poemas a che guevara
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Alguns Poemas de intervenção em homenagem a Che GuevaraTRANSCRIPT
O nascedor
Por que será que o CheTem este perigoso costumeDe seguir sempre renascendo?Quanto mais o insultam,O manipulamO atraiçoamMais ele renasce.Ele é o mais renascedor de todos!Não será por que CheDizia o que pensava e fazia o quedizia?Não será por isso que segue sendotão extraordinário,Num mundo onde palavrase actos tão raramente se encontram?E quando se encontramraramente se saúdamPor que não se reconhecem?
De Eduardo Galeno (Uruguai)
O Eterno!
Venho trazer-te um recadodo teu povo que é o meu povo:Diz o povo Che Guevara que é mentira, não estás morto.
Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.
Homens como tu não morremNem na história nem no tempo.como haveriam de morreros homens que são eternos
Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.
Diz o povo comandanteque segue a voz de açode tua espingarda acesa
pelo continente inteiro.
Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.
Diz o povo comandanteque está firme em seu postoteu coração legendárioguerreou o guerrilheiro.
Tua presença firme e claracomo estrela refulgentesegue alerta e combatentecomandante Che Guevara.
Como foste mais que um homemcomo foste luz e exemploviverás eternamenteno coração do povo.
De Carlos Publea
ATÉ SEMPRE “HASTA SIEMPRE"
Aprendemos a querer-tedesde a histórica alturaonde o sol da tua bravuraencurralou a morte.
Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara.
Tua mão gloriosa e fortesobre a história disparaquando toda Santa Clarase desperta para ver-te.
Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara
Vens queimando a brisacom sóis de Primaverapara plantar a bandeiracom a luz do teu sorriso.
Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara.
Teu amor revolucionáriote conduz a nova empresaonde esperam a firmezade teu braço libertário.
Aqui nos ficou a claraa profunda transparência,da tua querida presençaComandante Che Guevara.
Seguiremos adiantecomo junto a ti seguimose com Fidel te dizemos:"Até sempre, Comandante!"
De Carlos Puebla
CHE GUEVARA
O látego do carrascoDeixou a mostra as veias abertasDe uma América sem líderes,Cheia de ditadores patéticosE de déspotas obtusos,Promíscuos em suas salas de mármore.
Há os que iludem com discursosE os que mentem sem palavras –Apoderam-se de mecanismos de torturaPara espalhar o pânico e o terror.
A América se ergue com a sua mão direitaQue, ensanguentada, deixa-se extinguir,Cambaleante cai sobre a perna esquerda,Em repetidos golpes...
O guerrilheiro está morto!Seu idealismo se tornou sonho,O sonho transcreveu sua lenda,A lenda transformou-se em eternidade.
A América de Guevara se perpetua,Em sua eterna buscaPelos verdadeiros líderes,Por sua total e plena liberdade
Do livro (O Anjo e a Tempestade), de Agamenon Troyan
Embalos
Desperta meu menino, que vem Guevaraos olhos ardentes, florida a barba.Desperta meu menino, que já chega o Chedizem é muito mau, eu não sei porquê.Desperta meu menino, que se aproxima Ernestogritando para os pobres: este mundo é nosso.Desperta meu menino, que está connosco um pastor do povo que espanta os lobos.Dorme meu menino, que é melhor não ver o que aqueles lobos fizeram com ele.
Letra: Víctor Manuel ArbeloaMúsica: Luís Pastor
Che Guevara
Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí,E o Prata, de margens verdejantes, corresse pelo marPara se juntar à embocadura cheia de amor do Cauto.
Assim Guevara, gaúcho de voz forte, agiu para dedicarSeu sangue guerrilheiro a Fidel,E sua mão larga teve mais espírito de camaradagemQuando nossa noite era mais negro, mais escura.
A morte recuou. De suas sombras impuras,Do punhal, do veneno e das feras,Só restam lembranças selvagens.
Fundida dos dois, uma única alma brilha,Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí.
(Poema de Nicolás Guillén, o mais destacado poeta cubano vivo na época da revolução)
OUTUBRO
Em Outubro se nasce e se morreNa senda da palavra LiberdadeEm Outubro e em qualquer idadeNão importa o mês, só que se morre…
E era Outubro, era a hora certaDa sede de sangue, de vingançaDe acabar um sonho ‘inda criança:Era Outubro e era hora certa;
E foi de morte o mês; Outubro dorE foi de dor o mês, Outubro morteE foi Outubro o tempo derradeiro…
E dando ao mundo a vida e o amorOutubro selou a tua sorteE fez eterno o sonho guerrilheiro!…
Che
Eu tive um irmão Não nos vimos nunca mas não importava.
Eu tive um irmão que andava na selva enquanto eu dormia.
O amei ao meu modo, lhe tomei a voz livre como a água, caminhei às vezes perto de sua sombra. meu irmão desperto enquanto eu dormia.
Meu irmão mostrando-me por detrás da noite a sua estrela eleita.
De Júlio Cortázar (Argentina)
Que pare o som
Mataram a tua carneCom uma torrente de fogoMas jamais a palavraE menos o pensamento.
Que pare um momento o somque se calem as guitarrasEm tributo de silencio por Che Guevara.Que siga o som.
Talvez tua carne humananão resistisse ao açomas nem sequer aço poderesistir ao teu exemplo.
Que pare um momento o som.Que emudeça a palavraPara escutar o grito de Che Guevara.Que siga o som.
Em Vallegrande nascesteainda que te digam morto.Só assim nascem os homenspara a história e o tempo.
Que pare um momento o sompara enxugar uma lágrima.Uma lágrima de pólvora por Che Guevara.Que pare o som.
Letra e música: Carlos Puebla
Um nome
Quando se fale do valor estóicoda vida cabal, profunda e clarasem mencionar o guerrilheiro heróicoEstaremos dizendo Che Guevara.
Quando se fale da luz criadoracuja força imortal a noite aclaraaté torná-la numa nova auroraestaremos dizendo Che Guevara.
Quando se fale dos decididosdos que saem a mostrar a carapela miséria dos oprimidosestaremos dizendo Che Guevara.
Quando se fale do dever profundoda luta exemplar que nunca párapor conseguir o pão de toda genteestaremos dizendo Che Guevara.
Quando se fale do grito maiorda voz que mais alto se fez ouvirsem pronunciar o nome tão queridoestaremos dizendo Che Guevara.
Letra e música: Carlos Puebla
ZAMBA AO CHE
Venho cantando esta zambacom um rufar libertário,mataram o guerrilheiroChe comandante Guevara.Selvas, pampas e montanhaspátria ou morte o seu destino.
Que os direitos humanosviolam-nos em qualquer ladona América Latinadesde domingo até sábado
Impõem-nos militarespara subjugar os povosditadores, assassinos,gorilas e generais.
Exploram o camponêso mineiro e o operário,quanta dor o seu destino,fome, miséria e dor.
Bolívar lhe deu o caminhoe Guevara o seguiu:libertar nosso povodo domínio explorador.
A Cuba lhe deu glóriade ser nação libertada.Bolívia também chorasua vida sacrificada.
Santo Ernesto de La Higueralhe chamam os camponeses,selvas, pampas e montanhas,pátria ou morte o seu destino.
De Víctor Jara
Ai, Che caminho
Eu sou um homem nascidoAlém na pampa longínquaMas o meu sonho queridoÉ a pátria americana
Não tenho terra nem casaNão tenho nome nem idadeSou como o vento que passaUm vento de liberdade
Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.
Amanhã quando eu morrerOuçam-me queridos irmãosQuero uma América inteiraCom a espingarda na mão.
Não quero estátuas, nem honrasNão quero versos, nem prantosLancem as flores ao ventoE Pátria ou morte é o meu canto.
Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.Ai Che caminhoPátria ou morte é o meu destino.
Letra e música: Alfredo de Robertis
Até à vitória
Eu sou RamónAquele que rompe as cadeias.Escopro solarA féQue acende as fogueiras.
Clamor fundamentalA voz da justiçao que à brisa suavetransforma em vendaval.
Eu sou Ramónaquele que vive mais além.Que trema o verdugo opressor,abutre insaciável do mal.Depois da morte eu sou Ramónaté à vitória final.
Eu sou Ramón,aquela luz do oprimido.A carne, o sangue e a peledo homem redimido.
Eu sou o leão que vaipassando na montanha,por montes e valadosrugindo liberdade.Eu sou Ramón,aquele que nunca morrerá.Que trema o verdugo opressor,abutre insaciável do mal.Depois da morte eu sou Ramónaté à vitória final.
Letra e música: Aníbal Zampayo
Nada mais
Em tendo rancho e cavaloé mais leve o meu penarSe tudo aquilo que tive só restam recordações.Nada mais… Nada mais…
Não tenho contas com Deus.Minhas contas são com os homens.Eu rezo na planície abertae me faço leão no monteNada mais… Nada mais…
Gosto de olhar o homemplantado sobre a terra.Como uma pedra ao alto.Como um farol na ribeira.Nada mais… Nada mais…
Alguma gente só morrepara voltar a nascer.E quem disso duvidarque o pergunte ao Che.Nada mais… Nada mais…
Letra e música: Atahualpa Yupanqui
O homem novo
Pelo caminho do homem novoCom passo firme e falar claroSoube manter a rotaDos homens do seu tempo.Ninguém poderá enterrar seu nomeSua voz será escudada para sempreRepetindo as palavrasQue a história guardouPelo caminho do homem novoComo estrela no alto brilha o seu nomeHoje que sua grandiosa e última façanhaGuarda um diário de campanha.o gesto enorme que foi a sua vidaCheia de luta, de poesiaÉ como luzes de aurorasQue iluminam novos dias.Pelo caminho do homem novoCom passo firme e falar claroSouber manter a rotaDos homens do seu tempo.
Letra e música: César Portilho de la Luz
Canção ao homem novo
Fá-lo-emos tu e eunós dois o faremostomemos a argilapara o homem novo.Seu sangue viráde todos os sanguesapagando os séculosdo medo e da fome.Por braço um fuzilpor luz o olhare junto à ideiauma bala assomada.E onde está a vozum grito escondidomilhões de ouvidosserão receptivos.Seu grito será
de guerra e vitóriacomo um matraquearque anuncia a glória.E por coraçãoa esse homem daremoso do guerrilheiroque todos sabemos.Fá-lo-emos tu e eu.Por braço um fuzil!Nós o faremosPor luz o olhar!Tomemos a argilaé de madrugada.
Letra e música: Daniel Viglietti
Canção ao guerrilheiro heróico
Meu comandante Guevaranão há na tua cabeça uma flormas estão as metralhadorascaules de sangue e de dor.Ouçam bem os assassinosnão mataram mais um homemmataram aos que duvidamque é a hora de lutar.Ouçam bem os generaishá uma bala se solpara a obscura mentiraque têm por coração.No correr dos riosdesde o dialecto aimarápor altiplanos e selvaso guerrilheiro falará.E dirá as cem razões de vencer ou de morrer.E cada guerrilha novaFá-lo-á sentir-se viver.
Letra e música. Daniel Viglietti
Seu nome é povo
A mortecom a sua impecável funçãode artesã do sol,que faz heróis,que faz históriae nos cede um lugar para morrer,nesta terra pelo futuro.Que exemplose converteu em trincheirada vontade,da palavra amar,da consciênciae da morte.Não há nomesdos que caem nas costas,dos que caem nos montes,do que caiu com o nachete,no mesmo lugaronde tempos atráscaíram outrosoutros sem nome.Os heróisrecordam-se sem lágrimasrecordam-se nos braçosrecordam-se na terra,e isso me faz pensarque afinal não o matarame que vivem alionde haja um homem,pronto a lutar,a continuar.
Letra e música: Eduardo Ramos
Che esperança (canção do índio livre)
Dorme, dorme, meu menino índio,Aqui vem o Comandante.Com o fumo do seu puroSemeia estrelas na noite.
Avozinha, avozinhaQuem é?
Dorme, dorme, índiozinho,Lembra-te do seu nome.Suas pegadas no caminhoSão uma flor que se abre!
Avozinha, avozinhaQuem é?
É o canto do vento,A carícia da aurora.A esperança, meu meninoChama-se Che Guevara!
É um homem de luta e paixão,A alma da Revolução,O Homem Novo,O filho guerrilheiroQue sempre, sempre viverá na minha canção.
Letra e música: Egon Kragel
Com a adarga no braço
Apareceste na mitologia do meu amorpela mão de minha mãecom um sotaque estranho e uma boina girrasolum dia me contou que já não estavascom comoção na voz.Aprendi o teu diário e teus dotes de oradorcomo a bíblia modernae com Che Comandante e a Suite de las Américascompletei o rosário e a Avé-Maria da minha religiãoGuevara tu voltas ao caminho com a adarga no braçopintado nos pulôveres dos rapazesou vigilante desde a paredepor isso te levo na carteira como um amuletoou como a pagela caseira de um santopara que me proteja e me puxe as orelhasse algum dia mau me esqueço do Che.Teus filhos comeram do mesmo pão que eu comifomos à mesma escolaviveste com o povo e nas mesmas condiçõespor isso estás ao lado de Camiloe à esquerda de Xangô.E aos que te utilizam como tema de sermãoe fazem tudo ao contrárionão lhes permitiremos mais discursos em teu louvornem que usem teu retratose dizem o que não são.
Letra e música: Fank Delgado
O aparecido
Abre sendas pelos cerros,deixa as pegadas no vento,a águia lhe dá o vooe a cobiça o silêncio.Nunca se queixou do frio,nunca se queixou do sono, o pobre sente o seu passoe o segue como um cego.
Corre, corre, correpor aqui, por ali, por acolácorre, corre, corre,corre que te vão matar,corre, corre, corre.
Sua cabeça é rematadapor corvos com garras de ourocomo o crucificoua fúria do poderoso.Filho da rebeldiaseguem-no dúzias e dúzias,porque oferece a sua vidaeles querem dar-lhe a morte.
Corre, corre, correpor aqui, por ali, por acolácorre, corre, corre,corre que te vão matar,corre, corre, corre.
Letra e música: Víctor Jara
São ainda os sonhos
Tu surgias desde o hemisfério sule vinhas desde antes,com o amor ao mundo bem dentro.Foi uma estrela que te pôs aquie te fez deste povo.De gratidão nasceram muitos homensque como tu,não queriam que te fossese são outros desde então.Depois de tanto tempo e tanta tempestadeseguimos para sempreeste caminho longo, longo,por onde vais.O fim do século anuncia uma velha verdade,os bons e maus temposfazem parte da realidade.Eu bem sabia que ias voltar,que ias voltar de qualquer lugar,porque a dor não matou a utopia,porque o amor é eterno
e quem te ama não te esquece.Tu bem sabias desde aquela vezque ias crescer que ias ficar, porque a fé limpa as feridas,porque o teu espírito é humildee reencarnas nos pobres e nas suas vidas.Depois de tanto tempo e tanta tempestade…São ainda os sonhos que atraem as pessoascomo um íman que as une cada dia.Não se trata de moinhos,não se trata de um Quixote,algo suaviza a alma dos homens, uma virtude que se eleva por cimados títulos e nomes.Depois de tanto tempo e tanta tempestade…
Letra e música: Geraldo Alfonso
Guitarra em duelo maior
Soldadinho da BolíviaSoldadinho bolivianoArmado vais com teu rifleQue é um rifle americano.
To entregou um assassinoSoldadinho bolivianoOferta de Mister DólarPara matar teu irmãoSoldadinho da BolíviaPara matar teu irmão.
Não sabes quem é o mortoSoldadinho boliviano?O morto é Che GuevaraE era argentino e cubanoSoldadinho da BolíviaE era argentino e cubano.
Ele foi teu melhor amigoSoldadinho bolivianoEle foi teu amigo, do pobreDo oriente ao altiplano.Soldadinho da BolíviaDo oriente ao altiplano.
Está minha guitarra inteiraSoldadinho bolivianoDe luto, mas não choraAinda que chorar seja humanoSoldadinho da BolíviaAinda que chorar seja humano.
Não chora porque esta horaSoldadinho bolivianoNão é de lágrimas e lencinhoMas sim de machete em punho.Soldadinho da BolíviaMas sim de machete em punho.
Com o Money que te pagaSoldadinho bolivianoQue te vendes, que te compraÉ o que pensa o tiranoSoldadinho da BolíviaÉ o que pensa o tirano.
Desperta, que já é diaSoldadinho bolivianoToda a gente se levantaPorque o sol nasceu bem cedoSoldadinho da BolíviaPorque o sol nasceu bem cedo.
Mas decerto aprenderásSoldadinho bolivianoQue um irmão não se vendeQue não se mata um irmãoSoldadinho da BolíviaQue não se mata um irmão.
Letra: Nicolás GuillénEste poema foi musicado em pelo menos duas versões distintas, respectivamente por Paco Ibáñez e Angel Parra
Se o poeta és tu
Se o poeta és tucomo disse o poeta
e és tu quem derrubavaestrelas em noites milde chuvas coloridas.Que tenho que dizer-te comandante.Se o que mostrou seu perfil ao futuroe se fez íntimo com vozes de espingardafoste tu,guerreiro para sempretempo eterno.Que posso eu cantar-te,comandante.Em vão procuro na guitarraa tua dore no jardim já tudo é belonão há temor.Que posso eu deixar-tecomandante,que não seja trocar minha guitarra p’la tua sorte,ou negar uma canção ao sol,ou morrer sem amor.Que tenho p’ra dizer-tecomandante.Se o poeta és tu,como disse o poeta.E és tu quem derrubou estrelasem mil noitesde chuvas coloridas.Que tenho p’ra dizer-tecomandante.
Letra e música: Pablo Milanés
Seu nome ardeu como um palheiro
Como a sombra da sombraPela selva dentro entrouDias inteiros caminhouCom a espingarda e a razão.
Entra as lianas repousou,Por sobre as víboras andou,De clara pólvora se vestiuE aos pastores elucidouBuscando forças para acharA liberdade agonizanteE foi assim que tombouNa serraO famoso comandante.
Seu nome ardeu como um palheiroE a cinza se espalhou.(Um vento forte pegou nelaE levou-a pelos caminhos).
E em cada sítio da TerraOnde um pastor o velou,
Onde um operário o leuE um estudante o escutouE um camponês o seguiuCresceu o silêncio ante o seu nome.
E é assim que volta a combaterO Che na luta dos homens.
Ele é talvez um morto maisMas o seu clarão brilhouQuando a rajada cortouO seu sangue em dois lagos iguais.
O mês de Outubro despadaçou-seComo um vulcão ou um vidro azul,A inquieta América escondeuSua fria fúria de metal,E desde a serra ao litotal,A dor abriu a flor amarga.E era um assombro o seu finalE é a batalha que se estende.
Pastor da serra: irei!Irei, Comandante, irei!Até à vitória, irei!
Letra e música: Patrício Manns
Ontem e hoje enamorado
Vagueia redonda a noitevagueia vagabunda e mudae as pombas não se juntame os pirilampos não falam.É triste o tempo dos nevõesainda que não caía nem uma geadatremendo vão os coraçõesdesamparados na fomeas ruas são leões devorando portaisdesalojando o sonhoexpulsando-o do mundo.E aí está o enamoradopedindo à esperançaque seu peito não se inundecom o pranto de seu tempo.Vagueiam as noites de Janeirovagabundas e alegresjuntam-se todas as pombasparecemos vagalumes.E aí está o enamoradocom sua lua entre os braçospedindo a esperançapara todos, para todos.E aqui está o enamorado.
Letra e música: Santiago Feliú
América, falo-te de Ernesto
Com uma mão compridapara tocar as estrelase uma pressão de deus na pegada,passou por tua cintura,por teu avesso e direitoo tutor dos acanhados.
Preparando o milagrede caminhar sobre a águae o resto dos sonhosdas dolências da alma,veio ao romper a noiteum emissário da aurora.
E com voz tão perfeitaque não precisa de ouvidofez um cantar que soa a estampido.Em todos os idiomas o emissáriovai ver-te:em todos os idiomashá morte.Ainda que o enterrem fundo,ainda que lhe mudem a cara, ainda que falem de esperançae brilhe a mascarada,chegará o seu fantasma bem retratado nas balas.
Letra e música: Sílvio Rodrígues
Fuzil contra fuzil
O silêncio do monte vaipreparando um adeus.A palavra que se dirá in memoriamserá a explosão.
Perdeu-se o homem deste século então,seu nome e apelido são: fuzil contra fuzil.Quebrou-se a casca do vento a sule sobre a primeira cruz desperta a verdade.
Todo o mundo terceiro vaienterrar a sua dor.Com granizo de chumbo faráa sua cova de honra, sua canção.
Deixarão o corpo da vida ali,seu nome e apelido são: fuzil contra fuzil.Cantarão seu luto de homem e animale em vez de deitar lágrimas, com chumbo chorarão.Levantarão o homem da tumba ao sole seu nome repartirão: fuzil contra fuzil.
Letra e música: Sílvio Rodríguez
Pelos Andes do mundo
Cresces imensurável em teu sanguesinal da acção e do deversobre os Andes do mundoavanças, Che, triunfal.Vences, comandante sem igualvencem, tua presença e vigorgritam com pulso de açoteu rumo, Che, tua voz.Agrupas frente a Lincoln os negrosmãos, companheira no Vietnameforja da nossa Américamais pátrias livres teu andar.Lutas com os pobres do mundolutas guerrilheiro imortal.Até à vitória semprepresente tu estarás!
Letra e música: Tânia Castellanos
Uma canção necessária
Tua pele ligada ao osso perdeu-se na terraa lágrima, o poema e a lembrançaestão lavrando sobre o fogo o canto da mortecom metralhadoras douradas a partir de ti.E aqui, a cada noite se procura em teus livroso propósito justo de toda a acçãoe abre-se a tua memória a todo aquele que renascemas nunca falta quem te eleve a um altare faça lenda a tua imagem formadorae torne impossível o sonho de alcançar-tee aprenda algumas das tuas frases de memóriapara dizer “serei como ele” sem conhecer-tee o apregoe sem pudor, sem sonho, sem amor, sem fée percam tuas palavras o sentido do respeitopara o homem que nasce coberto da tua flor.Algum poeta disse e seria o mais justo:desde hoje o nosso dever é defender-te de ser Deus.
Letra e música: Vicente Feliú
Che e Pablo Neruda
"NÃO EXISTE EXPERIÊNCIA MAIS PROFUNDA PARA O REVOLUCIONÁRIO DE QUE O ACTO DA GUERRA"
Tristeza na morte de um herói
* Por Pablo Neruda
Nós que vivemos esta históriaesta morte e ressurreiçãode nossa esperança enlutada,os que escolhemos o combatee vimos crescer as bandeirassoubemos que os mais caladosforam os nossos únicos heróise que depois das vitóriaschegaram vociferantesa boca cheia de jactânciae de proezas salivares.
O povo moveu a cabeça;e voltou o herói ao seu silêncio
Mas o silêncio se cobriu de lutoaté afogar-nos nesse lutoquando morria nas montanhaso fogo ilustre de Guevara
O comandante terminouassassinado num barrancoNinguém abriu a boca.Ninguém chorou nos povoados índios.
Ninguém subiu às torres das igrejas.Ninguém levantou fuzis,e cobraram a recompensaaqueles a quem veio salvaro comandante assassinado
O que houve, medita o pesaroso,com estes acontecimentos?
E não se diz a verdade
Porém se cobre com papelesta desgraça de metal.Mal se abrira o roteirocomo um machado que caiuna cisterna do silêncio.
Bolívia voltou ao seu rancor,a seus enferrujados gorilas,à sua miséria intransigente,e como bruxos assustados
os sargentos da desonra,os generaizinhos do crimeesconderam com eficiênciao cadáver do guerrilheiro,como se o morto os queimasse.
A selva amarga engoliuos movimentos, os caminhos,e onde passaram os pésda milícia exterminadahoje os cipós aconselharamuma voz verde de raízese o veado selvagem voltouà folhagem sem estampidos
Poema de Nicolás Guillén
Che Guevara
Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí,E o Prata, de margens verdejantes, corresse pelo marPara se juntar à embocadura cheia de amor do Cauto.
Assim Guevara, gaúcho de voz forte, agiu para dedicarSeu sangue guerrilheiro a Fidel,E sua mão larga teve mais espírito de camaradagemQuando nossa noite era mais negro, mais escura.
A morte recuou. De suas sombras impuras,Do punhal, do veneno e das feras,Só restam lembranças selvagens.
Fundida dos dois, uma única alma brilha,Como se a mão pura de San MartínTivesse se estendido para seu irmão, Martí.
(Poema de Nicolás Guillén, o mais destacado poeta cubano vivo na época da revolução)
Poema de Sophia Mello
Che Guevara
Contra ti se ergue a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo Daqueles que confundem revolução com desforra De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo Como Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas Porém Em frente do teu rosto Medita o adolescente à noite no seu quarto Quando procura emergir de um mundo que apodrece
HOMENAGEM A CHE GUEVARA
As palavras eram força justa
seu vestido as árvores sua casa
constante sonda da miséria funda
por não saber contar sua mudez.
Soletrou a tiros de espingarda
vozes de milhões de voz logo amputada
no berço alheio que os fez submissos
ao nulo programa dos anos de não ter
senão os corpos morenos calibrados
na medida inversa da esperança.
Corpos de cumprir a morte arando pastos
às feras iguais fardadas de comando.
Nada se perdeu no rosto que nos mostram
derrubado ao peso de oito balas.
― Por cada voz de nítido protesto
cada testemunho cada alarme
um grito medo ou fome de criança
as palavras actos permanecem
renovadas sempre necessárias:
QUEM PÁRA MORRE. EU RETOMO A ESTRADA.
Marta Cristina Araújo, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
A FACE SUBMERSA
Gastaram-se as promessas da sempre morte viva
Das sílabas do teu rosto novas palavras surgem
Sob as palavras as sílabas se reúnem
Outras palavras sob as palavras nascem
A face submersa ressurge das raízes
Sempre ou nunca mais de cada vez e sempre
Um rastro se propaga, rasga as superfícies
Um perfume silvestre desempesta as cidades
As sílabas reúnem-se
Uma bondade antiga retempera a revolta
Gastaram-se as promessas
A face submersa ressurge das raízes
Outras palavras sob as palavras nascem
Antônio Ramos Rosa, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1980, Porto, Portugal)
UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO
O tempo procede à gestação de um homem.
Um chão para um povo. Um tecto para a solidão.
O povo alimenta-se de lendas. Um homem
Lutou para sacudir o sono e é agora uma lenda.
Nome a conservar, a tomar um eco, manancial.
A poesia serve os que não possuem armas.
Este homem fica no gatilho dos poetas.
Dispara uma presença incómoda.
Solta cristais de gelo no júbilo dos poderosos.
Enfrentar o destino duas vezes! Ganhar,
recomeçar. A dor rola os seus dados ao longo
de sete vidas: “gastei quatro,
restam-me três”.
Uma bala atravessou a crosta da terra, parou
O coração, o sofrimento não cicatriza.
“Mi patria es America” Nenhuma bala pode matar
a lenda. A epopéia transfere-se. O rigor mortis
é um momento de transição, espaço
aberto para o nascer dos novos rostos.
Um milhão de silêncios ouve soprar o vento.
Ainda ignoramos o nome das sementes.
A interrogação terá uma resposta. As nuvens
acumulam-se. Uma nova manhã fornecerá a terra à tempestade.
Egito Gonçalves, in “10 Poemas para Che Guevara”, (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
OS ASSASSÍNIOS, NA CAÇA
alegoria para Che Guevara
O cervo na cicatriz da árvore exerce
a sua servidão; diz-se que o bosque
o tem ou que a simbologia é de ambos.
De um e de outro a ferida é imprecisa ―
uma pedra a absorve
e sangra logo, um rio a escoa e seca,
um servo que surgiu, em sua mão
metaboliza-a. Bosque de servos, inquietos,
de sopros de instrumentos para a caça.
Depois, um servo no exercício
da falcoaria lapidou o
seu ser mais real: rei no alasão.
Os servos sublevados gritarão:
Floresta, a parte é o todo e
o todo é universal. Um rei
a ocidente occiso é o princípio.
Uma cidade é a zona mais dorida ―
quem me coroa: servo capital
ou homem vivo?
Fiama Hasse Pais Brandão, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
GUEVARA
Levaremos ainda as nossas roupas
vossos idílios sobre os suíços
vossos pães vossas sujas refeições
pelas clareiras vossas tatuagens.
Levaremos as vossas agonias.
Coisas. Vestígios ácidos da dor.
Estilhaços. Matéria.
Vossas fontes sugadas e musgosas.
Vossas hostes elementares.
O encolher dos dedos sob as mantas
nas ciladas. Vigílias. Levaremos
vosso cheiro a folhagens e a verão.
Levaremos na pele vossas cidades
em sua inexistência.
Vosso rijo manobrar dos fusis.
Recondução da história. O novo, o limpo
acumular dos corpos para o cio.
Levaremos os climas. Mais cerrados,
no lugar da memória, avançaremos
com vossos restos de calcinação.
Avançaremos todos com os ombros
quase amorosamente protegidos
por ombros paralelos.
Seguiremos e de ecos indignados
seguiremos por onde nos chamastes.
E ainda traremos certas águas
tranquilamente sobre as tardes vilas
onde o ciclo dos sangues se fundia
das raparigas nunca virgens, e outro,
o fértil, sobretudo, em vossas chagas.
Hélia Correia, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
PLAYA GIRÓN
a morte vai e vem desce as escadas
do sol que a enviou
retratos são espalhados pelas águas
do pai do irmão do filho que matou
é a flor de aço e gelatina
que na pureza da terra semeou
os novos barcos de ódio e a vermina
dos antigos cavalos que domou
mas homens estavam vivos nas esquinas
bem colados ao fogo que os juntou
gritando em quanta força o pulmão tinha
cantando em quanto ardor se libertou:
aqui es nuestra tierra tierra niña
aquí los hombres si yanquis no!
João Rui de Sousa, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
NESTE VIL MUNDO
Neste vil mundo que nos coube em sorte
por culpa dos avós e de nós mesmos
tão ocupados em desculpas de salva-lo,
há uma diferença de revoluções.
Alguns sofrem do estômago, escrevem versos,
outros reúnem-se à semana discutindo
o evangelho da semana; outros agitam-se
na paz da consciência que adquirem
com agitar-se em benefícios e protestos;
outros param com as costas na cadeia,
para que haja protestos. Há também
revoluções, umas a sério, que se acabam
em compromissos, e outras a fingir,
que não acabam nem começam. Mas são raros
os que não morrem de úlcera ou de pancada a mais,
e contra quem agências e computadores
se mobilizam de sabê-los numa selva
tentando que os campónios se revoltem.
Os campónios não se revoltam. E eles
são caçados, fuzilados, retratados
em forma de cadáver semi-nu,
a quem cortam depois cabeça, mãos,
ou dedos só (numa ânsia de castra-los
mesmo depois de mortos) e o comércio
transforma-os logo num cartaz romântico
para quarto de jovens que ainda sonhem
com rebeldias antes de empregarem-se
no assassinar pontual da sua humanidade
e da dos outros, dia a dia, ao mês,
com seguro social e descontando
para a reforma na velhice idiota.
Ó mundo pulha e pilha que de mortos vive!
Jorge de Sena, in “10 Poemas para Che Guevara”(Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
GUEVARA
Não choro, que não quero
Manchar de pranto
Um sudário de força combativa.
Reteso a dor, e canto
A tua morte viva.
A tua morte morta
Pelo próprio terror em que ficaram
À sua frente
Aqueles que te mataram
Sem poderem matar o combatente.
O combatente eterno que ficaste,
Ressuscitado
Na voluntária crucificação.
Herói a conquistar o inconquistado,
Já sem armas na mão.
Quem te abateu, perdeu a guerra santa
Da liberdade.
Fez brilhar na manhã do mundo inteiro
Um sol de redentora claridade:
O teu rosto de Cristo guerrilheiro.
11 de Outubro de 1967 in Diário, X volume
Miguel Torga, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)
CÂMARA ESCURA
Decomposição. A tensa luz, legível sobre o rosto
queimado, de película, a folha, débil,
desprende-se do in-fólio.ou é o outono?
o cavar do furor, em plena terra?
reabro o in-fólio. A cega luz da folhagem
cresta, invade o rosto, as áreas
tácteis, vocabulares ― a câmara escura,
as tinas, negativos. folha
que se dissolve, rápida, do frágil
diafragma até ao corpo, morto.
Vallegrande. Agora a luz expande-se. Conduz
o corpo, entre a folhagem, com as armas
de luz, sóbrias de fogo, ar, crepitam
no espaço rigoroso ― rigor mortis ―
as aves,sob a cinza. é o seu voo
entre os sulcos e as rugas, a humidade
desfiada pelo tempo, na retina.
e face a estas tábuas, húmus, chuva,
que face ainda vive? cega, dorme,
na rigidez da pele, outra película.
Recomposição. O rosto desce, deflagrando. o ângulo
raso, entre os retábulos e sombras,
sustém que imagem, que retina violenta,
entre escarpas e dureza?
a secura rural, a deste crâneo
morto, rasado pelo vento. retiro-o,
então, do banho. pouso-o no in-fólio,
sob a tensa folhagem: fibras, nervos.
Nuno Guimarães, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)