poemas de folhas caídas, de almeida garrett

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8/18/2019 Poemas de Folhas Caídas, De Almeida Garrett http://slidepdf.com/reader/full/poemas-de-folhas-caidas-de-almeida-garrett 1/3 Universidade Regional do Cariri – URCA Unidade Descentralizada de Campos Sales Curso de Letras Disciplina: Literatura Portuguesa II Professor: William Craveiro Poemas de Folhas Caídas de Almeida !arrett Ignoto Deo D.D.D. Creio em ti, Deus: a fé viva De minha alma a ti se eleva. És - o que és não sei. Deriva Meu ser do teu: luz... e treva, Em que - indistintas! - se envolve Este esprito aitado, De ti vem, a ti devolve. " #ada, a que foi rou$ado %elo sopro &riador  'udo o mais, o h(-de traar. )* vive de eterno ardor " que est( sempre a aspirar +o innito donde veio. eleza és tu, luz és tu, erdade és tu s*. #ão &reio )enão em ti/ o olho nu. Do homem não v0 na terra Mais que a d1vida, a in&erteza, + forma que enana e erra. Ess0n&ia!, a real $eleza, " puro amor - o prazer 2ue não fatia e não asta... )* por ti os pode ver " que inspirado se afasta, 3noto Deus, das ron&eiras, ulares tur$as: despidos Das &oisas vãs e rosseiras )ua alma, razão, sentidos, + ti se dão, em ti vida, E por ti vida t0m. Eu, &onsarado + teu altar, me prosto e a &om$atida E4ist0n&ia aqui ponho, aqui votado 5i&a este livro - &onssão sin&era Da alma que a ti voou e em ti s* 6spera. Adeus" +deus!, para sempre adeus!, ai-te, oh!, vai-te, que nesta hora )into a 7usti8a dos Céus Esmaar-me a alma que &hora. Choro porque não te amei, Choro o amor que me tiveste/ " que eu per&o, $em no sei, Mas tu... tu nada perdeste: 2ue este mau &ora8ão meu #os se&retos es&aninhos  'em venenos tão daninhos 2ue o seu poder s* sei eu. "h!, vai... para sempre adeus! ai, que h( 7usti8a nos Céus. )into erar na pe8onha Do ul&erado &ora8ão Essa v$ora medonha 2ue por seu fatal &ondão 9(-de ras(-lo ao nas&er: 9(-de, sim, ser(s vinada, E o meu &astio h(-de ser Ci1me de ver-te amada, emorso de te perder. ai-te, oh!, vai-te, lone, em$ora, 2ue sou eu &apaz aora De te amar - +i!, se eu te amasse! 0 se no (rido praal Deste peito se ateasse De amor o in&0ndio fatal! Mais nero e feio no 3nferno #ão &hame7a o foo eterno. 2ue sim; 2ue antes isso; - +i, triste! #ão sa$es o que pediste. #ão te $astou suportar o &epo-rei/ impa&iente  'u ousas a deus tentar %edindo-lhe o rei-serpente! E &uidas amar-me ainda; Enanas-te: é morta, é nda, Dissipada é a ilusão. Do meio azul de teus olhos  'anta l(rima verteste,  'anto esse orvalho &eleste Derramado o viste em vão #esta seara de a$rolhos, 2ue a fonte se&ou. +ora +mar(s... sim, h(s-de amar, +mar deves... Muito em$ora... "h!, mas noutro h(s-de sonhar "s sonhos de oiro en&antados 2ue o mundo &hamou amores. E eu répro$o... eu se o verei; )e em meus olhos en&ovados Der a luz de teus ardores... )e &om ela &earei; )e o nada dessas mentiras Me entrar pelo vão da vida... )e, ao ver que feliz deliras,  'am$ém eu sonhar ...%erdida, %erdida ser(s - perdida. "h!, vai-te, vai, lone, em$ora! 2ue te lem$re sempre e aora 2ue não te amei nun&a... ai!, não: E que pude a sanue-frio, Covarde, infame, vilão, <ozar-te - mentir sem $rio, )em alma, sem d*, sem pe7o, Cometendo em &ada $ei7o =m &rime... +i!, triste, não &hores, #ão &hores, an7o do Céu, 2ue o desonrado sou eu. %erdoar-me, tu;... #ão mere8o. + imundo &erdo voraz Essas pérolas de pre8o #ão as deites: é &apaz De as desprezar na torpeza De sua $ruta natureza. 3rada, te h(-de admirar, Despeitosa, respeitar, Mas indulente... "h!, o perdão É perdido no vilão, 2ue de ti h(-de zom$ar. ai, vai... para sempre adeus! %ara sempre aos olhos meus )umido se7a o &larão De tua divina estrela. 5altam-me olhos e razão %ara a ver, para entend0-la: +lta est( no rmamento De mais, e de mais é $ela %ara o $ai4o pensamento Com que em m( hora a tei/ 5also e vil o en&antamento Com que a luz lhe fas&inei. 2ue volte a sua $eleza Do azul do &éu > pureza, E que a mim me dei4e aqui #as trevas em que nas&i,  'revas neras, densas, feias, Como é nero este alei7ão Donde me vem sanue >s veias, Este que foi &ora8ão, Este que amar-te não sa$e %orque é s* terra - e não &a$e #ele uma ideia dos Céus ... "h!, vai, vai/ dei4a-me adeus! A#uela noite" Era a noite da lou&ura, Da sedu8ão, do prazer, 2ue em sua mantilha es&ura Costuma tanta ventura,  'antas l*rias es&onder. "s felizes... e ai!, são tantos... Eu, por tantos os &ontava! Eu, que o sinal de meus prantos Do a?ito rosto lavava - "s felizes presun8osos 3am nos &o&hes ruidosos Correndo aos sal@es doirados De mil foos alumiados, Donde em torrentes saa + &lamorosa harmonia 2ue > festa, ao prazer tania. Eu sentia esse rudo Como o &onfuso $ramar De um mar ao lone movido 2ue > praia vem re$entar: E disse &omio: Aamos, "s lutos dBalma dispamos, festa hei-de ir tam$ém eu! E fui: e a noite era $ela, Mas não vi a minha estrela 2ue eu sempre via no &éu: Co$riu-a de espesso véu +luma nuvem a ela, "u era que 7( vendado Me levava o nero fado

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8/18/2019 Poemas de Folhas Caídas, De Almeida Garrett

http://slidepdf.com/reader/full/poemas-de-folhas-caidas-de-almeida-garrett 1/3

Universidade Regional do Cariri – URCAUnidade Descentralizada de Campos SalesCurso de LetrasDisciplina: Literatura Portuguesa IIProfessor: William Craveiro

Poemas de Folhas Caídas de Almeida !arrett

Ignoto Deo

D.D.D.

Creio em ti, Deus: a fé vivaDe minha alma a ti se eleva.És - o que és não sei. DerivaMeu ser do teu: luz... e treva,Em que - indistintas! - se envolveEste esprito aitado,De ti vem, a ti devolve." #ada, a que foi rou$ado%elo sopro &riador

 'udo o mais, o h(-de traar.)* vive de eterno ardor" que est( sempre a aspirar+o innito donde veio.eleza és tu, luz és tu,erdade és tu s*. #ão &reio)enão em ti/ o olho nu.Do homem não v0 na terraMais que a d1vida, a in&erteza,+ forma que enana e erra.Ess0n&ia!, a real $eleza," puro amor - o prazer2ue não fatia e não asta...)* por ti os pode ver

" que inspirado se afasta,3noto Deus, das ron&eiras,ulares tur$as: despidosDas &oisas vãs e rosseiras)ua alma, razão, sentidos,+ ti se dão, em ti vida,E por ti vida t0m. Eu, &onsarado+ teu altar, me prosto e a&om$atidaE4ist0n&ia aqui ponho, aqui votado5i&a este livro - &onssão sin&eraDa alma que a ti voou e em ti s*6spera.

Adeus"

+deus!, para sempre adeus!,ai-te, oh!, vai-te, que nesta hora)into a 7usti8a dos CéusEsmaar-me a alma que &hora.Choro porque não te amei,Choro o amor que me tiveste/" que eu per&o, $em no sei,Mas tu... tu nada perdeste:2ue este mau &ora8ão meu#os se&retos es&aninhos

 'em venenos tão daninhos2ue o seu poder s* sei eu.

"h!, vai... para sempre adeus!ai, que h( 7usti8a nos Céus.)into erar na pe8onhaDo ul&erado &ora8ãoEssa v$ora medonha2ue por seu fatal &ondão

9(-de ras(-lo ao nas&er:9(-de, sim, ser(s vinada,E o meu &astio h(-de serCi1me de ver-te amada,emorso de te perder.ai-te, oh!, vai-te, lone, em$ora,2ue sou eu &apaz aoraDe te amar - +i!, se eu te amasse!0 se no (rido praalDeste peito se ateasseDe amor o in&0ndio fatal!Mais nero e feio no 3nferno#ão &hame7a o foo eterno.

2ue sim; 2ue antes isso; - +i,triste!#ão sa$es o que pediste.#ão te $astou suportaro &epo-rei/ impa&iente

 'u ousas a deus tentar%edindo-lhe o rei-serpente!E &uidas amar-me ainda;Enanas-te: é morta, é nda,Dissipada é a ilusão.Do meio azul de teus olhos

 'anta l(rima verteste, 'anto esse orvalho &elesteDerramado o viste em vão

#esta seara de a$rolhos,2ue a fonte se&ou. +ora+mar(s... sim, h(s-de amar,+mar deves... Muito em$ora..."h!, mas noutro h(s-de sonhar"s sonhos de oiro en&antados2ue o mundo &hamou amores.E eu répro$o... eu se o verei;)e em meus olhos en&ovadosDer a luz de teus ardores...)e &om ela &earei;)e o nada dessas mentirasMe entrar pelo vão da vida...)e, ao ver que feliz deliras,

 'am$ém eu sonhar ...%erdida,%erdida ser(s - perdida."h!, vai-te, vai, lone, em$ora!2ue te lem$re sempre e aora2ue não te amei nun&a... ai!, não:E que pude a sanue-frio,Covarde, infame, vilão,<ozar-te - mentir sem $rio,)em alma, sem d*, sem pe7o,Cometendo em &ada $ei7o=m &rime... +i!, triste, não &hores,#ão &hores, an7o do Céu,2ue o desonrado sou eu.%erdoar-me, tu;... #ão mere8o.

+ imundo &erdo vorazEssas pérolas de pre8o#ão as deites: é &apazDe as desprezar na torpezaDe sua $ruta natureza.3rada, te h(-de admirar,

Despeitosa, respeitar,Mas indulente... "h!, o perdãoÉ perdido no vilão,2ue de ti h(-de zom$ar.ai, vai... para sempre adeus!%ara sempre aos olhos meus)umido se7a o &larãoDe tua divina estrela.5altam-me olhos e razão%ara a ver, para entend0-la:+lta est( no rmamentoDe mais, e de mais é $ela%ara o $ai4o pensamento

Com que em m( hora a tei/5also e vil o en&antamentoCom que a luz lhe fas&inei.2ue volte a sua $elezaDo azul do &éu > pureza,E que a mim me dei4e aqui#as trevas em que nas&i,

 'revas neras, densas, feias,Como é nero este alei7ãoDonde me vem sanue >s veias,Este que foi &ora8ão,Este que amar-te não sa$e%orque é s* terra - e não &a$e#ele uma ideia dos Céus ...

"h!, vai, vai/ dei4a-me adeus!

A#uela noite"

Era a noite da lou&ura,Da sedu8ão, do prazer,2ue em sua mantilha es&uraCostuma tanta ventura,

 'antas l*rias es&onder."s felizes... e ai!, são tantos...Eu, por tantos os &ontava!Eu, que o sinal de meus prantosDo a?ito rosto lavava -"s felizes presun8osos

3am nos &o&hes ruidososCorrendo aos sal@es doiradosDe mil foos alumiados,Donde em torrentes saa+ &lamorosa harmonia2ue > festa, ao prazer tania.Eu sentia esse rudoComo o &onfuso $ramarDe um mar ao lone movido2ue > praia vem re$entar:E disse &omio: Aamos,"s lutos dBalma dispamos, festa hei-de ir tam$ém eu!E fui: e a noite era $ela,

Mas não vi a minha estrela2ue eu sempre via no &éu:Co$riu-a de espesso véu+luma nuvem a ela,"u era que 7( vendadoMe levava o nero fado

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"nde a vida me perdeu;5ui/ meu rosto ma&erado,+ funda melan&olia2ue todo o meu ser revia,2ual o ata1de levado+ ep&io festim, dizia:AComo v*s fui eu tam$ém/5olai, que a morte a vem!Dizia-o, sim, meu sem$lante,2ue, onde eu &heava, o prazerCessava no mesmo instante/E o l($io, que ia a dizerDo8uras de amor, elava/E o riso, que ia a nas&er#a fa&e linda, e4pirava.Era eu - e a morte em mim,2ue s* ela espanta assim!2uantas mulheres tão $elasÉ$rias de amor e dese7os,2uantas vi saltar-lhe os $ei7osDa $o&a ardente e las&iva!E eu, que ia &hear-me a elas...%ara loo a fronte esquivaDe re&atos se envolvia

E, toda pudor, tremia.2uantas o seio anelante,#u, ardente e palpitante+ndavam &omo entreando &o$i8a mal desperta,<asta 7( e desdenhosa,Dos que as estavam mirandoCom vaa luneta in&erta2ue diz: A+quela é formosa,#ão se me dava de a ter.E esta; É s* $aronesa,ale menos que a duquesa:#ão sei a qual atender.E a isto &hamam prazer!

+ rande ventura é esta;ale a pena vir > festaE vale a pena viver.Como então quis > tristuraDo meu viver isolado!5ique-se em$ora a ventura,2ue eu quero ser desra8ado.evantei alto a &a$e8a,)enti-me &res&er - e a frenteDesanuviar-se &ontenteDo feio nerume espesso2ue assustava aquela ente.oo os sorrisos &aram%ara o meu lado tam$ém/

 F( &omo um dos seus me viam,2ue em mim não viam ninuém.Eu, de olhos desen&antados,+ elas, &omo as eu via!Meus entusiasmos passados,"h!, &omo deles me ria!5rio o sar&asmo saaDe meus l($ios des&orados,E sem d* e sem pudor+ todas falei de amor...Do amor $ruto, deradante,2ue no seio palpitante,#a esp(dua nua se a&ende...+mor las&ivo que ofende,

2ue faz &orar... elas riamE oh, que não, não se ofendiam!Mas o orquestra $radou alta:A5esta, festa!, e salta, salta!os seus uizos delirantes)a&ode lou&a a 5olia...

+deus, reque$ros de amantes!)uspiros, quem nos ouvia;+s palavras meias ditas,Meias nos olhos es&ritas,oavam todas perdidasDispersas, rotas no ar/2ue se foram almas, vidas,

 'udo se foi a valsar.2uem é esta que mais voltas<ira, ira sem &essar;Como as roupas leves, soltas,+éreas leva a ondularEm torno > forma ra&iosa,

 'ão ?e4vel, tão airosa, 'ão na! - +ora parou,E tranquila se assentou.2ue rosto! Em linhas severas)e lhe desenha o prol/E a &a$e8a, tão entil,Como se fora deveras+ rainha dessa ente,Como a levanta insolente!ive Deus!, que é ela... aquela,+ que eu vi na tal 7anela,

E que triste me sorria2uando passando me via

 'ão pasmado a olhar para ela.+ mesma melan&olia#os olhos tristes - de luz"$lqua, viva mas fria/+ mesma alta inteli0n&ia2ue da fa&e lhe transluz/E a mesma altiva impa&i0n&ia2ue de tudo, tudo &ansa,De tudo o que foi, que é,E na erma vida s* v0" raio da vaa espBran8a.A%ois isto sim, que é mulher,

Disse eu - Ae aqui h( que ver. F( vinha a p(lida aurora+nun&iando a manhã fria,E eu falava e eu ouvia" que até >quela hora#un&a disse, nun&a ouvi...

 'oda a mem*ria perdiDas palavras proferidas...#ão eram destas sa$idas,#em quais eram não no sei ...)ei que a vida era outra em mim,2ue era outro ser o meu ser,2ue uma alma nova me a&hei2ue eu $em sa$ia não ter.

E da; - Da, a hist*ria#ão dei4ou outra mem*riaDessa noite de lou&ura,De sedu8ão, de prazer...2ue os seredos da ventura#ão são para se dizer.

$ An%o ca&do

Era um an7o de Deus2ue se perdera dos CéusE terra a terra voava.+ seta que lhe a&ertava%artira de ar&o traidor,

%orque as penas que levava#ão eram penas de amor." an7o &aiu ferido,E se viu aos pés rendidoDo tirano &a8ador.De asa morta e sem 6splendor

" triste, pererinando%or estes vales de dor,+ndou emendo e &horando.i-o eu, o an7o dos Céus," a$andonado de Deus,i-o, nessa tropelia2ue o mundo &hama aleria,i-o a ta8a do prazer%Gr ao l($io que tremia...E s* l(rimas $e$er.#inuém mais na 'erra o via,Era eu s* que o &onhe&ia...Eu que 7( não posso amar!2uem no havia de salvar;Eu, que numa sepulturaMe fora vivo enterrar;ou&ura! ai, &ea lou&ura!Mas entre os an7os dos Céus5altava um an7o ao seu Deus/E remi-lo e resat(-loDaquela infHmia salv(-lo)* for8a de amor podia.2uem desse amor h(-de am(-lo,)e ninuém o &onhe&ia;

Eu s*. - E eu morto, eu des&rido,Eu tive o arro7o atrevidoDe amar um an7o sem luz.Cravei-a eu nessa &ruzMinha alma que renas&ia,2ue toda em sua alma pus.E o meu ser se dividia,%orque ela outra alma não tinha,"utra alma senão a minha...

 'arde, ai!, tarde o &onhe&i,%orque eu o meu ser perdi,E ele > vida não volveu...Mas da morte que eu morri

 'am$ém o infeliz morreu.

$ 'l(um

Minha F1lia, um &onselho de amio/Dei4a em $ran&o este livro entil:=ma s* das mem*rias da vidaale a pena uardar, entre mil.E essa nBalma em sil0n&io ravada%elas mãos do mistério h(-de ser/2ue não tem lnua humanapalavras,#ão tem letra que a possa es&rever.%or mais $elo e variado que se7aDe uma vida o te&ido matiz,

=m s* o da tela $ordada,=m s* o h(-de ser o feliz. 'udo o mais é ilusão, é mentira,rilho falso que um tempo seduz,2ue se apaa, que morre, que énada2uando o sol verdadeiro reluz.De que serve uardar monumentosDos enanos que a espBran8afor7ou;ãos re?e4os de um sol quetardava"u vãs som$ras de um sol quepassou!

Cr0-me, F1lia: mil vezes na vidaEu &oa minha ventura sonhei/E uma s*, dentre tantas, o 7uro,=ma s* &om verdade a en&ontrei.Essa entrou-me pela alma tãorme,

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 'ão seura por dentro a fe&hou,2ue o passado fuiu da mem*ria,Do porvir nem dese7o &ou.

 'oma pois, F1lia $ela, o &onselho:Dei4a em $ran&o este livro entil,2ue as mem*rias da vida são nada,E uma s* se &onserva entre mil.

)ste inferno de amar

Este inferno de amar - &omo euamo! -2uem mo pGs aqui nBalma ... quemfoi;Esta &hama que alenta e &onsome,2ue é a vida - e que a vida destr*i -Como é que se veio a atear,2uando - ai quando se h(-de elaapaar;Eu não sei, não me lem$ra: opassado,+ outra vida que dantes viviEra um sonho talvez... - foi umsonho -

Em que paz tão serena a dormi!"h!, que do&e era aquele sonhar ...2uem me veio, ai de mim!,despertar;)* me lem$ra que um dia formosoEu passei... dava o )ol tanta luz!E os meus olhos, que vaosiravam,Em seus olhos ardentes os pus.2ue fez ela;, eu que z; - #ão nosei/Mas nessa hora a viver &ome&ei ...

*arca *ela

%es&ador da $ar&a $ela,"nde vais pes&ar &om ela.2ue é tão $ela,

"h pes&ador;#ão v0s que a 1ltima estrela#o &éu nu$lado se vela;Colhe a vela,"h pes&ador!Deita o lan8o &om &autela,2ue a sereia &anta $ela...Mas &autela,"h pes&ador!#ão se enrede a rede nela,2ue perdido é remo e vela,)* de v0-la,"h pes&ador.%es&ador da $ar&a $ela,3nda é tempo, foe dela5oe dela"h pes&ador!

Cinco Sentidos

)ão $elas I $em o sei, essasestrelas,Mil &ores I divinais t0m essas

?ores/Mas eu não tenho, amor, olhos paraelas,Em toda a natureza#ão ve7o outra $eleza)enão a ti I a ti!

Divina I ai! sim, ser( a voz queana)audosa I na ramaem densa,um$rosa.)er(/ mas eu do rou4inol que trina#ão oi8o a melodia,#em sinto outra harmonia

)enão a ti I a ti!

espira I nJ aura que entre as ?oresira,

Celeste I in&enso de perfumeareste.)ei... não sinto, minha alma nãoaspira,#ão per&e$e, não toma)enão o do&e aroma2ue vem de ti I de ti!

5ormosos I são os pomossa$orosos,É um mimo I de né&tar o ra&imo:E eu tenho fome e sede...sequiosos,5amintos meus dese7osEstão... mas é de $ei7os,É s* de ti I de ti!

Ma&ia I deve a relva luzidiaDo leito I ser por &erto em que medeito.Mas quem, ao pé de ti, quempoderia)entir outras &ar&ias,

 'o&ar noutras del&ias

)enão em ti I em ti!

+ ti! ai, a ti s* os meus sentidos, 'odos num &onfundidos,)entem, ouvem, respiram/Em ti, por ti deliram.Em ti a minha sorte,+ minha vida em ti/E quando venha a morte,)er( morrer por ti.