaria de outro lempo e outro espao. Fica entretanlo um esboo dum futuro trabalho correndo o risco de no citar os poetas todos o que poder parecer menos correcto. Apresento desde j as desculpas antecipadas preferindo pr em relevo algumas expresses e smbolos que deixam adivinhar a frescura com que estes poetas abordam temas como: a ALFABETIZAO, a CRTICA SOCIAL, a EMIGRAO, a GUERRA e a PAZ, a HISTRIA DE PORTUGAL, a NATUREZA, o RELATO DE CASOS INSLITOS e os TOPONMICOS, os que so EXPRESSO DE SENTIMENTOS LRICOS, os AUTOBIOGRFICOS, a prpria POESIA... POESIA o que ? Donde, e como vem a inspirao e para que serve? "Um poema inopinado / Encerras tu Natureza". "Os meus versos a ningum / Conseguiram convencer / S eu que sinto bem / O que bem no sei dizer". Nos AUTOBIOGRFICOS cada poeta sabe que conta: "a vida do povo cantada pelo povo", como diz Alves Redol. "Descubro a qualquer pessoa": o nome, as agruras da vida, as rambias pelas feiras e balhos, e a vida dos pobres... "Manifesto a toda a gente / ... Porque eu sempre fui roubado / Pelo fascismo avarento / Desde o meu procedimento / At data presente". "... como era... como sou... como estava... como estou". A ALFABETlZAO pode resumir-se em expresses como "Eu mal aprendi a ler... / Ao meu pai ouvi dizer / Tens qu'ir ganhar p'ra comer... / Fui umas cabras guardar... Mas para quem " pobre e no sabe ler", aprender um ARCHOTE, "j no sou um moribundo"... " sair da obscuridade... / Transformar a noite em dia /... No sou pedra que rebola"... "No tem limite de idade / Para se valorizar /"... "Eu sou um analfabeto... / Nao sou esperto nem bruto... A CRTICA SOCIAL que aparece nos autobiogrficos e nos anteriores, aparece tambm a retratar em trs, quatro pinceladas: "No tempo de Zalasar/ Nesse tempo at os mortos / Era quem ia votar / Ningum podia piar / Reinava este organismo.../ Punha a guarda perseguindo / Os que pediam esmola... / Alguns que tinham mais vista / A pide no os deixava / O patro t lhe chamava /Refilo e comunista / Muitas vezes terrorista... Mas como era dantes, agora: "H muito dinheiro mal gasto / Em apitos e flautas / Levam ouro e trazem latas... / Todos anos um padrasto / E todos se querem encher..." ou ento "H quem queira ser senhor / Da luz divina do sol..." mas para isso o poeta diz: ".. .J eu tenho um gravador / Onde eu gravo as propagandas / Sejam feitas por quem for". E no se critica s o governo, mas tambm "A voz do sino indolente... / Repicadas vibraes / S trazem desiluses / Ao triste povo indigente... Teu hino celeslial / Aviva-lhes dor aguda / Para eles to absurda... Vem tambm a stira m-lingua e s faladeiras "Eu sou Perptua de nome / E perptua no falar..." ...e as que se dedicam m-lingua: "Parecem umas telefonias /, ...Qualquer daquelas senhoras / Parecem umas emissoras / ...So das tais estrelas de rabo / Que do cu chegam ao cho... Todas so abelhas mestras / Para mandar no exame... "; e a denncia dos abusos dos senhores que abusaram das criadas e enjeitaram os filhos: "Sou bisneta dum Visconde / ...Enjeitaram o menino / Sendo pessoa nobre / Como se fosse dum pobre."; e o retrato do "homem carrasco" e do "homem fera"; e o retrato cheio de fora, ternura, revolta, dio (?) da "Mulher multi facetada / Mae, madrasta / amante e ama / Esfrego panela cama..." E a Reforma Agrria pode ser retratada em 4 versos: Antes eram "Cardos, coutadas, aramados, ortiges" mas "A gente transtagana num lampejo / De liberdade e justia, torce a fome / E lana terra que o suor ganhou... " E pode retratar assim a opresso dum povo: "A dor, o pranto, a opresso e a mgoa / Sentidas na carne criada a pao e gua / Cheirando a alhos coentros e poejos / Da aorda toda a vida repisados..."; e podemos ver ainda pessoas que passam... "pisando a fome no cho". A EMIGRAO - "Abalei como emigrante /...Vejam o que um homem pena / Para a vida melhorar..."; um outro glosa a conheeido fado de frei Hermano da Ciimara; mas convm ver a mestria com que outro poema relata: "... parti... chorei... TRISTEZA.. SAUDADE... TORMENTO... AMBIO... ILUSO... NOSTALGIA... SAUDADE... regressei ... de alegria chorei..." em sete sextilhas.

17

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

A GUERRA E A PAZ - "P'ra que existe tanta guerra? //...Deve-se louca ambio / ...Em vez de distribuir po / Semeia apenas rancor..." "Maldita seja a guerra / Maldita, cheia de horrores / ...Lgrimas, tormentos e dores / ...Perdio de muita gente" ... ou ento o comovente caso do "Antnio que marchara para a guerra / ...Levava o seu pombimho de correio / Para saber notcias de Leanora... "; ou o caso "Estando um preto em regalia / Num pas altivo e forte... ou o retrato de "0 exrcito dos 'tados unidos /Chegou todo em avies... e "A bordo dum submarino alemo / Estava o maior obuz do mundo/ ...Fazia tremer o cho so as imagens da Grande Guerra que ficaram no nosso imaginrio. A HISTRIA DE PORTUGAL serve aqui para trs ou quatro poetas falarem por exemplo dos Reis e dos cognomes dos Reis de Portugal, das Grandes Figuras, da Ptria, dos Descobrimentos e do 25 de Abril. "Houve ilustres portugueses / Que se notabilizaram / ...O primeiro rei de Portugal / Chamou-se "conquistador"... ou aparecem-nos avisos de uma Sibila: "Nesta terra Lusitana /Eu vejo dos altos montes..."e anuncia desconexas profecias. "Pelos mares flutuou / A bandeira portuguesa..."; e vem "O vinte e cinco de Abril / Desvendando sonhos mil.." que pela voz de outro poeta da Liberdade "Como uma flor do Prado / Que d cheiro a toda a geme..." A NATUREZA - "Inspiraes cativantes / Encerras tu, Natureza / ...Um poema inopinado" ...e ento os poetas cantam o Alentejo: "s obra da natureza / Que no se pode igualar / ...As searas a bailar / ...So como o mar baloiando..."; depois interpelam o MAR: "sedutor... inconstante... Bero gigante... assobiando... ceifando vidas... Espelho de magia..." "A onda conta segredos /Se a tentamos apanhar / Esvai-se por entre os dedos... "e nas mars "Vai outras praias beijar..." ou "Fui-me um dia a ver o mar / ...Das ondas sempre a bater/ Em contnuo, sem cessar / Eu tenho ouvido contar.../ E h quem diga que no se pode pintar o vento mas o poeta diz: "Pus-me a espreitar o vento /Seus mistrios desvendando..." e d-nos todo urn poem a de dana e movimento para nos mostrar que "Os ramos se iam beijando / Como pares de namorados...", tudo por artes do vento. Das Estaes do Ano, estes poetas falam-nos d"o Outono e muito triste... / rvores despidas / Folhas que morrem..." e " to linda a Primavera / ...cor... flor... espigas douradas... O campo s tem beleza / Para quem o sabe ver... e um paeta de etrofes e versos irregulares, enche-nos a Primavera de flores, de aves, e jovens a falar de amores... com cor, som, amor... vida; e canta-nos a variedade dos canteiros e dos cantos do jardim de Beja com a variedade das estncias e da mtrica; aparecem-nos ainda "As papoilas encarnadas / A brilhar entre os trigais..." e o Sol nascente que "D vida, cor, calor" e o poente "Faz nuvem de toda a cor...; e so cantadas as "Andorinhas negras", a Seca dos ltimos anos em que "A gua o sangue da terra..." e "As plantas sem alegria...", e se cantam ainda "O pastor", "O campo", "a enxada"... Os RELATOS DE CASOS INSLITOS, que apareciam em folhas volantes pelas feiras, os desafios e inlerpelaes para DESPIQUES OU DESGARRADAS, tm aqui alguns exemplos e vale a pena salientar os que o poeta chama de QUADRAS DE UM S P, em que, com duplo jogo de Dcimas ele se despede dos filhos e os filhos dele; noutro, o antigo namorado desinquieta a rapariga casada e a rapariga responde... numa aproximao de teatro em verso. Poemas que exprimem SENTIMENTOS so todos ou no fosse poesia lrica. Numa rpida leitura, talvez seja importante ver como so manifestados: A DESGRAA, A SOLIDO, A AMARGURA, A PERDIO, por exemplo, num fato roto; o imaginrio das crendices populares trazendo-nos o diabo bbado a fugir de medo, o ttrico espanto do terror que pe uma caveira a falar no cemitrio onde tambm aparece urn esquelrio que toma o ttrico, quase cmico no fosse a carga de ultrarromantismo...; o espanto perante os paradoxos da vida; mas tambm o fatalismo e o conforrnismo; o amor, a admirao, a comtemplao perante "As mais belas coisas do Mundo / Msica, Luar, Mulheres e rosas..."; a solido, amargura, trissteza, esquecimento, ingratidao... sinais de morte perante a velhice; mas tambm "No tenho medo da morte / Nem ela de mim suponho..."; 0 sonho; a saudade e a ansiedade pelo regresso; a ternura pelos filhos e pela beleza; ...a raiva, a revolla at o dio de morte frente s injustias acumuladas; e at a ingenuidade atrevida, aliradia, do velho poeta perante a graa simptica da enfermeira jovem; enfim... urn vasto mar de sentimentos como as searas do Alentejo.

18

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Introduo - Jos Rabaa Gaspar

TOPONMICOS - Os poemas que falam das tenas, ruas e lugares, so evidentemente relratos do Alentejo, de Portugal, de Festas... Vale a pena assinalar talvez algumas imagens /signos do Alentejo: "O pastor, O rebanho e o co" ... " meu povo campons / Levas a vida cansada / Agarrado a um arado / Ou ao cabo de uma enxada"... "Fui nova cortante enxada"... "O frio... O Calor"... a j citada "Carne criada a po e gua / Cheirando a alhos coentros e poejos / Da aorda toda a vida repisada..." ..."O teu cante compassado"... "As tuas casas caiadas / Parecem pombas pousadas / beirinha da estrada /..." ... "O castelo de sonho / Em sonhos lembrado... e ainda as festas como o "O Mastro de S. Joo, onde aparecem barrtes, mentrastos perfumados, cana verde e faia, ginjas, seromenhos e popias caiadas..." Desejaria saber pintar, para tentar apanhar a alma deste povo. Como no sei, tento, maneira dos poetas populares, em duas quadras com leixa-pren (a deixa), dizer o resto que no consegui: A poesia popular Se canta a alma durn Povo; Quem 'na souber encarnar Vai criando um Mundo Novo. Vai criando um Mundo Novo Par'integrar no Universo A Regio, este Povo Que vive p'r'Aquem do Tejo. Penedo Gordo BEJA 1987 Maio/Junho Jos Rabaa Gaspar

19

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

20

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

ALBERNOAALBERNOA

LUS CORREIA PERPTUA DAS DORES MATEUS ISABEL GUERREIRO BARTOLOMEU ARSNIO ANA RITA DA GRAA

21

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

22

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Lus Correia - ALBERNOA

Nome - Lus Correia Morada - Albernoa Idade - 76 anos em 1987 (nasceu em 1911) Habilitaes - Aprendeu a ler e a escrever com urn colega de trabalho. L bastante bem. Profisso - Trabalhador Rural

23

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Lus Correia - ALBERNOA

Mote Descubro qualquer pessoa Sem responsabilidade Onde foi meu nascimento E a minha natumlidade. Dcimas Sou natural de Mombeja Beja seu concelho e distrito Ser feio, ser bonito? A mim no me mete inveja Se a sorte que nos proteja Pode haver outra mais boa Na aldeia de Albernoa E a minha residncia Com a pouca inteligencia Descubro a qualquer pcssoa. H mais de quarenta anos Mudei de freguesia Onde estava no podia Descobrir certos planos Que ainda hoje no so enganos Porque h muita falsidade Ese no h mentalidade No se chega perfeio Digam se assim ou no Sem responsabilidade. Eu poderei ser atrasado Em muitas sou concerteza Mas no conto por flneza Haver quem tenha avanado Porque eu sempre fui roubado Pelo fascismo avarento Desde o seu procedimento At data presente Manifesto a toda a gente Onde foi meu nascimento. Amigos e camaradas Operrios, camponeses Nunca esqueam as vezes Dos seres e madrugadas Com alfaias preparadas s ordens da autoridade Mesmo sem haver vontade Antes de romper aurora Tambm no fica de fora A minha naturalidade.

24

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Lus Correia - ALBERNOA

Mote Na minha fraca memria J eu tenho um gravador Onde eu gravo as propagandas Sejam feitas por quem for. Dcimas A primeira a ser gravada Foi a do ehefe de Estado Fez urn pas libertado Com um pouco mais que nada A guerra foi terminada Isto j est na histria uma nao de glria O povo foi p'ro comando Eu estou ouvindo e gravando Na minha fraca memria. Segundo as gravaturas Ouve-se constantemente Mas cada vez mais diferente E aparecem mais torturas H muita falta figura Frente no interior H quem queira ser senhor Da luz divina do sol Para gravar o control J eu tenho urn gravador. Alerta foras armadas Eu alerta tambm estou Se eu poder tambm l vou Prestar a minha brigada Com ordem hem terminada Vencendo vrias demandas Vigilando altas brandas Igualmente outros lacais So pontos dos principais Onde eu gravo as propagandas. Quem entrou para o comando Taambm mostra a ser perfeito Estado, manda com jeito Que o povo vai ajudando Todos nos auxiliando Torna-se urn pas de amor Mas para mim s tem valor Palavras lindas e discretas Umas leis justas e rectas Sejam feitas por quem for.

25

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Lus Correia - ALBERNOA

Dcimas dedicadas ao 25 de Abril de 1974 Mote A 25 do 4 C no nosso continente Foi uma flor disposta Que deu cheiro a toda a gente.Dcimas J antes esta flor No pas era habitada Mas para no ser cultivada No mostrava a sua cor Bendita a hora ao dispor Com a terra fez contacto Neste pais democrato No brilhava tal planta Mas a vontade foi tanta A 25 do 4... Oh! flor da saudade Com prazer e alegria Brilha de noite e de dia Afirmando a liberdade Aldeia, vila, cidade Sorrindo alegremente Mas h quem seja diferente Com diversas condies H falta de opinies C no nosso continente. Formaram varios partidos Como esto publicando Mas vamos ns combinando Para sermos mais unidos Ningum preste a dar ouvidos Ao termos uma proposta H uma seita que no gosta E s pcnsa em dar o fim Mas no centro deste jardim Foi uma flor disposta. A flor j vai brilhando E a rama permanecendo Os povos vo combatendo E o cheiro contaminando Mas assim de vez em quando D-se um eco resistente Vamos todos para a frente Fazer urn pas sagrado Com uma flor do prado Que d cheiro a toda a gente.

26

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Perptua das Dores Mateus - ALBERNOA

Nome - Perptua das Dores Mateus Morada - Albernoa Idade - 79 anos em 1986 (nasceu em 1907) Habilitao - Reformada. Foi costureira Naturalidade - Albernoa

27

27

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Perptua das Dores Mateus - ALBERNOA

UMA HISTRIA QUE ERA PARA ESCREVER UMA CARTA E DEU UNS VERSOS...Havia uma rapariguinha com 16 anos que foi servir para casa do senhor Visconde, para a torre de S. Brissos... E o que foi que ele fez? Arranjou-lhe urn menino. E no fim no sabe que fizeram? A rapariga morreu e foram enjeitar o menino, dentro de uma alcofa, na aldeia de S. Brissos. Prentaram, tramela duma porta, o menino que era filho do senhor Visconde. Mas a feitora teve pena e ficou com o menino. A rapariguinha morreu! Bom. O certo que foi assim, e ento essa mulher, coitadinha, criou o menino. Ele uma vez tratou de vir a Albernoa, sentou-se no pial de uma porta dumas senhoras que havia aqui - umas senhoras Saramagas. Eram duas raparigas j assim idosas e um irmo. E foi o menino sentou-se ali, dizem-lhe elas assim: - Olha l, menino! Tu no s daqui da aldeia? - No sou, no senhora, minhas senhoras. No sou. - Ento, donde que tu s? - Eu sou de S. Brissos. - Ento vieste com a tua me? - No senhora. Ento, eu no tenho me! - No tens me? Ento e pai? - O meu pai senhor Visconde da Corte. - Ah! coitadinho! EE . No vs que tal equal ele! ...Coitadinho! ...Olha l menino, queres ficar com a gente? - Ora, fico. - Olha, mando-te fazer uns sapatos... mando-te fazer um fatinho... Tu ficas com a gente... Bom. Ao fim de trs dias, a mulherr que criou o menino veio, mais outra vizinha. Vieram pergunta dele... As senhoras disseram: - Sim senhora, t aqui .. Olha l, menino, ato mas tu queres ir com a tua me? ...Ou queres ficar com a gente? ... O mocinho... Coitadinho!... Diz ela: - Minhas senhoras, se quiserem ficar com ele, eu dou-lhe de melhor vontade, que eu tenho uns poucos de filhos... - Bom!... Sim senhora. E vai, e ficou. Ficou com elas. Ali foi criadinho... Criado com elas... Mas depois houve uma rapariga que foi p'r'ali... J se sabe! ... Rapazes e raparigas!... O que que se deu?... Casaram... E depois, o homenzinho, tinha a uns quarenta anos, tinha dois cabrnculos e morreu. ...e a minha me morreu, tinha eu trs anos... e depois coitadinha... (Deixe l ver se eu sei o que tou dizendo. Pode falhar o prioncpio...) E depois eu fui morar para Ervide!. ... Via alm as terras dele... mas o visconde nunca casou... Deixou a fortuna a uma sobrinha, e essa sobrinha era a me do Visconde da Boavista e da mulher do senhor Lus Vilhena, e csses que ficaram com a fonuna desse tal Visconde. Eu fui para Ervidel... Tive l treze anos... E apois via a fazcnda. ...E o gajo passava sempre minha rua... e eu cosendo costura e dizendo: Ai... Olha. H! Olha l tu! Ora se eu soubesse escrever, escrevia-te uma carta. Mas nunca escrevi. Mas fiz uns versos, assim:

28

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Perptua das Dores Mateus - ALBERNOA

H oito anos que penso Na maneira de pensar Pensei assim desta forma P'ra com V Ex falar Tou avistando as suas terras D-me pena e prazer Eu por mim no perco nada Em me dar a conhecer Eu sou bisneta de um Visconde Posso-me dar por feliz Perteno gentc nobre Deixem l dizer quem diz! Quando o meu av era filho Do Sr. Visconde da Corte Mas foi infeliz ao nascer Como posso de eu ter sorte? Enjeilaram o menino Sendo pessoa nobre Puseram-no esmola Como se fosse dum pobre E faleceu com 40 anos Minha me trs anos fazia Nascem pessoas no mundo P'ra viver em agonia Mas quem tem padrinho (no morre moiro...) Tudo quer ser baptizado Eu fiz este requerimento Peo que venha assinado Eu peo apenas trababalho Se me quiser auxiliar O meu marido competente De qualquer lugar ocupar

E um fulano Antnio Rocha Da aldeia d'Albernoa E pergunte o comportamento A uma qualquer pessoa Manuel Jorge da misericrdia Saber lhe dar notcia Ou qualquer dos seus servos Que moram na Boavista Trabalhou p'r Sr. Sousa Em vida de almocreve um homem completo Qu's patres nada deve E eu sou de boas famlias Com' verdade no tenho falta Mas quem arranja bons empregos So esses que tm lata S'houver algum dos seus servos Que na minha conversa queira desfazer D-Ihe logo de resposta Nem s tu queres viver S'eu Dver uma boa resposta Tenho prazer e glria Que todos ns q'remos viver Nesta vida transitria Cumprimentos aos meninos senhora Viscondessa Tambm o Sr. Visconde E deseulpe V Ex Eu por fazer estes versos No padeo de doena Foi deixa do meu av Que de sua descendncia D a ler a quem tem luz No d a algum tigelino Qu'eu no mereo censura Perguntar bom caminho

29

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Perptua das Dores Mateus - ALBERNOA

QUADRAS SOLTAS

Eu sou Perptua de nome E sou perptua no falar E sou uma portuguesa Da nao de Portugal s vezes dou ateno s mulheres na ribeira Parecem umas telefonias Tocando na quinta feira Por certo no tm espelho Qualquer daquelas senhoras Que na vida de qualquer Parecem umas emissoras Ali no h defeitos Nem nas filhas e nem nelas Mas difamam outras donzelas Ou mesmo casadas so Mulheres de presuno Com elas no se comparam E do a falar em latim O mais longe de claro Quem falar duma qualquer Reparem quem elas so So das tais estrelas de rabo Que do cu chegam ao cho Em havendo algum anncio P'ra gabar qualquer pessoa Fiquem em duas ou trs Mas que isso no se soa So scmpre de m lngua Fazem mais de mil conversas Todas so abelhas mestras Para mandar no enxame Quando as coisas so mentira Ao mundo nunca difame!

30

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Isabel Guerreiro - ALBERNOA

Nome - Isabel Guerreiro Naturalidade - Albernoa Morada - Centro da 3 Idade de Albernoa Idade - 79 anos (em 1987) Habilitao - No sabe ler nem escrever Profisso - Reformada

31

31

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Isabel Guerreiro - ALBERNOA

QUADRAS SOLTAS1 Em ouro, letra chinesa Teu nome mandei gravar Com pena d'oiro assentei Firmeza para te amar 2 Se eu quisesse amar bonecos Mandava vir de Estremores Vergonha me dava a mim Se eu contigo tinha amores 3 Nao sei se te diga adeus Se te diga vou-me embora Quem se despede vai triste Quem c fica sempre chora 4 Mandei uma carta em branco Sem nenhuma letra dentro Podia-te fazer dar Mil voltas ao pensamento 5 Calem-se a, meus netos Deixem cantar a av Que para ver se ainda canta Como algurn dia cantou 6 Se algum dia cantei bem Hoje quero, no pode ser como aquele que quer Fazer fora sem a ter 7 A alegria abandonou-me Pcrdi todo o meu prazer Em me ver abandonada Mais valia eu morrer 8 Dizes que no pode ser Erva fina dar pragana muito m de encontrar Amor firme em terra estranha 9 Eu j vi nascer o sol Na manh de S. Joo Era vsperas de Natal Quinta-feira d'Ascenso

32

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Isabel Guerreiro - ALBERNOA

10 Tu dizes que me no queres Eu acho-te loda a razio Como que tu hs-de querer Aquilo que te no do? 11 Manuela, tu passa bem J no ouves minha fala Hei-de fazer-te uma ausncia Como o fumo quando abala 12 Ausente mas sempre firme Meu amor no faz mudana Quanto mais ausente vivo Mais te trago na lembrana. 13 A mulher comparo eu Com a folha da cevada Por fora uma saia nova Por baixo uma esfarrapada 14 Eu j no tenho alegria Sou um vaso de paixo Anda cheio de tristeza O meu pobre corao 15 Eu j no tenho alegria Vivo no mundo sem gosto Nasce o sol, torna a nascer Para mim sempre sol posto 16 Vistam-se os campos de luto E as estrelas ponham vu Este nosso apartamento Faz chegar o luto ao cu 17 Eu queria-te bem deveras Amava-te seriamente Conheci como eras falso Recolhi-me airosamente 18 Por cima se acerta o trigo Por baixo fica o restolho Quem namora sernpre alcana Uma piscadela d'olho

33

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Isabel Guerreiro - ALBERNOA

19 Antes que o lume se apague Na cinza fica o calor Antes que o coraro se arranque No corao fica a dor 20 Se eu quisesse bem podia Fazer o dia maior Dava um n na fita azul Fazia parar o sol 21 Eu lenho 40 amores S em 4 freguesias 10 em Serpa, 10 em Moura 10 em Quintos, 10 em Pias 22 No h ribeira sem gua Nem rvore sem a verdosa Nem donzela sem amor Nem velha sem ser manhosa 23 Hei-de amar o vale verde Enquanto verde estiver Ainda no fiz escritura Hei-de umar quem eu quiser 24 Se eu soubesse cantar bem Andava sempre cantando melhor que nem andar Na vida doutrem falando 25 Eu um dia guardei porcos Oh! que dia to tirano Andava l um porco coxo Eras tu se no me engano.

34

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

Nome - Bartolomeu Arsnio Naturalidade - Serpa Morada - Lar da 3 idade Albernoa Idade - 86 anos em 1987 (nasceu em 1901) Habilitao - No sabe ler nem escrever Profisso - Trabalhador rural reformado

35

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

Versos que eu fiz quando abalei e fui emigrante... (Glosa do fado "SER FADISTA FOI MEU SONHO de Frei Hermano da Cmara) 1 Emigrar era meu sonho Inda eu era criana Conhecer muitos pases Passar una dias felizes E o maior sonho era Frana 2 Um dia chegou a hora Despedi-me e fui partir Deixei tudo o que gostava S o destino guiava O que havia de seguir 3 Quando cheguei a fronteira Clandestina ia passar Deus traou o rneu destino Com muito amor e carinho E livremente fui ficar 4 Quando cheguei a Paris Era tudo diferente Eu no sabia falar Nada pude perguntar No entendia tal gente 5 E a saudade que senti Descreve-la eu no sei Tanta fortuna que vi E o mundo que conheci Nada vale o que deixei 6 E a vida do emigranle s cheia de iluso Ahandonar seu pas Onde tem vida feliz E voltar com decepo 7 Oh meu belo Portugal No h no mundo como tu Onde o sol mais belo Seja de Vero ou de Invemo Tens um calor em comum 8 Oh meu belo Portugal! cantinho da saudade Que o emigrante velhinho J cansado e pobrezinho Chora a sua mocidade.

36

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

Quadras Soltas

1 Se as sentidos procurares Eu c te vou explicar Primeiro sentido ver Eu sem ver no passo amar 2 Ao passar o barranquinho Parti a corda viola Era outro que no via Coitado de quem namora 3 Hei-de amar o vale verde Enquanto tiver verdura Hei-de amar quem eu quiser Qu'inda no fiz escritura 4 Adeus cidade de vora Adeus d'vora cidade Adeus quartel dos cinco Onde passi'a mocidade 5 Adeus cidade de Beja Eram velas de navio As lgrimas eram tantas Sem chover encheu o rio

6 Eu semii amor no rio Para mais verde nascer A amizade que t'eu tenho J tu no podes perder 7 Mas se o beijo no se rega Deita-lhe gua na raiz Nao te gabes que me deixas Que fui eu que te no quis 8 Eu gosto muito de ouvir Cantar a quem aprendeu Se houvesse quem me ensinasse Quem aprendia era eu 9 Quem canta seu mal espanla Isso a no verdade Minh'alma com a tua canta E eu choro de saudade 10 Se fores urn dia a Serpa Vai passar s passadeiras Vamos ao ramal da Graa Namorar as costureiras

37

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

11 Tenho 22 amores Contigo so 23 Uns falsos outros fingidos S tu lindo amor, no s 12 Adeus que me vou embora P'ra terra das andorinhas Mete carta no correio Se queres ter novas minhas 13 A estrela do norte guia Dos marinheiros do mar Compara-te a ti com ela Que me fazes variar 14 Serpa melhor das vilas Tambm d'algumas cidades Quem me dera j l ir Para matar as saudades 1S Adeus que me vou embora Para a semana que vern Quem me no conhece chora Que far quem me quer hem

16 Sexta-feira d'Ascenso Quinta-feira de comadres Foi a vez que eu ouvi Mais mentiras que verdades 17 Se em ser recto ofendo No te quero ofender mais Se o bem-querer dividido Nossos cimes so iguais 18 Debaixo do cho mil metros Onde o sol no tem entrada Abre-se uma sepultura Eu morro d'apaixonada 19 Meu corao de terra Hei-de manda-la cavar Para semear desejos Qu'eu tenho de conversar 20 Tinha eu 16 anos Quando ami uma infeliz Uni(mos) coraes humanos Veio a morte, apartar quis

21 tempo, j tive tempo Bem tempo de ser feliz Agora quero e no posso Quando podia, no quis.

38

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

Nome - Ana Rita da Graa Naturalidade - Albernoa Morada - Albernoa Idade - 59 anos em 1987 (nasceu em 21/11/1928) Habilitaes 4 Classe Profisso - Costureira

39

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

40

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA

Mote Comprar boneca que chora Para a menina brincar o po que deita fora Que a outras podia dar Dcimas Ser criana e brincar o comeo da vida Mas quando vem a sonhar J no encontra sada A sua sentena est lida E o seu sonho de outrora E a luta comea agora Pois a fome a vai render E nunca poder fazer Comprar boneca que chora Tanto brinquedo caro Tanto bocado de po Tanta gente de carro Pisando a fome no cho O mundo que um vulco E a chama no vai parar E o fogo sempre a girar Mas o rico no tem medo E h sempre tanto brinquedo Para a menina brincar O mundo s vai mudar Com o adulto em criana E aroda sem pre a girar A todos dando uma espcrana No ser lida a sentena E tu ters a tua hora Quem forte tambm chora E to mal que o mundo andou Gastando o que no ganhou o po que deita fora Morrem milhares de crianas Porque no as deixam viver Neste mundo cheio de crenas E a forne sempre a vencer Bastava o homem querer Para este mundo mudar Tanta rvore a plantar Diz o poeta na sua obra Tanto que a ti te sobra Que a outras podia dar. Poema dedicado aos "meninos pobres" ...

41

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Bartolomeu Arsnio - ALBERNOA Mote pobre e no sabe ler No conheceu a Escola No precisa de saber Dizia quem dava esmola

Dcimas E o pobre nada dizia Pensava na triste sorte E consigo consumia Lutarei at morte Pegava no seu archote Para alguma coisa ver Mas como compreender Que uma vida sem luz E ele que tudo produz pobre e no sabe ler Aos sete anos trabalhava O inocente pobrezinho Com sua idade brincava O filho do patrozinho E o pobre pelo caminho Ao ombro sua sacola Para meter uma esmola Que algum lhe quisesse dar Faz a vida a mendigar E no conheceu a Escola Desde criana que sofre A tortura do patro No defeito ser pobre Diz aquele que no tem po O mundo desde ento Vem mudando sem querer E o homem com seu poder Consegue sempre mandar O pobre no vai estudar No precisa de saber Mas um dia ao despertar Do seu sono to profundo O homem ps-se a chorar Contente do novo mundo J no sou o moribundo Que andava com a sacola J posso ir Escola Gosto tanto de aprender No tem falta de saber Dizia quem dava esmola

42

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Beja

BEJA

MARIA GUIOMAR PENEQUE FLORIVAL PELEJA CARLOTA RAMOS CAIXINHA ANA MARA NEVES IOLANDA GUERREIRO

43

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Beja

44

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

Nome - Maria Guiomar Rodeia Peneque Naturalidade Beja Residncia - Rua Pablo Neruda, 2 Beja Idade - 60 anus em 1987 (nasceu em Maro de 1927) Habilitaes 4 Classe Profisso - Costureira

45

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

NOTAS BIOGRFICAS Meu Nome Maria e nome de virgem Guiomar - da minha madrinha Rodeia - sabe-se o que Peneque... quem adivinha?... Naturalidade Eu sou natural de Beja Sempre aqui foi meu viver Solteira, casada, viuva E c desejo morrer Idade Eu nasci em vinte e sete Na estao da Primavera Ja contei cinquenta e sete (em 1984) E d'outras mais estou espera Pais Meu pai se chamou Jos Carpinteiro de Beringel Isabel, a minha me Camponesa de Portel Profisso Eu sou filha da pobreza Serei pobre a vida inteira Estudar... No pde ser! Sou apenas costureiraEm Maro de 1927, na capital do Baixo Alentejo, uma trabalhadora rural, casada com um carpinteiro, deu luz um dos seus onze filhos. Ere menina e recebeu o nome de Maria Guiomar Rodeia Pcneque. Sete anos depois, a Maria Guiomar entrava na Escola Primria, onde, aos de, dez anos, viria a ser aprovada no exame da 3 Classe. Trs anos volvidos, a me decidiu que a Guiomar iria trabalhar como costureira numa alfaiataria. Depois... "Casei aos vinte e nove anos. Tive a prirncira filha aos trinta anos. Foi por causa dela me dar urn cravo encarnado, que urn dia me deitou pelo postigo da porta, estava eu a costurar, que me veio a inspirao e fiz a primeira quadra que e assim: Deste-me um cravo encarnado / Lancei-o pelo postigo Se continuas zangado / Farei o mesmo contigo. Da para c, h vinte e um anos, nunca parei. Aos trinta e seis anos, tive a segunda filha, a quem dei o nome de Florbela - em memria da poetisa Florbela Espanca - mas a menina morreu aos dez dias de nascida. Sou pouco crente em espiritismo, mas qualquer coisa de anormal se passou comigo nessa altura...

46

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

CANTIGA DE AMORMaria Guiomar Peneque Beja

O ROUXINOL QUANDO CANTA J DEPOlS DO SOL SE PR CONTINUA A DAR NOTCIA DAS RAZES DO NOSSO AMOR J se foi minha alegria S esta dor me quebranta J no oio quem parccia O ROUXINOL QUANDO CANTA minha Estrela cadcnte Que tombaste com fragor 'Inda s meu sol nascente J DEPOIS DO SOL SE PR Vai, MEU pobre, corao Em liberdade fictcia... E, da minha solido CONTINUA A DAR NOTCIA A Deus que nos separou Peo perdo com fervor Da saudade que ficou DAS RAZES DO NOSSO AMOR

47

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

Mote PARA QUE SERVE TER OLHOS TER OLHOS E NO TE VER PARA QUE SERVE TER VIDA SEM RAZO PARA VIVER Dcimas Dois olhos que Deus me deu Mais negros que a noite escura Choraram muita amargura No pranto que lhes correu Pelo bem que se perdeu Na minha vida de escolhos Dos irmos que tive aos "molhos" Todos na vida perdi E, se nunca mais os vi PARA QUE SERVE TER OLHOS Pai e me, eu j perdi Foi chegada a sua hora Ainda a minha alma chora A tristeza que senti E pelo muito que vi S dopois de ter perder... Tu bem me fizeste crer Que perdia um grande bem Para que serve, me TER OLHOS E NO TE VER...? Meu marido j no tenho Pais cedo a morte o levou A saudade me deixou Como pregada num lenho Em viver no fao empenho Sou como a ave perdida Por tanto desiludida Quando a sorte no existe E o nosso viver triste PARA QUE SERVE TER VIDA? A sade j escassa A galope como o vento Assim vai correndo o tempo Entretanto a vida passa S naa me deixa a desgraa Atrs de mim a correr J no me posso esconder Vou parar, estou cansada A vida no vale nada SEM RAZAO PARA VlVER.

48

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

Mote SOU VIVA MAS NO PEO AOS SANTOS P'RA ME CASAR NO POSSO FAZER PROMESSAS SEM TER CERA P'RA GASTAR Fui solteira, fui casada Sempre pobre toda a vida A minha dor mais sentida Foi de no ser educada Na infncia, mal estimada Depois... trabalhei sem preo Hoje, que pouco mereo Tenho urn desgosto profundo Pobre e sozinha no mundo SOU VIVA, MAS NAO PEO S a negra solido Vem bater minha porta A f em Deus me conforta E me alegra o corao E, rezo a minha orao Sempre que me vou deitar No acabo o meu rezar Porque me deixo dormir E, assim no chego a pedir AOS SANTOS P'RA ME CASAR Se houver algum que me queira Quer por bem ou quer por mal Ter o pobre mortal Que esperar a vida inleira... C p'ra mim no h maneira De me trocarem as peas A qualquer urn eu dou meas Aqui digo eu sem receio No casamento no creio NO POSSO FAZER PROMESSAS Ningum deite mau olhado No ponha lala nem p A quem no mundo anda s Como um co abandonado Pois - j dizia o ditado: "Mais vale s no Mundo andar Que do mau acompanhar" Eu, viva quero morrer Do que promessas fazer SEM TER CERA P'RA GASTAR

49

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

OS PASSOS DA MINHA TERRA (A minha terra - BEJA)

Minha cidade velhinha Sempre em ti tenho vivido Do CASTELO CAPELINHA Tudo mes conhecido SANTIAGO, SALVADOR SANTA MARIA, SO JOO Relquias de um puro amor Que trago no corao Minha pia baptismal Est na IGREJA da S Minha primcia de f Na capela pequenina - Meu Senhor Jesus dos Passos Dos meus passos de menina Velha RUA de ALCOBAA Minha viela estreitinha Onde o meu bem ja no passa Como passava tardinha Tuas pedras da calada Tm ecos doloridos Onde soaram outrora Passos que me foram queridos Linda PRAA da REPBLICA Minha velha MOURARIA RUA DO ESQUVEL to querida Onde esses passos ouvia Meu andar pela cidade J no o que era dantes!... Levados pela saudade Andam rneus passos errantes!

50

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

VIVA REJA E SO JOO (Receita para fazer um "MASTRO" alentejano)I

Para bem fazer umn "mastro" P'ra danar o So Joo Faa assim, tal como eu fao P'ra manter a tradioII

Arranje cinco barrotes Quatro so da mesma altura O quinto, que fica ao meio Tem maior envergaduraIII

Faa os buracos no cho Mas, para isso afinal Pea a autoriza9ao A Cmara MunicipalIV

V ao campo apanhar rama Mas, tome bem ateno!... Tmga s a que estiver C na nossa tradioV

Mentrastos e canas verdes Tambm ramagem de faia Tenra-me os paus; espete-os bem 'Inda assim algum no caia...!VI

L no alto pe-se a esfera E a bandeira - enfeitadas Com ginjas e soromenhos Mais as popias caiadasVII

Agora que chega a vez Da bonita compostura Com urn papel colorido Que lhe empresta formosuraVIII

Bandeirinhas e correntes Entre grinaldas de rama Lindos mosqueiros pendentes Por onde a luz se derrarna!IX

E, por fim, toca a varrer Rega-se o cho bem regado Fica o ar a rescender A mentrasto perfumadoX VIVA BEJA MINHA TERRA DESTA LINDA TRADIO! OH! QUANTA BELEZA ENCERRA UM "MASTRO" DE SO JOO!

51

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

ADEUS A BEJA (Dedicada ao bejense "Calquinha)

Seguiu a rota distante Conheceu tempos de guerra Tern o selo de emigrante Quis voltar a sua terra: - Porrugal dos roseirais Alentejo - terra minha Beja dos louros trigais Da plancie rainha. "Oh meu castelo de sonho Sempre em meus sonhos lembrado! - Aqui me tens - corpo inteiro Frente a ti, bem acordado! Minha Beja velha e moa Caixinha dos meus segredos Minha querida Mouraria Oh quartel dos meus degredos!... - Dei de beber a saudade Com saudades vou patir Minha terra - sempre amada (enquanta vida me exista) - No te digo adeus para sempre Mas um breve - at vista"

52

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Maria Guiomar Peneque - Beja

LUSADAS DO ALENTEJO ( Reforma Agrria)

"As armas e os bares assinalados" Na herica plancie alentejana Eram - h pouco - latifndios desprezados Onde - salvo excepes - s campeavam Cardos, coutadas, aramados e ortiges. E que dizer dos gados, santo Deus! Pobres, faminlos, horrendos camafeus Morrendo mngua por vingana dos ateus. Searas havia que eram s p'ra caa... Mais sorte tinham as rolas e as perdizes Que tantos camponeses infelizes A gente transtagana, num lampejo De liberdade e justia - torce a fome Lana terra que o suor ganhou Duas, trs, quatro vezes mais - o po Que o patro tantas vezes lhe negou. "Gritando espalharei por toda a parte" A dor, o pranto, a opresso e a mgoa Sentidas na carne criada a po-e-gua Cheirando a alhos coentros e poejos Da aorda toda a vida repisada. - "Se a tanto me ajudar o engenho e a arte" Mais vou dizer, sem que me canse ou farte - Desditosa gente, da minha terra amada!

53

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Beja

54

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Florival Peleja - Beja

Nome - Florival Peleja Naturalidade - Santana de Cambas Residncia - Rua de Timor 16, Beja Idade - 72 anos em 1987 (nasceu em 10/03/1915 Habilitao 2 ano do Comrcio Profisso - Reformado

55

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Florival Peleja - Beja

LOUCA HUMANIDADE P'RA QUE EXISTE TANTA GUERRA, TANTA DOR, TANTO TORMENTO, SE A VIDA AD CIMO DA TERRA DURA APENAS UM MOMENTO Neste mundo conturbado Onde s maldade existe A humanidade triste Como pagando urn pecado Ser este o pobre fado Que a vida terrestre encerra? Este mal que nos aterra Deve-se louca ambio Por isso eu pergunto em vo P'RA QUE EXISTE TANTA GUERRA O homem no seu furor Provoca devastao Em vez de distribuir po Semeia apenas rancor Dedica tado o labor A fabricar armamento Em cada dia urn invento Numa constante loucura Causando tanta amargura TANTA DOR, TANTO TORMENTO. Infeliz humanidade P'ra onde vais caminhando Rapidamente vais dando Termo felicidade J no h fraternidade A paz j mais se descerra Em seu lugar s h guerra O mundo vive sem norte No sei se mais vale a morte SE A VIDA AD CIMO DA TERRA Neste egosmo feroz Ha fome no mundo a rodos O po chegava p'ra todos Se o homem no fosse atroz Que ser feito de ns Com to grande sofrimento umn constante lamento Na sociedade perdida Para qu? Se a pobre vida DURA APENAS UM MOMENTO.

56

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Florival Peleja - Beja

A VIDA

A A A A

vida vida vida vida

este esta este este

bem que nao tem nome dor que nos maltrata amar que nos consome inferno que nos mata

A vida e muito curta, ou prolongada Consoante a maneira de a viver Para quem tern alegria cia ela um nada Mas comprida de mais para sofrer A vida este mal que a toda a hora Estamos desejando ver findar Mas ao senti-la breve a ir-se em bora Tentamos, com afinco, prolongar A vida urn tormento, amargor A vida e urn calvrio, urn engano Mas tambm a ddiva maior Que a natureza deu ao ser humano.

57

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Florival Peleja - Beja

AS MAIS BELAS COISAS DO MUNDO

Quem ouve um dia uma cano Cantada por um estro de talemo Jamais esquecer a comoo Que a alma lhe sentiu nesse momenlo Quem numa nite lmpida e serena Fitar a nostalgia do luar Decerto h-de sentir imensa pena Ao ver essa noite terminar Quem um dia sentir um beijo amante Duns lbios de mulher formosa e pura No mais esquecera aquele instante Em que a beijou repleta de frescura E as rosas? Quem aspirar o seu perfume Encontrar embrieguez, frescor Sentir depois feroz cime Da linda borboleta multicor Msica, luar, mulher e rosas Maravilhas que no posso esquecer So, decerto, as coisas mais formosas Que a Natureza resolveu razer.

58

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Florival Peleja - Beja

O MEU SONHO

Eu sonho urn mundo novo, isento de maldade Em que os homens se estimem e dem com amor Um mundo de ventura e etema felicidade Donde p'ra todo o sempre seja banida a dor Urn mundo onde as erianas aprendam a sorrir Sem preocupaes p'lo dia de amanh Etema primavera com rosas a florir Urn mundo onde a misria seja palavra v! Urn mundo em que haja paz em toda a terra Em que o dio e a dor jamais tenham guarida Urn mundo em que a semente da miservel guerra Se mantenha p'ra sempre dos homens esquecida Eu sonho urn mundo novo repleto de alcgria Donde desaparea o mal que nos consome Urn mundo em que se possa gozar a luz do dia E onde jamais algum possa morrer de fome.

59

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Florival Peleja - Beja

AS FLORES DO HOMEM

AURA, BERTA E ROSALINA EMLIA, ROSA E JOANA GENOVEVA E FELISMINA LCIA, BENTA E JULIANA Jlia, Cludia e Adlia Eglantina e Maria Arlete, Dulce e Sofia Felicidade e Amlia Rita, Raquel e Oflia Leonilde e Crisaltina Isabel e Marcelina Augusta, Marta e Amlia Olga, Fernanda e Natlia AURA, BERTA E ROSALINA Clarisse, Bernarda e Dora Anglica e Conceio Esmeralda e Assuno Dlia, Celeste e Flora Brgida, Justa e Aurora Aurlia e Sebastiana Elvira, Adelaide e Ana Gilberta, Elsa e Gracinda Ivone, Mrcia e Arminda EMLIA, ROSA E JOANA Ilda, Irene e Gabriela Felcia, Sara e Sabina Margarida e Miquelina Perptua, Laura e Manuela Deolinda e Micaela Mnica, Otlia e Silvina Jernima e Josefina Patrcia, lsaura e Helena Carmen, Dlia e Madalena GENOVEV A E FELISMINA Francisca, Incia e Justina Gertrudes e Marieta Ema, Eullia e Julieta Florbela e Lodovina Filomena e Ricardina Clara e Feliciana Alice, Branca e Romana Ester, Esperana e Felisbela Estefnea e Anabela LCIA, BENTA E JULIANA.

60

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha - Beja

Nome - Carlota Ramos Caixinha Naturalidade - Freguesia de S. Joo Batista / Beja Residncia - Rua de S. Gregrrio, 33 - Beja Idade - 61 em 1987 (nasceu em 1926) Habilitaes 4 Classe. Frequentou o CEBA da Capricho Bejense e fez a avaliao final em Junho de 1983 Profisso - Domstica

61

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha - Beja

O OUTONO MUITO TRISTE

O Outono muito triste Vem-se rvores despidas Por isso se pode ver A perca de muitas vidas As folhas so seres viventes Que morrem pelo Outono Se olhares bem para o cho L as vs ao abandono Essas folhas to viosas Em secas se transforrnararn Foi o Outono o culpado Elas em nada ficaram Vem o frio, vem o Inverno Ai dos pobres passarinhos Cai a parra da parreira E morrem tantos velhinhos.

62

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha - Beja

H HOMENS QUE NO DEVIAM

H homens que no deviam Construir a vida a dois Fingem ser to carinhosos Mostram o que so depois H mulheres muito infelizes Que no sabem o que as espera Pensam casar com um homem Descobrem que uma fera H homens que no deviam Nesta vida ser casados So mais estpidos que os burros Precisavam ser piados Pois eu acho que esses homens Nunca deviam casar Pois deitem-nos para a selva Pr'os lobos os devorarem o meu modo de pensar Ser o de muita gente Desses no deixem nenhum Para no ficar a semente

63

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha - Beja

TO TRISTE SER VELHINHO

to triste ser velhinho a morte que demora At se perde a figura Do que ns fomos outrora o fim da nossa vida o fim da iluso Somos seres postos de lado Findou a nossa misso C esperamos a morte Para o fim ser completo Para ficarmos esquecidos Como o vento no deserto Neste deserto distante Por l ningum faz caminho Oh morte, no te demores! to triste ser velhinho!

64

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha - Beja

MENINO DO BAIRRO DA LATA

Menino do bairro da lata A tua vida to nua Sem camisa e de alpercatas Mendigando pela rua Sers homem amanh Mas no ters profisso Paders te transfonnar Em assassino ou ladro Mas tu no s o culpado Dessa triste desventura Talvez deixassem morrer A tua alma to pura Enquanto foste criana Cheio de fome e de frio Assim tu foste crescendo Tomando-te um vadio.

65

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha Beja

TO LINDA A PRIMAVERA

to linda a Primavera Ocampo muda de cor E chegam as andorinhas No campo h tanta flor Flores brancas e vermelhas Cor-de-rosa e amarelas Que tm tanta beleza Embora sejam singelas As rvores esto em flor Para o seu fruto nascer Ocampo s tem beleza Para quem o sabe verNo campo que se produz

E do trigo se faz po Lindas espigas douradas Para nossa alimenlao H quem no goste do campo No sei por qual a razo O campo nos d a frula Horlalia, carne e po.

66

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha Beja

VERSOS DEDICADOS PAZO mundo de todos ns No o podem destruir Estamos todos alerta No o vamos consentir povo de todo o mundo Aqui fao o meu alerta H muitos adormecidos Certo povo nao csperta Por mais que o esclaream No so capazes de entender Pois se ns queremos a paz Temos ns que a defender Pois ningum tem o direito Deste mundo destruir Que foi traado por Deus Que no ir consentir Menina dos olhos tristes Porque te invade a tristeza? Vs teu futuro to negro Aumenta a tua pobreza No tens po para comer Nem casa para morar Menina dos olhos tristes Tens que andar a mendigar As rosas tm espinhos So criadas ao relento As ptalas orvalhadas Sacudidas pelo vento Se o vento embala a roseira V-se a rosa balouar As flores so muito belas So criadas ao luar As rosas tern espinhos Para a sua proteco A panhem-nas com carinho P'ra nao picarem a mo S as flores so perfeitas Deve ter havido engano Pois o ser mais imperfeito Somos ns o ser humano Pois eu tenho tanta pena Que este mundo seja assim Se tudo fosse perfeito O mundo era urn jardim

67

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha Beja

VERSOS DEDICADOS AO CAMPONS meu povo campons Levas a vida cansada Agarrado a um arado Ou ao cabo de uma enxada Com o teu rosto cansado Ds fim tua fadiga Comeas de manhazinha A cortar po em espiga Essa espiga to dourada Que dela se faz o po povo trabalhador Cantas a tua cano O povo que anda no campo Devia ser mais estimado ele que produz a po E anda mais arrastado Anda ao frio e ao calor Enfrentando a tempestade Pois deiem-lhe mais valor esta a grande verdade O povo no se apercebe Da grande contradio Se nao fosse o campons Ns no teramos po O nosso mundo est louco meu Deus, grande loucura Este mundo to imundo! Doena que no tem cura O povo anda to louco Anda to espavorido O prprio povo se vende Isto j no faz sentido H gente que se embriaga Na ganncia do dinheiro Jogam bombas, queimam matas Fazem do mundo urn braseiro Essse braseiro infernal Que outros vo apagar... povo, ignorante Tu prprio te ests a matar.

68

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha Beja

QUADRAS SOLTAS1 O dia de Santo Antnio dia de bailarico Andam as mas danando E cheirando o manjerico 3 Acaba-se o Santo Antnio E coma o So Joo Danam as moas nos mastros E rebenlam balo I 2 noite fazem fogueiras Queima-se o alecrim Junta-se o rosmaninho Que tambm me cheim a mim 4 Acaba-se o So Joo E no fim o So Pedro E as moas j no danam Que dos moos tm medo.

I Na solido do meu quarto Tenho tempo p'ra pensar Sem ningum m'interromper Ponho a mente a trabalhar 2 Gostava de ter cultura P'ra me saber exprimir P'ra escrever minha mgoa Que to grande o meu sentir

5 Fazem as moas experincias Queimam os cardos nas fogueiras Na noite de So Joo... Se nada lhe bater certo Pois l se vai a paixo II 4 O homem ludo constri E faz a destruio J tempo de acabar Com tanta poluio

5 Aqui fao o meu alerta E vejam bem que verdade Se no tiverem cuidado Acaba a humanidade 6 O povo j est doente Com tanta poluio Anda tudo envenenado Com esta alimentao. III 2 H tanta gente no mundo Que feliz podia ser Sem ter casa nem conforto E nem po para comer 3 Mas h comida de sobra Mas mal aproveitada Comida to preciosa E para o lixo deitada.

3 Sinto em mim uma revolta Sinto tristeza tambm Mas nada posso fazer Nem por mim nem por ningum 1 A vida um grande engano Por mim no ando enganada Com ela muito aprendi E me sinto to revoltada

IV EU NO QUERO SER POETA NO TENHO TAL PRETENSO APENAS QUERO EXPRIMIR A MINHA IMAGINAO.

V A A A A

VIDA VIDA VIDA VIDA

TRAIOEIRA BOA E M TUDO NOS TIRA TUDO NOS D

69

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Carlota Ramos Caixinha Beja

QUADRAS DEDICADAS MULHER

I Dizem que a mulher fraca fcil de manejar... o homem seu carrasco Que gosta de a humilhar. II Ela no vai desisistir Da sua libertao Sabem que est aprovado Na sua constituio III Pois ela no est sozinha Tern muita gente a seu lado... Se esta luta for em frente Pois o homem est tramado. IV Pois o homem o eulpado Desta grande deciso Ela luta e consegue Tem esse trunfo na mo V Pois ningum vai impedir E essa luta continua Pois respeitem a mulher Quer em casa, quer na rua.

70

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Ana Maria Neves - Beja

Nome - Ana Maria Neves Naturalidade Trindade Residncia - Rua da Biscainha, 36, Beja Idade - 71 anos em 1987 (nasceu em 1916) Habilitaes - Frequentou o CEBA da Capricho Bejense em 83/84 Profisso - Reformada

71

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Ana Maria Neves Beja

PRIMAVERA

BEJA - 1983/MARO 21 - PRIMAVERA

O Inverno terminou E a Primavera a chegar E as flores a desabrochar As Dlias, as Tlipas e as Honenses e os Jasmins E quando a Primavera chega Tudo assim. Os Malmequeres, os Jarros e as Rosas brancas So da cor da pureza Tudo nos d a Primavera Criada pela Natureza E neste jardim tantas coisas mais As andorinhas a chilrear nos beirais E os Rouxinis e as Pardais, logo ao romper do dia Com a sua suave melodia. Estar a ouvi-los sempre quem me dera... Tudo ista nos d a Primavera! Naquele canteiro mais alm Tantas e to belas de variadas cores E no hanco do jardim, um casal de jovens A falar de Amores. E as Maravilhas e as Cravos E os Amores Perfeitos E as suas Chagas Tudo por Jesus foi feito. UM PRAZER PARA MIM ENTRAR NA PRIMAVERA NO JARDIM.

72

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

Ana Maria Neves Beja

DIA DO PAI Beja . 1983 / Maro / 19 - Dia do Pai

Dia 19 de Maro E um dia de luz Dia de S. Jos Pai adoptivo de Jesus

E o meu querido Pai Que me criou com carinho e amor E a minha boa Me Que tambm no est esquecida Sua esposa e fiel companheira Na sua unio me deram a vida

Abra-los hoje, quem me dera Para matar a saudade Eles j no pertencem terra Esto no Reino da Verdade.

73

Poetas Populares do Concelho de Beja 1987 /1989 joraga.net 2012

O JARDIM DE DEJA

Ana Maria Neves Beja

Este Jardim de Beja histrico e de muito valor Logo a entrada uma placa Com a sua verdura e muito florida E no meio uma esttua erguida Figura de muito valor Mendes da Maia, O LlDADOR

Empunhando uma espada E metido na armadura E a sua