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IV Edição dos Jogos Florais de Setúbal 2011
Modalidade: Poesia Livre
1º Prémio
O Pesadelo da ignorância
Pseudónimo: ANALFABETO
Autor: MARIA AMÉLIA BRANDÃO DE AZEVEDO
Estoril
I
Não fui criança d’escola,
Tive o campo como amigo
Levava a enxada comigo
E uma broa na sacola…
Ganhei sonhos como esmola
Quando os pássaros ouvi
E a natureza entendi…
Com vida dura mas calma
Modelei a minha alma!...
Cultura não conheci.
II
Foi com sol no coração
Ou lágrimas, ao chover,
Que melhorei meu saber:
Deitei sementes ao chão
P’ra ver crescer o meu pão!
Os livros, p’ra ser letrado,
Passaram-me sempre ao lado…
Mas no meu peito sentia
Desabrochar a poesia,
Muito embora maltratado.
III
Quando a pobreza era tal…
Fiz uma flauta em segredo,
Para servir de brinquedo…
Mas, foi com ela, afinal
Que a riqueza musical
Pela vida transmiti
Com todos os sons que ouvi!...
Nada aprendi com valor,
Somente com meu suor
O patrão enriqueci!
IV
Nesta vida de flagelo, Sem leitura
nem escrita,
Quase ninguém acredita
Quanto amor sinto p’lo belo!
A ignorância é um pesadelo
P’ra quem tiver esse fado…
Com a Natureza ao lado
Sou um poeta do povo!
Mas nada ganhei de novo
Senão ter sido explorado!
IV Edição dos Jogos Florais de Setúbal 2011
Modalidade: Poesia Livre
2º Prémio
Poemas em cinzas
As poesias mais ousadas,
Roubadas ao pensamento,
Arderam na noite fria
Quando adeus eu te dizia
E o vento entrou de repente.
Sobre a minha escrivaninha
Piscava a chama das velas;
Tão bruscamente as tocou
Que o fogo se propagou
E nunca mais pude lê-las.
Os recortes mais diversos,
De agridoce sabor,
Estão em cinzas sepultados,
Já não serão divulgados,
Os contos do nosso amor.
Pseudónimo: MARIA PAPOILA
Autor: MARIA DE LOURDES CUNHA PITA BRANCO ANTUNES
Setúbal
IV Edição dos Jogos Florais de Setúbal 2011
Modalidade: Poesia Livre
3º Prémio
A crise
A crise de que falam os jornais
Não é só, como dizem, financeira,
Que o Homem há-de achar sempre maneira
De juntar e de ter cada vez mais.
A crise vem de tempos ancestrais…
A da identidade é a primeira,
Não ter a consciência verdadeira
De valores que são essenciais.
Sabedoria, Amor, Honestidade,
Justiça que convença, verdadeira,
Que os tenha sempre à mão, à sua beira,
São pilares da sua identidade.
E se ele os não endente, nem descobre,
Se tratar só de encher o mealheiro,
Ainda que possua o mundo inteiro
Será, como foi sempre, muito pobre.
Pseudónimo: PTOLOMEU
Autor: JOSÉ ANTÓNIO PALMA RODRIGUES
Aljubarrota
IV Edição dos Jogos Florais de Setúbal 2011
Modalidade: Poesia Livre
Menção Honrosa
Inatingível
Quero ter asas! Mas não tenho…
Quero correr o Universo,
Quero viajar como o vento
Quero ser cavaleiro andante.
Mas sou mármore, mas sou bronze,
Estátua imota, mas pensante!
Ignorando desejo veemente,
Fico amorfa e indiferente,
No meu mundo de sossegos,
Tecendo em teares de versos
Meus anseios e meus medos…
Pseudónimo: LAVANDA
Autor: MARIA ELVIRA PRONTO
Setúbal