poesias do 5º encontro

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Poesias Do 5º Encontro

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poro

Um inseto cavacava sem alarmeperfurando a terrasem achar escape.

Que fazer, exausto,em pas bloqueado,enlace de noiteraiz e minrio?

Eis que o labirinto(oh razo, mistrio)presto se desata:em verde, sozinha,antieuclidiana,uma orqudea forma-se

(Carlos Drummond de Andrade)

A Flor e a Nusea - Carlos Drummond de AndradePreso minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.Melancolias, mercadorias espreitam-me.Devo seguir at o enjo?Posso, sem armas, revoltar-me?Olhos sujos no relgio da torre:No, o tempo no chegou de completa justia.O tempo ainda de fezes, maus poemas, alucinaes e espera.O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.Em vo me tento explicar, os muros so surdos.Sob a pele das palavras h cifras e cdigos.O sol consola os doentes e no os renova.As coisas. Que tristes so as coisas, consideradas sem nfase.Vomitar esse tdio sobre a cidade.Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.Nenhuma carta escrita nem recebida.Todos os homens voltam para casa.Esto menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem Crimes da terra, como perdo-los?Tomei parte em muitos, outros escondi.Alguns achei belos, foram publicados.Crimes suaves, que ajudam a viver.Rao diria de erro, distribuda em casa.Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal.Por fogo em tudo, inclusive em mim.Ao menino de 1918 chamavam anarquista.Porm meu dio o melhor de mim.Com ele me salvo e dou a poucos uma esperana mnima.Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, nibus, rio de ao do trfego.Uma flor ainda desbotada ilude a polcia, rompe o asfaltoFaam completo silncio, paralisem os negcios, garanto que uma flor nasceu.Sua cor no se percebe. Suas ptalas no se abrem.Seu nome no est nos livros. feia.Mas realmente uma flor.Sento-me no cho da capital do pas s cinco horas da tarde e lentamente passo a mo nessa forma insegura.Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pnico. feia.Mas uma flor.Furou o asfalto, o tdio, o nojo e o dio.

(Carlos Drummond de Andrade)

O ElefanteCarlos Drummond de AndradeFabrico um elefantede meus poucos recursos.Um tanto de madeiratirado a velhos mveistalvez lhe d apoio.E o encho de algodo,de paina, de doura.A cola vai fixarsuas orelhas pensas.A tromba se enovela, a parte mais felizde sua arquitetura.

Mas h tambm as presas,dessa matria puraque no sei figurar.To alva essa riquezaa espojar-se nos circossem perda ou corrupo.E h por fim os olhos,onde se depositaa parte do elefantemais fluida e permanente,alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefantepronto para sair procura de amigosnum mundo enfastiadoque j no cr em bichose duvida das coisas.Ei-lo, massa imponentee frgil, que se abanae move lentamentea pele costuradaonde h flores de panoe nuvens, alusesa um mundo mais poticoonde o amor reagrupaas formas naturais.

Vai o meu elefantepela rua povoada,mas no o querem vernem mesmo para rirda cauda que ameaadeix-lo ir sozinho.

todo graa, emboraas pernas no ajudeme seu ventre balofose arrisque a desabarao mais leve empurro.Mostra com elegnciasua mnima vida,e no h cidadealma que se disponhaa recolher em sidesse corpo sensvela fugitiva imagem,o passo desastradomas faminto e tocante.

Mas faminto de serese situaes patticas,de encontros ao luarno mais profundo oceano,sob a raiz das rvoresou no seio das conchas,de luzes que no cegame brilham atravsdos troncos mais espessos.Esse passo que vaisem esmagar as plantasno campo de batalha, procura de stios,segredos, episdiosno contados em livro,de que apenas o vento,as folhas, a formigareconhecem o talhe,mas que os homens ignoram,pois s ousam mostrar-sesob a paz das cortinas plpebra cerrada.

E j tarde da noitevolta meu elefante,mas volta fatigado,as patas vacilantesse desmancham no p.Ele no encontrouo de que carecia,o de que carecemos,eu e meu elefante,em que amo disfarar-me.Exausto de pesquisa,caiu-lhe o vasto engenhocomo simples papel.A cola se dissolvee todo o seu contedode perdo, de carcia,de pluma, de algodo,jorra sobre o tapete,qual mito desmontado.Amanh recomeo.

Carlos Drummond de Andrade(Em A Rosa do Povo)