poemas a che guevara

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O nascedor Por que será que o Che Tem este perigoso costume De seguir sempre renascendo? Quanto mais o insultam, O manipulam O atraiçoam Mais ele renasce. Ele é o mais renascedor de todos! Não será por que Che Dizia o que pensava e fazia o que dizia? Não será por isso que segue sendo tão extraordinário, Num mundo onde palavras e actos tão raramente se encontram? E quando se encontram raramente se saúdam Por que não se reconhecem? De Eduardo Galeno (Uruguai) O Eterno! Venho trazer-te um recado do teu povo que é o meu povo: Diz o povo Che Guevara que é mentira, não estás morto. Tua presença firme e clara como estrela refulgente segue alerta e combatente comandante Che Guevara. Homens como tu não morrem Nem na história nem no tempo. como haveriam de morrer os homens que são eternos Tua presença firme e clara como estrela refulgente segue alerta e combatente comandante Che Guevara.

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Alguns Poemas de intervenção em homenagem a Che Guevara

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Page 1: Poemas a Che Guevara

O nascedor

Por que será que o CheTem este perigoso costumeDe seguir sempre renascendo?Quanto mais o insultam,O manipulamO atraiçoamMais ele renasce.Ele é o mais renascedor de todos!Não será por que CheDizia o que pensava e fazia o quedizia?Não será por isso que segue sendotão extraordinário,Num mundo onde palavrase actos tão raramente se encontram?E quando se encontramraramente se saúdamPor que não se reconhecem?

De Eduardo Galeno (Uruguai) 

O Eterno!

Venho trazer-te um recadodo teu povo que é o meu povo:Diz o povo Che Guevara que é mentira, não estás morto.

Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.

Homens como tu não morremNem na história nem no tempo.como haveriam de morreros homens que são eternos

Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.

Diz o povo comandanteque segue a voz de açode tua espingarda acesa

Page 2: Poemas a Che Guevara

pelo continente inteiro.

Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.

Diz o povo comandanteque está firme em seu postoteu coração legendárioguerreou o guerrilheiro.

Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.

Como foste mais que um homemcomo foste luz e exemploviverás eternamenteno coração do povo.

De Carlos Publea

ATÉ SEMPRE “HASTA   SIEMPRE"

Aprendemos a querer-tedesde a histórica alturaonde o sol da tua bravuraencurralou a morte.

Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara.

Tua mão gloriosa e fortesobre a história disparaquando toda Santa Clarase desperta para ver-te.

Page 3: Poemas a Che Guevara

Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara

Vens queimando a brisacom sóis de Primaverapara plantar a bandeiracom a luz do teu sorriso.

Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara.

Teu amor revolucionáriote conduz a nova empresaonde esperam a firmezade teu braço libertário.

Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara.

Seguiremos adiantecomo junto a ti seguimose com Fidel te dizemos:"Até sempre, Comandante!"

De Carlos Puebla

CHE GUEVARA

O látego do carrascoDeixou a mostra as veias abertasDe uma América sem líderes,Cheia de ditadores patéticosE de déspotas obtusos,Promíscuos em suas salas de mármore.

Há os que iludem com discursosE os que mentem sem palavras –Apoderam-se de mecanismos de torturaPara espalhar o pânico e o terror.

A América se ergue com a sua mão direitaQue, ensanguentada, deixa-se extinguir,Cambaleante cai sobre a perna esquerda,Em repetidos golpes...

Page 4: Poemas a Che Guevara

O guerrilheiro está morto!Seu idealismo se tornou sonho,O sonho transcreveu sua lenda,A lenda transformou-se em eternidade.

A América de Guevara se perpetua,Em sua eterna buscaPelos verdadeiros líderes,Por sua total e plena liberdade

Do livro (O Anjo e a Tempestade), de Agamenon Troyan

Embalos

Desperta meu menino, que vem Guevaraos olhos ardentes, florida a barba.Desperta meu menino, que já chega o Chedizem é muito mau, eu não sei porquê.Desperta meu menino, que se aproxima Ernestogritando para os pobres: este mundo é nosso.Desperta meu menino, que está connosco um pastor do povo que espanta os lobos.Dorme meu menino, que é melhor não ver o que aqueles lobos fizeram com ele.

Letra: Víctor Manuel ArbeloaMúsica: Luís Pastor

Che Guevara

Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí,E o Prata, de margens verdejantes, corresse pelo marPara se juntar à embocadura cheia de amor do Cauto.

Assim Guevara, gaúcho de voz forte, agiu para dedicarSeu sangue guerrilheiro a Fidel,E sua mão larga teve mais espírito de camaradagemQuando nossa noite era mais negro, mais escura.

A morte recuou. De suas sombras impuras,Do punhal, do veneno e das feras,Só restam lembranças selvagens.

Fundida dos dois, uma única alma brilha,Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí.

(Poema de Nicolás Guillén, o mais destacado poeta cubano vivo na época da revolução)

Page 5: Poemas a Che Guevara

OUTUBRO

Em Outubro se nasce e se morreNa senda da palavra LiberdadeEm Outubro e em qualquer idadeNão importa o mês, só que se morre…

E era Outubro, era a hora certaDa sede de sangue, de vingançaDe acabar um sonho ‘inda criança:Era Outubro e era hora certa;

E foi de morte o mês; Outubro dorE foi de dor o mês, Outubro morteE foi Outubro o tempo derradeiro…

E dando ao mundo a vida e o amorOutubro selou a tua sorteE fez eterno o sonho guerrilheiro!…

Che 

Eu tive um irmão Não nos vimos nunca mas não importava. 

Eu tive um irmão que andava na selva enquanto eu dormia. 

O amei ao meu modo, lhe tomei a voz livre como a água, caminhei às vezes perto de sua sombra. meu irmão desperto enquanto eu dormia. 

Meu irmão mostrando-me por detrás da noite a sua estrela eleita. 

De Júlio Cortázar (Argentina) 

Page 6: Poemas a Che Guevara

Que pare o som

Mataram a tua carneCom uma torrente de fogoMas jamais a palavraE menos o pensamento.

Que pare um momento o somque se calem as guitarrasEm tributo de silencio por Che Guevara.Que siga o som.

Talvez tua carne humananão resistisse ao açomas nem sequer aço poderesistir ao teu exemplo.

Que pare um momento o som.Que emudeça a palavraPara escutar o grito de Che Guevara.Que siga o som.

Em Vallegrande nascesteainda que te digam morto.Só assim nascem os homenspara a história e o tempo.

Que pare um momento o sompara enxugar uma lágrima.Uma lágrima de pólvora por Che Guevara.Que pare o som.

Letra e música: Carlos Puebla

Um nome

Quando se fale do valor estóicoda vida cabal, profunda e clarasem mencionar o guerrilheiro heróicoEstaremos dizendo Che Guevara.

Quando se fale da luz criadoracuja força imortal a noite aclaraaté torná-la numa nova auroraestaremos dizendo Che Guevara.

Page 7: Poemas a Che Guevara

Quando se fale dos decididosdos que saem a mostrar a carapela miséria dos oprimidosestaremos dizendo Che Guevara.

Quando se fale do dever profundoda luta exemplar que nunca párapor conseguir o pão de toda genteestaremos dizendo Che Guevara.

Quando se fale do grito maiorda voz que mais alto se fez ouvirsem pronunciar o nome tão queridoestaremos dizendo Che Guevara.

Letra e música: Carlos Puebla

ZAMBA AO CHE

Venho cantando esta zambacom um rufar libertário,mataram o guerrilheiroChe comandante Guevara.Selvas, pampas e montanhaspátria ou morte o seu destino.

Que os direitos humanosviolam-nos em qualquer ladona América Latinadesde domingo até sábado

Impõem-nos militarespara subjugar os povosditadores, assassinos,gorilas e generais.

Exploram o camponêso mineiro e o operário,quanta dor o seu destino,fome, miséria e dor.

Bolívar lhe deu o caminhoe Guevara o seguiu:libertar nosso povodo domínio explorador.

Page 8: Poemas a Che Guevara

A Cuba lhe deu glóriade ser nação libertada.Bolívia também chorasua vida sacrificada.

Santo Ernesto de La Higueralhe chamam os camponeses,selvas, pampas e montanhas,pátria ou morte o seu destino.

 De Víctor Jara

Ai, Che caminho

Eu sou um homem nascidoAlém na pampa longínquaMas o meu sonho queridoÉ a pátria americana

Não tenho terra nem casaNão tenho nome nem idadeSou como o vento que passaUm vento de liberdade

Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.

Amanhã quando eu morrerOuçam-me queridos irmãosQuero uma América inteiraCom a espingarda na mão.

Não quero estátuas, nem honrasNão quero versos, nem prantosLancem as flores ao ventoE Pátria ou morte é o meu canto.

Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.

Letra e música: Alfredo de Robertis

Page 9: Poemas a Che Guevara

Até à vitória

Eu sou RamónAquele que rompe as cadeias.Escopro solarA féQue acende as fogueiras.

Clamor fundamentalA voz da justiçao que à brisa suavetransforma em vendaval.

Eu sou Ramónaquele que vive mais além.Que trema o verdugo opressor,abutre insaciável do mal.Depois da morte eu sou Ramónaté à vitória final.

Eu sou Ramón,aquela luz do oprimido.A carne, o sangue e a peledo homem redimido.

Eu sou o leão que vaipassando na montanha,por montes e valadosrugindo liberdade.Eu sou Ramón,aquele que nunca morrerá.Que trema o verdugo opressor,abutre insaciável do mal.Depois da morte eu sou Ramónaté à vitória final.

Letra e música: Aníbal Zampayo

Nada mais

Em tendo rancho e cavaloé mais leve o meu penarSe tudo aquilo que tive só restam recordações.Nada mais… Nada mais…

Não tenho contas com Deus.Minhas contas são com os homens.Eu rezo na planície abertae me faço leão no monteNada mais… Nada mais…

Page 10: Poemas a Che Guevara

Gosto de olhar o homemplantado sobre a terra.Como uma pedra ao alto.Como um farol na ribeira.Nada mais… Nada mais…

Alguma gente só morrepara voltar a nascer.E quem disso duvidarque o pergunte ao Che.Nada mais… Nada mais…

Letra e música: Atahualpa Yupanqui

O homem novo

Pelo caminho do homem novoCom passo firme e falar claroSoube manter a rotaDos homens do seu tempo.Ninguém poderá enterrar seu nomeSua voz será escudada para sempreRepetindo as palavrasQue a história guardouPelo caminho do homem novoComo estrela no alto brilha o seu nomeHoje que sua grandiosa e última façanhaGuarda um diário de campanha.o gesto enorme que foi a sua vidaCheia de luta, de poesiaÉ como luzes de aurorasQue iluminam novos dias.Pelo caminho do homem novoCom passo firme e falar claroSouber manter a rotaDos homens do seu tempo.

Letra e música: César Portilho de la Luz

Canção ao homem novo

Fá-lo-emos tu e eunós dois o faremostomemos a argilapara o homem novo.Seu sangue viráde todos os sanguesapagando os séculosdo medo e da fome.Por braço um fuzilpor luz o olhare junto à ideiauma bala assomada.E onde está a vozum grito escondidomilhões de ouvidosserão receptivos.Seu grito será

Page 11: Poemas a Che Guevara

de guerra e vitóriacomo um matraquearque anuncia a glória.E por coraçãoa esse homem daremoso do guerrilheiroque todos sabemos.Fá-lo-emos tu e eu.Por braço um fuzil!Nós o faremosPor luz o olhar!Tomemos a argilaé de madrugada.

Letra e música: Daniel Viglietti

Canção ao guerrilheiro heróico

Meu comandante Guevaranão há na tua cabeça uma flormas estão as metralhadorascaules de sangue e de dor.Ouçam bem os assassinosnão mataram mais um homemmataram aos que duvidamque é a hora de lutar.Ouçam bem os generaishá uma bala se solpara a obscura mentiraque têm por coração.No correr dos riosdesde o dialecto aimarápor altiplanos e selvaso guerrilheiro falará.E dirá as cem razões de vencer ou de morrer.E cada guerrilha novaFá-lo-á sentir-se viver.

Letra e música. Daniel Viglietti

Page 12: Poemas a Che Guevara

Seu nome é povo

A mortecom a sua impecável funçãode artesã do sol,que faz heróis,que faz históriae nos cede um lugar para morrer,nesta terra pelo futuro.Que exemplose converteu em trincheirada vontade,da palavra amar,da consciênciae da morte.Não há nomesdos que caem nas costas,dos que caem nos montes,do que caiu com o nachete,no mesmo lugaronde tempos atráscaíram outrosoutros sem nome.Os heróisrecordam-se sem lágrimasrecordam-se nos braçosrecordam-se na terra,e isso me faz pensarque afinal não o matarame que vivem alionde haja um homem,pronto a lutar,a continuar.

Letra e música: Eduardo Ramos

Che esperança (canção do índio livre)

Dorme, dorme, meu menino índio,Aqui vem o Comandante.Com o fumo do seu puroSemeia estrelas na noite.

Avozinha, avozinhaQuem é?

Dorme, dorme, índiozinho,Lembra-te do seu nome.Suas pegadas no caminhoSão uma flor que se abre!

Avozinha, avozinhaQuem é?

É o canto do vento,A carícia da aurora.A esperança, meu meninoChama-se Che Guevara!

Page 13: Poemas a Che Guevara

É um homem de luta e paixão,A alma da Revolução,O Homem Novo,O filho guerrilheiroQue sempre, sempre viverá na minha canção.

Letra e música: Egon Kragel

Com a adarga no braço

Apareceste na mitologia do meu amorpela mão de minha mãecom um sotaque estranho e uma boina girrasolum dia me contou que já não estavascom comoção na voz.Aprendi o teu diário e teus dotes de oradorcomo a bíblia modernae com Che Comandante e a Suite de las Américascompletei o rosário e a Avé-Maria da minha religiãoGuevara tu voltas ao caminho com a adarga no braçopintado nos pulôveres dos rapazesou vigilante desde a paredepor isso te levo na carteira como um amuletoou como a pagela caseira de um santopara que me proteja e me puxe as orelhasse algum dia mau me esqueço do Che.Teus filhos comeram do mesmo pão que eu comifomos à mesma escolaviveste com o povo e nas mesmas condiçõespor isso estás ao lado de Camiloe à esquerda de Xangô.E aos que te utilizam como tema de sermãoe fazem tudo ao contrárionão lhes permitiremos mais discursos em teu louvornem que usem teu retratose dizem o que não são.

Letra e música: Fank Delgado

Page 14: Poemas a Che Guevara

O aparecido

Abre sendas pelos cerros,deixa as pegadas no vento,a águia lhe dá o vooe a cobiça o silêncio.Nunca se queixou do frio,nunca se queixou do sono, o pobre sente o seu passoe o segue como um cego.

Corre, corre, correpor aqui, por ali, por acolácorre, corre, corre,corre que te vão matar,corre, corre, corre.

Sua cabeça é rematadapor corvos com garras de ourocomo o crucificoua fúria do poderoso.Filho da rebeldiaseguem-no dúzias e dúzias,porque oferece a sua vidaeles querem dar-lhe a morte.

Corre, corre, correpor aqui, por ali, por acolácorre, corre, corre,corre que te vão matar,corre, corre, corre.

Letra e música: Víctor Jara

São ainda os sonhos

Tu surgias desde o hemisfério sule vinhas desde antes,com o amor ao mundo bem dentro.Foi uma estrela que te pôs aquie te fez deste povo.De gratidão nasceram muitos homensque como tu,não queriam que te fossese são outros desde então.Depois de tanto tempo e tanta tempestadeseguimos para sempreeste caminho longo, longo,por onde vais.O fim do século anuncia uma velha verdade,os bons e maus temposfazem parte da realidade.Eu bem sabia que ias voltar,que ias voltar de qualquer lugar,porque a dor não matou a utopia,porque o amor é eterno

Page 15: Poemas a Che Guevara

e quem te ama não te esquece.Tu bem sabias desde aquela vezque ias crescer que ias ficar, porque a fé limpa as feridas,porque o teu espírito é humildee reencarnas nos pobres e nas suas vidas.Depois de tanto tempo e tanta tempestade…São ainda os sonhos que atraem as pessoascomo um íman que as une cada dia.Não se trata de moinhos,não se trata de um Quixote,algo suaviza a alma dos homens, uma virtude que se eleva por cimados títulos e nomes.Depois de tanto tempo e tanta tempestade…

Letra e música: Geraldo Alfonso

Guitarra em duelo maior

Soldadinho da BolíviaSoldadinho bolivianoArmado vais com teu rifleQue é um rifle americano.

To entregou um assassinoSoldadinho bolivianoOferta de Mister DólarPara matar teu irmãoSoldadinho da BolíviaPara matar teu irmão.

Não sabes quem é o mortoSoldadinho boliviano?O morto é Che GuevaraE era argentino e cubanoSoldadinho da BolíviaE era argentino e cubano.

Page 16: Poemas a Che Guevara

Ele foi teu melhor amigoSoldadinho bolivianoEle foi teu amigo, do pobreDo oriente ao altiplano.Soldadinho da BolíviaDo oriente ao altiplano.

Está minha guitarra inteiraSoldadinho bolivianoDe luto, mas não choraAinda que chorar seja humanoSoldadinho da BolíviaAinda que chorar seja humano.

Não chora porque esta horaSoldadinho bolivianoNão é de lágrimas e lencinhoMas sim de machete em punho.Soldadinho da BolíviaMas sim de machete em punho.

Com o Money que te pagaSoldadinho bolivianoQue te vendes, que te compraÉ o que pensa o tiranoSoldadinho da BolíviaÉ o que pensa o tirano.

Desperta, que já é diaSoldadinho bolivianoToda a gente se levantaPorque o sol nasceu bem cedoSoldadinho da BolíviaPorque o sol nasceu bem cedo.

Mas decerto aprenderásSoldadinho bolivianoQue um irmão não se vendeQue não se mata um irmãoSoldadinho da BolíviaQue não se mata um irmão.

Letra: Nicolás GuillénEste poema foi musicado em pelo menos duas versões distintas, respectivamente por Paco Ibáñez e Angel Parra

Se o poeta és tu

Se o poeta és tucomo disse o poeta

Page 17: Poemas a Che Guevara

e és tu quem derrubavaestrelas em noites milde chuvas coloridas.Que tenho que dizer-te comandante.Se o que mostrou seu perfil ao futuroe se fez íntimo com vozes de espingardafoste tu,guerreiro para sempretempo eterno.Que posso eu cantar-te,comandante.Em vão procuro na guitarraa tua dore no jardim já tudo é belonão há temor.Que posso eu deixar-tecomandante,que não seja trocar minha guitarra p’la tua sorte,ou negar uma canção ao sol,ou morrer sem amor.Que tenho p’ra dizer-tecomandante.Se o poeta és tu,como disse o poeta.E és tu quem derrubou estrelasem mil noitesde chuvas coloridas.Que tenho p’ra dizer-tecomandante.

Letra e música: Pablo Milanés

Seu nome ardeu como um palheiro

Como a sombra da sombraPela selva dentro entrouDias inteiros caminhouCom a espingarda e a razão.

Entra as lianas repousou,Por sobre as víboras andou,De clara pólvora se vestiuE aos pastores elucidouBuscando forças para acharA liberdade agonizanteE foi assim que tombouNa serraO famoso comandante.

Seu nome ardeu como um palheiroE a cinza se espalhou.(Um vento forte pegou nelaE levou-a pelos caminhos).

E em cada sítio da TerraOnde um pastor o velou,

Page 18: Poemas a Che Guevara

Onde um operário o leuE um estudante o escutouE um camponês o seguiuCresceu o silêncio ante o seu nome.

E é assim que volta a combaterO Che na luta dos homens.

Ele é talvez um morto maisMas o seu clarão brilhouQuando a rajada cortouO seu sangue em dois lagos iguais.

O mês de Outubro despadaçou-seComo um vulcão ou um vidro azul,A inquieta América escondeuSua fria fúria de metal,E desde a serra ao litotal,A dor abriu a flor amarga.E era um assombro o seu finalE é a batalha que se estende.

Pastor da serra: irei!Irei, Comandante, irei!Até à vitória, irei!

Letra e música: Patrício Manns

Ontem e hoje enamorado

Vagueia redonda a noitevagueia vagabunda e mudae as pombas não se juntame os pirilampos não falam.É triste o tempo dos nevõesainda que não caía nem uma geadatremendo vão os coraçõesdesamparados na fomeas ruas são leões devorando portaisdesalojando o sonhoexpulsando-o do mundo.E aí está o enamoradopedindo à esperançaque seu peito não se inundecom o pranto de seu tempo.Vagueiam as noites de Janeirovagabundas e alegresjuntam-se todas as pombasparecemos vagalumes.E aí está o enamoradocom sua lua entre os braçospedindo a esperançapara todos, para todos.E aqui está o enamorado.

Letra e música: Santiago Feliú

Page 19: Poemas a Che Guevara

América, falo-te de Ernesto

Com uma mão compridapara tocar as estrelase uma pressão de deus na pegada,passou por tua cintura,por teu avesso e direitoo tutor dos acanhados.

Preparando o milagrede caminhar sobre a águae o resto dos sonhosdas dolências da alma,veio ao romper a noiteum emissário da aurora.

E com voz tão perfeitaque não precisa de ouvidofez um cantar que soa a estampido.Em todos os idiomas o emissáriovai ver-te:em todos os idiomashá morte.Ainda que o enterrem fundo,ainda que lhe mudem a cara, ainda que falem de esperançae brilhe a mascarada,chegará o seu fantasma bem retratado nas balas.

Letra e música: Sílvio Rodrígues

Fuzil contra fuzil

O silêncio do monte vaipreparando um adeus.A palavra que se dirá in memoriamserá a explosão.

Perdeu-se o homem deste século então,seu nome e apelido são: fuzil contra fuzil.Quebrou-se a casca do vento a sule sobre a primeira cruz desperta a verdade.

Todo o mundo terceiro vaienterrar a sua dor.Com granizo de chumbo faráa sua cova de honra, sua canção.

Deixarão o corpo da vida ali,seu nome e apelido são: fuzil contra fuzil.Cantarão seu luto de homem e animale em vez de deitar lágrimas, com chumbo chorarão.Levantarão o homem da tumba ao sole seu nome repartirão: fuzil contra fuzil.

Letra e música: Sílvio Rodríguez

Page 20: Poemas a Che Guevara

Pelos Andes do mundo

Cresces imensurável em teu sanguesinal da acção e do deversobre os Andes do mundoavanças, Che, triunfal.Vences, comandante sem igualvencem, tua presença e vigorgritam com pulso de açoteu rumo, Che, tua voz.Agrupas frente a Lincoln os negrosmãos, companheira no Vietnameforja da nossa Américamais pátrias livres teu andar.Lutas com os pobres do mundolutas guerrilheiro imortal.Até à vitória semprepresente tu estarás!

Letra e música: Tânia Castellanos

Uma canção necessária

Tua pele ligada ao osso perdeu-se na terraa lágrima, o poema e a lembrançaestão lavrando sobre o fogo o canto da mortecom metralhadoras douradas a partir de ti.E aqui, a cada noite se procura em teus livroso propósito justo de toda a acçãoe abre-se a tua memória a todo aquele que renascemas nunca falta quem te eleve a um altare faça lenda a tua imagem formadorae torne impossível o sonho de alcançar-tee aprenda algumas das tuas frases de memóriapara dizer “serei como ele” sem conhecer-tee o apregoe sem pudor, sem sonho, sem amor, sem fée percam tuas palavras o sentido do respeitopara o homem que nasce coberto da tua flor.Algum poeta disse e seria o mais justo:desde hoje o nosso dever é defender-te de ser Deus.

Letra e música: Vicente Feliú

Che e Pablo Neruda

Page 21: Poemas a Che Guevara

"NÃO EXISTE EXPERIÊNCIA MAIS PROFUNDA PARA O REVOLUCIONÁRIO DE QUE O ACTO DA GUERRA"

Tristeza na morte de um herói

* Por Pablo Neruda

Nós que vivemos esta históriaesta morte e ressurreiçãode nossa esperança enlutada,os que escolhemos o combatee vimos crescer as bandeirassoubemos que os mais caladosforam os nossos únicos heróise que depois das vitóriaschegaram vociferantesa boca cheia de jactânciae de proezas salivares.

O povo moveu a cabeça;e voltou o herói ao seu silêncio

Mas o silêncio se cobriu de lutoaté afogar-nos nesse lutoquando morria nas montanhaso fogo ilustre de Guevara

O comandante terminouassassinado num barrancoNinguém abriu a boca.Ninguém chorou nos povoados índios.

Ninguém subiu às torres das igrejas.Ninguém levantou fuzis,e cobraram a recompensaaqueles a quem veio salvaro comandante assassinado

O que houve, medita o pesaroso,com estes acontecimentos?

E não se diz a verdade

Page 22: Poemas a Che Guevara

Porém se cobre com papelesta desgraça de metal.Mal se abrira o roteirocomo um machado que caiuna cisterna do silêncio.

Bolívia voltou ao seu rancor,a seus enferrujados gorilas,à sua miséria intransigente,e como bruxos assustados

os sargentos da desonra,os generaizinhos do crimeesconderam com eficiênciao cadáver do guerrilheiro,como se o morto os queimasse.

A selva amarga engoliuos movimentos, os caminhos,e onde passaram os pésda milícia exterminadahoje os cipós aconselharamuma voz verde de raízese o veado selvagem voltouà folhagem sem estampidos

Page 23: Poemas a Che Guevara

Poema de Nicolás Guillén

Che Guevara

Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí,E o Prata, de margens verdejantes, corresse pelo marPara se juntar à embocadura cheia de amor do Cauto.

Assim Guevara, gaúcho de voz forte, agiu para dedicarSeu sangue guerrilheiro a Fidel,E sua mão larga teve mais espírito de camaradagemQuando nossa noite era mais negro, mais escura.

A morte recuou. De suas sombras impuras,Do punhal, do veneno e das feras,Só restam lembranças selvagens.

Fundida dos dois, uma única alma brilha,Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí.

(Poema de Nicolás Guillén, o mais destacado poeta cubano vivo na época da revolução)

Poema de Sophia Mello

Che Guevara

Contra ti se ergue a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas

A indecisão dos complicados e o primarismo Daqueles que confundem revolução com desforra   De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo Como Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas   Porém Em frente do teu rosto Medita o adolescente à noite no seu quarto Quando procura emergir de um mundo que apodrece

HOMENAGEM A CHE GUEVARA

As palavras eram força justa

seu vestido as árvores sua casa

Page 24: Poemas a Che Guevara

constante sonda da miséria funda

por não saber contar sua mudez.

 

Soletrou a tiros de espingarda

vozes de milhões de voz logo amputada

no berço alheio que os fez submissos

ao nulo programa dos anos de não ter

 

senão os corpos morenos calibrados

na medida inversa da esperança.

Corpos de cumprir a morte arando pastos

às feras iguais fardadas de comando.

 

Nada se perdeu no rosto que nos mostram

derrubado ao peso de oito balas.

― Por cada voz de nítido protesto

cada testemunho cada alarme

 

um grito medo ou fome de criança

as palavras actos permanecem

renovadas sempre necessárias:

 

QUEM PÁRA MORRE. EU RETOMO A ESTRADA.

 

Marta Cristina Araújo, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

Page 25: Poemas a Che Guevara

A FACE SUBMERSA

Gastaram-se as promessas da sempre morte viva

Das sílabas do teu rosto novas palavras surgem

Sob as palavras as sílabas se reúnem

Outras palavras sob as palavras nascem

 

A face submersa ressurge das raízes

Sempre ou nunca mais de cada vez e sempre

 

Um rastro se propaga, rasga as superfícies

 

Um perfume silvestre desempesta as cidades

 

As sílabas reúnem-se

Uma bondade antiga retempera a revolta

 

Gastaram-se as promessas

A face submersa ressurge das raízes

 

Outras palavras sob as palavras nascem

 

Antônio Ramos Rosa, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1980, Porto, Portugal)

Page 26: Poemas a Che Guevara

UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO

 

O tempo procede à gestação de um homem.

Um chão para um povo. Um tecto para a solidão.

 

O povo alimenta-se de lendas. Um homem

Lutou para sacudir o sono e é agora uma lenda.

Nome a conservar, a tomar um eco, manancial.

 

A poesia serve os que não possuem armas.

Este homem fica no gatilho dos poetas.

Dispara uma presença incómoda.

Solta cristais de gelo no júbilo dos poderosos.

 

Enfrentar o destino duas vezes! Ganhar,

recomeçar. A dor rola os seus dados ao longo

de sete vidas: “gastei quatro,

restam-me três”.

 

Uma bala atravessou a crosta da terra, parou

O coração, o sofrimento não cicatriza.

“Mi patria es America” Nenhuma bala pode matar

a lenda. A epopéia transfere-se. O rigor mortis

é um momento de transição, espaço

aberto para o nascer dos novos rostos.

 

Um milhão de silêncios ouve soprar o vento.

Page 27: Poemas a Che Guevara

Ainda ignoramos o nome das sementes.

A interrogação terá uma resposta. As nuvens

acumulam-se. Uma nova manhã fornecerá a terra à tempestade.

 

Egito Gonçalves, in “10 Poemas para Che Guevara”, (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

OS ASSASSÍNIOS, NA CAÇA

 

alegoria para Che Guevara

   

O cervo na cicatriz da árvore exerce

a sua servidão; diz-se que o bosque

o tem ou que a simbologia é de ambos.

 

De um e de outro a ferida é imprecisa ―

uma pedra a absorve

 

e sangra logo, um rio a escoa e seca,

um servo que surgiu, em sua mão

metaboliza-a. Bosque de servos, inquietos,

de sopros de instrumentos para a caça.

Depois, um servo no exercício

da falcoaria lapidou o

seu ser mais real: rei no alasão.

 

Os servos sublevados gritarão:

Floresta, a parte é o todo e

Page 28: Poemas a Che Guevara

o todo é universal. Um rei

a ocidente occiso é o princípio.

Uma cidade é a zona mais dorida ―

quem me coroa: servo capital

ou homem vivo?

 

Fiama Hasse Pais Brandão, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

GUEVARA

 

Levaremos ainda as nossas roupas

vossos idílios sobre os suíços

vossos pães   vossas sujas refeições

pelas clareiras   vossas tatuagens.

 

Levaremos as vossas agonias.

Coisas. Vestígios ácidos da dor.

Estilhaços. Matéria.

Vossas fontes sugadas e musgosas.

Vossas hostes elementares.

O encolher dos dedos sob as mantas

nas ciladas. Vigílias. Levaremos

vosso cheiro a folhagens e a verão.

 

Levaremos na pele vossas cidades

em sua inexistência.

Vosso rijo manobrar dos fusis.

Page 29: Poemas a Che Guevara

Recondução da história. O novo, o limpo

acumular dos corpos para o cio.

 

Levaremos os climas. Mais cerrados,

no lugar da memória, avançaremos

com vossos restos de calcinação.

Avançaremos todos com os ombros

quase amorosamente protegidos

por ombros paralelos.

Seguiremos e de ecos indignados

seguiremos por onde nos chamastes.

 

E ainda traremos certas águas

tranquilamente sobre as tardes vilas

onde o ciclo dos sangues se fundia

das raparigas nunca virgens, e outro,

o fértil, sobretudo, em vossas chagas.

 

Hélia Correia, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

PLAYA GIRÓN

 

a morte vai e vem   desce as escadas

do sol que a enviou

 

retratos são espalhados pelas águas

do pai do irmão do filho que matou

 

Page 30: Poemas a Che Guevara

é a flor de aço e gelatina

que na pureza da terra semeou

 

os novos barcos de ódio e a vermina

dos antigos cavalos que domou

 

mas homens estavam vivos nas esquinas

bem colados ao fogo que os juntou

 

gritando em quanta força o pulmão tinha

cantando em quanto ardor se libertou:

 

aqui es nuestra tierra   tierra niña

aquí los hombres si   yanquis no!

 

João Rui de Sousa, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

NESTE VIL MUNDO

Neste vil mundo que nos coube em sorte

por culpa dos avós e de nós mesmos

tão ocupados em desculpas de salva-lo,

há uma diferença de revoluções.

 

Alguns sofrem do estômago, escrevem versos,

outros reúnem-se à semana discutindo

o evangelho da semana; outros agitam-se

na paz da consciência que adquirem

Page 31: Poemas a Che Guevara

com agitar-se em benefícios e protestos;

outros param com as costas na cadeia,

para que haja protestos. Há também

revoluções, umas a sério, que se acabam

em compromissos, e outras a fingir,

que não acabam nem começam. Mas são raros

os que não morrem de úlcera ou de pancada a mais,

e contra quem agências e computadores

se mobilizam de sabê-los numa selva

tentando que os campónios se revoltem.

 

Os campónios não se revoltam. E eles

são caçados, fuzilados, retratados

em forma de cadáver semi-nu,

a quem cortam depois cabeça, mãos,

ou dedos só (numa ânsia de castra-los

mesmo depois de mortos) e o comércio

transforma-os logo num cartaz romântico

para quarto de jovens que ainda sonhem

com rebeldias antes de empregarem-se

no assassinar pontual da sua humanidade

e da dos outros, dia a dia, ao mês,

com seguro social e descontando

para a reforma na velhice idiota.

 

Ó mundo pulha e pilha que de mortos vive!

 

Page 32: Poemas a Che Guevara

Jorge de Sena, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

Page 33: Poemas a Che Guevara

GUEVARA

Não choro, que não quero

Manchar de pranto

Um sudário de força combativa.

Reteso a dor, e canto

A tua morte viva.

 

A tua morte morta

Pelo próprio terror em que ficaram

À sua frente

Aqueles que te mataram

Sem poderem matar o combatente.

 

O combatente eterno que ficaste,

Ressuscitado

Na voluntária crucificação.

Herói a conquistar o inconquistado,

Já sem armas na mão.

 

Quem te abateu, perdeu a guerra santa

Da liberdade.

Fez brilhar na manhã do mundo inteiro

Um sol de redentora claridade:

O teu rosto de Cristo guerrilheiro.

  11 de Outubro de 1967 in Diário, X volume

  Miguel Torga, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

Page 34: Poemas a Che Guevara

CÂMARA ESCURA

 

Decomposição. A tensa luz, legível sobre o rosto

queimado, de película, a folha, débil,

desprende-se do in-fólio.ou é o outono?

o cavar do furor, em plena terra?

 

reabro o in-fólio. A cega luz da folhagem

cresta, invade o rosto, as áreas

tácteis, vocabulares ― a câmara escura,

as tinas, negativos. folha

 

que se dissolve, rápida, do frágil

diafragma até ao corpo, morto.

Vallegrande.  Agora a luz expande-se. Conduz

o corpo, entre a folhagem, com as armas

 

de luz, sóbrias de fogo, ar, crepitam

no espaço rigoroso ― rigor mortis ―

as aves,sob a cinza. é o seu voo

entre os sulcos e as rugas, a humidade

 

desfiada pelo tempo, na retina.

e face a estas tábuas, húmus, chuva,

que face ainda vive? cega, dorme,

na rigidez da pele, outra película.

 

Recomposição. O rosto desce, deflagrando. o ângulo

Page 35: Poemas a Che Guevara

raso, entre os retábulos e sombras,

sustém que imagem, que retina violenta,

entre escarpas e dureza?

 

a secura rural, a deste crâneo

morto, rasado pelo vento. retiro-o,

então, do banho. pouso-o no in-fólio,

sob a tensa folhagem: fibras, nervos.

 

Nuno Guimarães, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)